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Função Social da Escola nas Teorias Críticas

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AULA 2 
GESTÃO DEMOCRÁTICA 
Profª Cristhyane Ramos Haddad 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A natureza do trabalho pedagógico e a democratização do ensino 
Nesta aula traremos para discussão qual é a função social da escola, 
tomando para isso os estudos de diferentes autores do campo crítico da 
educação. 
A escola assume diferentes funções que estão atreladas ao homem e à 
sociedade que se quer formar. Para as teorias neoliberais, como vimos na aula 
anterior com as teorias neoprodutivistas, neoconstrutivistas, neotecnicistas, a 
escola deveria servir como manutenção do sistema vigente, perpetuando a divisão 
de classes, formando uma minoria para assumir os postos de comando enquanto 
a maioria seria formada para ocupar postos no mercado de trabalho. Aprendemos 
sobre a Teoria do Capital Humano que se na década de 1970 a escola tinha por 
objetivo formar trabalhadores para ocupar vagas no mercado de trabalho, na 
década de 1990 passa a ter por objetivo formar trabalhadores polivalentes, 
capazes de assumir diferentes funções no trabalho da fábrica. 
Nesta aula veremos que dentro das teorias críticas a função da escola é 
outra, pois o compromisso dela é com a formação humana integral, visando ao 
desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. Uma escola que 
possibilite a todos a apropriação dos conhecimentos sistematizados pela 
humanidade ao longo do processo histórico. Traremos os estudos de Saviani, 
responsável pela criação da pedagogia histórico-crítica, e os estudos do psicólogo 
Lev Vygotsky, idealizador da psicologia histórico-cultural. 
Veremos que o professor e o pedagogo ocupam um papel central nessas 
concepções na área da pedagogia e na área da psicologia, na medida em que 
são responsáveis pela organização do trabalho pedagógico na sala de aula e na 
escola, e é pelo seu trabalho que se pode promover os avanços no processo de 
aprendizagem dos estudantes. 
Também discutiremos a função principal que o projeto político-pedagógico 
possui como documento norteador do trabalho na escola. Por fim, abordaremos a 
articulação entre o projeto político-pedagógico, a proposta pedagógica curricular 
e o regimento escolar. 
 
 
 
3 
TEMA 1 – A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NAS TEORIAS CRÍTICAS DA 
EDUCAÇÃO 
Como apontamos inicialmente, os estudos que apresentaremos nesta aula 
se baseiam na pedagogia histórico-crítica e na psicologia histórico-cultural, ambas 
teorias têm seus fundamentos no materialismo histórico-dialético. Para tais teorias 
a realidade é dialética, ela é produto de contradições. O pensamento e a 
consciência humana são construídos sobre essas determinações materiais. 
Para Marx, as circunstâncias fazem os homens, mas, por outro lado, os 
homens fazem as circunstâncias, pois a ação humana é sempre uma ação 
intencional. O ser humano é um ser produzido pelas relações humanas e produtor 
dessas mesmas relações. Produz e transforma a realidade e é transformado por 
ela. Há, portanto, uma dialética entre o ser humano e a realidade. Essa premissa 
é base para a pedagogia histórico-crítica e para a transformação da sociedade 
para o socialismo. 
Podemos nos tornar sujeitos de nossa formação. O ser humano pode 
determinar os rumos da humanidade? Ou ele é apenas um joguete determinado 
pela realidade? Ainda há concepções biologizantes e naturalizantes que 
compreendem que o ser humano é o que seu código genético determina. Para 
tais teorias não somos capazes de determinar os rumos da humanidade. O ser 
humano é o que é, tomam o indivíduo isolado da totalidade social. Apregoam a 
redução do ser humano ao imediato. 
Diferentemente disso, o ser humano numa perspectiva marxista considera 
a dialética entre indivíduo e coletivo. Não existe uma humanidade constituída. A 
humanidade é resultado de um processo histórico. Os conceitos de objetivação e 
apropriação em Marx se tornam fundamentais para compreendermos as relações 
entre a relação entre indivíduo e gênero humano coletivo. 
A dialética entre objetivação e apropriação nasce na atividade humana, 
quando o ser humano começou a produzir essa realidade humanizada. Na 
atividade humana o ser humano se apropria dos fenômenos sociais (por exemplo: 
pedra e pedra lascada, que é um objeto social). 
Nesse processo o ser humano se objetiva. Esse objeto pode ser apropriado 
pela atividade humana, e envolve a participação de diversos seres humanos. A 
cultura é tudo aquilo que é resultado da atividade humana objetivada. Tem um 
caráter cumulativo. A atividade humana é uma atividade física e mental. Por 
 
 
4 
exemplo, a língua falada é atividade mental acumulada e também atividade física. 
É atividade de elaboração do pensamento, mas também uso do aparelho fonador. 
A atividade humana objetivada na cultura se incorpora aos indivíduos. A 
cultura é apropriada pelos indivíduos. Não há desenvolvimento do ser humano se 
não houver a apropriação da cultura. As funções humanas mais desenvolvidas 
surgem nas relações sociais e pela apropriação da cultura. 
Diante disso se coloca a seguinte questão: como a educação poderá 
desenvolver o pensamento? 
Há diferentes visões sobre essa questão. Há um grupo que compreende 
que o pensamento não se desenvolve pela aquisição do conhecimento. Mas há 
um segundo grupo que acredita que o conhecimento científico, artístico, filosófico 
e a atividade humana objetivada são organizados e sistematizados por meio dos 
conteúdos escolares, os quais possibilitam a apropriação do conhecimento pela 
mediação do professor. A escola deve produzir no aluno necessidades superiores 
e não apenas satisfazer suas necessidades imediatas. 
Nenhum aluno chega na escola tendo a necessidade do conhecimento 
sistematizado, é a escola que deve produzir nele essa necessidade. As 
necessidades cotidianas cerceiam nosso desenvolvimento, o que nos leva a um 
processo de alienação. 
Segundo Duarte (2013), essa necessidade do conhecimento promove a 
passagem do “em si” – “para si”. Ir além do “em si”. Por isso a escola deve 
trabalhar com a ciência, a filosofia, a arte, ou seja, a escola precisa trabalhar com 
os conteúdos curriculares. A pedagogia histórico-crítica defende a socialização do 
conhecimento, a prática social em sua totalidade, o que contribui para o 
desenvolvimento do indivíduo. O desenvolvimento da individualidade alcançará 
níveis superiores à medida que as relações entre os homens forem transformadas, 
no sentido de que todos possam ter acesso aos bens materiais e patrimônio 
produzido pela ciência, pela arte, pela cultura. 
A pedagogia histórico-crítica propõe a passagem da síncrese à síntese, do 
conhecimento cotidiano ao conhecimento elaborado. Parte da prática social, mas 
compreende que é preciso oportunizar o acesso à apropriação do conhecimento 
sistematizado. Nesse sentido o professor desempenha um papel fundamental em 
sala de aula, ao qual precisa aliar a dimensão da competência técnica de seu 
trabalho com o compromisso político, ou seja, que aluno quero formar e para qual 
sociedade. 
 
 
5 
Para Martins (2011), a educação escolar desempenha um papel 
fundamental no desenvolvimento do psiquismo humano. Quando se minimiza a 
educação escolar impacta-se sobre a construção do subjetivo, o que leva ao 
empobrecimento da subjetividade humana. Portanto, privar o aluno do 
conhecimento escolar vai muito além de deixar de ensinar os conteúdos, a maior 
consequência impacta o desenvolvimento do psiquismo, que fica limitado. 
O ensino orientado pelos conteúdos científicos na escola possibilita a 
internalização de signos, a aprendizagem de significados construídos 
historicamente. O ensino dos conteúdos científicos é condição para o 
desenvolvimento das funções psíquicas superiores. 
A forma mais elaborada de expressão do psiquismo é a consciência. 
Somente pela consciência dos sujeitos da sua condição de classe é que se poderá 
transformar as condições sociais, por meio da disponibilizaçãode ferramentas 
(signos) que possibilitem operar as transformações necessárias. 
O traço em comum da pedagogia histórico-crítica e da psicologia histórico-
cultural é a formação psíquica. Mas não é qualquer aprendizagem que promove o 
desenvolvimento, mas a atividade planejada e intencional para atingir esse fim. 
Mas o que é o psiquismo? 
A resposta para essa questão foi dada de formas diferentes. 
A psicologia histórico-cultural procurou superar as explicações 
fragmentárias e a-históricas. Para a psicologia histórico-cultural compreender o 
psiquismo dentro do enfoque histórico, implica compreender as transformações 
engendradas nas suas múltiplas determinações em sua concreticidade. 
Para definir, portanto, o que é o psiquismo, é preciso considerar que o 
psiquismo se forma socialmente na relação dialética entre o biológico e o 
psicológico. 
A materialidade também está presente na ideia, no pensamento. Nosso 
psiquismo é unidade material/ideal (matéria/ideia). Nesse sentido também há uma 
relação dialética entre as funções psicológicas elementares e superiores. 
A função educativa visa à prevalência de um dos polos, da prevalência do 
cultural (das funções psicológicas superiores) sobre o biológico (das funções 
psicológicas elementares). Em sala de aula o professor terá de trabalhar com 
esses dois vetores. 
Exemplo: em relação ao fenômeno da violência e indisciplina em sala de 
aula, é preciso compreender que está faltando o autodomínio da conduta. Antes 
 
 
6 
de atacar o resultado tenho de pensar nos antecedentes, no que está originando 
esse fenômeno. Como desenvolvemos a autoconduta? Nós adultos precisamos 
dirigir esse processo de desenvolvimento do autodomínio da conduta na criança. 
Inicialmente esse processo ocorre de fora para dentro, do interpessoal para virar 
intrapessoal, para que o aluno possa ter autonomia e dirigir suas ações. Se não 
promover o desenvolvimento do autodomínio no indivíduo ele permanecerá 
controlado por outro. 
Para nos orientarmos no mundo é preciso fazer as representações mentais. 
A formação da imagem subjetiva precisa guardar a realidade objetiva. A formação 
de conceitos é condição para o ordenamento lógico da imagem subjetiva. O 
desenvolvimento do psiquismo não vai acontecer de forma natural, é preciso que 
ocorra mediações. Os conteúdos a serem ensinados são mediadores, o que 
possibilita ao sujeito requalificar o objeto. A mediação é uma interposição que 
provoca transformações. Processos mediados transformam a imagem e a ação 
desse sujeito perante o objeto. 
Nesse sentido, o ensino visa a promover o desenvolvimento por meio da 
aprendizagem e desse processo resulta algo transformado. O objetivo é o de 
promover as transformações das funções psicológicas elementares com vistas às 
funções psicológicas superiores para nossa humanização. O papel fundamental 
do ensino é o autodomínio. 
A natureza das atividades escolares é imprescindível para o 
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. É preciso que o professor 
defina como irá organizar o ensino, de forma a trabalhar com os alunos os 
conteúdos universais. Como disponibilizar ao aluno os mediadores culturais que 
transformam as funções psicológicas para o autodomínio. 
As palavras em seus significados possuem uma história de formação. A 
representação mental da palavra se altera na medida em que a palavra se 
transforma em ato de pensamento. Palavra e pensamento não se desenvolvem 
num mesmo sentido. Vygotsky (1991) destaca a formação de etapas em relação 
ao desenvolvimento de conceitos (palavra). 
Na primeira fase a palavra é meramente extensão do objeto. O pensamento 
é sincrético, representa o desenvolvimento inicial do psiquismo. Não há ainda 
entrelaçamento entre pensamento e palavra. Para a criança nessa fase inexiste 
uma representação simbólica do mundo. Pensamento nesse momento é a 
 
 
7 
expressão das funções perceptuais, da emoção, da ação. A imagem subjetiva do 
objeto é um emaranhado, é sincrético. 
A conquista do pensamento sincrético ao complexo resulta do 
conhecimento dos significados da palavra. Nessa fase ocorre o entrecruzamento 
entre o pensamento e a linguagem. A passagem do pensamento de sincrético ao 
pensamento complexo ocorre no período da infância até a adolescência e 
demanda intervenções. 
1.1 Pressupostos da pedagogia histórico-crítica 
Para Saviani (2002), o trabalho pedagógico diz respeito ao trabalho não 
material. A escola é o espaço do conhecimento sistematizado, da 
transmissão/apropriação dos conhecimentos. O homem é um produto biológico, 
social, cultural que passa por um processo de humanização. No processo de 
ensino-aprendizagem o professor desempenha um papel fundamental. 
Baseado nos estudos sobre a pedagogia histórico-crítica, Gasparin 
formulou os passos para uma didática fundamentada nas etapas de um processo 
metodológico que consiste em: 
1. Prática social: ponto de partida 
2. Problematização 
3. Instrumentalização 
4. Catarse 
5. Prática social: ponto de chegada 
Na prática social: ponto de partida ocorre a listagem do conteúdo. 
Manifestação da vivência do conteúdo: o que o aluno já sabe? O que gostaria de 
saber mais? Na problematização ocorre a discussão sobre os principais 
problemas postos pela prática social e pelo conteúdo. Na instrumentalização as 
ações docentes e discentes voltam-se para a apropriação do conhecimento. O 
professor deve traçar as estratégias que garantirão a apropriação do 
conhecimento pelo aluno. O aluno é o sujeito social do conhecimento, o conteúdo 
é o objeto social do conhecimento e o professor é o mediador social do 
conhecimento. A catarse é a elaboração teórica da síntese, da nova postura 
mental, representa a totalidade concreta. É a expressão da síntese, compreende 
a avaliação, atendendo às dimensões trabalhadas. Por fim, a prática social: 
ponto de chegada trata da prática educativa. Representa uma nova vivência do 
 
 
8 
conteúdo, uma nova postura prática, uma nova atitude sobre o conteúdo, as ações 
do aluno diante de uma nova prática social do conteúdo. 
O movimento dialético está presente nesse processo. É preciso 
compreender as mediações que esse ciclo compõe. São elementos do processo 
didático: objetivos, conteúdos, metodologias, método de ensino. Há uma interação 
entre esses aspectos. As mediações que a pedagogia histórico-crítica propõe é 
que distanciam essa pedagogia das concepções construtivistas, que apenas 
colocam o foco na aprendizagem e não no processo de ensino. 
O processo didático reflete as relações da sociedade a qual pertence. A 
maioria das didáticas não faz essa relação entre os processos sociais e a didática 
e sobre os resultados no processo ensino-aprendizagem. É necessário 
compreender a dimensão política, psicológica, epistemológica do processo do 
ensino-aprendizagem. 
A didática trata das questões da apropriação e assimilação dos 
conhecimentos sistematizados. O professor tem um papel fundamental pois ele 
terá de relacionar aquele recorte do conteúdo que fez na aula com a totalidade 
maior, da realidade social. 
TEMA 2 – O TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
Arce e Martins (2010) destacam que o atendimento às crianças de 0 a 3 
anos tem sido sob a forma da informalidade e para as de 4 a 5 anos na educação 
formal. O Brasil tem atendido apenas 18% das crianças de 0 a 3 anos. Esse 
atendimento tem ocorrido por meio de ações socioeducativas compensatórias 
recorrendo ao trabalho voluntário para o atendimento da criança de 0 a 3 anos. 
Tal atendimento não tem sido visto como um direito da criança. As autoras 
destacam uma ausência de políticas públicas para o atendimento dessa faixa 
etária. 
A concepção hegemônica atualmente é aquela que vê a criança como 
consumidora. As pesquisas têm apontado a presença de uma visão da criança 
como detentora de superpoderes, como protagonista de sua vida e como 
produtora de conhecimentos, dessa maneira,o adulto teria pouco a lhe ensinar. 
Ocorre um processo de infantilização do adulto. É comum ouvirmos as seguintes 
expressões: “vou dar voz às crianças”, “vou deixá-las livres”. Tais expressões são 
compreendidas como uma evolução sobre o tratamento a ser dado às crianças. 
Não se pode fazer nada ou dizer nada que vá cercear o seu desenvolvimento. 
 
 
9 
No entanto, essa atitude de resistência a utilizar qualquer ação que vá 
cercear a criança acaba por limitá-la. É preciso parar e pensar quem é essa 
criança. 
O que é a criança? 
Em relação à criança de 0 a 3 anos, o atendimento tem sido voltado para 
compensar carências, aliviar a pobreza, dar orientação às famílias. Ocorre a 
construção da pedagogia da infância, uma infância romantizada. A criança é 
compreendida como sujeito com superpoderes. Esse discurso sedutor encontra 
grande ressonância entre os professores. É um discurso referendado pela 
ignorância do conhecimento sobre o que é a infância e que tem como 
consequência o esvaziamento do trabalho educacional. 
Essa ideologia dos superpoderes referenda preconceitos e práticas 
erradas, e o esvaziamento do trabalho do professor tem colaborado para a 
condição da criança estar sendo cada vez mais para a medicalização. O número 
de crianças diagnosticadas como hiperativas tem aumentado consideravelmente. 
É preciso compreender como a criança aprende. Resgatar o que significa 
ter uma infância feliz. Essas questões não estão presentes na formação de 
professores. 
Precisamos avançar no estudo das metodologias, nas práticas 
pedagógicas, que ainda são muito marcadas em nossas escolas pela abordagem 
escolanovista. É preciso estudar e compreender como essas práticas foram se 
construindo para superá-las. 
Para Pasqualini (2011), a prática pedagógica na educação infantil tem sido 
marcada por uma perspectiva antiescolar presente na educação infantil. Nesse 
sentido nega-se a pertinência do ato de ensinar na educação infantil. 
É preciso assumir a defesa pelo ato de ensinar na educação infantil, pois o 
desenvolvimento humano depende das apropriações objetivadas. O professor 
ocupa nesse processo um papel fundamental, pois ele é o responsável pela 
organização do trabalho pedagógico que será realizado na educação infantil. 
Por isso o processo do ensino não é qualquer atividade, mas sim uma 
atividade organizada para atingir um fim que é a aprendizagem. O ensino é um 
processo dirigido pelo professor e intencional pelo qual a criança participa e que 
deve promover o desenvolvimento da criança. Dessa forma afirma-se que o 
ensino é promotor de desenvolvimento. 
 
 
10 
Assim, é necessário compreender quem é a criança de 0 a 5 anos de idade 
e quais são os seus processos de desenvolvimento. 
O desenvolvimento humano é marcado por diferentes períodos. Por isso é 
necessário o professor ter planejado o ensino de forma a possibilitar o avanço do 
aluno, daí a importância de se ter definido o currículo que será trabalhado, quais 
os conteúdos a serem ensinados. Dessa forma o ensino estará possibilitando 
saltos qualitativos no desenvolvimento do psiquismo. 
Por isso quando falamos em fases de desenvolvimento não dá para pensá-
las como processos naturais. Não são as condições naturais que vão dirigir o 
desenvolvimento humano, mas sim as condições histórico-sociais, ou seja, as 
mediações sociais que serão promotoras de desenvolvimento humano. 
Pasqualini (2011) apresenta a periodização do desenvolvimento humano 
respaldando-se nos estudos realizados sobre as obras de Leontiev. Para isso 
toma a “atividade” como constituição do psiquismo e para a periodização do 
desenvolvimento. 
É preciso entender como a “atividade” vai se transformando e se 
complexificando em cada período do desenvolvimento da criança, pois esses 
períodos vão sendo definidos pela “atividade dominante”. 
1º período: “comunicação com o adulto”. Esse período é marcado pela 
conquista da criança em estabelecer uma relação de comunicação com o adulto. 
Essa comunicação é de base emocional e ocorre no primeiro ano de vida da 
criança. A mediação do adulto produz na criança uma necessidade cada vez maior 
de se apropriar dos objetos culturais. Essa necessidade faz surgir uma nova 
atividade, a de “manipulação de objetos”. 
2º período: “atividade objetal manipulatória”. Nesse momento a criança se 
esforça para compreender o uso social dos objetos pelos adultos. Ela quer 
compreender como se usa um objeto socialmente. Esse período vai dos 2 aos 3 
anos de idade. A atividade manipulatória é mediada pelo adulto que organiza esse 
processo. O adulto vai explicitar para a criança o significado social daquele objeto. 
O adulto é que estará potencializando o desenvolvimento psíquico da criança. 
Mas essa atividade objetal também vai se esgotando como fonte de 
desenvolvimento e a criança começa a perceber novos aspectos das relações 
humanas. 
3º período: “atividade jogo de papéis” ou “jogo protagonizado”. A 
brincadeira permite que a criança se aproprie da realidade social objetiva em que 
 
 
11 
está inserida. Nesse sentido, a intervenção do educador na brincadeira infantil é 
essencial para potencializar o desenvolvimento da criança. 
Por esse motivo não dá para dizer que toda a brincadeira irá promover 
desenvolvimento, para isso a brincadeira tem de contar com a intervenção do 
adulto. Essa intervenção é que irá promover os saltos qualitativos. 
A educação infantil deve criar as bases para que a criança possa se 
apropriar da escrita. 
4º período: “atividade de estudo”. Esse período é o da idade escolar. As 
objetivações da cultura é que fornecerão os elementos para o desenvolvimento 
da criança. A função do professor é organizar essa atividade. Importância do 
planejamento. 
Dessa forma conclui-se que o trabalho com a brincadeira na educação 
infantil é fundamental, mas que esse trabalho precisa ser planejado para atingir 
fins pedagógicos e promover o desenvolvimento e a aprendizagem na criança. 
TEMA 3 – O TRABALHO COM A ALFABETIZAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO 
ENSINO FUNDAMENTAL 
Segundo Marsiglia (2011), é preciso pensar a alfabetização das crianças e 
para isso a autora apresenta uma retrospectiva histórica sobre as questões da 
alfabetização no Brasil. Toma como ponto de partida os métodos tradicionais das 
cartilhas (Método Sintético, Método Analítico, Método Misto). Tais métodos se 
caracterizavam por se basearem nas unidades menores da língua, como letras, 
sílabas ou palavras, como no caso dos métodos sintéticos. Ou pelo trabalho com 
as unidades maiores da língua, como pequenos textos, frases ou palavras, no 
caso dos métodos analíticos. Ou como uma mistura dos sintéticos e analíticos no 
caso dos métodos mistos. Todos eles descontextualizados da realidade social e 
das práticas sociais do uso da leitura e da escrita e com um forte apelo a 
memorização e repetição. 
Na década de 1980 os estudos de Emília Ferreiro baseados nos 
pressupostos piagetianos (psicogênese da língua escrita) chegam ao Brasil e 
apresentam uma nova proposta de alfabetização. Essa abordagem construtivista 
influenciou fortemente os trabalhos dos alfabetizadores no Brasil. 
Emília Ferreiro estava preocupada em fazer uma nova proposta para 
superar os antigos métodos de alfabetização, a criança era entendida como 
construtora do conhecimento, nesse sentido apregoava-se que não era mais 
 
 
12 
necessário o professor utilizar os antigos métodos de alfabetização que apelavam 
fortemente para o processo de silabação. A compreensão é que deveria se 
trabalhar com base no texto, pois acreditava-se que por meio desse trabalho se 
iriam superar os altos índices de analfabetismo. Na década de 1990 o 
construtivismo já era hegemônico em todo o Brasil. 
Na década de 1990 Magda Soares traz para o debate questões sobre a 
alfabetização e o letramento. Segundo sua proposta no período inicial da 
alfabetização, é necessário trabalhar comas crianças a relação grafema/fonema 
para posteriormente iniciar o trabalho com os gêneros textuais. Magda Soares 
destaca em seus estudos que o trabalho em sala de aula deve se basear em 
práticas de uso real da língua escrita e falada. 
Já Marsiglia (2011) aponta que o construtivismo ainda tem uma forte 
influência sobre os professores, e pesquisas mostram que o método fônico está 
sendo implantado em vários municípios. Segundo a autora é necessário encontrar 
uma outra forma de alfabetizar as crianças. Esse é um desafio que se coloca para 
todos os educadores. 
Para Vygotsky (2012) a aprendizagem da escrita é de grande importância 
para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. A escrita exige um 
alto grau de abstração. Antes de escrever a criança deve tomar consciência da 
estrutura grafema/fonema. 
Para a pedagogia histórico-crítica e a abordagem histórico-cultural não é 
qualquer ensino que promoverá o desenvolvimento. O ensino que promoverá 
desenvolvimento é o assentado sobre o conhecimento científico. 
Para isso é preciso nos perguntar: como ocorre o processo de 
interiorização das letras? 
A interiorização dos signos linguísticos não ocorre de forma mecânica. A 
possibilidade de que a criança avance ocorre por um complexo processo de 
mediação, esse avanço permite a passagem de um nível de aprendizagem a 
outro. 
A função da escola é garantir a apropriação dos conhecimentos 
sistematizados, no caso específico da alfabetização será o domínio dos símbolos 
linguísticos. A criança dominará a escrita simbólica quando dominar o sistema 
alfabético. Os métodos de alfabetização que estão sendo utilizados nas escolas 
ainda não estão dando conta de garantir essa apropriação pelos alunos. É preciso 
pensar em outras formas de ensinar. 
 
 
13 
Para Marsiglia (2011) a prática educativa no ensino fundamental não é 
linear, não há um predeterminismo no que se refere ao desenvolvimento humano. 
O professor é quem dirige o processo educativo, ele cria os motivos da 
aprendizagem. Os alunos têm de início considerações empíricas que fazem parte 
do senso comum. Dessa forma, precisam ser subsidiados para superar essa 
primeira visão, a qual será possível pelo acesso ao saber sistematizado. 
O acesso aos conteúdos escolares potencializa o desenvolvimento do 
psiquismo, por isso é fundamental que o professor organize as formas pelas quais 
garantirá a apropriação do conhecimento pelo aluno. 
O aprender a escrever pode ter diferentes finalidades dependendo de qual 
é a concepção norteadora do ensino. Para o construtivismo, quanto menos se 
ensina mais se aprende. Para a pedagogia histórico-crítica a atividade educativa 
é intencional e o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. O 
desenvolvimento não é endógeno, mas sim social. Se o aluno escreve errado cabe 
ao professor selecionar os procedimentos que irá utilizar para instrumentalizar o 
aluno para que este se aproprie da escrita convencional. 
O papel da educação é o de superar a esfera do conhecimento cotidiano 
instrumentalizando o aluno com o saber escolar, o saber sistematizado. Dessa 
forma o ato educativo é intencional e possibilita a superação das visões 
fragmentadas. O trabalho pedagógico possibilita o avanço do aluno. Ao se 
apropriar do conhecimento o aluno desenvolve suas funções psicológicas 
superiores. 
TEMA 4 – O TRABALHO COM A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO 
ESCOLAR 
Barroco (2011) procura trazer as contribuições da psicologia para a 
educação escolar. As pesquisas em relação à educação especial têm seguido por 
enfoques construtivistas ou behavioristas. Os alunos têm sido submetidos a 
avaliações e classificados em estágios de desenvolvimento. Vygotsky apresenta 
uma nova teoria sobre a formação do homem dentro de uma perspectiva 
humanizadora. 
Vivemos num tempo de defesa à educação inclusiva. No entanto constata-
se uma contradição entre o que é proposto e a realidade, ou seja, o que de fato 
ocorre. 
 
 
14 
A LDB coloca que o atendimento do aluno especial deve ocorrer 
preferencialmente na rede regular de ensino. No entanto, ocorre uma contradição, 
pois isso só garantido na lei, na prática o que se verifica são processos de 
exclusão. 
A Declaração de Salamanca é o documento norteador sobre a inclusão. 
Ele propõe uma educação inclusiva, mas o problema é que não se consideram as 
bases da sociedade atual, ou seja, o capitalismo, que não oferece as condições 
objetivas para a inclusão. 
Vygotsky estudou as pessoas com deficiência e notou que a pedagogia 
aplicada a esses sujeitos era uma pedagogia caduca, pois se atentava somente 
para o que o sujeito não tinha, para suas limitações e não para suas possibilidades 
(Barroco, 2011). 
Vygotsky traz a compreensão científica da aprendizagem e do 
desenvolvimento humano. O sujeito nasce com um equipamento biológico e em 
contato com as condições sócio-históricas é que ele vai tendo condições de se 
desenvolver. Ele teve como preocupação superar a descrição da deficiência para 
tentar explicar o porquê a criança era deficiente. Do campo do biológico para o 
social. Tentou em seus estudos criar formas para que essas crianças pudessem 
aprender (Barroco, 2011). 
Entender o homem significa investigar o desenvolvimento do psiquismo. O 
professor ocupa papel fundamental no processo do ensino, ele mediará o 
processo do ensino-aprendizagem. 
A questão da flexibilização do currículo deve ser vista com cuidado no 
ensino dos alunos de inclusão, pois é fundamental que o professor ensine. A 
questão da promoção dos alunos também deve ser vista com cuidado, pois não 
se deve promover para outras séries o aluno sem que ele se aproprie do mínimo 
possível. Ao promover o aluno sem os conteúdos mínimos se limita o seu 
desenvolvimento (isso deve ser levado em consideração para os alunos com ou 
sem deficiência). 
Quanto mais o aluno estiver em contato com as objetivações humanas mais 
terá a possibilidade de desenvolvimento. Dessa forma ele não conta somente com 
a sua base inata. Sobre essa base inata é necessária a construção de um edifício 
cultural (memória, pensamento prático-social) para seu processo de 
humanização. 
 
 
15 
É necessário promover a apropriação do plano interpsicológico para o 
intrapsicológico, do plano natural para o plano cultural. O sujeito vai internalizar o 
conteúdo cultural ao seu conteúdo próprio. 
É preciso assumirmos a defesa da boa escola pública, a qual deve ser um 
espaço privilegiado para a apropriação dos conhecimentos sistematizados pela 
classe trabalhadora. 
Devemos levar a criança a se apropriar dos instrumentos culturais que 
promoverão o seu desenvolvimento, portanto a escola tem um papel fundamental. 
Todos podem aprender, cabe à escola e ao professor oferecer aos alunos as 
melhores mediações. 
TEMA 5 – O PEDAGOGO E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO 
INSTRUMENTO DE CONSTRUÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA 
O pedagogo é o articulador da organização do trabalho pedagógico na 
escola pública. Seu trabalho caracteriza-se pela mediação do trabalho do 
professor na gestão da sala de aula, para tal precisará buscar fundamentação no 
projeto político-pedagógico da escola. 
O projeto político-pedagógico é o documento norteador do trabalho 
pedagógico da escola. Ele precisa ser construído coletivamente com a 
participação de toda a comunidade escolar. Nele se encontra a proposta de escola 
e de homem que se quer formar, bem como os princípios didático-pedagógicos 
que nortearão o trabalho de toda a escola e de seus profissionais. Nele também 
se encontram definidas as estratégias ou o plano de ação da escola para atingir 
tais fins e metas educacionais. 
Na próxima aula discutiremos mais a fundo o projeto político-pedagógico e 
a organização do trabalho pedagógico, bem como a importância do trabalho do 
pedagogo nesse processo. 
 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
ARCE, A.; MARTINS, L. M. Quem tem medo de ensinarna educação infantil. 
Campinas, SP: Editora Alínea, 2010. 
BARROCO, S. M. S. Pedagogia histórico-crítica, psicologia histórico-cultural e 
educação especial: em defesa do desenvolvimento da pessoa com e sem 
deficiência. In: MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. 
Campinas, SP: Autores Associados, 2011. 
DUARTE, N. A individualidade para si: contribuições a uma teoria histórico-
crítica da formação do indivíduo. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2013. 
MARSIGLIA, A. C. G. A prática pedagógica histórico-crítica na educação 
infantil e ensino fundamental. Campinas, SP: Autores Associados, 2011a. 
MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas, SP: 
Autores Associados, 2011b. 
MARTINS, L. M. Pedagogia histórico-crítica e psicologia histórico-cultural. In: 
Marsiglia, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores 
Associados, 2011. 
PASQUALINI, J. C. A educação escolar da criança pequena na perspectiva 
histórico-cultural e histórico-crítica. In: MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico-
crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. 
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze 
teses sobre a educação política. 35. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 
2002. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo). 
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo, SP: Martins 
Fontes, 1991. 
VYGOTSKY, L . S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 12. ed. São 
Paulo: Ícone, 2012.

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