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O CONTADOR E A ÉTICA PROFISSIONAL AULA 6 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão estudados os aspectos gerais da postura ética do pesquisador na área contábil, a definição e as características de plágio, copiador e pasticheiro, o autoplágio e as repercussões do plágio. Como uma das possibilidades de atuação do profissional contábil é a área de pesquisa científica e acadêmica, é fundamental saber determinados aspectos éticos que devem ser obedecidos nesse contexto. Segundo Antunes et al. (2011, p. 321), não existe um código de ética formal para as pesquisas contábeis no Brasil que sirva como orientação de conduta no processo de desenvolvimento da pesquisa ou de orientação de alunos e nas relações entre os pesquisadores. Entretanto, existem normas implícitas que orientam a conduta do pesquisador, ou seja, apesar de as leis não serem destinadas especificamente às pesquisas, estão correlacionadas. Um estudo de Leite et al. (2009) verificou se as questões éticas têm sido levadas em conta no processo de pesquisa em administração. Os resultados demonstraram que os respondentes associam a ética na pesquisa ao compromisso moral do pesquisador e ao respeito às normas éticas. Foi constatado que os pesquisadores se preocupam com o plágio e o anonimato dos respondentes, concluindo-se que, apesar de a maioria dos pesquisadores não conhecer os códigos de ética na pesquisa, acredita na importância da discussão, elaboração, divulgação e aplicação. A pesquisa científica é importante para o desenvolvimento da ciência social da contabilidade, além de ser uma área de atuação desses profissionais. No entanto, a construção da pesquisa deve seguir ou respeitar determinados aspectos, que serão abordados ao longo desta aula. As regras em questão envolvem toda a vida acadêmica, como as respostas discursivas em avaliações, a elaboração de pesquisas e trabalhos acadêmicos, a elaboração do relatório de estágio supervisionado e dos demais trabalhos acadêmicos. O mesmo acontece com a vida profissional: as regras éticas devem ser aplicadas no desenvolvimento de relatórios com informações a serem disponibilizadas aos usuários internos e externos. Quando utilizados textos ou frases construídos por outras pessoas nos relatórios, deve-se indicar adequadamente a fonte dessa informação e a pessoa que a disponibilizou. 3 CONTEXTUALIZANDO As questões éticas na pesquisa científica podem ser analisadas sob dois aspectos. O primeiro refere-se aos efeitos da aplicação de conhecimentos científicos na sociedade (evidências de que os investimentos ambientais garantem maior retorno financeiro para a empresa e mais sustentabilidade socioambiental). O segundo refere-se aos meios para obter o conhecimento no universo da pesquisa científica (coleta de dados confiáveis). Nesse sentido, quais as condutas éticas aplicadas em ambos os aspectos da pesquisa? Saiba mais Para entender mais sobre a conduta ética dos pesquisadores em contabilidade, leia o artigo de Antunes et al. (2011) disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519- 70772011000300006&lng=en&nrm=iso>. TEMA 1 – ASPECTOS GERAIS DA POSTURA ÉTICA DO PESQUISADOR NA ÁREA CONTÁBIL A pesquisa científica surge de uma inquietação, algo que se quer descobrir ou compreender melhor. Logo, ela é indispensável para o desenvolvimento da sociedade, pois contribui para resolver um problema relevante, bem como para a formação profissional e do ser humano envolvido com a pesquisa. Contudo, se não desenvolvida eticamente, novos problemas serão criados (como quebra de sigilo nas informações), por isso é necessário identificar as questões éticas que podem surgir durante o desenvolvimento da pesquisa. A pesquisa precisa ser fundamentada em estudos precedentes de cunho científico, pois as pesquisas científicas são validadas por outros pesquisadores, ou seja, antes de um artigo científico ser publicado, por exemplo, ele passa por uma avaliação, o que garante a veracidade do estudo. Também é importante considerar que os estudos precedentes devem ser citados, uma vez que as ideias não podem ser apropriadas como se fossem uma criação. Outra situação ética que deve ser observada diz respeito ao desenvolvimento da pesquisa em equipe. Todos os autores participantes devem ser incluídos na obra, assim como uma mesma obra não pode ser 4 submetida a vários periódicos. Há ainda outras situações, que serão abordadas durante a aula. A ética e a responsabilidade dos cientistas sobre o reflexo da ciência e da tecnologia na sociedade são preocupações constantes. Nesse contexto, a International Association for Accounting Education and Research (IAAER) publicou o Global Code of Ethics for Accounting Educators – Código Global de Ética para Educadores em Contabilidade. O documento trata das responsabilidades na pesquisa acadêmica, conforme descrito no Quadro 1: Quadro 1 – Responsabilidades na pesquisa acadêmica Responsabilidades na função de pesquisador Desenvolvimento da pesquisa Periódicos científicos e políticas de publicação A função do pesquisador requer que as pesquisas desenvolvidas sejam destinadas a melhorar a qualidade da educação e da prática contábil. Os educadores de contabilidade devem atribuir o crédito adequado à propriedade intelectual. Editores e revisores de trabalhos científicos devem assegurar a imparcialidade e a objetividade na avaliação dos trabalhos submetidos. Ao desenvolver pesquisas, os educadores de contabilidade devem manter um alto nível de desempenho profissional e moral. Pesquisadores e escritores contábeis devem preservar a originalidade em seu trabalho. A pesquisa científica requer objetividade, honestidade e precisão nos relatórios e a devida diligência. O revisor de pesquisa científica tem o dever de divulgar conflitos de interesses para o conselho editorial ou a comissão científica. A análise e a publicação das pesquisas requerem uma atitude profissional na comunicação e na avaliação destas. As descobertas de plágio devem ser comunicadas ao editor e empregador. Editores de periódicos ou comissão científica devem especificar os procedimentos para a submissão de trabalhos. É necessário manter a confidencialidade das fontes da pesquisa. Os avaliadores de trabalhos científicos devem ser positivos e respeitosos na comunicação dos resultados aos autores. Fonte: Adaptado de IAAER, [S.d.]. Sendo assim, nota-se a importância da ética no desenvolvimento da pesquisa científica. A originalidade da produção científica e a relevância do estudo são primordiais para a evolução da ciência contábil. Creswell (2014, p. 132) relata que as questões éticas precisam ser antecipadas e abordadas ativamente nos projetos de pesquisa, em pesquisas qualitativas, quantitativas e mistas, e ainda em todas as etapas do estudo. A ética, então, deve estar presente na contextualização do problema de pesquisa, nos objetivos, na coleta de dados, na análise e na interpretação dos dados, na redação e na divulgação da pesquisa. 5 Pode-se ter como exemplo de projeto de pesquisa o seguinte: a. Problema de pesquisa: qual o impacto da divulgação de informações ambientais no resultado econômico-financeiro das empresas altamente poluentes? Por meio dessa questão, nota-se a importância que os resultados podem gerar para a sociedade e a estratégia das empresas. b. Objetivos: identificar o reflexo da divulgação de informações ambientais no resultado econômico-financeiro das empresas altamente poluentes. O pesquisador poderá contribuir para o aumento da divulgação de informações se o resultado for positivo, e, caso contrário, faz-se necessário justificar o achado e garantir que as entidades continuem investindo em ações sustentáveis. c. Coleta de dados: os dados coletadosprecisam ser reais, não podendo ser manipulados para encontrar os resultados oportunos. Nesse caso, a coleta dos dados pode ser realizada por meio das demonstrações contábeis publicadas pelas empresas. d. Análise e interpretação dos dados: análise descritiva dos dados coletados e comparação com estudos precedentes. A análise dos dados não pode ter viés, eles precisam ser analisados de forma neutra. e. Divulgação da pesquisa: o artigo deve ser submetido a apenas um periódico, visto que a pesquisa deve ser única, exclusiva sobre aquele assunto. Para Oliveira e Martins (2019, p. 461), a aplicação de padrões éticos em pesquisas compreendendo seres humanos traz, ao menos, três efeitos práticos: (a) assegurar que a pesquisa atende aos padrões internacionais de integridade; (b) mitigar riscos ao pesquisador e à instituição relacionados a possíveis ações judiciais de participantes que se sentirem prejudicados pela participação nos estudos; e (c) aumentar a validade e a relevância externa do estudo, o que poderá culminar em maior possibilidade de obter financiamento e maior aceitação pela comunidade científica. Vale discutir também as etapas para a realização da pesquisa científica. 1.1 Etapas da pesquisa científica O trabalho científico engloba todo tipo de trabalhos acadêmico- científicos, como artigo científico, comunicação científica, dissertação de 6 mestrado, ensaio científico, fichamento, informe científico, inventário acadêmico, mapa conceitual, memorial, monografia, paper, plano de pesquisa, pôster, pré-projeto de pesquisa, projeto de pesquisa, relatório, resenha, resumo, tese de doutorado, trabalho de conclusão de grupo (Brasileiro, 2013, p. 69-167). A diferença entre artigo científico e paper, por exemplo, consiste na extensão do trabalho: enquanto o paper é um miniartigo, uma descoberta em andamento, o artigo é um estudo completo. Inclui-se também nos tipos de trabalho científico o estágio supervisionado. Segundo Marconi e Lakatos (2019, p. 257), os trabalhos científicos devem seguir as normas preestabelecidas e os objetivos a que se destinam, e a pesquisa deve ser contribuir para novos conhecimentos, a compreensão de certos problemas, além de servir de base para outros trabalhos. O artigo científico, por exemplo, consiste na apresentação sucinta dos resultados referentes a uma questão de pesquisa, contemplando novas ideias ou abordagens de estudos já realizados que serão replicados em outro período ou em outra base de dados. TEMA 2 – PLÁGIO Plagiar é uma atitude antiética que ocorre quando há a apropriação de ideias de outros autores sem a devida citação da fonte. O plágio tem sido um problema constante nas publicações científicas das mais diferentes áreas, e na contabilidade não é diferente. De acordo com Krokoscz (2011), o plágio é uma prática antiga que vem aumentando nos últimos anos por conta da internet. Para o autor, copiar a ideia, a estrutura ou a pesquisa na íntegra, e até mesmo partes de um trabalho, sem fazer a devida citação ou referência ao autor é considerado plágio. A citação é a inclusão de uma informação de outra fonte no corpo do texto de forma direta ou indireta. Já as referências compreendem uma lista de fontes pesquisadas e citadas no texto. Citar a fonte garante a imunidade contra a acusação de plágio, mas não é, de imediato, uma garantia contra uma acusação fundamentada em direitos de propriedade (copyright) (Mattar Neto, 2008, p. 128). O direito de propriedade vai além do plágio, que já é considerado crime, consistindo nos direitos autorais, de modo que somente o autor de uma obra pode fazer uso daquele texto, ou seja, o texto não pode ser citado em nenhuma outra 7 publicação. Nesse contexto, qual a diferença entre plágio e violação de direitos de propriedade? O plágio é uma conduta imoral e antiética que consiste na apropriação de um texto que pertence a outra pessoa. Frei Luca Pacioli (1494), por exemplo, define o método das partidas dobradas determinando que para cada débito existe um crédito de igual valor. Caso não fosse citado o autor da definição, haveria um plágio. A violação de direitos de propriedade (direitos autorais) pode ocorrer mesmo que seja citada a fonte, visto que deriva da utilização ilícita dos direitos de exclusividade. No referido caso, se o Frei Luca Pacioli tivesse um termo de exclusividade, nenhum outro texto poderia apresentar essa definição, que seria exclusiva dele, a não ser que houvesse uma justificativa para sua utilização, como descrito na Lei de Direitos Autorias – Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 (Brasil, 1998). Essa lei, em seu art. 46, incisos III e VIII, determina que: Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: [...] III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, critica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; [...] VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores. (Brasil, 1998, grifos nossos) A citação pode ser utilizada para fundamentar o estudo, mas deve atingir o objetivo proposto, não prejudicando os autores da obra original. Mattar Neto (2008, p. 129) menciona a expressão fair-use (uso justo) utilizada pela legislação norte-americana, que considera, para fins de reprodução de um trecho de uma obra, “[...] o propósito e caráter do uso, a natureza do trabalho reproduzido, a quantidade e a substancialidade do trabalho utilizado e os efeitos gerados no potencial de mercado”. O plágio e os direitos autorais se coadunam facilmente e devem ser levados a sério no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e científicos, sob pena de detenção e multa, como pode ser verificado no art. 184 do Código Penal – Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –, que estabelece: 8 Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. § 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previstona Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. (Brasil, 1940, grifos nossos) 2.1 Tipos de plágio Segundo Krokoscz (2012, p. 39), não existe um consenso a respeito das modalidades de plágio acadêmico, mas há um padrão internacional observado nas orientações dadas pelas melhores universidades do mundo, conforme apresentado no Quadro 2: Quadro 2 – Tipos de plágio mais comuns no meio acadêmico Tipologia internacional Adaptação Descrição Word for Word Plagiarism Plágio direto Reprodução literal de um texto original sem identificação da fonte. Paraphrasing Plagiarism Plágio indireto Reprodução das ideias de uma fonte original com palavras diferentes da fonte original, mas sem identificá-la. Mosaic Plagiarism Plágio mosaico Reprodução de fragmentos de fontes diferentes que são misturados com palavras, conjunções, preposições para que o texto tenha sentido. Collusion Plagiarism Plágio consentido Apresentação de trabalhos como sendo próprios, mas que na verdade foram cedidos por outros (amigos, colegas, parentes entre outros) ou comprados. Apt Phrase Plagiarism Plágio de chavão Reprodução de expressões, chavões ou frases de efeito elaboradas por outros autores. 9 Plagiarism Plágio de fontes Reprodução das citações apresentadas em outros trabalhos, porém a fonte citada não foi consultada pelo relator. Self-plagiarism Autoplágio Reprodução de trabalhos próprios já apresentados em outras circunstâncias. Fonte: Adaptado de Krokoscz, 2012, p. 39-55. Para estudar o plágio com mais profundidade, é importante entender os conceitos de copiador, pasticheiro e autoplágio. TEMA 3 – COPIADOR E PASTICHEIRO A primeira definição de pastiche foi feita na obra de Jameson Postmodernism, or The Cultural Logic of Late Capitalism, em 1984. Jameson (1984, p. 22) menciona que o desaparecimento do sujeito particular, com certa dificuldade de encontrar um estilo próprio, transformou as práticas cotidianas em algo denominado pastiche. A pastiche nada mais é do que uma imitação. Puh (2019, p. 244) se refere ao pasticheiro como alguém com habilidade de não ser descoberto como plagiador, ou seja, consiste no ato de plagiar e ocultar o plágio trocando palavras por sinônimos e não citando o criador da ideia. Dessa perspectiva, qual a diferença entre plagiador, copiador e pasticheiro? Diniz e Munhoz (2011, p. 20) consideram que, na comunicação científica, “[...] o pastiche é a forma mais ardilosa de plágio, aquela que se autodenuncia pela tentativa de encobrimento da cópia. O copista é alguém que repete literalmente o que admira e não se crê capaz de reinventar”. Logo, o plagiador é quem reproduz um texto sem a citação da fonte, o pasticheiro se apropria da ideia de outro autor escondendo a sua origem e o copiador é aquele que copia um texto na íntegra sem ao menos trocar as palavras e citar a fonte pesquisada. Sendo assim, o plágio consiste na apropriação indevida de uma parte da obra ou da obra como um todo que infringe o direito de reconhecimento do autor e a perspectiva de originalidade do leitor. Essa atitude viola as regras de direitos de autoria na comunicação científica. Em contrapartida, há o pastiche, que é uma forma mais desleal de plágio, pois, além de plagiar, o pasticheiro encobre a cópia. Já a cópia é realizada pelo copista, que repete integralmente o que admira. 10 3.1 Diferença prática entre plágio, cópia e pastiche Suponha que o autor Beltrano tenha publicado o seguinte texto: A contabilidade consiste em uma ciência social que visa fornecer informações suficientes para a tomada de decisões de diferentes usuários. A escrituração dos fatos contábeis é realizada com base no método das partidas dobradas. O método consiste no fato de que, para qualquer operação, há um débito e um crédito de igual valor ou um débito (ou mais débitos) de valor idêntico a um crédito (ou mais créditos). O método das partidas dobradas dá origem ao Balancete de Verificação em que o total do débito deve ser igual ao total do crédito. Observe que em nenhum momento é informada a fonte de pesquisa. É possível, então, identificar plágio, cópia e pastiche, a saber: “A contabilidade consiste em uma ciência social que visa fornecer informações suficientes para a tomada de decisões de diferentes usuários. A escrituração dos fatos contábeis é realizada com base no método das partidas dobradas”. Pastiche: nesse trecho, não foi informado o criador do conceito e do objetivo da contabilidade, apenas foi parafraseado o texto com base na ideia de outros autores, mascarando o plágio. “O método consiste no fato de que, para qualquer operação, há um débito e um crédito de igual valor ou um débito (ou mais débitos) de valor idêntico a um crédito (ou mais créditos)”. Cópia: esse período no meio do texto pertence a Marion (2018, p. 157), ou seja, a frase foi retirada da referida obra e copiada na íntegra. “O método das partidas dobradas dá origem ao Balancete de Verificação em que o total do débito deve ser igual ao total do crédito”. Plágio: nesse caso, Marion (2018, p. 166) afirma que o balancete é elaborado com base no método das partidas dobradas, portanto, como não foi citada a fonte, considera-se plágio. 11 TEMA 4 – AUTOPLÁGIO O autoplágio consiste na prática de reutilização de alguns ou todos os elementos de uma publicação anterior (por exemplo, texto, dados e imagens) em uma nova publicação. Essa prática fica mais evidente quando um artigo publicado anteriormente é publicado mais tarde com pouca ou nenhuma modificação, o que se denomina duplicação (Roig, 2015, p. 16). Pode-se associar o autoplágio a casos de reutilização de um trabalho acadêmico realizado em determinada disciplina ou curso em outro que demande a realização de um trabalho similar. Suponha que você esteja cursando o curso de contabilidade e decida entregar um mesmo trabalho já desenvolvido no curso de administração, por exemplo. Essa prática é considerada um autoplágio e, assim como o plágio, é crime. Segundo Andrade (2011, p. 83), “[...] em certas ocasiões não seria má conduta duplicar um artigo se o autor obedecesse a política editorial da revista, jornal ou evento e comunicasse a editores e leitores as diferenças entre os artigos”. Isso quer dizer que, independentemente de ser o autor de uma obra, ao replicá-la, é necessário identificar a fonte e as modificações realizadas, mesmo que seja uma única frase. Andrade (2011, p. 81) examinou o posicionamento dos pesquisadores em contabilidade em relação à má conduta na pesquisa científica por meio de um questionário, e identificou que 25,6% dos respondentes tinham conhecimento de que um autor pode submeter “[...] um mesmo artigo a dois periódicos, ou a um mesmo evento, fazendo apenas mudanças no título”. O autoplágio não ocorre apenas em publicações de artigos, mas também durante a formação acadêmica, ou seja, quando o estudante entrega um mesmo trabalho para disciplinas distintas. Mesmo que o trabalho tenha sido desenvolvido pelo estudante, a entrega em duplicidade caracteriza autoplágio. Alguns pesquisadores ou estudiosos estão mais preocupados com o cumprimento de metas ou aspecto quantitativo do que com a qualidade do resultado gerado. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, [S.d.]) estabelece as diretrizes básicas para a integridade na atividade científica, nas quais está previsto que “para evitar qualquer caracterização de 12 autoplágio, o uso de textos e trabalhos anteriores do próprio autor deve ser assinalado, com as devidas referências e citações”. 4.1 Caso prático de autoplágio Suponha que um mesmo texto tenha sido publicado duas vezes com títulos distintos, conforme segue: A representaçãofidedigna da informação contábil vai de encontro ao conservadorismo. À medida que o profissional contábil pode atribuir o menor valor para o ativo e o maior para o passivo, há certa subjetividade e, assim, interfere na fidedignidade da informação. Título 1: O viés do conservadorismo na informação contábil A representação fidedigna da informação contábil vai de encontro ao conservadorismo. À medida que o profissional contábil pode atribuir o menor valor para o ativo e o maior para o passivo, há certa subjetividade e, assim, interfere na fidedignidade da informação. Título 2: Conservadorismo versus representação fidedigna Não há distinção entre os textos nem menção da origem da ideia, portanto há autoplágio. TEMA 5 – REPERCUSSÕES DO PLÁGIO Com o número crescente de trabalhos plagiados, houve a necessidade de aperfeiçoar os métodos de detecção de fraude. Diante disso, as ferramentas desenvolvidas para a detecção de plágio são eficientes ao ponto de compararem documentos mediante pesquisas de trechos da produção na internet. Apesar da automação, ainda é necessário que seja realizada uma análise individual para se certificar do plágio (Figura 1). 13 Figura 1 – Análise e reflexão: o impacto do plágio Krokoscz (2012) menciona que regras institucionais produzem efeito positivo no ambiente acadêmico. No entanto, quando o plágio é detectado, deve-se tomar medidas para inibir a prática, isto é, são aplicadas sanções. Segundo o autor, “a medida mais comum para lidar com casos de plágio é a abertura de sindicância para apuração da ocorrência” (Krokoscz, 2012, p. 86). A punição irá depender da gravidade do fato. Um estudante que entregou um trabalho com partes plagiadas será penalizado de forma diferente daquele que entregou o trabalho todo plagiado. O plágio afeta tanto a moral do pesquisador quanto questões financeiras. Pode haver a suspensão ou a reprovação na disciplina em que houve plágio, a expulsão da instituição ou até a cassação do diploma, além das punições penais descritas anteriormente. Plágio, portanto, nunca trará bons resultados para a carreira acadêmica e profissional. Você sabe como fazer citação e indicação de fontes? Veja como ficam as citações de forma direta e indireta e as respectivas referências (Quadro 3): Quadro 3 – Citações e referências Citação direta Citação indireta Referência Segundo Marion (2018, p. 21), “O Patrimônio Líquido, portanto, é a medida eficiente da verdadeira riqueza.”. Segundo Marion (2018, p. 21), o Patrimônio Líquido evidencia a verdadeira riqueza da empresa. MARION, J. C. Contabilidade básica. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2018. De acordo com Padoveze (2018, p. 3), “Patrimônio é o conjunto de riquezas de propriedade de alguém ou de uma empresa (de uma De acordo com Padoveze (2018, p. 3), o patrimônio compreende o conjunto de riquezas pertencentes a um sujeito ou uma entidade. PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e intermediária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Qual o impacto do plágio na carreira acadêmica e profissional? Ctrl-V Ctrl-C 14 entidade)”. Conforme Iudícibus et al. (2019, p. 13), é por meio do Balanço Patrimonial que “[...] podemos apurar a situação patrimonial e financeira de uma entidade em determinado momento, dentro de certas regras”. Conforme Iudícibus et al. (2019, p. 13), é por meio do Balanço Patrimonial que se apura a situação patrimonial e financeira de uma empresa em um determinado período. IUDÍCIBUS, S. et al. Contabilidade introdutória. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2019. Dessa forma, é possível verificar as diferenças básicas entre as citações e as referências. No entanto, existem regras específicas que devem ser seguidas, como as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Saiba mais Entenda melhor como funciona o sistema de citação nas normas ABNT em <https://blog.fastformat.co/citacao-nas-normas-abnt/>. TROCANDO IDEIAS Apesar de existirem consequências éticas na prática do plágio, na maioria das vezes são tomadas apenas medidas disciplinares, como advertência verbal e, em casos mais extremos, a demissão do profissional. Seria possível educar os pesquisadores aplicando apenas medidas disciplinares? NA PRÁTICA1 A pesquisa científica é importante para o desenvolvimento da ciência social da contabilidade, além de ser uma área de atuação dos contadores. No entanto, a construção da pesquisa deve seguir ou respeitar regras que envolvem toda a vida acadêmica e profissional. Com base no texto abaixo, faça uma citação direta e uma citação indireta. Pode-se afirmar que o mercado de trabalho para o contador de alto nível, hoje no Brasil, é, em média, um dos melhores entre os de profissionais liberais, principalmente no sentido financeiro. Nem sempre foi assim, mas, em virtude de várias fontes de pressão que obrigam as empresas a aperfeiçoarem cada vez mais seu processo de controle e planejamento, o papel do contador de nível universitário está realmente assumindo uma importância que naturalmente lhe deveria ser reservada numa entidade. Esse papel 1 A resposta esperada para essa questão pode ser encontrada ao final deste material, logo após a seção Referências. 15 traz em si, além das capacitações técnicas e profissionais inerentes, alta dose de ética, de prudência, de zelo, de severidade de costumes e de integridade. Fonte: IUDÍCIBUS, S. et al. Contabilidade introdutória. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2019, página 6. FINALIZANDO O estudo realizado por Oliveira e Martins (2019, p. 463) evidenciou que “[...] determinadas práticas correntes usadas no processo de construção da produção científica em Contabilidade no Brasil não atendem adequadamente aos atributos de qualidade de uma boa pesquisa descritos na literatura”. Entre as práticas antiéticas, há o plágio, a cópia, a pastiche e o autoplágio. O plágio consiste na apropriação indevida de uma obra literária, que infringe o direito de reconhecimento do autor e a perspectiva de originalidade do leitor. Essa atitude viola as regras de direitos de autoria na comunicação científica. Em contrapartida, há o pastiche, uma forma mais desleal de plágio, pois, além de plagiar, o pasticheiro encobre a cópia. A cópia é realizada pelo copista, que repete integralmente o que admira. Por fim, existe o autoplágio, que é a prática de reutilização de alguns ou todos os elementos de uma publicação anterior em uma nova publicação. A repercussão dessas práticas é negativa, com consequências penais e criminais, por isso não devem ser cogitadas no universo científico. 16 REFERÊNCIAS ANDRADE, J. X. Má conduta na pesquisa em Ciências Contábeis. 124 f. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. ANTUNES, M. T. P. et al. Conduta ética dos pesquisadores em contabilidade: diferenças entre a crença e a práxis. Revista Contabilidade e Finanças, São Paulo, v. 22, n. 57, p. 319-337, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519- 70772011000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 abr. 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em: 14 abr. 2020. _____. Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 14 abr. 2020. BRASILEIRO, A. M. M. Manual de produção de textos acadêmicos e científicos. São Paulo: Atlas, 2013. CITAÇÃO nas normas ABNT. FastFormat, 17 jul. 2019. Disponível em: <https://blog.fastformat.co/citacao-nas-normas-abnt/>. Acesso em: 14 abr. 2020. 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