Buscar

TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO (3)

Prévia do material em texto

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
1. HISTÓRIA: A Justiça do Trabalho surgiu em razão do nascimento do Direito do Trabalho e do grande número de conflitos trabalhistas, cujos primeiros órgãos eram destinados à solução desses conflitos eram eminentemente conciliatórios. 
No início, eram os Juízes de Direito que apreciavam as questões trabalhistas, cujos primeiros órgãos da Justiça do Trabalho Brasileira foram os Tribunais Rurais em 1922 destinados à apreciação das questões trabalhistas.
	Período Pós Revolução de 1930 e início da industrialização brasileira: Ocorrência de diversas mudanças nas relações de trabalho, como a criação das Juntas de Conciliação e Julgamento e as Comissões Mistas de Conciliação, sendo órgãos administrativos vinculados ao Poder Executivo, pois somente a Constituição de 1946 integrou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário, mantendo-se a tradição conciliatória da Justiça do Trabalho e a sua competência para o julgamento de controvérsias havida entre empregados e empregadores e demais relações de trabalho, sendo regulamentada pela Lei Infraconstitucional no seu art. 123, in verbis:
Art. 123: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e, as demais controvérsias oriundas de relações do trabalho regidas por legislação especial. (BRASIL, 1946).
Juízes Classistas: Desde o nascedouro, a Justiça do Trabalho contou com a representação paritária em todos os seus órgãos, sendo os Juízes Classistas Leigos (‘vogais’) recrutados nos Sindicatos que atuavam ao lado de um Juiz com formação jurídica (Togado). Os Juízes Classistas atuavam majoritariamente na fase de conciliação e votavam nos julgamentos, considerando o vasto conhecimento sobre a realidade das categorias (profissional e econômica) representadas.
Havia um representante classista dos empregados e outro dos empregadores nas Juntas de Conciliação e Julgamento, já nos Tribunais Regionais do Trabalho e no Tribunal Superior do Trabalho, os classistas compunham as turmas, sendo em igualdade os representantes dos empregados e dos empregadores, em cumprimento às n
ormas do Processo do Trabalho previstas na CLT que fora idealizada a presença dos Juízes Classistas para o funcionamento dos órgãos da Justiça do Trabalho, ex vi do art. 643 e seguintes.
 
Com o passar dos anos, ante o crescimento dos conflitos trabalhistas, a Justiça do Trabalho fora se tornando mais técnica, desprestigiando a representação classista, pois já não se conhecia mais a realidade das categorias profissional e econômica e, a cada dia, as decisões da Justiça Laboral dependiam mais do conhecimento técnico do Juiz Togado ao invés dos conhecimentos práticos dos Juízes Classistas.
Nesse diapasão, fora promulgada a EC 24/1999 que transformaram as antigas Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho, vez que nesta, nos Tribunais Regionais do Trabalho e no Tribunal Superior do Trabalho somente passam a atuar magistrados com formação jurídica (Juízes Togados). 
	No século XXI, a EC 45/2004 prestigiou a Justiça do Trabalho ao ampliar a sua competência que não se limita à apreciação dos conflitos havidos entre empregado e empregador ou decorrentes da relação de trabalho, abrangendo também aquelas que circundam as relações de emprego (sindicais, greve, entre outras), ex vi do art. 114, CRFB/1988.
2. CONCEITO: “Direito Processual do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, sobre relação de trabalho.” (MARTINS, 2013).
3. PRINCÍPIOS: São as diretrizes básicas de todo o sistema jurídico, verdadeiros alicerces dele, dos quais provém todas as normas e, aplicáveis ao Direito Processual do Trabalho, têm-se os seguintes Princípios: 
1. DEVIDO PROCESSO LEGAL (art. 5º, LIV, CRFB/88): Ninguém será privado da sua liberdade ou dos seus bens sem haver o devido processo legal
2. JUIZ E PROMOTOR NATURAL (art. 5º, LIII, CRFB/88): Todo cidadão tem o direito de ser acusado e julgado por órgão imparcial, previamente constituído conforme determina a Constituição Federal e a Legislação Infraconstitucional, sendo vedada a criação de Tribunais de Exceção (art. 5º, LIII, CRFB/88). Da mesma forma, o Ministério Público é Instituição autônoma e independente não estando vinculada a qualquer outro poder, restando cediça a existência do Promotor Natural pelos mesmos moldes do Juiz Natural.
3. IGUALDADE OU ISONOMIA (art. 5º, caput, CRFB/88 c/c art. 139, CPC): Consiste em tratar os iguais na medida das suas igualdades e os desiguais na medida das suas desigualdades, todavia deve-se assegurar ás Partes processuais a igualdade de tratamento.
4. ACESSO À JUSTIÇA (art. 5º, XXXV, CRFB/88): Trata-se da acessibilidade ao Poder Judiciário conferida ao cidadão como direito fundamental, implicando também que o procedimento seja justo e efetivo. 
5. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA (art. 5º, LV, CRFB/88): Consiste no caráter bilateral do processo, cujo autor propõe a ação (tese), o réu apresenta a defesa (antítese) e o Juiz profere a decisão (síntese), cujas partes têm ciência dos atos processuais e a faculdade de praticar os atos que lhe permite. 
6. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO (art. 5º, LV, CRFB/88): Assenta-se na possibilidade de controle dos atos jurisdicionais dos órgãos inferiores pelos órgãos judiciais superiores e também na possibilidade do cidadão poder recorrer em desfavor de provimento jurisdicional que lhe foi desfavorável, aperfeiçoando com isso, as decisões do Poder Judiciário. 
7. MOTIVAÇÃO DAS DECISÇOES JUDICIAIS (art. 93, IX, CRFB/88): Consiste na obrigatoriedade do Juiz expor as razões de decidir, ou seja, demonstrar as razões de fato e de direito que embasaram a sua decisão. 
8. PUBLICIDADE (art. 93, IX, CRFB/88): É a garantia da sociedade tomar conhecimento acerca da transparência dos julgamentos proferidos pelo Poder Judiciário.
9. VEDAÇÃO DA PROVA ILÍCITA (art. LVI, CRFB/88): No processo não se admite provas obtidas por meios ilícitos.
10. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO (art. 5º, LXXVIII, CRFB/88 c/c art. 765, CLT): Assegura que o Juízo decida em tempo razoável as demandas do seu acervo.
11. PROTECIONISMO PROCESSUAL: Tem a finalidade de assegurar algumas prerrogativas processuais ao trabalhador para compensar eventuais entraves ao procurar a Justiça do Trabalho, devido a sua hipossuficiência econômica e, muitas vezes, à dificuldade de provar as suas alegações, pois, via de regra, os documentos da relação de emprego estão em posse do empregador. 
12. INFORMALIDADE: O sistema processual trabalhista é menos burocrático, mais simples e mais ágil que o sistema processual comum, com linguagem mais acessível ao cidadão não versado em direito, bem como a realização de atos processuais mais objetivos e simples, proporcionando maior participação das partes, celeridade no procedimento e maiores possibilidades de acesso ao trabalhador mais simples. 
13. CONCILIAÇÃO: Tradicionalmente, a Justiça do Trabalho é a Justiça da conciliação, sendo determinação celetista (art. 764, CLT) que os Juízes do Trabalho deverão envidar seus bons ofícios e persuasão para tentar obter a conciliação.
14. ORALIDADE: Conjunto de regras capazes de simplificar o processo, priorizando a palavra falada, com um significativo aumento dos poderes do Juiz na direção do processo, proporcionando maior celeridade ao procedimento e efetividade da jurisdição, destacando o caráter publicista do processo. 
15. IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ: O Juiz que instruiu o processo e que colheu diretamente as provas tem o dever de julgá-lo, pois tomou contato direto com as partes e possui maior capacidade de valorar as provas produzidas nos autos. 
16. PREVALÊNCIA DA PALAVRA ORAL SOBRE A ESCRITA: É priorizado o procedimento de audiência, da qual as razões das partes são aduzidas e as provas colhidas de forma oral, todavia os atos de documentação do processo devem ser escritos. 
17. IMEDIATIDADE DO JUIZ NA COLHEITA DA PROVA: Asprovas devem ser produzidas em audiência, na presença do Juiz do Trabalho, proporcionando-lhe contato direto com as partes, testemunhas e provas, proporcionando-lhe maior conhecimento sobre a causa e melhores possibilidades de realizar a conciliação. 
18. IRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS: Impõe maior celeridade na condução do feito, cujos atos judiciais que decidem questões incidentais do processo são irrecorríveis, podendo somente serem questionadas em sede de recurso cabível das decisões definitivas. 
3. ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO (art. 111 a art. 116, CRFB/88): A Justiça do Trabalho integra o Poder Judiciário da União, com a sua estrutura federalizada (art. 111, CRFB/1988), sendo esta a Justiça Social, pois além de julgar causas trabalhistas, resolvem conflitos sociais onde é notória a desigualdade das partes, cumprindo não só a aplicação da lei, mas decidir com razoabilidade, equilíbrio e justiça. É composta pelos seguintes órgãos: 
1. JUÍZES DO TRABALHO: órgãos de Primeiro Grau de Jurisdição que atuam nas Varas do Trabalho. Obs. Juiz do Trabalho Substituto não é titular, pois substitui ou auxilia o Juiz Titular da Vara do Trabalho, tendo as suas mesmas prerrogativas e deveres. 
O art. 112, CRFB/88 dispõe que a Lei criará Varas do Trabalho e nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, compete ao Juiz de Direito dirimir os conflitos trabalhistas, cabendo recurso das suas decisões ao Tribunal Regional do Trabalho.
O art. 113, CRFB/88 aduz que a Lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho, sendo as garantia do Juiz do Trabalho: I. Vitaliciedade (após dois anos de efetivo exercício o Juiz adquire a vitaliciedade, por meio da qual este apenas perde o seu cargo mediante sentença judicial transitada em julgado); II. Irredutibilidade de Vencimento (Seus subsídios não se reduzem e somente poderão ser majorados mediante lei); III. Inamovibilidade (o Juiz não pode ser removido da comarca/subseção que é titular, salvo a requerimento ou por motivo de interesse público, mediante voto da maioria absoluta do Tribunal ou do Conselho Nacional da Justiça do Trabalho, assegurada a ampla defesa).
Carreira do Juiz do Trabalho: Ingressará na carreira com a aprovação no concurso de provas e títulos como Juiz do Trabalho Substituto, sendo designado pelo Presidente do TRT para auxiliar ou substituir nas Varas do Trabalho, tornando-se vitalício após dois anos de exercício efetivo da magistratura. Alternativamente, por antiguidade ou merecimento, o Juiz Substituto se tornará Juiz Titular da Vara do Trabalho e, posteriormente, pelo mesmo critério, Juiz do TRT, podendo chegar ao cargo de Ministro do TST desde que preencha os requisitos constitucionais.
2. TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (TRT´s): órgãos de Segundo Grau de Jurisdição compostos pelos Juízes dos TRT´s (também denominados Desembargadores Federais do Trabalho por alguns TRT´s, todavia o projeto de lei que altera a denominação de ‘Juiz’ para ‘Desembargador’ ainda está em trâmite no Congresso Nacional), exercendo jurisdição no Estado ou Estados da Federação.
O TRT é composto por Juízes do Trabalho de carreira, promovidos por antiguidade e merecimento, e um quinto dos seus assentos será ocupado por membros do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil, com mais de dez anos de exercício profissional, ex vi do art. 94, CRFB/88.
Competência do TRT: Julgar os Recursos Ordinários interpostos em desfavor das decisões das Varas do Trabalho e, também, via competência originária, as Ações Rescisórias, os Dissídios Coletivos de Greve, Mandados de Segurança impetrados em face de Juízes das Varas do Trabalho, entre outras pretensões previstas em lei e no seu Regimento Interno, ex vi do art. 115, CRFB/88.
Número de TRT´s no Brasil: Há 24 TRT´s. No Estado de São Paulo possuem 02 (TRT da 2ª Região que abrange a Capital Paulista, a Região Metropolitana de São Paulo e a Baixada Santista; e o TRT da 15ª Região, com jurisdição em Campinas e as demais cidades do Interior do Estado de São Paulo).
Obs. Amapá (TRT da 8ª Região, abrangendo os Estados do Amapá e Pará, com sede em Belém-PA); Roraima (TRT da 11ª Região, abrangendo os Estados do Amazonas e Roraima, com sede em Manaus-AM); Acre (TRT da 14ª Região, abrangendo os Estados de Rondônia e Acre, com sede em Porto Velho-RO); e Tocantins (TRT da 10ª Região, abrangendo Brasília, Distrito Federal e o Estado do Tocantins, com sede em Brasília-DF).
3. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST): órgão de cúpula da Justiça do Trabalho Nacional, com jurisdição em todo território brasileiro, sendo o Terceiro Grau de Jurisdição, composto por 27 Ministros, cabendo-lhe uniformizar a interpretação da legislação trabalhista no âmbito da competência da Justiça do Trabalho, cumprindo ainda dar a última palavra nas questões de ordem administrativa da Justiça do Trabalho.
Os Ministros do TST são oriundos dos Juízes dos TRT´s, nomeados pelo Presidente da República após figurarem em listas tríplices elaboradas pelo próprio Tribunal. Salienta-se que um quinto dos Ministros do TST advém do ‘quinto constitucional’, cujos membros da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público do Trabalho, ambos com mais de dez anos de exercício profissional efetivo, ex vi do art. 94, CRFB/88.
Escola Nacional da Magistratura: Funciona junto ao TST, encarregada do aperfeiçoamento dos magistrados trabalhistas. 
Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT): Incumbe ao exercício, na forma da lei, de supervisões administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões possuem efeito vinculante. 
4. SERVIÇOS AUXILIARES DA JUSTIÇA DO TRABALHO: São os servidores e órgãos de auxílio que realizam atos processuais e serviços burocráticos da Justiça, também denominadas Secretarias que auxiliam o Juiz do Trabalho, as Varas do Trabalho e os Tribunais. Obs. Nos Tribunais também possuem Secretarias e funcionários dos gabinetes dos Juízes dos TRT´s e Ministros do TST, encarregados dos serviços de assessoramento, burocráticos e documentação do processo. 
Secretarias: Compostas pelos servidores da Justiça do Trabalho e chefiada pelo Diretor de Secretaria, supervisionado pelo Juiz do Trabalho, dirige os demais funcionários e atende as determinações judiciais, bem como praticar atos da sua competência. 
Composição: Diretor de Secretaria (acima descrita as suas atribuições); Assistente de Diretor (substitui o Diretor de Secretaria em sua ausência); Assistente de Juiz (auxilia diretamente o Juiz do Trabalho); Secretário de Audiências (secretaria as audiências e digita as atas); Assistente de Cálculos (assessora o Juiz do Trabalho na elaboração e conferência de cálculos de liquidação); Oficial de Justiça Avaliador (cumpre as diligências solicitadas pelo Juiz do Trabalho e demais servidores.

Continue navegando