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Características ocultas do cigarro Dependência do cigarro Fala-se muito da dependência física causada pela nicotina, substância psicoativa, estimulante do Sistema Nervoso Central. A dependência psicológica é menos citada, porém atua com bastante força e de forma bem complexa. Requer um olhar atento para que se possa entendê-la. A grande maioria dos fumantes experimenta o cigarro na adolescência. Apesar do fumante, na maioria das vezes, sentir-se mal na primeira tentativa, ele insiste em “aprender” a fumar, por achar que valerá a pena, isto é, haverá um ganho com esse comportamento. Através dele, poderá integrar-se ao grupo de amigos, parecer mais velho, ter status frente aos pares. Muitos fumantes afirmam que insistiram por achar que fumar era “bonito”. Essa expectativa muito positiva quanto ao cigarro, (criada principalmente pela propaganda, cinema e mídia durante anos) é aceita sem questionamentos. O cigarro parece ser vivido, não conscientemente, como um grande ajudante para lidar com os sentimentos desagradáveis próprios da adolescência, dando sensação de bem-estar. Graças a suas propriedades psicoativas, o cigarro é capaz de provocar sensação prazerosa, estimulante e ansiolítica e, desta forma, aplacar o mal-estar característico deste período, sem dar chance ao indivíduo de enfrentar essas situações com seus próprios recursos, aprender e se desenvolver com elas. No fumante que inicia mais tarde, o processo basicamente é o mesmo. Em qualquer período da vida podemos passar por situações difíceis de lidar. Para ler e refletir... INCA Instituto Nacional do Câncer e Ministério da Saúde – Manual Ajudando seu paciente a deixar de fumar. Rio de Janeiro, 1997. O cigarro passa a fazer parte da vida do fumante e torna-se um meio de enfrentá-la. Podemos dizer que, no fumante adolescente, sua personalidade estrutura-se com o auxílio do cigarro. Ele entende que só pode enfrentar a vida com o cigarro ao seu lado, não acreditando que seja capaz sem ele. De fato, o cigarro foi útil num momento de fragilidade, porém com o tempo estabeleceu-se a dependência física e psicológica. O fumante fica preso à armadilha. Ele sofre sem o cigarro, não se conhece mais sem ele, não sabe mais distinguir que características são suas e quais as provocadas pelo uso do cigarro. É muito comum o fumante referir-se ao cigarro usando os termos “amigo”, “companheiro”, “parceiro”... , mostrando que o cigarro participa de sua vida como muito presente e atuante. Muitos fumantes quando pensam e m parar de fumar sentem-se muito tristes por ter que dizer adeus ao cigarro. O cigarro acaba sendo investido de atributos humanos para aplacar sua solidão, seus sentimentos, suas dificuldades. Muitas de suas capacidades estão depositadas no cigarro, achando que só poderá realizar tal atividade devido a ele. Desta forma o fumante acredita que só pode escrever se fumar, criar se fumar tiver uma atividade mental se fumar, relacionar-se com os outros se fumar. O termo “fissura” é usado para descrever o mal-estar e a vontade intensa de fumar. Passadas as primeiras semanas, a “fissura” á atribuída à dependência psicológica. (INCA, 1997). Trata-se da lembrança da sensação de prazer provocada pelo cigarro e das associações feitas nos momentos de dificuldades. Por exemplo, após uma situação de nervosismo ou dificuldade, o “quase ex- fumante” pensa em acender um cigarro para se acalmar, relaxar. O fumante sabe que se acender um cigarro irá sentir um efeito positivo e esse fato o faz procurar o cigarro novamente. A muleta que o cigarro representa para enfrentar situações difíceis é lembrada sempre que o fumante se depara com elas. A dependência psicológica precisa ser tratada tanto quanto a dependência física. Faz-se necessário um acompanhamento psicoterápico em grupo ou individual para ajudar o fumante a tomar consciência da situação, perceber o que o cigarro representa na sua vida e que lugar ocupa, no intuito de ajudá-lo a perceber que o cigarro é somente um cigarro e que provavelmente é atribuído a ele muitos aspectos seus. Cigarro como droga social Motivações que levam uma pessoa a fumar: As motivações são inúmeras e das mais variáveis. Elas variam em função da idade, do ambiente familiar, do nível sócio econômico, das origens étnicas e raciais, entre outros fatores. Mas podem ser agrupadas de duas maneiras principais: 1. Na juventude, tanto pelo modelo familiar, como pela identificação com um grupo, ou com pessoas que se destacam socialmente ou no meio artístico, ou simplesmente induzido pelos modismos e pelas elaboradas armadilhas das propagandas divulgadas pela mídia. 2. Mais tarde, ou em idade mais avançada, por acreditar que o ato de fumar pode preencher, sem riscos, espaços abertos pelos desequilíbrios e situações emocionais graves ou intensas, repentinas, imprevistas, paliativas para substituir algo ou alguém, busca de uma nova sensação de prazer etc. Função psicológica do cigarro O fumante “enxerga” no cigarro um ponto de apoio psicológico ou emocional, além de uma fonte de prazer que, apesar de danosa à sua saúde, é incorporada aos seus hábitos. Muitas pessoas sentem que o cigarro as relaxa; então, elas fumam sempre que estão tensas. Se fumar ajuda você a relaxar é porque o cigarro lhe é familiar - ele é familiar da mesma forma que um amigo próximo - e, assim, é uma fonte de alívio. Alguns fumantes ficam tensos só em pensar em parar de fumar, uma vez que não se imaginam vivendo sem o fumo. As propagandas das indústrias do tabaco associam o fumo a situações contrárias ao seu real efeito, tais como bom desempenho sexual e esportivo, beleza, inteligência, poder de decisão e sucesso profissional, levando ao condicionamento mental dessa droga. O fumante incorpora o cigarro à suas rotinas de tal forma, que algumas situações são obrigatoriamente acompanhadas por ele. As mais citadas pelos fumantes são: • Atender ao telefone; • Após refeições; • Após relações sexuais; • Após bebidas estimulantes como café ou álcool; • Quando param o carro em congestionamentos; e • Situações de tensão ou de expectativa. O condicionamento psicológico se baseia na criação de hábitos e rituais, no condicionamento mental e na sensação estimulante produzida pelo fumo. Desta forma, o cigarro parece entender o prazer, só que de maneira errônea. Tabela 1 - Pesquisa doméstica sobre o Uso de Drogas (2001) Substâncias Acessibilida de Poder do Vício** Letalidad e Precocidade* **Nicotina Grande 80 Alta 15,5 Heroína Pequena 35 Média 19,5 Cocaína Média 22 Alta 21,9 Sedativos* Média 13 Média 19,5 Estimulantes* Média 12 Alta 19,3 Maconha Média 11 Baixa 18,4 Alucinógenos Grande 9 Baixa 18,6 Analgésicos* Média 7 Média 21,6 Álcool Grande 6 Média 17,4 Tranquilizante s* Média 5 Média 21,2 Inalantes Grande 3 Média 17,3
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