Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

1 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Sumário 
Abordagens teóricas da agricultura ........................................................................................... 4 
Contexto histórico da agricultura ................................................................................................ 4 
A agricultura sob o capitalismo: abordagem teórica .................................................................. 6 
O capitalismo cria e recria as relações não-capitalistas............................................................ 7 
O agrário e o agrícola ................................................................................................................. 9 
Introdução: sobre o Capitalismo .............................................................................................. 11 
Agricultura e modo capitalista de produção ............................................................................. 11 
Capitalismo concorrencial ........................................................................................................ 12 
Transformações na agricultura: o crescimento, a concorrência e a crise europeia ............... 14 
Capitalismo monopolista .......................................................................................................... 16 
A relação centro-periferia e suas repercussões na estrutura agrária brasileira ..................... 18 
Capitanias hereditárias ............................................................................................................. 19 
Sistema sesmarial .................................................................................................................... 19 
Origem da concentração de terras no Brasil ........................................................................... 19 
Estrutura agrária e estrutura fundiária ..................................................................................... 23 
A concentração da propriedade da terra ................................................................................. 24 
Histórico dos conflitos sociais no campo ................................................................................. 25 
O contexto da reforma agrária brasileira ................................................................................. 30 
A reforma agrária e os contrastes regionais ............................................................................ 33 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST ....................................................... 35 
Agricultura e sustentabilidade .................................................................................................. 41 
Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade .................................................................... 42 
Agroecologia ............................................................................................................................. 43 
Agricultura e meio ambiente..................................................................................................... 45 
Problemas ambientais rurais .................................................................................................... 47 
Transgênicos e biotecnologia................................................................................................... 49 
Agricultura, tecnologia e meio ambiente no Brasil................................................................... 51 
O rural e o urbano .................................................................................................................... 54 
Critérios utilizados para definir o rural e o urbano ................................................................... 56 
A evolução geral do campo e da cidade .................................................................................. 57 
Transformações recentes no espaço rural .............................................................................. 58 
Origem da pluriatividade .......................................................................................................... 60 
 
 
3 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
As transformações na agricultura familiar e a pluriatividade no contexto europeu ................ 61 
A pluriatividade no Brasil .......................................................................................................... 61 
A pluriatividade nos assentamentos rurais .............................................................................. 64 
Contexto das políticas agrícolas no Brasil ............................................................................... 65 
Agricultura familiar: questão conceitual ................................................................................... 67 
A trajetória do PRONAF e a agricultura familiar ...................................................................... 68 
Agricultura e energia ................................................................................................................ 71 
O Proálcool ............................................................................................................................... 72 
O biodiesel ................................................................................................................................ 73 
Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB ............................................... 76 
Panorama atual do biodiesel no Brasil .................................................................................... 78 
Retrospecto do trabalho rural no Brasil ................................................................................... 79 
Relações de trabalho no campo brasileiro............................................................................... 79 
A transformação dos agricultores em capitalistas ................................................................... 80 
A organização da produção da agricultura brasileira e relações de trabalho ........................ 81 
Gênero e relações de trabalho na agricultura ......................................................................... 83 
Referências ............................................................................................................................... 86 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Abordagens teóricas da agricultura 
As teorias que abordam a temática da agricultura trazem a discussão do contexto 
histórico, para entendermos melhor como ocorreu o processo de dominação dos 
meios de produção. Essa fundamentação é primordial para compreendermos como 
ocorrem as relações entre a terra e o trabalho, no capitalismo. A título de comparação, 
faremos uma explanação dessas relações no sistema feudal de produção. Outra 
discussão teórica será as contradições do capitalismo, que cria e recria novas 
relações de trabalho para manter-se como sistema de produção. 
Contexto histórico da agricultura 
A agricultura é uma atividade milenar que passou por várias transformações 
ao longo do tempo. Nesse sentido, vale destacar um pouco da evolução histórica que 
envolve o percurso da agricultura e dos atores sociais nela envolvidos. 
Um dos atores envolvidos é o camponês, que não deve ser entendido apenas 
como produtor de sua própria subsistência, mas aquele que possui relação direta 
com a terra. 
O camponês surge com a sedentarização dos seres humanos no espaço 
geográfico, ou seja, com a fixação do ser humano, que deixa de ser nômade e passa 
a fixar-se em determinados lugares, principalmente, nas margens dos rios. 
No entanto, no período Neolítico, iniciaram-senovos modos de 
relacionamento entre os seres humanos e a natureza, em que os seres humanos 
passaram a interferir de forma ativa no ambiente, cultivando plantas, domesticando 
e criando animais. Dessa forma, os seres humanos começaram a produzir sua 
própria alimentação. As comunidades desse período praticavam a coleta de frutos, a 
caça e a pesca, mas durante muito tempo fi zeram pouco uso da agricultura e da 
criação de animais como forma de produzir alimentos. 
No período das grandes civilizações agropecuárias (egípcia, mesopotâmia, 
persa, hindu, romana, chinesa, grega, asteca, inca, maia etc.), como mostra Figura 
1, houve uma modificação decisiva de como os grupos humanos se organizavam no 
espaço geográfico, dinamizando a divisão do trabalho no interior das civilizações. 
Com a evolução das relações sociais dentro das civilizações, ocorreu o aparecimento 
de grupos sociais diferenciados, o que ampliou a divisão social do trabalho, fazendo 
surgir os trabalhadores especializados (ferreiros, carpinteiros, mercadores, 
guerreiros, sacerdotes, pastores etc.). Além disso, ocorreu também o 
 
 
5 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
desenvolvimento técnico, principalmente na agricultura, tendo impacto decisivo na 
produção. Cabe ressaltar que com a expansão das cidades houve a ampliação da 
produção de alimentos, uma vez que era preciso abastecê-las, gerando a 
necessidade da ampliação do território e consequentemente a necessidade de um 
exército permanente para ampliar e controlar os novos espaços conquistados. 
 
Com a evolução das relações de poder dentro dessas civilizações e o aumento 
do território, especificamente o império romano, deu-se a implosão a partir das 
invasões “bárbaras” e a explosão a partir de movimentos instaurados dentro do 
próprio império, por exemplo, os conflitos entre alguns generais romanos. Como 
consequência principal da dissolução do império romano, podemos citar um evento 
ímpar na história da humanidade, o êxodo urbano, ou seja, a migração das pessoas 
para o campo, dando início, assim, a um novo sistema de produção de característica 
essencialmente agrícola – o Feudalismo. 
No período do século V ao XV, predominaram as relações feudais de 
produção, ou seja, o chamado feudalismo, definido por Goff (1984) como um sistema 
baseado em vínculos de homem a homem em que uma classe de guerreiros – os 
senhores – subordina uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, 
dominando a massa campesina que explora a terra e lhes fornece o viver. 
Segundo Kautsky (1998), o mundo medieval constituía uma cooperativa 
completamente ou quase totalmente autosuficiente, que não produzia apenas seus 
próprios produtos de consumo pessoal, como também construía sua própria casa, 
seus próprios móveis, utensílios domésticos, ferramentas, curtiam o couro, 
preparava o linho e a lã, além de fabricar suas próprias roupas, sapatos etc. Com o 
Figura 1 – Primeiras civilizações mundiais 
 
 
6 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
desenvolvimento da indústria e do comércio e o processo de urbanização, aumentou 
a demanda por produtos agrícolas e de uso pessoal na Europa.. 
Tal fato gerou a crise no sistema cooperativo feudal, que não tinha capacidade 
de suprir as demandas, principalmente nos núcleos urbanos, causando a dissolução 
da indústria rural doméstica, o que gerou uma migração da indústria rural de 
subsistência para os núcleos urbanos europeus. 
No entanto, com a crise do Feudalismo, ocorre a formação dos Estados 
Nacionais e novas práticas econômicas são efetivadas, ocorre o aumento do 
consumo e produção europeias. Dessa forma, novas relações de produção emergem 
com o florescimento do Capitalismo. Com a expansão marítima comercial, 
metrópoles como Inglaterra, Portugal e Espanha transformaram as colônias de 
exploração em grandes plantations de produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar, 
o algodão, o fumo etc. Essa exploração definiu a divisão internacional do trabalho 
entre os continentes africano, americano e asiático e foi importante para a 
acumulação primitiva do capital para os países da Europa Ocidental, sobretudo a 
Inglaterra, principal potência econômica até a Primeira Guerra Mundial. 
Desde então, o Capitalismo tem se expandido e as mudanças nas relações de 
trabalho e no modo de vida da sociedade, tanto na cidade quanto no campo, são 
evidentes e geram grandes discussões, em especial, destacaremos as repercussões 
do Capitalismo na agricultura. A terra, tida como fonte natural de vida, passa a ser 
vista como fonte de lucro com o advento do Capitalismo. 
 
A agricultura sob o capitalismo: abordagem teórica 
 
O estudo acerca da agricultura na perspectiva do Capitalismo é um tema 
gerador de muitas discussões e correntes de pensamento. Cabe discutir aqui as 
principais correntes que procuram explicar as mudanças no campo advindas com 
esse sistema. Deve-se também destacar que todos os autores concordam com o 
processo de generalização progressiva em todos os ramos e setores de produção, 
no campo ou na cidade, o assalariamento constitui traço fundante do modo de 
produção capitalista. 
Na realidade, ocorrem discordâncias teóricas em relação à interpretação 
desse processo de generalização progressiva de todos os setores de produção e do 
 
 
7 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
assalariamento. Nesse sentido, há duas correntes de pensamento. Na primeira, os 
autores dizem que ocorre um processo de homogeneização com a formação do 
operariado único num polo e a classe burguesa no outro. Para a segunda corrente, 
o processo é contraditório e heterogêneo, nele se expande o assalariamento e o 
trabalho familiar. 
Em relação às duas correntes citadas, destaca-se outra corrente de 
pensamento, os seguidores da chamada teoria clássica explicam o processo de 
generalização das relações produtivas capitalistas por duas vias em que se dá a 
destruição dos camponeses e a modernização dos latifúndios. O primeiro se dá pela 
diferença interna provocada pelas contradições da inserção do campesinato no 
mercado capitalista. O segundo decorre com a introdução das máquinas e insumos 
modernos, tornando os latifundiários capitalistas do campo. Esse processo de 
mudanças tecnológicas no campo ficou conhecido como modernização 
conservadora, uma vez que a estrutura social praticamente não sofreu alterações. 
Relações feudais? 
Dentro da discussão teórica, cabe destacar os estudos que apontam que os 
camponeses e os latifundiários são na realidade evidências da permanência de 
relações feudais de produção. Para essa corrente de pensamento, houve uma 
penetração das relações capitalistas no campo. Essa penetração é explicada com o 
rompimento das estruturas políticas tradicionais de dominação. Segundo essa 
corrente, apenas uma reforma profunda por meio da distribuição de terra provocaria 
transformações no momento em que a luta camponesa poderia destruir o latifúndio 
e os vestígios feudais e, assim, ocorreria a substituição pela propriedade camponesa 
ou capitalista. 
 
O capitalismo cria e recria as relações não-capitalistas 
Ainda no plano teórico, vale destacar mais uma corrente de pensamento que 
defende que o próprio Capitalismo é o gerador das relações capitalistas e não-
capitalistas. O Capitalismo é entendido como contraditório, uma vez que ocorre a 
criação e recriação das relações nãocapitalistas de produção, ou seja, relações em 
que não existe trabalho assalariado. Para essa corrente, a relação capitalista ocorre 
com a construção de dois elementos: o capital produzido e o trabalhador 
despossuído dos meios de produção. 
 
 
8 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Entendem esses autores que esse processo contraditório do desenvolvimento 
capitalistadecorre do fato de que a produção do capital nunca é, ou seja, nunca 
decorre de relações especificamente capitalistas de produção, fundadas, pois, no 
trabalho assalariado e no capital. Para que a relação capitalista ocorra é necessário 
que seus dois elementos centrais estejam constituídos, o capital produzido e os 
trabalhadores despojados dos meios de produção (OLIVEIRA, 1995, p. 11). 
As relações não-capitalistas são necessárias à reprodução do capital e ao 
processo de sua reprodução ampliada do capital. Nesse processo contraditório, as 
relações antigas de produção são redefinidas e subordinadas à reprodução do 
capital. Segundo os seguidores dessa corrente, o processo contraditório de 
desenvolvimento do capitalismo se dá no sentido da sujeição da renda da terra ao 
capital. Dessa forma, o capital subordina o campesinato, especula a terra, 
comprando-a e vendendo-a e sujeitando o trabalho nela realizado. 
Leia o fragmento do texto e, em seguida, responda a atividade. 
A expansão do Capitalismo no campo se dá primeiro e fundamentalmente pela 
sujeição da renda territorial ao capital. Comprando a terra, para explorar ou vender, 
ou subordinando a produção de tipo camponês, o capital mostra-se 
fundamentalmente interessado na sujeição da renda da terra que é a condição para 
que ele possa sujeitar também o trabalho que se dá na terra. Por isso, a concentração 
ou a divisão da propriedade está fundamentalmente determinada pela renda e renda 
subjugada pelo capital. No Brasil o movimento do capital não opera de modo geral 
no sentido entre a separação entre a propriedade e a exploração dessa propriedade 
nem a separação do burguês e os proprietários grandes e pequenos. Podemos citar 
como exemplo os agricultores familiares do sul do Brasil que continuam proprietários 
da terra e dos instrumentos que utilizam no seu trabalho. Ele não é um assalariado 
de ninguém. Como podemos dizer que o capital instituiu a sujeição do seu trabalho, 
dominando-o? Nem há sujeição formal (não existe vínculo trabalhista) nem há 
sujeição real (o capital não precisa apropriar-se da terra para retirar sua renda) do 
trabalho ao capital nesse caso, deixando clara a sujeição da renda da terra ao capital. 
Esse é o processo que se observa claramente em nosso país, tanto em relação à 
grande propriedade quanto em relação à propriedade familiar de tipo camponês. 
(MARTINS, 1983, p. 174/176). 
 
 
 
9 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
O agrário e o agrícola 
 
O que é questão agrária e qual é a sua relação com a questão agrícola? A 
questão agrária tem conteúdo político e social e a questão agrícola está relacionada 
à produção de gêneros alimentícios. Em outras palavras, como diz Graziano da Silva 
(1980, p. 11): 
[...] a questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na 
produção em si mesma: o que se produz, onde se produz e quando se produz. Já a 
questão agrária está ligada às transformações nas relações de produção: como se 
produz, de que forma se produz. No equacionamento da questão agrícola, as 
variáveis importantes são a quantidade e os preços dos bens produzidos. Os 
principais indicadores da questão agrária são outros: a maneira como se organiza o 
trabalho e a produção; o nível de renda e emprego dos trabalhadores rurais; a 
produtividade das pessoas ocupadas no campo etc. 
Cabe destacar, como diz Graziano da Silva (1980), que a questão agrária e a 
questão agrícola estão internamente relacionadas, sendo que muitas vezes suas 
crises ocorrem simultaneamente, mas nem sempre isso é uma condição necessária, 
pois muitas vezes a resolução do problema agrícola pode servir para agravar a 
questão agrária. Discutiremos melhor a respeito desta relação entre agrícola e 
agrária, nas próximas aulas. 
Uma categoria fundamental para os estudos da questão agrária é a chamada 
renda da terra, que representa um lucro extraordinário, suplementar, permanente, 
que ocorre tanto no campo como na cidade – também é denominada de renda 
territorial ou renda fundiária. Sendo a renda da terra um lucro extraordinário, fruto do 
trabalho excedente, esta constitui-se na fração da mais-valia. A renda da terra em 
sua forma mais desenvolvida no modo de produção capitalista é sempre sobra acima 
do lucro, ou seja, constitui-se num lucro excedente. 
No entanto, a renda da terra sob o modo capitalista de produção é resultante 
da renda diferencial e da renda absoluta. 
 
 
 
 
 
 
10 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
RENDA DIFERENCIAL RENDA ABSOLUTA 
[...] decorre da diferença entre o preço 
individual de produção do capital particular que 
dispõe de uma força natural monopolizada e o 
preço de produção do capital empregado no 
conjunto do ramo de atividade considerado. As 
causas da renda diferencial são três: sendo que as 
duas primeiras (renda diferencial I) independem do 
capital. São elas: a diferença de fertilidade (natural) 
do solo e da localização das terras. Essas duas 
podem atuar em sentidos opostos. A terceira causa 
(renda diferencial II) é oriunda dos investimentos de 
capital no solo para melhorar a sua produtividade 
e/ou localização.” 
Para ficar claro, lembremos que a Renda 
diferencial I independe do capital. As terras que são 
férteis naturalmente e têm sua localização 
privilegiada, por exemplo, a Zona da Mata 
Nordestina, as áreas de terra roxa no Paraná em 
Santa Catarina etc. 
No caso da renda diferencial II, lembremos 
que esta é dependente do capital, por exemplo, nas 
áreas de solos pobres, como o Cerrado brasileiro e 
grande parte dos solos amazônicos. 
[...] é aquela que resulta do 
monopólio da terra por uma classe ou 
fração de classe, e desapareceria caso 
as terras fossem nacionalizadas. Assim, 
a renda absoluta é resultante da 
elevação dos preços de produção desses 
gêneros, principalmente por ação dos 
monopólios. Isso porque os proprietários 
fundiários só permitem a utilização de 
suas terras quando os preços de 
mercado ultrapassam os seus preços de 
produção” 
No caso da renda absoluta, 
podemos citar como exemplo os grandes 
especuladores latifundiários que colocam 
suas terras para produzir quando os 
preços estão acima da média. 
Quadro 1 – Rendas diferenciada e absoluta 
 
Agricultura e modo capitalista de produção 
 
Força de trabalho 
Capacidade dos trabalhadores para produzir riquezas. Karl Marx explica que 
a compra e venda da força de trabalho é uma característica básica do capitalismo. A 
força de trabalho do trabalhador é uma mercadoria que o capitalista compra e que 
gera as riquezas. Porém, essa mercadoria (a força de trabalho) gera mais riqueza do 
que quanto ela mesma vale. 
 
 
 
11 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Introdução: sobre o Capitalismo 
No capitalismo concorrencial, a agricultura desenvolveu-se de duas formas: a 
agricultura capitalista, baseada no trabalho assalariado e nos arrendamentos, e a 
agricultura baseada nas formas de produção não-capitalistas, em que se destaca a 
produção de mercadorias camponesas e o escravismo, os quais se desenvolveram 
articulados com o comércio capitalista. 
A fase do capitalismo monopolista se deu com a crise no final do século XIX. 
Especialmente na agricultura inglesa e europeia, ocorreu o crescimento da produção 
e a queda da renda. Essa fase caracteriza-se pelo desenvolvimento da mecanização 
do campo, fusão de grandes empresas nos países desenvolvidos e fundação de 
grandes bancos, ou seja, concentração e centralização de capitais. Ainda nessa fase, 
a agricultura desenvolveu-se no aumento da 
produtividade do trabalho e no contexto de baixa geral 
de seus preços, criando assim as condições de 
acumulação, da efetivação dos monopólios 
industriais. 
 
 
Agricultura e modo capitalista de produção 
Como vimos na aula 1,o capitalismo é produto de um processo contraditório 
e seu desenvolvimento é produto desse processo de reprodução ampliada do capital, 
ou seja, o modo capitalista de produção não se restringe apenas à produção de 
mercadorias, mas também inclui a sua circulação e troca, quer seja por dinheiro quer 
por mercadoria. 
O capitalismo, na realidade, está em constante desenvolvimento e expansão. 
Seu princípio básico é representado por D – M – D’, ou seja, dinheiro compra 
mercadoria e força de trabalho para gerar mais dinheiro, ou seja, lucro. Esse é o 
princípio da reprodução ampliada do capital. No entanto, reprodução do capital 
também se dá de forma simples, ou seja, M – D – M, sem a geração de excedente 
em dinheiro, ou melhor, lucro. Nesse esquema, produz-se apenas para garantir a 
sobrevivência. 
Para entender o processo de desenvolvimento do capitalismo no tocante à 
agricultura, é importante compreender se esta se desenvolveu nas duas diferentes 
 
 
12 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
fases ou etapas do capitalismo, nas quais se destacam o capitalismo concorrencial 
e o monopolista. 
 
Capitalismo concorrencial 
A agricultura nessa etapa desenvolveu-se de duas formas: agricultura 
capitalista baseada no trabalho assalariado e nos arrendamentos e a agricultura 
baseada nas formas de produção não-capitalistas em que se destaca a produção de 
mercadorias camponesas e o escravismo, os quais se desenvolveram articulados 
com o comércio capitalista. Na Europa ocidental e no nordeste dos Estados Unidos, 
predominavam as relações tipicamente capitalistas, enquanto nas colônias de 
exploração, maior parte da Ásia, na África e na América, predominavam as relações 
não-capitalistas de produção, mas, contraditoriamente, havia uma articulação 
territorial em que o capitalismo se expandia dirigida pelos países centrais europeus. 
Com o desenvolvimento industrial e urbano, especialmente nos países 
europeus, a agricultura foi adaptando-se às novas relações de poder e às leis do 
mercado capitalista. 
 
O capitalismo concorrencial: o comércio e as formas comunitárias de 
produção 
O capitalismo durante o processo de dominação colonial não destruiu 
integralmente as comunidades nativas existentes. Na realidade, após a dominação 
do trabalho pela força o capitalismo utilizava as formas de produção das 
comunidades para produzir mercadorias ou transformava os produtos típicos das 
comunidades em mercadorias. Desse modo, o capitalismo submeteu os povos da 
Ásia, América e da África aos seus interesses comerciais, extraindo os seus 
excedentes para a realização da acumulação primitiva do capital. Nesse momento, 
você deve está perguntando: como aconteceu isso? Esse processo foi homogêneo? 
Bem, vamos tentar entender como o capitalismo expandiu-se no continente asiático, 
africano, americano e europeu. 
Na Ásia, o capitalismo submeteu os povos que viviam sob o despotismo 
oriental, apropriando-se dessa forma de produzir através da Companhia das Índias 
Orientais. Nas comunidades que viviam do despotismo oriental, combinavam-se a 
manufatura e a agricultura, que as tornavam autossuficientes e portadoras de todas 
 
 
13 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
as condições de produção e reprodução dos excedentes. O trabalho excedente 
pertencia à comunidade superior, ou na forma de tributo ou de trabalho coletivo. 
No entanto, os comerciantes capitalistas europeus desestruturaram essas relações 
através das relações com o Estado e os comerciantes que 
Arrendamento 
É o aluguel de terras para o plantio e criação de animais mediante o 
pagamento de uma renda em mercadoria ou em dinheiro. 
Despotismo oriental 
Sistema de produção asiático em que a agricultura era a base da economia 
com regime de servidão coletiva submetida ao Estado, representado pelas figuras do 
imperador, rei ou faraó. Sistema caracterizado por grandes comunidades agrícolas. 
Companhias das Índias Orientais 
As Companhias das Índias Orientais foram três organizações distintas com 
objetivos comerciais no Sueste asiático, de origens francesa, holandesa e inglesa: 
aos poucos envolveram a comunidade superior no comércio, aumentando os 
tributos sobre a comunidade e quebrando o sistema autossuficiente. 
Na África, assim como na Ásia, também houve o processo de aceleração da 
mercantilização. Esse período foi marcado pelo tráfico de escravos, principalmente 
do século XVII ao XIX, estendendo-se de Senegal a Moçambique. A inserção da 
África no processo de desenvolvimento do capitalismo se efetivou fundamentalmente 
com o tráfico negreiro. Após a proibição do tráfico, as comunidades africanas 
voltaram-se para produção de matérias-primas e produtos agrícolas tropicais de 
exportação. 
No continente americano, houve o processo de dominação dos povos 
indígenas, o qual se deu por meio da manutenção da estrutura comunitária, 
destinando os excedentes aos espanhóis. Durante a economia colonial, os indígenas 
americanos foram explorados através da apropriação do excedente, quer pela via 
fiscal ou pela via de suas relações com o monopólio comercial, ou, ainda, pelo 
aparelho eclesiástico e das ordens religiosas. 
Portanto, a economia colonial fundou-se em duas bases: na articulação com 
as formas comunitárias submetidas ao comércio internacional e na produção por 
parte das colônias de produtos tropicais baseada no trabalho escravo. Vale salientar 
 
 
14 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
que a produção escravista expandiu-se pelo mundo, principalmente na América, 
sendo o escravo a própria mercadoria. 
Com o fim do tráfico de escravos, o capital procurou novas formas de 
dominação dos povos de todo o mundo. No Brasil, destacou-se o colonato como uma 
alternativa para superar a crise do trabalho escravo, substituindo o escravo e 
caracterizando-se como trabalho livre. A mudança na forma de produzir baseada no 
colonato objetivava preservar e ampliar a economia voltada para exportação de 
produtos tropicais para a Europa capitalista. 
Na Europa, as formas comunitárias de produção foram abolidas em detrimento 
das formas capitalistas de produção, isso transformou os servos em trabalhadores 
assalariados e os grandes proprietários de terra em agricultores essencialmente 
capitalista, subordinando a agricultura à reprodução do capital e transferindo as 
decisões que se davam no espaço rural para o espaço urbano. 
 
Transformações na agricultura: o crescimento, a concorrência e a crise 
europeia 
Nesse período, aumentava a produção e crescia a produtividade das terras 
nos países europeus. Esse período de prosperidade, segundo Kautsky (1998), durou 
até o último quartel do século XIX, período em que os preços dos alimentos 
cresceram bastante na Europa. No entanto, o período de prosperidade trouxe 
consigo o próprio estrangulamento da produção agrícola e a queda dos preços dos 
alimentos trouxe a concorrência dos produtos importados no seio de uma economia 
mundializada pela indústria de exportação. O baixo preço dos produtos importados 
e a concorrência dos produtos agrícolas se deram em função dos menores gastos 
de produção e de exploração, em relação a custos e à exploração dos países 
europeus a que os trabalhadores estavam submetidos em outras partes do mundo. 
Paralelamente à crise agrícola, desenvolvia-se a industrial capitalista e o 
crescimento das cidades, principalmente os centros europeus, mudando a relação 
campo-cidade a partir da qual a agricultura transformava-se e adequava-se a novos 
sistemas, como: a rotação de culturas que aboliu o pousio, pois a rotação de cultura 
permitia a produção agrícola o ano inteiro; outro fator importante foi a alteração da 
base alimentar da população, ampliando a produção de carne em relação à produção 
das matérias-primas industriais, como lã,algodão etc. No seio desse processo, 
 
 
15 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
temos o desenvolvimento da indústria, o crescimento das cidades, a introdução da 
máquina na agricultura, modificando e ampliando a divisão do trabalho, tanto nos 
territórios centrais como nos países periféricos do capitalismo, especialmente em 
relação a terra. 
Nas colônias do continente americano e da Austrália, a terra não era 
propriedade privada de ninguém, era propriedade coletiva. Nessas nações, não havia 
renda da terra a pagar ou a cobrar, fato exatamente contrário à agricultura inglesa. 
Além disso, em muitas áreas, os solos eram bastante férteis como, por exemplo, o 
solo massapé, terra roxa e solos aluviais das margens dos rios, dispensando 
investimentos e gastos com adubação. As produções dessas colônias cresceram e 
geraram o agricultor especializado em um único produto. Tal fato abriu caminho para 
a mecanização em função da falta de mão-de-obra. Outro fator importante é a 
intensificação da imigração, que provocava a redução dos salários agrícolas e a 
efervescência da agricultura capitalista nesses lugares. 
Em contrapartida, podemos citar um caso especial em que se efetivou uma 
agricultura competitiva possibilitada pela abolição dos escravos e pela Homestead 
Act, ou seja, Lei de colonização estadunidense (EUA), assinada em 1862, que 
permitia a concessão gratuita de terra para propriedades acima de 160 acres. Como 
consequência, houve uma grande migração para o oeste, conhecida como “marcha 
para o oeste” no citado país. 
Como esses eventos nos territórios periféricos pressionaram a política de 
produção de massa e preço baixo de vários países, as colônias pressionaram a 
agricultura da Europa industrial, principalmente da Inglaterra. Com isso, a agricultura 
europeia e os chamados landlords (senhores de terra) entram em crise, sendo 
obrigados a reduzir suas rendas devido à pressão da concorrência dos produtos 
importados. As consequências da crise da agricultura europeia são diversas, mas 
destaca-se uma forte tendência à fragmentação do solo e exploração do campesinato 
europeu pelo capital. O campesinato entra em crise profunda, nem mesmo 
alternativas como o cooperativismo foi totalmente eficaz. Tais acontecimentos 
apontavam o novo rumo da agricultura, ou seja, a sua industrialização, que se deu 
principalmente na fase do capitalismo monopolista. 
 
 
 
16 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Capitalismo monopolista 
Com a crise no final do século XIX, especialmente na agricultura inglesa e 
europeia, ocorre o crescimento da produção e a queda da renda. As potências 
industriais europeias passam a produzir e exportar manufaturas e importar produtos 
agrícolas de outras nações que se tornaram fornecedoras do mercado europeu. Essa 
concorrência, como foi citado, provocou a queda dos preços na Europa e ao mesmo 
tempo provocou a intensificação da agricultura europeia, que passou a produzir mais 
para recuperar-se da queda dos preços, levando, contraditoriamente, à 
superprodução e baixa geral dos preços. Esse processo do plano imperialista do 
capitalismo criou uma separação internacionalizada entre os setores agrícolas e 
industriais, acompanhada da queda histórica dos preços das matérias-primas e 
subida contínua dos preços dos produtos manufaturados. 
Durante a fase do capitalismo monopolista, caracterizada pelo 
desenvolvimento da mecanização do campo, ocorreu a fusão de grandes empresas 
nos países desenvolvidos e a fundação de grandes bancos, ou seja, concentração e 
centralização de capitais. Nessa fase, a agricultura desenvolveu-se no aumento da 
produtividade do trabalho e no contexto de baixa geral de seus preços, criando, 
assim, as condições de acumulação, da efetivação dos monopólios industriais. A 
agricultura desenvolveu-se em duas vias: no consumo de produtos industrializados 
de preços altos, como máquinas e equipamentos, e na venda de sua produção de 
preços baixos. Dessa forma, foi inevitável o endividamento constante, sendo a figura 
do Estado, na maioria das vezes, o financiador da dívida. 
Vale salientar que o próprio capitalismo promoveu a industrialização da 
agricultura e a geração da agroindústria. No entanto, como a rentabilidade do capital 
no campo não é alta, o monopólio industrial implantou-se na circulação, 
subordinando consequentemente a produção. 
Em relação ao campesinato, ocorreram modificações significativas na fase 
monopolista do capital, em que o trabalho desenvolvido por eles foi altamente 
produtivo e ultra-especializado, este trabalhador encontrava-se permanentemente 
endividado no banco e pressionado pelos encargos fiscais do Estado. O trabalho 
tornou-se intenso e muitas vezes o camponês necessitava entregar parte do 
processo do trabalho para trabalhadores de empreitada ou até mesmo entregar a 
colheita para os monopólios industriais. 
 
 
17 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
No caso brasileiro, notamos claramente a presença do capital monopolista no 
campo. Essa onipresença do capital no campo tem aumentado ao longo do processo 
histórico, na produção agropecuária, e, principalmente, controlando o processo 
produtivo através de financiamentos, venda de insumos, controlando a 
comercialização etc. 
Podemos constatar em relação à renda do produtor rural que o pequeno 
agricultor, principalmente, nas áreas mais estruturadas, encontra-se preso 
duplamente, por um lado, pela compra de insumos agrícolas, por outro, pela venda 
de sua produção. As duas situações são controladas por oligopólios ou monopólios. 
Essas articulações entre os pequenos agricultores e os monopólios ou oligopólios 
acontecem entre grandes redes de supermercados e pequenos agricultores ou 
cooperativas, outras vezes por agroindústrias, do tomate, do fumo etc. Além desses 
casos, podemos citar as CEASAs (Central de Abastecimentos S/A), criadas para 
beneficiar o pequeno agricultor, acabaram beneficiando os grandes e médios 
intermediários e uma minoria de grandes cooperados. Essa articulação tem 
modificado a função da pequena agricultura, por um lado, os pequenos agricultores 
passam a produzir essencialmente para o mercado, deixando de ser agricultores de 
subsistência voltados para a produção de grãos básicos (feijão, arroz, mandioca etc.) 
e passando a produzirem “culturas de rico” (maçã, uva, soja, trigo etc.), ou seja, 
nesse momento o pequeno produtor passa a ser controlado pelo mercado. 
Mesmo com a diminuição da importância da pequena agricultura como 
ofertante de gêneros alimentícios, paralelamente, ela ganha importância como 
reserva de mão-de-obra para os grandes latifundiários que assalariam esses 
agricultores. 
Segundo Oliveira (1995), na fase da agricultura sob o capitalismo monopolista 
é realizado o monopólio da produção, ou seja, a circulação fi ca subordinada à 
produção e o camponês ao capital, com intuito de obter a renda da terra. O camponês 
transforma-se ao longo do processo histórico e, contraditoriamente, persiste no 
sistema capitalista, que cria e recria as condições para sua reprodução. Portanto, o 
conceito de renda da terra torna-se essencial para a elucidação dessa sujeição do 
camponês e dos setores capitalistas agrícolas em relação aos grandes monopólios 
capitalistas. 
 
 
 
18 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
Estrutura agrária e produção do espaço agrário brasileiro 
 
A relação centro-periferia e suas repercussões na estrutura agrária 
brasileira 
Vários estudos revelam que a questão da propriedade da terra no Brasil e da 
situação das pessoas que nela trabalham ou dela precisam para trabalhar é uma 
situação bastante grave, geradora de desigualdade social, uma vez que a 
concentração de terra tem expulsado milhares de pessoasdo campo para a cidade, 
provocando uma série de problemas socioambientais. Além disso, os grandes 
capitalistas latifundiários muitas vezes se apropriam de extensões de terra com vistas 
a usá-la como reserva de valor para especulação, sem nenhuma atividade produtiva 
propriamente dita. 
A estrutura agrária nos países periféricos tem relação direta com os países 
centrais ou desenvolvidos. Para entender a estruturação e ocupação do solo em 
relação ao uso da terra no Brasil e nos países periféricos, é preciso considerar o 
desenvolvimento desigual do capital entre os territórios. 
Para Milton Santos (1982), a combinação espacial entre centro e periferia no 
sistema mundial deve considerar três aspectos especiais: 
a) aquelas forças que promovem a modernização e operam no centro do 
sistema não alcançam a periferia ao mesmo tempo; existe um efeito decrescente 
definido da distância. Isso poderia explicar a acumulação histórica capitalista, as 
variações entre países e as desigualdades regionais dentro dos países; 
b) alguns pontos do espaço são alcançados por novas forças, enquanto 
outros não recebem tais impactos. Sem dúvida, esses impactos não se dão ao acaso, 
sendo dirigidos do centro do sistema em termos de máxima produtividade; 
c) as forças emitidas nos centros ou polos mudam à medida que alcançam 
a periferia, ou seja, para se entender a reprodução dos espaços geográficos agrários 
deve-se levar em consideração as diferenças socioespaciais. 
Segundo o estudioso Porto Gonçalves (2004), a reprodução ampliada do 
capital que opera na agricultura atual está pautada em dois pilares: 
• no uso de um modo de produção de conhecimento próprio do capital, 
que se traduz na supervalorização da ciência e nas técnicas ocidentais; 
 
 
19 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
• na expansão das áreas de terras cultivadas. 
O primeiro pilar prediz que a agricultura desenvolvida nos países periféricos 
em geral constitui-se num apêndice dos países centrais, que dominam as técnicas 
modernas, a implementação de insumos e o desenvolvimento de tecnologia. No que 
se refere à expansão das áreas cultivadas, destaca-se o seu crescimento devido a 
fatores estruturantes, como o desenvolvimento dos transportes para circulação de 
mercadorias e a melhoria nas condições de armazenamento, acondicionamento e 
nas comunicações. Nos últimos 40, ocorreu uma grande expansão das áreas 
cultivadas, permitindo a incorporação de novas áreas agrícolas ao mercado mundial, 
tendo como principais agentes financiadores o Banco Mundial, o Estado e as 
multinacionais e transnacionais, repercutindo na estrutura agrária e fundiária do 
espaço geográfico mundial. 
 
Relação centro-periferia 
Constitui-se historicamente como resultado da forma pela qual o progresso 
técnico propaga-se na economia mundial. O centro são economias que as técnicas 
capitalistas de produção penetram primeiro. A periferia são economias cuja produção 
permanece inicialmente atrasada do ponto de vista tecnológico e de sua organização. 
 
Capitanias hereditárias 
Grandes lotes de terras, que foram doadas para nobres e pessoas de 
confiança do rei. Estes que recebiam as terras, chamados de donatários, tinham a 
função de administrar, colonizar, proteger e desenvolver a região. 
 
Sistema sesmarial 
Sistema baseado na sesmaria, ou seja, latifúndio colonial geralmente baseado 
no trabalho escravo que deveria contribuir para ocupação econômica da América 
portuguesa. 
 
Origem da concentração de terras no Brasil 
A concentração de terras no Brasil teve início com a divisão do território em 
capitanias hereditárias, definidas por Portugal em plena fase do desenvolvimento 
do capitalismo concorrencial europeu, estabelecendo embrionariamente a relação 
 
 
20 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
centro-periferia do sistema capitalista em que a capitania passou a ser colônia (ou 
seja, espaço periférico) e a metrópole (no caso, Portugal) passou a ser centro. Cabe 
lembrar que nesse período Portugal era uma das grandes potências mundiais. 
 
No período colonial, os portugueses instituíram os grandes domínios através 
da Sesmaria, apontada como a célula básica da reprodução colonial. O Brasil inicia 
suas atividades econômicas logo após o surto do extrativismo, baseado nas grandes 
lavouras, ou seja, na grande propriedade. Logo, o açúcar torna-se a base econômica 
do sistema sesmarial. Como destaca Guimarães (1963), a colônia tem sua base 
política apoiada em duas instituições – a sesmaria e o engenho, que se transformam 
na unidade econômica da coroa portuguesa. 
A terra, nesse período, pertencia à coroa portuguesa e era doada seguindo os 
critérios estabelecidos pelo Rei, que obedecia na realidade a uma discriminação 
econômica (a condição social definia quem receberia a doação da terra). Os benefi 
ciados, seguindo essa lógica, deveriam possuir os meios adequados para se 
instalarem na terra concedida. A legislação sesmarial ordenava que as terras doadas 
deveriam seguir um tamanho padrão de três léguas de comprimento por uma légua 
de largura (SILVA, 1980), mas essa lei não foi respeitada devido, entre outros 
motivos, à vastidão do território brasileiro e à impossibilidade de controle por parte 
da coroa portuguesa. Através da sesmaria, na condição de posse da terra surgiram 
os grandes domínios, que com a introdução do açúcar se transformaram em grandes 
domínios na produção para exportação. O sistema sesmarial representou o início da 
Figura 1 – Localização das capitanias hereditárias 
 
 
21 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
concentração fundiária brasileira quando a sua base estava sustentada nos grandes 
domínios, conforme aponta Andrade (1996, p. 44): 
A doação de terras em sesmarias – embora estas não dessem o domínio, mas 
tão somente a posse ao seu titular – provocou um processo de ocupação e 
apropriação das mesmas, sob a égide da grande propriedade, e definiu um processo 
de dominação do latifúndio que ainda hoje subsiste no País. 
Esse cenário ficou caracterizado pela distribuição desigual da terra. De um 
lado, grandes glebas pertencentes aos Senhores, classe composta por nobres e 
burgueses; de outro lado, pequenos lotes de terra adquiridos por meio da posse ilegal 
pelos sujeitos sem recursos que se reproduziam à margem das necessidades de 
suprimentos da grande propriedade onde se utilizava mão-de-obra escrava em suas 
lavouras. Segundo Andrade (1996), os sujeitos se instalavam em áreas menos 
acessíveis através da posse e implantavam roças e currais, ao passo que esses 
posseiros, ao terem suas terras apropriadas pelos Senhores, tinham duas 
alternativas: tornarem-se foreiros do Senhor ou migrarem para outra área mais 
distante, efetivando uma agricultura predatória. 
A estrutura agrária brasileira foi definida pelos interesses dos colonizadores, 
segundo o qual a grande propriedade constituía fundamental importância para 
atender os interesses e fornecer produtos ao mercado europeu: 
O essencial da estrutura agrária brasileira legada pela colônia se encontrava 
assim como que predeterminada no próprio caráter e nos objetivos da colonização. 
A grande propriedade fundiária constituiria a regra e elemento central e básico do 
sistema econômico da colonização, que precisava desse elemento para realizar os 
fins a que se destinava. A saber, o fornecimento em larga escala de produtos 
primários aos mercados europeus (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 48). 
Com o fim do sistema sesmarial, nos anos de 1820, emerge a chamada fase 
áurea do posseiro; com a suspensão do regime Sesmarial, em 1822, por falta de uma 
legislação, ocorre a expansão das pequenas propriedades através da posse. Esse 
período chega ao fim com a jurisdição da Lei de Terras, em 1850, que consolida a 
grande propriedade atravésda legitimação das posses, formação de um mercado de 
trabalho com o fim do tráfico de escravos e criação do Imposto Territorial Rural (ITR). 
A Lei de Terras determina, a partir de sua data de regulamentação (1854), a compra 
como única forma de aquisição das terras devolutas (SILVA, 1997). Dessa forma, as 
 
 
22 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
terras adquiridas ilegalmente, e/ou através das posses, são regularizadas. “O projeto 
foi elaborado tanto para regularizar a situação daquelas propriedades que tinham 
sido ilegalmente adquiridas, como também, ao mesmo tempo, para estender o 
controle governamental sobre as terras em geral” (COSTA, 1985, p. 146). Essa 
legislação tornou mais difícil o acesso a terra daqueles sujeitos que não tinham 
condições de adquiri-la por meio da compra, ou seja, os sujeitos sem prestígio ou 
sem recursos que compõem a pequena propriedade. 
Na realidade, a Lei de Terras, além de legalizar as propriedades adquiridas 
por meio das sesmarias e das posses, representou um regime de propriedade 
estratégico dos grandes fazendeiros, que asseguraram o controle político sobre a 
transição do trabalho escravo para o trabalho livre, conforme pontua Martins (2004, 
p. 5): 
O regime de propriedade de 1850 tinha por objetivo criar mecanismos de 
interdição à livre posse da terra e, portanto, criar meios institucionais de gestação de 
uma superpopulação relativa à disposição das grandes fazendas. Desse modo, 
assegurar que o fim da escravidão não seria também o fim da grande lavoura de 
exportação. 
Nesse quadro, vale salientar que a Lei de Terras, considerada um marco 
jurídico de mudanças à escravidão, é substituída pela superexploração da força de 
trabalho, aumentando as desigualdades e solidificando o latifúndio. Com a 
constituição de 1891, a responsabilidade e legislação das terras públicas passam a 
pertencer aos estados, o que torna mais fácil a expansão dos latifúndios na 
manipulação do poder político através de uma rede de relações determinadas pelo 
coronelismo e a formação das oligarquias (MONTEIRO, 2001). 
Sob a ótica do monopólio, os grandes proprietários garantiram seus domínios 
baseados num regime de propriedade, que mais do que atender seus objetivos e 
privilégios gerava uma massa de trabalhadores rurais dependentes. 
Dessa forma, podemos dizer que as raízes da estrutura agrária dos países 
periféricos – em específico o espaço agrário brasileiro – foi e ainda continua sendo 
delineado no processo histórico na produção e reprodução do capital entre centro e 
periferia do sistema capitalista. 
 
 
23 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
Estrutura agrária e estrutura fundiária 
A relação entre os proprietários, os agricultores e a terra utilizada é 
conceituada, pelos estudiosos, como estrutura agrária e estrutura fundiária. A 
expressão estrutura agrária é usada em sentido amplo, signifi cando a forma de 
acesso à propriedade da terra e à exploração da mesma, indicando as relações entre 
os proprietários e os não proprietários, a forma como as culturas se distribuem pela 
superfície da Terra (morfologia agrária) e como a população se distribui e se 
relaciona com meios de transportes e comunicações (habitat rural). 
No sentido restrito, usado pela FAO e por vários órgãos ofi ciais e paraofi ciais, 
a expressão estrutura agrária corresponde apenas ao estudo das formas de acesso 
à propriedade da terra e à maneira como esta é explorada, tendo, assim, grande 
importância as relações existentes entre proprietários e trabalhadores agrícolas não 
proprietários. A estrutura fundiária é apenas a forma de acesso à propriedade da 
terra e a explicação da distribuição da propriedade, sendo seu estudo de grande 
importância, porque dela vai depender a melhor compreensão da estrutura agrária e 
dos fatores que presidem a formação da morfologia agrária e do habitat rural. 
Para entender a estrutura agrária brasileira, é importante entender os 
problemas metodológicos em relação à classificação das propriedades rurais, uma 
vez que o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o IBGE 
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) possuem distintas unidades de 
medidas. Para o IBGE, segundo os Censos Agropecuários, a unidade básica é o 
estabelecimento, definido como unidade administrativa onde se processa uma 
exploração agropecuária. Os censos classificam os estabelecimentos segundo a 
condição principal do produtor (proprietário, parceiro, arrendatário e ocupante). O 
INCRA realiza o cadastro de imóveis rurais como sendo a unidade básica de medida; 
o imóvel rural é definido como prédio rústico de área contínua, qualquer que seja 
sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, 
extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial. O cadastro leva em consideração os 
imóveis rurais segundo a situação jurídica dos declarantes (proprietários e/ou 
titulares de direito real e/ou titulares da posse), podendo um mesmo indivíduo 
pertencer a várias situações. 
 
 
24 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
O cadastro de imóveis rurais classifica-se em quatro categorias: minifúndio, 
empresa rural, latifúndio por exploração e latifúndio por dimensão. Para essa 
classificação, é essencial entender o conceito de módulo rural, que é derivado do 
conceito de propriedade familiar, e, sendo assim, é uma unidade de medida, 
expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a dimensão, a 
situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e as condições de seu 
aproveitamento econômico. 
Outra categoria importante é o módulo fiscal, definido como unidade de 
medida expressa em hectares, fixada para cada um dos municípios brasileiros a 
partir de critérios tais como o tipo de exploração predominante e a renda média obtida 
nesse tipo de exploração. No conjunto do território nacional, o tamanho dos módulos 
fiscais varia entre 5 e 110 hectares. 
 
A concentração da propriedade da terra 
O processo de concentração da terra difere da concentração de capital, ou 
seja, a terra é um meio de produção específico monopolizado por uma classe 
detentora dos meios de produção. Cabe salientar que a terra não é um meio de 
produção criado pelo trabalho humano; portanto, a terra não tem valor, e sim preço, 
o qual foi produzido pelo capitalismo. Os grandes capitalistas, ao se apropriarem de 
grandes extensões de terra, utilizam essa terra como reserva de valor para especular 
e apropriar-se de sua renda. 
[...] a concentração da terra não é igual à concentração do capital; ao contrário, 
revela a irracionalidade do método que retira capital do processo produtivo, 
imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra. Já a concentração do 
capital é aumento de poder de exploração, é aumento da capacidade produtiva do 
trabalhador; é aumento, portanto, da capacidade de extração do trabalho não-pago, 
da mais-valia (OLIVEIRA, 1995, p. 80). 
 
Os conflitos sociais no campo brasileiro 
 
 
 
 
25 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Histórico dos conflitos sociais no campo 
Os conflitos sociais no campo brasileiro constituem uma das marcas do 
desenvolvimento e do processo de ocupação do campo. Na realidade, para entender 
esse processo precisamos compreender o processo de ocupação e apropriação do 
território. 
Os povos indígenas foram os primeiros a conhecer a fúria dos colonizadores. 
A história registra o genocídio desses povos, que participaram de muitas histórias de 
massacres no campo, como pontua Oliveira (1988, p. 15): “O território capitalista 
brasileiro foi produto de conquista e destruição do território indígena. Espaço 
e tempo do universo cultural índio foram sendo moldados ao espaço e tempo 
do capital”.A luta dos povos indígenas não cessou nunca na história brasileira. 
A violência no campo não é recente. A história está repleta de casos e 
tentativas de romper com o sistema fundiário e as injustiças sociais no país. No 
período da escravidão, destaca-se a luta dos quilombolas. Dentre esses quilombos, 
Palmares, situado em Alagoas, foi o grande exemplo de luta, resistência e destruição. 
No entanto, o fi m da escravidão não foi sufi ciente para acabar tais lutas e injustiças 
sociais. Destaca-se a luta sangrenta de Canudos (1893-1897), no sertão da Bahia, 
que segundo Martins (1981), envolveu o exército e milhares de camponeses. 
O saldo foi de cinco mil mortos, com severas derrotas às forças militares. 
 
 
Além da Guerra de Canudos, temos a Guerra de Contestado, nas regiões do 
Paraná e Santa Catarina, nos anos de 1912 a 1916. Este confl ito também envolveu 
o exército e deixou um saldo de cerca de três mil mortos (MARTINS, 1981). Outra 
luta de caráter importante consistiu na luta dos colonos nas fazendas de café, onde 
as greves eram reprimidas pelos capangas armados. Os fazendeiros de café reagiam 
Figura 1 – Arraial de Canudos 
 
 
26 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
com repressão armada. As greves ocorriam devido ao não pagamento do salário, 
tentativa de redução de pagamento, castigos, multas etc. 
Como podemos notar, são vários os exemplos de luta dos trabalhadores do 
campo por melhores condições de vida e trabalho, ou melhor, nas palavras de 
Oliveira (1988, p 22), 
o século XX tem sido rico em exemplos de luta pela terra, e dois processos 
têm atuado no sentido de soldar o movimento dos camponeses no Brasil. De um 
lado, a tentativa do resgate da condição de camponês autônomo frente à 
expropriação, representada pelos posseiros e sua luta contra os fazendeiros grileiros. 
De outro, o movimento originado na luta dos camponeses parceiros ou moradores 
contra a expropriação completa no seio do latifúndio, que os transformava em 
trabalhadores assalariados. 
Os processos descritos acima de luta no campo delinearam os conflitos sociais 
durante o século XX. Exemplos desses processos foram a revolta de Trombas e 
Formoso, em Goiás, a Guerrilha de Porecatu, no Paraná, e a formação das Ligas 
Camponesas no Nordeste brasileiro (OLIVEIRA, 1988). Cabe destacar que é com as 
Ligas Camponesas, nas décadas de 1950 e 1960, que a luta camponesa ganha 
dimensão nacional. Segundo Fernandes (1996), as Ligas Camponesas surgiram na 
década de 1940, sendo dependentes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), que foi 
considerado ilegal pelo governo em 1947. Dessa forma, as Ligas Camponesas são 
violentamente reprimidas por pistoleiros e capatazes ou pelos próprios fazendeiros, 
que se sentiam ameaçados com as invasões. Esse movimento ressurge na década 
de 1950 no estado de Pernambuco e se expande por vários estados nordestinos. 
Durante os anos de 1950/60 ocorreram diversos conflitos no Brasil, conforme 
podemos perceber na Figura 2: 
 
 
27 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
Figura 2 – Principais áreas de conflito no Brasil nos anos de 1950/60 
 
Agora, vamos realizar uma atividade para você retomar um pouco o conteúdo. 
Caso tenha alguma dúvida, volte a sua leitura ou avance mais um pouco para 
responder o que se pede. 
Na década de 1960 surge, no sul do país, o Movimento dos Agricultores Sem-
Terra (MASTER), que inicia as invasões nas grandes fazendas e permanece nelas 
através de acampamentos, efetivando, assim, a territorialização da luta pela terra 
naquele espaço. Entretanto, em 1964 o golpe militar mina todos os movimentos 
sociais formados, inclusive as Ligas Camponesas – seus líderes foram presos, 
perseguidos ou “desapareceram”. Nesse período deu-se início a um grande número 
de assassinatos no campo brasileiro. Ao tomarem o poder, os militares afastam os 
principais interessados pela reforma na estrutura agrária brasileira e os movimentos 
sociais foram exterminados, sendo permitida apenas a existência de pequenas 
organizações de produtores rurais que praticamente não possuíam 
Goiás – Formoso e 
Trombas – posseiros – 
luta por terra; Pires do 
Rio – arrendatários 
Paraná – Porecatu – luta 
por terra; Sudoeste 
Francisco Beltrão, Pato ( 
Branco) – posseiros – 
luta por terra 
Rio Grande do Sul – 
acampamentos do 
Master – luta por 
terra; Encruzilhada 
do Sul, Sarandi, 
Camaquã etc. 
São Paulo – regiões 
diversas; melhores 
salários e leis 
trabalhistas; Santa Fé 
do Sul – resistência de 
arrendatários à 
expulsão 
Rio de Janeiro – Baixada 
da Guanabara – posseiros 
– luta por terra 
Minas Gerais – Triânculo Mineiro – 
arrendatários (luta por não elevação 
das taxas de arrendamento); Vale do 
Rio Doce – luta por terra 
Bahia – zona do cacau – 
melhores salários e leis 
trabalhistas 
Pernambuco – limite 
agreste/mata – foreiros; 
mata – luta por melhores 
salários e leis trabalhistas 
Paraíba – região de Sapé 
– foreiros 
Maranhão – vales do Itapecuru, Pindaré e 
Mearim – posseiros, luta por terra 
 
 
28 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
representatividade. Os latifundiários ficaram, portanto, beneficiados nessa situação 
de repressão. 
A repressão militar em si mesma abrira as portas para a ação violenta dos 
grandes proprietários de terra, através de seus capatazes e pistoleiros, em centenas 
de pontos no país inteiro, na certeza de que eram impunes e, além disso, aliados da 
repressão na manutenção da ordem [...] Nunca na história do Brasil o latifúndio foi 
tão poderoso no uso da violência privada e nunca as forças armadas foram tão 
frágeis em relação a ele quanto durante o regime militar (MARTINS, 1999, p. 83). 
Durante o período militar, em meados dos anos 70, a Igreja cria a as 
Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) que, 
mesmo com a repressão, continuariam o trabalho na articulação de novos 
movimentos, tão logo terminasse a ditadura militar. Em meio a toda essa repressão 
nasce, em 1979, o movimento mais organizado do país, o Movimento dos 
Trabalhadores Sem-Terra (MST), sendo institucionalizado em 1985 (FERNANDES, 
1996). 
 
Figura 4 – Organização dos Trabalhadores Sem-Terra 
Foto: Sebastião Salgado. Disponível em: <http://www.vermelho.org.br>. 
Acesso em: 26 maio 2009. 
Figura 5 – Bandeira do MST 
Fonte: <http://www.seresteros.com>. Acesso em: 26 maio 2009. 
 
 
29 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Vale salientar que os anos 1980 são marcados por fortes conflitos em que a 
violência e o número de assassinatos no campo cresceram bastante. Segundo 
Oliveira (1988), praticamente em todos os estados brasileiros havia conflitos pela 
terra, sendo registrados 1.363 conflitos entre os anos de 1980 e 1981. O número de 
famílias envolvidas chegou a 365 mil, o que em números absolutos representa 
aproximadamente 1.194 mil pessoas envolvidas diretamente em conflitos. 
Nos anos de 1985 e 1986 ampliaram-se os conflitos armados e, em apenas 
dois anos, foram mortos 524 trabalhadores. Tal aumento do número de mortos teve 
conexão direta com o processo de desenvolvimento da implementação e início do 
PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária) e surgimento da UDR (União 
Democrática Ruralista), que passaram a fazer a defesa dos latifundiários. Nesse 
período concentram-se conflitos na região Norte (em especial na região do Bico do 
Papagaio, na Amazônia, na região sudeste do Pará) e no Nordeste (principalmente 
no Maranhão). O uso da violência se generalizou principalmente nas áreas de 
fronteira (OLIVEIRA, 1988). 
No seio desse processo o Estado buscou desarticular os movimentos, em 
alguns momentos de forma repressiva e em outros ignorando a questão. De uma 
forma ou de outra, o Estado buscou conter os avançosdos movimentos sociais. 
Entretanto, a sociedade civil tem apoiado e tem conseguido forças para mudar esse 
cenário. 
De forma geral, nos anos de 1980 surgem novos personagens gerados pela 
expulsão de seringueiros de suas áreas (que se tornaram pastagens), na construção 
de usinas hidrelétricas, pela expulsão de milhares de trabalhadores agrícolas devido 
à modernização do campo etc. Dessa forma, intensificou-se a luta pela terra e pela 
reforma agrária (este tema será analisado na próxima aula). 
Nos anos 1990 até a atualidade um dos movimentos que mais se destacou 
entre vários outros pela articulação nacional foi o MST, com a participação de 
milhares de trabalhadores rurais e com a ocupação de terras ociosas ou públicas, o 
que tem forçado o Estado a realizar políticas redistributivas e de (re)socialização dos 
sujeitos envolvidos. Abordaremos mais detalhadamente o assunto na próxima aula. 
 
 
 
 
 
30 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Reforma agrária brasileira 
 
Fordista-keynesiano periférico 
Nos anos de 1930 a 1970 prevaleceu, nos países capitalistas, esse modelo 
que combinava consumo e produção em massa e caracterizava-se pela regulação 
de mercado de trabalho e pelo Estado interventor. 
Ethos 
Caráter cultural e social de um grupo ou sociedade. 
 
O contexto da reforma agrária brasileira 
O debate da reforma agrária no Brasil não é novo. Entretanto, na atualidade 
ele ganha uma nova roupagem, muito distinta da que teve nos períodos anteriores 
(por exemplo, nos anos de 1950). Esse debate estava ligado, em geral, ao caminho 
da industrialização brasileira. Temia-se que a agricultura viesse a constituir um 
obstáculo ao processo de industrialização, porque não aumentaria a produtividade 
dos trabalhadores nela ocupados. Isso significava, por um lado, que o setor agrícola 
não responderia em absoluto às necessidades alimentícias e às matérias-primas de 
que a indústria necessitaria, assim como os níveis de renda da população agrícola 
também não aumentariam, impossibilitando a criação de um mercado interno. 
A reforma agrária tinha como objetivo principal solucionar as crises agrárias e 
agrícolas pelas quais o país passava. Em suma, a reforma agrária objetivava alterar 
a estrutura de posse no uso da terra no Brasil, com intuito de promover o 
desenvolvimento mais rápido das forças produtivas no campo. O lema principal da 
reforma era: “é preciso acelerar a penetração das relações capitalistas de produção 
na agricultura brasileira”. Com isso, entregar os latifúndios para os camponeses 
suprimiria as relações pré-capitalistas e aumentaria a produção, derivando o fi m da 
ociosidade nos latifúndios. 
No entanto, estudos realizados sobre a reforma agrária no Brasil nesse 
período mostraram que não houve redistribuição de terra. Pelo contrário, aumentou 
a concentração da propriedade; concomitantemente, aumentou a miserabilidade no 
campo. Entretanto, a estrutura agrária brasileira não constituiu um empecilho à 
industrialização no país. Nesse sentido, podemos dizer que o desenvolvimento das 
relações de produção capitalista no campo brasileiro teve grandes avanços na 
 
 
31 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
solução da questão agrícola em detrimento da questão agrária, que, ao contrário, foi 
agravada. 
Nesse contexto, foi criado em 1963 a Confederação Nacional dos 
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), órgão máximo do sindicalismo brasileiro 
que, nos anos da ditadura militar, sofreu grandes repressões e foi acusada pelos 
críticos de colocar “panos quentes” e apagar incêndios nas questões agrárias por 
não exercer uma luta mais objetiva e reivindicatória dos problemas do campo. Porém, 
para alguns a CONTAG acumulou importantes vitórias, mesmo no período militar, 
sabendo recuar e avançar dependendo da conjuntura política. 
Segundo Linhares e Teixeira da Silva (1999), o período dos anos de 1950, 
baseado no modelo fordista-keynesiano periférico, a chamada substituição de 
importação, de relativo bem-estar social, mas restrito a trabalhadores industriais 
urbanos, são características principais do desenvolvimento regional desse momento. 
Em paralelo, a questão agrária é identificada com a questão nacional na luta contra 
o atraso e pela soberania nacional; o binômio minifúndio-latifúndio, com vínculo de 
dependência e prestígio distanciado do novo ethos da produtividade industrial. 
Identifica raízes históricas na questão agrária brasileira. 
No período militar se dá a extensão do modelo fordista-keynesiano ao mundo 
rural, com a criação de mecanismos mitigadores de bem-estar social para os 
trabalhadores rurais, como o FUNRURAL - Fundo de Apoio ao Trabalhador Rural e 
o direcionamento para a industrialização no campo; com o surgimento dos CAIs 
(Complexos Agroindustriais), a política implementada para a pequena produção 
agrícola é restringida ao máximo, lançando os camponeses para as chamadas 
fronteiras agrícolas. Simultaneamente, incentiva grandes projetos pecuaristas e de 
madeireiros nessas áreas. 
Cabe ressaltar que, durante o regime militar, os movimentos, manifestações, 
atos ou tentativas de organização dos trabalhadores rurais eram imediatamente 
identificados como subversivos, tornando-se caso de polícia. Foram tempos de fortes 
embates, como pode ser observado nos versos de Thiago de Mello (1974): 
O tempo é de cuidado, companheiro. 
É tempo sobretudo de vigília. 
 
 
32 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
O inimigo está solto e se disfarça, mas como usa botinas, fica fácil distinguir-
lhe o tacão grosso e lustroso que pisa as forças clara da verdade e esmaga os verdes 
que dão vida ao chão (Canto de companheiro em tempos de cuidados). 
A ausência de reforma agrária intensifica o desemprego no campo, inclusive 
nas áreas tradicionais de pequena produção consolidada, como nas regiões Sul e 
Sudeste do país, inviabilizando o exercício da cidadania plena e fortalecendo a 
miséria no campo; mas, ao mesmo tempo, ocorre a politização sobre a questão 
agrária. A nova paisagem rural brasileira, tendo como atores principais os CAIs, 
integram-se ao sistema econômico mundial capitalista através dos insumos, das 
patentes e do consumo, derivando a ampliação e concentração de capital e 
aumentando a exclusão no campo. 
Com o fim da ditadura militar, democratização do país e a promulgação da 
Constituição de 1988, marcava-se um novo capítulo na política brasileira e no 
contexto internacional com a adoção do neoliberalismo. Nesse período, foi 
estabelecido o PNRA, Plano Nacional de Reforma Agrária, e criado o MIRAD, 
Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, constituído de políticos e 
especialistas e com o objetivo de assentar um milhão e quinhentas mil famílias de 
trabalhadores rurais. Isso estava assegurado na Constituição de 1988, que define 
claramente o uso da terra como função social. Ao mesmo tempo, consolidava-se um 
dos mais poderosos lobbies de proprietários de terra do país, a UDR – União 
Democrática Ruralista, constituída de políticos da direita brasileira, que era ligada a 
grandes grupos industriais, principalmente dos CAIs. A UDR, através de seus lobbies 
no Congresso e no Senado Federal, exercia influência em votações fundamentais 
direcionadas à reforma agrária. 
Lobby 
Grupo de pressão na esfera política, grupo de pessoas ou organizações que 
tentam influenciar, aberta ou secretamente, as decisões do poder público em favor 
de seus interesses. 
Como você deve ter percebido, a reforma agrária envolve vários setores e 
classes sociais, o que se constitui num entrave, pois o que para alguns seria a 
solução, para outros é um problema. Além disso, a reforma agrária não se remete 
apenas à redistribuição de terra, como pontua Martins (2003, p. 42): 
 
 
33www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
[...] a reforma agrária não é apenas redistribuição de terra, mas redistribuição 
de oportunidades de reinserção ou de inserção no sistema econômico, forma de 
atenuar ou neutralizar as forças que tendem a dele expulsar ou descartar os 
inaproveitáveis de uma economia crescentemente seletiva e crescentemente 
dominada e regulada pela lógica do mercado e do lucro. 
 
 
A reforma agrária e os contrastes regionais 
A reforma agrária brasileira é uma questão complexa, que desde a 
colonização tem sido relegada a segundo plano. Além disso, devemos considerar os 
diferentes aspectos regionais brasileiros. Graziano da Silva (1980) expõem alguns 
aspectos que diferenciam e explicam, de certa forma, os motivos das reivindicações 
dos trabalhadores rurais de acordo com as especificidades regionais. Para isso, o 
autor utiliza a regionalização proposta pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, que 
divide o Brasil em três grades regiões: Amazônia, Nordeste e CentroSul (Figura 1). 
Na disciplina Geografia Regional do Brasil, você pode aprofundar ainda mais a 
proposta de regionalização de Geiger. Vamos, agora, destacar alguns aspectos da 
análise de Graziano da Silva. 
Na região Centro-Sul do país, o ponto central das lutas e reivindicações parece 
ser o cumprimento da legislação trabalhista (salário mínimo, domingo remunerado, 
férias, indenização etc.). Estas reivindicações estão contextualizadas no processo de 
informalidade que passa essa classe, pois a maioria dos trabalhadores rurais não 
tem carteira assinada. Assim, embora exista o Estatuto do Trabalhador Rural e uma 
legislação complementar, elas soam insuficientes. Em outras palavras, além de 
pouco, o que existe em benefício do trabalhador rural não é cumprido. O não 
 
 
34 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
cumprimento da legislação, segundo os próprios líderes, deve-se à fraqueza dos 
sindicatos brasileiros. 
Em relação à região Nordeste, com exceção das zonas do Brasil Central e da 
zona litorânea pertencente a esta região, destaca-se a luta dos pequenos rendeiros 
contra os proprietários de terra. Assim como os trabalhadores em geral, sua 
reivindicação específica é o cumprimento da legislação existente, embora os 
rendeiros também reivindiquem a aplicação da legislação agrária consubstanciada 
no Estatuto da Terra e textos complementares. Entretanto, as normas do Estatuto da 
Terra constituem um sonho, pois a grande maioria dos contratos de parceria e 
arrendamento no Brasil desrespeita a lei, tanto no que se refere às condições 
especiais não permitidas, quanto à porcentagem máxima cobrada do parceiro, além 
dos preços dos arrendamentos das terras. Desse modo, os trabalhadores rurais 
nordestinos são obrigados a vender sua produção aos proprietários, a se abastecer 
nos armazéns destes, a prestar serviços gratuitos aos proprietários etc. 
 
Grilagem 
Falsificação de documentos que se dá quando uma pessoa (grileiro) consegue 
várias procurações falsas de pessoas desconhecidas, geralmente camponeses que 
assinam os papéis para seus “patrões”. Com estes documentos falsos, é realizada a 
compra de várias propriedades vizinhas, como se fosse um grande loteamento. 
 
Figura 1 – Mapa com as grandes regiões ou complexos regionais brasileiros. 
Fonte: Becker (1972). 
OCEANO 
PACÍFICO 
OCEANO 
ATLÂNTICO 
ESCALA 
Amazônia 
Nordeste 
Centro-Sul 0 500 
 
 
 
 
 
 
35 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Nas zonas de expansão de fronteira agrícola na região Norte e Centro-Oeste, 
a luta dos posseiros se dá contra a grilagem de suas terras, que é uma das maneiras 
pelas quais as grandes propriedades ampliam seus domínios. O que os posseiros da 
Amazônia reivindicam não são apenas terras, mas que as terras deixem de ter valor. 
Em outras palavras, a resistência dos posseiros contra os grileiros é uma luta contra 
a utilização da terra para fins não-produtivos, seja como reserva de valor, seja como 
meio de acesso a outras formas de riqueza (minério, madeira de lei etc.). Hoje, a luta 
dos posseiros é um dos mais profundos questionamentos à propriedade capitalista 
de terra no Brasil. 
A regionalização das reivindicações específicas dos trabalhadores rurais 
brasileiros não significa, em totalidade, a existência de uma unidade de um plano 
mais geral. O centro da questão é que todos os grupos de trabalhadores rurais 
pertencentes às regiões dependem, em maior ou menor grau, da venda de sua força 
de trabalho para sobreviver, seja por não disporem dos meios de produção 
insuficientes ou por não possuírem nada para vender além de sua força de trabalho. 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST 
Uma das grandes novidades no cenário político e social brasileiro foi o 
fortalecimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST, na 
década de 1990. Ele surgiu como um forte movimento social autônomo, desvinculado 
de partidos políticos e de governos, num momento de refluxos das organizações 
sindicais e de partidos de esquerda como PT, PDT, PC do B e PCS, em plena crise 
de desemprego que assolava o país nesse período. Na sua essência, nega a cartilha 
neoliberal, o latifúndio brasileiro e os conservadores da política brasileira. Além disso, 
faz duras críticas à atuação das duas maiores forças sindicais brasileiras – a CUT e 
a força sindical – por não atuarem de forma concisa nas questões econômicas e, 
principalmente, na questão agrária do Brasil. 
O MST tem mostrado grande organização e mobilidade invejável a qualquer 
organização social, pois consegue mobilizar, em um só protesto, trabalhadores de 
várias partes do Brasil, sempre acatando as orientações centrais do movimento. Isso 
causa na direita reacionária brasileira um imenso temor; ela passa a exigir do 
governo dura repressão pela força policial e pela lei, criminalizando-o. Além disso, 
usam a mídia para denegrir a imagem deste movimento perante a opinião pública 
brasileira, comparando o MST à guerrilha zapatista, no México, e às Ligas 
 
 
36 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
camponesas; a direita reacionária defende a existência uma verdadeira guerrilha civil 
no campo e solicita a atuação repressiva do exército contra esse movimento. 
Para João Pedro Stédile (1997), o MST é um movimento de massa de caráter 
sindical; mas também é um movimento popular, porque as reivindicações não se 
esgotam na terra, sendo um movimento que briga contra o Estado e o latifúndio. Para 
estes homens, a reforma agrária não é apenas uma forma ou via de 
desenvolvimento: a reforma agrária é considerada uma necessidade primordial dos 
trabalhadores. Tem intuito de reduzir a concentração da terra, mudando a forma de 
sua utilização e tendo como algumas das finalidades a diminuição do êxodo rural e 
a construção de uma cidadania plena através da democratização das condições de 
trabalho e do acesso à terra. Para a maioria dos pensadores de esquerda, a estrutura 
fundiária é herança do passado colonial do país, que mantém características injustas 
e atrasadas. Não é possível, de forma alguma, pensar em desenvolvimento justo com 
a presença do latifúndio. Contrapondo-se a essa ideia, temos o pensamento da 
direita brasileira, que considera a estrutura fundiária justa e democrática. Como 
exemplo, podemos citar a UDR, que diz que os conflitos do campo são uma síntese 
de agitadores de esquerda e de ideólogos urbanos; esses conflitos, inclusive, 
lançariam sobre o campo os restos de desempregados das cidades fantasiados de 
sem-terra. 
Guerrilha zapatista 
Movimento que se inspirou na luta de Emiliano Zapata (líder dos embates pela 
reforma agrária mexicana) contra o regime autocrata de Porfirio Diaz, que encadeou 
a Revolução Mexicana em 1910. 
A principal reivindicação dos trabalhadores rurais é umareforma agrária que 
não pulverize antieconomicamente a terra, e sim uma redistribuição de renda, de 
poder e de direitos em que surjam novas formas alternativas como as cooperativas 
e multifamiliares. Em resumo, não anseiam a mera distribuição de pequenos lotes, o 
que apenas os habilitaria a continuarem sendo mão de obra barata para os grandes 
proprietários, como também almejam uma mudança na estrutura política e social no 
campo. 
A reforma agrária também tem um objetivo de romper com o monopólio da 
terra, permitindo, assim, que se apropriem do seu próprio trabalho. Para isso, torna-
se necessário eliminar o latifúndio e sua função parasitária da terra, desde o caso 
 
 
37 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
daqueles que deixam a terra à espera de valorização imobiliária até os que a utilizam 
para repassar um recurso financeiro para os pequenos produtores rurais. 
Apesar de uma regionalização desigual nos país, não é possível ignorar o 
desenvolvimento econômico pelo qual o campo brasileiro passou, principalmente nas 
últimas décadas. Como consequência dessas transformações e do desenvolvimento, 
os trabalhadores rurais não se limitam a reivindicar somente a reforma agrária 
parcial. Eles reivindicam uma reforma que leve em consideração questões como 
preços mínimos, comercialização, crédito e assistência técnica voltadas para os 
pequenos produtores, uma vez que as políticas agrícolas estão voltadas para os 
grandes latifundiários e engendradas numa tríplice aliança entre indústria, banco e 
grandes proprietários de terra. Tal fato se justifica porque o crédito é utilizado para 
comprar mercadorias como tratores, colheitadeira, defensivos químicos etc. Além 
disso, os bancos preferem grandes financiamentos, ou seja, os grandes fazendeiros 
– os bancos e a indústria formam uma aliança crucial para a reprodução do capital 
no campo. 
Cenário recente da questão agrária brasileira: marco jurídico e política 
de assentamento 
A partir de 1985, com a redemocratização ou período da Nova República 
(1985-1989), as desapropriações se tornam um dos objetivos prioritários para o plano 
do governo. Nesse período é lançado o PNRA, como foi dito anteriormente, que 
estabelece zonas prioritárias com fi ns de reforma agrária. No entanto, as 
desapropriações foram ocorrendo de maneira não sistemática e não planejada, uma 
vez que se adotou a desapropriação emergencial. Esse sistema de desapropriação 
emergencial retirou a flexibilidade do poder público em desapropriar outros imóveis 
dentro de uma área prioritária, uma vez que nas desapropriações emergenciais a 
área prioritária coincidia com a área de possível desapropriação por interesse social 
(LEITE et. al, 2004, p.39). 
 
Você sabia? 
Nova República é o nome do período da História do Brasil que se seguiu ao 
fim da ditadura militar. É caracterizado pela ampla democratização política do Brasil 
e sua estabilização econômica. Usualmente, considera-se o seu início em 1985, 
quando, concorrendo com o candidato situacionista Paulo Maluf, o oposicionista 
 
 
38 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Tancredo Neves ganha uma eleição indireta no Colégio Eleitoral, sucedendo o último 
presidente militar, João Figueiredo. Tancredo não chega a tomar posse, vindo a 
falecer vítima de infecção hospitalar contraída na ocasião de uma cirurgia. Seu vice-
presidente José Sarney assume a presidência em seu lugar. Sob seu governo é 
promulgada a Constituição de 1988, que institui um Estado democrático e uma 
república presidencialista, confirmada em plebiscito em 21 de abril de 1993. 
No PNRA, a reforma agrária aparecia como prioridade do governo. O plano 
objetivava assentar 7 milhões de trabalhadores rurais sem-terra ou com pouca terra 
no prazo de 15 anos. Para isso, contava com a participação da CONTAG, que 
apoiava a Nova República. No entanto, alguns segmentos apresentavam resistência 
à operacionalização do plano, uma vez que havia interesses em sua concretização. 
A resistência à proposta se deu em diferentes segmentos, em que o MST fez 
oposição e continuou a organizar as ocupações de terra. Outros segmentos de 
oposição foram os representantes da classe fundiária, que organizaram um encontro 
para discutir as diretrizes do PNRA e fundaram um grupo para defender os interesses 
da classe – a União Democrática Ruralista, UDR (MEDEIROS, 2003). 
O PNRA teve sua proposta derrotada pelos proprietários representados pela 
UDR, que logo polarizaram o combate ao plano, defendendo o direito de propriedade 
– se necessário, inclusive, com uso da força. Com isso, os resultados do PNRA foram 
poucos, uma vez que na Nova República foram assentadas apenas 83.687 famílias. 
Para garantia de condições de investimento na terra, foi criado, nesse 
momento, o Programa de crédito Especial para Reforma Agrária – PROCERA 
(MEDEIROS, 2003). O PROCERA foi criado em 1985, no governo José Sarney, pelo 
Conselho Monetário Nacional, com o objetivo de aumentar a produção e 
produtividade agrícola dos assentamentos de reforma agrária. O programa visava a 
plena inserção do assentado no mercado, objetivando permitir a sua emancipação, 
ou seja, a independência da tutela do governo. O PROCERA foi o responsável pelos 
financiamentos e instalação de infraestrutura nas áreas de assentamentos. 
No período de transição do final dos anos 1980 e início dos anos de 1990, o 
poder judiciário fora o ator principal no comando da questão agrária brasileira, uma 
vez que havia uma imprecisão em definir o latifúndio improdutivo. Em 1993, é 
aprovada a Lei 8.629, que definiu que a propriedade que não cumprisse sua função 
social era passível de desapropriação, adotando critérios de tamanho para essa 
 
 
39 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
desapropriação, em módulos fiscais (sendo passíveis de desapropriação as 
propriedades acima de 15 módulos fiscais), banindo da lei o termo latifúndio. 
No governo de Fernando Henrique Cardoso, inicialmente a questão agrária 
perde lugar na discussão, uma vez que o Plano Real era o centro do debate político 
e econômico. Mas logo a questão agrária retoma lugar de destaque, devido à ação 
violenta e o crescimento do número de eventos em que a polícia legitimada pelo 
Estado combatia os movimentos. Dentre esses movimentos, destacou-se a luta 
travada entre a polícia e os militantes do MST em Corumbiara (Rondônia), em 1995, 
e Eldorado dos Carajás (Pará), em 1996. Esse último resultou no massacre de 17 
trabalhadores. Tal evento foi filmado e teve repercussões em todo o mundo, gerando 
protestos em vários organismos nacionais e internacionais. A questão agrária retoma 
a discussão – inclusive para o âmbito da sociedade – e o MST intensifica as 
mobilizações; outras entidades como os sindicatos, a Igreja e órgãos não-
governamentais também pressionam a desapropriação de terras. 
 
Figura 2 – Primeira página do Jornal do Brasil de sexta-feira, 
19 de abril de 1996, retratando o Massacre de Eldorado dos Carajás. 
 
O MST organiza marchas nacionais por reforma agrária, emprego e justiça, 
reunindo milhares de trabalhadores. Essas medidas têm repercussões na mídia e 
nas primeiras páginas de jornal. 
Como consequência direta da efervescência da questão agrária aludida pelo 
MST, dos sindicatos de trabalhadores rurais e outros mediadores, o governo cria, em 
1997, o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) para retomar a iniciativa 
política e reduzir as ações do MST, principalmente nas ocupações de terras. Assim, 
o governo estabelece uma série de medidas provisórias, decretos e leis 
complementares que modificam o modo pelo qual o poder executivo agia em relação 
 
 
40 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
aos conflitos. Essas medidas foram tomadas para agilizar asdesapropriações de 
terra e para acalmar os ânimos dos trabalhadores “sem-terra”, em especial dos 
movimentos liderados pelo MST. 
Além disso, foram criadas algumas regulamentações para acelerar a 
realização dos assentamentos rurais, dentre as quais: 
• agilização do rito sumário; 
• vistoria das terras, acompanhada de representantes sindicais; 
• redução de juros compensatórios de 12% para 6% ao ano para 
desapropriações; 
• descentralização do Poder Federal, que passa a atribuir, também, à 
União e ao Estado a realização de funções antes exercidas apenas por ele, para 
realização das desapropriações e formação de assentamentos rurais. 
Sob a ótica da descentralização iniciada no segundo mandato do governo 
FHC, as medidas governamentais se consolidam com o programa “Agricultura 
familiar, reforma agrária e desenvolvimento local para um novo mundo rural”, 
realizado em 1999, ficando conhecido como “Novo mundo rural”. Esse programa 
firmou parcerias com estados e municípios, principalmente na negociação de terras 
e infraestrutura. 
Uma dos aspectos derivado desses arranjos é avaliada por Medeiros (2003, 
p. 57), em que o assentado passa a ser visto como “empreendedor”, devendo ajustar-
se ao mercado competitivo. Daí derivam inúmeras críticas sobre esse modelo de 
reforma agrária, que alguns denominam de reforma agrária de mercado ou reforma 
negociada, que se caracteriza pelo caráter produtivista. 
Ao longo dos últimos 20 anos, em linhas gerais, assim tem-se dado a 
instalação de assentamentos rurais via políticas públicas, sejam esses 
assentamentos do INCRA ou do Estado, através do Programa Cédula da Terra e do 
Banco da Terra. A intensificação da luta pela terra pelos trabalhadores rurais que 
assumem a identidade de sem-terra faz com haja a expansão dos assentamentos 
rurais em todo o país. A maior parte dos assentamentos rurais foram criados pelo 
governo Federal, mas há também assentamentos conduzidos pelos governos 
estaduais e municipais, em menor escala. Vale salientar que em algumas áreas do 
Brasil há, também, assentamentos extrativistas (em especial na região Norte), 
preservando as formas tradicionais de utilização dos recursos naturais. 
 
 
41 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Os assentamentos rurais representam uma mudança na organização do 
espaço do campo. Esses novos territórios, apesar da dispersão e da não 
contiguidade, significam o repovoamento do espaço rural. 
Para finalizar, é importante ressaltar que as lutas por terra resultaram na 
criação de uma quantidade relativamente maior de assentamentos rurais em relação 
aos períodos anteriores, e que os números da Tabela 1 foram objeto de intensa 
disputa entre governo e movimentos sociais. 
Tabela 1 - Assentamento de famílias por período de governo 
PERÍODO FAMÍLIAS 
ASSENTADAS 
1964/1984 (regime militar) 77.465 
1985/1989 (governo José Sarney) 83.687 
1990/1992 (governo Collor de Mello) 42.516 
1993/1994 (governo Itamar Franco) 14.365 
1995/2002 (governo Fernando 
Henrique) 
579.733* 
2003/2005 (governo Lula) 245.061 
*Exclui famílias que tiveram acesso à terra por meio do Banco da Terra e 
Crédito Fundiário, num total de 55.302. 
 
 
Agricultura e sustentabilidade 
 
Analisando o processo de evolução tecnológica da agricultura, podemos 
observar que várias práticas e tecnologias foram desenvolvidas no sentido de 
melhorar o padrão de produtividade e diminuir as restrições ambientais a atividade 
agrícola. A expansão do uso de fertilizantes, adubos, herbicidas, pesticidas e 
fungicidas há décadas é motivo de críticas de ambientalistas, de órgãos ligados à 
saúde e de sindicatos de trabalhadores, principalmente, rurais. Nesse sentido, tem-
se buscado novas alternativas de produção uma vez que o meio ambiente tem 
apresentado sinais de esgotamento. A continuidade do modelo vigente de consumo 
exacerbado apresenta limitações ecológicas na medida em que se intensifica o uso 
de práticas agrícolas prejudiciais aos ecossistemas. 
 
 
42 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Um dos marcos políticos mais relevantes que intensificou as práticas agrícolas 
predadoras foi a Revolução Verde concebida pelos Estados Unidos, no período pós-
Segunda Guerra Mundial, em que os países receberam um “pacote tecnológico” que 
visava combater a fome, a miséria nos países subdesenvolvidos, entretanto o que se 
assistiu foi a acentuação dos problemas socioambientais nos países beneficiados 
com essa política. O pacote tecnológico era constituído de novas técnicas de cultivo, 
equipamentos, fertilizantes, agrotóxicos, etc. Tal política aumentou à distância entre 
os grandes agricultores e os pequenos agricultores que não tiveram condições de 
competir com o novo modelo de produtividade. 
Nos anos de 1980, inicia-se uma discussão na opinião pública e, 
principalmente, nos países desenvolvidos sobre temas ambientais impactantes 
resultantes da Revolução Verde, da agricultura moderna, do efeito estufa, da 
poluição industrial, do desflorestamento entre outros. Com isso, questionava-se até 
que ponto ou até quando os recursos naturais suportariam o ritmo do crescimento 
econômico, tecido pelo Industrialismo e pela própria humanidade. Dessa forma, 
consolidou-se um novo paradigma: o da sustentabilidade. 
 
Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade 
A origem do debate sobre o desenvolvimento sustentável tem sua origem no 
debate realizado na Conferência de Estocolmo em 1972, que se consolida na ECO-
92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. O conceito de desenvolvimento sustentável 
mais referenciado é o de Brundtland. Esse diz que o desenvolvimento sustentável é 
aquele que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a 
capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Este 
novo estilo de desenvolvimento se pauta numa nova ética, na qual os objetivos 
econômicos estão subordinados às leis de funcionamento dos ecossistemas e o 
respeito à dignidade humana e a melhoria da qualidade de vida da sociedade. 
No final dos anos de 1980, precisamente em 1987, foi publicado o Relatório 
de Brundtland chamado de “Nosso Futuro Comum” que ajudou a disseminar o ideal 
de um desenvolvimento sustentável para diferentes setores da sociedade, entre eles 
a agricultura. A conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e o Meio 
Ambiente (ECO-92) reafirmou essa ideia, apresentando o desenvolvimento 
 
 
43 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
sustentável como aquele que é capaz de garantir as necessidades das gerações 
futuras. 
Nesse sentido, é imprescindível pensar uma agricultura permeada pelo 
desenvolvimento sustentável para romper com o modelo agrário-agrícola atual 
baseado na monocultura. Na tentativa de romper com essa lógica, algumas técnicas 
têm sido desenvolvidas. Nos últimos anos, cresce a discussão em torno da 
sustentabilidade, ou seja, promover a exploração de áreas ou o uso de recursos 
planetários (naturais ou não) de forma a prejudicar minimamente o equilíbrio 
entre o meio ambiente e as comunidades humanas e da biosfera que dele 
dependem para existir. 
Vale salientar que a sustentabilidade depende de três variáveis 
interdependentes e dependentes entre si, proporcionando a diminuição de impactos 
ambientais aos ecossistemas agrário, urbano etc. O tripé da sustentabilidade é 
composto pelas variáveis social, econômico e ambiental representadas no 
diagrama abaixo: 
 
 
Figura 1 – Tripé da Sustentabilidade 
O desenvolvimento sustentável é um modelo que pode ser utilizado para 
produção e reprodução dos espaços agrícolas, que visa atenuar os impactos 
socioambientais. Nesse sentido, um dos ramos científicos que tem gerado bastante 
discussão é a Agroecologia. 
 
Agroecologia 
 
A Agroecologia é uma ciência que surgiuna década de 1970, como forma de 
estabelecer uma base teórica para viabilizar uma agricultura alternativa, que aparece 
 
 
44 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
da necessidade de mudar as técnicas modernas que causam diversos impactos ao 
solo com o uso intensivo de agrotóxicos, fertilizantes, máquinas pesadas e sementes 
de alta produtividade, etc. 
No campo científico coexistem várias definições para Agroecologia, mas 
podemos dizer baseado em Servilha Guzmmán e González Molina (apud CAPORAL; 
COSTABEBER, 2001, p. 37) que: 
A Agroecologia corresponde a um campo de estudos que pretende o manejo 
ecológico dos recursos naturais, para – através de uma ação social coletiva de 
caráter participativo, de um enfoque holístico e de uma estratégia sistêmica – 
reconduzir o curso alterado da coevolução social e ecológica mediante um controle 
das forças produtivas que estanque seletivamente as formas degradantes e 
espoliadoras da natureza e da sociedade. 
A Agroecologia trabalha levando em consideração que os agroecossistemas 
são unidades fundamentais de pesquisa, levando em consideração os ciclos 
minerais, as transformações energéticas, os processo biológicos, as relações 
socioeconômicas e ambientais de forma integrada. Ela é uma ciência que visa 
alcançar a sustentabilidade ecológica, social, econômica, cultural, política e ética. 
Essa é uma proposta de desenvolvimento sustentável. 
Além da Agroecologia existem outras manifestações de agricultura alternativa 
como a Biodinâmica, a Ecológica, a Orgânica, a Regenerativa, a Permacultura entre 
outras. No entanto, não podemos confundir a Agroecologia enquanto disciplina 
científica ou ciência como apenas uma prática ou um estilo de agricultura. 
Na Agroecologia, a busca da sustentabilidade é uma meta nos sistemas 
agroecológicos que traça estratégias de minimização do uso de fontes artificiais de 
energia por fontes naturais, ou melhor, a Agroecologia visa interpretar, entender e 
intervir nos agroecossitemas de forma a favorecer o seu fluxo energético de água e 
nutrientes, mantendo-o e, se possível, incrementando-o (BOEMEKE, 2001). 
Podemos listar alguns recursos ecológicos de produção agrícola e 
incrementação dos sistemas como: o uso de biofertilizantes, caldas elaboradas com 
ingredientes naturais orgânicos e químicos da propriedade ou da região, adubos de 
baixa solubilidade como o calcário e fosfatos naturais, adubos verdes, o sal mineral 
caseiro, o plantio direto, o pastoreio rotativo, cortinas vegetais, entre outros. A 
Agroecologia baseia-se no manejo racional dos agroecossistemas. 
 
 
45 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
No entanto, a difusão dos sistemas agroecológicos encontra dificuldades para 
implantação, observa-se que a agricultura orgânica se apropria melhor nos sistemas 
de organização familiar de produção, uma vez que estes, na maioria das vezes, 
possuem estruturas de produção diversificadas. Já para os produtores patronais, de 
grandes propriedades, as dificuldades são maiores para a regra de diversificação da 
produção do agroecossistema. Além disso, nessas propriedades ocorre forte 
interação com o mercado, fato este que se reflete no processo de adoção de 
tecnologias que visam sempre os ganhos imediatos de produtividade, 
independentemente do modo de produção. 
Vale salientar, que a organização da produção social é um componente 
importante para se analisar quando nos referimos ao custo de conversão para a 
agricultura orgânica com bases agroecológicas. Nesse sentido, necessita-se de 
acréscimo na demanda de trabalho para a implantação desse sistema. No caso da 
produção familiar, este custo de conversão não é percebido, pois não há desembolso 
financeiro, diferentemente da produção empresarial que terá custos para realizar a 
conversão. Dessa maneira, pode ser observado que os custos presentes no 
processo de transição para modelos agroecológicos difi cultam o desenvolvimento 
efetivo para grande parte dos agricultores, mesmo considerando os preços dos 
produtos agroecológicos que a rede de consumo está disposta a pagar. 
 
Agricultura e a questão ambiental 
 
Agricultura e meio ambiente 
O espaço rural caracteriza-se pela heterogeneidade, que se traduz na 
existência do rural tradicional, do rural moderno, do rural global muitas vezes num 
mesmo espaço social e geográfico. Tal característica deve-se, entre outros fatores, 
a sua formação social. No entanto, destacaremos os processos evolutivos na 
utilização de novas técnicas na agricultura em relação ao uso do solo dos quais 
derivam vários impactos ambientais. 
Os agroecossistemas, em geral, exibem uma biodiversidade bem menor que 
os ecossistemas naturais devido à agricultura moderna enfatizar a monocultura em 
detrimento da agricultura tradicional, que utiliza uma grande variedade de espécies 
sem o uso de agrotóxicos. É sabido que o uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes 
 
 
46 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
de origem química mudou drasticamente as bases da agricultura tradicional. Com 
isso, ocorreu um aumento na produtividade das lavouras com auxílio de máquinas e 
equipamentos que foram adaptados às tecnologias de plantio. Esse processo se deu 
efetivamente nos países desenvolvidos, os quais iniciaram a modernização agrícola 
e passaram a utilizar em 1874 o primeiro composto orgânico – DDT (abreviatura para 
dichloro-diphenyl-trichloro-ethane) – na agricultura e pecuária; essas passaram por 
uma mudança estrutural drástica a partir do uso e convivência com a Química. 
Paralelamente, no mesmo ano, 1874, os ambientalistas inauguraram a 
primeira unidade de conservação do planeta nos EUA: o Parque Nacional de 
Yellowstone. A ideologia na criação dessas unidades era proteger os “lugares 
selvagens e belos” dos próprios homens e das atividades humanas para o deleite do 
homem moderno. Essa prática de criação de áreas e unidade de conservação, 
apesar de várias críticas, teve e continua tendo importância para a conservação da 
diversidade biológica e manutenção de determinados ecossistemas. 
Entretanto, em relação ao DDT, em 1939, foram descobertas por Paul Muller 
suas propriedades inseticidas. A aplicação do DDT para combater insetos rendeu-
lhe o prêmio Nobel da Química em 1948. O composto químico era uma arma para 
combater o inseto causador da malária. No entanto, anos depois se descobriu que 
todos os compostos organoclorados possuem propriedades cancerígenas e 
apresentam grande estabilidade química e alta toxidade. 
Vale salientar que as novas técnicas se disseminaram pelo planeta, ampliando 
as possibilidades de plantio em regiões de solo e climas, antes considerados 
inadequados. Nos países subdesenvolvidos, em especial o Brasil, a agricultura era 
rudimentar, voltada para produção e exportação de alimentos. O uso de novas 
técnicas e de defensivos químicos é introduzido após a 2ª Guerra Mundial, quando 
os Estados Unidos promoveram a Revolução Verde através de um pacote 
tecnológico que continha os equipamentos, insumos e defensivos favorecendo a 
agricultura intensiva. 
No entanto, com o tempo foi ficando evidente o custo da Revolução Verde. A 
exploração da terra e seu aproveitamento máximo aliado à falsa ideia da infinidade 
de recursos naturais na perspectiva de lucro rápido resultaram numa degradação 
ambiental intensa, quer seja na contaminação dos solos e da água, quer seja no 
envenenamento dos trabalhadores agrícolas, contaminação dos alimentos, 
 
 
47 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
empobrecimento da terra etc. Além disso, podemos destacar outros aspectos 
negativos do ponto de vista social, uma vez que para adquirir o pacote tecnológico 
da Revolução Verde os produtores deveriam dispor de capital ou de empréstimobancário. Dessa forma, o pequeno produtor foi expelido do mercado. 
Nos anos de 1970/80, desenvolveu-se um intenso movimento crítico no que 
se refere à Revolução Verde quanto ao uso de agrotóxicos e produtos químicos 
utilizados na atividade agrícola. Nesse contexto, originou-se um movimento para 
promoção da agricultura orgânica e da Agroecologia. Cabe destacar que a Revolução 
Verde, segundo Porto Gonçalves (2004), deve ser entendida no contexto da 
geopolítica da Guerra Fria, ou seja, os países capitalistas centrais, principalmente os 
Estados Unidos, implantaram-na com o intuito de conter movimentos políticos no 
campo de cunho socialista e expandir o capitalismo no campo com a venda de 
equipamentos, máquinas, insumos, fertilizantes etc. Deve-se lembrar que as 
empresas agroquímicas e de equipamentos em geral têm suas sedes, em sua quase 
totalidade, nos países europeus centrais, EUA e no Canadá. 
Com isso, o atual modelo agrário-agrícola engendrado pelo sistema de 
produção de sistema capitalista não é apenas uma questão técnica/ecológica, mas 
gira em torno de como equacionar as dimensões econômicas e socioambientais para 
reduzir os impactos ambientais no espaço geográfico, especificamente no espaço 
rural (GONÇALVES, 2004). 
 
Problemas ambientais rurais 
 
. 
Os impactos ambientais da agricultura manifestam-se com maior intensidade 
nos solos; estes constituem um recurso com grande potencial de renovação, pois a 
perda de parte do solo é compensada no processo de intemperismo sofrido pelas 
Figura 1 – A insustentabilidade planetária 
 
 
48 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
rochas que forma continuadamente novos solos. Na atualidade, o uso inadequado 
do solo pela agricultura baseada na monocultura utiliza grandes quantidades de 
defensivos agrícolas e fertilizantes e tem provocado sérios danos ao meio ambiente. 
A produção de espécies vegetais uniformes (soja, trigo, cana-de-açúcar, entre 
outros) nos grandes latifúndios favorece o desenvolvimento de grande quantidade de 
espécies invasoras – as pragas – que se alimentam desses produtos. É o caso da 
lagarta da soja, do besouro bicudo do algodão, bactérias como os ácaros dos 
mamoeiros, o cancro cítrico dos laranjais, as pragas dos cafezais, fungos que atacam 
o trigo e o milho e as pragas que infestam os canaviais. Nas monoculturas, as pragas 
proliferam rapidamente e, para conter a proliferação de tais manifestações, os 
latifúndios utilizam cada vez mais agrotóxicos, que prejudicam tanto a saúde humana 
quanto o meio ambiente na contaminação dos solos e dos lençóis freáticos, rios etc. 
Esses agrotóxicos são chamados também de defensivos agrícolas (ROSS, 2001). 
A aplicação frequente e intensa de agrotóxicos contamina os solos, tornando-
o estéril devido à eliminação microbiana, e ainda são usados herbicidas para o 
controle de ervas daninhas ou mato, que se reproduzem mais rapidamente que as 
espécies cultivadas. Esses herbicidas são tão tóxicos quanto os agrotóxicos, 
causando desequilíbrio na biodiversidade dos ecossistemas. 
Outro problema diz respeito à irrigação, que constitui uma prática bastante 
desenvolvida, mas que deve ser planejada e acompanhada por outras práticas. O 
objetivo fundamental da irrigação é levar água aos cultivos, possibilitando a 
produtividade e boa qualidade. Segundo a ONU (2000), cerca de 70% da água 
consumida mundialmente, incluída a desviada dos rios e a bombeada do subsolo, é 
utilizada para a irrigação. No entanto, a irrigação provoca diversos impactos 
ambientais, tais como modificação do meio ambiente, salinização do solo, 
contaminação dos recursos hídricos, consumo exagerado da disponibilidade hídrica 
da região, consumo exagerado de energia e problemas de saúde pública. 
Além desses problemas ambientais, o IPCC (Painel Intergovernamental de 
Mudança Climática) alerta que o mundo precisa reduzir seus gases causadores de 
efeito estufa para estabelecer o equilíbrio da terra. A preocupação do IPCC é 
justificável, pois o efeito estufa afetará todo o planeta e, de forma desproporcional, 
os países pobres, que de acordo com as projeções científicas serão os mais atingidos 
por catástrofes naturais e problemas ambientais como ciclones tropicais, chuvas 
 
 
49 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
torrenciais, escassez de água, doenças e degradação dos solos. Esses países são 
mais vulneráveis devido à falta de recursos. Além disso, poderá ocorrer a redução 
de colheitas e várias mudanças na produção agrícola. O Brasil seria um dos países 
mais afetados devido às suas condições climáticas, edáficas e continentais. 
Transgênicos e biotecnologia 
 
Transgênicos são organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, 
contêm material genético de outros organismos. Os transgênicos, segundo os 
especialistas, causam uma erosão genética, ou seja, reduzem a diversidade de 
plantas cultivadas. 
Os defensores dos transgênicos argumentam que eles podem trazer 
benefícios ecológicos em função de necessitarem de menor quantidade de aplicação 
de agrotóxico. Em contrapartida, a maioria dos ambientalistas sustenta que os 
transgênicos deverão dinamizar o processo de erosão genética devido à priorização 
de determinadas espécies em detrimento da biodiversidade genética. Além disso, 
deixam os produtores agrícolas reféns de companhias transnacionais (por exemplo, 
Monsanto Estadunidense) que controlam as tecnologias e patentes tanto na 
produção de sementes geneticamente modificadas quanto dos insumos necessários 
para fazê-las produzir. O quadro a seguir sintetiza os principais cultivos transgênicos 
mundiais. 
Tabela 1 – Principais cultivos transgênicos no mundo 
Os principais cultivos transgênicos no mundo (em milhões de hectares) 
Produto Área cultivada 
Soja tolerante a herbicida 36,5 
Milho Bt resistente a insetos 7,7 
Canola tolerante a herbicida 3,0 
Figura 2 – Transgênicos 
 
 
50 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Milho tolerante a herbicida 2,5 
Algodão Bt resistente a insetos 2,4 
Algodão tolerante a herbicida 2,2 
Algodão Bt tolerante a herbicida 2,2 
Milho Bt tolerante a herbicida 2,2 
 
Segundo Lawrence (2008, p. 260), “a área de plantio de transgênicos no 
mundo tem crescido bastante; a área plantada com transgênicos cresceu 12% em 
2007, com valores globais chegando a 700 milhões de dólares”. A autora, em seu 
artigo, chama atenção para o crescimento brasileiro, que em 2007 ultrapassou os 
EUA em novas áreas de plantio. A Índia continuou seu rápido crescimento, seguida 
de perto pelo Paraguai, África do Sul e Uruguai. 
Em oposição, na Austrália as áreas com cultivos transgênicos continuam em 
queda. 
 
OBS: O crescimento percentual da área plantada entre 2006 e 2007 está 
mostrado na coluna da esquerda. As barras à direita evidenciam as áreas de cultivo 
de transgênicos, ou seja, representam a área ocupada pelos transgênicos em 
hectares. 
 
Figura 3 – Crescimento da área plantada e ocupada pelos transgênicos entre 
2006 e 2007 
O gráfico demonstra o crescimento percentual da área plantada entre 2006 e 
2007, mostrado na coluna da esquerda. O que é enfatizado no artigo é que o Brasil 
está adotando a tecnologia avançada para desenvolver o cultivo assim como os EUA, 
sem testar os efeitos dos transgênicos na saúde humana e nos ecossistemas. 
Mudança de porcentagem 
desde 2006 
Área de colheita transgênica em 2007 (milhão hectare) 
USA 
Argentina 
Brasil 
Canadá 
Índia 
China 
Paraguai 
África sul 
Uruguai 
Filipinas 
Australia 
6 % 
% 6 
30 % 
15 % 
% 63 
% 9 
30 % 
% 29 
25 % 
NA 
–50% 
10 0 20 30 40 50 60 
57.7 
19.1 
15.0 
7.0 
6.2 
3.8 
2.6 
1.8 
0.5 
0.3 
0.1 
 
 
51 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Entretanto, cabe lembrar que durante a RIO-92 foiassinada a Convenção 
Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB), ratificada por mais de 170 países, 
que reconhece os riscos advindos da engenharia genética e ressalta o relevante 
papel que tem o acesso e transferência de tecnologia entre os países signatários da 
Convenção para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, de modo que o 
uso de recursos genéticos não venha a causar danos ambientais significativos. 
 
Agricultura, tecnologia e meio ambiente no Brasil 
 
No Brasil, o início da influência dos seres humanos sobre o meio ambiente 
começa a partir da chegada dos portugueses. Antes da ocupação do território 
brasileiro, as sociedades indígenas que aqui habitavam sobreviviam basicamente da 
exploração dos recursos naturais em harmonia com a natureza. 
No Brasil, o predomínio da padronização dos cultivos, ou seja, o plantio de 
uma única espécie tem causado desequilíbrio nas cadeias alimentares preexistentes, 
que se tornaram verdadeiras pragas com o desaparecimento de seus predadores 
naturais (pássaros, cobras, sapos, aranhas etc.). Esse padrão tem levado a utilização 
de agrotóxicos em grande quantidade, ocasionando a seleção natural dos seres 
imunes ao veneno; com isso, os agricultores são forçados a aplicar venenos cada 
vez mais potentes. Tal fato causa doenças para aqueles que manipulam e aplicam 
esses venenos e para aquelas que consomem os alimentos contaminados, e causa 
poluição dos solos, empobrecendo-os ao impedir a proliferação de microrganismos 
fundamentais para sua fertilidade. Outro impacto danoso causado pela agricultura 
brasileira é a erosão do solo, provocada principalmente pelo mau uso dele, tal como 
o revolvimento do solo antes do cultivo, desagregando-o e facilitando o carreamento 
dos minerais pela água das chuvas. A perda de milhares de solos agricultáveis todos 
os anos é um dos mais graves problemas enfrentados pela agricultura brasileira. Isso 
ocasiona graves impactos ambientais nos biomas brasileiros. São eles: amazônico, 
cerrado, mata atlântica, caatinga etc. 
 
 
52 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Todos os grandes domínios brasileiros foram e estão sendo afetados pela 
expansão e intensificação das atividades agrícolas baseados no manejo inadequado 
da terra. Os estudos indicam que são perdidas 25 toneladas/ano de solo por hectare, 
muito acima dos índices mundialmente considerados razoáveis, os quais variam 
entre 3 e 12 toneladas/ano. Atualmente, esse processo alcança novas fronteiras 
ecológicas intensificado pelas novas tecnologias da informática e da engenharia 
genética na produção de alimentos, principalmente pelas agroindústrias, modificando 
profundamente as paisagens ambientais no Brasil. 
No cenário brasileiro, um dos produtos agrícolas que tem se destacado é a 
soja, maior produto de exportação e de área plantada. Ela tem avançado nas novas 
fronteiras agrícolas (conforme Figura 4), principalmente no cerrado e na Amazônia, 
sendo o estado de Mato Grosso o principal produtor. Entretanto, a monocultura da 
soja, assim como a pecuária, tem provocado vários problemas ambientais nos 
domínios dos biomas brasileiros. O desmatamento no Brasil é um reflexo do avanço 
da agropecuária. A derrubada da vegetação tem dado lugar a campos para a 
agropecuária. Na Amazônia, o desmatamento, como pode ser visto na Figura 5 e na 
Figura 6, tem sido uma constante preocupação que desperta vários estudos sobre o 
uso da terra, uma vez que as florestas têm sido substituídas pela pecuária extensiva, 
plantio de grãos e agricultura de corte e queima. 
 
 
53 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
 
Figura 5 – Evolução da taxa de desmatamento de 1988 a 2008 
(a: média 1977 a 1988; b: média 1992 a 1994; c: estimativa) 
Figura 4 – Produção de soja brasileira em 2006 
Taxa de Desmatamento Anual na Amazônia Legal 
35000 
30000 
25000 
20000 
15000 
10000 
5000 
0 
888990919293949596979899000102030405060708 
( ) a ( ) b)(b c 
Ano 
Estimativa Consolidado 
 
 
54 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
Figura 6 – Expansão do desmatamento na Amazônia 
Os impactos ambientais no setor agrícola são mais intensos nos grandes 
latifúndios monocultores e nas agroindústrias e com menor intensidade na pequena 
produção. Por todos os impactos ambientais causados pela agricultura, torna-se 
relevante pensar um novo modelo de produção agrícola que priorize a 
sustentabilidade ambiental, pois os recursos naturais estão se exaurindo. 
 
Espaço rural e espaço urbano 
 
O rural e o urbano 
A contraposição existente entre o rural e o urbano origina-se há mais de 5.500 
anos, ou seja, desde a Antiguidade, emergida pelas condições políticas e sociais que 
permitiram a divisão socioespacial do trabalho. A história da divisão do trabalho 
conduziu a um contínuo desenvolvimento das formas de produção da existência do 
homem. 
No período medieval, os limites físicos entre a cidade e o campo eram 
evidentes nas cidades muradas. As cidades nas sociedades tradicionais segundo 
Giddens (2000, p. 560), eram na maioria pequenas e normalmente muradas e suas 
muralhas destinavam-se à defesa militar, realçavam a separação entre a comunidade 
urbana e o campo. 
Para Lefebvre (2001b, p. 29), a separação entre a cidade e o campo toma 
lugar entre as primeiras e fundamentais divisões do trabalho (a biológica e a técnica) 
e completa: 
 
 
55 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
A divisão social do trabalho entre a cidade e o campo corresponde à 
separação entre o trabalho material e o trabalho intelectual, e, por conseguinte entre 
o natural e o espiritual. À cidade incumbe o trabalho intelectual: funções de 
organização e de direção, atividades políticas e militares, elaboração do 
conhecimento teórico (filosofia e ciências). [...] O campo, ao mesmo tempo realidade 
prática e representação, vai trazer as imagens da natureza, do ser, do original. A 
cidade vai trazer as imagens do esforço, da vontade, da subjetividade, da reflexão, 
sem que essas representações se afastem de atividades reais. Dessas imagens 
confrontadas irão nascer grandes simbolismos. (LEFEBVRE, 2001b, p. 29). 
A cidade e o campo têm se constituído um dos mais significativos temas de 
interesse de historiadores, sociólogos, antropólogos, economistas e geógrafos. 
Conforme Corrêa (1989, p. 40), este interesse se explica, por duas razões: primeiro, 
da crença empirista de que cidade e campo constituem as duas metades em que a 
sociedade pode ser dividida e analisada; e segundo, da crença marxista de que a 
cidade e campo são dois termos de uma contradição em torno da qual a história se 
faz. 
Como entender na atualidade o que é rural e o que é urbano? Como qualificar 
o rural e o urbano, sabendo-se que esses espaços têm passado por uma série de 
mudanças e têm gerado debate entre os estudiosos que passam a falar de um novo 
rural no Brasil e do chamado rurbano? 
Silva (1996) em seus estudos sobre o rurbano, ou seja, fusão do rural e do 
urbano demonstra em suas análises a tendência à urbanização do campo e a 
inserção de atividades não-agrícolas no campo ligadas ao lazer, à prestação de 
serviços e a indústria (conforme a aula Transformações recentes no espaço rural) 
No entanto, observa-se que a falta de definição do que é urbano, do que é 
cidade, do que é rural é um embate. Dessa forma, destacamos alguns teóricos que 
assim definem: 
“Urbano designaria então uma forma especial de ocupação do espaço por uma 
população, a saber o aglomerado resultante de uma forte concentração e de uma 
densidade relativamente alta, tendo como correlato previsível uma diferenciação 
funcional e social maior” (CASTELLS, 2000, p. 40) 
“[...] distinção entre a cidade, realidade presente, imediata, dado prático-
sensível, arquitetônico– e por outro lado o ‘urbano’, realidade social composta de 
 
 
56 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento” 
(LEFEBVRE, 2001b, p. 49). 
“A noção de urbano (oposta à rural) pertence à dicotomia ideológica sociedade 
tradicional/sociedade moderna, e refere-se a uma certa heterogeneidade social e 
funcional, sem poder defini-la de outra forma senão pela sua distância, mas ou 
menos grande, com respeito à sociedade moderna (CASTELLS, 2000, p. 47). 
Como se pode perceber, vários autores discutem e tentam definir o que é rural 
é o que é urbano e suas especificidades territoriais, econômicas e sociais. Além 
disso, ainda há uma questão metodológica na definição do que vem a ser urbano e 
rural. 
 
Critérios utilizados para definir o rural e o urbano 
As discussões a respeito do que é rural e do que é urbano são importantes 
para compreendermos a dinâmica do mundo. Um dos critérios utilizados pelos países 
como Reino Unido, África do Sul, Tunísia e Brasil declaram como urbanos os 
residentes em áreas com certa forma de administração como as sedes municipais 
brasileiras, utilizando limites estabelecidos oficialmente. 
Outro critério utilizado diz respeito à densidade demográfica, ou seja, o 
número de habitantes por quilômetro quadrado, as áreas rurais serão sempre menos 
densamente povoadas que as urbanas. No entanto, a densidade demográfica não 
se apresenta homogênea na cidade. Reside aí um problema, pois considerar uma 
densidade como urbana é muito amplo e indefinido, uma vez que os recenseamentos 
tomam por referência os domicílios. Dessa maneira, existem centros urbanos, de 
urbanidade intensa, como os centros da cidade que apresentam baixa densidade 
demográfica. Nesse contexto, não dá para considerar densidade demográfica como 
sinônimo de urbanismo (ENDLICH, 2006). 
O urbano e o rural também podem ser definidos pela natureza das atividades 
econômicas, ou melhor, nessa visão o rural está vinculado às atividades primárias e 
o urbano reúne percentual significativo em relação à ocupação da população em 
atividades secundárias e terciárias. Esse critério é utilizado em países como o Peru 
e a Itália. 
Os três critérios apresentados são exemplos estabelecidos e citados na 
literatura da Geografia, da Arquitetura e da Sociologia entre outras Ciências, 
 
 
57 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
poderíamos citar outros critérios referentes aos aspectos morfológicos e ao modo de 
vida dos habitantes. No entanto, todos os critérios apresentam insuficiências na 
correspondência à atual realidade rural e urbana. 
Na Geografia é fundamental pensar a dimensão espacial na definição de rural 
e do urbano. Ao discutir espaço, seja urbano ou rural, é sempre necessário pontuar 
que o espaço apresenta especificidades decorrentes de sua construção histórica e 
passíveis a mudanças estruturais, econômicas, sociais, sendo que no âmbito local 
devem-se mostrar as diferentes espacialidades. 
 
 
A evolução geral do campo e da cidade 
No decorrer da formação e ocupação territorial, a sociedade está em constante 
mudança que reflete diretamente na organização espacial e, consequentemente, nas 
relações humanas. Na atualidade, uma das questões mais relevantes é sobre o rural 
e o urbano tanto no meio acadêmico quanto nos órgãos de gestão pública na 
definição de políticas. 
Ruy Moreira, renomado geógrafo pesquisador das mudanças espaciais, 
principalmente no Brasil, demonstra em suas análises que são três as formas 
históricas da relação cidade-campo enquanto modo de organização espacial das 
sociedades no tempo: cidade e campo numa sociedade de cultura rural; cidade e 
campo numa cultura de divisão territorial de trabalho; e cidade e campo numa 
sociedade de cultura urbana. Caracterizaremos cada momento a seguir: 
 1) A cidade e o campo numa sociedade de cultura rural – Essa fase diz 
respeito ao surgimento da cidade no contexto da história geral, marcada pela 
presença de uma economia de base rural. Nesse contexto, o trabalho é uma 
atividade rural e não urbana, ou seja, pertence ao universo rural e não urbano. 
a b 
Figura 1 – a: O urbano no rural e b: O rural no urbano 
 
 
58 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
2) A cidade e o campo da divisão capitalista do trabalho e das trocas 
– Fase caracterizada pelo nascimento do capitalismo e da divisão social do trabalho 
que viabiliza normas de organização e da produção das trocas, criando a cidade e o 
campo que hoje conhecemos, ou seja, à cidade cabe a função dos setores 
secundário e terciário e, ao campo cabem as funções relacionadas ao setor primário. 
Estabelecem-se entre esses espaços, relações de interdependência em que a cidade 
e o campo se relacionam através da troca entre produtos secundários e terciários por 
produtos primários. 
3) A cidade e o campo da cultura urbana - Essa fase se caracteriza pela 
instalação da indústria no campo em que se formam os complexos agroindustriais, 
ocorrendo uma espécie de fi m da divisão de trabalho, técnica e territorial que recria 
relações entre os setores que eram até então separados. 
 
 
Transformações recentes no espaço rural 
Na atualidade, o mundo rural no Brasil não é mais restrito às atividades 
agropecuárias e agroindustriais. Essas atividades dividem espaço com outras 
atividades ligadas ao turismo, prestação de serviços e até indústria ficando difícil para 
os estudiosos do “mundo agrário” delimitar onde começa ou termina o rural e o 
urbano (conforme discutimos na aula 8 - Espaço rural e espaço urbano). 
Segundo Graziano da Silva (1996), o mundo rural é maior que o mundo 
agrícola. O mundo rural incorpora atividades novas tais como, os hobbies ou 
pequenos empreendimentos, transformando-as em negócios rentáveis multiplicando 
os pesque-pague (figura 1), os sítios de lazer, as casas de campo, fruticulturas, 
floriculturas, além de hotéis-fazenda (figura 2), campos de golfe etc. 
A área rural brasileira não se restringe mais à agropecuária e à agroindústria 
[...] Agora, a agropecuária moderna e a agricultura de subsistência dividem espaço 
com um conjunto de atividades ligadas ao lazer, à prestação de serviços e até à 
indústria, reduzindo cada vez mais os limites entre o rural e o urbano do país. [...] Os 
mais de mil pesque-pague espalhados por chácaras e sítios em todo o Brasil, por 
exemplo, utilizados como lazer pela classe média urbana, já são responsáveis por 
90% do destino dos peixes de água doce criados em cativeiro. (SILVA, 1996, p. 48-
54). 
 
 
59 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
No Brasil, em meados da década de 1990, começam a se tornar evidentes 
algumas transformações na cidade e no campo, tanto em si próprias como nas suas 
inter-relações. O campo não pode mais ser considerado o espaço preponderante da 
produção agropecuária, pois o processo de ocupação e uso do solo passa por 
crescentes mudanças com o aumento dos conteúdos urbanos no meio rural e 
diversificação das atividades produtivas. Nesse sentido, cabe destacar o 
desenvolvimento da pluriatividade no Brasil. A pluriatividade pode ser entendida 
como: 
Um fenômeno através do qual membros das famílias que habitam o meio rural 
optam pelo exercício de diferentes atividades, ou mais rigorosamente, optam pelo 
exercício de atividades não-agrícolas, mantendo a moradia no campo e uma ligação, 
inclusive produtiva, com a agricultura e a vida no espaço rural (Schneider, 2003, p. 
48). 
 
Figura 1 – Pesque-pague Cachimbo, em São José dos Pinhais/PR 
 
Figura 2 – Hotel-Fazenda em Sabará/MG 
 
 
60 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Origem da pluriatividade 
Na discussão sobre a pluriatividade se destacaduas noções: agricultura de 
tempo parcial (do inglês part-time farming) e de pluriatividade (do francês pluriativité) 
surgidas nos anos de 1940, mas tomou grande notoriedade a partir dos anos de 
1970. Entretanto, é objeto de discussão entre os especialistas europeus se a 
pluriatividade como relação de trabalho na agricultura é nova ou antiga. 
As duas noções supracitadas surgem no mesmo momento, mas não são 
idênticas, o conceito de pluriatividade é de longe mais adequado à dinâmica agrícola 
atual, uma vez que o trabalho agrícola é pautado na descontinuidade temporal, pois 
não existe correspondência entre tempo de trabalho e de produção, uma vez que 
essa dinâmica depende da natureza não nos permitindo afirmarque a outra atividade 
signifique dedicação em tempo parcial à agricultura. Ao contrário, a dinâmica sazonal 
do trabalho agrícola permite uma combinação de atividade familiar de tempo integral. 
Portanto, a noção de pluriatividade é mais significativa para compreendermos esse 
fenômeno que vem ocorrendo na agricultura. 
Cabe salientar que o interessante é notar a diversificação das formas de 
organização e dinâmica da agricultura familiar, suas estratégias de reprodução: 
assalariamento urbano, transformação industrial ou artesanal das atividades 
agrícolas ou o desenvolvimento do terciário (serviços, lazer) no espaço rural; e não 
entre a discussão sobre qual o melhor termo a ser utilizado. O fundamental é 
compreender que as múltiplas atividades praticadas pelas famílias rurais 
representam uma estratégia de reprodução dessas famílias em que especialização 
é negada, como salienta Carneiro (1994 apud ALENTAJANO, 2001, p. 151): 
Como resultado de um processo historicamente datado que começa com o 
estabelecimento de um modelo ideal de exploração agrícola, se apoiando sobre a 
especialização da produção (e do trabalho) e sobre a produtividade, a pluriatividade 
dos tempos modernos se distingue daquela que era praticada durante o período da 
proto-industrialização. Nesses termos, ela é recriada por uma parte da produção rural 
para afrontar as crises geradas pela modernização da agricultura, como o 
demonstram os sociólogos, os economistas, os agrônomos. 
 
 
61 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
As transformações na agricultura familiar e a pluriatividade no contexto 
europeu 
A agricultura europeia (ocidental) apresenta um caráter marcadamente 
familiar consolidado no século XX, e indicava uma tendência de homogeneização 
ligada ao capital apresentando alta mecanização e integração ao mercado de 
capitais. Tal acontecimento acarretou a especialização dos agricultores. Entretanto, 
nos anos de 1970 uma parcela significativa dos agricultores resistia a essa tendência. 
Nos anos de 1980, uma crise de superprodução levou esses agricultores a 
diversificarem sua produção e suas atividades. 
A mudança que está ocorrendo na agricultura europeia desde os anos de 1970 
tem como causas a dependência dos agricultores ao mercado, a preocupação da 
sociedade com as questões ambientais, a busca por uma melhor qualidade de vida 
e renda complementar, entre outras. Esta mudança de paradigma impulsiona a 
pluriatividade transformando os ramos da atividade agrícola de monoativa para 
pluriativa. 
As análises feitas na Europa e no Brasil sobre a pluriatividade no campo estão 
relacionadas com a crise do modelo fordista de produção e a emergência desde os 
anos de 1970 do mundo flexível de produção que reestrutura e estrutura o espaço 
geográfico mundial. Como exemplo, podemos destacar a desconcentração urbano-
industrial que dinamiza as relações no campo, principalmente nos espaços rurais das 
pequenas propriedades levando esses espaços a pluriatividades como uma saída 
para a reprodução do capital e a sobrevivência desses pequenos agricultores. 
A pluriatividade no Brasil 
As discussões em torno da questão da pluriatividade ou agricultura parcial no 
Brasil é limitada e recente. Segundo Alentajano (2001), essas discussões começam 
na Europa na década de 1980 e no Brasil começa em meados de 1990. Na realidade 
há uma série de controvérsias a cerca da pertinência da utilização desses termos 
(pluriatividade e agricultura em tempo parcial). 
Uma primeira controvérsia aparece no debate europeu para definir o tempo 
em que a pluriatividade em tempo parcial predomina no mundo agrário. Para alguns 
especialistas a pluriatividade sempre foi uma característica do campesinato, na 
realidade o que estaria ocorrendo é um fortalecimento dessa prática. Para outros 
especialistas é uma novidade no campesinato, uma vez que não se trataria de uma 
 
 
62 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
multiplicidade de atividades em função da precariedade do acesso aos mercados em 
conjunto com as estratégias que ainda têm em comum, a não ser a negação da 
moderna agricultura familiar: da espacialização e especialização. 
A agricultura brasileira concentra a modernização nas grandes propriedades, 
diferente dos países europeus onde se tornou uma agricultura familiar moderna. A 
inexistência no Brasil desse processo de modernização da agricultura familiar impede 
de usar o termo pluriatividade, no sentido de renascimento de uma prática 
camponesa típica como no sentido da negação da modernização/especialização. 
Segundo Alentajano (2001), existem dois aspectos fundamentais que comprometem 
o uso da noção de pluriatividade para a realidade brasileira: 
1 – o reconhecimento de que o padrão de modernização se baseou, 
fundamentalmente, na grande agricultura patronal e ampliou o poderio da grande 
propriedade no campo brasileiro não elimina o fato de que se constituiu uma parcela 
significativa de agricultores familiares e que entres esses, surgiu uma expressiva 
parcela de pluriativos; 
2 – deve-se considerar também que mesmo os setores da agricultura 
familiar não atingidos diretamente pela modernização agrícola, no sentido de se 
tornarem produtores modernos, foram indiretamente, atingidos por esse processo, 
seja do ponto de vista social, econômico ou ideológico, o que nos permite dizer que 
sua inserção na sociedade sofreu significativas transformações (ALENTAJANO, 
2001, p. 151-152). 
Famílias monoativas 
São aquelas em que a força de trabalho familiar é empregada somente nas 
atividades agropecuárias, mas não estão isentas de outras fontes de renda, como 
aposentadoria e pensões. 
Outro ponto importante a ser levado em consideração é o ambiente necessário 
para o aumento da pluriatividade. As análises feitas no Brasil e no continente europeu 
confirmam o desenvolvimento da pluriatividade ao processo recente urbano/industrial 
difuso como elemento basilador do modelo flexível de produção que acarretaria a 
pluriatividade no campo. 
Associar a pluriatividade à industrialização difusa no Brasil segundo alguns 
autores fica complicado, pois o modelo flexível de produção baseado no 
urbano/industrial é bastante concentrado nas regiões sudeste e sul. 
 
 
63 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
O trabalho realizado por Graziano da Silva e Del Grossi (1997 apud 
ALENTAJANO, 2001) revela que a região sudeste apresenta uma maior 
pluriatividade no meio rural corroborando a afirmação anterior. Entretanto, a região 
sul do Brasil possui a maior população em pequenas propriedades e apresenta um 
espaço industrial desconcentrado, revelando uma baixa pluriatividade conforme os 
dados que seguem: 
Tabela 1 – População rural ocupada segundo setor de atividade principal que 
exerce; Brasil e regiões 1995 (1000 pessoas). 
 
REGIÃO AGRICOLA NÃO-
AGRICOLA 
TOTAL % NÃO 
AGRÍCOLA 
Norte 137 50 187 27 
Nordeste 6774 1730 8504 20 
Sudeste 2817 1254 4071 31 
Sul 2750 66 3416 19 
Centro-oeste 841 230 1072 21 
Brasil 13320 3930 17249 23 
Fonte: Graziano da Silva e Del Grossi (1987 apudALENTAJANO 2001, p. 
154). 
 
A tabela 01 reafirma que, na realidade, a pluriatividade em todas as regiões 
brasileiras no campo, como aponta Schneider (1993), diminui a dicotomia entre rural-
urbano. Esse novo cenário pode ser compreendido pelo incremento do emprego não-
agrícola no campo. Ao mesmo tempo, aumentou a massa de desempregados, 
inativos que mantêm residência rural. 
A situação atual mostra que as ocupações essencialmente agrícolas são as 
que geram menor renda e que o número de famílias ocupadas em atividades 
agrícolas está diminuindo, pois estas não conseguem sobreviver apenas com as 
rendas advindas da agricultura. Da mesma forma, as famílias pluriativas, ou seja, 
que combinam atividades agrícolas e nãoagrícolas, também estão passando por um 
processo de redução, causado pela queda da renda das atividades agropecuárias. 
Neste contexto, as famílias rurais brasileiras estão se tornando cada vez mais não-
agrícolas, obtendo sua sobrevivência de transferências sociais (aposentadorias e 
pensões) e de atividades não-agrícolas (SILVA, 1996). 
 
 
64 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Outro fator importante a destacar é que as ocupações agrícolas mais 
genéricas, como trabalhador rural e empregado agrícola, que empregam os 
trabalhadores com menor grau de qualificação vêm diminuindo nos últimos anos, ao 
contrário das ocupações rurais não-agrícolas que apresentam considerável 
crescimento. Cabe salientar que um terço das atividades não-agrícolas geradas nos 
anos de 1980 a 1990 estão ligadas às ocupações de baixa qualificação como 
empregados domésticos, ajudantes de pedreiro e prestadores de serviços diversos. 
Parte da força de trabalho agrícola (homens e mulheres de meia idade e sem 
qualifi cação profissional) tem se tornado excedente devido à reestruturação 
produtiva e às novas tecnologias, exercendo um papel determinante na reprodução 
do capital, pois parte dessa mão de obra torna-se exército de reserva, funcionando 
como uma força produtiva sazonal no período de colheitas, corte de cana-de-açúcar, 
por exemplo, e outras atividades. Entretanto, mesmo em regiões que predominam 
grandes propriedades, a pluriatividade se desenvolve sem ocorrer à democratização 
do acesso a terra. 
 
A pluriatividade nos assentamentos rurais 
De forma geral, a pluriatividade é ainda pouco relacionada com a realidade 
dos assentamentos rurais de reforma agrária sendo preciso e extremamente 
importante estudar a temática, pois hoje é inegável o avanço da pluriatividade nesses 
espaços. Um exemplo é a formação de cooperativas que diversificam o trabalho 
nesses espaços. Alentajano (2001) mostra em uma pesquisa realizada em dois 
assentamentos no Rio de Janeiro a dinâmica econômica através da integração 
associativa com o mercado, levando famílias à realização da pluriatividade. Esta se 
tornou fundamental para a reprodução dessas famílias através do aumento da renda. 
Nos casos pesquisados, as famílias pluriativas apresentam-se em maior número do 
que as famílias monoativas e a média da renda também é maior nas famílias 
pluriativas do que nas monoativas. 
As pesquisas e estudos recentes têm mostrado que a pluriatividade está em 
expansão no campo em geral, principalmente nas pequenas propriedades e no caso 
dos assentamentos rurais brasileiros, a pluriatividade também tem se realizado como 
uma forma importante de reprodução social. Com isso, vários estudos apontam a 
necessidade para reavaliação da reforma agrária brasileira, uma vez que não é 
 
 
65 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
levada em consideração a perspectiva pluriativa, ou seja, diversificação de atividades 
como se os assentamentos apresentassem, exclusivamente, atividades 
essencialmente agrícolas. 
No mundo atual, as mudanças no campo político, econômico e social que vêm 
ocorrendo indicam um novo estilo de vida em que as inovações nos setores de 
comunicação e transporte mudaram as noções e as distâncias físicas conhecidas. A 
informática e a microeletrônica possibilitam novas formas de organização industrial. 
Vários autores como, por exemplo, Graziano da Silva (1996), Eli da Veiga, Alentajano 
(2001) e Porto Gonçalves (2004) apontam a emergência de um novo paradigma 
produtivo tanto para agricultura como para a indústria, pois as novas tecnologias 
estão alterando as formas de organização do trabalho e redefinindo a localização 
espacial. O que temos assistido é um rearranjo espacial em que indústrias, atraídas 
pelos benefícios fiscais e estimuladas pelo desenvolvimento das telecomunicações, 
têm se instalado no campo em busca de melhores condições de produção e trabalho. 
O campo se industrializa e se urbaniza na visão de vários autores. 
Cabe destacar que as políticas voltadas para o campo ainda são muito 
incipientes e direcionam-se para a melhoria das condições básicas de transporte, 
comunicação, saúde e habitação. As áreas rurais apresentam outras necessidades, 
como definição ou zoneamento de áreas industriais e de moradia, estabelecimento 
de áreas de preservação ambiental etc. 
 
As políticas agrícolas e a agricultura familiar 
 
. 
Contexto das políticas agrícolas no Brasil 
A política agrícola brasileira ao longo de sua história tem beneficiado os 
grandes latifundiários. Segundo Manuel Correia de Andrade (1979), os grandes 
latifundiários sempre obtiveram apoio e auxílio governamentais concedidos através 
de crédito subsidiado, de assistência agronômica, da organização da 
comercialização e da garantia de um preço mínimo compensador para seus produtos 
agrícolas. Ao contrário, o pequeno agricultor nunca usufruiu de uma política agrícola 
dessa magnitude, ficando na maioria das vezes a mercê do mercado espoliativo 
ligado ao setor bancário. 
 
 
66 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
A partir da Segunda Guerra Mundial, a agricultura brasileira passou a ser vista 
como a solução para o desenvolvimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, lhe foi 
atribuída a tarefa de abastecer os centros urbanos e equilibrar a balança de 
pagamentos através da exportação e valorização de produtos agrícolas nobres (café, 
soja, cana-de-açúcar, algodão, trigo etc.) em detrimento dos produtos agrícolas 
considerados ordinários (feijão, milho, mandioca etc.). Esse modelo, que já vinha 
sendo praticado desde o período colonial em que a exportação de alguns produtos 
nobres já era estimulada, deixava a revelia a agricultura de subsistência. As políticas 
no campo, de uma forma geral, beneficiavam os grandes latifundiários que dispõem 
de capital, bens e outras garantias para a obtenção de crédito. 
No período militar, a política de crédito no Brasil mantinha-se nos mesmos 
moldes anteriores e estava voltada para os grandes latifundiários, indústrias e os 
complexos agroindustriais (CAIS). Vale salientar que a política econômica adotada 
pelos governos militares relegou para segundo plano as questões de natureza social, 
uma vez que nesse período os salários dos trabalhadores menos qualificados foram 
diminuídos, com reajustes abaixo da inflação. É possível observar também que não 
mereceram atenção os programas relacionados com saúde, educação e habitação 
popular, o que implicou a elevação dos índices de pobreza e desigualdade social no 
país. 
Ainda no período militar, destacou-se o Estatuto da Terra (promulgado em 
1965) que previu uma política de investimentos na pequena agricultura através da 
instalação de cooperativas, numa tentativa de tornar eficiente e economicamente 
viável a pequena agricultura no Brasil. Na realidade, os investimentos feitos durante 
o período militar não correspondeu às premissas do Estatuto, ao contrário, o que 
ocorreu foi uma concentração de terra e o empobrecimento do pequeno agricultor, 
beneficiando a elite agrária brasileira. 
No entanto,observou-se com essas políticas um descompasso com a 
realidade socioambiental brasileira, causando vários impactos como: erosão do solo, 
contaminação hidrográfica, forte êxodo rural, empobrecimento dos pequenos 
agricultores, urbanização descontrolada, conflitos no campo. 
Nos anos seguintes, não se observa avanço nas políticas agrícolas, pelo 
contrário, nos anos de 1980 o modelo de desenvolvimento entra em crise acentuando 
 
 
67 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
as disparidades sociais devido a, entre outros fatores, má distribuição de renda e ao 
baixo nível de crescimento do país. 
Nas últimas décadas, tem-se destacado uma série de políticas 
compensatórias para tentar minimizar as desigualdades e os efeitos da pobreza. 
Entre essas medidas, pode-se citar o vale gás, bolsa-escola, bolsa-família. Em 
relação às políticas agrícolas, faz-se necessário implementar políticas estruturais que 
beneficiem os trabalhadores rurais. Nesse contexto, o Programa Nacional de 
Agricultura Familiar, criado em 1996, parece ser um marco no qual faremos uma 
análise. No entanto, inicialmente faremos uma leitura conceitual sobre o que é 
agricultura familiar. 
 
Agricultura familiar: questão conceitual 
Uma discussão notável no cenário político atual diz respeito à definição da 
agricultura familiar. No campo teórico, existe um vasto debate acerca da temática, 
nesta aula destacaremos algumas concepções importantes sobre a problemática. 
Primeiramente, pontuaremos os estudos teóricos acadêmicos e, em seguida, 
destacaremos a questão política e a agricultura familiar no campo das políticas 
públicas. 
Carneiro (1999), ao estudar o problema conceitual em torno da agricultura 
familiar, monta uma série de premissas para abordar ou determinar uma noção de 
agricultura familiar e ressalta a complexidade no processo de diferenciação das 
várias categorias que formam a agricultura familiar. Tal complexidade se dá devido 
à intensificação da exploração capitalista. A autora chama atenção para a existência 
de outras categorias de agricultores familiares que não estão necessariamente 
ligados à atividade agrícola, os quais ela denomina os neo-rurais, ou seja, os 
agricultores que se enquadram no projeto “novo rural brasileiro”, com a 
implementação de novas atividades no campo, e os recém-assentados rurais, de 
origem urbana, que representam uma fração da população beneficiada pela política 
de assentamentos. De acordo com Carneiro (1999), a integração ao mercado é 
apenas uma das características da agricultura familiar contemporânea, em que 
As estratégias familiares vão depender, além do capital econômico disponível, 
obviamente, das condições de mercado (de trabalho, sobretudo) – do patrimônio 
familiar, ou seja, das capacidades (individuais e coletivas) existentes para enfrentar 
 
 
68 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
a situação de queda do rendimento familiar e, então, inovar ou reinventar a tradição 
(CARNEIRO, 1999, p. 339). 
Em concepção semelhante, Wanderley (2003) ressalta que a agricultura 
familiar não pode ser pensada apenas como uma categoria produzida pelas políticas 
públicas, especialmente a partir da criação do PRONAF. A agricultura familiar insere-
se numa perspectiva evolutiva de continuidade e ruptura das formas tradicionais de 
produção 
Compreende-se, assim, a agricultura familiar (Figura 1) como uma categoria 
genérica e heterogênea, que engloba as demais categorias, e mesmo fragilizada pela 
ação do capital, firma-se e evolui conjuntamente com a história das relações 
econômicas, sociais e, principalmente, na construção de novas territorialidades no 
campo, como a implantação de assentamentos rurais. Na realidade, a agricultura 
familiar é um conceito genérico que combina propriedade e trabalho, assumindo no 
tempo e no espaço uma diversidade de formas sociais, em que a família é 
proprietária dos meios de produção, sendo que as transformações trazidas com a 
modernização não representam uma ruptura com as categorias pré-existentes 
(WANDERLEY, 1999). 
 
A trajetória do PRONAF e a agricultura familiar 
De um modo geral, pode-se dizer que até o início da década de noventa não 
existia nenhum tipo de política especial para o segmento da agricultura familiar, 
sendo essa atividade, inclusive, uma definição conceitual bastante imprecisa, uma 
vez que a mesma era tratada de distintas formas (pequena produção, produção 
familiar, produção de subsistência etc.). 
No entanto, em 1996, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi criado o 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) com o 
objetivo de aumentar a capacidade produtiva e melhorar a qualidade de vida dos 
agricultores familiares. Para o PRONAF, a agricultura familiar é definida como uma 
forma de produção em que predomina a interação entre gestão, utilizando-se o 
trabalho familiar que pode em algumas ocasiões, ser complementado pelo trabalho 
assalariado. 
O PRONAF surgiu na década de 1990, sendo dois fatores apontados como 
essenciais para a sua criação: o primeiro diz que o PRONAF é elaborado em resposta 
 
 
69 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
a uma forte pressão e reivindicação dos trabalhadores rurais, que se organizaram 
em marchas nacionais e em outros movimentos de grande pungência; o outro refere-
se ao desenvolvimento de pesquisas, fruto da união da Organização das Nações 
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) com o Instituto Nacional de 
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que definem com maior precisão a 
agricultura familiar. 
Contudo, institucionalmente, o PRONAF foi uma política que teve início no 
governo de Itamar Franco, com a criação, em 1994, do Programa de Valorização da 
Pequena Produção Rural (PROVAP), que subsidiava crédito com taxas de juros 
acessíveis, concedidas pelo BNDES. Em 1995, o PROVAP foi reformulado e, no ano 
seguinte, foi operacionalizado o PRONAF, que se divide basicamente em três 
modalidades: crédito rural, infra-estrutura e serviços municipais e capacitação. 
Em 1999, o PRONAF foi incorporado ao Ministério de Desenvolvimento 
Agrário (MDA), que criou em suas instâncias, uma secretaria própria para a 
agricultura familiar Secretaria de Agricultura Familiar (SAF). Em relação ao público 
beneficiário, o programa divide-se em quatro grupos ou tipos de agricultores 
familiares: Grupo A – assentados pelo programa de reforma agrária; Grupo B – 
agricultores com baixa produção e pouco potencial de resposta produtiva; Grupo C 
– agricultores com exploração intermediária, mas com potencial de resposta 
produtiva; Grupo D – agricultores estabilizados economicamente. Além desses 
grupos, pode-se dizer que o programa ainda se encontra em construção e outros 
grupos ou subgrupos têm sido criados, como o Grupo E, e outras linhas de 
financiamentos destinados à mulher e ao jovem. Os financiamentos do PRONAF têm 
crescido bastante no contexto brasileiro tanto para custeio quanto para investimento 
no atendimento das demandas regionais conforme a distribuição na tabela 1. 
 
Brasil e 
Grandes 
Custeio Investimento Total 
Regiões Em 
R$ 
milhões 
Em 
% 
Em 
R$ 
milhões 
Em 
% 
Em 
R$ 
milhões 
Em 
% 
Norte 156,8 4,3 405,9 11,4 562,7 7,9 
Nordeste 385,3 10,7 1.478,9 41,6 1.864,2 26,0 
 
 
70 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Sudeste 863,8 23,9 526,9 14,8 1.390,7 19,4 
Sul 1.989,7 55,2 930,5 26,1 2.920,2 40,8 
Centro- 
Oeste 
211,8 5,9 216,5 6,1 428,3 6,0 
BRASIL 3.607,4 100,0 3.558,7 100,0 7.166,1 100,0 
Fonte: IBGE (2008). 
Em relação à mão-de-obra empregada, há uma divergência entre as 
instituições públicas e sindicais, no que se refere ao trabalho permanente utilizado 
na agricultura familiar, uma vez que, segundo a FAO e o INCRA, a agriculturafamiliar 
apresenta apenas um empregado permanente. Para o PRONAF, a agricultura 
familiar é a aquela que apresenta até dois empregados permanentes, cultivando área 
inferior a quatro módulos rurais. Por fi m, para a Confederação Nacional dos 
Trabalhadores Rurais (CONTAG), a agricultura familiar não contrata força de trabalho 
permanente, e se realiza em menos de quatro módulos rurais. Na agricultura familiar, 
a diversidade e a desigualdade na distribuição dos estabelecimentos, como também 
a heterogeneidade da produção, caracterizam o desenvolvimento do setor. A 
Secretaria de Agricultura Familiar, criada pelo Ministério de Desenvolvimento 
Agrário, separa os agricultores familiares em três grupos: 
a) os que estão integrados ao mercado, classificados como capitalizados; 
b) os descapitalizados ou em fase de transição, que possuem algum nível 
de produção para o mercado; 
c) os assalariados agrícolas e não-agrícolas, que moram no campo e têm 
quase toda produção agropecuária voltada ao autoconsumo. 
Segundo pesquisa do Ministério de Desenvolvimento Agrário, o primeiro grupo 
responde por 71% do valor da produção familiar, representando cerca de 800.000 
estabelecimentos; o segundo é responsável por 19% do valor da produção familiar, 
formado por 1.400.000 estabelecimentos e o último produz 10% do valor da produção 
familiar e corresponde à cerca de 1.900.000 estabelecimentos, o que significa dizer 
que a maioria dos agricultores não está inserida no mercado e que sua produção é 
para suprir as suas necessidades. 
Os estudos da FAO/INCRA, em 1995/6, revelam que 85,2% dos 
estabelecimentos pertencem a agricultores familiares, que ocupavam uma área 
equivalente a 30,5% da área total do campo, recebiam 25% do crédito destinado à 
 
 
71 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
agricultura e respondiam por 37,9% do valor bruto da produção agropecuária no país. 
Esses dados indicam que certos fatores, principalmente no que se refere ao esforço 
familiar, permitiram aos agricultores a superação das barreiras e problemas 
estruturais na geração de renda e na produção de alimentos e de matérias-primas. 
O mesmo estudo também registra a expulsão de mais de um milhão de 
trabalhadores, no período compreendido entre 1985 a 1995, que se traduz em 
conflitos agrários e tensão social no campo e nas cidades. A partir desse estudo, 
pode-se afirmar que a agricultura brasileira está assentada em dois modelos de 
produção agrícola: o patronal e o familiar. 
Nesse sentido, podemos ressaltar a importância da agricultura patronal, que 
gera divisas para nosso país essenciais na balança de pagamentos, mas é preciso 
desmitificar e desmascarar o mito segundo o qual os grandes produtores são os 
responsáveis pela maior parte da produção agrícola. Mito que tem levado a escolha 
de políticas públicas voltadas para os grandes proprietários, os CAIS, as 
agroindústrias, crédito, assistência técnica, preço mínimo entre outros. Dessa forma, 
esse modelo de política está ligado às oligarquias regionais ao invés de se ligar aos 
pequenos agricultores, provocando o êxodo rural e conflitos no campo. O mito de 
que a agricultura patronal é mais adequada, sendo responsável pela maior parte da 
produção de alimentos e viável economicamente não corresponde à realidade, pois 
os dados têm mostrado que 80% da produção total agrícola é produzida pelos 
pequenos e médios produtores (OLIVEIRA, 2002). O Brasil é o país que apresenta 
maior concentração de renda do mundo, em todos os setores da economia, por isso 
é fundamental uma reforma agrária mais ampla amparada por uma política agrícola 
eficaz, principalmente para a agricultura familiar. 
 
Agricultura e energia 
Os problemas ambientais globais estão diretamente ligados à matriz 
energética vigente, provenientes dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo) 
têm produzido consequências graves à dinâmica ambiental planetária, como o 
aumento da temperatura, poluição hidrológica, poluição pedológica, poluição 
atmosférica, destruição da fauna e flora, etc. Este cenário apresenta várias 
possibilidades e necessidades de pensarmos uma nova matriz energética 
estruturada e planejada em bases sustentável e viável socialmente, economicamente 
 
 
72 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
e ambientalmente. Nesse sentido, a produção de biocombustíveis a partir de 
produtos agrícolas, tem sido apontada como uma das alternativas para reduzir a 
devastação ambiental. 
Deste modo, é preciso uma política agrícola que insira a produção dos 
biocombustíveis no viés da sustentabilidade para não repetirmos os mesmo 
problemas causados pelas medidas políticas como a do Proálcool, criado durante o 
governo militar. Com isso, traçaremos um breve retrospecto do Proálcool e de suas 
novas perspectivas que se inserem na política do Biodiesel implantada 
recentemente no Brasil. 
O Proálcool 
O Programa Nacional do Álcool foi criado em 1975, na ditadura militar, durante 
o governo Ernesto Geisel para diminuir importação de combustíveis (gasolina, óleo 
diesel). Entretanto, o projeto do Proálcool recebeu muitas críticas pelos diversos 
setores da sociedade como a que enfatiza que o álcool produzido só foi utilizado para 
substituir a gasolina, em vez de substituir o óleo diesel usado pelos transportes 
coletivos e de carga, uma vez que o óleo diesel é muito mais poluente que a gasolina. 
Outra critica bastante contundente, é a de que o Proálcool não incluiu os pequenos 
agricultores e apenas os grandes proprietários ligados às oligarquias regionais. 
Desse modo, esse projeto contribuiu na ampliação e concentração de terras, ainda 
contribuiu para a extinção de varias áreas de produtos de subsistência como o feijão, 
mandioca, milho etc. Nesse contexto, também podemos destacar as questões 
ambientais, que segundo especialistas, a queimada efetivada nas lavouras de cana-
de-açúcar provoca emissão de gases como CO2, metano entre outros. Tais gases 
emitidos provocam danos à saúde humana, principalmente problemas respiratórios 
e outras consequências como empobrecimento dos solos, poluição dos corpos 
d’água causada pelo vinhoto que é despejado nos rios in natura pelas 
agroindústrias, exterminando várias espécies lacustres. Além dos fatores citados, 
destaca-se a exploração do trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar. 
Apesar dos problemas citados, no momento atual, o país vive um grande 
crescimento da produção dos canaviais na tentativa de criar uma fonte alternativa de 
energia. O plantio avança nas grandes regiões brasileiras e não apenas em áreas 
tradicionais. Ao contrário do que ocorreu nos anos 1970, quando o governo 
encontrou no álcool a solução para enfrentar a crise do petróleo. A produção de 
 
 
73 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
açúcar é um segmento de iniciativa privada, segmento esse que acredita que o álcool 
assumirá papel relevante na questão energética no Brasil. Desse modo, as 
perspectivas de elevação do consumo do álcool se somam a um momento favorável 
para o aumento das exportações do açúcar, e o resultado é o início de uma onda de 
crescimento sem precedentes para o setor sucroalcooleiro conforme gráficos 1 e 2 
que seguem: 
 
Gráfico 1 – Evolução da área e produtividade da cana-de-açúcar brasileira 
 
. 
O biodiesel 
O biodiesel no Brasil passou a ser estudado na década de 1920 e ganhou 
destaque nos anos de 1970 com a criação do Pró-óleo – Plano de Produção de Óleos 
 
 
74 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Vegetais para Fins Energéticos, que surgiu no início da primeira crise do petróleo. 
Nos anos de 1980, passou para Programa Nacional de Óleos Vegetais para Fins 
Energéticos, que visava substituir até 30% do óleo diesel, apoiado na produção de 
soja, amendoim, colzae girassol. No entanto, esse programa sofreu uma 
desaceleração devido à estabilização do preço do petróleo, a entrada do Proálcool e 
os altos custos na produção e processamento das oleaginosas. 
As pesquisas e uso do biodiesel retornam ao cenário recente devido à 
necessidade de buscar uma nova matriz energética, pois as questões ambientais 
colocam em xeque a sustentabilidade do padrão atual. 
Na produção do biodiesel podem ser utilizadas várias matérias-primas, dentre 
as principais matérias utilizadas para produção do biodiesel estão oleaginosas como 
o algodão, o amendoim, o dendê, o girassol, a mamona, o pinhão manso e a soja. 
São também consideradas matérias-primas para biocombustíveis os óleos de 
descarte, as gorduras animais e os óleos já utilizados em frituras de alimentos. As 
oleaginosas apresentam características específicas de acordo com o solo, o clima e 
as tecnologias utilizadas. No quadro abaixo, podemos visualizar algumas 
características de acordo com as regiões produtoras. 
 
Quadro 1 – Caracterização das principais oleaginosas com potencial para 
produção de biodiesel no Brasil 
Fonte: adaptada de Meirelles (2003 apud BIODIESEL..., 2007, p.30). 
 
 
75 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
Figura 1 – Potencialidade brasileira para produção de oleaginosas 
Fonte: adaptada de Meirelles e Zoneamento de risco climático, MAPA (2003 
apud SEBRAE, 2007, p.31). 
Em 2002, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso 
de Biodiesel (PNPB), cujo objetivo principal em termos técnicos (econômico e 
ambiental) é obter uma produção sustentável e seu uso no mercado brasileiro. Como 
objetivo específico a inclusão social e o desenvolvimento regional direcionado para 
agricultura familiar. Para alcançar esses objetivos esta política terá vários ministérios 
trabalhando em sintonia, além de suas autarquias federais. 
O etanol produzido através da cana-de-açúcar pode ser uma das alternativas 
para a diminuição da emissão de gases e partículas que comprometem o 
geossistema planetário e a saúde humana. A cana-de-açúcar sempre foi e, ainda, 
continua sendo um produto importante para o Brasil, desde o processo de 
colonização de exploração implantada pelos países europeus (Portugal, Holanda, 
Inglaterra). 
Atualmente, a cana-de-açúcar tem suscitado debates calorosos a respeito do 
seu uso como combustível potencial para enfrentarmos a crise ambiental e social 
que assola a sociedade mundial, e, em especifico, a sociedade brasileira. Com isso, 
 
 
76 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
aliado a políticas de incentivo nota-se o crescimento da produção de cana-de-açúcar 
ao longo dos últimos anos conforme gráfico 1. 
No período da ditadura militar, nos anos de 1975, foi implantado o Proálcool 
com o intuito de tornar o país independente na produção de energia, projeto que não 
teve grande sucesso, mas deixou um legado tecnológico considerável. Claro que 
este projeto intensificou a crise no campo brasileiro, devido à política governamental, 
priorizando os grandes latifundiários em detrimento da valorização do pequeno 
agricultor. 
 
 
Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB 
O Governo Federal para atingir os objetivos propostos pelo Programa 
Nacional de Produção e Uso do Biodiesel integrado à agricultura familiar utilizará 
alguns instrumentos, dentre esses destacam-se: 
• a criação de mercado compulsório; 
• a isenção fiscal total ou parcial de tributos federais; 
• padronização do ICMS; 
• subsídios financeiros e etc. 
Além desses instrumentos, o governo criou uma legislação específica para dar 
suporte e segurança jurídica ao projeto e garantir a demanda da parte do biodiesel 
produzido no país, independente do custo de produção e de transação. Além disso, 
o governo federal determinou um prazo para introdução do biodiesel no mercado 
brasileiro; prazo que inicia em 2008 e vai até 2012. Nesse intervalo de tempo, será 
obrigatório o uso de 2% do biodiesel ao óleo diesel e a partir de 2013 será obrigatório 
o uso de 5%. Outra medida anunciada pelo governo se dá no âmbito fiscal, a criação 
da Lei n.116/2005 que dispõem sobre a desoneração total ou parcial dos tributos 
federais sobre o biodiesel (PIS, PASEP E COFINS). A proposta inicial de isenção do 
governo resume-se conforme a tabela abaixo: 
Tabela 1 – Isenção fiscal para a produção de oleaginosas 
REDUÇÃO MATÉRIA-PRIMA SETORES E REGIÃO 
DESTINADA 
31% Palma e mamona Agronegócio nas regiões norte, 
nordeste e semi-árido 
 
 
77 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
68% Qualquer Oleaginosas Todas as regiões brasileiras 
100% Palma e mamona Regiões norte, nordeste e 
semiárido. 
Fonte: adaptado de Garcia Junior e Romeiro (2009, p. 64). 
 
Em relação à tributação estadual o governo estabeleceu uma alíquota de 12% 
para o ICMS (Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços) em todo o 
território brasileiro. No que se refere à agricultura, o MDA (Ministério do 
Desenvolvimento Agrário) criou instrumentos para o financiamento da produção de 
oleaginosas as quais foram inseridas ao PRONAF (Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar) que se subdivide em: PRONAF biodiesel, 
PRONAF agroindústria, PRONAF infraestrutura e por último o PRONAF 
diversificação, capacitação, assistência técnica e extensão rural, inovação e 
insumos. Além dessas medidas, o governou criou o Programa Financeiro a 
Investimentos em Biodiesel para grandes investidores, no qual será financiado pelo 
BNDES e, também, criou o selo combustível social que será concedido pelo MDA 
aos produtores agroindustriais de biodiesel. 
O PNPB tem gerado amplo debate na agricultura brasileira se constituindo 
tema relevante da economia. No entanto, cabe destacar que o projeto tem sido alvo 
de diversas críticas em que podemos citar alguns fatores positivos e fragilidades. 
Entre os fatores positivos, considera-se que o projeto é viável socioeconomicamente 
e ambientalmente e, ainda, insere a agricultura familiar ao agronegócio, 
possibilitando novas relações entre o setor industrial e os produtores familiares. No 
que se refere às fragilidades, destaca-se a ausência de uma política especifica de 
apoio a organização da produção ligada a agricultura familiar (GARCIA; ROMEIRO, 
2009). Portanto, o PNPB abre oportunidades tanto para o setor agrícola como para 
o setor industrial e há também possibilidades de abertura de novos mercados em 
escala local e global, tanto em bens quanto em tecnologias, pois o Brasil é pioneiro 
no setor de biocombustíveis. No país são apontados diversos benefícios com a 
produção de biodiesel, conforme podemos visualizar na figura abaixo: 
 
 
78 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
 
 
Panorama atual do biodiesel no Brasil 
A produção de biodiesel ainda é incipiente no Brasil quando comparada a 
outros países, mas as políticas ligadas ao biocombustível têm sido bastante 
estimuladas financeiramente com várias linhas de crédito, tanto para o setor industrial 
quanto para a agricultura familiar. 
Um problema do biodiesel é garantir sua competitividade perante o óleo diesel 
de petróleo, tendo em vista os elevados custos de produção do biocombustível. O 
Ministério da Agricultura aponta que as atuais tecnologias de fabricação de 
bioenergia ainda dependem muito da cotação do barril de petróleo. Exceto pelo caso 
do álcool, outros biocombustíveis só devem se viabilizar se os preços internacionais 
do petróleo se mantiverem altos. No Brasil, uma das principais vantagens 
competitivas em relação a outros países é a perspectiva de incorporação de áreas à 
agricultura de energia sem competição com a agricultura de alimentos, além da 
possibilidade de múltiplos cultivos no mesmo ano. 
 
 
79www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Agricultura e trabalho 
Retrospecto do trabalho rural no Brasil 
Atualmente, vimos que o trabalho humano é fruto de várias transformações 
que o mundo passou no último século, esse é fruto das relações econômicas, sociais 
e políticas. 
O mundo rural não é mais um espaço isolado sobre o qual se desenvolve um 
conjunto de atividades agropecuárias. O isolamento não mais existe, pelo menos em 
grande parte do território nacional. Estamos caminhando em direção a uma 
sociedade de forte complementaridade urbano-rural. Nesse contexto, torna-se 
interessante resgatarmos um pouco da história do trabalho rural no país para 
compreendermos quem são os atores responsáveis por importante parte da riqueza 
gerada no campo brasileiro. 
O tipo de colonização que foi empregada no país marcou profundamente as 
relações de trabalho, os colonizadores vieram com o objetivo de enriquecimento 
rápido à custa da exploração dos recursos naturais e do trabalho (inicialmente 
indígena e, no segundo momento, escravo africano). 
O Brasil colônia foi marcado pela grande propriedade, pela monocultura de 
exportação e o trabalho escravo. Nesse contexto, outras formas de exploração da 
natureza como a pecuária extensiva e as pequenas lavouras constituíram-se como 
atividades marginais, subordinadas a economia colonial que originaram a agricultura 
familiar de subsistência. 
Nas últimas décadas do século XX, constituí-se o mercado de trabalho 
brasileiro capitalista formado por trabalhadores livres, trabalhadores escravos recém 
libertos e imigrantes europeus. A mão de obra imigrante foi importante e permitiu o 
desenvolvimento da cafeicultura e de outras atividades agrícolas e não-agrícolas. 
Atualmente, temos diferentes relações de trabalho no campo e 
caracterizaremos as relações mais significativas que se dão no campo brasileiro. 
 
Relações de trabalho no campo brasileiro 
Segundo Oliveira (2002), as relações de trabalho no campo brasileiro têm 
caráter dual e contraditório. Essas relações estão pautadas em características 
capitalistas (trabalho assalariado) e não-capitalistas (parceria, trabalho familiar 
camponês etc). Este caráter contraditório e dual do capitalismo é essencial para sua 
 
 
80 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
produção e reprodução, pois os capitalistas passam a não investir capital na 
contratação de mão de obra remunerada, ou seja, trabalho assalariado utilizado em 
suas propriedades e nas áreas de expansão agrícola. Dessa maneira, os capitalistas 
passam utilizar relações de trabalho não-capitalistas para acumular capital, como 
exemplo, podemos citar a parceria e o arrendamento. Essas duas formas de trabalho 
são muito utilizadas nas áreas de fronteira. 
Na prática, o capitalista do grande proprietário contrata alguns parceiros para 
desmatar parte de suas terras, recebendo pelo trabalho parte da madeira retirada e 
o direito de cultivar a terra por dois a três anos e, logo depois, semeia capim para 
seu rebanho. Esse tipo de relação permite que o capitalista adquira capital sem 
utilizar relações de trabalho essencialmente capitalista como pontua Oliveira (2002, 
p. 48): 
[...] o processo de desenvolvimento desigual e contraditório do capitalismo 
particularmente no campo é que estamos diante da sujeição da renda da terra ao 
capital o que significa dizer que o capital não expande de forma absoluta o trabalho 
assalariado sua relação de trabalho típica, por todo canto e lugar, destruindo de 
forma total e absoluta o trabalho familiar camponês. Ao contrário, ele o capital, o cria 
e recria para que sua reprodução seja possível, e com ela possa haver também o 
aumento, a criação de mais capitalista. 
Portanto, o desenvolvimento capitalista no campo brasileiro é movido por suas 
contradições. Esse, portanto, é essencialmente contraditório e desigual, significando 
dizer que para que seu desenvolvimento seja possível ele tem que aparentar 
aspectos contraditórios para sua reprodução. 
 
A transformação dos agricultores em capitalistas 
A transformação dos agricultores em capitalistas do campo teve início na fase 
do capitalismo comercial (mercantilismo). Cabe ressaltar que esse processo continua 
a existir desde seus primórdios, através das tecnologias ligadas ao campo (máquina, 
fertilizantes, sementes selecionadas, agrotóxicos, transportes e etc.) essas 
tecnologias estão à disposição das famílias, criando possibilidade para aumentar sua 
produção gerando um excedente. Esse excedente será vendido, aumentando a 
renda dos trabalhadores do campo. Tal fato permitirá que os trabalhadores adquiram 
mais novas tecnologias, produzam mais, acumulem mais. Esse processo permite que 
 
 
81 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
os agricultores, que antes produziam apenas sua subsistência, empreguem 
trabalhadores assalariados em suas terras. Nesse caso, as famílias passam a 
exercer outras funções, não essencialmente agrícolas na administração dos bens, 
comercialização dos produtos, tornando-se assim, capitalistas. 
 
A organização da produção da agricultura brasileira e relações de 
trabalho 
Na organização da produção da agricultura, podemos evidenciar 4 relações 
que se destacam na literatura brasileira em relação ao trabalho no campo, são elas: 
o latifúndio, a unidade familiar produtora de mercadorias, a unidade familiar de 
subsistência e a empresa agropecuária capitalista, incluindo os complexos 
agroindustriais - CAIs. 
1) O latifúndio – São grandes extensões de terra voltadas para a 
produção agrícola para o mercado interno e, principalmente, para o externo. Nessas 
grandes propriedades, a força de trabalho é diversificada classificando-as em: 
trabalho assalariado, parceiro, morador ou agregado, boia-fria ou diarista e o 
arrendatário. 
a) Trabalhador assalariado – Trabalhador rural que recebe salário mensal 
em dinheiro para prestar serviço nas propriedades. Este trabalhador pode possuir 
vínculo trabalhista. 
Relação de trabalho tipicamente capitalista. 
b) Parceiro – Trabalhador que mediante um acordo realizado entre ele e o 
proprietário da terra utiliza a propriedade dividindo a produção com o dono da terra. 
As formas mais usuais são a meia, a terça, a quarta entre outros. Esse tipo de 
parceria predomina nas lavouras temporárias. 
c) Morador ou agregado – Trabalhador rural que vive em grandes 
propriedades com sua família, produzindo para subsistência e prestando serviço para 
o proprietário da terra. 
d) Boia-fria ou diarista – Trabalhador rural temporário assalariado, 
geralmente não possui vínculo empregatício. 
e) Arrendatário – Trabalhador que aluga ou arrenda a terra de um 
proprietário mediante pagamento em dinheiro, prestação de serviço ou em 
mercadorias. Este se divide em pequenos arrendatários que se assemelham aos 
 
 
82 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
parceiros, predominando o trabalho familiar e os grandes arrendatários que usam 
tecnologia, trabalho assalariado e grandes extensões de terras. 
2) A unidade familiar produtora de mercadorias – A produção é 
realizada por pequenos proprietários e arrendatários, visando abastecer o mercado 
e prevalecendo o trabalho familiar. Entretanto, há eventual contratação de mão de 
obra complementar mediante salários. Vale destacar que essas unidades passam 
por dificuldade devido à concorrência da grande empresa capitalista. Em muitos 
casos para a sobrevivência da unidade utiliza-se trabalho infantil (conforme o gráfico 
1) e feminino em jornadas exaustivas. 
3) A unidade familiar de subsistência - Unidade característica por 
pequenos proprietários ou minifundiários, pequenos arrendatários, parceiros, 
moradores ou agregados, posseiros. O trabalho empregado é familiar visando 
apenas à sobrevivência, ou seja, a supressãodas necessidades básicas da unidade. 
Uma das características da unidade é a venda da força de trabalho temporariamente 
para complementar a renda em lavouras temporárias nos grandes plantios. 
4) A empresa agropecuária capitalista incluindo os CAIs – A partir dos 
anos 1950/60, observa-se o processo de industrialização da agricultura brasileira. 
Nessa fase, a agricultura brasileira mecaniza-se e passa a fornecer matérias-primas 
para as indústrias. Nesse momento, verifica-se a passagem do complexo 
agrocomercial para o complexo agroindustrial, ou seja, os CAIs que são 
implementados através de investimentos estrangeiros. As relações de trabalho 
capitalista expandem-se na agricultura e em outros setores, estimulando mão de obra 
especializada não-agrícola como tratorista, técnico agrícola, administrador, operador 
de máquinas etc. 
 
00 , 60 
Distribuição das crianças de 10 a 14 anos que trabalham, 
segundo sua situação de domicílio 
Urbana Rural 
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 
50 , 00 
40 , 00 
30 , 00 
, 20 00 
10 , 00 
0 , 00 
 
 
83 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Gráfico 1 – Distribuição das crianças de 10 a 14 anos de idade por situação 
de ocupação e local de residência 
Na atualidade, a agricultura mundial encontra-se subordinada a agroindústria. 
Para alguns especialistas, a agricultura tradicional está sendo substituída pela 
indústria. Os dados apresentados pelos diversos estudos mostram que o pessoal 
ocupado na agricultura brasileira concentra-se nas propriedades de até 99 ha, 
conforme podemos observar no gráfico 2. 
 
Gráfico 2 – Pessoal ocupado na agropecuária por grupo de área dos 
estabelecimentos 
 
Gênero e relações de trabalho na agricultura 
No meio rural, as desigualdades de gênero não se inscrevem num conjunto 
de outras desigualdades sociais. As más condições de vida e de acesso à políticas 
públicas, principalmente nas regiões mais pobres do país, acentuam as 
desigualdades específicas de gênero. Nesse sentido, embora afete todos os 
moradores das áreas rurais, a falta de infraestrutura atinge, em especial, as 
mulheres. Contudo, a participação da mulher no trabalho tem se acentuado conforme 
podemos visualizar nas tabelas (01 e 02). 
Tabela 1 – Indicadores de participação econômica de mulheres e homens. 
Mulheres e homens no mercado de trabalho: indicadores de participação 
econômica – Brasil 
Sexo e 
datas 
PEA 
(milhões) 
Taxa de 
atividade 
Porcentagem 
na PEA 
Mulheres 
1990 22,9 39,2 35,5 
40 ,0% 
15 ,0% 
4 ,2% 
40 ,8% 
De 0 a 9 ha 
De 10 a 99 ha 
De 100 a 999 ha 
De 1.000 ou mais 
GRUPOS DE ÁREA 
 
 
84 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
1993 28,1 47,0 39,6 
1995 30,0 48,1 40,4 
1998 31,3 47,6 40,7 
Homens 
1990 41,6 75,3 64,5 
1993 42,9 76,0 60,4 
1995 44,2 75,3 59,6 
1998 45,6 73,6 59,3 
Fonte: FIBGE, PNAD 
Tabela 2 – Evolução histórica das atividades femininas segundo faixa de idade 
Taxas de atividades femininas segundo faixas de idade 
Faixas de 
idade 
1970 1980 1990 1998 
10 a 14 anos 6,5 8,4 10,6 11,4 
15 a 19 anos 23,6 31,3 41,4 41,6 
20 a 24 anos 27,7 38,5 52,9 61,6 
25 a 29 
anos 
23,1 36,3 52,7 64,5 
30 a 39 
anos 
20,1 35,1 54,7 66,4 
40 a 49 
anos 
19,5 30,7 49,5 62,6 
50 a 59 
anos 
15,4 21,5 34,5 46,6 
60 anos e 
mais 
7,9 7,5 11,5 19,1 
Total 18,2 26,6 39,2 47,5 
Fonte: UNICEF/IBGE,FIBGE/Censo e PNADs 
O trabalho feminino de forma geral, seja no campo ou na cidade, apresenta 
crescimento e embora ainda haja um longo caminho para equilibrar socialmente as 
relações entre homens e mulheres, entre a cidade e o campo, podemos dizer que 
nos últimos anos várias medidas foram tomadas para melhorar a qualidade de vida 
dos trabalhadores rurais. Políticas que se constituem como respostas aos 
 
 
85 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
movimentos sociais dos trabalhadores. Podemos citar políticas especifi cas como o 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) mulher. 
No entanto, tais políticas consideradas importantes ainda são insufi cientes 
diante as desigualdades sociais existentes no país, muitas dessas políticas ainda 
estão em fase de implementação e não podem ainda ser avaliadas criticamente. 
Nesse contexto, os movimentos de mulheres rurais são importantes e constituem 
uma unidade de luta na garantia dos direitos conquistados e na mudança de 
concepção de trabalhadoras rurais como atores sociais e políticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
Referências 
 
ANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências 
Humanas, 1979. 115 p. 
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: 
Ática. 
1995. (Série Princípios). 
_______. O campo brasileiro no fi nal dos anos de 1980. In: STÉDILE, João Pedro 
(Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2002. 322 p. 
ROMEIRO, Juan Ignácio. Questão agrária: latifúndio ou agricultura familiar. São 
Paulo: Moderna, 1998. 
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Anuário 
estatístico da agroenergia. Brasília, DF, 2009. Disponível em: 
<http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 22 out. 2009. 
ANDRADE, Manuel Correia de. A questão da terra na primeira república. In: SILVA, 
Sergio S.; 
SZMRECSÁNY, T. (Org.). História econômica da primeira república. São Paulo: 
Hucitec/ FAPESP/ABHE, 1996. p. 143 – 153. (Coletânea de textos apresentados no 
I Congresso Brasileiro de História Econômica/USP). 
COSTA, Emilia Viotti da. Política de terras no Brasil e nos Estados Unidos. In: 
______. 
Da monarquia à república: momentos decisivos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. São Paulo: Fulgor, 1963. 
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Organizador Emir Sader. 
Rio de Janeiro: Record, 2004. 
INSTITUTO BRASILEIR DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em: 
<www.ibge. 
gov.br>. Acesso em: 
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA. 
Disponível em: 
<http://www.incra.gov.br/>. Acesso em: 13 maio 2009. 
KAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: 
Linha Gráfica, 1998. 588 p. 
 
 
87 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: 
Ática, 1995. (Série Princípios). 
MARTINS, José de Souza Martins. Expropriação e violência: a questão política no 
campo. 3. ed . São Paulo: Hucitec, 1991. 182 p. 
MARTINS, José de Souza. Impasses sociais e políticos em relação à reforma agrária 
e à agricultura familiar no Brasil. Disponível em: <http://nead.org.br/artigodomes>. 
Acesso em: 
5 jan. 2004. 
MONTEIRO, Denise Mattos. Terra e trabalho em perspectiva histórica: um exemplo 
do sertão nordestino (Portalegre - RN). Historia econômica & Historia de empresas, 
ano IV, n. 2, p. 7-33, 2001. 
PRADO JUNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1987. 188p. 
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Hucitec, 1982. 
SILVA, José Graziano da. Estrutura agrária e produção de subsistência na agricultura 
brasileira. São Paulo: Hucitec, 1980. 
SILVA, Ligia Osório. As Leis agrárias e o latifúndio improdutivo. São Paulo em 
Perspectiva, v. II, n. 2, p. 115–125, abr./jun. 1997. 
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafi o ambiental. Rio de Janeiro: Record, 
2004. 
LAWRENCE, Stancy. Brazil surpasses US in new transgenic crop plantings. Revista 
Nature Biotechnology, v. 26, n. 3, mar. 2008. Disponível em: 
<http://www.nature.com/nbt/journal/ v26/n3/index.html>. Acesso em: 8abr. 2009. 
ROSS, Jurandir L. Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001.GARCIA 
JUNIOR, Ruiz; ROMEIRO Ademar Ribeiro. Governança da cadeia produtiva do 
biodiesel brasileiro. Revista de Política Agrícola, ano XVIII, n. 1, jan./mar. 2009. 
SEBRAE. Biodiesel. Brasília, 2007. Disponível em: 
<http://www.biodiesel.gov.br/docs/Cartilha_ Sebrae.pdf>. Acesso em: 22 out. 2009. 
FERNANDES, Bernardo M. MST: movimento dos trabalhadores rurais sem terra: 
formação e territorialização em São Paulo. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. 285 p. 
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: 
Contexto; EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia). 
 
 
88 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
MARTINS, J. de S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo 
e seu lugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1981. 
______. O poder do atraso: ensaios de sociologia da história lenta. 2. ed. São Paulo: 
Hucitec, 1999. 174 p. 
GOFF, Jacques Le. A civilização do ocidente medieval. Lisboa: Estampa, 1984. 
LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade. São Paulo: Melhoramentos, 1982. 
MOURA, Margarida Maria. Camponeses. 2. ed. São Paulo: Ática, 1988. (Série 
Princípios). 
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: 
Ática. 
1995. (Série Princípios). 
SILVA, José F. Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1980. 
CASTELLS, Manuel. O processo histórico de urbanização. In: ______. A questão 
urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. p. 39 – 126. 
CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios). 
ENDLICH, Ângela Maria. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: SPOSITO, M. 
Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relações 
e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 11-31. 
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 
Porto Alegre: Editora Globo, 1975. 
GIDDENS, Anthony. As cidades e o desenvolvimento do urbanismo moderno. In: 
______. 
Sociologia. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. cap. 17. p. 559-594. 
LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. Rio de Janeiro: DP&A, 2001a. 
LEFEBVRE, Henri. O direito a cidade. São Paulo: Centauro. 2001b. 
SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 1996. 
SPOSITO, M. Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e 
campo: relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 
2006. 248 p. 
BECKER, Bertha. Crescimento econômico e estrutura espacial do Brasil. Revista 
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 101-116, 1972. Disponível em: 
 
 
89 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
<http://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/monografi as/GEBIS%20-
%20RJ/RBG/RBG%201972%20v34_n4.pdf>. 
Acesso em: 7 out. 2009. 
LEITE, Sergio et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural 
brasileiro. 
Brasília: Instituto de Cooperação para a agricultura: NEAD; São Paulo: 
UNESP, 2004. 392 p. 
LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra 
prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: 
Contexto; EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia). 
MARTINS, José de Souza. O sujeito da reforma agrária. In: J. S. (Coord.). 
Travessias: a vivência da reforma agrária nos assentamentos. Porto Alegre: UFRGS, 
2003. p. 11-52. 
MARTINS, J. de S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo 
e seu lugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1981. 
MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da 
luta pela terra. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. (Coleção Brasil Urgente). 
STÉDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997. 
ANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências 
Humanas, 1979. 115 p. 
BUANIN, Antonio Márcio; SILVEIRA, José Maria da. Agricultura familiar e tecnologia 
no Brasil. Jornal da Unicamp, ed. 217, jun. 2003. Disponível em: 
<http://www.unicamp.br/unicamp/ unicamp_hoje/ju/junho2003/ju217pg02.html>. 
Acesso em: 29 out. 2009. 
KAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: 
Linha Gráfica, 1998. 
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: 
Ática. 
1995. (Série Princípios). 
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1987. 
 
 
90 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária 
CARNEIRO, Maria José. Agricultura familiar e pluriatividade: tipologias e políticas. In: 
COSTA, L. F. Carvalho; BRUNO, Regina; MOREIRA; J. Roberto (Org.). Mundo rural 
e tempo presente. 
Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 325-344. 
IBGE. PNAD. NEAD. Estatísticas do Meio Rural. 2008. 
OLIVEIRA, A. U. de. O campo brasileiro no fi nal dos anos de 1980. In: STÉDILE, 
João Pedro (Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegra: UFRGS, 2002. 322 p. 
WANDERLEY, Maria Nazaré Baudel. A Agricultura familiar no Brasil: um espaço em 
construção. 
Revista Reforma Agrária, [S.l.], n. 2/3, p. 37-57, mai./dez. 1995. (Agricultura familiar). 
_______. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, João Carlos. 
(Org.). 
Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 2. ed. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. 
p. 21-55. 
______. Agricultura familiar e campesinato: continuidades e rupturas. Revista 
Estudos sociedade e agricultura, CPDA, n. 21, 2003. 
BOEMEKE, L. Rogério. Agroecologia: uma proposta em construção. In: ETGES, 
Virginia Elisabeta (Org.). Desenvolvimento rural: potencialidades em questão. Santa 
Cruz do Sul: EDUNISC, 2001. 139 p. 
CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, J. Antonio. Agroecologia e 
desenvolvimento rural sustentável: perspectivas para um nova extensão rural. In: 
ETGES, Virginia Elisabeta (Org.). Desenvolvimento rural: potencialidades em 
questão. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001. 139 p. 
VIANA, Gilney Amorim; SILVA, Marina; NILO, Diniz. O desafio da sustentabilidade: 
um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
91 
 www.soeducador.com.br 
Geografia agrária

Mais conteúdos dessa disciplina