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Exames de imagem para avaliação da Mama Em 1913, um cirurgião chamado Albert Salomon reportou os resultados obtidos com a radiografia de espécimes de mastectomia, demonstrando o aspecto dos diversos nódulos mamários e sua correlação anatomopatológica, e constatou ser possível diferenciar o aspecto radiológico de carcinomas infiltrativos e circunscritos. Com base nessas descobertas, diversos grupos iniciaram suas investigações a respeito de possíveis técnicas para radiografia in vivo das mamas. Nos anos 1940, os exames de mamografia eram realizados com tubos de raios X de uso geral, não dedicados, com pequena ou nenhuma compressão, e as imagens eram capturadas em filmes de exposic ̧ão direta, similar a radiografias de tórax, com a obtenção de imagens bastante diferentes das imagens de mamografia obtidas nos dias atuais. Ao longo das décadas subsequentes, houve avanços significativos na técnica mamográfica, incluindo o surgimento de aparelhos de mamografia dedicados na década de 1960. Estudos prospectivos randomizados sobre rastreamento mamográfico começaram a aparecer na década de 1970. No início dos anos 2000, foi introduzida a mamografia digital e, alguns anos depois, surgiu a tomossíntese. A ultrassonografia (USG) mamária foi introduzida no final da década de 1970, inicialmente voltada à distinça ̃o entre cistos e nódulos so ́lidos; foi progressivamente incorporada no diagnóstico e rastreamento. Ao longo desse tempo, inúmeros avanc ̧os técnicos foram agregados à USG, entre eles o modo Doppler colorido, a USG 3D (tridimensional) e a elastografia. A ressona ̂ncia magnética (RM) das mamas foi desenvolvida no final dos anos 1980, e o primeiro exame com contraste paramagnético foi realizado em 1986. Fabricantes norte-americanos e europeus forneciam diferentes tipos de bobinas de superfície, de forma que no início da década de 1990 havia técnicas de exame distintas, buscando estabelecer a melhor forma de estadiamento e detecc ̧ão do câncer de mama por RM. Posteriormente, ficou estabelecida a importa ̂ncia do estudo dinâmico das lesões mamárias, e novas perspectivas vêm surgindo com a realização de protocolos abreviados para rastreamento e com o estudo das técnicas de difusão e espectroscopia. Não deve existir uma hierarquia entre esses métodos, mas sim, uma indicação adequada do uso de cada um, de forma a explorar sua complementariedade. A análise conjunta das informações fornecidas por cada um permite que se construa um diagnóstico preciso, e o conhecimento das indicac ̧ões e das limitaço ̃es de cada um desses métodos permite que se atinja uma excelente acuráciadiagnóstica. O objetivo central dessa atividade é identificar os principais exames de imagem que são utilizados para avaliação da mama. Mamografia Durante as últimas décadas, as imagens de mamografia evoluíram consideravelmente, possibilitando maior detecça ̃o de alterações sutis e microcalcificações. A mamografia apresenta menor sensibilidade e ocorre em um grupo específico de pacientes com mamas densas, isto é, com maior porcentagem de parênquimafibro-glandular em relação ao tecido adiposo, o que resulta em sobreposição tecidual e obscurece lesões. Seu surgimento contribuiu para o diagnóstico de carcinomas em estágio precoce e, apesar da inquestionável importa ̂ncia da mamografia na detecção do câncer de mama, há estudos que relatam a não detecção de até 20-30% de lesões malignas por esse método. A tomossíntese tem como principal objetivo reduzir a sobreposic ̧ão tecidual inerente à mamografia. O equipamento permite a realizaça ̃o da mamografia e da tomossíntese em sequência, com a mesma compressão da mama. Na tomossíntese, são adquiridas múltiplas imagens de menor dose, com angulações diferentes da ampola de raios X, que são posteriormente reconstruídas e analisadas.Além do maior custo do equipamento, a principal contrapartida a ̀ adoção indiscriminada da tomossíntese é o aumento na dose de radiaça ̃o do exame. Estudos mostram que a dose de radiação praticamente dobra ao se associar a tomossíntese à mamografia digital. Entretanto, de forma a contornar esse problema, os fabricantes vêm desenvolvendo e aprimorando softwares para reconstrução que produzem uma incide ̂ncia “sintetizada” similar à mamografia, que deve ser associada à interpretaça ̃o das imagens de tomossíntese e deve permitir que a aquisição da mamografia digital não seja rotineiramente necessária. Apesar de o uso das incidências sintetizadas a partir da tomossíntese em conjunto com ela ter sido aprovado pelo órgão norte-americano Food and Drug Administration (FDA) em 2013, ainda não há estudos clínicos concluídos comparando o desempenho diagnóstico dessas imagens em relação a ̀s imagens de mamografia digital. As bases físicas da produção da imagem mamográfica são semelhantes às das radiografias comuns, com algumas peculiaridades. Atualmente, a grande maioria dos exames de imagem apresenta um aparato digital em vez de utilizar filmes revelados. Os detectores encontrados nos equipamentos digitais são mais eficientes que na mamografia convencional na absorção dos raios X, determinando melhor qualidade da imagem e, utilizando menor dose de radiação. O posicionamento mamográfico é de importância crucial e as incidências mamográficas básicas rotineiramente realizadas são a craniocaudal e a mediolateral oblíqua. Em determinadas situações, podem ser necessárias incidências complementares e ainda manobras especiais quando há implantes mamários de silicone. A análise mamográfica, para que seja bem orientada, é dividida em partes: • Começa pela simetria entre as mamas, devendo-se considerar a redução de tecido por mastoplastia, quadrantectomia, nodulectomia e biopsias, assim como seu incremento por próteses; • Análise da pele, considerando-se sua regularidade e espessura do mamilo e do tecido retroareolar; • Análise do estroma propriamente dito, se adiposo ou fibroglandular; de sua homogeneidade; distorção (frequente pós-mastoplastia); observação da distribuição vascular; e de áreas de assimetria, de calcificações e de nódulos; • Análise da região axilar, observando-se a presença ou não de linfonodos (imagens nodulares com densidade de partes moles). Achados mamográficos Os achados mamográficos mais frequentemente encontrados à mamografia são as calcificações e os nódulos, sendo substratos da gama de lesões que variam, de acordo com a faixa etária e, se dividem em benignos e malignos. Interpretação dos achados Para padronizar os laudos (interpretação dos achados) mamográficos, o American College of Radiology (ACR) criou um sistema, o Breast Image Reporting and Data System (BI-RADS), que conclui, por meio de 7 níveis, a categoria em que se encontra a mama e o risco de malignidade: 0 Exame limitado - avaliação incompleta Não é possível estimar 1 Exame normal Muito baixo 2 Alterações benignas Muito baixo 3 Exame provavelmente benigno 2% 4 Lesão suspeita para câncer 20% 5 Lesão altamente suspeita para câncer 95% 6 Lesão já com diagnóstico de câncer 100% Quando o BI-RADS é 0, são indicados outros métodos para elucidação, como a magnificação e a US. Ultrassonografia A USG mamária apresenta diversas aplicações, destacando-se o rastreamento do câncer de mama e a avaliaça ̃o de queixas clínicas ou de anormalidades vistas na mamografia ou na RM das mamas. A USG pode ser usada como um método suplementar à mamografia no rastreamento de pacientes acima de 40 anos, especialmente naquelas com mamas densas, em que a sensibilidade da mamografia é menor, aumentando a possibilidade de diagnóstico de pequenos tumores invasivos ocultos na mamografia e com linfonodos negativos. Por outro lado, a USG tem valor limitado na detecçãode pequenos grupamentos de calcificações sem um nódulo associado e apresenta valor preditivo positivo baixo das biópsias realizadas, menor que 12%. Dessa forma, seu uso é, muitas vezes, associado a biópsias provavelmente desnecessárias e a ansiedade das pacientes, um sério efeito colateral do rastreamento que precisa ser constantemente monitorado e levado em conta. Pacientes com risco aumentado para câncer de mama se beneficiam de esquemas de rastreamento individualizados, muitas vezes combinando o uso de mamografia, USG e RM em intervalos diferenciados e, podem eventualmente, iniciar o rastreamento em faixa etária mais precoce. No cenário de pacientes com risco aumentado para câncer de mama e impossibilidade de realizar a RM, a USG é uma alternativa, particularmente em mamas densas. A USG mamária é útil na avaliação de todas as alterações palpáveis em todas as faixas etárias e se beneficia da peculiaridade de permitir o exame físico concomitante. Isso garante uma correlação apropriada dos achados de imagem com a alteração palpável que motiva o exame, além de permitir avaliar qual o grau de suspeiça ̃o do achado clínico, o que é relevante, pois raramente alguns tumores de mama podem se apresentar com achados de imagem frustros e sutis, enquanto o exame físico é exuberante e direciona a valorizar tais alterações discretas na imagem. Por último, sempre que possível, a USG é o método de escolha para orientar procedimentos intervencionistas nas mamas, por permitir a visualização das lesões em tempo real durante o procedimento, por não envolver o uso de radiação ionizante nem de contraste endovenoso e por ser mais confortável para a paciente. A varredura ultrassonográfica de rastreamento deve ser realizada lentamente e em duas orientações distintas, sobrepondo parte das regiões analisadas a cada passagem do transdutor, de forma a garantir a detecção de lesões pequenas. Devem-se incluir particularmente as regiões periféricas das mamas (nas linhas axilares, regiões paraesternais e infraclaviculares, sulcos inframamários), de avaliação limitada pela mamografia, dado que pode haver leso ̃es mamárias nessas topografias. A elastografia é uma técnica aplicada à USG convencional que fornece informações complementares à mamografia e na USG, permitindo uma avaliação não invasiva do grau de rigidez de uma lesão. Sua aplicac ̧ão baseia- se no princípio de que as lesões malignas são geralmente mais duras, enquanto as benignas sa ̃o em geral mais macias. Na elastografia, é quantificado o grau de deformação de um tecido ao ser submetido a uma dada força de compressa ̃o. Atualmente, existem no mercado equipamentos de USG automatizada das mamas, desenvolvidos como alternativa à USG tradicional realizada pelo médico. Esses equipamentos podem ser operados por profissionais não médicos e permitem a obtenção de um número imenso de imagens sobrepostas e nos três planos (axial, sagital e coronal), com possibilidade de reconstrução tridimensional, que posteriormente são analisadas pelo médico radiologista. As vantagens desses equipamentos consistem em um exame menos operador-dependente, otimização do tempo e assim da eficiência do médico radiologista, e alta reprodutibilidade, facilitando assim seu uso no controle de lesões. Existem, entretanto, algumas desvantagens no uso desse tipo de equipamento para realização das USG de mama, entre as quais a limitação em realizar uma varredura apropriada da mama por completo, particularmente das regiões mais profundas em mamas grandes; o grande tempo necessário para a análise por parte do radiologista da imensa quantidade de imagens geradas pelo equipamento e a necessidade de reconvocaça ̃o de pacientes para um novo exame ultrassonográfico quando os achados são indeterminados. Ressona ̂ncia magnética Uma comum indicação da RM de mamas na prática clínica é a conhecida “solução de problemas”, em casos de dúvida diagnóstica ou de conduta ainda controversa. Em alguns desses casos, o benefício do uso da RM advém principalmente de seu alto valor preditivo negativo. São raros os casos em que a mamografia e a USG associadas ao exame físico são incapazes de descartar malignidade, entretanto a RM pode auxiliar na caracterização de lesões duvidosas, particularmente quando não há possibilidade de realizaça ̃o de biópsia. A RM não deve substituir a avaliação mamográfica e ultrassonográfica na avaliação de alterações mamárias, sejam estas sintomáticas ou caracterizadas na mamografia de rastreamento. Em outros casos, com diagnóstico de câncer, a RM pode ser utilizada para estadiamento locorregional e avaliação da mama contralateral. Estudos mostram acurácia superior da RM em relação à mamografia e à USG na determinação da extensão da doença, independentemente de tipo tumoral, tamanho tumoral, densidade mamária ou idade da paciente. Mamografia normal Ultrassom normal de mama A mamografia, a USG e a RM são os principais exames utilizados para avaliação mamária. Na ̃o deve existir uma hierarquia entre esses métodos, mas sim uma indicação adequada do uso de cada um, de forma a explorar sua complementariedade. A análise conjunta das informações fornecidas por cada um permite que se construa um diagnóstico preciso, e o conhecimento das indicações e das limitações de cada um desses métodos permite que se atinja uma excelente acurácia diagnóstica. Para padronizar os laudos (interpretação dos achados) mamográficos, o American College of Radiology (ACR) criou um sistema, o Breast Image Reporting and Data System (BI-RADS), que conclui, por meio de 7 níveis, a categoria em que se encontra a mama e o risco de malignidade: 0 Exame limitado - avaliação incompleta Não é possível estimar 1 Exame normal Muito baixo 2 Alterações benignas Muito baixo 3 Exame provavelmente benigno 2% 4 Lesão suspeita para câncer 20% 5 Lesão altamente suspeita para câncer 95% 6 Lesão já com diagnóstico de câncer 100% Quando o BI-RADS é 0, são indicados outros métodos para elucidação, como a magnificação e a US. Colégio Brasileiro de Radiologia: https://cbr.org.br/ Tratado de radiologia :InRad HCFMUSP, volume 3 : obstetrícia : mama : musculoesquelético / editores Giovanni Guido Cerri, Claudia da Costa Leite, Manoel de Souza Rocha. -- Barueri, SP : Manole, 2017. Marchiori, Edson Introdução à Radiologia / Edson Marchiori e Maria Lúcia Santos. - 2. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
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