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Criminalística e Investigação Criminal UNIDADE 1 – Criminalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 – Metodologia de redação de laudos periciais . . . . . . . . . . . 33 UNIDADE 3 – Investigação policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 UNIDADE 4 – Técnicas de Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 UNIDADE 5 – Limites da Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Sumário UNIDADE 1 Criminalística Objetivos de aprendizagem � Compreender a Criminalística como um conjunto de conhecimentos científi cos utilizados para a elaboração da prova pericial. � Estudar as perícias, os locais de crime e os procedimentos empregados no exame de levantamento de local, en fatizando a importância do isolamento da área onde ocorreu o delito. Seções de estudo Seção 1 Criminalística: conceituação Seção 2 Perícias Seção 3 Locais do Crime Seção 4 Levantamento pericial: procedimentos empregados no exame do local 1 18 Para início de estudo As Polícias Investigativas mais avançadas priorizam a prova pericial, considerando que, por ser científi ca, é mais difícil de ser refutada, contrariada. Também, as Polícias do Brasil que têm como competência a apuração de crimes vem seguindo este norte. Concebendo-se a perícia como prova primordial para a elucidação dos delitos, o estudo da Criminalística afi gura-se como de extrema relevância. Vamos ao estudo, então? Comecemos pelo conceito. SEÇÃO 1 - Criminalística: conceituação Não deve lhe ser novidade que a Constituição Federal de 1988 estabelece que a segurança pública, no nosso País, é dever de Estado e é exercida por diversas Polícias. Em seu artigo 144, a Carta Magna defi niu as competências das Polícias, dispondo, dentre outros, que o policiamento ostensivo, preventivo compete à Polícia Militar e a apuração das infrações penais compete às Polícias Federal e Civil, esta também chamada de Polícia Judiciária. As competências das Polícias serão objeto de discussão, porém, serão detalhadas posteriormente. Você teve a oportunidade de ver, nos estudos anteriores, que a Polícia Civil, via de regra, atua repressivamente, após a prática do crime e o seu objetivo é a elucidação dos delitos, procurando demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelecer as condições em que o crime ocorreu. Este trabalho é feito através da investigação policial. É interessante notar que a investigação policial é formalizada através de peça preliminar e informativa denominada inquérito policial, o qual subsidia o processo criminal. Após a conclusão do inquérito policial, este é remetido ao Poder Judiciário, que poderá valer-se das provas amealhadas na fase policial durante o processo criminal e na prolatação da sentença. 19Unidade 1 Neste contexto, o trabalho pericial é de suma importância, para demonstrar materialidade e autoria do crime. Via de regra, a perícia é realizada na fase policial, até porque muitas delas necessitam serem feitas imediatamente ou logo após a prática do crime. As Polícias Investigativas mais avançadas do mundo têm como prioridade o trabalho pericial, menos sujeito a falhas do que a prova testemunhal. Acerca deste tema Espíndula (2002), discorre: (...) a prova pericial é produzida a partir de fundamentação científi ca, enquanto que as chamadas provas subjetivas dependem do testemunho ou interpretação das pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à verdade. (ESPÍNDULA, 2002:22). É importante notar, ainda, que no sistema processual penal brasileiro, as pessoas ouvidas na Delegacia de Polícia são reinquiridas em Juízo, o que pode relativizar o valor probatório do que foi dito na fase policial. Já a prova técnica é científi ca, objetiva, portanto, mais difícil de ser contestada. No Brasil não há hierarquia entre as provas e o Juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente. É o chamado sistema da persuasão racional adotado pelo artigo 157 do Código de Processo Penal Brasileiro. Desse modo, temos um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, a princípio, com o mesmo valor probatório. Ocorre que analisando as sentenças criminais verifi ca- se a prevalência da prova pericial sobre as demais, pelos motivos já expostos. Os laudos periciais são realizados através de conhecimento advindo da Criminalística. A Enciclopédia Saraiva de Direito conceitua Criminalística como sendo: 20 (...) Conjunto de conhecimentos que, reunindo as contribuições das várias ciências, indica os meios para descobrir crimes, identifi car os seus autores e encontrá-los, utilizando-se de subsídios da química, da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da psiquiatria, da datiloscopia, etc., que são consideradas ciências auxiliares do Direito penal. (ENCICLOPÉDIA SARAIVA DE DIREITO, v. 21, 1997:486). Segundo Gilberto Porto, Criminalística pode ser conceituada como: (...) sistema que se dedica à aplicação de faculdades de observação e de conhecimento científi co que nos levem a descobrir, defender, pesar e interpretar os indícios de um delito, de molde a sermos conduzidos à descoberta do criminoso, possibilitando à Justiça a aplicação da justa pena”. (PORTO, Gilberto, 1960, p.28) José Del Picchia Filho (1982), preferiu abordá-la como disciplina (...) que cogita do reconhecimento e análise dos vestígios extrínsecos relacionados com o crime ou com a identifi cação de seus participantes. (DEL PICCHIA FILHO, 1982, p.5). Segundo Garcia, Criminalística (...) trata da pesquisa, da coleta, da conservação e do exame dos vestígios, ou seja, da prova objetiva ou material no campo dos fatos processuais, cujos encargos estão afetos aos órgãos específi cos, que são os laboratórios de Polícia Técnica. (GARCIA, 2002, p.319). A Criminalística é também denominada Polícia Científi ca, Polícia Técnica ou Policiologia, e difere da Criminologia que estuda o perfi l do criminoso, e os motivos que o levaram à prática do crime. São disciplinas que integram a Criminalística, dentre outras, Locais de Crime, Medicina Legal, Balística Forense, Papiloscopia, Documentoscopia, Odontologia Legal, Toxicologia Forense e Hematologia Forense. 21Unidade 1 Em Santa Catarina, o trabalho pericial é realizado pelo Instituto Geral de Perícias, que apresenta o organograma abaixo: 22 Você que reside em outro Estado, faça uma pesquisa sobre o assunto. Como funciona o Instituto Nacional de Perícias? Socialize a investigação no Espaço Virtual de Aprendizagem. Use o espaço abaixo para registrar sua pesquisa. Para ampliar seus conhecimentos sobre o conteúdo tratado sugerimos: DEL PICCHIA FILHO, José. Tratado de documentoscopia. Editora Universitária de Direito: São Paulo. 1982. GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. Inquérito - Procedimento Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora. 2002 p. 319. PORTO, Gilberto. Manual de Criminalística. Escola de Polícia de São Paulo. 1960, p.28 - A seguir, você vai estudar o objeto que trata das provas e os procedimentos de perícia. 23Unidade 1 SEÇÃO 2 - Perícias A investigação policial tem como foco a obtenção de provas criminais que podem ser testemunhais e técnicas. Prova Criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e das circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. Você sabe a diferença entre provas criminais e técnicas? As provas técnicas são as perícias,realizadas por peritos criminais, e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados. Segundo Garcia (2002), perícia (...) é o conjunto de técnicas usadas, visando provar a materialidade do crime e apontar o autor. Um das perícias realizadas trata-se do exame de corpo de delito. O corpo de delito, por sua vez, é o conjunto de vestígios deixados pelo criminoso. Há diferenciação entre corpo de delito e exame de corpo de delito. Segundo JESUS (2002), o exame de corpo de delito é um auto em que se descrevem as observações dos peritos e o corpo de delito é o próprio crime na sua tipicidade. Nos crimes que deixam vestígios, o exame de corpo de delito é obrigatório, sob pena de nulidade processual, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal Brasileiro. 24 Dispõe o artigo 167 do Código de Processo Penal Brasileiro: “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”. Portanto, havendo vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível. Não havendo vestígios, a prova testemunhal é apta a suprir o auto de exame de corpo de delito. É importante ressaltar que o artigo 159 Código de Processo Penal Brasileiro determina que todos os exames periciais, inclusive o exame de corpo de delito, sejam realizados por dois peritos ofi ciais, onde houver e, nos outros casos, as perícias devem ser realizadas por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame. Para saber mais sobre o assunto que foi tratado sugerimos: DAMÁSIO, Jesus. Código de Processo Penal Anotado. 18 ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p.157. GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora. 2002. p. 319. SEÇÃO 3 - Locais do crime Segundo Kedhy, (...) local de crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que assuma a confi guração de delito e que, portanto, exija as providências da polícia. (KEDHY, 1963:11). O exame de levantamento de local deve ser diferenciado de acordo com a natureza da ocorrência. Dessa forma, há exame de levantamento de local de homicídio, suicídio, afogamento, furto qualifi cado, acidente de trânsito, dano, estupro, incêndio, disparo de arma de fogo e outros. 25Unidade 1 Isolamento e preservação das provas e vestígios essenciais à investigação O isolamento do local de crime é a primeira providência a ser tomada e é responsabilidade dos policiais e peritos, que devem sempre ter em mente a importância da proteção do local do crime, para a preservação dos vestígios, e, conseqüentemente, para a investigação criminal. (...) isolamento é a proteção a fi m de que o local permaneça sem alteração, possibilitando, conseqüentemente, um levantamento pericial efi caz. (GARCIA, 2002: 324). Esclarece Alberi Espíndula (2002) que: (...) diante da sensibilidade que representa um local de crime, importante destacar que todo elemento encontrado naquele ambiente é denominado de vestígio, o qual signifi ca todo material bruto que o perito constata no local do crime ou faz parte do conjunto de um exame pericial qualquer, que, somente após examiná-los adequadamente é que poderemos saber se este vestígio está ou não relacionado ao evento periciado. Por essa razão, quando das providências de isolamento e preservação, levadas a efeito pelo primeiro policial, nada poderá ser desconsiderado dentro da área da possível ocorrência do delito (ESPINDULA, 2002: 3). A alteração do local de crime é prevista como infração penal, pelo artigo 166 do Código Penal: Alterar, sem licença de autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei. Pena – detenção de um mês a um ano e multa. 26 O Código Brasileiro de Trânsito, no artigo 312, também tipifi cou como crime a alteração de local de acidente de trânsito: Inovar artifi ciosamente, em caso de acidente automobilístico, com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fi m de induzir a erro o agente policial, o perito ou juiz: Pena: detenção de seis meses a um ano, ou multa. Parágrafo único: Aplicar-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere. Dispõe o artigo 169 do Código de Processo Penal Brasileiro: Para efeito de exame de local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografi as, desenhos ou esquemas elucidativos. O artigo 6º do Código de Processo Penal enumera as providências que devem ser tomadas tão logo o delegado de polícia tenha conhecimento do fato delituoso. O inciso II deste artigo menciona que a autoridade policial deve apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato. Não obstante, a prática demonstra que nada deve ser alterado até a chegada dos peritos no local, e que apenas após o exame de levantamento de local é possível a apreensão de qualquer material encontrado na cena do crime. Apenas a título de exemplo, um projétil, parte de uma munição defl agrada, apreendido na cena do crime, pode vir a elucidar a autoria de um homicídio. Através do Laudo de Comparação Balística, tendo como objetos de exame o projétil e a arma de fogo de um suspeito, é possível verifi car se ele foi expelido pelo cano daquela arma. Da mesma forma, um estojo, parte de uma munição defl agrada, sendo objeto de exame com arma de fogo, através de suas marcas de percussão, é possível constatar se foi defl agrado por aquela arma. 27Unidade 1 SEÇÃO 4 - Levantamento pericial: procedimentos empregados no exame do local O levantamento pericial é o trabalho pericial realizado nos locais de crime. Após concluído, o levantamento pericial dá origem ao laudo de exame de levantamento de local. Segundo Garcia (2002), uma perícia completa de levantamento de local necessita de várias fases a saber: (...) isolamento, observações prévias ou exame do local, fotografi a, desenho ou croqui, coleta e embalagem de evidências, transporte de evidências, exame das evidências em laboratório, avaliação e interpretação, e redação de laudo. (GARCIA, 2002:326). Espíndula (2002) elencou alguns procedimentos a serem realizados nos exames de locais de crimes contra a vida, que podem ser, via de regra, utilizados em todos os exames de levantamento de locais. São eles: Procedimentos anteriores ao exame a) anotação do endereço do fato; b) preparação do material utilizado no exame; c) reconhecimento do tipo de solicitação (natureza do exame); d) anotação do horário de solicitação do exame. Exame preliminar da cena do crime: o que é necessário fazer? 28 � entrevista com o primeiro policial a chegar no local do fato visando à tomada de informações relativas ao histórico; � visualização geral da cena do crime e verificação da adequação do isolamento; � escolha do tipo de padrão a ser utilizado na busca de vestígios (em linha, em grade, em espiral, em quadrantes, etc.); � formulação dos objetivos do exame; � busca de vestígios, que deve prever especial atenção às evidências facilmente destrutíveis, tais como: marcas de solado, impressões em poeira, dentre outras. Anotações gerais da cena do crime: o que registrar? � data e hora do início dos exames; � localização exata do evento; � condições atmosféricas; � condições de iluminação; � condições de visibilidade; � completa análise das vias de acesso; � descrição do local, com nível de detalhe exigido para cadacaso; � condições topográficas da área. Croqui da cena do crime: o que é e como fazer? O croqui é o desenho do local do crime, devendo sempre ser apresentado, independente da complexidade do local. Neste desenho recomenda-se incluir: 29Unidade 1 � dimensões de portas, móveis, janelas, caso necessário; � distâncias de objetos até pontos específicos, como vias de acesso (entrada e saída); � distâncias entre objetos; � medidas que forneçam a exata posição das evidências encontradas na cena do crime; � coordenadas geográficas em locais abertos (obtidas por mapas ou GPS). Qual a importância das fotografi as da cena do crime? As fotografi as, internas e externas, são imprescindíveis para a elaboração do laudo de exame de levantamento de local. Segundo Garcia, a fotografi a é o mais perfeito dos processos de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma ”reconstituição permanente da ocorrência, que irá permitir futuras consultas”. (GARCIA, 2002:326). Espíndula (2002), também discorre sobre o processamento do local: coleta, identifi cação e preservação das evidências. Quais os procedimentos de coleta? Todas as evidências devem ser coletadas de forma legal, visando à sua admissão como provas em um processo. Os dois peritos de local devem efetuar a coleta de todas as evidências. As evidências devem ser anotadas no croqui e fotografas antes da sua coleta. 30 O que fazer na identifi cação? Todas as evidências devem ser cuidadosamente identifi cadas. As marcas identifi cadoras podem incluir iniciais, números, etc., os quais permitam ao perito que realiza a coleta reconhecer, em data posterior, cada evidência como aquela coletada na cena do crime. Qual a importância da preservação? Cada item das evidências deve ser colocado em um recipiente ou invólucro adequado à natureza de cada material, tais como sacos plásticos, envelopes de papel, caixas que necessitam ser corretamente identifi cados e vedados ou lacrados; Evidentemente, que técnicas especiais deverão ser aplicadas de acordo com o delito praticado. Algumas recomendações específi cas deverão ser aplicadas nos locais de morte por precipitação, por ação do calor, por arma de fogo, por afogamento, por envenenamento, por aborto e outros. - Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto- avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado. 31Unidade 1 Síntese Nesta unidade você teve a oportunidade de ver que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, que a atividade investigativa criminal é realizada, dentre outros, pela Polícia Federal e pelas Polícias Civis dos Estados, estas também chamadas de Polícias Juridiciárias. A atividade de investigação criminal consiste na apuração dos crimes, que é feita através da busca de provas, periciais ou testemunhais. As provas periciais são técnicas, realizadas por peritos criminais e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados. A pesquisa, coleta e produção das provas periciais compete à Criminalística. Via de regra, o trabalho pericial exige imediatidade. A título de exemplo, o exame residuográfi co de verifi cação de pólvora exige a condução do suspeito imediatamente após a prática do delito. O exame de lesões corporais e de verifi cação de aborto exige lapso temporal curto entre o crime e o exame. Considerada a importância da prova pericial e científi ca é imprescindível o isolamento e a preservação do local do crime. Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar a produção da prova pericial. Vestígios deixados no local do crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo componente de munição ou projétil componente de munição, encontrado em local de homicídio mediante disparo de arma de fogo, pode, através de perícia, ser prova crucial para demonstrar autoria. 32 Atividades de auto-avaliação 1) Analise as questões abaixo e assinale verdadeiro ou falso, conforme a proposição. Confi ra se atendeu as expectativas no fi nal do livro didático. ( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de estojos no local não é importante, posto que não é possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a arma de fogo. ( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreensão de projéteis no local possibilita a realização do laudo de identifi cação de projéteis e, quando a arma é apreendida, o laudo de comparação balística. ( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é exemplifi cativo. ( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção. ( ) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infração penal não deixar vestígios. Saiba mais Para saber mais sobre o conteúdo tratado acesse: http://www.espindula.com.br e leia o artigo: Função pericial do Estado. http://www.abcperitosofi ciais.org.br/arti.htm e leia o artigo: Isolamento e preservação de locais de crime com cadáver. UNIDADE 2 Metodologia de redação de laudos periciais Objetivos de aprendizagem � Conhecer a forma como são elaborados os laudos periciais. � Conhecer alguns modelos de laudo pericial. Seções de estudo Seção 1 O Laudo pericial: caracterização Seção 2 Modelos de laudo pericial 2 34 Para início de estudo Todos aqueles que queiram se aprofundar no tema da segurança pública têm, necessariamente, de saber acerca da importância da prova pericial e conhecer a metodologia de redação dos laudos periciais. Cabe aos estudiosos do assunto segurança pública estarem aptos a interpretar e avaliar laudos periciais, na sua forma e conteúdo. SEÇÃO 1 - O Laudo pericial: caracterização O laudo pericial deve ser simples e preciso, facilmente compreendido e assimilado. Não deve tecer juízos de valor, considerações subjetivas, mas fornecer objetivamente informações técnicas. Existem diversos tipos de laudos periciais, dentre eles podemos destacar: a) laudo de levantamento de local, b) laudo de identificação de projétil, laudo de comparação balística, c) laudo de verificação de eficácia de arma de Fogo, d) laudo de exame cadavérico, laudo de constatação de danos, cada qual com as suas peculiaridades. Não obstante, de forma geral, pode-se defi nir alguns requisitos inerentes a todos os laudos. Toccheto elenca alguns itens a serem preenchidos na elaboração de laudo pericial relacionado a crimes contra o patrimônio, que, de forma geral, podem ser adotados na confecção dos demais. Veja quais são: TOCCHETTO, Domingos e ESPINDULA, Alberi. Criminalística. Procedimentos e Metodologias, p.50-54. 35Unidade 2 1- Preâmbulo ou histórico. 2- Preliminares. 3- Objetivo da perícia ou quesitos. 4- Dos exames periciais. 5- Considerações técnicas ou discussão. 6- Conclusão e/ou respostas aos quesitos. 7- Fecho ou encerramento. 8- Anexos. A seguir, você terá a oportunidade de conhecer cada um deles. Vamos lá? Preâmbulo ou Histórico Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais. Fazer, neste tópico, um pequeno histórico da requisição, bem como uma síntese do fato que originou a requisição da perícia e as providências tomadas referentes ao fato. Informações fornecidas por autoridades, funcionários e proprietários devem ser relatados neste item. Preliminares Neste tópico, o relator vai consignar as informações referentes à preservação e isolamento do local e quaisquer outrasalterações que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. Nos casos de exames em peças, este tópico destina-se à consignação de qualquer fato confl itante entre a requisição e o objeto de exame, tais como número de peças distinto do constante na requisição, peças que não estão discriminadas, objetivos do exame incompatíveis com o tipo de peça a ser examinada. 36 Objetivo da Perícia ou quesitos Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na requisição da perícia ou nos quesitos formulados. Não sendo especifi cado na requisição os objetivos da perícia, é de bom alvitre que os peritos descrevam com certa precisão quais são os objetivos periciais pertinentes àqueles exames. Dos Exames Periciais Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela perícia. Não é necessário que, nos exames periciais, constem de forma explícita os subitens seguintes, mas seu conteúdo deve obrigatoriamente integrar o texto relativo aos exames periciais: a) do local: constitui a parte essencial. A descrição deve ser metódica, objetiva, fiel, minuciosa, clara, síntese do observado. Quando os fatos forem variados, convém distribuí-los em capítulos conforme sua natureza e interdependência. Evitar informações, discussões, hipóteses, diagnósticos e conclusões; b) dos vestígios: partindo-se das indicações (referências) maiores para as menores (detalhes). Descrever conforme a ordem de maior importância, como o acesso ao terreno, ao prédio, ao cômodo, à gaveta, etc. Aqui devem ser relacionados e devidamente descritos todos os vestígios constatados no exame pericial. Deve-se ater somente à descrição dos vestígios, deixando para o tópico seguinte a respectiva análise e interpretação dos mesmos. As técnicas ou métodos empregados devem sempre partir do geral para o particular, de exames macroscópicos para exames microscópicos. Quando for empregada mais de uma técnica na realização de um determinado exame, é preciso citá-la na ordem em que a mesma foi aplicada. 37Unidade 2 Considerações Técnicas ou Discussão Do histórico e das descrições (local e vestígios) defl uem as conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de cotejar fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades. Através da discussão asseguram-se conclusões lógicas, afastando-se as hipóteses capazes de gerar confusão, evidenciando-se aquelas que, depois de cotejadas, conduzirão e subsidiarão a conclusão. Buscar a coerência ou não dos elementos observados e anteriormente citados. Confrontá-los com a normalidade. Enfi m, relatar neste tópico as análises e interpretações das evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a facilitar a compreensão e entendimento por parte dos usuários do laudo pericial. Conclusão e/ou respostas aos quesitos A conclusão pericial inserida no laudo pericial devem ser, obrigatoriamente, uma conseqüência natural do que já fora argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos tópicos anteriores do laudo. A conclusão deve obedecer a critérios técnicos conforme já recomendados, ou seja: somente quando nos restar uma possibilidade para aquele evento, sob a ótica técnico-científi ca é que pode-se concluir de forma categórica. Para chegar-se a essa única possibilidade, têm-se apenas duas situações viáveis. A primeira situação é quando, no conjunto dos vestígios constatados e examinados, há um que, por si só, determinante. Obviamente que vestígio determinante, neste caso, deve estar caracterizado pela sua condição autônoma associada ao seu signifi cado no evento em estudo. Em muitos casos, este vestígio determinante pode estar associado a outros elementos de convicção técnico-científi ca. Veja exemplo para entender melhor esse conceito. 38 Impressão digital individualmente é um vestígio determinante, mas, se for encontrado um desses vestígios no local do crime, não quer dizer que foi identifi cado o autor do crime e por conseqüência trata-se de um homicídio. Por outro lado, em um local de incêndio, a constatação de múltiplos focos iniciais não é um vestígio determinante por si só, mas se restar comprovado que tais focos eram isolados ou incomunicáveis, e em conjunto com as observações anteriores, nos locais correspondentes aos focos forem retiradas amostras de materiais que apresentem resultados positivos em exames laboratoriais, em pesquisa de vestígios de hidrocarbonetos voláteis, o grau de clareza da ação dolosa será determinante para a caracterização e materialização do delito. A segunda situação em que os peritos poderão ter apenas uma possibilidade será em um universo de vários vestígios, onde nenhum deles por si só seja determinante, mas apenas probabilísticos, e que, no seu conjunto de informações técnico- científi cas levem a uma única possibilidade. Todavia, existem várias situações em que os peritos poderão ter vários vestígios relacionados com o fato, onde nenhum deles por si seja determinante. Neste caso, os peritos deverão apontar quais são e descrevê-los. Existem, por vezes, situações em que, apesar da existência de vestígios, mesmo analisando-os em seu conjunto, não será possível chegar a uma defi nição quanto ao diagnóstico. Neste caso, os peritos não poderão fazer qualquer afi rmativa conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestígios existentes são quantitativa e qualitativamente insufi cientes para se chegar a uma conclusão categórica. Há, ainda, a situação na qual, através do seu exame ou de sua análise, não se observem vestígios materiais capazes de fundamentar uma conclusão. Neste caso deve-se constar no laudo que, face à exigüidade de vestígios, não há elementos técnicos através dos quais possa ser fundamentada uma conclusão categórica. 39Unidade 2 Mesmo que não seja possível uma conclusão categórica em uma determinada perícia, deve-se constar no laudo o tópico correspondente e, nele informada a impossibilidade de conclusão face aos motivos que devem ser mencionados (exigüidade de vestígios, falta de preservação, etc.) , de forma clara e explicativa, porém, poderá ser levantada uma causa mais provável. Então, não sendo possível concluir um laudo pericial, para auxiliar no contexto geral das investigações e, posteriormente, à justiça, o perito deverá tomar todo o cuidado, tanto no exame quanto no texto dessas argumentações. Em alguns casos concretos, os peritos terão condições de eliminar algumas admissibilidades ou hipóteses, e, com isso, delimitarem o trabalho dos investigadores de polícia, e, posteriormente, da justiça. A eliminação de algumas das possibilidades na verdade é uma conclusão pela sua exclusão, e, portanto, deve seguir o mesmo rigor técnico-científi co já mencionado. O técnico-científi co se refere à técnica criminalística e o científi co às demais leis da ciência. O perito poderá se valer, para as suas conclusões, ou de alguma técnica criminalística já consagrada ou de alguma lei da ciência de qualquer área do conhecimento científi co, ou de ambas, de acordo com cada situação. 40 Fecho ou Encerramento Analise um modelo de laudo e verifi que os elementos que ele contém. Modelo de fecho ou encerramento de laudo pericial Este laudo, composto por (...) páginas impressas em seu anverso, foi feito em duas vias de igual teor, pelos peritos da Seção de Crimes Contra o Patrimônio, estando ambas as vias autenticas com a rubrica dos seus subscritores, acompanhadas pelos anexos (citar quais os anexos e o número dos mesmos), bem como se devolve todo o material, descrito no tópico documentos de exame, lacrados no envelope nº .. Local e data Nome dos peritos. Classe e/ou cargo Anexos É necessário incluir, ao fi nal, todos os anexos que foram produzidos e que sejam necessários para acompanhar o laudo, visando a melhor compreensão do mesmo, tais como,resultado de exames complementares, fotografi as, gráfi cos, relatórios de outros peritos/profi ssionais, etc. No entanto, considerando os avanços da informática, muitos recursos gráfi cos podem ser inseridos ao lado, ou logo abaixo, da parte do texto a que se refere tal assunto. Especialmente para evidenciar algum detalhe que o texto esteja se referindo naquele momento da argumentação. As fotografi as, quando digitais ou digitalizadas, podem seguir esse mesmo critério. SEÇÃO 2 - Modelos de laudos Periciais Seguem abaixo alguns modelos de laudos periciais. Este modelos foram extraídos da obra “Inquérito e Procedimentos Policial” (GARCIA, 2002:397-398, 415-416, 448-449). Analise atentamente cada um deles: 41Unidade 2 a) LAUDO DE EXAME DE DOCUMENTOS Aos... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalística, pelo Diretor LL foram designados PP e PQ para proceder ao exame pericial de documento, a fi m de ser atendida requisição do Bel. AA, Delegado Titular do 1ª DP, conforme Ofício nº .... Peças Motivantes Trata-se de manuscritos apostos em um pedaço de papel sem pauta medindo aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm. O documento encontra-se colado em uma folha de papel sem pauta apresentando no canto superior direito “24-Z”. Trata-se de envelope que apresenta manuscritos feitos com caneta dita esferográfi ca, tinta preta. Encontra-se ele endereçado a SS e está colado a uma folha em branco, apresentando no canto superior direito o n. “25-z”. 1. Peças Paradigmáticas Como espécimes de confronto, contamos com padrões autênticos de JJ e JL, contidos em Auto de Colheita de Material Gráfi co Autêntico, coletados pela Polícia Civil de São Paulo – DEGRAN – através do Dr. AB. 3 – Dos Exames As peças motivantes e paradigmáticas foram examinadas a olho nu e por meios óticos adequados em busca e de hábitos gráfi cos característicos que, uma vez determinados, foram confrontados entre si para uma possível origem comum ou não. Fotomacrografi as foram tomadas, e os assinalamentos necessários foram permitindo assim um controle da conclusão pericial. 4 – Quesitos e Respostas 1º - O autor do Auto de Colheita de Material Gráfi co Autêntico, JJ, é também autor das escritas gravadas no bilhete de fl s. 24, doc 05 e envelope, doc06, fl s. 25? Resposta: sim Para que dois grafi smos sejam aceitos como do mesmo punho, é necessário que em ambos os seguintes valores sejam convergentes: A) habilidade gráfi ca; B) hábitos gráfi cos; C) que não haja divergências estruturais entre os dois grafi smos. (...) 42 na carta de confronto em anexo, 01 a 07, os assinalamentos mais preponderantes estão em quantidade e qualidade sufi cientes para afi rmarmos que as peças motivantes foram produzidas por JJ. (...) É o nosso relatório. Obs: O material examinado é devolvido com o presente laudo. Goiânia, ....... de....... de........ PP PQ 1º Perito 2º Perito b) LAUDO DE EXAME DE ARMA DE FOGO Aos ... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia Civil, pelo Diretor LL, foram designados os peritos PP e PQ para proceder ao exame pericial em arma de fogo, a fi m de ser atendida requisição do Bel AA, Delegado do 1º Distrito Policial, através do Ofício nº. 1 – Características das Peças Examinadas Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um estojo calibre nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como uma arma de fogo, curta e de porte, classifi cada como pistola semi-automática, tendo as seguintes características: a) Marca Beretta; b) Fabricação italiana; c) N de série 683C09; d) Calibre nominal 7.65mm; e) Mecanismo de percussão central, cão aparente e pino percursos isolado; f) Carregamento por pente; g) Coronha guarnecida por talas de plástico pretas com inscrição “Cb. BN”(lateral esquerda), bem como com o logotipo da marca da arma; h) Dimensões: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de diagonal máxima; i) Acabamento oxidado, em desgaste; 43Unidade 2 j) OBS: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental 2 – Funcionamento da arma O estado geral da arma é bom, não apresentando suas peças quaisquer anomalias que impeçam seu funcionamento. Está apta à realização de disparos 3 – Quesitos e Respostas a) Quais as características da arma periciada? Resposta_ ver item 1. b) No estado em que se encontra, está em perfeitas condições de uso? Resposta: Sim, ver item 2. c) A munição que a acompanha é do mesmo calibre da arma, e qual o seu estado? Resposta: Sim, estado em condições de uso. Seu calibre corresponde ao da arma, ou seja, 7,65mm. d) Há evidências de disparo recente? Resposta: Ver laudo químico. e) O pedaço de chumbo pertence ao mesmo calibre da arma? Resposta: O pedaço de chumbo a que se refere o quesito é um projétil de arma de fogo calibre nominal 7.65mm, que, inclusive foi expelido pela arma de fogo aqui periciada. Portanto, a resposta não só é afi rmativa, como também identifi ca a arma que o expeliu. Ver fotos 1 e 2. É o relatório. OBS: O material examinado é devolvido com o presente. Goiânia,... de.... de .... PP PQ 1º Perito 2º Perito 44 c) LAUDO DE EXAME CADAVÉRICO Aos... dias do mês de ... de ...., no Necrotério do Instituto Médico-Legal, nós, médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame CADAVÉRICO no cadáver que nos foi apresentado como sendo de SS (qualifi cação completa), no qual observamos: Descrições das lesões: 1 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 cm de diâmetro, com área de chamuscamento, localizada na região bucinadora (cochecha) direita, com trajeto transfi xando a língua e ramo mandibular esquerdo, com saída na região bucinadora contra-lateral; 2 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 com de diâmetro, com área de chamuscamento e câmara de mina, localizada na região parietal esquerda, logo acima do pavilhão auricular (orelha), transfi xante, com grande destruição de massa encefálica, com saída na região carotideana direita, logo abaixo do pavilhão auricular; 3 – sem outras lesões. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder aos quesitos. 1º - Houve morte? Resposta: Sim, houve morte. 2º - Qual a causa da morte? Resposta: Hemorragia intracraniana 3º - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Pérfuro-contundente 4º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfi xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel? Resposta: Prejudicado 5º - Qual a data do óbito? (especifi car hora, dia, mês e ano); Resposta: Óbito dia .../.../..., às 17 h. Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos ... dias do mês de .... de .... PP PQ 1º Médico-Legista 2º Médico-Legsita 45Unidade 2 d) LAUDO DE EXAME DE LESÕES CORPORAIS Aos... dias do mês de ...., no Gabinete do Instituto Médico-Legal, nós, médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame de corpo de delito - LESÕES CORPORAIS - a pessoa que nos foi apresentada como sendo SS (qualifi cação completa), na qual observamos: DESCRIÇÃO DAS LESÕES: 1 - cicatriz de ferida pérfuro-cortante, medindo 3 cm de extensão, localizada no hipocôndrio esquerdo, próximo ao rebordo costal; 2- cicatriz de incisão cirúrgica, mediana, medindo 25 cm de extensão, localizada na linha média do abdome; 3 – cicatriz de incisão cirúrgica, medindo 2 cm de extensão, localizada no fl anco esquerdo (dreno); 4 – relatório de lesões, cujo teor é o seguinte: “Aos .../.../.., examinei SS e constatei o seguinte: estado geral comprometido. Lesões apresentadas:1 – ferida penetrante no abdome, no hipocôndrio esquerdo; 2 – choque hipovolêmico, Instrumento: arma branca. Tratamento: cirúrgico, ressecção de estômago devido à laceração extensa; reposição sangüínea; antibióticos, soroterapia. Seqüelas que futuramente poderão se apresentar: distúrbio digestivo. Afastamento de suas ocupações por 40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM – GO 007”. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder os seguintes quesitos: 1º - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente? Resposta: Sim. 2º - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Pérfuro- cortante. 3º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfi xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?. Resposta: Prejudicado. 4º - Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias? Resposta – Sim 5º - Resultou perigo de vida? Sim, devido à lesão penetrante no abdome com a laceração do estômago e devido ao estado geral comprometido produzido por choque hipovolêmico que necessitou de cirurgia e de reposição sangüínea. 6º - Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função? Resposta: Sim, debilidade permanente da função digestiva. 7º - Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável ou deformidade permanente? Resposta: Não 8º - Resultou aceleração de parto ou aborto? Resposta: Não 46 Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos ... dias do mês de .... de .... PP PQ 1º Médico-legista 2º Médico-Legista - Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto- avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado. Síntese O laudo pericial deve ter linguagem clara, acessível e as informações devem ser objetivas, sem haver juízos de valor. O laudo pericial deve ser formado por: 1. Preâmbulo ou histórico. Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais. 2.Preliminares. Neste tópico o relator vai consignar as informações referentes à preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. 3.Objetivo da perícia ou quesitos. Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na requisição da perícia ou nos quesitos formulados. 47Unidade 2 4.Dos exames periciais. Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela perícia. 5.Considerações técnicas ou discussão. Do histórico e das descrições (local e vestígios) defl uem as conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de cotejar fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades. 6.Conclusão e/ou respostas aos quesitos. 7.Fecho ou encerramento. 8.Anexos. Atividades de auto-avaliação Leia as questões a seguir e responda com base no conteúdo. Verifi que no fi nal do livro as indicações e comentários. 1. Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal? 48 2. Que tipo de prova é o laudo pericial? 3. O laudo pericial é sempre conclusivo? Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos tratados nesta unidade você pode assistir: Filme: “Seven”. (EUA). Lançado em 1995. Gênero: Policial. Duração: 128 min. Direção: David Fincher. Ou, então, ler: Artigo: “Laudo pericial e outros documentos técnicos”. Disponível em: http://espindula.com.br/default4.htm. Acessado em 17 de julho de 2006. UNIDADE 3 Investigação Criminal Objetivos de aprendizagem � Compreender o conceito e o histórico da Polícia. � Contextualizar a investigação criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polícias Federal e Civil, dentre outros órgãos. � Identifi car os procedimentos de apuração de infrações criminais, provas técnicas e testemunhais para subsidiar o processo criminal. � Identifi car procedimentos de prova criminal e o seu histórico, a partir dos pontos relevantes para compreender o sistema de provas brasileiro da atualidade. � Conhecer o inquérito policial percebendo-o como procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de competência exclusiva das Polícias Federal e Civil, no qual a investigação criminal é formalizada. Seções de estudo Seção 1 Conceito e histórico da polícia Seção 2 Conceito de investigação criminal Seção 3 Conceito de prova Seção 4 Evolução histórica da prova criminal Seção 5 Inquérito policial 3 50 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à Prática da Polícia Judiciária, 1997, p.10. Para início de estudo Para que você compreenda como é exercida a atividade estatal de segurança pública brasileira na atualidade, é imprescindível que verifi que quais são as polícias existentes que integram este sistema e quais suas respectivas funções. Dessa forma, saberá quais polícias serão responsáveis pela investigação criminal. Importante, também, verifi car o que é investigação criminal, inquérito policial e prova criminal, e saber quais os tipos de provas já foram aceitáveis em tempos passados e como é o sistema de provas da atualidade. SEÇÃO 1 - Conceito e histórico da polícia A palavra Polícia é vocábulo derivado do latim “politia”, que por sua vez, procede do grego “politeia”, que signifi ca, segundo Th omé, (...)administração da cidade. Segundo o mesmo autor, Polícia pode ser defi nida como: (...) instrumento de utilidade e que passa a ser responsável pela investigação das infrações penais cometidas e pela política de disciplina e restrição empregada a serviço do povo. Marcineiro (2001), conceitua Polícia como sendo: (...) a organização administrativa que tem por atribuição impor limitações à liberdade (individual ou de grupo) na exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da ordem pública (...). No entanto, a polícia mais visível a todos é a de segurança pública e por isso mesmo todos tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo (...) a polícia se especializa e hoje, se apresenta com duas funções: a polícia preventiva (administrativa), de proteção individual e coletiva e a polícia judiciária, ou seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de auxílio à justiça penal (investigação científi ca dos crimes). (MARCINEIRO, 2001: 47,48). 51Unidade 3 Segundo Tourinho Filho (2001), (...) a Polícia é o órgão incumbido de manter e preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio (TOURINHO FILHO, 2001:27). Você já teve a oportunidade de ler o que dispõe o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 com relação à segurança pública. Diz o artigo: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. Portanto, às Polícias Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente na prevenção dos delitos. De outro lado, é interessante que você perceba que a atuação principal das Polícias Federal e Civis ocorre após a prática do crime, na repressão dos delitos. Apuram materialidade e autoria das infrações penais, por meio da função investigativa. O que cabe à Polícia Federal? À Polícia Federal cabe a apuração das infrações penais contra a ordem política e social ou emdetrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, além de prevenir e reprimir o tráfi co ilícito de entorpecentes e drogas afi ns, o contrabando e o descaminho, nos termos do artigo 144, § 1º, I e II da Constituição Federal de 1988. 52 Segundo Silva, Democracia é “(...) um regime político em que o poder repousa na vontade do povo”. In: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo,1999, p.130. O que cabe à Polícia Civil? A Polícia Civil, também chamada de Polícia Judiciária, tem competência residual, tendo a função de apurar as infrações penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuições da Polícia Federal e as infrações da alçada militar, de acordo com o artigo 144, § 4º, da Carta Magna. A Polícia como organização surgiu em 1829, na Inglaterra, com a criação da Polícia Metropolitana de Londres, considerada a primeira organização policial do mundo.No Brasil, a história da Polícia tem início apenas no século XIX, ano de 1808, com a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil, em decorrência das invasões napoleônicas no continente europeu. Segundo (MARCINEIRO e PACHECO, 2001:15). Inicialmente, segundo Th omé (1997), a ação militar em defesa da posse, a função policial e a função de julgar não estavam separadas. A atividade investigativa fi cava sob a responsabilidade dos magistrados, em especial dos Juízes de Paz. Com o rápido crescimento das atividades econômicas e sociais, fez-se necessária a organização dos serviços policiais. Segundo Marcineiro e Pacheco, (2001), a origem da Polícia Judiciária, como organização, ocorreu em 1841, com a promulgação da Lei no. 261, de 03 de dezembro, que apresentava uma organização policial incipiente, criando em cada província um Chefe de Polícia, com seus delegados e subdelegados escolhidos dentre os cidadãos. A partir da promulgação da república, em 1889, a Polícia passou a atuar de acordo com o modelo político vigente. Na democracia a Polícia tinha como foco a segurança pública dos cidadãos, e, nos períodos ditatoriais, a Polícia tinha como prioridade salvaguardar a segurança nacional estatal, o que fi ca evidenciado pelos dispositivos que versavam sobre segurança pública, inseridos nas Constituições Federais que se sucederam. 53Unidade 3 Segundo Canotilho (1999), “(...) garantias são os meios processuais adequados à proteção dos direitos. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 1999, p.372. Importante a diferenciação que Marcineiro e Pacheco, na obra Polícia Comunitária. Evoluindo para a Polícia do Século XXI, p.33, fazem entre segurança nacional e segurança pública: a primeira com sendo a defesa do Estado e a segunda como tendo o foco na segurança da sociedade. A atual Constituição Federal de 1988 é fruto de uma redemocratização, iniciada em 1985, após vinte e um anos de regime de exceção. Promulgada em um Estado Democrático de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos individuais. Nesse contexto, a Polícia passa a ter o dever de prestar serviços respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguardá-las. SEÇÃO 2 - Conceito de investigação criminal Você sabe o que signifi ca investigar? Que sentido esta palavra assume no contexto da segurança pública? Segundo Bueno (1977), investigar signifi ca (...) indagar, pesquisar, fazer diligências para achar, (...), descobrir. (BUENO, 1977:685). É um ato instintivo do homem que o faz movido pelo princípio inteligente e pelo instinto de curiosidade. Você concorda? Muito bem, vamos adiante e contextualizando. A investigação policial é atividade de natureza sigilosa exercida por policial ou equipe de policiais determinada por autoridade competente que, utilizando metodologia e técnicas próprias, visa a obtenção de evidências, indícios e provas de materialidade e de autoria do crime. 54 A investigação policial, ou investigação criminal, é atividade policial direcionada à apuração das infrações penais e de sua autoria. É o trabalho realizado por policiais, especialmente delegados e seus agentes, procurando esclarecer a autoria e materialidade de delitos, bem como as circunstâncias em que ocorreram. Estas circunstâncias são detalhes de fatos criminosos com a preocupação de melhor identifi car as pessoas com eles relacionados e o próprio objeto do crime, visando reunir elementos probatórios para o indiciamento ou não e posterior encaminhamento à apreciação judicial. Qual o objetivo da Investigação criminal? O objetivo da investigação criminal é amealhar provas criminais, para comprovar materialidade e autoria do delito. - A seguir você vai estudar sobre a prova e seu conceito. SEÇÃO 3 - Conceito de prova Como dito, o objetivo da investigação criminal é a busca das provas criminais necessárias para a elucidação do crime. O vocábulo “prova” origina-se do latim probatio, que por sua vez emana do verbo probare, com o signifi cado de demonstrar, reconhecer, formar juízo sobre um fato. De Plácido e Silva (1978), A prova consiste, pois, na demonstração da existência ou da veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou que se contesta.(De PLACIDO e SILVA, 1978: 1253). Segundo Greco Filho (1997:196), a prova é todo meio destinado a convencer o juiz a respeito da verdade de uma situação de fato. GRINOVER, FERNANDES E GOMES FILHO diferem fonte de Prova, meio de Prova e objeto da Prova: “Pode- se, assim, distinguir entre fonte de Prova (os fatos percebidos pelo juiz), meio de Prova (instrumentos pelos quais os mesmos se fixam em juízo) e objeto da Prova (o fato a ser Provado, que se deduz da fonte e se introduz no processo pelo meio de Prova)”. (GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As Nulidades no Processo Penal,1982, p.106). 55Unidade 3 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; Cândido Rangel.Teoria Geral do Processo, 2003, p.348. (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; 2003: 348). Todas as afi rmações de fato feitas pelo autor, bem como as afi rmações feitas pelo réu, que normalmente se contrapõem àquelas, podem ou não corresponder à verdade. De acordo com Cintra, as dúvidas sobre a veracidade das afi rmações de fato feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a propósito de dada pretensão em juízo, constituem as questões de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, à vista da prova dos fatos pretéritos relevante. Portanto, a prova constitui o instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo. Especifi camente com relação à prova criminal, pode-se afi rmar que é aquela utilizada para demonstrar a ocorrência ou não de uma infração penal e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. As provas criminais formam a convicção a respeito da autoria e materialidade da infração penal, das condições de antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos necessários para fundamentar uma decisão condenatória ou absolvitória. Em síntese, a prova criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. SEÇÃO 4 - Evolução histórica da prova criminal O sistema probatório, no Processo Penal Brasileiro, adotou o modelo europeu-continental, fazendo-se importante uma breve análise das origens deste modelo. Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharama história da civilização, estando fortemente condicionados por circunstâncias históricas e culturais. 56 Na Antigüidade, a religião era a força propulsora das organizações rudimentares e, posteriormente, das cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis e religião se misturavam. Coulange (1996) menciona que o respeito dos antigos às leis advinha da crença de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham origem sagrada. (COULANGE, 1996:152). Esta foi uma época em que os homens não conheceram a liberdade individual, pois não se tinha a mais leve idéia sobre a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes. Foi neste período em que se instituíram as ordálias ou juízos de Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crença de que Deus não deixaria de sustentar o Direito do inocente, estes no pressuposto de que ninguém se atreveria a tomar Deus como testemunha de uma falsidade. Santos (1970), conceitua ordália como “sendo a submissão de alguém a uma prova, na esperança de que Deus não o deixaria sair com vida ou sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade ou fosse culpado.” (SANTOS, 1970:25). Segundo Santos (1970), as ordálias constituíram a prova suprema usada pelos germanos primitivos e os povos antigos da Ásia, não tendo aplicação entre os romanos, que, segundo Sznick conheceram e fi zeram uso da tortura contra seus escravos na Antigüidade. (SZNICK, 1978:24). Durante muitos séculos na Idade Média, com o domínio absoluto dos bárbaros na Europa, as ordálias também tiveram aplicação. Segundo Santos, (1970:26) na prova pelo fogo se fazia o acusado carregar uma barra de ferro em brasa por certa distância, ou caminhar, com os pés nus, sobre ferros candentes, e a prova pela água fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos do fundo de uma caldeira de água fervente, sendo o acusado absolvido se não restassem lesões e condenado no caso contrário. 57Unidade 3 Montesquieu (1996), menciona que a prova pela água fervente podia ser substituída, a critério do acusador, por certa quantia e pelo juramento de algumas testemunhas que declarassem que o acusado não havia cometido o crime. (MONTESQUIEU, 1996: 553). Acerca dos juramentos, Santos (1970) analisa: Compreende-se facilmente a inclusão do juramento entre os velhos sistemas probatórios, que se refl ete na infl uência exercida pelas religiões sobre os homens e as organizações sociais da Antigüidade e da Idade Média, bem como na circunstância de ser quase impossível, numa época em que a escrita não existia, colherem-se provas testemunhais, dada a pouca densidade da população e a própria natureza patriarcal dos agregados humanos. Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento decorria da própria necessidade (...). (SANTOS, 1970: 30-31). Com a desmoralização do juramento, instituiu-se como instituto probatório o duelo, também chamado combate judiciário. No fi nal da época medieval e durante a Idade Moderna surgiram, na Europa, os tribunais da inquisição, período em eram tidos como hereges os que contrariavam os dogmas ofi ciais da Igreja Católica. Mas para que a tortura era utilizada? Qual a fi nalidade? Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997) menciona que a tortura era utilizada ofi cialmente nos interrogatórios, na presença dos juízes, com a fi nalidade de obter a confi ssão. (COTRIN, 1997:157). Novinski (1982) nomina este método de “inquisitivo”, atuante nos séculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos interesses de todas as facções do poder: coroa, nobreza e clero. (NOVINSKY, 1982:47). 58 Considerando a difi culdade de se obter outros meios de prova, a confi ssão do acusado representava o objetivo primordial do procedimento inquisitório. Enfocando a tortura, Gomes Filho (1997), menciona: somente ela podia fornecer a certeza moral a respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia vez à confi rmação de uma verdade já estabelecida.(GOMES FILHO, 1997:22). No que se refere à valoração das provas, é neste período que surgiu o sistema das provas legais, pelo qual cada prova tinha seu valor previamente determinado, e somente a combinação destas autorizaria uma condenação criminal. A tortura clássica tornou-se mecanismo regulamentado e legalizado de Prova. Segundo Foucault, (2002) a tortura é um jogo judiciário estrito (...), o paciente é submetido a uma série de provas, de severidade graduada, e que ele ganha agüentando ou perde confessando. (FOUCAULT, 2002:36). Ortega (1998), discorrendo sobre o sistema jurídico-penal e processual penal, nos séculos XVI e XVII, na Europa, menciona que a tortura tratava-se de peça fundamental no processo, utilizada para obter a confi ssão do réu, e era diferenciada de acordo com a classe social a que pertencia o indivíduo, estando a nobreza sujeita à tortura apenas nos delitos considerados extremamente graves. Portanto, o princípio da igualdade era inexistente naquela época. (ORTEGA, 1998:463) Sobre este tema, Beccaria (1993), autor da obra Dos Delitos e Das Penas, escrita no século XVIII, cuja essência é a defesa do indivíduo contra as atrocidades e arbitrariedades daqueles tempos, e que infl uenciou a reforma de muitos Códigos Penais e Processuais Penais Europeus, manifestou-se afi rmando que a tortura é muitas vezes um meio seguro de condenar o inocente fraco e de absolver o criminoso robusto. (BECCARIA, 1993:36). 59Unidade 3 BENTHAM, Jeremias. Tratado de Las Pruebas Judiciales. p.316. “La tortura, empleada para arrancar las confesiones, se encamina a suplir la insufi ciencia de las pruebas. En el supuesto de que el delito no está probado, qué hace el juez? Ordena atormentar a una persona, en la duda de si es inocente o culpable”. Valiente (2002), sintetiza algumas das idéias defendidas por Beccaria, na obra citada: a mudança do processo inquisitivo para o acusatório, público, com meios de prova claros e racionais; a igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a proporcionalidade entre os delitos e as penas; a nítida separação entre a religião e o Estado e seus Poderes, desvinculando os conceitos de pecado e delito; a supressão total da tortura e da pena de morte; e a preferência dos métodos preventivos aos repressivos; idéias estas que continuam a infl uenciar os sistemas penais e processuais penais atuais. (VALIENTE, 2002:161,162) Para Bentham, a tortura era empregada para suprir a defi ciência dos meios probatórios da época: “A tortura, empregada para arrancar as confi ssões, objetiva suprir a defi ciência das provas. Supondo que o delito não está provado, que faz o juiz? Ordena atormentar uma pessoa, na dúvida de ser inocente ou culpado”. (tradução da autora). Sabadell (2002), discorrendo sobre a tortura ofi cializada afi rma: A tortura judicial está vinculada ao sistema de provas legais, desenvolvido a partir do século XIII pelos doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base é a classifi cação sistemática das provas romanas, segundo o método escolástico, em graus: provas plenas, semiplenas, indícios e presunções. Acima da prova plena está o notorium. Por meio deste instituto era concedida a dispensa de produção de provas em determinados casos. (SABADELL, 2002:275). Sabadell (2002), conceitua notorium como sendo a prova à qual se deve dar a máxima credibilidade, já que, diferentemente das demais provas, não se permite que se estabeleça nenhuma discussão ou questionamento. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, inexistia a concepção de direitos individuais, havendo sempre a prevalência do interesse público em detrimento do indivíduo, o que se coaduna com o sistema inquisitório. A confi ssão era a regina probatium* e o depoimento de uma só testemunha não possuía valor probatório (testis unus, testis nullus**). *tradução: rainha das Provas (cf. CALDAS, Gilberto. O Latim no Direito. p.495; ** tradução: uma só testemunha equivale a nenhuma testemunha. (cf. CALDAS,Gilberto. O Latim no Direito. p.308. 60 cf. GOMES FILHO. Antônio Magalhães. Direito à Prova no Processo Penal, 1997, p.28-29. Em matéria de processo penal, o princípio da inocência do acusado era desconhecido, as provas não eram reunidas para apurar uma possível responsabilidade penal do réu, sendo que esta era constituída por cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado. De acordo com Sabadell (2002), (...) a existência de uma meia prova implicava a consideração do réu como meio culpado. Um grau alcançado na demonstração da culpa (prova semiplena), implicava, conseqüentemente, um determinado grau de punição, incluindo a autorização para o uso da tortura. Em outras palavras, não se torturava um inocente, e sim um meio culpado, para confi rmar a suspeita legalmente criada de que ele era realmente culpado. (SABADELL, 2002:278). Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer da história. É importante, também, mencionar os sistemas de valoração de prova, além do já citado sistema das provas legais. Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o submeteu a modifi cações para facilitar a sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas. Os ideais iluministas postulados pela Revolução Francesa romperam com o sistema inquisitivo, e, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, conferiram maior liberdade aos juízes na apreciação da prova e na indicação dos motivos da convicção. Tratava-se do sistema da íntima convicção. Tais ideais foram uma reação ao sistema inquisitório e à doutrina das provas legais. Vêm ao encontro de um sistema probatório que respeita o ser humano enquanto sujeito de direitos e garantias individuais, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e o direito ao contraditório. Segundo Grinover (1982), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, advinda da Revolução Francesa, consagrou a escola do Direito Natural, “selando a concepção 61Unidade 3 CAPEZ, Fernando.Curso de Processo Penal. 2002, p.267. da existência de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, não criados, mas reconhecidos por este”. Acerca desta Declaração, menciona Bobbio (1992), (...) o núcleo doutrinário da Declaração está contido nos três artigos iniciais: o primeiro refere-se à condição natural dos indivíduos que precede a formação da sociedade civil; o segundo, à fi nalidade da sociedade política, que vem depois (...) do estado de natureza; o terceiro, ao Princípio de legitimidade do poder que cabe à nação. (BOBBIO, 1992:93). Segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem - art. 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e Direitos”; art. 2º: “O objetivo de toda associação política é a conservação dos Direitos naturais e imprescritíveis do homem”; art. 3º:”O Princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que aquela não emane expressamente”. Disponível em: <http://www.gila.net/legislação.net/internacional/ declaração_Direitos_homem_cidadao_1789.htm>. Acesso em 14.12.03. Gomes Filho (1997:55) entende que uma verdadeira Justiça penal pressupõe o reconhecimento, à defesa, do poder de produzir provas contrárias às da acusação, a fi m de obter-se não uma verdade extorquida inquisitoriamente, mas uma verdade obtida através de meios probatórios produzidos pelas partes. Gomes Filho (1997:31) afi rma que em 1808, o Code d’instruction criminelle francês instituiu a combinação entre os padrões inquisitório e acusatório, infl uenciando os demais ordenamentos continentais e representando, até os dias atuais, o modelo inspirador da maioria das legislações. A doutrina passou a postular limitações à íntima convicção do juiz, e, segundo esta nova concepção, o juiz só estaria autorizado a condenar se, além de convencido, estivesse amparado por um mínimo de elementos probatórios. Passou-se a postular pelo sistema da persuasão racional, também chamado por Capez de 62 Código Processual Penal Brasileiro, (ano), art. 157: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova”. Oportuna a transcrição deste trecho da Exposição de Motivos do Código Processual Penal Brasileiro. Trecho extraído da Exposição de Motivos do Código Processual Penal Brasileiro, no capítulo que discorre sobre Provas. sistema da livre (e não íntima) convicção, da verdade real ou do livre convencimento. Conforme Colucci (1988): Num terceiro estágio, em respeito ao contraditório, fi xou-se como pressuposto do direito de defesa o conhecimento pelas partes dos caminhos percorridos pelo juiz ao julgar (persuasão racional), cedendo-se ao julgador liberdade de valoração da prova, desde que acompanhada de demonstração lógica dos motivos da decisão. A motivação das sentenças e decisões de modo geral, tornou-se verdadeira garantia individual, evitando-se que a excessiva liberdade na avaliação das provas transformasse o processo penal em instrumento de opressão e terror, em vez de protetor das liberdades públicas. (COLUCCI, 1988:237-250). O sistema probatório de persuasão racional foi adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro - Decreto-Lei n.3689, de 03.10.1941-, através do seu artigo 157. Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem é prefi xada uma hierarquia de provas: na livre apreciação destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua convicção. A própria confi ssão do acusado não constitui, fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor decisivo, ou nec essariamente maior prestígio que outra. Se é certo que o juiz fi ca adstrito às provas constantes dos autos, não é menos certo que não fi ca adstrito a nenhum critério apriorístico no apurar, através delas, a verdade material. Nunca é demais, porém, advertir que livre convencimento não quer dizer puro capricho de opinião ou mero arbítrio da apreciação das Provas. O juiz está livre de preconceitos legais na aferição das Provas, mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo. Não estará ele dispensado de motivar sua sentença. E precisamente nisto reside a sufi ciente Garantia do Direito das partes e do interesse social. Através do sistema da persuasão racional, não há hierarquia entre as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente e, considerando-se a visão sistêmica, obedecendo à Constituição da República, o Código 63Unidade 3 de Processo Penal e demais legislações vigentes. Tal motivação não se faz necessária apenas nas decisões do júri, considerando a soberania dos vereditos e o sigilo das votações, preceituados no artigo 5º, XXXVIII, da Carta Magna. De outro lado, os meios de prova mencionados no Código de Processo Penal são apenas exemplifi cativos, admitindo-se as provas inominadas. Acerca deste sistema, entende Capez (2002), que: (...) atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na medida em que exige motivação. Não basta ao magistrado embasar a sua decisão nos elementos probatórios carreados aos autos, devendo indicá-los especifi camente. Não pode, igualmente, o magistrado buscar como fundamento elementos estranhos aos autos. (CAPEZ 2002:267). Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas constitucionais e infraconstitucionais. Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como verdadeiro direito garantido às Polícias, à acusação e à defesa, assegurado pela leitura coordenada da Constituição da República, e por textoslegais internacionais. SEÇÃO 5 - Inquérito policial Como você viu anteriormente, o objetivo principal das Polícias Civil e Federal é a investigação criminal, que procura demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelece as condições em que o crime ocorreu. Mas, a investigação criminal não é atividade exclusiva destas Polícias. O Ministério Público, Congresso Nacional, Polícias Militares e outros órgãos podem exercer atividade investigativa. 64 O inquérito policial é de atribuição exclusiva das Polícias Federal e Civil. Após a prática da infração penal, cabe à Polícia Judiciária a apuração imediata do delito, por meio da investigação policial, cujos atos e resultados deverão ser formalizados, via de regra, através do inquérito policial. O auto de prisão em fl agrante, previsto no Código de Processo Penal Brasileiro, o termo circunstanciado, previsto nas Leis Federais n. 9099/95 e n. 10259/2001, e o auto de apuração de atos infracionais, previsto no Código da Criança e do Adolescente (Lei Federal n. 8069/90), também são procedimentos policiais que podem ensejar investigação. Considerando que, de forma geral, os atos investigativos são praticados no inquérito policial, este estudo aborda apenas este. Segundo Tourinho Filho (2001:25) inquérito policial (...) é o conjunto de diligências realizadas pela Polícia visando a investigar o fato típico e a apurar a respectiva autoria. Via de regra, a notícia de um crime chega ao conhecimento da autoridade policial através do boletim de ocorrência, mediante requisição ministerial ou judicial, ou ainda, mediante requerimento de qualquer pessoa. A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de polícia determinar a instauração do inquérito policial, onde se diligenciará para buscar provas demonstrando materialidade e autoria do crime, o que é feito através da investigação. As atividades são as mais diversas de acordo com o delito praticado, declarações de vítimas; depoimentos de testemunhas; interrogatório de suspeito e/ou indiciado; representações por mandados de busca e apreensão, prisões, quebra do sigilo telefônico, quebra do sigilo bancário, quebra de sigilo fi scal; requisição de todas as perícias necessárias; realização de acareações, avaliações reconhecimentos pessoais, fotográfi cos; e outros. 65Unidade 3 Todos estes atos são formalizados no inquérito policial, não existindo um rito pré-estabelecido para a atividade investigativa. Estas têm uma seqüência determinada pela autoridade policial que estiver presidindo o inquérito policial, em face da necessidade da realização desta ou daquela diligência, de acordo com as peculiaridades da infração penal praticada. O inquérito policial apresenta a forma escrita; é de natureza inquisitiva, em que o princípio do contraditório não é considerado; é sigiloso; é, de forma geral, de iniciativa obrigatória e indisponível; após a sua instauração, não pode ser arquivado pelo delegado de polícia, nos termos do artigo 17 do Código de Processo Penal Brasileiro. O artigo 6º. Do Código de Processo penal Brasileiro delibera quanto aos procedimentos da Polícia Judiciária na apuração dos delitos, destacando- se: a) Comparecimento e preservação do local. b) Apreensão dos instrumentos e todos os objetos relacionados com o fato. c) Coleta de todas as provas do fato e de suas circunstâncias. d) Oitiva do ofendido ou da vítima; se for possível. e) Oitiva do indiciado. f) Reconhecimento de pessoas e coisas e acareações. g) Exame de corpo de delito, se for o caso. h) Identifi cação datiloscópica do indiciado, se for o caso. i) Investigação sobre a vida pregressa do indiciado, inclusive seus antecedentes criminais. j) Reprodução simulada dos fatos, se for o caso. Para que a investigação policial tenha resultado e o inquérito policial seja concluído comprovando materialidade e autoria do crime, faz-se necessária a aplicação de técnicas investigativas. Quando o crime, cabe à Polícia realizar planejamento específi co, detalhando quais atividades investigativas serão realizadas, em que tempo, e defi nindo as técnicas a serem aplicadas. Não se pode contar com a improvisação e com a sorte no que concerne à investigação policial. 66 - Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto- avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado. Síntese As polícias existentes no Brasil e suas atribuições estão descritas na Constituição Federal de 1988. Através da Carta Magna, verifi camos que cabe à Polícia Federal e às Polícias Civis dos Estados, também chamadas Polícias Judiciárias, a função investigativa criminal, ou investigativa policial. Investigação criminal é a atividade voltada à apuração das infrações penais, através da elucidação da materialidade e autoria dos delitos. Para tanto, busca-se amealhar provas criminais, concebida como aquelas utilizadas para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e as circunstâncias que possam infl uir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a história da civilização, estando fortemente condicionados por circunstâncias históricas e culturais. O sistema de provas foi sendo alterado com o transcorrer dos tempos. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, vigia o sistema de provas legais, que eram previamente determinadas e hierarquizadas, sendo a confi ssão considerada aquela de maior valor, nominando-a de “rainha das provas”. O sistema das provas legais passou por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o submeteu a modifi cações para facilitar a sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas. 67Unidade 3 Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que conferiu diversos direitos e garantias ao homem até então não existentes, surgiu o sistema da livre apreciação de provas, em que o juiz tinha total liberdade na valoração das provas e nas suas decisões processuais, decisão absolutória ou condenatória, fi cando isento de motivar as suas sentenças absolutórias ou condenatórias. Após abusos praticados nas sentenças, criou-se o sistema da livre convicção, verdade real ou persuasão racional, no qual a obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais e das sentenças tornou-se verdadeira garantia individual. Este sistema foi o adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro vigente. Além das Policias mencionadas, outros órgãos exercem função investigativa, dentre eles, Congresso Nacional, Assembléias Legislativas dos Estados, Ministério Público. Ocorre que, o inquérito policial é de atribuição exclusiva das Polícias Federal e Civis. Atividades de auto-avaliação Assinale verdadeiro ou falso: ( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é exemplifi cativo. ( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o da íntima convicção. ( ) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do processo criminal. ( ) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal. 68 2. Responda a seguinte questão: Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais devem estar voltados prioritariamente à indicar e localizar o autor do crime ou à busca da verdade? Saiba mais Para complementar seus conhecimentos você pode ler: Texto: Inquérito Policial – Sigilo irrestrito. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/textos/x/15/73/1573 Artigo: Flagrante efi ciente. Disponível em: www.http://www.damasio.com.br/?page_name=art_05_ 2005&category_id=31 UNIDADE 4 Investigação Criminal Objetivos de aprendizagem � Estudar técnicas
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