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Operação em espaço aéreo RVSM aeronaves é de 1.000 pés. Este espaço foi criado por conta do aumento do número de aeronaves voando nos céus diariamente. Na década de 1980, os reguladores da aviação civil de diversos estados contratantes da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), começaram a externar suas preocupações com o crescimento do tráfego aéreo, em especial como comportar o número crescente de aviões da forma que ele era dividido anteriormente. Até o estabelecimento do RVSM, aviões voando acima do nível de voo 290 deveriam ter 2.000 pés de separação vertical entre eles, limitando, assim, a quantidade de voos. Esta restrição se dava por conta da tecnologia empregada para navegação e monitoramento dos tráfegos. Para sanar essa deficiência, um programa de estudos foi iniciado pela OACI em 1982, envolvendo pesquisas mundiais para avaliar a viabilidade de uma redução dos Mínimos de Separação Vertical (VSM) acima de FL290 de 2.000 pés para 1.000 pés. Essa iniciativa resultou na revisão do Anexo 6 da OACI – Operação de Aeronaves – Parte 1 para incluir mínimos de RVSM. Hoje, esses padrões foram implementados em uma escala quase global e adotados por quase todos os órgãos provedores de navegação e comunicação aeronáuticas. Figura 1. Níveis RVSM. Fonte: JAPAN AIRSPACE SAFETY MONITORING AGENCY, [s.d]. (Adaptado). Os principais benefícios que a implementação do novo espaço aéreo deveria proporcionar eram: uma duplicação teórica da capacidade do espaço aéreo, entre FL290 e FL410; e a oportunidade de as aeronaves operarem mais perto dos níveis ideais de voo com as economias de combustível resultantes. O RVSM baseia-se no transporte e na manutenção de equipamentos especificado nas aeronaves e na existência de procedimentos operacionais adequados para garantir que o risco de perda de separação não seja maior do que seria fora do espaço aéreo do RVSM. A implementação ocorreu entre os anos de 1997 e 2005. Atualmente, todas as regiões do planeta possuem espaço RVSM, o que permite às aeronaves que voam nestes níveis manter seus perfis ótimos de operação. Dessa forma, há uma economia de combustível, representando redução de custo na operação. No Brasil, as operações RVSM se iniciaram em 20 de janeiro de 2005, data da aplicação do novo espaço aéreo nas Américas e Caribe. REQUERIMENTOS PARAR VOAR EM ESPAÇO AÉREO RVSM Figura 2. Implementação do RVSM ao redor do mundo. Fonte: JAPAN AIRSPACE SAFETY MONITORING AGENCY, [s.d]. (Adaptado). Para voar no espaço aéreo RVSM, cada aeronave deve cumprir requisitos de equipamento específicos. Não apenas o equipamento necessário deve ser instalado, mas o determinado como funcional antes de entrar nele. Os requisitos de equipamento de aeronave RVSM incluem: Dois sistemas independentes de medição de altitude que atendem aos requisitos de desempenho do RVSM; Um sistema de alerta de altitude; Um sistema automático de controle de altitude (um piloto automático certificado usado no ambiente RVSM) que é suficiente para atender aos requisitos de desempenho; Um transponder de radar de vigilância secundária (SSR) com sistema de relatório de altitude que pode ser conectado ao sistema de medição de altitude usado para manutenção desta. Os sistemas Modo C e Modo S são permitidos; Para aeronaves equipadas com TCAS II, o sistema TCAS II instalado deve atender aos requisitos da Versão 7.0, e desde 2017, aos requisitos da versão 7.1. A maioria dos aviões com motores a reação novos e produzidos recentemente são projetados com o RVSM em mente; para essas aeronaves, a data de conformidade com o acordo é encontrada no certificado de aeronavegabilidade. Para aeronaves mais antigas, que exigem atualizações de equipamentos para atender aos requisitos, a data de conformidade é registrada no diário de manutenção como parte do certificado de tipo suplementar. A certificação de aeronaves mais antigas para operações RVSM geralmente requer alterações na Lista de Equipamentos Mínimos (MEL) para estabelecer condições sob as quais o voo pode ser permitido, mas não no espaço aéreo RVSM. Para além de ter uma aeronave certificada para operações RVSM, cada operador deverá receber uma Carta de Autorização RVSM (LOA) – Letter of Authorization – de sua autoridade reguladora nacional (como ANAC, FAA, JAA ou CAA) antes de permitir que qualquer aeronave sob seu controle operacional opere no espaço aéreo RVSM. Como todos os requisitos de certificação se baseiam no Anexo 6 da OACI, uma vez que sendo certificado para operações por uma autoridade nacional reconhecida pela organização, pode-se operar no espaço aéreo RVSM em qualquer outro país. O processo de aprovação é bastante simples se o operador já estiver pilotando uma aeronave aprovada. Neste caso, ele precisa apenas ter o manual e os procedimentos do RVSM examinados quanto à conformidade. Se a aeronave e o operador precisam de aprovação, o processo se torna um pouco mais complexo. Os requisitos de certificação para os operadores incluem: Um manual RVSM detalhando as políticas, procedimentos e treinamento necessários para as operações RVSM. O manual estipulará os métodos pelos quais o operador garantirá que a aeronave e seus procedimentos de manutenção cumpram os requisitos necessários. Além disso, o manual detalha como o operador garantirá que cada piloto tenha conhecimento do RVSM e os procedimentos que serão usados na cabine de comando para mitigar quaisquer erros de altitude; O operador terá que atribuir uma pessoa responsável pela conformidade com o RVSM. Esse indivíduo terá o poder de assinar acordos relacionados ao RVSM com a autoridade reguladora nacional, e pelo conteúdo do manual. Além disso, o regulador precisará ver uma lista de configuração e MEL que reflita a conformidade RVSM para cada aeronave (as aprovações da frota são geralmente aceitáveis). SEPARAÇÃO VERTICAL E PROCEDIMENTO PRÉ-VOO No espaço aéreo RVSM, o mínimo de separação vertical é: 1.000 pés (300 m) entre aeronaves aprovadas pelo RVSM; 2.000 pés (600 m) entre aeronaves governamentais não aprovadas pelo RVSM e qualquer outra aeronave operando no espaço aéreo RVSM; 2.000 pés (600 m) entre aeronaves não RVSM que operam como tráfego aéreo da aviação geral e qualquer outra aeronave no espaço aéreo RVSM. Uma vez autorizada a voar em espaço RVSM, a aeronave poderá ocupar um dos níveis de voo apresentados na Tabela 1, de acordo com o rumo magnético mantido. Tabela 1. Rumos magnéticos e respectivos níveis RVSM. Fonte: BRASIL, 2018. O plano de voo (FPL) de uma aeronave que está autorizada a voar em espaço RVSM deverá informá-la no item dez, usando a letra W, independentemente do nível de voo solicitado. Para plano de voo repetitivo, o operador deve inserir a letra W no campo Q da seguinte forma: EQPT/W. Este procedimento de preenchimento de plano de voo se aplica a aeronaves homologadas para voos em áreas RVSM, entretanto, aeronaves não homologadas podem solicitar voar nas mesmas áreas. Aeronaves de Estado, voos humanitários, voos de manutenção ou primeira entrega, em operação doméstica ou internacional, serão autorizadas a operar em RVSM, mesmo que não estejam certificadas para tal. Segundo a Publicação de Informação Aeronáutica (2018), homologada pelo Ministério da Defesa, tais aeronaves são classificadas como: Aeronave de estado: Aquela utilizada em serviços militar, alfandegário e policial (em conformidade com a Convenção de Aviação Civil Internacional); Voo de manutenção: A aeronave que estiver retornando para a base de manutenção para efetuar reparos em seu sistema altimétrico, a fim de readquirir a capacidade de voar em espaço aéreo RVSM, ou se o voo ocorrer depois que a aeronave tiver realizado a manutenção, a fim de verificar se está pronta para retornar à operação; Voo de primeira entrega: A entregade uma aeronave, após ter sido vendida ao seu novo operador; Voo humanitário: A aeronave transportando ou destinada a transportar enfermo ou lesionado em estado grave, que necessite de assistência médica urgente, ou órgão vital destinado a transplante em corpo humano. No caso destas aeronaves, a informação a ser incluída no item 18 do plano de voo deverá ser STS/NONRVSM, e o nível de voo que pretende voar deve estar contido no item 15. Quando em voo, deverá solicitar o ingresso no espaço aéreo RVSM e o controlador, de posse da informação do FPL, irá autorizar o ingresso e manterá a separação vertical necessária. Os pilotos, antes de iniciarem o voo, devem consultar o diário de bordo para saber se houve alguma falha ou manutenção executada em um dos sistemas necessários para o voo RVSM. Em caso de notificação de falha de algum deles, consultar a MEL para saber se o voo poderá ser executado. Depois disso, se atentar ao cheque externo do avião, checando se as tomadas de pressão estáticas estão livres e sem amassados, bem como os tubos de pitot. Estas sondas são responsáveis por fornecer dados de pressão e velocidade para os computadores de bordo da aeronave, e estes fornecem os dados para os equipamentos necessários ao voo em espaço aéreo RVSM. Ainda em solo, os pilotos devem checar todos os sistemas considerados mínimos para o voo no espaço aéreo RVSM, com foco principal nos altímetros – ambos, esquerdo e direito, além do altímetro standby, não podem apresentar diferença maior do que 75 pés. Se esta diferença surgir, o voo pode ser feito, porém a aeronave não poderá ingressar em espaço RVSM. De forma resumida, os pilotos devem: Garantir a funcionalidade e a precisão do equipamento de medição de altitude e verificar a conformidade do RVSM da aeronave por meio de uma revisão completa do diário de bordo; Inspecionar cuidadosamente as áreas da fuselagem ao redor de fontes estáticas quanto a danos que podem afetar adversamente as leituras do altímetro; Resolução de quaisquer deficiências relacionadas ao equipamento RVSM antes da partida; Procedimentos adequados de configuração da altitude. PROCEDIMENTOS ANTES DO INGRESSO DURANTE O VOO EM ESPAÇO RVSM Quando em voo, antes de ingressar no espaço RVSM, os pilotos devem executar o cheque dos sistemas; os dois altímetros principais precisam estar funcionando de acordo com o estabelecido para a aeronave. O transponder deverá estar reportando a altitude mantida, e o sistema de controle de altitude deverá estar funcionando corretamente, mantendo o nível voo selecionado com um desvio máximo de 65 pés. O sistema de alerta de altitude da aeronave deve estar funcionando, alertando os pilotos de qualquer desvio vertical, subindo ou descendo, 200 pés. Uma vez que todos os itens se encontrem funcionando corretamente, a aeronave pode prosseguir no ingresso. Caso um dos sistemas não esteja funcionando corretamente, o piloto deverá contatar o órgão de controle do espaço aéreo e informar a situação, usando a mensagem padrão “negativo, RVSM”. O controlador irá gerenciar a situação, podendo solicitar uma descida para nível menor que o FL290, uma subida para o FL430, ou o piloto será autorizado voar no nível solicitado no FPL, e o controlador irá manter a separação de 200 pés com as outras aeronaves voando nas cercanias. Assim que autorizado ingresso, o piloto deverá se atentar as limitações do espaço aéreo RVSM. Os altímetros da aeronave deveram ser verificados simultaneamente a cada hora e, indicar a altitude selecionada, em caso de discrepância, a diferença máxima é de 200 pés. Se ultrapassado, o piloto deverá informar que não poderá manter o voo dentro do espaço aéreo e poderá ser instruído a sair dessa área, subindo ou descendo. O nível de voo deverá ser mantido pelo sistema automático de manutenção de altitude – piloto automático – é obrigatório em regulamento. Em caso de mudanças de altitude, estas deverão ser executadas usando o piloto automático para evitar ultrapassar os limites superior e inferior de 150 pés (overshoot/undershoot). Em um espaço aéreo com 1.000 pés de separação vertical, 150 pés equivalem a um desvio de 15%. PROCEDIMENTOS EM CASO DE FALHAS Durante o voo, o piloto devera reportar ao controle qualquer umas das seguintes falhas apresentadas como exemplo abaixo: Falha ou perda da redundância dos sistemas de altimetria; Falha no sistema de piloto automático; Perda de capacidade de manutenção do nível de cruzeiro. Para o caso de falha ou perda de um dos sistemas altimétricos, podemos ter a falha de um dos sistemas primários, a perda de todos os sistemas – primário e standby – e falha de divergência de altitude indicada. Na ocorrência de erros parciais do sistema altimétrico primário – um sistema falha e outro se mantem em funcionamento –, o piloto deverá identificar qual deles falhou, para, em seguida, conectar o que continua gerando informações corretas ao sistema que mantém a altitude automaticamente – o piloto automático. Por conta da falha, a tripulação deverá redobrar a atenção para com a manutenção da altitude e notificar a falha do sistema ao órgão de controle de tráfego aéreo, com a seguinte mensagem: “INFORMAÇÃO, OPERANDO SOMENTE COM UM SISTEMA ALTIMÉTRICO”. Para uma falha de todos os sistemas altimétricos primários, ou caso esses sejam considerados não confiáveis, o piloto deverá manter o nível de voo indicado no altímetro standby (se a aeronave for equipada com um). No momento da falha ou quando os sistemas forem considerados não confiáveis, alertar as aeronaves próximas, ligando todas as luzes exteriores. Notificar ao órgão de controle de tráfego aéreo a falha do sistema, usando a fraseologia “NEGATIVO RVSM”, e informar quais as ações pretendidas e, se não for possível estabelecer contato com o controle de tráfego aéreo, transmitir avisos da falha, posição, nível de voo e intenções na frequência de emergência 121.5 MHZ. Na ocorrência de divergência entre os sistemas altimétricos primários superior a 200 pés, o piloto deverá tentar determinar qual está com defeito, através dos procedimentos estabelecidos e/ou comparando-os com o altímetro standby. Depois disso, deverá acoplar o sistema correto ao piloto automático e proceder de acordo com a Tabela 2. Resumindo os passos acima: Manter o nível de voo autorizado; Avaliar a capacidade da aeronave de manter o nível autorizado através de controle manual; Alertar as aeronaves próximas, ligando todas as luzes exteriores; Notificar ao órgão de Controle de Tráfego Aéreo a falha do sistema, usando a fraseologia “NEGATIVO RVSM” e informar as ações pretendidas; No caso de não estabelecer contato com o controle de tráfego aéreo, deverá transmitir avisos da falha, posição, nível de voo e intenções na frequência de emergência 121,5 MHz. Para uma falha do sistema de alerta de altitude ou uma falha do transponder SSR Modo C ou Modo S, o piloto deverá notificar ao órgão de controle de tráfego aéreo tais falhas, usando a fraseologia: “NEGATIVO RVSM”. O controlador informará ao piloto, no caso de perda de transponder, que ele deverá sair do espaço RVSM, uma vez que não é possível o funcionamento correto do TCAS em virtude da falha sofrida. No caso da perda do alerta de altitude, o piloto deverá deixar o espaço aéreo, ou, caso possível, o controlador estabelecerá a separação de 2.000 pés entre tráfegos. O órgão de controle de tráfego aéreo deverá suspender a separação RVSM em determinado espaço aéreo quando os pilotos informarem a existência de turbulência severa nele. Isso ocorre, pois durante uma turbulência severa, as oscilações de altitude superam os 15% (150 pés), além causarem leituras erradas de altitude e de velocidade. Para manter a operação segura, o controle opta pela suspensão temporária do RVSM e passa a aplicar os níveis descritos na Tabela 2. Tabela2. Níveis adotados em caso de turbulência. Fonte: BRASIL, 2018. No evento de uma falha de navegação, se anterior ao ingresso no espaço RVSM, o piloto deve retornar ao aeródromo de origem. Entretanto, se ocorrer já em espaço RVSM, ele deve informar o problema ao controle, reportar a posição em que se encontra e, juntamente com o controlador, gerenciar a situação. Para o caso de desvios de rota para evitar esteira de turbulência, dentro do espaço RVSM, o piloto poderá solicitar um desvio lateral entre uma e duas milhas náuticas, voando paralelo à rota predefinida, no que é conhecido como offset. Um exemplo de voo em offset em espaço RVSM é a operação do Airbus A-380, por medidas de segurança, esta aeronave voa afastada do eixo da aerovia que utiliza, além de, no Brasil, ser separada verticalmente de outros tráfegos por 2.000 pés.