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CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS

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Neste livro são encontradas as principais categorias explicativas e al-
guns dos principais autores (clássicos e contemporâneos) que contribuem 
para o entendimento do debate das lutas de classe e sua relação com a 
constituição dos movimentos sociais no Brasil e na América Latina.
Esta obra favorece o acesso a fatos e fenômenos históricos, econômi-
cos, culturais, territoriais e sociais que demarcaram a história das lutas de 
classe, bem como aos novos elementos que permeiam o debate atual des-
sa temática. Também favorece compreender de modo mais aprofundado 
a relação do Serviço Social com os movimentos sociais, principalmente no 
que diz respeito ao exercício da cidadania, da democracia e da efetivação 
do usufruto dos direitos constitucionais.
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
MIRIAN CRISTINA LOPES
Código Logístico
59263
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6604-9
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 4 9
Classes e movimentos 
sociais 
Mirian Cristina Lopes
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Abscent/ Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L854c
Lopes, Mirian Cristina
Classes e movimentos sociais / Mirian Cristina Lopes. - 1. ed. - Curiti-
ba [PR] : IESDE, 2020. 
122 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6604-9
1. Estrutura social. 2. Movimentos sociais. 3. Capitalismo - Aspectos 
sociais. I. Título.
20-63421 CDD: 306.342
CDU: 316.344.2
Mirian Cristina Lopes Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Análise da Questão 
Social pela UFPR e graduada em Serviço Social pela 
mesma instituição. Professora em instituições de ensino 
superior, produtora de materiais didáticos, palestrante 
e ministrante de cursos de capacitação continuada em 
instituições públicas e privadas. Atua na implantação 
de projetos de extensão comunitária e como técnica 
de Serviço Social. Temas de interesse: políticas sociais, 
novas alternativas em educação e elites políticas e suas 
relações com a desigualdade brasileira.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
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a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
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Vídeos
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1 A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 9
1.1 O que são movimentos sociais 10
1.2 O sujeito político dos movimentos sociais 13
1.3 Movimentos sociais na desconstrução da ideologia burguesa 18
1.4 Características dos movimentos sociais 21
1.5 Movimentos sociais e a dimensão sócio-histórica 24
1.6 Movimentos sociais no contexto capitalista 30
2 Movimentos sociais e perspectivas teóricas 36
2.1 Abordagem teórica dos movimentos sociais 36
2.2 A influência das teorias marxistas clássicas nas abordagens 
 teóricas sobre os movimentos sociais 38
2.3 A influência da tradição marxista nas abordagens teóricas sobre os 
 movimentos sociais, após a década de 1960 47
2.4 A influência dos teóricos clássicos estadunidenses nas abordagens 
 teóricas sobre os movimentos sociais 52
2.5 A década de 1960 e as novas influências nas abordagens teóricas 
 sobre os movimentos sociais 54
3 A construção dos sujeitos políticos na sociedade de classes 62
3.1 As origens da organização sociopolítica na perspectiva de 
 classes 62 
3.2 A influência da cultura política na organização sociopolítica 67
3.3 A organização sociopolítica na perspectiva de classes e de outros 
 grupos identitários 72
3.4 Novas configurações no campo de luta 75
4 Os movimentos sociais contemporâneos 85
4.1 A banalização dos direitos políticos e dos demais direitos 
 fundamentais 85
4.2 A criminalização dos movimentos sociais 89
4.3 As novas estratégias de reorganização e resistência dos 
 movimentos sociais 95
5 O Serviço Social e os movimentos sociais 101
5.1 O projeto ético-político do Serviço Social e os movimentos 
 sociais 101
5.2 A experiência do Serviço Social junto aos movimentos 
 sociais 105
5.3 Políticas públicas, Serviço Social e movimentos sociais 110
6 Gabarito 117
A compreensão dos elementos fundantes das lutas de classe é 
imprescindível ao Serviço Social, visto que é com base nela que se fundamenta 
toda a construção ético-política, teórico-metodológica e técnica-operativa da 
profissão. Trata-se, portanto, de uma temática que deve ser indissociável do 
processo formativo de assistentes sociais.
Nesse sentido, exaltamos a importância deste livro e a prioridade de sua 
leitura, visto que nele são encontradas as principais categorias explicativas e 
alguns dos principais autores (clássicos e contemporâneos) que contribuem 
para o entendimento do debate das lutas de classe e sua relação com a 
constituição dos movimentos sociais no Brasil e na América Latina. 
Além disso, esta obra favorece o acesso a fatos e fenômenos históricos, 
econômicos, culturais, territoriais e sociais que demarcaram a história das 
lutas de classe, bem como aos novos elementos que permeiam o debate atual 
dessa temática. Também favorece compreender de modo mais aprofundado 
a relação do Serviço Social com os movimentos sociais, principalmente no 
que diz respeito ao exercício da cidadania, da democracia e da efetivação do 
usufruto dos direitos constitucionais. 
Para que a leitura não seja exaustiva, o livro foi produzido de modo didático, 
no sentido de facilitar o entendimento. Está dividido em cinco capítulos 
que dialogam entre si, ampliando a perspectiva do leitor acerca de classes 
e movimentos sociais. Na mesma linha, são apresentadas dicas de outros 
referenciais para aprofundamento, como livros, artigos, filmes, documentários 
e materiais diversos que podem contribuir com seus estudos e pesquisas.
Em suma, trata-se de um livro construído com base na perspectiva crítica, 
ou seja, demarcado por uma visão de mundo que se orienta pelo projeto 
ético-político do Serviço Social brasileiro. Norte que vislumbra uma prática 
profissional balizada por um projeto societário de luta permanente contra a 
desigualdade social. Portanto, desejamos que a leitura seja proveitosa e que 
possa estimular a busca por aprofundamentos. 
Bons estudos! 
APRESENTAÇÃO
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 9
1
A construção sócio-histórica 
dos movimentos sociais
Este capítulo reserva a você a oportunidade de compreender 
os movimentos sociais e sua importância diante da criação e or-
ganização da vida em sociedade. Para tal, apresenta fatos e fenô-
menos sociais, históricos, econômicos, culturais e territoriais, bem 
como conceitos e categorias explicativas que ajudarão no entendi-
mento amplo acerca dos movimentos sociais e de sua construção 
sócio-histórica.
Na mesma direção, oferece elementos que contribuirão para 
a desconstrução de concepções equivocadas que, porventura, 
tenham como base informações simplistas ou naturalizadas. Isso 
não quer dizer que somente com este capítulo você será capaz de 
atingir um aprofundamento pleno sobre a temática,afinal, aden-
trar a história da Constituição e da práxis dos movimentos sociais 
também envolve submergir na história da construção social das 
sociedades em geral.
O capítulo enfatiza, assim, a importância da emergência e da 
permanência dos movimentos sociais com relação à organização 
das sociedades como conhecemos hoje. Enfatiza, também, a im-
prescindível atuação desses movimentos na criação e no exercí-
cio da cidadania, da democracia e da efetivação do usufruto dos 
direitos constitucionais. Trata-se de uma introdução aos marcos 
interpretativos que possibilitam, de algum modo, instituirmos a 
atribuição de sentido e significado aos movimentos sociais.
10 Classes e movimentos sociais
1.1 O que são movimentos sociais 
Vídeo O entendimento do conceito de movimento social pode ser bastante 
complexo. Primeiramente porque nenhum conhecimento de mundo é 
neutro, ou seja, diferentes tipos de vivência geram diferentes interes-
ses e, portanto, diferentes olhares sobre o mundo e as coisas que o 
compõem. Em outras palavras, cada compreensão acerca do que são 
movimentos sociais resulta em variadas conceituações, intrinsecamen-
te relacionadas ao lugar de fala de quem as constrói (origem, cultura, 
status social, motivações).
Há também que se avaliar que essas conceituações existem em dis-
tintos campos de estudo, e nenhum deles está livre da disseminação 
de informações simplistas ou naturalizadas. Isso se complexifica ainda 
mais na contemporaneidade, dada a velocidade com que as informa-
ções são criadas, compartilhadas e destituídas ou substituídas (estrate-
gicamente ou não).
Outro fator importante diz respeito ao abraçamento tardio do as-
sunto pelo universo acadêmico, o que significa que o estudo e a concei-
tuação acerca dos movimentos sociais ainda são muito recentes e, de 
certo modo, reduzidos se comparados a outros conhecimentos sociais. 
Se também considerarmos que a ciência tradicional ainda caminha a 
passos lentos, no que se refere ao intuito de valorar e proporcionar 
lugar de voz ao conhecimento empírico 1 , podemos dizer que existe a 
possibilidade de que os conceitos criados até então sobre os movimen-
tos sociais apresentem fragilidades.
Os estudos dos movimentos sociais localizam-se majoritariamente 
no campo das ciências sociais, no qual é possível identificar diferentes 
posicionamentos. Podemos sinalizar como ponto nevrálgico do deba-
te a origem dos movimentos sociais, dado que a sua demarcação exata 
depende do entendimento de cada autor.
Caso considerássemos qualquer mobilização coletiva como um movi-
mento social, seria possível demarcar esse surgimento nos primórdios 
da história. Um exemplo explícito são as lutas sociais que se desen-
rolaram na Roma Antiga, entre a última década do século VI a.C. e o 
começo do século V a.C. Logo após a queda da Monarquia e a institui-
ção da República, o povo romano se manifestou por meio de revoltas 
populares ao verificar que suas demandas não eram consideradas pelo 
novo Estado estabelecido (PLUTARCO, 1951).
Faz referência ao conhecimento 
adquirido por meio da vivência 
e/ou da observação. Como se 
trata do conhecimento que 
oriunda da experiência humana, 
e não de experiências científicas 
comprovadas, é também 
denominado senso comum. 
1
nevrálgico: em sentido 
figurado, quer dizer crucial; 
central; ponto mais importante 
de uma questão.
Glossário
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 11
Essas mobilizações da plebe romana resultaram na criação do Tribu-
no do Povo, um tipo de cargo estatal para garantir a representatividade 
dos plebeus. É uma das revoltas mais conhecidas na história da Roma 
Antiga, por se tratar de um marco na construção da cidadania romana.
Nessa linha de análise, portanto, toda ação de um grupo organizado 
que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político 
é conceituado como movimento social. Com base nesse pressuposto, 
um movimento social teria como propósito uma ou mais alterações no 
modo como a sociedade institui algum processo. A ação social em si, 
nessa perspectiva, é considerada um movimento social, isto é, refere-
-se ao modo como a sociedade se movimenta (toda mobilização, ação, 
batalha ou revolta organizada).
Por outro viés de análise, manifestações, atos, protestos e marchas 
políticas configuram-se como ações sociais geradas por movimentos 
sociais. São estratégias criadas para expressar insatisfações, articular 
membros e dar visibilidade às pautas de luta. Podem ser compreendi-
das como ações políticas que geram ou não o nascimento de movimen-
tos sociais, bem como resultam ou não da organização deles. Assim, o 
movimento social seria o grupo organizado, e não a ação desenvolvida.
Enfatizado que não existe uma única perspectiva sobre os movi-
mentos sociais, que o desafio de determinar seu surgimento é perma-
nente e que esse debate está longe de ser esgotado, cabe agora expor 
o que são movimentos sociais e como se organizam. Percorreremos, 
para tanto, uma leitura de mundo mediada pela teoria crítica da Escola 
de Frankfurt, mais precisamente sob os critérios analíticos do materia-
lismo histórico-dialético de Karl Marx 2 .
Nossas contribuições ao estudo de classes e movimentos sociais, 
desse modo, estarão em consonância com o método de investigação 
da vida proposto por Karl Marx, ou seja, com o entendimento da so-
ciedade pela análise de sua totalidade, sem desconsiderar as particu-
laridades que constituem o seu todo (elementos culturais, históricos, 
territoriais, políticos, econômicos e sociais). Considera-se que a vida é 
dinâmica, contraditória e em constante movimento, transformando-se 
e se materializando historicamente conforme os fenômenos sociais se 
relacionam com as forças sociais que os geram.
Para exemplificar a questão, 
observemos as Mães da Sé, que 
reúnem mães de filhos desapa-
recidos a manifestarem-se na 
Praça da Sé (São Paulo/SP) e em 
outros cantos do mundo. Elas 
buscam notícias sobre o para-
deiro de seus filhos e reclamam 
contra a ineficiência do Estado 
diante do desaparecimento de 
crianças no Brasil. Contudo, 
ainda que as Mães da Sé estejam 
organizadas e institucionali-
zadas por meio da Associação 
Brasileira de Busca e Defesa a 
Crianças Desaparecidas (ABCD), 
não se configuram enquanto 
um movimento social, visto 
que não questionam a raiz da 
estrutura social imposta (papéis, 
posições, funções, instituições, 
organizações, sistemas etc.).
Obtenha mais informações na 
página oficial, disponível em: 
http://www.maesdase.org.br/
Paginas/default.aspx. Acesso 
em: 22 jun. 2020.
Curiosidade
Entende-se como materialismo 
histórico-dialético a teoria 
crítica criada por Karl Marx, que 
oferece um arcabouço capaz de 
proporcionar análises mais apro-
fundadas e amplas acerca da 
realidade social. Essa teoria rom-
pe com diversas outras, como a 
funcionalista e a positivista. Para 
Marx, as teorias existentes eram 
limitadas e equivocadas, visto 
que consideravam o mundo e o 
sistema social estático, fatalista e 
messiânico. 
2
12 Classes e movimentos sociais
Consequentemente, temos como ponto de partida a compreensão 
dos movimentos sociais como coletivos de poucos ou muitos sujeitos 
que se aproximam e permanecem unidos por uma identidade social, 
questionam a estrutura social vigente, constroem projetos de socieda-
de segundo o que acreditam ser mais justo. Coletivos que, por meio de 
ações sociais, se organizam para expressar na sociedade modos de ver o 
mundo e reivindicar politicamente respostas às demandas que lhes são 
pertencentes (majoritariamente, lutar por condições adequadas de vida).
Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, 
construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes 
e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um 
campo político de força social na sociedade civil. Suas ações es-
truturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e pro-
blemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações 
desenvolvem um processosocial e político-cultural que cria uma 
identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em 
comum. Essa identidade decorre da força do princípio da solida-
riedade e é construída a partir da base referencial de valores cul-
turais e políticos compartilhados pelo grupo. (GOHN, 2000, p. 13)
Vemos na explicitação desse conceito, em linhas gerais, que um mo-
vimento social é mais do que um ato organizado coletivamente. Sua 
complexidade se caracteriza por dimensões que norteiam embates po-
líticos, valores, ideais, tensões sociais, construções identitárias, estraté-
gias planejadas, um projeto societário, articulações em rede, inscrição 
na história e estruturas organizacionais (lideranças, comitês, brigadas, 
partidos e veículos de comunicação).
São mais que uma simples revolta (as jacqueries camponesas), 
mais que um grupo de interesses (câmara de comércio), mais 
que uma iniciativa com autonomia do Estado (ONGs). Os movi-
mentos nascem da percepção de objetivos como metas de ação, 
mas para existirem no tempo necessitam um processo de insti-
tucionalização. (TOURAINE, 1999, p. 112)
Dada a complexidade que constitui um movimento social, para 
compreendê-lo, é preciso verificar as estruturas sociais nas quais ele 
emerge, resiste e se manifesta. Dito de outro modo, toda sociedade 
funciona sob as rédeas de determinados grupos (elites econômicas e 
políticas), desenvolve-se tendo em vista contextos políticos, econômi-
cos, históricos, culturais e territoriais bem específicos, além de se fun-
damentar em valores e crenças diversas e estabelecer relações sociais 
constantemente tensionadas por disputas de classe.
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 13
1.2 O sujeito político dos movimentos sociais 
Vídeo É um equívoco conceituar ou buscar compreender os movimentos 
sociais sem considerar que cada sociedade vivencia um tipo de moder-
nidade, uma forma de governo e diferentes processos com relação à 
formação de sujeitos sociais. Isso nos remete ao fato de que a constitui-
ção dos movimentos sociais também é demarcada por aspectos econô-
micos, geográficos e territoriais.
Nessa linha de análise, há uma categoria explicativa que merece 
atenção especial: a formação do sujeito político, o ser que constrói – 
segundo vivências e conjunturas estruturais peculiares – e encaminha a 
ação. Entendemos, então, que o sujeito da ação social se difere de acor-
do com o meio e o território em que vive, as oportu-
nidades de ação de seu tempo e suas experiências.
A respeito da construção do sujeito político, nes-
sa perspectiva, torna-se mais fácil a visualização das 
motivações que permeiam a criação dos movimen-
tos sociais e, portanto, sua legitimidade. Assim se 
descortina a raiz dos movimentos sociais, que nas-
cem do real vivido, sendo possível compreender o 
porquê de se comprovarem necessários.
Para melhor explicitar a questão, tomemos o mo-
vimento dos trabalhadores como exemplo em que 
esses elementos se mostram aparentes. O movi-
mento do proletariado nasceu no século XIX devido 
às péssimas condições de trabalho e vidas imputa-
das pelo sistema capitalista. A construção da luta 
contra a exploração dos trabalhadores emergiu da 
necessidade, visto que a pobreza extrema se alarga-
va e, com ela, surgiam novas problemáticas sociais.
Esse contexto se revela de modo drástico na 
maioria das sociedades, uma vez que o capitalismo 
se reconfigurou em meados do século XIX, passan-
do de sua forma mercantilista originária (comercial) 
para um modelo mais elaborado, o sistema indus-
trial. Se com a expansão marítima e colonial (prá-
ticas que demarcaram os primórdios do sistema 
O capitalismo é um sistema 
econômico e social cuja ori-
gem ocorreu sob a influência 
das ideias iluministas e 
liberalistas. É uma proposta 
de desenvolvimento da so-
ciedade com base na ideia do 
fortalecimento das liberdades, 
principalmente quanto ao livre 
comércio com intervenção 
estatal mínima e à liberdade 
do estabelecimento da pro-
priedade (da terra e de outros 
bens). O sistema instaura a 
divisão de classes (burguesia 
versus proletariado) entre os 
que detêm os meios para a 
produção e os que possuem 
apenas a força de trabalho 
para sua sobrevivência. 
Diferentemente de todos os 
regimes de governo e modos 
de economia anteriores, o ca-
pitalismo instaura a exploração 
do homem pelo homem de 
maneiras complexas e contra-
ditórias. Trata-se de um divisor 
temporal no que se refere às 
tipificações de modos de vida 
social, político, econômico e 
cultural.
Saiba mais
14 Classes e movimentos sociais
capitalista) o mundo já sentiu o braço dos processos exploratórios, na 
sua segunda fase, o capitalismo instaurou níveis ainda mais complexos 
de exploração. Inaugurou-se a era da divisão internacional do trabalho, 
medida estratégica de alta exploração com os objetivos de reduzir in-
vestimentos e ampliar ainda mais os lucros.
O mundo foi dividido segundo as necessidades de empoderamento 
do sistema capitalista. De um lado, grandes metrópoles se ergueram e 
se instituíram enquanto produtoras de mercadorias em grande escala. 
Demarcou-se, então, o poderio das elites por sua propriedade dos meios 
de produção, assumindo o posto de centro do mundo. Do outro lado, 
houve o lugar de servidão dos países colonizados, campo de exploração 
de matérias-primas e de mão de obra (em maioria, quase escrava).
As grandes metrópoles se anunciaram como modelos de desenvol-
vimento para o mundo. O processo de produção industrial inviabilizou 
os tradicionais métodos de vida que a sociedade conhecia: a produção 
artesanal, já no início dessas mudanças, foi banida – aos artesãos, só 
restou a oferta da mão de obra. A vida rural camponesa também foi 
inviabilizada, levando famílias inteiras para os grandes centros indus-
triais em busca de alguma chance de emprego e salário. Culturas, há-
bitos, tradições e símbolos foram drasticamente alterados, e a vida em 
sociedade nunca mais foi a mesma.
Após a revolução tecnológica industrial, o capitalismo se tornou a 
única possibilidade de subsistência. As cidades industriais surgiram 
sem planejamento adequado e sem trabalho e emprego para a maio-
ria. Houve, portanto, o acentuamento do pauperismo, da violência 
urbana, das periferias, do uso descontrolado de psicoativos, de destrui-
ções de contextos familiares em massa e, entre outras consequências, 
da exacerbação dos mais severos níveis de desigualdade social.
Em 1945, ao observar o trabalho fabril e a vida dos trabalhadores na 
Europa, Engels 3 registrou tempos de barbárie e extrema injustiça social. 
A maioria da população vivia em barracos improvisados ou em cortiços 
aglomerados, e o tempo de trabalho atingia mais de 17 horas por dia 
(crianças e mulheres grávidas trabalhavam na mesma medida). O salário 
mal cobria a despesa com alimentação, não havia qualquer subsídio fi-
nanceiro ou serviço para atendimento da saúde dos trabalhadores, bem 
como qualquer tempo reservado para férias ou descanso. Metade das 
crianças morria antes dos cinco anos de idade (ENGELS, 2010).
Sugerimos o filme 
Germinal, produzido pelo 
escritor Émile Zola, que 
proporciona a visualiza-
ção dos níveis desuma-
nos da exploração do 
sistema capitalista no 
período histórico do seu 
surgimento. 
Direção: Claude Berri. Bélgica, Itália, 
França: Renn Productions, 1993.
Filme
pauperismo: extrema pobreza; 
miséria; paupérie.
Glossário
Friedrich Engels assumiu, na In-
glaterra, a direção de uma gran-
de fábrica de sua família, onde 
pôde observar as mazelas sociais 
criadas pelo sistema capitalista. 
Conheceu os dois lados do 
capitalismo, primeiramente dado 
à sua origem social e, depois, por 
meio de suas vivências enquanto 
teórico e militante revolucio-
nário. Após anos dedicados ao 
estudo minucioso da situação da 
classe trabalhadora na Inglaterra 
(título de uma de suas principais 
publicações), Engels concluiu 
que a história da humanidade é 
a história da luta de classes. 
3
A construção sócio-histórica dos movimentossociais 15
Diante de processos exploradores e desumanos, os trabalhadores 
passaram a se construir enquanto sujeitos políticos. Nasceu, então, o 
movimento social dos trabalhadores proletariados, que passaram a se 
reconhecer enquanto classe antagônica à classe dos capitalistas (pela 
primeira vez na história, organizaram greves de dimensões considerá-
veis). No mesmo período, conheceram os manuscritos de Karl Marx 4 , 
passaram a questionar o capitalismo e a denunciá-lo ao mundo como 
um sistema econômico que beneficia os proprietários dos meios de 
produção e que se sustenta da exploração dos trabalhadores.
Na perspectiva de análise de autores da tradição marxista/marxia-
na, teoria de influência hegemônica no Serviço Social, temos o sécu-
lo XIX como o marco do surgimento do movimento social de classe (o 
mais próximo das organizações que conhecemos na atualidade). Com 
ele, ocorre o nascimento do sujeito social e político que se desenvolveu 
como ator social.
Esse desenvolvimento pode ser identificado em importantes eta-
pas, organizadas didaticamente a seguir:
O sujeito da 
industrialização que 
construiu o movimento 
dos trabalhadores 
(que tem a disputa de 
classe no centro do 
processo) e que inspirou 
o nascimento de outros 
movimentos sociais.
O sujeito consciente 
do seu processo 
de transformação 
e construção 
enquanto sujeito 
político e ator social. 
O sujeito, pós-sociedade 
industrializada, que 
vivenciou os movimentos 
sociais e fez nascer desse 
processo o sujeito coletivo 
transformador, iniciando 
o processo de criação dos 
movimentos sociais para 
além das lutas de classe. 
Karl Marx foi um militante 
formado em Sociologia, História, 
Economia e Jornalismo. Sua 
teoria, o materialismo histórico-
-dialético, influenciou diversos 
campos da ciência. Ele se de-
dicou a explicitar as estratégias 
capitalistas para proporcionar à 
classe trabalhadora acesso aos 
conhecimentos necessários à 
sua libertação dos processos de 
exploração e injustiça social. Pro-
duziu livros, jornais e manifestos, 
como Manifesto Comunista 
(1848) e O Capital (1867-1894). 
Sacrificou sua condição social 
e econômica em busca de sua 
meta, foi exilado, perseguido e 
boicotado no campo da ciência e 
da política. Foi Marx, em suma, 
quem desvendou o capitalismo e 
o explicitou em suas mais diver-
sas dimensões. Falou e instigou 
trabalhadores a se organizarem 
coletiva e internacionalmente, 
com o propósito de derrubar o 
sistema que os aprisionava na 
condição de explorados, aliena-
dos e escravizados. Suas ideias 
foram expandidas tendo em 
vista diferentes interpretações, 
algumas equivocadas sobre 
sua obra. 
4
16 Classes e movimentos sociais
De acordo com Touraine (1994), o sujeito social histórico se constrói 
em meio e ao longo de processos sociais. Evitando ser somente deter-
minado pelo contexto em que vive, é o sujeito que constrói a vontade 
de agir e alterar o seu meio social. É o ser social e político que constrói 
sua liberdade na relação com o outro e sob a promessa da democracia, 
que se torna atuante em seu mundo pessoal e social (ainda que inicial-
mente esse processo ocorra de modo inconsciente).
Uma sociedade democrática é uma sociedade que reconhece o 
outro, não na sua diferença, mas como sujeito, quer dizer, de 
modo a unir o universal e o particular [...], uma vez que o sujeito 
é ao mesmo tempo universalista e comunitário, e ser sujeito é 
estabelecer um elo entre esses dois universos, ensaiar viver o 
corpo e o espírito, emoção e razão. (TOURAINE, 1994, p. 1-2)
Em suma, os movimentos sociais são legítimos e necessários, pois 
emergem e resistem na luta contra as desigualdades implementadas 
pela própria estrutura social. Os conflitos sociais se alteram segundo a 
influência dos fenômenos vivenciados em cada período, o que nos leva 
ao entendimento de que os movimentos sociais existem em todas as 
sociedades – campo da produção, pautas culturais e, mais atualmente, 
nas questões identitárias.
Como estudamos, há registros históricos de conflitos sociais que 
datam desde os primórdios da humanidade, mas foi na sociedade ca-
pitalista que os sujeitos políticos configuraram os moldes institucionali-
zados que caracterizam os movimentos sociais na atualidade.
No contexto capitalista, os movimentos sociais asseguram possibi-
lidades de resistência e luta aos grupos que historicamente são negli-
genciados, excluídos ou invisibilizados devido à sua condição de classe, 
sua posição cultural ou sua condição identitária. A inexistência dos 
movimentos sociais seria extremamente benéfica ao ideário capitalis-
ta, uma vez que não haveria grupos a denunciar as desumanidades e 
barbáries que caracterizam suas estratégias de perpetuação.
A compreensão da ideologia capitalista, bem como das práticas so-
ciais que a materializam, se faz essencial ao entendimento dos movi-
mentos sociais, pois ainda que a desigualdade social seja anterior ao 
sistema capitalista e exista em toda parte do mundo (independente-
mente do tipo de governo ou do sistema econômico em vigência), é na 
luta de classes que se apresentam os níveis mais complexos de contra-
dição e injustiça social. Logo, o entendimento conceitual dos movimen-
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 17
tos sociais só é possível se considerados os conflitos de classe, ainda 
que estes não sejam o único determinante de sua existência.
Desde a sua origem, portanto, o capitalismo altera muito mais do 
que a ordem econômica: ele institui novos valores e modos de ser em 
sociedade. No século XIV, um manual distribuído pelos burgueses aos 
comerciantes já demonstrava o que estava por vir: a projeção do des-
prezo pelos pobres, a incitação ao egoísmo, o incentivo à corrupção, a 
elevação da propriedade privada ao sagrado e a supremacia da obten-
ção de lucros. O manual orientava:
não frequentes os pobres, pois nada tens a esperar deles; tu 
não deves servir os outros, deixando de te servir em teus pró-
prios negócios; lembre-se que as dádivas tornam cegos os olhos 
dos sábios e muda a boca dos justos. Se para obter o resultado 
esperado da transação mercantil for preciso subornar, por que 
não fazê-lo? É um grande erro fazer o comércio de modo empírico, 
o comércio deve ser feito racionalmente. (RIBEIRO, 1995, p. 210, 
grifos do original)
Ainda na contemporaneidade, vemos um grupo minoritário com-
posto de elites econômicas e políticas que tem sob seu poder Estados, 
indústrias, empresas, bancos, veículos de comunicação em massa, 
grandes complexos industriais monopolizados e incontáveis proprie-
dades de terra em todo o mundo.
É inegável, então, a importância absoluta dos movimentos sociais, 
visto que ainda se configuram enquanto espaço de construção de su-
jeitos políticos, que se expressam, organizam e instituem modos de en-
frentamento das desigualdades e injustiças criadas ou intensificadas 
pelo sistema capitalista. São os movimentos sociais os porta-vozes dos 
sujeitos cujos direitos são negligenciados, reduzidos ou retirados.
Os movimentos sociais proporcionam meios para que os sujeitos se 
aproximem, expressem suas demandas individuais e sociais, se identi-
fiquem em suas vivências, compartilhem saberes e conhecimentos de 
todos os tipos, inclusive os políticos. Por meio da aproximação com 
os grupos organizados, são viabilizados o acesso a estudos, debates 
e outras vivências que resultam no entendimento dos sujeitos de sua 
própria condição de vida. Condição essa que nem sempre é escolhida, 
tendo em vista que, em prol da manutenção de sua ideologia burguesa, 
o sistema capitalista dificulta ou impede a ascensão social de pobres, 
mulheres, indígenas, negros, homossexuais, lésbicas, travestis, religio-
18 Classes e movimentos sociais
sos e de qualquer grupo que questione ou ameace o pleno funciona-
mento da ordem capitalista.
O movimento social é cenário e palco para o fortalecimento de re-
lações de identidade, a descoberta do modo como as relações sociais 
são construídas e o entendimentoda origem das formas sociais de ex-
ploração e dominação política – campo de extrema importância para 
que o sujeito possa tomar ciência de sua alienação. Importante res-
saltar que a alienação é aqui compreendida como um dos pilares para 
a construção da ideologia burguesa, sendo a base que proporciona ao 
capitalismo as máximas necessárias à sua perpetuação.
Quando o sujeito não percebe que sua vida e o funcionamento do 
sistema social em que vive são construídos em parte por ele próprio, 
por meio da reprodução das regras que regem a estrutura social, dize-
mos que está na condição de alienado. Nessa situação de “ignorância”, 
não percebe, por exemplo, sua condição de explorado, elevando a res-
ponsabilidade pela criação das sociedades e das suas próprias condi-
ções de vida ao divino, ao Estado, ao destino, à ciência etc. Uma pessoa 
alienada que vive na condição de extrema pobreza, por exemplo, natu-
raliza sua situação e, por isso, tende a não questioná-la.
Como enfatizado, a compreensão teórica do que é um movimen-
to social é uma tarefa complexa, pois mesmo entre teóricos não há 
um consenso quanto a uma conceituação. Ao considerar o fato de que 
adentramos em termos e conceitos equivocamente simplificados para 
uso no senso comum, a situação fica ainda mais difícil.
1.3 Movimentos sociais na desconstrução 
da ideologia burguesa 
Vídeo Para além do impasse quanto à determinação do surgimento e do 
próprio conceito de movimentos sociais, e considerando os termos ne-
vrálgicos já abordados (estrutura social, sujeito político, ação social, ca-
pitais sociais, alienação, proletariado, burguesia, elites etc.), outro termo 
que exige atenção é ideologia, essencial à sequência dessa reflexão.
Ideologia apresenta significados diversos e opostos. No senso co-
mum, é utilizada como sinônimo de visão/ideia de mundo, implicando 
o entendimento de que existem diferentes ideologias segundo o que 
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 19
cada um deseja com relação ao funcionamento da sociedade. Já no 
âmbito conceitual crítico, ideologia é sinônimo de realidade previamente 
inventada, que se concretiza por meio de um conjunto sistemático de 
ideias, valores e símbolos voltados à manutenção das relações de do-
minação impostas pelas elites.
Karl Marx foi o autor que conceituou ideologia como um instrumen-
to de dominação. Explicitou, em seus trabalhos, que a ideologia cria 
uma realidade imaginária/falsa, visto que o funcionamento dos ideais 
da elite dominante depende da ocultação de diversos aspectos da rea-
lidade. A ideologia serve, por exemplo, para que o trabalhador não se 
perceba enquanto explorado. A ideologia orienta que esse trabalhador 
deve ser grato pelo salário que recebe, satisfeito por fazer parte da 
construção do progresso e fiel às regras do sistema, sem questioná-las 
para não provocar o caos, porque seu lugar na organização da socieda-
de foi “naturalmente” construído.
Como estratégia de dominação, a ideologia burguesa cria realidades 
que nos fazem acreditar que o Estado é o culpado pelas injustiças. Com 
isso, oculta o fato de que o Estado está a serviço das elites – quanto maior 
o nível de corrupção de uma nação, mais visível se torna a questão, uma 
vez que os cargos políticos são ocupados pela classe dominante.
Nesse contexto, um dos principais papéis dos movimentos sociais é 
o de descortinar a realidade ou, como diria Marx (1985, p. 620), “mos-
trá-la para além do real aparente”. São os movimentos sociais os agen-
tes políticos capazes de questionar o vivido, porque, enquanto sujeitos 
coletivos, se tornam fortes, e nada é mais temido pelas elites dominan-
tes do que a força da massa popular.
Foram os movimentos sociais os responsáveis pelo questionamen-
to da história contada. São eles que passaram a cobrar a sociedade 
quanto à história dos negros, dos índios, das mulheres, das crianças, 
dos camponeses etc. Sem o poder construído pelo povo, ainda estaría-
mos estudando nas escolas apenas sobre os brancos, os poderosos, os 
ricos e seus feitos.
É com base em estratégias que ocultam ou confundem que as elites 
dominantes (políticas e econômicas) continuam no poder. A ideologia 
lhes fornece os instrumentos necessários para garantir sua hegemonia. 
Outro aspecto de extrema importância com relação ao entendimen-
to dos movimentos sociais se refere à vulgarização e à marginalização 
A ideologia burguesa é um 
conjunto sistemático de ideias 
que instituem na sociedade o 
culto de que a história das socie-
dades é a história do progresso. 
Com essa estratégia, oculta-se 
a história real e os sujeitos 
reais que atuam na construção 
da sociedade, escondendo, 
assim, que as elites dominantes 
fazem uso do progresso para 
dominar todas as esferas da vida. 
Nessa ideologia, todo tipo de 
exploração, alienação e fetiche 
é mantido em sigilo, de modo 
que se faz aparente apenas a 
necessidade do progresso e do 
desenvolvimento “natural” das 
sociedades. Assim, mantém-se 
a ascensão e a manutenção das 
elites burguesas (CHAUÍ, 1988).
Saiba mais
Pray the Devil Back to Hell 
é um excelente documen-
tário para compreender a 
importância da organiza-
ção social ante mudanças 
que desejamos no 
mundo. A produção da 
assistente social Leymah 
Gbowee revela os pro-
testos organizados por 
mulheres muçulmanas e 
cristãs que, como resul-
tado, conquistaram o fim 
da Segunda Guerra Civil 
da Libéria, em 2003.
Direção: Gini Reticker. USA: Fork 
Films, 2008.
Documentário
20 Classes e movimentos sociais
dos grupos que se organizam para enfrentar a ordem vigente. Compete 
à ideologia dar conta de escrever na história a versão de que os movi-
mentos sociais não passam de grupos de pessoas desocupadas, loucas e, 
consequentemente, perigosas. O fortalecimento popular não interessa à 
ideologia burguesa, uma vez que o poder popular pode colocar em risco 
o projeto de sociedade que as elites dominantes perpetuam há séculos – 
apenas lhes interessa o poder de mobilização da massa alienada. 
As pesquisas dos sociólogos brasileiros Jessé de Souza (2017) e Ri-
cardo de Oliveira (2001) revelam que a elite dominante se constrói e 
se perpetua por meio de relações sociais familiares que se conectam 
e lhes possibilitam acumular capitais sociais, políticos e econômicos ao 
longo de diversas gerações. Não se trata de mérito, visto que a maioria 
das famílias mais poderosas do mundo apresenta redes de poder que 
se transformam em benefícios, privilégios e artifícios diversos materia-
lizados na sociedade em nepotismos, relações clientelistas e corrupção. 
Os pesquisadores comprovam que as famílias mais ricas e poderosas 
da atualidade pertencem e/ou estão associadas à mesma elite domi-
nante há mais de 500 anos. 
A estrutura de poder não é uma abstração, ela se materializa em 
situações objetivas de posse de riqueza, se reproduz e se con-
solida graças a redes políticas, sociais e de parentesco. As redes 
políticas de poder são definidas como conexões de interesses 
envolvendo, basicamente, empresários e cargos políticos no 
aparelho de Estado, no executivo, legislativo e no judiciário e, 
também, em outros espaços de poder buscando assegurar van-
tagens e privilégios para os participantes. (OLIVEIRA, 2004, p. 1)
Em suma, a monstruosa desigualdade da sociedade capitalista não 
é natural, e sim construída sob a ideologia burguesa, sob as rédeas 
de nomes ilustres da política e da economia. Além da mesma ideolo-
gia (estratégia de dominação), formam um grupo coeso, constituído de 
pessoas que se conhecem desde a infância, uma vez que herdam as 
relações de poder de seus pais, que também já se conheceram por 
meio de seus avós. Frequentam as melhores escolas, universidades, 
clubes, festas familiares e recebem as melhores oportunidades, pois 
as famílias têm em seu poder as indústrias mais influentes, os escritó-
rios jurídicos mais renomados, as escolas e universidades mais tradi-
cionais e reconhecidas. Quando alguma porta não lhes pertence, têm 
a influência de seus sobrenomese o poder econômico necessário para 
fazê-la abrir. Sobretudo, sabem que a existência e a permanência de 
seu poderio dependem da manutenção das desigualdades sociais. 
A revista Forbes divulgou, em 
publicação de maio de 2014, 
quais seriam as quinze famílias 
mais ricas do Brasil. Segundo 
as informações apresentadas, 
elas detêm sozinhas 15% do 
PIB nacional. Apenas cinco dos 
bilionários brasileiros possuem 
mais dinheiro do que a metade 
da população pobre do Brasil.
Saiba mais na reportagem:
QUINZE famílias mais ricas do 
Brasil são donas de 5% do PIB. 
Estadão, São Paulo, 15 mai. 
2014. Disponível em: https://
economia.estadao.com.br/
noticias /geral,quinze-fami-
lias-mais-ricas -do-brasil-sao-
-donas-de-5-do-pib ,184946e. 
Acesso em: 22 jun. 2020.
Curiosidade
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 21
1.4 Características dos movimentos sociais 
Vídeo
É inegável a amplitude, a complexidade e a importância dos movi-
mentos sociais, pois, mais do que apenas manifestações ou aglomera-
dos de pessoas que, por motivos particulares, decidem quebrar regras, 
são o reflexo do povo com relação à construção histórica da sociedade. 
Não se trata de indivíduos que, por não se adaptarem e/ou não es-
tarem privilegiados no desenho da estrutura social, resolvem levantar 
bandeiras até que seus lugares sejam garantidos. Sobretudo, não se 
constituem por motivos e/ou meios simplistas. 
São os movimentos sociais a “chama da democracia”, a união dos 
injustiçados e oprimidos e, principalmente, a fundamental porta para 
a construção do sujeito político, do ator social, do ser social “desalie-
nado” que, em meio a outros sujeitos com os quais se identifica, cons-
troem relações de identidade, acessam e aprofundam conhecimentos 
sobre a história da própria gente.
O filme Selma: a marcha 
da liberdade retrata a 
luta liderada por Martin 
Luther King pela defesa 
dos direitos da comu-
nidade negra nos EUA. 
Milhares de pessoas par-
ticiparam de uma marcha 
durante a campanha para 
a igualdade de direitos ao 
voto. Como resultado, o 
então presidente Lyndon 
B. Johnson implementou 
a Lei dos Direitos de Voto, 
em 1965.
Direção: Ava DuVernay. EUA: 
Plan B Entertainment, 2014.
FilmeCom isso, cotidianamente aprendem uns com 
os outros, desenham modos de construir bases e 
instrumentos em que possam expressar e reclamar 
suas demandas, tais como: reuniões, assembleias, 
greves, paralisações, passeatas, protestos, fóruns, 
conselhos, partidos, oficinas e cursos, organizações 
da sociedade civil (OSCs), centros e diretórios, sedes 
e outros pontos de encontros diversos. 
 Apresentam um modo peculiar de organização: 
estabelecem bandeiras, símbolos, planos de ação, 
redes de comunicação, articulação e mobilização. 
Produzem e partilham materiais de estudo, instru-
mentos de divulgação e de arrecadação de fundos 
econômicos. Engendram estratégias de ocupação de 
postos políticos e outros espaços que lhes possibi-
litem demarcar representatividade, poder de fala e 
de voto. Criam atividades culturais e festivas que be-
neficiem seus integrantes e a quem possa interessar 
(comumente eventos públicos). 
Movimentam-se conforme a conjuntura sócio-his-
tórica de cada época – em busca de mudanças pon-
22 Classes e movimentos sociais
tuais, pequenas alterações, grandes transições ou mesmo revoluções 
mais drásticas. Operam por meio de ações isoladas ou partilhadas com 
outros movimentos e grupos da sociedade, segundo seus interesses 
ou suas necessidades (como estratégia de resistência, fortalecimento, 
necessidades emergenciais/crônicas e empatia). Pautam a liberdade, a 
equidade, o fortalecimento da democracia, a ampliação e a garantia de 
direitos políticos, civis e sociais; afinal, debatem acerca da justiça social.
Apresentam diferentes tipos, mas não é possível classificá-los na 
íntegra, visto se tratar de organizações altamente complexas, permea-
das por dimensões que ultrapassam o mensurável. Porém, para fins 
didáticos, é aceitável construir categorias, por exemplo: características 
comuns, atributos peculiares, experiência sócio-histórica, recursos fi-
nanceiros e projetos societários.
As características em comum constituem-se por meio da identifica-
ção e do aprimoramento de ideias, valores, condições de existência (ca-
pitais econômicos, sociais e culturais). Visam alterar a estrutura social 
vigente em prol do atendimento das demandas que lhes são peculiares 
e se relacionam de modo cíclico com o Estado (no enfrentamento e/ou 
no apoio de regimes ou planos de governo).
Nesse sentido, também é possível diferenciá-los enquanto movi-
mentos sociais clássicos/históricos e movimentos sociais contempo-
râneos/novos. Os denominados movimentos clássicos e/ou históricos 
fazem referência aos mais antigos da sociedade: dos trabalhadores, 
das negritudes, dos povos indígenas, eclesiásticos, feministas e dos tra-
balhadores sem-terra. Já os novos movimentos sociais são oriundos 
das últimas décadas e estão relacionados com a defesa: do meio am-
biente e da paz, das questões de gênero e sexualidade, da população 
com deficiência, da população em situação de rua, dos povos do campo 
e das florestas, dos animais e da diversidade cultural.
Constituem-se em coletivos que incrivelmente resistem, mesmo 
diante de desafios gigantescos como o desprezo social, a repressão 
estatal e militar, a ignorância social e a falta de recursos (econômicos, 
físicos, culturais e tecnológicos). O desafio do financiamento dessas or-
ganizações é uma realidade que os assombra, desde os primórdios do 
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 23
surgimento dos movimentos sociais. Ainda que eles apresentem dife-
rentes tipos de arrecadação de fundos, todos se deparam com esse 
desafio, seja pela dificuldade de arrecadação devido à sua marginali-
zação pelas elites, seja por problemas internos de gestão, por alianças 
políticas ou por cerceamentos resultantes dos níveis de dependência 
das fontes pagadoras.
Carregam o fardo do julgamento equivocado (devido ao desvirtua-
mento de sua história social) e o peso de memórias recheadas pela dor 
do sofrimento de seus antepassados, de seus companheiros de cami-
nhada e dos momentos vivenciados em sua própria realidade social. 
Enquanto atores da história, foram e são os responsáveis por diversas 
das conquistas vivenciadas na contemporaneidade por meio de inicia-
tivas como: a Revolução Russa de 1917; as manifestações de 1948 a 
1994 contra o Apartheid na África do Sul; o protesto de maio de 1968, 
que reuniu mais de nove milhões de manifestantes em Paris contra o 
governo do general De Gaulle; o Massacre da Praça da Paz Celestial 
de Pequim em 1969; o Panelaço Argentino de 1971 contra a ditadura 
militar no país; o protesto de 1977 das Mães da Praça de Maio, na Ar-
gentina, pelo reclame dos filhos desaparecidos na ditadura militar; as 
manifestações conhecidas como Diretas Já de 1983/1984, quando a po-
pulação foi às ruas no Brasil pelo fim da ditadura militar e pelo reclame 
de eleições presidenciais diretas; entre outras ações sociais, como os 
protestos dos estudantes contra o aumento das passagens de ônibus, 
conhecidos como as Jornadas de 2013.
São os movimentos sociais, portanto, coletivos de sujeitos sociais 
e políticos que têm como marca histórica as negligências, ausências e 
violências que lhes fizeram ser quem são. Em outras palavras, são os 
movimentos sociais a parte organizada do povo que tornou possível 
a democracia, que deu concretude ao nascimento das políticas públi-
cas e que, entre muitos outros papéis sociais, é o principal responsável 
pelo avivamento da memória dos bilhões de injustiçados que tiveram 
sua dignidade e vida ceifadas pela ideologia burguesa.
O filme Norma Rae 
apresenta o contexto da 
exploração do trabalho 
fabril e as questões in-
trínsecas à luta feminista. 
A protagonista, ciente 
de que o salário não é 
compatível com as longas 
horas de trabalho e das 
péssimascondições da 
fábrica, lidera entre seus 
colegas a luta pela cria-
ção de um sindicato.
Direção: Martin Ritt. USA: Twentieth 
Century Fox, 1979.
Filme
24 Classes e movimentos sociais
1.5 Movimentos sociais e a 
dimensão sócio-histórica 
Vídeo Antes de adentrarmos os fatos e elementos que têm configurado os 
movimentos sociais ao longo da história das sociedades, cabe considerar 
que existem significativas diferenças entre os movimentos sociais euro-
peus e os latino-americanos, tanto nas demandas requeridas quanto nas 
formas de organização. Isso ocorre por serem realidades sócio-históri-
cas diferentes com relação ao contexto político, cultural e territorial.
Devido às sociedades europeias serem mais antigas em comparação 
à brasileira, estranho seria se os movimentos sociais europeus não de-
monstrassem peculiaridades, como maturidade política mais elaborada, 
força política mais acentuada e, em alguns casos, resistência armada. A 
maioria dos países europeus apresenta, em sua história, algum tipo de 
manifestação política que antecede o início da contemporaneidade.
Contudo, na perspectiva conceitual já apresentada, seria um equí-
voco afirmar que os eventos ocorridos na Europa anteriormente ao 
marco da contemporaneidade se trataram de movimentos sociais. É 
preciso considerar que a maioria das manifestações ocorridas foi cons-
truída por personalidades que compunham, de algum modo, a elite de 
seu tempo. Afirmação certeira, pois ainda que se tratassem de algum 
tipo de questionamento ao poder instituído, o povo não era consultado 
e, quando participava, apenas cumpria estratégias sob o comando de 
lideranças (aristocratas, fidalgos etc.). Em suma, não havia um processo 
em que a construção do sujeito político fosse oportunizada.
Assim, ao tomar a contemporaneidade enquanto marco de análise, 
podemos afirmar que os primeiros registros de organização popular e 
formação de sujeitos políticos da Europa ocorreram na segunda meta-
de do século XVIII, por meio de dois importantes levantes populares: 
a Festa do Chá, ocorrida em Boston em 1773 (movimento que antece-
deu a Revolução Americana) e a Queda da Bastilha (movimento que 
resultou na queda da monarquia francesa que imperava há mais de 
treze séculos). Esses dois eventos são os primeiros movimentos sociais 
europeus de que se tem registro, nos quais uma massa “popular” foi 
às ruas manifestar-se contra o poderio da Igreja em diversas cidades 
europeias. Conforme registros do filósofo Hegel 5 , as massas pareciam 
O filósofo Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel dedicou sua vida 
ao estudo do idealismo alemão. 
Para alguns, Hegel foi o criador 
do entendimento da dialética 
como modo de compreensão da 
história, da filosofia e do mundo: 
uma progressão na qual cada 
movimento sucessivo surge 
como solução das contradições 
inerentes ao movimento anterior.
5
O filósofo Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel dedicou sua vida 
ao estudo do idealismo alemão. 
Para alguns, Hegel foi o criador 
do entendimento da dialética 
como modo de compreensão da 
história, da filosofia e do mundo: 
uma progressão na qual cada 
movimento sucessivo surge 
como solução das contradições 
inerentes ao movimento anterior.
5
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 25
ter se levantado todas de uma vez, invadindo as capitais europeias, ins-
pirando e gerando representações pela Europa e América Latina.
Essas mobilizações demonstraram a força da organização de mas-
sa e geraram bases que conduziram a Revolução de 1848, conhecida 
como a Primavera dos Povos. Essa revolução teve como norte a revolta 
dos povos contra as humilhações, explorações e injustiças que sofriam. 
Em meio a essa revolução, nasceu a organização dos trabalhadores 
proletários que, encontrando apoio em Karl Marx, Engels e outros in-
telectuais, organizaram o levante popular mais conhecido do mundo.
Karl Marx foi o primeiro intelectual da história a dedicar a maior parte 
da vida ao fortalecimento da luta popular. Por meio de seus escritos, 
denunciou as barbáries geradas pelo capitalismo, ao mesmo tempo que 
anunciou ao povo que estaria à frente da revolução, não para lhe dizer 
o que fazer, mas tudo que poderia fazer. Ainda é, na atualidade, um dos 
autores mais “perseguidos” e “mal interpretados” da história. Afirmava 
em meio aos trabalhadores e registrou, em seus livros, a força do poder 
popular. Segundo ele, caberia ao povo a mudança necessária capaz de 
elevar a história da humanidade a um patamar superior, e não à elite 
que repetia a injustiça social como forma de perpetuação de poder.
Marx é, no Serviço Social, a referência teórica hegemônica de maior 
importância e, sem dúvida, uma das figuras mais influentes. A práxis 
realizada por assistentes sociais em todo o mundo tem como base o 
método de análise social construído pelo autor: o já mencionado mate-
rialismo histórico-dialético. Enquanto militante, Marx convidou o mun-
do a construir uma aliança máxima entre intelectuais e proletários, a 
fim de que se firmassem em grandes movimentos comunistas. Na vi-
são do autor, são as massas que fazem a história:
Os comunistas não se rebaixam a ocultar suas opiniões e os seus 
propósitos. Declaram abertamente que os seus objetivos só po-
derão ser alcançados pela derrubada violenta de toda ordem so-
cial existente. Que as classes dominantes tremam à ideia de uma 
revolução comunista. Nela, os proletários nada têm a perder a 
não ser suas prisões, têm um mundo a ganhar. Proletários de 
todos os países, uni-vos! (MARX; ENGELS, 1977, cap. IV)
De acordo com Elias Canetti (1995), autor do clássico  Masse und 
Macht (Massa e Poder, em tradução livre), após a Festa do Chá, a Queda da 
Bastilha e a Primavera dos Povos, as manifestações populares ganharam 
força e o povo sentiu o gosto do poder popular, acessou conhecimentos 
Em 1848, Karl Marx e Friedrich 
Engels concluíam o Manifesto 
do Partido Comunista, material 
que convoca os trabalhadores de 
todo o mundo a lutarem contra 
a exploração do capitalismo. 
Eles conclamavam a tomada do 
poder pela massa popular e, por 
meio da ciência, registraram que 
a destruição do capitalismo e o 
triunfo da sociedade comunista 
são inevitáveis.
Saiba mais
26 Classes e movimentos sociais
jamais imaginados (como a leitura do Manifesto Comunista, de Karl Marx 
e Engels) e, ainda que a história afirme que tenha perdido, venceu.
Um fenômeno tão enigmático quanto universal é o da massa que 
repentinamente se forma onde, antes, nada havia. Umas poucas 
pessoas se juntam – cinco, dez ou doze, no máximo. De repente, 
o local preteja de gente. As pessoas afluem, provindas de todos 
os lados, e é como se as ruas tivessem uma única direção. Muitos 
não sabem o que aconteceu e, se perguntados, nada têm e res-
ponder; no entanto, têm pressa de estar onde a maioria está. Em 
seu movimento, há uma determinação que difere inteiramente 
da expressão de curiosidade habitual. O movimento de uns – po-
de-se pensar – comunica-se aos outros; mas não só isso: as pes-
soas têm uma meta. E ela está lá antes mesmo que se encontrem 
palavras para descrevê-la: a meta é o ponto mais negro – o local 
onde a maioria encontra-se reunida. (CANETTI, 1995, p. 14)
A Primavera dos Povos demarcou o nascimento do movimento 
social organizado a nível mundial, visto que repercutiu e resultou na 
formação de diversos movimentos e ações sociais com características 
de massa. Contudo, nem todos os movimentos emergiram do povo, 
alguns foram criados pelas elites da época – a burguesia, por exemplo, 
mesmo subordinada à Igreja e monarquia, conseguiu reverter a situa-
ção e derrubar o regime absolutista.
Na Áustria, por sua vez, não houve manifestação da massa popular, 
mas integrantes da aristocracia fizeram rebelião contra a monarquia. A 
Alemanha apresentou dois tipos de movimentos: a favor da unificação 
do país e da libertação dos trabalhadores (revoltas operárias e campo-
nesas, nesse sentido, foram constantes). Na França, enquanto resulta-
do das rebeliões, a República foiproclamada (o rei Luís Filipe I abdicou 
do trono em 1848) e, algum tempo depois, finalizou-se a disputa polí-
tica com a derrubada definitiva do absolutismo e vitória da burguesia.
Infelizmente, os reclames levantados pelos movimentos sociais po-
pulares da Europa foram por “água a baixo”, pois, de modo geral, no 
mesmo período, a elite também se articulou e, além de estabelecer 
estratégias de controle das rebeliões populares, aprimorou seu pró-
prio movimento: a revolução burguesa, que já estava em prática desde 
1640, teve êxito em meados de 1850 e atingiu seu auge em 1870. Guia-
dos pelas ideias iluministas 6 e pelo liberalismo 7 , a burguesia instaurou 
a Segunda Revolução Industrial.
O Iluminismo foi um movimento 
oriundo da Europa e projetado 
por intelectuais no século XVIII. 
Sob bandeiras de liberdade, 
igualdade e fraternidade, 
reforçava-se a necessidade de 
efetivação da ideologia bur-
guesa. Isso pode ser observado 
pelas pautas defendidas pelo 
movimento dos intelectuais 
da época, pois, ainda que de 
modo indireto, defendiam a 
liberdade econômica, ou seja, 
a não intervenção do Estado na 
economia, o antropocentrismo, 
o avanço da ciência e da razão 
– em suma, o predomínio da 
ideologia burguesa.
6
Grosso modo, podemos falar 
que o Liberalismo resultou do 
movimento iluminista burguês. 
É o nome dado ao conjunto 
das ideias que constituem a 
ideologia burguesa.
7
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 27
A Segunda Revolução Industrial corresponde ao período do capitalismo em 
que houve o aperfeiçoamento tecnológico da industrialização por meio da ma-
nipulação avançada do aço, da introdução da eletricidade e da descoberta de 
novos usos do petróleo na produção industrial. Foi um período demarcado pela 
produção em massa, diversificação da exploração dos trabalhadores e criação 
de novas relações sociais. Foi uma época histórica em que foram criados os 
modelos fordista e taylorista de produção.
Na realidade latino-americana, o processo ocorreu de modo dife-
renciado do europeu. Primeiramente por serem territórios que apre-
sentam diferenças extremas no que diz respeito à temporalidade 
histórica de seu surgimento. Outro ponto significativo faz referência ao 
fato de que a Revolução Industrial já havia sido instaurada na Europa 
há muito tempo e, com ela, a “promessa do progresso tecnológico”, isto 
é, as elites dos países periféricos já teriam a expectativa de se tornarem 
espelhos das grandes potências europeias e americanas. Contudo, é 
fato que os países da América Latina só entraram no jogo porque se 
configuravam como fonte dos recursos necessários à expansão do ca-
pitalismo europeu e americano.
Embora as várias mutações do capitalismo sejam sempre os arqué-
tipos causadores da condição exploratória dos países periféricos, não 
se pode negar que alguns dos resultados exploratórios visualizados na 
América Latina também se objetivaram fora dela. Dito de outro modo, 
existem elementos comuns do capitalismo em diferentes territórios, 
ainda que cada nação tenha servido para um determinado tipo de ne-
cessidade do sistema capitalista. Isso se sustenta no fato de que nem 
mesmo entre os países tidos como desenvolvidos o processo aconte-
ceu de modo igualitário.
Na América Latina, por exemplo, embora todos os países que a com-
põem tenham sido peças essenciais à efetivação e manutenção da inter-
nacionalização do capital a nível mundial, os processos decorreram de 
modo diferenciado em cada um deles (Bolívia, Venezuela, México, Peru, 
Argentina e Brasil), resultando em histórias e implicações diversas.
Além dos conflitos culturais e de classe, outro elemento importante 
na formação dos movimentos sociais organizados na América Latina 
foi o regionalismo dentro de cada país. Segundo os estudos de José 
Luis Roca (1979), o regionalismo exerce um significativo papel, pois, 
28 Classes e movimentos sociais
para além das particularidades de cada período em que o capitalismo 
se instaurou e da diversidade de matérias-primas de cada nação, há a 
questão dos diferentes tipos de cultura e formação de Estado.
Nesse ínterim, cada país da América Latina dependeu da sorte no 
que se refere à exploração e extração de produtos, com o propósito 
de potencializar a internacionalização do capital. A oferta de investi-
mento na criação ou no fortalecimento da estrutura estatal foi a condi-
ção primária desse processo, o que se deu desde a década de 1940 aos 
dias atuais. O Estado Nacional tem se mostrado essencial à efetivação 
do sistema capitalista – arranjo político e econômico que não se desfez 
nem nos períodos de ditadura.
A internalização do capital, também denominada mundialização do capital e 
entendida por algumas vertentes enquanto globalização, é um processo em 
que as relações econômicas e sociais entre diferentes nações são intensifica-
das. Teve início com as expansões marítimas e com as novas configurações 
no modo de produção e exploração do trabalho. Na produção, as principais 
mudanças com vistas à expansão e internacionalização do capital ocorreram 
após o término da Segunda Guerra Mundial, quando o capitalismo se percebe 
em crise e cria estratégias de sobrevivência. 
O fordismo que em tempos anteriores garantiu lucro e crescimento aos países 
capitalistas centrais, no período pós-guerra, já não poderia oferecer o mes-
mo retorno e foi substituído pela flexibilização dos processos de trabalho e de 
produção. A flexibilização do trabalho, da produção e dos limites territoriais 
aconteceu, principalmente, pela aliança de grupos corporativos, os chamados 
monopólios e oligopólios (poucos vendedores para muitos compradores), que 
entraram no debate do mercado mundial como resposta capaz de combinar 
maior produtividade, capacidade de inovação e ampla competitividade.
De acordo com Thomas Hobbes (1992), a figura do Estado mais pró-
xima à que conhecemos na atualidade surgiu entre os séculos XV e XVI. 
Para ele, o surgimento do Estado esteve atrelado à necessidade das 
elites de resguardarem seus patrimônios, de modo que não tivessem 
de estar em constante alerta de guerra. Desse modo, criaram o Estado 
enquanto instituição social, econômica e política que teria como pre-
missa o julgamento das liberdades individuais (e coletivas) por meio 
de uma nova organização jurídica. O Estado era compreendido, então, 
como criação estratégica das elites dominantes, voltada à garantia da 
sua própria estabilidade social e segurança pessoal (HOBBES,1992).
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 29
Com relação à conceituação de Estado, John Locke (1998) acrescenta 
que, no modelo de governo estatal, a propriedade funciona como uma 
ditadora dos tipos de relações sociais, visto que liberdade e proprieda-
de estão imbricadas. Se antes da criação do Estado o nivelamento das 
liberdades decorria pelo que cada rei entendia como adequado aos seus 
diferentes grupos de súditos (classes e estamentos sociais), na formação 
de Estado Nacional, a liberdade é nivelada pelo governo, com base na 
proporção de propriedade dos meios de produção (LOCKE, 1998).
Em uma leitura mais atual do mesmo contexto, Mészáros (2002) nos 
mostra que o Estado Moderno e o sistema capitalista foram criados 
e configurados de modo paralelo. Para o autor, não se trata de uma 
coincidência, uma vez que, desde os primórdios do seu nascimento, a 
instituição tem funcionado como a única estrutura corretiva compatível 
com os parâmetros estruturais do capital que opera onde o controle 
social se dá de modo metabólico.
Imbricada ao Estado, sempre esteve a revolta popular (a luta dos 
indígenas, a dos escravos, a dos trabalhadores e a das mulheres), ainda 
que o processo se tenha efetivado de modo particularizado, conforme 
a condição de consciência de cada país quanto ao avanço capitalista. 
Os nativos brasileiros, por exemplo, não tinham a informação de que 
o processo de chegada dos estrangeiros era parte estratégica de um 
sistema altamente elaborado, que pretendiaa escravização local. Da 
mesma forma, não sabiam os escravos que sua condição étnica con-
denaria as suas gerações a níveis escravistas ainda mais desumanos.
Fato é que o sistema capitalista complexificou as desigualdades e os 
conflitos já existentes a níveis jamais vistos na história social. Os con-
flitos raciais, étnicos, de gênero e culturais (patriarcado, intolerância 
religiosa etc.) foram intensificados. E ainda que esses poucos grupos 
tenham sido os primeiros a enfrentarem a ordem estabelecida, por 
meio das rebeliões que mancharam o Brasil de sangue, foi somente 
por meio da luta de classes que o sistema capitalista foi enfrentado 
como um inimigo que se conhecia na íntegra. Em outras palavras, é 
na luta de classes que temos identificado a formação dos movimentos 
sociais como luta organizada que se levanta contra o projeto de socie-
dade instaurado, tanto na Europa quanto na América Latina.
30 Classes e movimentos sociais
1.6 Movimentos sociais no contexto capitalista 
Vídeo Os períodos mencionados, com relação à instauração dos novos 
modos de produção da vida, produziram na sociedade diferentes níveis 
de desenvolvimento. Os países periféricos sofreram de modo drástico 
a industrialização tardia: além de servirem como fonte de extração de 
matéria-prima, tiveram seus territórios marcados por mudanças socio-
culturais até então inimagináveis.
Políticas e estruturas de dominação foram implantadas sob o dis-
curso do desenvolvimento de todas as nações, e o capitalismo se ins-
taurar na sua forma mercantilista foi suficiente para o estabelecimento 
de economias escravas. Populações inteiras foram devastadas, e as 
que sucumbiram foram escravizadas. As cidades feudais desparece-
ram, artesãos e produtores do campo não conseguiram resistir à des-
leal concorrência, a produção em troca de assalariamento aos poucos 
foi instaurada em todo o mundo. A venda da força de trabalho foi o que 
restou à maior parcela da população mundial.
O movimento operário inaugura na história o pressuposto necessário 
à organização e à luta política organizada por meio de lutas populares. 
Indignados com os absurdos níveis exploratórios e armados de ideias 
motivadas por escritos, como o já mencionado Manifesto Comunista e 
outros, os operários traduziram suas dores em ações políticas. Foram 
responsáveis por diversas reconstruções históricas, o que nos remete ao 
entendimento de que não podemos acreditar que as sociedades foram 
construídas unicamente pelos sujeitos que as governam e dominam. 
Pensar desse modo seria ter uma leitura superficial das sociedades, visto 
que diversos movimentos e revoltas populares ciclicamente têm se ma-
nifestado com vistas ao enfrentamento das amarras que os prendem.
Os direitos tidos como fundamentais (individuais e coletivos), por 
exemplo, resultaram das lutas sociais travadas historicamente por di-
ferentes grupos e movimentos sociais, tais como os conhecemos na 
atualidade. Esses direitos emergem e são instaurados em nome da 
ampliação da justiça social e da redução das desigualdades sociais, ou 
seja, de condições essenciais à garantia da democracia (bandeira da 
maioria dos movimentos sociais). No mesmo contexto, se insere a cria-
ção dos direitos humanos, dos direitos civis e políticos, das políticas 
públicas em geral e das políticas públicas sociais.
Na Constituição brasileira, são 
conhecidos como direitos fun-
damentais individuais o direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança e à propriedade. Os 
chamados direitos fundamentais 
coletivos dizem respeito ao direi-
to da organização social política 
enquanto exercício da cidadania, 
como o direito a reuniões, as-
sembleias e atos políticos – são 
também relacionados à criação 
de associativismos diversos 
(movimentos, manifestações, 
associações, organizações da 
sociedade civil – OSCs, coopera-
tivas e outros).
Curiosidade
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 31
Nesse ponto, contudo, cabe considerar que há um abismo entre 
a realidade ocidental europeia, a dos Estados Unidos da América do 
Norte e a latino-americana, uma vez que, na primeira e na segunda, o 
exercício da cidadania emerge da participação do povo na formação 
dos Estados nacionais, por meio dos constantes conflitos de classe, 
raça, etnia e gênero 8 . Na realidade latino-americana, especificamente, 
o processo não ocorreu do mesmo modo, pois o estágio avançado da 
expansão capitalista configurou impedimentos drásticos à construção 
da participação cidadã. A esse respeito, vale mencionar o conceito ori-
ginal de cidadania para uma compreensão histórica:
A origem do conceito de cidadania é grega. Foi em Atenas, há 
mais ou menos VIII séculos a.C., que surgiu no Mediterrâneo 
uma experiência singular: a ideia de Pólis, espécie de cidade 
autônoma, independente e soberana que era governada, em 
última instância, por uma Assembleia de Cidadãos (politai). Daí 
decorria que cidadão entre os gregos antigos era o homem livre, 
senhor de si e que tinha direito de participar da Assembleia de 
Cidadãos. Esse direito de participar da politai, portanto, não era 
extensivo aos escravos, mulheres e crianças, mas apenas aos ho-
mens livres que exerciam a prática do direito de decidir sobre os 
destinos políticos, culturais e econômicos da Pólis [...] A Reforma 
Protestante foi um marco histórico que também exerceu grande 
influência na criação da cidadania, visto que inaugurou valores 
éticos e políticos inovadores: o fim do domínio político da Igreja 
Católica, o surgimento de liberdades políticas; liberdade de culto 
e de religião; liberdade de imprensa; liberdade de pensamen-
to e, principalmente, liberdade de cátedra nas Universidades. 
(GONZALEZ, 2010, p. 10)
No Brasil, os direitos fundamentais apareceram pela primeira vez na 
Constituição de 1824, após a implantação do Estado Nacional brasilei-
ro, processo construído pelas elites locais sem a participação do povo 
(SARLET, 2001). Lembremos, portanto, que o tipo de processo quanto 
à instauração de um país (colonização versus exploração) e o tipo de 
criação de Estado interferem diretamente na capacidade de construção 
das lutas sociais e, portanto, na criação da cidadania e da democracia 
– no caso do Brasil, por exemplo, é importante considerar que suas 
raízes históricas envolvem a escravidão e o aniquilamento de índios.
Com base no exposto, é correto afirmar que a cidadania (em seu 
sentido histórico e amplo) ainda está em construção no Brasil e na 
maioria dos países da América Latina. É, portanto, mais um elemento 
A questão de gênero é 
empregada neste contexto com 
relação às lutas feministas, 
visto que somente nas décadas 
mais recentes surgiram outras 
categorias. 
8
32 Classes e movimentos sociais
que complementa a necessidade e a importância das lutas e dos movi-
mentos sociais.
No Brasil, há registro de lutas sociais que se manifestam desde os 
seus primórdios, contudo, foi com a instauração do Regime Militar de 
1964 que os movimentos sociais se intensificaram, constituindo-se 
como formações organizadas e demonstrando alta capacidade de en-
frentamento, mesmo ante forte repressão da época. Desde então, o 
Estado brasileiro e as elites têm a ciência de que há, no Brasil, um alto 
poder de organização e enfrentamento, como demonstrado em diver-
sos momentos pelos movimentos sociais históricos e mais atuais, tam-
bém denominados novos movimentos sociais.
Podemos citar alguns movimentos como exemplos:
Movimento Operário, Movimento Indígena, Movimento Negro, Movimento Fe-
minista, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Movimento dos Trabalhadores 
Sem Teto, Movimento Estudantil e Movimento das Ligas Camponesas. 
Também há os movimentos sociais conservadores, como o Movimento Eclesiástico 
de Base (Marcha da Família com Deus pela Liberdade), e os denominados novos 
movimentos sociais, como o Movimento Contra a LGBTTIQ+fobia (lésbicas, gays, 
bissexuais, transexuais, travestis, intersexuais, transgêneros, queers e afins), em 
Defesa doMeio Ambiente, o Movimento Vegano, o Movimento das Pessoas com 
Deficiência e diferentes movimentos urbanos. 
Como visto, a constituição dos movimentos sociais está entrelaça-
da à história das sociedades e, principalmente, à evolução do sistema 
capitalista. Desse modo, a análise da dominação de uns sobre outros 
é indissociável do processo de acúmulo e expansão econômica. Nes-
sa convergência, Marx (1975) enfatiza que os moldes hierárquicos que 
caracterizam nossa organização social advêm em grande parte das es-
truturas que dão forma à organização da produção da vida material.
As estruturas sociais não são inabaláveis, nem mesmo as capitalis-
tas (ainda que estas demonstrem certa facilidade de adaptação e reor-
denação conforme cada conjuntura histórica se apresenta). Embora a 
injustiça social permaneça, e pareça mais mascarada do que nunca, 
diversos movimentos têm conseguido alterá-la a fim de que possam 
atender às suas reivindicações. É notável que os conflitos gerados pe-
los movimentos sociais, históricos ou novos, têm construído transfor-
mações nas estruturas sociais.
O vídeo Documentário Obser-
vatório dos Movimentos Sociais, 
publicado pelo canal Andriza 
Andrade, mostra as atividades 
desenvolvidas por esse progra-
ma de extensão da Universidade 
Federal de Viçosa. O programa 
fortalece e potencializa as ações 
dos movimentos sociais da Zona 
da Mata Mineira desde 2012.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=pJH_f50OBu4
Vídeo
A construção sócio-histórica dos movimentos sociais 33
Para aprofundar os conceitos apresentados, recomendamos ler as pesquisas 
listadas a seguir, das autoras que desenvolveram excelentes materiais com foco na 
análise dos movimentos sociais: 
• GOHN, M. G. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e 
terceiro setor. Revista Mediações, Londrina, v. 5, n. 1, p. 11-40, jan./jun. 2000. 
• MINAYO, M. C. de S. De ferro e flexíveis: marcas do Estado empresário e da 
privatização na subjetividade operária. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento e a análise dos movimentos sociais perpassam his-
toricidades e contextos socioculturais em que debates importantes são 
realizados sobre relações de desigualdade e igualdade, organização social 
e poder popular, dominação histórica e pontual, padrões e ciclos sociais, 
sistemas e instituições.
As desigualdades configuradas pelas estruturas sociais demonstram 
quão injusta tem sido a humanidade no que diz respeito aos modos ins-
tituídos para a construção da vida social. Ao mesmo tempo que a huma-
nidade demonstra sua alta potencialidade para a construção de ações e 
estruturas, com vistas a responder suas necessidades, apresenta imensas 
dificuldades em instituir desenhos de sociedades mais sustentáveis em 
todos os aspectos que compõem a vida humana no planeta.
Temos insistido na exploração como premissa para a vida em socieda-
de e, com base nessa concepção, instituímos mecanismos e processos de 
dominação capazes de aniquilar grande parte de tudo o que nos constitui 
humanos. Temos vivido de modos que prejudicam nossa própria evolu-
ção, tão preocupados em nos proporcionar meios e estilos de vida que 
nos induzem a uma prática cotidiana robotizada, voltada à criação e ao 
acúmulo de bens a qualquer custo.
Em meio a esse contexto, geramos processos que nos conduzem à 
percepção de nossas contradições e, com isso, geramos conflitos e ten-
sões sociais que atuam como caminhos que podem nos garantir alguma 
salvação. Como resultado, de tempos em tempos, chegamos a consen-
sos ou nos contra-atacamos, geramos guerras ou acordos de paz que, às 
vezes, nos elevam a patamares mais evoluídos ou, em sua maioria, nos 
conduzem à destruição.
Não podemos negar que historicamente “navegamos por mares” que, 
apesar de conhecidos, não parecem suficientes para nossa permanência 
34 Classes e movimentos sociais
neste planeta. Há a necessidade de entendermos que as estruturas so-
ciais construídas (exploração, dominação e acúmulo de recursos) têm nos 
encaminhado para a extinção.
Por fim, arriscamos afirmar que este capítulo oportuniza a compreen-
são dos movimentos sociais para além de sua importância sócio-histórica, 
no que diz respeito à construção da cidadania, da democracia e de um 
desenho em que a vida social se institua de modo mais justo. O objetivo 
era instigar a reflexão sobre a importância dos movimentos sociais em 
seu poder de reconstruir nossos moldes de vida na sociedade, a fim de 
que nossa existência e coexistência continuem a ser viáveis.
ATIVIDADES
1. Para a implantação e a permanência do sistema capitalista, uma 
instituição foi enfatizada como primordial. Por meio dela, ocorreu a 
efetivação das estratégias necessárias à exploração e à dominação 
da maioria dos povos do globo. Qual instituição cumpriu esse papel 
determinante?
2. Ao considerar a importância da emergência e da permanência dos 
movimentos sociais na criação e concretização da cidadania, da 
democracia e do usufruto dos direitos constitucionais, qual é a origem 
do termo cidadania e a quais aspectos ela está relacionada?
3. O que são movimentos sociais?
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ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010.
GOHN, M. G. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro 
setor. Revista Mediações, Londrina, v. 5, n. 1, p. 11-40, jan./jun. 2000.
GONZALEZ, E. T. Movimentos Sociais e direitos fundamentais coletivos e difusos no Brasil. 
Cadernos de Direito, Piracicaba, v. 10, n. 19, p. 7-19, jul./dez. 2010.
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MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. In: Cartas filosóficas e outros escritos. São Paulo: 
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MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, 
2002.
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OLIVEIRA, R. C. de. A construção do Paraná moderno: políticos e políticas no Governo do 
Paraná de 1930 a 1980. Curitiba: SETI, 2004.
OLIVEIRA, R. C. de. O silêncio dos vencedores: genealogia, classe dominante e Estado no 
Paraná. Curitiba: Moinho do Verbo, 2001.
PLUTARCO, M. L. As vidas dos homens ilustres de Plutarco: Sólon. São Paulo: Editora das 
Américas, 1951.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das 
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ROCA, J. L. Fisonomía del Regionalismo Boliviano. La Paz: Los Amigos del Libro, 1979.
SARLET, I. W. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 
1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.
TOURAINE, A. ¿Cómo salir del liberalismo? México: Editorial Paidós, 1999.
TOURAINE, A. Crítica da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994.
36 Classes e movimentos sociais
2
Movimentos sociais e 
perspectivas teóricas
Este capítulo oferece subsídios que podem contribuir para 
compreender a construção de debates e teorias, principalmente 
com relação às influências e vertentes analíticas que favorecem as 
atuais abordagens dos movimentos sociais.
Para isso, com base em divisões de cunho didático a fim de pro-
porcionar um entendimento amplo dos movimentos sociais, são apre-
sentadas: a abordagem teórica desse tema, a influência dos marxistas 
clássicos, as influências estadunidenses, as influências marxistas mais 
atuais e uma introdutória análise sobre a influência pós-moderna.
2.1 Abordagem teórica dos movimentos sociais 
Vídeo Nos últimos tempos, os movimentos sociais alcançaram lugar de 
maior destaque, o que deve ser compreendido pelos marcos

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