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Copyright © 2022 Eduarda Brits Todos os direitos reservados É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98) Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é mera coincidência. REVISÃO DE TEXTO Millene Gonchoroski @leiturasdami @millenevit_ LEITURA CRÍTICA Amanda Tavares @a.c.tavares CAPA E DIAGRAMAÇÃO Larissa Chagas @lchagasdesign ILUSTRAÇÃO TREMIA Gabriela Gois @olhosdtinta ILUSTRAÇÕES CAPÍTULOS Yasmin Martins @miin.artss ILUSTRAÇÃO TRIPLA Micheli Cruz @anemonaii BETAGEM Ruth Feola @ruthfeola Hanna Vitória @hannaa.vitoriaa Isadora Menezes @isamenwz Giovanna Lemos @giovanna_lemoss Isamara Gomes @autoraisagomes Lorrainy Silva @aloquemfala_ Julie Ane Lemos @julianelemos Ingrid E. Yoko @ingrid_elamesma LEITURA SENSÍVEL Julie Ane Lemos @julianelemos FIRE OBSESSION – Trilogia Fire, Livro Um [recurso digital] / Eduarda Brits. – 1ª Ed. 2022. 1. Romance Contemporâneo 2. Erótico 3. Ficção I. Título PLAYLIST DEDICATÓRIA EPÍGRAFE NOTA DA AUTORA AVISO DE GATILHOS PREFÁCIO - Obsessão Chocolate CAPÍTULO 1 - Propaganda Monótona CAPÍTULO 2 - Homem Troféu CAPÍTULO 3 - Princesa de Limão e Mel CAPÍTULO 4 - Sr. Perfeito White CAPÍTULO 5 - Traficante de Emoções CAPÍTULO 6 - Papel Laminado CAPÍTULO 7 - Veludo Musical CAPÍTULO 8 - Groselha Azul CAPÍTULO 9 - Pasta Carbonara CAPÍTULO 10 - Deslumbre de Eros CAPÍTULO 11 - Time de Prata CAPÍTULO 12 - Guardiã do Diabo CAPÍTULO 13 - Patente Moderna CAPÍTULO 14 - Menta Brilhante CAPÍTULO 15 - Rolo Acústico CAPÍTULO 16 - Chuva Diamante CAPÍTULO 17 - Sintonia Chantilly CAPÍTULO 18 - Essência Luminosa CAPÍTULO 19 - Tecla Alegórica CAPÍTULO 20 - Enigma Português CAPÍTULO 21 - Xícara Azeviche CAPÍTULO 22 - Aldeia Criativa CAPÍTULO 23 - Everest Colorido CAPÍTULO 24 - Avião Branco CAPÍTULO 25 - Lobo Alfa CAPÍTULO 26 - Onda Fervente CAPÍTULO 27 - Executivo Astuto CAPÍTULO 28 - Mágico Lancinante CAPÍTULO 29 - Trauma de Cerâmica CAPÍTULO 30 - Trauma de Cerâmica CAPÍTULO 31 - Urso Diabético CAPÍTULO 32 - Bolo Estampado CAPÍTULO 33 - Abstinência Mel CAPÍTULO 34 - Desejo Europeu CAPÍTULO 35 - Amante de Cravos CAPÍTULO 36 - Orquídea Branca CAPÍTULO 37 - Avenida Vermelha CAPÍTULO 38 - Sinfonia Excitante CAPÍTULO 39 - Fantasma Azeviche CAPÍTULO 40 - Tempo de Creme CAPÍTULO 41 - Chefe Carrossel CAPÍTULO 42 - Rocambole Provolone CAPÍTULO 43 - Castelo Branco CAPÍTULO 44 – Monarca CAPÍTULO 45 - Lábio Avelã - Ross CAPÍTULO 45 - Lábio Avelã - White CAPÍTULO 46 - Carbonara Estelar CAPÍTULO 47 - Laço Fotográfico CAPÍTULO 48 - Projetor Prateado CAPÍTULO 49 - Paleta Gelada CAPÍTULO 50 - Mel de Morango CAPÍTULO 51 - Nota Trovão CAPÍTULO 52 - Coronel Mostarda CAPÍTULO 53 - Cisne Vermelho CAPÍTULO 54 - Prisão Hipotética - Parte 1 CAPÍTULO 55 - Prisão Hipotética - Parte 2 CAPÍTULO 56 - Pensão de Sinos CAPÍTULO 57 - Pressão Limão CAPÍTULO 58 - Urso Sombrio CAPÍTULO 59 - Primavera Mel AGRADECIMENTOS Acompanhe a playlist de “FIRE OBSESSION” no Spotify. https://open.spotify.com/playlist/7FmKuj8lAmYNfHstDj0aPp?si=YkzfYnCiRaWVUnA2BtRhBA&utm_source=copy-link Para todas as histórias que eu li e não senti, porque aquelas eu esqueci, e essa você vai lembrar. "Toda história precisa de um detalhe memorável" Rumplestiltskin, Once Upon a Time. Satisfação (porque prazer é só na cama), Me chame como desejar, eu prefiro Brits, mas já ouvi Britadeira, Britsniere, Cabrits (Sim, o cabrito), Britney Spears (me senti lisonjeada inclusive) e também o clássico: "Até tu Brutus?". Na verdade, não importa qual desses você escolha, ou seja mais original como essa história e crie um novo apelido (favor me enviar), apenas decida, porque vai precisar xingar a mim em algum momento. Essa história não é para qualquer leitor, assim como Stephen King disse que a escrita não é para todos. Aviso que precisará de uma alta dose de empatia, resistência a analogias gastronômicas, um belo pano (talvez um pacote ou um caminhão, quer sabe, pegue logo o telefone da fábrica) e paciência. Juramentos da Autora Eu prometo te fazer rir com piadas e trocadilhos ruins. Prometo te fazer sentir tanta raiva que chegue a querer chutar uma pedra ou um gato branco gordo (o que estiver mais perto). Prometo te fazer chorar, por fora ou por dentro para os mais frios. Prometo te fazer sentir fogo absurdo com cenas mais quentes que fornalha (cruze as pernas, Princesa). Prometo dramatizar cada pequena situação e transformá-la em uma tempestade. Mas o que eu realmente prometo, é que essa história não passará despercebida. Esse não será o livro que você vai ler e esquecer, modéstia à parte. Aqui você mergulhará em um mundo intenso e original que te fará questionar todas as leituras que já leu. Não te deixarei respirar sem cenas ousadas, escândalos, reviravoltas e segredos. Essa história é longa, e essas mil páginas são apenas o início, e peço que não se assuste, pois também prometo lhe deixar longe do tédio. Você aprenderá a diferença entre Amor Leal e Amor Romântico. Entenderá sobre relacionamentos saudáveis, obsessivos, tóxicos, agressivos e no final garanto que se identificará com ao menos um desses personagens. Avisos do Estilo Brits - Uso letras maiúsculas para venerar palavras. - Cada nome de capítulo tem um sentido, por mais bizarro que pareça. - Crio analogias e metáforas com comida compulsivamente. - Abuso do itálico. - Vício em apelidos. - Cada capítulo tem uma palavra específica. - Tudo que faço tem motivo. - Minha estrutura se iguala a séries e novelas Agradeço por ler até aqui e leve essa nota como um aviso, não aceito devoluções de sofrimentos. Eu quero e amo recebê-los, dou gargalhadas com surtos de qualquer situação que envolva FIRE OBSESSION. Use minhas redes sociais, número de WhatsApp, e- mail, faça como quiser, mas me avise quando sentir o turbilhão de emoções. P.S.: É normal não conseguir mais encarar mercados, elevadores, carros, dispensas de cafeteria, espelhos, felinos brancos, vermelho, camisas brancas, mangas bufantes, roupas com estampa, roupas coloridas, Portugal, sonho de creme, Nutella, qualquer estilo de doce, panelas com cor, degustação de bolos, jaquetas policiais, orquídeas brancas, avenidas, mármore, azeviche, baunilha, Benfica e o maldito projetor sem lembrar deste livro, acostume-se. Dramaticamente, BRITS. Uso de drogas lícitas e ilícitas; cenas de sexo explícito; traumas em decorrência do luto, ansiedade e suas vertentes; violência doméstica; assédio sexual; relacionamento abusivo, tóxico e obsessivo; surtos, citação e indícios de transtornos psicológicos: compulsivos sexual e alimentar. Obsessão Chocolate Para ser sincero, eu não sei como chegamos aqui. A obsessão é destrutiva e criminosa, nem todos os detetives conseguem desvendá-la. E se eu não conseguia achar nem os Ovos de Páscoa escondidos na grama, quem dirá essa profissional. A obsessão é como um chocolate. Atrativo quando se sente o cheiro, textura, agrado com a cor e você o agarra sem limites se lambuzando até acabar. E quando acaba, você só quer mais, mais e então ainda mais. Sem conseguir trabalhar, dormir, acordar sem comê-lo mais uma vez. A obsessão é gradual e mascarada de paixão. Se olharmos com atenção, por outro ângulo, veremos que são passos muito parecidos. Observe: Apresentação "Trevor White, diretor criativo" "Mia Ross!" Atração A cintura é fina e bem definida, seus braços são delicados, e os seios pequenos me causam ansiedade para senti-los contra o meu peito. Sua postura é admirável, ombros eretos e tenho vontade de mergulhar naquela clavícula, naquele pescoço, nessa boca rosada e puxar esse cabelo perfeitinho enrolado com Limão e Mel. Negação — Então deixa eu refrescar sua memória. — Ela seliberta do meu aperto e mergulha os dedos no meu cabelo descendo para a minha barba mal feita. — Não vai ser tão fácil assim! — murmura quase entre meus lábios, destrava a porta atrás de si e sai com um sorriso vitorioso. Sim, ela é uma Traficante de Emoções. Purgatório "Não me culpe por querer que seja minha" "Seria hipócrita, porque também quero que seja meu" Declaração "Eu amo você!" Não respiro, acho que até mesmo esqueci de respirar, não conseguindo raciocinar como essas palavras saíram da sua boca. Sua boquinha de mel fofa e atraente que eu amo morder. Finalização — TREVOR, SE VOCÊ FOR, ACABOU! Percebeu? Eu nunca fui bom com finais, principalmente os fechados que me dão Raiva Súbita. Poderia ter parado ali, pensado, refletido, visto que aquela atração parecia diferente, mas quando se está dopado de Limão e Mel... as evidências parecem sumir. Meu peito arqueja, meus olhos estão vermelhos, minhas mãos suam e tremem exasperadas como se aqui fosse a minha morte. Com medo daquilo que parece impossível, seria mais fácil fugir, mas não há como fugir da abstinência. Eu só queria que alguém tivesse me alertado disso antes. Obsessivamente, T. W. Propaganda Monótona Lamborghini vermelha para te provocar Ganhei seu ano inteiro em uma semana A minha gata principal Tá fora do seu alcance E a minha amante também Veja o que você fez Eu sou o maioral dessa porra toda STARBOY - THEWEEKND Tédio. Sentimento humano descrito como estado de pouquíssimo estímulo, ou presença de uma ação repetitiva. Isso resume bem o que sinto. Deveria estar ansioso ou no mínimo animado, não é assim que pessoas ficam antes de um evento? As festas de Sarah Scott são sem dúvida cativantes, mas perdem grande parte da graça quando se vai pela vigésima oitava vez. Não que eu goste de mudanças. As detesto. Ou pelo menos agora detesto. Desde que para mim foram deixadas rigorosas regras feitas pela minha caixa de Pandora, minha mentora Hillary, sempre protegidas por um belo eufemismo. Por que mudar quando se recebe uma herança absurda? Me pego contando os prédios na vista da janela do andar criativo na empresa. Foi uma ideia eficiente modéstia à parte, acredito que as pessoas fiquem mais inspiradas quando olham o horizonte. Ouço um pente cair no chão de mármore negro, e me viro avistando Morgan, a mulher de curtos fios crespos desajeitada desde sempre, porém extravagante, que me lança um sorriso como se dissesse "só mais um minuto". Mergulho uma das mãos no cabelo e ando em círculos. Esperar me irrita, demais. Não sei por que as mulheres demoram tanto para arrumar essas mechas... No final vão ficar todas bagunçadas mesmo. — Morgan, já devíamos estar na festa faz mais de uma hora, vamos logo com isso — apresso. — A graça das festas é chegar depois. Nunca te ensinaram isso? Além do mais, eu trabalho como condenada o ano inteiro, e no Dia do Trabalho, um feriado, não posso ter paz? — ironiza. — Desse jeito parece que eu não trabalho. — reviro os olhos, vou até o elevador e aperto o botão para descer. O maquinário faz um barulho alto, e ela aparece rápido ao meu lado. — Diretor criativo? Seu trabalho é ter ideias e isso você tem dormindo. — Esqueceu de uma coisa. — As portas de metal se fecham. — O chefe sou eu. — Isso você não me deixa esquecer. — bufa e inclina o corpo para o lado com um sorriso. Quer que eu a elogie? Vamos ver. Seu vestido é preto com vários rasgos, que destacam a sua pele negra das coxas até a cintura, onde lantejoulas brancas fazem meus olhos pararem primeiro nelas. Depois nos olhos claros, pintados de preto, que a deixam daquele jeito sedutor que minha redatora nunca abandona. Quer todas as mulheres olhando para ela, na mesma proporção que olham para mim. O cabelo está preso em uma trança alta e caprichada… e coloque capricho nisso, eu esperei muito até ficar pronta. Uma trança que logo seria desfeita. Seus olhos estão bem marcados por um delineador e a boca dopada inteira de vinho. É, realmente ela está linda. — Está linda, Mor. — Elogio e ela dá de ombros. — Eu sei. — levanta o queixo convencida. Então por que me pede para dizer? O elevador toca Waltz in A Minor – Chopin, como sempre, dominando o espaço. O som é limpo e elegante. A energia que invade meu corpo e me faz arrepiar, todas às vezes, de emoção. Eu amo piano. — Em qual deles vamos dessa vez? — Morgan pergunta animada, se referindo ao carro na garagem que escolhi. — Audi R8. — Hum. — resmunga e cruza os braços, fazendo mistério. Quer que eu pergunte o motivo. — Por que "Hum"? — finjo que me interesso e soco as mãos nos bolsos novamente. — Nós poderíamos ir uma vez com o meu. — exclama, como se pudesse escolher. — Não. — Minha voz sai autoritária, mesmo que eu esteja tranquilo. Essa raiva nunca vai passar? Abstinência do Vermelho. — Por que não? Tenho certeza que sempre deixa as pervertidas com que sai escolherem o carro. — ironiza, tentando e conseguindo me irritar, de novo. Já que minhas mãos coçam quentes pela insistência. — Em primeiro lugar, elas gostam que eu escolha o carro. E, em segundo, o seu é laranja — É louca se pensa que vou entrar numa Fanta Laranja. — Tá, você escolhe o carro. — bufa e revira os olhos. — Mas vai me pagar uma garrafa depois pra compensar, Tigrão! – As famosas apostas com o Troféu Alcoólico. Regras simples, eu diria, apenas encontrar algo para apostar e o prêmio é álcool. É bobo, mas se colocado com o nome, sentimento e dramatização certa, esse estilo de aposta nunca será esquecido. As aventuras de Tigrão e Alcoólica. Até me divertem um pouco, tenho que admitir, mas não dura muito tempo. O trajeto foi rápido se descontar a briga que tivemos para escolher a música na playlist. Ainda não entendo como nos damos tão bem no trabalho, mas para qualquer outra coisa brigamos tanto. Deve ser porque sou o chefe. Chegamos na Mansão Scott, as colunas jônicas em mármore chamam minha atenção por se igualarem a prédios quilométricos. Embora os outros associados gostem de ter motoristas, eu sempre preferi dirigir, mas deixo o rapaz estacionar o carro e ajudo Morgan a sair do Audi. Estendo o braço para que ela se junte a mim mais uma vez nessa Chatice Scott, retribuo seu sorriso debochado e entramos. Como sempre, as luzes estão em falta. O vermelho e o preto abundam, em comparação. As camas adornadas em seda vermelha, onde os convidados não hesitam em deixar de lado a moderação, contrastam no piso de mármore negro. Morgan corre até o bar e me abandona, pelo meu inimigo mais antigo, álcool. Essa mulher ama álcool e para embebedá-la são necessários litros e litros. As bebidas criam um contraste sublime nas prateleiras com as luzes da paleta vermelha. O contraste sobe até o teto, com o material que, por aparência, se iguala ao mármore. Vermelho como sempre. Por que será? Os convidados, como de costume, vestem-se em gradações de preto. São investidores, clientes, sócios, todos viciados em trabalho e minissaias. Como se eu fosse diferente. Essa nunca foi uma festa de negócios. Era e sempre foi uma diversão para a Dama Vermelha. Falando nisso… Scott, onde você está? Um cheiro cítrico me atrai como por mágica e me vejo trocando olhares com Sarah, a loira de olhos azuis penetrantes, que está deslumbrante num vestido vermelho longo. O decote realça os seus seios rijos, que se projetam para a frente de modo não natural, mas formidável. A fenda da saia alcança o quadril, e deixa à mostra um pedaço de pele lisa de sua virilha, ocultando todo o resto num jogo de luz e sombra provocante. Já consegui viver 90 dias sem ela. Ou, pelo menos, sem fodê-la. Sarah vem ao meu encontro, chamando a atenção de todos ao redor ao desfilar pelo salão como um felino presunçoso. Abre os braços, mostrando que não só domina aquele ambiente, como também todos que ali estão presentes. — Trevor, tão elegantecomo sempre. — me dá um beijo demorado na bochecha como forma de boas-vindas. — Vai participar dos jogos, hoje? — Os lábios vermelhos sorriem, observando a multidão. — Quer dizer seus jogos sexuais? Não, obrigado, prefiro ficar no meu whisky — digo, perspicaz. — Ah! Veremos se sua resposta continuará a mesma até o final da noite. — exclama, e traz o aperto de sua mão para o meu braço. Respire fundo, existem no mínimo dez mulheres que podem substituí-la nesse evento. Ela sai em direção a uma mesa, onde um grupo de pessoas se revezam aspirando um pó branco como farinha. Rio com a comparação. Morgan volta do bar com uma vodka com limão e um whisky para mim. — Duplo? — Seu whisky é sempre duplo. — Boa, redatora chefe. — Por que gosta tanto dessas festas? — pergunto e tomo um gole. — E por que não gostaria? É cativante. — Como se tirasse do bolso uma bala de menta e a colocasse na boca, Morgan coloca um comprimidinho sobre a língua. — É sempre tudo tão... igual — explico, apático. — Quem sabe esse ano você não encontra uma "distração" para deixar essas festas diferentes. — Parece início de clichê romântico. — Deixo escapar um sorriso. Ela admira a multidão com a animação de uma criancinha vendo o mar pela primeira vez. Ou talvez seja porque já está alterada. — Soube que a bolsista do processo seletivo vem para cá amanhã, vai trabalhar no nosso departamento. — empurra com o indicador o meu peito. — Se anima, vai, ela pode ser legal! — A última estagiária que me apareceu foi uma alcoólica bonita que compete comigo por outras mulheres bonitas. Desculpe, se não estou ansioso por mais uma. É por isso que minha relação com ela dá certo. Se pudesse ser uma presa, já estaria aos prantos como a maioria, no final, sempre fica. — Eu não vou ser a única "estagiária" para sempre. — ela ri, e sai em direção à mesma mesa de farinha. Preciso de distração. O tédio está voltando. Como se fosse obra do destino, uma mulher de cabelos negros e olhos quase transparentes, vestida num tubinho de renda preta debruça-se ao meu lado no balcão. — Me paga uma bebida? — pergunta com uma voz de excitação e sua boca, cheia de gloss, sorri. Ela vai servir. — Pagaria, mas é open-bar, pode tomar quantas quiser. — E quantas eu tomo de você? — Ela está bêbada ou é mais promíscua do que eu. — Depende do quanto quer gritar. — respondo com o mesmo sorriso de interesse. — Ah! Eu não acredito, o diretor criativo de cabelo castanho bagunçado e de camisa branca está sorrindo? — Não é tão raro quanto imagina. Já sabe meu cargo e não sei seu nome? — Alexa Lopes, mas me chama de Lex. — estende a mão. — Trevor White, me chame de Sr. White. — seguro com força sua mão, e não por muito tempo, já que ela faz um caminho com os dedos por cima da minha camisa. — Tudo bem, Sr. White. Me conta, você já se apaixonou? — paixão faz mulheres morderem os lábios. — Amor é um slogan criado por homens como eu. — E rende uma fortuna por ano. — Como assim? — Sabemos que hoje em dia, qualquer amor é mascarado abusivo e recheado de mentiras. — Bastava dizer que não. — Eu não disse que não. — deixo escapar um outro sorriso. É muito capaz que eu tenha um instinto possessivo, apenas por querer demais, ficar obcecado, em torná-la minha. Mas depois de quinze minutos perde a graça e "torná-la minha" já não é tão atrativo. É como produto alimentício. Seja minha, torta de avelã, me deixe te provar e sentir, mas depois que acabar, me esqueça, porque preciso de outro sabor. É a verdadeira Propaganda Monótona. — Mais um drinque... na sua casa? — Ela já se cansou da conversa? — Na sua casa. — enfatizo. Não levo mulheres para minha casa. A última que levei ficou comigo por dez anos. Passo de forma discreta a mão pelo bolso da calça e consigo sentir o volume do plástico laminado. Ótimo, não esqueci. Alexa puxa minha mão e a acompanho, consigo dar uma última olhada no salão, dançarinas na luz colorida, investidores jurássicos, mulheres dopadas e por fim, Scott, que me lança um olhar de cima à baixo, mais julgadora do que júri de tribunal. Não me critique, sabemos que já deveria ter seguido em frente. Dou uma piscada de provocação e ela sorri, o sorriso mais raivoso que já tive o prazer de ver, mas não vou ceder a esses joguinhos. Pelo menos não de novo. Mais tarde sinto o frio da madrugada e fico em total silêncio, na cama pouco aconchegante da Alice? Alana? Esquece, não vou lembrar. E também não quero, foi bem... mediano. Levanto devagar para evitar conversa, deixo suas roupas em cima da cômoda e jogo fora o pacote da camisinha. Não gosto das coisas desarrumadas. Penso em cozinhar algo, mas ainda são 3h da manhã. Sinto muito, Aline. Não era esse nome também não! Quer saber, sinto muito, Mulher da letra A. Mais uma vez, nada de mudanças, e não é melhor? O luto me faz odiar mudanças. Mas vai ser sempre assim? Homem Troféu Eu menti por você, amor Morri por você, amor Chorei por você, amor Mas me diga o que você já fez por mim? DONE FOR ME - CHARLIE PUTH Novo. Parte inicial de um processo, ciclo, desenvolvimento ou algo desconhecido. Mudanças são necessárias, e eu já as imploro há algum tempo. Podem parecer repentinas, mas a vida não é feita para os corajosos? Posso ter medo de trovões, porém não de viver. Caminho pelo longo piso do aeroporto, ouço minhas botas batendo no chão e a cada passo me pergunto se foi uma boa ideia abandonar toda a minha vida no Brasil por uma bolsa em Portugal. Mas meu subconsciente, meu pior e melhor amigo, me lembra que a Scott Mídia é o futuro. Já fantasio com as fotos da empresa na Internet há meses, os anúncios, matérias, a criatividade, já nasci com a mente borbulhante de ideias. Além de ser minha forma de escapar... de todo um sofrimento misógino, a empresa é liderada por uma mulher. Tudo tem limite. Seis anos é o limite. Passo por um espelho e vejo meu vestido preto com as mangas bufantes de bolinhas que sempre vão me definir, preto realça aquilo que me faz parecer destemida e ousada, é o que preciso ser hoje. Quanto ao meu cabelo, não me importei em deixar mais despojado, mesmo que alguns achem que é bagunçado, na verdade é um estilo. Meu relógio avisa que é hora de tomar café assim que encontro a entrada de uma cafeteria, meu corpo se mexe sem hesitar e quando me dou conta já tenho um Leite de Canela em mãos. Não me sinto um ser humano normal se não tomar minha dose básica de leite, café e canela, ainda mais ao acordar. Continuo caminhando com a mala de rodinhas e avisto um homem de altura mediana com um óculos de grau tão fraco que parece até de brinquedo, sua feição parece de alguém sério, mesmo que jovial. Sempre achei que o loiro deixasse as pessoas com aspecto jovial. Ele segura uma plaquinha escrito "ROSS", e fica claro que encontrei meu guia. Já havíamos conversado por chamadas de vídeo quando me mostrou o apartamento inteiro. Me senti naquele filme "O amor não tira férias", em que as protagonistas trocam de casa por um site. Estou acostumada a morar com homens, minha mãe morreu quando era bem pequena, então sempre fui eu e meu pai. O jovial loiro acena e retribuo com um sorriso. — Miranda Ross? — ele pergunta aparentando estar ansioso, suas mãos suam a placa de papelão e o cheiro condiz. — Mia Ross! Prazer, e você? — respondo, simpática. Miranda é íntimo. Qualquer um me chama de Mia. O apelido não deveria ser algo íntimo? Ah! Não tente me entender. — Teodoro Cortez, chame de Ted, prazer em conhecê-la! Fui designado para fazer seu tour pela empresa — ele se anima quando os olhos verdes saltam de tamanho e sai andando rápido comigo enlaçada. — Parabéns por ser vencedora da bolsa criativa Scott Mídia, faz um tempo que não temos novos funcionários no seu departamento... para falar a verdade, há uns 4 anos — ele informa e me guia para o estacionamento. Quatroanos sem novos funcionários? Isso não é comum, será alguma relutância? — Nossos chefes costumam ser bem exigentes, mas não deixe isso te assustar. Chefes são como professores, os exigentes, são os que você mais respeita e por consequência admira. Eles apenas nos testam até o limite, e se amamos o que fazemos, isso não é um problema. A corrida nos leva para um carro preto, e ele faz a gentileza de colocar minhas malas no porta-malas. O que me faz escapar um sorrisinho por lembrar de minha pesquisa. Os portugueses consideram o local de malas uma quinta porta no veículo. É quase como se considerassem o bem material uma pessoa física! Após colocar as malas, logo me animo com o som de I Will Survive - Gloria Gaynor que sai do rádio. — I WILL SURVIVE! — canto com a vozinha estridente e me surpreendo com um sorriso por ele me copiar ao mesmo tempo. Adorei o gosto musical. — Desculpe, sou o que dizem ser o estereótipo gay, não é? Viciado em divas pop, porque até parece que se não gostasse, não seria. — Então, ele é gay? Vai ser diferente do que morar com o militar nada liberal. Além do mais, ele amar ou não divas pop não define em nada a sua sexualidade, é só o gosto musical dele. Estereótipo são ideias impregnadas na cabeça da maioria. — Fique à vontade para trocar a música. — Espero a voz de Gloria terminar com glamour e vou explorando a playlist, ótimas escolhas, parecidas com as minhas. Mordo o lábio ao encontrar meu cantor preferido. Escolho e o som de Done For Me - Charlie Puth invade o veículo. Doce, Charlie. — E, então, Mia, preparada para ver o apartamento fora da telinha? — pergunta sem desviar o olhar do trânsito. — Na verdade, muito, embora meu quarto esteja bem pelado. — digo por que nas fotos as paredes brancas dominavam. Primeira vez morando longe da família, tem que ser uma boa experiência e acredito que vá ser. O apartamento é lindo, piso e pedras em mármore, a decoração em azul escuro e dourado com uma lareira para me deixar mais quente do que minha pressão baixa. — Eu sei, por isso comprei algumas latas de tinta e pensei em pintar nesse final de semana, pode fazer do jeito que quiser! Essa liberdade me assusta, deveria estar feliz por ter escolhas, mas não cresci assim. — No Brasil, as casas têm mais ar-condicionado do que lareira, é muito frio aqui? — digo ao sentir a pele arrepiar com a brisa fria. Pode ser apenas o clima, mas essa reação do meu corpo também pode ser um sinal da rapidez com que estou mudando. Já que o organismo sempre foi preso, é como animal de zoológico, se soltar na selva, não sabe como agir e o medo o domina. — Não me tire de exemplo, sinto muito frio — entendo o que diz, mas penso que deve ser estrangeiro, pois não tem o sotaque português comum. — É estrangeiro? — solto meus pensamentos em voz. — Sou português, mas passei a maior parte da vida na América. Voltei faz dois anos e ainda não consigo falar como eles. — ri consigo mesmo. — Enfim, ainda não conheci nenhum bolsista que não seja estrangeiro. Até mesmo a CEO é canadense. A CEO ser mulher é fantástico. Ainda não me acostumei com esse fato e nem a conheci, porém é simples, como poderia não gostar de uma mulher tão poderosa? Posso até não me tornar sua melhor amiga, mas a admiração predomina. — Bom, pelo menos não vou me sentir excluída. — penso alto, aliviada por não ter que aturar piadas sobre meu sotaque. — Não vai mesmo, você vai adorar a empresa... ou quem comanda o seu departamento. — a voz que inicia receptiva termina com uma mistura de malícia e mistério. Já estou preparada para um chefe velhinho, doce e risonho, na banca de revistas onde trabalhava, ele era muito simpático. Se toque, Mia! Ele pode muito bem ser um velhinho amargo e autoritário ou, talvez, bonito. Chegamos ao ambiente que me causa calafrios de ansiedade e ele me indica o retrovisor interno do carro. Acho que percebeu que eu estava desarrumada demais para entrar. Enrolo o cabelo com a ponta dos dedos e deixo minha boca com mais cor do batom rosé. — Pronta? — sorri como se fôssemos nos aventurar com Indiana Jones. — Nasci pronta! — deixo que a confiança me domine, mesmo que meu corpo não esteja acostumado com sua presença. Ninguém precisa me conhecer a fundo. Ao sair do veículo meus pés tocam o chão como se sentissem grama molhada, pois me sinto fora do ninho. Levanto meu queixo e os andares quilométricos são urbanos e requintados, o equivalente perfeito das empresas que sonhava em trabalhar. Passo pelas portas gigantes de vidro com detalhes em mármore e meus olhos se fascinam pela decoração escura e profissional adornada em um luxuoso dourado. A recepção cheira a papel novinho devido a quantidade de impressoras trabalhando como em Tempos Modernos com Charlie Chaplin. Cheiro muitos livros... uma mania minha. Ainda é cedo, mas há muita gente por todos os lados. Alguns apressados, outros relaxados sobre os sofás de couro em capitonê. O local é repleto de vidro, é lógico que fosse bem luminoso, mas não que fosse tão frio, meu corpo treme com o choque térmico pelo ar- condicionado, e tudo já parece gelo puro, mas não apenas pela temperatura. Ted é um guia de turismo que eu sigo como uma patinha, seu caminho leva ao balcão azeviche da recepção, e eu me apresento. — Bom dia, Rose! Avise a Srta. Scott que a nova bolsista está subindo. — me anuncia. A mulher ruiva com sardas, tatuagens minimalistas nas mãos e braços me olha de cima à baixo, como se estivesse testando meu valor. Estaria me testando para o quê? Ou melhor, para quem? Ganho um crachá, coloco sobre o pescoço e com a ponta dos dedos sinto o relevo do meu nome no cartão. É oficial, eu trabalho aqui, não há mais como voltar. A trilha nos leva para um elevador metálico simples, mas ao redor muito decorado com elegância do cinza, preto e o predominante dourado. Ele seleciona o nono andar e o som de Waltz in A minor - Chopin em piano invade o espaço. Por um momento fecho os olhos e deixo a música fisgar meu corpo. Eu realmente amo piano. O cheiro que me controla se iguala ao nome da novela, Chocolate com Pimenta, é doce, porém picante, como se nessa pequena lata tudo pudesse acontecer, sem limites. Eu sempre fui limitada, chega disso, me deixe dopada de pimenta! Demoramos para chegar, e não sei se a culpa é minha por me distrair com cheiros ou se é lento de propósito. O andar é repleto de detalhes vermelhos nas paredes, móveis e quadros, há cadeiras de veludo branco e pinturas no estilo Pop Art. Uma exposição de arte alugaria esse local por tamanha atenção que rouba das pessoas que o cercam. O mármore do chão é branco brilhante e até consigo ver meu reflexo se olhar de perto. É profissional e bem mimado, como se um gatinho branco gordo de uma dama rica morasse aqui dentro. O tempo de admiração se corta quando Ted se vira para mim respirando fundo, fazendo um gesto para que eu o imite antes de entrarmos na sala da chefe. Apesar de me sentir como uma grávida em treinamento para o parto, e da vontade de rir dele, faço o mesmo. Ele respira comigo, entra na sala e me apresenta. — Srta. Scott, a nova bolsista, Srta. Ross. — diz em um tom recatado. Me dá um empurrãozinho discreto e fecha a porta branca de luxo. Me deixando sozinha com a CEO. Está tudo bem, Mia, chegou até aqui não desista. A mulher quase albina está sentada numa poltrona de couro com um óculos de leitura Marsala que a deixa muito atraente. Usa um vestido vermelho e um salto muito alto, e mesmo eu sendo alta, perto dela pareço menor. Suas mechas loiras são reluzentes e os olhos azuis penetrantes analisam com vigor um documento. Fico imaginando o quão difícil foi ocupar esse cargo de extremo poder nesse mundo preconceituoso. Ela é lindíssima. Uma digna vilã de novela das nove. A sala é parte integrada do hall mimado, luxuosa, porém se diferencia por excesso de vermelho. Avanço até a mesa de vidro e meus passosiniciam confiantes, mas vacilam com a corrente de autoridade com que essa mulher me envolve. — Mia Ross, sou sua nova bolsista e estou aqui para o que a senhorita julgar necessário — uso o tom autoconfiante e profissional. — Sê bem-vinda. O Sr. Cortez vai fazer um tour pela empresa para que se acomode melhor, mas você trabalha no departamento criativo. — afirma. Vejo em sua mesa um trenó branco e vermelho em miniatura com as letras T e S gravadas... ela seria estrangeira também? Algum lugar frio? Scott não é um sobrenome português. Ah, Ted disse que ela é canadense em nossas chamadas, já ia me esquecendo. Mia! Está se distraindo! Sem nem desviar o olhar dos documentos espalhados pela mesa, ela repara que ainda estou em pé na sua frente e decide como mudar isso. — Já sabe onde é a porta. — indica a saída. Aí, que grossa! Agradeço, educada, mesmo sem ter certeza se me ouviu. Saio e Ted está parado no corredor com os dedos cruzados e olhos apertados. Quase caio na risada, mas estou um pouco nervosa. Toco em seu ombro para avisá-lo e ele me encara ansioso por minha experiência. — E aí, como foi? Se ela não olhou, tudo bem, significa que seu emprego está de pé! — ele brinca. Sei que é brincadeira, mas deve ter fundo de verdade pela postura dela. — Ela foi um pouco grossa, e disse que você vai fazer um tour comigo. — abro e fecho os olhos rapidamente com um sorriso pedinte para que realize. — Lógico! — ele me leva para o elevador. — Bom, temos muitas paradas, então aperte os cintos. — Faço uma mímica na cintura como um cinto de segurança e ele ri. Descemos até o primeiro andar e fomos subindo, são tantas pessoas, mesas, conversas que até me sinto atordoada, apenas me lembro do seguinte: Térreo: Atendimento 1° andar: Telemarketing e serviços com redes sociais 2° andar: Várias salas de reunião e teste de mercado. 3° andar: Escritores, assistentes administrativos e contabilidade. 4° andar: Executivos de contas publicitárias 5° andar: Departamento de Arte 6° andar: Departamento de mídia, rádio e TV 7° andar: Redatores juniores e seniores 9° andar: Sarah Scott O que consegui usufruir do tour foi que a empresa é dividida em duas partes importantes: Pesquisa e Planejamento. Devo tratar o pessoal do telemarketing com carinho, pois são muito "negados". O 3° andar é de finanças, são frios e bem calculistas. No departamento de arte tomo cuidado com fotógrafos e cigarro. E as redatoras são azedas. Por mais que minha cabeça esteja trabalhando como uma fábrica para entender tudo, meu coração bombeia felicidade por estar no lugar que sempre sonhei trabalhar. — Ah! Não esqueça de ser gentil com as secretárias, elas mandam no resto do domínio de Scott White — alerta. O primeiro sobrenome entendi, mas o segundo? Ainda não conheço. — Vamos para a última parada, é onde vai passar a maioria do seu tempo. — ele aperta pela última vez o botão luminoso. O andar tem um design totalmente diferente. Mais decorado em madeira, mas não como uma floresta, é rebuscado. Embora ainda permanecesse sóbrio, em tons de preto e cinza como a entrada. O piso é de mármore negro, o que me deixa atordoada, pois as manchas brancas parecem pedaços de nuvem desenhados na superfície noturna. A luz é feita por lustres criativos em forma de pequenos triângulos musicais, os quais me instigam a tocar e até me queimar por serem tão lindos. Nunca vi tanto mármore em um lugar só, é fabuloso. As salas de vidro me cercam com sons de conversas e reuniões de negócios, como em baladas musicais, mas por um momento tudo fica em silêncio. Minha atenção e meu olhar são totalmente direcionados a um homem pálido, alto e forte como um touro. Seus ombros são largos e preenchem uma camisa branca que exala maestria e liberdade. Como se fosse uma folha de papel que eu pudesse colorir e desenhar o que quiser. É sinônimo de independência. Uma página que cobre um peitoral digno de esculturas antigas por ser tão volumoso. Ele não usa gravata, mas seus olhos são fundos, cansados, como se não dormisse muito. O cabelo é castanho, bagunçado e charmoso, com fios que incendeiam minhas mãos de ansiedade para mergulhá-los. E por fim, me hipnotizo pela barba mal-feita no rosto bem desenhado e divago poder senti-lo roçando em mim. Sinto cheiro de autoconfiança. Ele é lindo. Minhas bochechas tomam mais cor e temperatura, sou obrigada a respirar mais fundo, e suporto meu busto subir e descer em câmera lenta. É um impacto imediato. A pele, minha pele, está quente, sinto até mesmo o suor escorrer por toda minha espinha. Meu Deus… que visão. — Mia... Mia! — Ted estala os dedos diante dos meus olhos e acordo. Chego a levantar meu próprio queixo, pois estava boquiaberta. Como conseguem trabalhar com esse homem? É possível que essa não seja a maior distração do mundo? — Desculpe, não dormi muito hoje. — tento disfarçar meu comportamento completamente inadequado. — Você não dormiu muito hoje ou o Sr. White te distraiu? — ele arqueia a sobrancelha com humor. Droga, ele percebeu. — Tudo bem, quem não tem uma queda por ele? Eu com certeza tenho, mas posso te dar um conselho? É bom não chegar muito perto, ele é o troféu da Loira Scott! White? Branco... O trenó é branco, com a letra T, o nome dele se inicia com essa letra? Eu amo nomes com T. Normalmente são fortes. Fica óbvio que meu organismo gostou do que viu já que estou criando teorias. — Ele não parece ser troféu de ninguém. — digo, como quem não quer nada. Mas bem que poderia ser meu. O pensamento é inapropriado, então repito ao meu subconsciente que o esqueça, mas acho que falhei, porque já estou fantasiando com aquele homem. Ted continua guiando e me apresenta para uma mulher com pele negra, cabelos cacheados num lindo rabo de cavalo e um vestido verde extravagante que a deixa chamativa até mesmo em um desfile de Carnaval. Ela se desencosta do balcão e dá uma corridinha até mim. — Bom dia, sê bem-vinda. Sou Morgan Johnson! — ela tem um vozeirão, se não canta, deveria. Pagariam para ouvi-la. — Desculpe, posso comentar? — quando dou conta, seus dedos estão apontando para meu cabelo, sorrindo espontânea. — Seu cabelo é lindo — elogia, esticando as mechas com as mãos para sentir o cheiro. — Obrigada… prazer, sou Mia Ross. — agradeço sem jeito pelo toque repentino. — Satisfação! Prazer só na cam… — Interrompe a própria frase e não resisto em sorrir por imaginar o resto da sílaba — Enfim… O Sr. White está se despedindo de um homem que aparenta ser importante, e apenas por olhá-lo mais um segundo, reparo nas mangas da camisa branca erguidas até os cotovelos que revelam os braços robustos. Ele pode carregar qualquer coisa com esses músculos, até mesmo a mim… e você quer isso, não é? Sua sem-vergonha! Sinto um frio na barriga insuportável, e preciso firmar minhas pernas quando Ted me direciona para a atenção dele. — Sr. White, essa é a nova bolsista do seu departamento — me anuncia e passa pela minha cabeça por um milésimo de segundo que esse homem pode mandar em mim. Isso seria bom ou ruim? Bom porque eu obedeceria feliz da vida com esse rostinho bonito, bem melhor do que um chefe idoso, desculpe, Sr. Silva! Lembro do meu bico na banca de jornal. Mas seria ruim por essa atração imediata que sinto não poder ser mútua entre uma relação profissional. Tomara que esse homem lindo não seja meu chefe! — Trevor White, diretor criativo. — ele diz, frio, olhando para mim com aqueles olhos castanhos que me penetram. Sua voz é grossa e soa como música aos meus ouvidos. Ordens com essa entonação podem molhar mais que chuva. Ele estende a mão e seguro dócil, mas ele me aperta firme. O que serve de combustível para me impedir de cair do salto. Droga, ele é o chefe. E com a letra T... — Mia Ross — respondo, me recuperando rápido do efeito de seu toque que me faz arrepiar inteirinha. Princesa de Limão e Mel Você é venenosa e eu seique isso é verdade Todos os meus amigos acham que você é viciosa E eles dizem que você é suspeita I FEEL LIKE I'M DROWNING - TWO FEET Princesa. Herdeira presuntiva de uma coroa, mais distinta e excelente pessoa. Título glamoroso, realmente passa um ar de realeza, não que princesas tenham de ser máquinas treinadas para perfeição, mas admito que admiro a postura. Entretanto, agora vejo um novo significado para Princesa. Meu dia estava correndo exatamente como todos os outros 364 do ano. Morgan fez suas graças de sempre, me reuni com dinossauros investidores, discutimos planos, verificamos ideias, conferimos trabalhos antigos, expliquei tudo pela enésima vez, e minha manhã tinha sido razoável. Até que a nova bolsista colocou os pés no meu departamento e disse duas palavras que me cativaram. Seu nome. Mia Ross. Repito várias vezes, e gosto do som que sai da minha boca. Aquele anjo mal treinado usava um vestido preto provocante com mangas bufantes de tirar o chapéu, os cabelos enrolados em uma mistura castanha e mel caiam sobre os seus ombros. E a voz dela é aliada da aparência, já que fez tamanho rebuliço com meu corpo que, sem qualquer aviso, minha virilha reagiu numa ereção se ajustando à calça com desconforto. Imagino - uma, duas, cinco, dez vezes - meu nome, alto e ofegante, nos seus lábios rosados. Minha ereção pulsa, e meu peito arqueja, cheio de ansiedade. Eu preciso que ela seja minha. No mínimo por 15 minutos. E não é sempre assim? Não é amor à primeira vista. É atração carnal à primeira vista, e que atração, Srta. Ross. Os olhinhos dela são de um passarinho novo explorando o ambiente desconhecido, sedenta por novidades. Essa paixão não é vista muito por aqui, apenas no olhar de bolsistas mesmo, porque são o coração da empresa. Já que ainda não se mergulharam no meu mundo fixo, confortável e rotineiro. Eles são determinados e cheios de vida dispostos a conhecer tudo que o mundo tem a oferecer. Até quebrarem a cara como eu. Ouço minha porta bater com estrondo e já imagino a extravagância de uma certa redatora. — Trevor! — A voz feminina interrompe meus pensamentos, com aflição. Os olhos claros brilham febris e os tecidos extravagantes contrastam na minha decoração. — Morgan — ironizo. — Ela é linda! O cabelo ondulado cheiroso, as roupas bufantes, o rosto fino... — Uma princesa. — a palavra escapa dos meus lábios porque realmente parece. Princesas usam vestidos bufantes, têm mechas perfeitas, pele macia e cheiram a realeza e doçura. Ela é uma Princesa da Disney. — Ah! — Morgan faz um "O" com a boca, dá um sorrisinho ridículo, e puxa uma cadeira para o meu lado. — Está chamando a bolsista de Princesa? — Eu só juntei fatos. — afirmo, e dou de ombros. — Sei, ela acabou de chegar! — alerta como se isso fosse motivo para fazer minha atração sumir. — E daí? Ela arrepiou quando a cumprimentei. — uma pele aveludada arrepiada, poderia fazer comercial da Pandora com aquelas mãos e eu escreveria o slogan. — Mentira, você arrepiou e sentiu. — Sério isso? Ela não acha que eu me iludiria a esse ponto, aquela mulher da realeza tremia as pernas com meu toque. — Uhum. — resmungo para mim mesmo. — Trevor! Não quer passar uma impressão profissional? Ela vai trabalhar aqui por no mínimo 4 anos... Trevor, está me ouvindo? Foi uma apresentação breve, mas o jeito que caminha, a animação de entrar nesse Castelo Scott White, aliás, apenas White. Ela tem brilho nos olhos, pura paixão por criatividade, matérias, arte, é o tipo de mulher que explico minhas ideias por horas. — Ela me lembra eu. — penso em voz alta. — Acho que ninguém é tão promíscuo e narcisista. — usa sarcasmo como arma. — E que mulher não é promíscua comigo? — Às vezes eu amo ser eu. Sorrio vitorioso. — Exibido. — ela revira os olhos. — O cheiro do cabelo dela é maravilhoso, senti de longe, Limão e Mel. — ela brinca com o próprio cabelo imaginando ser o da bolsista. — Sentiu o cheiro do cabelo dela? — pergunto com um desconforto no peito. — Eu sei que você se interessou. — Seu sorriso exultante morre aos poucos. — Bom, mas ela é minha. Sua imposição é tão inútil que chego a rir. — Como se tivesse chance. — solto a risada. — Bom, tenho sim. Eu conheço as mulheres melhor que você. Pense nisso! — Seu argumento é até válido. — Ainda acho que não — Morgan fica irritada pela minha confiança, mas o meu sorriso se torna malicioso e ela acompanha minha mudança de humor com uma risada. — Vou propor uma aposta — digo, porque ver Morgan se esforçar será divertido. — Quem beijá-la primeiro, o Troféu Alcoólico será... — Vodka! — exclama, mais rápido que eu, e cada vez mais acho que ela tem que ir ao A.A. — Fechado, mas whisky pra mim — Ela aperta minha mão e sai rindo da sala como se planejasse o ataque. Volto a pensar numa forma de conversar com aquela garota alta e estonteante. Eu e ela só trocamos duas palavras, e essas sílabas eram o nome dela, mas Morgan sentiu o cheiro de seu cabelo. Isso me deixou invejoso. Sentir atração é sempre assim, fico obsessivo, compulsivo, ansioso até conseguir dominar. Mas depois. Acaba, mais rápido do que relâmpago McQueen em corrida da Copa Pistão. A não ser apenas por... Sarah, essa aí, me fisgou de jeito. Parecia que não acabava nunca, pensava comigo mesmo, mais uma vez e vou enjoar. Pois é, eu tento até hoje. Quando envolve amor, as coisas são diferentes. Ela me ama romanticamente, sei disso, e eu não a amo como ela merece, mas isso não me impede de provocá-la às vezes. Sempre foi assim e vai continuar sendo assim. Por dilema, você escolheria Lealdade ou Amor? Amor é um Slogan. Lealdade é Fascínio. Esse clima ridículo de término me abomina? Sim, mas não que eu vá mudar de ideia por esse cabelo de Limão e Mel. Minha porta se abre novamente com três batidas. Pensando no diabo... — Trevor? — os lábios vermelhos chamam. Respire, controle-se. — Sarah. — respondo sem desviar o olhar dos papéis. Ouço os Saltos Everest tocarem o chão como música, ela coloca um papel laminado sobre minha mesa, segura meu queixo com força e me obriga a encará-la com os olhos azuis enormes. Sim, foi esse olhar que me fez amar todos os olhares penetrantes. — Mais uma festa? — O Dia do Trabalho nem esfriou ainda. — Esse sábado. Quero dar as boas-vindas aos novos funcionários — Tento com força, focar apenas nas suas palavras, mas a cintura no vestido colado vermelho me fisga. — Vou considerar. — O que? Eu vou? Trevor, acorde! — Eu sei que vai. — larga meu queixo de forma dramática, consigo manter a postura e me permito voltar a atenção aos papéis. — Você sempre vai. — ela marcha em direção à porta, e por um segundo meu corpo impõe que eu a observe sair. Mas que merda! Eu devo ser um cachorro mesmo, abanando o rabinho para a Dama Vermelha, isso tem que acabar. Eu prometo, Sarah. Esse domínio que acha que tem sobre mim, vai sumir. Eu sempre acabo indo nessas festas porque alguém chamada Morgan, me obriga. No entanto, penso por um segundo que a Princesa de Limão e Mel é nova na empresa e vai ser convidada, isso quer dizer que eu posso vê-la e descobrir se ela é tudo isso que minha mente brilhante imagina. Algumas horas depois já estou desejando o rocambole da avenida ao lado. Almoço, Trevor. Você precisa comer. Acabo de analisar a redação criativa das redatoras, e me divirto com algumas. Pelo menos isso, eu amo meu trabalho. Saio da minha sala e entrego algumas pastas para a secretária. Essas mulheres que arrumam meus compromissos vêm e vão, nunca lembro o nome. Morgan está inclinada no mesmo balcão, provavelmente se incluindo nas minhas reuniões. Se ela não fosse ótima no que faz, eu barraria. Ouço saltos baterem no chão de novo, mas são singelos, simplórios, não são vermelhos, são de mel. Não restrinjo meu olhar que vai direto na Srta. Ross. Analiso o seu corpo de cima à baixo. Botinhas pretasde couro, as pernas lisas... e que pernas são essas? Confesso, adoro mulheres altas, elas têm esse charme natural ao caminhar. O vestido de mangas bufantes seria longo se ela tivesse um metro e meio, mas não, a saia termina acima de seus joelhos e me imagino dentro daquela fenda. Por favor, lojas de roupas, continuem fazendo vestidos para o padrão de baixinhas, porque eu amo esse tecido reduzido. A cintura é fina e bem definida, seus braços são delicados, e os seios pequenos me causam ansiedade para senti-los contra o meu peito. Sua postura é admirável, ombros eretos e tenho vontade de mergulhar naquela clavícula, naquele pescoço, nessa boca rosada e puxar esse cabelo perfeitinho enrolado com Limão e Mel. Nossa, isso foi profundo. Não tive muito tempo para observá-la na nossa conversa de duas palavras. Ela é linda e com mulheres assim eu começo a fantasiar na minha mesa, no sofá, no banheiro, no elevador e na minha mesa de novo. — Se olhar mais, ela vai pedir uma ordem de restrição. — Morgan ironiza. — Como se não a tivesse secado a manhã toda — reviro os olhos e ela ri. A minha Princesa está esperando alguém. Percebo por suas pernas nuas cruzadas em cima da cadeira de veludo da recepção, e suas mãos imperativas deixam claro a sua ansiedade. Mas quem ela está esperando, se não conhece ninguém? A resposta surge num homem mediano de óculos circulares e camisa estampada. Ela se levanta, sorri, lhe dá um abraço, e consigo ouvir só partes de sua conversa. Ela está namorando esse idiota? Ele não tem nada de especial, é como todos os outros. Medíocre, sem sal. Não importa. Cedo ou tarde, ela vai ser minha. E, querida, vou te fazer lembrar desses quinze minutos. Minha Princesa de Limão e Mel. O expediente terminou faz horas e me pergunto de novo, o que estou fazendo com minha vida. Resolvi tomar um ar nessa noite mais fria e peguei a cadeira principal em uma das salas de reunião repletas de vidro. Esse horário é o próprio deserto, não vejo nenhuma alma viva, e eu gosto assim. A imaginação é algo incrível, e simultaneamente bizarro. O fato de não incluir regras, apenas sugestões, é libertador. É como a literatura, não existe fórmula para a escrita de um livro, o autor é quem dita as próprias regras. Se eu odeio, e acho letras minúsculas fúteis e sem graça, eu uso maiúsculas. O. Quanto. Eu. Quiser. É possível, que eu esteja com o instinto ditador mais aguçado em meio as letras, ideias, porque ou essas campanhas do andar criativo estão péssimas, ou eu quero ditar regras para a nova bolsista. — Sr. White. — me contenho, porque quase pulei da cadeira com esse maldito susto. Ergo o olhar e vejo as mangas bufantes com os cabelos de Mel em frente a porta. O que ela faz aqui? São o que? 20:00h. Ela devia ter saído às 17:30h. Não pense no que poderia ter acontecido, Trevor, pense no que poderá fazer agora. — Desculpe interromper, acabei ficando um pouco encantada com o lugar. — Vai ver o que eu vou encantar. Ela sorri com uma voz de animação, e timidez ao mesmo tempo, acredito que seja porque me vê como autoridade, e tem que ver mesmo. — Estudei as campanhas, propagandas e alguns anúncios recentes que... — Vai ficar em pé? — interrompo, e ela arqueia a sobrancelha, mas rapidamente puxa uma cadeira ao meu lado. Interessante, Srta. Ross. Você pensa, e se limita? Mulheres com pouca liberdade são assim, mas tenho uma ótima notícia para ela. No mundo criativo, não há limites, e vai poder fazer o que imaginou primeiro, sem pensar em segunda opção. Não existe ideia ruim, e sim mal desenvolvida. Gostaria de saber o que pensou quando levantou essa sobrancelha. Me achou grosso? Minha voz te assusta? Ou excita? — Por que não publica temas diferentes? — questiona. Seus dedos apertam o próprio pescoço como se sentisse a própria temperatura. Está quente? — Como? — Dentro do que analisei, nenhum trabalho seu é sobre cosméticos, beleza ou... — Coisas fúteis. — complemento. Arqueia de novo a sobrancelha, não gosta quando a interrompo. Vai ser divertido te interromper dez ou quinze vezes por dia, Princesa. — Acha beleza algo fútil? — sua frase tem um ar de indignação. — Você não? — confesso, estou adorando provocá-la. — Não é o que seu cheiro de lavanda diz. — dá de ombros. Ela sentiu meu cheiro. Então a atração é mútua! — Eu acho que domina grande parte da economia mundial. — Verídico. — Estou ouvindo. Ela entrelaça as mãos, como se fosse se preparar para uma apresentação musical, respira fundo e seus seios sobem como balão de ar quente e descem como gráfico de início de ano. Morde um pouco o lábio inferior e inicia o show. — Esse é o mês do Dia do Trabalho e não vi nenhuma matéria, propaganda ou anúncio sobre a indústria de cosméticos, acho que seria no mínimo bom a empresa comentar sobre e exaltar o tema. Aí, e essa bronca, Trevor? Verdade, não gosto muito da indústria de cosméticos, é a Sarah que costumava me ajudar com isso. — Tá. — concordo. — Tá? Você me ouviu, discordou ou... — Escreva uma introdução, traga até mim e, se a escrita for tão boa quanto sua fala, podemos considerar algo novo para a clientela de beleza fútil. — desenrolo a conversa, ela me escuta atenta, e por fim, um sorriso por dar liberdade a ela. Um silêncio de segundos domina a sala, e fico na dúvida se me entendeu. — Srta. Ross? — chamo. — Ah! Claro... Eu trago semana que vem. — ela se levanta, parecia atordoada, mas isso não me impede de tentar com força não prestar toda atenção na divisa entre suas coxas. — Seu cheiro também é bom. — digo sério, me arriscando com a frase. — Limão e Mel, obrigada, Sr. White. — Suas bochechas se avermelham, e não é por conta da maquiagem. — Disponha. — ela assente e sai com passos firmes da sala de vidro. O saldo dessa conversa? É... eu quero demais mesmo. Sr. Perfeito White Eu lambo meus lábios, Depois de nos beijarmos como chocolate Te quero na minha boca Como um caramelo Eu gosto de você Eu gosto só de você Você também quer o que eu quero CHOCOLATE - ISABELA MERCED Claustrofobia. Fobia situacional que envolve o medo de espaços fechados ou confinados. Agradeço por não sentir esse medo, mas juro que em momentos de pressão, minha mente só consegue pensar nessa palavra. Elevadores são claustrofóbicos, não eu, porque talvez gostaria de ser confinada com aquela maldita camisa branca. É assim que me sinto perto dele, pressionada, e talvez isso seja bom em relação ao trabalho, pois vai me levar ao limite. No entanto, para os meus pensamentos? É terrível. Eu quero. É É errado. E por que eu tenho que fazer tudo certo? Mia, tente pensar em outra coisa. É só um homem. Um homem que ativa minha curiosidade quase patológica, mas preciso contê-la. Até porque morar em um país diferente por trabalho, não me dá muita oportunidade de conhecer os lugares. Esse serviço exige demais, claro, ainda mais se eu quiser chegar a ser redatora um dia. Por enquanto o que me incomodou foi o frio absurdo, e o fato de não ter muito sobre beleza dentro da empresa. Achei que com uma mulher no comando, seria mais... vaidosa, mas parece que me enganei. Trevor é quem manda e aprova tudo na área criativa, e se ele não gosta, pelo visto não é feito. E, ainda, ele não parece ter limites pela confiança que exala, o que me faz pensar que ele não recebe ordens nem mesmo da Scott. Eu preciso e devo preferir focar mais nas minhas obrigações. Eu me mudei para aprender, e se esse diretor criativo for só gostoso demais, eu volto para o Brasil. Quanto a minha nova casa, olhando ao redor, preciso mesmo dar cor para aquelas paredes. Embora meu pensamento estivesse dominado por outra pintura com cheiro de Lavanda. Tiro as botinhas, o rabo de cavalo que fiz pelo cansaço, e minha bolsa já carregada de trabalho. Jogo meu corpo sobre a cama e deixo que minhas mãos alisem o lençol do colchão. Cansada. Eu estou cansadademais, preciso relaxar. Me perguntei quarenta vezes se deveria interrompê-lo naquela sala de vidro, estava tão concentrado... Seus olhos eram raivosos, como se ditasse regras aos papéis que lia. Aquela camisa não deveria ser tão atraente. Já vi vários homens de roupa social, mas parece que todo esporte fino foi feito sob medida para ele. "— Trevor White, diretor criativo." Ah, por favor, até parece que foi o primeiro homem bonito que já viu! Bonito é eufemismo... CHEFE! ELE É O CHEFE! O seu toque firme não abandona minha mente, apenas me deixa louca fantasiando poder segurar aquele braço volumoso, protegido por aquela maldita camisa branca, maldita porque me faz ter arrepios. Poder mergulhar naquele cabelo aveludado, castanho bagunçado, eu bagunçaria sem limite com meus dedos ansiosos. E o que ele faria? Diga para as minhas mãos ansiosas. Coçam, elas coçam para pensar nele e liberar o prazer acumulado que estou sentindo. Entreabro as pernas e consigo imaginar seu toque na minha coxa, aquelas mãos robustas brincam com a minha pele, que está quente... está sempre quente. Nessa altura já estaria arrepiada, meu coração bate com força, ansiosa, estou ansiosa para sentir aquela barba mal-feita chegar pertinho do meu rosto. "— Mia, está gostando disso?" Sim... não pare, por favor... Trevor. Minhas mãos criam vida separada do meu corpo quando se atiçam ao extremo, por imaginar a voz grossa dele balbuciar meu nome. "— Seu cheiro também é bom." Sua voz é tão excitante, autoritária, é música. Ele coloca uma mecha atrás da minha orelha com a ponta dos dedos e causa arrepios por toda minha derme, se aproximando, perto, está há poucos milímetros de distância das minhas bochechas coradas. Puxo a gola de sua camisa e ele sorri surpreso pelo meu atrevimento, crava as mãos na minha cintura apalpando com aqueles punhos de boxe, me deixando a sua mercê, pronta para qualquer ordem quando roça seu rosto no meu. Mais rápido, por favor! Ouço batidas na porta e meu movimento desliga, minha excitação desliga, meu pensamento desliga. Meu Deus... estava tão bom. — Mia! Quer comer alguma coisa? — Ted grita da cozinha. — An… sim! Eu… já vou sair, só estou arrumando umas coisas, Ted. — digo, pego uma almofada e a aperto contra o meu rosto, frustrada, por ter sido interrompida com o Sr. White. Mulher, o homem nem sabe que você existe! Bom dia, eu. Fazia um longo tempo que não tinha um dia tão cheio como tive ontem. Cheguei do maior voo da minha vida, conheci nove andares repletos de personalidade e decorações de mármore, Ted me apresentou o novo apartamento com a lareira, que por sinal é maravilhoso, e de bônus... fiz a estreia do colchão. Quando acordei esta manhã rodeada por paredes nuas, meu anjo de quarto me trouxe Leite de Canela e um Sonho de Creme, o chamado aqui em Portugal de pequeno almoço. Prefiro café da manhã, mas vou me acostumar. Fiquei agradecida por ele ter prestado atenção no que eu gosto de comer, se mostrando simpático, mas disse ser tímido no trabalho. Estamos nos conhecendo, eu poderia lhe dar um presente, algo como o pequeno almoço, só que mais legal. Talvez um CD, ele tem pilhas de CDs, mesmo ninguém mais usando isso. Talvez eu esteja animada demais, hoje quero impressionar. Coloquei uma saia lápis e camisa preta. Está um pouco chuvoso, então optei por minhas botas de salto alto. O cabelo eu deixei solto, pois uma mulher precisa de suas armas à mão. Conversamos muito no caminho. Hoje, Ted está bem arrumado, já que vai ter uma apresentação para um cliente grande, mas não deixa de usar gravatas estampadas. Eu também vou ter uma apresentação... ou pelo menos quero que o Sr. White me apresente o andar criativo. 10h Terminei de analisar os gráficos para o Sr. White. Eram tantos arquivos que meu cérebro quase teve um derrame, por isso aproveitei a pausa do café para dar uma escapada rápida à loja de CDs. Acabei demorando, e Deus, se alguém notasse minha ausência eu estaria morta! Ou pelo menos eu acho, já que meu chefe e mentor de bolsa não me dá atenção. Voltei correndo, e havia uma nova pilha de papéis sobre minha mesa. Meu Deus! Ele está me punindo? Não, ele pune a redatora chefe, eu sou apenas uma bolsista. Ia gostar de ser punida por ele, Ross? Termino a nova demanda, já no meu terceiro copo de café, que agora acabou, mas tudo bem. A cafeteira fica próxima ao elevador, então aproveitei para dar uma passada rápida no 6º andar e entregar o presente, embrulhado com carinho. Saio da minha sala crua e sorrio para Morgan dentro do vidro de alguma reunião. Ela está com um vestido azul escuro com o cabelo solto hoje, muito elegante. Eu devo ser também. Todos nessa empresa são extremamente elegantes. Quando me viro meu sorriso trava nos lábios, e morre aos poucos por nervosismo. O diretor criativo. Trevor. Sr. Perfeito White, porque suas campanhas, matérias e textos não tem nenhum errinho, ele é um perfeccionista. Já deu apelido para ele, Mia? Estou perdida mesmo. As mãos firmes socam os bolsos enquanto deixa o queixo bem erguido. Ele é o auge da confiança. Me imagino de novo pertinho do seu rosto de barba mal feita, e minha mente implora para que ele me aperte, com toda a força que essa camisa de mangas brancas arregaçadas consiga apertar. Mantenha a calma, Ross, está trabalhando muito bem até agora, não vá estragar tudo. Ele é seu chefe. Só o chefe. Perfeito, mas seu chefe. — Você vai ficar parada? — ele pergunta arrogante, quase como se ordenasse uma resposta. Quando me dou conta, estou parada, mergulhada nas sensações que esse homem me causa, paralisada. Mia, mexa-se! — Segure o elevador, por favor! — grito e corro para caixa de metal. — Eu fiz isso por uns dois minutos. — sorri vitorioso como se tivesse conseguido me atingir. E, bem... conseguiu. Entro apressada, mas ele não se afasta do lugar onde está. Fico encarcerada entre seu corpo forte e as portas atrás de mim. Consigo até sentir sua respiração em meu rosto. Consigo até sentir seu cheiro, tão sutil e sexy. É Lavanda, com mais algo doce... parece até avelã. Consigo até mesmo ver as nuances de cor de seu cabelo sob a luz fortíssima. Por que estou tão perto dele? Por quê. Estou. Tão. Perto. Dele? Não paro de olhar para cima e, francamente, é uma tortura. Não só porque a luz é forte, mas porque não olhar para essa magnificência em forma de homem... Senhor, dói demais. — Pode apertar o nono andar? — ele pede, não é só um pedido, ele está humorizando. Claro que ele vai no andar da Loira Scott, bem que Ted avisou que ele é o Homem Troféu dela. — Você está mais perto. — a entonação em minha voz é raivosa, mexo as mãos esticando os dedos para manter a calma. Imaginá-lo tocando-a, me deixa irritada, porque é isso que eu mais desejo. Isso não é possível. Eu não posso sentir essa repulsa, é absurdo, o conheci faz menos de 48h, e nem me dá atenção, mas quando dá... Mia! Isso é loucura, com certeza maluquice. Como pode, se não troquei 2 palavras com ele? — Acho que está mais perto — firma a voz, porém a frase mantém o tom de humor. — Pois eu tenho certeza que você está mais perto. — digo, forçando uma curiosidade inocente, para ver o que ele vai fazer. Trevor se inclina para direita e aperta o botão do elevador. Não percebi, mas enquanto ele executava a ação estava prendendo a respiração. Pensou que ele fosse te beijar, mulher? Eu ando lendo muitos livros de romance. — Está com pressa? — ele pergunta, com uma voz mais baixa que ressoa perto dos meus ouvidos. Ah! Esse sim é o sotaque português... Deus, como é gostoso de ouvir. Espera. O que ele está fazendo? E por que esse elevador está demorando tanto? Percebo que voltamos ao quarto andar e agora subindo. Elevador ridículo. É ridículo porque quer me deixa vulnerável… metade de mim quer que ele me atacasse e a outra apenas quer fugir dessa pressão. — Não, tenho claustrofobia — ironizo.Senhor, eu disse isso? — Eu conheço um lugar maior para você se aliviar. — Essa frase. Essa frase me obrigou a encará-lo e ver o sorriso malicioso estampado em seus lábios. As palavras flutuam pelo espaço ao mesmo tempo que o elevador para. Ele mantém a malícia. E então sai. Não acredito que ele disse aquilo! Começo a pensar em como aquele diretor criativo poderia me aliviar. Meu corpo ferve como bule de chá. Minha respiração se acelera, estou suada, suor puro, e depois que ele sai, dou uma sacudida para estabilizar meu corpo após o ataque. Ataque White. Proíbo meu subconsciente de ter esses pensamentos impudicos, pois quero causar uma boa impressão. Chego ao oitavo andar e caminho para a minha sala o mais rápido que posso sem parecer desesperada. — Mia! — Morgan grita, sou obrigada travar o corpo e a mini maratona e ir atendê-la ao invés de ir me recompor. — Oi, Morgan. — sorrio. — Pode me chamar de Mor. Trevor, vulgo diretor criativo é muito ocupado, ou pelo menos é o que ele insiste em dizer. Por isso pensei ser uma boa ideia te apresentar o andar criativo. — sua voz está diferente, mais atenciosa. — O que me diz? — seus dedos tocam meu cabelo como quando nos conhecemos. — Ah... claro. — respondo sem pensar muito. Seu rosto é tão marcante, lábios cintilantes, olhos claros que contrastam com a pele negra de forma surreal. Ela é linda, entendo por que Trevor vive colado com ela. Estou ficando confusa, ele está com a Mor? Ou a Scott? — Me siga. — ela estende o braço como se quisesse que eu me enroscasse. Ela exala um ar tão amigável que a obedeço quase que de forma automática. Ela apresenta as salas e explica o processo em toda a empresa até que o produto chegue aos olhos do público. Por suas palavras cativantes, entendi que o andar criativo comanda os outros, já que a ideia é feita aqui, e os outros departamentos dão vida a ela, mas apenas se o diretor criativo aprovar. Ela me olha diferente, não como minhas amigas costumam falar comigo, parece me dar muito mais atenção do que para outras pessoas. — Tem alguma dúvida, antes de continuarmos? — pergunta gentil com um sorriso exultante. — Morgan! — ouço uma voz masculina exclamar, e ela pula como se fosse pega roubando doce de loja. E o homem da camisa branca aparece ao nosso lado, aflito. — O que está fazendo? — ele sorri forçado. — Eu? Estou apenas apresentando o andar pra Mia. Já até começamos a nos chamar por apelido — diz em tom provocativo, o que me faz franzir o cenho. O que é que está acontecendo aqui? — Ela disse que estava ocupado. — complemento com os dedos em minha nuca. Encarando-o sem jeito. Sem jeito porque uma hora atrás estava implorando aos santos que ele me jogasse naquela parede metálica. — O que? Não mesmo, eu posso mostrar tudo que quiser. — seus olhos castanhos se restringem apenas a mim. A voz dele está mais atraente do que o normal, e já sou bem atraída pelo comum. Ele quer me mostrar o andar? Só eu e ele? — Tudo mesmo. — completa, quando percebe que não o respondi, eu devo estar vermelha, corando, não é possível. — Não vai ser necessário. Eu e a Mia já estamos terminando nosso tour e nos conhecendo melhor inclusive! — ela acrescenta e assinto. — Mia. — Ah, não fale meu nome, eu já estou vermelha. — Sabe o que é melhor do que teoria? — Prática. — afirmo. — Boa garota! Por que você não substitui a Mor na minha próxima reunião? Quer entender do andar criativo, nada seria melhor do que uma reunião criativa! — ele arqueia a sobrancelha com um sorriso de canto espetacular. Como dizer não a isso? — Seria incrível! — exclamo. Sempre quis participar de uma reunião com clientes das marcas que vejo por todos os lugares. — Qual será minha função? Posso fazer tudo o que o senhor julgar necessário, aprendo rápido! — Tudo mesmo? — questiona e fico sem resposta. Sim, eu posso fazer tudo, mas sua voz tem um tom promíscuo. — Trapaceiro. — Morgan murmura, revirando os olhos. — O que disse, Johnson? — ele questiona. — Nada. — a alegria dela murcha. — Bom, Mia. Foi ótimo passar um tempo com você. — ela se aproxima, beija o meu rosto de forma demorada enquanto entrega uma das mãos a minha nuca, enchendo os dedos com meu cabelo. — Você é extremamente cheirosa. — elogia, ousada. — Obrigada. — sorrio envergonhada. — Chega, não é mesmo? Acho que essa Morgan tem muita coisa para escrever. — ela o encara com ódio, e ele parece estar achando divertido. Assim que ela sai e me deixa sozinha com ele, penso como isso foi no mínimo estranho, pelo menos para mim. — Mia é seu apelido, e o nome inteiro? — pergunta. Ele quer me chamar pelo meu nome inteiro? Só meu pai me chama assim. — Miranda. — murmuro. — Lindo nome. — Obrigada. Quando é a reunião? — tento mudar de assunto, pois não posso ficar babando assim. — Você gosta de chocolate? — ele sorri. — Sim, mas o que isso tem a ver? — Me confundo com a mudança repentina, mas finalizo firme, querendo focar no trabalho. — A marca da reunião é minha conta há anos, se chama Feitoria do Cacao, o chocolate mais bem produzido de Portugal. — os olhos dele chegam a brilhar e os gestos enquanto diz mostram o orgulho do próprio trabalho. Eu não conheço a marca, mas parece ser uma espécie de Cacau Show portuguesa. — Humm... deve ser uma delícia. — resmungo imaginando o novo sabor. — Vamos ver. — ele toca levemente minhas costas e me guia até o balcão da secretária. Tira o quadradinho embalado de dentro de uma jarra de vidro e me entrega. — É todo seu. A embalagem é minimalista, fundo branco, detalhes azuis nas pontas e a logo da marca. Tiro o papel e provo logo metade. Enquanto faço, ele estava comentando com a secretária sobre alguns compromissos, estava porque agora me olha concentrado, enquanto chupo os dedos que se sujaram e lhe entrego o resto do chocolate. — Você come assim? — ele segura a embalagem e indica os meus lábios, boquiaberto. — Tem outro jeito? É muito bom, aliás. — É diferente, parece mesmo uma... — ele se restringe. — Uma funcionária apta a entrar na reunião comigo agora. — ele come o resto do chocolate, ainda vidrado em minha boca. — Isso mesmo. — O que ele ia dizer? Alguns minutos depois, fico em frente o balcão esperando que ele traga o cliente da marca. — Ele está sorrindo demais pra você. — a secretária sem nome afirma. — O que? — questiono. — Ele te quer. — diz entre dentes. Como se fosse contato via bluetooth, minhas bochechas automaticamente ficam quentes e vejo o rubor pelo reflexo de um dos vidros do andar. — Todas ficam assim — ela aponta para o meu rosto e ri. — Eu não me mudei do meu país pensando nisso. — passo os dedos por minha pele avermelhada tentando me normalizar. — Vamos ver quanto tempo resiste. — desafia. Análise Ross: Trevor, meu chefe, é irônico, sarcástico, babaca, e exibido, mas também vive no corpo de um Deus da Grécia antiga, é extremamente inteligente no trabalho e as contas que consegui observar têm slogans fantásticos. Conclusão: Ninguém diz não a ele. Nem mesmo a própria CEO, lindíssima vilã de novela, disse não. E como ele reagiria a um "Não"? Entre todo aquele rosto esculpido por Michelangelo, ele estaria com raiva? Mais excitado? Se sentiria desafiado? Minha curiosidade é, literalmente, patológica. Ouço o som do elevador se abrir, e o vejo com um sorriso exultante acompanhar um homem pequeno e barrigudinho, junto à uma mulher alta e séria com o coque preto bem feito. Eu tenho certeza que esse sorriso é de interesse. Ele faz um gesto com a cabeça olhando para mim, e não consigo entender. Ele arqueia a sobrancelha e repete o gesto, o que ele quer? — Você vai vir? Ou quer que te puxe pela mão? — Certo. Ou ele tem um jeito terrivelmente babaca de mostrar que me quer ou ele não me quer. Reunião. Pense na merda da reunião. Me apresso pela sua arrogância e entro na sala com alguns funcionários, acredito que um de cada departamento.Sou observada, e talvez julgada, por todos como se eu não pudesse estar aqui. Estava tranquila até que meu corpo estremece com o toque do meu chefe em minhas costas que me guia para o olhar dos clientes. É como se a mão dele queimasse minha roupa, mais um toque com ou sem aviso e eu já vou suar novamente. — Essa é minha bolsista, Miranda Ross. — apresenta. — Muito praz... Satisfação! — aperto a mão da mulher elegante e do senhorzinho. — Bolsista? E isso ainda existe aqui? Os últimos não foram você e a Sarah? Pensando nela, onde está? — o homem gosta de perguntas. — Resolvi abrir o processo esse ano, tenho precisado de distrações, Michel. — responde atento, e me indica a cadeira principal ao seu lado. — Fomos os últimos bolsistas sim, e a Sarah está bem. — Ele fala com profissionalismo, mas se enrola ao falar o nome dela. — E vocês dois? — Michel parece jornalista de fofoca. — Bem. Bem próximos e bem separados. — Essa frase é um paradoxo. — Me diga, Michel. Em que minha equipe pode lhe servir? — Quero mudanças! Chega da mesma coisa! — ele exclama e bate na mesa. Ele é excêntrico e bem extrovertido, gosto desse estilo. — O seu chocolate é antiquado e elegante, as pessoas compram quase pelo fato de lembrar matéria de história de escola, por que mudar? — E Trevor, parece não gostar de mudanças. — É chato, hoje em dia, as pessoas ficam horas vidradas em uma telinha com luz piscando do TikPic! — TikTok, Michel. — a mulher ao lado complementa, acredito que seja a filha dele. — Isso. Esse aplicativo fatura milhões, eu quero uma embalagem, campanha, anúncio, quero outdoor moderno, quero que as pessoas comprem e fiquem encantadas. — É uma boa ideia, mas arriscada. — É um risco alto para sua empresa que já fatura muito anualmente com identidade própria... Trevor explica as hipóteses em gráficos, materiais de pesquisa, e testes de mercado jogados por toda a mesa. A voz dele é muito persuasiva, é mesmo difícil dizer não. Essa reunião é o que eu estudei na faculdade, as ideias loucas de clientes que precisamos agradar e trazer para o real que pode ser feito. Acredito que a campanha já esteja ótima, no entanto, a publicidade está em constante mudança, ou você se adapta, ou fica de fora. White se pronuncia várias vezes, ele tem um carisma natural de comando, e chego a invejar a autoconfiança. O que ele diz, é lei, e até mesmo esse velho endinheirado o ouve com deferência. Faço mais uma anotação em um bloco Azul Royal que estava em frente ao meu lugar, não trouxe o iPad, mas não poderia deixar de anotar essas informações. Escrevo mais uma linha e minha mão trava no meio de um afrontamento. Não percebi, mas estava balançando a perna com nervosismo. Estava, porque agora ele coloca a mão sobre meu joelho, para proibir meu movimento frenético, e não só meus membros tremem, mas meu corpo inteiro. Conto até 3.000 para não enlouquecer. Mas é inútil, e meu corpo reage arrepiando. Minha temperatura se eleva. 40, não, 100Cº. Eu não posso deixá-lo fazer isso. Posso sim, está tão bom. Mia! Não posso! Vou tirar a mão dele. Tento, e parece que minhas mãos não fazem o que eu quero, porque na verdade meu desejo era que subisse mais... Mia! Coloco meus dedos sobre a mão dele e ele age como se eu o convidasse para entrar e sobe mais. Deus. Ele comanda a reunião e ainda me deixa louca. Controle-se! Respire. Me forço a encarar um ponto fixo e me deixo viajar a volta ao mundo em 80 dias, só que muito mais rápido e excitante. Caminho os dedos por cima de seu braço na expectativa de que ele se limite, mas seu movimento aumenta quando afronta o cliente com um argumento. Mas essa voz é tão... meu corpo não é mais meu, estou de volta aos lençóis de ontem a noite em que ele me tocava e me permito com um movimento simples levantar minha saia, lhe dando mais liberdade e ao meio das palavras de militância do dono da marca de chocolate, ele sorri. Ele sorriu? É um sorriso vitorioso. Suas mãos esquecem por um momento o tecido da minha calcinha úmida e apertam com força bruta minha coxa. — Aah! — gemo, ofegante com o aperto e meu rosto se torna uma pimenta estilo dragão, quando todos na mesa se silenciam e olham para mim. — Srta. Ross? — Trevor dirige o olhar franzindo o cenho com o sorrisinho de canto, como se me dissesse "invente algo". — Estou bem. — tusso forçadamente. — Estou me acostumando com o clima frio europeu. — sorrio. — Não é tão frio quanto imagina, existem lugares mais quentes. — Tudo que ele diz tem duplo sentido, Senhor! Ele empurra para trás a cadeira e guia o cliente até a porta. Espera! O que? Acabou? Eu não prestei atenção em nada! Ou pelo menos enquanto estava sendo tocada... O que?! Eu não acredito. — Michel, vamos considerar sua proposta, e fazer algo novo, mas com base na história magnífica do seu chocolate. Pode entrar em contato com a minha redatora chefe, caso precise de algo. — É sempre ótimo te ver, Sr. Branco. — ele brinca com o sobrenome de Trevor e sai em direção ao elevador. Todos os funcionários saem da sala, e resta eu, ainda tentando me recuperar desse maldito efeito. Sacudo as mãos abaixo da mesa e finjo escrever algo no bloco para ter um motivo para estar sentada nessa cadeira, quando ouço a voz do diretor. — O bloco é meu. Tudo no Azul Royal é meu. — mordo o lábio com força, sem conseguir olhá-lo nos olhos. — Mas tudo bem, pode ficar, me devolve depois. São boas anotações, pena que se distraiu. — ironiza. EU ME DISTRAI? Tomo coragem e me viro para observá-lo de cima a baixo. Todo o seu corpo ridículo de gostoso... Mia! Apenas ridículo, ele é ridículo. Transfiro ódio por ELE ter me distraído e ele parece se divertir com minha feição irritada. E então se inclina, tão perto de mim que consigo sentir sua respiração no meu rosto. — Espero que essa sala não seja tão pequena para atacar sua claustrofobia — Ele ergue os lábios num sorriso de canto que quase me faz querer montar nele. — Hum. — resmungo, brava pela referência irônica, mas ainda quente pelo seu toque. — Vamos nos divertir nessa bolsa, Srta. Ross. — diz promíscuo, e sai da sala. Até o meio-dia tento com força esquecer o atrevimento puro que foi aquela reunião, meu pai havia me alertado que essa empresa era diferente, mas não imaginei que fosse assim. Ele já veio para Portugal diversas vezes e sempre foi muito influente. Conheci um restaurante simples na rua ao lado, quando almocei com Ted e mais alguns colegas que não conhecia antes. O tema da conversa girou em torno do Sr. White e da Srta. Scott. Queria perguntar qual é a deles, mas prefiro não arriscar me denunciar. É melhor meu desejo por ele passar despercebido, se eu quiser permanecer por aqui um longo tempo, e não posso perder meus planos de vista por causa de um desejo louco pelo Sr. Perfeito White. Volto para a minha sala logo em seguida, onde fico entulhada de trabalho até o fim do expediente. São 18:30 e já estou atrasada para sair de novo. As pessoas normais não ficam ansiosas para sair e relaxar depois do trabalho? Eu deveria ser assim. Arrumo minhas coisas e me assusto de novo com a voz do ridículo. — Me deve uma resposta — Prefiro nem me virar para observá-lo, ele também é viciado em trabalho? E o fato da minha sala ser colada na dele, lhe dá liberdade para vir quando quiser. Minha pele arrepia inteirinha como se eu tivesse ingerido algo estranho, é a reação absurda do meu corpo que já está reconhecendo a presença do que lhe fez sentir prazer há horas atrás. Por favor, Mia! Vai suar de novo? Fraca. — O que disse? — pergunto, e não resisto em me virar. Chega a ser absurdo como minha mente pensa e meu corpo se comporta. Quero entrar no jogo dele, não veio aqui apenas para me perguntar aquilo. E minha razão aumenta quando ele se aproxima com passos lentos, porém firmes. A sala não é tão pequena, mas com essa entrada me sinto literalmente claustrofóbica, apenas ele está ali. Dominando todo o