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INTRODUÇÃO Fundamentos da Matemática é uma atividade complementar que possui carga horária de 24h. Sua proposta é servir como um nivelamento de estudos, com o objetivo de instrumentalizar estudantes que terão disciplinas de cálculo no seu itinerário formativo. Para tal, começaremos vendo conceitos que são comuns a todas as funções. Em seguida, discutiremos uma família importante de funções: as funções que podem ser expressas como um polinômio. Por fim, discutiremos algumas funções muito importantes que, no entanto, não são polinomiais. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 7 CONCEITOS GERAIS ........................................................................................................................... 7 Intercepto .................................................................................................................................... 9 Raiz ............................................................................................................................................... 9 Domínio e imagem .................................................................................................................. 10 Pontos extremos ...................................................................................................................... 12 Funções compostas ................................................................................................................. 13 Função inversa ......................................................................................................................... 14 Paridade de funções ................................................................................................................ 15 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 18 PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 19 Neste módulo, veremos conceitos que são comuns a todas as funções. Por exemplo, veremos o que é uma função, e o que significam o domínio e a imagem dessa função. Também falaremos sobre o que são raízes e interceptos de uma função, e que aplicações práticas esses conceitos têm na Administração. Finalmente, discutiremos conceitos como funções compostas, funções inversas, funções pares e funções ímpares. Conceitos gerais Em Administração, muitas vezes, queremos relacionar alguma coisa que desejamos com algo que podemos controlar. Por exemplo, em um processo de produção, desejamos ter o maior lucro possível. O lucro depende de quanto produzimos. Desse modo, queremos decidir quanto produzir para ter o maior lucro possível. Para isso, precisamos entender como a quantidade produzida se relaciona com o lucro. Matematicamente, essa relação é expressa na forma de uma função. Dizemos que o lucro é uma função da quantidade produzida. Da mesma forma, na fila de um supermercado, o tempo que um cliente espera para ser atendido depende do número de caixas atendendo. O gerente do supermercado deve decidir quantos caixas colocar para que nenhum cliente demore muito para ser atendido. Por outro lado, o custo do supermercado também depende do número de caixas atendendo, e o gerente não quer que esse custo seja muito alto. Nesse exemplo, tanto o tempo que um cliente espera para ser atendido quanto o custo do supermercado são funções do número de caixas atendendo. De forma geral, dizemos que uma variável é função de uma variável sempre que, se conhecermos , conhecemos . Tipicamente, será alguma coisa que conseguimos controlar e será alguma coisa em que estamos interessados, mas só conseguimos controlar por meio de . INTRODUÇÃO 8 Para frisar que depende de , é comum representarmos por ( ). Onde escrevemos , poderíamos ter escrito qualquer outra letra: ( ),ℎ( ), ( ),... mas subentende-se que letras diferentes representam relações diferentes. Desse modo, são exemplos de funções: ( ) = 2 + 1 ( ) = 5 ℎ( ) = 2 − 1 Em qualquer um desses casos, se conhecemos , automaticamente conhecemos a função de . Por outro lado, vejamos o seguinte caso: = 1 − No entanto, o seguinte exemplo não é um exemplo de função, porque conhecer não nos dá certeza sobre o valor de . De fato, se = 0, por exemplo, temos = 1, o que significa que pode ser 1 ou −1. Não temos como determinar o valor verdadeiro de e, por isso, não é correto dizer que é uma função de . Imagine que seja o lucro de uma fábrica e seja a quantidade produzida. Uma função = ( ) ajuda a responder várias perguntas de valor gerencial, por exemplo: Qual é o lucro (ou prejuízo) se a fábrica não produzir nada? Quanto a fábrica precisa produzir para começar a ter lucro? Quais são os valores de lucro possíveis? Quanto a fábrica deve produzir para ter o maior lucro possível? Cada pergunta está relacionada a um conceito matemático. A relação entre esses conceitos e as perguntas está mostrada na tabela a seguir. Qual é o lucro (ou prejuízo) se a fábrica não produzir nada? intercepto Quanto a fábrica precisa produzir para começar a ter lucro? raiz Quais são os valores de lucro possíveis? domínio e imagem Quanto a fábrica deve produzir para ter o maior lucro possível? pontos extremos e vértices Vamos estudar cada um desses conceitos. 9 Intercepto O intercepto de uma função é o valor da função quando = 0. Se observamos o gráfico da função, esse é o ponto em que a função intercepta o eixo vertical. Daí o nome intercepto. No exemplo da função = ( ), que relaciona o lucro de uma fábrica à quantidade produzida, o intercepto é o lucro da fábrica caso ela não produza nada (isso é, caso a sua produção seja zero). Em Administração, isso é o que se denomina custo fixo. O custo fixo é o custo que se incorre independentemente da produção. Mesmo que uma fábrica não produza nada, ainda assim, ela tem de pagar o aluguel do espaço e o salário do pessoal de escritório, por exemplo. Raiz Se a fábrica não produzir nada, ela terá prejuízo, porque terá de arcar com os seus custos fixos. Quanto a fábrica precisa produzir para pagar os seus custos fixos e fechar no zero-a-zero? A Administração chama essa quantidade de ponto de break-even. A matemática, por sua vez, chama esse valor de raiz da função lucro. A raiz de uma função ( ) é o valor de para o qual ( ) = 0 Uma função pode ter várias raízes. Cada raiz será um valor de para o qual ( ) = 0. A função ( ) = ( − 1)( − 2)( + 3) tem raízes 1, 2 e −3, porque (1) = (1 − 1)(1 − 2)(1 + 3) = 0 (2) = (2 − 1)(2 − 2)(2 + 3) = 0 (−3) = (−3 − 1)(−3 − 2)(−3 + 3) = 0 10 Domínio e imagem Domínio é o conjunto de todos os valores que pode assumir. Por sua vez, imagem é o conjunto de todos os valores que pode assumir. Uma fábrica não pode produzir uma quantidade negativa, então 0 está fora do domínio. Da mesma forma, se a nossa fábrica tem capacidade para produzir, no máximo, 1.000 unidades, então, 1.000 também está fora do domínio. Nesse exemplo, o domínio da função seria 0; 1000 . A notação 0; 1000 indica que qualquer valor entre 0 e 1000 são possíveis. Se produzir exatamente 1.000 não fosse possível, por exemplo, representaríamos 0; 1000), indicando que podemos ter uma produção muito próxima de 1.000, mas, ainda assim, não exatamente 1.000. Se a nossa fábrica não tivesse capacidade, o domínio seria qualquer número maior ou igual a zero. Poderíamos representar isso de várias formas, por exemplo: 0;∞) O símbolo ∞ significa infinito. Ele sempre recebe um parêntesis para indicar que nunca conseguimos produzir exatamente infinitas peças. Nunca alcançamos o infinito. Agora, imagine que a nossa funçãolucro seja ( ) = 2 − 10 E que a nossa fábrica tenha capacidade de 1.000, de modo que o domínio dessa função é 0; 1.000 . Se pode assumir qualquer valor entre 0 e 1000, então, ( ) pode assumir qualquer valor entre −10 e 1990. Ou seja, podemos ter qualquer lucro entre um prejuízo de 10 e um lucro de 1.990. Simbolicamente, −10; 1.990 O conjunto desses valores possíveis para é a imagem da função. A maior parte das funções que você verá ao longo do curso tem um dos seguintes conjuntos como domínio e imagem: 11 notação significado qualquer número real qualquer número real exceto o zero qualquer número real positivo ou o zero qualquer número real negativo ou o zero qualquer número real positivo (o zero não!) qualquer número real negativo (o zero não!) − 1 qualquer número real positivo (o zero não) exceto o 1 Por exemplo, o domínio da função ( ) = 1 é , porque pode ser qualquer número real, desde que não seja zero. Da mesma forma, ( ) pode assumir qualquer valor, exceto o zero. Desse modo, a imagem de ( ) também é . Existe uma forma sucinta de dizer que o domínio de ( ) é e sua imagem também é : : Nessa notação, podemos escrever para a função ( ) = √ que : Com isso, dizemos que, na função ( ), pode assumir qualquer valor positivo (ou o zero) e que o resultado sempre será um valor positivo (ou o zero). 12 A seguir, listamos o domínio e a imagem de algumas funções mais importantes: função domínio e imagem 1 √ log ( ) Note que o domínio da função é a imagem da função log ( ), e vice-versa. Isso acontece porque essas funções são a inversa uma da outra. Mais tarde, veremos o que isso significa. Pontos extremos Algumas funções têm um valor máximo (ou mínimo) possível. Esses valores se chamam pontos extremos. Para ilustrar, suponha que, na fábrica do nosso exemplo, a relação entre lucro e quantidade produzida seja ( ) = −10( − 100)( − 300) Se a fábrica produz 100 unidades, ela fecha no zero-a-zero. Se a fábrica produz um pouco mais, ela começa a lucrar. No entanto, se produzir muito mais, ela passa a lucrar menos e, quando a sua produção chega a 300, ela volta a fechar no zero-a-zero. (Quando estudarmos funções do segundo grau, vamos justificar por que isso acontece). Em algum ponto no meio do caminho entre 100 e 300, o lucro da fábrica para de crescer e começa a cair. Nesse ponto, o lucro atinge um valor máximo possível. Na função do nosso exemplo, esse valor é = 200 que corresponde a um lucro de (200) = 100.000 13 Não existe nenhum valor na função inteira que dê um lucro maior do que 100.000. Dizemos que esse valor é um ponto extremo e, no caso especifico da função de segundo grau, chamamos esse valor também de vértice. A existência de um valor máximo para o lucro tem implicações muito importantes para a prática. Se sabemos que uma produção de 200 nos leva ao maior lucro possível, vamos voltar todo o nosso planejamento produtivo para produzir 200 unidades. Se a nossa capacidade for inferior a 200 (por exemplo, 190), a nossa produção será a mais próxima possível de 200 (ou seja, 190) e a estratégia da fábrica envolverá uma expansão de capacidade para que atinja uma capacidade de 200. Por outro lado, se a capacidade for superior a 200 (por exemplo, 210), a fábrica trabalhará com capacidade ociosa e fábrica poderá considerar alugar essa capacidade ociosa para outra empresa (se for possível). Funções compostas Uma função composta é uma função de uma função. Considere, no nosso exemplo, como o imposto de renda pago pela fábrica depende da quantidade produzida. A quantidade produzida determina o lucro por meio de uma relação = ( ) = 2 − 10 O lucro auferido, por sua vez, determina o imposto a ser pago segundo a relação = ( ) = 4 Podemos calcular o imposto de renda a ser pago diretamente a partir da quantidade produzida. Obteremos com isso uma nova função, ℎ( ). Note que = ( ) = 4 No entanto, = ( ) = 2 − 10 14 Isso significa que = 2 − 104 = 2 − 2,5 Essa é uma nova função, ℎ( ), que relaciona diretamente o imposto de renda à quantidade produzida. Sabendo-se a quatidade produzida, podemos calcular o imposto de renda diretamente, sem precisar calcular o lucro como passo intermediário. Para obter essa relação, pegamos ( ) e substituimos = ( ), obtendo ( ) . Às vezes, essa função é representada por ∘ ( ). Função inversa Vamos continuar com o exemplo da fábrica que produz uma quantidade e obtém um lucro = ( ) = 2 − 10 Podemos perguntar qual será o lucro, caso a fábrica tenha uma produção de = 100. A resposta será (100) = 2 ⋅ 100 − 10 = 190. No entanto, suponha que a nossa pergunta fosse outra: sabendo-se que a fábrica teve um lucro de 190, quanto que a fábrica produziu? Estamos fazendo a pergunta inversa. Em vez de sabermos o valor do e querermos descobrir o valor de , agora, sabemos o valor de e queremos o valor de . Podemos descobrir o valor de por simples manipulação algébrica: = 2 − 10 + 10 = 2 = + 102 Fazendo = 190, obtemos = 190 + 102 = 2002 = 100 Exatamente o valor correto! Para descobrir esse valor, usamos a função = + 102 15 Essa função se chama função inversa de ( ) = 2 − 10. Na verdade, falta apenas um retoque: usarmos a notação usual de chamar de a informação que temos e de o que queremos descobrir. Se fizermos isso, a função acima se escreverá = + 102 Essa, sim, é a função inversa de = ( ) = 2 − 10, e representamos isso por = ( ) = + 102 Essas duas funções têm uma relação muito especial. O “x” de uma é o “y” da outra, e vice- versa. Elas são obtidas trocando-se o pelo e rearrumando. Em um plano cartesiano, o gráfico de uma é igual ao gráfico da outra, trocando-se o eixo horizontal pelo vertical. Mais ainda, para qualquer valor de , ( ) = Ou seja, se sabemos a quantidade produzida, podemos calcular o lucro ( ). No entanto, se jogarmos esse lucro dentro da função inversa, ( ) , voltaremos a ter a quantidade produzida. A função faz e a desfaz. Por isso, uma é chamada função inversa da outra. Um cuidado com notação merece destaque. Quando falamos , isso é o mesmo que , e chamamos isso de “inverso de x”. Quando escrevemos ( ), estamos falando em outra coisa. Isso é, ( ) não é ( )! De fato, no nosso exemplo, ( ) = , que é totalmente diferente de ( ) = . Desse modo, não confunda as notações: ( ) designa a função inversa de ( ), aquela que, aplicada a ( ), recupera o valor de . Paridade de funções Algumas funções têm uma propriedade interessante: são pares. Outras funções têm outra propriedade interessante: são ímpares. Existem ainda outras funções que não são nem pares nem ímpares, o que é uma pena. Uma função par é uma função ( ) que é exatamente igual à direita e à esquerda do eixo vertical. Ou seja, ( ) = (− ) 16 Funções pares se chamam assim porque a função ( ) = é uma função par: ela é idêntica à esquerda e à direita do eixo vertical. De fato, (1) = (−1) (2) = (−2) (3) = (−3) (4) = (−4) (5) = (−5) Isso vale para qualquer número! A função ( ) = não é a única função par. Todas as funções de expoente par também são funções pares: ( ) = ℎ( ) = ( ) = … Existem também funções ímpares. Funções ímpares são funções que mudam o sinal de um lado para o outro do lado vertical. Ou seja, se a função é positiva de um lado do eixo vertical, então, do outro lado, ela é igualzinha, mas negativa, e vice-versa. Em outras palavras, uma função é ímpar se ( ) = − (− ) Funções ímpares se chamam funções ímpares porque a função ( ) = é ímpar. (1) = −(−1) (2) = −(−2) (3) = −(−3) (4) = −(−4) (5) = −(−5) Isso vale para qualquer número! 17 A função ( ) = não é a única função ímpar. Todas as funções de expoente ímpar também são funções ímpares: ( ) = ℎ( ) = ( ) = … Existem algumas funções que são pares, mas não parecempares; assim como existem funções que são ímpares, mas não parecem ímpares. Por exemplo, a função ( ) = cos ( ) é par, porque cos( ) = cos (− ). Já a função ( ) = sen( ), por exemplo, é ímpar, porque sen( ) = −sen (− ). Aliás, a função ( ) = cos é par, e a função ( ) = sin(8 ) é ímpar, pelos mesmos motivos. Finalmente, vale notar que algumas funções não são nem pares nem ímpares. Por exemplo, a função ( ) = − 1 Note que (1) = 0 (−1) = −2 São números totalmente diferentes. Como consequência, ( ) = − 1 não é par nem ímpar. Outro exemplo é a função ( ) = 2 Nesse caso, vemos que a função não é par nem ímpar porque, escolhendo-se = 1, por exemplo, temos (1) = 2 (−1) = 12 18 BIBLIOGRAFIA DEMANA, F. D.; WAITS, B. K.; FOLEY, G. D.; KENNEDY, D.; Pré-cálculo. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2013. IEZZI, G.; DOLCE, O.; DEGENSZAJN, D.; PÉRIGO, R. Matemática – volume único. Parte 1. 6 ed. São Paulo: Atual, 2015. IEZZI, G.; DOLCE, O.; DEGENSZAJN, D.; PÉRIGO, R. Matemática – volume único. Parte 3. 6. ed. São Paulo: Atual, 2015. PAIVA, M. Matemática 1. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015. 19 PROFESSOR-AUTOR Felipe Buchbinder é doutor em Administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV). É engenheiro do BNDES e professor da FGV, nos cursos de graduação e no MBA. Atualmente, trabalha com uso de Big Data e aprendizagem de máquina (machine learning) para avaliação de impactos de políticas públicas. Também possui experiência em gestão por processos e em análise de riscos junto ao BNDES, à Deloitte e a empresas como Petrobrás, Icatu Hartford e Ponto Frio. No mestrado, foi bolsista da CAPES e, na graduação, do Institut National des Sciences Appliquées (INSA) de Lyon (França). Seu doutorado versa sobre os determinantes do desempenho e da trajetória de crescimento de empresas.
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