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1Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Te or ia G er al da C on st it ui çã o e D ir ei to s Fu nd am en ta is 2 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais CHANCELER MARIA ALICE VILELA LINS REITORIA GISELE VILELA LINS MARANHÃO VICE-REITORIA KARLA LILIAN MAGALHÃES PEDROSA PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO VITÂNGELO PLANTAMURA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO, COMUNIDADE E CULTURA JANAÍNA MACIEL BRAGA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CLEUCILIZ MAGALHÃES SANTANA Este material didático foi desenvolvido pelo Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da Universidade Nilton Lins GESTORES DO NEAD (NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA) LÍGIA LEINDECKER FUTTERLEIB JOSÉ ANTÔNIO FUTTERLEIB EQUIPE MULTIDISCIPLINAR CHARLENE DOS SANTOS ERIVAN CHAVES DOS SANTOS KAREN KOGA PRESTES LEON FERREIRA SARMENTO MARCELE SANTOS ALCÂNTARA MARTA ANDRAIA PABLO RODRIGUEs UNIVERSIDADE NILTON LINS Avenida Professor Ni l ton Lins , nº 3259 Parque das Laranjeiras Manaus - Amazonas Home Page: www.ni l tonl ins .com.br AUTOR: ALESSANDRO BATISTA BRAGA 3Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais AUTOR: ALESSANDRO BATISTA BRAGA 4 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Sumário Perspectiva Histórica 6 Histórico das Constituições Brasileiras 11 Conceito de constituição e fontes do direito constitucional 19 Classificação das constituições 21 Normas constitucionais 25 Direitos e garantias fundamentais 31 Direitos e garantias fundamentais em espécie 43 Imagens 64 5Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais A Constituição Federal de 1988 é o documento que engloba as atuais leis, regras e normas da República Federativa do Brasil. Conceito de DIREITO CONSTITUCIONAL Direito Constitucional é o ramo do estudo jurídico dedicado à estrutura bási- ca do ordenamento normativo. O objeto imediato do Direito Constitucional é a Constituição Federal, buscan- do-se compreender em que consiste, como ela é, quais suas funções. A constituição assume a missão de organizar a sociedade, especialmente em sua feição política. É o estatuto do poder e o instrumento jurídico que garante à sociedade proteção contra eventual abuso de poder. É, também, onde são expressas as reivindicações da vida em coletividade e se retratam os princípios que servem de guia normativo para a consecução do bem comum. Imagem 01 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 6 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Europa, desenhada pelo cartógrafo antuérpio Abraham Ortelius em 1595 Perspectiva Histórica Europa Surgimento da limitação ao poder absolu- to. Antes, cabia ao soberano (Rei) dispor de assun- tos da soberania, como legislar, declarar a guer- ra e firmar a paz, decidir em última instância as controvérsias entre os súditos, nomear magistrados e tributar. Imagem 02 7Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Thomas Hobbes (1588-1679) foi um filósofo e teórico político importante, autor de Leviatã (1651) e Do Cidadão (1642). A primeira obra de relevo é publicada na Inglaterra, por Thomas Hobbes que em 1651 escreve O Leviatã, inspirado pelos acontecimentos ocorridos em 1649. Su- gere que o poder tem uma origem, não mais na natureza, mas sim em uma lei funda- mental, que regulamenta os poderes do soberano. Adiante, surge o Bill of Rights, fruto da revolução gloriosa, onde o Parlamento marca o caminho para a posição de supremacia, em contrapeso à Coroa, fixando a titularidade do rei no executivo, resguardando o poder de legislar ao parlamento. Imagem 03 https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_dos_direitos_dos_cidad%C3%A3os https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_dos_direitos_dos_cidad%C3%A3os https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Gloriosa https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Gloriosa 8 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais John Locke (1632-1704) é considerado um dos maiores filósofos da sua época, Exerceu muita influência em defesa da monarquia constitucional e em oposição ao absolutismo inglês. É quando John Locke publica o Segundo Tratado do Governo Civil, em 1690, dispondo que o poder deveria ser exercido para o bem geral da comuni- dade, buscando garantir condições pro- pícias à paz e ao gozo da propriedade. Para Locke, o legislador não cria direitos, mas aperfeiçoa a sua tutela, supondo que estes direitos preexistem no Estado, daí resultando que o Poder Público não pode agir arbitrariamente para atingir a vida e a propriedade dos indivíduos. É quando é concebida a ideia da divisão dos poderes como meio de proteção dos valores da sociedade política, apesar de ainda não se falar em judiciário como um poder in- dependente. Imagem 05 Charles-Louis de Secondat (1689-1755) ficou conhecido como Barão de Montesquieu e foi um dos principais teóricos iluministas e criou a ideia da tripartição de poderes do Estado até hoje consagrada. A seguir, Barão de Montesquieu escreve, em 1748 O Espírito das Leis. É ele quem apura o conceito de liberdade política, definindo liberdade como o po- der de fazer tudo o que se deve querer, tudo o que as leis permitem e em não ser constrangido a fazer o que não se deseja fazer, cabendo à Constituição assegurar esta liberdade e prevenir o abuso do po- der. Por isso, torna-se necessária a se- paração dos poderes. Até então, o cons- titucionalismo constrangia os poderes públicos constituídos e, também, inibia o povo. Imagem 04 https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu 9Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Jean-Jacques Rousseau (1 712-1778) como um dos mais destacados filósofos do Iluminismo e teve importante influência nos movimentos intelectuais do século XVIII, sua obra intitulada “O Contrato Social” respalda a defesa ardorosa que fez aos princípios da “liberdade, igualdade e fraternidade”, os quais se constituíram como verdadeiro lema da Revolução Francesa (1789). Imagem 06 10 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais É quando surge Jean-Jacques Rousseau que escreve O Contrato Social em 1762, sus- tentando que o poder soberano pertence diretamente ao povo que, pelo pacto social, transformam os indivíduos em corpo político, renunciando à liberdade natural, mas forjando a liberdade civil, que consistiria na garantia de serem governados por uma lei genérica, fruto da totalidade do povo soberano. A Constituição não possui função de limite ou de garantia, apenas cuida dos poderes instituídos, não podendo restringir a expressão da vontade do povo soberano. Assim, o exercício da vontade suprema do povo é reconhecido aos seus representantes no Legislativo, não podendo o parlamento ser limitado por nenhuma regra, nem mesmo pela Constituição, já que é a expressão da vontade do povo soberano. Com isso, sendo o Parlamento soberano, não é conciliável com a ideia de supremacia da Constituição. Em relação ao judiciário, também era inconcebível que um juiz censurasse um ato do parlamento (o juiz é a boca da lei). É quandosurge o référé législatif em 1790, remetendo-se ao legislativo a interpretação de um texto obscuro de alguma lei, pena de crime de prevaricação. ESTADOS UNIDOS Imagem 07 Carolina do Sul Dakota do Sul Sul dos Estados Unidos 1790s Mapa, s das treze colônias, mundo, estados unidos Reconhece-se, desde o início do Século 19 o valor normativo da Constituição, como docu- mento máximo da ordem jurídica. Não havia a preocupação com o rei, que exercia, na Europa, o https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau 11Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais poder Executivo. O presidente seria eleito pelo voto popular, com mandato fixo. Buscou-se esta- belecer um equilíbrio entre os poderes, evitando-se a preponderância do Legislativo. Surge a con- cepção de que a manutenção da liberdade não exige apenas o estabelecimento de garantias em face do Estado, mas também a proteção das minorias em face de um eventual abuso democrático. É quando surge a concepção da supremacia da Constituição sobre as Leis, com obediência de um processo mais dificultoso e solene para a alteração da Constituição, bem como do conceito de Poder Constituinte Originário, ocupando um lugar de superioridade em relação aos poderes por ele constituídos. A ideia de supremacia da Constituição permite que se admita que os juízes têm a função de controlar a legitimidade constitucional das leis. Somente há supremacia da Constituição quando se extraem consequências concretas para as normas com pretensão de validez opostas à Carta. Daí surge o controle jurisdicional de constitucionalidade (judicial review), que permite ao judiciário a declarar não aplicáveis normas contraditórias com a Constituição. A doutrina do controle judicial se sustenta em três pilares: a) A Constituição é concebida para ser a lei principal do país; b) cabe ao Judiciário a função de interpretar e aplicar a Constituição nos casos trazidos à sua apreciação, podendo recusar valia ao ato que infringe a Constituição, e; c) a interpretação judicial é final e prepondera sobre a avaliação dos demais Poderes. Histórico das Constituições Brasileiras Capítulo I – Constituição Imperial de 1824 Inaugura a ordem constitucional brasileira, sendo fruto da independência, em 1822. Foi ou- torgada por D. Pedro I, após a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte. Apesar de ser a mais longeva das constituições brasileiras, somente foi emendada uma única vez, em 1834. Instituiu a monarquia constitucional e o estado unitário. Atribuía ao imperador o exercício do Poder Moderador, como Chefe Supremo da Nação, não estando sujeito a nenhuma espécie de responsabilização, sendo inviolável e sagrado, podendo nomear os senadores, dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir Ministros e suspender juízes. Nessa época o voto era censitário e pouco mais de 1% da população estava apta a votar. Imagem 08 https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_do_Brasil 12 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Referência à Imagem: Imagem de Domínio Público. Dom Pedro I (1798-1834) foi aclamado Imperador do Brasil em 12 de outubro de 1822. Seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Imagem 08 13Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo II – Constituição Republicana de 1891 Constituição Republicana de 1891 – surge com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, após movimento militar comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. A partir de 15 de novembro de 1890, passou a funcionar o congresso constituinte, até 24 de fevereiro de 1891, quando a constituição foi promulgada. Consolida o regime republicano e o estado federal, sob forte inspiração da constituição norte-americana. Criou a justiça federal e colocou o Supremo Tribunal Federal no ápice do poder judiciário. Marechal Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892) foi o primeiro Presidente do Brasil após ter decretado a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. imagem 09 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil 14 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo III – Constituição Revolucionária de 1934 Constituição Revolucionária de 1934 – Com a revolução constitucionalista de 1932, sobreveio a Constituição de 1934, fortemente influenciada pela constituição de Weimar. Previu, expressamente, o Mandado de Segurança. Trata-se de uma carta que teve vida curta, vigendo por apenas três anos. Monumento aos Heróis da Revolução Constitucionalista de 1932 no Cemitério da Saudade, em Campinas/SP. Capítulo IV – Constituição Polaca de 1937 Constituição Polaca de 1937 – com o golpe de estado liderado por Getúlio Vargas, inicia-se a ditadura do Estado Novo e, com ela, surge a constituição polaca, assim apelidada em virtude da forte influência da constituição ditatorial polonesa de 1935. Houve fortalecimento do Executivo, sendo o presidente considerado a autori- dade suprema do estado, cabendo-lhe adiar as decisões do parlamento, bem como dissolver o legislativo. Possuía competência para legislar por meio do decreto-lei. Criou a revisão pelo parlamento das decisões do STF em sede de controle de consti- imagem 10 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas 15Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais tucionalidade. Adotou a pena de morte e instituiu a censura prévia. Na prática, as ca- sas legislativas foram dissolvidas e o presidente da república exerceu integralmente as funções parlamentares. LEGENDA: Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) foi Presidente do Brasil por quase 20 anos. Nos primeiros 15 anos (1930 a 1945) exerceu o Poder em três períodos: 1930 a 1934 como Chefe do Governo Provisório; de 1934 a 1937, como Presidente da República eleito pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, durante o chamado Estado Novo implantado pelo golpe de Estado do dia 10 de novembro de 1937. Cometeu suicídio em 1954 com um tiro no coração. imagem 11 16 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo V – Constituição Liberal de 1946 Constituição de 1946 – Após o término da Segunda Guerra Mundial, surge uma nova ordem mundial, que tem seus efeitos no Brasil. Com isso, promulga-se, em 1946, uma nova Carta que reinstalou a democracia representativa, com o poder sendo exercido por representantes do povo. Reavivou-se a importância dos direitos individuais e das liberdades políticas. Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) foi Presidente do Brasil por quase 20 anos. Nos primeiros 15 anos (1930 a 1945) exerceu o Poder em três períodos: 1930 a 1934 como Chefe do Governo Provisório; de 1934 a 1937, como Presidente da República eleito pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, durante o chamado Estado Novo implantado pelo golpe de Estado do dia 10 de novembro de 1937. Cometeu suicídio em 1954 com um tiro no coração. imagem 12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm 17Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo VI – Constituição de 1967 e Emenda Constitucional1/69 Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1/69 – Após 31 de março de 1964 assume o poder um novo governo, liderado pelo Marechal Castello Branco. Depois de uma série de modificações na CF 1946, é outorgada a constituição de 1967, com fortepreocupação com a segurança nacional. Restabeleceu a competên- cia do presidente para legislar por meio de decreto-lei. Com a crise política, surge o Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, ampliando ainda mais os pode- res do presidente, restringindo mandatos e tolhendo direitos individuais. Em 1969, a constituição sofre uma ampla reforma, centralizando ainda mais o poder e restringin- do ainda mais os direitos individuais. Para muitos, trata-se de uma nova constituição. Sob a égide da Constituição Federal de 1967, elaborada sob a supervisão dos militares, o Brasil esteve sob ditatura militar tendo como 1º Presidente Humberto Castelo Branco e, como 2º Presidente, o general Artur da Costa e Silva (Foto da pos- se acima). imagem 13 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm 18 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo VII – Constituição Cidadã de 1988 Constituição Cidadã de 1988 – com a emenda constitucional nº 26, de 27 de novembro de 1985, foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte livre e soberana, para a elabo- ração de uma constituição democrática. A Constituição Federal (CF/88) foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Ulisses Guimarães (1916-1992), Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, que chamou a Constituição de 1988 de “Constituição Cidadã”. imagem 14 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc26-85.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc26-85.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc26-85.htm 19Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Conceito de constituição e fontes do direito constitucional Paulo Gonet: Divide o conceito sob dois aspectos. Veja abaixo. ASPECTO SUBSTANCIAL OU MATERIAL ASPECTO FORMAL Considera a constituição como “conjunto de normas que instituem e fixam as competências dos principais órgãos do estado, estabelecendo como serão dirigidos e por quem, além de disciplinar as interações e controles recíprocos entre tais órgãos. Compõem a Constituição, também, sob este ponto de vista, as normas que limitam a ação dos órgãos estatais, em benefício da preservação da esfera de autodeterminação dos indivíduos e grupos que se encontram sob a regência desse Estatuto Político. Essas normas garantem às pessoas uma posição fundamental ante o poder público (direitos fundamentais)” Ao se analisar a constituição sob o ponto de vista formal, diz-se que é “o documento escrito e solene que positiva as normas jurídicas superiores da comunidade do Estado, elaboradas por uma processo constituinte específico. São constitucionais, assim, todas as normas que aparecem no Texto Magno, que resultam das fontes do direito constitucional, independentemente do seu conteúdo. Em suma, participam do conceito da Constituição formal todas as normas que forem tidas pelo poder constituinte originário ou de reforma como normas constitucionais, situadas no ápice da hierarquia das normas jurídicas”. Para o constitucionalista José Afonso da Silva, a Constituição é “um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organiza os ele- mentos constitutivos do estado”. 20 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Alexandre de Moraes tomou posse como Ministro do Supremo Tribunal Federal no dia 22/03/2017 por indicação do Presidente Michel Temer e é autor de obras sobre Direito Constitucional O Ministro do STF Alexandre de Moraes, que também possui livro sobre o Di- reito Constitucional, ensina que a Constituição é a “lei fundamental e suprema de um estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres do cidadão.” Para José Afonso da Silva, é “estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos di- reitos econômicos, sociais e culturais”. Fontes do Direito Constitucional: Fontes de direito são os modos de criação ou de revelação das normas jurídicas. No caso do direito constitucional, as fontes primá- rias seriam a própria constituição, as emendas constitucionais e os tratados internacionais, desde que obedecido o rito do § 3º do art. 5º. Secundariamente, a jurisprudência e o costume imagem 15 21Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais também são fontes do direito constitucional. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida- de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois tur- nos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Classificação das constituições As constituições, segundo a doutrina, podem ser classificadas segundo os cri- térios abaixo. Capítulo I - Quanto ao Conteúdo: Materiais e formais 1. Materiais - normas que organizam os elementos constitutivos do estado Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 1º Brasília é a Capital Federal. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar- se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. 22 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios preservarão a continuidade e a unidade histórico-cultural do ambiente urbano, far-se-ão por lei estadual, obedecidos os requisitos previstos em Lei Complementar estadual, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações diretamente interessadas. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. 2. Formais - resultam das fontes do direito constitucional, independentemente do seu conteúdo. Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos. § 1º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para aformação do povo brasileiro. § 2º O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. Capítulo II - Quanto à Forma: Escritas e não escritas 1. Escritas – surgem em um documento único, que sistematiza o direito constitucional da comunidade política, sendo provenientes do poder constituinte ori- ginário ou de reforma. Amolda-se ao conceito de constituição dogmática. 2. Não escritas – não se encontram em um documento único e solene; são compostas por costumes, pela jurisprudência e por documentos escritos, mas disper- sos no tempo. Encaixa-se no conceito de constituição histórica. 23Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo III - Quanto ao Modo de Elaboração: Dogmáticas e históricas 1. Dogmáticas – documento único, produzindo por força de um poder consti- tuinte originário PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 2. Históricas – costume, jurisprudência e documentos esparsos ao longo do tempo. Capítulo IV - Quanto à Origem: Promulgadas e outorgadas 1. Promulgadas – elaboradas mediante participação popular em sua elabora- ção. 2.Outorgadas – impostas pelo governante. 24 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais No Brasil foram outorgadas as Constituições de 1824 (Império), 1937 (Estado Novo) e 1969 (Golpe Militar). Capítulo V - Quanto à Estabilidade: Imutáveis, rígidas, flexíveis e híbridas 1. Imutáveis – são as que não admitem qualquer tipo de modificação 2. Rígidas – exigem um processo mais formal para sua modificação 3. Flexíveis – podem ser modificadas pelo procedimento legislativo comum. 4. Híbridas – possuem regras rígidas e regras flexíveis. Capítulo V - Quanto à Extensão e finalidade: Analíticas e sintéticas. 1. Analíticas – possuem maior grau de detalhamento. Então, como se classifica a Constituição Federal brasileira de 1988? Ela é formal, escrita, dogmática, promulgada, rígida e analítica! 25Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais 2. 2. Sintéticas – menos detalhistas. Normas constitucionais A depender do assunto versado, a constituição pode ser dividida em duas partes: orgânica e dogmática. A primeira diz respeito à normatização da estrutura do estado, onde ficam as regras que definem a organização do estado, determinando as competências dos órgãos essenciais para sua existência, bem como as normas que disciplinam as formas de aquisição e exercício do poder e os processos de seu exercício, racionalizando o exercício das funções do estado, estabelecendo limites recíprocos aos seus órgãos principais. Já a parte dogmática da Constituição diz respeito à proclamação dos direitos fundamentais, marcando o tom que deve nortear a ação do estado, expressando os valores indispensáveis para a ordem da comunidade. Capítulo I - Classificação das normas constitucionais · Normas de eficácia plena – Geram, IMEDIATAMENTE, os efeitos nela previstos. Possuem maior densidade e não necessitam de manifestação do legislador infraconstitucional para alcançarem a plenitude de seus efeitos. Por exemplo: Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; (...) Art. 14. A soberania popular será exercida pelo 26 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. § 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Normas de eficácia contida – Geram todos os efeitos, também possuindo maior densidade normativa, mas PODEM SOFRER RESTRIÇÕES por meio de leis infraconstitucionais. Por exemplo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; (...) Normas de eficácia limitada – para gerar todos os efeitos dependem da INTERPOSIÇÃO DO LEGISLADOR, possuindo menor densidade normativa, são consideradas normas incompletas. Por exemplo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 27Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...) Capítulo II - Elementos das constituições Orgânicos – regulam a ESTRUTURA do estado. Exemplo: Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 1º Brasília é a Capital Federal. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar- se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. Limitativos – Consubstanciam DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. Exemplo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 28 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais (...) Socioideológicos – Representam o compromisso entre Estado individualista e ESTADO SOCIAL. Exemplo: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária Estabilização constitucional – Dirigem-se à solução de CONFLITOS CONS- TITUCIONAIS. Exemplo: Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - manter a integridade nacional; II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; 29Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Formais de aplicabilidade – São regras de APLICAÇÃO DAS CONSTITUI- ÇÕES. Exemplo: PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacio- nal Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a as- segurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a se- gurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei- tos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e interna- cional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a prote- ção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. O Preâmbulo não constitui norma central da Constituição, mas possui informações relevantes sobre a sua origem e os valores que guiaram a feitura do texto. 30 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo III – Interpretação da Constituição É a atribuição de sentido a um preceito constitucional, sendo marcada por considerável potencial de gerar efeitos sobre a ordem jurídica. Destina-se a descobrir o sentido de uma Constituição, que proclama valores a serem protegidos, seguidos e estimulados pelos poderes constituídos e pela própria sociedade. Para que a norma possa incidir sobre um caso concreto é preciso definir o significado dos seus dizeres, utilizando-se recursos das regras tradicionais de interpretação. Assim, para a compreensão do texto normativo, faz-se uso da interpretação gramatical (sentido das palavras), da interpretação sistemática (contexto amplo do ordenamento constitucional) e da interpretação teleológica (sentido do preceito, finalidade determinante e princípios de valor). Analisa-se, ainda, o processo de criação da norma. Busca-se afastar as ambiguidades, incoerências normativas e lacunas. Atente ao fato de que a norma não se confunde com o texto, ou seja, com o enunciado, sendo necessário para encontrarmos o significado da norma descobrir o significado dos termos que compõem o texto e decifrar o seu sentido linguístico. 31Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Direitos e garantias fundamentais Capítulo I – Conceito de Direitos Fundamentais São regras civilizatórias que tem como objetivo proteger os indivíduos contra eventuais abusos do Estado, a fim de assegurar-lhes uma convivência digna, livre e solidária, na busca por uma sociedade igual e justa. São um núcleo de proteção da dignidade da pessoa, positivado na Constituição o local de resguardo das proteções institucionais. Tem como ideia e fundamento o fato de que as normas assecuratórias das pretensões civilizatórias devem estar elencadas em documento positivo com for- ça vinculativa máxima, protegendo os indivíduos das maiorias de ocasião por meio de instituições que resguardem a força normativa da Constituição. Os direitos fundamentais têm natureza de normas positivas constitucionais e aplicabilidade imediata, de acordo com o disposto na constituição. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ga- rantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. (...) Capítulo II – Gerações de Direitos Fundamentais Primeira geração – São os referidos na revolução americana, por meio da De- claração do bom povo da Virgínia, de 1776, e na revolução francesa, que deu origem à Declaração de direito do homem do cidadão, de 1789. Foram os primeiros a serem positivados e pretendiam fixar uma esfera de autonomia pessoal em relação ao poder do Estado. Traduzem-se em postulados de abstenção dos governantes, criando obri- gações de não fazer, ou seja, de não intervir nos aspectos da vida pessoal de cada http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170725113835.pdf http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170725113835.pdf http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170725113835.pdf https://abres.org.br/wp-content/uploads/2019/11/declaracao_dos_direitos_do_homem_e_do_cidadao_de_26_08_1789.pdf https://abres.org.br/wp-content/uploads/2019/11/declaracao_dos_direitos_do_homem_e_do_cidadao_de_26_08_1789.pdf 32 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais indivíduo. Referem-se às liberdades individuais e são considerados indispensáveis a todas as pessoas. O paradigma dessa espécie de direitos é a pessoa individual- mente considerada. É característica do Estado de Direito liberal. São os chamados direitos individuais. Segunda geração – Surgem com a necessidade de uma nova compreensão entre o estado e a sociedade, levando os poderes públicos a assumir o dever de ope- rar para que a sociedade lograsse superar as angústias estruturais. Com isso, deu- -se início a progressivo estabelecimento pelos Estados de seguros sociais variados, importando intervenção intensa na vida econômica e a orientação das ações estatais por objetivos de justiça social. Não mais correspondem a uma pretensão de absten- ção do Estado, mas o obrigam a uma prestação positiva. Assim, por meio desses direitos se intenta estabelecer uma liberdade real e igual para todos, mediante ação corretiva dos poderes públicos. São os chamados direitos sociais. Terceira geração – Caracterizam-se pela titularidade difusa ou coletiva, uma vez que são concebidos para a proteção não do homem isoladamente, mas de cole- tividade. São os chamados direitos difusos. Capítulo III – Características dos Direitos Fundamentais Universais e absolutos – é um equívoco afirmar, sem ressalvas, que os di- reitos fundamentais são universais e absolutos, uma vez que nem todos os direitos fundamentais são aplicáveis a todos indistintamente e que também podem sofrer limitações decorrentes de outros direitos fundamentais. Constitucionalização – a expressão direitos fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas nor- mativos de cada Estado, vigendo em uma ordem jurídica concreta, garantidos e as- segurados no espaço e no tempo, pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra. Possuem aplicabilidade imediata, superando a concepção de estado de direito formal, não dependendo de intervenção legislativa para alcançar seus efeitos. Historicidade – têm início com as revoluções burguesas e rechaçam o con- 33Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Pode-se apontar como carac- terísticas gerais dos direitos fundamentais a Universalidade – este aspecto com ressalvas, a Constitucionalização, a His- toricidade, a Inalienabilidade, a Imprescritibilidade e a Irre- nunciabilidade. ceito de direitos naturais. Servem para destacar a índole evolutiva dos direitos fun- damentais, impulsionada pelas lutas em defesa de novas liberdades e em face das novas feições assumidaspelo poder. Inalienabilidade – intransferíveis, inegociáveis, sem qualquer valor econômico ou patrimonial. Assim, dos direitos fundamentais estão excluídos de quaisquer atos de disposição, quer jurídica, quer material. Imprescritibilidade – o seu não exercício não importa em perda, não são atin- gidos pelo decurso do tempo. Irrenunciabilidade – não se admite a renúncia dos direitos fundamentais. Vinculação dos Poderes Públicos – a constitucionalização dos direitos fun- damentais impede que sejam considerados meras autolimitações dos poderes cons- tituídos, pois nenhum dos poderes criados na Constituição se confunde com o poder que consagra o direito fundamental, que lhes é superior. 34 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais · Legislativo – não somente a atividade legiferante deve guardar coerência com o sistema de direitos fundamentais, como a vinculação aos direitos fundamentais pode assumir conteúdo positivo, tornando imperiosa a edição de normas que deem regulamentação aos direitos fundamentais dependentes de concretização normativa. · Executivo – A administração Pública é vinculada aos direitos fundamentais. Esta vinculação torna nulos os atos praticados com ofensa ao sistema dos direitos fundamentais. De outra parte, a Administração deve interpretar e aplicar as leis se- gundo os direitos fundamentais. · Judiciário – Cabe ao Judiciário a tarefa de defender os direitos violados ou ameaçados de violência, sendo a defesa dos direitos fundamentais essência de sua função. Capítulo IV – Funções dos Direitos Fundamentais Os Direitos Fundamentas desempenham funções múltiplas na sociedade e na ordem jurídica, não possuindo um caráter unívoco, sendo necessária uma classifica- ção para melhor compreensão do conteúdo e da eficácia dos direitos. A seguir, destacamos algumas das suas funções, as quais têm estreita relação com a evolução histórica dos direitos fundamentais (gerações ou dimensões). imagem 17 35Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais · Direitos de defesa – caracterizam-se por impor ao Estado um dever de abstenção, de não inter- ferência na autodeterminação do indivíduo. Tem por objetivo a limitação do Estado e se destinam a evitar a ingerência do Estado sobre os bens protegidos e fundamentam a pretensão de reparo pelas agressões eventualmente consumadas. · Prestações Direitos à prestação – exigem que Estado aja para atenuar desigualdades, estabelecendo moldes para o futuro da sociedade. Em outras palavras, buscam fa- imagem 18 imagem 19 36 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais vorecer as condições materiais indispensáveis ao desfrute efetivo das liberdades. Podem ser divididos em prestação material e prestação jurídica. O primeiro se refere a uma prestação objetiva e concreta e estão sujeitos à reserva do possível enquanto o segundo diz respeito à atuação normativa do Estado. · Participação Direitos de participação – são os direitos orientados a garantir a participação do cidadão na formação da vontade do País, correspondendo aos direitos políticos. imagem 20 37Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo V – Dimensões Subjetiva e Objetiva dos Direitos Fundamentais · Dimensão Subjetiva – corresponde à característica de, em maior ou menor escala, ensejarem uma pretensão a que se adote um dado comportamento ou se expressa no poder da vontade de produzir efeitos sobre certas relações jurídicas. · Dimensão Objetiva – resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da ordem constitucional, pois participam da essência do Estado de Direito democrático, operando como limite do poder e como diretriz para sua ação. Importante consequência da di- mensão objetiva dos direitos fundamentais está em ensejar um dever de proteção pelo Estado dos direitos fundamentais contra agressões dos próprios poderes públicos, provindas de particula- res ou de outros Estados. Outra consequência é o que se pode chamar de eficácia irradiante, ou seja, converte-os em diretriz para a interpretação e aplicação das normas dos demais ramos do Direito. Capítulo VI - Titularidade dos Direitos Fundamentais Todos os seres humanos são titulares de direitos fundamentais. No entanto, os direitos fundamentais não se restringem às pessoas físicas. · Pessoas Jurídicas – encontra-se superada a ideia de que os direitos fundamentais se dirigem exclusivamente às pessoas físi- cas. Assim, não há, regra geral, impedimento insuperável a que as pessoas jurídicas venham a ser consideradas titulares de direitos fundamentais. As pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos referentes à igualdade, ao direito de resposta, direito de proprieda- de, sigilo de correspondência, inviolabilidade de domicílio, direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Também podem ser titulares dos direitos referentes a honra e à imagem. Existem di- reitos fundamentais que são referentes especificamente a pessoas jurídicas, tais como os de impossibilidade de interferência estatal no funcionamento das associações e de não serem elas compulsoria- mente dissolvidas. Entretanto, as garantias referentes à prisão têm as pessoas físicas como destinatárias exclusivas, assim como os direitos políticos. 38 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Estrangeiros – apesar de haver referência expressa somente aos estrangei- ros residentes no país, os direitos e garantias fundamentais, o respeito devido à dig- nidade de todos os homens não se excepciona pelo fator meramente circunstancial da nacionalidade, especialmente no que se refere aos direitos individuais. · Sujeitos Passivos – a força vinculante e a eficácia imediata dos direitos fundamentais, bem como sua posição no topo da hierarquia das normas jurídicas, impõe o entendimento que os princípios que informam os direitos fundamentais não se restringem aos poderes públicos, sendo imperativo o reconhecimento de que tam- bém alcançam os setores do direito privado. Portanto, a feição objetiva dos direitos fundamentais não obriga apenas o Estado a respeitá-los, mas também o força a fazê-los respeitados pelos próprios indivíduos, nas suas relações entre si, pois se tratam de princípios estruturantes da sociedade. Há, entretanto, que estabelecer uma ponderação entre a autonomia da vontade do indivíduo e os direitos fundamentais, de modo a respeitar a liberdade e a responsabilidade individual. SIM! As pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos fundamentais, tais como o direito à igualdade, propriedade, inviolabilidade de domicílio, etc. 39Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Pense nisso: A liberdade pode colidir com a igualdade, não? Afinal, se todos são livres como podem todos serem, necessariamente, iguais? Capítulo VII – Limitações dos Direitos Fundamentais O exercício dos direitos fundamentais pode ensejar uma série de conflitos com outros direitos constitucionalmente previstos. Por isso, faz-se necessário definir o âmbito ou núcleo de proteção e um direito fundamental, fixando-se, sempre que pre- ciso, as restrições ou limitações a esses direitos. Âmbito de proteção – abrange os diferentes pressupostos fáticos e jurídicos contemplados na norma jurídica e a proteção fundamental. A definição do âmbito de proteção exige: - A identificação dos bens jurídicos e a amplitude dessa proteção (âmbito de proteção da norma), e: - A verificação das possíveis restrições contempladas, expressamente, na Constituição (expressa restrição constitucional) e identificação das reservas legais de índole restritiva. Restrições – Os direitos fundamentais enquanto direitos de hierarquia consti- imagem 21 40 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais tucional somente podem ser limitados por expressa disposição constitucional (res- trição imediata) ou mediante lei ordinária promulgada com fundamento na própria constituição(restrição mediata). É possível que a restrição venha prevista na própria constituição, com uma norma de garantia, que reconhece e garante determinado âmbito de proteção e uma norma de autorização de restrições, que permite ao legis- lador estabelecer limites ao âmbito de proteção constitucionalmente assegurado. No entanto, nem todas as normas referentes a direitos fundamentais têm o propósito de restringir ou limitar poderes ou faculdades, remetendo às normas infraconstitucionais a função de completar, densificar e concretizar o direito, falando-se em normas de regulação ou conformação. - Reserva legal simples – quando a Constituição autoriza, em diversas dispo- sições, a intervenção do legislador no âmbito de proteção de diferentes direitos fun- damentais (VI, VII, XV, XXIV, XXVI, XXVII, XXVIII, XXIX, XXXIII, XLV, XLVI E LVIII). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 41Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; (...) LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (...) - Reserva legal qualificada – quando a Constituição não se limita a exigir que eventual restrição ao âmbito de proteção de determinado direito seja prevista em lei, estabelecendo, também, as condições especiais, os fins a serem persegui- 42 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais dos ou os meios a serem utilizados (XII, XIII, XXXVIII). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; (...) XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; (...) - Sem expressa previsão de reserva legal – No caso dos direitos fundamentais sem reserva legal expressa não pode o legislador, em princípio, ir além dos limites definidos no próprio âmbito de proteção. No entanto, a configuração de uma colisão pode legitimar o estabelecimento de restrição de um direito não submetido à reserva legal expressa, pois os direitos fundamentais são dotados de uma reserva geral de ponderação. Limites dos limites – constatado que os direitos e garantias podem sofrer res- trições, é preciso afirmar que tais restrições são limitadas. Tais limitações balizam a ação do legislador quando restringe direitos individuais, decorrendo da própria Cons- 43Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais tituição, referindo-se tanto à necessidade de proteção de um núcleo essencial do di- reito fundamental quanto à clareza, determinação, generalidade e proporcionalidade das restrições impostas. Proteção do núcleo essencial – destina-se a evitar o esvaziamento do conteú- do dos direitos fundamentais decorrente de restrições descabidas, desmesuradas ou desproporcionais. Existem duas teorias para explicar o núcleo essencial: a absoluta que entende o núcleo essencial dos direitos fundamentais como unidade substancial autônoma que, independentemente de qualquer situação concreta estaria a salvo de eventual decisão legislativa, e: relativa, que entende que o núcleo essencial deve ser definido para cada caso, tendo em vista o objetivo perseguido pela norma de caráter restritivo. Proporcionalidade – é o instrumento para solução de colisão entre direitos fundamentais, por meio de um mecanismo que busca identificar eventual excesso de poder legislativo, que pode se revelar mediante contrariedade, incongruência e irrazoabilidade ou inadequação entre meios e fins. Colisão – ocorre quando se identifica conflito decorrente do exercício de direi- tos fundamentais por diferentes titulares, desde que afete diretamente o âmbito de proteção de outro direito fundamental. A solução deve observar a situação concreta, respeitando-se o princípio da proporcionalidade e sendo aplicada a ponderação entre os direitos fundamentais conflitantes. Direitos e garantias fundamentais em espécie Capítulo 1 - direitos individuais 1. Direito à Vida – É a premissa dos direitos proclamados pelo constituinte, ou seja, não faria sentido declarar qualquer outro direito se, antes, não fosse asse- gurado o próprio direito de estar vivo para usufruí-lo. Trata-se de um valor supremo na ordem constitucional, que orienta, informa e dá sentido último a todos os demais 44 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais direitos fundamentais. Titularidade – a vida preservada e encarecida pelo constituinte há de ser toda a vida humana. Trata-se de um direito que resulta da compreensão generalizada, que inspira os ordenamentos jurídicos atuais, de que todo ser humano deve ser tratado com igual respeito à sua dignidade, que se expressa, em primeiro lugar, pelo respeito à sua própria existência. Direito de defesa e dever de proteção – o direito à vida apresenta evidente cunho de direito de defesa, a impedir que os poderes públicos pratiquem atos que atentem contra a existência de qualquer ser humano. Impõe-se também a outros indivíduos, que se submetem ao dever de não agredir esse bem elementar. Há, ao mesmotempo, uma dimensão positiva, que se traduz numa pretensão jurídica à pro- teção, através do Estado, do direito à vida. imagem 22 45Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Direitos Individuais 2. Liberdades - São proclamadas partindo-se da perspectiva da pessoa huma- na como ser um busca de autorrealização, responsável pela escolha dos meios aptos para realizar as suas potencialidades. O estado democrático se justifica como meio para que essas liberdades sejam guarnecidas e estimuladas, bem como a instância de solução de conflitos entre pretensões colidentes resultantes dessas liberdades. 2.1 Expressão (art. 5º IV, XIV, art. 220) – é um dos mais relevantes e precio- sos direitos fundamentais, correspondendo a uma das mais antigas reivindicações humanas. Sob o argumento democrático, caracteriza-se pela máxima de que o auto- governo exige um discurso político protegido das interferências do poder. Incluem-se na liberdade de expressão faculdades diversas, como a de comunicação de pensa- mentos, de ideias, de informações, de críticas, e cujo grau de proteção de cada uma dessas formas de expressão costuma variar, não obstante todas terem amparo na Lei Maior. Conteúdo – protege, desde que não haja colisão com outros direitos, toda opi- nião, convicção, comentário, avaliação ou julgamento sobre qualquer assunto ou so- bre qualquer pessoa, envolvendo tema de interesse público, ou não, de importância e de valor, ou não. Tem a pretensão a que o estado não exerça censura, ou seja, não é ele quem estabelece quais as opiniões merecem ser tidas como válidas e aceitá- veis, ou seja, trata-se de um direito de índole marcadamente defensiva, de modo a demandar uma abstenção pelo estado de uma conduta que interfira sobre a esfera de liberdade do indivíduo. A liberdade de expressão não abrange a violência. Sujeitos – o sujeito passivo é, em regra, o poder público, não ensejando uma pretensão a ser exercida em face de terceiros. Direito de resposta – é o meio de proteção da imagem e da honra do indivíduo que se soma à pretensão de reparação de danos morais e patrimoniais decorrentes do exercício impróprio da liberdade de expressão. Limitações – a liberdade de expressão encontra limites previstos diretamente pelo constituinte, como também outros a serem descobertos pela colisão desse di- reito com outros de mesmo status. A constituição admite como limites a esse direito a proibição ao anonimato, para assegurar o direito de resposta e a indenização por danos morais e patrimoniais e à imagem, para preservar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. A incitação ao ódio público não está protegida pela 46 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais garantia da liberdade de expressão. Direito de expressão 2.2 Intimidade e Vida privada – o direito à privacidade tem por objeto os com- portamentos e acontecimentos atinentes aos relacionamentos pessoais em geral, às relações comerciais e profissionais que o indivíduo não deseja que se espalhem ao conhecimento público. O direito à privacidade é proclamado como resultado da sen- tida exigência de o indivíduo encontrar na solidão paz e equilíbrio, comprometidos continuamente pelo ritmo da vida moderna. imagem 24 imagem 23 47Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Intimidade e vida privada 2.3 Inviolabilidade do domicílio (art. 5º XI) – o domicílio delimita um espaço físico em que o indivíduo desfruta da privacidade, em suas variadas expressões, não podendo sofrer intromissões por terceiros, usufruindo da tranquilidade da vida íntima. Este direito possui eficácia horizontal, ou seja, repele não apenas a ação estatal mas, também, a de outros particulares. São titulares do direito à liberdade de domicílio tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas. Por não ser um direito absoluto,, mos- tra-se lícito o ingresso no domicílio alheio em caso de flagrante delito ou em caso de desastre ou para prestar socorro, ou mesmo, por fim, para dar cumprimento a ordem judicial. 2.4 Sigilo das comunicações (art. 5º XII) – trata-se não apenas de corolário da garantia da livre expressão de pensamento, como também exprime o aspecto tra- dicional do direito à privacidade e à intimidade. 2.5 Reunião e associação – ligam-se intimamente à liberdade de expressão e ao sistema democrático de governo. O direito de reunião assegura às pessoas a possibilidade de ingressarem na vida pública e interferirem diretamente nas delibe- rações políticas. Direito de associação Imagem 25 48 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais 2.6 Consciência e religião – guarda relação com o direito de o indivíduo for- mular juízos e ideias sobre si mesmo e sobre o meio externo que o circunda, não po- dendo o Estado interferir nessa esfera íntima, sendo-lhe vedado impor concepções filosóficas aos cidadãos. Liberdade de consciência e religião 3. Igualdade – é um dos princípios estruturantes do sistema constitucional glo- bal, conjugando as dimensões liberais, democráticas e sociais inerentes ao conceito de estado de direito democrático e social. A igualdade guarda íntima relação com o conceito de justiça, embora com ela não se confunda. 3.1 Isonomia formal – todos são iguais perante a lei, na medida de suas desi- gualdades. Corresponde à noção de que todas as pessoas são iguais, compreendida no sentido de uma igualdade absoluta em termos jurídicos 3.2 Isonomia material – importa dizer que a igualdade não se restringe à ideia de que todos são iguais perante a lei, mas de que todos são iguais também na lei, Imagem 26 49Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais proibindo, também, tratamento arbitrário, com a vedação de utilização de critérios intrinsicamente injustos e violadores da dignidade da pessoa humana. Atualmente, inclui também a noção de que se trata de um dever de compensação das desigual- dades sociais, econômicas e culturais. direito à igualdade 4. Direito de Propriedade – abrange não apenas a propriedade sobre bens móveis ou imóveis, mas também os demais valores patrimoniais, incluídas as diver- sas situações de índole patrimonial, decorrentes das relações de direito privado ou não. 5. Direitos de caráter judicial e garantias institucionais do processo – tra- ta-se de um elenco de proteções constitucionais que têm por escopo proteger o indi- víduo no âmbito processual. 5.1 Proteção judicial efetiva – garante a proteção judicial contra lesão ou ameaça a direito (5º XXXV). Abrange não apenas as lesões ou ameaças provenien- Imagem 27 50 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais tes do Poder Público, como também tanto as decorrentes de ação ou omissão de organizações públicas como aquelas originadas de conflitos privados. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (...) 5.2 Habeas Corpus – trata-se de ação constitucional, de caráter penal e de procedimento especial, que constitui uma garantia individual ao direito de locomoção, consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, que pode ser autoridade pública ou mesmo um particular, fazendo cessar a ameaça ou a coação à liberdade em sentido amplo – o direito do indivíduo de ir, vir e ficar. Pode ser im- petrado por qualquer do povo, nacional ou estrangeiro, independentemente de ca- pacidade civil, política, profissional, de idade, sexo, profissão, estado mental, pode fazer uso do habeas corpus em benefício próprio ou alheio. Não há necessidade de impetração por meio de advogado. O Habeas Corpus é uma medida jurídica destinada a proteger o indivíduo de atos que possam representar violência ou coação dirigida ao seu direito de locomoção. Pode ser Preventivoou Repressivo, quer seja para prevenir a ameaça de repressão indevida, quer seja para acabar com ela... 51Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXVIII - conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; (...) 5.3 Mandado de Segurança – ação constitucional, de natureza civil, cujo ob- jeto é a proteção do direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- buições do Poder Público. Entende-se por autoridade coatora aquela que pratica ou ordena concreta e especificamente a execução ou inexecução do ato impugnado, responde pelas suas consequências administrativas e detenha competência para corrigir a ilegalidade. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; (...) Mandado de Injunção – consiste em uma ação constitucional de caráter civil, e de procedimento especial que visa a suprir uma omissão do Poder Público, no intuito de viabilizar o exercício de um direito, uma liberdade ou uma prerrogativa prevista na Constituição Federal. (...) 52 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; (...) 5.4 Habeas data – ação constitucional, de caráter civil, conteúdo e rito sumário e que tem por objeto a proteção do direito líquido e certo do impetrante de conhecer todas as informações e registros relativos à sua pessoa e constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, para eventual retificação de seus dados pessoais. (...) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXII - conceder-se-á “habeas-data”: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; (...) 53Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Imagem 28 O Habeas Data tem por finalidade permitir que a pessoa tenha acesso para conhecer ou retificar informações a seu respeito constantes em bancos de dados. Capítulo 2 - Direitos Sociais São prestações positivas proporcionadas pelo Estado, direta ou indiretamente, que possibilitam melhores condições de vida aos que delas necessitem. De acordo com a Constituição Federal, são direitos sociais a educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa 54 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária (...) Capítulo 3 Direito de Nacionalidade Trata-se do vínculo político e pessoal entre o Estado e o indivíduo, fazendo com que uma pessoa integre dada comunidade política. Pode ser adquirida de forma primá- ria ou secundária. Quando a nacionalidade decorre do nascimento do indivíduo, inde- pendentemente de sua vontade, denomina-se originária ou primária. A nacionalidade secundária é aquela voluntariamente obtida pelo indivíduo. Os critérios de determina- ção de nacionalidade podem ser jus soli, que considera o nacional o indivíduo nascido em território específico, seja qual for sua ascendência, e jus sanguinis, que prioriza a filiação, os laços familiares. Direito de cidadania é o atributo das pessoas integradas na sociedade estatal. Cidadão é o indivíduo titular de direitos políticos de votar e ser votado e suas consequências (...) Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano 55Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa. § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (...) 1. Brasileiros Natos – são os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangei- ros, desde estes que não estejama serviço de seu país (art. 12, I, a) ou os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiros, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil (art. 12, I, b) ou desde que sejam registrados em repartição brasileira com- 56 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. 2. Brasileiros Naturalizados – são aqueles que venham a adquirir a nacionali- dade brasileira, na forma prevista em lei (Lei de Migração – 13.445/2017). Os natura- lizados não podem ocupar cargos de chefia de qualquer dos três poderes ou exercer função estratégica para a defesa ou representação política brasileira no exterior (art. 12 § 2º). 3. Perda da nacionalidade – poderá atingir tanto o brasileiro nato quanto o na- turalizado, na hipótese de aquisição de outra nacionalidade, por naturalização volun- tária. O naturalizado poderá perder a nacionalidade em razão de atividade contrária ao interesse nacional, mediante decisão judicial com trânsito em julgado. Imagem 29 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm 57Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Capítulo 4 - Direitos Políticos formam a base do regime democrático e referem-se ao direito de participação no processo político como um todo, ao direito de sufrágio universal e voto periódico, livre, direto, secreto e igual. Consistem na disciplina dos meios necessários ao exer- cício da soberania popular. (...) Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. § 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; 58 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. § 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. § 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. § 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. 59Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais § 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão. (...) 1. Sufrágio – é o direito de votar, de participar da organização da vontade es- tatal e no direito de ser votado, permitindo a participação em plebiscitos, referendos e iniciativas populares. 2. Voto direto, livre, secreto, periódico e igual – a liberdade de votar reside na impossibilidade de qualquer tipo de coerção para o exercício do voto. O voto direto impõe que o exercício deste ato deve se dar pelo próprio eleitor, sem qualquer espé- cie de intermediação. O voto secreto determina que ninguém poderá saber, contra a vontade do eleitor, em quem ele votou, vota ou pretenda votar. A periodicidade do voto traz consigo a ideia de renovação dos cargos eletivos e da temporariedade dos mandatos. Por fim, a igualdade do voto não admite qualquer tratamento discriminató- rio, seja quanto aos eleitores, seja quanto à própria eficácia de participação eleitoral. 3. Plebiscito, referendo e iniciativa popular – a diferença entre plebiscito e referendo diz respeito ao momento de sua realização. Enquanto o plebiscito confi- gura consulta realizada aos cidadãos sobre matéria a ser posteriormente discutida no Congresso Nacional, o referendo é uma consulta posterior sobre determinado ato ou decisão governamental. A iniciativa popular é o direito atribuído aos cidadãos de apresentar à Câmara dos Deputados projeto de lei. 4. Direitos políticos positivos – as condições de elegibilidade são o conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais. Direito de votar e ser votado (art. 12 § 3º) (..) § 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; 60 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. (..) 5. Direitos políticos negativos – as inelegibilidades são as determinações constitucionais que importem em privar o cidadão do direito de participação no pro- cesso político e nos órgãos governamentais (art. 12 §§ 4º, 7º e 9º) (..) § 2º Não podemalistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. 61Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (..) 6. Privação dos direitos políticos – a Constituição veda a cassação dos direi- tos políticos, sendo possível a parda ou a suspensão desses direitos. (...) Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. (...) 6.1 Perda - configura privação definitiva dos direitos políticos e se dá nas hi- póteses de cancelamento de naturalização por sentença transitada em julgado ou perda da nacionalidade brasileira, por aquisição de outra nacionalidade. 6.2 Suspensão – caracteriza-se pela temporariedade da privação dos direitos políticos e ocorre nas hipóteses de incapacidade civil absoluta, condenação criminal transitada em julgado enquanto durarem seus efeitos e improbidade administrativa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp64.htm 62 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais 7. Partidos políticos – associação de pessoas com uma ideologia ou inte- resses comuns que, mediante uma organização estável, miram exercer influência sobre a determinação da orientação política de um país. A Constituição assegura aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e funcionamento, devem ser observado o respeito à soberania nacional, ao regime democrático, ao pluripartidarismo e aos direitos fundamentais da pessoa humana, sendo-lhes exigido que possuam organização nacional, não podendo receber recursos financeiros de entidades ou governos estrangeiros, devendo prestar contas à Justiça Eleitoral e sendo proibido sua organização paramilitar. (...) Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos 63Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais em cada uma delas; ou II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. § 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. § 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário. (...) 64 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Imagens Imagem 01: https://img.imageboss.me/revista-cdn/cdn/24873/19886ace418df687ca- 440582407c1b26a4ba3f56.jpeg?1573485547 Imagem 02: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/Abraham_Ortelius_Map_of_ Europe.jpg Imagem 03: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes#/media/Ficheiro:Thomas_Hobbes_ (portrait).jpg Imagem 04: https://i1.wp.com/pensarbemviverbem.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Quem- -foi-John-Locke-3.jpg Imagem 05: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e4/Charles_Montesquieu.jpg Imagem 06: Referência à Imagem: Imagem de Domínio Público. Imagem 07: https://www.pngegg.com/pt/png-bwuzz Imagem 08: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/09/pedro-I.jpg Imagem 09: 65Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Imagens https://web.archive.org/web/20161014205040/http://www.panoramio.com/pho- to/31487916. Licenciada por Creative Commons. Imagem 10: https://web.archive.org/web/20161014205040/http://www.panoramio.com/pho- to/31487916. Licenciada por Creative Commons. Imagem 11: Referência à Imagem: Imagem de Domínio Público pertencente ao Arquivo Nacio- nal do Brasil. Referência à Imagem: https://web.archive.org/web/20161014205040/http://www. panoramio.com/photo/31487916. Licenciada por Creative Commons. Imagem 12: https://bloghojenahistoria.wordpress.com/2016/09/18/hoje-na-historia-18-de-setem- bro-de-1946. Acesso em 22/07/2022. imagem 13: Referência à Imagem: Disponível em https://www.flickr.com/photos/agenciasena-do/8426603317. Acesso em 22/07/2022. imagem 14: Referência à Imagem: Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ulys- ses_guimaraes68570.jpg. Acesso em 22/07/2022. Imagem 15: Disponível em https://www.flickr.com/photos/agenciasenado/8426603317. Acesso em 22/07/2022. Imagem 16: Referência à Imagem: https://wordpress.org/openverse/image/8515aa06-670d-40c- 2-b8a0-f7c317fef961 66 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Imagem 17: REFERÊNCIA DA IMAGEM https://elements.envato.com/pt-br/man-shows-hand-a-stop-sign-forbidden-CBN- C7PE Imagem 18: https://elements.envato.com/pt-br/support-AEWU6WB Imagem 19: https://www.flickr.com/photos/agenciasenado/15263106629 Imagem 20: REFERÊNCIA DA IMAGEM https://elements.envato.com/pt-br/family-happiness-F6KK6FB Imagem 21: https://elements.envato.com/pt-br/journalists-taking-interview-DHLMG9R Imagem 22: https://elements.envato.com/pt-br/corporate-espionage-TZB55RK Imagem 23: https://elements.envato.com/pt-br/smiling-diverse-women-sitting-in-circle-during-gro- -9NLTD6Y Imagem 24: https://elements.envato.com/pt-br/human-hands-open-palm-up-worship-eucharist- -therapy-XSA5SCK Imagem 25: Imagens 67Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais https://elements.envato.com/pt-br/young-businesswomen-holding-large-sign-with- -gender-YV96EVK imagem 26 https://elements.envato.com/pt-br/smiling-diverse-women-sitting-in-circle-during-gro- -9NLTD6Y Imagem 27: https://elements.envato.com/pt-br/seaching-for-data-6M5WGQ7 Imagem 28: Referência à Imagem: Imagem de Domínio Público. Imagem 29: https://elements.envato.com/pt-br/group-of-angry-activists-is-protesting-A9TYL33 Imagens 68 Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais art5xv 5XV art5xvi 5XVI art5xvii 5XVII art5xix 5XIX art5xlvi 5XLVI art5xlvia 5XLVIA art5xlvib 5XLVIB art5xlvic 5XLVIC art5xlvid 5XLVID art5xlvie 5XLVIE art5xxxviiia 5XXXVIIIA art5xxxviiib 5XXXVIIIB art5xxxviiic 5XXXVIIIC art5xxxviiid 5XXXVIIID _Hlk109636997 Perspectiva Histórica Histórico das Constituições Brasileiras Conceito de constituição e fontes do direito constitucional Classificação das constituições NORMAS CONSTITUCIONAIS Direitos e garantias fundamentais Direitos e garantias fundamentais em espécie – Imagens