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DIREITOS FUNDAMENTAIS

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DIREITOS FUNDAMENTAIS
1. Tratado Internacional como emenda constitucional
	Tratados internacionais aão acordos internacionais concluídos por escrito entre Estados e/ou Organizações Internacionais regidos pelo Direito Internacional. 
	A assinatura de um Tratado por um Estado denota o seu compromisso de executá-lo dentro do seu território. Em regra, o não cumprimento das prescrições constantes do tratado internacional poderá implicar em consequências internacionais para o país.
	Para que um tratado obrigue o Estado brasileiro internamente ele deverá passar por quatro fases: Assinatura internacional – Aprovação pelo Congresso Nacional – Ratificação e promulgação interna.
	Os tratados internacionais são assinados, no Brasil, pelo Presidente da República, que possui competência privativa para celebrar tratados, convenções e atos internacionais, na forma do artigo 84, VIII, da Constituição Federal. Esses tratados internacionais também estão sujeitos a referendo pelo Congresso Nacional.
	A aprovação do tratado pelo Poder Legislativo, que se dará por meio de Decreto Legislativo, só será exigida quando o tratado, acordo ou ato internacional acarrete encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, de acordo com o artigo 49, I, da Constituição Federal.
	Apesar de aprovado pelo Poder Legislativo, o tratado não está, ainda, apto a gerar efeitos internos. Faz-se necessária a ratificação e depósito junto ao órgão responsável, por exemplo, Secretário-geral da ONU. Tal ato passa a vincular o Estado Brasileiro internacionalmente.
	Só passa a valer internamente, no entanto, com a promulgação, que se dá por meio de um Decreto Executivo do Presidente da República.
	A partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, a Constituição Federal passou a contar com um rito especial para aprovação dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos.
	Diante disso, alcançando o quórum de três quintos dos membros, em dois turnos de votação, em cada casa do Congresso Nacional, o tratado possuirá status de emenda constitucional.
	Por outro lado, não alcançando tal quórum, o status será de supralegalidade (acima das leis, mas abaixo da constituição), sendo esse o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
	
2. ADPF n. 54
	Julgamento de 2012 que desconsidera a interrupção da gestação de feto anencéfalos, seguindo a linha adotada pela medicina, que considera o feto anencéfalo um natimorto cerebral.
	Anencefalia á a malformação congênita do feto, por ausência de crânio e de encéfalo. Segundo a medicina, causa morte em 100% dos casos. A questão consistia em saber se a interrupção da gestação caracterizaria o crime de aborto, previsto no art. 124 do Código Penal.
	A ADPF foi proposta pela Confederação Nacional do Trabalhadores na Saúde, sendo representada pelo atual ministro Luís Roberto Barroso, alegando que:
a) A hipótese em julgamento não configura aborto, que pressupõe a possibilidade de vida do feto.
b) O sistema jurídico não define o início da vida, apenas o fim dela, com a morte encefálica. Na hipótese, não haveria vida, logo, não haveria aborto.
c) As normas do CP que criminalizam o aborto são excepcionais pela aplicação do princípio da dignidade humana (art. 1º da CF).
	O STF julgou procedente o pedido por maioria dos votos (8x2), com os seguintes fundamentos: 
	Min. Marco Aurélio (relator): o feto anecéfalo é incompatível com a vida e por isso não é proporcional defender o feto, que não vai sobreviver, e deixar sem proteção a saúde da mulher, principalmente a mental;
	Min. Rosa Weber: deve-se proteger a liberdade individual e de opção da gestante, pois não há interesse jurídico na defesa de um feto natimorto;
	Min. Luiz Fux: o Código Penal é da década de 40, na época não era possível prever e identificar um feto anencéfalo. Atualmente, trata-se de uma questão de saúde pública, que dever ser respeitada em prol da mulher.
	Min. Cármen Lúcia: considerando que o feto não tem viabilidade fora do útero, deve-se proteger a mulher, que fica traumatizada com o insucesso da gestação.
	Min. Ayres Britto: afirmou que todo aborto é uma interrupção da gestação, mas nem toda interrupção de gestação é um aborto, de modo que não se pode impor à mulher o martírio de gestar um feto anencéfalo.
	Min. Gilmar Mendes: a interrupção da gestação, no caso, tem por finalidade proteger a saúde da gestante e o legislador do Código Penal não possuía elementos para a identificação da anencefalia na gestação.
	Min. Lewandowski: votou pela improcedência do pedido, entendendo que o STF não possui legitimidade para deliberar sobre o caso, apenas o Congresso Nacional, por meio de lei.
	Min. Joaquim Barbosa: acompanhou o voto do relator.
	Min. Celso de Mello: não se trata do aborto previsto no Código Penal, pois o feto sem cérebro não está viso e sua morte não tem por origem alguma prática abortiva.
	Min. Cezar Peluso: votou pela improcedência do pedido, afirmando que o feto anencéfalo é um ser vivo e, por conseguinte, a interrupção da gestação caracteriza o aborto.
	Min. Dias Toffoli: não participou do julgamento, pois atuara na condição de Advogado Geral da União.
	O STF atuou como legislador positivo, ao acrescentar uma modalidade nova ao art. 128 do CP (que prevê o aborto apenas no caso de salvar a vida da gestante e no caso de abuso sexual), que exclui a hipótese de crime de aborto quando se tratar de feto anencéfalo.
	Ainda, não se trata de uma obrigação ou dever da mulher de interromper a gestação. O STF apenas autoriza e faculta a prática da cessação da gestação, ao nuto de mulher grávida, em prol da sua dignidade e a fim de minorar seu sofrimento – de saber que o feto não terá viabilidade.
3. ADI 4275	
	Trata da possibilidade de alteração de nome e gênero no assento de Registro Civil da pessoa transgênero, mesmo que essa não tenha se submetido à cirurgia de redesignação de gênero.
	O tema está inserido no macrotema dos direitos da personalidade. aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais.
	Por tal definição, podemos extrair que, no grupo dos direitos da personalidade, estão abrangidos os direitos à integridade física, o direito à honra, o direito à imagem, o direito à privacidade, entre outros tantos.
	Segundo ficou consignado no julgamento, ocorrido em 01/03/2018, a pessoa transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e gênero no assento do Registro Civil.
	Nesse julgamento, o STF analisou a constitucionalidade ou não do disposto no art. 58 da Lei de Registros Públicos, Lei n. 6.015/1973. Tal dispositivo de lei é decorrência de um princípio maior, o chamado “princípio da continuidade dos Assentos de Registro Civil”, ou seja, o que foi inserido em um Registro Público (Registro Civil) deve assim permanecer, salvo em situações excepcionais disciplinadas em lei.
	O Supremo, na análise da ADI 4275/DF, deu interpretação conforme a Constituição a esse dispositivo de lei, afastando do nosso ordenamento jurídico por inconstitucionalidade qualquer interpretação que venha a proibir que um transgênero possa alterar seu prenome e gênero no assento do Registro Civil, adequando, assim, seu nome e gênero registrais ao gênero ao qual o sujeito se identifica.
	Importantíssimo foi o conteúdo de tal decisão que, além de estabelecer que o transgênero tem o direito de alterar seu prenome e seu gênero na certidão de nascimento, também consignou que essa possibilidade não está condicionada à prévia cirurgia de transgenitalização.
	Assim foi o voto:
	Por unanimidade todos os ministros da Corte reconheceram o direito, e a maioria entendeu que, para a alteração, não é necessária autorização judicial. Votaram nesse sentido os ministros Edson Fachin, Luiz Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e a presidente da Corte, Cármen Lúcia. Ficaram vencidos, nesse ponto, o ministro Marco Aurélio (relator), que considerou necessário procedimento de jurisdição voluntária e, em menor extensão, os ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, queexigiam autorização judicial para a alteração. 
	Assegurando a execução de direitos independentemente de orientação sexual, de gênero, ou qualquer outra variante de manifestação humana. Foi legitimado, assim, a igualdade perante a lei, a liberdades individuais dos diversos entes sociais, o direito ao desenvolvimento pessoal no tange as mais variadas esferas humana. Visto foi, que fica assegurado aos transgêneros o direito a autoafirmação e da proteção da honra e imagem, garantindo-lhes a adequação de seus registros à sua identificação autopercebida, sem qualquer procedimento que venha constrange-lo (pautado nos princípios supracitados) ou impedir suas escolhas pessoais no que tange ao nome e gênero no registro civil.
4. HC 82.424
	Siegfried Ellwanger Castan”, após a publicação de livros sobre a Segunda Guerra Mundial, tema esse em que havia feito profundas pesquisas, com ênfase no Holocausto, e a vida nos campos de concentração nazifascistas na Alemanha e Polônia, chegando a visitar esses locais, isso retratado em um de seus livros, a seguir citado, foi denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, sob a suspeita da pratica do crime de racismo, onde foi absolvido em primeira instancia, e condenado em segunda, recorreu também ao Superior Tribunal de Justiça, impetrando um habeas corpus, o qual lhe foi indeferido, sendo mantida a decisão do TJRS.
	Diante de tal negativa, recorreu ao Supremo Tribunal Federal, onde após seções suspensas e marcada por debates, a corte também lhe negou habeas corpus, sendo mantida aquela condenação em segunda instancia. O julgado teve grande repercussão na impressa nacional e internacional, haja vista que tal crime cometido é combatido com veemência por organismos internacionais. 
	Antes de conhecermos, as acusações propriamente contra Ellwanger, precisamos ter em mente a palavra antissemitismo, ou seja, ódio e preconceito ao povo judeu. Etimologicamente, a palavra antissemitismo significa “aversão aos semitas” que, de acordo com a Bíblia cristã, são os descendentes de “Sem”, o filho mais velho de Noé. Os semitas, ainda englobam outras etnias como os hebreus e fenícios.
	Importante salientar que nossa Constituição Federal, no seu “art. 5º, XLII, já preceitua que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.
	Atentamos novamente a nossa Carta Magna, a qual também prevê o direito a crença no seu art. 5º inciso VI, inclusive garantindo e protegendo o livre exercício dos cultos religiosos. Além disso, o direito a crença, vem muito antes do Direito Positivado, defendida por correntes jusnaturalistas, que o direito a crença já nasce com o homem. 
	O Min. Moreira Alves disse em seu voto: os judeus não podem ser considerados uma raça, ao citar extensa literatura sobre o tema “racismo”. Assim, o ministro concedeu a ordem, entendendo que o crime de racismo não alcança toda e qualquer forma de preconceito ou discriminação, devendo merecer interpretação estrita. O ministro declarou extinta a punibilidade de Ellwanger, pois já teria ocorrido a prescrição do crime. Ainda de acordo com o ministro, o crime não pode ser qualificado como delito de racismo. 
	O Ministro Maurício Corrêa disse: o conceito de raça não pode resumir-se à semelhança de características físicas, devendo ser adotada em suas mais diversas formas, seja porquê - como é notório - a doutrina nazista defendida e incentivada pelas publicações, não só reputa aos judeus uma raça, como baseia todo o seu segregacionismo nessa convicção.
	O ministro Celso de Mello: torna-se imperioso, a partir da consciência universal que se forjou no espírito de todos em torno do valor essencial dos direitos fundamentais da pessoa humana, reagir contra essas situações de opressão, degradação, discriminação, exclusão e humilhação que provocam a injusta marginalização, dentre outros, de grupos étnicos, nacionais e confessionais. Em seguida, o Ministro sustenta que a noção de racismo não se resume a um conceito de ordem estritamente antropológica ou biológica, projetando-se, ao contrário, numa dimensão abertamente cultural e sociológica. Expôs que a prerrogativa concernente à liberdade de manifestação do pensamento, por mais abrangente que deva ser o seu campo de incidência, não constitui meio que possa legitimar a exteriorização de propósitos criminosos, especialmente quando as expressões de ódio racial, veiculadas com evidente superação dos limites da crítica política ou da opinião histórica, transgridem, de modo inaceitável, valores tutelados pela própria ordem constitucional. Diante desta exposição, o ilustríssimo Ministro indeferiu o pedido de Habeas Corpus formulado por Siegfried Ellwanger, mantendo, em consequência, a condenação penal que lhe fora imposta pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
	Ministro Gilmar Mendes: O ministro inicia seu voto constatando que “a questão central trazida à análise do Supremo Tribunal Federal gira em torno do alcance do termo “racismo” empregado pelo constituinte no art. 5º, inciso XLII, para se considerar ou não imprescritível a conduta anti-semita atribuída ao paciente”. Gilmar Mendes faz então uma análise histórica do conceito de racismo e da inicial diferenciação pseudo-científica das raças, concluindo que “do ponto de vista estritamente histórico, não há como negar o caráter racista do anti-semitismo”. Ele toma por base diversos textos de diversos autores, dentre eles os dizeres de Norberto Bobbio, o qual faz menção às idéias nazistas e, portanto, anti-semitas, adotadas pelo governo de Hitler, na Alemanha, sendo elas: “os judeus são diferentes dos arianos”; “os arianos são uma raça superior”; “as raças superiores devem dominar as inferiores, e até mesmo eliminá-las quando isto for necessário para a própria conservação”. O Ministro segue dizendo que diversos instrumentos internacionais subscritos pelo Brasil deixam claro o compromisso no combate ao racismo em todas as suas formas de manifestação, inclusive o anti-semitismo. A conclusão final é a de que “o conceito jurídico de racismo não se divorcia do conceito histórico, sociológico e cultural assente em referências supostamente raciais, aqui incluído o anti-semitismo”.
	Ministro Carlos Velloso: aponta que a questão a ser resolvida é se a prática do antissemitismo pode ou não ser considerada racismo. Diz que o sequenciamento do genoma humano demonstra que não há de se falar em raça em termos biológicos. Destarte, somos todos integrantes da raça humana. Nessa mesma linha de raciocínio, registra que é justamente o tratamento discriminatório, hostil, preconceituoso, relativamente aos diferentes grupos humanos, que caracteriza o racismo, o qual a Constituição não tolera, porque representa forma grave de desrespeito aos direitos humanos. Caracterizou o racismo como todo e qualquer comportamento preconceituoso, hostil, relativamente a grupos humanos, a pessoas, em razão, por exemplo, da cor de sua pele ou de sua religião, e menciona um trecho do parecer de Celso Lafer, relativo à matéria em questão, no qual o jurista bem acentua: “Os judeus não são uma raça, como não são uma raça os negros, os índios, os ciganos ou quaisquer outros grupos humanos. O racismo constitui-se no atribuir a seres humanos características “raciais” para instaurar a desigualdade e a discriminação”. Por fim, em relação à liberdade de expressão, destacou que esta não pode sobrepor-se à dignidade da pessoa humana, ainda mais quando essa liberdade de expressão apresenta-se distorcida e desvirtuada, restando, então, por indeferir o Habeas Corpus.
Ministra Ellen Gracie: relembra que já no ano de 1964 o Congresso da Unesco renegou a diferenciação biológica das raças humanas, ou seja eles consideravam que todos eram iguais biologicamente e geneticamente, independentemente da cor da pele. Isso se confirmou com a decodificação do gênoma humano, com isso não cabe a distinção em raças distintas, mas sim em raça humana. Pensando nisso, ela verifica que a norma da CF, artigo 5º, XLII, onde se encontra escritoo ato de racismo, prevê crime contra raça. Contudo, a Ministra acredita que devemos tomar como base a definição antropológica: “racismo é o preconceito contra a cultura histórico-social transmitida numa sociedade, que inclui padrões de comportamento artístico, social, ideológico e religioso”. Portanto, quando se fala em preconceito de raça e o referido “racismo” na CF, não podemos pensar em critérios restritos como os biológicos, pois, além de não existir, seria diminuir muito a importância desta lei. Este crime trata exatamente de um humano ter o entendimento de que outro é diferente e inferior, revelada na atuação carregada de menosprezo e no desrespeito a seu direito fundamental à igualdade. Não abrangendo assim somente a cor da pele, mas qualquer preconceito sócio-cultural. Não bastante isso, ela ainda cita o parecer do Prof. Celso Lafer, em relação ao art. 5º, XLII, da CF: “embora o racismo não possa ser justificado por fundamentos biológicos, ele, no entanto, persiste como fenômeno social. E, é este fenômeno social o destinatário jurídico da repressão prevista pelo art. 5º, LXII da CF e sua correspondente legislação infra-constitucional”. Em consequência desses pareceres e estudos que demostram que o racismo não se restringe a diferentes traços físicos ou cor de pele, mas engloba, também uma discriminação sócio-cultural. A Ministra afirma ser impossível acatar a argumentação segundo a qual, “se não há raças, não é possível o delito de racismo” e com isso denega o HC.
Ministro Cezar Peluso: no campo cientifico pré-jurídico, ou extrajurídico, já não se reconhece a existência de raças, senão de uma única a humana, pode-se dizer que no trabalho de interpretação da norma no inciso XLII do art. 5 da CF, capta-se a ideia subjacente à base semântica do conceito de racismo, ou seja, a ideia do que significaria a palavra “raça”, para efeito de intelecção e incidência dessa regra constitucional. Ele entende que a constituição não adotou nenhum rigoroso e puro conceito extrajurídico, senão um conceito normativo. Sendo assim, é trabalho do exegeta retirar da CF, mediante raciocínio usando a chamada “interpretação teleológica”, o conteúdo nuclear do conceito jurídico-penal de racismo, no seu confronto com a gravidade da norma constitucional e os bens e valores jurídicos por ela tutelados. Com isso, entende-se, que a definição de racismo deve ser pragmática, no sentido de atender ao procedimento lógico-jurídico material de pesquisa da racionalidade da norma. Não devendo, então, restringir tanto o sentido do termo “racismo”, pois se não seria extremamente pobre, pois se limitaria a proteger conjuntos muito reduzidos de pessoa. E com isso não preservaria os fundamentos da república (art. 1, II e III da CF), que preserva a integridade das pessoas, no que tem de substancial e universal, enquanto dotadas da mesma dignidade como iguais membros da raça, dessa orgulhosa raça humana. Mostrando esses pontos, o Ministro chega a conclusão que o HC não procede, denegando-o.
Ministro Marco Aurélio: defende a liberdade de imprensa citando alguns atos normativos internacionais com a Declaração de Direitos da Virgínia, "a liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da liberdade e não poderes restringida jamais, a não ser por governos despóticos". A 1ª Emenda Constitucional dos Estados Unidos da América cercea a liberdade de palavra ou de imprensa. Na própria Declaração dos Direitos do Homem francesa, datada do ano de 1789, reiterou-se que "a livre manifestação do pensamento e das opiniões é um dos direitos mais preciosos: todo cidadão pode, portanto, falar, ler, escrever e imprimir livremente, à exceção do abuso dessa liberdade", caso determinado no artigo 11. E, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, "toda pessoa tem o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras". Estes são algumas das normas matrizes internacionais de tal direito fundamental (a liberdade de pensamento, expressão e circulação de informações). Feito isso, o Ministro cita acontecimentos históricos terríveis que visavam impedir a liberdade de expressao e circulação de informação, e. G., contra-reforma feita pelo Papa Paulo III. Dito isso, a nossa Constituição, pós regime militar, em seu artigo 5º, o núcleo de direitos fundamentais, na forma do parágrafo 2º, é condição essencial para a consolidação e amadurecimento de nossas instituições políticas e para a conservacao e promoção da democracia. A liberdade de expressao, que esta em questão, é um direito constitutivo do próprio principio democrático. Nesse contexto, o especifico direito fundamental da liberdade de expressao exerce um papel de extrema relevância, insuplantavel, em suas mais varadas facetas: direito de discurso, direito de opinião, direito de imprensa, direito à informação e a proibição da censura. E por meio desse direito ocorre a participação democrática, a possibilidade de as mais diferentes e inusitadas opiniões serem externadas de forma aberta, sem o receio de, com isso, contrariar-se a opinião do próprio Estado ou mesmo a opinião majoritária. E é assim que se constrói uma sociedade livre e plural, com diversas correntes de idéias, ideologias, pensamentos e opiniões políticas. Alem disso, a liberdade de expressao funciona como uma proteção da autodeterminação democrática da comunidade política e da preservação da soberania popular. À medida que se protege o direito individual de livremente exprimir as idéias, ainda que afrontem ao pensamento oficial ou ao majoritário, ha um fortalecimento da democracia e das forças modificadoras da política. E é nesse sentido que, por inúmeras ocasiões, a Suprema Corte Americana, em hipóteses a evidenciar verdadeiras colisões de direitos fundamentais, optou pela primazia da libeberdade de expressao, mesmo quando resultasse em acinte aos valores culturais vigentes ou em desrespeito à imagem de autoridades e pessoas publicas. E o Ministro explica que tal pricipio vai alem. A liberdadede de expressao serve como instrumento decisivo de controle da atividade governamental e do próprio exercio de poder. Depois o Ministro cita decisões de outros tribunais internacionais analisando casos de livros publicados que vão contra os principios culturais ou que ofendem as autoridades, e. G., caso Soldados Assasinos: determinadas pessoas acusadas de ofenderem à honra das forças armadas e o Tribunal Constitucional em questão reconheceu nao ser hipótese de crime contra a honra. Portanto, em seu voto, o Ministro decide o seguinte em suas palavras: "concedo a ordem para assentar a inexistência da pratica de racismo e concluo pela incidência da prescrição da pretençao punitiva, tal como o fizeram os ministros Moreira Alvez e Carlos Britto".
Ministro Sepúlveda: há de partir-se de um fenômeno histórico indiscutível, o racismo, para, entao, verificar que o alvo do racismo não é necessariamente uma raça, como conceito antropológico, mas, sim, um grupo humano diferenciado, identificado historicamente e, historicamente, alvo de racismo. O ministro se alinha à maioria para entender que o preconceito anti-semita constitui racismo, na dicção do art. 5º e na lei 7716 de 1989. O ministro nao concordava que livros possam ser instrumentos de incitação e induzimento público de ódio racial, porém a discussão levou ele a crer que sim. E disse mais, a Constituição nao prodigalizou imunidades, salvo "as excludentes da abusividade", a manifestação de crença religiosa, convicção filosófica ou política. A liberdade de expressao é um direito subjetivo que tem, no próprio instante de sua realização, o exaurimento do seu conteúdo. O Ministro afirma que esse direito garantido pela Constituição, vedando a censura, nao tem a ver com uma imunidade da responsabilidade civil ou penal. Após analisar um trecho do livro que diz que os supostos judeus forjaram uma foto com civis mortos e cidades destruídas,alegando que foram os alemães, o Ministro nao concorda que isso tenha sido uma tentativa subjetivamente seria de revisão histórica de coisa alguma, mas foi intencional. A posteriori, o Ministro Sepulveda denega a ordem.
Ministro Carlos Ayres Britto: inicia seu voto afirmando haver uma contraposição de princípios jurídicos. Segundo ele, os direitos e garantias constitucionais se baseiam nos princípios da dignidade da pessoa humana e são defluentes de uma sociedade culturalmente pluralista, ou seja, de uma sociedade que se compõe de grupos humanos culturalmente díspares, formados por seres dotados de estrutura biopsíquica também personalíssima. De conseguinte, assume o Direito Positivo o inevitável risco de ver uma dada autonomia de vontade se antagonizar com outra, por abuso de uma delas. Surge um conflito entre a violação do princípio da dignidade da pessoa humana, por parte dos livros considerados anti-semitas, e a proteção do princípio da liberdade de manifestação, por parte do réu que queria manifestar uma opinião. A abstrata legitimação do uso de uma vontade individual pode resvalar para a danosa prática da abusividade. Mas convencido da maior valiosidade da premissa democrática de que não é pelo receio do abuso que se vai proibir o uso daqueles direitos e garantias em que mais resplende o valor da Liberdade. E, assim, surgem formulas compensatórias de resolução de conflitos e a ponderação jurisdicional dos interesses em jogo. Afirma o Ministro que, nem o órgão promotorial de 1ª instância, nem os assistentes da acusação fez a prova de que o delito em foco se materializou no lapso de vigência do dispositivo legal invocado na denúncia como incriminador da conduta do réu, agora paciente. Isto é, nada nos autos atesta que a denuncia da prática do crime de racismo se deu após a publicação da Lei federal nº 8.081, de 21 de setembro de 1990; que foi a lei veiculadora do novidadeiro art. 20 adicionado à Lei nº 7.716/89. Segundo ele, o pólo processual ativo do processo, na instância originária, tinha o dever de provar que o delito se materializara após a entrada em cena do dispositivo penal increpador. E tinha o dever de provar, porque até a data de vigência da Lei 8.081 o preconceito racial enquanto crime não estava associado à sua veiculação pelos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Bastando conferir a redação da Lei 7.716/89.
A nova lei qualifica o crime, naturalmente, pelo fato de que ‘praticar, induzir ou incitar’ o racismo ‘pelos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza’ passa a implicar propaganda aberta ou convocação pública para delinquir. Afirma o Ministro que da confrontação da data de publicação da Lei nº 8.081 (24/09/1990) com as datas de edição e reedição dos livro objeto da ação penal pública, o que resulta é a falta de demonstração da anterioridade da primeira em relação às demais. Percebe-se que são de 1989 as datas de edição e reedição dos seguintes livros, objeto da denúncia apreendidos por ordem judicial: “O Judeu Internacional” de Henry Ford; “Os Protocolos dos Sábios de Sião” apostilado por Gustavo Barroso; “Brasil Colônia de Banqueiros” de Gustavo Barroso; “Holocausto Judeu ou Alemão? – Nos bastidores da Mentira do Século” do ora paciente, S. E. Castan. Desta forma, havendo duvida quanto a data de edição e reedição dos livros, impera o princípio da presunção da inocência em matéria penal, baseando-se no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. Deve ser prévia à lei a conduta de um eventual acusado de praticar a discriminação por racismo. A consequência logica desse encadeado visualizar das coisas é que, sem previedade legal, o crime não se materializa. Assim como não se materializa o apenamento. Após tal discurso, o Ministro decidiu pela concessão do habeas corpus. Concessão de ofício, pela inovação da causa de decidir: a atipicidade da própria conduta do paciente, à época dos fatos noticiados na denúncia. E, segundo ele, como se trata de impedir a consumação de nulidade absoluta (retroatividade de lei penal para prejudicar o réu), o Ministro defere o writ no próprio instante processual de seu julgamento, nos termos do § 2º do art. 654 do Código de Processo Penal.
5. RE 494.601
	Em 28 de março de 2019, foi julgado o Recurso Extraordinário n. 494.601, por meio do qual o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade da Lei do Rio Grande do Sul nº 12.131/2004 que, acrescentou parágrafo único ao artigo 2º da Lei 11.915/2003 (Código Estadual de Proteção aos Animais), permitindo o sacrifício de animais não humanos nos cultos e liturgias das religiões de matriz africana.
	Sabe-se que a religião e a participação em cultos religiosos são comuns em terras brasileiras e mundiais. Trata-se de direito fundamental que toca na dignidade da pessoa humana, no seu sentimento de pertencimento a determinado grupo cujas crenças lhe são próprias. Nesse entendimento, o constituinte brasileiro resolveu, no artigo 5º, inciso VI da Constituição Federal, assegurar o livre exercício dos cultos religiosos, protegendo tanto os locais de sua realização quanto as liturgias.
	Essa liberdade de consciência e de crença invioláveis tornou o Brasil um Estado laico, sendo proibidas pelo ordenamento jurídico pátrio quaisquer práticas de discriminação e/ou ofensa relacionadas à opção de crença, fé ou religião. Tanto é que o artigo 5º, inciso VIII da Constituição Federal assegura que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
	O relator, Min. Marco Aurélio, realizando interpretação conforme a Constituição da lei gaúcha, considerou constitucional a lei gaúcha no que diz respeito ao sacrifício de animais em ritos religiosos de qualquer natureza, condicionando o abate ao consumo da carne, sendo proibida a prática de maus-tratos aos animais durante os rituais.
	O Min. Edson Fachin, em seu voto, considerou constitucional a lei gaúcha, não havendo inconstitucionalidade material no fato de existir a expressa menção aos cultos de matriz africana, visto que é intrínseco a esses cultos o abate de animais, sendo necessária uma proteção mais enfática devido ao preconceito existente, historicamente construído, na sociedade.
	O Min. Alexandre de Moraes e o Min. Gilmar Mendes votaram pelo provimento parcial do recurso, dando interpretação conforme à Constituição da lei gaúcha, para considerar constitucional a realização de todos os ritos religiosos que sacrifiquem animais, vedando maus-tratos e atos cruéis. Os votos de ambos os ministros se distanciaram do voto do relator no que se refere ao consumo, pois entenderam que a prática pode ser realizada, independentemente do consumo do animal abatido.
	Os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Dias Toffoli acompanharam o voto do Min. Edson Fachin, decidindo-se pelo desprovimento do recurso extraordinário.
6. ADI 6343
	Julgamento em que a Suprema Corte decidiu que estados e municípios, no âmbito de suas competências e em seu território, podem adotar medidas de restrição à locomoção intermunicipal e local durante o estado de emergência decorrente da pandemia, sem a necessidade de autorização do Ministério da Saúde para a decretação de isolamento, quarentena e outras providências. 
	De acordo com a decisão proferida, a União também tem competências para decretação das mesmas medidas, no âmbito de suas atribuições, quando houver interesse nacional. Ademais, a Corte decidiu que a adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitárias e tem de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, definido em decreto da autoridade federativa competente.
	O ministro Dias Toffoli, presidente do STF, apresentou em seu voto-vista, retomando o julgamento, entendimentode que devem ser observadas as competências concorrentes e suplementares de estados e munícipios para a adoção das medidas. Ainda, o ministro destacou a necessidade de que as providências estatais, em todas as esferas, devem se dar através de ações coordenadas e planejdas pelos entes e órgãos competentes. Toffoli assevera que essas medidas devem ser fundadas, necessariamente, em informações e dados científicos, e não em singelas opiniões pessoais de quem não detém competência ou formação técnica. O presidente da Casa propõe que seja explicitada na decisão, resguardando a locomoção dos produtos e dos serviços essenciais e impedindo quaisquer embaraços ao trânsito necessário à sua continuidade, que a competência dos estados e municípios, assim como a da União, não lhes conferem carta branca para limitar a circulação de pessoas e mercadorias com base, unicamente, na conveniência e na oportunidade do ato.
	O ministro Alexandre de Moraes havia inaugurado a divergência na sessão realizada em 30 de abril, sendo acompanhado pelos ministros Dias Toffoli, Luiz Fux, Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que também se manifestaram no sentido de que a União tem o papel central de coordenação das medidas. De acordo com Moraes, o governo federal não tem exclusividade para determinar medidas de âmbito local, por desconhecimento das necessidades e das peculiaridades das diversas regiões.
	O ministro Marco Aurélio, relator, ficou vencido, pois havia votado pelo indeferimento da cautelar, por entender que, nesse momento de pandemia, deve ser implementada uma política governamental de alcance nacional.
	Os ministros Edson Fachin e Rosa Weber votaram pelo deferimento parcial da cautelar para que estados, municípios e Distrito Federal possam determinar as medidas sanitárias de isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáveres, desde que amparadas em evidências científicas e nas recomendações da OMS.
7. ADPF 186 (Não houve apresentação desse tema, porém, estava na lista)
	A discussão apresentada ao Supremo Tribunal Federal ajuizada pelo Partido Democratas (DEM) para impugnar a política de cotas étnico-raciais para seleção de estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Em resumo, a instituição universitária fixou, pelo prazo de 10 anos, a reserva de 20% de suas vagas para estudantes negros e pardos e vinte vagas para índios de todos os estados brasileiros.
	A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ajuizada em 2009 pelo DEM questionou os atos administrativos do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Brasília que determinaram a reserva de vagas oferecidas pela universidade. Na petição inicial alegou-se que as cotas violariam os seguintes fundamentais constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana; repúdio ao racismo; princípio da igualdade; direito universal à educação e meritocracia.
	O STF, por unanimidade de votos, julgou improcedente o pedido veiculado na ADPF 186. Resumidamente, foram utilizados os seguintes fundamentos:
	Ministro Ricardo Lewandowski (relator): assentou que as políticas de ação afirmativa promovidas pela UnB estabelecem um ambiente acadêmico plural e diversificado, e têm o objetivo de superar distorções sociais historicamente consolidadas. Afirmou também que os meios empregados e os fins perseguidos pela UnB são marcados pela proporcionalidade, razoabilidade e as políticas são transitórias, com a revisão periódica de seus resultados;
	 Ministro Luiz Fux: anotou que a Constituição impõe uma reparação de danos pretéritos do país em relação aos negros, com fundamento no artigo 3º, inciso I, que preconiza como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Invocou vários diplomas normativos que consagram a discriminação benigna, destacando a Lei 9.394/1996 (Lei das Diretrizes e Base da Educação Nacional), que preconiza o dever do Estado com a educação, inspirada nos princípios da liberdade e na solidariedade humana; a Lei 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação); a Lei 10.558/2002, que criou o Programa Diversidade na Universidade, no âmbito do Ministério da Educação, que também trata da promoção do acesso ao ensino superior de pessoas pertencentes a grupos socialmente desfavorecidos, tais quais os afrodescendentes e os indígenas; a Lei 10.678/2003, que criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, e o Decreto-Lei 65.810/69, que promulgou a Convenção Internacional sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial. Sustentou, ainda, que as cotas raciais cumprem o dever constitucional que atribui ao Estado a responsabilidade com a educação, assegurando “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”;
	Ministra Rosa Weber: afirmou que cabe ao Estado “adentrar no mundo das relações sociais e corrigir a desigualdade concreta para que a igualdade formal volte a ter o seu papel benéfico”. A magistrada anotou que o sistema de cotas raciais permite à universidade ampliar o número de negros matriculados, pluralizando e democratizando a representatividade social no ambiente universitário. “Quando o negro se tornar visível nas esferas mais almejadas das sociedades, política compensatória alguma será necessária”;
	Ministra Cármen Lúcia: a fixação das cotas é compatível com a Constituição, porquanto se trata de medida que observa a proporcionalidade e a função social da universidade. “As ações afirmativas não são a melhor opção, mas são uma etapa. O melhor seria que todos fossem iguais e livres”. Assim, as políticas compensatórias precisam estar acompanhadas de outras políticas para não caracterizar preconceito. Para a Ministra, as ações afirmativas decorrem da responsabilidade social e estatal e são necessárias para a observância do princípio da igualdade;
	Ministro Joaquim Barbosa: seguiu o voto do relator, anotando que “não se deve perder de vista o fato de que a história universal não registra, na era contemporânea, nenhum exemplo de nação que tenha se erguido de uma condição periférica à condição de potência econômica e política, digna de respeito na cena política internacional, mantendo, no plano doméstico, uma política de exclusão em relação a uma parcela expressiva da sua população”. Assentou que existe “no Direito Comparado, vários casos de medidas de ações afirmativas desenhadas pelo Poder Judiciário em casos em que a discriminação é tão flagrante e a exclusão é tão absoluta, que o Judiciário não teve outra alternativa senão, ele próprio, determinar e desenhar medidas de ação afirmativa, como ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos, especialmente em alguns estados do sul”;
	Ministro Cezar Peluso: sustentou que há déficit educacional e cultural dos negros, decorrente de barreiras institucionais de acesso às fontes da educação. Afirmou que existe “um dever, não apenas ético, mas também jurídico, da sociedade e do Estado perante tamanha desigualdade, à luz dos objetivos fundamentais da Constituição e da República, por conta do artigo 3º da Constituição Federal”. Neste contexto, “há a responsabilidade ético-jurídica da sociedade e do Estado em adotar políticas públicas que respondam a esse déficit histórico, na tentativa de superar, ao longo do tempo, essa desigualdade material e desfazer essa injustiça histórica de que os negros são vítimas ao longo dos  anos”. E que “o raciocínio de que o acesso à educação tem que ser visto como meio indispensável de acesso ou, pelo menos, da possibilidade de acesso mais efetivo aos frutos de desenvolvimento socioeconômico e, portanto, de uma condição sociocultural que corresponda ao grande ideal da dignidade da pessoa humana e do projeto de vida de cada um”;
	Ministro Gilmar Mendes: as ações afirmativas são compatíveis com o princípio da igualdade. Anotou que a pequena quantidade de negros nas universidades é decorrente de um processo histórico, oriundo do modelo escravocrata de desenvolvimento, da baixa qualidadeda escola pública e da “dificuldade quase lotérica” de acesso à universidade por intermédio do vestibular. Como base nestes fundamentos, ressalvou que o critério exclusivamente racial pode ocasionar situações indesejáveis, como permitir que negros não hipossuficientes se beneficiem das cotas, mas isso não ocasionaria a inconstitucionalidade do modelo, diante do pioneirismo da UnB;
	Ministro Marco Aurélio: assentou que as ações afirmativas devem ser utilizadas na correção de desigualdades, mas é preciso fixá-las apenas com prazo determinado, extinguindo-se as cotas após a eliminação das diferenças. Estabeleceu que “a meritocracia sem igualdade de pontos de partida é apenas uma forma velada de aristocracia”. “Só existe a supremacia da Carta quando, à luz desse diploma, vingar a igualdade. A ação afirmativa evidencia o conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica.” Anotou, contudo, que o Brasil ainda está longe disso. “Façamos o que está a nosso alcance, o que está previsto na Constituição Federal.”
	Ministro Celso de Mello: para o decano da Corte, as cotas fixadas na UnB são compatíveis com a Constituição e com os tratados internacionais de direitos humanos. “As políticas públicas têm na prática das ações afirmativas um poderoso e legítimo instrumento impregnado de eficácia necessariamente temporária, já que elas não deverão ter a finalidade de manter direitos desiguais depois de alcançados os objetivos.” Mencionou que o modelo analisado é temporário e passará por reavaliação após dez anos. “O desafio não é apenas a mera proclamação formal de reconhecer o compromisso em matéria dos direitos básicos da pessoa humana, mas a efetivação concreta no plano das realizações materiais dos encargos assumidos”;
	Ministro Aires Britto: anotou que a Constituição autoriza a promoção de todas as políticas públicas para proteger os setores sociais histórica e culturalmente desfavorecidos. “São políticas afirmativas do direito de todos os seres humanos a um tratamento igualitário e respeitoso. Assim é que se constrói uma nação”. Estabeleceu distinção entre cotas sociais e cotas raciais, que decorrem de “desigualdades dentro das desigualdades”, vale dizer, quando uma desigualdade – econômica – potencializa outra – a de cor. Disso decorre a necessidade de políticas públicas diferenciadas que reforcem outras políticas públicas e permitam às pessoas transitar em todos os espaços sociais – “escola, família, empresa, igreja, repartição pública e, por desdobramento, condomínio, clube, sindicato, partido, shopping centers” – em igualdade de condições, com o mesmo respeito e desembaraço. Mencionou a característica da sociedade brasileira: “Nossas relações sociais de base não são horizontais. São hegemônicas, e, portanto, verticais”;
	Ministro Dias Toffoli: declarou seu impedimento, pois atuara na condição de Advogado Geral da União.
8. RE 466.343
	O Recurso Extraordinário nº 466.343/SP trata-se de uma decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, pela qual a Corte Suprema posicionou-se pela inconstitucionalidade da prisão civil do depositário infiel. Ainda, a referida decisão traça criação jurisprudencial, qual seja a "norma supralegal", que revoluciona o entendimento acerca da hierarquia normativa dos tratados internacionais de direitos humanos no Estado Brasileiro.
	Os principais pontos são: a) A Suprema Corte obedece à supremacia constitucional, já que os tratados internacionais de direitos humanos foram hierarquicamente postos abaixo da Constituição e acima da legislação ordinária; b) No entanto, trata-se de ativismo judicial a criação da norma supralegal, a qual não tem qualquer suporte constitucional para existir; c) Apesar da discordância quanto à interferência do Judiciário na seara do Legislativo, aplaude-se a decisão que declara inconstitucional a prisão civil do depositário infiel.
	A prisão civil do depositário infiel encontra disposição na Constituição Federal, especificamente no art. 5º, inc. LXVII, bem como na legislação infraconstitucional frente ao Dec. 911/69 e ao art. 652 do novo Código Civil. Desta feita, vê-se que a expressividade de tais normas encontra-se em afronta ao Pacto San José da Costa Rica – também denominado Convenção Americana de Direito Humanos –, bem como do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, os quais afastam qualquer hipótese de prisão civil por dívidas, ressalvando-se a do devedor de alimentos.
	É o que se constata da literalidade dos artigos 7º, 7, da Convenção Americana e artigo 11 do PIDCP, veja-se: "Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar" (CONVENÇÃO AMERICANA,). Assim como, art.11: "Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual." (PIDCP)
	O conflito em comento reporta-se a uma primeira reflexão, qual seja a da importância dos tratados internacionais de Direitos Humanos frente ao ordenamento jurídico brasileiro. Nessa perspectiva, cite-se que o Brasil ratificou o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana no ano de 1992, subordinando-se às normas deles provenientes.
	A ratificação de inúmeros tratados de Direitos Humanos pelo Estado Brasileiro faz parte do processo de democratização vivenciado a partir de 1988, a partir do qual se torna imperativo ao Brasil a harmonização de sua legislação interna com as disposições internacionais.
	Segundo o voto proferido pelo Ministro Gilmar Ferreira Mendes quanto à apreciação do RE 466.343/SP, observa-se a indicação de quatro correntes concernentes à hierarquia normativa dos tratados: a vertente que reconhece a natureza supraconstitucional dos tratados e convenções em matéria de direitos humanos; o posicionamento que atribui caráter constitucional a esses diplomas internacionais; a tendência que reconhece o status de lei ordinária a esse tipo de documento internacional; por fim, a interpretação que atribui caráter supralegal aos tratados e convenções sobre direitos humanos.
	Entendimento do STF: O recurso extraordinário foi interposto pelo Banco Bradesco S.A [...], contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, negando provimento ao recurso de apelação nº 791031-0/7, consignou entendimento no sentido da inconstitucionalidade da prisão civil do devedor fiduciante em contrato de alienação fiduciária em garantia, em face do que dispõe o art. 5º, inciso LXVII, da Constituição.
	Há disposições na Constituição de 1988 que demonstram a abertura constitucional para as normas de direito internacional. O art. 4º da CF, pelo qual se depreende que "A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações", relata a disposição do Estado Brasileiro frente um movimento de integração na ordem internacional.
	Uma segunda cláusula seria a que está tipificada no §2º do art. 5º da CF, segundo a qual "Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte". Destaque-se que essa norma representa a ampliação dos direitos fundamentais, no sentido de que estes não se encerram na taxatividade exposta no artigo 5º, mas "acompanham as evoluções, políticas, sociais e jurídicas da sociedade, quanto ao surgimento de novos direitos e garantias fundamentais, em prol da defesa da dignidade humana, princípio fundamental do Estado Democrático de Direito." (LOPES; MARQUES, 2007, p. 53).
	As terceira e quarta cláusulas são as constantes do §3º e §4º do art. 5º, quais sejam, respectivamente: "os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais", e "o Brasil se submete à jurisdiçãode Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão." (CF, 1988).
	No que toca à hierarquia, os tratados internacionais de direitos humanos, desde que não aprovados sob o quórum de emenda, estão submetidos à supremacia constitucional, gozando de privilégio frente à legislação ordinária. Denomina-se norma "supralegal", a que se põe abaixo da Constituição e acima da lei pátria.
	A internalização dos tratados internacionais de Direitos Humanos "tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante".
	É cediço que se saiba, pois, que a prisão civil do depositário infiel, até então admitida no ordenamento jurídico brasileiro, passa a não ter qualquer sustento legal, vez que a norma supralegal paralisa a aplicação de toda norma infraconstitucional que possa instrumentalizar a prisão. Sendo assim, ainda que a norma constante do art. 5º, inc.LXVII, não tenha sido revogada, apresenta-se sem qualquer aplicabilidade.

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