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AULA 2 GESTÃO DEMOCRÁTICA Profª Cristhyane Ramos Haddad 2 CONVERSA INICIAL A natureza do trabalho pedagógico e a democratização do ensino Nesta aula traremos para discussão qual é a função social da escola, tomando para isso os estudos de diferentes autores do campo crítico da educação. A escola assume diferentes funções que estão atreladas ao homem e à sociedade que se quer formar. Para as teorias neoliberais, como vimos na aula anterior com as teorias neoprodutivistas, neoconstrutivistas, neotecnicistas, a escola deveria servir como manutenção do sistema vigente, perpetuando a divisão de classes, formando uma minoria para assumir os postos de comando enquanto a maioria seria formada para ocupar postos no mercado de trabalho. Aprendemos sobre a Teoria do Capital Humano que se na década de 1970 a escola tinha por objetivo formar trabalhadores para ocupar vagas no mercado de trabalho, na década de 1990 passa a ter por objetivo formar trabalhadores polivalentes, capazes de assumir diferentes funções no trabalho da fábrica. Nesta aula veremos que dentro das teorias críticas a função da escola é outra, pois o compromisso dela é com a formação humana integral, visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. Uma escola que possibilite a todos a apropriação dos conhecimentos sistematizados pela humanidade ao longo do processo histórico. Traremos os estudos de Saviani, responsável pela criação da pedagogia histórico-crítica, e os estudos do psicólogo Lev Vygotsky, idealizador da psicologia histórico-cultural. Veremos que o professor e o pedagogo ocupam um papel central nessas concepções na área da pedagogia e na área da psicologia, na medida em que são responsáveis pela organização do trabalho pedagógico na sala de aula e na escola, e é pelo seu trabalho que se pode promover os avanços no processo de aprendizagem dos estudantes. Também discutiremos a função principal que o projeto político-pedagógico possui como documento norteador do trabalho na escola. Por fim, abordaremos a articulação entre o projeto político-pedagógico, a proposta pedagógica curricular e o regimento escolar. 3 TEMA 1 – A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NAS TEORIAS CRÍTICAS DA EDUCAÇÃO Como apontamos inicialmente, os estudos que apresentaremos nesta aula se baseiam na pedagogia histórico-crítica e na psicologia histórico-cultural, ambas teorias têm seus fundamentos no materialismo histórico-dialético. Para tais teorias a realidade é dialética, ela é produto de contradições. O pensamento e a consciência humana são construídos sobre essas determinações materiais. Para Marx, as circunstâncias fazem os homens, mas, por outro lado, os homens fazem as circunstâncias, pois a ação humana é sempre uma ação intencional. O ser humano é um ser produzido pelas relações humanas e produtor dessas mesmas relações. Produz e transforma a realidade e é transformado por ela. Há, portanto, uma dialética entre o ser humano e a realidade. Essa premissa é base para a pedagogia histórico-crítica e para a transformação da sociedade para o socialismo. Podemos nos tornar sujeitos de nossa formação. O ser humano pode determinar os rumos da humanidade? Ou ele é apenas um joguete determinado pela realidade? Ainda há concepções biologizantes e naturalizantes que compreendem que o ser humano é o que seu código genético determina. Para tais teorias não somos capazes de determinar os rumos da humanidade. O ser humano é o que é, tomam o indivíduo isolado da totalidade social. Apregoam a redução do ser humano ao imediato. Diferentemente disso, o ser humano numa perspectiva marxista considera a dialética entre indivíduo e coletivo. Não existe uma humanidade constituída. A humanidade é resultado de um processo histórico. Os conceitos de objetivação e apropriação em Marx se tornam fundamentais para compreendermos as relações entre a relação entre indivíduo e gênero humano coletivo. A dialética entre objetivação e apropriação nasce na atividade humana, quando o ser humano começou a produzir essa realidade humanizada. Na atividade humana o ser humano se apropria dos fenômenos sociais (por exemplo: pedra e pedra lascada, que é um objeto social). Nesse processo o ser humano se objetiva. Esse objeto pode ser apropriado pela atividade humana, e envolve a participação de diversos seres humanos. A cultura é tudo aquilo que é resultado da atividade humana objetivada. Tem um caráter cumulativo. A atividade humana é uma atividade física e mental. Por 4 exemplo, a língua falada é atividade mental acumulada e também atividade física. É atividade de elaboração do pensamento, mas também uso do aparelho fonador. A atividade humana objetivada na cultura se incorpora aos indivíduos. A cultura é apropriada pelos indivíduos. Não há desenvolvimento do ser humano se não houver a apropriação da cultura. As funções humanas mais desenvolvidas surgem nas relações sociais e pela apropriação da cultura. Diante disso se coloca a seguinte questão: como a educação poderá desenvolver o pensamento? Há diferentes visões sobre essa questão. Há um grupo que compreende que o pensamento não se desenvolve pela aquisição do conhecimento. Mas há um segundo grupo que acredita que o conhecimento científico, artístico, filosófico e a atividade humana objetivada são organizados e sistematizados por meio dos conteúdos escolares, os quais possibilitam a apropriação do conhecimento pela mediação do professor. A escola deve produzir no aluno necessidades superiores e não apenas satisfazer suas necessidades imediatas. Nenhum aluno chega na escola tendo a necessidade do conhecimento sistematizado, é a escola que deve produzir nele essa necessidade. As necessidades cotidianas cerceiam nosso desenvolvimento, o que nos leva a um processo de alienação. Segundo Duarte (2013), essa necessidade do conhecimento promove a passagem do “em si” – “para si”. Ir além do “em si”. Por isso a escola deve trabalhar com a ciência, a filosofia, a arte, ou seja, a escola precisa trabalhar com os conteúdos curriculares. A pedagogia histórico-crítica defende a socialização do conhecimento, a prática social em sua totalidade, o que contribui para o desenvolvimento do indivíduo. O desenvolvimento da individualidade alcançará níveis superiores à medida que as relações entre os homens forem transformadas, no sentido de que todos possam ter acesso aos bens materiais e patrimônio produzido pela ciência, pela arte, pela cultura. A pedagogia histórico-crítica propõe a passagem da síncrese à síntese, do conhecimento cotidiano ao conhecimento elaborado. Parte da prática social, mas compreende que é preciso oportunizar o acesso à apropriação do conhecimento sistematizado. Nesse sentido o professor desempenha um papel fundamental em sala de aula, ao qual precisa aliar a dimensão da competência técnica de seu trabalho com o compromisso político, ou seja, que aluno quero formar e para qual sociedade. 5 Para Martins (2011), a educação escolar desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do psiquismo humano. Quando se minimiza a educação escolar impacta-se sobre a construção do subjetivo, o que leva ao empobrecimento da subjetividade humana. Portanto, privar o aluno do conhecimento escolar vai muito além de deixar de ensinar os conteúdos, a maior consequência impacta o desenvolvimento do psiquismo, que fica limitado. O ensino orientado pelos conteúdos científicos na escola possibilita a internalização de signos, a aprendizagem de significados construídos historicamente. O ensino dos conteúdos científicos é condição para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores. A forma mais elaborada de expressão do psiquismo é a consciência. Somente pela consciência dos sujeitos da sua condição de classe é que se poderá transformar as condições sociais, por meio da disponibilizaçãode ferramentas (signos) que possibilitem operar as transformações necessárias. O traço em comum da pedagogia histórico-crítica e da psicologia histórico- cultural é a formação psíquica. Mas não é qualquer aprendizagem que promove o desenvolvimento, mas a atividade planejada e intencional para atingir esse fim. Mas o que é o psiquismo? A resposta para essa questão foi dada de formas diferentes. A psicologia histórico-cultural procurou superar as explicações fragmentárias e a-históricas. Para a psicologia histórico-cultural compreender o psiquismo dentro do enfoque histórico, implica compreender as transformações engendradas nas suas múltiplas determinações em sua concreticidade. Para definir, portanto, o que é o psiquismo, é preciso considerar que o psiquismo se forma socialmente na relação dialética entre o biológico e o psicológico. A materialidade também está presente na ideia, no pensamento. Nosso psiquismo é unidade material/ideal (matéria/ideia). Nesse sentido também há uma relação dialética entre as funções psicológicas elementares e superiores. A função educativa visa à prevalência de um dos polos, da prevalência do cultural (das funções psicológicas superiores) sobre o biológico (das funções psicológicas elementares). Em sala de aula o professor terá de trabalhar com esses dois vetores. Exemplo: em relação ao fenômeno da violência e indisciplina em sala de aula, é preciso compreender que está faltando o autodomínio da conduta. Antes 6 de atacar o resultado tenho de pensar nos antecedentes, no que está originando esse fenômeno. Como desenvolvemos a autoconduta? Nós adultos precisamos dirigir esse processo de desenvolvimento do autodomínio da conduta na criança. Inicialmente esse processo ocorre de fora para dentro, do interpessoal para virar intrapessoal, para que o aluno possa ter autonomia e dirigir suas ações. Se não promover o desenvolvimento do autodomínio no indivíduo ele permanecerá controlado por outro. Para nos orientarmos no mundo é preciso fazer as representações mentais. A formação da imagem subjetiva precisa guardar a realidade objetiva. A formação de conceitos é condição para o ordenamento lógico da imagem subjetiva. O desenvolvimento do psiquismo não vai acontecer de forma natural, é preciso que ocorra mediações. Os conteúdos a serem ensinados são mediadores, o que possibilita ao sujeito requalificar o objeto. A mediação é uma interposição que provoca transformações. Processos mediados transformam a imagem e a ação desse sujeito perante o objeto. Nesse sentido, o ensino visa a promover o desenvolvimento por meio da aprendizagem e desse processo resulta algo transformado. O objetivo é o de promover as transformações das funções psicológicas elementares com vistas às funções psicológicas superiores para nossa humanização. O papel fundamental do ensino é o autodomínio. A natureza das atividades escolares é imprescindível para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. É preciso que o professor defina como irá organizar o ensino, de forma a trabalhar com os alunos os conteúdos universais. Como disponibilizar ao aluno os mediadores culturais que transformam as funções psicológicas para o autodomínio. As palavras em seus significados possuem uma história de formação. A representação mental da palavra se altera na medida em que a palavra se transforma em ato de pensamento. Palavra e pensamento não se desenvolvem num mesmo sentido. Vygotsky (1991) destaca a formação de etapas em relação ao desenvolvimento de conceitos (palavra). Na primeira fase a palavra é meramente extensão do objeto. O pensamento é sincrético, representa o desenvolvimento inicial do psiquismo. Não há ainda entrelaçamento entre pensamento e palavra. Para a criança nessa fase inexiste uma representação simbólica do mundo. Pensamento nesse momento é a 7 expressão das funções perceptuais, da emoção, da ação. A imagem subjetiva do objeto é um emaranhado, é sincrético. A conquista do pensamento sincrético ao complexo resulta do conhecimento dos significados da palavra. Nessa fase ocorre o entrecruzamento entre o pensamento e a linguagem. A passagem do pensamento de sincrético ao pensamento complexo ocorre no período da infância até a adolescência e demanda intervenções. 1.1 Pressupostos da pedagogia histórico-crítica Para Saviani (2002), o trabalho pedagógico diz respeito ao trabalho não material. A escola é o espaço do conhecimento sistematizado, da transmissão/apropriação dos conhecimentos. O homem é um produto biológico, social, cultural que passa por um processo de humanização. No processo de ensino-aprendizagem o professor desempenha um papel fundamental. Baseado nos estudos sobre a pedagogia histórico-crítica, Gasparin formulou os passos para uma didática fundamentada nas etapas de um processo metodológico que consiste em: 1. Prática social: ponto de partida 2. Problematização 3. Instrumentalização 4. Catarse 5. Prática social: ponto de chegada Na prática social: ponto de partida ocorre a listagem do conteúdo. Manifestação da vivência do conteúdo: o que o aluno já sabe? O que gostaria de saber mais? Na problematização ocorre a discussão sobre os principais problemas postos pela prática social e pelo conteúdo. Na instrumentalização as ações docentes e discentes voltam-se para a apropriação do conhecimento. O professor deve traçar as estratégias que garantirão a apropriação do conhecimento pelo aluno. O aluno é o sujeito social do conhecimento, o conteúdo é o objeto social do conhecimento e o professor é o mediador social do conhecimento. A catarse é a elaboração teórica da síntese, da nova postura mental, representa a totalidade concreta. É a expressão da síntese, compreende a avaliação, atendendo às dimensões trabalhadas. Por fim, a prática social: ponto de chegada trata da prática educativa. Representa uma nova vivência do 8 conteúdo, uma nova postura prática, uma nova atitude sobre o conteúdo, as ações do aluno diante de uma nova prática social do conteúdo. O movimento dialético está presente nesse processo. É preciso compreender as mediações que esse ciclo compõe. São elementos do processo didático: objetivos, conteúdos, metodologias, método de ensino. Há uma interação entre esses aspectos. As mediações que a pedagogia histórico-crítica propõe é que distanciam essa pedagogia das concepções construtivistas, que apenas colocam o foco na aprendizagem e não no processo de ensino. O processo didático reflete as relações da sociedade a qual pertence. A maioria das didáticas não faz essa relação entre os processos sociais e a didática e sobre os resultados no processo ensino-aprendizagem. É necessário compreender a dimensão política, psicológica, epistemológica do processo do ensino-aprendizagem. A didática trata das questões da apropriação e assimilação dos conhecimentos sistematizados. O professor tem um papel fundamental pois ele terá de relacionar aquele recorte do conteúdo que fez na aula com a totalidade maior, da realidade social. TEMA 2 – O TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Arce e Martins (2010) destacam que o atendimento às crianças de 0 a 3 anos tem sido sob a forma da informalidade e para as de 4 a 5 anos na educação formal. O Brasil tem atendido apenas 18% das crianças de 0 a 3 anos. Esse atendimento tem ocorrido por meio de ações socioeducativas compensatórias recorrendo ao trabalho voluntário para o atendimento da criança de 0 a 3 anos. Tal atendimento não tem sido visto como um direito da criança. As autoras destacam uma ausência de políticas públicas para o atendimento dessa faixa etária. A concepção hegemônica atualmente é aquela que vê a criança como consumidora. As pesquisas têm apontado a presença de uma visão da criança como detentora de superpoderes, como protagonista de sua vida e como produtora de conhecimentos, dessa maneira,o adulto teria pouco a lhe ensinar. Ocorre um processo de infantilização do adulto. É comum ouvirmos as seguintes expressões: “vou dar voz às crianças”, “vou deixá-las livres”. Tais expressões são compreendidas como uma evolução sobre o tratamento a ser dado às crianças. Não se pode fazer nada ou dizer nada que vá cercear o seu desenvolvimento. 9 No entanto, essa atitude de resistência a utilizar qualquer ação que vá cercear a criança acaba por limitá-la. É preciso parar e pensar quem é essa criança. O que é a criança? Em relação à criança de 0 a 3 anos, o atendimento tem sido voltado para compensar carências, aliviar a pobreza, dar orientação às famílias. Ocorre a construção da pedagogia da infância, uma infância romantizada. A criança é compreendida como sujeito com superpoderes. Esse discurso sedutor encontra grande ressonância entre os professores. É um discurso referendado pela ignorância do conhecimento sobre o que é a infância e que tem como consequência o esvaziamento do trabalho educacional. Essa ideologia dos superpoderes referenda preconceitos e práticas erradas, e o esvaziamento do trabalho do professor tem colaborado para a condição da criança estar sendo cada vez mais para a medicalização. O número de crianças diagnosticadas como hiperativas tem aumentado consideravelmente. É preciso compreender como a criança aprende. Resgatar o que significa ter uma infância feliz. Essas questões não estão presentes na formação de professores. Precisamos avançar no estudo das metodologias, nas práticas pedagógicas, que ainda são muito marcadas em nossas escolas pela abordagem escolanovista. É preciso estudar e compreender como essas práticas foram se construindo para superá-las. Para Pasqualini (2011), a prática pedagógica na educação infantil tem sido marcada por uma perspectiva antiescolar presente na educação infantil. Nesse sentido nega-se a pertinência do ato de ensinar na educação infantil. É preciso assumir a defesa pelo ato de ensinar na educação infantil, pois o desenvolvimento humano depende das apropriações objetivadas. O professor ocupa nesse processo um papel fundamental, pois ele é o responsável pela organização do trabalho pedagógico que será realizado na educação infantil. Por isso o processo do ensino não é qualquer atividade, mas sim uma atividade organizada para atingir um fim que é a aprendizagem. O ensino é um processo dirigido pelo professor e intencional pelo qual a criança participa e que deve promover o desenvolvimento da criança. Dessa forma afirma-se que o ensino é promotor de desenvolvimento. 10 Assim, é necessário compreender quem é a criança de 0 a 5 anos de idade e quais são os seus processos de desenvolvimento. O desenvolvimento humano é marcado por diferentes períodos. Por isso é necessário o professor ter planejado o ensino de forma a possibilitar o avanço do aluno, daí a importância de se ter definido o currículo que será trabalhado, quais os conteúdos a serem ensinados. Dessa forma o ensino estará possibilitando saltos qualitativos no desenvolvimento do psiquismo. Por isso quando falamos em fases de desenvolvimento não dá para pensá- las como processos naturais. Não são as condições naturais que vão dirigir o desenvolvimento humano, mas sim as condições histórico-sociais, ou seja, as mediações sociais que serão promotoras de desenvolvimento humano. Pasqualini (2011) apresenta a periodização do desenvolvimento humano respaldando-se nos estudos realizados sobre as obras de Leontiev. Para isso toma a “atividade” como constituição do psiquismo e para a periodização do desenvolvimento. É preciso entender como a “atividade” vai se transformando e se complexificando em cada período do desenvolvimento da criança, pois esses períodos vão sendo definidos pela “atividade dominante”. 1º período: “comunicação com o adulto”. Esse período é marcado pela conquista da criança em estabelecer uma relação de comunicação com o adulto. Essa comunicação é de base emocional e ocorre no primeiro ano de vida da criança. A mediação do adulto produz na criança uma necessidade cada vez maior de se apropriar dos objetos culturais. Essa necessidade faz surgir uma nova atividade, a de “manipulação de objetos”. 2º período: “atividade objetal manipulatória”. Nesse momento a criança se esforça para compreender o uso social dos objetos pelos adultos. Ela quer compreender como se usa um objeto socialmente. Esse período vai dos 2 aos 3 anos de idade. A atividade manipulatória é mediada pelo adulto que organiza esse processo. O adulto vai explicitar para a criança o significado social daquele objeto. O adulto é que estará potencializando o desenvolvimento psíquico da criança. Mas essa atividade objetal também vai se esgotando como fonte de desenvolvimento e a criança começa a perceber novos aspectos das relações humanas. 3º período: “atividade jogo de papéis” ou “jogo protagonizado”. A brincadeira permite que a criança se aproprie da realidade social objetiva em que 11 está inserida. Nesse sentido, a intervenção do educador na brincadeira infantil é essencial para potencializar o desenvolvimento da criança. Por esse motivo não dá para dizer que toda a brincadeira irá promover desenvolvimento, para isso a brincadeira tem de contar com a intervenção do adulto. Essa intervenção é que irá promover os saltos qualitativos. A educação infantil deve criar as bases para que a criança possa se apropriar da escrita. 4º período: “atividade de estudo”. Esse período é o da idade escolar. As objetivações da cultura é que fornecerão os elementos para o desenvolvimento da criança. A função do professor é organizar essa atividade. Importância do planejamento. Dessa forma conclui-se que o trabalho com a brincadeira na educação infantil é fundamental, mas que esse trabalho precisa ser planejado para atingir fins pedagógicos e promover o desenvolvimento e a aprendizagem na criança. TEMA 3 – O TRABALHO COM A ALFABETIZAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Segundo Marsiglia (2011), é preciso pensar a alfabetização das crianças e para isso a autora apresenta uma retrospectiva histórica sobre as questões da alfabetização no Brasil. Toma como ponto de partida os métodos tradicionais das cartilhas (Método Sintético, Método Analítico, Método Misto). Tais métodos se caracterizavam por se basearem nas unidades menores da língua, como letras, sílabas ou palavras, como no caso dos métodos sintéticos. Ou pelo trabalho com as unidades maiores da língua, como pequenos textos, frases ou palavras, no caso dos métodos analíticos. Ou como uma mistura dos sintéticos e analíticos no caso dos métodos mistos. Todos eles descontextualizados da realidade social e das práticas sociais do uso da leitura e da escrita e com um forte apelo a memorização e repetição. Na década de 1980 os estudos de Emília Ferreiro baseados nos pressupostos piagetianos (psicogênese da língua escrita) chegam ao Brasil e apresentam uma nova proposta de alfabetização. Essa abordagem construtivista influenciou fortemente os trabalhos dos alfabetizadores no Brasil. Emília Ferreiro estava preocupada em fazer uma nova proposta para superar os antigos métodos de alfabetização, a criança era entendida como construtora do conhecimento, nesse sentido apregoava-se que não era mais 12 necessário o professor utilizar os antigos métodos de alfabetização que apelavam fortemente para o processo de silabação. A compreensão é que deveria se trabalhar com base no texto, pois acreditava-se que por meio desse trabalho se iriam superar os altos índices de analfabetismo. Na década de 1990 o construtivismo já era hegemônico em todo o Brasil. Na década de 1990 Magda Soares traz para o debate questões sobre a alfabetização e o letramento. Segundo sua proposta no período inicial da alfabetização, é necessário trabalhar comas crianças a relação grafema/fonema para posteriormente iniciar o trabalho com os gêneros textuais. Magda Soares destaca em seus estudos que o trabalho em sala de aula deve se basear em práticas de uso real da língua escrita e falada. Já Marsiglia (2011) aponta que o construtivismo ainda tem uma forte influência sobre os professores, e pesquisas mostram que o método fônico está sendo implantado em vários municípios. Segundo a autora é necessário encontrar uma outra forma de alfabetizar as crianças. Esse é um desafio que se coloca para todos os educadores. Para Vygotsky (2012) a aprendizagem da escrita é de grande importância para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. A escrita exige um alto grau de abstração. Antes de escrever a criança deve tomar consciência da estrutura grafema/fonema. Para a pedagogia histórico-crítica e a abordagem histórico-cultural não é qualquer ensino que promoverá o desenvolvimento. O ensino que promoverá desenvolvimento é o assentado sobre o conhecimento científico. Para isso é preciso nos perguntar: como ocorre o processo de interiorização das letras? A interiorização dos signos linguísticos não ocorre de forma mecânica. A possibilidade de que a criança avance ocorre por um complexo processo de mediação, esse avanço permite a passagem de um nível de aprendizagem a outro. A função da escola é garantir a apropriação dos conhecimentos sistematizados, no caso específico da alfabetização será o domínio dos símbolos linguísticos. A criança dominará a escrita simbólica quando dominar o sistema alfabético. Os métodos de alfabetização que estão sendo utilizados nas escolas ainda não estão dando conta de garantir essa apropriação pelos alunos. É preciso pensar em outras formas de ensinar. 13 Para Marsiglia (2011) a prática educativa no ensino fundamental não é linear, não há um predeterminismo no que se refere ao desenvolvimento humano. O professor é quem dirige o processo educativo, ele cria os motivos da aprendizagem. Os alunos têm de início considerações empíricas que fazem parte do senso comum. Dessa forma, precisam ser subsidiados para superar essa primeira visão, a qual será possível pelo acesso ao saber sistematizado. O acesso aos conteúdos escolares potencializa o desenvolvimento do psiquismo, por isso é fundamental que o professor organize as formas pelas quais garantirá a apropriação do conhecimento pelo aluno. O aprender a escrever pode ter diferentes finalidades dependendo de qual é a concepção norteadora do ensino. Para o construtivismo, quanto menos se ensina mais se aprende. Para a pedagogia histórico-crítica a atividade educativa é intencional e o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. O desenvolvimento não é endógeno, mas sim social. Se o aluno escreve errado cabe ao professor selecionar os procedimentos que irá utilizar para instrumentalizar o aluno para que este se aproprie da escrita convencional. O papel da educação é o de superar a esfera do conhecimento cotidiano instrumentalizando o aluno com o saber escolar, o saber sistematizado. Dessa forma o ato educativo é intencional e possibilita a superação das visões fragmentadas. O trabalho pedagógico possibilita o avanço do aluno. Ao se apropriar do conhecimento o aluno desenvolve suas funções psicológicas superiores. TEMA 4 – O TRABALHO COM A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO ESCOLAR Barroco (2011) procura trazer as contribuições da psicologia para a educação escolar. As pesquisas em relação à educação especial têm seguido por enfoques construtivistas ou behavioristas. Os alunos têm sido submetidos a avaliações e classificados em estágios de desenvolvimento. Vygotsky apresenta uma nova teoria sobre a formação do homem dentro de uma perspectiva humanizadora. Vivemos num tempo de defesa à educação inclusiva. No entanto constata- se uma contradição entre o que é proposto e a realidade, ou seja, o que de fato ocorre. 14 A LDB coloca que o atendimento do aluno especial deve ocorrer preferencialmente na rede regular de ensino. No entanto, ocorre uma contradição, pois isso só garantido na lei, na prática o que se verifica são processos de exclusão. A Declaração de Salamanca é o documento norteador sobre a inclusão. Ele propõe uma educação inclusiva, mas o problema é que não se consideram as bases da sociedade atual, ou seja, o capitalismo, que não oferece as condições objetivas para a inclusão. Vygotsky estudou as pessoas com deficiência e notou que a pedagogia aplicada a esses sujeitos era uma pedagogia caduca, pois se atentava somente para o que o sujeito não tinha, para suas limitações e não para suas possibilidades (Barroco, 2011). Vygotsky traz a compreensão científica da aprendizagem e do desenvolvimento humano. O sujeito nasce com um equipamento biológico e em contato com as condições sócio-históricas é que ele vai tendo condições de se desenvolver. Ele teve como preocupação superar a descrição da deficiência para tentar explicar o porquê a criança era deficiente. Do campo do biológico para o social. Tentou em seus estudos criar formas para que essas crianças pudessem aprender (Barroco, 2011). Entender o homem significa investigar o desenvolvimento do psiquismo. O professor ocupa papel fundamental no processo do ensino, ele mediará o processo do ensino-aprendizagem. A questão da flexibilização do currículo deve ser vista com cuidado no ensino dos alunos de inclusão, pois é fundamental que o professor ensine. A questão da promoção dos alunos também deve ser vista com cuidado, pois não se deve promover para outras séries o aluno sem que ele se aproprie do mínimo possível. Ao promover o aluno sem os conteúdos mínimos se limita o seu desenvolvimento (isso deve ser levado em consideração para os alunos com ou sem deficiência). Quanto mais o aluno estiver em contato com as objetivações humanas mais terá a possibilidade de desenvolvimento. Dessa forma ele não conta somente com a sua base inata. Sobre essa base inata é necessária a construção de um edifício cultural (memória, pensamento prático-social) para seu processo de humanização. 15 É necessário promover a apropriação do plano interpsicológico para o intrapsicológico, do plano natural para o plano cultural. O sujeito vai internalizar o conteúdo cultural ao seu conteúdo próprio. É preciso assumirmos a defesa da boa escola pública, a qual deve ser um espaço privilegiado para a apropriação dos conhecimentos sistematizados pela classe trabalhadora. Devemos levar a criança a se apropriar dos instrumentos culturais que promoverão o seu desenvolvimento, portanto a escola tem um papel fundamental. Todos podem aprender, cabe à escola e ao professor oferecer aos alunos as melhores mediações. TEMA 5 – O PEDAGOGO E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO INSTRUMENTO DE CONSTRUÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA O pedagogo é o articulador da organização do trabalho pedagógico na escola pública. Seu trabalho caracteriza-se pela mediação do trabalho do professor na gestão da sala de aula, para tal precisará buscar fundamentação no projeto político-pedagógico da escola. O projeto político-pedagógico é o documento norteador do trabalho pedagógico da escola. Ele precisa ser construído coletivamente com a participação de toda a comunidade escolar. Nele se encontra a proposta de escola e de homem que se quer formar, bem como os princípios didático-pedagógicos que nortearão o trabalho de toda a escola e de seus profissionais. Nele também se encontram definidas as estratégias ou o plano de ação da escola para atingir tais fins e metas educacionais. Na próxima aula discutiremos mais a fundo o projeto político-pedagógico e a organização do trabalho pedagógico, bem como a importância do trabalho do pedagogo nesse processo. 16 REFERÊNCIAS ARCE, A.; MARTINS, L. M. Quem tem medo de ensinarna educação infantil. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010. BARROCO, S. M. S. Pedagogia histórico-crítica, psicologia histórico-cultural e educação especial: em defesa do desenvolvimento da pessoa com e sem deficiência. In: MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. DUARTE, N. A individualidade para si: contribuições a uma teoria histórico- crítica da formação do indivíduo. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2013. MARSIGLIA, A. C. G. A prática pedagógica histórico-crítica na educação infantil e ensino fundamental. Campinas, SP: Autores Associados, 2011a. MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores Associados, 2011b. MARTINS, L. M. Pedagogia histórico-crítica e psicologia histórico-cultural. In: Marsiglia, A. C. G. Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. PASQUALINI, J. C. A educação escolar da criança pequena na perspectiva histórico-cultural e histórico-crítica. In: MARSIGLIA, A. C. G. Pedagogia histórico- crítica: 30 anos. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 35. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo). VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1991. VYGOTSKY, L . S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 12. ed. São Paulo: Ícone, 2012.
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