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Referencia: BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas de áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. 158 p. Capa ANDRÉ BARBOSA FILHO GÊNEROS RADIOFÔNICOS Os formatos e os programas em áudio Paulinas Página 01 ANDRÉ BARBOSA FILHO GÊNEROS RADIOFÔNICOS Os formatos e os programas em áudio Paulinas Página 02 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Barbosa Filho, André Géneros radiofônicos os formatos e os programas em áudio / Andre Barbosa Filho — São Paulo: Paulinas, 2003. - (Coleção comunicação-estudos) Bibliografia ISBN 85-356-1132-0 1. Rádio - Formato - Brasil 1. Título. 11. Título: Os formatos e os programas em áudio. III. Série. 03-3751 Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil: Gêneros radiofônicos: Comunicações 384.540981 Direção geral: Flávia Reginatto Editora responsável: Noemi Dariva Copidesque: Mônica Elaine G. S. da Costa Coordenação de revisão: Andréia Schweitzer Revisão: Ana Cecilia Mari Direção de arte: Irma Cipriani Gerente de produção: Felício Calegaro Neto Capa: Cristina Nogueira da Silva Editoração eletrônica: Sandra Regina Santana Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora Direitas reservados. Paulinas Rua Pedro de Toledo, 164 04039-000 — São Paulo SP (Brasil) Tel.: (0xx11) 2125-3549—Fax: (0xx11) 2125-3548 http://www.paulinas.org.br — editora@paulinas.org.br Telemarketing: 0800-7010081 © Pia Sociedade Filhas de São Paulo São Paulo, 2003 Página 03 SUMÁRIO PREFÁCIO – Página 7 INTRODUÇÃO – Página 11 Procedimentos do trabalho – Página 19 Divisão dos capítulos – Página 20 CAPÍTULO I CAMPOS SOCIAIS, TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO RÁDIO – Página 25 Teorias da comunicação – Página 28 A origem dos estudos: a pesquisa norte-americana – Página 29 O estudo dos efeitos dos meios de comunicação de massa – Página 29 A Teoria Funcionalista – Página 30 A Teoria Matemática da Comunicação – Página 32 A Teoria Crítica – Página 33 A perspectiva estruturalista – Página 34 CAPÍTULO II BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO RÁDIO NO BRASIL – Página 37 Início da estação – Página 37 Características do rádio – Página 37 Sensorialidade: o rádio forma imagens – Página 45 Penetração: o rádio fala para milhões – Página 45 Regionalismo – Página 46 Intimidade: o rádio fala para cada indivíduo – Página 46 Imediatismo e instantaneidade: a velocidade do rádio – Página 47 A simplicidade do rádio – Página 47 Página 04 A mobilidade do rádio – Página 48 O rádio é acessível – Página 48 O rádio é barato – Página 48 Função social – Página 49 Função comunitária – Página 50 CAPITULO III GÊNEROS, INFORMAÇÃO E GÊNEROS RADIOFÔNICOS – Página 51 Os gêneros – Página 51 Informação e comunicação – Página 61 Os gêneros radiofônicos – Página 70 CAPÍTULO IV CLASSIFICAÇÃO DOS GÊNEROS RADIOFÔNICOS – Página 89 Gênero jornalístico – Página 89 Nota – Página 90 Notícia – Página 90 Boletim – Página 92 Reportagem – Página 92 Entrevista – Página 93 Comentário – Página 95 Editorial – Página 97 Crônica – Página 98 Radiojornal – Página 100 Documentário jornalístico – Página 102 Mesas-redondas ou debates – Página 103 Programa policial – Página 104 Programa esportivo – Página 106 Divulgação tecnocientífica – Página 109 Gênero educativo-cultural – Página 109 Programa instrucional – Página 111 Audiobiografia – Página 112 Documentário educativo-cultural – Página 112 Programa temático – Página 113 Página 05 Gênero de entretenimento – Página 113 Programa musical – Página 115 Programação musical – Página 116 Programa ficcional – Página 117 Programete artístico – Página 120 Evento artístico – Página 121 Programa interativo de entretenimento – Página 121 Gênero publicitário – Página 122 Espote – Página 122 Jingle – Página 124 Testemunhal – Página 126 Peça de promoção – Página 126 Gênero propagandístico – Página 128 Peça radiofônica de ação pública – Página 131 Programas eleitorais – Página 132 Programa religioso – Página 133 Gênero de serviço – Página 134 Notas de utilidade pública – Página 136 Programete de serviço – Página 136 Programa de serviço – Página 136 Gênero especial – Página 138 Programa infantil – Página 138 Programa de variedades – Página 139 CONSIDERAÇÕES FINAIS – Página 145 BIBLIOGRAFIA – Página 153 Página 06 Em branco Página 07 PREFÁCIO Este é um livro escrito por um profissional de rádio, do tipo que se identifica tanto com o meio de comunicação que aprendeu a conhecer, que o elegeu como objeto de estudo e também de ensino. André Barbosa Filho enquadra-se perfeitamente nessa descrição: é radialista, professor e pesquisador. Da primeira atividade, o exercício profissional, migrou para a academia (sem abandonar a produção radiofônica) e agora apresenta este texto que possui os requisitos básicos para ser adotado por professores, estudantes e profissionais interessados pelo meio. Em relação à produção científica sobre o rádio no Brasil é importante destacar como, nos últimos dez anos, a bibliografia nacional sobre o tema ampliou-se significativamente em termos de quantidade e de qualidade. Depois de várias décadas identificado como uma espécie de “patinho feio” entre os assuntos considerados pertinentes à análise crítica dos estudiosos do campo da Comunicação, questões relativas a diversas abordagens do setor da radiofonia passaram a chamar a atenção de pesquisadores em várias regiões. Para tanto, é necessário lembrar, contribuíram aspectos conjunturais e institucionais. Em termos de conjuntura, registra-se no país, a partir do final da década de 1980, uma grande movimentação em torno das rádios comunitárias, que resulta na elaboração e aprovação da primeira lei específica para o ramo da radiodifusão depois de muitos anos. No campo Página 08 institucional, vale destacar as atividades de algumas entidades, como a UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social), a UNIRR (União de Redes de Radiodifusão pela Democracia) e a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), que em 1991 constituiu um fórum exclusivo para o tema, o Grupo de Trabalho (GT) de Rádio, desde 2001, transformado em Núcleo de Pesquisa de Mídia Sonora. André Barbosa Filho acompanhou de perto essa evolução. Ainda que ressalte, na introdução deste livro, que o número de títulos sobre o rádio brasileiro permanece reduzido, também consegue reconhecer e agrupar os principais autores de obras sobre o meio. Para tratar do tema que é título do volume — os gêneros radiofônicos, dissecados no quarto e último capítulo, o autor apresenta três tópicos introdutórios indispensáveis: o primeiro relativo à teoria da Comunicação, o segundo dedicado à recuperação dos principais momentos históricos no rádio, no Brasil, e o terceiro voltado para a identificação e localização dos principais estudos sobre gêneros — na Comunicação, como um todo, e no Jornalismo, em particular. A divisão do livro em quatro capítulos constitui uma forma de tornar a leitura agradável e informativa. Seguindo o estilo radiofônico, André assume a postura de narrador ao apresentar o texto como um programa de rádio, captado nas “estações-capítulos”, como define a fragmentação do assunto principal. Ao apresentar os dados e autores que recupera nos capítulos iniciais e, em especial, o seu objeto de estudo em uma linguagem direta e simples, estabelece com o leitor um ambiente de relato peculiar aos contadores de casos, daqueles queprendem a atenção e despertam o interesse. Página 09 Assim, Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio consegue atingir vários propósitos: contribui para a qualidade da bibliografia brasileira sobre o rádio, recupera os principais trabalhos sobre gênero de autores nacionais e do exterior, identifica sete tipos de gêneros radiofônicos (cada um deles subdivididos em categorias de produção) e — o mais importante — explora um assunto até agora escasso de estudo e de análise. Temos aqui um manual de como fazer rádio, escrito de uma forma que, lendo, é quase audível. Só consegue fazer isso quem é profissional. Corno dizia no início desta apresentação: este é um livro produzido por um profissional do ramo. Constitui, por isso, oportunidade de ouvir, aprender e — o que é melhor — praticar. O nosso rádio precisa de uma obra que trate desta temática e merece isso. Rio de Janeiro, junho de 2003. Sonia Virgínia Moreira Página 10 Em branco Página 11 INTRODUÇÃO Este livro é fruto de algumas reflexões sobre o rádio: estrutura, lógica, meandros, linguagem, formatos e tipologias. O meio de comunicação que completou 80 anos de história oficial no Brasil em setembro de 2002, constantemente nos desafia a repensá-lo, a revê-lo com outros olhares e perspectivas. Somos instados, cotidianamente, a pensar o que faz do rádio um meio singular, ou seja, analisar suas particularidades e especificidades em meio à constelação dos suportes e dispositivos midiáticos de nossa época. O objetivo aqui é estabelecermos parâmetros que nos possibilitem mapear e fixar algumas programações radiofônicas, percebendo-as como indicadoras da dinâmica fluida do rádio. Como profissional e docente que se dedica ao estudo deste meio de comunicação ao longo de dezoito anos, juntamente com outros sentimos a necessidade de refletir sobre as discussões reiteradas que não cansam de insinuar-se nas análises empreendidas sobre um dos meios mais populares do País. Entendemos que retrabalhar o rádio sob a ótica de sua programação delineia uma etapa inadiável na construção de elementos fundamentais para se avaliar os gêneros, buscando uma tipificação dos formatos em áudio no Brasil. Embora as grandes questões do rádio já tenham sido, de certa forma, bastante discutidas ao longo destas oito décadas, o número de trabalhos escritos nesse período é incrivelmente pequeno. Infelizmente, o rádio não possui uma tradição acadêmica a exemplo de Página 12 outros meios (como a televisão e o jornal impresso, por exemplo), malgrado ter despertado o interesse de muitos estudiosos e intelectuais à época de sua criação até os dias atuais. Muitos são os motivos que atestam tal situação. Podemos nos apoiar em Mcluhan na procura de justificativas que deem conta do parco interesse que os intelectuais possuem pelo meio. Para este autor, os “povos letrados” têm pouca habilidade em trabalhar com a linguagem, com os significados dos meios elétricos: [...] como a cultura letrada incentivou um individualismo extremo e o rádio atuou num sentido exatamente inverso, ao fazer reviver a experiência ancestral das tramas do parentesco do profundo envolvimento tribal, o Ocidente letrado procurou encontrar uma espécie de compromisso com a responsabilidade coletiva, em sentido amplo. O impulso subitâneo para este fim foi tão subliminar e obscuro quanto a prévia pressão literária em prol da irresponsabilidade e do isolamento individual; em consequência, ninguém se sentiu satisfeito com nenhuma das posições alcançadas [...].1 Esta passagem, que reflete o contexto da época, coloca-nos na trilha de uma demarcação de mundo que supõe escolhas e, consequentemente, exclusões. Em meio à dita cultura letrada à qual se referia Mcluhan, a complexidade do rádio é vista, hierarquicamente, como algo menor. A cultura gutemberguiana sobrepõe-se, de acordo com os ditames da ciência moderna, à cultura oral — marca fundante do rádio. Todavia, não podemos negar o fato de que a despeito de o rádio fazer uso, Nota de roda pé 1 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo, Cultrix, 1996. p. 339. Fim da nota de roda pé Página 13 inapelavelmente, da oralidade, ele intercambia com outras matrizes de linguagem. A esse respeito, Lúcia Santaella nos esclarece que as linguagens são variadas e diversas graças à capacidade que elas têm de sofrer metabolismos, mutações e estabelecer relações de parentescos, trocas, migrações e intercursos, possibilitando que os meios de comunicação adotem formatos de linguagens extrínsecas a sua lógica interna.2 Não obstante esta ressalva, um rápido passeio pelas matrizes da linguagem irá nos permitir observar o quanto a cultura oral foi preterida pelo formato impresso, stricto sensu. Fruto das demarcações do estatuto científico, este calcado no registro escrito, os formatos orais foram, pouco a pouco, subestimados em sua complexidade significante. E sintomático o fato de que as culturas que apelam, em primeira mão, à tradição oral, frequentemente são denominadas de atrasadas, conservadoras, tradicionais. Quer nos parecer que é nesse lastro que o imaginário sobre o rádio foi construído e sedimentado, contornando tendências que o concebiam como um meio simples em sua concepção e, portanto, isento de incursões teóricas mais consistentes. Com efeito, o rádio tem sofrido o preconceito de grupos intelectualmente elitizados, de um lado, e de adeptos da tecnologia de ponta, de outro. Tais posturas existem não somente pela dificuldade em se perceber a essência de suas manifestações, mas, também, porque o rádio é considerado um meio tecnologicamente ultrapassado, sem o apelo das novidades do mundo da eletrônica e da cibernética. Nota de roda pé 2 Cf. SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo, Experimento, 1996. Fim da nota de roda pé Página 14 Tal concepção fez com que o rádio ficasse preterido pelos estudos da comunicação: o meio não recebe investimentos expressivos na área de pesquisa de audiência, o que provoca significativo desconhecimento acerca dos processos de recepção das mensagens deste meio, e, sobretudo, das possibilidades que ele suscita diante de suas características específicas. Ressalte-se que esta lacuna é comum mesmo entre os estudiosos e pesquisadores do campo da comunicação. Todo este cenário desfavorável parece, no entanto, fadado a modificações radicais. Senão vejamos. Conforme assinalamos, o rádio espreita pesquisadores e estudiosos a repensá- lo. São muitas as alterações e transformações a que ele se prestou ao longo da história, impulsionando a emergência de novas/outras análises e enfoques que pudessem avali(z)ar sua potência como meio de comunicação. Algumas conquistas são fundamentais: o rádio transforma-se de modo acelerado tentando acompanhar os benefícios das novas tecnologias, tais como a digitalização, os processos óticos de produção e transmissão de som, a satelitização, as edições sonoras não-lineares, as plataformas de trabalho em sistemas informatizados etc.; a maioria dos produtos desenvolvidos em seu bojo ganhou vida própria, ultrapassando suas fronteiras mediante formatos não-radiofônicos idênticos, difundidos em circuitos de transmissão fechados ou fixados em fitas magnéticas, em discos com leitura a laser ou na memória dos discos rígidos ou floppies dos microcomputadores espalhados pelo mundo, veiculados ponto a ponto ou via internet. Diante desta realidade, sentimos necessidade de, ao estudar o veículo, conhecer suas particularidades, Página 15 características estruturais e de linguagem e, de modo mais criterioso, as manifestações organizadas que produz e os produtos sonoros que institui. Nesse sentido, a trilha deste livro palmilhará os caminhos já traçados por autores diversosque dedicaram suas análises às reflexões sobre as características da linguagem radiofônica e à classificação de formatos por meio da identificação dos gêneros respectivos inserindo-as na dinâmica das tipologias do rádio brasileiro. Nomes como Mário Kaplún, Angel Faus Belau, José Luís Albertos e, contemporaneamente, Andrew Criseli, Bruce Siegel, O’Donell, Philip Benoit, Carl Hausman, Pete Wilby, Andy Conroy e Ted Roberts são citações obrigatórias no campo de pesquisa investigativa, uma vez que influenciaram diretamente a busca de uma tipificação dos formatos radiofônicos. Grosso modo, os autores citados procuraram, cada um a sua maneira, classificar os formatos por meio de características observáveis na prática. A ressalva que cabe a tais classificações é que as análises e reflexões por eles empreendidas contemplaram apenas um gênero recorrente no contexto em que estavam inseridos; esse processo ocorreu tanto com pesquisadores latino- americanos quanto com norte-americanos e ingleses. Estudos exploratórios mais abrangentes que dessem conta de um mapeamento completo e possível das manifestações concretas do rádio foram deixados de lado. Com as indicações pontuais e específicas demarcadas por esses autores, procuramos, aqui, traçar um mapa que possa nos aproximar, o quanto possível, da dinâmica particular do rádio no Brasil. Tomamos como referência básica as formulações de Marques de Melo Página 16 no que se refere à construção de uma tipologia dos gêneros e formatos radiofônicos, a partir da classificação que suscitam para os gêneros jornalísticos.3 Marques de Meio apoia-se no paradigma desenvolvido por Harold Laswell e reelaborado por Charles Wright para distinguir as diversas categorias comunicacionais mediante a relação existente entre os formatos veiculados pelos meios de comunicação de massa e as funções que exercem para responder às demandas sociais.4 O autor propõe a identificação dos gêneros jornalísticos em razão da propriedade manifesta de provocar a consolidação de um campo do conhecimento considerado objeto cientifico: [...] Tais processos, que envolvem de um lado as instituições jornalísticas e de outro as coletividades em que atuam, articulando-se necessariamente com o organismo social de que se nutrem e se transformam, podem ser observáveis através do relato do real que constitui seu traço marcante. Em outras palavras, do seu discurso manifesto. Dos escritos sons e imagens que representam e reproduzem a atualidade, tornando-a indiretamente perceptível [...].5 A utilização dos paradigmas do estruturalismo funcionalista, preconizados por Merton e Parsons, tem sido duramente criticada nos estudos científicos de países subdesenvolvidos, em virtude da aparente Nota de roda pé 3 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis, Vozes, 1985. pp. 31-50. 4 Gêneros jornalísticos na Folha de S. Paulo. São Paulo, FTD, 1992. p. 9. 5 Idem, ibidem, pp. 3139. Fim da nota de roda pé Página 17 rigidez que tal corrente apresenta no que tange a posicionamentos críticos que conduzam a transformações nas relações sociais. Com efeito, nos países latino-americanos a expectativa em torno de comunicação transformadora a serviço do deslocamento de poderes é uma marca presente no desempenho intelectual e político. Uma vez que o estruturalismo-funcionalismo não se ocupa em propor mudanças, esta linha de pensamento acabou sendo malvista. Consideramos, no entanto, que depreender o caráter descritivo do funcionalismo é um passo fundamental para as intenções do trabalho, o que não significa perfilar-se a propostas conservadoras. E arriscada a nossa posição metodológica, pois críticas ao tratamento metodológico que empregamos peste livro são muitas. No estoque de teorias, correntes e metodologias no campo da comunicação, o funcionalismo não goza atualmente de apreciações positivas, pois no estágio dos estudos da comunicação contemporânea, a tendência funcionalista é considerada limitadora na medida que, segundo a crítica atual, não encaminha a rupturas. Consideramos que o conhecimento é cumulativo e as contribuições deixadas ao longo do fazer científico devem ser herdadas sem que comprometam os princípios éticos e morais vigentes. A observação de Triviños sobre a questão é bastante elucidativa: [...] convém estabelecer desde já que a análise estrutural-funcionalista, como método de investigação, não pode ser rejeitada sem esclarecer que ela pode transformar- se num meio certo de pesquisa. Com efeito, se esquecermos sua falta de historicidade para estudar os fenômenos sociais, e apreciarmos estes em seu devir, ao mesmo Página 18 tempo que diminuirmos sua ênfase nos processos de adaptação e nos desvios, penetramos, com sentido ideológico, no que Merton denomina “funções latentes” da sociedade; a análise estrutural-funcionalista pode ser usada com mérito em pesquisas sociais do Terceiro Mundo [...]. 6 Apoiados no próprio Merton, buscamos em Malinowski o conceito do termo análise-funcional — metodologia que adotamos na estruturação do trabalho: “[...] o núcleo da análise funcional e o estudo do papel que os fatores sociais e culturais desempenham na sociedade [...]”. 7 Desta forma, as bases metodológicas que sustentam este livro estão assentadas no caráter descritivo dos formatos em rádio por meio das relações entre as variáveis, com o intuito de descrever os fenômenos do modo como estes formatos se constroem, se exteriorizam e são absorvidos na sociedade num determinado momento histórico. Não se trata, porém, de se apresentar aqui informações viciadas ou manipuladas, mas, com certeza, de mostrar os resultados da análise documental mediante a literatura mencionada, aliada à análise dos fatos realizada por meio da observação, imbricando o saber pensar e o saber fazer. Cabe o destaque que entendemos teoria e prática como categorias indissociáveis, pois conforme lembra Francisco Taborda, a teoria “é o conjunto de ação/reflexão pelo qual os homens constroem a história. Supõe a Nota de roda pé 6 TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, Atlas, 1990. p. 82. 7 Idem, ibidem, p. 83. Fim da nota de roda pé Página 19 consciência reflexa da ação e possui uma finalidade”.8 E a prática desperta a teoria e será critério desta. Nesse sentido, teoria e prática serão vistas aqui como categorias que se interpenetram mutuamente. Procedimentos do trabalho Com esta visada, partimos do princípio de que estabelecer os tipos e gêneros do rádio exige exercício de descrição dos programas nele produzidos, calcado em aportes teóricos, O tópico da temporalidade é fundamental para tal exercício. Considerado um sério problema para a classificação dos gêneros, o aspecto temporal é elemento fundamental para se pensar a dinâmica do rádio, ontem e hoje. Alguns formatos que já serviram de modelo para a programação radiofônica são desconhecidos à maioria do público atualmente, inclusive aos pesquisadores do ramo e profissionais. Em virtude desse caráter transitório dos gêneros, optamos em elencar os principais formatos radiofônicos existentes na programação atual do rádio brasileiro, obedecendo às seguintes ressalvas: 1) Não se pode realizar um trabalho classificatório sem conhecimento da origem dos formatos, suas especificidades e sua manifestação ao longo da história, uma vez que os fenômenos sociais são dinâmicos. 2) Além de os formatos atuais sofrerem influência dos produzidos em tempos passados, a criatividade ainda é pouco explorada em vista do mosaico disponível para inventividade no espaço radiofônico. Nota de roda pé Citado por GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de teoria da comunicação. São Leopoldo, Unisinos, 1995.p. 11. Fim da nota de roda pé Página 20 3) Alguns modelos de programas não estão sendo produzidos por absoluta falta de incentivo, seja por parte dos patrocinadores, seja por falta de visão de alguns empresários; e, em alguns casos, pela falta de trabalho especializado. Divisão dos capítulos Serão estas as balizas que nortearão este livro-escuta. Isso mesmo! Gostaríamos que você viajasse conosco como se estivesse na escuta de um programa de rádio, seja ele de qualquer natureza. Nas várias estações e frequências que passaremos, o caminho trilhado aqui leva em conta as discussões sobre os gêneros em geral, a informação, os gêneros radiofônicos em particular, os modelos e tipologias. Na primeira estação, ou melhor, no primeiro capítulo, estaremos articulando algumas discussões sobre os campos sociais e as teorias da comunicação, particularizando no universo das correntes e escolas a importância do rádio como meio fundamental para se pensar as sociedades contemporâneas. Dessa forma, estaremos solicitando discussões a respeito dos campos sociais, dos paradigmas e das teorias da comunicação, levando em conta a legitimidade dos campos teóricos. A segunda estação-capítulo relata, brevemente a história do rádio no Brasil e prepara o terreno para as explorações seguintes. O terceiro capítulo é fundamental na arquitetura do trabalho, pois advoga um conceito de gênero que se perde com frequência na névoa das designações e definições de gêneros, tipologias e formatos usualmente empregadas nos trabalhos sobre o tema. Para tanto, recorremos ao pensamento de Página 21 Todorov, Borelli, Feuer, Mauro Wolf, Martin-Barbero, Machado, Bakhtin e Marques de Meio. A intenção é que nas discussões teóricas sobre o tema e na diversidade que ele abriga obtenhamos dados para a construção de um conceito de gênero específico para área de comunicação, em geral, e para os estudos do rádio, em particular, na tentativa de construirmos um arrazoado sobre as questões referentes às particularidades das unidades de informação produzidas e transmitidas pelos meios de comunicação de massa.9 Em seguida, ainda na terceira estação-capítulo, tendo em vista a necessidade de operacionalizar a problemática da informação, matéria – prima da mensagem, arrolamos os conceitos de informação disponíveis fazendo as devidas conexões com o seu uso no rádio. Tomamos como parâmetro as formulações de Juarez Bahia, Wiener, Fraser Bond, Roger Clausse, Lúcia Santaella, Szamosi, Marques de Meio, Teixeira Coelho, entre outros. Nota de roda pé 9 Praticamente, o termo comunicação de massa é pouco utilizado nos estudos atuais, que adotam o termo português mídia, de media (plural) ou medium (singular). De acordo com o dicionário Conceitos-chave em estudos de comunicação e cultura, “comunicação de massa é normalmente entendida como jornais, revistas, cinema, televisão, rádio e propaganda, incluindo às vezes a publicação de livros (especialmente romances populares) e música (a indústria pop)”. Para o dicionário “uma preocupação deveria ser exercitada com respeito ao termo: a palavra ‘massa’ pode encorajar a duplicação irrefletida da teoria de sociedade de massa, enquanto a palavra ‘comunicação’ nesse contexto mascara a natureza social e industrial da mídia e promove uma tendência a pensá-la como comunicação interpessoal. A comunicação de massa não é um conceito que pode ser definido, mas uma categoria do senso comum” (Sullivan, John et al., 2001, p. 53). Já as mídias “em sentido amplo, é a agência intermediária que permite que a comunicação aconteça. Mais especificamente, consiste em um desenvolvimento tecnológico que estende os canais, o alcance ou a velocidade da comunicação” (idem, ibidem, p. 151). A despeito destas ressalvas, empregamos aqui o termo comunicação de massa para fazer alusão ao momento de profusão dos meios eletrônicos, a exemplo do rádio. Fim da nota de roda pé Página 22 Além da fixação e análise de conceitos, procuramos discutir como ocorrem as manifestações dessas formulações conceituais — se apreendidas pelos sentidos ou se, exclusivamente, por meio do processo cognitivo —, para, em seguida, utilizarmos estes argumentos na delimitação dos gêneros radiofônicos. Uma vez feitas tais discussões teóricas, preparamos, no quarto capítulo- estação, a proposição e classificação dos gêneros radiofônicos, observados os fenômenos a eles inerentes, do ponto de vista de sua funcionalidade e operacionalidade. Em sua singularidade, este trabalho visa a horizontes bem mais extensos e insere o rádio na centralidade dos estudos contemporâneos sobre gêneros. Atuar pontual e especificamente nas fronteiras dos formatos e tipologias implica pensar o rádio em sua amplitude de penetração e sua função nas diversas formas de sociabilidade. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht10 teria dito já no início do século XX que o rádio seria capaz de instituir uma “espécie de assembleia popular permanente” num espaço democrático. Para esse autor, o meio seria capaz de constituir uma “esfera pública cidadã” em que os sujeitos poderiam ser atores sociais dos processos culturais, o que concretizaria a máxima do ideal iluminista. Embora temas como democracia e cidadania constituam conquistas a serem alcançadas no Brasil, é inegável o fato de que o rádio em muito contribuiu e contribui para a instituição de valores que favoreçam os ideais coletivos. Nota de roda pé 10 Cf. Brecht, Bertold. Teoria dela radio (1927-1932). In: __________. El compromisso en literatura y arte. Barcelona, Península, 1984. Fim da nota de roda pé Página 23 Este livro tem o objetivo de oferecer aos interessados, profissionais, pesquisadores, estudantes de comunicação etc. uma “radiografia” da produção radiofônica, tendo como base a dinâmica das programações atuais, incluindo- se, também, os produtos em desuso, mas que, diante do novo panorama da comunicação mundial, podem ser novamente reaproveitados, adaptados e aperfeiçoados. Convidamos você, leitor(a), a conhecer algumas possibilidades de pensar e fazer o rádio à luz da tipificação dos seus formatos. Sintonize conosco! Página 24 Em branco Página 25 Capítulo 1 – CAMPOS SOCIAIS, TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO RÁDIO Quaisquer discussões ou análises na fronteira da comunicação social requerem formulações a respeito das teorias que sobre ela se debruçaram. Estas por sua vez reclamam antecedentes que as instituíram e as particularizaram, ou sei a, demandam perspectivas teóricas que supõem um campo de estudos específico, cristalizado ao longo da história. Uma vez que o rádio figura como um meio que encerra categorias de análise na profusão de teorias, escolas e correntes devotadas ao fenômeno da comunicação contemporânea, consideramos fundamental principiar o nosso livro-escuta com reflexões referentes ao universo teórico no qual o campo da comunicação se movimenta. É sobejamente conhecido o fato de que o fenômeno das teorias da comunicação’ é relativamente recente — datado nos finais do século XIX. O momento proporcionou que estudos sociológicos, psicológicos, filosóficos, econômicos e políticos se debruçassem sobre o fenômeno dos meios de comunicação de massa que se Nota de roda pé 1 Quando datamos a comunicação só nos finais do século XIX, claro está que não pretendemos situar aí os seus marcos iniciais, até porque a comunicação se impõe na instituição do humano, sendo praticamente impossível recensear a sua origem. Fim da nota de roda pé Página 26 multiplicavam vertiginosamente. O rádio contribui com tal tradição suscitando estudos e pesquisas de várias tendências e perspectivas. A propósito, qual o campo teórico que possibilita a emergência de teorias da comunicação? Como pensar os estudos sobre o rádio em meioa essas teorias? Pensar e delimitar o campo da comunicação implica a utilização de métodos, esquemas e teorias particulares que definem a própria lógica dos campos sociais. Rodrigues nos informa que os campos sociais são erigidos a partir da legitimidade de um conjunto de procedimentos e normas que instituem as fronteiras e cercas do saber científico. Para ele, “a autonomia dos campos sociais está intimamente associada com a modernidade”.2 Os campos sociais estão definidos e posicionados por embates políticos e disputa simbólica,3 o que faz com que “ditem também autênticas regras discursivas, modos de dizer conformes e convenientes. Um campo é aliás tanto mais forte quanto mais consegue impor aos outros campos a sua axiologia”.4 O saber acadêmico é um espaço de exercício do poder porque embalado por aquilo que interdita e que permite. Ainda segundo Rodrigues, “os campos sociais definem legitimidade que impõem, com autoridade indiscutível, atos de linguagem, discursos e práticas conformes, dentro de um domínio específico de competência”.5 Nota de roda pé 2 RODRIGIJES, Adriano Duarte. Estratégias da comunicação. Lisboa, Presença, 1990. p. 141. 3 Pierre Bourdieu dedicou parte de suas reflexões à disputa simbólica que enseja o conhecimento científico. Cf. BOTJRDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa, Difel, 1989. 4 RODRIGUES, op. cit., p. 141. 5 Idem, ibidem, p. 144. Fim da nota de roda pé Página 27 E para o saber científico fazer parte deste domínio específico de competência, ele precisa não apenas ser verdadeiro, mas estar no ponto de verdade de determinada época, de acordo com Foucault. Segundo esse autor, “não nos encontramos no verdadeiro senão obedecendo às regras de um ‘polícia’ discursiva que devemos reativar em um de nossos discursos”.6 Em outro momento, o autor questiona: Muitas vezes se perguntou como os botânicos ou os biólogos do século XIX puderam não ver que o que Mendel dizia era verdade. Acontece que Mendel falava de objetos, empregava métodos, situava-se num horizonte teórico estranho à biologia de sua época. Sem dúvida Naudim, antes dele, sustentava a tese de que os traços hereditários eram descontínuos; entretanto, embora esse princípio fosse novo ou estranho, podia fazer parte — ao menos a título de enigma — do discurso biológico. Mendel, entretanto, constitui o traço hereditário como o objeto biológico absolutamente novo, graças a uma filtragem que jamais havia sido utilizada até então [...]. Mendel dizia a verdade, mas não estava ‘no verdadeiro’ do discurso biológico de sua época.7 Poderíamos dizer, na esteira desta formulação, que o paradigma estruturalista- funcionalista não mais está no ponto de verdade de nossa época, ao menos no que diz respeito ao mundo da comunicação. O cenário fecundo de aparecimento de meios e técnicas interpelou o conhecimento científico, fazendo com que ele se debruçasse sobre o fenômeno comunicacional projetando várias correntes e escolas. Nota de roda 6 FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 5. ed. São Paulo, Loyola, 1999. p. 35. 7 Idem, ibidem, pp. 34-35. Fim da nota de roda pé Página 28 Teorias da comunicação Conforme já assinalamos, o campo das teorias da comunicação é consequência direta do avanço dos meios de comunicação e transmissão. O rádio foi um dos meios que suscitou estudos relativos ao avanço tecnológico de nossa época. Pensar no rádio é também pensar nas teorias da comunicação e vice-versa. Este meio possui papel fundamental no universo dos estudos desenvolvidos desde o início do século XX, uma vez que dinamizou a troca de informações ao encurtar as distâncias, despertando comentários defensivos e contrários. Acrescente-se a isso o fato de que é ainda hoje um dos principais meios de comunicação da contemporaneidade. De acordo com Araújo: O que é normalmente conhecido como Teoria da Comunicação diz respeito a uma tradição de estudos e pesquisas que se inicia no começo deste século. O que não significa que, até este momento específico, não se estudava a comunicação. Por exemplo, os estudos de Aristóteles sobre a retórica podem ser identificados como estudos sobre a comunicação.8 A assertiva de Araújo nos coloca na trilha da delimitação de uma teoria da comunicação, ligada que é às invenções tecnológicas. Com efeito, se a reflexão sobre a comunicação, a atividade comunicativa do homem, preocupou os pensadores desde a Antiguidade Clássica, a nossa Teoria da Comunicação é bem recente. Na verdade, o desenvolvimento de estudos mais Nota de roda pé 8 ARAUJO, Carlos Alberto. A pesquisa norte-americana. In: HOHLFELDT, Antonio, et al. Teorias da comunicação: conceitos, escotas e tendências. Rio de Janeiro, Vozes, 200L p 34 Fim da nota de roda pé Página 29 sistemáticos sobre a comunicação é consequência antes de tudo do advento de uma nova prática de comunicação: a comunicação de massa, realizada através de meios eletrônicos (o jornalismo de massa no fim do século XIX, e, no início do século XX, o rádio e o cinema) possibilitando o alcance de audiências de massa, a supressão do tempo e da distância.9 Tal demarcação nos lança para um breve passeio em torno das teorias. A origem dos estudos: a pesquisa norte-americana É ponto pacífico que as teorias da comunicação foram inicialmente formuladas nos Estados Unidos, na década de 1930. A communication research tem como principais representantes Laswell, Lazarsfeld, Lewin e Hovland. A tônica desses estudos esteve voltada para as pesquisas sobre audiência e os efeitos dos meios de comunicação de massa. As questões eleitorais, propagandas de campanhas e a influência pessoal em relação à dos meios coletivos estiveram no centro dessas investigações. Essa tradição teórica permite dividir os estudos americanos nas seguintes seções: O estudo dos efeitos dos meios de comunicação de massa Partia do princípio de que os indivíduos são diretamente atingidos e influenciados pelas mensagens Nota de roda pé 9 Idem, ibidem, p. 35. Fim da nota de roda pé Página 30 veiculadas pelos meios de comunicação de massa. Segundo essa teoria, os indivíduos (os receptores) encontram-se em posição de desvantagem ante as emissões dos meios de comunicação que os conformam numa relação desigual, porque de submissão. O contexto histórico da época favoreceu tais observações. Dentre os momentos desse contexto histórico, destacamos: os fenômenos vertiginosos da comunicação de massa, as experiências totalitárias e o período entre guerras. O aspecto psicológico, em sua versão behaviorista, e uma teoria da sociedade de massa foram os pilares dessa corrente. A teoria hipodérmica, baseada na relação causa-efeito, é um dos carros-chefe dos estudos sobre os efeitos. Destacam-se, ainda, a teoria dos efeitos limitados e o modelo do twostep flow — que abdica da concepção de que os meios de comunicação de massa têm efeito direto sobre os indivíduos (teoria hipodérmica) e passa a considerar que os vínculos entre estes e os meios só podem ser entendidos no contexto social no qual estão inseridos. A relação direta, causal, passa a ser mediada pelas dinâmicas sociais que se combinam com os processos comunicacionais. Os estudos sobre o rádio estiveram centrados em análises de conteúdo no contexto das grandes guerras mundiais. A Teoria Funcionalista Esta teoria, como o próprio nome insinua, preocupa-se em estudar as funções exercidas pelos meios na sociedade. Em vez de focalizar suas análises para o indivíduo, a ela interessa as práticas sociais, a sua estrutura, o que justifica o fato de esse modelo se basear no estruturalismo-funcionalismo. De acordo com Araújo: Página 31 O sistema social na sua globalidade é entendido como um organismo cujas diferentes partes desempenham funções de integração e de manutençãodo sistema. A natureza organísmica da abordagem funcionalista toma como estrutura o organismo do ser vivo, composto de partes, e no qual cada parte cumpre seu papel e gera o todo, tornando esse todo funcional ou não.10 O funcionalismo advém da concepção de função e estrutura social. Seria, em termos gerais, um organismo vivo dotado de funcionamento e autonomia próprios. De acordo com Merton a função seria: “as consequências observáveis dos elementos culturais”.11 Segundo Wright, a estrutura conceitual é intrincada com as: - funções - e disfunções - latentes - e manifestas - das transmissões que dizem respeito à sociedade, aos grupos, ao indivíduo, ao sistema cultural. Já Lasswell apresenta as seguintes funções dos meios de comunicação: - vigilância (informativa, função de alarme); - correlação das partes da sociedade (integração); - transmissão da herança cultural (educativa). Nota de roda pé 10 ARAÚJO, op. cit., p. 34. 11 MERTON apud GOMES, op. cit., p. 23. Fim da nota de roda pé Página 32 Lazarsfeld e Merton apresentam outras funções: - Atribuição de status (estabilizar e dar coesão à hierarquia da sociedade); - execução de normas sociais (normatização); - disfunção narcotizante. De acordo com Araújo, a hipótese dos “usos e funções” é um setor de análise específico sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa que foi diretamente influenciado pelo paradigma funcionalista. Enquanto as funções se referem a consequências de certos elementos regulares, estandardizados e rotinizados do processo comunicativo, as necessidades se relacionam à apropriação dos espectadores e determinariam um certo “uso” que estes fariam do material veiculado na mídia, procurando satisfazer suas necessidades.12 A Teoria Matemática da Comunicação Esta teoria formaliza os estudos até então operacionalizados a partir de uma visão técnica e quantitativa. A Teoria Matemática da Comunicação, ou Teoria da Informação, foi elaborada por dois engenheiros matemáticos, Shannon e Weaver, em 1949. E considerada um estudo de engenharia da comunicação. Para Weaver, o sistema de comunicação é assim representado: fonte de informação — transmissor — canal — receptor — destino. A comunicação é apresentada como um sistema no qual uma fonte de informação seleciona uma mensagem Nota de roda pé 12 Idem, ibidem, p. 34. Fim da nota de roda pé Página 33 desejada, a partir de um conjunto de mensagens possíveis, codifica esta mensagem transformando-a num sinal passível de ser enviado por um canal ao receptor, que fará o trabalho do emissor ao inverso. Ou seja, a comunicação é entendida como um processo de transmissão de uma mensagem por uma fonte de informação, através de um canal, a um destinatário.13 Para muitos críticos da Teoria Matemática, ela reduz sobremaneira os processos comunicativos, simplificando-os a um mero esquema numérico. Consequentemente, lembra Araújo: a comunicação é vista não como processo, mas como sistema, com elementos que podem ser relacionados e montados num modelo. A proposta é de um modelo linear, em que os elementos são encadeados e não podem se dispor de outra forma — enrijecimento da apreensão do fenômeno comunicativo, com sua cristalização numa forma fixa.14 A Teoria Crítica Advinda da escola europeia, a Teoria Crítica empenhou-se na denúncia das manifestações ideológicas dos meios de massa. Recebe menção especial a Escola de Frankfurt — coletivo de pensadores e cientistas sociais alemães formado sobretudo por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Eric Froom e Hebert Marcuse. O foco da Teoria Crítica foi a Indústria Cultural — termo que se refere à exploração e mercantilização da cultura e dos processos de formação da consciência. Nota de roda pé 14 Idem, ibidem, p. 37 15 Idem, ibidem, p. 35. Fim da nota de roda pé Página 34 A perspectiva estruturalista Desenvolvida sobretudo na França na década de 1960, a perspectiva estruturalista europeia baseava-se na linguística saussuriana. Diferia do estruturalismo americano no modo de pensar a estrutura como expressão dos atos de fala e enunciação, dos discursos, dos textos. A linguagem era o fulcro pelo qual as questões dessa tendência emergiam. De acordo com Rodrigues: a proposta de constituição de uma disciplina mais geral que abarcasse todos os domínios da significação, a que propunha dar o nome de semiologia, permitia conceber um ponto de referência comum para a viragem estruturalista que viria a dominar, a partir dos anos de 1960, conjunto das ciências humanas, em geral, e os estudos de comunicação, em particular. Nesta perspectiva, procurava-se determinar a estrutura invariante ou o código subjacente às variações observadas nas manifestações significantes. 15 Roland Barthes, Greimas, Umberto Eco foram alguns dos exponenciais dessa tendência. Para além das teorias que inauguraram o campo social da comunicação como área do conhecimento, muitas outras correntes enriqueceram o vasto universo dinâmico dos estudos dos meios, refutando, acrescentando ou aperfeiçoando os pressupostos já estabelecidos pelas chamadas teorias fundadoras. Uma vez que os processos sociais são, obviamente, sempre re-significados, os estudos sobre eles igualmente o são. Nota de roda pé 15 RODRIGIJES, Adriano Duarte. Comunicação e cultura. Lisboa, Presença, 2001. p. 39. Fim da nota de roda pé Página 35 A economia política da comunicação, a pragmática, a etnografia da comunicação, a etnometodologia e a sociologia das interações sociais, as sociologias da tecnologia e da mediação; os estudos relativos à recepção das mensagens, assim como a formação dos usos sociais da mídia e das novas tecnologias da informação e da comunicação são considerados vertentes/ramificações teóricas mais recentes sobre os meios. Esses estudos delinearam a teoria da comunicação tendo como foco as análises dos meios de comunicação de massa. A história e a dinâmica do rádio possibilitaram que muitos desses estudos voltassem os seus olhares para o meio. Desde os estudos sobre a audiência na época da duas grandes Guerras Mundiais até os dias atuais, o rádio vem orientando e é orientado por diversas análises, contornando uma tradição teórica proteica. Nesse mar de possibilidades, reiteramos, a perspectiva teórica que adotamos é o estruturalismo-funcionalismo, considerado capaz de responder às expectativas aqui traçadas: fixação e classificação dos gêneros no audiovisual. Uma vez feito este passeio pelas teorias da comunicação, passaremos agora para um breve relato da história do rádio e sua devida relação com as teorias da comunicação. Sintonizemos, então, em outra estação! Página 36 Em branco Página 37 Capítulo II – BREVE RELATO DA HISTÓRIA DO RÁDIO NO BRASIL Início da estação Gradativamente vamos nos aproximando do centro da investigação deste livro- escuta. Nesta seção- estação falaremos a respeito dos gêneros em geral e dos gêneros radiofônicos em particular. Antes, porém, se fazem necessárias algumas considerações sobre o próprio rádio: história, lógica e estrutura. O texto que segue é um panorama das pesquisas e relatos já empreendidos. Embarque conosco. Características do rádio O rádio nos oferece serviços variados no campo da informação e do conhecimento: entretenimento, notícias etc. Há mais de um século faz história e estabelece vínculos mediadores com as pessoas em diferentes localidades, com suas diferentes culturas e práticas. Segundo Borges o rádio nasceu num momento profícuo para surgimento e desenvolvimento dos meios tecnológicos. Sob o impulso de fios e frequências, ele marca definitivamente a vocação transfronteiriça dos meios de comunicação já ensaiada com o telégrafo. Deve-se o feito ao italianoPágina 38 Guglielmo Marconi que em 1901 captou as frequências e inaugurou, com esse feito, a era das telecomunicações.1 Os marcos do rádio no mundo estão diretamente ligados aos processos intensos de mobilidade, do ponto de vista político: vivia-se a época das grandes imigrações; o capitalismo esmagava violentamente alguns países da Europa. A comunicação a distância tornou-se uma necessidade. O mundo passa a funcionar em ondas, em frequências, comunicando-se de pontos distantes e com certa instantaneidade. Ainda segundo a autora, desde a sua invenção o rádio passou a contribuir com os ideais de universalização e identidade de vários povos e nações. Ao passo que nos países europeus foi a imprensa escrita que se configurou como forte elemento de identidade nacional, nos países subdesenvolvidos o rádio e, posteriormente, a televisão exerceram esse papel. Apesar do grande número de meios audiovisuais existentes e que parecem gozar de um certo privilégio, o rádio ainda é febre nacional. Nos lares, botecos, salões de beleza, academias de ginástica, lá está ele, sempre em moda, fazendo companhia para os seus ouvintes. O que nos leva a afirmar que o papel do rádio é insubstituível em face das inovações tecnológicas do mundo da comunicação.2 A primeira transmissão radiofônica no Brasil realizou-se durante a festa de Centenário da Indepen- Nota de roda pé 1 BORGES, Rosane da Silva. Radio: a arte de falar e ouvir. São Paulo, Paulinas, 2002. p. 2. Mimeografado. 2 Idem. ibidem. p. 3. Fim da nota de roda pé Página 39 em 7 de setembro de 1922, na cidade do Rio de Janeiro. A solenidade foi aberta com o discurso do presidente Epitácio Pessoa e os acordes da peça “O Guarani”, de Carlos Gomes, executada no Teatro Municipal da então capital federal. Alguns nomes ilustres e marcantes participaram do evento, a exemplo de Roquete Pinto, o pioneiro na radiodifusão brasileira. Embora a inovação do rádio no Brasil tenha provocado grandes expectativas, as transmissões não tiveram continuidade por falta de projetos específicos e recursos que pudessem ser destinados a este novo meio. É só com a radiodifusão que o rádio se consolida no Brasil. Nessa época, em 1923, foi criada a Rádio Sociedade do Rio, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize, que impõem à emissora uma característica marcadamente educativa. Uma vez que os equipamentos ainda eram caros, a popularidade no rádio não constituiu um elemento que o acompanhou desde a sua implantação no Brasil. Como qualquer meio tecnológico em sua fase inicial, foi um “meio de elite”. Os aparelhos receptores eram importados, o que dificultava ainda mais o seu barateamento. Tais dificuldades estabeleceram um estilo de fazer rádio consonante com as expectativas de seus investidores/receptores: era um meio que tocava óperas, apresentava palestras culturais dirigidas às elites e Nota de roda pé 3 Há quem conteste esta data como marca inaugural do rádio brasileiro, pois alguns documentos provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 6 de abril de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, que depois se associou a Augusto Pereira e João Cardoso Ayres. Fim da nota de roda pé Página 40 sobrevivia de músicas emprestadas de colecionadores. Segundo Ortriwano, durante a década de 1920, as classes populares, a dita cultura popular, foram impedidas de participar da programação radiofônica, o que caracterizava o rádio como um veículo individualista, familiar ou particular, muito pouco extensivo. Essa programação “seleta” motivou Roquete Pinto a pensar na radiodifusão como o meio pelo qual o rádio pudesse estar afinado com os ideais que lhe deram origem: popularização e educação. De fato, logo o rádio iria tornar-se um meio com feições populares. Foi nessa época que começou a se propagar pelo território brasileiro. As primeiras emissoras tinham sempre em sua denominação os termos “clube” ou “sociedade”, já que assim eram definidas em seu estatuto fundador. Muitos apreciadores que apostavam na potencialidade do novo meio se associavam e pagavam assinaturas. Essa fase ainda é amadora, restrita do ponto de vista da abrangência do rádio. Sem a instituição do campo publicitário nesse espaço, que era proibido pela legislação brasileira, as rádios eram mantidas por entidades privadas ou públicas. Havia, também, um apelo aos sócios para que ajudassem nessa tarefa. Na década de 1930, porém, o rádio passa por profundas transformações, preparando o terreno para o que é hoje. Em 1931 surge o primeiro documento sobre radiodifusão. O rádio brasileiro já estava comprometido com os reclames (os anúncios daquele tempo) para garantir sua sobrevivência. Nota de roda pé 4 Cf. ORTRIWANO, Gisela S. A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo, Summus, 1985. p. 43 Fim da nota de roda pé Página 41 Em 1° de março de 1932, o Decreto n° 21.111 autorizou a inserção publicitária, regulamentando o Decreto n° 20.047, de maio de 1931 — primeiro diploma legal sobre a radiodifusão, surgido nove anos após a implantação do rádio no País. O Estado passa a ter maior ingerência sobre o serviço de radiodifusão, percebendo o rádio como um meio importante no território brasileiro. O governo definia a radiodifusão como serviço de interesse nacional e de finalidade educativa. Os decretos do presidente Getúlio Vargas foram cruciais para a expansão comercial do rádio nacional. Aquilo que era considerado de elite, sofisticado, transforma-se em popular, já que fatias mais abrangentes da população estavam tendo acesso à mais nova engenhoca que primava pelo lazer e pela diversão. Nesse momento, a indústria e o comércio passam a definir a programação radiofônica. E a publicidade que forja as rádios a se organizarem como empresas, na disputa que vai, gradativamente, acirrando-se. Segundo Ortriwano, a competição teve, original- mente, três facetas: desenvolvimento técnico, status da emissora e sua popularidade. A preocupação “educativa” foi preterida em face dos interesses comerciais.5 Com essa nova feição, o rádio mostra-se como um meio extremamente eficaz para incentivar o consumo. No entanto, mesmo com a crescente comercialização, os primeiros profissionais — denominados programistas — ainda não possuíam uma estrutura burocrática Nota de roda pé 5 Idem, ibidem, p. 48. Fim da nota de roda pé Página 42 organizada. O profissional exercia várias funções ao mesmo tempo: contato, redação, produção e apresentação. A medida que o nível de improvisação diminuía, as equipes iam-se articulando. No processo de rearranjamento estrutural do rádio, a improvisação profissional cedeu lugar para definições de cargos e funções. A urbanização, a tecnologia, a especialização dos serviços foram elementos que motivaram tais redimensionamentos e tornaram-se essenciais para a caminhada do rádio até os dias atuais, pois demarcaram seu papel e sua função na sociedade brasileira, estimulando em seus produtores posturas que garantissem a sobrevivência do meio na dinâmica da sociedade. A linguagem radiofônica vai abdicando de expressões menos usuais e se populariza. Em suma, o rádio deixa de ser uma atividade amadora e passa definitivamente ao profissionalismo. Com os recursos advindos da publicidade, as emissoras adquirem nova infra- estrutura e podem contratar mais profissionais e melhorar suas instalações. Inicia-se a fase de programas variados nas emissoras, provocando concorrência acirrada. O rádio segue, assim, com uma história marcante e estabelece-se no Brasil e no mundo como um meio de grande importância. Nesse sentido, a década de 1930 foi fundamental para que o rádio se definisse em seus caminhos eencontrasse o seu rumo na fase seguinte, acompanhando e auxiliando o desenvolvimento nacional como um todo. O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira a partir de meados da década de 1930 foi muito mais pro Página 43 Fundo fundo do que aquele que a televisão viria a produzir trinta anos mais tarde. Com essas iniciativas, o rádio brasileiro foi encontrando a si próprio, definindo sua linha de atuação e assumindo um papel cada vez mais importante na vida política e econômica do País. Este meio de comunicação, logo nas décadas seguintes, conseguiu considerável audiência e sucesso, de tal sorte que consolidou a sua fase de ouro. As fases iniciais do rádio foram determinantes para que ele atingisse o seu apogeu, firmando-se como o grande meio de comunicação da sociedade brasileira. Essa fase é denominada fase de ouro cio rádio brasileiro, consolidada na década de 1940. E o momento em que ele começa a se definir mais claramente para o jornalismo. O Repórter Esso foi resultado dessa fase. Tal época de ouro enfrentou uma grave crise com a emergência da televisão, que herdou do primeiro seus profissionais, seus quadros e sua linguagem. O universo audiovisual fez com que o rádio repensasse sua forma e estrutura, de tal modo que o público não desertasse para a tela da TV. O transistor tornou-se uma importante saída para que o potencial do rádio fosse explorado em suas várias possibilidades, com a vantagem de serem mais baratas, ágeis e noticiosas, inaugurando uma nova fase para o meio.6 Com o transistor tornou-se possível ouvir rádio a qualquer hora e em qualquer lugar, sem precisar Nota de roda pé 6 Consideramos que do ponto de vista tecnológico o rádio passa por três fases: a primeira com o transistor, a segunda com o uso de FM (frequência modulada) e a terceira com os satélites e a digitalização. Fim da nota de roda pé Página 44 mais ligá-lo a tomadas. Sua dinâmica de transmissão cresceu enormemente. Outra medida tomada para que o rádio não perdesse ainda mais terreno para a televisão foi a divulgação de serviços de utilidade pública, produzidos pela Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. As primeiras emissoras em FM (frequência modulada) começaram a operar na década de 1960, fornecendo inicialmente “música ambiente” para assinantes interessados. A primeira emissora a atuar exclusivamente nas ondas da frequência modulada foi a Rádio Difusora de São Paulo — FM. Há quem diga, no entanto, que foi a Rádio Eldorado de São Paulo a responsável pelo feito, pois quando foi fundada, em 1958, transmitia em ondas médias e por questão de prestígio usava também a FM para transmitir só música, fora da faixa comercial. Uma outra inovação ocorreu na década de 1970 com a criação das agências de produção radiofônica, que apresentavam programas com artistas famosos e assuntos de interesse do momento e vendiam as gravações para emissoras de menor porte, que não tinham condições de realizar produções desse tipo. No final de 1982, a Rádio Jornal do Brasil FM, do Rio de Janeiro, tornava-se pioneira na utilização do compact disc audio digital, ou seja, o disco digital com leitura a laser (o famoso CD). Essa história do rádio que não para de tecer os seus próprios fios é o reflexo de características que foram, pouco a pouco, consolidando-se. Segundo Mcleish, o rádio possui pelo menos 19 características. Entre elas, podemos destacar: construção Página 45 de imagens, capacidade de falar para milhões de pessoas, e/ou para cada indivíduo, velocidade, caráter transfronteiriço, simplicidade, baixo custo, efemeridade, música, surpresa, interferência. Conversemos um pouco mais sobre isso. Estas características, se bem aplicadas, poderão facilitar a mediação entre produção e recepção, locutor e ouvinte e conformam gêneros específicos. Sensorialidade: o rádio forma imagens Ao passo que nos meios audiovisuais o telespectador conta com som e imagem, no rádio a única arma é a voz, a fala. Isso, fatalmente, desperta a imaginação do ouvinte que logo irá criar na sua mente a visualização do dono da voz ou do que está sendo dito. Se na televisão a imagem já vem acompanhada da voz ou aparece mesmo sozinha, no rádio o ouvinte tem a liberdade de criar, com base no que está sendo dito, a imagem do assunto/pessoa/fato. De acordo com Mcleish, “quem faz textos e comentários para o rádio escolhe as palavras de modo a criar as devidas imagens na mente do ouvinte e, assim fazendo, torna o assunto inteligível”.7 Por tratar-se de um meio “cego”, a sua linguagem estimula a imaginação, envolve o ouvinte, convidando-o a participar da mensagem por meio de um “diálogo mental”. Penetração: o rádio fala para milhões Sem grandes complicações tecnológicas, o rádio tem a vantagem de poder falar para milhões de pessoas, o Nota de roda pé 7 MCLEISH, Robert. Produção de rádio: um guia abrangente da produção radiofônica. São Paulo, Summus, 2001. Fim da nota de roda pé Página 46 que marca a era da radiodifusão (transmissão e dispersão da informação produzida que abrange indivíduos, grupos e estratos sociais em todo o mundo). O satélite é fundamental para assegurar essa característica. Aparcela e o alcance de audiência são cifras importantes para avaliar a radiodifusão. A parcela de audiência diz respeito ao tempo que o ouvinte gasta ouvindo determinada emissora; já o alcance de audiência corresponde ao número de pessoas que ouvem, efetivamente, alguma emissora no período de um dia ou uma semana. Ambos são expressos em porcentagem, afirma Mcleish.8 Regionalismo Segundo Chantler e Harris, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que dá a ela a sensação de ser verdadeiramente local”.9 O regionalismo é uma marca fundamental do rádio, pois oferece visibilidade às informações locais. Esse princípio dinamiza as relações entre rádio e comunidade. Chantler e Harris asseguram, ainda, que notícias obtidas na esquina de um bairro são tão ou mais importantes do que as recebidas de outras partes do mundo. Há, no entanto, o perigo de tornar tudo muito local. E preciso distinguir entre o que é local e o que é paroquial. E importante avaliar corretamente o que é uma notícia local. Intimidade: o rádio fala para cada indivíduo Ao mesmo tempo que atinge milhares de pessoas, o rádio é voltado para o indivíduo em particular. As palavras, a forma de falar, são pensadas para o ouvinte Nota de roda pé 8 Idem, ibidem, p. 18. 9 Citados por MCLEISH, op. cit., p. 20. Fim da nota de roda pé Página 47 com suas particularidades e expectativas, O transistor facilitou esse caráter, já que permitiu uma audiência personalizada, individual, com a fabricação de rádios a bateria, o que barateou o custo do aparelho. O tom íntimo das transmissões, representado pelas expressões “amigo ouvinte”, “caro ouvinte”, “querido ouvinte”, proporciona uma aproximação e uma intimidade únicas, fazendo do rádio um veículo companheiro. Antes, a audiência era coletiva. E em áreas rurais pouco beneficiadas com tecnologia, ainda se registra a recepção radiofônica grupal: as pessoas dos vilarejos se reúnem para ouvir as notícias transmitidas de um rádio apenas. Imediatismo e instantaneidade: a velocidade do rádio O rádio possui caráter imediato, possibilitando que o ouvinte se inteire dos fatos no momento em que acontecem. A transmissão de um jogo de futebol, a cobertura de acidentes no local do ocorrido dão agilidade para o meio. O rádio acelera a disseminação das informações em curto espaço de tempo, subsidiando a sociedade, os grupos e indivíduos em dada formação cultural. A simplicidade do rádio O rádio dispensa todo o aparato comum nos meios visuais (câmera, luzes e outros recursos). Com uma estrutura mínima, trabalha-se no meio — oque abre precedentes para que pessoas não especializadas se aventurem na arte de “fazer” rádio. Além disso, essa simplicidade possibilita ao radialista tornar a programação flexível, com substituições e alterações nos programas diários. Página 48 A mobilidade do rádio Livre de fios e tomadas, o rádio pode ser levado a qualquer lugar. Isso faz dele uma mídia pessoal e que pode ser “ouvida” onde o receptor desejar. Em quase todas as circunstâncias, sem grandes problemas: no carro, na rua, na cozinha, no campo de futebol, no curral da fazenda ou no bar da esquina, de infinitos modos. As pessoas simplesmente ouvem, realizando outras tarefas, sem se incomodar. O rádio é acessível A maioria da população tem possibilidade de adquirir um aparelho de rádio. Segundo pesquisas recentes, praticamente toda residência tem pelo menos um ou vários aparelhos; a proporção é de um rádio por pessoa. Tal fato ocorre porque seu preço é quase sempre acessível e sua abrangência alcança basicamente qual quer lugar, mesmo onde não existe energia elétrica ou as transmissões televisivas ainda não chegaram. Sendo assim, o rádio está sempre por perto, ao alcance da mão ou do ouvido, atingindo todos, da criança ao idoso. O rádio é barato Os custos com o rádio são relativamente baixos se comparados com outros meios de comunicação. Tanto do ponto de vista de investimento quanto de manutenção. Para o anunciante, o rádio ainda representa o menor custo por ouvinte-hora. Portanto, a grande dificuldade para se “montar” uma rádio não é de ordem financeira, mas diz respeito à obtenção de uma frequência de transmissão, que é protegida pelos governos como signatários de acordos internacionais. Isso resulta, na Página 49 maioria das vezes, em algumas dificuldades para a aquisição de concessão. As estações de rádio são financiadas de várias maneiras: licença pública, publicidade comercial, subsídio do governo, capital privado, assinatura pública ou qualquer combinação entre esses métodos. Função social Em face dessas características, o rádio possui uma importante função social: atua como agente de informação e formação do coletivo. Desde a sua gênese vem se firmando como um serviço de utilidade pública, o qual exerce uma comunicação que em muito contribui para a história da humanidade. Deixa como legado princípios como ação, atuação, transformação e mobilização. De acordo com Mcleish, as funções do rádio para a sociedade são: - fornecer informações sobre empregos, produtos e serviços, ajudando assim a criar mercados com o incentivo à renda e ao consumo; - atuar como vigilante sobre os que detêm poder, propiciando o contato entre eles e o público; - ajudar a desenvolver objetivos comuns e opções políticas, possibilitando o debate social e político e expondo temas e soluções práticas; - contribuir para a cultura artística e intelectual, - dando oportunidades para artistas novos e consagrados de todos os gêneros; - divulgar ideias que podem ser radicais e que levem a novas crenças e valores, promovendo assim diversidade e mudanças — ou que talvez Página 50 reforcem valores tradicionais para ajudar a manter a ordem social por meio do status quo; - facilitar o diálogo entre indivíduos e grupos, promovendo a noção de comunidade; - mobilizar recursos públicos e privados para fins pessoais ou comunitários, especialmente numa emergência. 10 Função comunitária Mediante as funções sociais do rádio acima citadas, resta-nos perceber quais seriam os interesses do uso e alcance do rádio no contexto do trabalho em comunidade. Há de se considerar que as funções citadas anteriormente são universais e podem, portanto, ser aplicadas em casos e fins diferenciados. É importante o comunicador reter que a prestação de serviço público por intermédio do rádio possui força e poder inimagináveis. Ele, o rádio, tem a magia de cativar e seduzir os seus ouvintes, conduzindo-os a atitudes e comportamentos conformes ao padrão estabelecido. Por isso, é bom saber que estamos fazendo uso de um meio o qual influencia o cotidiano das pessoas, e assim nos possibilita resultados positivos. Uma exploração em torno dos gêneros radiofônicos assesta para tal importância. Nota de roda pé 10 MCLEISH, op. cit., p. 24. Fim da nota de roda pé Página 51 Capítulo III – Gêneros, informação e gêneros radiofônicos Os gêneros Falar em gêneros implica, invariavelmente, incursões nos debates que o tema suscitou ao longo da história. A literatura, a comunicação social (principalmente o jornalismo e o rádio), a arquitetura utilizam o termo gênero para definir tipologias específicas. Dimensionar seu conceito tautológico é uma questão que vem atormentando os filólogos ao longo dos tempos. A discussão na literatura é extensa e se presta às mais variadas interpretações. Arlindo Machado nos informa que a ideia de gênero tem sofrido um questionamento esmagador de parte, inicialmente, da crítica estruturalista e, posteriormente, do pensamento dito pós-moderno, para os quais esse tipo de discussão se tornou alguma coisa anacrônica, quando não irrelevante.1 Todorov alerta sobre a complexidade do termo em sua conceituação: [...] disporíamos de uma noção cômoda e operante se conviéssemos em chamar de gêneros apenas as classes de Nota de rodapé 1 Machado, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo, SENAC, 2001. p. 67. Fim da nota de roda pé Página 52 textos que foram percebidas como tais no decorrer da história [...]. Os gêneros existem como instituição, verdadeiros modelos de expectativa e de escritura [...].2 O dicionário define gênero como: “Classe cuja extensão se divide em outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies [...], conjunto de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns convencionalmente estabelecidos”.3 O termo gênero, diz Machado, origina-se do latim genus Igeneris (família, espécie) e não se vincula etimologicamente, malgrado a aparente homofonia, com as palavras gene e genética (do grego gênesis: geração, criação). E completa: Apesar disso, há uma inequívoca relação entre o que faz o gênero no meio semiótico (ou seja, no interior de uma linguagem) e o que faz o gene no meio biológico. Os geneticistas definem o gene como uma entidade replicante, presente nas moléculas de DNA, cuja função principal é transmitir às novas células que estão sendo formadas as informações básicas que vão garantir a preservação de uma determinada espécie.4 O dicionário Conceitos-chave em estudos de comunicação e cultura diz que gênero são conjuntos paradigmáticos reconhecidos, em que a produção total de determinado meio (filme, televisão, escritura) é classificada. Filmes, programas ou livros são Nota de rodapé 2 TODOROV, Tzvetan. Os gêneros do discurso. São Paulo, Martins Fontes, 1980. p. 47. 3 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975. p. 682. 4 MACHADO, op. cit., p. 65. Fim da nota de roda pé Página 53 tipicamente percebidos como “pertencentes” a um gênero particular — western, terror ou musical, em cinema; série policial, comédia ou novela, em televisão. Esse reconhecimento tem por finalidade que o espectador/leitor/crítico oriente suas reações para o que está lá, de acordo com as expectativas geradas pelo fato de distinguir o gênero no começo. Você não julga um western por ele não ser bastante musical, e também não avalia um musical por não apresentar suficientemente cenas de horror. É difícil isolar as características precisas de um gênero e chegar a uma lista finita de todos os gêneros diferentes [...]. Os gêneros são paradigmas dinâmicos, e não listas formuladas.5 Apesar de sua origem demarcada, não háunanimidade em torno do significado de gênero. Procurando dimensionar a problemática no campo da literatura, Borelli afirma: A noção de gênero como agrupamento ou filiação de obras literárias a uma classe ou espécie, subordinadas por sua vez a artifícios e convenções estéticas, divide opiniões. Para alguns autores esta normatização ou classificação — que para outros se justifica como resposta a uma perspectiva de busca da universalidade literária — implicaria o risco do enquadramento rígido da obra a modelos e regras nem sempre flexíveis.6 Autores como Feuer, citado na obra de Borelli, indicam a dinâmica a que estão sujeitos os gêneros, modificados constantemente pelos fluxos e consequentes redefinições.7 Nota de roda pé 5 SULLIVAN et AL., op. cit., p. 33. 6 BORELLI, Silvia Helena Simões, org. Gêneros ficcionais, produção e cotidiano na cultura popular de massa. São Paulo, Intercom, 1994. p. 130. 7 Idem, ibidem, p. 131. Fim da nota de roda pé Página 54 Para Martin-Barbero gênero é: "[...] o elo de ligação dos diferentes momentos da cadeia que une espaços da produção, anseios dos produtores culturais e desejos do público receptor [...]".8 A esse respeito, Mauro Wolf escreve com propriedade: [...] os gêneros são sistemas de regras aos quais se faz referência — de modo explícito e/ou implícito — para realizar o processo comunicativo: tal referência se justifica seja do ponto de vista da produção do texto (de qualquer natureza possa ser), seja do ponto de vista de sua própria fruição [...].9 Bakhtin mostra-se para muitos autores, a exemplo de Machado, como um dos que melhor trataram a questão de gênero, ainda que ele não tenha direcionado sua análise para o audiovisual contemporâneo. Pensando a questão do gênero nos fenômenos literários e linguísticos em suas formas impressas ou orais, Bakhtin diz que gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, certo modo de organizar ideias, meios e recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às comunidades futuras.10 Na área da comunicação, especialmente no estudo do jornalismo, Marques de Melo afirma que "não obstante a identificação dos gêneros constitua uma Nota de rodapé 8 Martin-Barbero, Jesus. De los médios a Ias mediaciones. México, Gustavo Gilli, 1987. p. 239. 9 Wolf, Mauro. I generi e mass media. In: Barlozzetti, Guido. II Palinsesto. Milano, Ranço Angeli, 1986. p. 169. 10 Citado por Machado, op. cit., p. 68. Fim da nota de roda pé Página 55 tarefa a que se têm dedicado os pesquisadores acadêmicos, na verdade a questão tem origem na práxis”, e acrescenta: [...] desde o início das atividades permanentes de informação sobre a atualidade (processo livre, contínuo, regular), colocou-se a distinção entre as modalidades de relato dos acontecimentos. E os que fazem a narrativa cotidiana das novidades (jornalistas) estabelecem padrões para discernir a natureza da sua prática profissional [...].11 As reflexões conceituais de Marques de Meio a respeito dos gêneros estão baseadas nos conceitos teóricos de Gargurevich, Dovifat, Foliet e Vivaldi. De acordo com esses autores, os gêneros jornalísticos são “formas de que busca o jornalista para se expressar”; “formas de expressão do jornalismo”; “gêneros são utilitários” e sintonizam a “linguagem da vida”. Embora Meio faça um mapeamento dos gêneros jornalísticos brasileiros, ele não apresenta um conceito autoral do que seja gênero. Para alguns pesquisadores, a exemplo de Luís Martinez Albertos, pensar em gênero na atividade jornalística requer que pensemos o jornalismo como “estilo literário específico”. Para ele, o jornalismo é “[...] um estilo literário peculiar, um estilo caracterizado, basicamente, pelos fins informativos que persegue — a transmissão de notícias — e a exigência ou expectativa do destinatário”.12 Bahia vai na mesma direção Nota de rodapé 11 MARQUES DE MELO. Gêneros jornalísticos..., cit., p. 32. 12 ALBERTOS, José Luís Martinez. Curso general de redacción periodística. Madrid, Paraninfo, 1992, p. 44. Fim da nota de roda pé Página 56 quando afirma que: "O jornalismo é uma das categorias da literatura — é uma literatura de massa".13 Levando em conta tais indicações, é necessário considerarmos os gêneros específicos, pois como diz Todorov [...] nunca houve literatura sem gêneros. Eles existem como instituição, servindo como horizontes de expectativa para os leitores e como modelos de escritura para os autores. Estão aí, com efeito, as duas vertentes da existência histórica dos gêneros.14 Hans-Rorbert Jauss endossa estas afirmações ao enfatizar que "toda obra literária pertence a um gênero. Os conceitos do jornalismo como gênero literário de Albertos, de Bahia e de Lima legitimam-se no entendimento da origem dos gêneros. Na literatura um [...] novo gênero é sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos: por inversão, por deslocamento, por combinação. Um texto de hoje (também é um gênero num de seus sentidos) deve tanto à poesia quanto ao romance do século XIX.16 No jornalismo, nem o relacionamento íntimo dos gêneros, nem as tênues fronteiras que os diferenciam impediram a criação de outros gêneros. Um exemplo é quando a notícia acaba transformando-se em reportagem. Nota de rodapé 13 Bahia, Juarez. Jornal, história e técnica: as técnicas de jornalismo. 3. ed. São Paulo, Ibrasa, 1972. p. 43 14 Todorov, op. cit., pp. 46-49. 15 Jauss, Hans-Robert. Littérature médiévale et theorie des genres. In: Witter Poétique. Paris, ano 2, 1970. v. 1, p. 10. 16 Todorov, op. cit., p. 46. Fim da nota de roda pé Página 57 A primeira é o fato mais cru, que traz só o acontecimento em si; já a reportagem é o acontecimento ampliado e contextualizado. Claro que o processo de criação e transformação de gêneros do jornalismo não tem a agilidade da literatura, mas também acontece de uma forma lenta e progressiva. Os gêneros são, ainda, unidades que se podem descrever sob dois pontos de vista diferentes: o da observação empírica e o da análise abstrata.17 O primeiro — o da observação empírica — refere-se às “propriedades discursivas” que tornam um texto diferente ou igual a outro; e o segundo — o da análise empírica — tem a ver com a conceituação dessas propriedades. Em jornalismo, a análise empírica corresponde ao fazer jornalístico diário; varia conforme o fato jornalístico ou o enfoque. Por exemplo, um crime policial pode ter um texto meramente de relato ou tornar-se uma crônica. A significação de um ou outro texto fica na esfera da análise abstrata desse fazer; é o saber do jornalismo, que nada mais é que as teorias de classificação de gênero. De acordo com o conceito de Dovifat, os gêneros são “as formas de expressão do jornalismo”.18 No momento da produção do texto, o gênero é um mecanismo de codificação, é uma ferramenta, um código de escritura utilizado pelo sujeito da enunciação para realizar seu trabalho. No momento da decodificação ele é o que Jauss chama de “consciência compreensiva”, criador de sentido no enunciado, que permite ao leitor identificar uma determinada intenção (relato ou comentário). Isso cria, segundo Jauss, um “[...] horizonte de Nota de rodapé 17 Idem, ibidem, p. 48. 18 MARQUES DE MEL0. Gêneros jornalísticos..., cit., p. 39. Fim da nota de roda pé Página 58 expectativa, quer dizer, de um conjunto de regras preexistentes para orientar a compreensão do leitor (do público e permite-lhe uma recepção apreciativa)”.19 Para isso, é preciso que a obra seja carregada de sentido para possibilitar o reconhecimento do gênero proposto. Portanto, [...] um determinado texto, literário ou jornalístico, só pode ser
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