Buscar

AULA CONTADOR E A ETICA PROFISSIONAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 111 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 111 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 111 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O CONTADOR E A ÉTICA 
PROFISSIONAL 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Daiane Lolatto 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, será estudada a definição de ética, moral e direito, suas 
diferenças e semelhanças. Serão abordadas ainda a tomada de decisões na 
relação entre o legal e o moral, a formação moral de uma entidade corporativa, 
a entidade e a disseminação da cultura ética e a relação ética da entidade com 
os seus stakeholders. 
Mas, por que estudar ética na contabilidade? A ética é uma condição 
necessária para a sobrevivência em sociedade. Inúmeros são os casos 
noticiados pelos meios de comunicação de corrupção, fraudes, subornos, 
nepotismo. Essas práticas afetam a todos, a Administração Pública, a empresa 
privada e a sociedade em geral. 
Arruda, Whitaker e Ramos (2017, p. 3) mencionam que a falta de valores 
morais é o pior dos males que podem afetar uma sociedade. Segundo os 
autores, ela é como o câncer que se dissemina por um organismo. A ausência 
de moral destrói o clima de confiança que deve integrar o relacionamento social, 
tornando insustentável o convívio em sociedade. 
Matos (2017, p. 11) afirma que “Ser ético, no contexto atual, não é mais 
uma opção tanto para as pessoas quanto para as organizações, é questão de 
sobrevivência”. Assim, faz-se necessário compreender o comportamento ético 
nas relações empresariais e, principalmente, no caso, a ética profissional do 
contador. 
CONTEXTUALIZANDO 
Suponha-se que um profissional contábil realize consultoria na área de 
custos e esteja negociando uma prestação de serviços com um grande cliente. 
Durante a negociação, obteve informações sigilosas a respeito da estrutura de 
custos de produção do cliente. No entanto, o contrato não foi firmado, isto é, os 
serviços do profissional não foram contratados. Então, o profissional contábil 
considerou-se desobrigado de guardar sigilo das informações obtidas na 
negociação com o grande cliente e comentou a situação com um amigo que 
estava planejando empreender no mesmo ramo daquele cliente. Nesse contexto, 
a atitude do contador foi ética? Qual o seu impacto social? 
 
 
 
3 
Saiba mais 
• Sobre os desafios éticos do trabalho contábil, consulte Nunes et al. 
(2019). 
TEMA 1 – ÉTICA, MORAL E DIREITO: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS 
A palavra ética significa a forma de ser de uma pessoa sem que esta 
prejudique outros indivíduos. A ética compreende o conjunto de valores morais 
e princípios que conduzem a conduta humana na sociedade e serve para 
equilibrar o relacionamento social. A ética acompanha as mudanças da 
sociedade, as transformações de cada época e varia de acordo com um grupo 
de indivíduos. 
Uma das transformações éticas notáveis foi decorrente da evolução 
tecnológica, pela qual o indivíduo passou a ter acesso mais rápido às 
informações e maior facilidade de divulgar aquilo que lhe interessa. Dessa forma, 
surge a necessidade de se estabelecer limites éticos para o uso da tecnologia, 
por exemplo, impondo-se restrições à divulgação de fake news. 
Assim como a ética envolve o caráter pessoal de um indivíduo, ela 
também está presente no meio corporativo. É por isso que as empresas 
elaboram códigos de ética, para que sua equipe possa trabalhar em harmonia. 
Logo, tem-se a ética empresarial. Santos (2019, p. 4) expõe que a ética 
corporativa ou empresarial “[...] varia conforme a empresa ou o ambiente em que 
uma empresa está inserida, pois é reflexo da sociedade, dos produtos que 
comercializa, da cultura interna e de outros fatores que compõem este 
ambiente”. Para determinada empresa, o uso do celular durante o horário de 
trabalho pode ser considerado uma conduta ética, enquanto para outra empresa 
a sua utilização pode ser proibida, em virtude de atrapalhar o andamento das 
atividades. 
Outra situação que envolve a ética empresarial é a prática do preço 
predatório, que se refere à redução do preço de venda de um produto ou serviço 
abaixo do preço de custo, utilizada pelas empresas que visam a eliminar os 
concorrentes ou conquistar mercado. Do ponto de vista da empresa que realiza 
essa operação, ela pode ser apenas uma estratégia de negócio, considerada 
ética. No entanto, diante dos concorrentes, a prática é lesiva, afeta seus 
negócios e, então, conclui-se que há na prática uma atitude antiética. 
 
 
4 
No meio empresarial, surge a figura do profissional contábil. As práticas 
empresariais éticas ou antiéticas se refletem no trabalho do contador, pois as 
operações realizadas serão escrituradas. Entretanto, esse não é o único tipo de 
envolvimento ético entre empresa e profissional contábil. 
Suponha que, na busca por melhores resultados, os empresários ou 
gestores solicitem ao contador que sejam feitos ajustes nos lançamentos 
contábeis, a fim de se reduzir a carga tributária da organização. Ao se reduzir a 
carga tributária de forma ilícita, manipulando-se as informações contábeis, há 
uma atitude antiética tanto por parte da empresa quanto por parte do contador. 
Consequentemente, a fraude tributária poderia resultar em um passivo para a 
empresa, levando-a à falência e até a um possível suicídio do empreendedor ou 
investidor. 
Saiba mais 
• Sobre o enfoque ético da busca por resultados, consulte Oliveira et al. 
(2012). 
A palavra ética tem origem grega: ethos, que significa a forma de um 
indivíduo ou um grupo agir. Com o desenvolvimento humano, o conceito de 
ética evoluiu, sendo ela considerada um conjunto de princípios e valores morais 
que guiam a conduta humana na sociedade. A moral compreende os costumes, 
regras, limites e convenções estabelecidos pela sociedade. Sendo assim, a 
moral é uma convenção social e a ética, a postura de um indivíduo. Nesse 
contexto, tem-se o direito como sistema de normas de conduta e princípios 
estabelecidos para regular as relações sociais. Isso quer dizer que a moral 
engloba a ética e o direito, conforme se observa na Figura 1. 
 
 
 
5 
Figura 1 – Relação entre ética, moral e direito 
 
A ética permite uma melhor vida em sociedade, pelo respeito mútuo dos 
indivíduos. Considerando que a ética se refere à forma como um indivíduo ou 
um grupo de indivíduos (em uma empresa, por exemplo) entende ser correto se 
posicionar e agir perante outros indivíduos e a sociedade como um todo. E, 
sabendo-se que uma organização é formada por indivíduos oriundos de 
diferentes contextos culturais e sociais, é fundamental estabelecer um padrão 
ético para o grupo social de uma empresa, demonstrando qual é a postura que 
se espera de todos os integrantes desse grupo (colaboradores, sócios etc.). Essa 
definição de conduta, em nível institucional, se dá por meio de políticas 
institucionais. Essas, por sua vez, são definidas por normativos, códigos de ética 
e códigos de conduta. 
Considerando os modelos de gestão contemporâneos e as boas práticas 
de governança recomendadas, segundo Santos (2019, p. 5), as políticas 
institucionais devem ser construídas levando em consideração as cinco 
dimensões da ética empresarial e de pesquisas: sustentabilidade, respeito à 
multicultura, aprendizado contínuo, inovação e governança corporativa. 
Nesse sentido, serão abordadas, na sequência, as dimensões éticas que 
norteiam a conduta humana, na sociedade. 
1.1 Dimensões da ética empresarial 
Conforme mencionado por Santos (2019, p. 6), dentre as dimensões da 
ética empresarial consideradas na construção das políticas institucionais, a 
dimensão da sustentabilidade consiste em gerar condições para um processo 
ser executado ou para um indivíduo ou objeto existir. Sendo assim, para uma 
Moral 
Relativa aos 
costumes
Ética 
Princípios e 
valores morais
Direito
Conforme 
a lei, o 
sistema de 
normas
 
 
6 
empresa operar, basicamente, deve haver recursos humanos, bens de uso e 
consumo, matérias-primas e tecnologias, além de recursos econômicos e 
financeiros que propiciem a produção de produtose serviços. 
A sustentabilidade abrange os aspectos econômico, social e ambiental, o 
que é denominado de triple botton line (linha de três pilastras), conceito criado 
em 1990 pelo inglês John Elkington (1990, citado por Santos, 2019, p. 5). As 
intersecções entre esses aspectos são chamadas de socioeconômica, 
socioambiental e ecoeficiente, conforme se pode observar na Figura 2 a seguir. 
Figura 2 – Intersecções do triple botton line na sustentabilidade organizacional 
 
 
O aspecto ambiental envolve ações que diminuem o impacto ambiental 
como forma de garantir o bem-estar social. Por exemplo, uma indústria que 
produz papel e celulose deveria analisar seu consumo de insumos utilizados na 
produção e que impactam negativamente o meio ambiente e, assim, tomar 
medidas de recuperação ambiental. Outra preocupação que as empresas 
deveriam ter, com a finalidade de garantir o bem-estar da comunidade, seria com 
buscar melhorias no processo de produção, evitando desperdícios, como na 
produção de garrafas plásticas em que as sobras pudessem ser reaproveitadas 
na produção de copos. 
Assim, é necessário desenvolver métodos para calcular o impacto 
causado no meio ambiente, com o objetivo de compensar o dano provocado, por 
exemplo: uma empresa que é altamente poluidora precisa medir o nível de 
emissão de poluentes para compensar isso com reflorestamento de algumas 
áreas. A empresa precisa elaborar políticas institucionais éticas, orientando os 
Ambiental
SocialEconômica
Socioambiental 
Socioeconômica 
Ecoeficiente 
 
 
7 
colaboradores com propostas preventivas ou corretivas do seu processo de 
produção. 
Quanto ao aspecto econômico, uma empresa não existe ou sobrevive 
sem ele, por isso ele é um dos tripés da sustentabilidade. Há dois erros críticos 
que podem ocorrer: o primeiro seria o de focar exclusivamente no aspecto 
econômico e desprezar os demais; e o segundo seria o de a empresa não se 
atentar a esse aspecto e desperdiçar insumos, por exemplo. Diferentemente do 
desperdício de insumos mencionado no aspecto ambiental, que envolve o dano 
causado ao meio ambiente, no sentido econômico tem-se o desperdício como 
fator de prejuízo econômico-financeiro. 
O aspecto social compreende as relações internas (de colaboradores, 
gestores etc.) e externas (com clientes, fornecedores, investidores etc.) da 
empresa, ou seja, a empresa deve manter relações morais com os interessados 
no negócio. Por exemplo, quando uma empresa é sustentável, sua relação com 
o cliente tende a ser favorável com aquele que está preocupado com o meio 
ambiente e isso ainda melhora sua reputação no mercado, pois estará 
beneficiando a sociedade como um todo. Atitudes antiéticas relacionadas ao 
aspecto social envolvem suborno na venda de mercadorias, sonegação fiscal, 
lavagem de dinheiro, entre outras. 
Nesse sentido, os aspectos social, ambiental e econômico estão 
interligados, como demonstrado na Figura 2, socioeconômica, 
socioambientalmente e em termos de ecoeficiência. O aspecto 
socioeconômico, nas políticas institucionais, tem como objetivo garantir que o 
interesse social não se sobreponha ao interesse econômico ou vice-versa – é o 
caso do aumento da capacidade produtiva que beneficiaria tanto a empresa 
quanto a sociedade que consome o produto. Quanto ao aspecto 
socioambiental, tem-se o caso do desperdício de insumos, que afeta a situação 
econômica e ambiental da empresa, devendo ser evitado. A ecoeficiência, por 
sua vez, visa fornecer bens e serviços por preços competitivos, sem impactar o 
meio ambiente. 
A dimensão da multicultura se refere ao respeito empresarial diante das 
diferenças individuais dos cidadãos que estão ligados à empresa. Segundo 
Santos (2019, p. 13), ao considerar essa dimensão nas suas políticas 
institucionais, a empresa estará oportunizando relações internas e externas mais 
 
 
8 
saudáveis, pois minimizará as diferenças culturais, religiosas, étnico-raciais e 
outras. 
A dimensão do aprendizado contínuo é de suma importância para o 
desenvolvimento ético, pois as mudanças sociais precisam ser acompanhadas, 
estudadas para criação de novas políticas institucionais. Isso quer dizer que as 
políticas institucionais demandam atualizações em virtude das transformações 
sociais. Por exemplo, as políticas institucionais criadas antes da existência da 
tecnologia podem não ser as mesmas após a evolução tecnológica, pois é 
necessário, sempre, se compreender um novo contexto social e adaptar as 
políticas então vigentes. 
A dimensão da inovação é consequência do aprendizado contínuo, ou 
seja, ela está presente no desenvolvimento de novas tecnologias e processos. 
A inovação precisa ser realizada de forma organizada, a fim de atender às 
necessidades da instituição e da sociedade. Por exemplo, visando inovar de 
forma ética, a empresa pode desenvolver carros autônomos voltados a reduzir 
os acidentes causados em rodovias. A empresa que desenvolve ou produz esses 
veículos precisa incluir na sua programação uma série de situações decisórias. 
Outro exemplo de ética na inovação está na garantia de sigilo no acesso a 
informações pessoais pelas empresas que desenvolvem redes sociais. 
Por fim, a dimensão da governança corporativa, conforme o Instituto 
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2015, p. 20-21) envolve 
transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa 
nas ações organizacionais. 
Transparência tem relação com a confiança interna e externa da 
organização e com ela fornecer informações aos stakeholders além das que já 
são uma obrigação legal. A transparência proporciona maior confiança entre a 
empresa e os stakeholders, pois, com todos tendo acesso às informações 
econômico-financeiras da organização, a tomada de decisões tende a ser mais 
assertiva. Quando a empresa oculta informações como perdas com créditos de 
liquidação duvidosa, os investidores acabam mantendo relação com a empresa 
sem saber que os recursos investidos podem ser perdidos. 
Equidade refere-se ao equilíbrio de interesses de diferentes stakeholders. 
Ou seja, as informações disponibilizadas para tomadas de decisão devem 
colocar os stakeholders no mesmo patamar, isto é, os usuários internos não 
devem se valer de informações privilegiadas em relação às informações 
 
 
9 
prestadas aos usuários externos. Nesse caso, os investidores precisam ter 
acesso às informações da empresa para que consigam analisar o retorno dos 
seus investimentos. Se a empresa restringir esse acesso, não estará sendo ética 
com os investidores, que podem vir a tomar decisões equivocadas. 
Prestação de contas refere-se a responsabilidades e deveres do gestor 
do negócio: em caso de ocorrer uma fraude ou qualquer situação ilegal ou de 
má conduta, se responsabilizará diretamente quem está na gestão do negócio. 
Por isso, se faz necessária a prestação de contas de todos os atos e decisões 
tomadas em nome da empresa. 
Responsabilidade corporativa está relacionada à perenidade do negócio 
e considera aspectos de ordem ambiental e social. O meio ambiente tem sido 
preocupação constante para a maioria dos cidadãos e, quando a empresa 
desempenha um bom papel na preservação ambiental, ela está demonstrando 
sua responsabilidade corporativa. 
TEMA 2 – TOMADA DE DECISÕES: RELAÇÕES ENTRE O LEGAL E O MORAL 
A palavra moral tem origem no latim mor, moris, que significa usos e 
costumes. Há diversos conceitos para moral, mas, em suma, ela compreende o 
respeito do indivíduo às regras morais estabelecidas na sociedade. Logo, a 
moral é uma espécie de limite da conduta dos indivíduos. 
Mesmo sem o indivíduo conhecer as regras, ele se sente bem ao realizar 
ações morais. Embora envolva o direito e a ética, a moral é uma norma 
estabelecida pela sociedade por consentimento de um grupo de pessoas. Há a 
preocupação do indivíduo personificada na sociedade em geral. 
O conceito de moral muitasvezes se confunde com o de legalidade. A 
legalidade é constituída mediante lei. Uma ação pode ser moral e ilegal ao 
mesmo tempo, como é o caso de se ultrapassar o sinal vermelho após a meia-
noite, que, apesar de ser ilegal, é uma atitude moral, pois evita assalto ou 
qualquer risco oriundo da espera pelo sinal verde. Uma ação pode ser, ainda, 
legal, mas imoral, como é o caso do uso de determinados pesticidas. E a ação 
pode ser legal e moral quando por exemplo uma empresa produz materiais 
biodegradáveis. 
Sendo assim, é necessário refletir: o que afeta o meio externo? Quais os 
efeitos negativos gerados por uma atitude tomada? Quem é beneficiado e quem 
será prejudicado por essa atitude? 
 
 
10 
Saiba mais 
• Leia o artigo A ética aplicada para o sucesso nos negócios (Godinho; 
Cambaúva; Mak, 2006), para compreender melhor o assunto. 
TEMA 3 – FORMAÇÃO MORAL DE UMA ENTIDADE CORPORATIVA 
Impasses no comportamento moral ocorrem até nas situações mais 
simples da vida, assim como nas mais complexas e de extrema 
responsabilidade; ocorrem tanto nas relações sociais comuns como nas relações 
empresariais e profissionais (Camello; Ribeiro, 2019, p. 248). 
Na situação hipotética a seguir, observa-se um dilema no comportamento 
moral, em uma relação entre empresa e um de seus funcionários: 
• Pedro é contador na empresa Lunar há dez anos e dedica-se ao máximo 
para manter a confiança da empresa. A Lunar tem significativa 
representatividade no mercado de materiais de construção e busca por 
resultados cada vez mais desafiadores. Ainda assim, Pedro recebia um 
salário mediano e sustentava uma família de três filhos com dificuldade, 
pois se tratava da única renda dessa família; 
• Em determinado dia, ao final do expediente, Pedro foi chamado à sala da 
diretoria para receber a notícia de que seu salário iria aumentar, assim 
como receberia uma bolsa de estudos para os filhos, em razão do seu 
comprometimento com a empresa. Entretanto, o diretor financeiro 
apresentou uma condição. Pedro teria que superfaturar notas fiscais por 
motivos desconhecidos. Ele sabia que, se não fizesse o solicitado, seria 
desligado da empresa. 
Nesse contexto, qual o dilema moral? De um lado, Pedro perde o emprego 
ao não atender à solicitação do diretor e, de outro, teria que aceitar superfaturar 
as notas fiscais e contrariar o seu caráter e consciência. Então, surgem as 
seguintes inquietações: como sustentar a família? Como ficar com a consciência 
tranquila? Pedro está diante de um dilema moral comum, de extrema 
responsabilidade. Camello e Ribeiro (2019, p. 252) afirmam que “Em todas as 
situações sempre estará em jogo um valor moral a preservar ou a corromper 
para benefício pessoal ou do grupo”. 
A empresa em questão agiu de má-fé, de forma imoral; mas, o que forma 
a moral de uma entidade corporativa? Segundo Thiry-Cherques (2003, p. 31-50), 
 
 
11 
a responsabilidade moral das empresas limita-se ao direito, à obrigação de 
responder perante a lei. A empresa, por ser uma pessoa artificial, jurídica, não 
tem consciência, é amoral. As pessoas que formam a empresa constituem a sua 
moralidade, como o caso do diretor financeiro, no exemplo supracitado. Portanto, 
a responsabilidade moral pertence aos seres humanos. 
Se o contador é conivente com a proposta de superfaturar nota fiscal, ele 
também responderá pelo crime. O superfaturamento pode caracterizar lavagem 
de dinheiro, por exemplo. De acordo com o art. 172 do Código Penal, “emitir 
fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, 
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado” gera pena de dois a quatro 
anos de prisão e multa (Brasil, 1940). No caso do contador, pode haver cassação 
do seu registro profissional. 
Para Thiry-Cherques (2003, p. 31-50), a dificuldade de agir de forma moral 
no plano empresarial é maior do que no plano individual, “pela quantidade de 
instâncias com as quais as pessoas têm deveres e pela contradição entre os 
interesses de umas e de outras”. O autor ainda questiona: “um dirigente é mais 
responsável perante os empregados ou perante os acionistas? Um empregado 
deve ser fiel aos colegas ou a sua família?”. 
Saiba mais 
• Para mais informações sobre a moral empresarial, leia em sua íntegra o 
artigo de Thiry-Cherques (2003), intitulado Responsabilidade moral e 
identidade empresarial. 
TEMA 4 – A ENTIDADE E A DISSEMINAÇÃO DA CULTURA ÉTICA 
As obrigações éticas são estabelecidas por meio do direito, que é um 
sistema de normas de conduta e princípios estabelecidos para regular as 
relações sociais. Com base no direito, são criados os códigos de ética. No 
entanto, o código de ética não é o único meio de instaurar a ética na empresa, 
ou seja, a empresa pode desenvolver outros meios de conscientização de 
valores morais especificados em diretrizes de ética. 
A ética empresarial ganhou notoriedade com escândalos mundiais que 
demonstraram comportamentos imorais praticados pela administração dos 
negócios. Muitos casos abalaram a sociedade civil e geraram também novas 
maneiras de gerir um negócio, em um mundo cada vez mais competitivo. 
 
 
12 
Arruda, Whitaker e Ramos (2017, p. 213) afirmam que, quando a 
administração adota princípios éticos, claramente definidos, “[...] os padrões 
morais são respeitados, as energias dos empregados se concentram e o 
resultado é um ganho de produtividade”. Quando a empresa não adota os 
princípios éticos, “as práticas pouco éticas são conhecidas e por vezes se tornam 
o modus operandi da organização. O ritmo dos negócios sofre um impacto 
negativo”. 
Segundo Santos (2019, p. 21), para desenvolver um código de ética ou 
de normas de conduta não há uma fórmula, porém alguns aspectos devem ser 
considerados: 
• Missão, valores e objetivos: devem ser éticos e se refletirem no código 
de ética. A missão, os valores e os objetivos compreendem um conjunto 
de ideais que ajudam a determinar as estratégias de negócio de uma 
empresa, ou seja, o passo a passo adotado pela empresa para atingir os 
resultados desejados; 
• Realidade e contexto empresarial: para a elaboração e implantação do 
código de ética, devem ser analisados o porte da empresa, a atividade 
desenvolvida, a política interna e inclusive os aspectos externos a ela. Por 
exemplo, se a empresa é de pequeno porte e não possui relação com 
investidores externos, não tem motivo para abordar, no seu código de 
ética, aspectos sobre sua relação com investidores; 
• Aspectos legais: o código de ética deve atender à legislação vigente no 
país; 
• Comunidade interna: a elaboração do código demanda a participação 
de todos os envolvidos com a empresa. Em casos de empresas de grande 
porte, deve-se avaliar o envolvimento de alguém que represente de fato 
a sociedade; 
• Comunidade externa: recomenda-se a participação da comunidade 
externa no desenvolvimento e revisão do código com a finalidade de 
aumentar a transparência. A participação pode ser pequena, mas será 
contributiva; 
• Multicultura, aspectos étnicos e religiosos: para proporcionar um 
ambiente ético e incentivar o progresso do grupo, é importante o respeito 
à multicultura, aos aspectos étnicos e religiosos de todos os envolvidos 
 
 
13 
com a empresa, como colaboradores, clientes, fornecedores, entre 
outros; 
• Tratamento equitativo de todos, considerando-se as desigualdades: 
as empresas devem tratar a todos de forma equitativa, buscando 
minimizar as desigualdades, ou seja: independentemente da cultura, etnia 
ou religião das pessoas ligadas à empresa, o tratamento dispensado a 
elas deve ser o mesmo, sem privilegiar ninguém. 
O código de ética é uma ferramenta de gestão educativa, pois estabelece 
regras a serem seguidas por aqueles que têm relação com a empresa. Assim, 
com ele é possível obter uma conduta adequada no desenvolvimento das 
atividades empresariais. 
Por outro lado, o código de ética, comoqualquer ferramenta de gestão 
educativa, deve estar em contínua renovação, com complemento de 
aprendizagens vindouras sobre as relações sociais, a busca de harmonia, 
pontos de afinidade e foco, elementos essenciais no meio empresarial (Matos, 
2017, p. 177). 
De acordo com Matos (2017, p. 179), há três dimensões fundamentais a 
serem contempladas num código de ética: dimensões preventiva, corretiva e 
educativo‐saneadora. 
A dimensão preventiva expressa as normas éticas no sentido educativo, 
para prevenir situações críticas. Por exemplo, o código de ética pode determinar 
políticas de restrição de uso de computadores da empresa para atividades 
pessoais. Assim, a empresa pode coibir que suas informações sigilosas sejam 
repassadas a terceiros e, consequentemente, nenhuma sanção será aplicada 
aos colaboradores. 
A dimensão corretiva contempla as normas éticas no sentido educativo-
diagnóstico de problemas detectados e para orientação e auxílio em prol de suas 
correções. Nesse caso, a empresa, em caso de ter infringido o Código de Defesa 
do Consumidor, mas houver estabelecido em seu código de ética que qualquer 
dano causado a terceiros deve ser reparado, isso pode estimular a troca de 
mercadorias danificadas como prática corretiva. 
A dimensão educativo-saneadora tem como objetivo garantir a 
qualidade e excelência, por meio de punições. Essa situação é mais grave e 
deve ser contemplada no código de ética para que as atitudes antiéticas sejam 
 
 
14 
punidas. Por exemplo, quando um colaborador desvia recursos da empresa, 
deve haver uma abordagem prevista para que tal prática não se repita. 
Sendo assim, observa-se a amplitude e importância do código de ética 
para o mundo corporativo. 
TEMA 5 – A RELAÇÃO ÉTICA DA ENTIDADE COM OS SEUS STAKEHOLDERS 
Os stakeholders são os interessados na empresa. Eles podem ser 
pessoas físicas ou jurídicas, representantes da sociedade, concorrentes, 
investidores, governos, entre outros. As relações da empresa com os 
stakeholders podem ser visualizadas na Figura 3 a seguir. 
Figura 3 – Empresa e seus stakeholders 
 
As empresas, muitas vezes, estão mais focadas na obtenção de lucros do 
que no impacto que causam no meio ambiente, privilegiando, nesse caso, os 
investidores e não a comunidade em geral. A questão ética da entidade com 
todos os stakeholders precisa ser estudada para não prejudicar nenhum dos 
envolvidos. O papel da empresa é buscar o ponto ideal entre os custos 
implícitos e explícitos e os benefícios implícitos e explícitos das ações 
tomadas e informações disponibilizadas. 
A questão implícita ocorre quando há um jogo de interesses éticos nas 
atividades da empresa. Por exemplo, quando a empresa investe na prevenção 
de impacto ambiental, mas não com o interesse de garantir que o meio ambiente 
Empresa
Clientes
Fornecedores
Concorrentes
ComunidadeInvestidores
Parceiros
Governos
 
 
15 
não seja degradado e sim com o interesse de captar novos investidores que 
tenham como premissa garantir o desenvolvimento sustentável. 
Quanto aos custos e benefícios explícitos, há o conhecimento de o que 
se quer com a adoção de determinada prática. Pode-se observar essa situação 
quando a empresa expõe aos colaboradores os resultados alcançados e distribui 
a eles parte dos lucros, a fim de motivar a equipe. 
Atender aos interesses econômico, social e ambiental dos diversos 
stakeholders requer da gestão habilidade e prudência, pois não se deve atender 
a um grupo específico, em detrimento de outro. Os gestores são intermediadores 
da relação entre acionistas e stakeholders. O conhecimento amplo da empresa 
direciona à dimensão moral o que os gestores devem considerar em suas 
tomadas de decisão (Arruda; Whitaker; Ramos, 2017, p. 215). 
Silva et al. (2017, p. 21) fizeram uma revisão bibliográfica a fim de 
apresentar um método de como identificar e classificar os stakeholders, 
demonstrando o tipo de influência que cada um exerce sobre a empresa, e 
chegaram à conclusão de que os funcionários e os clientes são os mais 
importantes stakeholders e os menos influentes são os fornecedores e a 
comunidade. 
Para os autores, a atenção dada à comunidade é entendida como algo 
que pode atrasar os projetos. Nesse sentido, presume-se que haja um conflito 
de interesses significativo entre o que a empresa quer e o que a comunidade 
deseja. Por exemplo, pode acontecer de a empresa desenvolver projetos de 
educação na comunidade, esporadicamente, e a comunidade demandar 
constantemente esse tipo de investimento. A empresa tende a estar mais 
interessada no retorno que esse investimento gerará do que especificadamente 
no desenvolvimento do cidadão. Dessa forma, pode-se dizer que algumas 
relações entre empresa e stakeholders realmente são mais intensas que outras. 
Saiba mais 
• A respeito da relação entre stakeholders e empresa, não deixe de 
consultar o artigo de Silva et al. (2017). 
Enfim, o profissional contábil precisa compreender as relações sociais da 
empresa para nela atuar de forma ética; e deve conhecer o seu código de 
Conduta, para não ser conivente com operações fraudulentas, por exemplo. 
 
 
16 
TROCANDO IDEIAS 
Um contador com mais de 20 anos de experiência foi convidado a emitir 
um parecer a respeito da situação econômico-financeira de uma empresa, aos 
seus proprietários. Depois de analisar as demonstrações contábeis, o contador 
verificou que a empresa apresentava significativos indícios de descontinuidade. 
Entretanto, por conhecer a empresa e ter vínculo de amizade com os gestores, 
atestou, em seu parecer, que a empresa irá continuar em operação por tempo 
indeterminado. Com base nessas informações, para você, o contador agiu de 
forma correta? 
NA PRÁTICA 
Um profissional contábil, ao prestar serviços de assessoria para a 
recuperação de uma empresa, obteve informações sigilosas sobre o processo 
de fabricação de um produto com baixa rentabilidade. Um investidor, especialista 
no produto, que tem plano de instalar uma nova indústria, o questionou sobre o 
segredo do processo de fabricação. O profissional contábil se opôs a repassar 
as informações solicitadas sobre o produto, ao investidor. No entanto, comentou 
com os amigos sobre o investidor e sobre o produto. Nessa situação, o contador 
agiu de forma moral e ética? 
Resposta esperada: o contador, perante a empresa, agiu de forma imoral 
e antiética, pois, mesmo com a informação sendo sigilosa, ela foi repassada pelo 
contador para os seus amigos. 
FINALIZANDO 
Existe uma forte relação entre ética, moral e direito. Enquanto a ética 
estuda os valores morais que fundamentam o comportamento humano em 
sociedade, a moral está relacionada aos costumes, regras, limites e convenções 
estabelecidas por cada sociedade. O direito, por sua vez, é aquele que normatiza 
as atitudes éticas, seja numa empresa, seja na sociedade ou de forma pessoal. 
Um indivíduo pode enfrentar dilemas éticos na sua tomada de decisões. 
Manter em sigilo uma informação para não prejudicar uma empresa pode ser 
ético, porém pode ser imoral num caso de fraude. Cada situação deve ser 
analisada individualmente. 
 
 
17 
As pessoas que formam a empresa constituem a sua moralidade; elas 
constroem a ética empresarial, fundamentada no direito, nas leis. É 
imprescindível que cada profissão mantenha uma conduta ética, que cumpra o 
seu código de conduta, visto que ele possibilita uma harmonia social. 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
ARRUDA, M. C. C. de; WHITAKER, M. do C.; RAMOS, J. M. R. Fundamentos 
de ética empresarial e econômica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da 
União, Rio de Janeiro, p. 2.391, 31 dez. 1940. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. 
Acesso em: 10 abr. 2020. 
CAMELLO, M.; RIBEIRO, O. M. Ética na contabilidade. São Paulo: Saraiva 
Educação,2019. 
GODINHO, H. D.; CAMBAÚVA, G. F.; MAK, A. P. A ética aplicada para o sucesso 
nos negócios. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 9., 2006, São Paulo. 
Anais... São Paulo: FEA-USP, 2006. Disponível em: 
<http://sistema.semead.com.br/9semead/resultado_semead/trabalhosPDF/436.
pdf>. Acesso em: 10 abr. 2020. 
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores 
práticas de governança corporativa. 5. ed. São Paulo, 2015. Disponível em: 
<https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=21138>. 
Acesso em: 10 abr. 2020. 
MATOS, F. G. de. Ética na gestão empresarial: da conscientização à ação. 3. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
NUNES, V. L. D. et al. Desafios éticos no exercício da profissão contábil: uma 
análise da percepção dos profissionais de contabilidade. Id on Line: Revista 
Multidisciplinar e de Psicologia, v. 13, n. 46, 2019. Disponível em: 
<https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/1898>. Acesso em: 10 abr. 
2020. 
OLIVEIRA, M. C. de et al. O enfoque ético no gerenciamento de resultados. 
Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 9, n. 18, p. 119-136, 2012. 
Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/35451/o-enfoque-etico-
no-gerenciamento-de-resultados/i/pt-br>. Acesso em: 10 abr. 2020. 
SANTOS, F. de A. Ética empresarial. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 
SILVA, L. G. da et al. Stakeholders organizacionais: Identificação, classificação 
e um modelo estratégico de tomadas de decisões. Revista Espacios, v. 38, n. 
 
 
19 
17, 2017. Disponível em: 
<https://www.revistaespacios.com/a17v38n17/a17v38n17p21.pdf>. Acesso em: 
10 abr. 2020. 
THIRY-CHERQUES, H. R. Responsabilidade moral e identidade empresarial. 
Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 7, p. 31-50, 2003. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
65552003000500003>. Acesso em: 10 abr. 2020. 
https://www.revistaespacios.com/a17v38n17/a17v38n17p21.pdf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONTADOR E A ÉTICA 
PROFISSIONAL 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Daiane Lolatto 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Prezado estudante, seja bem-vindo. Nesta aula, estudaremos a nova 
Norma Brasileira de Contabilidade Profissional Geral, NBC PG 100 (R1), que 
dispõe sobre o cumprimento do código, dos princípios fundamentais e da 
estrutura conceitual. 
Esta norma foi publicada em 21 de novembro de 2019 e entrou em vigor 
em 1 de janeiro de 2020, assim como a NBC PG 200 (R1) e a NBC PG 300 (R1). 
Trata-se de uma revisão ao Código de Ética Profissional do Contador, 
fundamentado no Código Internacional de Ética para Contadores Profissionais, 
emitido pela Federação Internacional de Contadores (Ifac – International 
Federation of Accountants). 
A publicação das NBCs faz parte do processo de convergência aos 
padrões internacionais. A Federação Internacional de Contadores atribuiu os 
direitos de realizar a tradução, publicação e distribuição das normas 
internacionais ao Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e ao Instituto dos 
Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). Assim, as normas foram 
convergidas de acordo com a realidade brasileira. 
O Código de Ética Internacional para Profissionais da Contabilidade da 
Ifac está dividido em cinco partes: 
NBC PG 100 (R1) – Cumprimento do Código, dos Princípios 
Fundamentais e da Estrutura Conceitual que é a Parte 1 e suas seções 
de 100 a 199, mais o Glossário; 
NBC PG 200 (R1) – Contadores Empregados (Contadores Internos) 
que é a Parte 2 e suas seções de 200 a 299, mais o Glossário; 
NBC PG 300 (R1) – Contadores que Prestam Serviços (Contadores 
Externos) que é a Parte 3 e suas seções de 300 a 399, mais o 
Glossário; 
NBC PA 400 – Independência para Trabalho de Auditoria e Revisão 
que é a Parte 4A e suas seções de 400 a 899, mais o Glossário; 
NBC PO 900 – Independência para Trabalho de Asseguração Diferente 
de Auditoria e Revisão que é a Parte 5B e suas seções de 900 a 999, 
mais o Glossário. (NBC PG 100 (R1)). 
Os princípios fundamentais e a estrutura conceitual serão detalhados na 
sequência. 
CONTEXTUALIZANDO 
Os princípios fundamentais de ética instituem o padrão de comportamento 
esperado do contador. Considere que determinada empresa entre em contato 
 
 
3 
com um profissional contábil que está no início da carreira. A empresa oferece 
cinco vezes mais para o contador omitir informações contábeis. O contador 
precisa angariar clientes para sobreviver no mercado. Assumir a contabilidade 
da empresa seria uma atitude ética? Que princípio contábil ético está relacionado 
a esta situação? 
Saiba mais 
BARBOZA, E. L.; ROA, M. M. Fluxo de informação no contexto contábil. Revista 
de Ciência da Informação e Documentação, v. 9, n. 2, 2018. Disponível em: 
<http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/141456>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
TEMA 1 – NBC PG 100 (R1): PRINCÍPIOS ÉTICOS 
A NBC PG 100 (R1) contempla os princípios fundamentais de ética e a 
estrutura conceitual aplicável a todos os profissionais da contabilidade. Os 
princípios éticos estabelecem padrões de comportamento, sendo eles: 
integridade, objetividade, competência profissional e zelo, confidencialidade e 
comportamento profissional, que serão tratadas com profundidade ao longo 
desta aula. 
A estrutura conceitual, segundo NBC PG 100 (R1), deve ser aplicada 
pelos profissionais da contabilidade para “identificar, avaliar e tratar as ameaças 
ao cumprimento dos princípios fundamentais”. Tais ameaças compreendem 
condutas do profissional que podem interferir no desenvolvimento de seu 
trabalho, por exemplo, quando o profissional aceita algum incentivo (presente) 
para manipular as informações contábeis, dentre outros tipos de ameaça que 
serão estudadas na sequência. 
A norma aborda os requisitos e o material de aplicação para que o 
profissional da contabilidade exerça o julgamento profissional. É com base no 
julgamento do profissional que a continuidade do trabalho poderá ser realizada 
ou não, como quando o profissional contábil tem competência e experiência 
suficientes para concluir o trabalho. 
Outro aspecto tratado na norma diz respeito ao profissional manter-se 
vigilante a novas informações e mudanças em fatos e circunstâncias e utilize o 
teste do terceiro informado e prudente. Neste sentido, pode haver o 
envolvimento de um terceiro no trabalho, a fim de verificar se a informação é 
consistente, sendo, então, uma atitude prudente do profissional. 
 
 
4 
1.1 Estrutura Conceitual 
As ameaças ao cumprimento dos princípios fundamentais decorrem das 
condições de trabalho do profissional da contabilidade. Neste sentido, a seção 
120 da NBC PG 100 (R1) descreve os requisitos e o material de aplicação e a 
estrutura conceitual para auxiliar o exercício da profissão. Assim, o profissional 
poderá identificar, avaliar e tratar as ameaças de maneira a eliminá-las ou reduzi-
las a um nível aceitável. 
O exercício do julgamento profissional é um requisito importante na 
execução do trabalho, pois envolve conhecimento, habilidade e experiência para 
saber se as decisões tomadas são apropriadas às circunstâncias. Para isso, a 
norma recomenda que o profissional considere os seguintes pontos: 
 Existe razão para se preocupar com informações faltantes nos fatos e 
circunstâncias conhecidos? Por exemplo, quando o profissional contábil 
está realizando uma análise da conta estoque da empresa e não dispõe 
de um relatório de entradas e saídas de mercadorias, a conclusão do 
trabalho poderá ser prejudicada, pois para apurar o saldo da conta é 
preciso conhecer as entradas e saídas de mercadorias e, então, calcular 
o montante final do estoque. Assim, o contador deve julgar se é viável 
continuar o trabalho mesmo com a falta de informações, ou seja, ele 
precisará estudar alternativas para não prejudicar a continuidade do 
trabalho ou finalizar o contrato com o seu cliente explicando os motivos. 
 Os fatos e circunstânciaspossuem inconsistências? Isto é, o profissional 
contábil deve julgar se as informações fornecidas pela empresa são 
consistentes para que o trabalho seja concluído. Não havendo 
consistência, o contador precisa comunicar os responsáveis e avaliar a 
sua permanência com o cliente. É o caso de os documentos fiscais serem 
ocultados pelos gestores da empresa com intuito de manipular os 
relatórios contábeis. 
 O profissional contábil tem competência e experiência suficientes para 
concluir o trabalho? 
 Existe a necessidade de consultar um terceiro que tenha competência ou 
experiência relevante (teste do terceiro informado e prudente)? 
 As informações são suficientes para concluir o trabalho? 
 
 
5 
 A preconcepção ou o comportamento tendencioso do próprio profissional 
da contabilidade pode interferir no julgamento. Neste caso, por exemplo, 
quando o contador tiver qualquer tipo de relação próxima com a empresa, 
deve julgar sua permanência no trabalho, visto que o contato próximo do 
contador com a empresa pode induzi-lo a atender as exigências da 
empresa mesmo que sejam indevidas. 
 Existem outras conclusões plausíveis que poderiam ser obtidas com base 
nas informações disponíveis? 
Presume-se que as conclusões do julgamento profissional seriam as 
mesmas obtidas por um terceiro, denominada terceiro informado e prudente. 
Isso quer dizer que, quando o trabalho do profissional contábil for revisado por 
outro profissional competente, as conclusões serão as mesmas. Por exemplo, 
ao analisar a vida útil de um bem ao final do exercício social, o contador conclui 
que o bem gerará benefícios econômicos futuros por mais três anos. Essa 
mesma conclusão deve ser obtida por outro profissional contábil. 
Segundo a NBC PG 100 (R1), o terceiro informado e prudente “não 
precisa ser profissional da contabilidade, mas ter o conhecimento e a experiência 
pertinentes para entender e avaliar a adequação das conclusões do profissional 
da contabilidade de forma imparcial”. 
A norma evidencia, na fase de identificação das ameaças, as possíveis 
situações que poderiam ameaçar o cumprimento dos princípios fundamentais, 
como: interesse próprio, autorrevisão, defesa de interesse do cliente, 
familiaridade e intimidação. A seguir, algumas situações práticas de ameaça. 
a) Interesse próprio: manipulação do resultado para redução da tributação. 
b) Autorrevisão: o julgamento do profissional contábil é realizado sem 
qualquer revisão, por exemplo, o contador assina as demonstrações 
elaboradas por um terceiro. 
c) Defesa de interesse ao cliente: o profissional da contabilidade atua em 
defesa do cliente mesmo que a conduta da empresa seja incoerente com 
as normas fiscais ou contábeis. 
d) Familiaridade: por exemplo, quando a empresa solicita o 
superfaturamento de notas fiscais e o profissional contábil devido à 
familiaridade, ou seja, tanto em virtude de laços familiares quanto de 
proximidade amigável com a empresa, executa o serviço. 
 
 
6 
e) Intimidação: por exemplo, o profissional contábil aceita qualquer 
imposição da empresa em virtude de não receber seus honorários. 
Na fase de avaliação das ameaças, é necessário avaliar se a ameaça é 
aceitável ou não. Considera-se nível aceitável de ameaça quando o profissional 
usa o teste do terceiro informado e os resultados são os mesmos. Tanto os 
fatores quantitativos (por exemplo, montante financeiro de perdas possíveis) 
quanto qualitativos (por exemplo, perda do direito de exercer a atividade 
profissional) devem ser analisados. 
Por fim, a fase de tratamento das ameaças compreende o tratamento de 
ameaças que não estão em nível aceitável. Por exemplo, quando o gestor 
oferece um incentivo com o propósito de persuadir o contador a manipular as 
informações contábeis, o contador pode tratar esta ameaça não aceitando o 
incentivo. 
Conforme a NBC PG 100 (R1), R120.10, o profissional da contabilidade 
deve assim proceder, mediante: 
a) a eliminação das circunstâncias, incluindo interesses ou 
relacionamentos, que estão gerando as ameaças; 
b) a aplicação de salvaguardas, quando disponíveis e que possam ser 
aplicadas, para reduzir as ameaças a um nível aceitável; ou 
c) a recusa ou o término da atividade profissional específica. 
Todas essas análises e tratamentos apresentados até esse ponto da aula 
se devem ao fato de que o profissional contábil deve ser responsável pelas 
informações geradas, tanto para os usuários internos quanto externos. Nesse 
sentido, a postura profissional e as decisões devem ser baseadas em 
determinados princípios, que serão abordados nos próximos temas, ao longo 
dessa aula. 
Saiba mais 
BATISTA, S. Um olhar para a contabilidade, viés da essencialidade e da ética. 
CFC, 8 mar. 2019. Disponível em: <https://cfc.org.br/destaque/um-olhar-para-a-
contabilidade-vies-da-essencialidade-e-da-etica/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
TEMA 2 – NBC PG 100 (R1): INTEGRIDADE 
O princípio da integridade estabelece que o profissional da contabilidade 
deve ser direto e honesto em todas as relações profissionais e comerciais, o que 
implica em uma negociação justa e verdadeira (NBC PG 100 [R1]). 
 
 
7 
Para isso, o profissional contábil não deve estar vinculado, de maneira 
consciente, a qualquer informação que: 
 envolva informações substancialmente falsas ou enganosas. Neste caso, 
por exemplo, o contador não pode ser conivente com o registro contábil 
de fatos que não apresentam documentos comprovatórios; 
 envolva informações fornecidas de maneira superficial, como estimar as 
perdas com clientes sem analisar o histórico de perdas da empresa; ou 
 omita ou oculte informações essenciais que levariam a declarações 
enganosas. Por exemplo, o contador sabendo da possível 
descontinuidade da empresa, ludibria os usuários da informação com a 
ocultação de despesas ocorridas. 
Caso o profissional não tenha conhecimento de que a informação é falsa, 
enganosa, superficial ou que haja omissão de informações, ele não está violando 
o Código de Ética. Em contrapartida, se tiver conhecimento, deve tomar 
providências para se desvincular dessas informações. Caso o contador não tome 
as providencias necessárias, pode perder seu registro profissional ou prejudicar 
sua imagem no mercado. 
O ano de 2001 foi marcado por um dos maiores casos de fraude do mundo, 
o caso Enron, que nitidamente envolveu a inobservância de integridade por parte 
dos profissionais envolvidos. A empresa Enron Corporation, fundada em 1985, 
era uma empresa de energia, commodities e serviços dos EUA. Em 2001, foi 
descoberto que a empresa ocultava bilhões de dólares (US$) de dívidas 
incobráveis enquanto inflacionava os ganhos da empresa. Essa prática resultou 
na queda das ações de aproximadamente US$ 90 para menos de US$ 1 em um 
ano. Os investidores (acionistas) perderam mais de US $ 74 bilhões. Uma 
investigação da SEC (Securities and Exchange Commission) detectou que o 
CEO (Chief Executive Officer) da Enron, Jeff Skillings, e o ex-CEO da Ken Lay 
manipulavam as informações contábeis e pressionavam a empresa de auditoria, 
Arthur Andersen, a ignorar o fato. Houve a condenação dos envolvidos Jeff 
Skillings e Ken Lay e a empresa de auditoria foi dissolvida e a Enron foi a falência 
(Fenacon, 2017). 
Os casos envolvendo a falta de integridade do profissional contábil são 
inúmeros, como reconhecer perda estimada com crédito de liquidação duvidosa 
(PECLD) a menor, inflar o valor do estoque, desconsiderar possíveis 
 
 
8 
contingências, gerenciar o resultado utilizando taxas de depreciação que não 
correspondem à realidade, inserir registros falsos para manobrar os resultados, 
realizar lançamentos fora do sistema contábil de forma manual dentre outros. 
A ACFE – Association of Certified Fraud Examiners (2016, p. 11) 
desmembra a fraude nos negócios empresariais em superavaliação e 
subavaliação do lucro líquido e do patrimônio líquido. As práticasmais comuns 
abrangem a ocultação de passivos e despesas, reconhecimento de receitas 
fictícias e a divulgação de ativos inexistentes. 
O princípio ético da integridade tem forte relação com o exercício de 
julgamento profissional, pois a responsabilidade de analisar o registro de cada 
fato contábil é do contador. O profissional contábil, não tendo conhecimento 
suficiente sobre o assunto, pode consultar outros profissionais ou até mesmo se 
desvincular dessas informações caso sejam superficiais. 
2.1 Caso prático 
A Fortaleza S.A. é uma indústria que atua no ramo de produção de papel 
e celulose. Os troncos de madeira são a principal matéria-prima. Depois de os 
troncos serem cortados, eles passam por um descascador e picador e 
transformam-se em cavacos. Os cavacos são cozidos por um digestor com 
líquido, composto de água e agentes químicos, e o produto desse cozimento é 
a polpa. A polpa passa pelo processo de lavagem e centrifugação, e os resíduos 
são eliminados. 
Na sequência, a polpa fica em repouso para separar a celulose de outros 
resíduos, etapa denominada branqueamento. Ainda em estado aquoso, a polpa 
da celulose passa por uma mesa plana que transforma a polpa úmida em uma 
folha contínua e lisa sobre uma esteira rolante. Então, a folha passa pela 
prensagem, secagem e rebobinagem formando os rolos para corte, 
empacotamento e distribuição. 
O processo produtivo envolve questões ambientais que preocupam a 
administração da empresa. Assim, foram contratados serviços contábeis de um 
profissional com experiência em registros dessa natureza. O contador, ao 
acompanhar o processo produtivo da empresa, constatou que realmente os 
riscos ambientais eram altos e recomendou a administração que reconhecesse 
em seu passivo uma provisão para contingências ambientais. 
 
 
9 
Pergunta-se: o reconhecimento da provisão para contingências 
ambientais pressupõe o cumprimento do princípio da integridade? Qual é a 
relevância da provisão evidenciada? 
Conforme o princípio da integridade, o processo produtivo foi 
acompanhado pelo contador, que constatou o risco ambiental e que recomendou 
o registro da provisão de forma completa, verdadeira. Logo, o lançamento 
contábil foi realizado de forma íntegra. 
TEMA 3 – NBC PG 100 (R1): OBJETIVIDADE 
Conforme dispõe a NBC PG 100 (R1), o profissional da contabilidade não 
deve comprometer seu julgamento em razão de comportamento tendencioso, 
por conflito de interesses ou por influência de outros. Isto quer dizer que deve 
ser objetivo, por exemplo, antecipar o registro de uma venda para que a meta do 
período seja batida e ocorra o pagamento de remuneração variável. A norma, 
ainda, estabelece que o profissional não deve realizar uma atividade em que 
uma circunstância ou relação possa influenciar seu julgamento de maneira 
inapropriada, por exemplo, efetuar o pagamento de colaboradores a fim de 
motivá-los sem a devida escrituração para pagar menos encargos trabalhistas. 
Sendo assim, o contador deve escolher um método mais objetivo baseado 
em evidências e documentos para que a informação possa ser verificada. A 
verificabilidade está associada ao teste do terceiro informado e prudente descrito 
na NBC PG 100 (R1), em que especifica: “as mesmas conclusões seriam 
provavelmente obtidas por outra parte”. 
Ludícibus, Marion e Faria (2018, p.109) afirmam que, para não haver 
distorções nas informações contábeis, o contador deve escolher o procedimento 
mais objetivo para descrever o fato contábil, sendo este fundamentado em 
documentos. Segundo os autores, na falta de documento, 
[...] poder-se-ia convocar peritos em avaliação que, por meio de laudos, 
forneceriam um valor objetivo para o contador desenvolver, de maneira 
imparcial, a sua Contabilidade. É importante a impessoalidade 
(neutralidade) do contador (em relação aos usuários dos informes 
contábeis) que, quanto mais objetivo for, mais imparciais (não 
enviesados) serão aqueles informes. 
Na prática, este princípio requer um consenso profissional, pois as 
crenças e os valores podem provocar distorções no resultado. Por exemplo, para 
apurar o valor do estoque, é necessário utilizar o mesmo método de avaliação, 
 
 
10 
pois os resultados obtidos pelos métodos (inventário periódico e permanente) 
são distintos. 
3.1 Caso prático 
A empresa Bom Sucesso adquiriu uma máquina no valor de R$ 
100.000,00, cujo preço tabelado no mercado era de R$ 120.000,00. O contador 
registrou a máquina no valor de R$ 100.000,00 com base na documentação 
gerada na transação (nota fiscal). O princípio da objetividade prevê que o registro 
contábil deve ocorrer pelo valor de aquisição, mesmo que a máquina tenha valor 
de mercado de R$ 120.000,00. Portanto, a opinião do contador sobre o preço 
mais adequado para registro não é válida. O contador deve ser objetivo, 
imparcial, neutro na escrituração dos fatos. 
TEMA 4 – NBC PG 100 (R1): COMPETÊNCIA E ZELO PROFISSIONAIS 
Outro princípio norteador da profissão contábil, conforme NBC PG 100 
(R1), é o da competência profissional e devido zelo. A competência determina 
que o profissional contábil aperfeiçoe constantemente e conserve o 
conhecimento e a habilidade adquiridos a fim de garantir que o cliente ou a 
entidade empregadora obtenham um serviço apropriado, fundamentado em 
padrões técnicos e profissionais atuais e em conformidade com a legislação 
vigente. Neste caso, a incapacidade técnica e facilitação do exercício profissional 
aos não habilitados seriam infrações éticas, conforme exemplificado pelo 
Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina (CRC SC). 
O profissional, inclusive, deve realizar o trabalho com zelo. A diligência na 
realização do serviço compreende a responsabilidade de atuar de maneira 
cuidadosa, árdua e oportuna. 
Segundo a norma, “atender aos clientes e às organizações empregadoras 
com competência profissional requer o exercício de julgamento sólido na 
aplicação do conhecimento profissional e habilidade na realização de 
atividades profissionais”. O aprendizado contínuo proporciona o 
desenvolvimento que o profissional precisa ter para exercer suas atividades e as 
habilidade exigidas pelo ambiente profissional. 
O CFC criou um programa de Educação Profissional Continuada (EPC) 
por meio da NBC PG 12 (R3), que objetiva atualizar e ampliar conhecimentos e 
 
 
11 
competências técnicas e profissionais, habilidades multidisciplinares e 
progressão do comportamento social, moral e ético dos profissionais da 
contabilidade. Profissionais da contabilidade que estejam inscritos no Cadastro 
Nacional de Auditores Independentes (CNAI), registrados na Comissão de 
Valores Mobiliários (CVM), exercem atividades de auditoria independente, sejam 
responsáveis técnicos pelas demonstrações contábeis e estejam inscritos no 
Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC), de maneira geral, devem 
cumprir a pontuação exigida para cada categoria/habilitação. 
Além disso, o princípio estabelece que o profissional contábil que atribuir 
tarefas aos que estão trabalhando sob sua responsabilidade deve assegurar que 
estes receberão treinamento e supervisão adequada. E, quando oportuno, o 
profissional deve comunicar aos clientes, à entidade empregadora ou a outros 
usuários dos seus serviços, as restrições pertinentes às atividades (NBC PG 100 
(R1)). 
4.1 Caso prático 
Um profissional recém-formado em Ciências Contábeis e ainda não 
registrado no Conselho Regional de Contabilidade, em razão da reprovação no 
Exame de Suficiência, foi requisitado pelo seu primo, contador registrado no 
Conselho, para elaborar alguns demonstrativos contábeis. Seu primo o 
requisitou devido ao intenso volume de trabalho que estava atrasado. 
Logo, o recém-formado em Ciências Contábeis não recebeu qualquer 
orientação quanto à execução do trabalho, porém o realizou da melhor forma 
possível, atendendo ao conhecimento absorvido durante o curso. 
Ao concluiros demonstrativos, o contador, registrado no Conselho, 
assinou os documentos e repassou a informação aos seus clientes sem qualquer 
revisão. 
Pergunta-se: os profissionais cumpriram o princípio da competência e 
zelo? 
Ambos os profissionais não cumpriram com o princípio da competência e 
zelo. Apesar de o recém-formado ter realizado o trabalho da melhor forma 
possível, atendendo a todo o conhecimento absorvido no curso, ele não tem 
competência técnica, pois ainda não foi aprovado no Exame de Suficiência. Seu 
primo, contador, também não agiu de forma zelosa. Conforme dispõe a NBC PG 
100 (R1), o profissional que atribuir tarefas aos que estão trabalhando sob sua 
 
 
12 
reponsabilidade deve assegurar que estes receberão treinamento e supervisão 
adequada. 
TEMA 5 – NBC PG 100 (R1): SIGILO PROFISSIONAL E COMPORTAMENTO 
PROFISSIONAL 
Determinadas informações contábeis são extremamente valiosas para a 
empresa, não devendo ser reveladas à concorrência. Entretanto, existem 
informações que devem ser evidenciadas aos usuários conforme estabelecido 
nos normas contábeis. As informações sigilosas que não devem ser relevadas à 
concorrência são aquelas de aspecto gerencial, por exemplo, o gerenciamento 
dos custos para obtenção de melhores resultados, pois refere-se a uma 
estratégia de mercado. Desta forma, tem-se o princípio da confidencialidade. 
De acordo com a NBC PG 100 (R1), o profissional da contabilidade deve: 
a) atentar-se para a divulgação inapropriada da informação no ambiente 
social e, principalmente, a parceiros de negócio ou familiares próximos, 
por exemplo, o contador em posse da informação não deve repassar a 
estratégia da empresa em que atua a um familiar que pretende abrir um 
negócio similar; 
b) manter o sigilo das informações nos limites da empresa ou da organização 
empregadora; 
c) manter o sigilo das informações apresentadas por clientes ou organização 
empregadora em potencial; 
d) não divulgar informações confidenciais fora da empresa ou da 
organização empregadora resultante de relações profissionais e 
comerciais sem a devida autorização específica, a não ser que a 
divulgação seja um direito ou dever legal do profissional da 
contabilidade; 
e) não fazer uso de informações confidenciais decorrentes de relações 
profissionais e comerciais para benefício próprio ou de terceiros, como foi 
o caso da empresa JBS S.A., grande empresa do setor alimentício e seus 
controladores, que fizeram uso de informações privilegiadas para obter 
vantagens ilícitas no mercado de valores mobiliários; 
 
 
13 
f) não fazer uso de informações confidenciais obtidas ou recebidas em 
razão da relação profissional ou comercial depois do término dessa 
relação; 
g) tomar medidas plausíveis para garantir que o pessoal, sob a supervisão 
do profissional contábil, e as pessoas que o assessoram e prestam 
assistência respeitem o dever de confidencialidade. Por exemplo, acesso 
ao banco de dados de cadastro de clientes. 
O fato de a divulgação de informações confidenciais ser um direito ou 
dever legal do profissional da contabilidade está relacionado à denúncia de 
irregularidades praticadas por clientes e empresas empregadoras. Isso ocorre 
quando o contador sabe que as informações são sigilosas, mas, em razão de 
serem informações fraudulentas, devem ser divulgadas às autoridades 
competentes. Por exemplo, o contador detecta que a empresa está 
superfaturando notas fiscais; é seu dever comunicar aos órgãos competentes, 
visto que há uma ameaça a sua profissão. 
A norma internacional Noclar (Responding to Non-Compliance with Laws 
and Regulations – Resposta ao Descumprimento de Leis e Regulamentos) 
entrou em vigor em 2017, em vários países, visando estabelecer procedimentos 
claros sobre atos ilícitos, como descobertas de fraudes ou descumprimento às 
normas. 
A NBC PG 100 (R1) regulamenta as circunstâncias nas quais os 
profissionais da contabilidade são ou podem ser requisitados a divulgar 
informações confidenciais ou nas quais essa divulgação pode ser adequada: 
a) a divulgação é exigida por lei, como, por exemplo: 
b) produção de documentos ou outra disponibilização de evidências no 
curso dos procedimentos legais; ou 
c) divulgação às autoridades públicas competentes de infrações da lei 
que são reveladas; 
d) A divulgação é permitida por lei e autorizada pelo cliente ou pela 
organização empregadora; e 
e) há o dever ou direito profissional de divulgação, quando não for 
proibido por lei, de: 
f) cumprir com a revisão de qualidade de órgão profissional; 
g) responder à indagação ou à investigação por órgão profissional ou 
regulador; 
h) proteger os interesses profissionais do profissional da contabilidade 
em procedimentos legais; ou 
i) cumprir com as normas técnicas e profissionais, incluindo as 
exigências éticas. 
As circunstâncias definidas para divulgação de informação confidencial, 
por exemplo, “divulgação às autoridades públicas competentes de infrações da 
 
 
14 
lei que são reveladas”, garantem que a sociedade não seja penalizada, pois este 
evento pode ser, por exemplo, resultado de sonegação fiscal, que impacta na 
destinação de recursos públicos, atitude antiética. 
Os fatores a serem considerados na divulgação das informações 
confidenciais, segundo a norma, são: 
 se o cliente ou a organização empregadora concordar com a divulgação 
das informações pelo profissional da contabilidade, o interesse de 
terceiros e demais partes poderiam ser afetadas; 
 considerando que todas as informações relevantes são conhecidas e 
comprovadas, os fatores que influenciam a decisão de divulgar 
informações sigilosas compreendem fatos não comprovados, 
informações incompletas e conclusões não certificadas; 
 a forma de comunicação pretendida e a quem ela é destinada; 
 os receptores da informação a quem a comunicação é dirigida são 
apropriados. 
O profissional deve cumprir o princípio da confidencialidade, de maneira 
que, mesmo que finalize o contrato com o cliente ou com a organização 
empregadora, as informações não podem ser divulgadas. As experiências 
adquiridas apenas estarão implícitas nos próximos trabalhos. 
5.1 Comportamento Profissional 
O profissional contábil deve se comportar de acordo com os princípios. As 
leis e os regulamentos pertinentes à profissão devem ser obedecidos e qualquer 
conduta que deprecie a profissão deve ser evitada. 
O código de conduta do profissional contábil determina que não deve 
haver envolvimento, de forma consciente, com negócio, ocupação ou atividade 
que cause prejuízo à integridade, à objetividade ou à boa imagem da profissão, 
visto que seria contrário aos princípios fundamentais. 
O marketing pessoal não deve desprestigiar a profissão, fazendo 
declarações falsas, exageradas e depreciando o trabalho de outros profissionais. 
O contador deve ser sempre correto e sincero. E, caso existam dúvidas, deve-
se consultar o órgão profissional competente. 
 
 
 
15 
5.2 Caso prático 
Determinado empresário decidiu cotar honorários contábeis antes de firmar 
contrato com um escritório de contabilidade. Em conversa com um dos 
escritórios, foram propostos honorários irrisórios comparados aos que o mercado 
costuma cobrar. 
O empresário, vislumbrado com a redução de custos contábeis, decidiu 
contratar o serviço do contador. O que não ficou claro na contratação foi que do 
contador não estava interessado no recebimento dos honorários, mas no 
conhecimento que adquiriria sobre o negócio do cliente. 
A informação obtida a respeito do negócio do empresário beneficiaria a 
toda a família do contador. Então, logo após o início da prestação dos serviços 
contábeis, a informação foi divulgada aos interessados. 
Pergunta-se: o profissional contábil cumpriu com o princípio da 
confidencialidade? 
O princípio não foi cumprido, pois, mesmo que os familiares fossem de 
confiança, a informação gerada é sigilosa e somente podeser divulgada quando 
exigida por lei. 
TROCANDO IDEIAS 
O profissional da contabilidade não deve comprometer seu julgamento em 
virtude de comportamento tendencioso, por conflito de interesses ou por 
influência de outros, ou seja, deve ser objetivo. A objetividade no serviço contábil 
pode ser fundamentada apenas em acordos verbais? 
NA PRÁTICA 
Suponha que a empresa Fortes esteja em busca de um profissional 
contábil que a oriente na redução da carga tributária. Sem conhecer do assunto, 
a Fortes confiou todo o processo de planejamento tributário ao contador. O 
contador, por sua vez, recomendou manipular o resultado reconhecendo uma 
perda estimada para crédito de liquidação duvidosa a maior. 
A perda estimada para crédito de liquidação duvidosa é realizada com 
base nos últimos três anos, mas foi superavaliada para reduzir o resultado e 
recolher menos tributos. 
 
 
16 
Neste contexto, a atitude do contador foi correta?1 
FINALIZANDO 
O profissional da contabilidade deve cumprir os princípios éticos 
estabelecidos na NBC PG 100 (R1). O descumprimento desses princípios 
prejudica o exercício da profissão, tornando a informação falsa. 
Integridade, objetividade, competência e zelo profissional e 
confidencialidade da informação são atributos importantes na realização do 
trabalho do contador. É dever do contador conhecer as normas e aplicá-las de 
maneira adequada. 
Por fim, a educação continuidade é de suma importância para esta 
profissão, que está sempre acompanhado as mudanças socioeconômicas. 
 
 
 
1 A resposta esperada para essa seção pode ser encontrada ao final deste material, logo após 
as referências. 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
ACFE – Association of Certified Fraud Examiners. Report to the nations on 
occupational fraud and abuse: 2016 Global Fraud Study. Disponível em: 
<https://www.acfe.com/rttn2016/resources/downloads.aspx>. Acesso em: 16 
abr. 2020. 
BARBOZA, E. L.; ROA, M. M. Fluxo de informação no contexto contábil. Revista 
de Ciência da Informação e Documentação, v. 9, n. 2, 2018. Disponível em: 
<http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/141456>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
BATISTA, S. Um olhar para a contabilidade, viés da essencialidade e da ética. 
CFC, 8 mar. 2019. Disponível em: <https://cfc.org.br/destaque/um-olhar-para-a-
contabilidade-vies-da-essencialidade-e-da-etica/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC PG 12 (R3): Educação 
profissional continuada. Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-
brasileiras-de-contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
_____. NBC PG 100 (R1): Cumprimento do Código, dos Princípios 
Fundamentais e da Estrutura Conceitual. Disponível em: 
<https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-pg-geral/>. 
Acesso em: 16 abr. 2020. 
_____. NBC PG 200 (R1): Contadores Empregados (Contadores Internos). 
Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-
contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
_____. NBC PG 300 (R1): Contadores que Prestam Serviços (Contadores 
Externos). Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-
contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
CRCSC – Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina. Ética 
Profissional. Disponível em: <http://www.crcsc.org.br/servico/view/5>. Acesso 
em: 16 abr. 2020. 
IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J. C.; FARIA, A. C. de. Introdução à teoria da 
contabilidade: para graduação. 6. ed. [2. Reimpr.]. São Paulo: Atlas, 2018. 
OS 9 MAIORES escândalos contábeis do mundo. Fenacon, 23 out. 2017. 
Disponível em: <http://fenacon.org.br/noticias/os-9-maiores-escandalos-
contabeis-do-mundo-2609/>. Acesso em: 16 abr. 2020. 
 
 
18 
GABARITO 
Não, pois, de acordo com o princípio da integridade, o profissional contábil 
não deve estar vinculado, de forma consciente, a qualquer informação que ele 
suponha que: 
 envolva informações substancialmente falsa ou enganosa; 
 envolva informações fornecidas de maneira superficial; ou 
 omita ou oculte informações essenciais que levariam a declarações 
enganosas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONTADOR E A ÉTICA 
PROFISSIONAL 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Daiane Lolatto 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, será estudada a NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b), que trata 
dos contadores empregados (contadores internos). Assim como a NBC PG 100 
(R1) (CFC, 2019a), ela também entrou em vigor em 1º de janeiro de 2020. 
Antes, esse assunto era tratado pela NBC PG 300 (CFC, 2019c), que foi 
revogada. 
A norma apresenta condições importantes para o exercício da profissão 
contábil, como requisitos e material de aplicação, fatos e circunstâncias que 
geram ou podem gerar ameaças ao cumprimento dos princípios fundamentais, 
conflitos de interesses existentes, elaboração e divulgação das informações, 
interesses financeiros, remuneração e incentivo relativo ao relatório financeiro e 
à tomada de decisões. 
Destaca-se a confiança que investidores, credores, organizações 
empregadoras, governos e público em geral podem ter em relação ao trabalho 
dos contadores internos. Esses profissionais da contabilidade, por sua vez, 
podem ser empregados, contratados, parceiros, diretores, proprietários ou 
voluntários. 
A denominação profissional da contabilidade refere o profissional de 
contabilidade em empresas e a pessoa física em si que atua na área contábil. 
É nesse contexto que serão abordados alguns temas específicos da norma em 
questão. 
CONTEXTUALIZANDO 
O contador pode ser o único responsável ou também ter a 
responsabilidade compartilhada pela elaboração e divulgação das 
demonstrações contábeis e demais informações econômico-financeiras 
necessárias aos investidores, credores, clientes, empregadores etc. Ele deve 
auxiliar a organização empregadora e se comprometer eticamente dentro da 
entidade. Nesse sentido, pode-se dizer que quanto mais alto o cargo do 
profissional contábil, maior será a capacidade de obter informações e de 
influenciar na tomada de decisões? 
 
 
3 
TEMA 1 – NBC PG 200 (R1): CONFLITO DE INTERESSES 
O conflito de interesses refere-se aos interesses divergentes entre 
profissional contábil e empresa. Por exemplo: a empresa solicita ao contador 
que altere os dados contábeis com o objetivo de conseguir um empréstimo 
junto ao banco; o interesse da empresa conflita com o interesse do contador, 
pois este deve evidenciar as informações de forma objetiva e, por isso, não 
deve atender à solicitação da empresa, havendo um conflito de interesses. 
O contador, no desenvolvimento de suas atividades, deve respeitar ou 
cumprir os princípios dispostos na NBC PG 100 (R1) (CFC, 2019a), que são: 
integridade, objetividade, competência profissional e devido zelo, 
confidencialidade e comportamento profissional. No entanto, a atuação do 
profissional pode sofrer ameaças que, se não forem devidamente identificadas 
e tratadas, talvez influenciem a observância desses princípios. Essas ameaças 
estão reunidas na Figura 1: 
Figura 1 – Ameaças aos princípios fundamentais 
 
a. Ameaça de interesse próprio: a norma descreve que esse tipo de 
ameaça ocorre quando o contador interno tem interesse financeiro na 
entidade que o contratou (por exemplo, se a empresa fornece 
empréstimo para o contador durante sua atividade profissional), quando 
há participação de acordos de remuneração com base em incentivos 
(isto é, o contador está presente na tomada de decisões quanto à 
remuneração variável dos colaboradores), quando o profissional contábil 
usa os ativos da empresa a seu favor (o contador faz uso do notebook 
Ameças aos princípios 
fundamentais
Interesse próprio
Autorrevisão
Defesa do interesse do 
cliente
Familiaridade
Intimidação
 
 
4 
da empresa para suas atividades pessoais), quando o contador interno 
recebepresentes ou tratamento especial dos fornecedores com o intuito 
de garantir que a empresa continue operando-os. Também é possível 
que a empresa, por exemplo, solicite ao contador que sejam realizadas 
manobras fiscais para reduzir a carga tributária e, em razão do risco de 
ser desligado, ele execute o trabalho. 
b. Ameaça de autorrevisão: ameaça que pode ser verificada, por 
exemplo, quando o contador interno define o tratamento contábil 
referente à compra de outra empresa depois de ter participado do estudo 
de viabilidade econômica que contribuiu para a decisão de compra. 
Nesse caso, o ideal é que o cálculo de viabilidade econômica e 
contabilização da operação seja realizado por profissionais distintos para 
que não haja viés no registro, pois, se o cálculo e a contabilização forem 
realizados pelo mesmo profissional, a tendência é que qualquer 
inconformidade no processo seja desconsiderada. Essa operação tende 
a ser complexa em virtude da avaliação de ativos e passivos. 
c. Ameaça de defesa do interesse do cliente: segundo a norma contábil, 
os princípios fundamentais podem ser ameaçados quando o contador 
decidir manipular informações contábeis para a obtenção de um 
financiamento para o cliente, por exemplo. 
d. Ameaça de familiaridade: os princípios estarão ameaçados se houver 
proximidade familiar ou amigável entre contador e entidade 
empregadora, pois os relatórios podem conter informações 
tendenciosas, uma vez que o contador tende a atender às exigências da 
empresa. Essa proximidade pode ser decorrente de vínculo familiar ou 
resultado de vínculo prolongado com a empresa. 
e. Ameaça de intimidação: a intimidação pode existir quando uma pessoa 
influente tenta burlar a aplicação dos princípios contábeis ou quando o 
profissional contábil estiver sujeito à demissão ou substituição em 
decorrência de desentendimento sobre algum registro contábil. 
Após identificar as ameaças ao exercício da profissão do contador 
interno, é necessário avaliar seu nível e tratá-las. A NBC PG 200 (R1) 
determina que: 
Em situações extremas, se as circunstâncias que criaram as ameaças 
não podem ser eliminadas e as salvaguardas não estão disponíveis 
 
 
5 
ou não podem ser aplicadas para reduzir a ameaça a nível aceitável, 
o profissional da contabilidade pode considerar apropriado o seu 
desligamento da organização empregadora. (CFC, 2019b) 
Em consonância com a NBC PG 100 (R1) (CFC, 2019a), o contador 
deve realizar o exercício de julgamento profissional. 
1.1 Conflito de interesse 
Um conflito de interesse gera ameaças ao cumprimento dos princípios, 
sobretudo ao princípio da objetividade. Pode acontecer, por exemplo, quando o 
contador interno realiza uma atividade específica em que há duas ou mais 
partes interessadas, ou quando o próprio contador tem interesse no assunto. 
Conforme disposto na NBC 200 (R1), “o profissional da contabilidade 
não deve permitir que conflito de interesses comprometa o julgamento 
profissional ou comercial” (CFC, 2019b). As circunstâncias que podem causar 
conflitos de interesse para o contador interno são: 
 exercer a função de administração ou governança para duas ou mais 
instituições empregadoras usufruindo de informações sigilosas para 
beneficiar uma instituição em detrimento de outra; 
 realizar a atividade profissional para ambas as partes da dissolução de 
uma sociedade; 
 elaborar informações financeiras para membros da administração que 
estão tentando obter o controle da sociedade; 
 selecionar fornecedor para a empresa que o contratou quando um 
familiar pode se beneficiar financeiramente da situação; 
 atuar como membro de governança de uma instituição em que tenha 
investimentos ou que tenha familiar investindo. 
O profissional contábil deve estar atento a qualquer conflito de interesse, 
pois, conforme ilustrado na Figura 2, “[...] quanto mais direta for a conexão 
entre a atividade profissional e o assunto sobre o qual os interesses das partes 
estejam em conflito, maior é a probabilidade de que o nível da ameaça não 
seja aceitável” (CFC, 2019b). 
 
 
6 
Figura 2 – Conflito de interesse 
 
O contador pode eliminar o conflito de interesse afastando-se do 
processo de tomada de decisões ou proteger-se das ameaças de conflito 
reestruturando as funções ou subordinando-se a uma supervisão apropriada. 
Quanto à divulgação e ao consentimento das ameaças, é necessário 
divulgar a natureza do conflito e obter o consentimento das partes envolvidas 
no exercício da profissão. O contador deve documentar a natureza do fato que 
gerou o conflito, as prevenções aplicadas para tratar as ameaças e o 
consentimento obtido. 
TEMA 2 – NBC PG 200 (R1): ELABORAÇÃO E COMUNICAÇÃO DE 
INFORMAÇÕES 
Os contadores empregados ou internos estão constantemente 
comprometidos com a elaboração e a comunicação de informações aos 
usuários internos e externos das empresas. Essas informações devem ser 
apresentadas conforme as normas profissionais gerais de contabilidade. 
A NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b) pressupõe que as informações 
auxiliam os usuários a compreenderem e avaliarem a situação da empresa, 
bem como a tomarem decisões a respeito dela. As informações podem ser 
apresentadas por meio de: 
 relatórios operacionais e de desempenho; 
 análises de apoio a decisões; 
 orçamentos e projeções; 
quanto mais direta a 
conexão entre a 
atividade profissional e 
o assunto sobre o qual 
os interesses das 
partes estejam em 
conflito
maior o nível de 
ameaça.
C
o
n
ta
d
o
r 
x
 I
n
te
re
s
s
e
 d
a
s
 p
a
rt
e
s
N
ív
e
l 
d
e
 a
m
e
a
ç
a
 
 
7 
 informações fornecidas para os auditores internos e externos; 
 análises de risco; 
 demonstrações contábeis para fins gerais e para propósitos 
específicos; 
 declarações de impostos; 
 relatórios protocolados junto a órgãos reguladores para fins 
legais e de conformidade. (CFC, 2019b) 
Os contadores internos devem considerar os seguintes aspectos ao 
elaborar e comunicar as informações: 
a. as informações precisam ser estruturadas de modo que sejam 
relevantes, isto é, a organização dos dados de acordo com as normas é 
primordial para a compreensão; 
b. as informações não podem ser tendenciosas; 
c. o julgamento profissional deve ser fundamentado em informações 
precisas, íntegras, descritas de forma clara e verdadeira e registradas 
tempestivamente; 
d. nenhuma informação pode ser omitida a fim de tornar o resultado 
enganoso (por exemplo, utilizando estimativas irreais para avaliar os 
ativos). 
O profissional contábil não deve utilizar procedimentos que distorçam o 
resultado, como aplicar o valor justo inadequadamente, alterar a política de 
avaliação contábil para forjar lucros, manipular as vendas, divulgar apenas 
informações que beneficiem a empresa, entre outros. 
Quando não houver uma estrutura predefinida para apresentação das 
informações, o contador deverá considerar a finalidade do relatório, o contexto 
para seu fornecimento e a quem ele será destinado. Sendo assim, quando for 
solicitada a elaboração de um relatório que contenha a projeção financeira da 
empresa para os próximos dez anos, ele poderá utilizar estimativas com base 
em suas experiências. 
O contador pode confiar no trabalho de terceiros, de dentro ou fora da 
empresa, mas terá que analisar a reputação, a competência e se a outra 
pessoa também está submetida às normas profissionais e éticas. Nesse caso, 
quando solicitar a um outro profissional a revisão dos relatórios, como a 
conciliação das contas contábeis com o sistema financeiro da empresa, é 
necessário que esse profissional também atenda aos princípios éticos de forma 
íntegra. Caso contrário, o trabalho não será confiável. 
 
 
8 
2.1 Informações enganosas e o devido tratamento 
O contador interno, ao tomar conhecimento de que está envolvido em 
informações enganosas, inicialmente deverá tentar solucionar o caso. Não 
havendo consenso,

Outros materiais