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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Valéria Becher Trentin Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: T795d Trentin, Valéria Becher Diagnóstico e intervenção no transtorno do espectro autista. / Valéria Becher Trentin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 135 p.; il. ISBN 978-65-5646-142-7 ISBN Digital 978-65-5646-143-4 1. Educação inclusiva. – Brasil. 2. Inclusão em educação. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.9 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Diagnóstico ........7 CAPÍTULO 2 Intervenção e o TEA: Possibilidades de Interação e Aprendizagem ............................................................................55 CAPÍTULO 3 Inclusão e o Papel do Professor .............................................97 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, Neste livro daremos continuidade à trajetória de estudos, tendo como foco o Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista. O conteúdo aqui apresentado visa subsidiar a construção de conhecimentos sobre o diagnóstico e a intervenção no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com base nesta abordagem, o livro está organizado em três capítulos. No Capítulo 1, você compreenderá o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), o qual, segundo a DSM-5, abarca limitações específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais. Após esta compreensão você identificará os critérios de diagnóstico, os instrumentos e escalas de avaliação/diagnóstico para o TEA. No Capítulo 2, você compreenderá a importância das interações para o desenvolvimento do indivíduo com TEA. A partir desta compreensão você identificará os métodos e programas de intervenção para o TEA, analisando os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do indivíduo com TEA. No Capítulo 3, você conhecerá o papel do professor regente e professor de apoio frente às interações e à aprendizagem e por meio deste conhecimento você analisará os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Excelente estudo! CAPÍTULO 1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender o conceito do termo e os critérios diagnósticos que envolvem o TEA. • Conhecer o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA). • Identifi car quais são os critérios de diagnóstico para o TEA. • Conhecer os instrumentos e as escalas de avaliação/diagnóstico para o TEA. 8 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 9 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo aprenderemos o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois torna-se fundamental termos conhecimentos científi cos e informações claras sobre as patologias que acometem o desenvolvimento humano. Assim, para compreendermos este transtorno, a base de nossos estudos e refl exões será o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5), onde se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais. Vale destacar que este Manual serve como ferramenta para compreender os padrões de doenças mentais, sendo utilizado em avaliações diagnósticas realizadas pelos profi ssionais da saúde (APA, 2014). Vamos nos aventurar? Desejamos a você um excelente estudo! 2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO Iniciaremos este capítulo buscando compreender o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), o qual se apresenta como um dos principais sistemas de classifi cação. O referido manual, desde a sua primeira publicação, em 1952, passou por cinco grandes revisões, resultando no DSM-5, elaborado pela American Psychiatry Association (APA, 2014). FIGURA 1 – DSM-5 – MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS FONTE: <https://www.saraiva.com.br/manual-diagnostico-e-estatistico-de- transtornos-mentais-dsm-v-5-ed-2014-7536763/p>. Acesso em: 15 fev. 2020. 10 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista O DSM é regulado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Nele se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais (APA, 2014). Conforme Figura 1, recentemente, uma nova atualização do Manual foi feita, denominada como DSM-5 e, provavelmente, os novos documentos que tratam dos transtornos mentais seguirão esse novo parâmetro. As avaliações diagnósticas realizadas pelos profi ssionais da saúde são pautadas em pelo menos duas grandes referências, a CID-10 e o DSM-5. O DSM, de tempos em tempos, passa por um processo de revisão, sendo defendido por alguns órgãos e questionado por outros devido a sua forma de classifi cação e categorização. O DSM-5 foi publicado em 18 de maio de 2013, tornando-se um dos principais sistemas de classifi cação. Este Manual resultou das pesquisas de profi ssionais de diferentes áreas, os quais trabalharam intensamente revisando evidências sobre a validade dos critérios diagnósticos, tornando-se o DSM-5 “uma fonte segura e cientifi camente embasada para a aplicação em pesquisas e na prática clínica” (ARAÚJO; LOTUFO NETO, 2014, p. 68). Após a compreensão sobre o DSM, elucidaremos a CID-10. FIGURA 2 – CID-10 – CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO FONTE: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/RBES/user/ getInterests?rcs0as-cid10=171191&term=11z>. Acesso em: 15 fev. 2020. A CID-10 signifi ca Classifi cação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classifi cação Internacional de Doenças – CID-10) e foi publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 11 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 DSM-IV DSM-5 -Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na ado- lescência. -Delirium, Demência, Transtorno Amnésti- co e outros Transtornos Cognitivos. -Transtornos Mentais causados por uma condição médica geral não classifi cados em outro local. -Transtornos relacionados a substâncias. -Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos -Transtornos do Humor. -Transtornos de Ansiedade. -Transtornos Somatoformes. -Transtornos Factícios. -Transtornos Dissociativos. -Transtornos Sexuais e da Identidade de Gênero. -Transtornos da Alimentação. -Transtornos do Sono. -Transtornos do Controle dos Impulsos não Classifi cados em Outro Local. -Transtornos da Adaptação. -Transtornos da Personalidade. Outras Condições quem podem ser foco de Atenção Clínica -Transtorno do Neurodesenvolvimento. -Espectro da Esquizofrenia e outros Transtor- nos Psicóticos. -Transtorno Bipolar e Transtornos Relaciona- dos. -Transtornos Depressivos. -Transtornos de Ansiedade. -Transtorno Obsessivo-Compulsivo. -Transtornos relacionados ao traumae ao estresse. -Transtornos Dissociativos. -Sintomas Somáticos e outros Transtornos Relacionados. -Transtornos Alimentares. -Transtornos de Eliminação. -Transtornos Sono-Vigília. -Disfunções Sexuais. -Disforia de Gênero. -Transtorno Disruptivo, do Controle dos Im- pulsos e de Conduta. -Transtornos Aditivos e Relacionados a Sub- stâncias. -Transtornos Neurocognitivos. -Transtornos de Personalidade. -Transtornos Parafílicos. -Outros Transtornos Mentais. -Distúrbio do Movimento Induzido por Me- dicamentos e outros Efeitos Adversos. -Outras condições que podem ser foco de Atenção Clínica. A partir do exposto, cabe evidenciar o Quadro 1, o qual apresenta os capítulos e as reformulações para as várias doenças do DSM-IV para o DSM-5. QUADRO 1 – REFORMULAÇÕES PARA AS VÁRIAS DOENÇAS DO DSM-IV PARA O DSM-5 FONTE: A autora 12 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Fisiopatologia: “estuda os distúrbios funcionais e signifi cado clínico. A natureza das alterações morfológicas e sua distribuição nos diferentes tecidos infl uenciam o funcionamento normal e determinam as características clínicas, o curso e também o prognóstico da doença” (ANDRADE, 2017, p. 10). Características fenotípicas: “características no organismo decorrentes da relação entre seus genes e o ambiente” (ANDRADE, 2017, p. 15). Podemos observar no Quadro 1, que os Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência, os quais fazem parte do DSM IV, foram substituídos por Transtornos do Neurodesenvolvimento no DSM-5. Segundo Rutter, Le Couteur e Lord (2003), os Transtornos do Neurodesenvolvimento são apoiados por características fi siopatológicas, as quais são caracterizadas por um atraso ou desvio no desenvolvimento do cérebro, infl uenciando características fenotípicas. Para Rutter, Le Couteur e Lord (2003), emerge um questionamento: “O que signifi ca Transtornos do Neurodesenvolvimento?”. Os Transtornos do Neurodesenvolvimento, segundo o DSM-5, são um conjunto de condições que se inicia no período de desenvolvimento do sujeito, geralmente antes do ingresso na escola. Assim, vale destacarmos que os défi cits característicos desses transtornos vão de limitações específi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais ou, até mesmo, Defi ciência Intelectual, Transtornos da Comunicação, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade, Transtorno Específi co da Aprendizagem, Transtornos Motores e outros Transtornos do Neurodesenvolvimento (APA, 2014). No Quadro 2, ressalta-se os transtornos que compõem o capítulo do DSM-5 sobre Transtornos do Neurodesenvolvimento. 13 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 QUADRO 2 – TRANSTORNOS QUE COMPÕEM O CAPÍTULO DO DSM- 5 SOBRE TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO DSM-5 Defi ciência Intelectual Transtornos de Comunicação Transtorno do Espectro Autista Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade Transtorno Específi co da Aprendizagem Transtornos Motores Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento FONTE: Adaptado de APA (2014) Ao se observar o Quadro 2, compreendemos que a nova classifi cação do DSM-5 estabelece algumas mudanças, como a exclusão do capítulo “Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência”. A partir desta exclusão, parte dos diagnósticos pertencentes a este capítulo passaram a serem compreendidos como Transtornos do Neurodesenvolvimento (APA, 2014). Iniciaremos, agora, discussões sobre o objeto de nosso estudo, ou seja, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o qual, de acordo com o DSM-5 (Quadro 2), se classifi ca dentro do Transtorno do Neurodesenvolvimento. 2.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA FIGURA 3 – TEA – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA FONTE: <https://soumamae.com.br/tudo-saber-sobre- criancas-autistas/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 14 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Podemos iniciar discussões destacando que nos Transtornos Mentais que compõem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), apresenta-se o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação (TGDSOE) (APA, 2014). FIGURA 4 – AUTISMO E AS CLASSIFICAÇÕES FONTE: <https://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_ EV073_MD1_SA10_ID2139_11092017002357.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Podemos observar na Figura 4 a diferença existente entre o DSM IV e o DSM- 5 no que tange ao autismo. A versão do DSM IV apresenta cinco tipos clínicos na categoria TID: “transtorno autista, transtorno de Rett, transtorno desintegrativo da infância, transtorno de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especifi cação” (BRITO, 2017, p. 11). Assim, apreendemos que a nova versão do DSM-5 reuniu todos os transtornos em um só diagnóstico: o TEA. A partir do DSM-5 e da junção dos transtornos em um só diagnóstico, este passou a constar na nova Classifi cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (Quadro 3), lançada no dia 18 de junho de 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 15 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 QUADRO 3 – AUTISMO NA CID-10 E CID-11 AUTISMO NA CID-10 AUTISMO NA CID-11 F84 – Transtornos globais do desen- volvimento (TGD) F84.0 – Autismo infantil. F84.1 – Autismo atípico. F84.2 – Síndrome de Rett. F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância. F84.4 – Transtorno com hipercinesia as- sociada a retardo mental e a movimentos estereotipados. F84.5 – Síndrome de Asperger. F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento. F84.9 – Transtornos globais não especifi ca- dos do desenvolvimento. 6A02 – Transtorno do Espectro do Autis- mo (TEA) 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da lin- guagem funcional. 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da lin- guagem funcional. 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada. 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada. 6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autis- mo sem Defi ciência Intelectual (DI) e com ausência de linguagem. 6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autis- mo com Defi ciência Intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional. 6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especifi cado. 6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autis- mo, não especifi cado. FONTE: <https://tismoo.us/saude/diagnostico/nova-classifi cacao-de-doencas-cid- 11-unifi ca-transtorno-do-espectro-do-autismo-6a02/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 16 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Para conhecer mais sobre o Autismo na CID-11, assista ao vídeo: O nome no laudo do meu fi lho mudou? Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=MJbR0UwZB08. A partir deste entendimento, o primeiro passo é começarmos a entender o que são os Transtornos do Espectro Autista. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma nova categoria do DSM-5, em que foi introduzida o conceito de “espectro” para reforçar a dimensão que o envolve. Espectro (spectrum) envolve situações diferentes em níveis de gravidade, que vai da mais leve à mais grave. No entanto, independente do grau, estas estão relacionadas com difi culdades de comunicação e relacionamento social. FONTE: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/tea- transtorno-do-espectro-autista-ii/>. Acesso em: 15 fev. 2020. Mediante a compreensão aqui elucidada sobre o quesignifi ca o DSM-5 e o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), iniciaremos discussões sobre os critérios de diagnóstico. 3 DIAGNÓSTICO E O TEA: QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS, SEGUNDO O DSM-5? O diagnóstico do TEA é clínico e baseia-se na presença de determinados padrões de comportamento. De acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), para o diagnóstico do TEA, o paciente deve preencher alguns critérios, sendo eles: défi cits de comunicação social, interação social e comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos (APA, 2014). 17 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Sobre os défi cits de comunicação social e interação social, a DSM-5, em seu texto, destaca alguns exemplos, sendo eles: • Défi cits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e difi culdade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a difi culdade para iniciar ou responder a interações sociais. • Défi cits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou défi cits na compreensão e uso de gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. • Défi cits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de difi culdade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a difi culdade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares (APA, 2014, p. 94). Frente aos exemplos expostos que envolvem os défi cits de comunicação social e interação social, o DSM-5 ainda destaca exemplos que envolvem o comportamento, os interesses e as atividades restritos e repetitivos, sendo eles: • Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). • Insistência nas mesmas coisas, adesão infl exível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo com relação a pequenas mudanças, difi culdades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). • Interesses fi xos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente à dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específi cas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luz e/ou movimento) (APA, 2014, p. 94). 18 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A ecolalia na fala da criança ou jovem com TEA é um fenômeno persistente que se caracteriza como um distúrbio de linguagem, defi nida como a repetição em eco da fala do outro (OLIVEIRA, 2003). Idiossincrática é o uso estereotipado da linguagem. FONTE: <http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/ tesesabertas/0710434_09_cap_03.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Para conhecer mais sobre o diagnóstico de TEA, assista ao vídeo “15 sinais de autismo leve”, disponível no seguinte link: https:// www.youtube.com/watch?v=9-vdD-3-nA4. Alguns critérios de diagnóstico para o TEA, evidenciados no DSM-5, podem ser visualizados na Figura 5. 19 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 FIGURA 5 – CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PARA O TEA, EVIDENCIADOS NO DSM-5 FONTE: <http://entendendoautismo.com.br/wp-content/uploads/2016/09/ criterios-de-diagnostico-797x1024.jpg>. Acesso em: 15 fev. 2020. 20 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Alguns aspectos descritos anteriormente podem ser visualizados na Figura 6. FIGURA 6 – ALGUNS SINAIS DO TEA FONTE: <https://consultoriadeinclusao.wordpress.com/2014/11/27/ alguns-sinais-do-autismo/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 21 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Frente às fi guras apresentadas, cabe evidenciarmos que, segundo a APA (2014), a gravidade do TEA baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento, dividindo-se em três níveis, conforme consta no Quadro 4. QUADRO 4 – NÍVEIS DE GRAVIDADE PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NÍVEL DE GRAVIDADE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMPORTAMENTOS RES- TRITOS E REPETITIVOS Nível 3 “Exigindo apoio muito substancial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social, verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que rara- mente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satis- fazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas. Infl exibilidade de comporta- mento, extrema difi culdade em lidar com a mudança ou outros comportamentos re- stritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcio- namento em todas as es- feras. Grande sofrimento/ difi culdade para mudar o foco ou as ações. Nível 2 “Exigindo apoio substan- cial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social, verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar in- ício a interações sociais e re- sposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases sim- ples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha. Infl exibilidade do comporta- mento, difi culdade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/ repetitivos aparecem com frequência sufi ciente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcio- namento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ ou difi culdade de mudar o foco ou as ações. 22 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Nível 1 “Exigindo apoio” Na ausência de apoio, défi cits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Difi culdade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respos- tas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar inter- esse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pes- soa que consegue falar frases completas e envolver-se na co- municação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas. Infl exibilidade de comporta- mento causa interferência signifi cativa no funcionamen- to em um ou mais contextos. Difi culdade em trocar de ativ- idade. Problemas para orga- nização e planejamento são obstáculos à inde- pendência. FONTE: Adaptado de APA (2014) A partir dos níveis apresentados no Quadro 4, ressaltamos que evidências científi cas mostram que entender algumas características comuns às pessoas com Autismo/Transtorno do Espectro do Autismo, pode auxiliar muito a agir em diferentes situações (na escola, em casa, na terapia). No entanto, torna-se pertinente lembrarmos que cada pessoa é única e precisa ter suas particularidades (idade, escolaridade, aspectos sociais, linguísticos, cognitivos, motores, familiares e socioculturais, grau de autismo, síndromes ou transtornos associados etc.), aspectos estes que necessitam ser levados em consideração. Frente a este entendimento,vamos aprofundar nossos conhecimentos? 23 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 Leia com atenção o relato de caso a seguir e depois responda à questão. RELATO DE CASO Pedro tem 10 anos e apresenta laudo com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mediante este laudo podemos inferir que segundo o DSM-5, Pedro pode apresentar domínios de sintomas principais, sendo eles: défi cits de comunicação social e interação social e comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos (APA, 2014). Agora que compreendemos o TEA, segue sugestão de fi lme: Rain Main (1998). O fi lme apresenta a história de Raymond, um autista, e seu irmão em uma relação cheia de desafi os, conquistas e aprendizado. Vale a pena assistir! Para complementarmos nossos estudos, segue sugestão de Livro: BRITO, M. C. Estratégias de Intervenção nos Transtornos do Espectro Autista. [s.L.]: Instituto Nacional Saber Autismo, 2017. E-book (32 p.). 24 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Descreva o que envolve comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos: R.:____________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________. Você respondeu à atividade de estudo e descobriu respostas para as inquietações que envolvem o TEA. A partir destas descobertas estudaremos na próxima seção o desenvolvimento e o curso do TEA. 3.1 DESENVOLVIMENTO E CURSO DO TEA, SEGUNDO O DSM-5 Segundo a APA (2014), os sintomas costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida (12 a 36 meses), embora possam ser vistos antes dos 12 meses de idade se os atrasos do desenvolvimento forem graves. No entanto, podem ser percebidos após os 24 meses se os sinais forem mais sutis (APA, 2014). 25 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Assim, tornam-se sinais sugestivos no primeiro ano de vida: • perder habilidades já adquiridas, como balbucio ou gesto de contato ocular ou sorriso social; • não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente; • não apresentar sorriso social; • baixo contato ocular e defi ciência no olhar sustentado; • baixa atenção à face humana (preferência por objetos); • demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas; • não seguir objetos e pessoas próximos em movimento; • apresentar pouca ou nenhuma vocalização; • não aceitar o toque; • não responder ao nome; • imitação pobre; • baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito engajamento social (pouca iniciativa e baixa disponibilidade de resposta); FIGURA 7 – SINAIS DO TEA DURANTE O SEGUNDO ANO DE VIDA (12 A 36 MESES) FONTE: <https://pt.slideshare.net/amorimjuvenal/perturbacoes- do-espectro-do-autismo>. Acesso em: 15 fev. 2020. 26 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista • incômodo incomum com sons altos; • distúrbio de sono moderado ou grave; • irritabilidade no colo e pouca responsividade no momento da amamentação. FONTE: <https://www.sbp.com.br/fi leadmin/user_upload/Ped._ Desenvolvimento_-_21775b-MO_-_Transtorno_do_Espectro_do_ Autismo.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Com base no exposto, podemos destacar que os primeiros sintomas do transtorno do espectro autista frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, em geral, acompanhado por ausência de interesse social ou interações sociais incomuns, como puxar as pessoas pela mão sem nenhuma tentativa de olhar para elas; surgem também padrões estranhos de brincadeiras (carregar brinquedos, mas nunca brincar com eles), e padrões incomuns de comunicação (conhecer o alfabeto, mas não responder ao próprio nome) (APA, 2014). Outro aspecto a ser evidenciado é o de que o transtorno do espectro autista não é um transtorno degenerativo, sendo comum que a aprendizagem continue ao longo da vida. Os sintomas são frequentemente mais acentuados na primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar com ganhos no desenvolvimento, sendo frequentes no fi m da infância, pelo menos em certas áreas, por exemplo: aumento no interesse por interações sociais (APA, 2014). Assim, em geral, indivíduos com níveis de prejuízo menores podem ter maior independência. No entanto, esses indivíduos podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, com difi culdades para organizar as demandas práticas sem ajuda, estando mais propensos à ansiedade e à depressão (APA, 2014). FIGURA 8 – FIQUE ATENTO FONTE: <http://www.sjp.pr.gov.br/semana-municipal-da-conscientizacao-sobre-o- transtorno-do-espectro-autista-tera-caminhada-no-sabado-7/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 27 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Segundo a APA (2014), vale ressaltar que diversos estudos científi cos mostram que quanto mais precocemente a criança com TEA for avaliada de forma adequada, melhores poderão ser suas oportunidades de intervenção e de desenvolvimento. A intervenção precoce torna-se fundamental na evolução de crianças com TEA. Portanto, quanto mais precoce a intervenção, melhores os resultados para a criança e para sua família (BRITO, 2017). Agora, apresentaremos na Figura 9 um breve resumo do que aprendemos sobre o TEA, de acordo com a DSM-5. FIGURA 9 – O QUE É O AUTISMO? FONTE: <http://www.sjp.pr.gov.br/semana-municipal-da-conscientizacao-sobre-o- transtorno-do-espectro-autista-tera-caminhada-no-sabado-7/>. Acesso em: 15 fev. 2020. 28 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Assim, compreendemos que a partir da identifi cação de sinais, do diagnóstico estabelecido, pode-se iniciar o processo de intervenção propriamente dito. Podemos inferir ainda que a partir da identifi cação de sinais a criança deve ser encaminhada para avaliação e acompanhamento com médico especializado em desenvolvimento neuropsicomotor, com avaliação formal para TEA com o Psiquiatra Infantil ou o Neuropediatra (BRITO, 2017). Agora que apreendemos o desenvolvimento e o curso do TEA, segundo o DSM-5, investigaremos os instrumentos e escalas que abarcam o diagnóstico. 4 INSTRUMENTOS E ESCALAS PARA O TEA: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE Aprendemos na seção anterior que os critérios de diagnóstico do TEA, segundo o DSM-5, envolvem domínios de sintomas principais, sendo eles: os défi cits de comunicação social e interação social e o comportamento, interesses e atividades restritas e repetitivas. Mediante este aprendizado, vale ressaltarmos que os instrumentos para avaliação do TEA devem ser utilizados em conjunto com as observações clínicas, levando-se em consideração os critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (APA, 2014) e a Classifi cação Internacional de Doenças (CID-10). Vale destacar que no Brasil, o sistema classifi catório ofi cial é a CID (PEREIRA, 2007). Destacamos ainda que a identifi cação dos sinais do TEA torna-se possível muitas vezes antes dos 36 meses de idade, o que oportuniza a intervenção precoce (PEREIRA, 2007). Segundo a American Academy of Pediatrics (APA), o rastreamento dos sinais do TEA deve ser realizado entre os 18-24 meses de idade por meio de instrumentos padronizados para tal fi nalidade. Caso a criança seja identifi cada com sinais de risco de TEA, ela deverá ser encaminhada para uma avaliação mais abrangente, de modo a confi rmar o diagnóstico. Essa confi rmação torna-se possível no fi nal do segundo ano de vida da criança, embora a idade média de diagnósticoseja de cinco anos (PEREIRA, 2007). Assim, podemos inferir que se considera adequadamente diagnosticado com TEA o paciente que recebeu o diagnóstico baseado em instrumentos 29 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 válidos de avaliação. O principal instrumento de avaliação utilizado é a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), complementado com a aplicação de escalas diagnósticas válidas no Brasil (APA, 2014). No Brasil, segundo Bosa (2013), os instrumentos traduzidos e adaptados para o português brasileiro são: ATA (Scale of Autistic Traits), M-CHAT (Modifi ed- Checklist for Autism in Toddlers), ASQ (Autism Screening Questionary), ABC (Autism Behavior Checklist), CARS (Childhood Autism Rating Scale), ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised) e ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). Compreenderemos estes instrumentos nas próximas subseções. Vamos lá? 4.1 ADI-R (AUTISM DIAGNOSTIC INTERVIEW-REVISED) No ano de 1989, o instrumento ADI (Autism Diagnostic Interview), foi criado a partir dos critérios diagnósticos do DSM-III-R e da CID, focando em três áreas principais, sendo elas: • qualidade da interação social recíproca; • comunicação e linguagem; • comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados (LE COUTEUR et al., 1989). Além das três principais áreas, Le Couteur et al. (1989) ainda destacam a entrevista, a qual também envolve uma série de comportamentos que, embora não sejam cruciais para o diagnóstico, são importantes no planejamento terapêutico. Mediante o destacado, podemos evidenciar que em 1994, a ADI foi modifi cada para ADI-R. A versão tornou-se ligeiramente mais curta que a original para tornar a entrevista mais apropriada para uso clínico e em pesquisa (LORD; RUTTER; LE COUTEUR, 1994). A ADI-R apresenta 93 itens, divididos em seis seções. • A primeira seção é constituída por questões abertas, na qual são colhidas informações gerais sobre o paciente e sua família, tais como 30 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista histórico do processo diagnóstico e escolaridade. O objetivo é auxiliar o entrevistador a formular melhor as questões que virão posteriormente, bem como facilitar a lembrança dos pais acerca da época de emergência dos problemas de desenvolvimento do fi lho. • A segunda seção investiga o desenvolvimento precoce e os marcos do desenvolvimento. • A terceira, a quarta e a quinta seções são formadas por perguntas sobre as três principais áreas de manifestações clínicas do autismo: défi cits de comunicação; défi cits de interação social; comportamento repetitivo e estereotipado. • A sexta e última seção é composta por um número menor de perguntas, que tratam de problemas gerais de comportamento (SOUSA FILHO, 2014). Mediante as seções que compõem a entrevista, podemos inferir que a ADI-R é uma entrevista padronizada, semiestruturada, administrada aos pais ou cuidadores de crianças com suspeita de TEA. Possui 93 itens que investigam os comprometimentos sociocomunicativos e a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados. “As informações fornecidas pelos pais ou cuidadores devem, então, ser codifi cadas em escores de 0 a 2, ou 0 a 3, dependendo do item, sendo que 0 implica um comportamento menos comprometido e 2 ou 3 a comportamentos mais atípicos” (SOUSA FILHO, 2014, p. 90). Podemos evidenciar, ainda, que o protocolo da entrevista é preenchido pelo profi ssional com a descrição do comportamento e a escolha do código que melhor o descreva, para cada item. Assim, torna-se responsabilidade do entrevistador obter e registrar exemplos sufi cientes de comportamentos reais antes de escolher o código de resposta do item (RUTTER; LE COUTEUR; LORD, 2003). Portanto, torna-se pertinente destacar que o tempo previsto para a realização da entrevista é de aproximadamente 1,5 a 2,5 horas, sendo o tempo um pouco maior para crianças maiores e adultos (LE COUTEUR et al., 1989; RUTTER; LE COUTEUR; LORD, 2003). Destacamos, ainda, que a ADI-R é considerada um instrumento padrão- ouro para o diagnóstico de TEA, sendo que o entrevistador deve passar por um treinamento prévio que o habilitará a administrá-la e a codifi car seus resultados. Cabe destacar que o instrumento fornece três diagnósticos, sendo eles: paciente com TEA; sinais de TEA sem a forma clássica da doença e paciente sem TEA (SOUSA FILHO, 2014). As entrevistas são instrumentos cruciais para o diagnóstico do TEA, uma 31 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 vez que conseguem, por meio dos relatos dos pais e/ou cuidadores, buscar relevantes informações relativas tanto a manifestações comportamentais muito precoces quanto as que surgiram ao longo do desenvolvimento até as exibidas no momento do tratamento (LE COUTEUR et al., 1989). Em continuidade às refl exões e às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, discorreremos sobre a ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). 4.2 ADOS (AUTISM DIAGNOSTIC OBSERVATION SCHEDULE) A ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) consiste em um protocolo de observação comportamental desenvolvido para avaliação de crianças, adolescentes e adultos com suspeita de Transtorno do Espectro Autista com nível de linguagem de, no mínimo, três anos. “Em 1995, foi publicada a PL-ADOS (Pre-Linguistic Autism Diagnostic Observation Schedule), versão direcionada a crianças com uso limitado ou ausência de linguagem” (SOUSA FILHO, 2014, p. 88). A ADOS-2, publicada em 2012, foi modifi cada a partir da ADOS para avaliar crianças a partir de 12 meses até indivíduos adultos (SOUSA FILHO, 2014). Assim, podemos destacar que a ADOS-2 é um instrumento padronizado e semiestruturado de observação que busca verifi car especifi camente as habilidades de interação social, comunicação, brincadeiras e uso imaginativo de materiais pelas crianças com suspeita de TEA. É composto por quatro módulos que variam conforme os diferentes níveis de linguagem expressiva da criança. A escala deve ser aplicada por profi ssionais certifi cados, que receberam treinamento prévio adequado (SOUSA FILHO, 2014). A ADOS e a ADI-R são consideradas, pela literatura, instrumentos padrão- ouro para o diagnóstico de Transtornos do Espectro Autista (GRAY; TONGE; SWEENEY, 2008). Para conhecer mais sobre a escala ADOS e ADI-R, assista ao vídeo disponível no seguinte link: https://www.youtube.com/ watch?v=dep7xGbemWg. 32 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos a ATA (Escala de Traços Autísticos). Vamos lá? 4.3 ATA (ESCALA DE TRAÇOS AUTÍSTICOS) A escala de traços autísticos (ATA), é um instrumento de fácil aplicação. No entanto, ela deve ser aplicada por profi ssional conhecedor do TEA, sendo ele o responsável pela avaliação das respostas dadas em função de cada item (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). Esse instrumento não se evidencia como entrevista diagnóstica, mas sim na observação, o que permite fazer segmentos longitudinais da evolução, tendo por base a sintomatologia, auxiliando também na elaboração de um diagnóstico confi ável. A escala deve ser administrada após informação detalhada dos dados clínicos e evolutivos da criança, podendo auxiliar no processo terapêutico (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). A escala é composta por 23 subescalas, cada uma é dividida em diferentes itens, que pode ser aplicada em crianças acima de dois anos. Baseada em diferentes aspectos diagnósticos, tem a fi nalidade de triagem de casos suspeitos de autismo e fundamenta-se na observação (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). A escala se pontua com base nos seguintes critérios: • cada subescala da prova tem um valor de 0 a 2; • pontua-se a escala positiva no momento emque um dos itens for positivo; • a pontuação global da escala se faz a partir da soma aritmética de todos os valores positivos da subescala. As escalas de avaliação permitem mensurar as condutas apresentadas de maneira a se estabelecer um diagnóstico de maior confi abilidade. 33 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 SUBESCALAS ITENS DAS SUBESCALAS I DIFICULDADE NA INTERAÇÃO SOCIAL - O desvio da sociabilidade pode oscilar entre formas leves, como um certo negativ- ismo e a não aceitação do contato ocular, até formas mais graves, como um intenso isolamento. 1. Não sorri. 2. Ausência de aproximações es- pontâneas. 3. Não busca companhia. 4. Busca constantemente seu can- tinho (esconderijo). 5. Evita pessoas. 6. É incapaz de manter um inter- câmbio social. 7. Isolamento intenso. II MANIPULAÇÃO DO AMBIENTE - O prob- lema da manipulação do ambiente pode apresentar-se a nível mais ou menos grave, como não responder às solicitações e man- ter-se indiferente ao ambiente. O fato mais comum é a manifestação brusca de crises de birra passageira, risos incontroláveis e sem motivo, tudo isso com o fi m de conse- guir ser o centro da atenção. 1. Não responde às solicitações. 2. Mudança repentina de humor. 3. Mantém-se indiferente, sem ex- pressão. 4. Risos compulsivos. 5. Birra e raiva passageira. 6. Excitação motora ou verbal (ir de um lugar a outro, falar sem parar). III UTILIZAÇÃO DAS PESSOAS A SEU RE- DOR - A relação que mantém com o adulto quase nunca é interativa, dado que nor- malmente utiliza-se do adulto como o meio para conseguir o que deseja. 1. Utiliza-se do adulto como um ob- jeto, levando-o até aquilo que ele deseja. 2. O adulto lhe serve como apo- io para conseguir o que deseja (p. ex.: utiliza o adulto como apoio para pegar bolacha). 3. O adulto é o meio para suprir uma necessidade que não é capaz de realizar só (p. ex.: amarrar sap- atos). 4. Se o adulto não responde as suas demandas, atua interferindo na conduta desse adulto. QUADRO 5 – SUBESCALAS DA ATA (ESCALA DE TRAÇOS AUTÍSTICOS) 34 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista IV RESISTÊNCIA À MUDANÇA - A resistên- cia à mudança pode variar da irritabilidade até a franca recusa. 1. Insistente em manter a rotina. 2. Grande difi culdade em aceit- ar fatos que alteram sua rotina, tais como mudanças de lugar, de vestuário e na alimentação. 3. Apresenta resistência a mu- danças, persistindo na mesma res- posta ou atividade. V BUSCA DE UMA ORDEM RÍGIDA - Man- ifesta tendência a ordenar tudo, podendo chegar a uma conduta de ordem obses- siva, sem a qual não consegue desenvolv- er nenhuma atividade. 1. Ordenação dos objetos de acor- do com critérios próprios e preesta- belecidos. 2. Prende-se a uma ordenação es- pacial (cada coisa sempre em seu lugar). 3. Prende-se a uma sequência tem- poral (cada coisa em seu tempo). 4. Prende-se a uma correspondên- cia pessoa-lugar (cada pessoa sempre no lugar determinado). VI FALTA DE CONTATO VISUAL. OLHAR INDEFENIDO - A falta de contato pode vari- ar desde um olhar estranho até o constante evitar dos estímulos visuais. 1. Desvia os olhares diretos, não ol- hando nos olhos. 2. Volta a cabeça ou o olhar quando é chamado (olhar para fora). 3. Expressão do olhar vazio e sem vida. 4. Quando segue os estímulos com os olhos, somente o faz de maneira intermitente. 5. Fixa os objetos com uma olhada periférica, não central. 6. Dá a sensação de que não olha. 35 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 VII MÍMICA INEXPRESSIVA - A inexpressivi- dade mímica revela a carência da comuni- cação não verbal. Pode apresentar desde uma certa expressividade até uma ausên- cia total de resposta. 1. Se fala, não utiliza a expressão facial, gestual ou vocal com a fre- quência esperada. 2. Não mostra uma reação anteci- patória. 3. Não expressa através da mímica ou olhar aquilo que quer ou o que sente. 4. Imobilidade facial. VIII DISTÚRBIOS DE SONO - Quando pequeno dorme muitas horas e, quando maior, dorme poucas horas, se compara- do ao padrão esperado para a idade. Esta conduta pode ser constante ou não. 1. Não quer ir dormir. 2. Se levanta muito cedo. 3. Sono irregular (em intervalos). 4. Troca o dia pela noite. 5. Dorme poucas horas. IX ALTERAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO - Pode ser quantitativa e/ou qualitativa. Pode in- cluir situações, desde aquela em que a cri- ança deixa de se alimentar até aquela em que se opõe ativamente. 1. Seletividade alimentar rígida (ex.: come o mesmo tipo de alimento sempre). 2. Come outras coisas além de ali- mentos (papel, insetos). 3. Quando pequeno não mastigava. 4. Apresenta uma atividade rumi- nante. 5. Vômitos. 6. Come grosseiramente, esparra- ma a comida ou a atira. 7. Rituais (esfarela alimentos antes da ingestão). 8. Ausência de paladar (falta de sensibilidade gustativa). 36 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista X DIFICULDADE NO CONTROLE DOS ES- FÍNCTERES - O controle dos esfíncteres pode existir, porém a sua utilização pode ser uma forma de manipular ou chamar a atenção do adulto. 1. Medo de sentar-se no vaso san- itário. 2. Utiliza os esfíncteres para manip- ular o adulto. 3. Utiliza os esfíncteres como estim- ulação corporal, para obtenção de prazer. 4. Tem controle diurno, porém o no- turno é tardio ou ausente. XI EXPLORAÇÃO DOS OBJETOS (APAL- PAR, CHUPAR) - Analisa os objetos sen- sorialmente, requisitando mais os outros órgãos dos sentidos em detrimento da visão, porém sem uma fi nalidade especí- fi ca. 1. Morde e engole objetos não ali- mentares. 2. Chupa e coloca as coisas na boca. 3. Cheira tudo. 4. Apalpa tudo. Examina as super- fícies com os dedos de uma manei- ra minuciosa. XII USO INAPROPRIADO DOS OBJETOS - Não utiliza os objetos de modo funcional, mas sim de uma forma bizarra. 1. Ignora os objetos ou mostra um interesse momentâneo. 2. Pega, golpeia ou simplesmente os atira no chão. 3. Conduta atípica com os objetos (segura indiferentemente nas mãos ou gira). 4. Carrega insistentemente consigo determinado objeto. 5. Se interessa somente por uma parte do objeto ou do brinquedo. 6. Coleciona objetos estranhos. 7. Utiliza os objetos de forma partic- ular e inadequada. 37 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 XIII FALTA DE ATENÇÃO - Difi culdades na fi xação e concentração. Às vezes, fi xa a atenção em suas próprias produções sono- ras ou motoras, dando a sensação de que se encontra ausente. 1. Quando realiza uma atividade, fi xa a atenção por curto espaço de tempo ou é incapaz de fi xá-la. 2. Age como se fosse surdo. 3. Tempo de latência de resposta aumentado. 4. Entende as instruções com difi - culdade (quando não lhe interessa, não as entende). 5. Resposta retardada. 6. Muitas vezes dá a sensação de ausência. XIV AUSÊNCIA DE INTERESSE PELA APRENDIZAGEM - Não tem nenhum inter- esse por aprender, buscando solução nos demais. Aprender representa um esforço de atenção e de intercâmbio pessoal, é uma ruptura em sua rotina. 1. Não quer aprender. 2. Se cansa muito depressa, ainda que em atividade que goste. 3. Esquece rapidamente. 4. Insiste em ser ajudado, ainda que saiba fazer. 5. Insiste constantemente em mu- dar de atividade. XV FALTA DE INICIATIVA - Busca constan- temente a comodidade e espera que lhe deem tudo pronto. Não realiza nenhuma atividade funcional por iniciativa própria. 1. É incapaz de ter iniciativa própria. 2. Busca a comodidade. 3. Passividade, falta de interesse. 4. Lentidão. 5. Prefere que outro faça o trabalho para ele. 38 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista XVI ALTERAÇÃO DE LINGUAGEM E COMU- NICAÇÃO - É uma característicafunda- mental do autismo, que pode variar desde um atraso de linguagem até formas mais severas, com uso exclusivo de fala partic- ular e estranha. 1. Mutismo. 2. Estereotipias vocais. 3. Entonação incorreta. 4. Ecolalia imediata e/ou retardada. 5. Repetição de palavras ou frases que podem ou não ter valor comu- nicativo. 6. Emite sons estereotipados quan- do está agitado e em outras oca- siões, sem nenhuma razão apar- ente. 7. Não se comunica por gestos. 8. As interações com adulto não são nunca um diálogo. XVII NÃO MANIFESTA HABILIDADES E CON- HECIMENTOS - Nunca manifesta tudo aq- uilo que é capaz de fazer ou agir, no que faz referência a seus conhecimentos e habilidades, difi cultando a avaliação dos profi ssionais. 1. Ainda que saiba fazer uma coisa, não a realiza, se não quiser. 2. Não demonstra o que sabe até que tenha uma necessidade primária ou um interesse iminente- mente específi co. 3. Aprende coisas, porém somente a demonstra em determinados lug- ares e com determinadas pessoas. 4. Às vezes surpreende por suas habilidades inesperadas. XVIII REAÇÕES INAPROPRIADAS ANTE A FRUSTRAÇÃO - Manifesta desde o abor- recimento à reação de cólera, ante a frus- tração. 1. Reações de desagrado caso seja esquecida alguma coisa. 2. Reações de desagrado caso seja interrompida alguma atividade que goste. 3. Desgostoso quando os desejos e as expectativas não se cumprem. 4. Reações de birra. 39 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 XIX NÃO ASSUME RESPONSABILIDADES - Por princípio, é incapaz de fazer-se re- sponsável, necessitando de ordens suces- sivas para realizar algo. 1. Não assume nenhuma respons- abilidade, por menor que seja. 2. Para chegar a fazer alguma coi- sa, há que se repetir muitas vezes ou elevar o tom de voz. XX HIPERATIVIDADE/ HIPOATIVIDADE - A criança pode apresentar desde agitação, excitação desordenada e incontrolada, até grande passividade, com ausência total de resposta. Estes comportamentos não têm nenhuma fi nalidade. 1. A criança está constantemente em movimento. 2. Mesmo estimulada, não se move. 3. Barulhento. Dá a sensação de que é obrigado a fazer ruído/barul- ho. 4. Vai de um lugar a outro, sem parar. 5. Fica pulando (saltando) no mes- mo lugar. 6. Não se move nunca do lugar onde está sentado. XXI MOVIMENTOS ESTEREOTIPADOS E REPETITIVOS - Ocorrem em situações de repouso ou atividade, com início repentino. 1. Balanceia-se. 2. Olha e brinca com as mãos e os dedos. 3. Tapa os olhos e as orelhas. 4. Dá pontapés. 5. Faz caretas e movimentos estra- nhos com a face. 6. Roda objetos ou sobre si mesmo. 7. Caminha na ponta dos pés ou saltando, arrasta os pés, anda fa- zendo movimentos estranhos. 8. Torce o corpo, mantém uma postura desequilibrada, pernas do- bradas, cabeça recolhida aos pés, extensões violentas do corpo. 40 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista XXII IGNORA O PERIGO - Expõe-se sem ter consciência do perigo. 1. Não se dá conta do perigo. 2. Sobe em todos os lugares. 3. Parece insensível à dor. XXIII APARECIMENTO ANTES DOS 36 MESES (DSM-IV) FONTE: Adaptado de Assumpção Jr. et al. (1999) ATA é um instrumento de fácil aplicação, acessível a profi ssionais que têm contato direto com a população autista, por exemplo, professores, bem como pais (ASSUMPÇÃO JR. et al., 1999). Agora que já compreendemos o que signifi ca a ATA (Escala de Traços Autísticos), vamos investigar outro instrumento? 4.4 CARS (CHILDHOOD AUTISM RATING SCALE) A CARS (Childhood Autism Rating Scale) foi traduzida e validada para o português em 2008. É uma escala de avaliação comportamental de 15 itens aplicados a pais e/ou cuidadores e a crianças com dois ou mais anos de idade. Para cada um dos 15 itens, aplica-se uma escala de 7 pontos, que permite classifi car formas leves, moderadas e graves de autismo. Sua aplicação é rápida (de 30 a 45 minutos), seus escores são objetivos e quantifi cáveis. De uma pontuação de 15 a 60, o ponto de corte para a presença de autismo é 30 (SANTOS et al., 2012). A CARS é efi caz na distinção de casos de autismo leve, moderado e grave, além de discriminar crianças autistas daquelas com défi cit intelectual. É apropriada para uso em qualquer criança acima de dois anos de idade. Para a defi nição das estratégias terapêuticas, é fundamental a identifi cação de condições associadas, como epilepsia, défi cit intelectual, paralisia cerebral, doenças genéticas e metabólicas, entre outras (SANTOS et al., 2012). A escala é um instrumento para observações comportamentais, sendo administrada na primeira sessão de diagnóstico. É composta por 15 itens, 41 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 sendo que cada um deles é pontuado num “continuum”, variando do normal para gravemente anormal, todos contribuindo igualmente para a pontuação total (SANTOS et al., 2012). De acordo com o manual da CARS, o autismo é caracterizado por um resultado de 30 pontos, em uma escala que varia de 15 a 60 pontos, sendo que o intervalo entre 30 e 36,5 é defi nido como característico de autismo moderado. O que se apresenta entre 37-60 pontos é defi nido como autismo grave (SANTOS et al., 2012). A CARS é considerada a mais forte escala para comportamentos associados com o autismo. A escala já foi traduzida para diversas línguas, pois o autismo é um transtorno que ocorre no mundo todo. QUADRO 6 – 15 ITENS CARS (CHILDHOOD AUTISM RATING SCALE) 1 Relações Pes- soais Prejuízo nesta área é considerado uma das características primárias do autismo incluída em todas as descrições do tran- storno. 2 Imitação Este item foi incluído em função da relação existente entre difi culdades graves de linguagem e problemas na imitação motora e verbal. A capacidade de imitar é considerada uma importante base para o desenvolvimento da fala, além de ser uma habilidade altamente relevante no tratamento e edu- cação destas crianças. 3 Resposta Emo- cional O autismo foi, primeiramente, considerado um distúrbio no contato afetivo e este item segue sendo um dos mais impor- tantes, tendo como característica central a impossibilidade de compreensão do estado mental das demais pessoas, a chamada falha na teoria da mente. 4 Uso Corporal Movimentos corporais peculiares e especialmente estereoti- pias têm sido amplamente observados por clínicos e pesqui- sadores. 5 Uso de Objetos O uso inapropriado de brinquedos ou de outros objetos está intimamente relacionado a relações inadequadas com pes- soas. 6 Resposta a Mu- danças Difi culdade em alterar rotinas ou padrões preestabelecidos ou difi culdade para mudar de uma atividade para outra. 7 Resposta Visual Classifi ca os padrões incomuns de atenção visual observados em muitas crianças autistas. 8 Resposta Auditiva Inclui a reação da criança a vozes humanas ou outros tipos de sons e qual o interesse da criança por sons variados. 42 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 9 Resposta e uso do paladar, olfato e tato As crianças autistas respondem de forma incomum a estímu- los sensoriais. Gosto e cheiro são elementos críticos para o comportamento alimentar e a difi culdade de identifi cá-los pode contribuir para as elevadas taxas de recusa alimentar e seletividade relatadas nestas crianças. Este item inclui, tam- bém, a forma como estas crianças respondem à dor. 10 Medo ou nervo- sismo Este item classifi ca o medo incomum ou inexplicado e inclui, também, a ausência de medo em situações nas quais uma criança normal, no mesmo nível de desenvolvimento, apre- sentaria medo ou receio. 11 Comunicação verbal Classifi ca todas as facetas do uso da linguagem. Avalia não somente a presença ou a ausência de fala, mas também suas peculiaridades, uso de elementos inapropriados, jargões e palavras bizarras. Portanto, quandoqualquer tipo de lingua- gem está presente, avalia o vocabulário, a estrutura da frase, a entonação da voz e o volume e a adequação do conteúdo. 12 Comunicação não verbal É a avaliação da comunicação não verbal da criança através do uso da expressão facial, postura, gestos e movimento cor- poral e inclui a sua resposta à comunicação não verbal das outras pessoas. 13 Nível de atividade Refere-se a quanto a criança move-se em situações lim- itantes ou não. 14 Nível e consistên- cia da resposta intelectual Considera o nível geral de funcionamento intelectual e a consistência deste funcionamento. 15 Impressões gerais Impressão subjetiva a partir da observação da criança aval- iada. FONTE: Adaptado de Pereira (2007) Após a apresentação dos 15 itens que compõem a CARS (Childhood Autism Rating Scale), destacamos, na Figura 10, um exemplo da referida escala. 43 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 FONTE: <https://irp-cdn.multiscreensite.com/a12de2b1//fi les/ uploaded/ESCALACARSIP.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. FIGURA 10 – EXEMPLO ESCALA CARS Com base na Figura 10, podemos destacar que após observar a criança e examinar as informações relevantes dos pais, o examinador classifi ca a criança em cada item. Usando uma escala de 7 pontos, que varia de 1 a 4 com valores intermediários de meio ponto (1; 1,5; 2; 2,5; 3; 3,5), o examinador indica o grau no qual o comportamento da criança afasta-se daquele esperado para uma criança normal na mesma idade. A pontuação varia de 15 a 60, o ponto de corte para autismo é 30, escores entre 30 e 36 indicam sintomas leves a moderados e, acima de 37, graves (SOUSA FILHO, 2014). 44 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Já foi demonstrado, em diversos estudos, que a CARS possui um grau elevado de consistência interna e confi abilidade teste-reteste, assim como elevados valores de validade (PEREIRA, 2007). Ufa! Quantas descobertas! Vamos investigar outro instrumento? 4.5 ASQ (AUTISM SCREENING QUESTIONNAIRE) O Autism Screening Questionnaire (ASQ) foi construído com base na seleção de questões da ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised). Também conhecido como Social Communication Questionnaire (SCQ), o ASQ é um instrumento de 40 questões baseadas na ADI-R, aplicadas aos pais e/ou cuidadores de pessoas com possível Transtorno do Espectro Autista (SOUSA FILHO, 2014). O ASQ avalia a interação social recíproca, a linguagem, a comunicação e os padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, apresentando, ainda, uma questão que investiga o comportamento autolesivo e outra que avalia a linguagem funcional atual do sujeito (BERUMENT et al., 1999). Embora o ASQ tenha sido desenvolvido a partir da ADI-R, ele foi modifi cado de modo a ser mais facilmente compreensível pelos pais e a dispensar explicações adicionais, como frequentemente ocorre na ADI-R. Cada questão do instrumento recebe a pontuação 0 para a ausência de anormalidade ou 1 para a existência do comportamento indicativo de características do espectro do autismo (SOUSA FILHO, 2014). A pontuação varia de 0 a 39 para indivíduos verbais (o item que avalia o nível de linguagem atual não entra no escore fi nal) e 0 a 34 para indivíduos não verbais. Dezenove itens avaliam o comportamento atual, ao passo que vinte itens avaliam comportamentos exibidos entre 4 e 5 anos de idade (SOUSA FILHO, 2014). O ASQ teve a sua tradução, retroversão, adaptação e validação para o português brasileiro conduzidas por Sato (2008), em um trabalho colaborativo entre pesquisadores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e Universidade de São Paulo. 45 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos a M-CHAT (Modifi ed Checklist for Autism in Toddlers). 4.6 M-CHAT (MODIFIED CHECKLIST FOR AUTISM IN TODDLERS) A M-CHAT (Modifi ed Checklist for Autism in Toddlers) é um instrumento de triagem para TEA. Trata-se de um instrumento de fácil aplicação, simples, utilizado para triagem precoce do TEA, podendo ser aplicado por pediatras, professores e outros profi ssionais da saúde, visando identifi car indícios de TEA em crianças entre 18 e 24 meses (SOUSA FILHO, 2014). Assim, podemos inferir que a M-CHAT é uma escala de rastreamento que pode ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com o objetivo de identifi car traços de autismo em crianças de idade precoce (LOSAPIO; PONDÉ, 2008). A M-CHAT é extremamente simples e a resposta aos itens da escala leva em conta as observações dos pais com relação ao comportamento da criança. Essa escala consiste em 23 questões do tipo sim/não, que deve ser autopreenchida por pais de crianças de 18 a 24 meses de idade, que sejam alfabetizados e estejam acompanhando o fi lho em consulta pediátrica (LOSAPIO; PONDÉ, 2008). A escala a ser preenchida será observada na Figura 11. As respostas da M-CHAT auxiliarão na avaliação clínica feita pelo profi ssional especializado na identifi cação do TEA. 46 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 11 – ESCALA M-CHAT FONTE: <http://www.sopape.com.br/data/conteudo/arquivos/ MCHATESCALA.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2020. Para aprimorar seus conhecimentos sobre a escala M-CHAT, assista ao vídeo M-CHAT: um instrumento de Triagem para o TEA. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yf_DbmFnT1U. Em continuidade às descobertas sobre os instrumentos e escalas para o diagnóstico do TEA, abordaremos o Autism Behavior Checklist / Inventário de Comportamentos Autísticos (ABC/ICA). Vamos lá? 47 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 4.7 AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST / INVENTÁRIO DE COMPORTAMENTOS AUTÍSTICOS (ABC/ICA) O Autism Behavior Checklist (ABC) trata-se de uma escala de comportamentos não adaptativos, criada para triagem sobre a probabilidade de diagnóstico de autismo. Foi validada no Brasil e tem sido amplamente utilizada em contextos acadêmicos e institucionais. Assim, podemos considerar que o ABC/ICA é um instrumento amplamente utilizado para triagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento atípico ou atraso no desenvolvimento, em que um diagnóstico de algum Transtorno do Espectro do Autismo possa ser considerado (SOUSA FILHO, 2014). O ABC/ICA é composto por uma lista de 57 comportamentos não adaptativos, que permitem a descrição detalhada das características comportamentais atípicas de cada indivíduo, organizados em cinco áreas: sentidos (estímulos sensoriais), relações, uso do corpo e objetos, linguagem e interação social (SOUSA FILHO, 2014). Embora tenha sido projetado para aplicar em crianças em idade escolar, essa lista pode ser utilizada na fase pré-escolar. Utilizado na forma de entrevista clínica, o ABC/ICA é direcionado a qualquer pessoa que conheça bem o indivíduo investigado (pais, cuidadores, professores). O instrumento tem pontuação balanceada (1 a 4), de acordo com a ocorrência no TEA, sendo 4 a de correlação mais forte com TEA (SOUSA FILHO, 2014). A partir da somatória, traça-se um perfi l comportamental que permite a análise da severidade: a pontuação entre 47 e 53 indica baixa probabilidade de ocorrência de TEA; entre 54 e 67, moderada; a partir de 68, alta probabilidade. A versão brasileira, além de modifi car a nota de corte de 69 para 49 pontos, procedeu à tradução de determinadas questões revisadas para uma linguagem mais informal, em virtude da difi culdade de seu entendimento por pais e cuidadores durante o processo de validação (SOUSA FILHO, 2014). Na Figura 12, destacaremos um exemplo da escala Autism Behavior Checklist (ABC/ICA), para melhor compreensão sobrea escala. 48 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 12 – EXEMPLO ESCALA AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST (ABC/ICA) FONTE: <https://mestrado-saude-meio-ambiente.unimes.br/documentos/ dissertacao-barbosa-marinilza.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020. 49 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 1 Para ilustrarmos a importância do professor no contexto que envolve a detecção do TEA, leia o caso a seguir e responda à questão. RELATO DE CASO Ana é professora e observou que em sua sala tem um aluno de cinco anos que apresenta: • Isolamento social. • Contato visual pobre. • Ausência de resposta ao chamado. • Difi culdade em participar de atividades em grupo. • Resistência à mudança de rotina ou ambiente: recusa a ambientes novos. • Comportamento restrito, limitado a um objeto, ou a uma atividade (fi car somente com aquele objeto). Mediante essa observação, o que a professora deve fazer? R.:________________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________. A partir dos instrumentos de diagnóstico apresentados para o TEA, destacamos a importância destes, pois a identifi cação precoce e as intervenções realizadas em crianças com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais (ARAÚJO; SCHWARTZMAN, 2011). Agora que já conhecemos alguns instrumentos para diagnóstico do TEA, vale destacarmos que, cabe ao professor estar preparado para detectar as difi culdades de seus alunos e encaminhá-los junto à família para profi ssionais especializados e responsáveis pelo diagnóstico. No entanto, o professor não é o profi ssional apto a diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois o diagnóstico implica no conhecimento ampliado sobre a origem de determinada doença ou manifestação de seu sintoma. 50 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste primeiro capítulo, compreendemos o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tendo como base o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em que se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais. Por meio de refl exões sobre o DSM-5, aprendemos que o TEA abarca limitações específi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas a prejuízos em habilidades sociais. Compreendemos, ainda, que o principal instrumento de avaliação utilizado é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), complementado com a aplicação de escalas diagnósticas válidas no Brasil. Aprendemos, também, que os instrumentos e escalas diagnósticas do TEA traduzidos e adaptados para o português brasileiro são: ATA (Scale of Autistic Traits), M-CHAT (Modifi ed- Checklist for Autism in Toddlers), ASQ (Autism Screening Questionary), ABC (Autism Behavior Checklist), CARS (Childhood Autism Rating Scale), ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised) e ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule). A partir dos instrumentos de diagnóstico apresentados nesse capítulo, destacamos a importância destes, pois a identifi cação precoce e as intervenções realizadas em crianças com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais. Frente às refl exões realizadas, no próximo capítulo, estabeleceremos discussões sobre a Intervenção no TEA e as Possibilidades de Interação e Aprendizagem. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. B. Psicopedagogia e distúrbios de aprendizagem: uma visão diagnóstica. Encontro: revista de psicologia, v. 13, n. 19, 2017. APA, American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2014. 51 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O DIAGNÓSTICO(TEA) E O DIAGNÓSTICO Capítulo 1 APA, American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. revisada (DSM-IV-TR). Porto Alegre: Artmed, 2002. ARAÚJO, A. C.; LOTUFO NETO, F. A nova classifi cação americana para os Transtornos Mentais - o DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, n. 1, abr. 2014. ARAÚJO, C. A. de; SCHWARTZMAN, J. S. Transtorno do espectro do autismo. São Paulo: Memnon, 2011. ASSUMPÇÃO JR., F. B. et al. Escala de Avaliação de Traços Autísticos (ATA): validade e confi abilidade de uma escala para a detecção de condutas autísticas. Arquivos Brasileiros de Neuropsiquiatria, v. 57, n. 1, p. 23-29, 1999. BERUMENT, S. K. et al. Autism screening questionnaire: diagnostic vality. British Journal of Psychiatry, v. 175, n. 5, p. 444-451, 1999. BOSA, C. A. Transtornos Globais do Desenvolvimento: análise das propriedades psicométricas dos instrumentos adaptados para a população brasileira. In: XX Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (ABENEPI). Anais... Belo Horizonte, 2013. BRITO, M. C. Estratégias de Intervenção nos Transtornos do Espectro Autista. [s.L.]: Instituto Nacional Saber Autismo, 2017. E-book (32 p.). GRAY, K. M.; TONGE, B. J.; SWEENEY, D. J. Using the autism Diagnostic Interview – Revised and the Autism Diagnostic Observation Schedule with young children with developmental delay: evaluating diagnostic validity. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 38, n. 4, p. 657-667, 2008. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17690967. Acesso em: 30 abr. 2020. LE COUTEUR, A. et al. Autism diagnostic interview: a standardized investigator – based instrument. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 19, n. 3, p. 363-387, sept. 1989. LORD, C.; RUTTER, M.; LE COUTEUR, A. Autism Diagnostic Interview- Revised: a revised version of a diagnostic interview for caregivers of individuals with possible pervasive developmental disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 24, n. 5, p. 659-685, oct. 1994. LOSAPIO, F. M.; PONDÉ, P. M. Tradução para o português da escala M-CHAT para rastreamento precoce de autismo. Rev. Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 30, n. 3, p. 221-229, 2008. 52 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista MACHADO, J. D. et al. DSM-5. Principais Mudanças nos Transtornos de Crianças e Adolescentes. In: REY, J. M. (ed.), IACAPAP e-Textbook of Child and Adolescent Mental Health. 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Evidências de validade convergente para a versão em português da Autism Diagnostic Interview - Revised e o Inventário de Comportamentos Autísticos em uma amostra de crianças e adolescentes de São Paulo. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2014. 54 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista CAPÍTULO 2 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender a importância das interações para o desenvolvimento do indivíduo com TEA e quais são os métodos e programas de intervenção. • Identifi car os métodos e os programas de intervenção para o TEA, analisando os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do indivíduo com TEA. • Conhecer a importância das interações para o desenvolvimento no TEA. 56 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 57 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Em continuidade aos nossos estudos, neste capítulo compreenderemos a importância das intervenções terapêuticas e educacionais para pessoas com TEA, pois estas poderão ajudar a desenvolver interesses e competências que permitam a independência na vida adulta. Assim, destacaremos diferentes abordagens que podem ser utilizadas nas intervenções para pessoas com TEA, as quais necessitam ser defi nidas pela equipe multidisciplinar, seguindo as práticas baseadas em evidências, sendo fundamentadas em pesquisas científi cas, na expertise profi ssional e na singularidade da pessoa a ser atendida, descaracterizando-se a aplicação do senso comum na abordagem terapêutica e educacional da pessoa com TEA (BRITO, 2017). No contexto que envolve as intervenções, sejam terapêuticas ou escolares, apreenderemos que estas necessitam possibilitar estratégias que valorizem a interação, a coletividade, a vivência/experiência, pois auxiliarão no desenvolvimento das potencialidades de pessoas com TEA. Vamos nos aventurar? Desejamos a você um excelente estudo! 2 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Neste capítulo, compreenderemos que a intervenção no TEA é um assunto complexo, pois envolve vários fatores. Assim, não há respostas absolutamente prontas e corretas para todo e qualquer caso, pois cada caso é único e deve ter suas particularidades respeitadas (BRITO, 2017). Frente a este contexto, iniciaremos refl exões destacando que estudos internacionais apontam que as intervenções no TEA necessitam iniciar precocemente, ou seja, antes dos dois anos de idade para as crianças com indicativos do transtorno (HAASE; LACERDA, 2004). 58 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Essa importância é evidenciada devido ao fato de que as intervenções de estimulação precoce têm seus fundamentos na neuroplasticidade, a qual pode ser defi nida como a capacidade de reorganização do mapeamento cerebral em resposta ao uso e à experiência. A neuroplasticidade ou plasticidade neural é defi nida como a capacidade do sistema nervoso de modifi car sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência (HAASE; LACERDA, 2004). A neuroplasticidade, apesar de permanecer por toda a vida do indivíduo, é mais expressiva durante o desenvolvimento cerebral infantil, ou seja, quando os neurônios estão mais aptos a formarem novas conexões a partir da experiência e do aprendizado (BRITO, 2017). Assim, podemos destacar que os primeiros dois anos de vida da criança são marcados por rápidas mudanças e pelo surgimento de habilidades sociais, cognitivas e de linguagem, o que torna este período especialmente importante para a intervenção. Este fato reforça a necessidade de atenção para os sinais de risco para o TEA e a importância da detecção precoce (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). Portanto, podemos inferir que a detecção precoce dos sinais do TEA torna- se fundamental, pois quanto antes a intervenção for iniciada, melhores serão os resultados em termos de desenvolvimento cognitivo, linguagem e habilidades sociais (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). A intervenção precoce é fator fundamental na evolução de crianças com TEA. Este fato está diretamente relacionado à neuroplasticidade ao longo da primeira infância. Portanto, quanto mais precoce a intervenção, melhores os resultados para a criança e para sua família (KASARI; FREEMAN; PAPARELLA, 2006). 59 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 FIGURA 1 – INTERVENÇÃO PRECOCE FONTE: <https://www.bonde.com.br/comportamento/noticias/veja-4-mitos-que- atrapalham-o-tratamento-do-autismo-493855.html>. Acesso em: 18 mar. 2020. Mediante a importância da detecção e intervenção, ressaltamos que a literatura científi ca nacional e internacional destaca a importância do respaldo de uma abordagem interdisciplinar colaborativa, que envolva uma equipe de profi ssionais, tais como fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais (BRITO, 2017). No entanto, vale destacarmos que a intervenção no TEA geralmente é realizada por equipe multiprofi ssional, que pode atuar em abordagens multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar (BRASIL, 2015). Vamos descobrir o que signifi cam essas abordagens? A abordagem multidisciplinar caracteriza-se por profi ssionais de várias especialidades que atuam de forma independente em todos os aspectos relacionados à reabilitação (FIGUEREDO, 2014). A abordagem interdisciplinar confi gura-se por profi ssionais de diferentes especialidades que compartilham as tomadas de decisões com relação ao tratamento, embora o tratamento em si, bem como a sua evolução, seja conduzido de forma independente (FIGUEREDO, 2014). A abordagem transdisciplinar é delineada por profi ssionais de distintas especialidades que compartilham não somente as tomadas de decisões, mas o 60 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 1 Com base no que estudamos, explique o que é intervenção precoce. R.:_______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ ______________________________________________.. planejamento e a execução do tratamento (FIGUEREDO, 2014). Frente às abordagens apresentadas, salientamos a importância da atuação voltada às pessoas com TEA por meio de equipe multiprofi ssional com abordagens inter e transdisciplinares, pois tendo-se em vista as características do TEA, propõe-se uma equipe multiprofi ssional constituída por profi ssionais da Educação Especial, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Pedagogia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, em atendimentos de estimulação precoce e reabilitação (BRASIL, 2015). Neste contexto, destacamos ainda a importância das intervençõesterapêuticas adequadas e da educação escolar para pessoas com TEA, pois estas poderão ajudar a desenvolver interesses e competências que permitam a independência na vida adulta em alguns casos (BRITO, 2017). As intervenções educacionais podem ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais, resolução de problemas adaptativos e comunicação mais efetiva (BRITO, 2017). Partindo do que estudamos, você pôde refl etir sobre o que signifi ca a intervenção precoce. A partir dessas refl exões, chegou a hora de você formular o seu conceito. 61 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Você respondeu à atividade de estudo e descobriu algumas respostas para as inquietações que envolvem o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir dessas descobertas, estudaremos na próxima seção as intervenções comportamentais e educacionais para o TEA. 2.1 INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS E EDUCACIONAIS PARA O TEA Na seção anterior, compreendemos a importância das intervenções terapêuticas e da educação escolar para pessoas com TEA, pois estas poderão ajudar a desenvolver interesses e competências que permitam a independência na vida adulta. Neste contexto, vale destacarmos que diferentes abordagens podem ser utilizadas nas intervenções para pessoas com TEA. No entanto, as intervenções necessitam ser defi nidas pela equipe multidisciplinar seguindo as práticas baseadas em evidências, as quais são fundamentadas em pesquisas científi cas, na expertise profi ssional e na singularidade da pessoa a ser atendida, descaracterizando-se a aplicação do senso comum na abordagem terapêutica e educacional da pessoa com TEA (BRITO, 2017). Vale lembrarmos que os primeiros passos para a intervenção se referem à identifi cação de alguns desses “sinais”, sendo eles: • A criança diz “Ele não quer! Ele não quer!” para expressar que não deseja algo. • Ecolalias (repetição da fala das outras pessoas). • Rigidez de signifi cados (por exemplo, difi culdade em compreender metáforas, piadas, sarcasmo e expressões com duplo sentido). • Ausência de ou pouco contato visual durante situações de comunicação. • Difi culdades para iniciar a comunicação com outra pessoa. • Difi culdades para expressar suas vontades por meio de gestos representativos. • Difi culdades na atenção compartilhada durante as interações e conversações. • Difi culdades em jogos sociais (por exemplo, em brincadeiras de faz de conta e de imaginação), entre outros “sinais” (BRITO, 2017). 62 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A fala ecolálica pode ser entendida como uma repetição imediata de uma ou mais palavras acabadas de serem ditas por outra pessoa; já a ecolalia tardia é caracterizada por uma repetição de expressões que são armazenadas e faladas após certo tempo e que muitas vezes podem ser ditas de forma descontextualizada ou inadequadas às situações presentes (FIORINI, 2017). A partir da identifi cação de sinais e com o diagnóstico estabelecido, pode- se iniciar a intervenção. Assim, torna-se imprescindível que cada profi ssional envolvido no processo realize, em conjunto com a família, investigações sobre a criança ou adulto com TEA em seus diferentes contextos de vida (em casa, na escola, entre outros). Esta parceria entre os que já convivem com a pessoa com TEA é imprescindível para a compreensão das necessidades da criança ou adulto com TEA (BRASIL, 2015). Não é recomendável que a intervenção fi que restrita ao contexto de terapia e/ou a situações escolares. O contexto familiar é o principal pilar da intervenção. Podemos ressaltar que algumas abordagens podem ser utilizadas no processo terapêutico e educacional da pessoa com TEA, podendo elas serem mediadas por diferentes profi ssionais que compõem a equipe. No entanto, algumas abordagens são específi cas de determinada área profi ssional (BRITO, 2017). Agora que apreendemos a importância das intervenções no TEA, exploraremos algumas abordagens nas próximas subseções. Vamos lá? 2.1.1 ABA (Applied Behavior Analysis / Análise do Comportamento Aplicada) A ABA é uma abordagem analítico-comportamental que foi aplicada pela primeira vez com autistas por Lovaas (1987), psicólogo e pesquisador do comportamento humano. Assim, a abordagem consiste em um estudo científi co que explica comportamentos e planeja modifi cações, visando aumentar, diminuir, criar, eliminar ou melhorar comportamentos (FIGUEREDO, 2014). 63 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Afi nal, quem foi Ivar Lovaas? Ivar Lovaas foi a primeira pessoa a aplicar os princípios da Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behaviour Analysis – ABA) e o Ensino por Tentativas Discretas (Discrete Trial Teaching – DTT) para ensinar crianças com autismo, de modo que muitas pessoas falam do método Lovaas quando mencionam o ensino de crianças com autismo (DIAS, 2017). O Ensino por Tentativas Discretas (Discrete Trial Teaching – DTT) é uma das metodologias usadas pela Análise do Comportamento Aplicada, realizado em um formato estruturado que facilita que uma nova habilidade seja aprendida. É caracterizada por dividir sequências mais complexas de aprendizagem em passos menores, ou separados, ensinando por partes, ou seja, um de cada vez durante um período de tentativas, juntamente ao reforço positivo (prêmios) e ao grau de assistência que for preciso para que seja alcançado o que se busca (LEAR, 2004; DIAS, 2017). O que é ABA? FIGURA 2 – ABA (APPLIED BEHAVIOR ANALYSIS / ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA) FONTE: <https://vitaclinica.com.br/blog-da-vita/terapia-baseada-em-estimulos- diante-de-acertos-ajuda-criancas-autistas/>. Acesso em: 20 mar. 2020. 64 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A ABA vem do campo do Behaviorismo, tendo suas origens nos estudos de Skinner, e é considerada como uma ciência que “observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem” (LEAR, 2004, p. 4). Assim, podemos inferir que esta abordagem é um modelo de intervenção, caracterizado pela análise criteriosa do comportamento humano para o desenvolvimento de estratégias de intervenção com vistas a prevenir e remediar comportamentos não adaptativos, lidar com excessos comportamentais e aprender comportamentos que ampliem a funcionalidade. Destacamos ainda que os métodos baseados na ABA dispõem dos princípios do comportamento para formar repertórios socialmente consideráveis (comportamentos desejáveis), como contato visual, habilidade de se relacionar com outros alunos, habilidade de conversar; habilidades acadêmicas, como ler, escrever, ou até mesmo atividades da vida diária, como usar o banheiro e reduzir repertórios problemáticos (comportamentos indesejáveis), como agressão, estereotipia, autolesões, entre outros que trazem difi culdades no convívio social e na aprendizagem deste indivíduo (DIAS, 2017). Assim, a proposta básica da ABA resume-se em estimular comportamentos funcionais e fortalecer as habilidades existentes, além de promover aquelas que ainda não foram desenvolvidas, de forma que o indivíduo aprenda a interagir com a sociedade, estendendo o atendimento a todos os ambientes onde vive. Para que isso seja possível, os profi ssionais utilizam técnicas para o desenvolvimento da comunicação, das habilidades sociais, da brincadeira, das atividades acadêmicas e das atividades de autocuidados. São utilizados reforçadores após a emissão de comportamentos ou respostas adequadas, além de considerarem os antecedentes das respostas emitidas pelo indivíduo, para que a função do comportamento seja observada e estudada (FIGUEREDO, 2014). 65 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 FONTE: <https://www.opopular.com.br/noticias/ludovica/blogs/viva-a-diferen%C3%A7a/viva-a-diferen%C3%A7a-1.925289/autismo-e-an%C3%A1lise- do-comportamento-aplicada-aba-1.1209484#>. Acesso em: 22 mar. 2020. FIGURA 3 – INTERVENÇÕES E ABA (APPLIED BEHAVIOR ANALYSIS / ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA) No entanto, a intervenção na ABA, segundo Windholz (1995), deve ser dividida em fases, sendo elas: • A primeira fase é a avaliação comportamental, em que se busca apontar as variantes que a controlam. • A segunda fase é a seleção de metas e objetivos, em médio prazo, adequando os comportamentos sociais e generalizando os comportamentos aprendidos. • A terceira fase é a do desenvolvimento dos programas de tratamento, no qual se determinam com clareza quais comportamentos devem ser ensinados, sendo necessário que se faça um diagnóstico prévio do que a criança já sabe para que, no decorrer do programa, perceba sua evolução. • A quarta fase refere-se à efetivação da intervenção. Nesse processo, para o indivíduo com TEA alcançar o critério de aprendizagem estabelecido, torna-se essencial que se repita por diversas vezes as tentativas de ensino, sendo que cada comportamento manifestado pelo indivíduo necessita ser registrado precisamente em forma de gráfi cos, que evidenciem os avanços deste em cada atividade, possibilitando a correção de possíveis erros (FIGUEREDO, 2014). 66 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Junto ao trabalho desenvolvido, é dada aos pais assistência, pois se entende que os problemas de uma criança com TEA não estão restritos apenas a ela, abrangem a família também. Fora isso, as crianças se comportam de maneira diferente na clínica e em casa, portanto, é fundamental que os pais saibam como lidar com os problemas e difi culdades dos fi lhos no ambiente doméstico. FONTE: <https://sites.usp.br/psicousp/analise-do-comportamento- auxilia-no-tratamento-de-tea/>. Acesso em: 22 mar. 2020. Destacamos, ainda, que as principais publicações sobre a ABA recomendam que a terapia seja realizada na frequência de 15 a 40 horas semanais, sendo feita em programas educacionais ampliados ou terapia individual (DIAS, 2017). Ressaltamos que a Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behaviour Analysis – ABA) pode ser aplicada por profi ssionais que conheçam abordagem, sendo estes os responsáveis pela elaboração do planejamento das técnicas que serão aplicadas. Esses profi ssionais, em sua maioria, são formados em psicologia e possuem especialização voltada para terapia comportamental, análise do comportamento ou Psicologia Experimental (FAGGIANI, 2010; DIAS, 2017). Frente ao contexto apresentado sobre a ABA, vale destacar que os processos de modifi cação comportamental têm apresentado resultados efi cazes em indivíduos com TEA ao auxiliar na sua inserção nas instituições de ensino, de forma a proporcionar que eles desenvolvam comportamentos mais desejáveis para um bom relacionamento dentro da sala de aula. Importante ressaltar que, incluir esses alunos com TEA não se resume unicamente à inserção deles no ensino regular, mas a uma prática inclusiva, que no caso do TEA pode ser relacionada à utilização do método da Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behaviour Analysis – ABA), o qual facilitará o processo educacional desses alunos (DIAS, 2017). 67 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Quer saber mais sobre a Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behaviour Analysis – ABA)? Assista ao vídeo “Autismo, ABA e o trabalho do Grupo Conduzir para o programa Auti Brasil”, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=rgh-70BUaog. Assista também ao vídeo “Terapia ABA é indicada para tratamento do autismo”, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=C3TQ1RhMdJA. Agora que já tecemos refl exões sobre o que é a Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behaviour Analysis – ABA), vamos investigar o que signifi ca o Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model – ESDM)? 2.1.2 Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model – ESDM) O Early Start Denver Model (ESDM) foi criado por Sally Rogers e Geraldine Dawson (2010). Este é um modelo importante na intervenção precoce de crianças até cinco anos (FIGUEREDO, 2014). O modelo Early Start Denver Model (ESDM) tem como base a construção das interações, as habilidades de engajamento com o outro, as iniciativas sociais da criança, a espontaneidade e o aumento de oportunidades de aprendizados sociais que a criança experimenta através de uma relação de afeto com seus semelhantes (FIGUEREDO, 2014). Frente à base de construção evidenciada no ESDM, ressaltamos que este modelo abarca dois modelos desenvolvimentistas, sendo eles: o construtivista e o transacional. A abordagem construtivista contribui com uma visão da criança como ser ativo, que constrói seu mundo mental e social (FIGUEREDO, 2014). A abordagem transacional acredita que tanto a criança quanto os indivíduos que se relacionam com ela afetam e infl uenciam o desenvolvimento um do outro. Assim, o comportamento, as habilidades e as emoções do adulto infl uenciarão no 68 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista desenvolvimento da criança ativamente e vice e versa, resultando em um processo interativo (ROGERS; DAWSON, 2010; FIGUEREDO, 2014). Frente às abordagens que compõem o ESDM, podemos destacar que: • Os procedimentos de ensino são bem descritos, apresentando objetivos claros, citando em que ambiente a habilidade a ser ensinada deve ser feita, o que queremos mudar, quantos acertos precisamos e como deve ser feita a generalização. Um passo a passo é montado para que estes objetivos sejam cumpridos. • Pode ser usado por pais, professores, equipe de terapeutas etc. • Preocupa-se com a coleta de dados para fi dedignidade dos dados e andamento da programação proposta, mostrando uma aproximação com a metodologia comportamental. • Desenvolve todas as habilidades da primeira infância, como: linguagem, brincadeira, interação social, atenção compartilhada, imitação, habilidades motoras, autocuidados e comportamento (FIGUEREDO, 2014, p. 109). Mediante os aspectos apresentados no ESDM, podemos observar uma combinação da abordagem desenvolvimentista com a comportamental. O ESDM vale-se da abordagem comportamental porque benefi cia-se das características e recursos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis) para montar a programação de trabalho de cada criança de forma individual. Prioriza, assim como na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), a coleta de dados e o detalhamento minucioso das atividades a serem realizadas com a criança, bem como os objetivos a serem alcançados (FIGUEREDO, 2014). Vale-se da abordagem desenvolvimentista para desenvolver a linguagem e o engajamento social (FIGUEREDO, 2014). Ressaltamos, ainda, que para além da abordagem comportamental e da abordagem desenvolvimentista, outras abordagens complementares se juntam para formar os fundamentos do ESDM, o que inclui o Denver Model, original de 1981, que foca na afetividade e em aspectos do relacionamento entre o terapeuta e a criança, a brincadeira e o uso da comunicação; o modelo de Desenvolvimento Interpessoal (DIR), e o Pivotal Response Treatment (PRT), que é uma abordagem de ensino baseada na análise do comportamento aplicada, que marca a iniciativa e a espontaneidade, e pode ser realizada no contexto natural da criança (FIGUEREDO, 2014). A grande contribuição do Pivotal Response Treatment (PRT) é o uso da motivação para o ensino de novas habilidades, o ensino em situações naturais e em ambientes variados e o treinamento de todos os envolvidos na educação e tratamento da criança (FIGUEREDO, 2014). 69 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Para se iniciar as sessões de ESDM, faz-se necessáriauma avaliação inicial com o delineamento de objetivos para cada criança, baseado no curriculum para intervenção precoce, desenvolvido pelo próprio modelo. A partir desta avaliação são desenvolvidos os procedimentos de ensino individualizados em um formulário diário, no qual serão registrados os dados. Os objetivos são desmembrados em passos de aprendizado, que devem ser seguidos diariamente (ROGERS; DAWSON, 2010). FIGURA 4 – CHECKLIST CURRICULUM DO MODELO DENVER DE INTERVENÇÃO PRECOCE 70 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 71 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 FONTE: <http://recursos.bertrand.pt/recurso?&id=9995104>. Acesso em: 23 mar. 2020. No curriculum são especifi cadas as habilidades respeitando o desenvolvimento da criança, considerando alguns domínios, sendo eles: a comunicação receptiva, a comunicação expressiva, a atenção compartilhada, a imitação, as habilidades sociais, as habilidades de brincadeira, as habilidades cognitivas, as habilidades motoras fi nas e grossas e as habilidades de autocuidados (FIGUEREDO, 2014). 72 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 5 – HABILIDADES: BRINCADEIRAS E A CRIANÇA COM TEA FONTE: <http://logopedaspeechtherapy.com/talk/>. Acesso em: 22 mar. 2020. No entanto, cinco domínios têm importância particular no ESDM, sendo eles: a imitação, a comunicação não verbal, a comunicação verbal, o desenvolvimento social (incluindo compartilhar emoções) e as brincadeiras. A partir desta importância o curriculum é organizado em quatro níveis de habilidades, que correspondem a períodos de idades diferentes: 12-18 meses, 18-24 meses, 24-36 meses, 36-48 meses (ROGERS; DAWSON, 2010). O modelo Early Start Denver Model (ESDM) tem como base a construção das interações, as habilidades de engajamento com o outro, as iniciativas sociais da criança, a espontaneidade e o aumento de oportunidades de aprendizados sociais que a criança experimenta através de uma relação de afeto com seus semelhantes (FIGUEREDO, 2014). Cabe destacar que, em uma atividade, ensina-se diversos comportamentos ou habilidades, e não uma habilidade de cada vez, como no ABA. Assim, a terapia fi ca mais dinâmica e consegue-se ganhos consistentes, garantindo muitas vezes a generalização do comportamento aprendido (ROGERS; DAWSON, 2010). Outro aspecto a ser destacado nesta abordagem é a importância de a criança estar interessada pelas estimulações durante as brincadeiras propostas, pois esta abordagem preocupa-se com a comunicação e com a interação social e as iniciativas da criança. 73 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 As sessões de ESDM podem ser feitas em casa, em programas de grupo e em sessões de terapia individual em uma clínica. As sessões ocorrem no período de 20 horas ou mais por semana, com a duração de aproximadamente duas horas por sessão (ROGERS; DAWSON, 2010). O modelo destaca que a terapia não se torna efi caz se realizada uma ou duas vezes por semana, sendo necessário treinamento dos pais. Nesse treinamento são ensinados aos pais como estes podem ter sucesso na implementação do ESDM nas rotinas diárias e nas brincadeiras com seus fi lhos (ROGERS; DAWSON, 2010). Caso a rotina de aplicação das orientações aos pais for bem estruturada, os pais podem conseguir grandes mudanças nas habilidades sociais e na linguagem de seus fi lhos. Agora que já apreendemos o que é o Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model – ESDM), vamos investigar o que signifi ca o DIR/Floortime? 2.1.3 DIR/Floortime (Developmental, Individual Difference, Relationship- Based Model) Modelo Baseado no Desenvolvimento, Diferenças Individuais e Relação Iniciaremos refl exões destacando que o DIR/Floortime foi criado para estimular os pontos fortes e os desafi os de cada criança, baseando-se nas necessidades específi cas de desenvolvimento (GREENPAN; WIEDER, 2006). Nesta perspectiva, o DIR/Floortime leva em conta o perfi l individual e familiar, de modo a criar uma intervenção específi ca efi caz para cada criança. Cada componente do modelo DIR/Floortime é baseado na fi losofi a de que toda a aprendizagem se dá através das relações interativas e que servem essencialmente como base para a linguagem (FIGUEREDO, 2014). DIR/Floortime é um modelo terapêutico com base no desenvolvimento das diferenças individuais e nas relações interpessoais de crianças com alguma alteração no desenvolvimento da sociabilidade, dentre elas, o TEA. Assim, o modelo apresenta como objetivo construir as bases para o desenvolvimento das capacidades sociais, emocionais e intelectuais da criança, ao 74 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista invés de focar nas habilidades e comportamentos isolados. A habilidade do pensamento, por exemplo, inclui algumas capacidades, como usar a linguagem socialmente, atenção compartilhada, teoria da mente, ler sinais emocionais e sociais (GREENPAN; WIEDER, 2006; FIGUEREDO, 2014). Podemos destacar que o modelo DIR considera a linguagem e a cognição, assim como habilidades sociais e emocionais, as quais são aprendidas por meio das relações que envolvem trocas emocionais signifi cativas. Portanto, trabalhar no ambiente natural da criança passa a ser primordial, já que é neste contexto que as relações emocionais e interações acontecem (GREENPAN; WIEDER, 2006). O modelo DIR entende a criança como um ser único e, na sua individualidade, busca construir as bases para que ela possa pensar, se comunicar e se relacionar, apesar das suas limitações (FIGUEREDO, 2014). A abordagem Floortime faz parte do modelo DIR, sendo a principal estratégia para sistematizar a brincadeira com a criança e proporcionar sua progressão sobre as etapas do desenvolvimento. É uma abordagem que pode ser utilizada por profi ssionais de várias áreas (psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais) e familiares capacitados. A participação da família é importante devido à relação emocional e ao fato de passarem a maior parte do tempo com a criança (GREENPAN; WIEDER, 2006). No Floortime (tempo de chão), a família e/ou terapeuta seguem os interesses da criança ao mesmo tempo em que a desafi a a alcançar um maior domínio das capacidades sociais, emocionais e intelectuais. O domínio destas capacidades torna-se fundamental para o desenvolvimento das relações sociais espontâneas (GREENPAN; WIEDER, 2006). FIGURA 6 – RELAÇÕES SOCIAIS ESPONTÂNEAS FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/18024/autismo- conheca-o-modelo-dirfl oortime-usado-no-desenvolvimento-de- criancas-com-autismo>. Acesso em: 22 mar. 2020. 75 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Greenpan e Wieder (2006) dividem as relações sociais em seis estágios, sendo eles: • 1º Atenção compartilhada e regulação: ou seja, interesse e respostas intencionais a sons, toques, movimentos e outras experiências sensoriais (0-3 meses). • 2º Engajamento e relacionamento: engajamento com o parceiro de comunicação. Autistas podem mostrar pouca experiência de intimidade e interesse pelo próximo (2-5 meses). • 3º Interações emocionais intencionais e comunicação didática: uso de gestos, sons, ações e interações para indicar intenções comunicativas (4-10 meses). • 4º Resolução de problemas sociais, regulação de humor e formação de um senso do eu: (10-18 meses) as interações sociais são usadas para resolução de problemas, regulação de afeto. • 5º Criação de ideias: (18-30 meses) uso funcional de palavras e frases e brincadeiras de faz de conta, mostrando criatividade. • 6º Construindo conexões entre as ideias: pensamento emocional, lógico e senso de realidade. As relações e interações apresentadas são as bases fundamentaisdo modelo DIR, e são conhecidas como Floortime (tempo de brincar no chão). Este modelo estimula a família, o terapeuta e os professores a assumirem um papel ativo, criando atividades espontâneas e criativas para um melhor desenvolvimento da criança. O Floortime é um componente do programa de intervenção baseada no modelo DIR. Tem a característica de criar interações signifi cativas de aprendizagem, estimulando as seis capacidades básicas de desenvolvimento mencionadas (GREENPAN; WIEDER, 2006; FIGUEREDO, 2014). Assim, as principais metas do Floortime são: • Adentrar o mundo da criança através do brincar, seguindo seu exemplo e estimulando sua iniciativa. • Trazer a criança para um mundo compartilhado, fazendo com que isso seja prazeroso para ela. Para isso, conta com um processo terapêutico baseado em cinco etapas: 1. Avaliação/Observação, em que se busca averiguar a forma com que a criança brinca e a fase do brincar em que ela se encontra, a fi m de desenvolver a melhor forma de abordá-la em seu mundo. 2. Abordagem – círculos abertos de comunicação, em que, utilizando gestos ou palavras, estabelecem-se as primeiras interações comunicativas com a criança, buscando iniciar um vínculo. 76 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 3. Seguir a iniciativa da criança ao brincar, adentrando seu mundo para interagir com ela e dando signifi cado à brincadeira por ela escolhida, uma vez que a vontade dela é a porta de entrada para sua vida emocional e intelectual. 4. Alargar e expandir a brincadeira gradativamente, estimulando habilidades, das menos complexas para as mais complexas, e ajudando a criança a expressar suas ideias, considerando-se que, ao adentrar o mundo dela, pode-se criar uma série de oportunidades para ajudá-la a desenvolver-se e a avançar os níveis de relacionamento, comunicação e pensamento. 5. Fechar os ciclos de comunicação, valorizando a comunicação recíproca (GREENPAN; WIEDER, 2006; FIGUEREDO, 2014). Mediante as metas apresentadas, podemos destacar que este modelo auxilia os terapeutas, os pais e os professores a conduzirem com maior facilidade a intervenção, preocupando-se com o relacionamento, com a comunicação e com o pensamento das crianças com TEA (FIGUEREDO, 2014). As interações podem ter a duração de 20 ou 30 minutos, em que o terapeuta, o professor ou os pais interagem com a criança por meio de brincadeiras, buscando promover o desenvolvimento ou a aquisição das habilidades supracitadas, sendo este o tempo de chão (Floortime) (FIGUEREDO, 2014). A liderança é da criança, ou seja, o terapeuta, o professor ou os pais seguem os interesses e as motivações dela. Essa interação torna-se essencial, pois estimula a comunicação (mesmo que a criança ainda não seja verbal) e ajuda a manter a relação entre pares (FIGUEREDO, 2014). Exemplo de atividade durante a sessão: a criança deseja brincar com carrinhos, o terapeuta/professor/pais começam a brincar também com carrinhos, oferecem a oportunidade de uma competição, provocam uma batida entre o carrinho deles e o da criança, promovendo, assim, uma interação. Com essa prática, o objetivo é conquistar a confi ança da criança e incluir rotinas motivadoras relacionadas ao interesse dela. Tais estratégias interativas favorecem o desenvolvimento, cada vez mais complexo, das habilidades sociais, de comunicação e do lúdico. Agora que já compreendemos o que é o DIR/Floortime, vamos investigar o que signifi ca o Picture Exchange Communication System (PECS)? 77 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 2.1.4 Picture Exchange Communication System (PECS) A difi culdade na comunicação persiste na maioria dos casos de TEA, o que demanda intervenções específi cas, pois algumas crianças podem não desenvolver a habilidade de comunicação oral, o que pode tornar a vida cotidiana e acadêmica das crianças com TEA extremamente limitada (GOLDSTEIN, 2002; OLIVEIRA; JESUS, 2016). É neste contexto que emerge o Picture Exchange Communication System (PECS), o qual consiste em um sistema de comunicação que ressalta a relação interpessoal, em que ocorre um ato comunicativo entre o indivíduo com difi culdades de fala ou ausência dela e um adulto, por meio de trocas de fi guras (OLIVEIRA; JESUS, 2016). Por meio do Picture Exchange Communication System (PECS), a criança aprende a requisitar objetos ou atividades de interesse por meio da troca de fi guras pelos itens (potenciais reforçadores) (OLIVEIRA; JESUS, 2016). FIGURA 7 – PICTURE EXCHANGE COMMUNICATION SYSTEM (PECS) FONTE: <https://www.revistaautismo.com.br/artigos/pecs/>. Acesso em: 22 mar. 2020. 78 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A partir da visualização da Figura 7, podemos ressaltar que o primeiro tipo de comunicação ensinada de acordo com o protocolo do PECS é, portanto, requisitar por itens de interesse ou treino para o operante (OLIVEIRA; JESUS, 2016). Ao aprender a requisitar, a criança com difi culdade na fala adquire a habilidade funcional para conseguir a atenção de outras pessoas e pedir pelo que deseja com o auxílio de fi guras (JURGENS; ANDERSON; MOORE, 2009; OLIVEIRA; JESUS, 2016). Assim, destacamos que o método do PECS visa estimular a comunicação e diminuir problemas de comportamento por meio de um contexto estruturado e concreto. Este é um sistema de comunicação expressiva, no qual o indivíduo pode solicitar de forma funcional e adequada suas necessidades e seus desejos, utilizando-se de referências com fotos, materiais concretos ou fi guras (CORTES, 2015; RIBEIRO; BLANCO, 2016). A aprendizagem por meio da troca de fi guras demonstra avanços nas capacidades de comunicação, diminuição de comportamentos inapropriados e oportuniza melhoras nas relações interpessoais das pessoas que o utilizam (VIEIRA, 2013; RIBEIRO; BLANCO, 2016). Sobre a aprendizagem, Ramos (2011, p. 37) destaca que “utilizando os PECS as crianças podem aprender a se comunicar primeiro com fi guras isoladas, mais tarde, porém, aprendem a combinar imagens para assimilar diversas estruturas gramaticais, relações semânticas e funções comunicativas”. No contexto que envolve a aprendizagem, Macedo (2011) e Ribeiro e Blanco (2016) corroboram ao destacar que o PECS é constituído por seis fases, sendo elas: • Fase I – Troca física: geralmente realizada na presença de dois técnicos: o técnico facilitador (posicionado atrás do aluno) deverá ajudar fi sicamente o aluno a fazer a troca de fi gura pelo item desejado; já o técnico comunicativo deverá estar de mãos abertas para receber a fi gura e com a outra mão deverá imediatamente entregar o item desejado ao aluno, nomeando-o. • Fase II – Distância e persistência: nesta fase os técnicos provocarão o aluno a trocar de forma espontânea o item desejado, aumentando progressivamente a distância entre o aluno e o “dossier” comunicativo. • Fase III – Discriminação entre fi guras: nesta fase, coloca-se duas fi guras no “dossier” comunicativo: uma desejada e outra não desejada, reforçando o desejo de escolha do aluno. Quando o aluno faz a opção pela fi gura de desejo naquele momento, o profi ssional deverá repetir a tarefa, aumentando progressivamente o número de fi guras semelhantes 79 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 para que o aluno aprenda a fazer escolhas entre objetos igualmente desejados. • Fase IV – Aumentar a estrutura da frase: nesta fase o aluno vai interagir colocando a sequência de fi guras em uma tira para formar uma frase simples. Primeiramente, fi xa-se a referência “eu quero” à esquerda e ao lado coloca-se seu objeto de desejo, fazendo a entrega ao técnico, que deverá simultaneamente ler a frase. • Fase V – Respondendo – O que queres?: nesta fase a criança é provocada a solicitar seus objetos de desejo respondendoà questão apontada pelo técnico “O que queres?” colocada no seu “dossier” comunicativo. Inicia-se a comunicação espontânea por meio da troca de fi guras. • Fase VI – Respondendo espontaneamente: nesta fase a criança aprende a compor sentenças respondendo, espontaneamente, a questão “O que você quer?” / “O que você ouve?”, colocando a fi gura “eu quero”/ “eu ouço” na tira do seu “dossier” comunicativo e a imagem do objeto aprendido. Lembre-se: com o auxílio do PECS poderá ser incorporada uma rotina ao dia da criança para ajudá-las a compreenderem o que precisa ser alcançado, entender o que os outros esperam que elas façam. Para crianças com difi culdades no planejamento, organização e gerenciamento de tempo, a rotina se torna sua ferramenta também para se expressar, principalmente nos casos não verbais. FIGURA 8 – EXEMPLO DE ROTINA COM USO DO PECS FONTE: <http://www.blogin.com.br/2018/03/29/sugestoes-estruturar- rotina-nos-casos-tea/>. Acesso em: 24 mar. 2020. 80 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 9 – EXEMPLO PECS PARA ENSINAR O BANHO FONTE: <http://www.blogin.com.br/2018/03/29/sugestoes-estruturar- rotina-nos-casos-tea/>. Acesso em: 24 mar. 2020. FIGURA 10 – EXEMPLO PECS PARA A ROTINA NA ESCOLA FONTE: <http://www.blogin.com.br/2018/03/29/sugestoes-estruturar- rotina-nos-casos-tea/>. Acesso em: 24 mar. 2020. 81 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Para a confecção da rotina, podem ser usados cartões plastifi cados com fi guras indicando as atividades fi xados no mesmo local todos os dias, com uso de velcro para movimentar as imagens com facilidade. O aluno também pode ter uma cópia em sua mesa, e o modelo de rotina poderá ser levado para casa, pois assim promoverá a participação da família e que os pais saibam o que aconteceu na escola, estimulando também a conversa com o fi lho sobre os acontecimentos do ambiente escolar. Quer saber mais sobre Picture Exchange Communication System (PECS)? Assista ao vídeo Organizando a pasta de PECS, disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_ continue=46&v=vIgcujNnTwc&feature=emb_logo. Por meio dos exemplos de utilização do Picture Exchange Communication System (PECS), podemos destacar que os seus benefícios para crianças com TEA são discutidos na literatura e demonstram o bom aprendizado do método por estudantes, baseado na melhoria do comportamento sociocomunicativo, aumento da linguagem verbal e complexidade gramatical até a generalização de habilidades comunicativas aprendidas (MACEDO, 2011; RIBEIRO; BLANCO, 2016). Agora que já descobrimos o que é o Picture Exchange Communication System (PECS), vamos investigar o que signifi ca o Treatment And Education Of Autistic And Communication Handicapped Children (TEACCH)? 2.1.5 Treatment And Education Of Autistic And Communication Handicapped Children (TEACCH) O programa TEACCH pode ser aplicado a pessoas de todas as faixas etárias, envolvendo diferentes serviços e abordagens, como fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional, educação especial, psicologia, equoterapia, entre outras (RIBEIRO; BLANCO, 2016). TEACCH, em português, signifi ca Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Défi cits relacionados com a Comunicação. 82 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista O programa TEACCH foi criado no fi m da década de 1960 pelo Dr. Eric Schopler, na Universidade da Carolina do Norte (EUA), partindo de uma orientação cognitiva e comportamental (SANTOS, 2005). Sobre o programa TEACCH, Fernandes e Amato (2013) destacam que a Teoria Behaviorista e a Psicolinguística são as bases epistemológicas. Assim, na terapia comportamental (Behaviorista), a estruturação do ambiente torna- se indispensável, utilizando-se de reforçadores que aumentem a frequência de comportamentos desejáveis. Na psicolinguística, o uso da imagem visual gera a comunicação. Neste processo, a linguagem não verbal vai incorporando signifi cados por meio da interiorização das experiências, desenvolvendo-se progressivamente a comunicação, que poderá se manifestar de forma oral, gestual ou escrita (RIBEIRO; BLANCO, 2016). No programa TEACCH, faz-se o uso de cartões com fotos, desenhos, símbolos ou objetos concretos, os quais necessitam prever as ações a serem desenvolvidas e a estrutura física. Cabe destacar que no decorrer do tempo, com o desenvolvimento da habilidade em executar uma determinada atividade, esta passará a fazer parte da rotina da criança de forma sistemática. O Picture Exchange Communication System (PECS), o qual consiste em um sistema de comunicação, pode ser utilizado no programa TEACCH para estabelecer comunicação com a criança com TEA (RIBEIRO; BLANCO, 2016). Outro aspecto a ser destacado no programa TEACCH é a necessidade de estrutura física bem delimitada, com cada espaço para uma função; atividades com sequência para que as crianças saibam o que se exige delas e o uso direto de apoio visual, como cartões (MOREIRA, 2016; RIBEIRO; BLANCO, 2016). FIGURA 11 – ESTRUTURA FÍSICA: ÁREA DE ENSINO INDIVIDUALIZADO FONTE: <https://sites.google.com/site/desvendandooautismo/ teacch>. Acesso em: 24 mar. 2020. 83 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 FIGURA 12 – ESTRUTURA FÍSICA: ÁREA DE ENSINO EM GRUPO FONTE: <https://sites.google.com/site/desvendandooautismo/ teacch>. Acesso em: 24 mar. 2020. Mediante as Figuras 9, 10 e 11, podemos observar que a estrutura do programa TEACCH envolve: • a organização da área física, na qual a disposição dos móveis oferece pistas visuais ao aluno, de maneira que consiga se deslocar independentemente dentro do espaço, evitando, assim, a distração e oportunizando-lhe o reconhecimento da função de cada área disponibilizada; • a programação diária e o uso de rotinas incorporadas em agendas, que indicam visualmente a rotina programada do aluno, auxiliando na transição independente entre as atividades que deverá realizar (RIBEIRO; BLANCO, 2016). O principal objetivo do programa é ajudar a pessoa com TEA a se desenvolver com autonomia e independência. Sua aplicação deve ser adaptada a diferentes níveis de funcionamento e levar em consideração as necessidades individuais de cada pessoa. Podemos inferir que o TEACCH é um modelo de intervenção que, por meio de uma “estrutura externa”, organização de espaço, materiais e atividades, permite criar mentalmente “estruturas internas” que devem ser transformadas pela própria criança em estratégias e, mais tarde, automatizadas [...]. Uma 84 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista das abordagens mais recomendadas para ensinar pessoas com TEA é aquela que usa apoios visuais. [...] Figuras, objetos e pistas escritas podem ajudar os alunos a aprender a comunicar e a desenvolver autocontrole, orientando-os na organização e na previsibilidade (FONSECA; CIOLA, 2016, p. 20). No entanto, para que o programa seja efetivo, torna-se necessário o apoio recíproco entre pais e profi ssionais envolvidos, para que juntos possam fi xar as prioridades de um programa individualizado, de acordo com a avaliação, que contemple habilidades atuais e prioritárias e possíveis formas de desenvolvê-las (FONSECA; CIOLA, 2016). Ufa! Quanto conhecimento! Nessa seção, aprendemos sobre a importância das intervenções no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e descobrimos algumas abordagens utilizadas para a intervenção. Na próxima seção, teceremos refl exões sobre a importância da interação e da coletividade para o desenvolvimento da criança com TEA. 3 A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO E DA COLETIVIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM TEA Ressaltamos que no contexto que envolve as intervenções educacionais, a criança com TEA necessita ser compreendida como sujeito com capacidades para desenvolver-se,sendo que, no desenvolvimento dessa criança, torna-se essencial a compreensão das singularidades (TRENTIN, 2011). Segundo Vygotsky (1997), as crianças com defi ciência constituem um grupo heterogêneo entre si, sendo necessário estarmos atentos às singularidades de cada sujeito, com dois enfoques: as leis comuns do desenvolvimento infantil e as peculiaridades referentes à criança com defi ciência/transtornos. O autor ainda complementa, esclarecendo que a defi ciência não deve ser compreendida somente como primária (biológica), mas, principalmente, como secundária (social). 85 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Para Vygotsky (1997), a defi ciência primária está relacionada às características físicas e ao biológico (como lesões orgânicas, lesões cerebrais, síndromes ou malformação orgânica) (TRENTIN, 2011). A defi ciência secundária é produzida pelas interações – ou pela ausência de interações – estabelecidas com a criança (TRENTIN, 2011). É no contexto que envolve as interações sociais que emerge a importância do papel do coletivo para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, especialmente de pessoas com defi ciência/transtornos, assim, temos, como base, o Tomo V das Obras Completas de L. S. Vygotsky (1997) – Fundamentos de Defectologia, capítulo “A coletividade como fator de desenvolvimento da criança com defi ciência”. Vygotsky, ao analisar o papel do coletivo para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, chegou à conclusão de que o desenvolvimento incompleto dessas funções está agregado à restrição ao ambiente cultural e à ausência de relacionamento com o coletivo. Essa restrição, associada à defi ciência primária, ocasiona “[...] uma forma de desenvolvimento incompleto [...]” (VYGOTSKY, 1997, p. 144). FIGURA 13 – FUNÇÕES PSICOLÓGICAS ELEMENTARES E FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES FONTE: <https://pt.slideshare.net/snvanessa/ vygotsky-5317104>. Acesso em: 24 mar. 2020. 86 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Podemos entender por funções psicológicas elementares os refl exos, a atenção involuntária e as associações simples. As funções psicológicas superiores referem-se a mecanismos de ação, como a capacidade de planejamento, a criatividade, a memória voluntária, a imaginação e a deliberação sobre si e sobre os outros. Com base no pensamento vygotskyano, as funções psicológicas elementares, como a memória involuntária, o pensamento não verbal e os aspectos mais primitivos da atenção e do desejo estão relacionados às características inatas da espécie humana (TRENTIN, 2018). No entanto, o que permite o desenvolvimento das funções psicológicas superiores é a mediação. Sobre a mediação, cabe destacarmos que a relação do homem com o mundo físico e social é sempre mediada (TRENTIN, 2018). Assim, podemos compreender que o sujeito só desenvolve as funções psicológicas superiores quando interage socialmente com o meio em que vive. Para compreendermos o que são as funções psicológicas superiores, vamos assistir ao fi lme TARZAN. Direção: Kevin Lima, Chris Buck. EUA: 1999. Ao assistir, você perceberá que Tarzan, por ter sido criado por macacos, não teve mediação com o meio social e cultural e, consequentemente, não desenvolveu as funções psicológicas superiores. 87 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 Por que Vygotsky (1997) afi rma que nas crianças com defi ciência/transtornos as funções psicológicas superiores se desenvolvem de modo incompleto? Porque, para Vygotsky (1997), o defeito primário sobrepõe-se a uma série de impeditivos que conduzem o sujeito ao isolamento e que criam obstáculos ao desenvolvimento de sua interação e coletividade com as pessoas que o rodeiam e de sua comunicação com o grupo social. Complementando, Vygotsky (1997) anuncia que o distanciamento da coletividade difi culta o desenvolvimento social e determina o desenvolvimento incompleto das funções psicológicas superiores. Assim, vale destacar que Vygotsky (1997) ressalta a importância da coletividade a partir das leis comuns que envolvem o desenvolvimento do homem e do pressuposto da origem social das funções psicológicas superiores, validadas pela fi logênese e pela ontogênese da espécie humana. A fi logênese corresponde à história da espécie humana, o que faz do homem resultado parcial da história de sua espécie (SILVA, 2017). A ontogênese diz respeito à evolução de cada ser humano, ao longo da sua vida, em sua trajetória pessoal (SILVA, 2017). De acordo com Vygotsky (1997, p. 214), da fi logênese emergem as funções psicológicas superiores, pois “no processo da vida social coletiva se elaboram e se desenvolvem todas as formas superiores de atividades intelectuais próprias do homem”. Sobre a construção ontogenética do desenvolvimento psicológico, Hostins, Silva e Alves (2016) anunciam que Vygotsky verifi cou, em seus estudos, que a organização e a estruturação das funções psicológicas superiores ocorrem em um processo de interação e de colaboração com o meio social. Assim, Vygotsky (1997) declara que a função psíquica aparece no desenvolvimento da conduta duas vezes: a) como função coletiva, forma de interação e colaboração; e b) como função de adaptação da conduta individual. Isso signifi ca dizer que a coletividade apresenta importante papel no desenvolvimento não só de pessoas com defi ciência/transtornos, pois em um 88 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista contexto coletivo, são “socialmente produzidos signifi cados e utilizados os instrumentos culturais que interferem no destino do desenvolvimento cultural humano” (HOSTINS; SILVA; ALVES, 2016, p. 161). Vygotsky (1997) chegou ao entendimento sobre a importância da coletividade a partir dos resultados de suas pesquisas, os quais o levaram à conclusão de que o desenvolvimento incompleto das funções superiores dessas crianças vincula-se ao seu desenvolvimento cultural incompleto, a sua exclusão do ambiente cultural, ao seu pouco contato com uma coletividade infantil. Essa exclusão ou insufi ciência de vivência cultural agrega-se a sua defi ciência primária, como complicações adicionais “em forma de desenvolvimento social incompleto” (VYGOTSKY, 1997, p. 144). No sentido apontado por Vygotsky (1997), a mediação do outro torna-se primordial na educação escolar, pois é por meio dela que ocorre a transformação do processo interpessoal (social), para o processo intrapessoal (individual). No processo interpessoal (social), para o processo intrapessoal (individual), o sujeito vivencia a atividade no âmbito social, para depois internalizá-la, ocorrendo, assim, o processo de aprendizagem e de desenvolvimento (TRENTIN, 2011). Agora que apreendemos sobre a importância da interação e da coletividade, nos direcionaremos à vivência/experiência. No que concerne à experiência, vale destacar a Pedologia, ou seja, a ciência que estuda não o meio e as regras que o constituem, mas sim, seu papel, seu signifi cado, sua participação e sua infl uência no desenvolvimento da criança. Assim, [...] a pedologia deverá saber encontrar a relação existente entre a criança e o meio, a vivência da criança, isto é, de que forma ela toma consciência e concebe, de como ela se relaciona afetivamente para com certo acontecimento. Esse é o prisma que determina o papel e a infl uência do meio no desenvolvimento do – digamos – caráter da criança, do seu desenvolvimento psicológico (VYGOTSKY, 2010, p. 686). Compreendemos que Vygotsky não destaca a percepção sobre o meio, mas sobre a relação entre a criança e o meio, sobre o modo como ela interpreta e produz sentidos sobre suas experiências no mundo, sendo que é neste processo que as peculiaridades constitutivas da sua personalidade desempenham papel principal. Esse contexto queenvolve a personalidade e o meio, o sujeito e a cultura, é destacado por Vygotsky (2010) no conceito de perezhivanie, que, ao ser 89 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 A microgênese corresponde à relação que se estabelece entre o psiquismo individual com os demais aspectos: biológico, histórico e cultural. Neste plano se encontra a subjetividade, o que possibilita que cada sujeito tenha uma experiência ímpar mesmo diante de situações igualmente vivenciadas. Devido à singularidade de cada sujeito em seu processo psicológico, torna-se impossível que duas pessoas apresentem a mesma trajetória no processo de desenvolvimento e aprendizagem (SILVA, 2017). traduzido, se aproxima do conceito de vivência. Mediante o exposto por Vygotsky (2010), emerge um questionamento: O que signifi ca vivência? Segundo Vygotsky (2010, p. 683-684): A vivência de uma situação qualquer, a vivência de um componente qualquer do meio determina qual infl uência essa situação ou esse meio exercerá na criança. Dessa forma, não é esse ou aquele elemento tomado independentemente da criança, mas, sim, o elemento interpretado pela vivência da criança que pode determinar sua infl uência no decorrer de seu desenvolvimento futuro. Compreendemos que na vivência estão presentes, como uma unidade indivisível, a personalidade específi ca do sujeito e as particularidades da situação experienciada, ou seja, a microgênese. Assim, as vivências, no processo de aprendizagem, necessitam organizar-se para estimular o pensamento, proporcionando novos signifi cados para o uso da palavra (falada e escrita) “como meio para a formação de conceitos” (VYGOTSKY, 2008, p. 51). A experiência, segundo Vygotsky (2010), signifi ca a vivência, ou seja, tudo que vai se compondo na coletividade e na formação da personalidade dos sujeitos. 90 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 14 – VIVÊNCIA/EXPERIÊNCIA FONTE: <https://www.romanews.com.br/colunistas/post/livre-brincar-a- infancia-para-os-nossos-fi lhos/405/>. Acesso em: 25 mar. 2020. Sob esse ângulo, Vygotsky (2014, p. 13) anuncia que “quanto mais o sujeito ouvir e experimentar, quanto mais aprender e assimilar, quanto mais elementos da realidade tiver a sua disposição na sua experiência, mais importante e produtiva será sua atividade imaginativa”. Assim, considera-se a ampliação das vivências uma condição essencial para a aprendizagem. Após a compreensão da importância da coletividade e da vivência/experiência apresentadas por meio dos escritos de Vygotsky (1997), compreendemos que as difi culdades de aprendizagem das crianças com defi ciência/transtornos requerem a busca de subsídios teóricos para que se tenha a compreensão do processo de aprendizagem. Agora que você compreendeu a importância da interação, da coletividade e da vivência no contexto que envolve o desenvolvimento e a aprendizagem, segue sugestão de livro: VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 91 INTERVENÇÃO E O TEA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEMINTERAÇÃO E APRENDIZAGEM Capítulo 2 1 Faça uma refl exão sobre que aprendemos nos estudos de Vygotsky, e com base em suas próprias experiências como professor e/ou aluno, descreva sobre a importância da vivência/ experiência no processo que envolve a aprendizagem. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. Frente às refl exões realizadas, consideramos importante destacar que as intervenções, sejam elas terapêuticas ou escolares, necessitam possibilitar estratégias que valorizem a interação, a coletividade, a vivência/experiência, pois auxiliarão no desenvolvimento das potencialidades de pessoas com TEA. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse capítulo, compreendemos que a intervenção no TEA é um assunto complexo, pois envolve vários fatores. Assim, não há respostas absolutamente prontas para todo e qualquer caso, pois cada caso é único e deve ter suas particularidades respeitadas e analisadas. Apreendemos ainda algumas abordagens de intervenção, sendo elas: ABA (Applied Behavior Analysis / Análise do Comportamento Aplicada); Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model – ESDM); DIR/Floortime (Developmental, Individual Difference, Relationship-Based Model); Picture Exchange Communication System (PECS) e o Treatmentand Education of Autistic and Communication Handicapped Children (TEACCH). A partir das abordagens apresentadas nesse capítulo, destacamos a importância destas, pois as intervenções realizadas em sujeitos com TEA podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais. 92 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Frente à importância das interações e da coletividade no desenvolvimento e aprendizagem do sujeito com TEA, tecemos refl exões sobre os estudos de Vygotsky, visto que apreendemos sobre a necessidade de compreensão da construção social da pessoa com defi ciência/transtorno, pois fornece subsídios para o entendimento do processo de desenvolvimento e aprendizagem. A partir das refl exões realizadas, no próximo capítulo conheceremos o papel do professor regente e do professor de apoio frente às interações e à aprendizagem e, por meio deste conhecimento, analisaremos os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Vamos mergulhar nesse universo? REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi ciência (Estatuto da Pessoa com Defi ciência). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ l13146.htm. Acesso em: 25 mar. 2020. BRITO, M. C. Estratégias de Intervenção nos Transtornos do Espectro Autista. [s.L.]: Instituto Nacional Saber Autismo, 2017. E-book (32 p.). CORTES, C. C. Comunicação Alternativa: um outro olhar para se comunicar. Monografi a (Graduação em Pedagogia). São Gonçalo: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015. DIAS, N. dos S. 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São Paulo: Memnon, 1995. 96 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista CAPÍTULO 3 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer o papel do professor regente e professor de apoio frente às interações e à aprendizagem. • Analisar os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com TEA. • Conhecer a importância do brincar para a promoção da interação da criança com TEA. 98 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 99 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Aprendemos ao longo deste livro a importância das intervenções realizadas em sujeitos com TEA, as quais podem resultar na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais. Compreendemos também que o professor não é o profi ssional apto a diagnosticar, pois o diagnóstico implica no conhecimento ampliado sobre a origem de determinada doença/ defi ciência/transtorno ou manifestação de seu sintoma. No entanto, cabe ao professor estar preparado para detectar e encaminhar seus alunos junto à escola e à família para profi ssionais especializados e responsáveis pelo diagnóstico. Para além da detecção, você compreenderá, neste capítulo, que cabe ao professor a intervenção de caráter pedagógico. A intervenção pedagógica, segundo Zabala (2014), precisa ser entendida como uma prática refl exiva que não se reduz somente à realização dos processos educacionais, mas sim ao aperfeiçoamento para trabalhar com as necessidades de cada aluno individualmente (MAZZOTA, 2001). Assim, a partir deste contexto, você compreenderá o papel do professor regente e do professor de apoio frente ao aluno com TEA e conhecerá algumas estratégias de intervenção que podem ser desenvolvidas na escola. Vamos descobrir algumas estratégias que podem auxiliar os alunos com TEA? Preparado? Desejamos a você um excelenteestudo! 2 O QUE É INCLUSÃO ESCOLAR? A educação em sua história remete à segregação das pessoas com defi ciência. Mediante essa segregação histórica o processo de inclusão escolar muitas vezes passa a ser considerado pela inserção dessas pessoas no ambiente escolar (TRENTIN, 2011). Contrário somente ao processo de inserção, destacamos que a inclusão escolar pressupõe a estruturação da escola, nos aspectos pedagógicos, na formação de professores e nos aspectos físicos, e o reconhecimento da diversidade presente em sala de aula, para que as experiências propiciadas por 100 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista meio do ensino sejam inclusivas (CARVALHO, 2008). Assim, cabe destacar que para a escola ser inclusiva, a matrícula de alunos com defi ciência/transtorno se constitui em apenas uma das partes integrantes desse processo. Ela se torna inclusiva a partir do momento em que se reestrutura para atender à diversidade de alunos, com suas necessidades e difi culdades, propiciando um ensino de qualidade para todos, o qual, de acordo com o documento “A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva”: O desafi o de fazê-lo acontecer nas salas de aulas é uma tarefa a ser assumida por todos os que compõem um sistema educacional. Um ensino de qualidade provém de iniciativas que envolvem professores, gestores, especialistas, pais e alunos e outros profi ssionais que compõem uma rede educacional em torno de uma proposta que é comum a todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é construída por cada uma delas, segundo as suas peculiaridades (ROPOLI et al., 2010, p. 10). FIGURA 1 – INCLUSÃO ESCOLAR FONTE: <http://kleitonoliveira.com.br/2018/02/16/ inclusao-escolar/>. Acesso em: 15 abr. 2020. Assim, podemos inferir que a inclusão escolar visa uma educação para todos, sendo que essa educação se efetivará a partir do comprometimento de todos os profi ssionais que atuam nas escolas, envolvendo gestores, professores, pais e serviços gerais. Temos a compreensão de que esse comprometimento com uma educação para todos, aliado ao entendimento da diversidade no âmbito escolar e às refl exões sobre a essência no processo de ensinar e aprender, promove transformações e que essas transformações possibilitam aos 101 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 professores reconhecerem cada aluno como ser único, respeitando as diferenças na aprendizagem e proporcionando a inclusão de todos no contexto escolar (TRENTIN, 2011). Mediante este contexto, ressaltamos que estudiosos da educação inclusiva apresentam a inclusão escolar como uma proposta de revolução na educação. Essa revolução desestabiliza concepções e transforma a escola em um espaço para todos, pressupondo o reconhecimento das diferenças e a promoção do desenvolvimento intelectual. No que concerne às propostas da inclusão escolar, destacamos que elas se fundamentam nos ideais democráticos e se orientam nos princípios de “igualdade de oportunidades, respeito às necessidades individuais, qualidade no processo de ensino-aprendizagem, melhoria das condições de trabalho dos educadores, mais participação das famílias e da sociedade em geral, remoção das barreiras para aprendizagem e participação” (CARVALHO, 2004, p. 79). Compreendemos que a proposta inclusiva, ao referir-se aos processos de construção de conhecimentos, tem como objetivo a formação de indivíduos críticos e autônomos. Dessa forma, para que se concretize esse objetivo, torna- se necessário que os professores compreendam seu papel frente ao processo inclusivo, pois eles atuam ativamente no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos que compõem a sala de aula. Frente a essa perspectiva de inclusão escolar, apreendemos que “[...] a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com defi ciência e os que apresentam difi culdades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral” (MANTOAN, 2003, p. 16). A autora também concebe a inclusão escolar como uma inovação que implica um esforço de modernização e de reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas (especialmente as de nível básico), ao assumirem que as difi culdades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em grande parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é concebida e avaliada (MANTOAN, 2003). Para Mittler (2003, p. 34), a inclusão escolar implica mudanças: [...] implica uma reforma radical nas escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e formas de agrupamento dos alunos nas atividades de sala de aula. Ela é baseada em um sistema de valores que faz com que todos se sintam bem- vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, 102 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista 1 Com base em suas experiências e no que estudamos, explique o que signifi ca para você inclusão escolar. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou a defi ciência. Assim, a inclusão escolar, com base em Mantoan (2003) e Mittler (2003), emerge para romper com o paradigma educacional de homogeneidade dos alunos no âmbito escolar, promovendo uma nova visão educacional. Os dois autores mencionados apresentam consonância em suas ideias sobre o processo de inclusão escolar, com destaque para a necessidade de mudanças nas perspectivas educacionais, para que as escolas consigam contemplar não só o desenvolvimento social, mas também o cognitivo e o emocional, assegurando a todos os alunos o acesso às oportunidades educacionais e sociais nelas oferecidas. Compreendemos, ainda, que o paradigma da inclusão escolar propõe transformações na prática pedagógica, no papel do professor, na compreensão das singularidades de cada aluno e, consequentemente, na reestruturação da escola, que passa a possibilitar aos alunos uma educação que propicie condições de aprendizagem para todos. Por meio dessas ações, a inclusão escolar busca romper com as discriminações que permeiam os alunos com defi ciência/ transtornos, possibilitando novos olhares para as singularidades que os compõem (MANTOAN, 2003). Agora que você expôs seu entendimento sobre o que signifi ca a inclusão escolar, podemos inferir que em uma escola inclusiva o professor precisa trabalhar com todos os alunos em suas diferenças, propiciando oportunidades de aprendizagens, utilizando-se de recursos e estratégias que viabilizem o processo de construção do conhecimento. 103 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Agora que apreendemos o que signifi ca inclusão escolar, segue sugestão de livro: “Inclusão Escolar. O que é? Por quê? Como fazer?”. Escrito por uma das maiores especialistas em inclusão escolar no Brasil, esta obra aborda o assunto de maneira clara e didática. Baseando-se na legislação sobre o tema, Maria Teresa Eglér Mantoan explica o que é educação inclusiva, discute os passos necessários para implantá-la e ressalta suas vantagens. Livro fundamental para educadores que desejam saltar da teoria para a prática. Disponível em: https://acessibilidade.ufg.br/up/211/o/ INCLUS%C3%83O-ESCOLARMaria-Teresa-Egl%C3%A9r-Mantoan- Inclus%C3%A3o-Escolar.pdf?1473202907. Agora que você expôs suas ideias sobre a inclusão escolar, destacaremos a importância do professor neste processo, que envolve o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno com TEA. 2.1 PAPEL DO PROFESSORFRENTE ÀS INTERAÇÕES E APRENDIZAGEM: ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA CRIANÇAS COM TEA No capítulo anterior, compreendemos a importância das intervenções realizadas em sujeitos com TEA, as quais podem determinar o prognóstico, incluindo maior rapidez na aquisição da linguagem, facilidade nos diferentes processos adaptativos e no desenvolvimento da interação social, aumentando a chance de inserção em diferentes âmbitos sociais. Sobre a inserção em ambientes sociais, podemos destacar a escola. No entanto, a entrada na escola regular é um desafi o para crianças com TEA, devido as suas especifi cidades e características: como a resistência às mudanças de rotinas, difi culdades com as relações sociais e de comunicação, entre outras, sendo a função do professor fundamental no sentido de perceber que o espaço de aprendizagem engloba não apenas conhecimento acadêmico, mas também formação psicológica, cognitiva, social e afetiva (FERREIRA et al., 2018, p. 102). 104 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Partindo dessa compreensão, podemos inferir que no contexto escolar, torna- se necessário ao professor regente e professor de apoio ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas. FIGURA 2 – PAPEL DO PROFESSOR FONTE: <http://clubematerno.net/2016/01/20/dicas-para-professores- aluno-com-autismo/>. Acesso em: 15 mar. 2020. Para que o professor regente e professor de apoio possam ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas no contexto de sala de aula, torna- se necessária a compreensão das diferenças que caracterizam o ser humano, o qual apresenta histórias de vida única, constituindo-se, assim, como sujeito historicamente diferente (TRENTIN, 2011). O conceito que envolve a diferença representa perspectivas, as quais destacam o gênero, a classe social e as características físicas, mentais e culturais. O conceito de diferença também pode ser representado negativamente, por meio da exclusão. Podendo também ser celebrado como fonte de diversidade e heterogeneidade, sendo vista como enriquecedora (SILVA, 2003). Frente ao contexto que envolve as diferenças, ressaltamos Mantoan (2003, p. 20), que afi rma que “as diferenças estão sendo constantemente feitas e 105 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 refeitas, já que vão diferindo, infi nitamente”. Elas são produzidas e não podem ser naturalizadas, como pensamos, habitualmente. Essa produção merece ser compreendida e não apenas respeitada e tolerada. Mantoan (2003), ao refl etir sobre as diferenças, alerta aos professores que a criança com TEA não deve ser rotulada no contexto escolar, bastando ao professor o respeito e a tolerância. A criança com TEA necessita ser compreendida pelos professores. Sobre as diferenças, Beyer (2006, p. 28) evidencia que “precisamos entender que as crianças são diferentes entre si. Elas são únicas em sua forma de pensar e aprender. Todas as crianças, não apenas as que apresentam algumas limitações ou defi ciência, são especiais”. Sobre as diferenças, as palavras de Beyer (2006) nos leva a compreender que as características da criança com TEA não as determinam e, muito menos, determinam as suas experiências. Corroborando com Beyer (2006) sobre as diferenças, destacamos Carvalho (2008), que ressalta que os desempenhos de cada indivíduo não estão delimitados pela difi culdade apresentada, mas por meio das experiências propiciadas. Assim, podemos inferir que a inclusão de alunos com TEA no contexto escolar pressupõe a estruturação dos aspectos pedagógicos, para que as experiências propiciadas por meio do ensino sejam inclusivas (TRENTIN, 2011). Para tanto, torna-se fundamental que o professor regente e professor de apoio proporcionem ao aluno com TEA o apoio pedagógico que atenda as suas especifi cidades e necessidades, focando sempre na aprendizagem (TRENTIN, 2011). Para Santos (2005), a criança tem o direito de ser diferente quando a igualdade a descaracteriza, e o direito de ser igual quando a diferença a inferioriza. Assim, podemos inferir que um dos desafi os presentes no contexto escolar é a compreensão das diferenças, pois os alunos são singulares, e tratá-los de forma homogênea é restringir as expectativas que cada um traz consigo na busca do conhecimento (TRENTIN, 2011). Sobre as diferenças, destacamos Hoffmann (2006, p. 39), que afi rma: “Não defendo apenas o respeito às diferenças. Vou além, porque penso que respeitar é pouco. Defendo valorizar as diferenças”. Complementando os dizeres de Hoffmann (2006) ao referir-se às diferenças, frisamos que a escola necessita ser: 106 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Um espaço de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo suas capacidades, expressam suas ideias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças. Essas escolas reúnem, em seus espaços educacionais, os alunos tais quais eles são: únicos, singulares, mutantes, compreendendo- os como pessoas que diferem umas das outras, que não conseguimos conter em conjuntos defi nidos por um único atributo, o qual elegemos para diferenciá-las (ROPOLI et al., 2010, p. 9). Podemos destacar que cabe à escola e aos professores refl etirem sobre as práticas pedagógicas, respeitando e trabalhando com as diferenças, buscando uma educação de qualidade para todos (TRENTIN, 2011). Neste contexto de compreensão e valorização das diferenças, destacamos que “valorizar as diferenças exige, ao mesmo tempo, alteridade, ou seja, mudar, transformar, criar, construir novos jeitos de ensinar e aprender” (HOFFMANN, 2006, p. 45). Essa construção possibilita aos professores adequarem estratégias de ensino, priorizando a singularidade de cada aluno no processo de ensinar e aprender (TRENTIN, 2011). Há “a necessidade de o professor conhecer e compreender o processo de aprendizagem de cada aluno, identifi cando suas difi culdades e habilidades, o que possibilita a criação de um plano de aula adequado, com metas e estratégias que efetivem uma prática inclusiva” (FERREIRA et al., 2018, p. 102). Assim, o papel do professor regente e do professor de apoio, na perspectiva inclusiva, torna-se o de “planejar o conteúdo curricular com uma diversidade de atividades simultâneas, atendendo às necessidades específi cas de aprendizagem do aluno com TEA, compreendendo que o currículo deve estar dentro do contexto dos assuntos trabalhados pela turma” (FERREIRA et al., 2018, p. 103). Sobre o currículo, o Ministério da Educação (MEC) pressupõe que se realize a adequação deste, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com defi ciência/transtornos. Cabe destacar que o MEC não propõe um novo currículo, “mas sim um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos” (BRASIL, 2003, p. 34). Sobre as adequações, podemos destacar que a legislação garante, por meio de decretos, que as pessoas com defi ciência/transtornos tenham os mesmos direitos que os demais indivíduos, ou seja, tenham acesso a todos os bens culturais que requerem ou não ajuste, seja nos equipamentos, estrutura física ou 107 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 informação, o que viabiliza o atendimento do aluno com defi ciência na escola, de modo que também se aproprie dos conhecimentos sistematizados (ARAÚJO, 2019). Esse termo é uma referência explícita ao texto da Convenção das Pessoas com Defi ciência associado ao Decreto nº 6949/2009, que tem efeito de Emenda Constitucional. Ao nos reportarmos ao texto dessa convenção, observamos que por adaptações razoáveis são descritos os ajustes necessários requeridos em cada caso para assegurar a igualdade de oportunidades às pessoas com defi ciência. Ocorre, assim, um deslocamento conceitual, pois deixam de ser admitidos os ajustes e as adaptações que possam se colocarcomo “barreira” para o acesso ao conhecimento das pessoas com defi ciência. Essa alteração pode ser vista como uma incorporação, aos documentos normativos brasileiros mais recentes, dos princípios estabelecidos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência, o que pode signifi car a aposta no acesso ao currículo para todos, sem reservas, abarcando as relações com o conhecimento como aspecto fundamental do processo de humanização (HASS; BAPTISTA, 2015, p. 12). Na mesma direção, a Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015, s.p.) explica o signifi cado desses novos termos no Art. 3º: I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edifi cações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com defi ciência ou com mobilidade reduzida; [...] VI - adaptações razoáveis: adaptações, modifi cações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fi m de assegurar que a pessoa com defi ciência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais. No contexto que envolve a adequação curricular, Ferreira et al. (2018) destacam que os professores necessitam utilizar um recurso e deixá-lo mais acessível e adequado a cada pessoa, ao invés de criar um planejamento à parte para a pessoa com TEA. Por isso, a importância de conhecer o aluno e suas especifi cidades para transformar a atividade original, oferecendo uma estrutura adicional, objetivando estabelecer uma relação harmônica entre as necessidades dos alunos e a programação curricular. Mediante o contexto evidenciado, podemos destacar que a compreensão das singularidades possibilita aos professores o entendimento sobre o processo 108 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista de aprendizagem e a adaptação curricular para as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mediante esta compreensão, “as difi culdades encontradas no processo de aprendizagem passam a ser entendidas como uma forma diferente de se aprender” (PEREIRA, 2011, p. 150). Qual é o papel do professor regente e professor de apoio? Mediante as refl exões realizadas podemos destacar que a prática pedagógica do professor regente e do professor de apoio pressupõe a realização de ações que contribuam com a formação psicológica, cognitiva, social e afetiva dos alunos com TEA (FERREIRA et al., 2018). No entanto, para que as ações dos professores resultem em desenvolvimento dos alunos com TEA, ressaltamos a importância da articulação do professor regente, do professor de apoio com o professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE). O que é o atendimento educacional especializado? O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é disposto no Decreto nº 6.571/08 como um serviço na Educação Especial, o qual reconhece como público-alvo as pessoas com defi ciência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 2008). Conforme o Decreto nº 6.571/08, podemos ressaltar que o Atendimento Educacional Especializado (AEE) “tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem” (BRASIL, 2009, p. 5). O Atendimento Educacional Especializado (AEE) não se confi gura em ensino particular, não se confi gura como reforço escolar, não se confi gura como atendimento clínico. Sua função é complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, 2009). 109 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 FIGURA 3 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) FONTE: <https://www.opopular.com.br/noticias/ludovica/blogs/viva- a-diferen%C3%A7a/viva-a-diferen%C3%A7a-1.925289/direito-ao- professor-de-apoio-1.1075014>. Acesso em: 2 maio 2020. Mediante a função do AEE, podemos ressaltar que a prática pedagógica dos professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) pressupõe a realização de ações específi cas que contribuam com o processo de ensino- aprendizagem; ações que auxiliem os alunos a adquirirem autonomia no âmbito social e intelectual (TRENTIN, 2011). No entanto, ao nos referirmos ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com TEA, podemos ressaltar que o AEE para aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem como objetivo principal estimular o desenvolvimento cognitivo, qualifi cando habilidades de organização, interação e comunicação. Busca favorecer a autonomia, ampliar o repertório de interesses, desenvolvendo a sua funcionalidade, para obter avanços no processo de aprendizagem (FERREIRA et al., 2018, p. 106). No entanto, para que as ações do professor regente, professor de apoio e professor do AEE resultem em desenvolvimento dos alunos com TEA, ressaltamos a importância da articulação dos atendimentos, sendo que estes devem ocorrer de forma concomitante, pois um benefi cia o desenvolvimento do outro, pois: O acompanhamento do professor do AEE na sala de aula do ensino comum se caracteriza por uma interlocução, em que o professor do AEE deve procurar ouvir as difi culdades encontradas por esse professor para ensinar ao aluno no contexto da sala de aula. Quando as difi culdades forem do âmbito da gestão da classe ou do ensino formal, essas difi culdades devem ser discutidas pela equipe pedagógica da escola da qual os professores em questão devem participar. 110 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A participação do aluno na sala de aula regular não deve ser negligenciada (GOMES; POULIN; FIGUEIREDO, 2010, p. 18). FIGURA 4 – COLABORAÇÃO ENTRE PROFESSORES FONTE: <https://www.kentuckyteacher.org/features/2013/02/need- art-help-call-out-the-swat-team/>. Acesso em: 2 maio 2020. Assim, apreendemos que o atendimento preconizado pela Política de Educação Especial traz, como alicerce, o caráter colaborativo, ou seja, o ensino colaborativo que, segundo Braun (2012, p. 75), tem como objetivo “a colaboração entre professores no desenvolvimento de atividades no cotidiano escolar, mais especifi camente da sala de aula”. Na perspectiva desse ensino, os professores compartilham as decisões e são os responsáveis pelo processo pedagógico, favorecendo as ações educacionais inclusivas. Vale destacar que as ações do AEE devem ser articuladas com a sala de aula, de modo a favorecer situações que enriqueçam o currículo e viabilizem formas de o aluno participar do espaço da sala e apropriar-se de conhecimentos. Essa articulação é constatada na Resolução nº 04/2009, Art. 13, inciso VIII, no qual consta que o professor do AEE precisa articular com o professor de sala de aula estratégias e recursos para a acessibilidade e promoção da participação do aluno nas atividades escolares (TRENTIN, 2018). Compreendemos que a troca de experiências entre esses profi ssionais (professor da classe comum, professor de apoio e professor do AEE) torna-se essencial, pois cada professor compreende o aluno de maneira diferente e essas percepções são fundamentais para enriquecer a prática pedagógica de ambos, permitindo-lhes qualifi car as ações que envolvem o processo de ensino e de aprendizagem (TRENTIN, 2018). 111 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Após essa compreensão, vamos exercitar nossos conhecimentos? 1 Disserte sobreo papel do professor regente, do professor de apoio e do professor do AEE frente ao aluno com TEA. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. Sobre o Atendimento Educacional Especializado, cabe destacar, ainda, que na busca conjunta de conhecimentos com o professor do AEE, o professor da classe comum passará a entender e trabalhar as diferenças presentes em sala de aula, assumindo seu lugar de “professor” de todos, oportunizando o aprendizado para todos, solucionando as difi culdades e vislumbrando o aprendizado que a inclusão escolar propicia (TRENTIN, 2018). No entanto, há vários fatores importantes para a consolidação da interlocução entre o Professor Regente, o Professor de Apoio e o Professor do AEE. Entre os fatores, destacam-se a colaboração no planejamento, a divisão de tarefas e a avaliação dos processos que envolvem o ensino e a aprendizagem, a partir de estratégias pedagógicas que atendam às necessidades de todos os alunos. Essa colaboração apresenta como propósito a articulação entre os saberes do ensino especial e os saberes do ensino comum, em que se combinam as habilidades dos professores. Essas habilidades são destacadas por Braun e Marin (2013, p. 53): O professor regente da turma traz os saberes disciplinares, os conteúdos, o que prevê o currículo e o planejamento da escola, juntamente aos limites que enfrenta para ensinar o aluno com necessidade especial. O professor do ensino especial, por sua vez, contribui com propostas de adequação curricular, atentando para as possibilidades do estudante, considerando as situações de ensino propostas e as opções metodológicas, planejando estratégias e elaborando recursos adequados para a promoção de sua aprendizagem. À medida que surgem impasses na parceria entre os professores, “o planejamento, a forma de oferecer o apoio, outros recursos, novas possibilidades se confi guram com relação ao fazer pedagógico” (BRAUN; MARIN, 2016, p. 20). Em convergência ao mencionado pelas autoras, vislumbra-se a colaboração entre professores como uma dinâmica necessária que possibilita o investimento em ações que concedam o conhecimento do processo de aprendizagem dos alunos, favorecendo-os com ensino adequado as suas necessidades (TRENTIN, 2018). 112 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Agora que você compreendeu o papel do professor regente, do professor de apoio e do professor do AEE e a importância da colaboração entre esses professores para qualifi car as ações que envolvem o processo de aprendizagem do aluno com TEA, vamos descobrir algumas estratégias pedagógicas? Ao nos referirmos ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ao papel dos professores, ressaltamos Bento (2016, p. 105), que anuncia “a necessidade de o professor incluir objetivos/metas no planejamento de atividades específi cas de cada aluno, com intervenções individualizadas”. Bento (2016) ainda destaca que, a intervenção realizada em sala de aula deve iniciar com exercícios simples, aumentando progressivamente o nível de complexidade. Podemos inferir que na intervenção do professor em sala de aula, desenvolve-se a Zona de Desenvolvimento Proximal, a qual, segundo Vygotsky (2007), caracteriza-se entre a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. A partir da apreensão da Zona de Desenvolvimento Proximal, o professor passa a compreender que o aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) só deve avançar para atividades complexas quando alcançar os objetivos simples (COELHO, 2014). Assim, o professor necessita desenvolver estratégias que facilitem a aprendizagem dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir deste entendimento, na próxima subseção, destacaremos algumas estratégias que podem ser promovidas pelo professor em sala de aula para auxiliar o aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de aprendizagem. 2.2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: ESTRATÉGIAS PARA A SALA DE AULA No primeiro capítulo deste livro, apreendemos que entre os Transtornos Mentais que compõem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), apresentam-se o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação (TGDSOE) (APA, 2014). 113 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Apreendemos, ainda, que a pessoa com TEA apresenta alterações importantes na interação social, sendo elas: • Isolamento social ou comportamento social inadequado. • Contato visual pobre. • Ausência de reposta ao chamado (suspeita de surdez). • Difi culdade em participar de atividades em grupo. • Indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto. • Falta de empatia social ou emocional (APA, 2014). As alterações na comunicação afetam: • A habilidade verbal e não verbal de compartilhar informações com os outros. • Aqueles que adquirem habilidade verbal têm frequentemente difi culdade em compreender sutilezas da linguagem, bem como têm problemas para interpretar linguagem corporal e expressões faciais (APA, 2014). Os padrões repetitivos de interesses e atividades envolvem: • Rituais na atividade da vida diária (jeito de vestir, seletividade de alimentos a ingerir, hora de dormir, apego excessivo a objetos). • Resistência à mudança de rotina ou ambiente: recusa a ambientes novos. • Comportamento restrito, limitado a um objeto, ou a uma atividade (fi car somente com aquele objeto) (APA, 2014). Assim, mediante estas alterações, ressaltamos no Quadro 1 algumas estratégias para sala de aula que poderão auxiliar o aluno com TEA no processo de aprendizagem. QUADRO 1 – ESTRATÉGIAS PARA A SALA DE AULA: TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA O uso de determinados recursos comunicativos pode facilitar o processamento da informação e, consequentemente, a resposta e a aprendizagem da criança, como em- pregar frases objetivas e curtas, evitar uso de muitas metáforas, palavras e expressões de duplo sentido. Em situações específi cas, pode-se buscar desenvolver habilidades com metáforas, por exemplo, mas de modo geral, quando se trata de outras situações, evitar o uso pode auxiliar na compreensão. Aproveite os momentos de maior atenção da criança para conversar com ela, usan- do palavras simples e frases curtas. Garantir ao aluno com TEA acesso ao currículo escolar por meio de adaptações que envolvam materiais adaptados, jogos pedagógicos, uso de imagens, fotos, esquemas, si- gnos visuais e ajustes de grande e pequeno porte. Permitir o acesso e o uso de materiais e móveis adaptados visando à organização sensório-motora e à adequação postural do aluno com TEA. 114 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Identifi car intolerância aos estímulos auditivos, bem como o tempo de tolerância durante o aprendizado em sala de aula. Organizar um sistema de registro individual de desempenho que vise retratar o desenvolvimento de cada aluno com TEA com base nos objetivos, para que seja re- planejado o plano individual quando necessário. Alunos com TEA frequentemente apresentam exagerado apego a rotinas. Dessa for- ma, o professor deve facilitar a previsibilidade da rotina usando preditores visuais, como agendas ilustradas, calendários e sequência das atividades, indicando o que vai aconte- cer e em quais momentos. Ajude a criança a compreender as brincadeiras, sempre explicando antecipadamente o que vai acontecer, com frases curtas e diretas (com objetivos explícitos). Incentive a criança a chamar outras pessoas pelo nome. Por exemplo: a professorae os amiguinhos mais próximos. Quando a criança ou o adulto com TEA apresenta a chamada ecolalia (repetição da fala de outras pessoas, falas de desenhos e propagandas da televisão ou internet, por exemplo) podemos interpretar como algo positivo no que se refere ao desenvolvimento da linguagem e compreender a intenção comunicativa relacionada à ecolalia e atribuir signifi - cado a ela. Busque identifi car quando, onde e por que ela repete determinadas palavras ou frases. Estratégias mais diretivas, como utilizar pistas visuais e contextualizar a fala da criança, podem ser usadas também. Contextos estruturados e previsibilidade auxiliam bastante, por exemplo, com relação às atividades escolares e festividades, pode-se sempre antecipar os acontecimentos em sala de aula, a hora do recreio e as mudanças da rotina escolar, como datas comemorati- vas, mudança de professores, passeios escolares e festas. O uso de recursos visuais também é sistematicamente destacado quando o assunto é intervenção no TEA. A utilização de recursos visuais, como desenhos, fi guras, fotogra- fi as, vídeos ou objetos concretos associados ao aspecto que se pretende desenvolver ou à atividade planejada, pode ajudar na compreensão e interesse de crianças e adultos com TEA. Usar quadros de rotina diária em casa, na terapia e na escola, o passo a passo de algumas situações do cotidiano, por exemplo, de como usar o banheiro ou tomar banho. Usar histórias sociais para situações sociais do cotidiano, como cumprimentar as pes- soas, esperar sua vez para falar, despedir-se etc. Faça pedidos que você sabe que a criança pode realizar para promover situações em que ela é “bem-sucedida”. Você pode dividir as tarefas e atribuições em partes e passos menores, ou peça para a criança fazer somente uma parte da tarefa, como guardar uma peça de cada vez do jogo ao invés de pedir que guarde todas as peças de uma só vez. Busque elogiar quando a criança atender às solicitações. Use interesses específi cos e preferências da criança para incentivar habilidades e talentos. Você pode usar também o interesse restrito para se aproximar da criança ou para despertar o interesse em assuntos que a princípio ela não se interessa. O uso de recursos de tecnologia, como computadores, tablets, celulares, aplicativos, kits de robótica e robôs humanoides despertam o interesse de muitas crianças com TEA. Habilidades comunicativas, sociais e acadêmicas podem ser promovidas com o auxílio destes e de outros recursos tecnológicos. O uso de jogos, brincadeiras e atividades que incentivam a atenção compartilhada e a simbolização são muito importantes. Você pode usar bonecos, “bichinhos” de pelúcia e outros brinquedos para dar banho, fazer “comidinha”, dividir o lanche, fazer um passeio e imitar outras situações do cotidiano. 115 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Brincadeiras simples com bolinhas de sabão e cócegas podem proporcionar situações muito importantes com relação ao contato visual, atenção compartilhada e habilidades sociais, por exemplo. Podem ser aproveitadas as situações do cotidiano, como o momento do banho, da ali- mentação, de vestir-se, assistir TV, no brincar, no passeio, para dizer o nome e as funções dos brinquedos, objetos, partes do corpo. FONTE: Brito (2017, p. 21-24) Mediante o Quadro 1 apresentado, vale destacar que as estratégias e as formas de as utilizar são diversifi cadas. As atividades evidenciadas no Quadro 1 são apenas alguns exemplos que você pode empregar com diferentes objetivos. Você pode aplicar as mesmas estratégias e objetivos em lugares diferentes e com pessoas diferentes. Assim, “sempre que possível, nas brincadeiras ou no dia a dia, você pode inserir novas situações de aprendizagem” (BRITO, 2017, p. 25). No entanto, vale destacar que se torna importante planejar e verifi car se os objetivos e as estratégias planejadas podem levar os alunos com TEA aos objetivos pretendidos. Por exemplo: a intervenção com uso de jogos e brincadeiras não é “brincar por brincar”, pois os objetivos terapêuticos e educacionais devem estar claros para o profi ssional que atua e este precisa saber orientar a família sobre isso. Atualmente, compreendemos melhor como as crianças e os adultos com TEA aprendem e se comunicam, assim, é possível desenvolver programas estruturados de intervenção nos mais diferentes ambientes, permitindo que todas as crianças tenham a oportunidade de desenvolver suas habilidades (BRITO, 2017). Com base em alguns aspectos destacados no Quadro 1, destacamos a Atividade de Vida Diária (AVD), a qual parte da experiência vivenciada, tornando- se essencial para o desenvolvimento da pessoa com TEA, pois estas atividades possibilitam a autonomia. Vamos aprender o que signifi ca Atividade de Vida Diária? 2.2.1 Atividade de Vida Diária (AVD) Sobre as atividades de AVD, podemos destacar que os professores necessitam ensiná-las aos alunos com TEA mediante experiências vivenciadas. Sobre a experiência vivenciada, Vygotsky (2014, p. 13) ressalta que “quanto mais o sujeito ouvir e experimentar, quanto mais aprender e assimilar, quanto mais elementos da realidade tiver a sua disposição na sua experiência, mais importante e produtiva será sua atividade imaginativa”. 116 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista FIGURA 5 – O QUE SIGNIFICA ATIVIDADE DE VIDA DIÁRIA (AVD)? FONTE: <https://sites.google.com/site/centrodeterapiaocupacional/ atividades-basicas-de-vida-diaria>. Acesso em: 2 maio 2020. Segundo Hoffmann (2006, p. 8), as Atividades de Vida Diária (AVDs) “são atividades que proporcionam o desenvolvimento de habilidades necessárias para a solução de problemas e de situações práticas enfrentadas pelas pessoas no dia a dia”. Mediante o conceito de AVD exposto por Hoffmann (2006), cabe questionar: Por que os alunos com TEA precisam aprender as Atividades de Vida Diária? Os alunos com TEA precisam aprender as Atividades de Vida Diária porque estas desenvolvem a autonomia, as habilidades sociais e a resolução de problemas, contribuindo para o seu desenvolvimento (HOFFMANN, 2006). Destacaremos, no Quadro 2, algumas atividades que podem ser trabalhadas com alunos com TEA no contexto das AVDs. QUADRO 2 – SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA OBJETIVOS ESTRATÉGIAS Acender e apagar luzes. • Mostrar ao aluno como se acende a luz, estimulando-o a imitar sua ação. • Caso o aluno não seja capaz de executar a tarefa, colocar a mão do aluno sobre o interruptor, fazendo-o que o aperte. • Quando já for capaz de executar a tarefa, retirar a aju- da e dar apenas ordem verbal. • Usar o mesmo processo para a atividade de apagar a luz. 117 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Jogar papel no cesto de lixo. • Solicitar ao aluno que pegue o papel, faça-o aproxi- mar-se do cesto de lixo, incentivando-o a jogar o papel no cesto. • Ajudá-lo até que ele seja capaz de executar a tarefa sem auxílio. Separar peças de roupa. • Trabalhar inicialmente a identifi cação de peças de rou- pa como: shorts, camiseta, toalha. • Quando o aluno for capaz de identifi cá-las, realizar com ele a atividade de separá-las e guardá-las. Guardar material pedagógico. • Mostrar ao aluno onde se guarda o material pedagógi- co, convidando-o a realizar esta atividade. • Fazer com que o aluno pegue o material, ajudando-o e guiando-o até o local onde se guarda. • Retirar a ajuda progressivamente, até que ele seja ca- paz de realizar a atividade apenas com a ordem verbal. •Diversifi car a atividade, levando-o a guardar o materi- al de uso pessoal, como pente, escova de dente, creme dental. Ajudar a arrumar a mesa na hora das refeições. • Inicialmente, ensina-se o aluno a arrumar a própria mesa para o lanche (lanche servido individualmente na sala ambiente-cozinha). • Ao executar a tarefa, ensina-se o aluno a colocar na mesa os demais utensílios. • Diminuir a ajuda até que ele execute a tarefa atravésde ordem verbal na colocação dos pratos, copos, tal- heres, guardanapos na mesa. 118 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Abrir e fechar janelas, cortinas, portas e gavetas • Inicialmente, mostrar ao aluno como se abre a janela e estimulá-lo a fazer a mesma tarefa. • Se necessário, colocar a mão do aluno na janela e com sua mão sobre a mão dele, fazê-lo abrir a janela. • Retirar a ajuda progressivamente. • Usar o mesmo processo para ensiná-lo a abrir portas, gavetas, cortinas. • Como estímulo, colocar um objeto interessante dentro do armário e pedir que o aluno pegue. • Posteriormente, ensiná-lo a fechar portas, gavetas e janelas. Servir-se de líquidos. • Para ensinar o aluno a servir-se de líquido, use uma jarra pequena com pouco líquido. • Faça o aluno segurar o copo, pegar a jarra e apoie sua mão, direcionando-a até o copo. • Retire a ajuda progressivamente. Usar pouco líquido para evitar derramamento. Servir-se do lanche, dentro de suas possibilidades. • Colocar a vasilha com o alimento perto do aluno e estimulá-lo a servir-se. • Usar colher grande ou concha para apoiar sua mão. • Retirar a ajuda progressivamente. • Possibilite ao aluno também se servir de pão ou bola- cha, dando orientação verbal para que ele pegue a quan- tidade adequada. Alimentar-se sem auxílio usan- do talher • Ensinar o aluno a pegar a colher. • Retirar o alimento do prato. • Levar a colher até a boca. • Repor a colher no prato. 119 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Escovar os dentes. • Ensinar o aluno a abrir a torneira. • Pegar o copo e enchê-lo com água. • Colocá-lo no lugar e pegar a escova (já com pasta). • Levar a escova até a boca e escovar os dentes. • Colocar a escova sobre a pia. Pegar o copo e colocar água na boca. • Cuspir a água. • Colocar o copo no lugar. • Pegar a escova, lavá-la e colocá-la no lugar. • Lavar a boca. • Secar a boca e as mãos. • Retirar a ajuda gradativamente, até que o aluno real- ize a atividade somente com ordem verbal. Levar bilhetes. • Pedir para que o aluno leve bilhetes até a secretaria. • No início, acompanhar o aluno, depois, apenas super- visionar. Lavar e secar as mãos. • Ensinar a abrir a torneira. • Molhar as mãos. • Pegar o sabonete. • Passar o sabonete nas mãos. • Colocar o sabonete no lugar. • Friccionar as mãos. • Enxaguar as mãos e fechar a torneira. FONTE: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/ arquivos/1068-2.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2020. Frente ao apresentado no Quadro 2, podemos destacar que estas experiências possibilitam a autonomia, a qual se faz essencial para o aluno com TEA. Assim, o ensino de AVD torna-se essencial, pois possibilita ao indivíduo com TEA aventurar-se e experienciar atividades que até então não eram vivenciadas. 120 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista A partir desta compreensão, na próxima seção, descobriremos a importância do brincar para crianças com TEA. 3 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA CRIANÇAS COM TEA No Capítulo 2, estudamos Vygotsky, o qual considera que o processo de aprendizagem emerge na relação com o contexto social e histórico em que está inserido. Portanto, podemos destacar que a criança, ao brincar ou ao manipular um objeto, está diante de um processo de desenvolvimento afetivo, social, cultural e motor, que refl ete em aprendizagem (SILVA, 2017). FIGURA 6 – BRINCAR E TEA FONTE: <https://nadjafavero.wordpress.com/2014/05/17/o- brincar-na-crianca-com-tea/>. Acesso em: 7 abr. 2020. Vygotsky (2007, p. 28) aponta o brincar como papel importante no desenvolvimento infantil, pois “a brincadeira com situação imaginária é, ao mesmo tempo, brincadeira com regras e qualquer brincadeira com regras é brincadeira com situação imaginária”. Assim, a situação imaginativa assume formas ao longo da ontogênese. A ontogênese diz respeito à evolução de cada ser humano, ao longo da sua vida, em sua trajetória pessoal (SILVA, 2017). “Podemos inferir que as crianças brincam, criam e imaginam” (SILVA, 2017, p. 39). No entanto, grande parte de suas criações e imaginações emergem da imitação do outro, ou seja, o jogo de papéis. 121 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Para elucidarmos a teoria aqui apresentada sobre a importância do brincar, traz-se para refl exão o artigo de Martins e Góes (2013), o qual apresenta como título: Um estudo sobre o brincar de crianças autistas na perspectiva histórico-cultural. A pesquisa corrobora com os estudos de Vygotsky, ressaltando a brincadeira como um aspecto primordial ao desenvolvimento infantil. Para Vygostky (2007), o jogo de papéis emerge quando a criança vivencia “tendências não realizáveis”, em que na busca por satisfação de forma imediata, se depara com limites da realidade, e no brincar essa satisfação torna-se possível. Assim, podemos inferir que a brincadeira tem como base a experiência, mas não se constitui simplesmente na realidade conhecida, pois na brincadeira a criança encena, dramatiza, imagina e ressignifi ca a realidade (MARTINS; GÓES, 2013). Segundo Vygotsky (2007, p. 129), “a imaginação é condição essencial para a atividade criadora. Esta amplia o círculo da própria experiência, por participar da assimilação de experiências históricas e sociais alheias”. Podemos inferir que a brincadeira tem origem social, pois nela a criança reelabora as formas humanas de agir com objetos e de interagir com outros a partir de suas condições concretas de vida, porém criando novas realidades (CHICON et al., 2019). Assim, a brincadeira torna-se fundamental no desenvolvimento da infância, pois segundo Vygotsky (2007, p. 117): No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento, sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento. No entanto, a capacidade de brincar depende diretamente das mediações que constituem as vivências na cultura. Vygotsky (1997) ainda destaca, em sua tese, o esforço em compreender de que modo o ambiente social e cultural pode mediar as relações entre as pessoas com defi ciência e o meio, de modo que elas tenham acesso aos objetos de conhecimento e à cultura, preconizando a importância da mediação como recurso cultural para o desenvolvimento do indivíduo. 122 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Para iniciarmos, destacamos que a pesquisa de Martins e Góes (2013) teve como objetivo analisar os modos como crianças autistas se orientam para o outro e para o objeto durante a atividade lúdica. O estudo focalizou três sujeitos, com idade de seis a doze anos, durante sessões de brincadeiras coordenadas pela primeira pesquisadora, a qual interagia com as crianças, atribuindo signifi cado as suas ações e ao uso de brinquedos, e encorajava a emergência de jogos imaginativos. Os sujeitos da pesquisa de Martins e Góes (2013) são: Luis: 6 anos de idade, com diagnóstico não estabelecido e classifi cação interrogada de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Autismo Leve e Defi ciência Mental. Sua fala é bastante comprometida; emite alguns sons, muitas vezes com relação a um determinado objeto. Em geral não responde a comandos verbais. Apresenta frequentes movimentos estereotipados com as mãos, grande agitação motora e difi culdade para permanecer na mesma atividade, mesmo por um tempo curto. Embora de forma não frequente, chega a olhar para o outro e a aceitar a aproximação ou o toque. Ana: 11 anos de idade, com diagnóstico de Autismo Atípico e Distúrbio Neuropsicomotor. Não fala, apenas emite alguns sons repetitivos, e não atende a comandos verbais. Apresenta ranger de dentes intenso e constante, agitação e difi culdade nacoordenação motora. Fixa a atenção em objetos e resiste a se afastar deles, reagindo com autoagressividade. Interessa- se por objetos duros. Em raros momentos dirige o olhar ao outro, mas desvia quase que no mesmo instante. Paulo: 12 anos de idade, com diagnóstico de Autismo e Epilepsia. Não fala nem responde a comandos verbais; por vezes grita ou emite sons repetitivos. Apresenta frequentes movimentos estereotipados com as mãos e a cabeça. Não olha para o outro e age como se ninguém estivesse presente. Tende a manter o olhar fi xo em alguma direção ou em algum objeto (MARTINS; GÓES, 2013, p. 28). A partir da exposição do objetivo e dos sujeitos da pesquisa, mergulharemos nos resultados relatados pelas pesquisadoras. Vamos lá? Resultados da pesquisa Modos de brincar das crianças Os registros indicaram que os sujeitos da pesquisa mantêm a atenção nos brinquedos, mas também se dirigem à pesquisadora 123 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 em muitos momentos das sessões e algumas vezes a outra criança, seja por um olhar rápido ou um sorriso, seja pelo envolvimento em alguma atividade. Para explorar este tema, organizamos as situações analisadas em três unidades: a) Sorrindo e tocando Episódio 1: O sorriso de Paulo e a aproximação de Ana Paulo está sentado na cadeira junto à mesa (como ocorreu com frequência em sessões anteriores). Ele segura uma panela de brinquedo e depois a solta no chão. Pesquisadora: Como é que faz comida na panela, tem que mexer assim, não é? A pesquisadora pega uma colher e mexe na panela. Ele permanece parado e manuseia a panela. Então, afasta- se da pesquisadora, encolhendo o corpo e virando o rosto para outra direção, parecendo acanhado. Fica girando a panela no chão como se fosse um pião. Pesquisadora: Você está com vergonha, Paulo? Embora continue olhando em outra direção, ele sorri. Ana está com uma boneca e começa a rodá-la de um lado para o outro. Então passa a mexer na cesta de utensílios de cozinha, parecendo procurar alguma coisa. Olha para a pesquisadora virando o corpo em sua direção e continua a mexer na cesta. Aparenta estar ansiosa, olhando fi xamente para a pesquisadora. Pesquisadora: O que você está querendo, parece estar querendo me contar alguma coisa? O que você quer me contar? Ana aproxima-se ainda mais da pesquisadora que, ao perceber esse comportamento, volta-se em sua direção, favorecendo a aproximação e mostrando-se contente com o gesto. Pesquisadora: Quer fi car pertinho de mim? Ana se aquieta e permanece ali sentada junto à pesquisadora, remexendo os brinquedos. Paulo começa a vocalizar alguns sons. Pesquisadora: O Paulo está cantando? Paulo desvia o olhar. Ana continua junto à pesquisadora mexendo nos brinquedos que estão próximos. Nessa situação, o sorriso de Paulo indica uma receptividade aos dizeres da pesquisadora, o que até então era incomum. Geralmente ele não mostra comportamentos de 124 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista correspondência às tentativas de contato; costuma desviar o olhar, permanecendo sério. Quanto a Ana, ao aproximar-se da pesquisadora, parece buscar um contato para fazer um pedido ou dizer algo, sugerido pelo olhar insistente e comportamento ansioso. Pesquisadora: “O que você quer me contar?”. Ana reage, aproximando-se ainda mais e permanecendo junto a ela. O sentido, atribuído as suas ações, parece fazer um grande diferencial nessa relação e resulta na procura pelo outro. Entretanto, muitas vezes, seus movimentos são simples e rápidos, como ocorre com Paulo, demandando uma observação constante para uma resposta do adulto, que acolha e encoraje a continuidade de interação. b) Buscando provocar ações do outro Episódio 2: A disputa por brinquedos Luis segura um secador de cabelos e mexe num balde com blocos de montar. Ana levanta-se, tentando pegar o secador. Luis recusa-se a dar e provoca Ana, mostrando o brinquedo e se afastando. A pesquisadora procura acalmar os dois e tenta oferecer outros brinquedos para Ana. A menina insiste, irritada, e a disputa se intensifi ca. Pesquisadora: Você está fugindo com o secador, hein, Luis! Ele pega um carrinho e afasta-se. Coloca o carro sobre a mesa e afasta-se novamente, segurando o secador no alto. Pesquisadora: Você está escondendo o secador? Luis abaixa- se, pega um espelho e, sorrindo, faz movimentos, afastando-o e aproximando-o dos olhos. Pesquisadora: Você está brava com o Luis, Ana, porque você quer o mesmo brinquedo que ele? E você aí está provocando ela, não é Luis? Na continuação, Luis oferece outros brinquedos à menina, que os pega e joga-os no chão. Luis então fi ca de frente para ela e começa a pular de um lado para o outro, rindo muito. A pesquisadora intervém para que aceitem outros objetos e conversa com os dois para atenuar o confl ito. Luis passa a tomar outros brinquedos de Ana, mesmo os que ele que tinha oferecido (pente, escova, espelho). A certa altura, ainda com o secador, ele olha para Ana, ri muito e solta gritinhos. A pesquisadora encoraja Ana a brincar com o espelho. Em seguida, a sessão é terminada. Embora, 125 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 à primeira vista, a situação não pareça ser de brincadeira e sim de confl ito entre crianças que estão orientadas para um objeto, nossa interpretação é de que Luis brinca com Ana, num jogo semelhante ao “esconde-esconde”. A pesquisadora tenta o tempo todo apaziguar o embate entre as duas crianças, e, pela fala, vai atribuindo sentido as suas ações, procurando signifi car a disputa em ocorrência. Apesar de envolver um desentendimento por vezes tenso, a situação mostra uma relação entre as duas crianças que não é de mera orientação para o objeto. De fato, Ana faz uma busca incessante pelo secador, mas o desdobramento sugere que a relação com o parceiro, e não o secador propriamente, é o que mobiliza a interação, em especial para Luis, que parece mais interessado em provocar a menina do que em ter a posse do secador, tanto assim que ele oferece e toma outros objetos (pente, escova, espelho) para manter o jogo de embate, ou seja, a disputa (relação entre sujeitos) parece predominar sobre a orientação para os objetos. c) Engajando em brincadeiras Episódio 3: “Dando banho no bebê” Sentada no chão junto à pesquisadora, Ana pega uma boneca, segurando-a pela cabeça, tira o boné da boneca e começa a girá-la. Pesquisadora: Vamos dar banho na boneca? A menina lhe entrega a boneca. Pesquisadora: Isso! Como a gente faz para dar banho na boneca? Tiramos a fraldinha da bonequinha... Ana sorri, pega a boneca da mão da pesquisadora e fi ca olhando para o brinquedo. A pesquisadora pega a banheira, Ana continua segurando e olhando para a boneca. Pesquisadora: Vamos dar banho na boneca? Vamos colocar o bebezinho aqui dentro da banheira para dar banho nela? Sorrindo, Ana solta a boneca no chão. Pesquisadora: Vamos cuidar do bebê? Como a gente faz? Vamos colocar ela aqui dentro, para dar banho no bebê? (Pesquisadora mostrando a banheira) Ana segura a boneca, com semblante sério. 126 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista Pesquisadora: Quer colocar? Quer dar banho na bonequinha? Ana segura a boneca pelo braço, levantando-a até a altura de seus olhos, olhando-a. Pesquisadora: Você está vendo aí o bumbum do bebê. Vamos dar banho nela? Ela olha para a banheira sorrindo, levanta a boneca com uma mão e com a outra mão cobre o rosto. Segura os pés da boneca, observando-os. Pesquisadora: Esse é o pezinho do bebê. Ela solta a boneca no chão, a pesquisadora aponta para seu pé. Pesquisadora: Olha o tamanho do seu pé e olha o tamanho do pezinho do bebê. A atividade segue com Ana segurando, olhando e soltando a boneca e outros brinquedos, como o pente, o secador de cabelo e o espelho. Algum tempo depois, Ana volta a pegar a banheira e a brincadeira com o bebê é retomada.Ana sorri enquanto a pesquisadora conversa sobre enxugar o bebê com a toalha e colocar a fralda. Mesmo que não brinque com a boneca de forma autônoma, Ana mostra-se atenta e envolvida nas ações desse faz de conta. As falas da pesquisadora acompanham o manuseio dos brinquedos, compondo o signifi cado de “dar banho no bebê” e incentivando a participação da menina, que se mantém atenta e faz movimentos de pegar e entregar a boneca ou a banheira. Esse jogo parece inclusive agradá-la, pois reage sorrindo em diversos momentos. Episódio 4: “Brincando de telefonar” Luis aproxima-se da pesquisadora e fi ca abraçado a ela por algum tempo, remexendo os brinquedos que estavam próximos. Ele pega uma cuba, um capacete e os coloca numa maleta. Vai até uma cesta com brinquedos e tira vários objetos de dentro dela. Pega uma chave de fenda e olha para o objeto fi xamente. Pesquisadora: É uma chave de fenda, é para a gente consertar as coisas. Luis guarda os objetos na maleta, pega um estetoscópio e o devolve na maleta. Em seguida, pega a máscara de médico, cheira-a e guarda. Ele olha para a fi lmadora e afasta-se, fi cando de costas, parecendo esconder-se da câmera, enquanto realiza movimentos estereotipados de girar as mãos em frente do rosto. Depois anda pela sala, vai à mesa do computador, pega o mouse e o coloca no ouvido. 127 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 Pesquisadora: Esse aí é um telefone, como a gente atende o telefone? Como a gente fala? Ele põe o mouse sobre a mesa, mas pega novamente, colocando-o no ouvido. Luís: Ô (balbuciando). Pesquisadora: Você está falando alô? Ele coloca novamente o mouse sobre a mesa, olha para o objeto, leva-o para o ouvido esquerdo, depois para o ouvido direito. Luís: Ô, ô. Pesquisadora: Você está dizendo alô? Ele solta o objeto na mesa e com um dos dedos aperta o teclado do computador. Pesquisadora: Você está discando os números, vai telefonar para alguém? Luis continua a apertar o teclado; depois sai sorrindo e pulando para o centro da sala. Nesse episódio, ao atribuir às ações de Luis o sentido de telefonar, a pesquisadora favorece um movimento na criança, que age e balbucia sons correspondentes à brincadeira, até imitando a palavra “alô”. A interação produz um momento de jogo imaginativo que, embora simples, já implica um desprendimento do campo perceptual imediato, ou seja, por conta da relação entre sujeitos, o uso do objeto signifi cado (telefone) impõe-se ao uso do objeto percebido, numa ação de caráter mais elaborado. Considerando os três modos de brincar, os dados indicam que, em vários momentos, as crianças orientam-se para as pessoas presentes, buscando ou aceitando o contato com a pesquisadora e, ocasionalmente, com o parceiro. Quanto à orientação para objetos, elas os manipulam de diferentes formas (com movimentos repetitivos, por exemplo), mas por vezes conseguem usá-los como parte de ações imaginativas e o fazem, embora de maneira rudimentar, de acordo com o que observam em sua vivência diária. Ainda que se envolvam mais com brinquedos que são reproduções em miniatura de coisas do cotidiano (fogão, secador, ferramenta etc.), chegam a atribuir novo signifi cado a outros tipos de objetos (uso do mouse como “telefone”). Essas indicações de possibilidades são indissociáveis da participação da pesquisadora e remetem à tese da gênese social do desenvolvimento: nas relações com o outro, e a depender da qualidade dessas relações, a criança se desenvolve e 128 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista vai se apropriando de experiências pertinentes a diferentes esferas de atividade na cultura. Essa ideia ampla de mediação social, como concebida pela teoria histórico-cultural, confere ao outro um papel constitutivo na formação do sujeito (VYGOTSKY, 1999). Nesse sentido, o “dar banho no bebê”, na brincadeira de Ana, não pode ter sua importância diminuída porque ela o faz com movimentos incipientes e somente sob o persistente incentivo do adulto. Essas são formas de imersão na vida social essenciais para qualquer criança, especialmente a criança autista (ELKONIN, 1984). Modos de atuação do adulto As ações dessas três crianças poderiam facilmente enquadrar- se nas descrições tradicionais do autismo no que concerne à forma como participam das brincadeiras e se relacionam com objetos e pessoas. Contudo, quando na atuação junto a elas, atentamos às minúcias e indícios de outros comportamentos e nos deslocamos da expectativa de uma preferência por objetos e de manipulação repetitiva ou comportamento bizarro no uso de brinquedos, vemos que elas extrapolam o esperado e mostram possibilidades diversas. Se, neste estudo, tivéssemos uma abordagem pautada somente nos comportamentos bastante característicos dos sujeitos, fi caria inviável pensar em qualquer possibilidade de desenvolver brincadeiras. Nessa linha, cabe ressaltar a mediação da pesquisadora durante os encontros, nos quais permanecia bastante atenta aos movimentos dos sujeitos (uma condição indispensável para interagir com o autista), como salienta Bosa (2002), desdobrando-se para atribuir sentidos as suas ações e ao uso de objetos, bem como às relações com os outros envolvidos na situação de brincadeira, como sugere Bagarollo (2005). Devido à ausência da fala nas crianças, a pesquisadora falava com elas e por elas. Com isso, as relações sujeito-sujeito e sujeito-objeto se ampliaram em muitos momentos das sessões, em resultado da atuação de um adulto que se orienta para a construção de sentidos e ensina a brincar. Aqui, o termo ensinar está relacionado à concepção ampla de uma mediação deliberada para envolver o sujeito num tipo de atividade. Não se trata meramente de recorrer ao objeto, que teria a preferência do autista, para então conseguir que ele estabeleça alguma comunicação, alguma ação conjunta, como tem sido sugerido em “orientações práticas” para lidar com esse sujeito. Mais que isso, importa envolvê- lo no processo de signifi cação (que abrange inclusive momentos em que nenhum objeto está em questão) e colocá-lo numa rede 129 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 de relações com outros. Esse era um propósito previamente pensado pela pesquisadora. Por outro lado, as situações não eram propriamente “planejadas”, pois não eram programadas nem tinham estruturação defi nida a priori. Por isso, é interessante examinar como se caracterizava a atuação do adulto na atividade com as crianças. Analisando o corpus da pesquisa, destacam-se três modos de atuação que parecem mais relevantes em termos do objetivo do trabalho. 1) O encorajamento do início ou da manutenção de contato com outros. Por meio da gestualidade e da fala, a pesquisadora incentivava a interação com a criança ao longo de todas as sessões, como pode ser visto nos episódios descritos. Também fazia esforços para que a criança se relacionasse com um parceiro presente, direcionando sua atenção para um colega ou interpretando para ela a ação de outro participante. 2) A construção de sentidos sobre brincadeiras e uso de brinquedos. Esse modo de atuação implicava dizeres a respeito da situação em ocorrência, sugerindo uma ação de faz de conta e muitas vezes abrangendo também características perceptuais e funcionais dos objetos envolvidos. Exemplos disso estão nos episódios 3 e 4, quando a pesquisadora encoraja Ana a dar banho no bebê (Vamos dar banho na boneca? Vamos colocar o bebezinho aqui dentro da banheira para dar banho nela?) e aponta para as partes da boneca (o bumbum, o pezinho); ou quando tenta iniciar um jogo com Luis (É uma chave de fenda, é para a gente consertar as coisas) e, depois, consegue envolvê-lo no brincar de telefonar. 3) A referência a estados subjetivos atribuídos à criança. Quanto a essa atuação, os dados indicam que, durante as sessões, a pesquisadora frequentemente tecia comentários sobre intenções, emoçõese pensamentos que eram inferidos das ações da criança e os relacionava à situação em curso. Por exemplo, no episódio 1, ela infere uma intenção de Ana (O que você está querendo, parece estar querendo me contar alguma coisa? O que você quer me contar?); também sugere a condição emocional de Paulo (Você está com vergonha, Paulo?). No episódio 2, reporta-se tanto à raiva de Ana como à intenção e à alegria de Luis (Você está brava com o Luis, Ana, porque você quer o mesmo brinquedo que ele? E você aí está provocando ela, não é Luis?). Entendemos que esse tipo de diálogo pode gerar a atenção da criança sobre si ou o reconhecimento de 130 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista seu mundo interior e não apenas a atenção a pessoas e coisas do meio social, implicadas nos outros modos de atuação apontados. Naturalmente, a signifi cação do “mundo exterior” pode também levar a uma atenção sobre si, mas aqui há uma canalização de sentidos específi ca nessa direção, que nos parece um importante componente do papel do outro no desenvolvimento de crianças autistas. Retomando os modos de atuação da pesquisadora, os achados levam a reiterar a importância da mediação social e a ressaltar os efeitos da participação do outro sobre os processos da criança com desenvolvimento comprometido. Quando guiada pelas possibilidades e não pela incapacidade – nesse caso, de interagir e de agir imaginativamente –, essa participação propicia a elevação dos níveis de funcionamento da criança, como é argumentado por Vygotsky (1997) nos textos de Defectologia. Nessa visão, não se nega a existência do comprometimento, mas se enfatiza a plasticidade do funcionamento humano, que permite a superação dos obstáculos decorrentes do défi cit se o grupo social criar condições para iniciativas que tomem como ponto de partida quaisquer capacidades existentes na criança e propiciem novas capacidades, apostando assim no núcleo sadio do desenvolvimento. Em termos de mediação da atividade dos sujeitos, constatamos que o encorajamento da pesquisadora esteve vinculado a todas as ocorrências de um brincar imaginativo quando o manuseio repetitivo ou dispersivo de brinquedos era transformado em uso contextualizado, envolvido em rudimentos do jogo de papéis. Os dados sobre modos de atuar da pesquisadora (o encorajamento de contato social, a construção de sentidos sobre brincadeiras e a referência a estados subjetivos da criança) mostram que, durante as brincadeiras, ela promoveu diferentes formas de orientação para pessoas. Suas iniciativas incentivavam a relação das crianças com os participantes presentes. Também ao se referir a estados subjetivos, ela efetuava um direcionamento da atenção da criança para si mesma. Vale salientar, ainda, que a mudança na forma de manusear brinquedos e outros materiais na direção de um uso signifi cativo e contextualizado não se ajusta à ideia de “orientação para o objeto” no sentido estrito das descrições dessa característica do autista. Isso porque a colocação do objeto numa cena de faz de conta já implica ocupar o lugar da pessoa que o usa e realiza uma ação atinente a certa esfera da cultura (por exemplo, brincar com a ferramenta para 131 INCLUSÃO E O PAPEL DO PROFESSOR Capítulo 3 consertar o carro, ou com o fogão para fazer comidinha). Nesse caso, está implicada uma forma distinta de envolvimento com outros, que não estão em presença, mas que representam membros do grupo social em atividade. Isso, do ponto de vista histórico-cultural, refere- se a um ganho fundamental dos processos envolvidos no brincar, por constituir um caminho essencial de apropriação da cultura. FONTE: MARTINS, A. D. F.; GÓES, M. C. R. de. Um estudo sobre o brincar de crianças autistas na perspectiva histórico-cultural. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 17, n. 1, jan./jun. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v17n1/a03v17n1.pdf. Acesso em: 2 abr. 2020. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Com as sugestões de estratégias, chegamos ao fi nal desse capítulo e encerramos, também, essa disciplina. Esperamos que você tenha aproveitado todos os temas desenvolvidos aqui e possa refl etir, a cada nova situação, sobre o contexto que envolve o Transtorno do Espectro Autista. Assim, nesse capítulo, você estudou que torna-se necessário ao professor superar os limites e ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas para alunos com TEA. Ao ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas no contexto de sala de aula, faz-se necessária a compreensão das diferenças que caracterizam o ser humano, o qual apresenta histórias de vida única, constituindo- se, assim, como sujeito historicamente diferente. Compreendemos que a inclusão de todos os alunos no contexto que envolve o processo de ensino e aprendizagem pressupõe a estruturação dos aspectos pedagógicos, para que as experiências propiciadas por meio do ensino sejam inclusivas. Assim, torna-se fundamental que o professor proporcione ao aluno com TEA o apoio pedagógico que atenda as suas especifi cidades e necessidades, focando sempre na aprendizagem. Frente a este contexto, cabe à escola e ao professor refl etir constantemente sobre as práticas pedagógicas apresentadas aos alunos, respeitando e trabalhando com as diferenças, pois a busca de uma educação de qualidade para todos requer dedicação e envolvimento de todos os profi ssionais que atuam na instituição escolar. Apreendemos também que no processo que envolve as intervenções, o professor necessita incluir objetivos/metas, juntamente ao planejamento de 132 Diagnóstico e Intervenção no Transtorno do Espectro Autista atividades específi cas e adequadas às capacidades, às necessidades e às difi culdades de cada aluno. A intervenção em sala de aula necessita ser gradual, ou seja, o professor deve iniciar com exercícios simples, aumentando progressivamente o nível de complexidade. É no cenário de intervenção que emerge a Zona de Desenvolvimento Proximal, a qual é caracterizada pela distância estabelecida entre os níveis de desenvolvimento “real” e “potencial”. No contexto da Zona de Desenvolvimento Proximal, compreendemos que o aluno com difi culdade de aprendizagem só deve avançar para atividades mais complexas quando alcançar todos os objetivos previstos. Mediante as estratégias sugeridas nesse capítulo, cabe destacar que não há receitas prontas para trabalhar com alunos com TEA. No entanto, o professor precisa ter em mente que o planejamento deve ser individual, pois cada aluno terá necessidades distintas. Assim, torna-se fundamental nesse processo o compartilhamento com a criança de como serão conduzidas as atividades, pois este compartilhamento a tornará mais segura em sala de aula, possibilitando maior facilidade no processo que envolve a aprendizagem. REFERÊNCIAS APA. American Psychiatry Association. 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