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História - 2023

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CÓD: SL-118MA-23
7908433236764
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO 
DE SÃO PAULO 
SEE-SP 
Professor de Ensino Fundamental 
e Médio - HISTÓRIA
a solução para o seu concurso!
Editora
EDITAL DE ABERTURA DE INSCRIÇÕES Nº 01/2023
INTRODUÇÃO
a solução para o seu concurso!
Editora
Como passar em um concurso público?
Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro 
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como 
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução 
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.
Então mãos à obra!
• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter 
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você 
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma 
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito, 
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não 
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É 
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha 
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto 
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque 
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses 
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais 
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma 
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é 
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo 
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação 
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!
INTRODUÇÃO
a solução para o seu concurso!
Editora
O concurso SEE-SP é uma oportunidade única para quem deseja ingressar no serviço público como servidor da 
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por isso, é importante se preparar adequadamente para enfrentar 
essa prova desafiadora. A Editora Solução se orgulha de apresentar uma apostila exclusiva para Conhecimentos 
Específicos - Especialidade, a fim de auxiliar os estudantes a alcançar seus objetivos.
Nosso material foi organizado de forma a introduzir o aluno no que é cobrado pelo edital e nas principais 
bibliografias indicadas para o concurso. Ressaltamos que a apostila é uma ferramenta introdutória e complementar 
aos estudos. Para obter um conhecimento completo, é fundamental que o estudante vá atrás de cada bibliografia e 
documento oficial indicado no edital.
Nossa apostila visa auxiliar na compreensão dos principais pontos cobrados no edital, assim como fornecer uma 
base teórica sólida para a resolução de questões. Acreditamos que, com dedicação e empenho, nossos alunos terão 
sucesso nesse desafio.
É importante lembrar que, além do conteúdo abordado na apostila, o edital do concurso SEE-SP também 
exige conhecimentos específicos em outras áreas. Por isso, é fundamental que o estudante busque informações 
complementares em outras fontes.
Por fim, ressaltamos a importância do estudo sério e constante, bem como a dedicação ao aprendizado. 
Desejamos a todos um excelente preparo e sucesso no concurso SEE-SP. A Editora Solução está à disposição para 
auxiliar no que for preciso.
ÍNDICE
a solução para o seu concurso!
Editora
Conhecimentos 
1. Das correntes teórico-metodológicas da História e da historiografia, visando compreender a historicidade da produção do 
conhecimento e de seus conceitos e narrativas ........................................................................................................................ 7
2. Das diferentes fontes históricas e linguagens como ferramentas de apoio e suporte para o processo de ensino e aprendiza-
gem no cotidiano de sala de aula .............................................................................................................................................. 7
3. De diferentes e múltiplas temporalidades – tempo social, tempo cronológico e tempo histórico – dentro de um movimento 
dialético com ritmos variados e simultâneos de tempo no decorrer da História que expressam a diversidade das experiências 
humanas, por meio de suas múltiplas manifestações ............................................................................................................... 8
4. Da História e seus paradigmas para além da periodização tradicional – dentro das modalidades temporais (História Antiga, 
Medieval, Moderna e Contemporânea) e espaciais (História da África, Oriente, Europa, América e do Brasil) – problematizan-
do temas e ressignificando a interpretação e construção do conhecimento histórico .............................................................. 8
5. Dos patrimônios: históricos, naturais, culturais (materiais e imateriais), que representam conhecimentos, valores, crenças e 
práticas de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço .......................................................................................... 9
6. Da preservação da memória individual e coletiva como reconstrução de identidades, experiências vividas no passado e 
direito à cidadania, diferenciando da memória oficial de camadas privilegiadas em diversas sociedades historicamente situ-
adas ............................................................................................................................................................................................ 9
7. De elementos socioculturais que constituem a formação histórica brasileira, promovendo o estudo das questões da alteri-
dade e a análise de situações históricas de reconhecimento e valorização da diversidade, responsáveis pela construção das 
identidades individual e coletiva................................................................................................................................................
10
8. Das principais características das civilizações antigas quanto à organização da vida material e cultural, considerando questões 
centrais como o surgimento do Estado e as formas de sociedade e de religiosidade ............................................................... 12
9. Da Idade Média a partir de suas relações de poder, as práticas econômicas e sociais, o renascimento urbano e as experiências 
religiosas .................................................................................................................................................................................... 13
10. Das sociedades escravistas, agenciadores e comércio de escravos, formas de acumulação e relações de dominação na anti-
guidade, na Idade Moderna e na contemporaneidade ............................................................................................................. 20
11. Da formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços na compreensão das relações de poder que deter-
minam territorialidades, observando o papel geopolítico dos Estados-nações ........................................................................ 21
12. Das relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, assim como o papel dessas rela-
ções na construção, consolidação e transformação das sociedades ......................................................................................... 21
13. Das relações sociais de trabalho ao longo da história, seus impactos técnicos, tecnológicos e informacionais em diferentes 
contextos histórico-sociais e de sua importância para a cidadania ........................................................................................... 22
14. Dos movimentos populacionais e de mercadorias no tempo e no espaço, tendo em vista os significados históricos para as 
diferentes populações................................................................................................................................................................ 23
15. Dos objetos de conhecimentos e princípios das Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008 .............................................................. 24
16. Dos aspectos mais marcantes da relação entre europeus e comunidades indígenas das Américas, frente à expropriação das 
terras destes e de seus valores culturais e sociais ..................................................................................................................... 24
17. Da contribuição dos africanos nas sociedades coloniais, destacando as culturas, práticas religiosas, trajetórias de vida, rela-
ções de dependência e subordinação, lutas e resistências antes e depois da escravidão na sociedade brasileira ................... 25
18. Das demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (in-
cluindo os quilombolas) no Brasil contemporâneo, considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão 
desses grupos na ordem social e econômica hodierna ............................................................................................................. 31
19. Da historicidade dos princípios da Declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade e fraterni-
dade de forma a compreender progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas sociedades da contempo-
raneidade ................................................................................................................................................................................... 32
Bibliografia Livros e Artigos
1. ALENCASTRO. Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 
2000. .......................................................................................................................................................................................... 47
2. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. ............................................ 47
3. BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2011 ................................................. 48
4. DANAGA, Amanda Cristina; PEGGION, Edmundo Antônio. Povos indígenas em São Paulo: novos olhares. São Carlos: EDUFS-
CAR, 2016. .................................................................................................................................................................................. 49
5. FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001 ................................. 49
6. JULIA, Dominic. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, São Paulo, v. 1, n. 1, jan./
jun. 2001. ................................................................................................................................................................................... 50
7. MUNANGA, Kabengele e GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2016. ........................................ 59
8. NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008 .................................................. 59
Publicações Institucionais
1. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista. São Paulo: SEDUC, [2019]. p. 451–488 ............................... 69
2. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista: etapa ensino médio. São Paulo: SEDUC, 2020. p. 167–178, 
229–239, 257–262, 271–277, 286–294 ..................................................................................................................................... 69
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a solução para o seu concurso!
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CONHECIMENTOS 
DAS CORRENTES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA HISTÓ-
RIA E DA HISTORIOGRAFIA, VISANDO COMPREENDER A 
HISTORICIDADE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E DE 
SEUS CONCEITOS E NARRATIVAS
São diversas as formas de historiografia, ou seja, de se regis-
trar a história. A essas formas denominamos escolas historiográ-
ficas, e cada uma tem uma interpretação diferente a respeito dos 
fatos passados a partir das fontes. Elas podem ser marxistas, posi-
tivistas ou Escola de Annales. 
A Historiografia Marxista, também conhecida como como 
Materialismo Histórico, apresenta a perspectiva marxista da 
percepção do passado. Ela teve em sua origem na influência do 
filósofo alemão George Wilhelm Hegel (1770-1831), cuja teoria 
inaugurou uma linha de pensamento que teve grande impacto so-
bre história da humanidade, sobretudo, no século XX. A partir das 
noções de dialética de Hegel, Karl Marx (1818-1833) passou a re-
conhecer o papel do homem como sujeito da história e, com isso, 
as massas adquiriram enorme relevância nos acontecimentos que 
marcaram a História. A corrente de pensadores e teóricos que 
adotam o paradigma interpretativo de Marx considera a vida em 
sociedade com base na luta de classes. Além disso, essa verten-
te está profundamente relacionada ao socialismo, pois manifesta 
ideias antagônicas ao sistema capitalista, estimulando o conflito 
de classes, assim como o embate entre as forças produtivas e a 
acumulação material.
 A escola historiográfica positivista teve sua origem nas teo-
rias do filósofo Conde de Saint Simon (1760-1825). Segundo essa 
perspectiva, existe a humanidade está em constante evolução, 
nunca, portanto, vindo a regredir. A corrente positivista abrange 
a própria história, no que diz respeito aos feitos da humanidade, 
e é responsável, também, pelo surgimento da Sociologia. A frase 
gravada na bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”, faz referência 
à constante evolução, demonstrando a influência das teorias posi-
tivistas nos símbolos nacionais brasileiros. 
 O movimento historiográfico denominado Escola dos Anna-
les teve origem no início do século XX, na França. Os paradigmas 
de se pensar e redigir sobre os fatos passados
conquistaram um 
progresso significativo já no século XVIII, momento em que a His-
tória começou a ser considerada ciência. Assim, a historiografia 
sofreu muitas transformações metodológicas, que introduziram 
novos tipos de estudo levaram a um conhecimento mais amplo 
da realidade passada. 
 A historiografia passou por grandes modificações em sua me-
todologia, que permitiram maior conhecimento do cotidiano do 
passado, através da incorporação de novos tipos de fontes de pes-
quisa. Porém, somente muitos anos depois, mais especificamen-
te em 1930, uma nova corrente historiográfica surgiria. No início, 
a proposta era combater a perspectiva positivista do registro da 
História, corrente que vinha predominando até então. Com base 
nessa nova perspectiva, os fatos históricos passariam a ser regis-
trados como uma crônica de eventos. Esse novo paradigma se 
propunha a substituir as visões sintéticas precedentes por estudos 
de processos de duração prolongada, com o objetivo de levar a 
um entendimento mais amplo e elaborado civilizações passadas.
DAS DIFERENTES FONTES HISTÓRICAS E LINGUAGENS 
COMO FERRAMENTAS DE APOIO E SUPORTE PARA O PRO-
CESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NO COTIDIANO DE 
SALA DE AULA
História e suas fontes 
História é a ciência humana que estuda o desenvolvimento 
do homem no tempo. A História analisa os processos históricos, 
personagens e fatos para poder compreender um determinado 
período histórico, cultura ou civilização. Entender o passado tam-
bém é importante para a compreensão do presente. O grego He-
ródoto, que viveu no século V a.C é considerado o “pai da Histó-
ria” e primeiro historiador, pois foi o pioneiro na investigação do 
passado para obter o conhecido histórico.
A palavra História tem origem no antigo termo grego “histo-
rie”, que significa “conhecimento através da investigação”.
Fontes históricas são os instrumentos que o historiador utili-
za para estudar a história. As fontes históricas são categorizadas 
em: documentos escritos, fontes materiais, relatos orais, visuais e 
audiovisuais.
Fontes ou documentos escritos: são as fontes históricas mais 
comumente utilizadas pelos historiadores.
Trazem informações escritas em certidões, cartas, testamen-
tos, jornais, letras de músicas, livros, receituários, discursos, diá-
rios, autobiografias, revistas, textos de órgãos públicos, religiosos 
e de empresas. Em geral, encontram-se guardados em arquivos 
universitários e governamentais, igrejas, cartórios, centros de do-
cumentos de empresas ou em coleções particulares.
Fontes materiais: são os vestígios materiais, os objetos. Sinais 
que o homem deixa pelos lugares por onde passa, que podem ser 
vistos em vários sítios arqueológicos abertos à visitação pública 
ou em museus especializados. Exemplos: cerâmicas com elemen-
tos femininos, pedras talhadas e polidas, sambaquis (grandes con-
cheiros formados por restos de mariscos e que, às vezes, podem 
atingir vários metros de altura; apresentam vestígios de enterra-
mentos, mas também podem conter objetos de pedra em forma 
de animais, os zoólitos), móveis, utensílios, indumentárias etc.
Fontes ou relatos orais: são os registros feitos a partir de en-
trevistas, que podem ser gravadas ou escritas, com pessoas que 
participaram de acontecimentos do passado ou os testemunha-
ram.
CONHECIMENTOS 
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a solução para o seu concurso!
Editora
Fontes visuais ou iconográficas: são imagens, pinturas, fo-
tografias, anúncios de publicidade e outros, sempre importantes 
como fontes históricas informativas de épocas, pessoas e das so-
ciedades nas quais foram produzidos.
Fontes audiovisuais e musicais: nesta categoria, encontram-
-se o cinema, a televisão e os registros sonoros em geral.
DE DIFERENTES E MÚLTIPLAS TEMPORALIDADES – 
TEMPO SOCIAL, TEMPO CRONOLÓGICO E TEMPO HIS-
TÓRICO – DENTRO DE UM MOVIMENTO DIALÉTICO 
COM RITMOS VARIADOS E SIMULTÂNEOS DE TEMPO 
NO DECORRER DA HISTÓRIA QUE EXPRESSAM A DIVER-
SIDADE DAS EXPERIÊNCIAS HUMANAS, POR MEIO 
DE SUAS MÚLTIPLAS MANIFESTAÇÕES
O tempo é uma noção essencial para a existência humana. 
Os povos primitivos definiram a contagem do tempo com base 
na observação assídua dos fenômenos da natureza. Assim, as pri-
meiras orientações de contagem do tempo estabeleciam que o 
dia e a noite, o posicionamento dos astros, a oscilação das marés, 
as fases lunares, ou mesmo a crescença das plantações podiam 
fornecer a noção do quanto tempo tinha se passado. De fato, são 
diversos os critérios para esse cálculo. 
 Na História, a contagem do tempo sofreu variações diversas 
conforme o período e o povo. As primeiras sociedades utilizavam 
os ciclos da natureza, seus costumes e suas crenças como refe-
rência para construírem seus calendários. Assim, os anuários não 
são os mesmos em todas as regiões do mundo. Do mesmo modo, 
existem diferente formas de se considerar a passagem do tempo, 
seja pela perspectiva social, pela cronologia das atividades huma-
nas ou pelos marcos históricos. 
 O tempo social predominante é aquele que possibilita que 
uma sociedade cumpra as ações fundamentais para a produção 
dos meios garantidores sua sobrevivência, permitindo a criação, 
a expressão, a efetivação renovação de seus valores essenciais. 
 O tempo cronológico é o tempo marcado pelas ações da vida 
humana, como o nascimento, o desenvolvimento, a ida aos luga-
res, etc. Em outras palavras, é o tempo que pode ser medido pela 
duração da atividade humana, a marcação do temo em minutos, 
horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios.
 O tempo histórico diz respeito aos fatos que marcam um 
povo, uma nação, ou até mesmo a humanidade em geral. É o tem-
po utilizado pelos historiadores pra determinar que um dado tem-
po se distingue de outro. Como marcos que compõem o tempo 
histórico podemos citar uma revolução, as construções de gran-
des obras o mesmo uma guerra. 
 Assim, nem sempre há correspondência exata entre os tem-
pos cronológicos e históricos, pois há sociedade e civilizações que 
vivem diferentes épocas históricas no mesmo tempo cronológi-
co. É o que ocorre, por exemplo, em nossa sociedade atual que, 
apesar de totalmente informatizada, contempla povos que sequer 
conhecem essa tecnologia. Ainda no interior dessa sociedade in-
formatizada, os níveis de conexão aos quais as pessoas têm acesso 
não são os mesmos. 
 A despeito das muitas diferenças que cercam os tempos his-
tórico e cronológico, os historiadores fazem uso da cronologia 
do tempo para estruturar a construção de suas narrativas. Para-
lelamente, dado que a organização do tempo cronológico pode 
ocorrer por referenciais diversas, o tempo histórico também estão 
sujeitos a variações conforme a sociedade e os critérios que apre-
sentem relevância para o pesquisador dos fatos remotos. Posto 
isso, os dois tipos de tempo têm importância fundamentais para 
que a humanidade organize sua existência. 
DA HISTÓRIA E SEUS PARADIGMAS PARA ALÉM DA PE-
RIODIZAÇÃO TRADICIONAL – DENTRO DAS MODALIDA-
DES TEMPORAIS (HISTÓRIA ANTIGA, MEDIEVAL, MO-
DERNA E CONTEMPORÂNEA) E ESPACIAIS (HISTÓRIA 
DA ÁFRICA, ORIENTE, EUROPA, AMÉRICA E DO BRASIL) 
– PROBLEMATIZANDO TEMAS E RESSIGNIFICANDO 
A INTERPRETAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO CONHECI-
MENTO HISTÓRICO
A tradicional divisão da História em períodos foi originada pe-
los historiadores da Europa visando à simplificação da pesquisa e 
do entendimento da História. Esses períodos foram denominados 
idades, conceito esse que passou a ser empregado para definir 
esses períodos segmentados conforme os aspectos políticos, so-
ciais, econômicos e culturais moderadamente estáveis. Assim, ini-
cialmente, tem-se a Idade da Pedra e a Pré-História; em seguida, 
tem-se a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade 
Contemporânea. Essa forma de periodizar a História compreende 
somente os fatos sucedidos no continente europeu ou relaciona-
dos a ele, desconsiderando os outros povos e civilizações ao redor 
do mundo. 
As principais periodizações 
Era Antiga 
Apesar da organização histórica
europeia como conhecemos, 
os imperadores da China, os reis da Suméria e os faraós do Egito 
já dividiam seus relatos sobre o passado em dinastias e reinados. 
Isso significa que, desde a Antiguidade, a organização da História 
em períodos ou idades já existia. Por exemplo, na Grécia, a Histó-
ria estava segmentada em Idade do Ouro, Idade da Prata, Idade 
do Bronze, Idade Heróica e Idade do Ferro. Outra periodização 
antiga é a cristã, criada por Santo Agostinho, no século V, e que 
consistia na chamada Seis Idades do Mundo, que compreendiam, 
deste a criação do Homem (Adão e e Eva, até o fim dos tempos e 
o Julgamento final. Essa divisão agostiniana remanesceu durante 
a Idade Média, e somente veio a declinar a partir do XVIII, com a 
ascensão do Iluminismo. 
 
Humanista (tripartide) 
A perspectiva medieval teocentrista foi rompida pelo pensa-
mento antropocêntrico humanista, que alçou ao centro da Histó-
ria a figura do Homem. Entre os principais marcos dessa perio-
dização, podemos citar três características: 1) a ideia do século 
como a entendemos hoje (até então, a palavra era utilizada para 
se referir ao cotidiano); 2) concepção depreciativa da Idade Mé-
dia, que passou a ser chamada de “idade das trevas”, pois era vista 
como uma era marcada pelo obscurantismo; 3) a divisão triparti-
de da História em Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna, in-
ventada pelo historiador alemão Christoph Cellarius (1638-1707). 
 
Idade Contemporânea 
As revoluções industrial e francesa impactaram profunda-
mente a concepção de Cellarius de Idade Moderna. Se moderno 
quer dizer recente, nada haveria de mais moderno do que todo 
CONHECIMENTOS 
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a solução para o seu concurso!
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aquele progresso provocado pelos últimos acontecimentos. Dian-
te dessa problemática, começou-se a se falar em Idade Contem-
porânea. 
 
Outras periodizações 
O antropólogo Lewis Henry Morgan (1818-1881) classificou a 
história em três momentos: selvageria, barbárie e civilização. Karl 
Marx, no século XIX, juntamente com o revolucionário Friedrich 
Engels (1820-1895), propôs uma periodização fundamentada nos 
modos de produção, que são comunismo primitivo, modo de pro-
dução escravo, modo de produção feudal, modo de produção ca-
pitalista e comunismo (futuro). 
Por último, no fim da década de 1960, o filósofo Marshall 
McLuhan (1911-1980) propôs a classificação dos períodos histó-
ricos em Era da Mecanização sucedida pela Era da Eletricidade, às 
quais outros historiadores incorporaram a Era do Plástico, a Era 
do Automóvel e a Era da Informação. Ainda que sob muitas con-
testações, esse modelo, denominado periodização quatripartide, 
permanece ativo. 
 
Contestações
O argumento de que é necessário ir além da periodização tra-
dicional repousa no fato de que é inviável validá-la para uma ex-
tensa área de culturas e povos, e estabelecer um dado fato como 
marco para o fim de um período e início de uma nova era. 
A periodização tripartide (Idade Antiga, Idade Média e Idade 
Moderna) não é aplicável aos povos estrangeiros ao continente 
europeu (visto que é eurocêntrica), deixando de lado as histórias 
da África, da Ásia e dos países do Oriente. A História do Brasil, bem 
como a de outros países da Américas foi grandemente impactada 
pelos acontecimentos observados e vivenciados pelo chamado 
Velho Mundo, época em que a Europa era a uma grande potência 
mundial. Já a divisão tradicional acompanha o calendário cristão, 
dividindo-se em “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, e este ca-
lendário não é parâmetro para os muçulmanos, por exemplo, e 
para outros povos arredor do mundo. 
Para muitos historiadores, como o francês Jean Chesneaux 
(1922-2007), a divisão quatripartide, por exemplo, favorece a 
função dos povos e culturas ocidentais na história mundial, e mi-
nimiza a presença e a atração das civilizações não europeias no 
processo de evolução da humanidade. 
Outra crítica a essa classificação dos marcos históricos diz res-
peito à denominação de Pré-História. Essa expressão que literal-
mente quer dizer “antes da História” transmite a noção equivoca-
da de uma época “sem História” — opor natureza, o Homem é um 
ser histórico. Além disso, a escrita teve sua origem sob modos di-
versos em todo o mundo, e em épocas distintas para cada civiliza-
ção. Outro argumento contrário à periodização tradicional é que 
o princípio da História não tem escrita como único determinante. 
Grandes civilizações foram desenvolvidas a partir de sociedades 
sem descrita, chamadas ágrafas. Toda periodização é considerada 
um tanto arbitrária, diante das características de continuidade e 
não generalização que compõem a História. Não há um ano exato 
de começo e término de nenhum período histórico, pois as mu-
danças históricas não ocorrem de forma repentina.
DOS PATRIMÔNIOS: HISTÓRICOS, NATURAIS, CULTU-
RAIS (MATERIAIS E IMATERIAIS), QUE REPRESENTAM 
CONHECIMENTOS, VALORES, CRENÇAS E PRÁTICAS DE 
DIFERENTES SOCIEDADES INSERIDAS NO TEMPO E NO 
ESPAÇO
Denomina-se Patrimônio Histórico, Natural ou Cultural a to-
talidade de bens apreciados como interesse público, seja por sua 
relação com os fatos marcantes da História de um país, seja por 
seu incalculável valor etnográfico, arqueológico (natural), artístico 
ou bibliográfico (cultural). O Patrimônio Histórico é composto por 
bens naturais ou materiais que foram concebidos e conservados 
no decorrer da passagem do tempo. 
Patrimônio material é a coleção de bens concretos (tangíveis) 
que integra o patrimônio histórico-cultural. Compreende a soma 
das estruturas, obras, elementos e espaços físicos cujos valores 
e importância históricas, sociais e culturais fazem da salvaguarda 
desses bens um interesse nacional. No Brasil, o órgão responsável 
por essa preservação é o Iphan (Instituto do Património Histórico 
e Artístico Nacional). 
Patrimônio imaterial, também denominado patrimônio intan-
gível, é a definição empregada por muitos países e organizações 
internacionais como complementação à noção de patrimônio 
material na elaboração e direcionamento de políticas protetivas e 
preventivas dos patrimônios culturais, de acordo com uma visão 
relativista e antropológica dos bens culturais. O conceito abrange 
todo o referencial simbólico das formas sociais e culturais de cria-
ção, transmissão e exercício contínuo das tradições e dos hábitos 
elementares para a a constituição das identidades dos grupos, das 
comunidades, das divisões sociais, dos povos e das nações. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1998 é a fundamentação 
legal para as políticas de patrimônio cultural imaterial. No docu-
mento, mais especificamente no artigo no 216, estão relacionados 
desde sítios arqueológicos, construções urbanísticas, obras arqui-
tetônicas e artísticas (patrimônio material), até as manifestações 
de caráter imaterial, como os conhecimentos da cultura popular, 
as celebrações, as práticas religiosas, os artesanatos, a literatura 
oral, as línguas bebidas e as comidas, as as músicas e as danças.
DA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA INDIVIDUAL E CO-
LETIVA COMO RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES, EX-
PERIÊNCIAS VIVIDAS NO PASSADO E DIREITO À CIDA-
DANIA, DIFERENCIANDO DA MEMÓRIA OFICIAL DE 
CAMADAS PRIVILEGIADAS EM DIVERSAS SOCIEDA-
DES HISTORICAMENTE SITUADAS
A preservação da memória individual e da memória coletiva 
é importante porque elas constituem fontes históricas ou instru-
mentos úteis para o estudo do passado e a escrita da história. Por 
meio dessas memórias, é possível chegar ao conhecimento dos fa-
tos com base em relatos e, com isso, salvaguardar a cultura, os sa-
beres populares, enfim, essas memórias possibilitam a preserva-
ção e a perpetuação da História de um povo ou de uma sociedade. 
CONHECIMENTOS 
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A memória é a identidade de um povo, visto que ela é uma 
mescla de experiência e vivências e, por isso, e uma ferramenta 
que nos ajuda a relatar as nossas origens ou quem somos, a res-
peito do mundo que nos cerca. E é por proporcionar
o acesso do 
presente do passado, que as memórias devem ser preservadas. 
Entre a História e a memória, existe uma relação na qual es-
paço e tempo se convergem. Isso quer dizer que para se com-
preender melhor a realidade atual e o contexto em que se vive, é 
necessário buscar pelas recordações que nos ajudam a entender 
os acontecimentos, ainda que as lembranças possam estar per-
meadas por perspectivas subjetivas. Considerando as barreiras 
impostas aos relatos em função da subjetividade ou veracidade 
dos fatos, pode-se afirmar que a oralidade auxilia na escrita da 
História. 
A utilização da memória nos processos de elaboração e de 
preservação da História é extremamente relevante, especialmen-
te quando se trata da valorização dos relatos de uma civilização 
como edificadora e componente do processo de construção his-
tórica. A memória não está relacionada à apenas à existência de 
um indivíduo; ela é, em partes, adquirida das gerações anteriores, 
por isso, está sujeita a oscilações conforme o momento em que 
está sendo expressa. 
O uso das memórias de um indivíduo ou de um grupo social 
como fonte de estudo e entendimento dos fatos passados, com 
o olhar do ser humano sobre o tempo, corrobora a compreensão 
acerca das diversas sobre as temporariedades e eventos que im-
pactaram a vivência individual ou coletiva. 
DE ELEMENTOS SOCIOCULTURAIS QUE CONSTITUEM A 
FORMAÇÃO HISTÓRICA BRASILEIRA, PROMOVENDO O 
ESTUDO DAS QUESTÕES DA ALTERIDADE E A ANÁLISE 
DE SITUAÇÕES HISTÓRICAS DE RECONHECIMENTO E 
VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE, RESPONSÁVEIS PELA 
CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES INDIVIDUAL E CO-
LETIVA
A identidade brasileira1 foi decorrente de um processo de cons-
trução histórica, como em diversos outros países. Mesmo tendo se 
iniciado após a Independência, em 1822, o processo de constituição 
da identidade nacional ganhou um impulso maior após a década 
de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. A partir disso, 
pôde-se perceber que a construção da identidade, para além de um 
processo cultural, era também um processo político.
Os esforços para se constituir a identidade brasileira, que tam-
bém é chamada de brasilidade, estão ligados à necessidade de uma 
coesão social que acompanhe a existência de um Estado que admi-
nistra todo o território nacional. 
Para a existência da identidade nacional o fato de a língua por-
tuguesa ser comum a todo o território, apesar de suas particulari-
dades regionais, ela seria então um elemento no conjunto de ele-
mentos culturais comuns que são constitutivos da cultura nacional.
Durante o Primeiro Reinado e o Período Regencial, não houve 
grandes avanços na construção da identidade nacional, a não ser 
a formação de forças repressivas militares para garantir a ordem 
latifundiária e escravocrata em todo o território nacional. Os con-
1 Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobra-
sil/a-identidade-nacao-brasileira.htm Acesso em 19.03.2022
flitos separatistas provinciais das décadas de 1830 e 1840 eram um 
obstáculo à integralidade territorial e também à coesão social do 
país recém-independente.
A forma com que esses conflitos foram reprimidos permite 
perceber que a violência repressiva do Estado contra conflitos so-
ciais que pretendiam alterar a ordem vigente passou também a ser 
constitutiva da identidade nacional. A cultura da violência estatal 
permeou desde o início a formação da identidade nacional.
Já durante a Regência houve outros esforços nesse processo 
de construção identitária. A criação do Instituto Histórico e Geo-
gráfico Brasileiro (IHGB) em 1838 foi o primeiro passo na tentativa 
estatal de refletir sobre temas que estariam relacionados à nação 
brasileira.
No âmbito da Literatura, o surgimento do Romantismo buscou 
também contribuir com a construção dessa identidade. As obras de 
José de Alencar foram um exemplo de aliar a imagem da nação bra-
sileira às suas belezas naturais, como também a mitificação do indí-
gena como componente principal da nação brasileira. Esse trabalho 
literário e cultural buscava criar uma interpretação genuinamente 
brasileira, afastada das influências estrangeiras.
A Proclamação da República e o federalismo instituído na admi-
nistração do Estado espelharam um fortalecimento de movimentos 
culturais regionais, principalmente os ligados à decadente aristocra-
cia das regiões não afetadas pelo crescimento econômico de início 
do século XX. Destacamos como exemplo o Manifesto Regionalista 
de Gilberto Freyre, publicado em 1926.
IDENTIDADE NACIONAL NO BRASIL23
A nação é feita de “um rico legado de lembranças”, que é acei-
to por todos, uma herança simbólica e material.
A identidade nacional é uma criação moderna. Começa a ser 
construída no século XVIII e desenvolve-se plenamente no século 
XIX. Antes dessa época não se pode falar em nações propriamente 
ditas, nem na Europa nem em outras partes do mundo.
A nação nasce de “um postulado e de uma invenção” (THIESSE, 
1999, p. 14). Ela condensa-se numa alma nacional, que deve ser 
elaborada. Uma nação deve apresentar um conjunto de elementos 
simbólicos e materiais: uma história, que estabelece uma continui-
dade com os ancestrais mais antigos; uma série de heróis, modelos 
das virtudes nacionais; uma língua; monumentos culturais; um fol-
clore; lugares importantes e uma paisagem típica; representações 
oficiais, como hino, bandeira, escudo; identificações pitorescas, 
como costumes, especialidades culinárias, animais e árvores-sím-
bolo (THIESSE, 1999, p. 14).
A identidade nacional é um discurso e, por isso, ela, como qual-
quer outro discurso, é constituída dialogicamente (Através do ato 
de dialogar) (BAKHTIN, 1970)
O Brasil representou uma das primeiras experiências bem-su-
cedidas de criar uma nação fora da Europa. A nação é vista como 
uma comunidade de destino, acima das classes, acima das regiões, 
acima das raças. Para isso, é preciso adquirir uma consciência de 
unidade, a identidade, e, ao mesmo tempo, é necessário ter cons-
ciência da diferença em relação aos outros, a alteridade. O grande 
outro da criação da nacionalidade brasileira é Portugal.
2 FIORIN, José Luiz. A construção da identidade nacional brasileira. In: Bakhtinia-
na. São Paulo, v. 1, n.1, p. 115-126, 1º sem.2009.
3 Schwarcz, Lilia K.M. 1995. “Complexo de Zé Carioca –notas sobre uma identi-
dade mestiça e malandra”, RBCS Nº 29, out
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 No entanto, a constituição da nação brasileira apresenta um 
problema, já que a independência é proclamada por um príncipe 
português, herdeiro do trono de Portugal. Não houve, portanto, 
uma ruptura completa com a antiga metrópole. O trabalho de cons-
trução da nacionalidade começa, então, com a nacionalização do 
monarca. Pedro I é mostrado como alguém que renuncia a Portugal 
e assume a nacionalidade brasileira. Nossos livros de História repe-
tem incessantemente o episódio do Dia do Fico, em que o Príncipe 
afronta a Corte Portuguesa, para “fazer o bem de todos e a felici-
dade geral da Nação”. Na célebre representação da independência, 
produzida por Pedro Américo, D. Pedro, do alto de um cavalo, no 
ponto mais elevado da colina do Ipiranga, está com a espada de-
sembainhada, apontada para o céu, gritando “Independência ou 
Morte”. 
Independência ou Morte, do pintor paraibano Pedro Américo (óleo 
sobre tela, 1888).
Fonte: Wikipédia
A descrição desse fato nos manuais de História diz que D. Pe-
dro, antes do grito inaugural de nossa nacionalidade, arrancou fora 
os laços portugueses. Confronte-se essa representação do episó-
dio da Independência, cujos contornos épicos são marcados pela 
majestosa iconografia do Parque do Ipiranga, em São Paulo, com 
aquela apresentada pelo diário do Padre Belchior, confessor de D. 
Pedro. Na construção da identidade brasileira teria que ser levada 
em conta a herança portuguesa e, ao mesmo tempo, apresentar o 
brasileiro como alguém diferente do lusitano. É isso que explica o 
modelo adotado para descrever a cultura brasileira.
No trabalho de constituição da nacionalidade, a literatura teve 
um papel fundamental. Os autores românticos, com especial desta-
que para José de Alencar, estiveram na linha de frente da constru-
ção da identidade nacional. Entre todos os livros de Alencar, o mais 
importante para determinar esse patrimônio identitário é, sem dú-
vida, O guarani. Nele determina-se a paisagem típica do Brasil (o es-
paço da eterna primavera, onde não ocorrem cataclismos naturais, 
como furacões, tornados, terremotos etc.), a singularidade de sua 
língua, mas principalmente o casal ancestral dos brasileiros. Além 
disso, começa-se a elaborar um modelo explicativo da singularida-
de da cultura brasileira, pois é essa especificidade que constituiria o 
Brasil como uma nação.
Começa-se, no Romantismo, a construir a noção de que cultura 
brasileira se assenta na mistura. O romance O guarani, de José de 
Alencar, concebe um mito de origem da nação brasílica. Peri e Cecí-
lia constituem seu casal inicial, formado por um índio que aceitara 
os valores cristãos (1995, p. 268-279) e por uma portuguesa que 
acolhera os valores da natureza do Novo Mundo (1995, p. 279-280). 
Essa nação teria, portanto, um caráter cultural luso-tupi. O mito de 
origem de nosso país opera com a união da natureza com a cultura, 
ou seja, dos valores americanos com os europeus. O Brasil seria, 
assim, a síntese do velho e do novo mundo, construída depois da 
destruição do edifício colonial e dos elementos perversos da natu-
reza. Os elementos lusitanos permanecem, mas modificados pelos 
valores da natureza americana. A nação brasileira aparece depois 
de um dilúvio, em cuja descrição se juntam os mitos das duas civi-
lizações constitutivas de nosso povo, o de Noé e o de Tamandaré 
(1995, p. 291-296).
Na primeira metade do século XX, há outro movimento de 
construção identitária, que se assenta também sobre a mistura, 
pois considera a mestiçagem como o jeito de ser brasileiro. O que 
distingue o Brasil é a assimilação, com a consequente modificação, 
do que é significativo e importante das outras culturas. Não é sem 
razão que Oswald de Andrade erigiu a antropofagia como o princí-
pio constitutivo da cultura brasileira. Em Casa-Grande & Senzala, de 
Gilberto Freyre (1933), considera-se eufórica a mistura: a coloniza-
ção portuguesa é vista como tolerante, aberta, suave, o que levou 
à mestiçagem racial, que não ocorreu nos países colonizados pelos 
ingleses ou pelos franceses, por exemplo. O Brasil celebra a mis-
tura da contribuição de brancos, negros e índios na formação da 
nacionalidade, exaltando o enriquecimento cultural e a ausência de 
fronteiras de nossa cultura. De nosso ponto de vista, o misturado é 
completo; o puro é incompleto, é pobre. Insiste-se no fato de que se 
está falando de autodescrição da cultura brasileira. Há então todo 
um culto à mulata, representante por excelência da raça brasileira; 
do sincretismo religioso, sinal de tolerância; do convívio harmônico 
de culturas que se digladiam em outras partes do mundo, como a 
árabe e a judaica.
Retomando a temática das “três raças”, Gilberto Freyre ofere-
cia uma espécie de nova racionalidade para a sociedade multirracial 
brasileira. Tendo como base teórica o culturalismo norte-americano 
- sem abandonar totalmente os pressupostos raciais dos mestres 
brasileiros -, a obra de Freyre celebrará a singularidade da mesti-
çagem, invertendo os termos da equação e positivando o modelo. 
“Foi o estudo de antropologia sob orientação, do professor Boas 
que primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo valor - se-
parados dos traços da raça os efeitos do ambiente ou da experiên-
cia cultural.” (Freyre, 1933, p. 18).
O “cadinho de raças” surgia como uma nova forma de celebra-
ção do mito das raças - um novo instrumental para a utilização do 
mesmo termo, porém com um novo sentido -, mais evidente aqui 
do que em qualquer outro lugar. “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de 
cabelo louro, traz na alma quando não na alma e no corpo, a som-
bra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.” (Freyre, op. 
cit., p. 307) O brasileiro era, portanto, o resultado sincrético de uma 
mistura bem-feita e original, cuja cultura homogênea e particular 
era também mista.
Com efeito, com esse e outros trabalhos, Freyre fazia uma apo-
logia da civilização luso-tropical, resultado inesperado e original da 
estratégia lusitana de adaptar a civilização europeia aos trópicos. 
Tratava-se de uma civilização simbiótica - que congregava de forma 
sincrética e feliz negros, índios e brancos - e pioneira em função da 
ausência de segregação e de uma miscigenação extremada e sin-
gular.
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O mestiço é nosso
Assim, num momento em que mais uma vez se inventava a nacionalidade, ‘a identidade e as singularidades nacionais se transfor-
mavam rapidamente em “questões de Estado”. É só com o Estado Novo que intelectuais ligados ao poder público implementam projetos 
oficiais nessa direção. A partir desse momento, o “mestiço vira nacional”, paralelamente a um processo crescente de desafricanização de 
vários elementos culturais, simbolicamente clareados em meio a esse contexto.
Hoje tem feijoada
É esse o caso da feijoada, hoje destacada como um «prato típico da culinária brasileira». Originalmente conhecida como «comida 
de escravos», a feijoada se converte, a partir dos anos 30, em «comida nacional», carregando consigo a representação simbólica da 
mestiçagem associada à ideia da nacionalidade. O feijão preto e o arroz branco remetem metaforicamente aos elementos negro e branco 
de nossa população. A eles misturam-se ainda os acompanhamentos: o verde da couve é o verde das nossas matas; o amarelo da laranja, 
um símbolo de nossas potenciais riquezas materiais (Reis, 1994).
Entre capoeiristas
Evidencia-se, portanto, uma aproximação positiva entre as noções de nacionalidade e de mestiçagem, que constituirá matéria-prima 
para a elaboração de símbolos nacionais, sobretudo ao longo das décadas de 30 e 40.
Outro exemplo revelador nesse sentido é a capoeira. Reprimida pela polícia do final do século passado e incluída como crime no Códi-
go Penal de 1890, essa prática é oficializada como modalidade esportiva nacional em 1937 (Reis, 1993). A partir desse contexto, vinga uma 
nova representação para a capoeira, que passa a ser vista como uma “herança da mestiçagem no conflito das raças” e, portanto, como um 
produto “nacional” (Moraes Filho, 1979, p. 257).
Dessa maneira, a “capoeira cruzada” era entendida como fruto da fusão das três raças (branca, negra e índia), quase um exercício da 
famosa fábula das raças; com certeza uma criação original brasileira.
O samba é mestiço
Assim como a capoeira, também o samba passou, durante o século XIX, por trajetórias diversas. Da repressão à exaltação, de “dança 
de preto” a canção brasileira para exportação, o samba passou por percursos variados até se transformar em “produto genuinamente 
nacional”.
DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS QUANTO À ORGANIZAÇÃO DA VIDA MATERIAL E CUL-
TURAL, CONSIDERANDO QUESTÕES CENTRAIS COMO O SURGIMENTO DO ESTADO E AS FORMAS DE SOCIEDADE E DE 
RELIGIOSIDADE
Houve um período conhecido como Idade Antiga, no qual houve o florescimento apogeu de grandes civilizações. Essas civilizações se 
desenvolveram no Oriente Médio e na Europa. Vamos destacar no quadro abaixo as principais civilizações, juntamente com suas caracte-
rísticas principais.
ASPECTO MESOPOTÂMIA EGITO GREGA ROMANA
GEOGRAFIA
• Oriente Médio;
• Entre os rios Tigre e o rio 
Eufrates;
• Crescente Fértil
• Nordeste da África;
• Vale do rio Nilo;
• Região desértica.
• Península Balcânica;
• Ilhas ao longo do mar Egeu;
• Ásia menor;
• Região do Mediterrâneo ao Sul 
da Península Itálica e Ilha de Sicí-
lia.
• Península itálica;
• Foi construído e ex-
pandido o maior impé-
rio da antiguidade.
ECONOMIA
• Agrária e Pastoril;
• Região com poucos re-
cursos naturais;
• Meios de Produção con-
trolados
pelo Estado e 
Templos.
• Trigo, cevada, linho, algo-
dão, frutas e legumes;
• Criação de Animais;
• Dependência do Rio Nilo.
• Produtos artesanais (couro, me-
tal e tecidos);
• Agricultura (vinha, oliveira e 
trigo).
• Agricultura;
• Comércio;
• Conquistas Territoriais.
REGIME 
POLÍTICO • Teocracia • Teocracia
• A Grécia era formada pelas Polis 
(Cidades autônomas)
• A Democracia foi predominante 
em Atenas.
Três Fases:
• Monarquia;
• Republica;
• Império.
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SOCIEDADE
• Rei, Militares, Mercado-
res, Sacerdotes;
• Artesões e camponeses;
• Escravos.
• Rígida hierarquia;
• Faraó e Família;
• Nobre, Sacerdotes e Es-
cribas;
• Artesãos e camponeses;
• Escravos.
Em Atenas:
• Eupátridas;
• Geomores;
• Demiurgos Metecos;
• Escravos.
Em Esparta:
• Espartanos;
• Periecos;
• Hilotas.
• Pátricios;
• Clientes;
• Plebeus;
• Escravos.
ESCRITA • Cuneiforme. • Hieroglífico, hierático e o demótico.
• Utilização de um alfabeto grego 
da fusão de várias culturas.
• Organização de um 
sistema alfabético for-
mado pela fusão do al-
fabeto grego e outros 
elementos.
RELIGIÃO • Politeísta. • Politeísta. • Politeísta;• Mitologia intensa. • Politeísta.
CULTURA
E ARTES
• Zigurates;
• Jardins Suspensos;
• Astronomia;
• Matemática;
• Código de Hamurabi.
• Pirâmides;
• Matemática;
• Geometria;
• Anatomia;
• Mumificação.
• Filosofia;
• Poesia épica e lírica;
• História;
• Artes plásticas;
• Arquitetura;
• Astronomia;
• Física, química, mecânica, ma-
temática e a geometria.
• Esculturas, pinturas, 
mosaicos, arenas;
• Arquitetura: Colunas 
Romanas.
DA IDADE MÉDIA A PARTIR DE SUAS RELAÇÕES DE PODER, AS PRÁTICAS ECONÔMICAS E SOCIAIS, O RENASCIMENTO 
URBANO E AS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS
IDADE MÉDIA E FEUDALISMO
Feudalismo
O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de organização da vida durante a Idade Média na Europa Ocidental. Suas 
origens remontam à crise do Império Romano a partir do século III.
A Idade Média abrange um longo período da história europeia, e é comum dividi-la em duas fases: Alta Idade Média e Baixa Idade 
Média. 
- A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao XI, corresponde à formação e consolidação do sistema feudal; 
- A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV, caracteriza-se pela crise do feudalismo e início da formação do sistema 
capitalista.
A formação do sistema feudal tem início com a crise do século III do Império Romano e acentua-se no século V, com as invasões dos 
povos germânicos. A queda do escravismo, a formação do colonato e a posterior implantação de um regime servil constituem o passo 
decisivo para a formação do sistema. 
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império Romano levaram consigo relações sociais comunitárias de exploração coletiva 
das terras e subordinação aos grandes chefes militares (comitatus). As invasões, além de despovoar as cidades, aumentando a população 
rural, dificultaram as comunicações e provocaram o isolamento das localidades, forçando-as a adotar uma economia de subsistência au-
tossuficiente.
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor maneira, porém, é defini-lo conforme suas relações sociais básicas: re-
lações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), relações comunitárias (entre os servos) e relações servis (que ligavam o mundo dos 
senhores ao mundo dos servos).
Esta última ligação se processava por meio das obrigações, que resultavam das imposições feitas pelo senhor aos servos, de realizar 
paga mentos em produtos ou serviços, e que constituem a própria essência do feudalismo. Tais obrigações eram costumeiras e não con-
tratuais, como ocorre no sistema capitalista. Note-se que o servo era vinculado ao feudo, dele não podendo sair.
Feudos
A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias:
Propriedade privada, no manso senhorial (terra do senhor);
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso comum para senhores e servos); 
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Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso servil. (O 
senhor detinha a posse legal e o servo, a posse útil da terra.)
Levando-se em consideração que a maior parte da produção 
obtida pelo servo não se conservava em suas mãos, pois passava 
para o senhor feudal, seu interesse era mínimo. Associando-se a 
este fato o de que os trabalhos agrícolas eram realizados coletiva-
mente, tolhendo a iniciativa individual, eles resultavam em baixo 
nível da técnica e pequena produtividade: para cada grão semeado, 
colhiam-se dois. Daí o regime de divisão das terras cultiváveis em 
três campos, destinados alternadamente para o plantio de cereais 
e de forragem, reservando-se o terceiro para o descanso (pousio). 
Realizava-se a rotação trienal dos campos, com vistas a impedir o 
esgotamento do solo.
Sociedade Feudal
De acordo com as bases materiais descritas não havia possibi-
lidade de mobilidade social nos feudos: a sociedade era, portanto, 
estamental. O princípio de estratificação era o nascimento, surgindo 
então duas camadas básicas: senhores e servos. Existiam também 
categorias intermediárias, tais como os vilões (camponeses livres) e 
os ministeriais (corpo de funcionários livres do senhor).
O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não havia 
guerras de expansão para apresá-los; além disso, a Igreja condena-
va a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões tendiam a se 
tornar servos, pois de nada lhes adiantava a liberdade dentro da 
insegurança reinante: o fundamental era a obtenção de proteção.
No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais. Os 
senhores feudais viviam com suas famílias em casas fortificadas. 
Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em castelos.
Na base da sociedade feudal estavam os servos, que represen-
tavam aproximadamente 98% da população de um feudo. Os servos 
viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços 
como a corveia, a talha e as banalidades. 
Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do 
nobre por alguns dias da semana; 
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feu-
dal parte de sua produção;
Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização 
do moinho, do forno e demais utensílios pertencentes ao senhor.
Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao 
senhor feudal para permanecer no feudo quando o pai morria. 
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à 
Igreja de sua região.
Outra classe social existente no feudo era o clero, os membros 
da Igreja. Os clérigos eram os responsáveis pela transmissão reli-
giosa e cultural. Também eram os responsáveis pelas leis, que nes-
ta época eram transmitidas pela interpretação religiosa. Isto tudo 
garantia ao clero a responsabilidade pelo caráter moral da socie-
dade. E, não por acaso, que foi neste período que a Igreja Católi-
ca se transformou na mais poderosa instituição da Idade Média. O 
domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com acesso ao 
saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser instruídos 
de educação e, consequentemente, eram os poucos que sabiam ler 
e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos entregues à Igreja.
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade me-
dieval reflete muito bem o pensamento da época, pois para o bispo 
“na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de outros é guerrear 
e de outros trabalhar”. Para a Igreja medieval, cada indivíduo tinha 
um importante papel na sociedade, por isso, deveria executar a sua 
função com zelo e gratidão como se estivesse trabalhando para o 
próprio Deus. Com isso, a Igreja garantia a manutenção da socieda-
de tal e qual ela era.
Relações Vassálicas
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores 
feudais, daí seu caráter localista. Não tendo autoridade efetiva, os 
reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descen-
tralização político-administrativa.
Impossibilitados de
defender o reino, os soberanos delegaram 
essa tarefa aos senhores feudais. Por isso, e com vistas a se prote-
gerem, os senhores procuravam relacionar-se diretamente por um 
compromisso: o juramento de fidelidade. O senhor feudal que o 
prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele que o recebesse seria seu 
suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e vassalos tinham obri-
gações recíprocas, pois à homenagem prestada pelo vassalo corres-
pondia o benefício concedido pelo suserano. Essa relação definia-se 
em um rito denominado “cerimônia de investidura” ou “cerimônia 
de adubamento”.
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Igreja Medieval
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social 
produzida pelas invasões germânicas e ao esfacelamento do Im-
pério Romano, a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu 
manter-se como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa e 
difundindo o cristianismo entre os povos bárbaros.
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja pas-
sou a exercer importante papel em diversos setores da vida medie-
val, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmenta-
ção política da sociedade feudal. 
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias: 
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos mostei-
ros), hierarquizado em padres, bispos, arcebispos etc.
Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que obede-
cia às regras de sua ordem religiosa: beneditinos, franciscanos, do-
minicanos, carmelitas e agostinianos. 
No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o papa, 
bispo de Roma, considerado sucessor do apóstolo Pedro. Nem sem-
pre a autoridade do papa era aceitar por todos os membros da Igre-
ja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, devido, em 
grande parte, à atuação do papa Gregório Magno. 
Além da autoridade religiosa, o papa contava também com o 
poder temporal da Igreja, isto é, o poder advindo da riqueza que 
acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em 
troca da salvação. 
Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um 
terço das terras cultiváveis da Europa Ocidental. 
O papa, desde 756, era o administrador político do Patrimônio 
de São Pedro, o Estado da Igreja, constituído por um território ita-
liano doado pelo rei Pepino, dos francos. 
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em di-
versos conflitos políticos com monarquias medievais. Exemplo mar-
cante desses conflitos é a Questão da Investiduras, no século XI, 
quando se chocaram o papa Gregório VII e o imperador do Sacro 
Império Romano Germânico, Henrique IV.
Questão das Investiduras e o Movimento Reformista 
A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem 
caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos, 
ao papa ou ao imperador. 
As raízes desse conflito remontam a meados do século X, quan-
do o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, iniciou 
um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de 
fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias, nomeou seus 
titulares e, em troca da proteção que concedia ao Estado da Igreja, 
passou a exercer total controle sobre as ações do papa. 
Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima 
crescente de corrupção, afastando-se de sua missão religiosa e, 
com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (no-
meações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os 
bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumin-
do com o soberano acima da fidelidade ao papa. 
No século XI surgiu um movimento reformista, visando recupe-
rar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de 
Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram ganhando força dentro 
da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, 
antigo monge daquela ordem reformista. 
Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que jul-
gou necessárias para recuperar a moral da Igreja. Instituiu o celi-
bato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074, e proibiu 
que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 
1075. Henrique IV, imperador do Sacro Império, reagiu furiosamen-
te à atitude do papa e considerou-o deposto. Gregório VII, em res-
posta, excomungou Henrique IV. Desenvolveu-se, então, um confli-
to aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual 
do papa. 
Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata 
de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo imperador Henrique 
V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a inves-
tidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes 
de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar 
fidelidade ao imperador. 
Inquisição 
Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se 
nos termos exatos pretendidos pela doutrina católica. Havia uma 
série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas heresias, 
que se chocavam com os dogmas da Igreja. 
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em 
1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar 
os heréticos. Os condenados pela inquisição eram entregues às au-
toridades administrativas do Estado, que se encarregavam da exe-
cução das sentenças. As penas aplicadas a cada caso iam desde a 
confiscação de bens até a morte em fogueiras. 
O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes eta-
pas: o tempo de graça, o interrogatório e a sentença. 
Vida Cultural
Quando se compara a produção cultural da Idade Média com a 
Antiguidade ou a Modernidade, ela é considerada tradicionalmen-
te um período de trevas. Ao longo do tempo, esse conceito tem 
sofrido algumas revisões, graças à reabilitação da Idade Média por 
certos autores que nela encontram as raízes culturais do Mundo 
Moderno e - num sentido mais imediato - do Renascimento. 
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande man-
tenedora da cultura durante o Período Feudal, apesar de o fazer de 
forma que justificasse suas ideias e dogmas. O privilégio da leitura e 
da escrita também estava vinculado à Igreja.
Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a cria-
ção das universidades, o pensamento filosófico desenvolveu-se, 
surgindo, então, a escolástica (“filosofia da escola”), produzida por 
São Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica. O ideal tomista era 
conciliar o racionalismo aristotélico com o espiritualismo cristão, 
harmonizando fé e razão.
Baixa Idade Média e as Mudanças na Sociedade Feudal
Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema capi-
talista. Ao mesmo tempo, surgiram novas classes sociais, principal-
mente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo de centrali-
zação política.
A questão fundamental para entender as mudanças durante a 
Baixa Idade Média é a crise do feudalismo. A produção feudal era 
baseada no trabalho servil, sendo limitada e estática, o que, por sua 
vez, representava o baixo nível de técnica do sistema feudal. 
CONHECIMENTOS 
1616
a solução para o seu concurso!
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No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma certa 
estabilidade na Europa, além de condições de segurança para o au-
mento da circulação de mercadorias. Houve uma maior redistribui-
ção da produção, gerando um crescimento demográfico que não foi 
acompanhado pelo aumento da oferta de empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a introdução 
de novos artigos de luxo, os senhores feudais passaram a ter neces-
sidade de aumentar as suas rendas. Para obter mais recursos, eles 
eram obrigados a aumentar as obrigações dos servos, que, pres-
sionados, partiam para as cidades em busca de uma vida melhor. 
A solução para a crise seria a substituição do regime de trabalho 
servil pelo trabalho assalariado, porém essa mudança incentivou a 
evolução do modo de produção feudal para o capitalista, o que não 
seria viável num curto período.
Dessa forma,
a crise do feudalismo ocorreu pela incapacidade 
da antiga estrutura econômica de sustentar as mudanças, o que foi 
gerando uma nova organização do modo de vida.
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de mar-
ginalização social, quer pela fuga dos servos, quer pelos deserda-
mentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe 
como consequência o aumento da belicosidade, marcada por assal-
tos e sequestros a ricos cavaleiros.
A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a “Paz de 
Deus” (proteção aos cultivadores, viajantes e mulheres) e a “Trégua 
de Deus” (na qual os dias para realizar guerras ficavam limitados a 
90 por ano). Porém, essa intervenção da Igreja não foi suficiente 
para conter a crise e a violência feudais.
Cruzadas
Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado espe-
rado, a Igreja propôs as Cruzadas, uma contraofensiva da cristanda-
de diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os séculos VIII e 
XI, não teve condições de reagir contra os árabes, passava a reunir 
nesse momento as condições necessárias: 
- Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa;
- Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre o ho-
mem medieval, que o levou a crer na necessidade de resgatar o 
Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano;
- Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII impôs sua 
autoridade a Henrique IV, na Querela das Investiduras: 
-A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da cristandade, 
quebrada pelo Cisma de 1054; 
- O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o perigo 
que os muçulmanos representavam;
- Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das In-
vestiduras, convocar as Cruzadas demonstrava prestígio e autorida-
de perante toda a Igreja.
 Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II convocou a 
cristandade para uma guerra santa contra o Islã. Foram realizadas 
oito Cruzadas, entre 1095 e 1270. 
Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são con-
sideradas um insucesso, que se deve em primeiro lugar ao caráter 
superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não 
criou raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia 
feudal, que enfraquecia as colônias militares estabelecidas em ter-
ritório inimigo. A luta fratricida foi uma constante entre as ordens 
religiosas e os cruzados latinos. 
Fonte: 10emtudo.com.br
Consequências das Cruzadas
As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao 
mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão, Castela, Navarra e Aragão 
começavam a Reconquista da Península Ibérica contra os muçulma-
nos. A ofensiva teve início com a tomada da cidade de Toledo, em 
1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada de Granada. A vitória 
dos italianos sobre os muçulmanos no Mar Tirreno e norte da África 
fez com que as cidades italianas iniciassem o seu domínio sobre o 
Mediterrâneo, lançando as sementes do comércio e do capitalismo. 
As relações entre Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois 
de séculos de bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam 
pela Europa. O contato com o Oriente trouxe o conhecimento de 
novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e metalurgia.
Renascimento do Comércio
As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI e 
XIV na Europa foram imensos. A crise do feudalismo acentuou-se, 
principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem das batalhas em 
terras orientais, os cruzados traziam consigo produtos de luxo, 
como tapetes persas, porcelanas chinesas, tecidos finos ou espe-
ciarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a 
população europeia, proporcionado o Renascimento do Comércio. 
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afasta-
das, os europeus abriram um novo eixo comercial ligando o Ociden-
te ao Oriente. As principais rotas de comércio eram feitas pelo mar 
Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, 
Veneza, Pisa, Constantinopla, Barcelona e Marselha. No mar Báltico 
e no mar do Norte, o domínio ficava por conta de cidades como 
Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países Baixos).
Burgos e Burgueses
Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram o 
campo e foram viver dentro dos burgos - vilas fortificadas com mu-
ralhas, construídas entre os séculos IX e X e posteriormente aban-
donadas -, onde esperavam encontrar melhores condições de vida. 
Em pouco tempo, contudo, esses lugares tomaram-se pequenos e 
as pessoas viram-se obrigadas a se instalar do lado de fora de suas 
muralhas.
CONHECIMENTOS 
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a solução para o seu concurso!
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Essa população, formada principalmente por artesãos, operá-
rios e comerciantes, acabou dando origem a novos burgos em vá-
rios pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição aos nobres 
que viviam em castelos, ficaram conhecidos como burgueses. 
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou 
uma nova necessidade: a padronização de unidades de valor. O uso 
de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca 
de mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram também pri-
meiras casas bancárias, responsáveis pelas operações de câmbio e 
empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o dinheiro 
passasse a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária 
deixassem de ser a base da riqueza na Europa.
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos lu-
cros, os mercadores e banqueiros conquistavam maior status social 
e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava 
prestígio e espaço, aproximando-se dos reis e emprestando-lhes 
dinheiro em troca de medidas políticas favoráveis ao comércio. Ao 
mesmo tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, 
muitas delas decorrentes das altas despesas com as Cruzadas.
Humanismo
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato en-
tre os burgueses e os monarcas financiou o surgimento de novas 
universidades. Com a expansão comercial surgiu a necessidade 
de formar pessoas que entendessem de direito e comércio. Com 
a criação das universidades, a difusão do conhecimento deixou de 
ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino tomou-se laico, voltado cada 
vez mais para questões mundanas.
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, principalmente 
os dos gregos e romanos, e as atenções dos estudiosos dirigiam-
-se a diversas áreas do saber e das artes. Iniciava-se o Humanismo, 
movimento cultural que viria a influenciar a Europa por quase três 
séculos. Até então hegemônico, o pensamento da Igreja passou a 
ser questionado por religiosos e filósofos leigos.
Guerra, Fome e Peste
O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores so-
freu um forte golpe no século XIV. As mudanças climáticas geraram 
um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar dos diversos 
avanços tecnológicos verificados no campo, como a invenção da 
charrua, da ferradura, a difusão dos moinhos de vento, a produção 
não era suficiente para abastecer a população europeia, que dupli-
cou entre o ano 1000 e o ano 1300, levando boa parte da população 
a passar fome.
Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste Negra, 
uma epidemia decorrente das péssimas condições de higiene das 
cidades, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos-
-pretos ou outros roedores, matando cerca de 30 milhões de pes-
soas, mais de um terço da população europeia na época. A situação 
ficou ainda mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra 
deram início à chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se es-
tendeu de 1337 a 1453 provocando grande número de mortos em 
ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península 
ibérica, na Itália e na Alemanha.
Baixa Idade Média – Crescimento Demográfico4
No século X as guerras que haviam assolado a Europa, nota-
damente as invasões bárbaras, já haviam terminado. Ao mesmo 
tempo, por viverem isolados nos feudos, os servos e os senhores 
feudais estavam menos sujeitos às epidemias. Deste modo, melho-
raram-se as condições
de vida do homem feudal, possibilitando a 
melhoria do cultivo e a possibilidade de crescimento demográfico. 
De fato, foi o que ocorreu. A partir do século X a taxa de natalidade 
cresceu substancialmente enquanto a de mortalidade se mantinha 
estável. Há, portanto, uma explosão demográfica na Europa.
A expansão demográfica promove o desequilíbrio na oferta e 
demanda de alimentos. A primitiva e ineficiente produção agrícola 
feudal não consegue suprir as necessidades de uma sociedade em 
expansão. Surge, no interior dos feudos, o excedente populacional. 
Dada a insuficiência de recursos para prover o excedente populacio-
nal, inicia-se o processo de marginalização social. Os senhores feu-
dais expulsam de suas terras a população excedente. Tal população 
se desloca, em sua maioria, para antigos centros urbanos, passando 
a viver do comércio, criando mercados latentes, verdadeiros polos 
comerciais. Outros, passam a viver do saque.
Note-se que o crescimento demográfico iniciado no século X 
exigia melhores colheitas, estimulando o aperfeiçoamento e/ou a 
criação de novas técnicas. É nesse período que surge, por exemplo, 
o arado. Contudo, o desenvolvimento tecnológico se esbarrava na 
falta de motivação do servo, uma vez que, para ele, não haveria 
benefícios. Para o servo, o desenvolvimento técnico lhe traria mais 
trabalho, na medida em que ele se via obrigado a pagar tributos 
ao senhor feudal. Desse modo, o crescimento demográfico não é 
acompanhado por um aumento na oferta. Os senhores feudais bus-
cam pela expansão territorial. Reiniciam-se as guerras de conquista, 
utilizando-se do excedente populacional como “soldado” e poste-
rior ocupante do território conquistado. É nesse contexto que se in-
seriram a a participação de muitos cavaleiros (nobres) na Guerra de 
Reconquista, contra os árabes na península ibérica. Também nesse 
contexto estão as Cruzadas, iniciadas no século XI, se estendendo 
até o século XIII, sob liderança da Igreja Católica.
4 https://portaldoestudante.wordpress.com/2011/07/08/baixa-idade-media-cresci-
mento-demografico/
CONHECIMENTOS 
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a solução para o seu concurso!
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Crise do Século XIV
Habitualmente se concorda em que, durante a maior parte do 
século XIV e pelo menos na primeira metade do século XV, a Europa 
Ocidental atravessou uma “crise” econômica de excepcional gravi-
dade. Em compensação, não há nenhum acordo quanto às causas e 
às modalidades dessa contração5. 
Na França, acusam-se, antes de mais nada, as devastações da 
guerra, a que se atribui o afrouxamento da produção e das trocas; 
ora, exceção feita de algumas regiões — o Bordelais, onde, como 
mostrou Boutruche, a guerra assolou de maneira quase endêmica 
desde 1294, a Bretanha, teatro de prolongadas hostilidades a par-
tir de 1341 — pouco sofreu o reino desde o início da Guerra dos 
Cem Anos, sendo que o campo só começou a sofrer as depredações 
profundas dos guerreiros após 1356, num momento em que a eco-
nomia conhecia há muito tempo graves dificuldades. De seu lado, 
os historiadores ingleses atribuíam excepcional importância à Peste 
Negra de 1348-1349, que a seus olhos constituía o ponto de par-
tida da evolução econômica dos últimos séculos da Idade Média; 
sabe-se hoje, todavia, que a maioria das dificuldades que há pouco 
se atribuíam a essa punção demográfica lhe são muito anteriores. 
Mais recentemente, Calmette e Déprez atribuem todo o mal às 
mudanças monetárias, que teriam desencadeado um mecanismo 
bastante simplista de desordenada alta de preços, de contração das 
trocas, de perturbação material seguida de crise moral. E’ por isso 
que fazem começar a “crise” na França com as primeiras manipu-
lações de Filipe-o-Belo (1296) e não a revelam na Inglaterra senão 
em 1351, pois ignoram as desvalorizações anteriores de 1304 e de 
1344-1346. 
Pensamos que tomaram o efeito pela causa e que, de resto, 
nem todas as manipulações monetárias têm a mesma significação 
econômica. Enfim, Pirenne e seu discípulo Henri Laurent, cujo ho-
rizonte estava limitado aos Países-Baixos, assinalam o início das 
dificuldades na passagem do XIII para o XIV século, com a dupla 
decadência da manufatura de tecidos flamenga e das feiras de 
Champagne. 
Divergências. Não se originam do fato de que a palavra “crise” 
tem sido empregada para designar, indiferentemente, dois fenôme-
nos que, entretanto, são distintos? Ora se trata de bruscas depres-
sões, limitadas no tempo, e que são as únicas que merecem nome 
de “crises” — ora de um movimento de declínio durável prolongado 
da economia. Cremos que o século XIV conheceu os dois fenôme-
nos. Uma série de crises próximas uma das outras — crise frumen-
tária de 1315-1320, crise financeira e mone-tária de 1335-1345, cri-
se demográfica de 1348-1350 — exerceu. Ação paralisadora sobre 
a economia e manteve-a, por um século, em estado de duradoura 
contração.
A conjuntura favorável que se prolongou pelas primeiras dé-
cadas do século XIV merece, antes de tudo, ser caracterizada com 
precisão. Por muito tempo fora sustentada por um contínuo acrés-
cimo da população, o qual permitira, ao mesmo tempo, os gran-
des desbravamentos — quase concluídos na França, mas que ainda 
prosseguiram no início do século XIV na Inglaterra setentrional, a 
colonização dos países novos, as aventuras coloniais das Cruzadas, 
o nascimento e o crescimento das cidades. Esse impulso demográ-
fico estimulava uma produção incessantemente aumentada para 
alimentar e vestir essa massa humana cada vez mais numerosa; 
inversamente, fornecia à produção mão de obra abundante e rela-
tivamente pouco custosa — pois não havia falta de braços. Mesmo 
5 http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/35777/38493.
se, ficando-se nos limites de prudente verossimilhança, não atribuí-
mos à França de 1300 mais de dez ou onze milhões de almas, e à 
Inglaterra pouco mais de 3.500.000, fazemos ressaltar enorme den-
sidade, considerando-se que a técnica agrária e artesanal era ainda 
primitiva. Amplamente ultrapassado o ponto optimum, havia em 
muitas regiões saturação de população. 
E impossível acompanhar os desbravamentos, que não mais se 
faziam a não ser em solos pobres, em terras marginais de pouco 
rendimento; e aliás o desflorestamento atingira os limites além dos 
quais a pastagem do gado, o fornecimento da madeira de aque-
cimento e de construção corriam o risco de periclitar. O melho-
ramento da técnica agrária, por falta de instrumentos aratórios e 
de adubos, permanecia limitado. Aqui e ali (centro da Inglaterra), 
passava-se do arroteamento bienal à rotação trienal; alhures (In-
glaterra, Flandres), aumentava-se a proporção da cultura das legu-
minosas, que esgotavam menos o solo: não eram senão paliativos. 
A divisão em pedaços das dependências dos feudos acentuava-se 
perigosamente: em Weedon Beck (Northants), passara-se, entre 
1248 e 1300, sem novos desbravamentos, de 81 a 110 rendeiros; 
a proporção dos pequenos rendeiros, com lotes insuficientes para 
a subsistência de uma família, subira de 39 a 73% da comunidade 
total. 
Enfim, como a engrenagem comercial não permitia a importa-
ção em massa de cereais dos países novos para as regiões superpo-
voadas, — principalmente o trigo do Báltico, com o qual comerciam 
os hanseáticos, — essa população fica à mercê de permanente sub-
-alimentação e de fomes prolongadas. Assim, a conjuntura favorável 
traz consigo mesma os germes de uma crise, limitando’ ao extremo 
a margem de subsistência das massas rurais e artesanais. Enquanto 
isso, gozava-se, havia muito tempo, de notável estabilidade mone-
tária. As agitações de Filipe-o-Belo e de seus filhos perturbaram-na 
apenas temporariamente, porquanto com frequência se voltava, 
em seguida, à “boa” moeda do tempo de São Luiz. A evicção pro-
gressiva da fraca moeda senhorial ou eclesiástica em proveito da 
moeda real de bom quilate, o frequente recolhimento das moedas 
de ouro e prata, destinado a evitar-lhe a deterioração e o desgaste, 
a cunhagem da moeda sã, cujo valor unitário

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