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Fire OBSESSION - Eduarda Brits (2)


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Prévia do material em texto

Copyright © 2022 Eduarda Brits
Todos os direitos reservados
 
É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer
meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico, sem a permissão da autora.
(Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é mera coincidência.
 
REVISÃO DE TEXTO
Millene Gonchoroski
@leiturasdami
@millenevit_
 
LEITURA CRÍTICA
Amanda Tavares
@a.c.tavares
CAPA E DIAGRAMAÇÃO
Larissa Chagas
@lchagasdesign
 
ILUSTRAÇÃO TREMIA
Gabriela Gois
@olhosdtinta
 
 
ILUSTRAÇÕES CAPÍTULOS
Yasmin Martins
@miin.artss
ILUSTRAÇÃO TRIPLA
Micheli Cruz
@anemonaii
 
BETAGEM
Ruth Feola
@ruthfeola
 
Hanna Vitória
@hannaa.vitoriaa
 
Isadora Menezes
@isamenwz
Giovanna Lemos
@giovanna_lemoss
 
Isamara Gomes
@autoraisagomes
 
Lorrainy Silva
@aloquemfala_
 
Julie Ane Lemos
@julianelemos
 
Ingrid E. Yoko
@ingrid_elamesma
 
 
LEITURA SENSÍVEL
Julie Ane Lemos
@julianelemos
 
FIRE OBSESSION – Trilogia Fire, Livro Um [recurso digital] / Eduarda Brits. – 1ª
Ed. 2022.
1. Romance Contemporâneo 2. Erótico 3. Ficção I. Título
 
 
PLAYLIST
DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
NOTA DA AUTORA
AVISO DE GATILHOS
PREFÁCIO - Obsessão Chocolate
CAPÍTULO 1 - Propaganda Monótona
CAPÍTULO 2 - Homem Troféu
CAPÍTULO 3 - Princesa de Limão e Mel
CAPÍTULO 4 - Sr. Perfeito White
CAPÍTULO 5 - Traficante de Emoções
CAPÍTULO 6 - Papel Laminado
CAPÍTULO 7 - Veludo Musical
CAPÍTULO 8 - Groselha Azul
CAPÍTULO 9 - Pasta Carbonara
CAPÍTULO 10 - Deslumbre de Eros
CAPÍTULO 11 - Time de Prata
CAPÍTULO 12 - Guardiã do Diabo
CAPÍTULO 13 - Patente Moderna
CAPÍTULO 14 - Menta Brilhante
CAPÍTULO 15 - Rolo Acústico
CAPÍTULO 16 - Chuva Diamante
CAPÍTULO 17 - Sintonia Chantilly
CAPÍTULO 18 - Essência Luminosa
CAPÍTULO 19 - Tecla Alegórica
CAPÍTULO 20 - Enigma Português
CAPÍTULO 21 - Xícara Azeviche
CAPÍTULO 22 - Aldeia Criativa
CAPÍTULO 23 - Everest Colorido
CAPÍTULO 24 - Avião Branco
CAPÍTULO 25 - Lobo Alfa
CAPÍTULO 26 - Onda Fervente
CAPÍTULO 27 - Executivo Astuto
CAPÍTULO 28 - Mágico Lancinante
CAPÍTULO 29 - Trauma de Cerâmica
CAPÍTULO 30 - Trauma de Cerâmica
CAPÍTULO 31 - Urso Diabético
CAPÍTULO 32 - Bolo Estampado
CAPÍTULO 33 - Abstinência Mel
CAPÍTULO 34 - Desejo Europeu
CAPÍTULO 35 - Amante de Cravos
CAPÍTULO 36 - Orquídea Branca
CAPÍTULO 37 - Avenida Vermelha
CAPÍTULO 38 - Sinfonia Excitante
CAPÍTULO 39 - Fantasma Azeviche
CAPÍTULO 40 - Tempo de Creme
CAPÍTULO 41 - Chefe Carrossel
CAPÍTULO 42 - Rocambole Provolone
CAPÍTULO 43 - Castelo Branco
CAPÍTULO 44 – Monarca
CAPÍTULO 45 - Lábio Avelã - Ross
CAPÍTULO 45 - Lábio Avelã - White
CAPÍTULO 46 - Carbonara Estelar
CAPÍTULO 47 - Laço Fotográfico
CAPÍTULO 48 - Projetor Prateado
CAPÍTULO 49 - Paleta Gelada
CAPÍTULO 50 - Mel de Morango
CAPÍTULO 51 - Nota Trovão
CAPÍTULO 52 - Coronel Mostarda
CAPÍTULO 53 - Cisne Vermelho
CAPÍTULO 54 - Prisão Hipotética - Parte 1
CAPÍTULO 55 - Prisão Hipotética - Parte 2
CAPÍTULO 56 - Pensão de Sinos
CAPÍTULO 57 - Pressão Limão
CAPÍTULO 58 - Urso Sombrio
CAPÍTULO 59 - Primavera Mel
AGRADECIMENTOS
 
 
Acompanhe a playlist de
“FIRE OBSESSION” no Spotify.
 
 
 
https://open.spotify.com/playlist/7FmKuj8lAmYNfHstDj0aPp?si=YkzfYnCiRaWVUnA2BtRhBA&utm_source=copy-link
 
 
Para todas as histórias que eu li e não senti,
porque aquelas eu esqueci, e essa você vai
lembrar.
 
 
 
"Toda história precisa de um detalhe memorável"
Rumplestiltskin, Once Upon a Time.
 
 
 
Satisfação (porque prazer é só na cama),
 
Me chame como desejar, eu prefiro Brits, mas já ouvi Britadeira,
Britsniere, Cabrits (Sim, o cabrito), Britney Spears (me senti
lisonjeada inclusive) e também o clássico: "Até tu Brutus?". Na
verdade, não importa qual desses você escolha, ou seja mais
original como essa história e crie um novo apelido (favor me enviar),
apenas decida, porque vai precisar xingar a mim em algum
momento.
 
Essa história não é para qualquer leitor, assim como Stephen
King disse que a escrita não é para todos. Aviso que precisará de
uma alta dose de empatia, resistência a analogias gastronômicas,
um belo pano (talvez um pacote ou um caminhão, quer sabe, pegue
logo o telefone da fábrica) e paciência. 
 
Juramentos da Autora
 
Eu prometo te fazer rir com piadas e trocadilhos ruins.
 
Prometo te fazer sentir tanta raiva que chegue a querer chutar
uma pedra ou um gato branco gordo (o que estiver mais perto).
 
Prometo te fazer chorar, por fora ou por dentro para os mais
frios.
 
Prometo te fazer sentir fogo absurdo com cenas mais quentes
que fornalha (cruze as pernas, Princesa).
 
Prometo dramatizar cada pequena situação e transformá-la em
uma tempestade. 
 
Mas o que eu realmente prometo, é que essa história não
passará despercebida. Esse não será o livro que você vai ler e
esquecer, modéstia à parte. Aqui você mergulhará em um mundo
intenso e original que te fará questionar todas as leituras que já leu.
Não te deixarei respirar sem cenas ousadas, escândalos,
reviravoltas e segredos.
 
Essa história é longa, e essas mil páginas são apenas o início, e
peço que não se assuste, pois também prometo lhe deixar longe do
tédio.
 
Você aprenderá a diferença entre Amor Leal e Amor Romântico.
Entenderá sobre relacionamentos saudáveis, obsessivos, tóxicos,
agressivos e no final garanto que se identificará com ao menos um
desses personagens.
 
Avisos do Estilo Brits
 
- Uso letras maiúsculas para venerar palavras.
- Cada nome de capítulo tem um sentido, por mais bizarro que
pareça.
- Crio analogias e metáforas com comida compulsivamente.
- Abuso do itálico.
- Vício em apelidos.
- Cada capítulo tem uma palavra específica.
- Tudo que faço tem motivo.
- Minha estrutura se iguala a séries e novelas
 
Agradeço por ler até aqui e leve essa nota como um aviso, não
aceito devoluções de sofrimentos. Eu quero e amo recebê-los, dou
gargalhadas com surtos de qualquer situação que envolva FIRE
OBSESSION. Use minhas redes sociais, número de WhatsApp, e-
mail, faça como quiser, mas me avise quando sentir o turbilhão de
emoções.
 
P.S.: É normal não conseguir mais encarar mercados,
elevadores, carros, dispensas de cafeteria, espelhos, felinos
brancos, vermelho, camisas brancas, mangas bufantes, roupas com
estampa, roupas coloridas, Portugal, sonho de creme, Nutella,
qualquer estilo de doce, panelas com cor, degustação de bolos,
jaquetas policiais, orquídeas brancas, avenidas, mármore, azeviche,
baunilha, Benfica e o maldito projetor sem lembrar deste livro,
acostume-se.
 
Dramaticamente,
BRITS.
 
Uso de drogas lícitas e ilícitas; cenas de sexo explícito; traumas
em decorrência do luto, ansiedade e suas vertentes; violência
doméstica; assédio sexual; relacionamento abusivo, tóxico e
obsessivo; surtos, citação e indícios de transtornos psicológicos:
compulsivos sexual e alimentar.
 
 
Obsessão Chocolate
 
Para ser sincero, eu não sei como chegamos aqui. A obsessão é
destrutiva e criminosa, nem todos os detetives conseguem
desvendá-la. E se eu não conseguia achar nem os Ovos de Páscoa
escondidos na grama, quem dirá essa profissional. 
 
A obsessão é como um chocolate. Atrativo quando se sente o
cheiro, textura, agrado com a cor e você o agarra sem limites se
lambuzando até acabar. E quando acaba, você só quer mais, mais e
então ainda mais. Sem conseguir trabalhar, dormir, acordar sem
comê-lo mais uma vez.
 
A obsessão é gradual e mascarada de paixão. Se olharmos com
atenção, por outro ângulo, veremos que são passos muito parecidos.
Observe:
 
Apresentação
 
"Trevor White, diretor criativo"
 
"Mia Ross!"
 
Atração
 
A cintura é fina e bem definida, seus braços são
delicados, e os seios pequenos me causam
ansiedade para senti-los contra o meu peito. Sua
postura é admirável, ombros eretos e tenho vontade
de mergulhar naquela clavícula, naquele pescoço,
nessa boca rosada e puxar esse cabelo perfeitinho
enrolado com Limão e Mel.
 
Negação
 
— Então deixa eu refrescar sua memória. — Ela seliberta do
meu aperto e mergulha os dedos no meu cabelo descendo para
a minha barba mal feita. — Não vai ser tão fácil assim! —
murmura quase entre meus lábios, destrava a porta atrás de si e
sai com um sorriso vitorioso.
 
Sim, ela é uma Traficante de Emoções.
 
Purgatório
 
"Não me culpe por querer que seja minha"
 
"Seria hipócrita, porque também quero que seja meu"
 
Declaração
 
"Eu amo você!"
 
Não respiro, acho que até mesmo esqueci de respirar, não
conseguindo raciocinar como essas palavras saíram da sua boca.
Sua boquinha de mel fofa e atraente que eu amo morder.
 
Finalização
 
— TREVOR, SE VOCÊ FOR, ACABOU!
 
Percebeu? 
 
Eu nunca fui bom com finais, principalmente os fechados que me
dão Raiva Súbita.
 
Poderia ter parado ali, pensado, refletido, visto que aquela
atração parecia diferente, mas quando se está dopado de Limão e
Mel... as evidências parecem sumir.
 
Meu peito arqueja, meus olhos estão vermelhos, minhas mãos
suam e tremem exasperadas como se aqui fosse a minha morte.
Com medo daquilo que parece impossível, seria mais fácil fugir, mas
não há como fugir da abstinência.
 
Eu só queria que alguém tivesse me alertado disso antes.
 
Obsessivamente,
T. W.
 Propaganda Monótona 
 
 
Lamborghini vermelha para te provocar
Ganhei seu ano inteiro em uma semana
A minha gata principal
Tá fora do seu alcance
E a minha amante também
Veja o que você fez
Eu sou o maioral dessa porra toda
STARBOY - THEWEEKND
 
 
Tédio. Sentimento humano descrito como estado de
pouquíssimo estímulo, ou presença de uma ação repetitiva. Isso
resume bem o que sinto. Deveria estar ansioso ou no mínimo
animado, não é assim que pessoas ficam antes de um evento? As
festas de Sarah Scott são sem dúvida cativantes, mas perdem
grande parte da graça quando se vai pela vigésima oitava vez. 
 
Não que eu goste de mudanças. As detesto. Ou pelo menos
agora detesto. Desde que para mim foram deixadas rigorosas
regras feitas pela minha caixa de Pandora, minha mentora Hillary,
sempre protegidas por um belo eufemismo. Por que mudar quando
se recebe uma herança absurda? 
 
Me pego contando os prédios na vista da janela do andar
criativo na empresa. Foi uma ideia eficiente modéstia à parte,
acredito que as pessoas fiquem mais inspiradas quando olham o
horizonte. 
 
Ouço um pente cair no chão de mármore negro, e me viro
avistando Morgan, a mulher de curtos fios crespos desajeitada
desde sempre, porém extravagante, que me lança um sorriso como
se dissesse "só mais um minuto". Mergulho uma das mãos no
cabelo e ando em círculos.
 
Esperar me irrita, demais. 
 
Não sei por que as mulheres demoram tanto para arrumar essas
mechas... No final vão ficar todas bagunçadas mesmo. 
 
— Morgan, já devíamos estar na festa faz mais de uma hora,
vamos logo com isso — apresso. 
 
— A graça das festas é chegar depois. Nunca te ensinaram
isso? Além do mais, eu trabalho como condenada o ano inteiro, e no
Dia do Trabalho, um feriado, não posso ter paz? — ironiza. 
 
— Desse jeito parece que eu não trabalho. — reviro os olhos,
vou até o elevador e aperto o botão para descer. 
 
O maquinário faz um barulho alto, e ela aparece rápido ao meu
lado. 
 
— Diretor criativo? Seu trabalho é ter ideias e isso você tem
dormindo. 
 
— Esqueceu de uma coisa. — As portas de metal se fecham. —
O chefe sou eu. 
 
— Isso você não me deixa esquecer. — bufa e inclina o corpo
para o lado com um sorriso. Quer que eu a elogie? Vamos ver. 
 
Seu vestido é preto com vários rasgos, que destacam a sua
pele negra das coxas até a cintura, onde lantejoulas brancas fazem
meus olhos pararem primeiro nelas. Depois nos olhos claros,
pintados de preto, que a deixam daquele jeito sedutor que minha
redatora nunca abandona. Quer todas as mulheres olhando para
ela, na mesma proporção que olham para mim. O cabelo está preso
em uma trança alta e caprichada… e coloque capricho nisso, eu
esperei muito até ficar pronta.
 
Uma trança que logo seria desfeita. 
 
Seus olhos estão bem marcados por um delineador e a boca
dopada inteira de vinho. É, realmente ela está linda. 
 
— Está linda, Mor. — Elogio e ela dá de ombros. 
 
— Eu sei. — levanta o queixo convencida.
 
Então por que me pede para dizer?
 
O elevador toca Waltz in A Minor – Chopin, como sempre,
dominando o espaço. O som é limpo e elegante. A energia que
invade meu corpo e me faz arrepiar, todas às vezes, de emoção.
 
Eu amo piano.
 
— Em qual deles vamos dessa vez? — Morgan pergunta
animada, se referindo ao carro na garagem que escolhi. 
 
— Audi R8. 
 
— Hum. — resmunga e cruza os braços, fazendo mistério. Quer
que eu pergunte o motivo. 
 
— Por que "Hum"? — finjo que me interesso e soco as mãos
nos bolsos novamente. 
 
— Nós poderíamos ir uma vez com o meu. — exclama, como se
pudesse escolher. 
 
— Não. — Minha voz sai autoritária, mesmo que eu esteja
tranquilo. 
 
Essa raiva nunca vai passar? 
 
Abstinência do Vermelho. 
 
— Por que não? Tenho certeza que sempre deixa as pervertidas
com que sai escolherem o carro. — ironiza, tentando e conseguindo
me irritar, de novo. Já que minhas mãos coçam quentes pela
insistência. 
 
— Em primeiro lugar, elas gostam que eu escolha o carro. E, em
segundo, o seu é laranja — É louca se pensa que vou entrar numa
Fanta Laranja.
 
— Tá, você escolhe o carro. — bufa e revira os olhos. — Mas
vai me pagar uma garrafa depois pra compensar, Tigrão! – As
famosas apostas com o Troféu Alcoólico. 
 
Regras simples, eu diria, apenas encontrar algo para apostar e
o prêmio é álcool. É bobo, mas se colocado com o nome,
sentimento e dramatização certa, esse estilo de aposta nunca será
esquecido.
 
As aventuras de Tigrão e Alcoólica.
 
Até me divertem um pouco, tenho que admitir, mas não dura
muito tempo. 
 
 
O trajeto foi rápido se descontar a briga que tivemos para
escolher a música na playlist. Ainda não entendo como nos damos
tão bem no trabalho, mas para qualquer outra coisa brigamos tanto. 
 
Deve ser porque sou o chefe.
 
 
Chegamos na Mansão Scott, as colunas jônicas em mármore
chamam minha atenção por se igualarem a prédios quilométricos. 
 
Embora os outros associados gostem de ter motoristas, eu
sempre preferi dirigir, mas deixo o rapaz estacionar o carro e ajudo
Morgan a sair do Audi. Estendo o braço para que ela se junte a mim
mais uma vez nessa Chatice Scott, retribuo seu sorriso debochado e
entramos.
 
Como sempre, as luzes estão em falta. O vermelho e o preto
abundam, em comparação. As camas adornadas em seda
vermelha, onde os convidados não hesitam em deixar de lado a
moderação, contrastam no piso de mármore negro.
 
 
Morgan corre até o bar e me abandona, pelo meu inimigo mais
antigo, álcool. Essa mulher ama álcool e para embebedá-la são
necessários litros e litros. 
 
As bebidas criam um contraste sublime nas prateleiras com as
luzes da paleta vermelha. O contraste sobe até o teto, com o
material que, por aparência, se iguala ao mármore. 
 
Vermelho como sempre. Por que será? 
 
Os convidados, como de costume, vestem-se em gradações de
preto. São investidores, clientes, sócios, todos viciados em trabalho
e minissaias.
 
 Como se eu fosse diferente. Essa nunca foi uma festa de
negócios. 
 
Era e sempre foi uma diversão para a Dama Vermelha. 
 
Falando nisso… Scott, onde você está?
 
Um cheiro cítrico me atrai como por mágica e me vejo trocando
olhares com Sarah, a loira de olhos azuis penetrantes, que está
deslumbrante num vestido vermelho longo. O decote realça os seus
seios rijos, que se projetam para a frente de modo não natural, mas
formidável. A fenda da saia alcança o quadril, e deixa à mostra um
pedaço de pele lisa de sua virilha, ocultando todo o resto num jogo
de luz e sombra provocante.
 
Já consegui viver 90 dias sem ela. 
 
Ou, pelo menos, sem fodê-la. 
 
Sarah vem ao meu encontro, chamando a atenção de todos ao
redor ao desfilar pelo salão como um felino presunçoso. Abre os
braços, mostrando que não só domina aquele ambiente, como
também todos que ali estão presentes. 
 
— Trevor, tão elegantecomo sempre. — me dá um beijo
demorado na bochecha como forma de boas-vindas. — Vai
participar dos jogos, hoje? — Os lábios vermelhos sorriem,
observando a multidão. 
 
— Quer dizer seus jogos sexuais? Não, obrigado, prefiro ficar
no meu whisky — digo, perspicaz. 
 
— Ah! Veremos se sua resposta continuará a mesma até o final
da noite. — exclama, e traz o aperto de sua mão para o meu braço.
Respire fundo, existem no mínimo dez mulheres que podem
substituí-la nesse evento. 
 
Ela sai em direção a uma mesa, onde um grupo de pessoas se
revezam aspirando um pó branco como farinha. 
 
Rio com a comparação. 
 
Morgan volta do bar com uma vodka com limão e um whisky
para mim. 
 
— Duplo? 
 
— Seu whisky é sempre duplo. — Boa, redatora chefe. 
 
— Por que gosta tanto dessas festas? — pergunto e tomo um
gole. 
 
— E por que não gostaria? É cativante. — Como se tirasse do
bolso uma bala de menta e a colocasse na boca, Morgan coloca um
comprimidinho sobre a língua. 
 
— É sempre tudo tão... igual — explico, apático. 
 
— Quem sabe esse ano você não encontra uma "distração"
para deixar essas festas diferentes. 
 
— Parece início de clichê romântico. — Deixo escapar um
sorriso. 
 
Ela admira a multidão com a animação de uma criancinha
vendo o mar pela primeira vez. Ou talvez seja porque já está
alterada.
 
— Soube que a bolsista do processo seletivo vem para cá
amanhã, vai trabalhar no nosso departamento. — empurra com o
indicador o meu peito. — Se anima, vai, ela pode ser legal!
 
— A última estagiária que me apareceu foi uma alcoólica bonita
que compete comigo por outras mulheres bonitas. Desculpe, se não
estou ansioso por mais uma.
 
É por isso que minha relação com ela dá certo. Se pudesse ser
uma presa, já estaria aos prantos como a maioria, no final, sempre
fica.
 
— Eu não vou ser a única "estagiária" para sempre. — ela ri, e
sai em direção à mesma mesa de farinha. 
 
Preciso de distração. O tédio está voltando. 
 
Como se fosse obra do destino, uma mulher de cabelos negros
e olhos quase transparentes, vestida num tubinho de renda preta
debruça-se ao meu lado no balcão. 
 
— Me paga uma bebida? — pergunta com uma voz de
excitação e sua boca, cheia de gloss, sorri. 
 
Ela vai servir. 
 
— Pagaria, mas é open-bar, pode tomar quantas quiser.
 
— E quantas eu tomo de você? — Ela está bêbada ou é mais
promíscua do que eu. 
 
— Depende do quanto quer gritar. — respondo com o mesmo
sorriso de interesse. 
 
— Ah! Eu não acredito, o diretor criativo de cabelo castanho
bagunçado e de camisa branca está sorrindo? 
 
— Não é tão raro quanto imagina. Já sabe meu cargo e não sei
seu nome? 
 
— Alexa Lopes, mas me chama de Lex. — estende a mão. 
 
— Trevor White, me chame de Sr. White. — seguro com força
sua mão, e não por muito tempo, já que ela faz um caminho com os
dedos por cima da minha camisa. 
 
— Tudo bem, Sr. White. Me conta, você já se apaixonou? —
paixão faz mulheres morderem os lábios. 
 
— Amor é um slogan criado por homens como eu. — E rende
uma fortuna por ano. 
 
— Como assim? 
 
— Sabemos que hoje em dia, qualquer amor é mascarado
abusivo e recheado de mentiras.
 
— Bastava dizer que não. 
 
— Eu não disse que não. — deixo escapar um outro sorriso.
 
É muito capaz que eu tenha um instinto possessivo, apenas por
querer demais, ficar obcecado, em torná-la minha. 
 
Mas depois de quinze minutos perde a graça e "torná-la minha"
já não é tão atrativo. 
 
É como produto alimentício.
 
Seja minha, torta de avelã, me deixe te provar e sentir, mas
depois que acabar, me esqueça, porque preciso de outro sabor. 
 
É a verdadeira Propaganda Monótona. 
 
— Mais um drinque... na sua casa? — Ela já se cansou da
conversa?
 
— Na sua casa. — enfatizo. Não levo mulheres para minha
casa. A última que levei ficou comigo por dez anos.
 
Passo de forma discreta a mão pelo bolso da calça e consigo
sentir o volume do plástico laminado. Ótimo, não esqueci. 
 
Alexa puxa minha mão e a acompanho, consigo dar uma última
olhada no salão, dançarinas na luz colorida, investidores jurássicos,
mulheres dopadas e por fim, Scott, que me lança um olhar de cima
à baixo, mais julgadora do que júri de tribunal.
 
Não me critique, sabemos que já deveria ter seguido em frente. 
 
Dou uma piscada de provocação e ela sorri, o sorriso mais
raivoso que já tive o prazer de ver, mas não vou ceder a esses
joguinhos. 
 
Pelo menos não de novo. 
 
 
Mais tarde sinto o frio da madrugada e fico em total silêncio, na
cama pouco aconchegante da Alice? Alana? Esquece, não vou
lembrar. E também não quero, foi bem... mediano. 
 
Levanto devagar para evitar conversa, deixo suas roupas em
cima da cômoda e jogo fora o pacote da camisinha. Não gosto das
coisas desarrumadas. Penso em cozinhar algo, mas ainda são 3h
da manhã. Sinto muito, Aline. Não era esse nome também não! 
 
Quer saber, sinto muito, Mulher da letra A. 
 
Mais uma vez, nada de mudanças, e não é melhor? O luto me
faz odiar mudanças. 
 
Mas vai ser sempre assim? 
 
 
 Homem Troféu
 
 
Eu menti por você, amor
Morri por você, amor
Chorei por você, amor
Mas me diga o que você já fez por mim?
DONE FOR ME - CHARLIE PUTH
 
 
Novo. Parte inicial de um processo, ciclo, desenvolvimento ou algo
desconhecido. Mudanças são necessárias, e eu já as imploro há algum
tempo. Podem parecer repentinas, mas a vida não é feita para os
corajosos? Posso ter medo de trovões, porém não de viver. 
 
Caminho pelo longo piso do aeroporto, ouço minhas botas batendo
no chão e a cada passo me pergunto se foi uma boa ideia abandonar
toda a minha vida no Brasil por uma bolsa em Portugal. Mas meu
subconsciente, meu pior e melhor amigo, me lembra que a Scott Mídia
é o futuro. Já fantasio com as fotos da empresa na Internet há meses,
os anúncios, matérias, a criatividade, já nasci com a mente borbulhante
de ideias. 
 
Além de ser minha forma de escapar... de todo um sofrimento
misógino, a empresa é liderada por uma mulher. 
 
Tudo tem limite. Seis anos é o limite. 
 
Passo por um espelho e vejo meu vestido preto com as mangas
bufantes de bolinhas que sempre vão me definir, preto realça aquilo
que me faz parecer destemida e ousada, é o que preciso ser hoje.
Quanto ao meu cabelo, não me importei em deixar mais despojado,
mesmo que alguns achem que é bagunçado, na verdade é um estilo. 
 
Meu relógio avisa que é hora de tomar café assim que encontro a
entrada de uma cafeteria, meu corpo se mexe sem hesitar e quando
me dou conta já tenho um Leite de Canela em mãos.
 
Não me sinto um ser humano normal se não tomar minha dose
básica de leite, café e canela, ainda mais ao acordar. 
 
Continuo caminhando com a mala de rodinhas e avisto um homem
de altura mediana com um óculos de grau tão fraco que parece até de
brinquedo, sua feição parece de alguém sério, mesmo que jovial.
Sempre achei que o loiro deixasse as pessoas com aspecto jovial. 
 
Ele segura uma plaquinha escrito "ROSS", e fica claro que
encontrei meu guia. Já havíamos conversado por chamadas de vídeo
quando me mostrou o apartamento inteiro. Me senti naquele filme "O
amor não tira férias", em que as protagonistas trocam de casa por um
site. 
 
Estou acostumada a morar com homens, minha mãe morreu
quando era bem pequena, então sempre fui eu e meu pai. 
 
O jovial loiro acena e retribuo com um sorriso. 
 
— Miranda Ross? — ele pergunta aparentando estar ansioso, suas
mãos suam a placa de papelão e o cheiro condiz. 
 
— Mia Ross! Prazer, e você? — respondo, simpática. Miranda é
íntimo. Qualquer um me chama de Mia. 
 
O apelido não deveria ser algo íntimo? Ah! Não tente me entender. 
 
— Teodoro Cortez, chame de Ted, prazer em conhecê-la! Fui
designado para fazer seu tour pela empresa — ele se anima quando os
olhos verdes saltam de tamanho e sai andando rápido comigo
enlaçada. — Parabéns por ser vencedora da bolsa criativa Scott Mídia,
faz um tempo que não temos novos funcionários no seu
departamento... para falar a verdade, há uns 4 anos — ele informa e
me guia para o estacionamento. 
 
Quatroanos sem novos funcionários? Isso não é comum, será
alguma relutância? 
 
— Nossos chefes costumam ser bem exigentes, mas não deixe
isso te assustar. 
 
Chefes são como professores, os exigentes, são os que você mais
respeita e por consequência admira. Eles apenas nos testam até o
limite, e se amamos o que fazemos, isso não é um problema. 
 
A corrida nos leva para um carro preto, e ele faz a gentileza de
colocar minhas malas no porta-malas. O que me faz escapar um
sorrisinho por lembrar de minha pesquisa. Os portugueses consideram
o local de malas uma quinta porta no veículo. É quase como se
considerassem o bem material uma pessoa física! 
 
Após colocar as malas, logo me animo com o som de I Will Survive
- Gloria Gaynor que sai do rádio. 
 
— I WILL SURVIVE! — canto com a vozinha estridente e me
surpreendo com um sorriso por ele me copiar ao mesmo tempo.
 
Adorei o gosto musical. 
 
— Desculpe, sou o que dizem ser o estereótipo gay, não é? Viciado
em divas pop, porque até parece que se não gostasse, não seria. —
Então, ele é gay? Vai ser diferente do que morar com o militar nada
liberal. Além do mais, ele amar ou não divas pop não define em nada a
sua sexualidade, é só o gosto musical dele. Estereótipo são ideias
impregnadas na cabeça da maioria.
 
 
 — Fique à vontade para trocar a música. — Espero a voz de Gloria
terminar com glamour e vou explorando a playlist, ótimas escolhas,
parecidas com as minhas. 
 
Mordo o lábio ao encontrar meu cantor preferido. Escolho e o som
de Done For Me - Charlie Puth invade o veículo. 
 
Doce, Charlie. 
 
— E, então, Mia, preparada para ver o apartamento fora da telinha?
— pergunta sem desviar o olhar do trânsito. 
 
— Na verdade, muito, embora meu quarto esteja bem pelado. —
digo por que nas fotos as paredes brancas dominavam. 
 
Primeira vez morando longe da família, tem que ser uma boa
experiência e acredito que vá ser. O apartamento é lindo, piso e pedras
em mármore, a decoração em azul escuro e dourado com uma lareira
para me deixar mais quente do que minha pressão baixa. 
 
— Eu sei, por isso comprei algumas latas de tinta e pensei em
pintar nesse final de semana, pode fazer do jeito que quiser! 
 
Essa liberdade me assusta, deveria estar feliz por ter escolhas,
mas não cresci assim. 
 
— No Brasil, as casas têm mais ar-condicionado do que lareira, é
muito frio aqui? — digo ao sentir a pele arrepiar com a brisa fria. 
 
Pode ser apenas o clima, mas essa reação do meu corpo também
pode ser um sinal da rapidez com que estou mudando. Já que o
organismo sempre foi preso, é como animal de zoológico, se soltar na
selva, não sabe como agir e o medo o domina. 
 
— Não me tire de exemplo, sinto muito frio — entendo o que diz,
mas penso que deve ser estrangeiro, pois não tem o sotaque português
comum. 
 
 
 
— É estrangeiro? — solto meus pensamentos em voz. 
 
— Sou português, mas passei a maior parte da vida na América.
Voltei faz dois anos e ainda não consigo falar como eles. — ri consigo
mesmo. — Enfim, ainda não conheci nenhum bolsista que não seja
estrangeiro. Até mesmo a CEO é canadense. 
 
A CEO ser mulher é fantástico. 
 
Ainda não me acostumei com esse fato e nem a conheci, porém é
simples, como poderia não gostar de uma mulher tão poderosa? Posso
até não me tornar sua melhor amiga, mas a admiração predomina. 
 
— Bom, pelo menos não vou me sentir excluída. — penso alto,
aliviada por não ter que aturar piadas sobre meu sotaque.
 
— Não vai mesmo, você vai adorar a empresa... ou quem comanda
o seu departamento. — a voz que inicia receptiva termina com uma
mistura de malícia e mistério. 
 
Já estou preparada para um chefe velhinho, doce e risonho, na
banca de revistas onde trabalhava, ele era muito simpático. 
 
Se toque, Mia! Ele pode muito bem ser um velhinho amargo e
autoritário ou, talvez, bonito.
 
Chegamos ao ambiente que me causa calafrios de ansiedade e ele
me indica o retrovisor interno do carro. Acho que percebeu que eu
estava desarrumada demais para entrar. Enrolo o cabelo com a ponta
dos dedos e deixo minha boca com mais cor do batom rosé.
 
— Pronta? — sorri como se fôssemos nos aventurar com Indiana
Jones. 
 
— Nasci pronta! — deixo que a confiança me domine, mesmo que
meu corpo não esteja acostumado com sua presença. Ninguém precisa
me conhecer a fundo. 
 
Ao sair do veículo meus pés tocam o chão como se sentissem
grama molhada, pois me sinto fora do ninho. Levanto meu queixo e os
andares quilométricos são urbanos e requintados, o equivalente
perfeito das empresas que sonhava em trabalhar. 
 
Passo pelas portas gigantes de vidro com detalhes em mármore e
meus olhos se fascinam pela decoração escura e profissional adornada
em um luxuoso dourado. A recepção cheira a papel novinho devido a
quantidade de impressoras trabalhando como em Tempos Modernos
com Charlie Chaplin. 
 
Cheiro muitos livros... uma mania minha. 
 
Ainda é cedo, mas há muita gente por todos os lados. Alguns
apressados, outros relaxados sobre os sofás de couro em capitonê. O
local é repleto de vidro, é lógico que fosse bem luminoso, mas não que
fosse tão frio, meu corpo treme com o choque térmico pelo ar-
condicionado, e tudo já parece gelo puro, mas não apenas pela
temperatura. 
 
Ted é um guia de turismo que eu sigo como uma patinha, seu
caminho leva ao balcão azeviche da recepção, e eu me apresento. 
 
— Bom dia, Rose! Avise a Srta. Scott que a nova bolsista está
subindo. — me anuncia. 
 
A mulher ruiva com sardas, tatuagens minimalistas nas mãos e
braços me olha de cima à baixo, como se estivesse testando meu
valor. 
 
Estaria me testando para o quê? Ou melhor, para quem? 
 
Ganho um crachá, coloco sobre o pescoço e com a ponta dos
dedos sinto o relevo do meu nome no cartão. É oficial, eu trabalho aqui,
não há mais como voltar. A trilha nos leva para um elevador metálico
simples, mas ao redor muito decorado com elegância do cinza, preto e
o predominante dourado. Ele seleciona o nono andar e o som de Waltz
in A minor - Chopin em piano invade o espaço. Por um momento fecho
os olhos e deixo a música fisgar meu corpo. Eu realmente amo piano.
O cheiro que me controla se iguala ao nome da novela, Chocolate com
Pimenta, é doce, porém picante, como se nessa pequena lata tudo
pudesse acontecer, sem limites. 
 
Eu sempre fui limitada, chega disso, me deixe dopada de pimenta! 
 
Demoramos para chegar, e não sei se a culpa é minha por me
distrair com cheiros ou se é lento de propósito. 
 
O andar é repleto de detalhes vermelhos nas paredes, móveis e
quadros, há cadeiras de veludo branco e pinturas no estilo Pop Art.
Uma exposição de arte alugaria esse local por tamanha atenção que
rouba das pessoas que o cercam. O mármore do chão é branco
brilhante e até consigo ver meu reflexo se olhar de perto. É profissional
e bem mimado, como se um gatinho branco gordo de uma dama rica
morasse aqui dentro. 
 
O tempo de admiração se corta quando Ted se vira para mim
respirando fundo, fazendo um gesto para que eu o imite antes de
entrarmos na sala da chefe. Apesar de me sentir como uma grávida em
treinamento para o parto, e da vontade de rir dele, faço o mesmo. Ele
respira comigo, entra na sala e me apresenta. 
 
— Srta. Scott, a nova bolsista, Srta. Ross. — diz em um tom
recatado.
 
Me dá um empurrãozinho discreto e fecha a porta branca de luxo.
Me deixando sozinha com a CEO. Está tudo bem, Mia, chegou até aqui
não desista. 
 
A mulher quase albina está sentada numa poltrona de couro com
um óculos de leitura Marsala que a deixa muito atraente. Usa um
vestido vermelho e um salto muito alto, e mesmo eu sendo alta, perto
dela pareço menor. Suas mechas loiras são reluzentes e os olhos azuis
penetrantes analisam com vigor um documento. Fico imaginando o
quão difícil foi ocupar esse cargo de extremo poder nesse mundo
preconceituoso.
 
Ela é lindíssima.
 
Uma digna vilã de novela das nove. 
 
A sala é parte integrada do hall mimado, luxuosa, porém se
diferencia por excesso de vermelho. 
 
Avanço até a mesa de vidro e meus passosiniciam confiantes, mas
vacilam com a corrente de autoridade com que essa mulher me
envolve.
 
— Mia Ross, sou sua nova bolsista e estou aqui para o que a
senhorita julgar necessário — uso o tom autoconfiante e profissional. 
 
— Sê bem-vinda. O Sr. Cortez vai fazer um tour pela empresa para
que se acomode melhor, mas você trabalha no departamento criativo.
— afirma. 
 
Vejo em sua mesa um trenó branco e vermelho em miniatura com
as letras T e S gravadas... ela seria estrangeira também? Algum lugar
frio? Scott não é um sobrenome português. Ah, Ted disse que ela é
canadense em nossas chamadas, já ia me esquecendo. 
 
Mia! Está se distraindo! 
 
Sem nem desviar o olhar dos documentos espalhados pela mesa,
ela repara que ainda estou em pé na sua frente e decide como mudar
isso. 
 
— Já sabe onde é a porta. — indica a saída. 
 
Aí, que grossa! 
 
Agradeço, educada, mesmo sem ter certeza se me ouviu. 
 
Saio e Ted está parado no corredor com os dedos cruzados e olhos
apertados. Quase caio na risada, mas estou um pouco nervosa. Toco
em seu ombro para avisá-lo e ele me encara ansioso por minha
experiência.
 
— E aí, como foi? Se ela não olhou, tudo bem, significa que seu
emprego está de pé! — ele brinca. 
 
Sei que é brincadeira, mas deve ter fundo de verdade pela postura
dela. 
 
— Ela foi um pouco grossa, e disse que você vai fazer um tour
comigo. — abro e fecho os olhos rapidamente com um sorriso pedinte
para que realize. 
 
— Lógico! — ele me leva para o elevador. — Bom, temos muitas
paradas, então aperte os cintos. — Faço uma mímica na cintura como
um cinto de segurança e ele ri. 
 
Descemos até o primeiro andar e fomos subindo, são tantas
pessoas, mesas, conversas que até me sinto atordoada, apenas me
lembro do seguinte: 
 
Térreo: Atendimento
1° andar: Telemarketing e serviços com redes sociais 
2° andar: Várias salas de reunião e teste de mercado. 
3° andar: Escritores, assistentes administrativos e contabilidade. 
4° andar: Executivos de contas publicitárias 
5° andar: Departamento de Arte 
6° andar: Departamento de mídia, rádio e TV
7° andar: Redatores juniores e seniores
9° andar: Sarah Scott 
 
O que consegui usufruir do tour foi que a empresa é dividida em
duas partes importantes: Pesquisa e Planejamento. Devo tratar o
pessoal do telemarketing com carinho, pois são muito "negados". O 3°
andar é de finanças, são frios e bem calculistas. No departamento de
arte tomo cuidado com fotógrafos e cigarro. E as redatoras são
azedas. 
 
Por mais que minha cabeça esteja trabalhando como uma fábrica
para entender tudo, meu coração bombeia felicidade por estar no lugar
que sempre sonhei trabalhar. 
 
— Ah! Não esqueça de ser gentil com as secretárias, elas mandam
no resto do domínio de Scott White — alerta. 
 
O primeiro sobrenome entendi, mas o segundo? Ainda não
conheço.
 
— Vamos para a última parada, é onde vai passar a maioria do seu
tempo. — ele aperta pela última vez o botão luminoso. 
 
O andar tem um design totalmente diferente. Mais decorado em
madeira, mas não como uma floresta, é rebuscado. Embora ainda
permanecesse sóbrio, em tons de preto e cinza como a entrada. O piso
é de mármore negro, o que me deixa atordoada, pois as manchas
brancas parecem pedaços de nuvem desenhados na superfície
noturna. A luz é feita por lustres criativos em forma de pequenos
triângulos musicais, os quais me instigam a tocar e até me queimar por
serem tão lindos. 
 
Nunca vi tanto mármore em um lugar só, é fabuloso. 
 
As salas de vidro me cercam com sons de conversas e reuniões de
negócios, como em baladas musicais, mas por um momento tudo fica
em silêncio. 
 
Minha atenção e meu olhar são totalmente direcionados a um
homem pálido, alto e forte como um touro. Seus ombros são largos e
preenchem uma camisa branca que exala maestria e liberdade. Como
se fosse uma folha de papel que eu pudesse colorir e desenhar o que
quiser. É sinônimo de independência. Uma página que cobre um
peitoral digno de esculturas antigas por ser tão volumoso. Ele não usa
gravata, mas seus olhos são fundos, cansados, como se não dormisse
muito. O cabelo é castanho, bagunçado e charmoso, com fios que
incendeiam minhas mãos de ansiedade para mergulhá-los. E por fim,
me hipnotizo pela barba mal-feita no rosto bem desenhado e divago
poder senti-lo roçando em mim. 
 
Sinto cheiro de autoconfiança. 
 
Ele é lindo. 
 
Minhas bochechas tomam mais cor e temperatura, sou obrigada a
respirar mais fundo, e suporto meu busto subir e descer em câmera
lenta. É um impacto imediato. A pele, minha pele, está quente, sinto até
mesmo o suor escorrer por toda minha espinha. Meu Deus… que
visão. 
 
— Mia... Mia! — Ted estala os dedos diante dos meus olhos e
acordo. Chego a levantar meu próprio queixo, pois estava boquiaberta. 
 
Como conseguem trabalhar com esse homem? 
 
É possível que essa não seja a maior distração do mundo? 
 
— Desculpe, não dormi muito hoje. — tento disfarçar meu
comportamento completamente inadequado. 
 
— Você não dormiu muito hoje ou o Sr. White te distraiu? — ele
arqueia a sobrancelha com humor. 
 
Droga, ele percebeu. 
 
— Tudo bem, quem não tem uma queda por ele? Eu com certeza
tenho, mas posso te dar um conselho? É bom não chegar muito perto,
ele é o troféu da Loira Scott!
 
White? Branco... O trenó é branco, com a letra T, o nome dele se
inicia com essa letra? Eu amo nomes com T. Normalmente são fortes.
Fica óbvio que meu organismo gostou do que viu já que estou criando
teorias. 
 
— Ele não parece ser troféu de ninguém. — digo, como quem não
quer nada. 
 
Mas bem que poderia ser meu. 
 
O pensamento é inapropriado, então repito ao meu subconsciente
que o esqueça, mas acho que falhei, porque já estou fantasiando com
aquele homem. 
 
Ted continua guiando e me apresenta para uma mulher com pele
negra, cabelos cacheados num lindo rabo de cavalo e um vestido verde
extravagante que a deixa chamativa até mesmo em um desfile de
Carnaval. Ela se desencosta do balcão e dá uma corridinha até mim. 
 
— Bom dia, sê bem-vinda. Sou Morgan Johnson! — ela tem um
vozeirão, se não canta, deveria. Pagariam para ouvi-la. — Desculpe,
posso comentar? — quando dou conta, seus dedos estão apontando
para meu cabelo, sorrindo espontânea. — Seu cabelo é lindo — elogia,
esticando as mechas com as mãos para sentir o cheiro.
 
— Obrigada… prazer, sou Mia Ross. — agradeço sem jeito pelo
toque repentino. 
 
— Satisfação! Prazer só na cam… — Interrompe a própria frase e
não resisto em sorrir por imaginar o resto da sílaba — Enfim…
 
O Sr. White está se despedindo de um homem que aparenta ser
importante, e apenas por olhá-lo mais um segundo, reparo nas mangas
da camisa branca erguidas até os cotovelos que revelam os braços
robustos. Ele pode carregar qualquer coisa com esses músculos, até
mesmo a mim… e você quer isso, não é? Sua sem-vergonha! 
 
Sinto um frio na barriga insuportável, e preciso firmar minhas
pernas quando Ted me direciona para a atenção dele.
 
— Sr. White, essa é a nova bolsista do seu departamento — me
anuncia e passa pela minha cabeça por um milésimo de segundo que
esse homem pode mandar em mim.
 
Isso seria bom ou ruim? Bom porque eu obedeceria feliz da vida
com esse rostinho bonito, bem melhor do que um chefe idoso,
desculpe, Sr. Silva! Lembro do meu bico na banca de jornal. Mas seria
ruim por essa atração imediata que sinto não poder ser mútua entre
uma relação profissional.
 
Tomara que esse homem lindo não seja meu chefe! 
 
— Trevor White, diretor criativo. — ele diz, frio, olhando para mim
com aqueles olhos castanhos que me penetram. Sua voz é grossa e
soa como música aos meus ouvidos. Ordens com essa entonação
podem molhar mais que chuva. Ele estende a mão e seguro dócil, mas
ele me aperta firme. O que serve de combustível para me impedir de
cair do salto. 
 
Droga, ele é o chefe. 
 
E com a letra T... 
 
— Mia Ross — respondo, me recuperando rápido do efeito de seu
toque que me faz arrepiar inteirinha. 
 Princesa de Limão e Mel
 
 
Você é venenosa e eu seique isso é verdade
Todos os meus amigos acham que você é viciosa
E eles dizem que você é suspeita
I FEEL LIKE I'M DROWNING - TWO FEET
 
 
Princesa. Herdeira presuntiva de uma coroa, mais distinta e
excelente pessoa. Título glamoroso, realmente passa um ar de
realeza, não que princesas tenham de ser máquinas treinadas para
perfeição, mas admito que admiro a postura. Entretanto, agora vejo
um novo significado para Princesa.
 
Meu dia estava correndo exatamente como todos os outros 364
do ano. Morgan fez suas graças de sempre, me reuni com
dinossauros investidores, discutimos planos, verificamos ideias,
conferimos trabalhos antigos, expliquei tudo pela enésima vez, e
minha manhã tinha sido razoável. Até que a nova bolsista colocou
os pés no meu departamento e disse duas palavras que me
cativaram. 
 
Seu nome. Mia Ross. 
 
Repito várias vezes, e gosto do som que sai da minha boca.
Aquele anjo mal treinado usava um vestido preto provocante com
mangas bufantes de tirar o chapéu, os cabelos enrolados em uma
mistura castanha e mel caiam sobre os seus ombros. E a voz dela é
aliada da aparência, já que fez tamanho rebuliço com meu corpo
que, sem qualquer aviso, minha virilha reagiu numa ereção se
ajustando à calça com desconforto. 
 
Imagino - uma, duas, cinco, dez vezes - meu nome, alto e
ofegante, nos seus lábios rosados. Minha ereção pulsa, e meu peito
arqueja, cheio de ansiedade. 
 
Eu preciso que ela seja minha. 
 
No mínimo por 15 minutos. 
 
E não é sempre assim? Não é amor à primeira vista. 
 
É atração carnal à primeira vista, e que atração, Srta. Ross. 
 
Os olhinhos dela são de um passarinho novo explorando o
ambiente desconhecido, sedenta por novidades. Essa paixão não é
vista muito por aqui, apenas no olhar de bolsistas mesmo, porque
são o coração da empresa. Já que ainda não se mergulharam no
meu mundo fixo, confortável e rotineiro. Eles são determinados e
cheios de vida dispostos a conhecer tudo que o mundo tem a
oferecer. Até quebrarem a cara como eu.
 
Ouço minha porta bater com estrondo e já imagino a
extravagância de uma certa redatora. 
 
— Trevor! — A voz feminina interrompe meus pensamentos,
com aflição. Os olhos claros brilham febris e os tecidos
extravagantes contrastam na minha decoração.
 
— Morgan — ironizo.
 
— Ela é linda! O cabelo ondulado cheiroso, as roupas bufantes,
o rosto fino... 
 
— Uma princesa. — a palavra escapa dos meus lábios porque
realmente parece. 
 
Princesas usam vestidos bufantes, têm mechas perfeitas, pele
macia e cheiram a realeza e doçura. Ela é uma Princesa da Disney. 
 
— Ah! — Morgan faz um "O" com a boca, dá um sorrisinho
ridículo, e puxa uma cadeira para o meu lado. — Está chamando a
bolsista de Princesa? 
 
— Eu só juntei fatos. — afirmo, e dou de ombros.
 
— Sei, ela acabou de chegar! — alerta como se isso fosse
motivo para fazer minha atração sumir. 
 
— E daí? Ela arrepiou quando a cumprimentei. — uma pele
aveludada arrepiada, poderia fazer comercial da Pandora com
aquelas mãos e eu escreveria o slogan. 
 
— Mentira, você arrepiou e sentiu. — Sério isso? Ela não acha
que eu me iludiria a esse ponto, aquela mulher da realeza tremia as
pernas com meu toque. 
 
— Uhum. — resmungo para mim mesmo. 
 
— Trevor! Não quer passar uma impressão profissional? Ela vai
trabalhar aqui por no mínimo 4 anos... Trevor, está me ouvindo?
 
Foi uma apresentação breve, mas o jeito que caminha, a
animação de entrar nesse Castelo Scott White, aliás, apenas White.
Ela tem brilho nos olhos, pura paixão por criatividade, matérias, arte,
é o tipo de mulher que explico minhas ideias por horas. 
 
— Ela me lembra eu. — penso em voz alta. 
 
— Acho que ninguém é tão promíscuo e narcisista. — usa
sarcasmo como arma. 
 
— E que mulher não é promíscua comigo? — Às vezes eu amo
ser eu. Sorrio vitorioso.
 
— Exibido. — ela revira os olhos. — O cheiro do cabelo dela é
maravilhoso, senti de longe, Limão e Mel. — ela brinca com o
próprio cabelo imaginando ser o da bolsista. 
 
— Sentiu o cheiro do cabelo dela? — pergunto com um
desconforto no peito.
 
— Eu sei que você se interessou. — Seu sorriso exultante morre
aos poucos. — Bom, mas ela é minha. 
 
Sua imposição é tão inútil que chego a rir. 
 
— Como se tivesse chance. — solto a risada. 
 
— Bom, tenho sim. Eu conheço as mulheres melhor que você.
Pense nisso! — Seu argumento é até válido. 
 
— Ainda acho que não — Morgan fica irritada pela minha
confiança, mas o meu sorriso se torna malicioso e ela acompanha
minha mudança de humor com uma risada. — Vou propor uma
aposta — digo, porque ver Morgan se esforçar será divertido. —
Quem beijá-la primeiro, o Troféu Alcoólico será...
 
— Vodka! — exclama, mais rápido que eu, e cada vez mais
acho que ela tem que ir ao A.A. 
 
— Fechado, mas whisky pra mim — Ela aperta minha mão e sai
rindo da sala como se planejasse o ataque. 
 
Volto a pensar numa forma de conversar com aquela garota alta
e estonteante. Eu e ela só trocamos duas palavras, e essas sílabas
eram o nome dela, mas Morgan sentiu o cheiro de seu cabelo. Isso
me deixou invejoso. 
 
Sentir atração é sempre assim, fico obsessivo, compulsivo,
ansioso até conseguir dominar. 
 
Mas depois. Acaba, mais rápido do que relâmpago McQueen
em corrida da Copa Pistão. 
 
A não ser apenas por... 
 
Sarah, essa aí, me fisgou de jeito. 
 
Parecia que não acabava nunca, pensava comigo mesmo, mais
uma vez e vou enjoar. 
 
Pois é, eu tento até hoje. 
 
Quando envolve amor, as coisas são diferentes. Ela me ama
romanticamente, sei disso, e eu não a amo como ela merece, mas
isso não me impede de provocá-la às vezes. 
 
Sempre foi assim e vai continuar sendo assim.
 
Por dilema, você escolheria Lealdade ou Amor? 
 
Amor é um Slogan. Lealdade é Fascínio. 
 
Esse clima ridículo de término me abomina? Sim, mas não que
eu vá mudar de ideia por esse cabelo de Limão e Mel. 
 
Minha porta se abre novamente com três batidas. Pensando no
diabo... 
 
— Trevor? — os lábios vermelhos chamam. 
 
Respire, controle-se. 
 
— Sarah. — respondo sem desviar o olhar dos papéis. Ouço os
Saltos Everest tocarem o chão como música, ela coloca um papel
laminado sobre minha mesa, segura meu queixo com força e me
obriga a encará-la com os olhos azuis enormes. 
 
Sim, foi esse olhar que me fez amar todos os olhares
penetrantes. 
 
— Mais uma festa? — O Dia do Trabalho nem esfriou ainda. 
 
— Esse sábado. Quero dar as boas-vindas aos novos
funcionários — Tento com força, focar apenas nas suas palavras,
mas a cintura no vestido colado vermelho me fisga. 
 
— Vou considerar. — O que? Eu vou? 
 
Trevor, acorde! 
 
— Eu sei que vai. — larga meu queixo de forma dramática,
consigo manter a postura e me permito voltar a atenção aos papéis.
— Você sempre vai. — ela marcha em direção à porta, e por um
segundo meu corpo impõe que eu a observe sair. 
 
Mas que merda! Eu devo ser um cachorro mesmo, abanando o
rabinho para a Dama Vermelha, isso tem que acabar.
 
Eu prometo, Sarah. Esse domínio que acha que tem sobre mim,
vai sumir. 
 
Eu sempre acabo indo nessas festas porque alguém chamada
Morgan, me obriga. No entanto, penso por um segundo que a
Princesa de Limão e Mel é nova na empresa e vai ser convidada,
isso quer dizer que eu posso vê-la e descobrir se ela é tudo isso que
minha mente brilhante imagina. 
 
Algumas horas depois já estou desejando o rocambole da
avenida ao lado.
 
Almoço, Trevor. 
 
Você precisa comer. Acabo de analisar a redação criativa das
redatoras, e me divirto com algumas. Pelo menos isso, eu amo meu
trabalho.
 
Saio da minha sala e entrego algumas pastas para a secretária.
Essas mulheres que arrumam meus compromissos vêm e vão,
nunca lembro o nome. Morgan está inclinada no mesmo balcão,
provavelmente se incluindo nas minhas reuniões. Se ela não fosse
ótima no que faz, eu barraria. 
 
Ouço saltos baterem no chão de novo, mas são singelos,
simplórios, não são vermelhos, são de mel. Não restrinjo meu olhar
que vai direto na Srta. Ross. 
 
Analiso o seu corpo de cima à baixo. Botinhas pretasde couro,
as pernas lisas... e que pernas são essas? Confesso, adoro
mulheres altas, elas têm esse charme natural ao caminhar. O
vestido de mangas bufantes seria longo se ela tivesse um metro e
meio, mas não, a saia termina acima de seus joelhos e me imagino
dentro daquela fenda. Por favor, lojas de roupas, continuem fazendo
vestidos para o padrão de baixinhas, porque eu amo esse tecido
reduzido. A cintura é fina e bem definida, seus braços são delicados,
e os seios pequenos me causam ansiedade para senti-los contra o
meu peito. Sua postura é admirável, ombros eretos e tenho vontade
de mergulhar naquela clavícula, naquele pescoço, nessa boca
rosada e puxar esse cabelo perfeitinho enrolado com Limão e Mel. 
 
Nossa, isso foi profundo. 
 
Não tive muito tempo para observá-la na nossa conversa de
duas palavras. Ela é linda e com mulheres assim eu começo a
fantasiar na minha mesa, no sofá, no banheiro, no elevador e na
minha mesa de novo. 
 
— Se olhar mais, ela vai pedir uma ordem de restrição. —
Morgan ironiza.
 
— Como se não a tivesse secado a manhã toda — reviro os
olhos e ela ri. 
 
A minha Princesa está esperando alguém. Percebo por suas
pernas nuas cruzadas em cima da cadeira de veludo da recepção, e
suas mãos imperativas deixam claro a sua ansiedade. 
 
Mas quem ela está esperando, se não conhece ninguém? 
 
A resposta surge num homem mediano de óculos circulares e
camisa estampada. Ela se levanta, sorri, lhe dá um abraço, e
consigo ouvir só partes de sua conversa. 
 
Ela está namorando esse idiota? 
 
Ele não tem nada de especial, é como todos os outros.
Medíocre, sem sal. 
 
Não importa. Cedo ou tarde, ela vai ser minha. E, querida, vou
te fazer lembrar desses quinze minutos. 
 
Minha Princesa de Limão e Mel. 
 
 
O expediente terminou faz horas e me pergunto de novo, o que
estou fazendo com minha vida. Resolvi tomar um ar nessa noite
mais fria e peguei a cadeira principal em uma das salas de reunião
repletas de vidro. Esse horário é o próprio deserto, não vejo
nenhuma alma viva, e eu gosto assim. 
 
A imaginação é algo incrível, e simultaneamente bizarro. O fato
de não incluir regras, apenas sugestões, é libertador. É como a
literatura, não existe fórmula para a escrita de um livro, o autor é
quem dita as próprias regras. Se eu odeio, e acho letras minúsculas
fúteis e sem graça, eu uso maiúsculas. O. Quanto. Eu. Quiser. 
 
É possível, que eu esteja com o instinto ditador mais aguçado
em meio as letras, ideias, porque ou essas campanhas do andar
criativo estão péssimas, ou eu quero ditar regras para a nova
bolsista. 
 
— Sr. White. — me contenho, porque quase pulei da cadeira
com esse maldito susto. Ergo o olhar e vejo as mangas bufantes
com os cabelos de Mel em frente a porta.
 
O que ela faz aqui? São o que? 20:00h. 
 
Ela devia ter saído às 17:30h.
 
Não pense no que poderia ter acontecido, Trevor, pense no que
poderá fazer agora. 
 
— Desculpe interromper, acabei ficando um pouco encantada
com o lugar. — Vai ver o que eu vou encantar. Ela sorri com uma
voz de animação, e timidez ao mesmo tempo, acredito que seja
porque me vê como autoridade, e tem que ver mesmo. — Estudei
as campanhas, propagandas e alguns anúncios recentes que... 
 
— Vai ficar em pé? — interrompo, e ela arqueia a sobrancelha,
mas rapidamente puxa uma cadeira ao meu lado. 
 
Interessante, Srta. Ross. 
 
Você pensa, e se limita? Mulheres com pouca liberdade são
assim, mas tenho uma ótima notícia para ela. No mundo criativo,
não há limites, e vai poder fazer o que imaginou primeiro, sem
pensar em segunda opção. Não existe ideia ruim, e sim mal
desenvolvida. 
 
Gostaria de saber o que pensou quando levantou essa
sobrancelha. Me achou grosso? Minha voz te assusta? Ou excita? 
 
— Por que não publica temas diferentes? — questiona. Seus
dedos apertam o próprio pescoço como se sentisse a própria
temperatura. Está quente? 
 
— Como? 
 
— Dentro do que analisei, nenhum trabalho seu é sobre
cosméticos, beleza ou... 
 
— Coisas fúteis. — complemento. Arqueia de novo a
sobrancelha, não gosta quando a interrompo. 
 
Vai ser divertido te interromper dez ou quinze vezes por dia,
Princesa. 
 
— Acha beleza algo fútil? — sua frase tem um ar de
indignação. 
 
— Você não? — confesso, estou adorando provocá-la. 
 
— Não é o que seu cheiro de lavanda diz. — dá de ombros. Ela
sentiu meu cheiro.
 
Então a atração é mútua! 
 
— Eu acho que domina grande parte da economia mundial. —
Verídico. 
 
— Estou ouvindo.
 
Ela entrelaça as mãos, como se fosse se preparar para uma
apresentação musical, respira fundo e seus seios sobem como
balão de ar quente e descem como gráfico de início de ano. Morde
um pouco o lábio inferior e inicia o show. 
 
— Esse é o mês do Dia do Trabalho e não vi nenhuma matéria,
propaganda ou anúncio sobre a indústria de cosméticos, acho que
seria no mínimo bom a empresa comentar sobre e exaltar o tema. 
 
Aí, e essa bronca, Trevor? Verdade, não gosto muito da
indústria de cosméticos, é a Sarah que costumava me ajudar com
isso. 
 
— Tá. — concordo. 
 
— Tá? Você me ouviu, discordou ou... 
 
— Escreva uma introdução, traga até mim e, se a escrita for tão
boa quanto sua fala, podemos considerar algo novo para a clientela
de beleza fútil. — desenrolo a conversa, ela me escuta atenta, e por
fim, um sorriso por dar liberdade a ela. 
 
Um silêncio de segundos domina a sala, e fico na dúvida se me
entendeu. 
 
— Srta. Ross? — chamo. 
 
— Ah! Claro... Eu trago semana que vem. — ela se levanta,
parecia atordoada, mas isso não me impede de tentar com força
não prestar toda atenção na divisa entre suas coxas. 
 
— Seu cheiro também é bom. — digo sério, me arriscando com
a frase. 
 
— Limão e Mel, obrigada, Sr. White. — Suas bochechas se
avermelham, e não é por conta da maquiagem. 
 
— Disponha. — ela assente e sai com passos firmes da sala de
vidro. 
 
O saldo dessa conversa? É... eu quero demais mesmo. 
Sr. Perfeito White
 
 
Eu lambo meus lábios,
Depois de nos beijarmos como chocolate
Te quero na minha boca
Como um caramelo
Eu gosto de você
Eu gosto só de você
Você também quer o que eu quero
CHOCOLATE - ISABELA MERCED
 
 
Claustrofobia. Fobia situacional que envolve o medo de espaços
fechados ou confinados. Agradeço por não sentir esse medo, mas juro que
em momentos de pressão, minha mente só consegue pensar nessa
palavra. Elevadores são claustrofóbicos, não eu, porque talvez gostaria de
ser confinada com aquela maldita camisa branca. 
 
É assim que me sinto perto dele, pressionada, e talvez isso seja bom
em relação ao trabalho, pois vai me levar ao limite. No entanto, para os
meus pensamentos? É terrível. 
 
Eu quero. 
 
É
É errado. 
 
E por que eu tenho que fazer tudo certo? 
 
Mia, tente pensar em outra coisa. É só um homem. 
 
Um homem que ativa minha curiosidade quase patológica, mas preciso
contê-la.
Até porque morar em um país diferente por trabalho, não me dá muita
oportunidade de conhecer os lugares. Esse serviço exige demais, claro,
ainda mais se eu quiser chegar a ser redatora um dia. 
 
Por enquanto o que me incomodou foi o frio absurdo, e o fato de não ter
muito sobre beleza dentro da empresa. Achei que com uma mulher no
comando, seria mais... vaidosa, mas parece que me enganei. Trevor é
quem manda e aprova tudo na área criativa, e se ele não gosta, pelo visto
não é feito. E, ainda, ele não parece ter limites pela confiança que exala, o
que me faz pensar que ele não recebe ordens nem mesmo da Scott. 
 
Eu preciso e devo preferir focar mais nas minhas obrigações. Eu me
mudei para aprender, e se esse diretor criativo for só gostoso demais, eu
volto para o Brasil. 
 
Quanto a minha nova casa, olhando ao redor, preciso mesmo dar cor
para aquelas paredes. Embora meu pensamento estivesse dominado por
outra pintura com cheiro de Lavanda. 
 
Tiro as botinhas, o rabo de cavalo que fiz pelo cansaço, e minha bolsa
já carregada de trabalho. Jogo meu corpo sobre a cama e deixo que minhas
mãos alisem o lençol do colchão. 
 
Cansada. Eu estou cansadademais, preciso relaxar. 
 
Me perguntei quarenta vezes se deveria interrompê-lo naquela sala de
vidro, estava tão concentrado... Seus olhos eram raivosos, como se ditasse
regras aos papéis que lia. Aquela camisa não deveria ser tão atraente. Já vi
vários homens de roupa social, mas parece que todo esporte fino foi feito
sob medida para ele. 
 
"— Trevor White, diretor criativo." 
 
Ah, por favor, até parece que foi o primeiro homem bonito que já viu! 
 
Bonito é eufemismo... 
 
CHEFE! ELE É O CHEFE! 
 
O seu toque firme não abandona minha mente, apenas me deixa louca
fantasiando poder segurar aquele braço volumoso, protegido por aquela
maldita camisa branca, maldita porque me faz ter arrepios. Poder mergulhar
naquele cabelo aveludado, castanho bagunçado, eu bagunçaria sem limite
com meus dedos ansiosos. 
 
E o que ele faria? 
 
Diga para as minhas mãos ansiosas. Coçam, elas coçam para pensar
nele e liberar o prazer acumulado que estou sentindo. Entreabro as pernas
e consigo imaginar seu toque na minha coxa, aquelas mãos robustas
brincam com a minha pele, que está quente... está sempre quente. Nessa
altura já estaria arrepiada, meu coração bate com força, ansiosa, estou
ansiosa para sentir aquela barba mal-feita chegar pertinho do meu rosto. 
 
"— Mia, está gostando disso?" 
 
Sim... não pare, por favor... Trevor. 
 
Minhas mãos criam vida separada do meu corpo quando se atiçam ao
extremo, por imaginar a voz grossa dele balbuciar meu nome. 
 
"— Seu cheiro também é bom." 
 
Sua voz é tão excitante, autoritária, é música. 
 
Ele coloca uma mecha atrás da minha orelha com a ponta dos dedos e
causa arrepios por toda minha derme, se aproximando, perto, está há
poucos milímetros de distância das minhas bochechas coradas. Puxo a
gola de sua camisa e ele sorri surpreso pelo meu atrevimento, crava as
mãos na minha cintura apalpando com aqueles punhos de boxe, me
deixando a sua mercê, pronta para qualquer ordem quando roça seu rosto
no meu. 
 
Mais rápido, por favor! 
 
Ouço batidas na porta e meu movimento desliga, minha excitação
desliga, meu pensamento desliga. Meu Deus... estava tão bom. 
 
— Mia! Quer comer alguma coisa? — Ted grita da cozinha. 
 
— An… sim! Eu… já vou sair, só estou arrumando umas coisas, Ted. —
digo, pego uma almofada e a aperto contra o meu rosto, frustrada, por ter
sido interrompida com o Sr. White. 
 
Mulher, o homem nem sabe que você existe! 
 
 
Bom dia, eu. 
 
Fazia um longo tempo que não tinha um dia tão cheio como tive ontem.
Cheguei do maior voo da minha vida, conheci nove andares repletos de
personalidade e decorações de mármore, Ted me apresentou o novo
apartamento com a lareira, que por sinal é maravilhoso, e de bônus... fiz a
estreia do colchão. 
 
Quando acordei esta manhã rodeada por paredes nuas, meu anjo de
quarto me trouxe Leite de Canela e um Sonho de Creme, o chamado aqui
em Portugal de pequeno almoço. Prefiro café da manhã, mas vou me
acostumar. 
 
Fiquei agradecida por ele ter prestado atenção no que eu gosto de
comer, se mostrando simpático, mas disse ser tímido no trabalho. Estamos
nos conhecendo, eu poderia lhe dar um presente, algo como o pequeno
almoço, só que mais legal. Talvez um CD, ele tem pilhas de CDs, mesmo
ninguém mais usando isso. 
 
Talvez eu esteja animada demais, hoje quero impressionar. Coloquei
uma saia lápis e camisa preta. Está um pouco chuvoso, então optei por
minhas botas de salto alto. O cabelo eu deixei solto, pois uma mulher
precisa de suas armas à mão. 
 
Conversamos muito no caminho. Hoje, Ted está bem arrumado, já que
vai ter uma apresentação para um cliente grande, mas não deixa de usar
gravatas estampadas. Eu também vou ter uma apresentação... ou pelo
menos quero que o Sr. White me apresente o andar criativo. 
 
 
10h 
 
Terminei de analisar os gráficos para o Sr. White. Eram tantos arquivos
que meu cérebro quase teve um derrame, por isso aproveitei a pausa do
café para dar uma escapada rápida à loja de CDs. Acabei demorando, e
Deus, se alguém notasse minha ausência eu estaria morta! Ou pelo menos
eu acho, já que meu chefe e mentor de bolsa não me dá atenção. Voltei
correndo, e havia uma nova pilha de papéis sobre minha mesa. 
 
Meu Deus! Ele está me punindo? 
 
Não, ele pune a redatora chefe, eu sou apenas uma bolsista. 
 
Ia gostar de ser punida por ele, Ross? 
 
Termino a nova demanda, já no meu terceiro copo de café, que agora
acabou, mas tudo bem. A cafeteira fica próxima ao elevador, então
aproveitei para dar uma passada rápida no 6º andar e entregar o presente,
embrulhado com carinho. Saio da minha sala crua e sorrio para Morgan
dentro do vidro de alguma reunião. Ela está com um vestido azul escuro
com o cabelo solto hoje, muito elegante. Eu devo ser também. Todos nessa
empresa são extremamente elegantes. 
 
Quando me viro meu sorriso trava nos lábios, e morre aos poucos por
nervosismo. O diretor criativo. Trevor. Sr. Perfeito White, porque suas
campanhas, matérias e textos não tem nenhum errinho, ele é um
perfeccionista.
 
Já deu apelido para ele, Mia?
 
Estou perdida mesmo. As mãos firmes socam os bolsos enquanto deixa
o queixo bem erguido. Ele é o auge da confiança. Me imagino de novo
pertinho do seu rosto de barba mal feita, e minha mente implora para que
ele me aperte, com toda a força que essa camisa de mangas brancas
arregaçadas consiga apertar. 
 
Mantenha a calma, Ross, está trabalhando muito bem até agora, não vá
estragar tudo. 
 
Ele é seu chefe. Só o chefe. 
 
Perfeito, mas seu chefe. 
 
— Você vai ficar parada? — ele pergunta arrogante, quase como se
ordenasse uma resposta.
 
Quando me dou conta, estou parada, mergulhada nas sensações que
esse homem me causa, paralisada. Mia, mexa-se! 
 
— Segure o elevador, por favor! — grito e corro para caixa de metal. 
 
— Eu fiz isso por uns dois minutos. — sorri vitorioso como se tivesse
conseguido me atingir. E, bem... conseguiu. 
 
Entro apressada, mas ele não se afasta do lugar onde está. Fico
encarcerada entre seu corpo forte e as portas atrás de mim. Consigo até
sentir sua respiração em meu rosto. Consigo até sentir seu cheiro, tão sutil
e sexy. É Lavanda, com mais algo doce... parece até avelã. Consigo até
mesmo ver as nuances de cor de seu cabelo sob a luz fortíssima. 
 
Por que estou tão perto dele? 
 
Por quê.
Estou.
Tão.
Perto.
Dele?
 
Não paro de olhar para cima e, francamente, é uma tortura. Não só
porque a luz é forte, mas porque não olhar para essa magnificência em
forma de homem... Senhor, dói demais. 
 
— Pode apertar o nono andar? — ele pede, não é só um pedido, ele
está humorizando. 
 
Claro que ele vai no andar da Loira Scott, bem que Ted avisou que ele é
o Homem Troféu dela. 
 
— Você está mais perto. — a entonação em minha voz é raivosa, mexo
as mãos esticando os dedos para manter a calma. Imaginá-lo tocando-a,
me deixa irritada, porque é isso que eu mais desejo. 
 
Isso não é possível. Eu não posso sentir essa repulsa, é absurdo, o
conheci faz menos de 48h, e nem me dá atenção, mas quando dá... Mia!
Isso é loucura, com certeza maluquice. 
 
Como pode, se não troquei 2 palavras com ele? 
 
— Acho que está mais perto — firma a voz, porém a frase mantém o
tom de humor. 
 
— Pois eu tenho certeza que você está mais perto. — digo, forçando
uma curiosidade inocente, para ver o que ele vai fazer. 
 
Trevor se inclina para direita e aperta o botão do elevador. Não percebi,
mas enquanto ele executava a ação estava prendendo a respiração.
Pensou que ele fosse te beijar, mulher? Eu ando lendo muitos livros de
romance. 
 
— Está com pressa? — ele pergunta, com uma voz mais baixa que
ressoa perto dos meus ouvidos. 
 
Ah! Esse sim é o sotaque português... Deus, como é gostoso de ouvir.
Espera. O que ele está fazendo? E por que esse elevador está demorando
tanto? Percebo que voltamos ao quarto andar e agora subindo. Elevador
ridículo. É ridículo porque quer me deixa vulnerável… metade de mim quer
que ele me atacasse e a outra apenas quer fugir dessa pressão. 
 
— Não, tenho claustrofobia — ironizo.Senhor, eu disse isso? 
 
— Eu conheço um lugar maior para você se aliviar. — Essa frase. Essa
frase me obrigou a encará-lo e ver o sorriso malicioso estampado em seus
lábios.
 
As palavras flutuam pelo espaço ao mesmo tempo que o elevador para.
Ele mantém a malícia. E então sai. 
 
Não acredito que ele disse aquilo! 
 
Começo a pensar em como aquele diretor criativo poderia me aliviar.
Meu corpo ferve como bule de chá. Minha respiração se acelera, estou
suada, suor puro, e depois que ele sai, dou uma sacudida para estabilizar
meu corpo após o ataque. Ataque White. Proíbo meu subconsciente de ter
esses pensamentos impudicos, pois quero causar uma boa impressão.
Chego ao oitavo andar e caminho para a minha sala o mais rápido que
posso sem parecer desesperada. 
 
— Mia! — Morgan grita, sou obrigada travar o corpo e a mini maratona
e ir atendê-la ao invés de ir me recompor. 
 
— Oi, Morgan. — sorrio.
 
— Pode me chamar de Mor. Trevor, vulgo diretor criativo é muito
ocupado, ou pelo menos é o que ele insiste em dizer. Por isso pensei ser
uma boa ideia te apresentar o andar criativo. — sua voz está diferente, mais
atenciosa. — O que me diz? — seus dedos tocam meu cabelo como
quando nos conhecemos. 
 
— Ah... claro. — respondo sem pensar muito. Seu rosto é tão marcante,
lábios cintilantes, olhos claros que contrastam com a pele negra de forma
surreal. Ela é linda, entendo por que Trevor vive colado com ela. Estou
ficando confusa, ele está com a Mor? Ou a Scott?
 
— Me siga. — ela estende o braço como se quisesse que eu me
enroscasse. Ela exala um ar tão amigável que a obedeço quase que de
forma automática. 
 
Ela apresenta as salas e explica o processo em toda a empresa até que
o produto chegue aos olhos do público. Por suas palavras cativantes,
entendi que o andar criativo comanda os outros, já que a ideia é feita aqui,
e os outros departamentos dão vida a ela, mas apenas se o diretor criativo
aprovar. Ela me olha diferente, não como minhas amigas costumam falar
comigo, parece me dar muito mais atenção do que para outras pessoas. 
 
— Tem alguma dúvida, antes de continuarmos? — pergunta gentil com
um sorriso exultante. 
 
— Morgan! — ouço uma voz masculina exclamar, e ela pula como se
fosse pega roubando doce de loja. E o homem da camisa branca aparece
ao nosso lado, aflito. — O que está fazendo? — ele sorri forçado. 
 
— Eu? Estou apenas apresentando o andar pra Mia. Já até começamos
a nos chamar por apelido — diz em tom provocativo, o que me faz franzir o
cenho.
 
O que é que está acontecendo aqui?
 
— Ela disse que estava ocupado. — complemento com os dedos em
minha nuca. Encarando-o sem jeito. 
 
Sem jeito porque uma hora atrás estava implorando aos santos que ele
me jogasse naquela parede metálica. 
 
— O que? Não mesmo, eu posso mostrar tudo que quiser. — seus
olhos castanhos se restringem apenas a mim. A voz dele está mais atraente
do que o normal, e já sou bem atraída pelo comum. Ele quer me mostrar o
andar? Só eu e ele? — Tudo mesmo. — completa, quando percebe que
não o respondi, eu devo estar vermelha, corando, não é possível. 
 
— Não vai ser necessário. Eu e a Mia já estamos terminando nosso
tour e nos conhecendo melhor inclusive! — ela acrescenta e assinto. 
 
— Mia. — Ah, não fale meu nome, eu já estou vermelha. — Sabe o que
é melhor do que teoria? 
 
— Prática. — afirmo. 
 
— Boa garota! Por que você não substitui a Mor na minha próxima
reunião? Quer entender do andar criativo, nada seria melhor do que uma
reunião criativa! — ele arqueia a sobrancelha com um sorriso de canto
espetacular. Como dizer não a isso? 
 
— Seria incrível! — exclamo. Sempre quis participar de uma reunião
com clientes das marcas que vejo por todos os lugares. — Qual será minha
função? Posso fazer tudo o que o senhor julgar necessário, aprendo
rápido! 
 
— Tudo mesmo? — questiona e fico sem resposta. Sim, eu posso fazer
tudo, mas sua voz tem um tom promíscuo. 
 
— Trapaceiro. — Morgan murmura, revirando os olhos.
 
— O que disse, Johnson? — ele questiona. 
 
— Nada. — a alegria dela murcha. — Bom, Mia. Foi ótimo passar um
tempo com você. — ela se aproxima, beija o meu rosto de forma demorada
enquanto entrega uma das mãos a minha nuca, enchendo os dedos com
meu cabelo. — Você é extremamente cheirosa. — elogia, ousada.
 
— Obrigada. — sorrio envergonhada. 
 
— Chega, não é mesmo? Acho que essa Morgan tem muita coisa para
escrever. — ela o encara com ódio, e ele parece estar achando divertido. 
 
Assim que ela sai e me deixa sozinha com ele, penso como isso foi no
mínimo estranho, pelo menos para mim.
 
— Mia é seu apelido, e o nome inteiro? — pergunta. Ele quer me
chamar pelo meu nome inteiro? Só meu pai me chama assim. 
 
— Miranda. — murmuro. 
 
— Lindo nome. 
 
— Obrigada. Quando é a reunião? — tento mudar de assunto, pois não
posso ficar babando assim. 
 
— Você gosta de chocolate? — ele sorri. 
 
— Sim, mas o que isso tem a ver? — Me confundo com a mudança
repentina, mas finalizo firme, querendo focar no trabalho.
 
— A marca da reunião é minha conta há anos, se chama Feitoria do
Cacao, o chocolate mais bem produzido de Portugal. — os olhos dele
chegam a brilhar e os gestos enquanto diz mostram o orgulho do próprio
trabalho. Eu não conheço a marca, mas parece ser uma espécie de Cacau
Show portuguesa. 
 
— Humm... deve ser uma delícia. — resmungo imaginando o novo
sabor.
 
— Vamos ver. — ele toca levemente minhas costas e me guia até o
balcão da secretária. Tira o quadradinho embalado de dentro de uma jarra
de vidro e me entrega. — É todo seu. 
 
A embalagem é minimalista, fundo branco, detalhes azuis nas pontas e
a logo da marca. Tiro o papel e provo logo metade. Enquanto faço, ele
estava comentando com a secretária sobre alguns compromissos, estava
porque agora me olha concentrado, enquanto chupo os dedos que se
sujaram e lhe entrego o resto do chocolate.
 
— Você come assim? — ele segura a embalagem e indica os meus
lábios, boquiaberto. 
 
— Tem outro jeito? É muito bom, aliás. 
 
— É diferente, parece mesmo uma... — ele se restringe. — Uma
funcionária apta a entrar na reunião comigo agora. — ele come o resto do
chocolate, ainda vidrado em minha boca.
 
— Isso mesmo. — O que ele ia dizer? 
 
Alguns minutos depois, fico em frente o balcão esperando que ele traga
o cliente da marca. 
 
— Ele está sorrindo demais pra você. — a secretária sem nome afirma. 
 
— O que? — questiono. 
 
— Ele te quer. — diz entre dentes. 
 
Como se fosse contato via bluetooth, minhas bochechas
automaticamente ficam quentes e vejo o rubor pelo reflexo de um dos
vidros do andar. 
 
— Todas ficam assim — ela aponta para o meu rosto e ri. 
 
— Eu não me mudei do meu país pensando nisso. — passo os dedos
por minha pele avermelhada tentando me normalizar. 
 
— Vamos ver quanto tempo resiste. — desafia. 
 
Análise Ross: Trevor, meu chefe, é irônico, sarcástico, babaca, e
exibido, mas também vive no corpo de um Deus da Grécia antiga, é
extremamente inteligente no trabalho e as contas que consegui observar
têm slogans fantásticos. 
 
Conclusão: Ninguém diz não a ele. 
 
Nem mesmo a própria CEO, lindíssima vilã de novela, disse não. 
 
E como ele reagiria a um "Não"? Entre todo aquele rosto esculpido por
Michelangelo, ele estaria com raiva? Mais excitado? Se sentiria desafiado? 
 
Minha curiosidade é, literalmente, patológica. 
 
Ouço o som do elevador se abrir, e o vejo com um sorriso exultante
acompanhar um homem pequeno e barrigudinho, junto à uma mulher alta e
séria com o coque preto bem feito. 
 
Eu tenho certeza que esse sorriso é de interesse. 
 
Ele faz um gesto com a cabeça olhando para mim, e não consigo
entender. Ele arqueia a sobrancelha e repete o gesto, o que ele quer? 
 
— Você vai vir? Ou quer que te puxe pela mão? — Certo. Ou ele tem
um jeito terrivelmente babaca de mostrar que me quer ou ele não me quer. 
 
Reunião. Pense na merda da reunião. 
 
Me apresso pela sua arrogância e entro na sala com alguns
funcionários, acredito que um de cada departamento.Sou observada, e
talvez julgada, por todos como se eu não pudesse estar aqui. 
 
Estava tranquila até que meu corpo estremece com o toque do meu
chefe em minhas costas que me guia para o olhar dos clientes. É como se a
mão dele queimasse minha roupa, mais um toque com ou sem aviso e eu já
vou suar novamente. 
 
— Essa é minha bolsista, Miranda Ross. — apresenta. 
 
— Muito praz... Satisfação! — aperto a mão da mulher elegante e do
senhorzinho. 
 
— Bolsista? E isso ainda existe aqui? Os últimos não foram você e a
Sarah? Pensando nela, onde está? — o homem gosta de perguntas. 
 
— Resolvi abrir o processo esse ano, tenho precisado de distrações,
Michel. — responde atento, e me indica a cadeira principal ao seu lado. —
Fomos os últimos bolsistas sim, e a Sarah está bem. — Ele fala com
profissionalismo, mas se enrola ao falar o nome dela. 
 
— E vocês dois? — Michel parece jornalista de fofoca. 
 
— Bem. Bem próximos e bem separados. — Essa frase é um paradoxo.
— Me diga, Michel. Em que minha equipe pode lhe servir? 
 
— Quero mudanças! Chega da mesma coisa! — ele exclama e bate na
mesa. Ele é excêntrico e bem extrovertido, gosto desse estilo. 
 
— O seu chocolate é antiquado e elegante, as pessoas compram quase
pelo fato de lembrar matéria de história de escola, por que mudar? — E
Trevor, parece não gostar de mudanças. 
 
— É chato, hoje em dia, as pessoas ficam horas vidradas em uma
telinha com luz piscando do TikPic! 
 
— TikTok, Michel. — a mulher ao lado complementa, acredito que seja
a filha dele. 
 
— Isso. Esse aplicativo fatura milhões, eu quero uma embalagem,
campanha, anúncio, quero outdoor moderno, quero que as pessoas
comprem e fiquem encantadas. — É uma boa ideia, mas arriscada. 
 
— É um risco alto para sua empresa que já fatura muito anualmente
com identidade própria... 
 
Trevor explica as hipóteses em gráficos, materiais de pesquisa, e testes
de mercado jogados por toda a mesa. A voz dele é muito persuasiva, é
mesmo difícil dizer não. Essa reunião é o que eu estudei na faculdade, as
ideias loucas de clientes que precisamos agradar e trazer para o real que
pode ser feito. Acredito que a campanha já esteja ótima, no entanto, a
publicidade está em constante mudança, ou você se adapta, ou fica de fora.
White se pronuncia várias vezes, ele tem um carisma natural de comando,
e chego a invejar a autoconfiança. O que ele diz, é lei, e até mesmo esse
velho endinheirado o ouve com deferência. 
 
Faço mais uma anotação em um bloco Azul Royal que estava em frente
ao meu lugar, não trouxe o iPad, mas não poderia deixar de anotar essas
informações. Escrevo mais uma linha e minha mão trava no meio de um
afrontamento. Não percebi, mas estava balançando a perna com
nervosismo. Estava, porque agora ele coloca a mão sobre meu joelho, para
proibir meu movimento frenético, e não só meus membros tremem, mas
meu corpo inteiro. 
 
Conto até 3.000 para não enlouquecer. Mas é inútil, e meu corpo reage
arrepiando. 
 
Minha temperatura se eleva. 40, não, 100Cº. 
 
Eu não posso deixá-lo fazer isso.
 
Posso sim, está tão bom.
 
Mia! Não posso! 
 
Vou tirar a mão dele. Tento, e parece que minhas mãos não fazem o
que eu quero, porque na verdade meu desejo era que subisse mais... Mia!
Coloco meus dedos sobre a mão dele e ele age como se eu o convidasse
para entrar e sobe mais. Deus. Ele comanda a reunião e ainda me deixa
louca. Controle-se! Respire. Me forço a encarar um ponto fixo e me deixo
viajar a volta ao mundo em 80 dias, só que muito mais rápido e excitante.
 
Caminho os dedos por cima de seu braço na expectativa de que ele se
limite, mas seu movimento aumenta quando afronta o cliente com um
argumento. Mas essa voz é tão... meu corpo não é mais meu, estou de
volta aos lençóis de ontem a noite em que ele me tocava e me permito com
um movimento simples levantar minha saia, lhe dando mais liberdade e ao
meio das palavras de militância do dono da marca de chocolate, ele sorri.
Ele sorriu? É um sorriso vitorioso. Suas mãos esquecem por um momento o
tecido da minha calcinha úmida e apertam com força bruta minha coxa. 
 
— Aah! — gemo, ofegante com o aperto e meu rosto se torna uma
pimenta estilo dragão, quando todos na mesa se silenciam e olham para
mim. 
 
— Srta. Ross? — Trevor dirige o olhar franzindo o cenho com o
sorrisinho de canto, como se me dissesse "invente algo". 
 
— Estou bem. — tusso forçadamente. — Estou me acostumando com o
clima frio europeu. — sorrio. 
 
— Não é tão frio quanto imagina, existem lugares mais quentes. —
Tudo que ele diz tem duplo sentido, Senhor! 
 
Ele empurra para trás a cadeira e guia o cliente até a porta. Espera! O
que? Acabou? Eu não prestei atenção em nada! Ou pelo menos enquanto
estava sendo tocada... O que?! Eu não acredito. 
 
— Michel, vamos considerar sua proposta, e fazer algo novo, mas com
base na história magnífica do seu chocolate. Pode entrar em contato com a
minha redatora chefe, caso precise de algo. 
 
— É sempre ótimo te ver, Sr. Branco. — ele brinca com o sobrenome de
Trevor e sai em direção ao elevador. 
 
Todos os funcionários saem da sala, e resta eu, ainda tentando me
recuperar desse maldito efeito. Sacudo as mãos abaixo da mesa e finjo
escrever algo no bloco para ter um motivo para estar sentada nessa
cadeira, quando ouço a voz do diretor. 
 
— O bloco é meu. Tudo no Azul Royal é meu. — mordo o lábio com
força, sem conseguir olhá-lo nos olhos. — Mas tudo bem, pode ficar, me
devolve depois. São boas anotações, pena que se distraiu. — ironiza. 
 
EU ME DISTRAI? 
 
Tomo coragem e me viro para observá-lo de cima a baixo. Todo o seu
corpo ridículo de gostoso... Mia! Apenas ridículo, ele é ridículo. Transfiro
ódio por ELE ter me distraído e ele parece se divertir com minha feição
irritada. E então se inclina, tão perto de mim que consigo sentir sua
respiração no meu rosto. 
 
— Espero que essa sala não seja tão pequena para atacar sua
claustrofobia — Ele ergue os lábios num sorriso de canto que quase me faz
querer montar nele. 
 
— Hum. — resmungo, brava pela referência irônica, mas ainda quente
pelo seu toque. 
 
— Vamos nos divertir nessa bolsa, Srta. Ross. — diz promíscuo, e sai
da sala. 
 
 
Até o meio-dia tento com força esquecer o atrevimento puro que foi
aquela reunião, meu pai havia me alertado que essa empresa era diferente,
mas não imaginei que fosse assim. Ele já veio para Portugal diversas vezes
e sempre foi muito influente. 
 
Conheci um restaurante simples na rua ao lado, quando almocei com
Ted e mais alguns colegas que não conhecia antes. O tema da conversa
girou em torno do Sr. White e da Srta. Scott. Queria perguntar qual é a
deles, mas prefiro não arriscar me denunciar. É melhor meu desejo por ele
passar despercebido, se eu quiser permanecer por aqui um longo tempo, e
não posso perder meus planos de vista por causa de um desejo louco pelo
Sr. Perfeito White. 
 
Volto para a minha sala logo em seguida, onde fico entulhada de
trabalho até o fim do expediente. 
 
São 18:30 e já estou atrasada para sair de novo. As pessoas normais
não ficam ansiosas para sair e relaxar depois do trabalho? Eu deveria ser
assim. Arrumo minhas coisas e me assusto de novo com a voz do ridículo. 
 
— Me deve uma resposta — Prefiro nem me virar para observá-lo, ele
também é viciado em trabalho? E o fato da minha sala ser colada na dele,
lhe dá liberdade para vir quando quiser. Minha pele arrepia inteirinha como
se eu tivesse ingerido algo estranho, é a reação absurda do meu corpo que
já está reconhecendo a presença do que lhe fez sentir prazer há horas
atrás. Por favor, Mia! 
 
Vai suar de novo? Fraca. 
 
— O que disse? — pergunto, e não resisto em me virar. Chega a ser
absurdo como minha mente pensa e meu corpo se comporta. Quero entrar
no jogo dele, não veio aqui apenas para me perguntar aquilo. E minha
razão aumenta quando ele se aproxima com passos lentos, porém firmes. A
sala não é tão pequena, mas com essa entrada me sinto literalmente
claustrofóbica, apenas ele está ali. Dominando todo o

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