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Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Ana Maria Silva Fátima Garcia Chaves Lúcia Helena Borges de Oliveira Conteúdos e Metodologia da Educação Infantil Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube C767 Conteúdos e metodologia da educação infantil / Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira ... [et al.]. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2019. 132 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-896-6 1. Educação infantil. 2. Aprendizagem – Brincadeiras. 3. Metodologia. I. Ferreira, Sueli Heloisa Doriguetto. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 372 © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Editoração Patrícia Souza Ferreira Rosa Revisão textual Érika Fabiana Mendes Salvador Diagramação Andrezza de Cássia Santos Ilustrações Getty Imagens. Acervo Uniube Depositphotos. Acervo Uniube Acervo Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Ana Maria Silva Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (Uniube). Docente no Curso de Pedagogia da Universidade de Uberaba (Uniube). Fátima Garcia Chaves Mestre em Educação – Formação de Professores pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Planejamento Educacional pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Educação Escolar – Letras pela Faculdade Politécnica de Uberlândia (FPU). Especialista em Educação a Distância – EAD pela Universidade de Uberaba (Uniube). Graduada em Licenciatura Plena Letras – Português/ Inglês por esta universidade e em Pedagogia – Licenciatura Plena pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava (FFCL). Atua no Departamento de Formação Profissional da Secretaria Municipal de Educação de Uberaba. É docente nos cursos de Pedagogia e Educação Física desta universidade. Lúcia Helena Borges de Oliveira Especialista em Avaliação na Área Escolar pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) e em Processo de Ensino Aprendizagem (Faculdades Claretianas). Formação em Coaching Integral Sistêmico pela FebraCIS, com titulação internacional, emitida pela Florida Christian University (FCU). Graduada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (Uniube). Ministra palestras e cursos na área de educação em Uberaba e região. Atualmente está atuando como gestora do Curso de Pedagogia a Distância e docente do Curso de Pedagogia Presencial na Universidade de Uberaba (Uniube). Sobre os autores Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Didática do Terceiro Grau pela Universidade de Franca. (UNIFRAN). Especialista em Psicopedagogia pela Universidade de Uberlândia (UFU). Especialista em Metodologia do Ensino pela Universidade de Uberaba. (Uniube). Especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras José Olympio (FFCLJO). Especialista em Orientação Educacional pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava (FFCLI). Especialista em Metodologia de Ensino e da Educação a Distância pela Universidade de Uberaba (Uniube). Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava (FFCLI). É docente no Curso de Pedagogia da Universidade de Uberaba (Uniube). Sumário Apresentação .......................................................................................... Capítulo 1 Aprendizagem significativa por meio das interações e brincadeiras ..........................................................................1 1.1 Educação Infantil – a primeira etapa da Educação Básica ..................................... 4 1.2 Interações e brincadeiras ........................................................................................ 7 1.3 Brincar é tudo de bom!........................................................................................... 10 1.4 A diferença entre brinquedo, jogo e brincadeira .................................................... 12 1.5 O jogo simbólico e a Educação Infantil ................................................................. 16 1.6 As interações e sua imensurável relevância ......................................................... 19 1.7 Viabilizando as interações e brincadeiras no cotidiano escolar ............................ 25 1.8 Conclusão .............................................................................................................. 26 Capítulo 2 Educação Infantil: vivenciando a prática ............................29 2.1 Organização curricular na Educação Infantil, uma reflexão necessária .................. 31 2.2 Reflexão sobre a rotina na Educação Infantil .............................................................37 2.3 Reflexão sobre a organização do espaço e do tempo na Educação Infantil ........ 38 2.4 Refletindo sobre a organização e utilização de áreas externas ............................. 42 2.5 A criança como sujeito de direitos e a organização do fazer pedagógico.....................44 2.6 Conclusão .............................................................................................................. 54 Capítulo 3 Campos de experiência da BNCC: possibilidades metodológicas ....................................................................57 3.1 A criança da Educação Infantil ............................................................................... 59 3.1.2 A criança na Educação Infantil: sujeito de direitos? .................................... 60 3.2 Campos de experiência da Educação Infantil ....................................................... 63 3.3 A organização das experiências de aprendizagem .............................................. 66 3.4 O eu, o outro e o nós ............................................................................................. 71 3.5 Corpo, gestos e movimentos ................................................................................. 73 3.6 Traços, sons, cores e formas ................................................................................ 77 3.7 Escuta, fala, pensamento e imaginação .............................................................. 79 3.8 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações ................................ 80 3.9 Conclusão .............................................................................................................. 84 Capítulo 4 Planejamento e avaliação na Educação Infantil ................87 4.1 Conversa inicial sobre o planejamento ................................................................. 90 4.2.1 Planejamento de aula ................................................................................. 95 4.2 Como planejar as atividades na Educação Infantil .............................................. 95 4.3 O que podemos entender por projetos na Educação Infantil ............................. 102 4.4 Como avaliar na Educação Infantil ..................................................................... 108 4.5 Formas de registro na Educação Infantil ............................................................ 113 4.6 Conclusão ............................................................................................................116 Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! A menina mal chega à praia, solta a mão de sua mãe e corre. Num instante, atravessa todo percurso e, na beira do mar, diz ao pequeno garoto que ali está: “Quer brincar? ”. As palavras são simples, mas seu efeito é mágico: rapidamente, o menino responde pegando uma bola e rebatendo-a para a garota. Essa cena ocorre em todos os lugares do mundo: quando não há praia, as crianças brincam na praça e, quando não há praça, brincam na rua. Quando não há bola, brincam de pião, de carrinho, de boneca e, quando não há brinquedos, brincam com as pernas e com as mãos, mas, se não há pernas e mãos, brincam de piscar! O fato é que as crianças brincam! Não importa onde, quando, com o que ou com quem. A maioria delas, quando vê outra criança, simplesmente vai em sua direção e profere as palavras mágicas: “Quer brincar?”. A sabedoria infantil desconhece as fronteiras invisíveis do preconceito que, disfarçadamente, cria a impossibilidade. As crianças sabem que, para a brincadeira começar, o preceito fundamental é apenas este: querer! E a pergunta “Quer brincar?”, ouvida pelos adultos, mais parece um código secreto, difícil de ser desvelado por homens e mulheres que, muitas vezes, míopes pelo preconceito, não conseguem enxergar que todo mundo, mas todo mundo mesmo, pode participar e que essa participação começa na tenra infância toda vez que alguém o convida ou o acolhe com um “sim”. Apresentação VIII UNIUBE A cena mostra que tanto a ludicidade, quanto a inclusão, naturalmente, fazem parte do cotidiano e que, muitas vezes, esses aspectos apresentam uma proximidade maior do que a que nós, adultos, conseguimos superar. É com esse olhar atento ao universo infantil que convidamos você para discutir sobre essa temática, fundamental neste livro. No Capítulo 1, “Aprendizagem significativa por meio das interações e brincadeiras”, a autora traz os eixos estruturantes da Educação Infantil, propostos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC/ 2018): as interações e as brincadeiras. Explica por que as brincadeiras, os jogos e as interações são tão importantes no aprendizado das crianças da Educação Infantil. Também convida você, futuro professor, para se instrumentalizar sobre a prática docente, compreendendo a sua importância no processo ensino-aprendizagem, percebendo-a, ao mesmo tempo, tão fascinante e complexa. No Capítulo 2, “Educação Infantil: vivenciando a prática”, a autora discute sobre a importância da intencionalidade da ação do professor para efetivação de uma Educação Infantil com função pedagógica, entendendo a importância da sistematização e da sequência das atividades desenvolvidas como o diferencial de uma escola de qualidade. Trata da organização espacial nas diferentes situações educativas, da relação entre a realidade das crianças e o seu contexto sociocultural, da ampliação do processo de construção do conhecimento e, também, discorre sobre a importância do lúdico enquanto prática pedagógica. No Capítulo 3, “Campos de experiência da BNCC: possibilidades metodológicas”, as autoras apresentam os cinco campos de experiência estabelecidos pela BNCC – Base Nacional Comum Curricular e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, divididos em seus três grupos etários: bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Durante todo o capítulo, trazem exemplos e questionamentos para que você, aluno(a), perceba a relevância de as crianças vivenciarem experiências concretas e significativas. UNIUBE IX Para finalizar, no Capítulo 4, “Planejamento e avaliação na Educação Infantil”, a autora aborda a importância do planejamento para a organização do trabalho do educador em sua prática pedagógica em consonância com a BNCC. E, ainda, sobre como elaborar planos de aula e implantar metodologias de projetos para atuação no contexto educacional, especificamente na Educação Infantil. Você também aprenderá a identificar quem, como, o que avaliar e os tipos de avaliação, considerando estratégias inovadoras de fazer e pensar a avaliação na Educação Infantil. Esperamos que você consiga articular os conhecimentos construídos a partir deste livro com os que já construiu e com os outros que virão, experimentando uma formação cada vez mais humana e consistente, e, ainda, que seu olhar seja cada vez mais amplo, capaz de compreender as pessoas e a educação em sua profundidade. Bons estudos! Ana Maria Silva Introdução Aprendizagem significativa por meio das interações e brincadeiras Capítulo 1 Vamos iniciar este capítulo juntamente com um poema de José Paulo Paes, convidando você para a poesia, reflexão, música, brincadeira... CONVITE José Paulo Paes Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. como a água do rio que é água sempre nova. como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? Figura 1: Menina pulando corda. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. 2 UNIUBE A brincadeira é para a criança o mesmo que a palavra é para o poeta: a essência, a alegria, a razão, a necessidade. Por meio dela, a criança transforma suas ações e atitudes diante da realidade e da vida e descobre o mundo. Se perguntarmos a pessoas adultas qual a lembrança mais feliz de sua infância, a resposta, muitas vezes, incluirá situações de brincadeiras: correria no quintal da vovó; banho de mangueira; jogo de bets na rua; aventuras na roça; cabaninhas com lençóis... As brincadeiras fazem parte da vida humana e, desde muito pequenas, as crianças brincam. O bebê brinca com as mãozinhas, com o cabelo da mãe, as crianças menores se sujam, escondem-se, os adolescentes adoram videogames, jogos on-line. Quando crescem, não dispensam o pôquer, a palavra cruzada, as comédias stand ups, as “pegadinhas” nas redes sociais. No reino animal também é assim. É muito comum vermos os passarinhos fazendo farra, pega-pega de cães e tantas outras brincadeiras envolvendo o mundo animal. Se as brincadeiras são assim tão agradáveis e atrativas, por que negá-las, evitá-las ou economizá-las? Para nós educadores infantis, é ilógico educar uma criança sem brincar, utilizando folhas de exercícios xerocados, muitas vezes copiadas da internet ou de colegas que já fizeram “os trabalhinhos” com outras crianças e repassaram as matrizes. Embora essas atividades reproduzam um modelo estereotipado da realidade, muitos professores ainda usam essa estratégia e acreditam que ela é fonte de brincadeira e diversão – não percebem que elas inibem a criatividade das crianças e subestimam sua inteligência e criatividade. UNIUBE 3 Neste capítulo conheceremos os novos eixos estruturantes da Educação Infantil: as interações e as brincadeiras propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC/ 2017). Vamos refletir sobre o que são as brincadeiras, os jogos e as interações e como o professor da Educação Infantil deverá se instrumentalizar para compreender e trabalhar com essa abordagem ao mesmo tempo tão fascinante e complexa. Prezado aluno, ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: entender o que são os eixos estruturantes da Educação Infantil e também: • compreender como as brincadeiras e as interações podem ser interdisciplinares; • desmistificar o que são as interações e como elas devem ser estimuladas pelo professor; • relacionar as interações e brincadeiras com o cotidiano escolar e as intenções educativas; • explicar o que são os jogos e como devemos utilizá-los nas aulas; • assimilar o significado e a importância do jogo simbólico; • conhecer os Direitos de Aprendizagem estabelecidos pela BNCC; • acreditar nas possibilidades do trabalho com as interações e as brincadeiras. Objetivos 1.1 Educação Infantil – a primeira etapa da Educação Básica 1.2 Interações e brincadeiras 1.3 Brincar é tudo de bom! Esquema 4UNIUBE 1.4 A diferença entre brinquedo, jogo e brincadeira 1.5 O jogo simbólico e a Educação Infantil 1.6 As interações e sua imensurável relevância 1.7 Viabilizando as interações e brincadeiras no cotidiano escolar 1.8 Conclusão Figura 2: Crianças brincando na escola. Fonte: Acervo Uniube. Educação Infantil – a primeira etapa da Educação Básica1.1 A Educação Infantil nem sempre teve um lugar de reconhecida importância na educação, muito menos as brincadeiras e as interações (as conversas eram terminantemente proibidas e “as crianças precisavam ficar caladas para aprender”. Brincar só na hora do recreio “e olhe lá”). Durante muito tempo, as creches tinham apenas a função de cuidar das crianças e havia muitas controvérsias sobre o que e como trabalhar com as crianças. Com a promulgação da LDB (9394) em 1996, a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica e começa a assumir um caráter educacional e a receber atenção dos órgãos governamentais para organizar e normatizar o currículo, a metodologia e as práticas pedagógicas. Deixa de ser um preparatório para a educação básica e se torna uma etapa muito importante da educação, tanto quanto o Ensino Fundamental, o Médio e o Superior, lembrando que a Educação Infantil é a base de tudo. UNIUBE 5 Nesta direção, a criança, ao ir para a escola, “expande seus horizontes” e avança em sua compreensão de mundo. Muitas vezes, a escola é o primeiro contato social da criança fora do contexto familiar. Ela amplia o seu processo de socialização, começa a se relacionar com outros espaços e conhecimentos. O mundo se abre para essa criança. Essa etapa de ensino irá proporcionar novas experiências e novos desafios a esta criança. Ela agora é um “sujeito histórico e de direitos, que interage, busca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos” (BRASIL, 2010, p. 12). Com isso, a criança avança conhecendo a si mesma, conhecendo o outro, construindo a sua identidade e descobrindo o mundo. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil – DCNEI/2010, em seu artigo 9º, definem os Eixos Estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil: interações e brincadeiras. Esse avanço continua com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2017) quando os eixos estruturantes são reforçados e a criança (de 0 a 5 anos) tem assegurados 6 (seis) direitos de aprendizagem e desenvolvimento, são eles: 1) conviver; 2) brincar; 3) participar; 4) explorar; 5) expressar; 6) conhecer-se. Objetivando a formação integral da pessoa humana, a BNCC/2017 “inova ao reconhecer essa etapa da Educação Básica como fundamental para a construção da identidade e da subjetividade da criança” (Nova Escola, 2019, p. 4) e propõe uma organização curricular estruturada em 5 (cinco) campos de experiências, são eles: 6 UNIUBE 1) O eu, o outro e o nós. 2) Corpo, gestos e movimentos. 3) Traços, sons, cores e formas. 4) Oralidade e escrita. 5) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Os campos de experiência “enfatizam noções, habilidades, atitudes, valores e afetos que as crianças devem desenvolver dos 0 aos 5 anos e buscam garantir os direitos de aprendizagem das crianças” (Nova Escola, 2019, p. 10). Conheça a BASE NACIONAL COMUM CURRIULAR em sua íntegra. Acesse o site: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf SAIBA MAIS Os campos foram criados para nortear o trabalho do professor no dia a dia escolar. A partir deles, o professor deverá organizar seus objetivos, atividades e metodologias. Esse documento propõe a formação humana integral partindo das interações e brincadeiras. A revista Nova Escola diz: Mesmo quando o objetivo é apresentar conhecimentos culturais e científicos aos meninos e meninas da creche, é preciso levar em conta os Campos, como núcleos integradores das propostas a serem trabalhadas em sala de aula, além de considerar as interações e a brincadeira como forma de viabilizar o aprendizado das crianças. (NOVA ESCOLA, 2019, p. 10). Se estamos falando em formação integral da pessoa, devemos lembrar a fundamental importância da família. Essa educação começa na mais tenra infância quando o bebê ainda está no berço. Quanto mais cedo os pais começarem as interações com seus filhos (cantando, contando histórias, conversando, brincando e ensinando), mais cedo eles terão a compreensão de si mesmos, do outro e do mundo que os rodeia. A instituição escolar precisa aproveitar todas as oportunidades para orientar UNIUBE 7 e incentivar os pais a passarem tempo de qualidade com seus filhos. Não se pode continuar pensando que cabe à escola toda a responsabilidade de educar e ensinar as crianças. A escola é um complemento, uma continuidade, mas a educação deve começar em casa. À escola cabe dar continuidade, com as interações e brincadeiras, e proporcionar às crianças, de forma natural, uma educação que pretende ser real e ideal, contextualizada e integral. É um grande desafio, mas se nos comprometermos com essa proposta de educação humanizadora seremos bem-sucedidos. Sabemos que ainda existem dúvidas, a proposta é inovadora e pretende trabalhar com conhecimentos e desenvolvimento de habilidades e competências. Como iremos organizar as atividades da creche e da pré-escola com base nessa proposta? Como pôr em prática todas essas orientações? Como trabalhar com as crianças de forma a desafiá-las para compreender este mundo mutante e desenvolver habilidades e competências? Interações e brincadeiras1.2 Figura 3: Crianças brincando em interação. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. As interações e brincadeiras constituem uma via de mão dupla, uma conexão entre as crianças e o ato de aprender que extrapola a definição em palavras. As brincadeiras constituem uma linguagem tão própria das crianças e, ao mesmo tempo, tão complexa e superior que, muitas 8 UNIUBE Um passarinho me contou que a ostra é muito fechada, que a cobra é muito enrolada, que a arara é uma cabeça oca, e que o leão marinho e a foca... xô, passarinho! chega de fofoca! Passarinho Fofoqueiro José Paulo Paes Figura 4: Passarinhos “fofocando”. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. vezes, está além de nossa compreensão. As crianças que brincam juntas descobrem a si mesmas; descobrem o outro; expressam sentimentos e aprendem uma gama de conhecimentos sobre o mundo e suas relações. As interações, juntamente com as brincadeiras, no âmbito pedagógico, têm o propósito de ampliar o universo de experiências, vivências e convivências, trazendo novas habilidades e novas interações. Dessa forma natural, criativa e colaborativa, a criança é o foco principal, aprende e consolida a sua aprendizagem. De acordo com a BNCC, as interações e as brincadeiras são experiências por meio das quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização (BNCC, 2017, p 33). As brincadeiras, como ato cultural, fazem parte do universo infantil. E, nessas ocasiões, as crianças usam instrumentos (bolas, cordas, balizas, bambolês, tacos) e brincam com as mãos, com os pés, com a cabeça, com gestos e movimentos. Brincam com o vento, com a água, com as músicas, com as histórias, com o humor, com as palavras... UNIUBE 9 Bettelheim fala sobre a relevância da brincadeira na infância e sobre sua função comunicativa. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo, sua escolha é sempre motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos. (BETTELHEIM, 1988, p. 105). O ato de brincar é a linguagem da criança, por meio dele a criança consegue mostrar ao mundo o que sente, o que pensa,o que precisa, o que sabe e o que anseia aprender. O que a BNCC 2017 fez, sabiamente, foi determinar que nós educadores infantis usemos essa linguagem para nos comunicar com elas e mediá-las em seu processo de expressar seu pensamento, comunicar suas necessidades e construir conhecimentos. Piaget afirma que é na brincadeira que a criança encontra a forma para compreender a realidade que se apresenta e para se adaptar ao mundo que já existe. Para a criança pequena, o mundo que a cerca é estranho e complexo, daí a necessidade de brincar. ...é uma assimilação quase pura do real ao eu, não tendo nenhuma finalidade adaptativa. A criança pequena sente constantemente necessidade de adaptar-se ao mundo social dos adultos, cujos interesses e regras ainda lhe estanhos, e a uma infinidade de objetos, acontecimentos e relações que ela ainda não compreende. (FONTANA E CRUZ, 2010, p. 120). Esse mundo incompreensível cheio de regras, ações e objetos estranhos se torna aceitável, para a criança, por meio das brincadeiras. A criança brincará repetindo vez após vez as ações dos adultos. Por meio dessa dinâmica, o mundo adulto vai, aos poucos, tornando-se aceitável para a criança. Em uma comunidade indígena, por exemplo, as meninas podem brincar de faz de conta, debulhar milho, descamar peixe, arrancar mandiocas. Na cidade, as crianças brincam de falar ao celular, acessar o computador, aquecer a comida no micro-ondas, limpar a casa... A criança, em sua ânsia de se adaptar, deseja fazer o que o adulto faz. Fontana e Cruz, explicam a brincadeira: 10 UNIUBE ...surgem na criança as necessidades não realizáveis imediatamente, no dizer de Vygotsky, e que se tornam motivo para as brincadeiras. Isso não significa, porém, que as crianças compreendem as motivações que as levam a brincar. A brincadeira é, então, a forma possível de satisfazer a essas necessidades, já que possibilita à criança agir como os adultos (dirigindo um carro, cuidando de um bebê, fazendo “comidinha”) em uma situação imaginária. Para Vygotsky, a situação imaginária da brincadeira decorre da ação da criança. Ou seja, a tentativa da criança de reproduzir as ações do adulto em condições diferentes daquelas em que ocorrem na realidade que dá origem a uma situação imaginária. (FONTANA E CRUZ, 2010, p. 122-123). Dessa forma, brincando, imitando e criando situações imaginárias, a criança traduz em linguagem compreensível o mundo e a sua dinâmica, encontrando uma forma de compreender e aceitar a realidade que a cerca. Brincar é tudo de bom!1.3 Figura 5: Brincadeira de roda. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. A brincadeira é uma atividade completa e interdisciplinar, ao mesmo tempo em que trabalha as diferentes linguagens, a psicomotricidade, a música, o raciocínio lógico-matemático, a natureza, ela é um convite à fantasia, à criatividade, à autonomia, à socialização e a tantos outros objetivos, conteúdos e temas da Educação Infantil. Por que substituí-la UNIUBE 11 por atividades individuais em folhas de papel, com a criança sentada atrás de outra? A natureza, com seus “pés de laranja lima”, seus “fundos de quintais”, constitui o ambiente mais propício para a aprendizagem significativa, usando como lápis a “cabra-cega”, o “balança-caixão”, as “amarelinhas” e o faz de conta. As crianças, ao ar livre, com seus colegas e professores, poderão concretizar em suas mentes e corações uma aprendizagem interdisciplinar maravilhosa. Quanto à sistematização, poderá fazê-la, mais tarde, nas séries iniciais. Com tantos desafios, as crianças aprenderão também a “escrever” as lições da escola da vida, a “ler” o que é cidadania, autonomia, bem-estar e se alfabetizar com as interações na correria do pique-pega. Todas as atividades realizadas pelas crianças deverão ser registradas diariamente, utilizando as diversas linguagens, tais como: textos coletivos (em que o professor é o escriba), fotos, vídeos, desenhos, símbolos criados pelas próprias crianças, pinturas, esculturas, relatórios orais e escritos, cartazes e outras diferentes formas de representações. Esses registros são extremamente importantes porque demonstram a evolução das crianças, oferecendo ao professor elementos importantes para a avaliação de habilidades. Oferecem às crianças requisitos importantes para o processo amplo de alfabetização e letramento, pois implicam a descoberta da função social da escrita e do registro, entre outras possibilidades. A leitura e a escrita serão o foco de atenção, a partir do primeiro ano do Ensino Fundamental, no entanto as crianças da Educação Infantil deverão ser incentivadas a escrever seus nomes, os nomes dos pais e dos colegas, pequenas frases, versos de poemas e de músicas, numerais representativos, como os dias importantes do calendário etc. IMPORTANTE! Os vários estudos sobre a aprendizagem infantil, há muito tempo, já apontavam para a direção das interações e das brincadeiras como o alicerce ideal de aprendizagem para as crianças. A BNCC/2017 12 UNIUBE apresenta o ato de brincar como o 2º dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, da criança na Educação Infantil. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Direitos, esses, que deverão ser conhecidos, estudados e proporcionados às crianças por nós educadores. Figura 6: Educadora infantil se questionando. Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube. O que é jogo??? O que é brincadeira ??? O que é brinquedo??? A diferença entre brinquedo, jogo e brincadeira1.4 Muitas vezes o jogo, o brinquedo e a brincadeira aparecem como sinônimos usados para definir a mesma atividade ou fenômeno lúdico, mas, se formos analisar de perto e de acordo com o contexto das definições apresentadas em documentos de educação e autores diversos, chegaremos à conclusão que existem diferenças entre estes três, sendo que eles se harmonizam para compor a ideia de brincadeiras, proposta pela BNCC/2017. UNIUBE 13 As brincadeiras, de forma geral, são atividades que envolvem alegria, descontração, prazer e liberdade. As crianças riem, brincam, pulam, cantam, recitam, dançam, combinam regras, inventam e aprendem. As brincadeiras, na proposta da BNCC, 2017, envolvem os jogos lúdicos, o faz de conta, as brincadeiras tradicionais e várias outras atividades lúdicas. Todas elas têm sua importância porque estimulam, no cérebro, hormônios que produzem exultação e felicidade. Sobre eles, endocrinologistas e neurocientistas afirmam que, ao produzi-los, pode-se encontrar felicidade. A partir das ações ligadas às brincadeiras, processa-se a produção de substâncias químicas naturais do corpo humano (endorfina, serotonina, dopamina e oxitocina), que são neurotransmissores conhecidos como o “quarteto da felicidade”, que, por si só, já justificariam as brincadeiras na infância, mas, em educação, tornam-se uma base, um eixo estruturante de ensino aprendizagem. As crianças em interação com outras crianças, com os pais e com os professores aprendem a brincar (balança-caixão, chicote queimado, cabo de guerra), inventam, também, novas brincadeiras. Usam os brinquedos (objetos, instrumentos para brincar) que podem ser de madeira, de plástico, de sucata, industrializados, confeccionados por elas mesmas. Eles podem, também, ser construídos com sucata ou extraídos da natureza e transformados pelas próprias crianças (estes são os melhores): pedrinhas, gravetos, terra, folhas, penas, insetos, ou o que encontrarem pelo jardim da escola. Essa liberdade de criar e de explorar se constitui mais um dos direitos de aprendizagem (direito nº 4) que a BNCC 2017 estabelece. Um cabo de vassoura se transforma em cavalo, terra e água se transformam em “comidinha”, um pequeno galho, achado na grama, transforma-se em uma varinha mágica. 14 UNIUBE O termo jogo já é um fenômeno mais complexo para se definir e, em cada cultura, ele pode ter um significado diferente, dependendo de como a palavra jogoé empregada. Huizinga fala do jogo como ato cultural, com regras: (...) é uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais, segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas, e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material (HUIZINGA, p. 147. 2005). O jogo está ligado ao contexto histórico, à cultura e ao espaço em que acontece. O jogo da atualidade é diferente do jogo que nós adultos jogávamos, que, por sua vez, é mais diferente ainda daquele que nossos avós jogavam. O espaço também influencia a escolha e a forma de jogar. Em comunidades urbanas, eles são diferentes dos praticados no campo e que também são diferentes dos jogos das comunidades indígenas. Em antigas civilizações, o jogo aparecia como brincadeira de criança e como competições ou rituais de iniciação de jovens à vida adulta. Desde tempos passados, os jogos tradicionais infantis fazem parte da cultura humana. A atividade, para ser caracterizada como jogo, tem que ter uma performance que envolve diversão, prazer e regras, como o jogo de basquete ou o jogo de futebol, por exemplo. Kishimoto diz que: Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê- la de modo diferente. Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estórias, brincar de “mamãe e filhinha”, futebol, dominó, quebra-cabeça, construir barquinho, brincar na areia e uma infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades. Por exemplo, no faz-de- conta, há forte presença da situação imaginária; no jogo de xadrez, regras padronizadas permitem a movimentação das peças. Brincar na areia, sentir o prazer de fazê-la escorrer pelas mãos, encher e UNIUBE 15 esvaziar copinhos com areia requer a satisfação da manipulação do objeto. Já a construção de um barquinho exige não só a representação mental do objeto a ser construído, mas também a habilidade manual para operacionalizá-lo. (KISHIMOTO, 2015, p. 13) A palavra jogo pode representar atividades diferentes de acordo com a cultura, o tempo, ou a pessoa que emprega a palavra. Para alguns, é qualquer atividade com regras ou com ludicidade e prazer, para outros pode ser qualquer tipo de brincadeira, inclusive o jogo de faz de conta. Para Kishimoto, o jogo faz parte de uma grande família, a família do jogo, e possui características próprias: 1) a não literalidade: as situações de brincadeira podem ser representativas (o ursinho de pelúcia pode servir como o filhinho); 2) efeito positivo: o jogo infantil é caracterizado pelo prazer, pela alegria, pelos sorrisos; 3) flexibilidade: as crianças aceitam novas combinações de ideias e comportamentos; 4) prioridade do processo de brincar: a criança se concentra só na brincadeira; 5) livre escolha: o jogo infantil só pode ser jogo quando escolhido livre e espontaneamente pela criança, se for sugerido, ou direcionado pelo professor, não é jogo infantil é ensino; 6) controle interno: no jogo infantil, são os próprios jogadores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos, se for direcionado pelo professor é jogo educativo, é ensino, não é jogo infantil. (KISHIMOTO, 2015 p. 25 e 26). O jogo educativo ou jogo pedagógico tem o objetivo de ensinar, educar e desenvolver habilidades na criança. Precisa ser dotado da função lúdica e, ao mesmo tempo, educativa. “Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagens, surge a dimensão educativa.” (KISHIMOTO, 2015 p. 36). Nesse contexto, o jogo educativo é importante e necessário no cotidiano da Educação Infantil, mas ele não deve ser confundido com o jogo infantil (jogo simbólico) ou faz de conta. 16 UNIUBE O jogo simbólico e a Educação Infantil1.5 O jogo infantil, (para Vygotsky), jogo simbólico ou jogo de papéis sociais, (para Piaget), é também chamado de jogo imaginário. Nesse jogo a criança representa papéis, que fazem parte do seu cotidiano: a menina se torna a mamãe, a filhinha, a fada, a professora; começa bem cedo aproximadamente aos 2 anos com algumas imitações e avança até os 6 ou 7 anos de forma mais elaborada. O menino poderá ser o papai, o policial, o Homem-aranha, o lobo mau ou qualquer outro personagem que consiga imaginar. Parece um teatro, em que cada criança conta uma história. Esse jogo tem flexibilidade, tem regras que as próprias crianças criam, individual ou coletivamente. Elas determinam: “isso pode”, “isso não pode”, “agora eu sou a mãe”, “agora você é a princesa”. O jogo pode mudar a qualquer momento, de acordo com os elementos imaginários ou concretos que as crianças incluem ou excluem dele. A imaginação não conhece fronteiras, por isso o jogo é tão rico. O jogo de faz de conta deve existir nas salas de aula de Educação Infantil e deve ser estimulado pelos professores, criando-se cantinhos para que ele aconteça, uma vez que ele é um instrumento poderoso para a ampliação das fronteiras da inteligência. Quando a criança brinca, ela “[...] se comporta além do comportamento habitual de sua idade” (Leontiev, 1988:122). Com isso, ela experimenta, levanta hipóteses, tira conclusões, exercitando suas estruturas cognitivas e sua criatividade. Elkonin relata uma situação de jogo simbólico (para ele é jogo protagonizado) que demonstra bem as características imaginárias do jogo infantil. Ele relata que o jogo protagonizado acontece em uma situação em que suas filhas não queriam comer o mingau que ele havia preparado: UNIUBE 17 Como eu não desejava estragar-lhes o humor, obrigando- as a comer, propus brincarmos de “jardim-de-infância”. Aceitaram a ideia com gosto. Vesti um guarda-pó branco e transformei-me em educadora; elas puseram seus pequenos aventais para se converterem em educandas. Começamos a brincar, repetindo o que se faz nos jardins-de-infância: desenhamos; depois, fingindo que punham seus agasalhos, passeamos, dando duas voltas ao redor da sala; lemos; e, por fim, chegou a hora do almoço. Uma das meninas assumiu as funções de empregada e pôs a mesa. Eu, no meu papel de educadora, ofereci-lhes o mesmo mingau. Sem o menor protesto, mostrando-se até satisfeitas, comeram até ver o fundo dos pratos e ainda pediram mais. Toda a sua conduta denotava um esforço para parecer educandas exemplares, sublinhando com sua atitude que me tinham por “educadora”, aceitando sem reclamar cada palavra minha e tratando-me com grande respeito. (ELKONIN, 2009, p 1 e 2). É interessante que, durante o faz de conta, as crianças comem o mingau que recusaram antes porque, com o desenvolvimento da imaginação, elas representam o papel de alunas “bem-comportadas”, que comem, com prazer, o mingau servido pela “professora”. Nesse exercício de representar papéis, as crianças se divertem, experimentam situações inusitadas e aprendem. Sobre essa ocorrência, o próprio Elkonin explica: As observações fizeram-me supor que no jogo das crianças em idade pré-escolar o principal é o papel que assumem. No processo de interpretação do seu papel, a criança transforma suas ações e a atitude diante da realidade. Nasceu assim a hipótese de que a situação fictícia, em que a criança adota o papel de outras pessoas, executa suas ações e estabelece suas relações típicas nas condições lúdicas peculiares, é o que constitui a unidade fundamental do jogo. Um aspecto essencial para criar essa situação lúdica é a transferência do significado de um objeto para outro. (ELKONIN, 2009, p. 2 e 3). A criança, quando assume um papel, transforma suas ações, incorpora um personagem e realiza atividades e funções que, em situação real, não conseguiria. Vemos aqui a importância desse tipo de jogo, não só para 18 UNIUBE a compreensão do mundo, mas para a compreensão de si mesma e do outro. A criança tem esse direito assegurado pela BNCC 2017, o direitode conhecer-se, (6º direito de aprendizagem) o que é muito importante para o processo de construção da identidade. O jogo também possibilita que a criança inicie o processo de elaboração simbólica, ou seja, desenvolva a capacidade de representar objetos, ações e atitudes, utilizando-se de símbolos. O desenvolvimento da função simbólica é fundamental no processo de alfabetização, pois nele a criança aprende representar com símbolos (letras, numerais, traços, gestos e desenhos), palavras, sons, imagens, quantidades e eventos. Nesse processo de elaboração simbólica e de representação, a criança começa a compreender e a diferenciar objetos concretos de seus significados. Vygotsky explica como a criança desenvolve essa habilidade ao brincar: Ao brincar com um tijolinho de madeira como se fosse um carrinho, por exemplo, ela se relaciona com o significado em questão (a ideia de “carro”) e não com o objeto concreto que tem nas mãos. O tijolinho de madeira serve como uma representação de uma realidade ausente e ajuda a criança a separar objeto e significado. Constitui um passo importante no percurso que a levará a ser capaz de, como no pensamento adulto, desvincular-se totalmente das situações concretas. O brinquedo provê, assim, uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações com significados.(OLIVEIRA, 2010 p. 68). Acesse o link abaixo e assista no YouTube ao vídeo de Tizuko Morchida Kishimoto: O brincar na Educação Infantil. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=09w8a-u-AUU SAIBA MAIS Vygotsky também salienta a importância das brincadeiras no desenvolvimento integral da criança. UNIUBE 19 a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente, a pré-escola poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das crianças (VYGOTSKY, 1987, p. 67). Essa fala de Vygotsky lembra a nós educadores infantis que devemos incluir em nossos planejamentos diários ou semanais o tempo e os recursos para que nossos alunos brinquem de faz de conta, para que utilizem casinha de boneca, telefones, computadores, cozinha com panelinhas e fogões, animais em miniatura, roupas e fantasias diversas, carrinhos e ferramentas de brinquedo para criar situações e ambientes propícios para que, em interação, brinquem com as outras crianças. Quando uma criança brinca, joga e finge, está criando um outro mundo. Mais rico e mais belo e muito mais repleto de possibilidades e invenções do que o mundo onde de fato vive. (CHAUI, 2000, p. 112) IMPORTANTE! As interações e sua imensurável relevância1.6 As intenções se relacionam com reciprocidade, atividades compartilhadas, envolve dois ou mais sujeitos. De acordo com as DCNEIs, “A primeira condição para a experiência na Educação Infantil é a interação. Estudos já mostraram que o desenvolvimento humano não é um processo natural e biológico, e, sim, produto de processos sociais mediados pela cultura, pela sociedade e pela interação com outras crianças e adultos. A partir de Vygotsky, podemos dizer que a experiência é construída na interação”. (DCNEI, 2010, p.22). É dever da escola e dos professores proporcionar às crianças interações de qualidade, que permitam à criança vivenciar, experimentar, contatar, situações ricas em desafios e em ludicidade. As interações proporcionam às crianças infinitas situações de aprendizagem. 20 UNIUBE Figura 7: Crianças criando suas próprias brincadeiras. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. As interações com os colegas devem ser incentivadas, cada vez mais, por pais e professores. No mundo atual, essas interações estão ficando cada vez mais raras, o que é uma grande perda para a infância e para a adolescência. Afinal, como diria Tom Jobim, “é impossível ser feliz sozinho” e desfrutar da companhia de outros traz felicidade, ajuda a construir a subjetividade, o sentimento de pertencer a um grupo, a uma equipe, a um lugar. Nessas ocasiões, as crianças são desafiadas a combinar regras, discutir possibilidades, ouvir o que o outro tem a dizer, defender suas ideias e argumentar. Sabemos que o 1º direito de aprendizagem estabelecido pela BNCC 2017 é conviver. A criança tem o direito de conviver com as outras crianças; é por meio dessa convivência que ela aprende, que se reconhece na interação com os seus pares. A hora do parque (tempo em que as crianças ficam mais livres) oportuniza interações muito interessantes de aprendizagem e parceria e o professor pode e deve atuar, também, nesses momentos, não “dando aulas”, mas brincando, conversando, mediando, sugerindo novas interações. A roda de conversa é também um instrumento poderoso para a educação nas escolas. Ela deve fazer parte da rotina diária da Educação Infantil (e também das outras etapas de ensino). UNIUBE 21 Por meio dela, a criança pode expressar (5º direito de aprendizagem) o que pensa e sente, assim como também conversar, ouvir o outro, propor e aprender com ele novas palavras, novas brincadeiras e novos assuntos. Os diálogos desenvolvem a linguagem, o vocabulário, o espírito de grupo, a identificação com os colegas, o senso crítico e a inteligência - o que é fundamental no processo amplo de alfabetização e de leitura de mundo. Os professores devem trazer para a roda músicas, poesias, parlendas, trava-línguas, notíciais atuais e outros assuntos para conversar com as crianças de todas as idades. Claro que o tempo de conversação deve ser cuidadosamente medido de acordo com o interesse e a faixa etária dessas crianças. Quanto mais as crianças conversarem e interagirem (organizadamente) umas com as outras, mais elas desenvolverão habilidades para conviver em sociedade, ser parceiras e solidárias. Figura 8: Crianças em interação com educadoras. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. As interações com professores precisam ser de qualidade. Quando o professor é mediador, ele orienta, desafia, questiona, sugere e aponta caminhos. Não se pode negar à criança o direito de participar (3º direito de aprendizagem assegurado pela BNCC 2017) na escolha dos assuntos a serem discutidos, das atividades, das brincadeiras, dos temas 22 UNIUBE de estudo e dos projetos. A criança deve ser o centro do processo ensino aprendizagem e todos os estudos devem ser contextualizados a partir da realidade cotidiana dela. De outro modo, como ela irá desenvolver a autonomia, se não participar, se não for incentivada a tomar a iniciativa, se não tiver suas escolhas respeitadas? Precisamos refletir até que ponto as atividades que propomos possibilitam às crianças o seu desenvolvimento real, considerando que tais atividades promovam o autoconhecimento, o conhecimento social e científico. Num ambiente fértil para a descoberta, a criança se envolverá com o conhecimento, com a fantasia, com a pesquisa e precisará exercitar o raciocínio lógico, buscando respostas e soluções para os problemas e questionamentos que surgem cotidianamente. Interações com o meio ambiente e com a cultura por meio da música, da dança propiciam à criança, oportunidade para aprendera a ser cidadã, a se reconhecer como pessoa e a amar sua herança cultural. Conhecer, de forma contextualizada, a natureza fará germinar nela o sentimento de pertença, de amor e preservação ao ambiente em que vive. Gradativamente, ela irá perceber que somos parte de um todo, vivo e pulsante, somos todos habitantes do planeta Terra e precisamos descobri-lo, conhecê-lo, amá-lo e salvá-lo. A criança, com essas interações, aprenderá que pode fazer a diferença, pode se tornar sujeito ativo e transformador, construtor do futuro. Como diz Morin, nos tornamos conhecedores da condição comum a todos os humanos: a de cidadãos planetários. Por isso, a educação deveria mostrar e ilustrar o Destino multifacetadodo humano: o destino da espécie humana, o destino individual, o destino social, o destino histórico, todos entrelaçados e inseparáveis. Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria à tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidadãos da Terra... (MORIN, 2013, p.61) UNIUBE 23 Essa consciência planetária é muito apropriada para a Educação Infantil, as crianças naturalmente, em sua candura infantil, não conhecem barreiras sociais ou raciais, não compreendem a fragmentação compartimentada do mundo adulto. Para elas não é possível separar o homem da sua história, nem da natureza, não existem fronteiras geográficas, sociais nem políticas. Podemos mergulhar em estudos sobre a China, os dinossauros, os planetas, os gêiseres, as borboletas.... Não importa o lugar, o tempo, a disciplina, o conteúdo, a série, nem a dimensão. Podemos viajar, com as crianças, para aonde a curiosidade nos levar... Assista no YouTube ao filme Capitão Fantástico (história de um pai que educa seus filhos no meio de uma floresta, sem que frequentem a escola) e reflita sobre a educação sistematizada, as interações, os conhecimentos e as diversas culturas abordadas. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=dqxpwxzBH9M SAIBA MAIS As interações com as tecnologias, tão presentes e acessíveis às crianças da atualidade, o celular, as redes sociais, o computador e o tablete, estão muito presentes na vida das crianças e não podemos mais pensar a educação sem utilizar essas ferramentas. Claro que elas não poderão, jamais, substituir as outras interações, mas devem fazer parte das atividades cotidianas da escola como instrumentos de estudo, comunicação, lazer e pesquisa. Mas é imprescindível apresentar às crianças e utilizar, cotidianamente, outras ferramentas de estudo como livros, revistas, jornais, cartas, documentos, fotografias, peças de vestuário, aulas passeio, entrevistas com pessoas, etc. É também dever da escola e da família incentivar a “leitura” de outras formas de linguagens, como partituras, gráficos, legendas, obras de arte, gibis, folhetos e símbolos. 24 UNIUBE Sabemos que as crianças, antes mesmo de irem para a escola, usam de forma muito hábil os recursos tecnológicos como forma de diversão e lazer. Mas, não podemos deixar de alertar as famílias para o uso responsável e controlado desses recursos e jogos devido à influência negativa que têm exercido na vida de crianças e jovens. A escola, a família e a sociedade precisam ficar mais atentas a estas interações porque elas transmitem crenças e valores que modificam a maneira de pensar, de ver o mundo e de agir sobre ele. As crianças devem interagir com valores e princípios. Elas precisam conhecer as regras que regem a sociedade na qual estão inseridas. É na convivência em outras crianças e adultos que irão aprender a se respeitar, a se colocar no lugar do outro, entender o que é parceira, trabalho em equipe, e começar a construir os conceitos de autonomia (ter os seus próprios valores), cidadania, compromisso social/ambiental, ética, estética e solidariedade. Esses e outros valores morais e espirituais, precisam ser experimentados e vivenciados pelas crianças na família, na escola e na sociedade. Figura 9: Sala de aula na perspectiva tradicional. Fonte: Acervo Uniube. UNIUBE 25 Viabilizando as interações e brincadeiras no cotidiano escolar1.7 Para alcançar os objetivos educacionais, o professor deverá organizar os conhecimentos, as pesquisas e brincadeiras, em planos e projetos, com metodologias, recursos diversos e avaliação adequada. Organizar as descobertas da turma com mostras de arte, culminância de estudos, feiras de conhecimento, exposições, publicação de trabalhos, construção de portfólios etc. Neste processo organizado e colaborativo as crianças, juntamente com os professores, vão criar, sugerir, investigar e propor regras claras (combinados da sala, valores do grupo, princípios norteadores) para o uso dos “cantinhos lúdicos”, dos espaços externos, das brincadeiras e dos projetos. Todos precisam ter voz para a escolha de temas de estudos e tipos de brincadeiras. Os projetos devem acontecer levando-se em conta a intencionalidade educativa, as rotinas escolares e os objetivos claros. A BNCC (2017, p. 35) ressalta que “a construção de novos conhecimentos implica, por parte do educador, selecionar, organizar, refletir, planejar, mediar e monitorar o conjunto de práticas e interações. ” Figura 10: Sala de aula na perspectiva atual. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. 26 UNIUBE Conclusão1.8 Temos um grande desafio pela frente, precisamos pesquisar, estudar, compreender e incorporar a essência, o sentido e a abrangência das interações e brincadeiras. Nessa abordagem, não podemos negar à criança os seus direitos de aprendizagem, que devem acontecer dentro de campos de experiência, interdisciplinares. Essa proposta pode parecer simples quando fala de brincadeiras, exploração da natureza, interações, autoconhecimento, habilidades, mas sabemos que é bastante complexa, porque dialoga com o desenvolvimento integral da pessoa, na sua inteligência, afetividade, plasticidade, cultura, condição subjetiva de ser. É muito complexo e sofisticado o ato de favorecer a aptidão natural da mente infantil e não a bloquear. Ele envolve responsabilidade, competência e muito estudo. O que oferecemos neste primeiro capítulo é apenas o antepasto de um banquete suntuoso de conhecimentos desafiadores, que você irá degustar, com estudo e pesquisa, ao longo deste livro. Queremos deixar aqui o “gostinho de quero mais”, o fermento que deverá levedar a massa da curiosidade e fazê-la crescer. Necessitamos nos debruçar sobre este conhecimento para absorvê-lo e, a partir daí, esboçar planos, estratégias, projetos para recepcionar as crianças com alegria, brincadeiras e interações. Incluímos aqui um trecho do poema de Drummond para que você medite sobre a proposta da BNCC 2017 sob a luz dele: Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? UNIUBE 27 Referências ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular/ Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010. BNCC. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_ EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil. Brasília: 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2019. BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho – Pais bons o bastante. Rio de Janeiro: Campus, 1988. CAPITÃO FANTÁSTICO. Direção: Matt Ross. Produção: Monica Levinson Jamie Patricof, Shivani Rawat, Lynette Howell Taylor. Interpretes: Viggo Mortensen, Frank Langella, George MacKay, Samantha Isler e outros. Roteiro: Matt Ross. Música: Alex Somers. Estados Unidos da América. Electric City Entertainment, ShivHans Pictures, 1916. (118 min). Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=ScCFKDlVt6w>. Acesso em: 02 jul. 2019. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. ELKONIN, D. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. FONTANA, Roseli; CRUZ, M. Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 2010. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2005. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:Cortez, 2015. LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKI, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 6. ed. São Paulo: EDUSP, 1988b. p. 57 a 87. 28 UNIUBE MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro, São Paulo: Cortez, 2013. NOVA ESCOLA, BNCC NA PRÁTICA – Tudo que você precisa saber sobre Educação Infantil, São Paulo, 2018. Disponível em: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws. com/JdyDVYh3RNcpRqKe2UDdaH5hPjDUZbFbqfWu6gkg9jPzZ8wKaCgXwN8 MpmGa/bncc-educacao-infantil-ebook-nova-escola.pdf> Acesso em: 20 mar. 2019. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vigotsky Aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico, São Paulo: Scipione, 2010. PAES, José Paulo. É isso ali. 10ª ed. Rio de Janeiro. Salamandra. 1993. VYGOTSKY, L S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987. Lúcia Helena Borges de Oliveira Introdução Educação Infantil: vivenciando a práticaCapítulo2 A procura pela Educação Infantil tem aumentado consideravelmente, entretanto há concepções equivocadas sobre a definição desse nível escolar. A ideia de ensino tem sido confundida com a ideia de controle da ação da criança. Isso se deve, talvez, pela falta de clareza sobre o que fazer na escola com as crianças de 0 a 5 anos. Testemunhamos escolas que se organizam para atender às influências coativas advindas das famílias, em seus anseios, por uma “escola forte” que prepare seus filhos “academicamente” para os segmentos posteriores. Há também escolas que, simplesmente, oferecem às crianças eternos momentos de brincadeiras livres. Tudo isso evidencia, apesar de alguns avanços nesse setor, descaso com esse segmento, pois, no interior das organizações educativas, ainda existe a falsa impressão de que “cuidar” de criança é muito simples e qualquer pessoa tem a plena condição para desenvolver esse trabalho, sendo, portanto, suficiente gostar do aluno que se encontra nesta faixa etária. Veja que, nesse contexto, a expressão “cuidar” se diferencia muito da expressão “educar”. Quando não temos clareza sobre o que se deve fazer, agimos sem ter a certeza do que deveríamos, realmente, fazer e, muitas vezes, acatamos a opinião dos outros sem refletir sobre elas. 30 UNIUBE Isso também pode acontecer com o professor que trabalha com criança pequena, pois, muitas vezes, ele depara com situações como essa. Não sabe como organizar o seu trabalho de forma a atender às exigências das famílias, da equipe pedagógica e das crianças, assim, tenta agradar a todos, mas acaba não agradando a ninguém. Ao estudar este tema, temos a intenção de possibilitar a você compreender a prática pedagógica desenvolvida pelos professores que atuam na Educação Infantil. Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • reconhecer a importância das brincadeiras no contexto socioeducativo; • identificar a importância da intencionalidade da ação do professor para efetivação de uma Educação Infantil com função pedagógica; • interpretar a realidade das crianças e o seu contexto sociocultural como uma condição essencial para iniciar toda e qualquer atividade educativa; • desenvolver a ampliação do processo de construção do conhecimento das crianças; • defender a participação da criança nas atividades desenvolvidas na escola, possibilitando a construção de sua autonomia; • organizar a sistematização e a sequência das atividades desenvolvidas como diferencial de uma escola de qualidade. Objetivos UNIUBE 31 2.1 Organização curricular na Educação Infantil, uma reflexão necessária 2.2 Reflexão sobre a rotina na Educação Infantil 2.3 Reflexão sobre a organização do espaço e do tempo na Educação Infantil 2.4 Reflexão sobre a organização e utilização das áreas externas 2.5 A criança como sujeito de direitos e a organização curricular conforme a BNCC 2.6 Conclusão Esquema 2.1 Organização curricular na Educação Infantil, uma reflexão necessária Quando o assunto é a prática na Educação Infantil, é necessário compreender como fazer a imaginação circular nesse espaço, no sentido de perceber que, por meio dela, a criança começa a interpretar e entender as ações que os adultos ao seu redor desenvolvem. A imaginação será o instrumento que a criança utilizará para relacionar o que lhe interessa com a realidade de um mundo que ela ainda está descobrindo. Então, se a escola é um local privilegiado para as construções e descobertas, já temos definida qual é a proposta de trabalho nesse segmento de escolaridade, ou seja, incorporar no seu dia a dia o jogo e as brincadeiras, elementos fundamentais para o desenvolvimento infantil. Sabemos que, independentemente da vontade ou não do adulto, as crianças brincam. Isso nos remete à seguinte conclusão: a aprendizagem da criança de 0 a 5 anos deve ocorrer em contextos de brincadeiras e de trabalho, pensando o termo “trabalho” no sentido de ação sistematizada, planejada, organizada. 32 UNIUBE Voltando ao nosso raciocínio de que os jogos e brincadeiras são elementos fundamentais para o crescimento individual da criança, assim como o desenvolvimento da cultura, convidamos você para relembrar alguns jogos e/ou brincadeiras tradicionais infantis que, com certeza, também fizeram parte de sua infância. De quais brincadeiras e jogos você brincou na infância? Ciranda-cirandinha? Cobra-cega? Barra-manteiga? Queimada? Jogo de pião? Pedrinhas e/ou baliza? Amarelinha? Esconde-esconde? Pega-pega? Morto-vivo? Coelhinho sai da toca? Pular corda? Passa-anel? Corre-cutia? Espelho ou mestre? Quais? RELEMBRANDO Veja que os jogos tradicionais citados possuem características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação e mudança e possuem também a função de perpetuar a cultura infantil e desenvolver a convivência social, assim como outras brincadeiras. Infelizmente, na sociedade contemporânea, muitos jogos e/ou brincadeiras tradicionais estão desaparecendo, devido a uma série de fatores: influência da televisão, dos jogos eletrônicos e das transformações do ambiente urbano, uma vez que as ruas e as calçadas deixaram de ser os espaços para a criança brincar, já que, hoje, a violência é mais temida. Portanto, podemos entender que o ambiente escolar, por ser um espaço privilegiado de construção de conhecimentos, precisa ser um local adequado, aprimorado e estruturado, em que a criança, ainda bem pequena, inicia um elaborado processo de aprendizagem. Cabe ao professor ter a consciência de que introduzir essas brincadeiras na rotina de trabalho diário significa transcender o fazer pedagógico dentro da escola. Essa é uma forma de ampliar e manter os vínculos culturais das UNIUBE 33 crianças e, inclusive, facilitar a interação extraescolar, já que os pais, avós, primos e a sociedade em geral conhecem essas atividades. Sendo assim, é, também, uma maneira de estimular que a criança continue brincando e aprendendo mesmo fora da escola. Segundo Cascudo (2001) apud Lannes (2006), grande parte das brincadeiras conhecidas vieram com os portugueses e fazem parte da cultura europeia, tendo também influências indígenas e africanas. O bodoque, o estilingue, o pião ou pinhão, as bonecas, a pipa ou papagaio, entre outros brinquedos e brincadeiras, vieram com esses povos e passaram também a fazer parte da cultura brasileira. Na Figura 1, veja alguns brinquedos da época da vovó: Figura 1: Brinquedos da época da vovó. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube 34 UNIUBE Aproveite para fazer uma pesquisa com seus alunos envolvendo seus familiares, é possível que encontre outras variações e a brincadeira fique ainda mais divertida. Citamos algumas sugestões, alguns brinquedos e brincadeiras, mas, de acordo com o contexto, procure enriquecer e criar outras possibilidades de exploração desse tema e materiais, integrando as diversas áreas do conhecimento. O importante é sempre contextualizar a ação, ou seja, ter umprojeto de trabalho. Voltando ao contexto das brincadeiras, percebemos que: [...]as crianças brasileiras receberam influência de diversas culturas lúdicas do mundo, particularmente a portuguesa. Jogos e brincadeiras tradicionais coexistem com novas modalidades de brincar trazidos pela televisão, vídeo game, computador, ampliando o seu universo lúdico e dando novas oportunidades àqueles que começam a descobrir o mundo. (LANNES, 2006). Há aquelas brincadeiras que são passadas de geração para geração, mas há também aquelas que são inventadas pelas crianças que, de repente, transformam objetos em brinquedos, onde e quando menos esperamos. Assim, diferentes formas de brincar são aprendidas pelas crianças, de acordo com seu contexto sociocultural. Gilberto Dimenstein é um jornalista brasileiro. Por suas reportagens sobre temas sociais e suas experiências em projetos educacionais, ele foi apontado pela revista Época, em 2007, como umas das cem figuras mais influentes do país. Veja o que ele nos diz sobre o brincar, em seu texto “O direito de brincar”, 2003, publicado na Folha on-line: [...] brincar é, em essência, experimentar a emoção da descoberta. É surpreender-se investigando, no cume da árvore, as frutas e as flores. É admirar as conchas na praia, olhar os peixes no rio, sentir o SAIBA MAIS UNIUBE 35 gosto da chuva no rosto, sujar-se na lama, entrar em cavernas. Ou simplesmente ficar sem fazer nada vendo as coisas, quaisquer coisas passarem, entretido com o canto de um passarinho. É cutucar a terra, descobrir a minhoca, cortá-la em pedaços e ver as várias partes se contorcerem. É ficar sentado, intrigado com as cores do arco-íris. No texto em questão, Gilberto também escreve sobre sua percepção em relação ao “vestibulinho”, que é um processo de seleção de crianças, candidatas à vaga de escolas particulares do ensino básico. Escreve, ainda, sobre o que considera ser prioridade para a educação, especialmente para o processo ensino-aprendizagem. O texto é muito claro e agradável. Caso se interesse em saber mais, sugerimos que o leia na íntegra, acessando o site: <http://www1.folha.uol.com.br/ folha/dimenstein/colunas/gd031103.htm>. Brincar é viver, e a escola, como diz Rubem Alves, deve aos pássaros a arte do voo. Se, ao brincar, a criança se envolve intensamente nas atividades que vivencia, é necessário organizar o currículo da Educação Infantil incorporando as brincadeiras no dia a dia da escola. É justamente a intencionalidade da ação pedagógica do professor o maior diferencial da função pedagógica atribuída à Educação Infantil, diante das outras funções já estudadas por você. PARADA PARA REFLEXÃO Se partirmos do pressuposto que o necessário é apenas deixar as crianças envolvidas com algo que elas gostem, não precisaremos muito mais que uma televisão ou videogame, não é mesmo? 36 UNIUBE Nessa perspectiva, entendemos que, se um educador pretende que seus alunos construam seus próprios conhecimentos, por meio de uma aprendizagem que tenha sentido, ele precisa criar situações que lhes favoreçam a apropriação do repertório da cultura na qual estão inseridos. Essa compreensão de sua parte, enquanto educador, é fundamental, ou seja, a partir do momento que você percebe a relevância em considerar e valorizar o contexto cultural dos alunos para oportunizar um desenvolvimento sadio e pleno das crianças, você estará indo além do cumprimento do que determina a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Isso porque você não estará simplesmente obedecendo a uma regra, mas, sim, tendo a clareza do que fazer, assim como da importância do seu fazer para o crescimento do grupo de alunos. Segundo Vygotsky (apud KOHL, 1995, p. 56): [...] desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. Tomando como referência a reflexão que fizemos até o presente momento, fica claro perceber que o educador precisa investir em jogos e brincadeiras, incorporando-os e sistematizando-os em seu fazer diário. Veja que, no desenvolvimento do trabalho pedagógico, há a necessidade de organização do cotidiano da escola infantil, o que implica: • planejamento e estruturação da utilização do tempo e do espaço; e • organização das atividades diárias de forma que favoreça uma sequência básica de ações planejadas numa “rotina” que envolve a participação ativa das crianças e assegure-lhes o seu pleno desenvolvimento, assim como a construção das noções de tempo e espaço. UNIUBE 37 Irene Balaguer (1999, p. 26), educadora espanhola, propõe que a organização da escola infantil seja estruturada em dois grandes eixos: a vida cotidiana e o jogo. A vida cotidiana é a que nos permite dar valor a todas e a cada uma das ações que as crianças realizam a cada dia; com elas descobrem o mundo, descobrem-se a si mesmas, aprendem a relacionar-se e a estabelecer relações emocionais, cognitivas e sociais e conquistam, se lhes permitimos, sua autonomia. E o jogo, como uma atividade também básica, permite às crianças criar, imaginar, transformar, transgredir, o jogo lhes permite conhecer, experimentar, passar do real ao imaginário como nenhuma outra atividade [...]. Veja que esta organização da escola infantil, proposta por Irene Balaguer, em 1999, contempla os direitos de aprendizagens (conviver, brincar, participar, explorar expressar e conhecer-se), que hoje vêm especificados na BNCC, datada de 2017. Reflexão sobre a rotina na Educação Infantil2.2 Quando se fala em rotina, é importante compreendê-la como elemento favorecedor da estruturação do dia a dia escolar. Ela proporciona a professores e crianças fonte de segurança e, também, subsídios para que possam prever a sequência do trabalho, diminuir a ansiedade acerca do desconhecido e colaborar para a organização do tempo e dos espaços disponíveis. Sendo assim, é necessário flexibilidade e criatividade para que as crianças se adaptem às situações educativas de cada escola. Nos dizeres de Abramowicz e Wajskop (1995, p. 26): A rotina é a realização do planejamento. É através dela que se põe em prática o previsto. A rotina orienta a ação da criança, assegura a ela o dia a dia, possibilitando que perceba e se situe na relação tempo-espaço, permitindo modificar sem necessariamente cair na mesmice, no repetir sempre o mesmo. A rotina ajuda 38 UNIUBE a criança a prever ações e a situar-se em relação aos acontecimentos e aos horários da creche. Enfim ela permite o aparecimento do novo, do inusitado. Cabe aos profissionais observar e conceber a rotina como possuidora de movimento e de ritmo. Sendo assim, a rotina implica vida, movimento e ação. Ela não deve ser algo mórbido e estático. É fundamental compreender que a organização de espaço e tempo é também componente da rotina de trabalho na Educação Infantil. É nessa rotina diária que as crianças desenvolvem suas habilidades, vivenciam atitudes e valores. Isso pressupõe que todo conhecimento que a criança constrói se dá por meio das experiências por elas vivenciadas, cotidianamente, numa rotina de atividades pedagógicas. 2.3 Reflexão sobre a organização do espaço e do tempo na Educação Infantil A organização espacial é um dos aspectos que favorece ou dificulta as relações e/ou interações. Suponhamos que estamos em uma festa, sentados em uma mesa que se encontra distante das pessoas do nosso convívio diário. Então, para nos aproximarmos dessas pessoas, logo damos um jeito de mudar a organização do espaço, unindo as mesas, adquirindo mais cadeiras. Em uma sala de aula, ou em um ambiente escolar, isso não é diferente, uma vez que a organização desse espaço influencia o modo de pensar ou de se comportar das pessoas ali presentes. Nos ambientes infantis, seja no desenvolvimento de atividades coletivas ou individuais, a criança é sujeito de conhecimentoe, para tanto, esses locais devem ser disponibilizados de modo que contemplem as mais diversas possibilidades. UNIUBE 39 Tais ambientes devem possibilitar à criança: • Conviver. • Brincar. • Participar. • Explorar. • Expressar. • Conhecer-se. Tudo isso em um espaço e tempo que são parte integrante da ação pedagógica! Sabemos que os espaços físicos e sociais são fundamentais para o crescimento infantil, considerando que eles contribuem para o desenvolvimento das funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas, como, também, as relacionais, mas, na maioria das vezes, o que encontramos são ambientes infantis organizados para atender às necessidades dos adultos, e não das crianças. Comece a prestar atenção na maioria das escolas ou creches que você conhece. Muitos desses espaços são organizados desconsiderando totalmente as necessidades da criança frequentadora desse local. As salas de aula, principalmente, caracterizam-se como ambientes de alto grau de controle e limitação das oportunidades para a escolha pessoal dos alunos. Não é suficiente que a escola de Educação Infantil tenha grandes e belos espaços físicos, se as crianças ficam ali sentadas, horas e horas, confinadas apenas em um ambiente! O professor da Educação Infantil deve: • distribuir móveis como cadeirinhas, pequenas estantes, caixas de madeira, aproveitando as quinas das paredes, formando cantinhos ou zonas circunscritas, que são áreas delimitadas em três ou quatro lados; 40 UNIUBE • criar também as cabaninhas, aproveitando espaços. Para isso, basta um pouco de criatividade e um lençol, cortinas ou um pano qualquer. É importante que, ao utilizar esse espaço, a criança possa ver a professora do local de onde está. Deve-se, também, evitar que a criança permaneça por muito tempo naquele lugar. Nesse arranjo espacial semiaberto, a criança se sente segura e protegida, trabalha mais tempo e interage melhor com seus colegas, buscando menos a atenção do adulto. Segundo a visão de Meneghini e Carvalho (1998, p. 144): Nesse tipo de arranjo espacial semiaberto, temos observado que as crianças buscam menos a atenção do adulto, pois passam mais tempo brincando entre si, geralmente em subgrupos – apesar de as duplas serem mais frequentes, aí observamos maior ocorrência de brincadeiras desenvolvidas em grupos de três, quatro ou mais crianças. Geralmente as brincadeiras de faz-de-conta, tão importante para o desenvolvimento das crianças, ocorrem mais comumente nessas zonas circunscritas que em outras áreas. Além disso, observamos que é nesse tipo de arranjo espacial que as crianças que ficam mais juntas, as mais “amiguinhas”, preferem brincar. É importante que o professor disponibilize para os alunos vários objetos, materiais, brinquedos para facilitar a brincadeira da criança. A sala de aula precisa ser cuidadosamente preparada. O ideal é que sejam amplas, claras, bem iluminadas e arejadas. As paredes devem ser de cor clara, sem barras ou painéis confeccionados por adultos. Caso não tenha um espaço para o mural, faça uma moldura em EVA ou outro papel decorativo, forre com algum tipo de papel, como papelão corrugado, esteira e outros. O painel deve ficar, aproximadamente, a 60 cm de altura do chão, ao alcance do olhar das crianças. O ideal é que a decoração da sala seja feita pelos alunos. UNIUBE 41 Ao planejar a localização dos mobiliários, o professor deverá distribuir as mesas, as cadeiras, as estantes e os armários, delimitando as áreas calmas e movimentadas para possibilitar uma boa circulação. Deverá, também, colocar um espelho e um varal em um local onde não perturbem a movimentação. Atenção! As crianças precisam ter acesso ao mural, considerando que elas guardarão seus próprios materiais. Ao delegar esse tipo de responsabilidade à criança, estamos contribuindo para a construção de sua autonomia. O ideal é que se organizem, na sala de aula ou em outros locais da escola, os “cantinhos” para que a criança possa utilizá-los de acordo com as atividades previstas. A sala de aula precisa ser um ambiente de aprendizagem, alfabetizador, independentemente da idade da criança que faz leituras incidentais desde pequena, como leituras de mundo, de rótulos e logomarcas. Caso a escola não tenha uma biblioteca, organize, na própria sala de aula, um cantinho para a prática da leitura. Se for possível, coloque algumas almofadas, um tapete, uma esteira, ou mesmo um cobertor, para que as crianças experimentem sensações de prazer propiciadas pela leitura. Os livros, para as crianças pequenas, precisam ficar numa disposição em que a capa fique para frente, pois a leitura inicia-se pela imagem da capa. Quanto aos armários e às prateleiras, arrume-os constantemente. Peça ajuda às crianças. Um dos direitos de aprendizagens trazidos pela BNCC é o participar, [...] “Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando”. 42 UNIUBE A organização dos armários, feita pelas crianças com a mediação do professor, pode ser uma oportunidade de realizar exercícios de classificação, de seriação, de contagem, de linguagem oral e outros. Utilize caixas encapadas ou de plástico coloridas para separar os brinquedos e os jogos. Não se esqueça da sucata que deverá ser limpa e também terá o seu lugar reservado no armário. A criança em fase pré-operatória, de 2 a 6 anos, aproximadamente, precisa ser orientada quanto às ações de regras que nortearão a conduta dela. Utilize todos os momentos para desenvolver esse aspecto pedagógico. Lembre-se: o professor é o precursor e responsável pela valorização deste precioso espaço: a sala de aula! Refletindo sobre a organização e utilização de áreas externas2.4 O parque é um ambiente acolhedor e necessário na Educação Infantil porque favorece a socialização, o desenvolvimento motor, o jogo simbólico, a linguagem, entre outros. Esse local deve ser limpo diariamente e vistoriado, pois alguns insetos, como escorpiões e aranhas, alojam-se em lugares úmidos e escuros. Pneus, cordas, caixotes de diferentes tamanhos, lixados e pintados, em cores alegres; tambores, canaletas formando túneis, labirintos, tudo isso deve compor este espaço, que deve ser utilizado diariamente, em forma de rodízio, com a interação de um adulto. Para essa atividade, deve-se evitar crianças maiores em contato com as menores. O cercado de areia também é indicado para o desenvolvimento da criança, mas é preciso dar uma atenção especial a esse espaço. Deve-se trocar a areia no início do ano e tratá-la com cloro semestralmente. Esse cuidado todo é porque os gatos adoram defecar na areia, transmitindo doenças. UNIUBE 43 Pinte no chão do pátio, quintal, área ou varanda figuras, linhas e traços do jogo de amarelinha, desenhos de centopeias com números em seu corpo, tabelas para jogos, enfim, o que puder para a estimulação motora e sensorial. Cuidado! Evite tintas a óleo, que são escorregadias quando molhadas. Evite, também, exageros e poluição visual. É sempre bom pintar uma parte do muro, como se fosse um quadro de giz, para uso exclusivo das crianças. É imprescindível que se preserve alguma área verde, com árvores, gramados, flores e folhagens, atentando para não compor essa área com plantas venenosas, como comigo-ninguém-pode, copo-de-leite, coroa-de-cristo e outras. Reserve um pequeno espaço para cultivar a hortinha, para que as crianças iniciem atividades de plantio e colheita. Caso isso não seja possível, utilize sucatas para hortaliças e sementeiras. Quando não haja um espaço reservado, cada professor pode organizar seu cantinho com seu grupo. Caso queira saber mais detalhadamente sobre a estrutura física exigida paraconstrução e reformas, assim como credenciamento de escolas de Educação Infantil e/ou creches, leia os documentos “Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil, volume 1 e 2” nos sites: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>; <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol2.pdf>. Acesse também o documento “Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil” no site a seguir: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparinfestencarte.pdf>. PESQUISANDO NA WEB 44 UNIUBE É importante perceber que a organização do espaço e do tempo está imbricada na organização da prática pedagógica! 2.5 A criança como sujeito de direitos e a organização do fazer pedagógico Já dissemos, anteriormente, sobre a importância de considerar o contexto sociocultural das crianças antes de fazermos qualquer proposta de trabalho, BOURDIEU afirma que "a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua, justificação última [...] uma não pode ser pensada sem a outra", e como traz a BNCC, “considerando e ampliando os saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia”, reforçamos a ideia de que a cultura é fundamental no processo educacional porque auxilia na formação de pessoas menos alienadas, mais sociáveis e críticas. Ressalto que será necessário compreender como organizar o fazer pedagógico em sala de aula em sintonia com os eixos interação e brincadeira e os campos de experiência apresentados pela BNCC, ou seja, você deve se orientar conforme as diretrizes apresentadas nesse documento. É importante compreender que a BNCC não é uma camisa de força, o professor tem autonomia para planejar suas atividades conforme a necessidade do seu grupo de crianças e suas respectivas faixas etárias. CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS DIREITO DE SE RELACIONAR COM A NATUREZA E CULTURA DIREITO A UM AMBIENTE DE CUIDADO DIREITO DE PARTICIPAR DIREITO DE SE EXPRESSAR EM DIFERENTES LINGUAGENS DIREITO DE BRINCAR UNIUBE 45 É muito importante incorporar o planejamento das aulas em sua prática diária, uma vez que ele dará consistência ao seu trabalho. Saber definir os objetivos de aprendizagens e operacionalizá-los na prática, com as crianças, é um exercício rico de aprendizagens, pois aprende o adulto e a criança. O trabalho na Educação Infantil deve acontecer por meio da interação e das brincadeiras, cuja intenção é promover o desenvolvimento intelectual, afetivo, psicomotor, social e moral das crianças, visto que nosso objetivo é a formação de cidadãos autônomos. Como vivenciar na prática uma atividade que promova a interação e as brincadeiras? Vamos sugerir uma atividade com a música: “O sapo não lava o pé”, para ser trabalhada com as crianças de três, quatro ou cinco anos. O SAPO NÃO LAVA O PÉ NÃO LAVA PORQUE NÃO QUER ELE MORA NA LAGOA NÃO LAVA O PÁ PORQUE NÃO QUER MAS QUE CHULÉ! Primeiramente, propomos ensinar a letra e a melodia da música. Assim que todos já tiverem memorizado a letra, vamos problematizar, provocar as crianças para sabermos que conhecimentos elas já têm sobre esse assunto. A sugestão é a seguinte: divida o quadro ao meio, escreva de um lado o que o grupo já sabe sobre o sapo, dessa forma, “o que já sabemos”, e, do outro lado, o que o grupo ainda não sabe sobre o sapo, “o que queremos saber sobre o sapo”. PARADA PARA REFLEXÃO 46 UNIUBE Cada grupo, obviamente, terá uma dúvida diferente, uma vez que serão muitas variáveis para se considerar: idade dos alunos, contexto social, os conhecimentos prévios, entre outros. O papel do professor será de desafiar e ser um mediador, assim como um pesquisador, pois ele, nessa proposta de trabalho, deixa de lado a prepotência pedagógica e assume diante do grupo as dúvidas. Juntos, professor e aluno, vão em busca de respostas, inclusive envolvendo, se possível, as famílias. Explore, ao máximo, a oralidade, deixando as crianças perguntarem, colocarem todas as suas dúvidas, mesmo que, para você, algumas colocações possam parecer absurdas. Lembre-se sempre da seguinte frase, inclusive já utilizada em um comercial de TV: “o que move o mundo são as perguntas e não as respostas”. A música é uma área de expressão que está ligada diretamente às emoções, envolve as crianças como um todo, influenciando os diferentes aspectos da sua personalidade. Expressão, como o próprio nome já diz, são as diversas formas e meios de se expressar que o indivíduo encontra para se expor. Sendo assim, sugerimos fazer a brincadeira do sapo. Nessa brincadeira, o grupo de crianças pode pular e fazer gestos, imitando o animal. Essa é uma forma de abrir espaço para o aluno expressar os sentimentos, pensamentos e emoções, utilizando-se do próprio corpo. Explore, por meio dessas brincadeiras, o corpo, o gesto e o movimento, permita que as crianças vivam experiências com as diferentes linguagens, como a dança, a música. Permita que elas ampliem as possibilidades expressivas do corpo. Num segundo momento, peça ao grupo para desenhar o sapo, fazer uma pintura, uma colagem, uma modelagem, uma dobradura ou outras atividades para trabalhar a expressão plástica. Leve variados recursos para a sala de aula e permita à criança fazer escolhas sobre quais UNIUBE 47 materiais usar nessa atividade. O professor, neste processo, não deve induzir os alunos a cópias, cada criança deve atribuir características particulares aos objetos produzidos. O trabalho desenvolvido, quando acontece dessa forma, sem modelos prontos para a criança copiar e/ ou colorir, estimula a criatividade e a originalidade de cada aluno em especial, pois cada traçado tem a marca de quem o criou. Faça brincadeiras com o personagem sapo: jogos de pescaria de sapinhos, jogos de obstáculos (que poderão ser as cadeirinhas de sala), em que crianças precisarão ir pulando até chegarem a um ponto delimitado, assim ganha o jogo do sapinho quem pular mais longe. O professor poderá, também, inventar e /ou substituir o motivo, o tema. O que não poderá se perder é a intenção do adulto na realização dessas atividades. Com esses exercícios, ele estará trabalhando a psicomotricidade, que se caracteriza pelo exercício inteligente do movimento corporal, ou seja, a capacidade de coordenar os movimentos do corpo tendo em vista um objetivo. É importante que o professor se preocupe em realizar atividades de forma lúdica e não apenas repetição de movimentos, imitar o som do sapo, piscar e fechar os olhos como ele. Essas atividades motoras, ao contrário do que muitos educadores pensam, são primordiais na infância. Sendo assim, não devem ficar somente sob a responsabilidade dos educadores físicos, eles têm, sim, um preparo diferenciado para trabalhar com o aluno, mas é papel do regente da sala de Educação Infantil incluir na rotina do trabalho a ser desenvolvido os jogos e as brincadeiras motoras. Escrever a letra da música e deixar exposta na sala de aula durante o tempo em que estiver trabalhando o projeto é fundamental, pois, assim, a expressão escrita estará sendo desenvolvida. 48 UNIUBE Vivemos em uma sociedade que é essencialmente letrada, por isso é de suma importância que os professores da Educação Infantil oportunizem várias experiências da criança com a escrita. Além da alfabetização em si, deve-se ter em mente que a criança deve ser desafiada em dois aspectos: • aspecto funcional – mostrar à criança que a escrita faz parte das atividades do dia a dia nas diferentes situações; e • aspecto estrutural – que diz respeito à percepção das crianças de como a língua escrita se organiza no que se refere às questões linguísticas. Veja que nenhum desses aspectos pode ser pormenorizado pelo educador, uma vez que os dois são essenciais para a formação da competência linguística da criança. Por exemplo, você pode ler livros de literatura que tenham histórias de sapinhosou de sapos como personagens. A história da festa no céu é uma delas. É importante que o professor se preocupe em mostrar à criança que a leitura não é apenas um ato mecânico, mas, sim, algo que deve ser contextualizado e com plena significação. EXEMPLIFICANDO! Inventar problemas usando esses personagens e desafiar o raciocínio lógico da criança, pedindo para contar o número de vogais da letra da música e, assim, estabelecer relação da quantidade de letras com a quantidade de palavras. UNIUBE 49 Fazer atividades para as crianças estabelecerem relação entre quantidade, numeral e série. Após uma atividade de recorte (por exemplo, dos sapinhos), pode-se separar quem conseguiu cortar mais, quem cortou menos. Colocar uma criança sentada como se fosse um sapinho, pedir para outra criança ficar em pé como um “sapinho de guarda” e solicitar para o restante do grupo continuar a série. Fazer vários sapinhos de papel de vários tamanhos ou utilizar carimbos. Pedir para as crianças separarem por cor, tamanho e outros. Atividades assim desenvolvem o raciocínio lógico, que é a base para a compreensão da matemática. É fundamental identificar o nível de aceitação das crianças nas atividades. O termômetro será sempre o interesse do grupo sobre o assunto explorado. No exemplo, fixamos um pouco mais no sapo, por ele ser personagem da música, mas não podemos negligenciar as dúvidas apresentadas pelo grupo no início da sugestão. Sendo assim, todas as dúvidas das crianças devem ser trabalhadas no projeto, pois precisam ser discutidas e compreendidas. O rumo do trabalho será mediante a dúvida do grupo. Portanto, as atividades sugeridas são para ilustrar e poderão, sim, serem trabalhadas nesse contexto, desde que o trabalho não se reduza apenas à realização das atividades sugeridas pelo professor. Uma outra informação de relevância é sobre a sistematização das atividades, uma vez que vale ressaltar que toda e qualquer atividade vivenciada precisa ser registrada pelas crianças, seja por meio da oralidade, desenho e/ou de escrita. Veja que o professor tem uma infinidade de objetos da natureza para utilizar como material de trabalho, favorecendo a visão, inclusive ecológica, dos seus alunos, trabalhando temas importantes universalmente. 50 UNIUBE No caso do exemplo, discuta com o grupo a importância do sapo na cadeia ecológica. Trabalhe a importância da preservação do ambiente (terra, água e ar) para a vida dos animais. Assim, trabalhará o conhecimento social, que é o aprendizado de tudo relacionado a uma determinada cultura, como valores, regras morais e sociais, padrões de linguagem, convenções e costumes. Dentro deste conhecimento, está a construção do conceito de grupo social e as relações sociais. Muito importante, também, é evitar que sejam passadas mensagens ideológicas de discriminação ou preconceito. Por exemplo, uma ação discriminatória e muito comum entre adultos mal informados é jogar sal no sapo sob a alegação dele ser “feio” e “machucar” os seres humanos. As crianças precisam aprender que todo ser vivo tem a sua função na vida, portanto, precisa ser respeitado. O professor poderá trabalhar com projetos de trabalho, conforme sugerimos em outros momentos do curso e como explica Hernandez e Ventura. (1998), ou com tema gerador, conforme sugestão de Kramer (1993, p. 63): [...] cabe lembrar que uma característica fundamental da proposta de trabalho é a necessária articulação desses conhecimentos com a prática pedagógica, viabilizada exatamente pelo tema gerador, verdadeiro fio condutor das atividades e, ao mesmo tempo, organizador dos conteúdos. Mas esses conteúdos não amalgamam, nem se desconfiguram ou são disfarçados pelo tema. Ao contrário, eles se tomam significativos e ficam reves t i dos de real valor e de sua função social, na medida em que estão sempre contextualizados, sendo adquiridos para alguma finalidade concreta e em função de um objetivo claro para as crianças. Ressaltamos que conhecer a necessidade de trabalhar com temas geradores e/ou projetos de trabalho, nas escolas infantis, não é suficiente para que o educador possa realizar uma prática inovadora. UNIUBE 51 De acordo com Smole (1996, p. 61): [...] o trabalho na Educação Infantil não tem um currículo rigidamente estabelecido, o que nos permite fazer sugestões pedagógicas sem estabelecer sensações de insegurança e mal-estar que desequilibram pais, professores e alunos. Entretanto, constatamos que, na prática, mesmo sem essa rigidez curricular preestabelecida existente em outros segmentos, deparamos com inúmeros questionamentos e dúvidas por parte dos docentes que trabalham com esse universo infantil, a saber: Como desenvolver projetos de trabalho em sala de aula? Como traduzir as orientações e informações recebidas no dia a dia da sala de aula? É suficiente escolher um tema e a partir dele brincar com as crianças? Como sistematizar as atividades, tendo em vista a construção do conhecimento dos alunos para a efetivação da aprendizagem? Essas são questões e suas respostas tornam-se difíceis. Segundo Goulart (1999), o trabalho de tradução teórica prática não se faz tendo em vista uma aplicabilidade prática da teoria. A prática pedagógica desenvolvida pelos educadores reedita a teoria. Nóvoa (1991, p. 68), ao refletir o papel do professor, destaca que: A prática educativa remete, frequentemente, para o processo ensino-aprendizagem e a própria investigação reporta-se, sobretudo, à ação didática. Mas a atividade dos professores não se circunscreve a esta prática didática. Nesta perspectiva, é necessário alargar o conceito prática, não a limitando ao domínio metodológico. 52 UNIUBE São vários fatores que precisam ser considerados, incluindo o repensar os modos de agir, as estratégias e as técnicas didáticas, ressaltando a principal função, que é a compreensão do que seja essa tarefa complexa a que chamamos de “educar”. É importante ressaltarmos o trabalho com os conteúdos atitudinais e procedimentais. Para facilitar a compreensão dos alunos em torno do que se está trabalhando, é necessário que o professor organize sua prática de tal forma que contemple os registros das atividades desenvolvidas, a repetição, incluindo os jogos, as brincadeiras, a literatura, a arte, a música, entre outras. Nas observações de Smole (1996, p. 66-67), algumas formas de propiciar a relação matemática/língua: [...] podem ser encontradas em atividades que envolvem ler, escrever, falar e ouvir sobre matemática e cada um desses aspectos deve engendrar um esforço considerável por parte do professor que conduz o trabalho em sala de aula. Para as crianças pequenas desenvolver representações pictóricas é fundamental quando consideramos a construção tanto da linguagem materna quanto da matemática, assim como propiciar que os alunos interajam entre si para trocar impressões e opiniões sobre descobertas, procedimentos e raciocínios matemáticos. Essas observações são relacionadas ao trabalho com a Matemática, no entanto podem e devem ser trabalhadas em todas as outras áreas, principalmente porque nesse segmento de escolaridade nosso papel, enquanto educadores, não é priorizar o ensino preparatório para séries iniciais. No trabalho com tema gerador, projetos de trabalho ou qualquer outro procedimento adotado, o professor precisa entender que eles não devem ter um fim em si mesmo. UNIUBE 53 Todas essas sugestões de trabalho terão sentido se o professor assumir uma atitude crítica diante de sua ação, associando teoria e prática na definição de critérios para a escolha das estratégias de ensino mais adequadas ao momento e ao seu grupo de alunos. É necessário que o professor não perca de vista que ele é o elemento de mediação nesse processo de construção da criança. A compreensão sobre como garantir os direitos de aprendizagens às crianças, conforme nos orienta a BNCC, é fundamental. Essas referências contribuempara que o professor se torne um sujeito ativo e consciente de sua prática, no sentido de eliminar as distorções e os equívocos entre esta ou aquela inovação pedagógica. Para concluirmos nossos estudos, remetemo-nos à parábola “O velho, o menino e o burro”. Essa parábola, muito conhecida no campo da literatura, é baseada numa história muito antiga, contada há séculos na África, Ásia e Europa e, atualmente, entre nós. Você a conhece? Caso não conheça, sugerimos que acesse o site a seguir: https://www.recantodasletras.com.br/ fabulas/3796560. PESQUISANDO NA WEB Então, gostou da história? De que maneira essa parábola nos ajuda a refletir sobre a prática dos professores na Educação Infantil? Você arriscaria uma opinião? Entendemos que, quando não temos clareza sobre o que se deve fazer, agimos como os personagens da parábola. O velho e a criança, sem ter a certeza do que deveriam realmente fazer, acatam a opinião dos outros sem refletir sobre elas e, então, acabam carregando o burro nas costas! 54 UNIUBE Conclusão2.6 Esperamos que você tenha entendido o quanto são importantes a intencionalidade e a mediação pedagógica na Educação Infantil e, ainda, que o professor deve sempre valorizar a realidade das crianças e do contexto sociocultural em que elas estão inseridas, reconhecendo a importância do conhecimento que elas já possuem e da participação delas na aprendizagem, organizando e sistematizando as atividades necessárias às descobertas infantis, incluindo o prazer pelo aprender. Resumo Neste capítulo, vimos que as crianças brincam e o quanto isso é importante para elas. Nesse sentido, percebemos que a aprendizagem da criança deve ocorrer em contextos de interações e brincadeiras, entendendo o trabalho como uma ação sistematizada, planejada e organizada. Percebemos que o educador possibilita o desenvolvimento infantil quando proporciona ao educando o contato com materiais diversos e a oportunidade de se relacionar com seus pares e com os adultos nas mais diversas ocasiões. Vimos, ainda, que a aprendizagem ativa ocorre por meio da experiência do educando, e não de aulas sobre objetos, pessoas, lugares ou fatos distantes da realidade em que ele vive. Refletimos sobre a necessidade de organização do cotidiano da escola infantil, o que implica planejamento e estruturação da utilização do tempo e do espaço e organização das atividades diárias. Tais atividades devem favorecer uma sequência básica de ações planejadas, numa “rotina” que envolve a participação ativa das crianças e que lhes assegure a construção das noções de tempo e espaço. Vimos o quanto é importante compreender a rotina como elemento favorecedor da estruturação do dia a dia escolar, uma vez que ela proporciona a professores e crianças fonte de segurança. E, ainda, UNIUBE 55 possibilita-lhes subsídios para que possam prever a sequência do trabalho, diminuir a ansiedade acerca do desconhecido e colaborar para a organização do tempo e dos espaços disponíveis. Ressaltamos que os espaços físicos e sociais são fundamentais para o crescimento infantil, considerando que eles contribuem para o desenvolvimento das funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas, como também as relacionais. Sendo assim, o trabalho na Educação Infantil deve acontecer por meio da integração dessas áreas, cuja intenção é promover o desenvolvimento intelectual, afetivo, psicomotor, social e moral das crianças, visto que nosso objetivo é a formação de cidadãos autônomos. Referências ABRAMOWICZ, Anete; WAJSKOP, Gisela. Creches: atividades para crianças de zero a seis anos. São Paulo: Moderna, 1995. BALAGUER, Irene; PLANS, Tina Roig. Entrevista. Pátio, Porto Alegre: Arte Médicas, 1999. BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. 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Disponível em: <https://www.recantodasletras.com.br/ fabulas/3796560>. Acesso 12 jul. 2019. SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A matemática na Educação Infantil. A teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Fátima Garcia Chaves Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Introdução Campos de experiência da BNCC: possibilidades metodológicas Capítulo 3 A proposta deste capítulo é apresentar os cinco campos de Experiência estabelecidos pela BNCC – Base Nacional Comum Curricular e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que são divididos em três grupos etários: bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Os campos de experiência buscam garantir os direitos de aprendizagem das crianças e enfatizam habilidades, valores, afetos, noções e atitudes que elas precisam desenvolver de 0 a 5 anos. Neste sentido, os campos estão estruturados de forma a subsidiar o docente que atua na Educação Infantil no planejamento para cada faixa etária. Este fazer pedagógico será desenvolvido por meio dos campos de experiência contribuindo para que você, ao conhecê-los e tomar conhecimento da proposta da BNCC, faça suas reflexões acerca dessa abordagem metodológica para a aprendizagem na Educação Infantil. E, a partir dos conhecimentos adquiridos, tenha um olhar diferenciado sobre como desenvolver uma proposta pedagógica para esta primeira etapa da educação básica, tão necessária para a construção de vivências, conhecimentos e desenvolvimento infantil. 58 UNIUBE Para começar, traremos alguns questionamentos para que você comece a pensar sobre a importância dos campos de experiência, enquanto fazer metodológico, que norteará o professor em seu trabalho, ajudando na construção do conhecimento do aluno e dando a ele condição de ampliá-lo nas etapas decorrentes. Sempre que necessário recorreremos a conceitos já estudados anteriormente para que você possa ter uma melhor compreensão da temática a ser desenvolvida. Nesse sentido, esperamos que, ao final deste capítulo, você tenha adquirido conhecimentos necessários, compreendendo a importância de se desenvolver um trabalho pedagógico consciente enquanto professor de Educação Infantil. Ao final deste capítulo, esperamos quevocê seja capaz de: • compreender a importância de se desenvolver um trabalho pedagógico consciente enquanto professor de Educação Infantil; • conceituar campos de experiência; • perceber a relevância de as crianças vivenciarem experiências significativas por meio dos campos de experiência explicitados pela BNCC; • estabelecer uma relação entre os direitos de aprendizagem e desenvolvimento com os campos de experiência, articulando- os com as faixas etárias. Objetivos Esquema 3.1 A criança da Educação Infantil 3.1.2 A criança na Educação Infantil: sujeito de direitos? 3.2 Campos de experiência da Educação Infantil 3.3 A organização das experiências de aprendizagem UNIUBE 59 3.4 O eu, o outro e o nós 3.5 Corpo, gestos e movimentos 3.6 Traços, sons, cores e formas 3.7 Escuta, fala, pensamento e imaginação 3.8 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações 3.9 Conclusão A criança da Educação Infantil3.1 Nos últimos trinta anos, a Educação Infantil adquiriu expressão nacional, quer na demanda, na oferta, na diversidade de acontecimentos, na riqueza de ideias, programas, políticas, debates, diretrizes, leis etc. Embora, resguardada por lei e assegurada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI/2010 e complementada pela Base Nacional Curricular para a Educação Infantil – BNCC/2017, seu avanço, segundo Didonet (2008, p. 45), tem dependido, também, de hábil negociação com a área econômica e com setores educacionais e etapas de ensino resistentes e temerosas de terem que partilhar recursos financeiros escassos. É claro que seria muito ingênuo imaginar que apenas as leis sejam o suficiente para melhorar a qualidade da Educação Infantil brasileira, mas estes documentos legais são indispensáveis para promover certas mudanças. Nesta perspectiva, para que esse trabalho aconteça com qualidade e as crianças tenham um desenvolvimento integral diferenciado, se faz necessário, ao professor e toda equipe pedagógica de cada instituição escolar, adquirir conhecimentos específicos referentes ao desenvolvimento infantil. Porque 60 UNIUBE o aprender da criança não é apenas fisiológico, bastando ao professor apenas cuidar para que a criança tenha um dia tranquilo, ele deve ser um aprendizado constante, resguardado por meio das interações e brincadeiras como oportunidade de crescimento e aprendizado em grupo. Figura 1: Crianças brincando Fonte: DepositPhotos. Acervo Uniube. 3.1.2 A criança na Educação Infantil: sujeito de direitos? Por meio das leituras realizadas no livro “Fundamentos da Educação Infantil”, você teve a oportunidade de conhecer alguns documentos legais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9394/96. Constituição Federal de 1988. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI/2010. Base Nacional Curricular para a Educação Infantil – BNCC/2017. Esses documentos trazem como pressuposto que as crianças são agentes sociais plenos, sujeitos históricos, ativos e criativos e que nas interações que estabelecem no mundo social não se limitam a receber e a se formar, mas transformam, produzem e reproduzem cultura, alterando seu entorno. UNIUBE 61 Neste sentido, podemos descartar o pressuposto de que as crianças pequenas pouco sabem ou que elas só estarão “preparadas” após os seis anos, quando passarem a frequentar o Ensino Fundamental. Embora, há ainda quem acredite que as atividades “preparatórias” devem estar presentes na Educação Infantil visando à aquisição de pré-requisitos para as etapas subsequentes. Assim, em consonância com esses pressupostos, buscaremos nas DCNEIs (2010, p. 12) a concepção de criança que norteará todo o nosso fazer metodológico: Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. Portanto, a criança como sujeito protagonista que produz cultura tem direito a uma prática educativa repleta de experiências significativas que respeite o seu ritmo, o seu tempo, as suas singularidades, potencializando o seu desenvolvimento integral. Nesta perspectiva, o Parecer 20/2009 (p. 02) da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação corrobora quando afirma: (...), a Educação Infantil vive um intenso processo de revisão de concepções sobre a educação de crianças em espaços coletivos, e de seleção e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em especial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos em creches e como garantir práticas junto às crianças de quatro e cinco anos que se articulem, mas não antecipem processos do Ensino Fundamental. 62 UNIUBE Como realizar esta articulação a partir da faixa etária e dos campos de experiência apresentados na BNCC, não antecipando processos do Ensino Fundamental? É possível? Como trabalhá-los interligadamente com as áreas de conhecimento de forma que o direito de aprender se concretize? Que metodologias e estratégias didático-pedagógicas utilizar nos campos de experiência de forma que as singularidades sejam consideradas e atendidas? Buscaremos construir essas respostas no decorrer deste capítulo de estudos. Fizemos esta breve retomada e daremos continuidade às nossas reflexões, tendo como referência os campos de experiência evidenciados na Base Nacional Comum Curricular – BNCC: e eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala pensamento e imaginação e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Para tal, vamos rever a estrutura e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento postulados nela, acesse a BNCC completa por meio do link: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/ bncc-20dez-site.pdf Conheça também a estrutura da BNCC http://basenacionalcomum.mec. gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. SAIBA MAIS UNIUBE 63 Campos de experiência da Educação Infantil3.2 Os campos de experiência da BNCC são campos de saber estruturados a partir do artigo 9º das DCNEIs, explorados a partir dos interesses de cada faixa etária das crianças, e organizados, levando em consideração as interações e brincadeiras entre as crianças. O professor nesse contexto se torna o elo entre o aprendizado da criança e os conhecimentos que precisam ser desenvolvidos. Para seu estudo e conhecimento, leia abaixo o que nos informa a BNCC/2017 sobre os campos de experiência: Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando- lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. A definição e a denominação dos campos de experiências também se baseiam no que dispõem as DCNEIs em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser propiciados às crianças e associados às suas experiências. Assim pensando, o professor de Educação Infantil precisa garantir as condições necessárias para que seu trabalho pedagógico seja organizado em espaços que proporcionem às crianças aprendizagem, conhecimento, descoberta de si e do outro, por meio das interações e brincadeiras. 64 UNIUBE As práticas pedagógicas, os materiais diversificadosque explorem a criatividade, a imaginação e as reinações infantis devem ser o diferencial nesse contexto, sempre levando em consideração o espaço e o tempo da criança. Os campos de experiência em que se organiza a BNCC são: O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Escuta, fala pensamento e imaginação Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Para cada campo de experiência, a BNCC define objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos de faixas etárias (Quadro 1). Quadro 1: Aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos de faixas etárias Creche Pré-Escola Crianças de 0 a 1 ano e 6 meses. Crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses.Crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses. Fonte: Adaptado de BNCC/2018. Para organizar a prática pedagógica para cada uma das faixas etárias, é muito importante que o professor conheça como a criança pensa e se desenvolve. Para tanto, sugiro a você que retome aos estudos de Piaget e Vygotsky sobre a desenvolvimento infantil, já estudados nas etapas anteriores. Observe uma criança pequena com menos de um ano. Como ela se desenvolve rapidamente! A cada mês de seu desenvolvimento, ela vai adquirindo novas percepções e sensações, um constante aprendizado. UNIUBE 65 Movimenta as pernas e bracinhos, tenta pegar as mãos, colocar os pés na boca, virar no espaço em que está deitada. Depois começa a tentar engatinhar para explorar o espaço em que se encontra, a buscar um brinquedo, um animalzinho, tudo que está em movimento e colorido. Nesse desenvolvimento rola, sorri, chora, experimenta diferentes sensações e sabores, amassa papéis, principalmente aqueles que fazem barulho, e seu tempo de concentração é muito curto. Tudo é novidade e aprendizado! Quando vai ficando maior, próximo aos 12 meses, esboça os primeiros passos, sobe em diferentes espaços, é mais sociável e interage com outras crianças mesmo que em forma de monólogo. Começa a dar os primeiros passos e descobre o mundo. Essas e outras ações fazem parte da criança que inicia na Educação Infantil. Perceba como o papel do professor educador é fundamental para que ela possa se desenvolver, interagir com esse novo ambiente, e conviver com outras crianças e adultos. Comece a observar crianças desta idade, ou seja, crianças de 0 a 1 ano e 6 meses que iniciam seus estudos na Educação Infantil, você descobrirá outras reações não citadas, mas que fazem parte de seu desenvolvimento. Como o professor ajudará a criança a se desenvolver? Registre em seu caderno. REGISTRANDO Os campos de experiência muito contribuirão para que essa criança aprenda, interaja com as demais crianças no tempo em que permanece no espaço da creche e, posteriormente, da pré-escola por meio de 66 UNIUBE práticas pedagógicas que explorem o brincar, a expressão corporal, a literatura, as diferentes linguagens e conhecimentos que eles abordam. Figura 2: Crianças no parque. Fonte: Acervo DepositPhotos. A organização das experiências de aprendizagem 3.3 Sabemos que as instituições de Educação Infantil precisam assegurar a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como algo indissociável ao processo educativo. Neste sentido, o Parecer 20 (2009, p.9) destaca: As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a não fragmentar a criança nas suas possibilidades de viver experiências, na sua compreensão do mundo feita pela totalidade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na relação intrínseca entre razão e emoção, expressão corporal e verbal, experimentação prática e elaboração conceitual. As práticas envolvidas nos atos de alimentar-se, tomar banho, trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha do que vestir, na atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa faixa etária, no âmbito da Educação Infantil, não são apenas práticas que respeitam o direito da criança de ser bem atendida nesses aspectos, como cumprimento do respeito à sua UNIUBE 67 dignidade como pessoa humana. Elas são também práticas que respeitam e atendem ao direito da criança de apropriar-se, por meio de experiências corporais, dos modos estabelecidos culturalmente de alimentação e promoção de saúde, de relação com o próprio corpo e consigo mesma, mediada pelas professoras e professores, que intencionalmente planejam e cuidam da organização dessas práticas. Na perspectiva que integra o cuidado, educar não é apenas planejar atividades educativas que favoreçam a formação de competências para a criança aprender a cuidar de si. Segundo o Parecer 20 (2009), “Educar cuidando inclui acolher, garantir a segurança, mas também alimentar a curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantis”. Para tal, é necessário criar condições para as crianças explorarem o ambiente de diferentes maneiras, de forma que elas vão se constituindo e se apropriando de um modo singular das formas culturais de agir, sentir e pensar. Logo, é preciso que o docente/educador infantil tenha sensibilidade e delicadeza na forma de tratar cada criança, assegurando- lhe especial atenção conforme as necessidades que identifica nela. O Parecer CNE/CEB 20/2009 deixa explícito que O atendimento ao direito da criança na sua integralidade requer o cumprimento do dever do Estado com a garantia de uma experiência educativa com qualidade a todas as crianças na Educação Infantil. As instituições de Educação Infantil devem tanto oferecer espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores, desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explorações e descobertas partilhadas com outras crianças e com o professor. Elas ainda devem criar contextos que articulem diferentes linguagens e que permitam a participação, expressão, criação, manifestação e consideração de seus interesses. (2009, p. 12) 68 UNIUBE Nesta perspectiva, é por meio da observação e exploração do espaço, que as crianças, gradualmente, poderão construir as primeiras noções a respeito do seu grupo social, das pessoas e das relações humanas. As interações pessoais, as brincadeiras nas suas mais diversificadas formas, o contato com a natureza e a exploração do meio se constituem em vitais experiências para o desenvolvimento e aprendizagens infantis. Todas as experiências devem ser feitas de forma contextualizada, por meio de situações reais e cotidianas nas quais as crianças possam desempenhar seu protagonismo em espaços que as convidem para vivenciar desafios e sentirem-se provocadas a resolvê-los, de forma que possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. Agora, daremos um destaque aos campos de experiência, evidenciando a relação entre eles com as áreas de conhecimento e a prática. Vamos ver como isto acontece? Partiremos desta epígrafe de Manoel de Barros. Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. Manoel de Barros – Memórias inventadas – Infância Wikipédia. Vamos estabelecer uma relação deste quintal com os campos de experiência explicitados na BNCC? Para tal, imagine um quintal, um espaço com muitos objetos, a natureza a seu dispor, com as pessoas, com os amigos.... Quantas interações e brincadeiras são possíveis!!!! Quantas experiências podem ser vivenciadas neste campo ... Vamos brincar neste espaço, neste campo? Estenda este convite às crianças e aos seus amigos e vamos juntos vivenciar estas experiências envolvendo todos os campos de experiência que a BNCC estabelece. UNIUBE 69 Figura 3: Relação entre os campos de experiência. Fonte: Elaborado pelas autoras. ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES O EU, O OUTRO, O NÓS CORPO, GESTO MOVIMENTOS ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO TRAÇOS, SONS, CORES E IMAGENS Iniciaremos com o jogo de amarelinha: Tradicionalmente, risca-se no chão um gráfico com 10 dez casas retangulares,no qual as crianças lançam uma pedrinha e vão ultrapassando cada “casa”, por meio de pulos, alternando o pé de impulsão. A criança joga a pedrinha na casa 1, vai pulando e não pode pôr o pé no quadrado onde tiver caído a pedra, pulando-o e seguindo até chegar à última “casa” ou retângulo. Na volta, ela pega a pedra. Se errar o pulo, pisar na linha, ou se a pedra cair sobre a linha ou fora, a criança passa a vez. Figura 4: Criança brincando de amarelinha. Fonte: Acervo DepositPhotos. 70 UNIUBE Com este jogo, podemos trabalhar as habilidades sociais, a autonomia e a identidade, ou seja, o campo de experiência: O eu, o outro e o nós, por meio da percepção do próprio corpo, dos limites, singularidades e habilidades. Além de possibilitar relações/ vivências com os demais campos de experiência por meio dos traços, cores, formas, momentos de escuta, fala, pensamento e imaginação, exploração do espaço em determinado tempo, possibilita trabalhar com as quantidades e relações. Você percebe a relevância desse jogo e a relação com todos os campos de experiência? Veja agora outros aspectos importantes que o jogo de amarelinha possibilita: • a valorização, o reconhecimento da cultura, o contato com a cultura local; • vivências sobre a diversidade, a inclusão; • percepção das próprias ações; • expressão de desejos, sentimentos e necessidades; • participação em situações diversas de colaboração e compartilhamento; • envolvimento em desafios e iniciativa na busca de soluções de problemas; • autonomia para se deslocar e brincar; • adequação dos gestos e movimentos; • a oralização durante a brincadeira, possibilitando a troca, a organização do pensamento, a atenção e a concentração. Observe que a capacidade de pular em um pé só demonstra o aperfeiçoamento do equilíbrio, do desenvolvimento cognitivo, do autocontrole da criança, da coordenação motora, além de possibilitar que a criança encontre seu próprio ritmo. SAIBA MAIS UNIUBE 71 11 Motivos para Brincar de Amarelinha. Acesse o site disponível em: http://comoeducarseusfilhos.com.br/blog/11- motivos-para-brincar-de-amarelinha/ Agora, para facilitar a sua compreensão, apresentaremos os campos de experiências em que se organiza a BNCC para que você perceba a relação contínua entre eles. O eu, o outro e o nós3.4 Muitas vezes, a entrada na creche ou na pré-escola representa a separação inicial da criança de seu âmbito familiar, portanto passa a ser um marco em sua vida, na socialização com as demais crianças e adultos e no convívio social. O primeiro campo de experiência que a BNCC/17 traz é O eu, o outro e o nós, que muito ajudará a criança nesse rito de passagem, trazendo propósitos de trabalho que abordam a interação com os pares e com adultos. As crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais (BNCC/2017, p.37 ). E neste aprendizado vão se transformando e construindo sua identidade, impulsionadas pelos diferentes momentos vivenciados em grupo com as pessoas, objetos, espaços, constituídos por meio de interações e brincadeiras em seu meio social, ampliadas progressivamente pelas práticas pedagógicas das rotinas preestabelecidas na instituição escolar. A criança, ao perceber-se como parte integrante de um grupo, sendo respeitada em seus direitos e aprendendo a conviver com os demais de forma afetiva, terá mais possibilidade de desenvolver-se como cidadã de direitos e deveres. 72 UNIUBE Cada campo de experiência possui o mesmo direito de aprendizagem, graduando cada objetivo de acordo com a idade em que a criança se encontra. As crianças desta faixa etária não conhecem ainda regras, estão na fase da anomia (ausência de regras). Não percebem que suas ações têm efeitos nas outras crianças e nos adultos. Acreditam que suas emoções, necessidades e sentimentos precisam ser atendidos imediatamente. Como não sabem ainda dialogar, expressam-se inicialmente por meio do choro, do sorriso, da linguagem gestual (mordem, empurram, puxam, fazem gestos ensinados com as mãos, abraçam) e também por meio de alguns sons e palavras. Quantas atividades podem ser propostas articulando este campo de experiência com os demais!!! Veja... – Experiências com o corpo – ver-se diante de um espelho favorece à criança o conhecimento de si mesma e a leva a se identificar como distinto. – Cantar e dançar diversas cantigas infantis que denotam sobre o esquema corporal, presentes nos links a seguir, mostra exemplos do esquema corporal. Minha boneca de lata. https://www.youtube.com/watch?v=BNfmCkRdI_4 Eu conheço um jacaré. https://www.youtube.com/watch?v=KtUXKsWsZvg &feature=related Propor que as crianças representem o seu corpo por meio de desenhos é também uma experiência fascinante! Leia o artigo: RISCOS E RABISCOS – O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/149_1.pdf PARADA OBRIGATÓRIA UNIUBE 73 Atividades diversas de percepção do próprio corpo, das habilidades, limites e singularidades; expressão de sentimentos, desejos; brincadeiras individuais ou em grupo; percepção de efeito das próprias ações; ter iniciativa e buscar resolver os conflitos; autonomia nos jogos, brincadeiras e nos cuidados de si, do ambiente e do outro. Figura 5: Criança no balanço. Fonte: Acervo DepositPhotos. Corpo, gestos e movimentos3.5 Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, volume 3, (1998, p. 15) O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, 74 UNIUBE emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. E a BNCC, o que aponta? Dessa forma, o corpo, no contato com o mundo, é essencial na construção de sentidos pelas crianças, inclusive para as que possuem algum tipo de deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, altas habilidades/ superdotação. Por meio do tato, do gesto, do deslocamento, do jogo, da marcha, dos saltos, as crianças expressam-se, percebem, interagem, emocionam-se, reconhecem sensações, brincam, habitam espaços e neles se localizam, construindo conhecimento de si e do mundo. Conviver com crianças e adultos em espaços diversos e vivenciar movimentos e gestos que marcam sua cultura, utilizando seu corpo com liberdade e autonomia. Brincar utilizando criativamente práticas corporais para realizar jogos e brincadeiras e para criar e representar personagens no faz de conta, no reconto de histórias, em danças e dramatizações. A brincadeira é uma atividade natural da criança, é uma aprendizagem social, e quando as crianças bem pequenas brincam com os adultos inicia- se esse processo de aprendizagem. De imediato, não desempenham um papel muito ativo, mas já se manifestam com risos e murmúrios. Aos poucos, mesmo de forma desajeitada, vão assumindo o papel do adulto, ou seja, de tornarem-se parceiras. UNIUBE 75 Vejamos um exemplobem simples: Se brincarmos com a criança pequena de esconder o rosto, ela aprenderá a reconhecer algumas características essenciais do ato de brincar: – A possibilidade de troca de papéis. – O faz de conta, “aspecto fictício”, porque o rosto dela não desaparece. – Entre os parceiros, há sempre um acordo. – Pode-se repetir a brincadeira, voltar ao início. Vejamos outro exemplo: vamos brincar de casinha? Por meio dessa brincadeira, podemos trabalhar com os campos: “Corpo, gestos e movimentos”, “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, “O eu, o outro e o nós”. Essa brincadeira possibilita às crianças: • movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente suas necessidades, desejos e emoções; • ampliar as suas possibilidades de movimentos nos espaços por meio de explorações diferenciadas; • manusear diferentes materiais e objetos; • desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outras. • desenvolver a autonomia e segurança para se deslocar, brincar e buscar os objetos; • brincando ela busca desafios corporais, desenvolve o controle motor, posiciona-se no espaço, desloca-se, adequa seus gestos e movimentos; • explora o espaço pela ação e observação manipulando, experimentando e fazendo descobertas; • interage com as outras crianças e explora os materiais, brinquedos e objetos; 76 UNIUBE Veja ainda: Autonomia, desenvolvimento e habilidades sociais – Brincar de casinha favorece também o amadurecimento da criança e a sua autonomia. Brincando, ela toma decisões, assume responsabilidades por meio dos variados personagens que pode assumir. – As crianças organizam tudo, assumem diferentes papéis e funções. Por meio do “Brincar de casinha”, as crianças envolvem-se em diferentes situações que as ajudam a estimular: • a coordenação, pois desenvolvem sua lateralidade, criam laços com o espaço ao seu redor; • a criatividade, pois se envolvem com uma variedade de jogos simbólicos, o que é imprescindível para impulsionar ainda mais a sua criatividade. • a interação social, aprendem a importância de compartilhar, dividir certas tarefas com as outras crianças, estimulando a criação de regras de convívio, o diálogo e o contato físico. Agora, veja um plano de aula desenvolvido pela professora Roseli, disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula. html?aula=51690 Observe atentamente todos os elementos constituintes desse plano de aula: • os objetivos, ou seja, o que a criança poderá aprender com esta aula; o que o professor pretende alcançar. • as estratégias e recursos da aula utilizados em cada momento; • os recursos complementares; • a avaliação. UNIUBE 77 Aproveite este momento de análise e reflita acerca da forma de avaliar apresentada pela professora neste plano de aula. Você faria alguma observação? A temática “planejamento e avaliação” será abordada em um capítulo específico desta disciplina, por isso apenas a sua análise e reflexão neste momento. Traços, sons, cores e formas 3.6 Sobre este campo de experiência, a BNCC (2017, p. 39) destaca: Traços, sons, cores e formas – Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas. 78 UNIUBE As experiências motoras, corporais, possibilitam às crianças movimentarem o corpo para a exploração dos diversos objetos e brinquedos, de subir nas coisas, entrar em uma caixa, correr, andar, observar a natureza, andar descalça... são ações que favorecem o conhecimento do mundo. Ao colocar o objeto/brinquedo na boca, elas sentem sua textura, conseguem diferenciar algo que é macio ou duro, mas essas características ainda estão no plano da experiência vivida, seu pensamento ainda não consegue conceituar. Assim, é por meio dessas experiências que constituir-se-ão as bases para que mais tarde possam compreender os conceitos. O uso de objetos e tapetes com variadas texturas e cores proporcionam experiências significativas para as crianças. Materiais, brinquedos de cores diversas, texturas e tamanhos permitem que elas decidam sobre o que querem fazer: rasgar, puxar, ver, balançar, chutar e ouvir. O toque, a busca e a curiosidade são formas de aquisição de conhecimento de si mesmas e do mundo que as cerca. Para tal, varais de tamanhos diversos e cortinas coloridas com objetos sonoros possibilitam a elas a descoberta de sons na relação com o corpo. Brincar de esconder objetos, brinquedos, é também muito interessante, pois desperta a curiosidade, o prazer da descoberta, a autonomia e a segurança para deslocar-se, brincar, correr, pular... descobrindo e observando as cores e formas diversas. Uma brincadeira muito interessante é o pega-pega ou duro ou mole: as crianças escolhem um dos jogadores para ser o pegador. As demais fugirão do pegador que, ao serem tocadas, ouvirão ele dizer: “duro”. O jogador que foi pego fica paralisado até outro o tocar, dizendo: “mole”. Assim, continua o pega-pega... UNIUBE 79 Escuta, fala, pensamento e imaginação 3.7 O docente também pode organizar um espaço aconchegante na sala de aula onde todos ficarão sentados para ouvir a história “Bagunça e Arrumação”, cujo texto e ilustrações são de Marília Pirillo. O professor pode iniciar apresentando o livro, explorando a capa, apresentando a autora e ilustradora. Em seguida, poderá fazer as perguntas inseridas no próprio livro: O que você acha que veio primeiro: a bagunça ou a arrumação? Dá para bagunçar o que não está arrumado? Dá para arrumar o que não está bagunçado? Existe bagunça sem arrumação? Que graça pode ter a arrumação sem a bagunça? O docente pode ainda propor outros questionamentos: – O que acontecerá se não houver algumas regras e combinados para usar e organizar os brinquedos, jogos e materiais na sala de aula? É importante estimular e valorizar o diálogo, ouvir a opinião de todas as crianças. Mostrar a relevância da cooperação de todos nos momentos de organização e ouvir os colegas. Por meio da roda de conversa e das representações: O eu, o outro e o nós: no momento em que as crianças ouvem a história, conversam e expõem suas ideias e ouvem as ideias dos outros. SAIBA MAIS 80 UNIUBE Escuta, fala, pensamento e imaginação: quando a criança pensa sobre o que ouviu a respeito da história e de outra criança, quando tira suas conclusões sobre os assuntos conversados e imagina soluções, quando tenta visualizar os lugares que foram citados e as personagens da história ouvida. Corpo, gestos e movimentos: as crianças movimentaram organizando os dois espaços: bagunçado e organizado, representaram essas experiências narradas por meio de desenhos. Visando entender mais sobre estasconexões entre os campos de experiência, assista ao vídeo: https://vimeo.com/235622179 – O que as crianças aprendem imaginando? Acesse e leia: https://labedu.org.br/imaginar-educa-qual-importancia-da- imaginacao-ao-longo-da-infancia/ – Aprender linguagem: ouvindo e lendo histórias Acesse e leia: https://labedu.org.br/aprender-linguagem-ouvindo-e-lendo- historias/ Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações3.8 Para trabalharmos este campo de experiências, vamos mostrar como ele pode ser trabalhado de forma interativa, interligada. Sabemos que os números fazem parte do cotidiano das crianças. Elas visualizam-nos, observam e pensam sobre eles em variadas situações: identificando o número do prédio, apartamento, casa, dos preços de produtos nas lojas, mercados, dos números dos telefones, no relógio, nos rótulos dos produtos, nas páginas dos livros... UNIUBE 81 Há também a relação com a idade, os dias da semana, as horas. Ao observar, elas aprendem imitando, produzindo e reproduzindo gestos e palavras; por exemplo, quando ensinamos as crianças pequenas a mostrarem os dedos representando quantos anos têm. Além das inúmeras brincadeiras cantadas que trazem a sequência dos números e que contribuem para que elas escutem, cantem e aprendam a reproduzi-la. Outras situações que podem ser propiciadas às crianças para que tenham contato com os números são comparar objetos observando: tem a mesma quantidade? Tem mais? Tem menos? Completar objetos para que fiquem com a mesma quantidade. Jogos usando a contagem, varetas, boliche, cantigas como a galinha do vizinho. Jogos de empilhamento usando diversos materiais e de equilíbrio. Dessa forma, à medida que vão crescendo, aprendem a grafá-los, mas a sua função demanda diferentes interpretações: contar, ordenar, medir etc. e cada espaço de uso tem suas especificidades, as quais as crianças podem vivenciar e aprender. Observar e comparar os preços de produtos em mercados e de uma receita culinária pode ser uma encantadora oportunidade para pensar sobre os números presentes nos textos instrucionais. Outra situação interessante em que as crianças interagem com a contagem dos números é por meio das brincadeiras populares como pular corda, por exemplo. Nessas interações, as crianças contam com a parceria de seus pares e de adultos e vão explorando os números, algarismos, e refletem sobre essa diversidade de situações em que a matemática está presente. 82 UNIUBE Interagir em diversos espaços por meio de diferentes desafios e situações potencializa as descobertas/noções das crianças: quente-frio; em cima-embaixo; comprido-curto; dentro-fora; grande-pequeno; longe-perto, entre outros. Um exemplo interessante são os circuitos de obstáculos, que promovem a modificação no espaço, que permitem a construção de conceitos e que garantem uma diversidade de movimentos, como: engatinhar, passar por baixo e por cima, arrastar, entrar e sair, dar a volta, pular, andar devagar, correr, escorregar; entre outras ações. As crianças percebem a passagem do tempo? O que elas pensam a respeito do tempo? Saber o que elas pensam a esse respeito, como explicam e vivenciam a passagem do tempo é muito importante. É por meio das interações com o meio físico e social que as crianças, aos poucos, conseguirão construir as ideias, impressões básicas da dimensão temporal. É preciso respeitar a forma pela qual a criança apreende o tempo, proporcionando- lhe oportunidades de vivenciá-lo, experimentá-lo e percebê-lo. Vejamos alguns exemplos de atividades: • montar um álbum com fotos; realizar registros com desenhos e colagens diversas e criativas: origem do nome, brinquedos preferidos, amigos... • criar histórias em quadrinhos e realizar dramatizações, observando o início, o meio e o fim; • recontar histórias atentando para a sequência dos acontecimentos; • brincadeiras e jogos simbólicos que implicam sequências temporais; UNIUBE 83 • fazer com as crianças receitas culinárias, obedecendo à sequência de ações e à ordem temporal: retomando o que fizeram; • experiências com plantio de sementes, observando a germinação, registrando as fases de crescimento e o tempo de cada uma delas; • por meio de desenhos, marcar os dias que tem aula e os dias que não tem. Como este campo de experiência “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” pode ser trabalhado de forma interativa, interligada? Leia os textos a seguir e amplie os seus conhecimentos! Conheça uma experiência que coloca o pensar e agir da criança no centro do processo educativo. Acesse: https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/55/conheca-uma-experiencia- que-coloca-o-pensar-e-agir-da-crianca-no-centro-do-processo-educativo Como a criança interfere e se apropria dos espaços? É possível trabalhar o tempo? As quantidades? E os fenômenos naturais? Como a Base Nacional Comum Curricular aborda o pensamento matemático nas crianças pequenas? Acesse:http://www.tempodecreche.com.br/espaco-de-coordenar/ base-nacional-comum-e-o-pensamento-matematico-parte-2/ SAIBA MAIS Figura 7: Crianças brincando de bola. Fonte: Acervo DepositPhotos. 84 UNIUBE Conclusão3.9 Como vimos, as crianças devem ser protagonistas o tempo todo e as diversificadas ações nas instituições de Educação Infantil não podem se pautar apenas no atendimento às necessidades físicas, mas, sim, nas experiências de brincar, de aprender a cuidar de si e nas mais variadas interações com as diferentes linguagens, por meio dos diversos campos de experiência. Logo, uma rotina planejada, com objetivos claros e momentos bem definidos, contribui de forma significativa para o desenvolvimento das atividades propostas, proporcionando mais confiança ao professor, como também segurança, acolhimento e aprendizagem às crianças. Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Parecer no 20, de 17 de dezembro de 2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010. BNCC. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec. gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2019 BRASIL. Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Departamento de Políticas de Educação Infantil de Ensino Fundamental. Coordenação Geral do Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações Gerais. 2004.Disponível em: <http: //portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>. Acesso em 25 jul. 2019. UNIUBE 85 BRASIL. Diretrizes em ação: qualidade no dia a dia da educação infantil / Instituto Avisa Lá – Formação continuada de educadores; Ministério da Educação; Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF – São Paulo: Ed. Instituto Avisa Lá, 2015. BRASIL. Ministério da Educação. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com.docman&view =dowload&view=dowloand&alias=79611-anexo-texto-aprovado-em-15-12-17- pdf&categoryslug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192.>. Acesso em: 15 fev. 2018. CEARÁ. Secretaria de Educação. Orientações Curriculares para a Educação Infantil./ Secretaria de Educação do Estado do Ceará – Fortaleza: SEDUC, 2011. DIDONET, V. Fragmentos de história da educação infantil no Brasil: algumas reflexões. Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais. UFRJ nº 8. Junho de 2008. ISSN: 1808-6535. Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Introdução Planejamento e avaliação na Educação InfantilCapítulo4 Neste capítulo, após você ter conhecido os objetivos de aprendizagem e os campos de experiência propostos pela BNCC – Base Nacional Comum Curricular – paraa Educação Infantil, chegou o momento de, além de desenvolver o fazer metodológico com atividades diversificadas, aprender como planejar a rotina diária e avaliar cada momento de seu dia a dia escolar enquanto professor e também de seu aluno. Quando o professor entra em sala de aula, ele precisa ter, a partir de seu planejamento, uma intencionalidade, saber o que e como vai realizar as atividades e, o tempo todo, analisar e avaliar suas ações pedagógicas, tendo como foco o desenvolvimento de seu aluno nas atividades propostas. O professor, ao planejar as suas aulas, precisa pensar na importância de se trabalhar de forma integrada os diferentes campos de experiência propostos pela BNCC/2017, refletindo sobre quais habilidades poderá desenvolver com seu aluno. Quando registramos sobre os avanços e dificuldades de nossos alunos, podemos, sempre que necessário, retornar às anotações para sabermos o que deve ser retomado e de onde devemos partir para que eles avancem quanto a habilidades e conhecimentos. Esse processo é fundamental para a análise avaliativa de todo o trabalho docente. 88 UNIUBE Em nosso cotidiano, ressaltamos que planejar e avaliar são verbos presentes em nosso vocabulário diário. A cada novo amanhecer, planejamos nosso dia e, no decorrer e/ou no final, dele paramos para pensar se tudo que planejamos ocorreu como pretendido. Assim, neste capítulo, nossa principal intenção é fomentar uma teia de debates e reflexões frente aos constantes desafios educacionais diários em seu fazer pedagógico: planejar e avaliar. Para iniciar nosso diálogo, imagine o seu dia de hoje, desde a hora que se levantou até este momento. Pense nas atividades que realizou. Quantas foram planejadas a curto e longo prazo e quantas foram realizadas automaticamente? Quais foram suas descobertas? Registre todos esses questionamentos! REGISTRANDO O planejar sempre esteve presente no decorrer da vida humana, desde a Pré-História, mesmo sem essa intencionalidade. Os homens pré-históricos planejavam para se defender dos fatores meteorológicos, dos animais ferozes, de outras tribos, para procurar alimento. Portanto, apenas com um conhecimento da realidade, eles planejavam estratégias de sobrevivência. Da Pré-História até o momento atual, quanto progresso o homem adquiriu!! Abordar a temática planejamento e avaliação na Educação Infantil como um procedimento sistêmico requer primeiramente conhecer teóricos como Gadotti, Vasconcellos, Hoffmann, Haidt, entre outros, já estudados por você na disciplina de Didática, que abordam questões sobre o planejar e avaliar na educação escolar, mas também conhecer documentos que trazem essa temática para a Educação Infantil e qual a proposta da BNCC/2017 quanto a planejar e avaliar. UNIUBE 89 Para que possamos ser coerentes em nossas ações diárias enquanto educadores, precisamos saber o que planejamos, os procedimentos que desenvolvemos em aula e como avaliamos, levando em consideração a observação diária. Assim pensando, espero que você, aluno (a), por meio dos objetivos propostos abaixo, para este capítulo, possa compreender a importância de planejar e avaliar na Educação Infantil 4.1 Conversa inicial sobre o planejamento 4.2 Como planejar as atividades na Educação Infantil 4.2.1 Planejamento de aula 4.3 O que podemos entender por trabalhar com projetos na Educação Infantil 4.4 Como avaliar na Educação Infantil 4.5 Formas de registrar na Educação Infantil 4.6 Conclusão Objetivos Esquema • Conhecer e elaborar planos de aula e projetos temáticos para a criança da Educação Infantil: • compreender o que é avaliação e o que se avalia na Educação Infantil; • apontar os procedimentos relevantes no processo de uma avaliação formativa; • construir registros de avaliação por meio de relatórios, considerando o conhecimento de mundo da criança, seus aspectos afetivos, corporal e cognitivo em todas as suas dimensões. 90 UNIUBE Conversa inicial sobre o planejamento 4.1 Neste capítulo, abordaremos a temática do planejamento na Educação Infantil de uma forma bem tranquila para que você aluno(a) do curso de Pedagogia possa, ao assumir sua sala de aula, enquanto professor, planejar as suas aulas com seriedade, compreendendo a real função que isso representa, mas sem perder a ludicidade e o olhar de quem é a criança que será seu aluno. Inicialmente, imagine a cena: você termina o curso de Pedagogia, assume o cargo de professor de Educação Infantil e, então,...um frio na barriga surge... várias crianças sob sua responsabilidade, umas chorando, outras correndo, outras quietas sentadas...... E agora, o que fazer? Quem pode ajudá-lo(a)? Começo pensando nos estudos sobre PLANEJAMENTO.... e logo pergunto a você: mas para que planejar na Educação Infantil se as crianças são tão pequenas? PARADA PARA REFLEXÃO Quantos desafios esperam por você! Para iniciar este estudo, leia o que nos informa a BNCC: Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades UNIUBE 91 dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. (BRASIL, 2017) Analise essa citação da BNCC/2017 e verifique que planejar é coisa séria, devendo ser incorporado conjuntamente ao cuidar e educar nas atividades diárias. Portanto, planejar é uma responsabilidade repleta de grandes desafios e, nesta etapa, é fundamental e requer estudos, conhecimento sobre a criança e predisposição por parte do professor. Tudo começa pelo planejamento. Para realizá-lo, é necessário que você, professor, conheça e compreenda como as crianças pensam, o que fazem e por que fazem e pensam desta ou daquela forma. Então, professor, como planejar as suas aulas? Pense um pouco mais!! Você saberia responder por que as crianças bem pequenas vão ao encontro de um brinquedo, um animalzinho, ou de um objeto em movimento e adoram colocar tudo que encontram pela frente na boca? Por que as crianças bem pequenas e pequenas se encantam com tanta facilidade com algo e também rapidamente o esquecem e vão ao encontro de outro entretenimento? A criança enxerga seu entorno, escuta, cheira, agarra, põe a mão, conhece, leva à boca, absorve, degusta, mastiga, amolda, arrisca, joga no chão, interage, rabisca, projeta, canta, levanta, senta, caminha, corre, sobe…. A criança necessita tocar, balançar, levar à boca, morder, desmontar, estar em contato com outras crianças, vivenciar tudo que chama a sua atenção. Para tanto, o professor precisa, em seu planejamento diário, ir registrando as ações pedagógicas que abordem tudo isso e muito mais. 92 UNIUBE Nessas ações e em muitas outras, a criança vai descobrindo o novo, o que gosta e o que não gosta de fazer. Elas são importantes para que aprendam e entrem em contato com a realidade, interagindo com o outro e aprendendo a conhecer o ambiente em que tais rotinas acontecem, juntamente com outras crianças e também com os adultos. Ao planejar sua aula, o professor precisa levar em consideração o desenvolvimento integral da criança envolvendo as capacidades, a relação entre aprendizagem e movimento corporal e as interações que são proporcionadas ao se desenvolver as atividades planejadas. Veja o que nos informa o documento RCNEI.v.1.1988. p.47 sobre capacidades infantis. Emboraas crianças desenvolvam suas capacidades de maneira heterogênea, a educação tem por função criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças, considerando, também, as possibilidades de aprendizagem que apresentam nas diferentes faixas etárias. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma atuação que propicia o desenvolvimento de capacidades envolvendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf SAIBA MAIS Também precisa levar em consideração, ao planejar, o lado afetivo e emocional da criança. Nesse processo, afetivo e cognitivo devem caminhar juntos. A sala de aula enquanto espaço de vivência e convivência é fundamental, e que seja amorosa, acolhedora e cheia de significado. Segundo Wallon (2005), ”a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional”. Perceba que as relações presentes em sala de aula entre professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno são fundamentais para todo e qualquer UNIUBE 93 aprendizado. Ainda complementando com as palavras de Wallon (1978), “O espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação a nós próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença, do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento." Relembrando os estudos anteriores desta disciplina sobre o tempo e espaço, podemos afirmar que o espaço vivenciado pela criança no interior da escola se torna um forte elemento de aprendizado ou de distanciamento, dependendo da forma como ele está organizado. Ao planejar, o professor precisa levar em consideração: – Interações e brincadeiras. – Como avaliar. – Como fazer o plano de aula infantil. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento – BNCC – Ludicidade. Experiências significativas – BNCC – Desenvolvimento infantil. – Objetos do conhecimento infantil. Ao planejar sua aula, o professor precisa perceber a criança como parte integrante do todo, proporcionando uma interligação entre as ações citadas. Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola. (BNCC/2017) 94 UNIUBE O planejamento da aula deve ser interativo, produtor de aprendizagem, com uma intencionalidade educativa, percebendo a criança como produtora de cultura. Diferentes linguagens devem estar inclusas nesse planejamento: corporal, verbal, lógico-matemático, linguagens artísticas. Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar- se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas. (BNCC/2017) Assim pensando, pode-se perceber que a criança, em seu universo infantil, precisa ser ouvida e estimulada a participar de brincadeiras, a colecionar objetos, a dançar, a brincar de faz de conta, a jogar, a desenhar, a modelar, a ouvir e recontar histórias, poemas ou poesias, a fazer teatro, entre outras formas de expressões que provocam experiências e que marcam a diversidade cultural no universo infantil. Estas experiências de brincar e de imaginar por meio de diferentes expressões precisam estar bem claras no planejamento diário do professor e proporcionar a criança o conhecimento da natureza, o desenvolvimento da linguagem oral e verbal e o experienciar a sua cultura. Antes de iniciar o planejar na Educação Infantil, leia o livro Didática – EAD Uniube, Capítulo 2: Planejamento de ensino e avaliação, da autora Glaura de Morais Paroneto, acessando o link abaixo. https://bv4.digitalpages.com.br/?term=DIDATICA&searchpage=1&filtro=tod os&from=busca&page=6§ion=0#/legacy/53419 Nessa leitura você recordará toda a importância e seriedade na construção desse documento que precisa ser real e significativo dentro da escola. AMPLIANDO O CONHECIMENTO UNIUBE 95 Como planejar as atividades na Educação Infantil 4.2 4.2.1 Planejamento de aula Tudo começa com o planejamento que a escola organiza no início do ano. No início do ano letivo, a equipe de professores, juntamente com o coordenador pedagógico e direção da escola, projeta quais competências e habilidades deverão ser desenvolvidas com as crianças, em um determinado período, por meio do planejamento, chamado planejamento anual. Como o ano letivo é dividido em bimestres ou trimestres, este planejamento anual é desmembrado em planejamentos bimestrais ou trimestrais. Assim, o professor se norteará por ele para elaborar seu plano de aula que desenvolve diariamente. Ele poderá ser diário, semanal ou por projetos. Todo planejar começa pela proposta pedagógica da escola. Planejar faz parte do dia a dia do professor da Educação Infantil, um planejar diferenciado, não em conteúdo como acontece a partir do Ensino fundamental, mas focando as experiências da criança, por meio das interações e brincadeiras, “experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização”. (BNCC/2017). Na Educação Infantil qualquer situação rotineira se transforma em experiência, assim, todas as situações da rotina, como o banho, troca de fralda, alimentação, precisam ter uma intencionalidade. De acordo com a BNCC, este planejar deve acontecer por fases de idades distintas: 1. Bebês: de zero a um ano e seis meses. 2. Crianças bem pequenas: um ano e sete meses a três anos e onze meses; 3. Crianças pequenas: quatro anos a cinco anos e onze meses. 96 UNIUBE O professor precisa, ao planejar, pensar em todos os momentos da rotina diária de sala de aula, desde o recebimento dos alunos até o final do dia de aula. Precisa ter em mente como as intenções educativas propostas por ele para o espaço da sala de aula e outros ambientes vão gerar experiências vivenciadas em cada dia. Quando planeja, o professor remete aos conhecimentos que seu aluno poderá desenvolver, está no plano das intenções, das ideias. Quando desenvolve seu trabalho em sala de aula, seu planejar ganha vida e transforma-se em vivências, deixa de ser pensamento e vira ação, ressaltando a importância de utilizar os tempos e espaços, com recursos diferenciados, não se esquecendo de priorizar nas atividades planejadas as interações e brincadeiras. No ato de planejar, o professor toma decisões considerando suas concepções: quem é a criança, como ela aprende, quais competências e habilidades importantes em cada faixa etária, qual é o papel do professor, qual é o material mais adequado para determinada situação, quanto tempo é necessário para cada experiência, como a organização do espaço pode favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem de cada um e do grupo como um todo. (PINHO, 2018. p.40) Portanto, para planejar, o professor precisa conhecer quem é seu aluno, o grau de abstração que ele é capaz, levando em consideração a faixa etária e como a criança aprende. Quando o planejamento é claro e o professor reconhece que objetivos de aprendizagem deve planejar para que seu alunodesenvolva, a sala de aula se transforma em algo vivo como um laboratório de aprendizagem. • Esta percepção é clara para você? • Consegue diferenciar brincadeira de bagunça? Interação de confusão? • Se você já estiver realizando o estágio na etapa da Educação Infantil que vivências são perceptíveis de se observar na mediação do fazer pedagógico do professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno? • Qual a importância do planejamento do professor neste processo? PARADA PARA REFLEXÃO UNIUBE 97 Acredito que você deva ter pensado imaginado todos os passos seguidos pelo professor até chegar a este fazer pedagógico, iniciado no ato de planejar. Como nos informa (PINHO, 2017. p.40), “um observador mais atento, porém, perceberá o papel ativo do professor na organização dos espaços, na escolha dos materiais, na mediação das relações entre as crianças e da interação com elas”. Planejar é tão importante porque é como uma bússola – direcionando a rotina diária do professor. É por meio dele, de seu desenvolvimento, que as intenções educativas serão transformadas em “direitos de aprendizagem e desenvolvimento, – conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se – proporcionando “que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural” (BNCC/2017). O planejar é dividido em antes da aula e depois da aula. O plano de aula deve ser construído mediante a proposta pedagógica da escola, cada uma traz uma formatação, nomenclatura, mas lembrando, de acordo com Masseto (1997), suas etapas são: 1) Escolher o assunto a ser tratado. 2) Estabelecer o tempo previsto. 3) Definir os objetivos. 4) Relatar os procedimentos didáticos. 5) Relatar os recursos a serem utilizados. 6) Avaliação. Vamos adaptar essas informações de Masseto para os professores da Educação Infantil, de acordo com a BNCC/2017. 98 UNIUBE 1 – Escolher o tema a ser tratado O professor, de acordo com a idade e o desenvolvimento de seus alunos, vai planejar assuntos que estejam dentro do planejamento anual, com atividades temáticas que priorizem o desenvolvimento de seus alunos. Lembrando que são três faixas etárias distintas. No planejamento, você colocará somente o código: 01,02 ou 03. 01: Bebês (zero a 1 ano e 6 meses). 02: Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses). 03: Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). RELEMBRANDO 2 – Estabelecer o tempo previsto Na Educação Infantil, todo planejamento deve ser interdisciplinar, com o tempo previsto para cada atividade proposta. A partir de um mesmo tema, vou elaborar diferentes atividades com um tempo delimitado para diferentes objetivos de aprendizagem. 3 – Definir os objetivos: (O que trabalhar?) Os objetivos trabalhados devem ser claros. Eles são o norte do plano de aula. Representam os conhecimentos que o professor pretende que seu aluno aprenda. Os objetivos são iniciados com verbo no infinitivo. De acordo com a BNCC/2017, os objetivos de aprendizagem devem priorizar “os direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, com os cinco campos de experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver”, de acordo com a faixa etária proposta para eles. UNIUBE 99 Como definir os objetivos? Os objetivos são representados por meio de códigos. 1 – Etapa: Educação Infantil – EI 2 – A idade das crianças: 01, 02 ou 03 3 – O campo de experiência: as duas primeiras letras das duas primeiras palavras. Por exemplo: corpo, gestos e movimentos – CG / O eu, o outro e o nós – EO 4 – Qual o número do objetivo de aprendizagem a ser desenvolvido? Por exemplo: escuta, fala, pensamento e imaginação – EF 01, 02,03,04,05,06,07,08,09. Ex.: EI.01.EO.02 – (EI01EO02) Educação Infantil – Crianças bebês – O eu o outro e nós – objetivo de aprendizagem 02 RELEMBRANDO Reveja nos capítulos anteriores ou na BNCC/2017, no endereço abaixo, nas páginas 25 e 26, como organizar os objetivos. BRASIL, BNCC – Base Nacional Comum Curricular – Mec. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/ bncc-20dez-site.pdf IMPORTANTE! 4 – Metodologia: relatar os procedimentos didáticos (Como trabalhar?) Nesta etapa do planejamento, você deverá ir elencando passo a passo como desenvolverá sua aula, como vai organizá-la, pensando na organização do tempo e espaço que poderá utilizar, os materiais disponíveis existentes ou que deverá confeccionar. 100 UNIUBE Deve-se pensar também em como e quando utilizará os recursos pedagógicos, lembrando que deverão ser escolhidos de acordo com a idade de seus alunos. Cada idade possibilita formas diferentes de ações metodológicas e exploração diferenciada dos materiais. Nesta parte do planejamento, você dará vida ao que planejou. 5 – Recursos a serem utilizados Para desenvolver sua aula, quais recursos organizou e já explicitou na metodologia? Todo material deve ser organizado com antecedência – sejam eles: recursos visuais, gráfico, sucata, jogos, livros de literatura, poesias, entre outros. 6 – Avaliação Parte importantíssima do planejamento. Lembre-se de que na Educação Infantil são trabalhadas experiências por meio dos eixos estruturantes da prática pedagógica: as interações e brincadeiras. Como a criança participou, vivenciou as experiências previstas no planejamento realizado por você. Lembrando que a experiência deve ser formativa e individual. Sua avaliação deverá ser também diagnóstica, individual e processual, considerando que o desenvolvimento de cada aluno acontece de forma diferente. Em seguida, trago a sugestão de um planejamento de aula bem simples levando em consideração como é proposto pela BNCC, estudada até agora. UNIUBE 101 PLANO DE AULA PROFESSOR (A): DATA: TEMA: Conhecer a obra do Artista plástico Piet Mondriam Público-alvo: 03 – (4 anos). TEMPO: 4 HORAS/AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS METODOLOGIA ATIVIDADES RECURSOS X – EI03EO04 – EIO3EO06 Conviver X O eu, o outro e o nós – EO – Apresentação aos alunos (em roda) da obra de Piet Mondriam (1872-1944). Permitir que os alunos comentem os trabalhos do artista, comparem Mondriam com outros artistas que conhecem e exponham suas ideias sobre artes plásticas em geral. Discutir o tempo histórico em que Mondriam viveu e as influências de outros artistas em sua obra. – Nas mesinhas recriar, com blocos lógicos, quadros do artista, explorando a contagem, a classificação, a seriação, a soma de pequenas quantidades e a identificação de formas geométricas. Ao som de uma música clássica, promover a realização de uma releitura da obra de Mondriam. Finalizando a aula, expor os trabalhos realizados no pátio da escola. – Vídeo do youtube mostrando obras de arte do artista. – Livros de arte; – Material de pintura; – Blocos lógicos; – Aparelho de som; – CDs X – EI03CG05 Brincar X Corpo, gestos e movimentos – CG X – EI03TS01 – EI03TS02 Participar X Traços, sons, cores e formas – TS X – EI03EF01 Explorar X Escuta, fala, pensamento e imaginação – EF X – EI03ET01 – EIO3ET04 – EI03ET05 Conhecer-se X Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – ET Expressar X AVALIAÇÃO: será processual e contínua sob o olhar do professor durante o trabalho, realizando as possíveis intervenções e realizando anotações. 102 UNIUBE Caso você queira saber mais sobre o planejamento na Educação Infantil, sugerimos que acesse e leia: 1 – Rizeck, Karina. O processo de observação deve ser contínuo e permanente. Revista Nova Escola on-line. Disponível em: https://novaescola.org.br/bncc/ conteudo/53/como-ser-um-professor-observador-e-avaliar-as-criancas-da-educacao-infantil 2 – TREVISAN, RITA. Conheça uma experiência que coloca o pensar e agir da criança no centro do processo educativo. Revista Nova Escola on-line. Disponível em: https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/55/conheca-uma- experiencia-que-coloca-o-pensar-e-agir-da-crianca-no-centro-do-processo- educativo 3 – Planos de aula totalmente gratuitos e alinhados à BNCC. REVISTA Nova Escola on-line. Disponível em: https://novaescola.org.br/plano-de-aula/busca? disciplina=Educa%C3%A7%C3%A3o%20Infantil&anoPlanoAula=Creche Esses textos sugeridos abordam questões ligadas ao Planejamento da Educação Infantil de acordo com a BNCC. PESQUISANDO NA WEB O que podemos entender por projetos na Educação Infantil 4.3 Agora que já estudamos sobre planejamento e como elaborar um bom plano de aula, chegou o momento de conhecer outra forma de planejar suas aulas. Além do plano de aula, a escola também poderá trabalhar na Educação Infantil com projetos. Uma possibilidade de trabalho que agrada muito às crianças quando elas são inseridas nele. Mas o que significa trabalhar com projetos na Educação Infantil? UNIUBE 103 Vamos entender melhor!! Vamos reportar para nossa vida... projetamos tantos sonhos, não é mesmo? Pense em algum de seus sonhos e elenque as possibilidades de sua realização. PARADA PARA REFLEXÃO Para que seus sonhos se transformem em realidade, muitas de suas ações são projetadas em pouco ou muito tempo, dependendo da proporção e disponibilidade que tem para o momento em que está vivendo, após uma análise de como, quando, onde elas acontecerão. Nesta trajetória, poderá, se necessário, mudar o percurso, além de ponderar também as possíveis consequências de suas decisões. O trabalho com projetos também se torna muito significativo para a Educação Infantil, porque, por meio dele, o professor pode planejar e desenvolver diferentes saberes que os alunos necessitam, entrelaçando, nos diferentes campos de experiências, as competências que serão desenvolvidas e a total participação dos alunos. Você já trabalhou com projetos no campo profissional? Nosso diálogo, a partir de agora, será sobre essa modalidade de organizar o trabalho pedagógico diferente do plano de aula. De acordo com o RCNEI/98, “os projetos são conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos específicos construídos a partir de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de um problema para resolver ou um produto final que se quer obter.” Sua duração varia de acordo com a intencionalidade de seus objetivos, as etapas de desenvolvimento e o interesse das crianças. Sendo elas, o centro da aprendizagem em um projeto, ele possibilita aprendizados e ações que nem sempre estão no seu planejamento porque “ comportam uma grande dose de imprevisibilidade, podendo ser alterado sempre que necessário, tendo inclusive modificações no produto final”. (RCNEI/98) 104 UNIUBE O projeto possibilita trabalhar de forma interdisciplinar, entrelaçando todos os conhecimentos e campos de experiências, como uma teia. Por meio dele, conhecimentos e dúvidas se entrelaçam e novas descobertas vão surgindo, desde que partam do interesse dos alunos, e não do professor. Nessa ação o professor deve ser o mediador de todas as ações e dúvidas que, por ventura, venham a surgir. Por isso, os projetos precisam ter uma visão mais globalizadora, integrando diferentes saberes. Complementado esta informação: O projeto é um trabalho articulado em que as crianças usam de forma interativa as quatro atividades linguísticas básicas – falar/ouvir, escrever/ler -, a partir de muitos e variados gêneros textuais, nas várias áreas do conhecimento, tendo em vista uma situação didática que pode ser mais significativo para elas. (NERY, 2006, p.119, apud FERREIRA, 2009, p.20), Verifique que este trabalho requer do professor de Educação Infantil uma intencionalidade e clareza de seus objetivos. O projeto é dos alunos, mas a forma como ele será direcionado é do professor. Portanto, o professor precisa ter clareza de como desenvolvê-lo e os passos de sua realização. Quando o professor escolhe trabalhar com projetos, o foco deverá ser as aprendizagens que ele possibilitará e as interações que deverão acontecer por meio dele. Nesse olhar, cognitivo e afetivo estão interligados, aprender torna-se significativo, uma aventura em que tanto os alunos quanto os professores estão incluídos, em busca de diferentes conceitos científicos, históricos, sociais, artísticos, entre outros. São inúmeras as pesquisas que as crianças realizarão. Não estamos aqui falando de projetos de datas comemorativas, tão comuns nas escolas, mas de projetos em que as crianças sejam os atores de sua ação, com diferentes pesquisas que realizarão para que suas curiosidades sejam sanadas. EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 105 Alguns alunos brincando no jardim da escola encontram um “casulo” no galho de uma planta e, agitados, chamam a professora até o local para ver a descoberta que fizeram. Muitos questionamentos surgiram e a professora, em comum acordo com os alunos, decidiu pesquisar sobre o casulo. Então, ela conversa com os alunos e diferentes questionamentos são levantados pelas crianças para explicar o que há dentro do casulo. Diante deste problema, a professora deverá elencar os seguintes dados para montar o projeto: O que será desenvolvido com os alunos referente ao problema do casulo? O que eles querem aprender sobre o casulo? O que eles precisam aprender sobre o casulo? Como organizarão os trabalhos? Para a elaboração de um projeto, verifique que existe a curiosidade dos alunos, mas também a ação do professor, que, escutando as dúvidas dos alunos, aproveitou e as transformou em pesquisa. A partir de um desejo coletivo da turma, a professora soube elencar um trabalho a ser desenvolvido em forma de projeto. O trabalho por meio de projetos demanda, primordialmente, uma escuta atenta e sensível do professor, uma ligação empática com seu grupo de alunos, partilhando situações de aprendizagem que possam favorecer o surgimento de um tema. (PASCHOALIN, 2015) Para tanto, o professor deve ter conhecimento de como elaborar um projeto. Complementando essa afirmativa: [...] Para iniciar um projeto, o aluno já deverá possuir alguns tipos de conhecimento do tema proposto, levando-se em consideração que este partiu de seu foco de interesse: portanto, poderemos dizer que até o momento esse aluno já possui ”esquemas” que deverão ser mudados no decorrer do projeto. (NOGUEIRA, 2003, p.93, apud FERREIRA, 2009, p.20). 106 UNIUBE Portanto, as questões a serem levantadas durante os questionamentos dos alunos são os conhecimentos que eles pretendem descobrir sobre a temática, as perguntas devem ser respeitadas e levadas em consideração durante a pesquisa, que abrangerá diferentes descobertas, assim, novos saberes vão ganhando formas, indagações e novos questionamentos. Projeto e planejamento diário aqui se imbricam...se complementam... Assim como o planejamento que já estudamos, o projeto também possui algumas etapas que devem ser seguidas durante sua elaboração. Quais os principais passos da elaboração do projeto? 1 – Tema do projeto: O tema precisa ter a participação das crianças nas discussões do planejamento, na escolha da temática a ser pesquisada e na escolha do nome. O professor pode e deve participar dessa discussão, questionando e organizando as questões postas, mas a escolha deve ser de acordo com a necessidade dos alunos. Importante respeitar a faixa etária destes. 2 – Problematização do tema: O que pesquisar dentro da temática escolhida? Por que pesquisaremos? Quais objetivos deverão ser alcançados? Como realizaremos o projeto? (os passos a serem seguidos) Quando realizaremos cada etapa? (o tempo previsto) Quem participará de cada atividade? Quais os recursos serão utilizados? Obs.: lembre-se de que você está desenvolvendo um projeto com crianças, portanto precisa respeitar afaixa etária, as curiosidades e os conhecimentos prévios que possuem. UNIUBE 107 3 – Metodologia: realização do projeto A metodologia deve seguir o que propõe a BNCC/2018, contemplando as experiências infantis, tendo como eixos norteadores as interações e a brincadeira de forma lúdica; criando, cantando, pintando, organizando, pesquisando, desenhando, colorindo, moldando, enfim, o fazer pedagógico em ação. O projeto começa a ter vida, considerando os princípios éticos, estéticos e políticos propostos. 4 – Avaliação do projeto A avaliação é um momento importantíssimo, ela deve ser processual, amorosa e contínua, mas também, no final do projeto, no momento da culminância do trabalho realizado, a avaliação também deve ocorrer. Nela, é verificado se foram respondidos todos os questionamentos que deram origem ao projeto, se são necessárias novas estratégias, novas pesquisas. Por ser processual vai acontecendo o tempo todo, podendo sofrer modificações sempre que preciso. – Uma exposição, um painel ou outra forma de culminar o projeto sempre com a participação das crianças também é parte fundamental da avaliação. – Uma divulgação, por toda escola e mesmo aos pais, de todo o trabalho realizado com as crianças, também é bastante interessante, motivador e provocador de novas pesquisas! 1 – CALÁCIA, Deborah. Como Elaborar Projetos Na Educação Infantil. Disponível em: http://naescola.eduqa.me/atividades/natureza-sociedade/ como-elaborar-um-projeto-na-educacao-infantil/ Nesse texto, a autora traz informações e exemplos de como montar projetos na Educação Infantil. PESQUISANDO NA WEB 108 UNIUBE 2 – PASCHOALIN, C.A. O que significa trabalhar com projetos na Educação Infantil? Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao- e-midia/o-que-significa-trabalhar-com-projetos-na-educacao-infantil/ CORTEZ, Clélia. O que um bom projeto para Educação Infantil precisa ter? Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/50/o-que-um-bom- projeto-para-educacao-infantil-deve-ter Esses textos trazem algumas informações sobre a elaboração de um projeto. Como avaliar na Educação Infantil 4.4 Começaremos o estudo sobre a avaliação na Educação Infantil lendo e analisando o artigo 31 da Lei n. 9.394/96: “Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (Brasil, 1996). • Quais as ideias principais desse objetivo? Se você colocou em sua resposta as informações abaixo, acertou! • Registrar o desenvolvimento diário do aluno, ação que requer, como futuro professor, ter conhecimento de como as crianças aprendem em diferente situação de brincadeiras e interações sociais de acordo com os teóricos estudados durante o curso, Piaget, Vygotsky e Wallon. A etapa da Educação Infantil não tem a obrigatoriedade de promoção das crianças, isso significa que todas as crianças que completarem 6 anos até 31 de abril estão aptas para cursarem a fase introdutória dos anos iniciais do Ensino Fundamental. UNIUBE 109 Por muito tempo, até o final da década de 80, avaliar seguia a linha tradicional da educação, com os famosos testes de prontidão que qualificavam as crianças pelo QI para verificar o grau de aprendizagem e como deveriam estar preparadas para estudar na primeira série do Ensino Fundamental. O avaliar era um processo distinto das possibilidades das crianças em ser criança, um modelo que o sistema educacional e os familiares acreditavam que essa criança deveria alcançar. Muitas crianças ficavam retidas nas chamadas “classes de alfabetização “ até serem alfabetizadas (leitura e escrita) como se o alfabetizar fosse a prioridade dessa faixa etária, ingressando mais tarde no Ensino Fundamental. Por outro lado, as crianças que estudavam em creches saíam da instituição sem nenhuma habilidade de leitura e escrita, porque a prioridade não era pedagógica, e, sim, assistencialista. As crianças não tinham um acompanhamento avaliativo que sustentasse suas reais necessidades e acreditava-se que os tais testes eram necessários para sua classificação e aprendizado nas classes de alfabetização. Essas concepções de avaliação – que têm como marca a predição (do futuro escolar da criança), a meritocracia (que discrimina e exclui), o controle (da escola e da criança) e o reducionismo dos processos educativos a diagnósticos (numéricos ou descritivos) – têm sido fortemente criticadas na Educação Infantil. (FERREIRA, 2013, p.29) Esse processo era discriminatório e injusto com a criança, principalmente aquelas que, por infinitos motivos, quer sejam biológicos ou quer sejam sociais, não estavam “prontas”, moldadas para entrar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Foi necessário muito estudo para que essa concepção de avaliação fosse mudada. Também era comum as crianças serem avaliadas com “notas, conceitos, estrelas, carimbos com desenhos de caras tristes ou alegres conforme o julgamento do professor” (BRASIL,1988, p.58) 110 UNIUBE A LEI 9394/96 trouxe ganhos, mas também muitos estudos e debates, por exemplo quando aborda que a Educação Infantil se dá “sem o objetivo de promoção”. Foi preciso muito estudo nos momentos de formação continuada nas escolas, proporcionados pelas secretarias municipais de educação e pelas próprias instituições. Você deve estar se perguntando: • Se na Educação Infantil não se tem o objetivo de promoção, então não é preciso avaliar os alunos? Se pensou assim, está enganado(a), o professor precisa ter muito conhecimento acerca de como a criança pensa, sente e aprende em cada fase de seu desenvolvimento, em cada idade, e registrar, cotidianamente, o desenvolvimento individual de cada aluno. CURIOSIDADE De acordo com (Ferreira,2013), “Sem o objetivo de promoção – não é sem motivo que essa marcação aparece na Lei maior da educação e nos indica um importante limite a respeito do papel da avaliação na Educação Infantil”. O que está descartado é a quantificação por meio de avaliações, notas que classificam as crianças de uma forma injusta e discriminatória. De acordo com o RCNEI1998, A observação e o registro se constituem nos principais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor pode registrar, contextualmente, os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das interações estabelecidas com outras crianças, funcionários e com o professor e acompanhar os processos de desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças na instituição. (BRASIL, 1998, p.58) Estas observações e seu registros serão o ponto de referência para o professor, que, de uma forma individual, estará avaliando seu aluno por meio de material impresso, observações diárias dos momentos de brincadeiras e atividades, como: desenhos, registros, escrita espontânea, enfim, diferentes e variados registros de atividades planejadas e realizadas pelo professor. UNIUBE 111 1 – Leia as explicações sobre avaliação na Educação Infantil de acordo com Karina Rizek, no E-book (Revista Nova Escola p.38): O QUE AVALIAR? A avaliação na Educação Infantil não é de promoção, aprovação ou continuidade. É uma avaliação a partir desse olhar do professor que procura observar o quanto e como cada criança se aproximou daqueles objetivos de aprendizagem. Pessoalmente, prefiro o termo de acompanhamento, que diz respeito a avaliar o trabalho pedagógico e o desenvolvimento das crianças. Deve-se pensar em como manter a continuidade, por isso, essa avaliação não tem que acontecer em novembro, mas desde fevereiro, de maneira a sentir a turma e ter tempo de trabalhar em cima do que foi observado. COMO AVALIAR? É o fruto da observação, mas com evidências variadas, sejam elas registros escritos, fotográficos, filmagens ou produções das crianças. Sempre que vou planejar uma série de atividades eu tenho que prever sempre quais são as formas de avaliaçãoe penso na materialização disso. A avaliação traz aspectos coletivos que são subjetivos, mas as evidências fundamentam esse olhar. É necessário ter diretrizes claras do que vai ser avaliado, é um combinado da escola, por isso é necessário criar os instrumentos e o resultado esperados. No entanto, essa avaliação tem que vir muito do professor, pois é ele que vai estar em sala e o que vai ser avaliado tem a ver com o que vai ser dado. RIZEK, Karina. Como ser um professor observador e avaliar as crianças da Educação Infantil? Disponível em: https://novaescola.org.br/bncc/ conteudo/53/como-ser-um-professor-observador-e-avaliar-as-criancas-da- educacao-infantil/ 2 – Como sugestão leia na íntegra o E-book, que está no endereço acima, sobre a etapa da Educação Infantil de acordo a BNCC. SAIBA MAIS 112 UNIUBE Para maior conhecimento da proposta da avaliação na Educação Infantil de acordo com o RCNEI, leia: RCNEI V.I p. 58 a 61. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf Leia o que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução n° 5, CNE/CEB, 2009) colocam em seu artigo 10°: As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do tra balho pedagógico e para avaliação do desenvol- vimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: I – a observação crítica e criativa das ativi dades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II – utilização de múltiplos registros realiza dos por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); III – a continuidade dos processos de apren dizagens por meio da criação de estraté gias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transi ção casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); IV – documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da ins tituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; V – a não retenção das crianças na Educação Infantil. http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf PESQUISANDO NA WEB UNIUBE 113 Formas de registro na Educação Infantil 4.5 E aí, professor, você deve estar se perguntando: como isso realmente acontece na prática? Vamos começar nossa conversa por essa pergunta. Até o presente momento, estudamos como a observação intencional e as anotações sobre o dia a dia das crianças em forma de registros são muito importantes, sendo considerados como documentos para que se possa avaliar o aluno. É o primeiro passo da avaliação: observação, registro e avaliação formativa. De acordo com (RCNEI, 1988), A observação e o registro se constituem nos principais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor pode registrar, contextualmente, os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das interações estabelecidas com outras crianças, funcionários e com o professor e acompanhar os processos de desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças na instituição. Tudo começa pela observação e pelo registro porque estes fornecem dados diários da criança e como são individuais são particularidades que o professor obtém em seu dia a dia. Veja ainda como nos informa o documento RCNEI: São várias as maneiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos professores. A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O registro diário de suas observações, impressões, ideias etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda para o planejamento educativo. Outras formas de registro, também, podem ser consideradas, como a gravação em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do tempo; fotografias etc. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente à Educação Infantil, artigo 31 que: “... a avaliação far-se- á mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”. (BRASIL, 1988, v.I, p.58-59). 114 UNIUBE Portanto, essas práticas, quando traduzem os reais avanços ou dificuldades das crianças, de forma individual ou em suas interações, são documentos importantíssimos. Esses registros são distintos, podem ser de diferentes formas, indo desde uma simples anotação no caderno diário até um portfólio. Veja o que nos esclarece a BNCC sobre eles: [...] ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças. (BRASIL, 2017) Reafirmo que o relatório deve ser individual, isto é, único para cada criança, porque cada uma aprende de forma diferenciada, mas todas aprendem em seu tempo. Cada escola possui o seu modelo de relatório de anotações, o formulário é único, mas a forma de você relatar cada aluno é que deve ser diferenciada, registrada de acordo com suas anotações realizadas no dia a dia. Lembrando que a escrita do relatório deve ser em uma linguagem clara, para uma melhor compreensão por parte dos familiares. Se achar necessário, sente-se com os familiares dos alunos que apresentam alguma dificuldade na hora da entrega do relatório e explique para eles suas observações. O relatório avaliativo representa o diálogo que se estabelece entre professor e família a respeito do aluno. Devido ao fato de a Educação Infantil ser uma etapa da educação básica em que se avaliam as experiências adquiridas pelas crianças não em forma de conceitos ou notas, essas informações são necessárias. UNIUBE 115 Quando esse processo acontece realmente de forma processual, possibilita condições para as crianças acompanharem, terem o retorno de seus avanços e superações cotidianas, como nos informa o (RCNEI 1988, v.I, p.59)., “por exemplo, quando o professor diz: “Olhe que bom, você já está conseguindo se servir sozinho”, ou quando torna observável para as crianças o que elas sabiam fazer quando chegaram à instituição com o que sabem até aquele momento. ” Percebe, professor, que nas pequenas situações do cotidiano que demonstra avanços a criança precisa ser informada, elogiada, dando a ela condição de seguir em frente? O mesmo também deve ocorrer quando acontece uma situação embaraçosa, como a disputa por um brinquedo, em que se deve explicar à criança a importância de dividir o brinquedo. São situações cotidianas que trazem aprendizado. Nesse contexto, as situações acontecem de forma contextualizada, real, de maneira formativa e amorosa, como deve ser a avaliação. De acordo com a BNCC, É importante que o professor tenha consciência disso, para que possa atuar de forma cada vez mais intencional. Isso significa definir melhor a quem se dirige a avaliação — se ao grupo todo ou às crianças em particular; qual o melhor momento para explicitá-la e como deve ser feito. Esses momentos de retorno da avaliação para a criança devem incidir prioritariamente sobre as suas conquistas. Apontar aquilo que a criança não consegue realizar ou não sabe só faz sentido numa perspectiva de possível superação, quando o professor detém conhecimento sobre as reais possibilidades de avanço da criança e sobre aspossibilidades que ele tem para ajudá-la. Outro fator importante da avaliação quando registrada em fichas, arquivos ou portfólios é a continuidade dos registros para o próximo ano, em que o próximo professor(a) poderá dar continuidade aos avanços da criança. Portfólio é um continente com diferentes tipos de documentos (anotações pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem, conexões com outros temas fora da escola, representações visuais, etc.) que proporciona evidência 116 UNIUBE de conhecimentos que foram sendo construídos, as estratégias utilizadas para aprender e a disposição de quem o elabora para continuar aprendendo (HERNÁNDEZ, 2000, p. 166). O instrumento portfólio representa uma coletânea de trabalhos desenvolvidos pelo aluno, num determinado período, sob o olhar pedagógico do professor, podendo este fazer as interferências quando necessário, de forma adequada. Sua organização pode ser mensal, bimestral, semestral ou anual. Conclusão4.6 Neste estudo sobre o planejar e avaliar na Educação Infantil fomos elencando, durante todo o capítulo, alguns elementos fundamentais para a elaboração de um bom planejamento de aula ou projeto de atividade: o que planejar, como planejar e para quem planejar. Nessa teia de informações, para o real desenvolvimento integral da criança, as atividades proporcionadas na rotina diária, presentes no tempo e no espaço da Educação Infantil, precisam ter significado. O conhecimento teórico do professor, acrescido da afetividade e das relações interpessoais, é considerado fator importante. Tivemos o cuidado de resguardar esse planejar, priorizando os direitos de aprendizagem: conviver, brincar, explorar, participar, comunicar e conhecer- se, resguardados pela BNCC/2017, Base Nacional Comum Curricular. Ser professor da etapa da Educação Infantil é muita responsabilidade e requer muitos conhecimentos. Seja por meio de planejamento ou por projetos de atividades a responsabilidade do professor será imensa para um bom desenvolvimento integral da criança. Sempre registrando os fatos considerados importantes no dia a dia, o professor terá maior condição de avaliar seu aluno com um relatório consistente, claro, que seja um instrumento de conhecimento das reais necessidades desse aluno. UNIUBE 117 As interações, as interferências e os questionamentos realizados nas mediações pelo professor durante a realização das atividades pedagógicas devem demonstrar confiança, aconchego e acolhida. Cada criança tem seu tempo de aprendizagem, que deve e precisa ser respeitado pelo professor, para que seja significativo de aprendizados. Resumo Neste capítulo estudamos os seguintes assuntos: A importância do planejar em nossa vida e consequentemente na escola. Planejar e avaliar como elementos fundamentais na ação didática do professor no cotidiano da sala de aula, a partir da etapa da Educação Infantil. Na Educação Infantil, de acordo com a BNCC/2017, a criança aprende por meio dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, e não por meio de conteúdos como nas demais etapas da educação básica. Planejar faz parte do dia a dia do professor da Educação Infantil, um planejar diferenciado não tendo como foco o conteúdo como acontece a partir do Ensino Fundamental, mas sim as experiências da criança, por meio das interações e brincadeiras. Ao planejar, o professor precisa levar em consideração direitos de aprendizagem e desenvolvimento e os seis campos de experiências, presentes na BNCC/2017. Na Educação Infantil, qualquer situação rotineira se transforma em experiência, assim, todas as situações de rotina, como banho, troca de fralda, alimentação, precisam ter uma intencionalidade. De acordo com a BNCC, o planejar deve acontecer por fases de idades distintas: bebês: zero a um ano e seis meses; crianças bem pequenas um ano e sete meses a três anos e onze meses e crianças pequenas: quatro anos a cinco anos e onze meses. 118 UNIUBE Trouxemos a sugestão de um planejamento de aula bem simples, levando em consideração como é proposto pela BNCC. Além do plano de aula, a escola também poderá trabalhar na Educação Infantil com projetos de atividades. O projeto possibilita trabalhar de forma interdisciplinar, entrelaçando todos os conhecimentos e campos de experiências, como uma teia. Em seguida, foram apresentados os passos de um projeto de atividades. Depois, estudamos sobre a importância de se avaliar por meio de registros descritivos, que podem ser fichas, portfólio ou outros formatos que a escola apresente. Não se conceitua o aluno, mas, sim, registram- se seus progressos e possibilidades. Referências BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu cação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, n. 248. Brasília, DF. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/LF9394_96. pdf>. Acesso em: 05 dez.2018 BRASIL. Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Na cionais para a Educação Infantil. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Brasília: CNE/CEB, 2009. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/ files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/ 2018/04/BNCC_19mar2018_versaofinal.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018. BRASIL. Referencial curricular para a Educação Infantil. Disponível em: <http: //portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018. CALÁCIA, Deborah. Como Elaborar Projetos na Educação Infantil. 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Anotações _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________