Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 270 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 270 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 270 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

2 
 
 
 
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA 
Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública 
Diretoria de Ensino e Pesquisa 
 
COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO 
Coordenação de Ensino a Distância 
 
 
Conteudista 
André Santos Guimarães - PCDF 
Beatriz Marques de Jesus Figueiredo - PCDF 
Yume Lais Arashiro Assis – PCDF 
 
 
Revisão Pedagógica 
Vânia Cecília de Lima Andrade 
 
 
SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO 
 
 
Programação e Edição 
Ozandia Castilho Martins 
Fagner Fernandes Douetts 
 
Designer 
Ozandia Castilho Martins 
Fagner Fernandes Douetts 
 
Designer Instrucional 
Anne Caroline Bogarin Manzolli 
3 
 
 
 
Sumário 
APRESENTAÇÃO DO CURSO ................................................................................... 6 
OBJETIVOS ................................................................................................................ 6 
ESTRUTURA DO CURSO .......................................................................................... 7 
MÓDULO I – Por que um protocolo de investigação de feminicídios? ........................ 9 
APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 9 
OBJETIVOS ......................................................................................................................... 9 
ESTRUTURA DO MÓDULO ............................................................................................ 9 
AULA 1: O SURGIMENTO DO CRIME DE FEMINICÍDIO NO BRASIL .............. 10 
AULA 2: O CRIME DE FEMINICÍDIO......................................................................... 15 
AULA 3: OS PROTOCOLOS DE INVESTIGAÇÃO DE FEMINICÍDIOS ............... 19 
3.1 O dever de devida diligência ............................................................................ 20 
MÓDULO II – Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de 
Feminicídio (Diligências Investigativas) ..................................................................... 26 
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 26 
OBJETIVOS ....................................................................................................................... 27 
ESTRUTURA DO MÓDULO .......................................................................................... 27 
AULA 1: REGISTRO DE OCORRÊNCIA .................................................................... 28 
1.1 Falecimento de mulher sem identificação em unidades de saúde ou em 
unidades de internação ...................................................................................................... 32 
AULA 2: INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR .................................................................. 34 
2.1 Diligências da equipe de investigação no local de crime ................................ 35 
2.2 Diligências específicas do delegado de polícia ................................................ 38 
2.3 Diligências específicas no local de crime ......................................................... 41 
2.4 Abandono do local de crime ............................................................................. 46 
AULA 3: DILIGÊNCIAS GERAIS APLICÁVEIS À INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 
............................................................................................................................. ................ 49 
3.1 Busca e apreensão no domicílio da vítima ...................................................... 53 
4 
 
 
3.2 Relatório final do inquérito policial ................................................................. 54 
AULA 4: DESAPARECIMENTO DE MULHERES ..................................................... 57 
MÓDULO III- Aspectos Procedimentais do Protocolo Nacional de Investigação e 
Perícia em Crimes de Feminicídio (Da Perícia Criminal) ........................................... 61 
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 61 
OBJETIVO ......................................................................................................................... 62 
ESTRUTURA DO MÓDULO .......................................................................................... 63 
AULA 1: INTRODUÇÃO ................................................................................................. 64 
AULA 2: CAMPO DE APLICAÇÃO .............................................................................. 67 
2.1 Interface com o Direito ................................................................................................ 67 
2.2 A Prova no Processo Penal .......................................................................................... 70 
2.3 Base conceitual e arcabouço legal ............................................................................... 71 
2.4 Casos aos quais se destina ........................................................................................... 89 
AULA 3: PROCEDIMENTOS ......................................................................................... 94 
3.1 Exame de local .............................................................................................................. 96 
3.2 Perinecroscópico ........................................................................................................ 136 
3.3 Coleta de vestígios ...................................................................................................... 162 
3.4 Encaminhamento de vestígios ................................................................................... 206 
AULA 4: INTERFACE COM A INVESTIGAÇÃO E DEMAIS INTERAÇÕES 
PROFISSIONAIS ............................................................................................................ 211 
AULA 5: LAUDO ............................................................................................................ 214 
Módulo IV – Medicina Legal: FEMINICÍDIO E PERÍCIA MÉDICO-LEGAL .............. 218 
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... 218 
OBJETIVO ....................................................................................................................... 218 
ESTRUTURA DO MÓDULO ........................................................................................ 218 
AULA 1: QUAL O PAPEL DO PERITO MÉDICO-LEGISTA NO FEMINICÍDIO? 
............................................................................................................................. .............. 220 
AULA 2: PERÍCIAS EM VÍTIMA VIVA ..................................................................... 223 
2.1 Etapas do atendimento a vítimas sobreviventes de tentativa de feminicídio........ 224 
5 
 
 
2.2 Tipos de perícias médico-legais em vítima viva ...................................................... 227 
AULA 3: PERÍCIAS EM AUTOR VIVO ..................................................................... 242 
3.1 Exame de lesões corporais: o autor de violência física ........................................... 242 
3.2 Exame sexológico: o autor de violência sexual ........................................................ 242 
3.3 Exame psiquiátrico .................................................................................................... 243 
3.4 Exames toxicológicos: ................................................................................................ 243 
AULA 4: EXAME NECROSCÓPICO .......................................................................... 247 
6 
 
 
APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
Caro Aluno, 
 
 
 
Bem-vindo ao curso de Aspectos Procedimentais do Protocolo Nacional de 
Investigação e Perícia em Crimes de Feminicídio. O Brasil é um país com alta 
prevalência de violência contra a mulher,um verdadeiro problema de saúde pública e 
suas consequências refletem em desequilíbrio de todas as esferas da sociedade: 
familiar, econômica etc. Diante do atual cenário, este curso busca aplicar os 
procedimentos elencados no Protocolo Nacional de Investigação e Perícia em Crimes 
de Feminicídio, transmitindo conhecimentos para os profissionais que irão atuar na 
área. 
No desenvolver do curso, para melhor exemplificar, foram utilizadas imagens 
reais de cenas de crime, tais fotografia foram disponibilizadas conforme Termo de 
Anuência, documento SEI 13514734. 
Atenção! 
 
Algumas imagens podem conter cenas fortes. 
 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
OBJETIVOS 
 
O curso tem por objetivo trazer os procedimentos a serem adotados em uma 
investigação de crime de feminicídio, conforme preconiza o Protocolo Nacional de 
Investigação e Perícia em Crimes de Feminicídio, apontar os passos a serem 
seguidos, orientar quanto as diligências necessárias, capacitar e fornecer informações 
aos profissionais que irão dar atendimento em ocorrências dessa natureza. 
7 
 
 
Módulo I – Por que um protocolo de investigação de feminicídios? 
Módulo II – Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de 
Feminicídio (Diligências Investigativas) 
Módulo III- Aspectos Procedimentais do Protocolo Nacional de Investigação e 
Perícia em Crimes de Feminicídio- Da Perícia Criminal 
Módulo IV - Medicina Legal- Feminicídio e Perícia Médico-Legal 
 
ESTRUTURA DO CURSO 
 
 
AULA 1: O surgimento do crime de feminicídio no Brasil. 
 
AULA 2: O crime de feminicídio. 
 
AULA 3: Os protocolos de investigação de feminicídios. 
 
 
 
 
AULA 1: Registro de ocorrência. 
 
AULA 2: Investigação Preliminar. 
 
AULA 3: Diligências gerais aplicáveis à investigação criminal. 
 
AULA 4: Desaparecimento de mulheres. 
 
 
 
 
AULA 1: Introdução. 
 
AULA 2: Campo de aplicação. 
 
AULA 3: Procedimentos. 
 
AULA 4: Interface com a investigação e demais interações profissionais. 
 
AULA 5: Laudo. 
 
 
 
 
AULA 1: Qual o papel do perito médico-legista no feminicídio? 
 
AULA 2: Perícia em vítima viva. 
8 
 
 
 
AULA 3: Perícia em autor vivo. 
 
AULA 4: Exame necroscópico. 
9 
 
 
 
MÓDULO I – Por que um protocolo de investigação de 
feminicídios? 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Caro Aluno, 
 
 
 
Neste módulo você irá estudar a origem do termo “feminicídio”, bem como seu 
significado. Estudará um pouco mais sobre o caso do “Campo Algodoneto”, o qual 
culminou, em 2009, com a condenação do Estado do México pela Corte 
Interamericana de Direitos Humanos, e, ainda, sobre a importância da tipificação do 
crime de feminicídio, e a necessidade de um protocolo de investigação próprio. 
 
 
OBJETIVOS 
 
Ao final deste módulo você será capaz de: 
 
• Orientar-se sobre a origem do termo “feminicídio”, e o caso que deu vulto, na 
América Latina, a discussão acerca do feminicídio; 
• Identificar a importância de se tipificar o crime de feminicídio; e 
• Conhecer a legislação que introduziu o crime de feminicídio no ordenamento 
jurídico brasileiro; e 
• Conhecer a importância do dever da devida diligência. 
 
 
ESTRUTURA DO MÓDULO 
 
Este Módulo compreende as seguintes aulas: 
AULA 1: O Surgimento do Crime de Feminicídio no Brasil. 
AULA 2: O crime de feminicídio. 
AULA 3: Os protocolos de investigação de feminicídios. 
10 
 
 
 
Saiba Mais! 
 
Ciudad Juarez fica imediatamente na fronteira com os Estados 
Unidos, ao lado da cidade americana de El Paso (Texas). Com a 
assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte - NAFTA 
em 1994, diversas empresas americanas transferiram parte da 
produção para México, sendo que muitas delas se instalaram nas 
proximidades de Ciudad Juarez (Estado de Chiuahua), justamente 
porque se trata de uma cidade fronteiriça. São as chamadas 
Maquilladoras, empresas que usam mão de obra barata. Diante disso, 
 
AULA 1: O Surgimento do Crime de Feminicídio no Brasil 
 
O primeiro uso do termo “femicídio” é atribuído a Diana Russell, escritora 
feminista e ativista. Diana se valeu desse termo para se referir à morte de mulheres 
por homens pelo fato de serem mulheres. Contudo, em 1976, Jane Caputti, uma 
professora da Florida Atlantic University, e Diana Russel redefiniram o termo femicídio, 
com o fim de utilizá-lo em referência ao “fim extremo de um continuum de terror contra 
as mulheres”. 
Por fim, Marcela Lagarde, antropóloga e pesquisadora mexicana, partindo do 
termo “femicídio”, criou a denominação “feminicídio” para se referir às mortes de 
mulheres em um contexto de “responsabilidade do estado na produção das mortes de 
mulheres”. 
Embora, portanto, o fenômeno da morte de mulheres por homens pelo fato de 
serem mulheres tenha sido reconhecido pela academia há tempos, a abordagem 
estatal a esse fenômeno somente passou a ocorrer de forma mais relevante a partir 
da década de 90. 
De fato, a discussão acerca do feminicídio somente toma vulto na América 
Latina a partir dos sucessivos homicídios de mulheres em Ciudad Juarez, no Estado 
de Chihuahua, no México, a partir de 1993, o que culminou, em 2009, com a 
condenação do Estado do México pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no 
caso “Campo Algodonero”. 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
Isso criou um fenômeno de mulheres trabalhadoras móveis, independentes, 
mas vulneráveis a violência em Ciudad Juarez. Inclusive, muitas mulheres 
conseguiam empregos em maquilladoras com mais facilidade do que homens e isso 
levou a uma inversão de papeis tradicionais de gênero, o que gerou violência 
específica contra mulheres naquela região. 
 
Figura 1: Casos em Juares/ México. 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
Nesse contexto, está inserido o “Caso Campo Algodonero”, ocorrido em 06 de 
novembro de 2001, em Ciudad Juarez, quando foram encontrados 8 corpos de 
mulheres em um campo de algodão. Entre eles os de Claudia Ivette González, 
Esmeralda Herrera Monreal e Laura Berenice Ramos Monárrez. Os corpos foram 
encontrados com sinais de estrangulamento e de violência sexual, sendo que alguns 
estavam seminus. No caso de Esmeralda Herrera Monreal e de Claudia Ivette 
González, os mamilos estavam mutilados. 
Em 2009 a Corte Interamericana de Direitos Humanos - CIDH (Caso González 
y otras ou - “Campo Algodonero” - vs. México) condenou o México pelo caso Campo 
muitas mulheres migraram de áreas rurais mexicanas para Ciudad 
Juarez, para trabalhar nas Maquilladoras. 
12 
 
 
ATENÇÃO! 
 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso “Campo 
Algodonero” condenou o México, entre outros, a criar uma política 
integral e coordenada, respaldada com recursos adequados, para 
garantir que os casos de violência contra as mulheres sejam 
adequadamente prevenidos, investigados, sancionados e suas 
vítimas sejam reparadas. 
 
Algodonero por ausência de devida diligência das autoridades mexicanas para 
começar as investigações e para conduzi-las. 
 
 
 
 
Em 2007, o Estado do México já havia adotado uma definição de “violência 
feminicida” que serviu de substrato para vários estados mexicanos tipificarem o crime 
de feminicídio. 
A partir daí, diversos países inseriram o delito de feminicídio em suas 
legislações, a saber: 
 
Figura 2: Países que inseriram o delito de feminicídio em suas legislações 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
Paralelamente a esse gradual surgimento do crime de feminicídio nas 
legislações dos países, diversos documentos internacionais passaram a tentar 
sensibilizar os países a tipificarem o delito de feminicídio. 
13 
 
 
ATENÇÃO! 
 
A criação de um crime específico de feminicídio apresenta 
importância ímpar, conforme exposto no relatório da Comissão 
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou a violência 
contra a mulher no Brasil. 
ATENÇÃO! 
 
E de fato, esse destaque da morte de mulheres torna-se um fato 
relevante quando se observa que, de 1980 a 2013, 106.093 mulheres 
 
Nesse sentido, pode-secitar, por exemplo, o Relatório sobre Violência contra 
Mulheres, suas Causas e Consequências e as Conclusões Acordadas da Comissão 
sobre o Status da Mulher da Organização das Nações Unidas - ONU, apresentado em 
sua 57ª Sessão em 15 de março de 2013. 
 
 
 
 
Conforme tal relatório, a importância de tipificar o feminicídio é reconhecer, na 
forma da lei, que mulheres estão sendo mortas pela razão de serem mulheres, 
expondo a desigualdade de gênero que persiste em nossa sociedade. 
A tipificação também é importante, ainda segundo o relatório, para evitar que 
feminicidas sejam beneficiados por interpretações jurídicas anacrônicas e moralmente 
inaceitáveis, como a de terem cometido “crime passional”. 
Ademais, para a referida CPMI, a existência de um crime de feminicídio envia 
uma mensagem positiva à sociedade de que o direito à vida é universal e de que não 
haverá impunidade, além de proteger a dignidade da vítima impedindo as estratégias 
que desqualificam a condição de mulheres brutalmente assassinadas, por exemplo, 
atribuindo a elas a responsabilidade pelo crime do qual foram vítimas. 
Observe-se que a criação do tipo penal de feminicídio não consiste em mera 
iniciativa de hipertrofia legislativa, mas sim de um aperfeiçoamento normativo que 
busca apartar, do conjunto de homicídios praticados no Brasil, aquelas mortes em que 
as vítimas são mulheres e a motivação decorre, justamente, da condição do sexo 
feminino. 
 
14 
 
 
 
 
 
 
 
Diante disso, a já citada CPMI para investigação da situação da violência contra 
a mulher no Brasil constituiu um Grupo de Trabalho sobre Legislação. Tal grupo, entre 
outras iniciativas, elaborou projeto de lei para alterar o Código Penal, inserindo o 
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. 
Nesse sentido, a CPMI protocolou o Projeto de Lei do Senado (PLS) 292/2013. 
Um projeto substitutivo a ele foi proposto na Comissão de Constituição e Justiça, mas 
depois foi sucedido por outro substitutivo, dessa vez proposto pela Procuradoria da 
Mulher do Senado Federal, o qual foi aprovado e enviado à Câmara dos Deputados. 
Na Câmara dos Deputados, o referido Projeto de Lei (PL) tramitou como PL 
8.305/2014, foi aprovado e resultou na Lei 13.104 de 09 de março de 2015. 
foram vítimas de homicídio. Portanto, a magnitude dessas cifras, 
aliada a um cenário de violência sistêmica contra as mulheres, 
subsidia a criação de um tipo penal próprio a fim de tutelar os 
atentados contra a vida dessa parcela da população. 
15 
 
 
Código Penal Brasileiro - CPB 
Art. 121 
(...) 
Homicídio qualificado 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
(...) 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo 
feminino: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
 
AULA 2: O crime de feminicídio 
 
 
A Lei 13.104 de 09 de março de 2015, introduziu o crime de feminicídio no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
Em especial, a referida lei inseriu no Código Penal Brasileiro o inciso VI do § 2° 
do Art. 121. Veja a redação do dispositivo: 
 
 
 
 
 
 
O primeiro comentário então é que, apesar de ser um crime que possui um 
nome próprio (feminicídio), trata-se, em verdade, de uma das modalidades de 
homicídio qualificado trazida pelo CPB. 
Portanto, pela lei brasileira o homicídio é qualificado e reconhecido como um 
feminicídio quando praticado “contra a mulher por razões da condição de sexo 
feminino”. 
Observe-se que, antes da Lei 13.104/2015, o feminicídio, se não envolvesse 
outras agravantes ou qualificadoras trazidas pelo Código Penal, era punido 
genericamente como um homicídio simples do caput do art. 121. 
16 
 
 
Código Penal Brasileiro - CPB 
Art. 121 
(...) 
Homicídio qualificado 
(...) 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de 
sexo feminino quando o crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de 
mulher. 
Quando o homicídio de uma mulher envolve violência doméstica, a lei 
considera, então, que se trata de “razões de condição do sexo feminino” e, portanto, 
que se trata de feminicídio. E para se determinar o que vem a ser “violência doméstica 
Violência doméstica e familiar 
 
 
 
Figura 3: Questionamento 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
O legislador, mais adiante, acabou por esclarecer o que vem a ser o termo 
“razões da condição de sexo feminino”. Nesse sentido, o Código Penal Brasileiro, 
no § 2º-A do art. 121 (também acrescentado pela Lei 13.104/2015), esclarece o 
significado desse termo. Veja a redação do dispositivo. 
 
 
 
 
 
 
Portanto, o próprio legislador esclareceu que considera que há razões de 
condição de sexo feminino quando o crime envolve: 
 
 
 
17 
 
 
Quando o homicídio de uma mulher envolve violência doméstica, a lei 
considera, então, que se trata de “razões de condição do sexo feminino” e, portanto, 
que se trata de feminicídio. Diferentemente da hipótese anterior, não há um dispositivo 
legal indicando o que vem a ser “menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. 
No caso específico da “discriminação”, a Convenção sobre a Eliminação de todas as 
Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW, 1979), ratificada em 1984 pelo 
Brasil por meio do Decreto 1973, de 1º de agosto de 1996, apresenta, no Art. 1º, uma 
definição de discriminação contra a mulher: 
Menosprezo ou discriminação à condição de mulher 
“toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto 
ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela 
mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do 
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos 
campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro 
campo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto à natureza dessa qualificadora, deve-se recordar que as qualificadoras 
do homicídio podem ser objetivas (por exemplo, emprego de veneno, fogo, explosivo, 
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo 
comum) ou subjetiva (motivo fútil, por exemplo). 
e familiar” deve-se observar o art. 5º da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Veja a 
redação do dispositivo. 
Lei 11.340/2006 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar 
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause 
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de 
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, 
por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
18 
 
 
ENUNCIADOS FONAVID 
 
39 – A qualificadora do feminicídio, nos termos do art. 121, §2ºA, I, do 
Código Penal, é objetiva, uma vez que o conceito de violência 
doméstica é aquele do art. 5º da Lei 11.340/06, prescindindo de 
qualquer valoração específica (Aprovado no VIII FONAVID-BH). 
 
No caso, a qualificadora feminicídio é de natureza objetiva, visto que está 
relacionada a um dado objetivo, qual seja, vítima mulher morta ou no contexto de 
violência doméstica ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Observe o enunciado do Fórum Nacional de Juízas e Juízes de Violência 
Doméstica e Familiar Contra a Mulher – FONAVID que considera que se trata de uma 
qualificadora objetiva. 
 
 
 
 
 
A Lei 13.104/2015 previu também três causas de aumento de pena para o 
feminicídio. 
Nesse sentido, conforme Código Penal Brasileiro em seu artigo 121, § 7º, 
incisos I, II e III, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for 
praticado: 
 
Figura 4: Aumento de penapara o feminicídio 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
19 
 
 
Outra ação internacional recente e importante é a criação de um 
Protocolo para a Investigação de Assassinatos Violentos 
Relacionados a Gênero de Mulheres/Femicídio para a América Latina, 
com o apoio da ONU Mulheres, da Alta Comissária de Direitos 
Humanos da ONU, da Federação de Associações de Direitos Humanos 
e do Governo da Espanha. O objetivo do protocolo é criar diretrizes 
para a investigação efetiva de mortes de mulheres, usando o conceito 
de feminicídio, e garantir que os Estados cumpram seus deveres 
internacionais em relação à garantia do direito à vida e à dignidade 
humana para todas e todos, conforme expresso em múltiplos 
diplomas internacionais, dos quais o Brasil, felizmente, é parte. 
 
AULA 3: Os protocolos de investigação de feminicídios 
 
Conforme visto, em 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos - CIDH 
condenou o México pelo caso “Campo Algodonero” por ausência de devida diligência 
das autoridades mexicanas para começar as investigações e para conduzi-las. 
Uma das iniciativas que auxilia os estados nacionais a superar a ausência de 
devida diligência é justamente a criação de protocolos de investigação de feminicídios. 
No caso do Brasil, por exemplo, essa necessidade já havia sido apontada no 
relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Brasília: Investigação da 
situação da violência contra a mulher no Brasil: 
 
 
 
 
 
 
Nesse sentido, diversos protocolos de investigação têm sido desenvolvidos em 
âmbitos nacionais, regionais ou mesmo no âmbito internacional, a exemplo do 
Protocolo de Minnesota e do Protocolo de Istambul, respectivamente, protocolos para 
a investigação de execuções extrajudiciais e protocolo para a investigação de casos 
de tortura. 
Com a tipificação do delito de feminicídio em países da américa latina, vários 
protocolos de investigação desse crime foram desenvolvidos, como ocorreu no 
20 
 
 
ATENÇÃO! 
 
A condenação do México nesse caso é paradigmática, pois foi 
o primeiro caso de responsabilização internacional de um Estado 
latino-americano em virtude de feminicídios perpetrados em seu 
território. 
 
México, Peru e Chile, destacando-se, dentre todos, o Modelo de protocolo 
latinoamericano de investigación de las muertes violentas de mujeres por razones de 
género elaborado pela Oficina Regional para América Central do Alto 
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OACNUDH). 
Tais protocolos derivam do dever de devida diligência imposto aos Estados 
signatários da Convenção de Belém do Pará, conforme delineado a seguir. 
 
 
3.1 O dever de devida diligência 
 
A Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher), internalizada no Brasil por meio do 
Decreto 1.973 de 1º de agosto de 1996, no art. 7º, b, estabelece que os Estados 
signatários devem atuar com a devida diligência para prevenir, investigar e sancionar 
a violência contra a mulher. 
Quanto a esse dever de atuar com a devida diligência na investigação de 
feminicídios, deve-se recordar que, conforme exposto anteriormente, foi justamente a 
falta de devida diligência que levou à condenação do Estado México pela Corte 
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no caso “Campo Algodonero”. 
 
 
 
 
 
 
Essa sentença da CIDH, textualmente, cita a violação ao art. 7º, b, da 
Convenção de Belém do Pará. E mais, a sentença vai além e, na parte dispositiva das 
medidas de satisfação e garantia de não repetição, determina a padronização dos 
21 
 
 
12. […] 
ii) a investigação deve incluir uma perspectiva de gênero; desenvolver linhas de pesquisa 
específicas sobre violência sexual, nas quais devam estar envolvidas as linhas de 
pesquisa sobre os respectivos padrões na área; ser realizada de acordo com protocolos e 
manuais que atendam às diretrizes desta Sentença; fornecer regularmente informações 
às famílias das vítimas sobre o andamento da investigação e dar-lhes pleno acesso aos 
arquivos, e ser realizado por funcionários altamente treinados em casos semelhantes e no 
atendimento a vítimas de discriminação e violência de gênero; 
[…] 
18. O Estado deve, dentro de um prazo razoável, continuar com a padronização de todos 
os seus protocolos, manuais, critérios de investigação ministerial, serviços especializados 
e a administração da justiça, usados para investigar todos os crimes relacionados com 
desaparecimentos, violência sexual e homicídios de mulheres, de acordo com o Protocolo 
de Istambul, o Manual das Nações Unidas para a Prevenção e Investigação Efetiva de 
Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias e as normas internacionais para a busca 
de pessoas desaparecidas, com base na perspectiva de gênero, de acordo com as 
disposições do parágrafos 497 a 502 desta Sentença. A este respeito, um relatório anual 
deve ser apresentado por três anos. (tradução livre feita pelo autor) 
 
protocolos, critérios de investigação, serviços periciais e de entrega de justiça para 
combater desaparecimentos e homicídios de mulheres e dos diferentes tipos de 
violência contra as mulheres. veja a redação de trecho da sentença. 
 
 
 
 
 
 
Diversos instrumentos internacionais trazem a necessidade de uma devida 
investigação do feminicídio. Por exemplo, o Alto Comissariado para os Direitos 
Humanos das Nações Unidas e a ONU Mulheres têm estimulado a adoção de um 
Modelo de Protocolo latino-americano de investigação de mortes violentas de 
mulheres por razões de gênero, conforme será visto adiante. 
Portanto, a fim de conferir concretude ao dever de atuar com a devida diligência 
para prevenir, investigar e sancionar a violência contra a mulher é necessário que os 
países signatários da Convenção de Belém do Pará, entre eles o Brasil, desenvolvam 
protocolos de investigação de feminicídios. 
Embora já existam tais protocolos em quantidade razoável de países latino- 
americanos, a mera importação desses documentos para a atuação policial brasileira 
não é suficiente, pois peculiaridades no modelo policial brasileiro criam uma demanda 
específica para a elaboração de protocolos nacionais, conforme será exposto adiante. 
22 
 
 
 
Saiba Mais! 
 
No ano de 2020, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública 
(MJSP), por meio da Portaria 340 de 22 de junho de 2020, criou o 
Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de 
Feminicídio, com a finalidade de subsidiar e contribuir para a 
padronização e uniformização dos procedimentos aplicados pelas 
polícias civis e pelos órgãos de perícia oficial de natureza criminal dos 
Estados e do Distrito Federal na elucidação dos crimes de feminicídio. 
 
 
 
 
 
A ausência de um protocolo nacional ou de protocolos estaduais de 
investigação de feminicídios, a depender do contexto, pode contribuir para a 
demonstração de falta de devida diligência na persecução penal de homicídios contra 
mulheres, tal qual se deu com o estado mexicano. 
Visando a suprir essa necessidade, em 2020, o Conselho Nacional dos Chefes 
de Polícia Civil (CONCPC) aprovou a resolução que estabelece o Protocolo Nacional 
Integrado para Investigação Criminal das Mortes Violentas de Mulheres com 
Perspectiva de Gênero (Feminicídios). 
 
 
 
 
Ressalte-se que, muito embora iniciativas nacionais sejam salutares, 
considerando-se a extensa área territorial do Brasil, quando comparada a outros 
ATENÇÃO! 
 
Na presente data, no que tange aos Estados Brasileiros, 
somente o Distrito Federal (2017), o Piauí (2015), o Rio Grande do Sul 
(2018) e Pernambuco (2018) dispõem de protocolos de investigação 
de feminicídio. A par disso, o estado do Rio de Janeiro conta com uma 
adaptação da Portaria da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro - 
PCERJ 620 de 7 de março de 2013. 
23 
 
 
 
países, o recomendável é que, além de um protocolo nacional de feminicídio, sejam 
adotados protocolos estaduais.24 
 
 
 
Finalizando.... 
 
 
Nesta aula você aprendeu que: 
 
 
• Marcela Lagarde, antropóloga e pesquisadora mexicana, partindo do termo 
“femicídio”, criou a denominação “feminicídio” para se referir às mortes de 
mulheres em um contexto de “responsabilidade do estado na produção das 
mortes de mulheres”. 
• A discussão acerca do feminicídio somente tomou vulto na América Latina a partir 
dos sucessivos homicídios de mulheres em Ciudad Juarez, no Estado de 
Chihuahua, no México, a partir de 1993, o que culminou, em 2009, com a 
condenação do Estado do México pela Corte Interamericana de Derechos 
Humanos no caso “Campo Algodonero”. 
• A partir do “Caso Algodonero”, e a condenação do México, diversos países 
inseriram o delito de feminicídio em suas legislações. 
• Paralelamente a esse gradual surgimento do crime de feminicídio nas legislações 
dos países, diversos documentos internacionais passaram a tentar sensibilizar os 
países a tipificarem o delito de feminicídio. 
• A Lei 13.104 de 09 de março de 2015, introduziu o crime de feminicídio no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
• Pela lei brasileira o homicídio é qualificado e reconhecido como um feminicídio 
quando praticado “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”. 
• O próprio legislador esclareceu que se considera que há razões de condição de 
sexo feminino quando o crime envolve: Violência doméstica e familiar e 
Menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
• Quanto a investigação de feminicídios, diversos protocolos de investigação têm 
sido desenvolvidos em âmbitos nacionais, regionais ou mesmo no âmbito 
internacional, a exemplo do Protocolo de Minnesota e do Protocolo de Istambul, 
respectivamente, protocolos para a investigação de execuções extrajudiciais e 
protocolo para a investigação de casos de tortura. 
• O Ministério da Justiça e da Segurança Pública – MJSP, por meio da Portaria 340 
de 22 de junho de 2020, criou o Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos 
25 
 
 
 
Crimes de Feminicídio, com a finalidade de subsidiar e contribuir para a 
padronização e uniformização dos procedimentos aplicados pelas polícias civis e 
pelos órgãos de perícia oficial de natureza criminal dos Estados e do Distrito 
Federal na elucidação dos crimes de feminicídio. 
26 
 
 
 
MÓDULO II – Protocolo Nacional de Investigação e Perícias 
nos Crimes de Feminicídio (Diligências Investigativas) 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Conforme explicado, no ano de 2020, o Ministério da Justiça e da Segurança 
Pública – MJSP, por meio da Portaria 340 de 22 de junho de 2020, criou o Protocolo 
Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio com a finalidade de 
subsidiar e contribuir para a padronização e uniformização dos procedimentos 
aplicados pelas polícias civis e pelos órgãos de perícia oficial de natureza criminal dos 
Estados e do Distrito Federal na elucidação dos crimes de feminicídio. 
O Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio é 
justamente o objeto deste curso e, a partir daqui, será detalhado. 
O Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio 
apresenta 7 capítulos: 
• Capítulo 1 – Diligências Investigativas; 
• Capítulo 2 – Exames periciais no local de crime; 
• Capítulo 3 – Coleta de amostras para exames genéticos; 
• Capítulo 4 – Perícias médico-legais nos casos de feminicídio; 
• Capítulo 5 – Perícias em Tanatologia Forense; 
• Capítulo 6 – Abordagem papiloscópica de locais de possível feminicídio; e 
• Capítulo 7 – Disposições Finais. 
 
 
Neste módulo 2 do curso, serão abordados tão somente aqueles aspectos do 
Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio relativos à 
investigação, a saber: Capítulo 1 – Diligências Investigativas e Capítulo 7 – 
Disposições Finais. 
Os demais tópicos, que são relativos aos exames periciais, serão objeto de 
capítulos específicos neste curso. 
27 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS 
 
Ao final deste módulo você será capaz de: 
 
• Conhecer os procedimentos quanto ao registro de ocorrências, em casos de 
crimes suspeitos de feminicídios; 
• Conhecer as diligências da equipe de investigação no local do crime; 
• Conhecer as diligências específicas do delegado de polícia; 
• Conhecer as diligências quando ao local de crime; e 
• Conhecer os procedimentos quando dos desaparecimentos de mulheres. 
 
 
ESTRUTURA DO MÓDULO 
 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
 
AULA 1: Registro de ocorrência. 
 
AULA 3: Investigação Preliminar. 
 
AULA 3: Diligências gerais aplicáveis à investigação criminal. 
 
AULA 4: Desaparecimento de mulheres. 
28 
 
 
Trata-se, por assim dizer, da “porta de entrada” da investigação 
que subsequentemente ocorrerá nas Polícias Civis ou Polícia Federal. 
Assim, o registro da ocorrência policial no Brasil é, em regra, o 
primeiro contato do órgão de polícia judiciária com o feminicídio. 
 
Saiba Mais! 
 
Embora o protocolo não tenha se debruçado acerca do local 
onde deve ser confeccionado o boletim de ocorrência, é 
recomendável que, no caso de existir órgão da Polícia Civil 
especializado em violência de gênero (como é o caso das Delegacias 
 
AULA 1: Registro de ocorrência 
 
 
O primeiro objeto do Capítulo 1 – Diligências investigativas é o registro de 
ocorrência, conforme se observa no Art. 1º do protocolo. 
A ocorrência policial é o documento que consubstancia fatos que a vítima, o 
comunicante ou autoridades públicas desejam ver apurados criminalmente 
(investigados) pelas Polícias Civis ou Polícia Federal (polícias judiciárias). 
 
 
 
Nos casos de feminicídio, a primeira orientação do Protocolo Nacional de 
Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio é que, verificado que a morte de 
uma mulher tenha ocorrido no contexto de violência doméstica ou com discriminação 
ou menosprezo à condição de mulher, a natureza feminicídio deve constar 
expressamente como natureza da ocorrência (idem para os casos de modalidade 
tentada do delito). 
Trata-se de iniciativa importante, pois o uso de categorias inexatas ou 
genéricas para classificar os homicídios de mulheres leva à ocultação ou a uma 
subnotificação de feminicídios. Portanto, o registro da morte de mulheres como 
feminicídio, além da importância de desencadear o uso do protocolo de investigação, 
apresenta relevo para fins estatísticos. 
 
29 
 
 
 
 
 
 
A existência de órgãos especializados, isto é, a existência de órgãos 
especialmente dedicados à investigação de crimes relacionados à violência contra a 
mulher é pressuposto para a eficácia de protocolos de investigação de feminicídios. 
Algumas leis de feminicídio, como por exemplo, as da Guatemala e da 
Nicarágua, contém normas que determinam a criação de órgãos de investigação e de 
persecução especialmente dedicados para casos de feminicídio. 
Em relação a essa especialização das unidades de apuração, no Brasil, a CPMI 
que investigou a situação da violência contra a mulher identificou, nos Estados 
Brasileiros, a existência de apenas 415 Delegacias da Mulher (DEAM) e 103 
Núcleos Especializados em Delegacias Comuns. 
Considerando-se os 5.570 municípios existentes no Brasil, tem-se, portanto, 
um baixíssimo número de órgãos especializados em violência de gênero. E, sendo a 
existência de tais órgãos é pressuposto para a implementação de protocolos de 
investigação de feminicídios, conclui-se que se tem aqui um fator limitante. 
Com relação ao conteúdo do registro da ocorrência, o protocolo, ainda no Art. 
1º, determina que ele contemple o máximo de informações possíveis sobre: 
 
 
Figura 5: Informações a serem coletadas 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
Especiais de Atendimento à Mulher - DEAM), a ocorrência policial seja 
registrada em tal órgão. 
30 
 
 
A ocorrência policial deve, se disponível tal informação, indicar se o suspeito 
possui relação doméstica com a vítima, ou familiar, ou de trabalho, oude amizade etc. 
Círculo social em que o principal suspeito está envolvido 
No caso de relação íntima da vítima com o suspeito, deve-se indicar a natureza 
desse relacionamento (namoro, casamento, relação extraconjugal etc.) e o status 
atual (se residem juntos por exemplo). Notícias crimes prévias relacionadas a 
agressões em razão de gênero aparecem associadas ao feminicídio, principalmente 
quando há uma separação prévia entre agressor e vítima. 
Natureza do relacionamento do suspeito com a vítima 
O histórico deve trazer informações sobre filhos da vítima e do suspeito 
(quantidade, nomes e idades). 
Informações sobre filhos 
Devem ser listadas no histórico as ocorrências policiais anteriores relativas à 
violência doméstica das quais a vítima e/ou o suspeito constem como envolvidos, 
devendo constar inclusive, a existência de medidas protetivas de urgência 
eventualmente deferidas em favor da vítima. Trata-se de medida de suma importância, 
pois a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito - CPMI que, em 2013, investigou a 
situação da violência contra a mulher no Brasil indicou que o feminicídio é o fim trágico 
de um continuum de violência praticada contra a mulher e que a maioria das vítimas 
de feminicídio sofreu violência ou abuso anteriormente pelo autor do crime. Por isso, 
Histórico de violência doméstica 
 
 
Adicionalmente, o protocolo dedica-se ao histórico da ocorrência policial que, 
igualmente aos dados básicos dos envolvidos, deve ser o mais completo possível. 
Nesse sentido, o histórico da ocorrência policial deve conter: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
As condições do local do feminicídio (consumado ou tentado) devem ser 
detalhadas, indicando se tratava de via pública, local fechado, local ermo etc. 
Características do local 
Independentemente da existência de auto específico, os objetos arrecadados 
no local do fato devem ser listados no histórico da ocorrência policial. 
Objetos arrecadados no local 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6: Por que uma riqueza em detalhes? 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
O motivo para essa profundidade de detalhes, como será visto no item relativo 
à investigação, é que no que se refere à oitiva de testemunha em casos de feminicídio, 
os protocolos latino-americanos indicam que devem ser ouvidas não só as 
no caso de vítimas já identificadas quando da notícia-crime, deve-se promover um 
levantamento das ocorrências policiais anteriores. 
32 
 
 
ATENÇÃO! 
 
De acordo com o Protocolo, em caso de notícia de falecimento 
de mulher sem identificação em hospitais ou demais unidades de 
saúde, deverá ser registrado boletim de ocorrência policial pela 
delegacia de polícia que tomar conhecimento da morte. 
 
testemunhas diretas, mas também pessoas do entorno familiar, entorno laboral e 
entorno social. 
Ou seja, ainda que não sejam testemunhas diretas, o delegado de polícia, a fim 
de elucidar a presença ou não de razões de gênero na motivação da morte, deve 
ouvir, colegas de trabalho e pessoas inseridas nos círculos sociais da vítima, tais como 
colegas de escola, vizinhos, companheiros de entidade religiosa etc. 
E para viabilizar essa ampla gama de oitivas, a ocorrência policial deve listar 
detalhadamente todos os envolvidos com a maior quantidade possível de dados 
relativos a cada um deles. 
Por fim, embora o protocolo nacional não mencione, no caso de feminicídios 
perpetrados com armas de fogo, deve ser pesquisada a existência de registro de arma 
de fogo em nome daqueles que constarem como supostos autores nas ocorrências 
policiais levantadas. 
Tal diligência é importante, pois, conforme o já mencionado relatório da CPMI, 
para a investigação da situação da violência contra a mulher no Brasil, 49.2% das 
mortes de mulheres foram perpetradas com o uso com armas de fogo. 
 
 
1.1 Falecimento de mulher sem identificação em unidades 
de saúde ou em unidades de internação 
 
Ainda dentro da temática “registro de ocorrência”, o Protocolo Nacional, em 
seus artigos 74 e 75, dedica-se ao registro de ocorrência no caso de falecimento de 
mulher sem identificação em unidades de saúde ou em unidades de internação. 
 
33 
 
 
 
Segundo o Protocolo Nacional, a mesma providência deverá ser adotada no 
caso de mulheres institucionalizadas que falecerem e não puderem ser identificadas. 
34 
 
 
Em linhas gerais, pode-se dizer que a investigação preliminar vai do 
recebimento da notícia do fato pelas Polícias Civis ou Polícia Federal até o 
encerramento das diligências no local de crime. 
Investigação Preliminar 
Em seguida, inicia-se a investigação de seguimento (“seguimento”, 
exatamente, pelo fato de vir em seguida à investigação preliminar), que corresponde 
aos procedimentos investigativos e cartoriais realizados pela polícia desde o 
encerramento dos trabalhos preliminares até a conclusão do inquérito. 
Investigação de Seguimento 
ATENÇÃO! 
 
Dito de outra forma, no caso de “morte violenta de mulher” o 
protocolo determina que o caso seja considerado um feminicídio até 
prova em contrário, devendo o protocolo ser aplicado de pronto. 
 
AULA 2: Investigação preliminar 
 
 
A investigação de um crime pode ser dividida em duas fases: investigação 
preliminar e investigação de seguimento. 
 
 
 
 
 
 
Pois bem, o protocolo dedica-se à investigação preliminar, nos artigos 2º a 6º 
(incluindo as diligências no local de crime) e, quanto a isso, inicialmente, estabelece 
que, na ocorrência de morte violenta de mulher, a investigação deverá adotar, 
desde as primeiras diligências, o protocolo de feminicídio, cabendo ao delegado de 
polícia confirmar ou excluir o caso como sendo um feminicídio. 
 
 
 
Nesse sentido, por exemplo, o protocolo latino-americano de investigação de 
feminicídios aconselha que as diretrizes do protocolo sejam aplicadas de maneira 
35 
 
 
 
sistemática a todos os casos de mortes violentas de mulheres, inclusive no caso de 
suicídios e mortes aparentemente acidentais. 
Assim, o delegado de polícia deve tratar toda a vítima mulher como vítima 
de feminicídio, até que surja algo que aponte o contrário. Ou seja, o protocolo adota 
uma hipótese inicial para a investigação (ocorrência de feminicídio tentado ou 
consumado) e que pode ser comprovada ou descartada de acordo com os resultados 
da investigação mais adiante. 
Com relação a esse tema, deve ser considerada também a questão das 
mulheres trans. 
Embora o Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes não 
tangencie a questão das mulheres trans, é recomendável que a morte de mulheres 
trans também seja registrada em ocorrências policiais e seja investigada como 
feminicídio, posto que elas, devida a condição do sexo feminino, estão sujeitas a 
serem vítimas de tal delito. 
 
 
2.1 Diligências da equipe de investigação no local de crime 
 
No que tange aos atos de investigação em si no âmbito da investigação 
preliminar de feminicídios, o Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos 
Crimes determina, inicialmente, que a equipe de investigação da delegacia 
responsável, sob a coordenação de delegado de polícia, desloque-se ao local de 
crime e lá tome uma série de providências. 
Quanto a isso, o protocolo expressamente determina que, na impossibilidade 
de comparecimento pessoal do delegado de polícia, ele deverá designar um 
investigador para orientar os trabalhos da Polícia Civil ou da Polícia Federal no local 
do crime. 
Em seguida o protocolo determina que a equipe empreenda diligências para: 
36 
 
 
 
 
Figura 7: Diligências 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
 
A identificação da vítima, talvez seja o passo mais importante da investigação 
de feminicídios, pois, como se trata de uma investigação intimamente dependente do 
conhecimento acerca do círculo social da vítima, do ambiente doméstico em que ela 
vivia e de seu histórico de relacionamentos com parceiros e ex-parceiros, sem a 
identificação da vítima,nenhuma dessas informações pode ser alcançada. 
Identificar elementos que denotem violência doméstica ou familiar e/ou 
menosprezo ou discriminação ao sexo feminino. Trata-se de demanda que advém do 
próprio tipo penal do feminicídio que, para incidir no caso concreto, depende de que 
seja demonstrado violência doméstica ou familiar e/ou menosprezo ou discriminação 
ao sexo feminino. 
Desvelar os motivos do crime e as demais circunstâncias a ele relacionadas, 
trata-se de iniciativa que, mais adiante, permitirá verificar se restou ou não 
demonstrado violência doméstica ou familiar e/ou menosprezo ou discriminação ao 
sexo feminino associados à morte investigada. 
Com relação aos objetivos que o Protocolo Nacional demanda que sejam 
cumpridos, deve-se adotar o conceito de “equipe de investigação” trazido pelas 
“Diretrizes Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de 
37 
 
 
NA PRÁTICA 
 
Imagine o exemplo hipotético em que 
agentes/investigadores e escrivães, dias após o 
delegados, 
feminicídio, 
conseguem encontrar um suposto objeto do crime que foi escondido 
em local distinto daquele em que foi encontrado o cadáver. Nesse 
caso, essa informação levantada por delegados, 
agentes/investigadores e escrivães, para ser confirmada, precisa ser 
objeto do trabalho de peritos criminais, que irão verificar a presença 
de sangue e DNA no objeto; papiloscopistas, que irão colher 
fragmentos de impressões papiloscópicas; e médicos-legistas, que 
irão cotejar o objeto com as lesões verificadas no cadáver. 
 
gênero as mortes violentas de mulheres (feminicídios)”. (disponível no material 
complementar) 
De acordo com o documento, o qual cita a publicação da SENASP (2014) 
“Investigação Criminal de Homicídios. Caderno Temático de Referência”, deve-se 
romper com a formação tradicional de delegados, agentes/investigadores e escrivães 
e, em termos ideais, uma equipe de investigação de crimes de homicídio deve 
envolver, além dos três atores mencionados, peritos criminais, papiloscopistas, 
médicos-legistas e agentes de inteligência/análise criminal. 
E de fato, cite-se como exemplo, a determinação do Protocolo Nacional de que 
seja identificado o instrumento ou meio utilizado para causar a morte. Em diversos 
casos, o cumprimento desse objetivo depende da atuação conjunta de delegados, 
agentes/investigadores e escrivães, peritos criminais, papiloscopistas, médicos- 
legistas e agentes de inteligência/análise criminal. 
 
 
 
Por fim, ainda em relação às diligências da equipe de investigação no local de 
crime, o protocolo determina que deverá ser consignado em relatório a impossibilidade 
ou prejuízo do trabalho pericial, o que ocorre, por vezes, quando há por exemplo, 
desfazimento do local de crime por supressão de vestígios (no caso de chuvas ou 
ação de populares, por exemplo). 
38 
 
 
 
Tal determinação, como se pode observar, parte do pressuposto de que um 
relatório irá consubstanciar as diligências empreendidas no local de crime, conforme 
será abordado no próximo item. 
 
 
2.2 Diligências específicas do delegado de polícia 
 
O Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio traz 
disposições específicas dirigidas ao delegado de polícia em seu § 2º do Art. 3º e no 
Art. 71 do “Capítulo 7 – Disposições finais”. 
Inicialmente o relatório é taxativo ao incumbir o delegado de polícia da tarefa 
de requisitar as perícias necessárias. 
Depois, no Art. 71, o protocolo determina que o delegado de polícia deverá 
promover a instauração imediata de inquérito policial. Tal procedimento visa, antes de 
tudo, oficializar, por meio do inquérito policial, o início das investigações. 
O protocolo prevê também que o delegado de polícia providencie um “relatório 
parcial das investigações preliminares”, contendo: 
39 
 
 
 
 
Figura 8: Itens que deve conter no relatório parcial 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
 
 
 
 
 
Referido relatório cumpre duas funções: 
 
Figura 9: Funções do relatório 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
40 
 
 
 
Saiba Mais! 
 
O Protocolo de investigação e realização de perícias nos crimes 
de feminicídio no âmbito do Distrito Federal, elaborado pela Polícia 
Civil do Distrito Federal, determina que “após as primeiras 24 horas, 
o delegado de polícia responsável deverá providenciar o relatório 
parcial das investigações preliminares, contendo descrição das 
diligências realizadas e dos resultados obtidos, juntando também 
croqui ilustrativo do local do crime aos autos do inquérito policial”. 
 
Em resumo, o “relatório parcial das investigações preliminares” encerra a 
investigação preliminar e, por assim dizer, prepara o terreno para a investigação de 
seguimento. 
A partir dessas funções, é possível observar que se trata de peça 
importantíssima na persecução penal dos crimes de feminicídio e um grande avanço 
na metodologia de investigações de feminicídios. 
Embora o Protocolo Nacional não tenha feito menção a prazos, o “relatório 
parcial das investigações preliminares” deve ser confeccionado tão logo a 
investigação preliminar se encerre, o que, via de regra, se dá com o fim das diligências 
no local de crime. 
 
 
 
 
 
 
Veja um exemplo de “relatório parcial das investigações 
preliminares” referente a uma investigação de feminicídio 
tentado da Polícia Civil do Distrito Federal. (disponível no 
material complementar) 
41 
 
 
ATENÇÃO! 
 
Conforme explicam as “Diretrizes Nacionais para investigar, 
processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de 
mulheres (feminicídios)”, na abertura da investigação criminal, podem 
também participar as polícias militares, bombeiros, guardas 
municipais, profissionais da saúde, entre outros que podem ser 
chamados ao local – cena do crime. 
 
2.3 Diligências específicas no local de crime 
 
Como visto, o Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes 
determina que a equipe de investigação da delegacia responsável, sob a coordenação 
de delegado de polícia, desloque-se ao local de crime e lá tome uma série de 
providências. 
Contudo, a ação do Estado diante de um feminicídio (tentado ou consumado) 
não se inicia com a atuação da equipe de investigação das Polícias Civis ou da Polícia 
Federal. 
 
 
 
Considerando-se isso, o artigo 73 do Protocolo Nacional, estabelece que a 
preservação do local de crime será coordenada pela polícia civil, em conjunto com as 
demais forças de segurança, de forma a garantir a integridade das provas. 
Em razão da multiplicidade de agentes estatais, o Protocolo Nacional, na Seção 
III do Capítulo I, apresenta ações que se destinam a todo e qualquer agente estatal 
que comparecer a locais de feminicídios (consumados ou tentados). 
Nesse sentido, o Protocolo determina que o primeiro agente estatal que chegar 
ao local do crime deverá adotar as seguintes providências: 
42 
 
 
 
 
 
Figura 10: Providências a serem adotadas pelo agente que chegar ao local 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
 
 
Esse dispositivo do CPP citado, Art. 6º, é justamente o dispositivo que traz as 
diligências que devem ser empreendidas pelo delegado de polícia logo que tiver 
conhecimento da prática da infração penal. 
O Protocolo é claro ao estabelecer, no Art. 72, que suas providências serão 
aplicadas sem prejuízo, do art. 6º do CPP. 
Pois bem, com essas duas providências o Protocolo determina o isolamento e 
a preservação do local do crime. 
O Código de Processo Penal, Art. 6º, traz disposição semelhante e dispõe que: 
 
 
Figura 11: Conservação do local de crime 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
43 
 
 
 
 
 
 
Prosseguindo nas diligências específicas no local do crime, o Protocolo 
Nacional estabelece “regras técnicas de conduta” a serem adotadas pelos agentes 
estatais no local de crime, quais sejam: 
 
• não tocar em nada que componha a cena do crime, bem como não retirar, 
inserir ou modificar as posições originais que a compõem,inclusive pertences 
pessoais de cadáver e armas de fogo, quando houver; 
• não falar próximo de cadáver, manchas ou gotejamentos de sangue, bem como 
de instrumentos ou objetos relacionados ao crime; 
• não fumar, comer ou beber na cena do crime; 
• não utilizar sanitário, lavatório ou aparelho telefônico existente no local; 
• em ambientes internos, manter portas, janelas, mobiliário, eletrodomésticos e 
utensílios tais como encontrados, salvo o estritamente necessário para conter 
risco eventualmente existente; 
• não permitir a aproximação de animais, notadamente quando houver cadáver, 
bem como de qualquer pessoa que não faça parte das equipes escaladas para 
(...) 
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 
 
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a 
chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) 
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos 
criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
IV - ouvir o ofendido; 
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, 
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a 
leitura; 
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; 
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; 
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos 
autos sua folha de antecedentes; 
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua 
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e 
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. 
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência 
e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa 
presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 
(...) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/L8862.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/L8862.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm
44 
 
 
ATENÇÃO! 
 
Contudo, o Protocolo Nacional ressalva que, se houver 
necessidade de prestar socorro à pessoa ou preservar a prova, 
algumas dessas “regras técnicas de conduta” podem deixar de ser 
adotadas. 
• a equipe de investigação deve permanecer no local de crime durante os 
exames periciais e manter contato com os peritos a fim de coletar as primeiras 
informações decorrentes dos exames periciais realizados; 
• deve ser informado à equipe pericial possível alteração na cena do crime, a ser 
considerada na realização do exame; 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto, se houver necessidade de prestar socorro à vítima, obviamente, os 
socorristas devem, dentro do que for necessário para o socorro, retirar, inserir ou 
modificar as posições originais de vestes ou pertences pessoais da vítima. 
Ou ainda, para preservar a prova diante de intempéries como uma tempestade, 
por exemplo, objetos podem eventualmente serem retirados do local para não 
correrem o risco de perecer. 
Prevendo isso ou mesmo violações indevidas das “regras técnicas de conduta”, 
o Protocolo Nacional preconiza, referente as diligências específicas no local de crime, 
que: 
 
• impedir, na medida do possível, que populares ou mesmo repórteres 
fotografem o corpo da vítima antes, durante e depois da realização da perícia, 
prevenindo que as imagens sejam reproduzidas, preservando, desta forma, a 
privacidade e o respeito à memória da vítima. 
preservação do local e realização dos exames periciais (o protocolo determina, 
inclusive, que devem ser retiradas todas as pessoas que não possuam 
autorização para permanecer no local do crime, não sendo permitido o acesso 
de pessoas não credenciadas ou não autorizadas); e 
45 
 
 
 
• no relatório deve conter a descrição das diligências realizadas e dos resultados 
obtidos, essas primeiras informações decorrentes dos exames periciais 
realizados também devem constar nesse relatório; 
• deve conter, se possível, os nomes das pessoas que estiveram no local do 
crime para prestar socorro e/ou qualquer outro tipo de apoio, inclusive policiais 
civis e/ou militares, tal anotação, implicitamente, faz parte das diligências 
específicas no local de crime; 
• o protocolo determina que os agentes estatais devem atentar quanto à 
presença de crianças, adolescentes, idosos e deficientes em situação de risco 
no local, solicitando apoio especializado para acolhimento ou de familiares; 
• estabelece que nos locais identificados como local mediato do crime, cujo 
acesso for negado à equipe policial, o delegado de polícia deverá representar 
imediatamente por mandado de busca e apreensão, de modo a assegurar a 
coleta satisfatória das provas necessárias à apuração dos fatos; 
• o modelo de protocolo latino-americano de investigação de feminicídios indica 
que é fundamental, nas primeiras atuações, que os investigadores possam 
recuperar toda a informação relacionada com os feitos que precederam ou 
foram concomitantes ao feminicídio, tais como eventuais gravações de 
câmeras de segurança da residência da vítima, da residência do possível autor, 
de parques, centros comerciais etc. 
 
 
Embora o Protocolo Nacional não mencione, para além de anotar nomes das 
pessoas que estiveram no local do crime para prestar socorro e/ou qualquer outro tipo 
de apoio, a autoridade policial deve, na medida do possível, identificar todas as 
pessoas que se acham no lugar do fato quando de sua chegada, visto que tais 
pessoas, por vezes, fazem referência a dados que podem ser de importância posterior 
para a investigação e que acabam não sendo mais encontradas pois não foram 
identificadas naquele momento inicial 
46 
 
 
 
Saiba Mais! 
 
No sistema brasileiro, a decisão de abandono do local de crime 
cabe ao delegado de polícia, visto que a ele cabe a gestão da cena 
após a liberação pelos peritos criminais. 
 
2.4 Abandono do local de crime 
 
Por fim, no que se refere ao local de crime, o delegado de polícia deve deliberar 
acerca do abandono do local. 
A maioria das publicações que se dedicam ao tema do feminicídio considera 
que a atuação estatal no local de crime se finaliza com a coleta dos vestígios, sem 
considerar que o abandono do local do crime é o elo final dos procedimentos na cena. 
Por “abandono do local do crime” entende-se a decisão de encerramento das 
diligências específicas no local de crime e a retirada da equipe de investigação do 
local dos fatos. 
 
 
 
Nesse sentido, o abandono do local de crime deve ser balizado a partir de um 
exame crítico das medidas realizadas até então e daquelas que ainda devem ser 
realizadas. 
Em relação ao abandono do local do crime, o Protocolo Nacional determina que 
após liberados pela equipe pericial, ao término do exame de local ou quando não 
houver a necessidade de exames complementares para a determinação da dinâmica 
do local, objetos (inclusive pertences da vítima) que possam auxiliar na investigação, 
tais como roupas, agenda, anotações, diário, veículo, celular, computador, mídias e 
equipamentos eletrônicos, devem ser recolhidos pela equipe de investigação e 
apresentados à autoridade policial para apreensão, observando a imperiosa 
necessidade de preservação da cadeia de custódia. 
47 
 
 
“Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os 
procedimentosutilizados para manter e documentar a história 
cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de 
crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu 
reconhecimento até o descarte. 
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do 
local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos 
quais seja detectada a existência de vestígio. 
(...)” 
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para 
manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, 
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. 
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos 
policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. 
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da 
prova pericial fica responsável por sua preservação. 
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se 
relaciona à infração penal. 
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo 
nela permanecer. 
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado 
material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido 
material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de 
natureza criminal. 
 
Conforme o CPP (Art. 158-A): 
 
 
 
Com relação a esse tema, é recomendável a leitura dos artigos 158-A a 158-F 
do CPP, os quais foram adicionados ao Código de Processo Penal recentemente pela 
Lei 13.964, de 2019. 
Pois bem, com respeito a essa apreensão dos objetos arrecadados no local de 
crime, o Protocolo Nacional destaca que nos autos de apresentação e apreensão, 
deverá constar o histórico e as circunstâncias em que eventuais objetos e 
instrumentos do crime foram encontrados. 
Em que pese essas preconizações do Protocolo, adicionalmente, ao deliberar 
acerca do abandono do local de crime, o delegado de polícia deve assegurar-se de 
que: 
 
 
 
48 
 
 
 
 
 
 
Figura 12: Local do Crime – Abandono 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
49 
 
 
ATENÇÃO! 
 
No que que se refere à oitiva de testemunha em casos de 
feminicídio, os protocolos latino-americanos indicam que devem ser 
ouvidas não só as testemunhas diretas, mas também pessoas do 
entorno familiar, entorno laboral e entorno social. 
 
AULA 3: Diligências gerais aplicáveis à investigação criminal 
 
 
Tendo se debruçado sobre o registro de ocorrência, investigação preliminar e 
diligências específicas no local do crime, o Protocolo Nacional passa a abordar as 
diligências gerais aplicáveis à investigação criminal. 
Na seção em que trata das diligências gerais aplicáveis à investigação 
criminal (Seção IV do Capítulo I), em essência o Protocolo Nacional aborda a 
investigação de seguimento. 
Nesse sentido, o protocolo elenca as seguintes diligências gerais aplicáveis à 
investigação de seguimento: 
 
• Compreender os elementos materiais e imateriais que permitam visualizar 
a dinâmica do crime, incluindo o instrumento ou meio da ação, data, 
horário e local imediato; 
• Compreender a natureza e locais das lesões apresentadas, buscando-se 
verificar se há indicativos de confronto físico ou de condição precedente 
de redução da possibilidade de defesa; 
• Identificar e ouvir formalmente o comunicante do boletim de ocorrência; 
e 
• Identificar, qualificar e, se possível, ouvir formalmente testemunhas, 
familiares, amigos, colegas de trabalho e vizinhos da vítima. 
 
 
 
 
 
Ou seja, ainda que não sejam testemunhas diretas, o delegado de polícia, a fim 
de elucidar a presença ou não de razões de gênero na motivação da morte, deve 
50 
 
 
 
Saiba Mais! 
Isso porque uma das circunstâncias mais frequentes nos casos 
de feminicídio íntimo é a separação ou divórcio do agressor, 
especialmente, quando recente. O modelo de protocolo latino- 
americano de investigação de mortes violentas de mulheres por 
razões de gênero indica que Stout, K. (1993) chegou ao percentual de 
52% de feminicídios praticados após a separação, Wallace, A. (1986) 
descobriu que 47% dos feminicídios deram-se nos primeiros dois 
meses pós-separação e que 91% ocorreram após o primeiro ano. 
 
ouvir, colegas de trabalho e pessoas inseridas nos círculos sociais da vítima, tais como 
colegas de escola, vizinhos, companheiros de entidade religiosa etc. 
A oitiva de pessoas dos círculos familiar, laboral e social é importante, ainda, 
naqueles casos em que a autoria não é conhecida, porque os casos de agressão 
cometidos por conhecidos, incluindo cônjuges e parentes, alcançam o percentual de 
52,5% do total de casos. 
No que se refere à prova testemunhal, o delegado de polícia deve, de ofício, 
ouvir o cônjuge ou companheiro ou parceiro íntimo (ainda que eventual) ou aqueles 
que em época anterior apresentavam uma dessas qualidades. 
 
51 
 
 
ATENÇÃO! 
Por isso, a autoridade policial deve apreender aparelhos de 
telefonia celular, tablets e computadores da vítima de feminicídio (e 
do suposto autor, caso identificado) e encaminhá-los para o órgão 
pericial para a extração dos dados pertinentes. 
 
Medidas importante nas diligências de um feminicídio: 
 
Figura 13: Medidas importantes nas diligências de um feminicídio 
Fonte: SCD/EaD/Segen. 
 
 
Outro passo importante da colheita de provas na seara policial é a análise dos 
registros telefônicos e de dados da vítima. 
A análise das chamadas realizadas pelos celulares da vítima e dos possíveis 
autores permitem estabelecer uma linha temporal que pode, eventualmente, auxiliar 
na determinação de quando ocorreu o feminicídio. 
Mais ainda, a análise de mensagens postadas ou trocadas em redes sociais, 
mensagens e mídias contidas em aparelhos celulares, tablets e computadores, pode 
ajudar a elucidar a autoria ou motivo de um feminicídio. 
 
 
 
Aliado a isso, deve o delegado de polícia representar às empresas provedoras 
de serviço telefônico e de serviços de internet para que forneçam informações 
relativas aos registros telefônicos, registros de dados e dados de georreferenciamento 
da vítima e, quando identificado, do suposto autor. 
52 
 
 
 
Outras medidas também devem ser verificadas, vejamos: 
 
 
 
• Verificar se há a viabilidade de elaboração de retrato falado do suspeito, 
manualmente ou com o uso de soluções tecnológicas; 
• Analisar detalhadamente a vida da vítima, incluindo os últimos atos 
praticados, relacionamentos amorosos e familiares, amizades, inimizades, 
atividades profissionais e colegas de trabalho, vícios, hábitos, histórico 
familiar, registros médicos, policiais, criminais, dados financeiros e todas 
as demais informações relacionadas que possam indicar possível linha de 
investigação e indicar eventual suspeito; 
• Buscar evidências de eventuais prejuízos morais e patrimoniais causados 
à vítima; 
• Estabelecer contatos com hospitais e outros centros médicos a fim de 
identificar agressores lesionados em decorrência dos fatos, quando 
houver suspeita nesse sentido; 
• Informar às centrais de comunicação sobre a descrição do suspeito ou de 
veículo eventualmente utilizado no crime ou para empreender fuga; 
• Após identificado, empreender esforços para localizar e ouvir formalmente 
o suspeito; 
• Identificar, localizar e ouvir pessoas próximas ao suspeito ou por ele 
referidas, que possam confirmar ou infirmar eventuais álibis ou auxiliar na 
elucidação dos fatos; 
• Caso a vítima seja socorrida, integrantes da equipe de investigação deverá 
comparecer à unidade de saúde, buscando informações sobre o estado de 
saúde da vítima e a identificação de socorristas, familiares e pessoas 
próximas a ela, orientando os profissionaisde saúde sobre a necessidade 
de recolhimento de eventuais projéteis retirados da vítima, bem como de 
roupas e objetos pessoais que estavam em sua posse; 
• No caso de sobrevivência da vítima, esta deverá ser ouvida imediatamente, 
sempre que possível, ainda que em áudio ou vídeo. 
53 
 
 
Saiba Mais! 
 
Violência simbólica é aquela que não se direciona ao corpo da 
mulher, mas sim contra símbolos que são importantes para a mulher, 
causando danos morais e psicológicos. 
“conforme o Mapa da Violência, 41% das mortes de mulheres 
ocorreram dentro de casa e em 68,8% dos atendimentos a 
mulheres vítimas de violência, a agressão aconteceu na 
residência da vítima”. 
 
Quanto a isso, novamente, deve-se ter em tela a imperiosa necessidade de 
preservação da cadeia de custódia sendo, novamente, é recomendável a leitura dos 
Arts. 158-A a 158-F do CPP. 
Para além da verificação de eventuais prejuízos morais e patrimoniais, deve ser 
verificada a ocorrência de “violência simbólica” em desfavor da vítima. 
 
 
 
Além disso, a fim de elidir eventual cifra negra relacionada ao registro de 
ocorrências, devem ser pesquisados os prontuários hospitalares em nome da vítima, 
a fim de se identificar atendimentos hospitalares que porventura não deram origem a 
ocorrências policiais. 
 
 
3.1 Busca e apreensão no domicílio da vítima 
 
Na investigação de seguimento, deve-se abordar também a questão do 
domicílio da vítima. 
Naqueles casos em que o feminicídio não se consumou na residência da 
mulher, tal local, ainda assim, deve ser objeto de busca pela autoridade. 
O fundamento para isso é que o citado relatório da CPMI indica que: 
 
54 
 
 
ATENÇÃO! 
 
Em face disso, considerando-se que, nem sempre o local de 
encontro do corpo corresponde ao local do feminicídio e que a 
constatação de violência simbólica é elemento probatório ímpar, nos 
casos em que o cadáver não é encontrado na residência, a autoridade 
policial deve, de ofício, representar pela busca e apreensão no 
domicílio da vítima. 
 
Dados ainda mais contundentes, apontam que, quando existe convivência, 
80% dos feminicídios ocorrem no lar. 
Além disso, o domicílio da vítima ganha relevância no feminicídio, porque, não 
raro, pode apresentar sinais de violência simbólica, tais como quebramentos de 
objetos, mobílias, quadros etc. 
 
 
 
 
 
3.2 Relatório final do inquérito policial 
 
As investigações de feminicídios podem resultar em conclusões que variam de 
um diagnóstico diferencial, efetivamente, de feminicídio até a conclusão de que a 
morte não guarda nenhuma relação aparente com feminicídio, passando por quadros 
intermediários em que há achados típicos de feminicídio, firme relação com um 
diagnóstico feminicida ou relação provável com feminicídio. 
 
Figura 14: Conclusões da investigação 
Fonte: SCD/EaD/Segen 
55 
 
 
 
Muito embora tal peça não seja objeto do Protocolo Nacional, algumas 
diretrizes em relação ao relatório final do inquérito policial devem ser aqui expostas. 
Primeiramente, deve ficar claro que, para se alcançar o diagnóstico diferencial 
de feminicídio no relatório do inquérito policial, a análise do conjunto probatório não 
deve ser feita tal qual em um homicídio comum. 
No feminicídio, a análise dos elementos organizados no inquérito não deve se 
limitar à tríade “materialidade-autoria-circunstâncias”. Mais do que isso, a análise 
técnico-jurídica do delegado de polícia em relação à prova, nos casos de feminicídio, 
deve ser feita sob a luz da perspectiva de gênero. 
Segundo o protocolo de investigação ministerial, policial e pericial, com 
perspectiva de gênero para o delito de feminicídio da Procuradoria Geral da República 
Mexicana, uma investigação orientada com a perspectiva de gênero, entre outras 
coisas, significa: 
 
• analisar os fatos como um crime de ódio, cujas raízes situam-se nas condições 
históricas da violência de gênero; 
• abordar a morte da mulher não como um acontecimento circunstancial ou 
isolado, mas sim como como um crime derivado do contexto sociocultural que 
considera que o sexo feminino é acessório que importa menos que os valores 
masculinos; 
• evitar juízos de valor sobre o comportamento da vítima, de forma a romper com 
a carga cultural e social que responsabiliza a vítima pela sua própria morte, ou 
seja, ao invés de se lançar perguntas tais como “ela que procurou esse 
resultado” ou “talvez ela o tenha provocado”, deve-se analisar se existem 
evidências de violência os maus tratos por parte do agressor, se o agressor foi 
alvo de medidas protetivas, se a vítima havia buscado auxílio psicológico ou 
jurídico etc.; e 
• não justificar a violência exercida sobre a vítima a partir de linhas simplificadas, 
como aquelas que explicam o crime considerando que o agressor estava 
acometido de ciúme ou alguma patologia. 
56 
 
 
 
Para concretizar essa perspectiva na análise das provas, o protocolo latino- 
americano indica que o diagnóstico diferencial de feminicídio é alcançado pela 
valoração geral e integral dos indícios reunidos. 
Nesse sentido, o referido protocolo indica as seguintes circunstâncias 
que, se presente, constituem indícios que se trata de feminicídio: 
 
Necrópsia 
Uso de violência excessiva, localização da maioria das lesões em áreas vitais, 
uso de mais de um meio para produzir a morte, uso das mãos como meio de produzir 
a morte e presença de lesões antigas ou presença de problemas de saúde 
decorrentes de violência de gênero. 
Local do crime 
Morte perpetrada no domicílio ou em locais de uso frequente da vítima, 
presença de vestígios de violência simbólica. 
Circunstâncias 
Existência de separação ou fim de relacionamento amoroso, existência de 
prévias ocorrências policiais de violência de gênero, problemas de custódia de filhas 
ou filhos e existência de problemas econômicos. 
Vítima 
Necrópsia psicológica indica violência de gênero, estado de saúde dos filhos 
denota existência de violência doméstica e alterações psicológicas causadas por 
violência de gênero. 
Autor 
Apresentação espontânea, suicídio ou tentativa de suicídio e presença de 
elementos identificados como fatores de risco de feminicídio. 
 
 
Em suma, ao relatar o inquérito policial o delegado de polícia deve analisar as 
peças produzidas com uma perspectiva de gênero, pois esse é ponto mais importante 
para se elucidar se a morte se deu ou não por razões da condição de sexo feminino 
ou por discriminação ou menosprezo à condição de mulher. 
57 
 
 
 
Saiba Mais! 
 
Ainda que o desaparecimento de mulheres não culmine, 
necessariamente, com feminicídios, feminicídios são, em alguma 
medida, o motivo subjacente a alguns desaparecimentos. 
ATENÇÃO! 
 
Para dirimir qualquer dúvida, portanto, o Protocolo Nacional, 
expressamente, estatui que o registro de ocorrência policial 
desaparecimento de mulheres não deverá ser condicionado a 
determinado período mínimo de tempo. 
 
AULA 4: Desaparecimento de mulheres 
 
 
O Protocolo Nacional, na Seção V do Capítulo 1, dedica-se também ao 
desaparecimento de mulheres. 
 
 
 
 
 
Por causa disso, o Protocolo Nacional dedica-se, nos Arts. 10 a 13, ao 
desaparecimento de mulheres. 
A primeira determinação do Protocolo Nacional é que o registro de 
desaparecimento de mulheres não deverá ser condicionado a determinado período 
mínimo de tempo, devendo ser confeccionado assim que informado pelo comunicante. 
De fato, o senso comum, por vezes gira em torno da informação de que seria 
necessário um período mínimo de 24h de desaparecimento de uma pessoa, para que 
tal desaparecimento pudesse ser objeto de registro de ocorrência policial. 
No ordenamento jurídico brasileiro, ao menos no plano legal, não há nenhuma 
norma condicionando o desaparecimento de pessoas ao período mínimo de 24 horas, 
para que tal desaparecimento possa ser comunicado às polícias. 
 
 
 
58 
 
 
 
Ainda com relação a esse tema,