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BARBOSA FILHO, A Gêneros radiofônicos - os formatos e os programas de áudio

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Referencia: 
BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas 
de áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. 158 p. 
 
Capa 
 
ANDRÉ BARBOSA FILHO 
 
 
 
GÊNEROS RADIOFÔNICOS 
Os formatos e os programas em áudio 
 
 
 
Paulinas 
 
 
Página 01 
 
ANDRÉ BARBOSA FILHO 
 
 
 
GÊNEROS RADIOFÔNICOS 
Os formatos e os programas em áudio 
 
 
 
Paulinas 
 
Página 02 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
 
Barbosa Filho, André 
Géneros radiofônicos os formatos e os programas em áudio / Andre 
Barbosa Filho — São Paulo: Paulinas, 2003. - (Coleção comunicação-estudos) 
 
Bibliografia 
ISBN 85-356-1132-0 
1. Rádio - Formato - Brasil 1. Título. 11. Título: Os formatos e os programas em 
áudio. III. Série. 
03-3751 
 
Índice para catálogo sistemático: 
1. Brasil: Gêneros radiofônicos: Comunicações 384.540981 
 
Direção geral: Flávia Reginatto 
Editora responsável: Noemi Dariva 
Copidesque: Mônica Elaine G. S. da Costa 
Coordenação de revisão: Andréia Schweitzer 
Revisão: Ana Cecilia Mari 
Direção de arte: Irma Cipriani 
Gerente de produção: Felício Calegaro Neto 
Capa: Cristina Nogueira da Silva 
Editoração eletrônica: Sandra Regina Santana 
 
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer 
forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e 
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Editora Direitas reservados. 
 
Paulinas 
Rua Pedro de Toledo, 164 
04039-000 — São Paulo SP (Brasil) 
Tel.: (0xx11) 2125-3549—Fax: (0xx11) 2125-3548 
http://www.paulinas.org.br — editora@paulinas.org.br 
Telemarketing: 0800-7010081 
© Pia Sociedade Filhas de São Paulo São Paulo, 2003 
 
Página 03 
 
SUMÁRIO 
PREFÁCIO – Página 7 
INTRODUÇÃO – Página 11 
Procedimentos do trabalho – Página 19 
Divisão dos capítulos – Página 20 
CAPÍTULO I 
CAMPOS SOCIAIS, TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: 
A CONTRIBUIÇÃO DO RÁDIO – Página 25 
Teorias da comunicação – Página 28 
A origem dos estudos: a pesquisa norte-americana – Página 29 
O estudo dos efeitos dos meios de comunicação de massa – Página 29 
A Teoria Funcionalista – Página 30 
A Teoria Matemática da Comunicação – Página 32 
A Teoria Crítica – Página 33 
A perspectiva estruturalista – Página 34 
CAPÍTULO II 
BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO RÁDIO NO BRASIL – Página 37 
Início da estação – Página 37 
Características do rádio – Página 37 
Sensorialidade: o rádio forma imagens – Página 45 
Penetração: o rádio fala para milhões – Página 45 
Regionalismo – Página 46 
Intimidade: o rádio fala para cada indivíduo – Página 46 
Imediatismo e instantaneidade: a velocidade do rádio – Página 47 
A simplicidade do rádio – Página 47 
 
Página 04 
 
A mobilidade do rádio – Página 48 
O rádio é acessível – Página 48 
O rádio é barato – Página 48 
Função social – Página 49 
Função comunitária – Página 50 
CAPITULO III 
GÊNEROS, INFORMAÇÃO E GÊNEROS RADIOFÔNICOS – Página 51 
Os gêneros – Página 51 
Informação e comunicação – Página 61 
Os gêneros radiofônicos – Página 70 
CAPÍTULO IV 
CLASSIFICAÇÃO DOS GÊNEROS RADIOFÔNICOS – Página 89 
Gênero jornalístico – Página 89 
Nota – Página 90 
Notícia – Página 90 
Boletim – Página 92 
Reportagem – Página 92 
Entrevista – Página 93 
Comentário – Página 95 
Editorial – Página 97 
Crônica – Página 98 
Radiojornal – Página 100 
Documentário jornalístico – Página 102 
Mesas-redondas ou debates – Página 103 
Programa policial – Página 104 
Programa esportivo – Página 106 
Divulgação tecnocientífica – Página 109 
Gênero educativo-cultural – Página 109 
Programa instrucional – Página 111 
Audiobiografia – Página 112 
Documentário educativo-cultural – Página 112 
Programa temático – Página 113 
 
Página 05 
 
Gênero de entretenimento – Página 113 
Programa musical – Página 115 
Programação musical – Página 116 
Programa ficcional – Página 117 
Programete artístico – Página 120 
Evento artístico – Página 121 
Programa interativo de entretenimento – Página 121 
Gênero publicitário – Página 122 
Espote – Página 122 
Jingle – Página 124 
Testemunhal – Página 126 
Peça de promoção – Página 126 
Gênero propagandístico – Página 128 
Peça radiofônica de ação pública – Página 131 
Programas eleitorais – Página 132 
Programa religioso – Página 133 
Gênero de serviço – Página 134 
Notas de utilidade pública – Página 136 
Programete de serviço – Página 136 
Programa de serviço – Página 136 
Gênero especial – Página 138 
Programa infantil – Página 138 
Programa de variedades – Página 139 
CONSIDERAÇÕES FINAIS – Página 145 
BIBLIOGRAFIA – Página 153 
 
Página 06 
 
Em branco 
 
Página 07 
 
PREFÁCIO 
 
Este é um livro escrito por um profissional de rádio, do tipo que se identifica 
tanto com o meio de comunicação que aprendeu a conhecer, que o elegeu 
como objeto de estudo e também de ensino. André Barbosa Filho enquadra-se 
perfeitamente nessa descrição: é radialista, professor e pesquisador. Da 
primeira atividade, o exercício profissional, migrou para a academia (sem 
abandonar a produção radiofônica) e agora apresenta este texto que possui os 
requisitos básicos para ser adotado por professores, estudantes e profissionais 
interessados pelo meio. 
 
Em relação à produção científica sobre o rádio no Brasil é importante destacar 
como, nos últimos dez anos, a bibliografia nacional sobre o tema ampliou-se 
significativamente em termos de quantidade e de qualidade. Depois de várias 
décadas identificado como uma espécie de “patinho feio” entre os assuntos 
considerados pertinentes à análise crítica dos estudiosos do campo da 
Comunicação, questões relativas a diversas abordagens do setor da radiofonia 
passaram a chamar a atenção de pesquisadores em várias regiões. 
 
Para tanto, é necessário lembrar, contribuíram aspectos conjunturais e 
institucionais. Em termos de conjuntura, registra-se no país, a partir do final da 
década de 1980, uma grande movimentação em torno das rádios comunitárias, 
que resulta na elaboração e aprovação da primeira lei específica para o ramo 
da radiodifusão depois de muitos anos. No campo 
 
Página 08 
 
institucional, vale destacar as atividades de algumas entidades, como a UCBC 
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social), a UNIRR (União de Redes de 
Radiodifusão pela Democracia) e a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos 
Interdisciplinares da Comunicação), que em 1991 constituiu um fórum exclusivo 
para o tema, o Grupo de Trabalho (GT) de Rádio, desde 2001, transformado 
em Núcleo de Pesquisa de Mídia Sonora. 
 
André Barbosa Filho acompanhou de perto essa evolução. Ainda que ressalte, 
na introdução deste livro, que o número de títulos sobre o rádio brasileiro 
permanece reduzido, também consegue reconhecer e agrupar os principais 
autores de obras sobre o meio. Para tratar do tema que é título do volume — 
os gêneros radiofônicos, dissecados no quarto e último capítulo, o autor 
apresenta três tópicos introdutórios indispensáveis: o primeiro relativo à teoria 
da Comunicação, o segundo dedicado à recuperação dos principais momentos 
históricos no rádio, no Brasil, e o terceiro voltado para a identificação e 
localização dos principais estudos sobre gêneros — na Comunicação, como 
um todo, e no Jornalismo, em particular. 
 
A divisão do livro em quatro capítulos constitui uma forma de tornar a leitura 
agradável e informativa. Seguindo o estilo radiofônico, André assume a postura 
de narrador ao apresentar o texto como um programa de rádio, captado nas 
“estações-capítulos”, como define a fragmentação do assunto principal. Ao 
apresentar os dados e autores que recupera nos capítulos iniciais e, em 
especial, o seu objeto de estudo em uma linguagem direta e simples, 
estabelece com o leitor um ambiente de relato peculiar aos contadores de 
casos, daqueles queprendem a atenção e despertam o interesse. 
 
Página 09 
 
Assim, Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio consegue 
atingir vários propósitos: contribui para a qualidade da bibliografia brasileira 
sobre o rádio, recupera os principais trabalhos sobre gênero de autores 
nacionais e do exterior, identifica sete tipos de gêneros radiofônicos (cada um 
deles subdivididos em categorias de produção) e — o mais importante — 
explora um assunto até agora escasso de estudo e de análise. Temos aqui um 
manual de como fazer rádio, escrito de uma forma que, lendo, é quase audível. 
Só consegue fazer isso quem é profissional. Corno dizia no início desta 
apresentação: este é um livro produzido por um profissional do ramo. Constitui, 
por isso, oportunidade de ouvir, aprender e — o que é melhor — praticar. O 
nosso rádio precisa de uma obra que trate desta temática e merece isso. 
 
Rio de Janeiro, junho de 2003. 
Sonia Virgínia Moreira 
 
Página 10 
 
Em branco 
 
Página 11 
 
INTRODUÇÃO 
 
Este livro é fruto de algumas reflexões sobre o rádio: estrutura, lógica, 
meandros, linguagem, formatos e tipologias. O meio de comunicação que 
completou 80 anos de história oficial no Brasil em setembro de 2002, 
constantemente nos desafia a repensá-lo, a revê-lo com outros olhares e 
perspectivas. Somos instados, cotidianamente, a pensar o que faz do rádio um 
meio singular, ou seja, analisar suas particularidades e especificidades em 
meio à constelação dos suportes e dispositivos midiáticos de nossa época. O 
objetivo aqui é estabelecermos parâmetros que nos possibilitem mapear e fixar 
algumas programações radiofônicas, percebendo-as como indicadoras da 
dinâmica fluida do rádio. 
 
Como profissional e docente que se dedica ao estudo deste meio de 
comunicação ao longo de dezoito anos, juntamente com outros sentimos a 
necessidade de refletir sobre as discussões reiteradas que não cansam de 
insinuar-se nas análises empreendidas sobre um dos meios mais populares do 
País. Entendemos que retrabalhar o rádio sob a ótica de sua programação 
delineia uma etapa inadiável na construção de elementos fundamentais para se 
avaliar os gêneros, buscando uma tipificação dos formatos em áudio no Brasil. 
Embora as grandes questões do rádio já tenham sido, de certa forma, bastante 
discutidas ao longo destas oito décadas, o número de trabalhos escritos nesse 
período é incrivelmente pequeno. Infelizmente, o rádio não possui uma tradição 
acadêmica a exemplo de 
 
Página 12 
outros meios (como a televisão e o jornal impresso, por exemplo), malgrado ter 
despertado o interesse de muitos estudiosos e intelectuais à época de sua 
criação até os dias atuais. 
 
Muitos são os motivos que atestam tal situação. Podemos nos apoiar em 
Mcluhan na procura de justificativas que deem conta do parco interesse que os 
intelectuais possuem pelo meio. Para este autor, os “povos letrados” têm pouca 
habilidade em trabalhar com a linguagem, com os significados dos meios 
elétricos: 
 
[...] como a cultura letrada incentivou um individualismo extremo e o rádio atuou 
num sentido exatamente inverso, ao fazer reviver a experiência ancestral das 
tramas do parentesco do profundo envolvimento tribal, o Ocidente letrado 
procurou encontrar uma espécie de compromisso com a responsabilidade 
coletiva, em sentido amplo. O impulso subitâneo para este fim foi tão subliminar 
e obscuro quanto a prévia pressão literária em prol da irresponsabilidade e do 
isolamento individual; em consequência, ninguém se sentiu satisfeito com 
nenhuma das posições alcançadas [...].1 
 
Esta passagem, que reflete o contexto da época, coloca-nos na trilha de uma 
demarcação de mundo que supõe escolhas e, consequentemente, exclusões. 
Em meio à dita cultura letrada à qual se referia Mcluhan, a complexidade do 
rádio é vista, hierarquicamente, como algo menor. A cultura gutemberguiana 
sobrepõe-se, de acordo com os ditames da ciência moderna, à cultura oral — 
marca fundante do rádio. Todavia, não podemos negar o fato de que a despeito 
de o rádio fazer uso, 
 
Nota de roda pé 
1 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 
São Paulo, Cultrix, 1996. p. 339. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 13 
 
inapelavelmente, da oralidade, ele intercambia com outras matrizes de 
linguagem. A esse respeito, Lúcia Santaella nos esclarece que as linguagens 
são variadas e diversas graças à capacidade que elas têm de sofrer 
metabolismos, mutações e estabelecer relações de parentescos, trocas, 
migrações e intercursos, possibilitando que os meios de comunicação adotem 
formatos de linguagens extrínsecas a sua lógica interna.2 
 
Não obstante esta ressalva, um rápido passeio pelas matrizes da linguagem irá 
nos permitir observar o quanto a cultura oral foi preterida pelo formato 
impresso, stricto sensu. Fruto das demarcações do estatuto científico, este 
calcado no registro escrito, os formatos orais foram, pouco a pouco, 
subestimados em sua complexidade significante. E sintomático o fato de que 
as culturas que apelam, em primeira mão, à tradição oral, frequentemente são 
denominadas de atrasadas, conservadoras, tradicionais. 
 
Quer nos parecer que é nesse lastro que o imaginário sobre o rádio foi 
construído e sedimentado, contornando tendências que o concebiam como um 
meio simples em sua concepção e, portanto, isento de incursões teóricas mais 
consistentes. Com efeito, o rádio tem sofrido o preconceito de grupos 
intelectualmente elitizados, de um lado, e de adeptos da tecnologia de ponta, 
de outro. Tais posturas existem não somente pela dificuldade em se perceber a 
essência de suas manifestações, mas, também, porque o rádio é considerado 
um meio tecnologicamente ultrapassado, sem o apelo das novidades do mundo 
da eletrônica e da cibernética. 
 
Nota de roda pé 
2 Cf. SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo, Experimento, 1996. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 14 
 
Tal concepção fez com que o rádio ficasse preterido pelos estudos da 
comunicação: o meio não recebe investimentos expressivos na área de 
pesquisa de audiência, o que provoca significativo desconhecimento acerca 
dos processos de recepção das mensagens deste meio, e, sobretudo, das 
possibilidades que ele suscita diante de suas características específicas. 
Ressalte-se que esta lacuna é comum mesmo entre os estudiosos e 
pesquisadores do campo da comunicação. Todo este cenário desfavorável 
parece, no entanto, fadado a modificações radicais. Senão vejamos. 
 
Conforme assinalamos, o rádio espreita pesquisadores e estudiosos a repensá-
lo. São muitas as alterações e transformações a que ele se prestou ao longo da 
história, impulsionando a emergência de novas/outras análises e enfoques que 
pudessem avali(z)ar sua potência como meio de comunicação. Algumas 
conquistas são fundamentais: o rádio transforma-se de modo acelerado 
tentando acompanhar os benefícios das novas tecnologias, tais como a 
digitalização, os processos óticos de produção e transmissão de som, a 
satelitização, as edições sonoras não-lineares, as plataformas de trabalho em 
sistemas informatizados etc.; a maioria dos produtos desenvolvidos em seu 
bojo ganhou vida própria, ultrapassando suas fronteiras mediante formatos 
não-radiofônicos idênticos, difundidos em circuitos de transmissão fechados ou 
fixados em fitas magnéticas, em discos com leitura a laser ou na memória dos 
discos rígidos ou floppies dos microcomputadores espalhados pelo mundo, 
veiculados ponto a ponto ou via internet. 
 
Diante desta realidade, sentimos necessidade de, ao estudar o veículo, 
conhecer suas particularidades, 
 
Página 15 
 
características estruturais e de linguagem e, de modo mais criterioso, as 
manifestações organizadas que produz e os produtos sonoros que institui. 
 
Nesse sentido, a trilha deste livro palmilhará os caminhos já traçados por 
autores diversosque dedicaram suas análises às reflexões sobre as 
características da linguagem radiofônica e à classificação de formatos por meio 
da identificação dos gêneros respectivos inserindo-as na dinâmica das 
tipologias do rádio brasileiro. 
 
Nomes como Mário Kaplún, Angel Faus Belau, José Luís Albertos e, 
contemporaneamente, Andrew Criseli, Bruce Siegel, O’Donell, Philip Benoit, 
Carl Hausman, Pete Wilby, Andy Conroy e Ted Roberts são citações 
obrigatórias no campo de pesquisa investigativa, uma vez que influenciaram 
diretamente a busca de uma tipificação dos formatos radiofônicos. 
 
Grosso modo, os autores citados procuraram, cada um a sua maneira, 
classificar os formatos por meio de características observáveis na prática. A 
ressalva que cabe a tais classificações é que as análises e reflexões por eles 
empreendidas contemplaram apenas um gênero recorrente no contexto em 
que estavam inseridos; esse processo ocorreu tanto com pesquisadores latino- 
americanos quanto com norte-americanos e ingleses. Estudos exploratórios 
mais abrangentes que dessem conta de um mapeamento completo e possível 
das manifestações concretas do rádio foram deixados de lado. 
 
Com as indicações pontuais e específicas demarcadas por esses autores, 
procuramos, aqui, traçar um mapa que possa nos aproximar, o quanto 
possível, da dinâmica particular do rádio no Brasil. Tomamos como referência 
básica as formulações de Marques de Melo 
 
Página 16 
 
no que se refere à construção de uma tipologia dos gêneros e formatos 
radiofônicos, a partir da classificação que suscitam para os gêneros 
jornalísticos.3 
 
Marques de Meio apoia-se no paradigma desenvolvido por Harold Laswell e 
reelaborado por Charles Wright para distinguir as diversas categorias 
comunicacionais mediante a relação existente entre os formatos veiculados 
pelos meios de comunicação de massa e as funções que exercem para 
responder às demandas sociais.4 
 
O autor propõe a identificação dos gêneros jornalísticos em razão da 
propriedade manifesta de provocar a consolidação de um campo do 
conhecimento considerado objeto cientifico: 
 
[...] Tais processos, que envolvem de um lado as instituições jornalísticas e de 
outro as coletividades em que atuam, articulando-se necessariamente com o 
organismo social de que se nutrem e se transformam, podem ser observáveis 
através do relato do real que constitui seu traço marcante. Em outras palavras, 
do seu discurso manifesto. Dos escritos sons e imagens que representam e 
reproduzem a atualidade, tornando-a indiretamente perceptível [...].5 
 
A utilização dos paradigmas do estruturalismo funcionalista, preconizados por 
Merton e Parsons, tem sido duramente criticada nos estudos científicos de 
países subdesenvolvidos, em virtude da aparente 
 
Nota de roda pé 
3 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis, 
Vozes, 1985. pp. 31-50. 
4 Gêneros jornalísticos na Folha de S. Paulo. São Paulo, FTD, 1992. p. 9. 
5 Idem, ibidem, pp. 3139. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 17 
 
rigidez que tal corrente apresenta no que tange a posicionamentos críticos que 
conduzam a transformações nas relações sociais. 
 
Com efeito, nos países latino-americanos a expectativa em torno de 
comunicação transformadora a serviço do deslocamento de poderes é uma 
marca presente no desempenho intelectual e político. Uma vez que o 
estruturalismo-funcionalismo não se ocupa em propor mudanças, esta linha de 
pensamento acabou sendo malvista. Consideramos, no entanto, que 
depreender o caráter descritivo do funcionalismo é um passo fundamental para 
as intenções do trabalho, o que não significa perfilar-se a propostas 
conservadoras. E arriscada a nossa posição metodológica, pois críticas ao 
tratamento metodológico que empregamos peste livro são muitas. No estoque 
de teorias, correntes e metodologias no campo da comunicação, o 
funcionalismo não goza atualmente de apreciações positivas, pois no estágio 
dos estudos da comunicação contemporânea, a tendência funcionalista é 
considerada limitadora na medida que, segundo a crítica atual, não encaminha 
a rupturas. 
 
Consideramos que o conhecimento é cumulativo e as contribuições deixadas 
ao longo do fazer científico devem ser herdadas sem que comprometam os 
princípios éticos e morais vigentes. A observação de Triviños sobre a questão é 
bastante elucidativa: 
 
[...] convém estabelecer desde já que a análise estrutural-funcionalista, como 
método de investigação, não pode ser rejeitada sem esclarecer que ela pode 
transformar- se num meio certo de pesquisa. Com efeito, se esquecermos sua 
falta de historicidade para estudar os fenômenos sociais, e apreciarmos estes 
em seu devir, ao mesmo 
 
Página 18 
 
tempo que diminuirmos sua ênfase nos processos de adaptação e nos desvios, 
penetramos, com sentido ideológico, no que Merton denomina “funções 
latentes” da sociedade; a análise estrutural-funcionalista pode ser usada com 
mérito em pesquisas sociais do Terceiro Mundo [...]. 6 
 
Apoiados no próprio Merton, buscamos em Malinowski o conceito do termo 
análise-funcional — metodologia que adotamos na estruturação do trabalho: 
“[...] o núcleo da análise funcional e o estudo do papel que os fatores sociais e 
culturais desempenham na sociedade [...]”. 7 
 
Desta forma, as bases metodológicas que sustentam este livro estão 
assentadas no caráter descritivo dos formatos em rádio por meio das relações 
entre as variáveis, com o intuito de descrever os fenômenos do modo como 
estes formatos se constroem, se exteriorizam e são absorvidos na sociedade 
num determinado momento histórico. 
 
Não se trata, porém, de se apresentar aqui informações viciadas ou 
manipuladas, mas, com certeza, de mostrar os resultados da análise 
documental mediante a literatura mencionada, aliada à análise dos fatos 
realizada por meio da observação, imbricando o saber pensar e o saber fazer. 
 
Cabe o destaque que entendemos teoria e prática como categorias 
indissociáveis, pois conforme lembra Francisco Taborda, a teoria “é o conjunto 
de ação/reflexão pelo qual os homens constroem a história. Supõe a 
 
Nota de roda pé 
6 TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a 
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, Atlas, 1990. p. 82. 
7 Idem, ibidem, p. 83. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 19 
 
consciência reflexa da ação e possui uma finalidade”.8 E a prática desperta a 
teoria e será critério desta. Nesse sentido, teoria e prática serão vistas aqui 
como categorias que se interpenetram mutuamente. 
 
Procedimentos do trabalho 
 
Com esta visada, partimos do princípio de que estabelecer os tipos e gêneros 
do rádio exige exercício de descrição dos programas nele produzidos, calcado 
em aportes teóricos, O tópico da temporalidade é fundamental para tal 
exercício. Considerado um sério problema para a classificação dos gêneros, o 
aspecto temporal é elemento fundamental para se pensar a dinâmica do rádio, 
ontem e hoje. Alguns formatos que já serviram de modelo para a programação 
radiofônica são desconhecidos à maioria do público atualmente, inclusive aos 
pesquisadores do ramo e profissionais. 
 
Em virtude desse caráter transitório dos gêneros, optamos em elencar os 
principais formatos radiofônicos existentes na programação atual do rádio 
brasileiro, obedecendo às seguintes ressalvas: 
 
1) Não se pode realizar um trabalho classificatório sem conhecimento da 
origem dos formatos, suas especificidades e sua manifestação ao longo da 
história, uma vez que os fenômenos sociais são dinâmicos. 
 
2) Além de os formatos atuais sofrerem influência dos produzidos em tempos 
passados, a criatividade ainda é pouco explorada em vista do mosaico 
disponível para inventividade no espaço radiofônico. 
 
Nota de roda pé 
Citado por GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de teoria da comunicação. São 
Leopoldo, Unisinos, 1995.p. 11. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 20 
 
3) Alguns modelos de programas não estão sendo produzidos por absoluta 
falta de incentivo, seja por parte dos patrocinadores, seja por falta de visão de 
alguns empresários; e, em alguns casos, pela falta de trabalho especializado. 
 
Divisão dos capítulos 
 
Serão estas as balizas que nortearão este livro-escuta. Isso mesmo! 
Gostaríamos que você viajasse conosco como se estivesse na escuta de um 
programa de rádio, seja ele de qualquer natureza. Nas várias estações e 
frequências que passaremos, o caminho trilhado aqui leva em conta as 
discussões sobre os gêneros em geral, a informação, os gêneros radiofônicos 
em particular, os modelos e tipologias. Na primeira estação, ou melhor, no 
primeiro capítulo, estaremos articulando algumas discussões sobre os campos 
sociais e as teorias da comunicação, particularizando no universo das 
correntes e escolas a importância do rádio como meio fundamental para se 
pensar as sociedades contemporâneas. Dessa forma, estaremos solicitando 
discussões a respeito dos campos sociais, dos paradigmas e das teorias da 
comunicação, levando em conta a legitimidade dos campos teóricos. 
 
A segunda estação-capítulo relata, brevemente a história do rádio no Brasil e 
prepara o terreno para as explorações seguintes. O terceiro capítulo é 
fundamental na arquitetura do trabalho, pois advoga um conceito de gênero 
que se perde com frequência na névoa das designações e definições de 
gêneros, tipologias e formatos usualmente empregadas nos trabalhos sobre o 
tema. Para tanto, recorremos ao pensamento de 
 
Página 21 
 
Todorov, Borelli, Feuer, Mauro Wolf, Martin-Barbero, Machado, Bakhtin e 
Marques de Meio. A intenção é que nas discussões teóricas sobre o tema e na 
diversidade que ele abriga obtenhamos dados para a construção de um 
conceito de gênero específico para área de comunicação, em geral, e para os 
estudos do rádio, em particular, na tentativa de construirmos um arrazoado 
sobre as questões referentes às particularidades das unidades de informação 
produzidas e transmitidas pelos meios de comunicação de massa.9 
 
Em seguida, ainda na terceira estação-capítulo, tendo em vista a necessidade 
de operacionalizar a problemática da informação, matéria – prima da 
mensagem, arrolamos os conceitos de informação disponíveis fazendo as 
devidas conexões com o seu uso no rádio. Tomamos como parâmetro as 
formulações de Juarez Bahia, Wiener, Fraser Bond, Roger Clausse, Lúcia 
Santaella, Szamosi, Marques de Meio, Teixeira Coelho, entre outros. 
 
Nota de roda pé 
9 Praticamente, o termo comunicação de massa é pouco utilizado nos estudos 
atuais, que adotam o termo português mídia, de media (plural) ou medium 
(singular). De acordo com o dicionário Conceitos-chave em estudos de 
comunicação e cultura, “comunicação de massa é normalmente entendida 
como jornais, revistas, cinema, televisão, rádio e propaganda, incluindo às 
vezes a publicação de livros (especialmente romances populares) e música (a 
indústria pop)”. Para o dicionário “uma preocupação deveria ser exercitada com 
respeito ao termo: a palavra ‘massa’ pode encorajar a duplicação irrefletida da 
teoria de sociedade de massa, enquanto a palavra ‘comunicação’ nesse 
contexto mascara a natureza social e industrial da mídia e promove uma 
tendência a pensá-la como comunicação interpessoal. A comunicação de 
massa não é um conceito que pode ser definido, mas uma categoria do senso 
comum” (Sullivan, John et al., 2001, p. 53). Já as mídias “em sentido amplo, é a 
agência intermediária que permite que a comunicação aconteça. Mais 
especificamente, consiste em um desenvolvimento tecnológico que estende os 
canais, o alcance ou a velocidade da comunicação” (idem, ibidem, p. 151). A 
despeito destas ressalvas, empregamos aqui o termo comunicação de massa 
para fazer alusão ao momento de profusão dos meios eletrônicos, a exemplo 
do rádio. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 22 
 
Além da fixação e análise de conceitos, procuramos discutir como ocorrem as 
manifestações dessas formulações conceituais — se apreendidas pelos 
sentidos ou se, exclusivamente, por meio do processo cognitivo —, para, em 
seguida, utilizarmos estes argumentos na delimitação dos gêneros 
radiofônicos. 
 
Uma vez feitas tais discussões teóricas, preparamos, no quarto capítulo-
estação, a proposição e classificação dos gêneros radiofônicos, observados os 
fenômenos a eles inerentes, do ponto de vista de sua funcionalidade e 
operacionalidade. 
 
Em sua singularidade, este trabalho visa a horizontes bem mais extensos e 
insere o rádio na centralidade dos estudos contemporâneos sobre gêneros. 
Atuar pontual e especificamente nas fronteiras dos formatos e tipologias implica 
pensar o rádio em sua amplitude de penetração e sua função nas diversas 
formas de sociabilidade. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht10 teria dito já no 
início do século XX que o rádio seria capaz de instituir uma “espécie de 
assembleia popular permanente” num espaço democrático. Para esse autor, o 
meio seria capaz de constituir uma “esfera pública cidadã” em que os sujeitos 
poderiam ser atores sociais dos processos culturais, o que concretizaria a 
máxima do ideal iluminista. Embora temas como democracia e cidadania 
constituam conquistas a serem alcançadas no Brasil, é inegável o fato de que o 
rádio em muito contribuiu e contribui para a instituição de valores que 
favoreçam os ideais coletivos. 
 
Nota de roda pé 
10 Cf. Brecht, Bertold. Teoria dela radio (1927-1932). In: __________. El 
compromisso en literatura y arte. Barcelona, Península, 1984. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 23 
 
Este livro tem o objetivo de oferecer aos interessados, profissionais, 
pesquisadores, estudantes de comunicação etc. uma “radiografia” da produção 
radiofônica, tendo como base a dinâmica das programações atuais, incluindo-
se, também, os produtos em desuso, mas que, diante do novo panorama da 
comunicação mundial, podem ser novamente reaproveitados, adaptados e 
aperfeiçoados. Convidamos você, leitor(a), a conhecer algumas possibilidades 
de pensar e fazer o rádio à luz da tipificação dos seus formatos. Sintonize 
conosco! 
 
Página 24 
 
Em branco 
 
Página 25 
 
 
 
Capítulo 1 – CAMPOS SOCIAIS, TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: A 
CONTRIBUIÇÃO DO RÁDIO 
 
 
Quaisquer discussões ou análises na fronteira da comunicação social 
requerem formulações a respeito das teorias que sobre ela se debruçaram. 
Estas por sua vez reclamam antecedentes que as instituíram e as 
particularizaram, ou sei a, demandam perspectivas teóricas que supõem um 
campo de estudos específico, cristalizado ao longo da história. Uma vez que o 
rádio figura como um meio que encerra categorias de análise na profusão de 
teorias, escolas e correntes devotadas ao fenômeno da comunicação 
contemporânea, consideramos fundamental principiar o nosso livro-escuta com 
reflexões referentes ao universo teórico no qual o campo da comunicação se 
movimenta. 
 
É sobejamente conhecido o fato de que o fenômeno das teorias da 
comunicação’ é relativamente recente — datado nos finais do século XIX. O 
momento proporcionou que estudos sociológicos, psicológicos, filosóficos, 
econômicos e políticos se debruçassem sobre o fenômeno dos meios de 
comunicação de massa que se 
 
Nota de roda pé 
1 Quando datamos a comunicação só nos finais do século XIX, claro está que 
não pretendemos situar aí os seus marcos iniciais, até porque a comunicação 
se impõe na instituição do humano, sendo praticamente impossível recensear a 
sua origem. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 26 
 
multiplicavam vertiginosamente. O rádio contribui com tal tradição suscitando 
estudos e pesquisas de várias tendências e perspectivas. 
 
A propósito, qual o campo teórico que possibilita a emergência de teorias da 
comunicação? Como pensar os estudos sobre o rádio em meioa essas 
teorias? 
 
Pensar e delimitar o campo da comunicação implica a utilização de métodos, 
esquemas e teorias particulares que definem a própria lógica dos campos 
sociais. 
 
Rodrigues nos informa que os campos sociais são erigidos a partir da 
legitimidade de um conjunto de procedimentos e normas que instituem as 
fronteiras e cercas do saber científico. Para ele, “a autonomia dos campos 
sociais está intimamente associada com a modernidade”.2 Os campos sociais 
estão definidos e posicionados por embates políticos e disputa simbólica,3 o 
que faz com que “ditem também autênticas regras discursivas, modos de dizer 
conformes e convenientes. Um campo é aliás tanto mais forte quanto mais 
consegue impor aos outros campos a sua axiologia”.4 O saber acadêmico é um 
espaço de exercício do poder porque embalado por aquilo que interdita e que 
permite. Ainda segundo Rodrigues, “os campos sociais definem legitimidade 
que impõem, com autoridade indiscutível, atos de linguagem, discursos e 
práticas conformes, dentro de um domínio específico de competência”.5 
 
Nota de roda pé 
2 RODRIGIJES, Adriano Duarte. Estratégias da comunicação. Lisboa, 
Presença, 1990. p. 141. 
3 Pierre Bourdieu dedicou parte de suas reflexões à disputa simbólica que 
enseja o conhecimento científico. Cf. BOTJRDIEU, Pierre. O poder simbólico. 
Lisboa, Difel, 1989. 
4 RODRIGUES, op. cit., p. 141. 
5 Idem, ibidem, p. 144. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 27 
 
E para o saber científico fazer parte deste domínio específico de competência, 
ele precisa não apenas ser verdadeiro, mas estar no ponto de verdade de 
determinada época, de acordo com Foucault. Segundo esse autor, “não nos 
encontramos no verdadeiro senão obedecendo às regras de um ‘polícia’ 
discursiva que devemos reativar em um de nossos discursos”.6 Em outro 
momento, o autor questiona: 
 
Muitas vezes se perguntou como os botânicos ou os biólogos do século XIX 
puderam não ver que o que Mendel dizia era verdade. Acontece que Mendel 
falava de objetos, empregava métodos, situava-se num horizonte teórico 
estranho à biologia de sua época. Sem dúvida Naudim, antes dele, sustentava 
a tese de que os traços hereditários eram descontínuos; entretanto, embora 
esse princípio fosse novo ou estranho, podia fazer parte — ao menos a título 
de enigma — do discurso biológico. Mendel, entretanto, constitui o traço 
hereditário como o objeto biológico absolutamente novo, graças a uma 
filtragem que jamais havia sido utilizada até então [...]. Mendel dizia a verdade, 
mas não estava ‘no verdadeiro’ do discurso biológico de sua época.7 
 
Poderíamos dizer, na esteira desta formulação, que o paradigma estruturalista-
funcionalista não mais está no ponto de verdade de nossa época, ao menos no 
que diz respeito ao mundo da comunicação. O cenário fecundo de 
aparecimento de meios e técnicas interpelou o conhecimento científico, 
fazendo com que ele se debruçasse sobre o fenômeno comunicacional 
projetando várias correntes e escolas. 
 
Nota de roda 
6 FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 5. ed. São Paulo, Loyola, 1999. p. 
35. 
7 Idem, ibidem, pp. 34-35. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 28 
 
Teorias da comunicação 
 
Conforme já assinalamos, o campo das teorias da comunicação é 
consequência direta do avanço dos meios de comunicação e transmissão. O 
rádio foi um dos meios que suscitou estudos relativos ao avanço tecnológico de 
nossa época. Pensar no rádio é também pensar nas teorias da comunicação e 
vice-versa. Este meio possui papel fundamental no universo dos estudos 
desenvolvidos desde o início do século XX, uma vez que dinamizou a troca de 
informações ao encurtar as distâncias, despertando comentários defensivos e 
contrários. Acrescente-se a isso o fato de que é ainda hoje um dos principais 
meios de comunicação da contemporaneidade. De acordo com Araújo: 
 
O que é normalmente conhecido como Teoria da Comunicação diz respeito a 
uma tradição de estudos e pesquisas que se inicia no começo deste século. O 
que não significa que, até este momento específico, não se estudava a 
comunicação. Por exemplo, os estudos de Aristóteles sobre a retórica podem 
ser identificados como estudos sobre a comunicação.8 
 
A assertiva de Araújo nos coloca na trilha da delimitação de uma teoria da 
comunicação, ligada que é às invenções tecnológicas. Com efeito, se a 
reflexão sobre a comunicação, a atividade comunicativa do homem, preocupou 
os pensadores desde a Antiguidade Clássica, a nossa Teoria da Comunicação 
é bem recente. Na verdade, o desenvolvimento de estudos mais 
 
Nota de roda pé 
8 ARAUJO, Carlos Alberto. A pesquisa norte-americana. In: HOHLFELDT, 
Antonio, et al. Teorias da comunicação: conceitos, escotas e tendências. Rio 
de Janeiro, Vozes, 200L p 34 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 29 
 
sistemáticos sobre a comunicação é consequência antes de tudo do advento 
de uma nova prática de comunicação: a comunicação de massa, realizada 
através de meios eletrônicos (o jornalismo de massa no fim do século XIX, e, 
no início do século XX, o rádio e o cinema) possibilitando o alcance de 
audiências de massa, a supressão do tempo e da distância.9 
 
Tal demarcação nos lança para um breve passeio em torno das teorias. 
 
A origem dos estudos: a pesquisa norte-americana 
 
É ponto pacífico que as teorias da comunicação foram inicialmente formuladas 
nos Estados Unidos, na década de 1930. A communication research tem como 
principais representantes Laswell, Lazarsfeld, Lewin e Hovland. 
 
A tônica desses estudos esteve voltada para as pesquisas sobre audiência e 
os efeitos dos meios de comunicação de massa. As questões eleitorais, 
propagandas de campanhas e a influência pessoal em relação à dos meios 
coletivos estiveram no centro dessas investigações. Essa tradição teórica 
permite dividir os estudos americanos nas seguintes seções: 
 
O estudo dos efeitos dos meios de comunicação de massa 
 
Partia do princípio de que os indivíduos são diretamente atingidos e 
influenciados pelas mensagens 
 
Nota de roda pé 
9 Idem, ibidem, p. 35. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 30 
 
veiculadas pelos meios de comunicação de massa. Segundo essa teoria, os 
indivíduos (os receptores) encontram-se em posição de desvantagem ante as 
emissões dos meios de comunicação que os conformam numa relação 
desigual, porque de submissão. O contexto histórico da época favoreceu tais 
observações. Dentre os momentos desse contexto histórico, destacamos: os 
fenômenos vertiginosos da comunicação de massa, as experiências totalitárias 
e o período entre guerras. O aspecto psicológico, em sua versão behaviorista, 
e uma teoria da sociedade de massa foram os pilares dessa corrente. A teoria 
hipodérmica, baseada na relação causa-efeito, é um dos carros-chefe dos 
estudos sobre os efeitos. Destacam-se, ainda, a teoria dos efeitos limitados e o 
modelo do twostep flow — que abdica da concepção de que os meios de 
comunicação de massa têm efeito direto sobre os indivíduos (teoria 
hipodérmica) e passa a considerar que os vínculos entre estes e os meios só 
podem ser entendidos no contexto social no qual estão inseridos. A relação 
direta, causal, passa a ser mediada pelas dinâmicas sociais que se combinam 
com os processos comunicacionais. Os estudos sobre o rádio estiveram 
centrados em análises de conteúdo no contexto das grandes guerras mundiais. 
 
A Teoria Funcionalista 
 
Esta teoria, como o próprio nome insinua, preocupa-se em estudar as funções 
exercidas pelos meios na sociedade. Em vez de focalizar suas análises para o 
indivíduo, a ela interessa as práticas sociais, a sua estrutura, o que justifica o 
fato de esse modelo se basear no estruturalismo-funcionalismo. De acordo com 
Araújo: 
 
Página 31 
 
O sistema social na sua globalidade é entendido como um organismo cujas 
diferentes partes desempenham funções de integração e de manutençãodo 
sistema. A natureza organísmica da abordagem funcionalista toma como 
estrutura o organismo do ser vivo, composto de partes, e no qual cada parte 
cumpre seu papel e gera o todo, tornando esse todo funcional ou não.10 
 
O funcionalismo advém da concepção de função e estrutura social. Seria, em 
termos gerais, um organismo vivo dotado de funcionamento e autonomia 
próprios. De acordo com Merton a função seria: “as consequências observáveis 
dos elementos culturais”.11 
 
Segundo Wright, a estrutura conceitual é intrincada com as: 
 
- funções 
- e disfunções 
- latentes 
- e manifestas 
- das transmissões que dizem respeito à sociedade, aos grupos, ao indivíduo, 
ao sistema cultural. 
 
Já Lasswell apresenta as seguintes funções dos meios de comunicação: 
 
- vigilância (informativa, função de alarme); 
- correlação das partes da sociedade (integração); 
- transmissão da herança cultural (educativa). 
 
Nota de roda pé 
10 ARAÚJO, op. cit., p. 34. 
11 MERTON apud GOMES, op. cit., p. 23. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 32 
 
Lazarsfeld e Merton apresentam outras funções: 
 
- Atribuição de status (estabilizar e dar coesão à hierarquia da sociedade); 
- execução de normas sociais (normatização); 
- disfunção narcotizante. 
 
De acordo com Araújo, a hipótese dos “usos e funções” é um setor de análise 
específico sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa que foi 
diretamente influenciado pelo paradigma funcionalista. Enquanto as funções se 
referem a consequências de certos elementos regulares, estandardizados e 
rotinizados do processo comunicativo, as necessidades se relacionam à 
apropriação dos espectadores e determinariam um certo “uso” que estes fariam 
do material veiculado na mídia, procurando satisfazer suas necessidades.12 
 
A Teoria Matemática da Comunicação 
 
Esta teoria formaliza os estudos até então operacionalizados a partir de uma 
visão técnica e quantitativa. A Teoria Matemática da Comunicação, ou Teoria 
da Informação, foi elaborada por dois engenheiros matemáticos, Shannon e 
Weaver, em 1949. E considerada um estudo de engenharia da comunicação. 
Para Weaver, o sistema de comunicação é assim representado: fonte de 
informação — transmissor — canal — receptor — destino. 
 
A comunicação é apresentada como um sistema no qual uma fonte de 
informação seleciona uma mensagem 
 
Nota de roda pé 
12 Idem, ibidem, p. 34. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 33 
 
desejada, a partir de um conjunto de mensagens possíveis, codifica esta 
mensagem transformando-a num sinal passível de ser enviado por um canal ao 
receptor, que fará o trabalho do emissor ao inverso. Ou seja, a comunicação é 
entendida como um processo de transmissão de uma mensagem por uma 
fonte de informação, através de um canal, a um destinatário.13 
 
Para muitos críticos da Teoria Matemática, ela reduz sobremaneira os 
processos comunicativos, simplificando-os a um mero esquema numérico. 
Consequentemente, lembra Araújo: 
 
a comunicação é vista não como processo, mas como sistema, com elementos 
que podem ser relacionados e montados num modelo. A proposta é de um 
modelo linear, em que os elementos são encadeados e não podem se dispor 
de outra forma — enrijecimento da apreensão do fenômeno comunicativo, com 
sua cristalização numa forma fixa.14 
 
A Teoria Crítica 
 
Advinda da escola europeia, a Teoria Crítica empenhou-se na denúncia das 
manifestações ideológicas dos meios de massa. Recebe menção especial a 
Escola de Frankfurt — coletivo de pensadores e cientistas sociais alemães 
formado sobretudo por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Eric Froom e Hebert 
Marcuse. O foco da Teoria Crítica foi a Indústria Cultural — termo que se refere 
à exploração e mercantilização da cultura e dos processos de formação da 
consciência. 
 
Nota de roda pé 
14 Idem, ibidem, p. 37 
15 Idem, ibidem, p. 35. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 34 
 
A perspectiva estruturalista 
 
Desenvolvida sobretudo na França na década de 1960, a perspectiva 
estruturalista europeia baseava-se na linguística saussuriana. Diferia do 
estruturalismo americano no modo de pensar a estrutura como expressão dos 
atos de fala e enunciação, dos discursos, dos textos. A linguagem era o fulcro 
pelo qual as questões dessa tendência emergiam. De acordo com Rodrigues: 
 
a proposta de constituição de uma disciplina mais geral que abarcasse todos 
os domínios da significação, a que propunha dar o nome de semiologia, 
permitia conceber um ponto de referência comum para a viragem estruturalista 
que viria a dominar, a partir dos anos de 1960, conjunto das ciências humanas, 
em geral, e os estudos de comunicação, em particular. Nesta perspectiva, 
procurava-se determinar a estrutura invariante ou o código subjacente às 
variações observadas nas manifestações significantes. 15 
 
Roland Barthes, Greimas, Umberto Eco foram alguns dos exponenciais dessa 
tendência. 
 
Para além das teorias que inauguraram o campo social da comunicação como 
área do conhecimento, muitas outras correntes enriqueceram o vasto universo 
dinâmico dos estudos dos meios, refutando, acrescentando ou aperfeiçoando 
os pressupostos já estabelecidos pelas chamadas teorias fundadoras. Uma vez 
que os processos sociais são, obviamente, sempre re-significados, os estudos 
sobre eles igualmente o são. 
 
Nota de roda pé 
15 RODRIGIJES, Adriano Duarte. Comunicação e cultura. Lisboa, Presença, 
2001. p. 39. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 35 
 
A economia política da comunicação, a pragmática, a etnografia da 
comunicação, a etnometodologia e a sociologia das interações sociais, as 
sociologias da tecnologia e da mediação; os estudos relativos à recepção das 
mensagens, assim como a formação dos usos sociais da mídia e das novas 
tecnologias da informação e da comunicação são considerados 
vertentes/ramificações teóricas mais recentes sobre os meios. 
 
Esses estudos delinearam a teoria da comunicação tendo como foco as 
análises dos meios de comunicação de massa. A história e a dinâmica do rádio 
possibilitaram que muitos desses estudos voltassem os seus olhares para o 
meio. Desde os estudos sobre a audiência na época da duas grandes Guerras 
Mundiais até os dias atuais, o rádio vem orientando e é orientado por diversas 
análises, contornando uma tradição teórica proteica. 
 
Nesse mar de possibilidades, reiteramos, a perspectiva teórica que adotamos é 
o estruturalismo-funcionalismo, considerado capaz de responder às 
expectativas aqui traçadas: fixação e classificação dos gêneros no audiovisual. 
Uma vez feito este passeio pelas teorias da comunicação, passaremos agora 
para um breve relato da história do rádio e sua devida relação com as teorias 
da comunicação. Sintonizemos, então, em outra estação! 
 
Página 36 
 
Em branco 
 
Página 37 
 
 
 
Capítulo II – BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO RÁDIO NO BRASIL 
 
 
 
Início da estação 
 
Gradativamente vamos nos aproximando do centro da investigação deste livro-
escuta. Nesta seção- estação falaremos a respeito dos gêneros em geral e dos 
gêneros radiofônicos em particular. Antes, porém, se fazem necessárias 
algumas considerações sobre o próprio rádio: história, lógica e estrutura. O 
texto que segue é um panorama das pesquisas e relatos já empreendidos. 
Embarque conosco. 
 
Características do rádio 
 
O rádio nos oferece serviços variados no campo da informação e do 
conhecimento: entretenimento, notícias etc. Há mais de um século faz história 
e estabelece vínculos mediadores com as pessoas em diferentes localidades, 
com suas diferentes culturas e práticas. 
 
Segundo Borges o rádio nasceu num momento profícuo para surgimento e 
desenvolvimento dos meios tecnológicos. Sob o impulso de fios e frequências, 
ele marca definitivamente a vocação transfronteiriça dos meios de 
comunicação já ensaiada com o telégrafo. Deve-se o feito ao italianoPágina 38 
 
Guglielmo Marconi que em 1901 captou as frequências e inaugurou, com esse 
feito, a era das telecomunicações.1 
 
Os marcos do rádio no mundo estão diretamente ligados aos processos 
intensos de mobilidade, do ponto de vista político: vivia-se a época das grandes 
imigrações; o capitalismo esmagava violentamente alguns países da Europa. A 
comunicação a distância tornou-se uma necessidade. O mundo passa a 
funcionar em ondas, em frequências, comunicando-se de pontos distantes e 
com certa instantaneidade. 
 
Ainda segundo a autora, desde a sua invenção o rádio passou a contribuir com 
os ideais de universalização e identidade de vários povos e nações. Ao passo 
que nos países europeus foi a imprensa escrita que se configurou como forte 
elemento de identidade nacional, nos países subdesenvolvidos o rádio e, 
posteriormente, a televisão exerceram esse papel. Apesar do grande número 
de meios audiovisuais existentes e que parecem gozar de um certo privilégio, o 
rádio ainda é febre nacional. Nos lares, botecos, salões de beleza, academias 
de ginástica, lá está ele, sempre em moda, fazendo companhia para os seus 
ouvintes. O que nos leva a afirmar que o papel do rádio é insubstituível em face 
das inovações tecnológicas do mundo da comunicação.2 
 
A primeira transmissão radiofônica no Brasil realizou-se durante a festa de 
Centenário da Indepen- 
 
Nota de roda pé 
1 BORGES, Rosane da Silva. Radio: a arte de falar e ouvir. São Paulo, 
Paulinas, 2002. p. 2. Mimeografado. 
2 Idem. ibidem. p. 3. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 39 
 
em 7 de setembro de 1922, na cidade do Rio de Janeiro. A solenidade foi 
aberta com o discurso do presidente Epitácio Pessoa e os acordes da peça “O 
Guarani”, de Carlos Gomes, executada no Teatro Municipal da então capital 
federal. Alguns nomes ilustres e marcantes participaram do evento, a exemplo 
de Roquete Pinto, o pioneiro na radiodifusão brasileira. 
 
Embora a inovação do rádio no Brasil tenha provocado grandes expectativas, 
as transmissões não tiveram continuidade por falta de projetos específicos e 
recursos que pudessem ser destinados a este novo meio. 
 
É só com a radiodifusão que o rádio se consolida no Brasil. Nessa época, em 
1923, foi criada a Rádio Sociedade do Rio, fundada por Roquete Pinto e Henry 
Morize, que impõem à emissora uma característica marcadamente educativa. 
 
Uma vez que os equipamentos ainda eram caros, a popularidade no rádio não 
constituiu um elemento que o acompanhou desde a sua implantação no Brasil. 
Como qualquer meio tecnológico em sua fase inicial, foi um “meio de elite”. Os 
aparelhos receptores eram importados, o que dificultava ainda mais o seu 
barateamento. 
 
Tais dificuldades estabeleceram um estilo de fazer rádio consonante com as 
expectativas de seus investidores/receptores: era um meio que tocava óperas, 
apresentava palestras culturais dirigidas às elites e 
 
Nota de roda pé 
3 Há quem conteste esta data como marca inaugural do rádio brasileiro, pois 
alguns documentos provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 6 
de abril de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi 
inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, que depois 
se associou a Augusto Pereira e João Cardoso Ayres. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 40 
 
sobrevivia de músicas emprestadas de colecionadores. Segundo Ortriwano, 
durante a década de 1920, as classes populares, a dita cultura popular, foram 
impedidas de participar da programação radiofônica, o que caracterizava o 
rádio como um veículo individualista, familiar ou particular, muito pouco 
extensivo. Essa programação “seleta” motivou Roquete Pinto a pensar na 
radiodifusão como o meio pelo qual o rádio pudesse estar afinado com os 
ideais que lhe deram origem: popularização e educação. 
 
De fato, logo o rádio iria tornar-se um meio com feições populares. Foi nessa 
época que começou a se propagar pelo território brasileiro. As primeiras 
emissoras tinham sempre em sua denominação os termos “clube” ou 
“sociedade”, já que assim eram definidas em seu estatuto fundador. Muitos 
apreciadores que apostavam na potencialidade do novo meio se associavam e 
pagavam assinaturas. Essa fase ainda é amadora, restrita do ponto de vista da 
abrangência do rádio. Sem a instituição do campo publicitário nesse espaço, 
que era proibido pela legislação brasileira, as rádios eram mantidas por 
entidades privadas ou públicas. Havia, também, um apelo aos sócios para que 
ajudassem nessa tarefa. 
 
Na década de 1930, porém, o rádio passa por profundas transformações, 
preparando o terreno para o que é hoje. Em 1931 surge o primeiro documento 
sobre radiodifusão. O rádio brasileiro já estava comprometido com os reclames 
(os anúncios daquele tempo) para garantir sua sobrevivência. 
 
Nota de roda pé 
4 Cf. ORTRIWANO, Gisela S. A informação no rádio: os grupos de poder e a 
determinação dos conteúdos. São Paulo, Summus, 1985. p. 43 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 41 
 
Em 1° de março de 1932, o Decreto n° 21.111 autorizou a inserção publicitária, 
regulamentando o Decreto n° 20.047, de maio de 1931 — primeiro diploma 
legal sobre a radiodifusão, surgido nove anos após a implantação do rádio no 
País. 
O Estado passa a ter maior ingerência sobre o serviço de radiodifusão, 
percebendo o rádio como um meio importante no território brasileiro. O governo 
definia a radiodifusão como serviço de interesse nacional e de finalidade 
educativa. 
 
Os decretos do presidente Getúlio Vargas foram cruciais para a expansão 
comercial do rádio nacional. Aquilo que era considerado de elite, sofisticado, 
transforma-se em popular, já que fatias mais abrangentes da população 
estavam tendo acesso à mais nova engenhoca que primava pelo lazer e pela 
diversão. 
 
Nesse momento, a indústria e o comércio passam a definir a programação 
radiofônica. E a publicidade que forja as rádios a se organizarem como 
empresas, na disputa que vai, gradativamente, acirrando-se. 
 
Segundo Ortriwano, a competição teve, original- mente, três facetas: 
desenvolvimento técnico, status da emissora e sua popularidade. A 
preocupação “educativa” foi preterida em face dos interesses comerciais.5 
Com essa nova feição, o rádio mostra-se como um meio extremamente eficaz 
para incentivar o consumo. No entanto, mesmo com a crescente 
comercialização, os primeiros profissionais — denominados programistas — 
ainda não possuíam uma estrutura burocrática 
 
Nota de roda pé 
5 Idem, ibidem, p. 48. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 42 
 
organizada. O profissional exercia várias funções ao mesmo tempo: contato, 
redação, produção e apresentação. A medida que o nível de improvisação 
diminuía, as equipes iam-se articulando. 
 
No processo de rearranjamento estrutural do rádio, a improvisação profissional 
cedeu lugar para definições de cargos e funções. A urbanização, a tecnologia, 
a especialização dos serviços foram elementos que motivaram tais 
redimensionamentos e tornaram-se essenciais para a caminhada do rádio até 
os dias atuais, pois demarcaram seu papel e sua função na sociedade 
brasileira, estimulando em seus produtores posturas que garantissem a 
sobrevivência do meio na dinâmica da sociedade. 
 
A linguagem radiofônica vai abdicando de expressões menos usuais e se 
populariza. Em suma, o rádio deixa de ser uma atividade amadora e passa 
definitivamente ao profissionalismo. Com os recursos advindos da publicidade, 
as emissoras adquirem nova infra- estrutura e podem contratar mais 
profissionais e melhorar suas instalações. Inicia-se a fase de programas 
variados nas emissoras, provocando concorrência acirrada. 
 
O rádio segue, assim, com uma história marcante e estabelece-se no Brasil e 
no mundo como um meio de grande importância. 
 
Nesse sentido, a década de 1930 foi fundamental para que o rádio se definisse 
em seus caminhos eencontrasse o seu rumo na fase seguinte, acompanhando 
e auxiliando o desenvolvimento nacional como um todo. 
 
O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira a partir de meados da década 
de 1930 foi muito mais pro 
 
Página 43 
 
Fundo 
 
fundo do que aquele que a televisão viria a produzir trinta anos mais tarde. 
 
Com essas iniciativas, o rádio brasileiro foi encontrando a si próprio, definindo 
sua linha de atuação e assumindo um papel cada vez mais importante na vida 
política e econômica do País. Este meio de comunicação, logo nas décadas 
seguintes, conseguiu considerável audiência e sucesso, de tal sorte que 
consolidou a sua fase de ouro. 
 
As fases iniciais do rádio foram determinantes para que ele atingisse o seu 
apogeu, firmando-se como o grande meio de comunicação da sociedade 
brasileira. Essa fase é denominada fase de ouro cio rádio brasileiro, 
consolidada na década de 1940. E o momento em que ele começa a se definir 
mais claramente para o jornalismo. O Repórter Esso foi resultado dessa fase. 
 
Tal época de ouro enfrentou uma grave crise com a emergência da televisão, 
que herdou do primeiro seus profissionais, seus quadros e sua linguagem. O 
universo audiovisual fez com que o rádio repensasse sua forma e estrutura, de 
tal modo que o público não desertasse para a tela da TV. 
 
O transistor tornou-se uma importante saída para que o potencial do rádio 
fosse explorado em suas várias possibilidades, com a vantagem de serem mais 
baratas, ágeis e noticiosas, inaugurando uma nova fase para o meio.6 Com o 
transistor tornou-se possível ouvir rádio a qualquer hora e em qualquer lugar, 
sem precisar 
 
Nota de roda pé 
6 Consideramos que do ponto de vista tecnológico o rádio passa por três fases: 
a primeira com o transistor, a segunda com o uso de FM (frequência modulada) 
e a terceira com os satélites e a digitalização. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 44 
 
mais ligá-lo a tomadas. Sua dinâmica de transmissão cresceu enormemente. 
Outra medida tomada para que o rádio não perdesse ainda mais terreno para a 
televisão foi a divulgação de serviços de utilidade pública, produzidos pela 
Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. 
 
As primeiras emissoras em FM (frequência modulada) começaram a operar na 
década de 1960, fornecendo inicialmente “música ambiente” para assinantes 
interessados. A primeira emissora a atuar exclusivamente nas ondas da 
frequência modulada foi a Rádio Difusora de São Paulo — FM. Há quem diga, 
no entanto, que foi a Rádio Eldorado de São Paulo a responsável pelo feito, 
pois quando foi fundada, em 1958, transmitia em ondas médias e por questão 
de prestígio usava também a FM para transmitir só música, fora da faixa 
comercial. 
 
Uma outra inovação ocorreu na década de 1970 com a criação das agências 
de produção radiofônica, que apresentavam programas com artistas famosos e 
assuntos de interesse do momento e vendiam as gravações para emissoras de 
menor porte, que não tinham condições de realizar produções desse tipo. 
 
No final de 1982, a Rádio Jornal do Brasil FM, do Rio de Janeiro, tornava-se 
pioneira na utilização do compact disc audio digital, ou seja, o disco digital com 
leitura a laser (o famoso CD). 
 
Essa história do rádio que não para de tecer os seus próprios fios é o reflexo 
de características que foram, pouco a pouco, consolidando-se. 
 
Segundo Mcleish, o rádio possui pelo menos 19 características. Entre elas, 
podemos destacar: construção 
 
Página 45 
 
de imagens, capacidade de falar para milhões de pessoas, e/ou para cada 
indivíduo, velocidade, caráter transfronteiriço, simplicidade, baixo custo, 
efemeridade, música, surpresa, interferência. Conversemos um pouco mais 
sobre isso. Estas características, se bem aplicadas, poderão facilitar a 
mediação entre produção e recepção, locutor e ouvinte e conformam gêneros 
específicos. 
 
Sensorialidade: o rádio forma imagens 
 
Ao passo que nos meios audiovisuais o telespectador conta com som e 
imagem, no rádio a única arma é a voz, a fala. Isso, fatalmente, desperta a 
imaginação do ouvinte que logo irá criar na sua mente a visualização do dono 
da voz ou do que está sendo dito. Se na televisão a imagem já vem 
acompanhada da voz ou aparece mesmo sozinha, no rádio o ouvinte tem a 
liberdade de criar, com base no que está sendo dito, a imagem do 
assunto/pessoa/fato. De acordo com Mcleish, “quem faz textos e comentários 
para o rádio escolhe as palavras de modo a criar as devidas imagens na mente 
do ouvinte e, assim fazendo, torna o assunto inteligível”.7 Por tratar-se de um 
meio “cego”, a sua linguagem estimula a imaginação, envolve o ouvinte, 
convidando-o a participar da mensagem por meio de um “diálogo mental”. 
Penetração: o rádio fala para milhões 
Sem grandes complicações tecnológicas, o rádio tem a vantagem de poder 
falar para milhões de pessoas, o 
 
Nota de roda pé 
7 MCLEISH, Robert. Produção de rádio: um guia abrangente da produção 
radiofônica. São Paulo, Summus, 2001. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 46 
 
que marca a era da radiodifusão (transmissão e dispersão da informação 
produzida que abrange indivíduos, grupos e estratos sociais em todo o mundo). 
O satélite é fundamental para assegurar essa característica. Aparcela e o 
alcance de audiência são cifras importantes para avaliar a radiodifusão. A 
parcela de audiência diz respeito ao tempo que o ouvinte gasta ouvindo 
determinada emissora; já o alcance de audiência corresponde ao número de 
pessoas que ouvem, efetivamente, alguma emissora no período de um dia ou 
uma semana. Ambos são expressos em porcentagem, afirma Mcleish.8 
 
Regionalismo 
 
Segundo Chantler e Harris, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local 
é o instrumento que dá a ela a sensação de ser verdadeiramente local”.9 O 
regionalismo é uma marca fundamental do rádio, pois oferece visibilidade às 
informações locais. Esse princípio dinamiza as relações entre rádio e 
comunidade. Chantler e Harris asseguram, ainda, que notícias obtidas na 
esquina de um bairro são tão ou mais importantes do que as recebidas de 
outras partes do mundo. Há, no entanto, o perigo de tornar tudo muito local. E 
preciso distinguir entre o que é local e o que é paroquial. E importante avaliar 
corretamente o que é uma notícia local. 
 
Intimidade: o rádio fala para cada indivíduo 
 
Ao mesmo tempo que atinge milhares de pessoas, o rádio é voltado para o 
indivíduo em particular. As palavras, a forma de falar, são pensadas para o 
ouvinte 
 
Nota de roda pé 
8 Idem, ibidem, p. 18. 
9 Citados por MCLEISH, op. cit., p. 20. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 47 
 
com suas particularidades e expectativas, O transistor facilitou esse caráter, já 
que permitiu uma audiência personalizada, individual, com a fabricação de 
rádios a bateria, o que barateou o custo do aparelho. O tom íntimo das 
transmissões, representado pelas expressões “amigo ouvinte”, “caro ouvinte”, 
“querido ouvinte”, proporciona uma aproximação e uma intimidade únicas, 
fazendo do rádio um veículo companheiro. Antes, a audiência era coletiva. E 
em áreas rurais pouco beneficiadas com tecnologia, ainda se registra a 
recepção radiofônica grupal: as pessoas dos vilarejos se reúnem para ouvir as 
notícias transmitidas de um rádio apenas. 
 
Imediatismo e instantaneidade: a velocidade do rádio 
 
O rádio possui caráter imediato, possibilitando que o ouvinte se inteire dos 
fatos no momento em que acontecem. A transmissão de um jogo de futebol, a 
cobertura de acidentes no local do ocorrido dão agilidade para o meio. O rádio 
acelera a disseminação das informações em curto espaço de tempo, 
subsidiando a sociedade, os grupos e indivíduos em dada formação cultural. 
 
A simplicidade do rádio 
 
O rádio dispensa todo o aparato comum nos meios visuais (câmera, luzes e 
outros recursos). Com uma estrutura mínima, trabalha-se no meio — oque 
abre precedentes para que pessoas não especializadas se aventurem na arte 
de “fazer” rádio. Além disso, essa simplicidade possibilita ao radialista tornar a 
programação flexível, com substituições e alterações nos programas diários. 
 
Página 48 
 
A mobilidade do rádio Livre de fios e tomadas, o rádio pode ser levado a 
qualquer lugar. Isso faz dele uma mídia pessoal e que pode ser “ouvida” onde o 
receptor desejar. Em quase todas as circunstâncias, sem grandes problemas: 
no carro, na rua, na cozinha, no campo de futebol, no curral da fazenda ou no 
bar da esquina, de infinitos modos. As pessoas simplesmente ouvem, 
realizando outras tarefas, sem se incomodar. 
 
O rádio é acessível 
 
A maioria da população tem possibilidade de adquirir um aparelho de rádio. 
Segundo pesquisas recentes, praticamente toda residência tem pelo menos um 
ou vários aparelhos; a proporção é de um rádio por pessoa. Tal fato ocorre 
porque seu preço é quase sempre acessível e sua abrangência alcança 
basicamente qual quer lugar, mesmo onde não existe energia elétrica ou as 
transmissões televisivas ainda não chegaram. Sendo assim, o rádio está 
sempre por perto, ao alcance da mão ou do ouvido, atingindo todos, da criança 
ao idoso. 
 
O rádio é barato 
 
Os custos com o rádio são relativamente baixos se comparados com outros 
meios de comunicação. Tanto do ponto de vista de investimento quanto de 
manutenção. Para o anunciante, o rádio ainda representa o menor custo por 
ouvinte-hora. Portanto, a grande dificuldade para se “montar” uma rádio não é 
de ordem financeira, mas diz respeito à obtenção de uma frequência de 
transmissão, que é protegida pelos governos como signatários de acordos 
internacionais. Isso resulta, na 
 
Página 49 
 
maioria das vezes, em algumas dificuldades para a aquisição de concessão. As 
estações de rádio são financiadas de várias maneiras: licença pública, 
publicidade comercial, subsídio do governo, capital privado, assinatura pública 
ou qualquer combinação entre esses métodos. 
 
Função social 
 
Em face dessas características, o rádio possui uma importante função social: 
atua como agente de informação e formação do coletivo. Desde a sua gênese 
vem se firmando como um serviço de utilidade pública, o qual exerce uma 
comunicação que em muito contribui para a história da humanidade. Deixa 
como legado princípios como ação, atuação, transformação e mobilização. De 
acordo com Mcleish, as funções do rádio para a sociedade são: 
 
- fornecer informações sobre empregos, produtos e serviços, ajudando assim a 
criar mercados com o incentivo à renda e ao consumo; 
- atuar como vigilante sobre os que detêm poder, propiciando o contato entre 
eles e o público; 
- ajudar a desenvolver objetivos comuns e opções políticas, possibilitando o 
debate social e político e expondo temas e soluções práticas; 
- contribuir para a cultura artística e intelectual, 
- dando oportunidades para artistas novos e consagrados de todos os gêneros; 
- divulgar ideias que podem ser radicais e que levem a novas crenças e 
valores, promovendo assim diversidade e mudanças — ou que talvez 
 
Página 50 
 
reforcem valores tradicionais para ajudar a manter a ordem social por meio do 
status quo; 
- facilitar o diálogo entre indivíduos e grupos, promovendo a noção de 
comunidade; 
- mobilizar recursos públicos e privados para fins pessoais ou comunitários, 
especialmente numa emergência. 10 
 
Função comunitária 
 
Mediante as funções sociais do rádio acima citadas, resta-nos perceber quais 
seriam os interesses do uso e alcance do rádio no contexto do trabalho em 
comunidade. Há de se considerar que as funções citadas anteriormente são 
universais e podem, portanto, ser aplicadas em casos e fins diferenciados. 
 
É importante o comunicador reter que a prestação de serviço público por 
intermédio do rádio possui força e poder inimagináveis. Ele, o rádio, tem a 
magia de cativar e seduzir os seus ouvintes, conduzindo-os a atitudes e 
comportamentos conformes ao padrão estabelecido. Por isso, é bom saber que 
estamos fazendo uso de um meio o qual influencia o cotidiano das pessoas, e 
assim nos possibilita resultados positivos. Uma exploração em torno dos 
gêneros radiofônicos assesta para tal importância. 
 
Nota de roda pé 
10 MCLEISH, op. cit., p. 24. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 51 
 
 
 
Capítulo III – Gêneros, informação e gêneros radiofônicos 
 
 
 
Os gêneros 
 
Falar em gêneros implica, invariavelmente, incursões nos debates que o tema 
suscitou ao longo da história. A literatura, a comunicação social (principalmente 
o jornalismo e o rádio), a arquitetura utilizam o termo gênero para definir 
tipologias específicas. Dimensionar seu conceito tautológico é uma questão 
que vem atormentando os filólogos ao longo dos tempos. 
 
A discussão na literatura é extensa e se presta às mais variadas 
interpretações. Arlindo Machado nos informa que a ideia de gênero tem sofrido 
um questionamento esmagador de parte, inicialmente, da crítica estruturalista 
e, posteriormente, do pensamento dito pós-moderno, para os quais esse tipo 
de discussão se tornou alguma coisa anacrônica, quando não irrelevante.1 
 
Todorov alerta sobre a complexidade do termo em sua conceituação: 
 
[...] disporíamos de uma noção cômoda e operante se conviéssemos em 
chamar de gêneros apenas as classes de 
 
Nota de rodapé 
1 Machado, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo, SENAC, 2001. p. 
67. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 52 
 
textos que foram percebidas como tais no decorrer da história [...]. Os gêneros 
existem como instituição, verdadeiros modelos de expectativa e de escritura 
[...].2 
 
O dicionário define gênero como: “Classe cuja extensão se divide em outras 
classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies [...], conjunto 
de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns 
convencionalmente estabelecidos”.3 
 
O termo gênero, diz Machado, origina-se do latim genus Igeneris (família, 
espécie) e não se vincula etimologicamente, malgrado a aparente homofonia, 
com as palavras gene e genética (do grego gênesis: geração, criação). E 
completa: 
 
Apesar disso, há uma inequívoca relação entre o que faz o gênero no meio 
semiótico (ou seja, no interior de uma linguagem) e o que faz o gene no meio 
biológico. Os geneticistas definem o gene como uma entidade replicante, 
presente nas moléculas de DNA, cuja função principal é transmitir às novas 
células que estão sendo formadas as informações básicas que vão garantir a 
preservação de uma determinada espécie.4 
 
O dicionário Conceitos-chave em estudos de comunicação e cultura diz que 
gênero são conjuntos paradigmáticos reconhecidos, em que a produção total 
de determinado meio (filme, televisão, escritura) é classificada. Filmes, 
programas ou livros são 
 
Nota de rodapé 
2 TODOROV, Tzvetan. Os gêneros do discurso. São Paulo, Martins Fontes, 
1980. p. 47. 
3 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua 
Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975. p. 682. 
4 MACHADO, op. cit., p. 65. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 53 
 
tipicamente percebidos como “pertencentes” a um gênero particular — western, 
terror ou musical, em cinema; série policial, comédia ou novela, em televisão. 
Esse reconhecimento tem por finalidade que o espectador/leitor/crítico oriente 
suas reações para o que está lá, de acordo com as expectativas geradas pelo 
fato de distinguir o gênero no começo. Você não julga um western por ele não 
ser bastante musical, e também não avalia um musical por não apresentar 
suficientemente cenas de horror. É difícil isolar as características precisas de 
um gênero e chegar a uma lista finita de todos os gêneros diferentes [...]. Os 
gêneros são paradigmas dinâmicos, e não listas formuladas.5 
 
Apesar de sua origem demarcada, não háunanimidade em torno do significado 
de gênero. Procurando dimensionar a problemática no campo da literatura, 
Borelli afirma: 
 
A noção de gênero como agrupamento ou filiação de obras literárias a uma 
classe ou espécie, subordinadas por sua vez a artifícios e convenções 
estéticas, divide opiniões. Para alguns autores esta normatização ou 
classificação — que para outros se justifica como resposta a uma perspectiva 
de busca da universalidade literária — implicaria o risco do enquadramento 
rígido da obra a modelos e regras nem sempre flexíveis.6 
 
Autores como Feuer, citado na obra de Borelli, indicam a dinâmica a que estão 
sujeitos os gêneros, modificados constantemente pelos fluxos e consequentes 
redefinições.7 
 
Nota de roda pé 
5 SULLIVAN et AL., op. cit., p. 33. 
6 BORELLI, Silvia Helena Simões, org. Gêneros ficcionais, produção e 
cotidiano na cultura popular de massa. São Paulo, Intercom, 1994. p. 130. 
7 Idem, ibidem, p. 131. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 54 
 
Para Martin-Barbero gênero é: "[...] o elo de ligação dos diferentes momentos 
da cadeia que une espaços da produção, anseios dos produtores culturais e 
desejos do público receptor [...]".8 A esse respeito, Mauro Wolf escreve com 
propriedade: 
 
[...] os gêneros são sistemas de regras aos quais se faz referência — de modo 
explícito e/ou implícito — para realizar o processo comunicativo: tal referência 
se justifica seja do ponto de vista da produção do texto (de qualquer natureza 
possa ser), seja do ponto de vista de sua própria fruição [...].9 
 
Bakhtin mostra-se para muitos autores, a exemplo de Machado, como um dos 
que melhor trataram a questão de gênero, ainda que ele não tenha direcionado 
sua análise para o audiovisual contemporâneo. Pensando a questão do gênero 
nos fenômenos literários e linguísticos em suas formas impressas ou orais, 
Bakhtin diz que gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de 
uma determinada linguagem, certo modo de organizar ideias, meios e recursos 
expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a 
comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às 
comunidades futuras.10 
 
Na área da comunicação, especialmente no estudo do jornalismo, Marques de 
Melo afirma que "não obstante a identificação dos gêneros constitua uma 
 
Nota de rodapé 
8 Martin-Barbero, Jesus. De los médios a Ias mediaciones. México, Gustavo 
Gilli, 1987. p. 239. 
9 Wolf, Mauro. I generi e mass media. In: Barlozzetti, Guido. II Palinsesto. 
Milano, Ranço Angeli, 1986. p. 169. 
10 Citado por Machado, op. cit., p. 68. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 55 
 
tarefa a que se têm dedicado os pesquisadores acadêmicos, na verdade a 
questão tem origem na práxis”, e acrescenta: 
 
[...] desde o início das atividades permanentes de informação sobre a 
atualidade (processo livre, contínuo, regular), colocou-se a distinção entre as 
modalidades de relato dos acontecimentos. E os que fazem a narrativa 
cotidiana das novidades (jornalistas) estabelecem padrões para discernir a 
natureza da sua prática profissional [...].11 
 
As reflexões conceituais de Marques de Meio a respeito dos gêneros estão 
baseadas nos conceitos teóricos de Gargurevich, Dovifat, Foliet e Vivaldi. De 
acordo com esses autores, os gêneros jornalísticos são “formas de que busca 
o jornalista para se expressar”; “formas de expressão do jornalismo”; “gêneros 
são utilitários” e sintonizam a “linguagem da vida”. Embora Meio faça um 
mapeamento dos gêneros jornalísticos brasileiros, ele não apresenta um 
conceito autoral do que seja gênero. 
 
Para alguns pesquisadores, a exemplo de Luís Martinez Albertos, pensar em 
gênero na atividade jornalística requer que pensemos o jornalismo como “estilo 
literário específico”. Para ele, o jornalismo é “[...] um estilo literário peculiar, um 
estilo caracterizado, basicamente, pelos fins informativos que persegue — a 
transmissão de notícias — e a exigência ou expectativa do destinatário”.12 
Bahia vai na mesma direção 
 
Nota de rodapé 
11 MARQUES DE MELO. Gêneros jornalísticos..., cit., p. 32. 
12 ALBERTOS, José Luís Martinez. Curso general de redacción periodística. 
Madrid, Paraninfo, 1992, p. 44. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 56 
 
quando afirma que: "O jornalismo é uma das categorias da literatura — é uma 
literatura de massa".13 
 
Levando em conta tais indicações, é necessário considerarmos os gêneros 
específicos, pois como diz Todorov [...] nunca houve literatura sem gêneros. 
Eles existem como instituição, servindo como horizontes de expectativa para os 
leitores e como modelos de escritura para os autores. Estão aí, com efeito, as 
duas vertentes da existência histórica dos gêneros.14 
 
Hans-Rorbert Jauss endossa estas afirmações ao enfatizar que "toda obra 
literária pertence a um gênero. 
 
Os conceitos do jornalismo como gênero literário de Albertos, de Bahia e de 
Lima legitimam-se no entendimento da origem dos gêneros. Na literatura um 
[...] novo gênero é sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos: 
por inversão, por deslocamento, por combinação. Um texto de hoje (também é 
um gênero num de seus sentidos) deve tanto à poesia quanto ao romance do 
século XIX.16 
 
No jornalismo, nem o relacionamento íntimo dos gêneros, nem as tênues 
fronteiras que os diferenciam impediram a criação de outros gêneros. Um 
exemplo é quando a notícia acaba transformando-se em reportagem. 
 
Nota de rodapé 
13 Bahia, Juarez. Jornal, história e técnica: as técnicas de jornalismo. 3. ed. 
São Paulo, Ibrasa, 1972. p. 43 
14 Todorov, op. cit., pp. 46-49. 
15 Jauss, Hans-Robert. Littérature médiévale et theorie des genres. In: Witter 
Poétique. Paris, ano 2, 1970. v. 1, p. 10. 
16 Todorov, op. cit., p. 46. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 57 
 
A primeira é o fato mais cru, que traz só o acontecimento em si; já a 
reportagem é o acontecimento ampliado e contextualizado. Claro que o 
processo de criação e transformação de gêneros do jornalismo não tem a 
agilidade da literatura, mas também acontece de uma forma lenta e 
progressiva. 
 
Os gêneros são, ainda, unidades que se podem descrever sob dois pontos de 
vista diferentes: o da observação empírica e o da análise abstrata.17 O 
primeiro — o da observação empírica — refere-se às “propriedades 
discursivas” que tornam um texto diferente ou igual a outro; e o segundo — o 
da análise empírica — tem a ver com a conceituação dessas propriedades. Em 
jornalismo, a análise empírica corresponde ao fazer jornalístico diário; varia 
conforme o fato jornalístico ou o enfoque. Por exemplo, um crime policial pode 
ter um texto meramente de relato ou tornar-se uma crônica. A significação de 
um ou outro texto fica na esfera da análise abstrata desse fazer; é o saber do 
jornalismo, que nada mais é que as teorias de classificação de gênero. 
 
De acordo com o conceito de Dovifat, os gêneros são “as formas de expressão 
do jornalismo”.18 No momento da produção do texto, o gênero é um 
mecanismo de codificação, é uma ferramenta, um código de escritura utilizado 
pelo sujeito da enunciação para realizar seu trabalho. No momento da 
decodificação ele é o que Jauss chama de “consciência compreensiva”, criador 
de sentido no enunciado, que permite ao leitor identificar uma determinada 
intenção (relato ou comentário). Isso cria, segundo Jauss, um “[...] horizonte de 
 
Nota de rodapé 
17 Idem, ibidem, p. 48. 
18 MARQUES DE MEL0. Gêneros jornalísticos..., cit., p. 39. 
Fim da nota de roda pé 
 
Página 58 
 
expectativa, quer dizer, de um conjunto de regras preexistentes para orientar a 
compreensão do leitor (do público e permite-lhe uma recepção apreciativa)”.19 
Para isso, é preciso que a obra seja carregada de sentido para possibilitar o 
reconhecimento do gênero proposto. Portanto, [...] um determinado texto, 
literário ou jornalístico, só pode ser

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