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DESCRIÇÃO Farmacovigilância: histórico, métodos, reações adversas, fatores de riscos e segurança do paciente. PROPÓSITO Compreender a Farmacovigilância para fins de conhecimento dos seus métodos e práticas empregadas no âmbito dos eventos adversos aos medicamentos e segurança do paciente, sendo um tema de extrema importância, pois facilitará a sua atuação em diversas áreas de farmacêutica. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos um dicionário de Termos Técnicos em Saúde para entender termos específicos da área. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o histórico e os métodos da Farmacovigilância MÓDULO 2 Classificar as Reações Adversas aos Medicamentos (RAM) e seus fatores de risco MÓDULO 3 Descrever os métodos de Farmacovigilância e sua relação com a segurança do paciente INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Farmacovigilância é a ciência e atividade relacionada com a detecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou qualquer outro problema relacionado com o medicamento. De acordo com a definição, esta temática é aplicável para prevenir danos de reações adversas em humanos decorrentes do uso de medicamentos autorizados ou fora dos termos de autorização de comercialização ou de exposição ocupacional; como também, promoção da utilização segura e eficaz dos medicamentos. É, portanto, uma atividade que contribui para a proteção da saúde pública e dos pacientes. Neste tema, você aprenderá o que é Farmacovigilância, a relevância, a organização e o funcionamento. Também será apresentado a conceitos como eventos e reações adversas aos medicamentos, além de erros de medicação, queixa técnica, inefetividade terapêutica e uso abusivo de medicamentos. Ainda nesse tema, veremos os métodos de detecção de reação adversa aos medicamentos (RAM) e o funcionamento de sistemas de notificação. Outro importante ponto que abordaremos é a relação da Farmacovigilância com a segurança do paciente. MÓDULO 1 Descrever o histórico e os métodos da Farmacovigilância IMPORTÂNCIA DA FARMACOVIGILÂNCIA As informações coletadas durante a fase de pré-venda do medicamento são incompletas em relação a reações medicamentosas. Isso ocorre, principalmente, porque os pacientes participantes dos ensaios clínicos são limitados em número e não são representativos do público em geral. Além disso, as condições de uso dos medicamentos diferem daquelas em prática clínica, e a duração do tratamento também é limitada. Outro fator que deve ser considerado é que as informações sobre reações adversas raras, mais graves, toxicidade crônica, uso em grupos especiais (como crianças, idosos ou mulheres grávidas) ou interações medicamentosas, muitas vezes, são incompletas. Portanto, a vigilância pós-comercialização é importante para permitir a detecção de danos menos comuns, porém, às vezes, são muito graves. Logo, os profissionais de saúde em todo o mundo devem relatar as Reações Adversas aos Medicamentos (RAM), pois podem salvar as vidas de seus pacientes e outros usuários de medicamentos. OBJETIVOS DA FARMACOVIGILÂNCIA A Farmacovigilância pretende melhorar o atendimento ao paciente e a segurança em relação ao uso de medicamentos, bem como melhorar a saúde e segurança na saúde pública. Além disso, objetiva detectar problemas relacionados ao uso de medicamentos e comunicar os resultados de forma oportuna, de modo a contribuir para a avaliação do benefício, a eficácia e o risco dos medicamentos, encorajando seu uso seguro, racional e mais eficaz (incluindo custo-benefício). Por fim, podemos dizer que promove a compreensão, a educação e o treinamento clínico em Farmacovigilância e a comunicação eficaz com os profissionais de saúde e a sociedade. Fonte: Shutterstock. HISTÓRICO DA FARMACOVIGILÂNCIA A Farmacovigilância começou há cerca de 170 anos, embora ainda não tivesse esse nome na época. As fases históricas nos ajudam a entender por que a Farmacovigilância nos ajudou a alcançar resultados tão importantes para a saúde da sociedade e para a própria Farmacologia, além de identificar os desafios que aguardam a Farmacovigilância nos próximos anos. Neste sentido, veremos os marcos que levaram à evolução das atividades de Farmacovigilância ao longo da história. Fonte: Shutterstock. Ao contrário da história da Farmácia, a história da Farmacovigilância é bastante recente. É importante apontar as preocupações passadas dos médicos com as reações adversas a medicamentos, ilustradas em Hipócrates primum non nocere (primeiramente, não cause danos), até o nascimento e desenvolvimento da Farmacovigilância, que ocorreu em uma fase posterior e progressiva. Essa evolução se deu por meio de problemas de Farmacovigilância, debates e escândalos que surgiram no século XIX, sendo alguns dos que impulsionaram uma legislação com intuito de proteger os pacientes, no sentido de segurança, por meio da criação de agências nacionais ou supranacionais. Descrever a história da Farmacovigilância requer certas questões representativas das principais fases da história da segurança de medicamentos e as consequências na sociedade. O primeiro exemplo de um problema de segurança que levou a uma reflexão coordenada e racional sobre Farmacovigilância é fornecido pelo clorofórmio, descoberto na França por Eugène Soubeiran em 1831. Embora a primeira anestesia geral tenha sido aplicada publicamente com éter por William Morton, em Boston, em 1846, o clorofórmio foi usado pela primeira vez como um anestésico obstétrico em Edimburgo, em 1847, por James Young Simpson. O clorofórmio alcançou a fama alguns anos depois, quando a rainha Vitória foi anestesiada com a substância para o nascimento do oitavo filho dela em 1853. No entanto, desde os primeiros anos após seu uso, a atenção foi atraída por acidentes fatais na forma de síncope, conhecidos como “síncope induzida por clorofórmio”. As mortes também foram relatadas com o éter e, devido à crescente preocupação do público em geral e dos médicos, o javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) The Lancet criou uma comissão incitando médicos do Reino Unido e suas colônias a relatarem quaisquer mortes relacionadas com a anestesia, coleta de dados e publicação dos resultados em 1893. Este foi o primeiro exemplo de uma notificação solicitada, associada com estimativas de incidência, que deu ao clorofórmio uma desvantagem clara em comparação ao éter, e o levou às primeiras descrições, quarenta anos depois, de mortes ligadas ao clorofórmio e, finalmente, à sua substituição em favor do éter. O Laboratório Bayer estudou os efeitos da diacetilmorfina em um experimento em pacientes com tuberculose, e identificou que a substância era extremamente eficaz e poderosa. Animados com os resultados, os gerentes dos Laboratórios Bayer pensaram que a diacetilmorfina deveria ser clinicamente classificada como um "medicamento heroico’’. Portanto, deram-lhe o nome de Heroína e a comercializaram, em 1898, como antitússico e analgésico. No entanto, o poder viciante da Heroína inevitavelmente veio a ser reconhecido. Centenas de milhares de pessoas se tornaram dependentes da droga no início da década de 1910 (um número de 500.000 pacientes dependentes foi relatado nos EUA). Os primeiros passos para limitar o uso clínico desta droga foram tomados em 1912 e o Laboratório Bayer interrompeu sua produção em 1913. Contudo, desde então, o uso da Heroína, que está bem estabelecido como droga de abuso, continua a causar estragos em todo o mundo. Deixando o século XIX para trás, agora podemos ver o que aconteceu no século XX. A sulfanilamida foi sintetizada em 1908, mas não foi usada até 1935, ano que uma equipe do Instituto Pasteur demonstrou que este produto era na verdade o metabólito sulfonamida ativo e incolor, sulfamidocrysoïdine (Prontosil), um corante azólico de sulfonamida, inicialmente destinado a tintas de carpete, mas para o qual Gerhard Domagk identificou propriedades antiestreptocócicas.Embora tenha sido colocado no mercado na forma de comprimidos ou cápsulas nos EUA, o desenvolvimento comercial da sulfanilamida levou uma pequena empresa do Tennessee a solubilizar o produto em dietilenoglicol e comercializar Elixir Sulfanilamida em 1937, sem realização de nenhum teste toxicológico. Muito rapidamente, uma relação foi estabelecida entre uma série de mortes por insuficiência renal e a comercialização desta nova forma farmacêutica de sulfanilamida, envolvendo a toxicidade do medicamento ao solvente utilizado na sua formulação. Uma campanha de recall foi organizada em grande escala pela Food and Drug Administration (FDA), minimizando assim as consequências desta tragédia responsável pela morte de 105 pessoas, incluindo 34 crianças. Um ano depois, em 1938, o presidente Franklin Roosevelt assinou a Federal Food, Drug and Cosmetics Act, que incluiu na lei a necessidade de as empresas farmacêuticas apresentarem um relatório ao FDA sobre a segurança de todos os medicamentos. Pela primeira vez, os dados de segurança sobre os javascript:void(0) javascript:void(0) medicamentos eram necessários antes de serem colocados no mercado. Um primeiro passo foi dado para a avaliação do risco-benefício dos medicamentos. EUGÈNE SOUBEIRAN Eugène Soubeiran era um cientista francês. Desde 1823, ele serviu como farmacêutico- chefe no Hospital La Pitie, em Paris. Em 1832 tornou-se diretor de Pharmacie Centrale, uma fabricação e distribuição de drogas centro para os hospitais e hospícios de Paris. WILLIAM THOMAS GREEN MORTON William Thomas Green Morton foi um dentista americano responsável pela primeira demonstração pública com sucesso de uma droga anestésica por inalação. Morton nasceu em 1819 em Charlton, um vilarejo no Condado de Worcester, Massachusetts. Ele teve uma escolaridade comum na Northfield and Leicest Academies. JAMES YOUNG SIMPSON James Young Simpson foi um médico escocês e uma figura importante na história da medicina. Ele descobriu as propriedades anestésicas do clorofórmio e com sucesso o introduziu para o uso médico geral. THE LANCET The Lancet é uma revista científica sobre medicina e com revisão por pares que é publicada semanalmente. É uma das mais antigas e conhecidas revistas médicas do mundo e descrita como uma das mais prestigiadas. É publicada pela Elsevier no Reino Unido pelo Lancet Publishing Group. GERHARD JOHANNES PAUL DOMAGK Gerhard Johannes Paul Domagk foi um patologista e bacteriologista alemão. Foi agraciado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1939, por ter descoberto os efeitos antibacterianos da sulfonamidochrysoidine - que foi o primeiro antibiótico comercialmente disponível. Fonte: Wikimedia. Ampola de Prontosil ®. Em 1948, um caso muito emblemático da Farmacovigilância foi o da substância dietilestilbestrol (DES), ocorrido na Alemanha, e que mudou a perspectiva sobre os riscos da medicação durante a gravidez, mostrando que os efeitos dos medicamentos usados pelas mães e que afetam os filhos no útero podem vir à tona muito tempo após a exposição. O DES, um estrogênio não esteroide, foi amplamente usado a partir de 1948 na prevenção dos riscos de aborto espontâneo. A vantagem deste produto nesta indicação particular foi, no entanto, contestada e, dez anos depois, demonstrou-se sua ineficácia em um ensaio clínico rigoroso, controle vs. placebo. Vinte anos depois da sua comercialização, nos EUA, Herbst e colaboradores viram 7 casos de adenocarcinoma vaginal em mulheres jovens de 15 a 22 anos em seu atendimento ginecológico em Boston. A sugestão da mãe de uma das mulheres foi de que o DES administrado durante a gravidez poderia ser o culpado, junto com a raridade de tais cânceres nesta idade e a ligação com adenose vaginal, o que incitou os ginecologistas a realizarem um estudo de caso-controle em 8 casos de adenocarcinoma vaginal e 32 indivíduos de controle, para os quais 7 fatores de correspondência foram tomados em consideração. A ligação desses cânceres ao uso de dietilestilbestrol foi claramente estabelecida no estudo, já que 7 entre 8 mães, cujas filhas estavam sofrendo de adenocarcinoma, foi tratada com DES durante a gravidez, em comparação com nenhuma no grupo controle. Os riscos foram posteriormente estudados com mais profundidade, além disso, foi observado um risco de mal formação do útero e da tuba uterina nos bebês do sexo femininos. Assim, as mulheres cujas mães fizeram uso de DES durante a gravidez eram mais suscetível a esterilidade, gravidez extrauterina e a abortos espontâneos repetidos. Alguns riscos eram identificados em pacientes de terceira geração, e não preocupavam apenas meninas, uma vez que anormalidades no sistema geniturinário também eram possíveis em meninos. Ocorrido na França, em 1954, o episódio do Stalinon é particularmente importante. Um ano antes, um químico de um pequeno laboratório decidiu combinar, na forma de pérola (uma antiquada forma galênica), um subproduto orgânico derivado de estanho (diiododietil de estanho, 15 mg/pérola) usado como antiestafilocócico. Problemas de instabilidade do estanho foram escondidos e a quantidade de sais de estanho em cada pérola variava consideravelmente de um lote de Stalinon para outro. Os perigos do Stalinon foram rapidamente identificados depois de sua comercialização, especialmente, na área de Niort, onde três mortes suspeitas levaram um clínico a denunciar a neurotoxicidade do produto. O número final de mortes subiu para 102, resultando, principalmente, em encefalopatia, e mais de cem pacientes desenvolveram sequelas neurológicas graves e irreversíveis. Em 1971, o FDA reagiu muito rapidamente nos EUA, onde uma contraindicação para DES durante a gravidez foi decidida e um registro americano de casos de adenocarcinoma vaginal foi configurado. Infelizmente, este não foi o caso na França, onde a reatividade foi lenta e foi estimado haver 160.000 casos de exposição a DES no útero. A história do DES foi uma das primeiras a habilitar farmacoepidemiologia - backup espontâneo de notificação - para tomar uma decisão rápida. Não era assim, até que dez anos depois a Farmacoepidemiologia foi reconhecida no domínio da Farmacovigilância. Não há dúvida de que a avaliação de risco e risco-benefício de medicamentos continuará a evoluir no futuro, ao custo de mudanças, polêmicas e desafios dos sistemas existentes. Mas você não deve esquecer que a Farmacovigilância é construída dia a dia, unindo forças com todos os envolvidos, incluindo os pacientes e suas associações, uma vez que o objetivo é garantir aos pacientes a segurança ideal no uso dos medicamentos que obtiveram autorização de venda. A seguir, você pode identificar uma relação cronológica com os eventos marcantes na história da Farmacovigilância. EVENTOS NA HISTÓRIA DA FARMACOVIGILÂNCIA 1848 Um paciente de 15 anos morreu durante a anestesia de rotina com clorofórmio. O paciente tinha problema de unha encravada do dedo do pé e, para removê-la, recebeu clorofórmio, o que lhe causou fibrilação dos ventrículos, levando-o a falecer. 1893 Lancet iniciou a fundação de uma comissão e começou a coleta de notificações sobre efeitos colaterais. 1936 Nos EUA, 107 casos letais após sulfanilamidas (dietilenoglicol foi usado para solubilizar). 1938 Lei Federal de Alimentos e Medicamentos dos EUA - exigia que os produtos farmacêuticos fossem "puros" e "livres de qualquer contaminação" (nada sobre a eficácia). A TRAGÉDIA DA TALIDOMIDA (1957-1961) A talidomida entrou pela primeira vez no mercado alemão em 1957 como um medicamento de venda livre, com base nas alegações de segurança do fabricante. Eles anunciaram seu produto como "completamente seguro" para todos, incluindo mãe e filho, "mesmo durante a gravidez", pois seus desenvolvedores "não conseguiam encontrar uma dose alta o suficiente para matar um rato". Em 1960, a talidomida era comercializada em 46 países. Nessa época, o obstetra australiano Dr. William McBride descobriu que a substânciatambém aliviava os enjoos matinais. Ele passou a recomendar o uso off-label do medicamento para suas pacientes grávidas, estabelecendo uma tendência mundial. Muitas crianças, na década de 1960, nasceram com focomelia, um efeito colateral do medicamento talidomida, resultando no encurtamento ou na ausência dos membros. 1961 Dr. William McBride (Austrália) relatou aumento de 20% nas anomalias fetais e focomelia em relação ao uso da talidomida, posteriormente numerosos relatórios de outros países (mais de 4000 casos). 1962 Emenda dos EUA Kefauver-Harris à lei (requisito para provar a segurança e eficácia antes de emitir MA). 1964 O Reino Unido iniciou o sistema de “cartões amarelos”. 1965 A União Europeia emitiu a Diretiva CE 65/65 - primeira diretiva farmacêutica europeia. A diretiva foi uma reação à tragédia da talidomida no início da década de 1960 e visava estabelecer e manter alto nível de proteção da saúde pública na Europa. 1968 O Projeto Piloto da Organização Mundial da Saúde começou a reunir reações adversas a medicamentos de vários países. 1997 ICH E2B adotou o padrão de relatório eletrônico aprovado mundialmente. 1999 Institute of Medicine - relatório sobre erros e questões de risco. Introdução de conceitos de gerenciamento de risco. 2001 Diretrizes para relatórios de segurança pós-comercialização - FDA Orientações sobre como relatar eventos adversos na fase pós-comercialização 2002 PDUFA III - Leis sobre taxas de usuários de medicamentos controlados permitiram que a FDA cobrasse taxas. 2004 Esboço das diretrizes de gestão de risco. 2005 Diretrizes finais de gestão de risco. 2014 Boas Práticas de Farmacovigilância para Medicamentos. SISTEMAS DE FARMACOVIGILÂNCIA O sistema de Farmacovigilância envolve a coleta, o monitoramento, a pesquisa e a avaliação das informações recebidas de médicos, dentistas, farmacêuticos, enfermeiras e de outros profissionais de saúde para compreender a reação adversa ao medicamento. A definição de Farmacovigilância inclui o monitoramento de todas as drogas farmacêuticas e de outros produtos médico-hospitalares, incluindo vacinas, meios de contraste de raios-X, medicamentos tradicionais e fitoterápicos, especialmente quando a reação é incomum, potencialmente séria, ou clinicamente significativa. FARMACOVIGILÂNCIA EM DIFERENTES PAÍSES / REGIÕES Todas as regiões do mundo têm seu próprio sistema de Farmacovigilância particular, embora tenham como base comum as diretrizes da OMS. FARMACOVIGILÂNCIA NA EUROPA O sistema de Farmacovigilância na Europa é coordenado pela Agência Europeia de Medicamentos (AEM) e conduzido pelas Autoridades Nacionais Competentes. A AEM mantém e desenvolve a base de dados de Farmacovigilância que inclui todas as suspeitas de reações adversas graves a medicamentos observadas na região europeia. Lá, o sistema de Farmacovigilância é denominado EudraVigilance e contém bancos de dados separados, mas semelhantes, de reações humanas e veterinárias. Fonte:Shutterstock FARMACOVIGILÂNCIA NOS ESTADOS UNIDOS Neste país, a Farmacovigilância tem uma abordagem multifacetada. Três ramos da Farmacovigilância nos EUA podem ser definidos pela FDA; os fabricantes de produtos farmacêuticos; e as organizações acadêmicas sem fins lucrativos como RADAR e Public Citizen. Já a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos recebe relatórios sobre reações adversas a medicamentos e toma as medidas adequadas para a segurança dos medicamentos. Fonte:Shutterstock FARMACOVIGILÂNCIA NA ÍNDIA A Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO), do Ministério da Saúde e Bem-Estar da Família do governo da Índia, lançou o Programa Nacional de Farmacovigilância (NPP) em novembro de 2004. A Farmacovigilância no país foi baseada nas recomendações da OMS feitas no documento intitulado Monitoramento de Segurança de Produtos Medicinais: Diretrizes para Criação e Funcionamento de um Centro de Farmacovigilância. Todo o país é dividido em zonas e regiões para eficiência operacional. A CDSCO, em Nova Delhi, está no topo da hierarquia, seguida por outros dois centros de Farmacovigilância, Seth GS Medical College, em Mumbai e AIIMS, em Nova Delhi. Fonte:Shutterstock AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) NO BRASIL O papel essencial da ANVISA é garantir a segurança pública no uso de medicamentos através de uma série de ações. Com relação à Farmacovigilância, essas ações incluem o gerenciamento de relatórios de suspeita de RAM, realização de estudos pós-autorização, gerenciamento de bancos de dados de relatórios suspeitos de RAM, treinamento e distribuição de produto relatórios de segurança e fichas de dados. O sistema do Brasil é coordenado pelo Centro Nacional de Monitoramento de Medicamentos (CNMM), com sede em Brasília, através da Gerência Geral de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância de Saúde (GGMON), que coordena o Sistema de Notificação de EAM (Eventos Adversos relacionados com Medicamentos), denominado VigiMed, e também pratica vigilância ativa por meio da Rede Hospital Sentinela. Ambas são estratégias de Relatórios de Vigilância em Saúde e Sistema de Investigação na Vigilância Pós-Comercialização (VIGIPOS). OS SISTEMAS DE FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL E NO MUNDO. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A FARMACOVIGILÂNCIA É A CIÊNCIA RESPONSÁVEL PELA DETECÇÃO E ANÁLISE DE EVENTOS ADVERSOS COM MEDICAMENTOS. MUITOS DESSES EVENTOS PODEM VARIAR EM GRAVIDADE, QUE VAI DESDE LEVES SINTOMAS PASSAGEIROS À MORTE. DENTRE OS EVENTOS QUE MARCARAM A FARMACOVIGILÂNCIA, ASSINALE O QUE FOI CONSIDERADO MAIS EMBLEMÁTICO: A) Mortes causadas pelo clorofórmio, usado como agente anestésico. B) Dietilenoglicol foi usado para solubilizar sulfonilamidas. C) A tragédia da Talidomida. D) Lançamento das Boas Práticas de Farmacovigilância para Medicamentos. E) Reino Unido iniciou o sistema de “cartões amarelos”. 2. ASSINALE A ALTERNATIVA A SEGUIR, QUE REPRESENTA O SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO DE RAM NO BRASIL E SUA AGÊNCIA REGULADORA. A) Notivisa - FDA B) RADAR - FDA C) GGMON - ANVISA D) EudraVigilance - AEM E) Vigimed - ANVISA GABARITO 1. A Farmacovigilância é a ciência responsável pela detecção e análise de eventos adversos com medicamentos. Muitos desses eventos podem variar em gravidade, que vai desde leves sintomas passageiros à morte. Dentre os eventos que marcaram a Farmacovigilância, assinale o que foi considerado mais emblemático: A alternativa "C " está correta. O uso da talidomida no mundo inteiro por mulheres grávidas promoveu o surgimento de uma geração inteira de pessoas com má-formação congênita, como, por exemplo, a focomelia. Esses efeitos podem ser vistos até os dias de hoje em pessoas que nasceram naquela época, tendo se tornado o caso mais emblemático da Farmacovigilância. 2. Assinale a alternativa a seguir, que representa o sistema de notificação de RAM no Brasil e sua agência reguladora. A alternativa "E " está correta. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária é a responsável pela Farmacovigilância nacionalmente e seu sistema eletrônico de notificação é o VIGIMED, que pode ser acessado via internet. MÓDULO 2 Classificar as Reações Adversas aos Medicamentos (RAM) e seus fatores de risco EVENTOS ADVERSOS AOS MEDICAMENTOS A terapia moderna melhorou a forma de como as doenças são tratadas e obteve muito sucesso. Ainda assim, as Reações Adversas aos Medicamentos (RAM) são causas comuns de morbidade e mortalidade evitáveis. ESTUDOS TÊM MOSTRADO QUE RAM SÃO A QUARTA CAUSA DE MORTE NOS EUA. A LITERATURA TAMBÉM DEMONSTRA QUE AS RAM SÃO UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR, PERMANÊNCIA HOSPITALAR PROLONGADA E GASTOS ADICIONAIS EM DINHEIRO E PERDA DE TEMPO DA EQUIPE DE SAÚDE, BEM COMO BAIXA SATISFAÇÃO DO PACIENTE. Também é relatado que as admissões hospitalares relacionadas à RAM representavam 10% de todas as hospitalizações. No momento em que o medicamento é comercializado,pouco se sabe a respeito de sua segurança, pois, geralmente, apenas cerca de 1.500 pessoas podem ter sido expostas ao medicamento durante os testes clínicos. Assim, apenas os casos de RAM que ocorrem em uma frequência maior que 1 em 500 terão sido detectados antes que o medicamento seja comercializado. Além disso, a composição genética das pessoas que participam dos ensaios clínicos, não é representativa de toda a população que tomará o medicamento após a comercialização. Podemos encontrar na literatura que a avaliação de RAM, portanto, é provavelmente o aspecto mais importante do tratamento medicamentoso. Fonte: Shutterstock. ALGUMAS DEFINIÇÕES Conheça os termos relacionados a Reações Adversas aos Medicamentos (RAM): REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS A Organização Mundial da Saúde define RAM como uma resposta ao medicamento que é nociva e não intencional e que ocorre em doses normalmente usadas em humanos para a profilaxia, diagnóstico ou terapia de doenças ou para a modificação de funções fisiológicas. As RAM, ao contrário de eventos adversos a medicamentos, incluem relação causal entre o fármaco e sua ocorrência, também são diferenciadas dos efeitos colaterais que podem ser benéficos. EVENTO ADVERSO DE MEDICAMENTO (EAM) É qualquer ocorrência clínica desagradável que pode se apresentar durante o tratamento com um medicamento, mas não tem necessariamente relação causal direta com este tratamento. Evento adverso a medicamento refere-se a qualquer resultado adverso ocorrido durante o tratamento, mas não necessariamente causado pelo mecanismo de ação do medicamento. A reação adversa ao medicamento é um evento adverso em que a natureza e a gravidade não são consistentes com a rotulagem ou autorizações de mercado ou esperada da caracterização do medicamento. EFEITO COLATERAL É qualquer efeito indesejado de um produto farmacêutico, ocorrendo em doses normalmente usadas por um paciente, que está relacionado às propriedades farmacológicas e ao mecanismo de ação do medicamento. Esta definição foi formulada para incluir efeitos colaterais que, embora não sejam o objetivo principal da terapia, podem ser benéficos em vez de prejudiciais, por exemplo, um agente β-bloqueador usado para tratar hipertensão pode, por β- bloqueio, também aliviar a angina do paciente. EVENTO SENTINELA É um incidente grave, seja pelo dano, seja pelo risco do dano, ou mesmo pelo desgaste da imagem institucional, que merece ser investigado pelo método mais robusto como a análise de causa raiz. EVENTO ADVERSO GRAVE É qualquer ocorrência clínica desagradável que em qualquer dose resulta em morte, ou requer hospitalização do paciente ou prolongamento da hospitalização existente, resultando em deficiência persistente ou significativa ou anomalia congênita. ERRO DE MEDICAÇÃO É qualquer evento evitável que pode causar o uso inadequado de medicamentos ou danos ao paciente enquanto o medicamento está sob controle do profissional de saúde ou do paciente. Pode estar relacionada à prática profissional, aos procedimentos de cuidado à saúde como prescrição, dispensação, manipulação, rotulagem, distribuição, administração, monitoramento e uso de medicamentos. FATORES PREDISPONENTES A REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS Os riscos de desenvolver RAM são multifatoriais. Eles incluem fatores relacionados aos medicamentos, ao paciente, a doenças e fatores sociais. Em seguida, você poderá compreender a classificação desses fatores. FATORES RELACIONADOS AO MEDICAMENTO Fonte: Shutterstock. DOSE E FREQUÊNCIA DO MEDICAMENTO A dose do medicamento, a frequência de administração e a hora do dia em que o medicamento é administrado afetam significativamente a ocorrência de RAM. A aspirina, por exemplo, quando ingerida à noite, produz uma melhor ação antiplaquetária. Já os diuréticos, como a bendrofluazida, não devem ser tomados à noite, para evitar distúrbios do sono. Fonte: Shutterstock. POLITERAPIA Envolve a prescrição de muitos medicamentos ao mesmo tempo para um único paciente. Um único paciente (especialmente, os idosos) pode ser atendido por prescritores diferentes para suas várias condições de doença que podem resultar em politerapia ou polimedicação. É relatado na literatura que pacientes acima de 65 anos usam em média 2 a 6 medicamentos prescritos e 1 a 3 medicamentos não prescritos. Outro exemplo importante descrito na literatura é o fato de que o paciente tratado com anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) e corticosteroides ao mesmo tempo pode ter 15 vezes mais riscos de desenvolver úlcera péptica do que os pacientes que não tomam nenhum dos dois medicamentos. Fonte: Shutterstock. ERRO DE MEDICAÇÃO É clinicamente errado usar dois medicamentos da mesma classe e eficácia para tratar uma condição de doença, porque promoverá a ocorrência de RAM, por exemplo, uso de dois AINE ou anti-histamínicos terapeuticamente equivalentes. FATORES RELACIONADOS AO PACIENTE Fonte: Shutterstock. Idade: A idade tem um efeito significativo no desenvolvimento de RAM, especialmente, nas idades extremas (pacientes pediátricos e geriátricos). Erros devido ao cálculo da dose pediátrica levam a RAM em muito mais casos do que em adultos, devido à sua natureza frágil. Pacientes idosos apresentam baixa quantidade de água no corpo levando ao aumento dos tecidos adiposos em relação à proporção de água. Isso faz com que fármacos solúveis em água atinjam maior concentração devido à presença de menos água para dissolvê-los. Por outro lado, nesses pacientes, fármacos muito solúveis em lipídios apresentam menor concentração quando comparados a indivíduos mais jovens. Isso se justifica pela presença de alto teor de gordura para dissolvê-los. Fonte: Shutterstock. Gênero: Os homens diferem das mulheres na motilidade do trato gastrintestinal (TGI), também têm maior peso corporal, tamanho dos órgãos internos e filtração glomerular, mas menor gordura corporal. Esses fatores afetam tanto a Farmacocinética quanto a Farmacodinâmica do medicamento. Menstruação, gravidez e menopausa são peculiares às mulheres, sua ocorrência pode afetar significativamente as ações do medicamento. Fonte: Shutterstock. Gravidez: Durante a gravidez ocorrem várias alterações fisiológicas que podem afetar a farmacocinética dos medicamentos, bem como a farmacodinâmica. Durante a gravidez, as RAM podem afetar apenas a mãe, o feto ou ambos. Fonte: Shutterstock. Desenvolvimento fetal: O feto é sensível a fármacos na circulação materna devido à sua natureza frágil, baixo metabolismo e capacidade de excreção que podem causar teratogenicidade. Esses efeitos adversos dependem do tipo e da quantidade do medicamento ingerido, da duração e do estágio de crescimento fetal. Fonte: Shutterstock. Função renal: A doença renal altera a taxa de depuração e metabolismo do medicamento, levando à sua toxidez e baixo efeito terapêutico, que pode ser diagnosticado pelo nível de depuração da creatinina. A insuficiência renal também afeta a depuração não renal do medicamento, introduzindo outra doença ou infecção que leva à possibilidade de RAM. Fonte: Shutterstock. Alergia: Antígenos de reação cruzada independentes de fármacos podem desencadear sensibilizações que podem se tornar alergia a medicamentos. A utilização de sulfonamidas e os antibióticos β-lactâmicos, por exemplo, é uma causa comum de alergia a medicamentos. FATORES RELACIONADOS À DOENÇA A presença de várias doenças ao mesmo tempo predispõe o paciente à interação fármaco- doença que pode eventualmente levar a RAM. Por exemplo, aumento na frequência de toxicidade idiossincrática com medicamentos anti-infecciosos, como sulfametoxazol/trimetoprima. A literatura aponta que a AIDS aumenta a possibilidade de desenvolver RAM, como a síndrome de Stephen Jonson e a necrose epidérmica tóxica. FATORES SOCIAIS Fonte: Shutterstock. POLIMORFISMO GENÉTICO Acredita-se que a origem étnica seja controlada por fatores genéticos que são responsáveispelo polimorfismo genético, por diferenças individuais na capacidade enzimática de metabolizar os medicamentos, diferenças nos receptores e transportadores de fármacos. A literatura atual indica que pacientes que desenvolveram RAM têm mais CYP1A2, com combinações de alelos baixos (8/12; 67%) e menos CYP1A2-mRNA do que pacientes que não desenvolveram RAM (6/22; 27%). Fonte: Shutterstock. ÁLCOOL O álcool afeta o metabolismo dos fármacos e promove o desenvolvimento de RAM. O consumo de álcool com AINE por paciente com úlcera péptica ou gastrite pode causar hemorragia interna, por exemplo. A ingestão simultânea de álcool com alguns fármacos leva a muitas RAM, como náuseas, vômitos, dor de cabeça, sonolência, desmaios e hipotensão. Fonte: Shutterstock. TABAGISMO O tabagismo é identificado como um dos fatores de risco para úlcera péptica, doenças cardiovasculares e câncer. A investigação clínica prova que, em média, os fumantes diabéticos insulinodependentes precisam de 15-20% a mais de insulina do que os não fumantes e até 30% mais para os fumantes pesados. CLASSIFICAÇÃO DE EVENTO ADVERSO A MEDICAMENTO Na verdade, há uma grande variedade de sistemas de classificação possíveis para reações adversas a medicamentos e pode parecer que qualquer sistema amplamente aceito daria uma resposta razoável, desde que se mantivesse o mesmo sistema para toda a resposta. Não está claro na literatura qual sistema de classificação é o mais adequado. Um evento adverso ocorre durante a terapia medicamentosa, mas não tem necessariamente uma relação causal com o mecanismo de ação, ao passo que uma reação adversa está diretamente relacionada ao medicamento e ocorre no curso de seu uso apropriado. Os eventos adversos podem ser classificados como: TIPO A Reações relacionadas com a dose (efeitos adversos com a dose normal ou sobredose), como, por exemplo, síndrome da serotonina ou efeitos anticolinérgicos dos tricíclicos. TIPO B Reações não relacionadas com a dose (ou seja, qualquer exposição é suficiente para desencadear tal reação), por exemplo, reações alérgicas ou de anafilaxia. TIPO C Reações relacionadas com a dose e com o tempo, por exemplo, devido ao acúmulo de dose ou uso prolongado (por exemplo, supressão adrenal com corticosteroides). TIPO D Reações relacionadas com o tempo, ou seja, devido ao uso prolongado de uma droga que não tende a se acumular (por exemplo, discinesia tardia de antipsicóticos). TIPO E Reações de abstinência, ou seja, os efeitos indesejados de cessar o medicamento (por exemplo, abstinência de opiáceos). TIPO F Falha inesperada da terapia, em que um medicamento aumenta ou diminui de forma indesejada a eficácia - por exemplo, a diminuição da depuração de um medicamento por diálise ou a diminuição do efeito de antibióticos devido à resistência. CLASSIFICAÇÃO DA OMS javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) De acordo com a OMS, as RAM podem ser classificadas como: DEFINIDA • Evento ou anormalidade de teste laboratorial, com plausível relação do tempo com a ingestão do medicamento • Não pode ser explicada por doença ou outros medicamentos • Resposta à retirada plausível (farmacologicamente ou patologicamente) • Evento definitivo farmacologicamente ou fenomenologicamente (uma objetiva e específica desordem clínica ou fenômeno farmacológico reconhecido); • Reutilização do medicamento (se necessário) PROVÁVEL • Evento ou anormalidade de teste laboratorial, com relação de tempo razoável com a ingestão do medicamento • Improvável atribuição a uma doença ou outro medicamento • Resposta à retirada clinicamente razoável • Reutilização do medicamento desnecessária POSSÍVEL • Evento ou anormalidade de teste laboratorial, com relação de tempo razoável com a ingestão do medicamento • Também pode ser explicado por doença ou outro medicamento • Informações sobre a retirada do medicamento em falta ou pouco claro IMPROVÁVEL • Evento ou anormalidade de teste laboratorial, com um relacionamento com o tempo de uso do medicamento improvável (mas não impossível) • Doenças ou outros medicamentos fornecem explicações plausíveis OUTROS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO PARA REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS Você também pode encontrar na literatura classificações que são de acordo com a possibilidade que os eventos adversos apresentam de ocorrer em qualquer paciente ou determinada população suscetível. Reações que podem ocorrer em qualquer pessoa: Fonte: Shutterstock. OVERDOSE DE MEDICAMENTOS Reações tóxicas ligadas ao excesso de dose ou excreção prejudicada, ou a ambos Fonte: Shutterstock. EFEITO COLATERAL DO MEDICAMENTO Efeito farmacológico indesejável nas doses recomendadas Fonte: Shutterstock. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA Ação de um medicamento na eficácia ou toxicidade de outro medicamento Reações que ocorrem apenas em pessoas suscetíveis: • Intolerância a drogas: Baixo limiar para a ação farmacológica normal de uma droga. • Idiossincrasia de medicamentos: Reação anormal qualitativamente determinada geneticamente a um fármaco, relacionada a uma deficiência metabólica ou enzimática. • Alergia a medicamentos: Reação mediada imunologicamente, caracterizada por especificidade, transferibilidade por anticorpos ou linfócitos e recorrência na reexposição. • Reação pseudoalérgica: Reação com as mesmas manifestações clínicas de uma reação alérgica (por exemplo, como resultado da liberação de histamina), mas sem especificidade imunológica. • Reações esperadas: Extensões do efeito terapêutico; efeitos colaterais indesejáveis; interações com outros medicamentos. • Reações inesperadas: Anafilaxia; reações alérgicas; erro de prescrição; erros de administração; reações do metabolismo idiossincrático, levando ao aumento ou diminuição da depuração. • Interação com o ambiente de cuidados intensivos: Depuração por diálise ou plasmaferese; interação com dispositivos médico-hospitalares. EXEMPLOS DE CLASSIFICAÇÃO DE RAM E APLICAÇÃO DO ALGORÍTIMO DE NARANJO. VERIFICANDO O APRENDIZADO 2. COMO PODEMOS CLASSIFICAR UMA RAM CUJO EVENTO OU ANORMALIDADE DE TESTE LABORATORIAL, COM RELAÇÃO DE TEMPO RAZOÁVEL COM A INGESTÃO DO MEDICAMENTO E HÁ IMPROVÁVEL ATRIBUIÇÃO A UMA DOENÇA OU OUTRO MEDICAMENTO? A) Definida B) Improvável C) Provável D) Possível E) Certa 2. DENTRE OS FATORES QUE PODEM CAUSAR RAM, HÁ O QUE É MAIS ATRIBUÍDO A PACIENTES IDOSOS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTA ESSE FATOR: A) Dose B) Alergia C) Gravidez D) Politerapia E) Gênero GABARITO 2. Como podemos classificar uma RAM cujo evento ou anormalidade de teste laboratorial, com relação de tempo razoável com a ingestão do medicamento e há improvável atribuição a uma doença ou outro medicamento? A alternativa "C " está correta. Uma RAM é considerada provável quando apresenta as seguintes características: evento ou anormalidade de teste laboratorial, com relação de tempo razoável com a ingestão do medicamento; é improvável que seja atribuído a uma doença ou outro medicamento; resposta à retirada clinicamente razoável; reutilização do medicamento não é necessária. 2. Dentre os fatores que podem causar RAM, há o que é mais atribuído a pacientes idosos. Assinale a alternativa que representa esse fator: A alternativa "D " está correta. A politerapia pode causar RAM devido ao efeito aditivo do medicamento, sinergismo, duplicação, interações medicamentosas, descontinuação do tratamento e antagonismo fisiológico. MÓDULO 3 Descrever os métodos de Farmacovigilância e sua relação com a segurança do paciente MÉTODOS DE FARMACOVIGILÂNCIA E SUA RELAÇÃO COM A SEGURANÇA DO PACIENTE As RAM representam um fardo importante nos cuidados de saúde, pois elas estão entre a quarta e sexta principais causas de morte e levam a US $ 1,56 a US $ 4 bilhões em custos hospitalares diretos por ano nos EUA. A metodologia de detecção e monitoramento de RAM varia amplamente e, nas últimas décadas,várias abordagens para Farmacovigilância foram desenvolvidas. Fonte: Shutterstock. A seguir, você verá alguns dos métodos mais utilizados na Farmacovigilância: NOTIFICAÇÃO ESPONTÂNEA É a notificação de uma potencial RAM por um membro da equipe de saúde ou cidadão. É o principal método utilizado no mundo, mas a subnotificação é um problema. O Programa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o International Drug Monitoring, depende de relatórios espontâneos de mais de 100 países, incluindo o Brasil, e constrói uma base de dados global para identificar possíveis relações entre o uso de um medicamento e efeitos adversos e RAM. MONITORAMENTO INTENSIVO É o padrão-ouro, no qual uma equipe de especialistas examina prospectivamente os pacientes hospitalizados e aplica critérios para identificar e classificar RAM. No entanto, é extremamente caro e requer tempo de rotina. O Brasil utiliza essa estratégia no programa da Rede de Hospitais Sentinela da ANVISA. REVISÃO DE GRÁFICOS EPIDEMIOLÓGICOS (PROSPECTIVA OU RETROSPECTIVA) É razoável, mas também consome tempo e recursos. SISTEMAS COMPUTADORIZADOS Geram sinais de RAM em vários grupos de pacientes, posteriormente validados por uma equipe de especialistas. Este é um método interessante, mas atenção é necessária para construir regras e algoritmos com alta especificidade, caso contrário, também pode gerar gastos elevados. Outros problemas desta metodologia são a dependência de dados estruturados e a dificuldade em usar dados de notas narrativas. BANCOS DE DADOS São administrativos e não são amplamente usados, mas podem ter algumas vantagens, como uso de dados já existentes. Em muitos países europeus, o relato espontâneo é o único método de Farmacovigilância aplicado continuamente devido ao seu baixo custo. O monitoramento prospectivo também é frequentemente realizado em vários países da Europa. Nos Estados Unidos, métodos computadorizados e a busca em grandes bancos de dados de seguros são amplamente utilizados. Atualmente, não há formação específica para médicos, farmacêuticos, enfermeiras e outros profissionais de saúde para desenvolver monitoramento prospectivo ou intensivo para a detecção de RAM e caracterização em uma base de dados regular. Entretanto, devido à RDC 36/2013 da ANVISA, os hospitais brasileiros são obrigados à notificação compulsória de RAM e outros eventos adversos em saúde nos sistemas de notificações oficiais, como o NOTIVISA e VIGIMED, que é específico para medicamentos. CONCEITO E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO ESPONTÂNEA Notificação espontânea de reações adversas a medicamentos é uma estrutura de relato espontâneo e é a forma voluntária mais comum pela qual os órgãos reguladores coletam informações de RAM para medicamentos, assim que eles entram no mercado. Na Jordânia e no Reino Unido, o cartão amarelo é usado para coletar informações sobre RAM de profissionais de saúde e membros da sociedade. Cada cartão amarelo refere-se a um caso individual de RAM, portanto, também é chamado de Relatório de Segurança de Caso Individual. Quem deve realizar notificações espontâneas de RAM? Profissionais de saúde são a fonte preferencial de informações em Farmacovigilância, como médicos especialistas, médicos de família, farmacêuticos e dentistas. Enfermeiros e outros profissionais de saúde também podem administrar medicamentos e devem relatar reações adversas a medicamentos apresentadas pelos pacientes, assim como os cidadãos também podem notificar. Os farmacêuticos podem desempenhar um papel importante na estimulação da notificação e no fornecimento de informações adicionais (por exemplo, sobre comedicação e problemas com uso anterior de medicamentos). Os pacientes e seus familiares também podem relatar suas reações adversas a medicamentos vivenciadas diretamente para a ANVISA, ou por meio de seus profissionais de saúde. O titular do registro do medicamento no mercado, sendo o principal responsável pela segurança de seus produtos, é obrigado a relatar reações adversas graves aos medicamentos que souber sobre seus produtos. Embora as RAM detectadas nos testes clínicos devam ser incluídas na bula do medicamento, os fabricantes devem atualizar com os dados obtidos pós-comercialização. MECANISMOS DE NOTIFICAÇÃO ONLINE Para que a suspeita de reação adversa ao medicamento seja relatada, um formulário unificado deve ser usado para facilitar o relatório e para garantir que as informações necessárias sejam incluídas. Portanto, a ANVISA desenvolveu um formulário de relatório unificado, que foi adaptado do modelo internacional. Características de um bom relato de caso A qualidade dos relatórios é um ponto crítico para uma avaliação adequada da relação entre os produtos e reações adversas, portanto, bons relatos de caso incluem os seguintes elementos: Descrição da reação adversa ou experiência da doença, incluindo o tempo para o início dos sinais ou sintomas e a gravidade da(s) reação(ões). Detalhes de medicamentos suspeitos e concomitantes (ou seja, nome, concentração, dose, posologia, via de administração, indicação de uso, duração do uso e número do lote, especialmente para vacinas), incluindo medicamentos de venda livre, suplementos dietéticos e, recentemente, medicamentos descontinuados. Documentação do diagnóstico das reações, incluindo os métodos usados para fazer o diagnóstico. Curso clínico da reação e dos resultados do paciente (por exemplo, hospitalização ou morte). Características do paciente, incluindo nome ou iniciais, idade, sexo, peso e linha de base de condição clínica anterior à terapia do produto, condições de comorbidade, uso de medicamentos concomitantes, história familiar relevante de doença e presença de outros fatores de risco. Medidas terapêuticas relevantes e dados laboratoriais no início do estudo, durante a terapia e subsequentes à terapia, incluindo níveis séricos, caso apropriado. Informações sobre a resposta à eliminação e reexposição. Qualquer outra informação relevante (por exemplo, outros detalhes relativos à reação ou informações sobre benefícios recebidos pelo paciente, se importantes para a avaliação da reação). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: JFDA, 2014. Consequentemente, tem sido necessário estabelecer mecanismos de monitoramento de medicamentos relacionados à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de eventos adversos ou quaisquer outros problemas relacionados aos medicamentos. A Farmacovigilância, ou segurança do medicamento, implica em um estado constante de vigilância para reconhecer quando as coisas estão dando errado, para agir a fim de resolver problemas imediatos e compartilhar informações sobre as causas do dano para influenciar políticas e práticas futuras. Entre os diferentes métodos de notificação de suspeitas de RAM, os sistemas de notificação espontânea fornecem o maior volume de informações com o menor custo de manutenção e provaram seu valor na detecção precoce de problemas relacionados a medicamentos. No Brasil, a portaria nº 696 do Ministério da Saúde, de 7 de maio de 2001, nomeou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA como centro nacional de Farmacovigilância e, em 2007, o sistema eletrônico espontâneo nacional de notificação - o Sistema de Notificação de Vigilância Sanitária Notivisa - foi montado com banco de dados próprio. Como membro do PIDM da OMS desde 2001, o Brasil é obrigado a enviar notificações de suspeitas de RAM ao VigiBase em um formato compatível com o padrão internacional para transmissão eletrônica, definido na Conferência Internacional sobre Harmonização de Requisitos Técnicos para Registro de Fármacos para Uso Humano (ICH). Este formato é uma estrutura padronizada para o envio eletrônico de informações entre bancos de dados e contém todos os elementos de dados relevantes para avaliar as RAM. No entanto, como o Notivisa não é compatível com o formato ICH E2B, isso significava inserir manualmenteos dados do Notivisa em uma versão gratuita limitada do VigiFlow (base de dados da OMS). Fonte: Shutterstock. PIDM Programme for International Drug Monitoring – Programa Internacional de Monitoramento de Medicamentos. javascript:void(0) Além de não ser compatível com o ICH E2B, o Notivisa também era limitado pela instabilidade do sistema, incapacidade de importar séries de dados ou exportar o banco de dados para análise, falta de ferramentas analíticas e estatísticas e funcionar apenas com o navegador Internet Explorer. A necessidade de substituição foi reforçada em 2016, quando o Brasil aderiu ao ICH, o que tornou obrigatória a incorporação das diretrizes do ICH. No início de 2018, a Anvisa decidiu adotar o VigiFlow (que recebeu o nome de VIGIMED) como sistema oficial de notificação das RAM no Brasil. VIGIFLOW É UM SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE ICSRS PARA PAÍSES QUE EXIGEM UM BANCO DE DADOS ELETRÔNICO DE FARMACOVIGILÂNCIA PARA A COLETA, PROCESSAMENTO E COMPARTILHAMENTO DE ICSRS PARA UMA ANÁLISE DE DADOS EFICAZ. Foi inicialmente desenvolvido para a agência reguladora suíça Swissmedic. Hoje, é oferecido a centros nacionais em países de baixa e média renda como uma forma de baixo custo de gerenciar seus dados de Farmacovigilância. Anteriormente, uma versão gratuita do VigiFlow com funcionalidade limitada também estava disponível para oferecer suporte aos países que relatavam ICSRs ao VigiBase. Para conhecer detalhadamente o funcionamento do VigiFlow e apresentar suas necessidades e seus requisitos, a Anvisa realizou diversas conferências e, em novembro de 2018, cinco membros da equipe viajaram para Uppsala, na Suécia, em visita técnica. As características e as funcionalidades do VigiFlow foram comparadas com as do Notivisa e os requisitos do Sistema Nacional de Farmacovigilância do Brasil. Veja algumas definições importantes utilizadas nas notificações: Fonte:Shutterstock QUEIXA TÉCNICA É a notificação de suspeita de desvio de qualidade ou qualquer alteração ou irregularidade de um produto/empresa relacionada a aspectos técnicos ou de requisitos legais, que poderá ou não levar a um dano à saúde individual e coletiva. Podemos tomar como exemplo empresas sem Autorização de Funcionamento (AFE) ou medicamentos sem registro, além de produtos falsificados ou com aspectos alterados, e até mesmo presença de corpo estranho no produto. Fonte:Shutterstock INEFETIVIDADE TERAPÊUTICA É considerado como ausência ou diminuição do efeito terapêutico do medicamento. Fonte:Shutterstock USO ABUSIVO É o ato de utilização de medicamento por conta própria, sem orientação médica ou de um profissional de saúde, e muitas vezes levando à dependência ou intoxicação. FARMACOVIGILÂNCIA E SEGURANÇA DO PACIENTE A taxa de incidência de Reações Adversas a Medicamentos adquiridas durante a hospitalização parece ser um fator crucial para decidir a qualidade do cuidado dos pacientes. Curiosamente, neonatos e bebês têm uma maior propensão a desenvolver RAM devido a vários motivos. Esses motivos variam entre incapacidade de comunicação, inconsistência inerente em relação à Farmacocinética e Farmacodinâmica dos medicamentos, variação de seu processo de doença em comparação com adultos, escassez de formulação pediátrica, maior incidência de falha terapêutica, uso off-label e exposição inevitável aos medicamentos devido ao uso materno durante a amamentação. Fonte:Shutterstock Métodos ideais e um padrão para o reconhecimento de RAM ainda não foram desenvolvidos. A abordagem atual para detecção de RAM é fortemente dependente do sistema de notificação espontânea, mas, devido às suas restrições intrínsecas, métodos adicionais apropriados e eficientes ainda são necessários para a detecção, a fim de aumentar ainda mais a segurança do paciente. Além disso, deve-se enfatizar que o método de ferramentas de gatilho demonstrou ter capacidade 50 vezes maior para identificar RAM em comparação com o sistema de notificação espontânea de RAM adquiridas em hospitais, tanto em adultos quanto em pediatria. Além disso, essa abordagem distinta foi amplamente reconhecida por pioneiros da Farmacovigilância, como o Institute for Healthcare Improvement (IHI) e o Institute of Medicine para a identificação de RAM. O conceito de gatilho ou pista eletrônica para detectar uma RAM do prontuário do paciente usando o sistema de informações do hospital foi desenvolvido pela primeira vez pelo Institute of Healthcare Improvement em 1999, a fim de melhorar a segurança do paciente. AS FERRAMENTAS DE GATILHO SÃO DESTINADAS À DETECÇÃO DE RAM E NÃO DE ERROS DE MEDICAÇÃO, ALÉM DISSO NEM TODOS OS GATILHOS POSITIVOS SÃO IDENTIFICADOS COMO RAM, PORTANTO, PODE SER APENAS UMA SUSPEITA OU UMA PISTA. A medicação e os gatilhos de valor laboratorial podem ser automatizados e facilmente capturados do sistema de informação. A revisão subsequente de especialistas do prontuário do paciente torna possível autenticá-la como uma RAM. Vamos a alguns exemplos de gatilhos, também conhecido com o termo em inglês TRIGGER TOOLS: MEDICAMENTOS COMO A HIDROCORTISONA E DIFENIDRAMINA São considerados gatilhos de RAM de hipersensibilidade. Quando o farmacêutico detecta a prescrição desses medicamentos, deve buscar no prontuário sinais ou sintomas de reações alérgicas. MEDICAMENTOS COMO FLUMAZENIL E NALOXONA O uso de “antídotos” é considerado gatilho de EAM consequente de sedação e analgesia. O farmacêutico deve buscar evidências de depressão cardiorrespiratória e/ou redução do nível de consciência. MEDICAMENTOS COMO VITAMINA K E PROTAMINA São considerados gatilho para eventos relacionados ao uso de anticoagulantes. Resultados de INR elevado, redução do hematócrito ou descrição de sangramentos em prontuário devem ser buscados pelos farmacêuticos para averiguação de evento adverso. INR O INR ou RNI (razão normalizada internacional) é uma medida laboratorial para avaliar a via extrínseca da coagulação derivada do tempo de protombina (TP) ou tempo de atividade de protombina (TAP). Em estudos Farmacoepidemiológicos, métodos quantitativos para detecção de RAM, como sinais de antídoto de medicamento (SAM) e sinais laboratoriais, encontram aceitação significativa, principalmente em grandes bancos de dados clínicos de registros clínicos eletrônicos (RCE) dos hospitais. Suas vantagens são bastante marcantes por incluírem grande tamanho de amostra, serem praticamente econômicas e não apresentarem preconceito pessoal. Além disso, espera-se que os sinais obtidos a partir de ferramentas de gatilho de RAM e bancos de dados de EMR forneçam uma perspectiva de detecção de RAM desconhecidas, incomuns e graves. O documento Errar é humano identificou que cerca de 98.000 pessoas morrem em um ano por causa de erros na assistência à saúde que ocorrem em hospitais. A partir desse documento, a OMS em 2004 apontou aos governos do mundo a necessidade de estabelecer programas que garantam ações seguras no cuidado ao paciente e sugere uma estratégia global para cumprir esse propósito. O Brasil só adotou medidas mais específicas em 2013, ao lançar o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), com a publicação da Portaria 529/2013 do Ministério da Saúde e com a RDC 36/2013 da ANVISA. javascript:void(0) Apesar dos programas liderados pela OMS, as consequências negativas para a saúde dos pacientes ainda estão longe de serem controladas ou minimizadas devido, entre outros motivos, ao atual modelo biomédico que visa solucionar os problemas de saúde com intervenções médicas, em que os medicamentos são uma parte essencial, e uma economia neoliberal que fez da saúde um modelo de negócios, que não levam as estatísticas de EAM a níveis aceitáveis. A segurança do paciente é a ausência de danos evitáveis a um paciente durante o processo de cuidados de saúde e redução do risco de danos desnecessários associados aos cuidados de saúde ou a redução a um mínimo aceitável. Um mínimo aceitável refere-se às noções coletivasde determinado conhecimento atual, recursos disponíveis e o contexto no qual o cuidado foi prestado, ponderado em relação ao risco de não tratamento ou de outro tratamento. Entretanto, cada ponto no processo de cuidar contém um certo grau de insegurança inerente. Políticas claras, capacidade de liderança organizacional, dados para impulsionar melhorias na segurança, profissionais de saúde qualificados e envolvimento efetivo dos pacientes em seus cuidados são necessários para garantir melhorias sustentáveis e significativas na segurança dos cuidados de saúde. CONHEÇA AS INICIATIVAS INTERNACIONAIS PARA SEGURANÇA DO PACIENTE A necessidade global de qualidade de atendimento e segurança do paciente foi discutida pela primeira vez durante a Assembleia Mundial da Saúde em 2002, e a resolução WHA55 sobre “Qualidade do atendimento: segurança do paciente” na 55ª Assembleia Mundial da Saúde instou os Estados Membros a “maior atenção possível ao problema da segurança do paciente”. Desde então, houve várias iniciativas internacionais, que trouxeram a importância do assunto à atenção dos formuladores de políticas em muitos países, incluindo: • Promoção de mecanismos de reconhecimento internacional da excelência em segurança do paciente. • Prestação de assistência a países em várias áreas-chave. • Desenvolvimento de normas e padrões globais. • Promoção de políticas baseadas em evidências. • Incentivo à pesquisa. MEDICAMENTOS SEM DANOS Práticas inseguras de medicação e erros de medicação são uma das principais causas de lesões e danos evitáveis nos sistemas de saúde em todo o mundo. Globalmente, o custo associado a erros de medicação foi estimado em US $ 42 bilhões anuais. Erros podem ocorrer em diferentes estágios do processo de uso de medicamentos. Erros de medicação ocorrem quando sistemas de medicação são fracos e/ou fatores humanos como fadiga, condições ambientais ruins ou falta de pessoal afetam as práticas de prescrição, transcrição, dispensação, administração e monitoramento, o que pode resultar em danos graves, incapacidade e até morte. Várias intervenções para abordar a frequência e o impacto dos erros de medicação já foram desenvolvidas, mas sua implementação é variada. É necessária uma ampla mobilização de stakeholders (partes interessadas) para apoiar ações sustentadas. Em resposta a isso, a OMS identificou Medication Without Harm como o tema do terceiro Desafio Global para a Segurança do Paciente. O terceiro Desafio Global para a Segurança do Paciente da OMS: Medicação sem Dano proporá soluções para lidar com muitos dos obstáculos que o mundo enfrenta hoje para garantir a segurança das práticas de medicação. O objetivo da OMS é alcançar o envolvimento e o compromisso generalizados dos Estados Membros da OMS e organismos profissionais em todo o mundo para reduzir os danos associados à medicação. Objetivo do Desafio Global para a Segurança do Paciente Fonte: O autor. O terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente com o tema medicamentos seguros é definido dentro da filosofia da segurança do paciente anteriormente desenvolvida pela OMS, onde preconiza que os erros são inevitáveis e provocados em grande parte por sistemas de saúde frágeis, e assim o desafio é reduzir a frequência e impacto de problemas relacionados com medicamentos. O desafio foi lançado em março de 2017, na Reunião Ministerial Global Cúpula sobre Segurança do Paciente em Bonn, Alemanha. Buscando o comprometimento de alto nível delegados, ministros da saúde e especialistas, o lançamento criou uma oportunidade para líderes para impulsionar a mudança e trabalhar juntos para fazer diferença real na vida dos pacientes, familiares e profissionais de saúde. Este desafio se baseará na experiência acumulada durante os desafios anteriores e conduzirá um processo de mudança para reduzir danos ao paciente gerados por medicação insegura, práticas e erros de medicação. Todos os erros de medicação são potencialmente evitáveis. Eles podem, portanto, ser muito reduzidos ou mesmo evitados por sistemas e práticas de medicação, incluindo pedido, prescrição, preparação, dispensação, administração e monitoramento. Dado que o assunto é tão vasto, a abordagem deste terceiro desafio visa salvar vidas e reduzir os danos relacionados a medicamentos causados por práticas inseguras e erros, abordando especificamente os pontos fracos da prestação de serviços e desenvolvimento de sistemas de saúde mais eficazes. GRAVIDADE DO PROBLEMA Práticas de medicação inseguras e erros de medicação são as principais causas de danos evitáveis nos sistemas de saúde em todo o mundo. Esses apresentam as seguintes características: Erros de medicação ocorrem quando sistemas frágeis de medicação e/ou fatores humanos como fadiga, mau ambiente, condições ou falta de pessoal afetam a prescrever, transcrever, dispensar, práticas de administração e monitoramento, o que pode resultar em danos graves, deficiência e até morte. Pacientes que vivem em países de baixa renda têm experiências de duas vezes mais de anos de vida perdidos devido a danos por medicamentos do que aqueles em países de alta renda. A escala e a natureza deste dano são diferentes entre países de baixa, média e alta renda. Globalmente, o custo associado com erros de medicação é estimado em US$ 42 bilhões anuais. Erros ocorrem com mais frequência durante a administração, no entanto existem riscos em diferentes estágios do processo da medicação. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O desafio na segurança de medicamentos é ganhar o compromisso mundial e a ação para reduzir dano grave e evitável relacionado à medicação, especificamente, abordando os danos resultantes de erros ou práticas inseguras devido a deficiências em sistemas de saúde. O desafio visa fazer melhorias em cada etapa do processo da medicação, incluindo prescrição, dispensação, administração, monitoramento e uso. Fonte: Shutterstock. Objetivos do Desafio Global sobre Segurança de Medicamentos A Segurança de Medicamentos facilitará o fortalecimento de sistemas e práticas que podem iniciar ação corretiva dentro dos países para melhorar a segurança do paciente e diminuir danos evitáveis relacionados aos medicamentos. Para conseguir isso, o Desafio adotará cinco objetivos específicos: CRIAR uma estrutura de ação direcionada em pacientes, profissionais de saúde e Estados Membros, para facilitar melhorias no pedido, na prescrição, na preparação, na dispensação, na administração e no monitoramento de práticas, que podem ser adotadas e adaptadas pelos Estados-Membros. CAPACITAÇÃO de pacientes, famílias e cuidadores para que se envolvam ativamente em decisões de tratamento ou cuidados, façam perguntas, identifiquem erros e, de forma eficaz, gerenciem seus medicamentos. AVALIAR o escopo e a natureza dos danos evitáveis e fortalecer os sistemas de monitoramento para detectar e rastrear este dano. DESENVOLVER orientações, materiais, tecnologias e ferramentas para apoiar o estabelecimento de sistemas de uso de medicamentos mais seguros para reduzir os erros de medicação. ENVOLVER as principais partes interessadas, parceiros e indústria para aumentar a conscientização sobre o problema e buscar ativamente esforços para melhorar segurança de medicamentos. Quatro problemas fundamentais estabelecem as bases para a estratégia do Desafio Global para a Segurança do Paciente - segurança de medicamentos: • Os pacientes e o público nem sempre são conhecedores em termos de medicação. Eles são, com muita frequência, receptores passivos de medicamentos e não são informados a fazerem parte do processo decisório de sua medicação. • Os medicamentos, às vezes, são complexos e podem ser confusos em seus nomes ou embalagem e, às vezes, apresentar falta de informação suficiente ou clareza. Confusão de nomes e/ou rótulos de medicamentos “parecidos” e a embalagem são fontes frequentes de erro e danos relacionados à medicaçãoque podem ser endereçados. • Profissionais de saúde, às vezes, prescrevem e administram medicamentos de maneiras e circunstâncias que aumentam o risco de danos aos pacientes. • Sistemas e práticas de medicação são complexos e frequentemente disfuncionais, e podem ser mais resistentes a riscos e danos se forem bem compreendidos e planejados. As ações planejadas neste Desafio são com base em quatro domínios de trabalho, um para cada problema fundamental identificado. Esses são: • Pacientes e o público • Medicação • Profissionais de saúde • Sistemas e práticas de medicação. Em cada um desses domínios, existem muitas maneiras pelas quais o uso de medicamentos pode causar danos evitáveis. Existem muitas maneiras também nas quais o cuidado poderia ser mais seguro. PRINCIPAIS ÁREAS DE AÇÃO Ações prioritárias iniciais (propostas pelo Desafio) que devem ser tomadas de forma precoce e eficaz são gerenciar três áreas principais para proteger os pacientes do dano, a saber: Fonte:Shutterstock SITUAÇÕES DE ALTO RISCO O impacto dos erros de medicação é maior em certas circunstâncias clínicas, como com pacientes internados em hospitais, em vez de ambulatoriais. Isso pode estar relacionado à forma mais aguda ou a situações clínicas graves nesses ambientes e ao uso de regimes de medicação mais complexos. Fonte: Shutterstock. POLITERAPIA MEDICAMENTOSA A politerapia é o uso rotineiro de quatro ou mais medicamentos ou medicamentos tradicionais ao mesmo tempo por um paciente. A politerapia aumentou com a maior expectativa de vida. A politerapia aumenta a probabilidade de efeitos colaterais, bem como o risco de interações entre medicamentos, e pode tornar a adesão mais difícil. Fonte:Shutterstock TRANSIÇÕES DE CUIDADO As transições de cuidado ocorrem quando um paciente é transferido entre instalações, setores e equipe de saúde; por exemplo: uma transferência do pronto-socorro para a unidade de terapia intensiva, de uma casa de repouso para um hospital, de um médico de atenção primária a um especialista ou de uma enfermeira para outra durante uma mudança de turno. Transições de cuidado aumentam a possibilidade de erros de comunicação, que podem levar a erros graves de medicação. EXEMPLOS DE NOTIFICAÇÃO ESPONTÂNEA NO VIGMED. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO OS MÉTODOS DE NOTIFICAÇÃO EM FARMACOVIGILÂNCIA, ASSINALE O QUE REPRESENTA O MAIS UTILIZADO NO MUNDO: A) Notificação espontânea B) Revisão de gráficos epidemiológicos C) Monitoramento intensivo D) Sistemas computadorizados E) Banco de dados 2. A LITERATURA APONTA QUE AS RAM APRESENTAM UMA INCIDÊNCIA MUITO GRANDE EM PACIENTES HOSPITALIZADOS, DEVIDO A DIVERSOS MOTIVOS. UMA METODOLOGIA RECONHECIDAMENTE EFICAZ PARA DETECÇÃO DE RAM EM SERVIÇOS HOSPITALARES É: A) Notificação espontânea B) Ferramentas de gatilho C) Monitoramento intensivo D) Sistemas computadorizados E) Banco de dados GABARITO 1. Considerando os métodos de notificação em Farmacovigilância, assinale o que representa o mais utilizado no mundo: A alternativa "A " está correta. Notificação espontânea é a notificação de uma potencial RAM por um membro da equipe de saúde ou cidadão. É o principal método utilizado no mundo, mas a subnotificação é um problema. 2. A literatura aponta que as RAM apresentam uma incidência muito grande em pacientes hospitalizados, devido a diversos motivos. Uma metodologia reconhecidamente eficaz para detecção de RAM em serviços hospitalares é: A alternativa "B " está correta. Ferramentas de gatilho demonstraram ter capacidade 50 vezes maior para identificar RAM em comparação com o sistema de notificação espontânea de RAM adquiridas em hospitais. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste tema, visitamos os principais Sistemas de Farmacovigilância pelo mundo, bem como as definições dos termos utilizados nessa área. Vimos, também, que a Farmacovigilância apresenta diversas formas de detecção e classificação de RAM, bem como métodos diferentes para essas práticas. Além disso, observamos que a Farmacovigilância apresenta uma relação bastante estreita com a segurança do paciente e que a OMS, juntamente com os países membros, vem desenvolvendo estratégias para minimização de problemas relacionados com medicamentes, e entre eles as RAM. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA - RDC nº 36, de 25 de Julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2013. DONALDSON, L. J.; KELLEY, E. T.; DHINGRA-KUMAR, N.; KIENY, M. P.; SHEIKH, A. Medication without harm: WHO’s third global patient safety challenge. Lancet. 29;389(10080):1680–1, 2017. JORDAN FOOD & DRUGS. Guidelines for Detecting & Reporting Adverse Drug Reactions. In: JFDA, 2014. MIGUEL, A.; AZEVEDO, L. F.; LOPES, F.; FREITAS, A.; PEREIRA, A. C. Methodologies for the detection of adverse drug reactions: comparison of hospital databases, chart review and spontan eous reporting. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 22: 98–102, 2013. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Boas práticas de Farmacovigilância para as Américas. Washington DC: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. TÜFAM. Turkish Guideline on Good Pharmacovigilance Practices (GPVP). Module I: Management and reporting of adverse drug reactions, 2014. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema: Aprenda mais com Helena Lutéscia Coêlho no artigo intitulado Farmacovigilância: um instrumento necessário, publicado em 1998. Você pode aprofundar mais seus conhecimentos lendo o artigo Farmacovigilância: elementos para a discussão e perspectivas, da autora Suely Rozenfeld. Aproveite ainda para ler o artigo intitulado O uso irracional de medicamentos e a Farmacovigilância no Brasil, do autor Paulo Sérgio Dourado Arrais, publicado em 2002. Você também pode encontrar mais sobre o assunto no artigo Farmacovigilância no Brasil, do autor Paulo Sérgio Dourado Arrais, publicado em 2014. Já Robert M. Wachter aborda a segurança do paciente em seu livro Compreendendo a segurança do paciente publicado pela Mc Graw Hill, em 2013. Saiba um pouco mais sobre a Rede Sentinela da ANVISA e o seu sistema de notificação acessando o portal da Anvisa. Para conhecer o formulário eletrônico, VigiMed, acesse o portal da Anvisa. CONTEUDISTA Eduardo Corsino Freire CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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