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A educacao Bilingue a relidade de ensino na lingua indigena e portugues nas escolas Koripako-proposta de artigo

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A educação bilíngue: a realidade de ensino na língua indígena e português nas escolas indígenas do povo Koripako
 Esly Camico Mandu[footnoteRef:1] [1: Indígena da etnia Koripako, professor de ensino fundamental e médio, mestrando em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA/UFAM) ] 
Resumo
Este artigo propõe compreender a situação atual da educação envolvendo tanto o ensino na língua Koripako quanto na língua nacional e como poderia se efetivar a educação bilíngue para obter um bom resultado na aprendizagem sem desvalorizar a língua materna. Lembrando que a educação bilíngue para os povos indígenas está garantida na legislação brasileira, mas que na sua prática tem encontrado dificuldades por parte da comunidade educativa de como levar esse modelo de educação a alcançar um bom resultado de aprendizagem dos estudantes indígenas. O objetivo deste artigo visa colaborar no diálogo que nos leve a superamos os desafios próprios de uma educação nesse contexto. 
Palavras-chave: Educação bilíngue; língua Koripako; língua portuguesa. 
Introdução 
A utilização das duas línguas na escola sempre existiu questionamentos por parte de algumas pessoas da aldeia, na questão do uso dessas línguas no processo de aprendizagem. Até hoje não existe uma política linguística claramente definida; muitas das vezes não se sabe qual das línguas deve ser mais utilizada ou menos utilizada dentro da sala de aula, no processo de aprendizagem. Mesmo que uma criança, em nosso contexto, nos primeiros anos, só fale a língua materna. Em outro momento, um professor pode complicar a vida escolar dessa criança e demais estudantes, ao iniciar ensinando essa criança numa língua que ela não consegue dominar, nem mesmo compreender. Talvez a maior implicação nesse contexto esteja no fato da criança não conseguir um bom desempenho na aprendizagem da leitura e da escrita. E é justamente nesse momento que essas crianças necessitam de um acompanhamento diferenciado. Mas isso nem sempre acontece, segundo descrito por (NETO. 2014).
 Na verdade, como hoje temos as duas línguas utilizadas na sala de aula se fazem necessário discutir a relação de como vamos trabalhar, para que as crianças possam ser verdadeiramente conhecedoras, na parte da oralidade e escrita, tanto de sua língua materna como também na oralidade e escrita na segunda língua, no caso o português.
A minha preocupação sobre essa problemática surgiu no ano de 2014, quando foi contratado pela primeira vez como professor indígena pela SEDUC/AM o mesmo ano que também ingressei no curso da Licenciatura Indígena Politicas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável do IFCHS-UFAM. Nesse ano teve uma reunião de avaliação das atividades pedagógicas junto com a participação da comunidade educativa. Nessa reunião alguns pais e mães dos estudantes reivindicaram aos professores, as suas preferências, ou seja, a preferencia e desejo dos pais são de que a língua portuguesa seja o idioma predominante de ensino, enquanto a língua materna (língua Koripako) poderia ser usada apenas como o veículo para facilitar a aprendizagem dos estudantes indígenas. 
Na realidade, voltando bem atrás, esse anelo dos pais dos alunos, que seus filhos se desenvolvam mais na língua nacional, sem priorizar a língua materna, foi o que levou os missionários no passado, a não mais ensinarem na língua materna, porque o próprio povo reivindicava o conhecimento do português. Conforme atesta muitos dos que conviveram com o estudo anterior só na língua materna, como foi introduzido inicialmente com os nossos avós.
Esses questionamentos, sobre a situação de qual língua deveria ser utilizada ou predominante em sala de aula, ressurgiu quando os próprios falantes da comunidade começaram a atuar como professores. Nessa ocasião como estudante indígena, comecei a perceber que esse desentendimento sobre a questão do uso tanto da língua materna, quanto da língua nacional, precisava ser estudado, discutido e compreendido para poder orientar o corpo docente, bem como a comunidade em geral, e assim criar novas estratégias de como levar as duas línguas de uma forma que viesse a garantir um bom resultado, tanto para os estudantes, como também, para o povo em geral Koripako das comunidades. Na verdade, como hoje temos as duas línguas utilizadas na escola são necessárias que haja uma discussão, para que as crianças possam ser verdadeiramente conhecedoras das duas línguas.
Temos conosco um grande desafio, por um lado, temos o grupo de pesquisadores de fora, que apresentam estudos na parte linguística, afirmando que a língua materna precisa ser preservada para não que não seja perdida futuramente. E afirmam também que os grupos minoritários com o envolvimento maior com a sociedade envolvente, “sofrem a concorrência” ou “a pressão” de outras línguas, muitas vezes, mais poderosas (D’Angelis, 2008, p. 14). Por outro lado, temos os anseios do povo, que veem muitas outras etnias que “avançaram” desde cedo no domínio da língua nacional, e alcançaram maiores oportunidades para fazerem suas reivindicações, e busca de melhorias para suas comunidades e portas abertas de continuidade de estudos para os seus filhos em cursos mais avançados. 
Os dados aqui apresentados foram resultados do meu Trabalho de Conclusão do Curso/TCC do curso da Licenciatura Indígena Politicas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável/UFAM-Turma Baniwa (2014-2018). E que foi desenvolvido por meio da metodologia de aprendizagem via pesquisa tendo como plano de trabalho: consulta bibliográfica entrevista com idosos conhecedores, lideranças indígenas, professores, gestor, pais, assessores pedagógicos, pedagogas, secretário de educação e a observação direta na escola, comunidade, nas reuniões sobre educação, na avaliação até por meio das palestras realizadas por mim como estudante pesquisador. 
Etnografia dos Koripako do Alto Rio Içana 
O povo Koripako e um dos 23 etnias indígenas existentes no Alto rio Negro, pertence ao grupo indígena da família linguística Aruak, junto com o povo Baniwa, Baré, Werekena, Tariana, Apurinã e demais grupos indígenas do Brasil e de outros países. Está presente no noroeste da Amazônia brasileira, no interior do município São Gabriel da cachoeira no Estado do Amazonas, na terra indígena do Alto Rio Negro, especificamente no Alto Rio Içana, Colômbia nos rios Guainia, Atauápo, rio Inirida, Guaviare e na Venezuela no rio Negro, Cassiquiare, Orinoco e Atauápo. Mitologicamente, esse povo originou-se na região do rio Içana do lado brasileiro, especificamente, em Apuí, alto rio Ayari, afluente esquerda do rio Içana e dessa região que teria se espalhado para todas as outras regiões e rios acima mencionados.
Atualmente, na região do Alto Rio Içana, temos quatorze comunidades e quatro sítios da etnia Koripako, com uma população de 1268 pessoas; entre essas comunidades, temos São Joaquim, que desse grupo é a comunidade que possui a maior população, formada de 59 famílias com um total de 281 pessoas (segundo os dados PGTA 2016). A comunidade é considerada popularmente ponto estratégico nesse trecho do Alto Rio Içana, porque geograficamente fica na parte central entre as comunidades vizinhas de rio abaixo e de rio acima, também por ter nela o Polo Base do DSEI, 3º Pelotão Especial de Fronteira – PEF, pista de pouso e mais as duas escolas citadas acima.
Chegada da educação escolar formal para o povo Koripako
A educação escolar formal para povo Koripako começa sua trajetória no final da década de 40, segundo a pesquisa bibliográfica. Com a chegada do protestantismo; e se instalou no Alto Rio Negro, principalmente na área dos Baniwa e Koripako do rio Içana. Segundo Wright (1981), em 1976 havia três Missões protestantes no Rio Içana, isto é, três postos de atuação da MNTB. Sendo, porém, a missionária protestante pioneira, a norte-americana Sofia Müller, ligada inicialmente a New Tribes Mission (Missão Novas Tribos).
Com esse movimento religioso na região e conversão ao protestantismo, quase que por completo entre os Koripako, influenciado pela missionáriajá referida acima, foi o momento mais significativo para o povo, Wright (2005, p. 205) e BEZERRA (1996-2007) relatam que, na região do Alto Rio Içana, ela chegou por volta do ano de 1949 no meio de povo Koripako.
Dessa forma, o povo Koripako de cultura tradicionalmente oral passa a ser influenciado pela cultura letrada através da evangelização e ao mesmo tempo da alfabetização. Onde a missionária Sofia Müller utilizou uma metodologia de aprendizagem adequada para as pessoas naquele tempo, e utilizou tão somente a língua Koripako. 
Nesse período de 1949 até 1960 a maioria das pessoas aprendeu a ler e escrever, ao mesmo tempo foi o grande encontro trazendo uma nova configuração e um maior estreitamento com a cultura dos não indígenas, isso foi muito marcante para o povo Koripako até os dias de hoje.
Como o movimento religioso era forte na região do Rio Içana, no alto Içana especificamente, na comunidade São Joaquim chegou e fixaram os missionários da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) com objetivo dar continuidade ao trabalho de alfabetização da Sofia Muller e ao mesmo tempo dar continuidade a evangelização já iniciada na região. Foram eles que iniciaram a primeira escola em São Joaquim, porém registrada na SEDUC apenas na década de 80 (BEZERRA 2015, p. 20)
Chegaram os missionários Ernesto Pinaicobo e João Batista Mendes e depois outros missionários como missionária Adauta, e outros pastores, entre eles, Ourípio e Elci de Paula, Marcelo e Rute Silva e Eli e Silvana Péres (MNTB, 2005). Os Koripako frequentaram essa escola sendo pelos os primeiros missionários alfabetizados. Nesse período os missionários utilizaram mais a língua portuguesa como língua de ensino para alfabetização, agora havia chegado um período, onde o povo reivindicava um maior conhecimento do português e não da língua materna. 
Após essas iniciativas, em 1983, a Secretaria de Educação do município de São Gabriel da Cachoeira passou a assumir a responsabilidade com a educação e solicitou aos missionários que atuavam no Içana a promoverem cursos de capacitação de professores, na época chamados de monitores; assim, vários cursos organizados pela missionária Adauta Eger foram dados para que os próprios indígenas Koripako e Baniwa pudessem oficialmente assumir a responsabilidade de alfabetização nas escolas do 1º ao 4º ano do ensino fundamental (WEIGEL, 2003; D/MNTB, 2005). 
Com essa autorização da secretaria, alguns Koripako tiveram formação com os missionários para serem futuros professores, com objetivo de atender melhor aos estudantes e também assumir a responsabilidade de alfabetização em suas comunidades. Através dessa trajetória da escolarização iniciado com os missionários, até chegar aos dias de hoje, o povo Koripako está cada vez mais possuindo a sua autonomia, protagonismo por si mesmo de como levar a educação, junto com a comunidade educativa. Assim fortalecendo a política de educação escolar indígena do povo Koripako em suas comunidades.
Atual cenário da prática de educação bilíngue nas duas escolas Koripako
Atualmente nas duas escolas indígenas inseridas na comunidade onde a maioria dos professores são indígenas falantes da língua dos estudantes que é o Koripako, como vimos que a educação bilíngue possui certas modelos, dessa forma podemos analisar e comparar que as nossas escolas não possuem o PPPI, realmente ainda não existe um modelo específico onde às duas línguas possuem o tempo determinado para serem utilizados na escola, por isso na interpretação dos professores que atuam na escola referem que estão trabalhando com bilíngue simultâneo, ou seja, onde as duas línguas são utilizados ao mesmo tempo como língua de instrução durante todo o processo de aprendizagem começando desde a educação infantil da escola municipal até na fase do ensino médio na escola estadual.
A justificativa para isso do uso de duas línguas ao mesmo tempo como língua de instrução nas escolas, devido que exista instalação de pelotão de fronteira do exercito na comunidade, onde todos os anos sempre têm os estudantes falantes da língua nacional que é o português, que são os filhos dos militares geralmente permanecem na comunidade dois anos, os seus filhos permanecem estudando nestas escolas, por isso os professores optam a trabalhar com as duas línguas seguidas da outra. Por isso a comunidade vive influenciada pela língua portuguesa aos poucos nos seus dia a dia. Isso é a forma de uso das línguas dentro de uma sala de aula na escola indígena porque é assim que a política da comunidade local sobre o uso de línguas na escola, mas como sabemos que essa forma não é adequada para as crianças devido que aos poucos irá dificultar a aprendizagem das crianças segundo a linguística devido que não dominam a língua portuguesa.
Enquanto falando sobre o ambiente escolar a língua falada entre os estudantes acontecem sempre na língua materna, nos intervalos e até mesmo dentro da sala de aula, devido que na escola a maioria é todos falantes da mesma língua e minorias são falantes de língua portuguesa. De acordo com a observação dos professores dizem hoje as crianças da comunidade já conseguem entender algumas palavras da língua portuguesa com essa prática utilizada pelos professores na sala de aula, mas com as experiências dos professores observam que dificulta na leitura e escrita para as crianças é na língua portuguesa quanto na língua materna.
De acordo com o professor alfabetizador utiliza a língua materna para as crianças novatas que estão entrando pela primeira vez na escola, como por exemplo: dar bom dia em língua materna e depois em seguida o professor traduz ou interpreta na língua portuguesa por isso estão utilizando simultaneamente as duas línguas. Isso também acontece devido a exigências dos pais ou responsáveis das crianças. 
Mas, alguns professores propõem que seria melhor utilizasse somente uma língua que as crianças dominam como a língua materna Koripako, principalmente na fase de alfabetização como: Pré I-II e até primeiro ano de estudo e após essa fase poderia começar introduziria uma pequena porção da língua portuguesa como língua auxiliar. Na experiência de alguns professores de que as crianças quando o professor utiliza duas línguas ao mesmo tempo está dificultando aprendizagem dos estudantes, devido isso primeiro seria a língua materna e depois a segunda língua para as crianças que já estão no segundo ano assim por diante utilizando as duas línguas juntas. Mas assim é necessária a discussão com pais, professores das escolas.
Os desafios educação bilíngue nas escolas Koripako
Na questão da comunidade os pais e mães dos estudantes possuem uma ideologia diferente, pensam que facilita de que um professor usa diretamente a língua portuguesa para a criança como a língua de instrução, ou seja, a língua de ensino dentro da sala de aula. Muitas das vezes alguns pais dos estudantes se pensam que seria bem ter professores que são falantes da língua portuguesa, que são no caso os nãos indígenas que poderiam dar aula para as crianças assim poderiam aprender a falar bem a língua portuguesa. Mas as pessoas que falam essas ideias se referem ideia própria, não pensando sobre a questão e não sabe de como é o processo de aprendizagem. 
Esses são alguns desafios de não conseguirmos demostrar para os pais, de que sempre eles dizem que os brancos são os conhecedores e consideram que tudo o conhecimento é proveniente dos brancos, é isso que falta esclarecer para a comunidade de todo conhecimento pode ser estudado e compreendido por qualquer pessoa que tem interesse de saber essa pessoa poderá ter o conhecimento a respeito de língua portuguesa e indígena. Também a outro desafio na questão de materiais didáticos, falta de materiais específicos diferenciados na língua indígena da comunidade, se tivesse materiais na língua poderia facilitar a aprendizagem dos estudantes dentro das escolas.
Enquanto os professores o desafio de trabalhar com a educação bilíngue, que alguns ficam com dificuldade de falar a língua portuguesa. Porque são os professores são as maiorias falantesda língua Koripako, dessa forma a língua portuguesa é somente como segunda língua, por isso não é expresso bem quando um professor tenta trabalhar com a língua portuguesa.
No ponto de vista de alguns estudantes, como os professores são a maioria falante da língua materna um estudantes fica com dificuldade de manter contato com o professor no momento que um professor da aula na língua portuguesa, assim os estudantes tem vergonha de falar em português com professor que é próprio falante da sua língua materna. A outra coisa que os estudantes sentem difícil devido que usam as duas línguas simultaneamente língua materna e portuguesa ao mesmo tempo, segundo eles seria melhor que cada língua tivesse o tempo especifico para ser falado.
Falta de materiais escolares na língua materna, porque todos os materiais que chegam nas escolas estão todos escritos na língua portuguesa. Isso é um dos desafios da educação bilíngue por isso para os professores dificulta o trabalho na questão de ensino aprendizagem devido que a não possuem materiais da escolar, com essa problemática a escola estadual no ano de 2018 possui planejamento onde tem objetivo de produzir materiais na língua materna para que pudesse servir como material de alfabetização para educação infantil. Isso é a questão de desafio nos materiais pedagógico para alfabetização.
Desafio que a gente preocupa mais nas crianças que não falam a língua materna, somente no caso a língua portuguesa, enquanto as crianças falantes da língua materna, ou seja, a nossa língua os mesmos pais dizem que devem ensinar na língua portuguesa por isso essa é uma questão que a comunidade deve pensar mais profundamente porque temos que pensar na questão de valorização da nossa própria língua.
Apesar de nos indígenas já temos os nossos direitos conquistados e garantidos pela Constituição Brasileira de 1988, onde temos o direito de aprender a língua portuguesa e também utilizar e estudar na nossa própria língua materna no processo de aprendizagem dentro das escolas. Isso que acontece com algumas pessoas sobre essa questão desse ensino porque a comunidade tem a ideia sobre a língua portuguesa possui maior prestigio, enquanto a nossa língua indígena serve somente na comunidade e não vai valer em meio da sociedade envolvente, isso é a concepção de algumas pessoas sobre a situação de ensino na língua materna na escola.
Para os alguns pais dos estudantes que falam que a língua materna pode ser menos falada, a ideia deles sobre a nossa língua que não vai poder ser usada afora da comunidade, no caso na cidade nunca uma pessoa vai falar na sua língua materna com uma pessoa não indígena. Onde eles falam que a nossa língua já sabemos e não precisamos mais aprender na escola que é necessário aprender somente a segunda língua assim é uma língua muito importante para os nossos filhos.
Assim deve ter reunião permanente na comunidade onde os professores poderiam conscientizar a comunidade que na nossa própria língua tem a facilidade de ensinar as crianças do que tentar trabalhar com a língua que eles não dominam no caso a segunda língua. O mais importante de todo que nós professores devemos concretizar, trabalhar com as duas línguas e cada língua deve ter seus tempos determinados e sempre começando alfabetizar primeiro na língua materna por isso é importante produzir materiais didáticos assim demostrar o resultado de aprendizagem dos estudantes aos pais dos estudantes que não acreditam que somente através da nossa língua poderá facilitar e melhorar a aprendizagem nas nossas escolas, assim poderia mudar o modo de pensamento de alguns pais dos estudantes.
Avaliação da comunidade sobre a prática de educação bilíngue
Desde a implantação das escolas na comunidade, a nossa própria língua começou a ser percebida como uma língua que não tem muito valor para a sociedade, devido a influência da cultura não indígena. Assim os nossos pais antigamente e até hoje também dizem que a nossa língua não precisa ser usada na escola devido ao fato de já sabermos falar nossa língua materna, segundo eles se ficarmos estudando a nossa língua com isso não iremos para frente em nossos estudos. Essa é a ideia da maioria das pessoas da nossa comunidade; dando maior importância a língua portuguesa com meio de articulação em busca dos seus direitos, e recursos para melhoria da nossa comunidade. Através dessa ideia de um maior desejo de assimilação da língua portuguesa, os professores observam que é um pouco difícil de entender como se poderia trabalhar na escola, para poder ter um bom resultado. 
Outra realidade percebida, é que a comunidade com esse desejo de que seus filhos falem mais e mais em português no ambiente escolar, para poderem se expressar bem diante dos não indígenas, analisam que os estudantes que vão para escola, terminam, seja por timidez ou por outras razões, não conseguindo se expressar bem com as pessoas que só falam português, que chegam na comunidade, ou quando vão para cidade; terminando os pais, mesmo sem muita escolaridade, tendo que estar sempre dialogando com as pessoas brancas que chegam na comunidade, embora esperavam que fossem seus filhos que estão estudando que deveriam fazer isso.
Através desse curso de licenciatura indígena tive a oportunidade de conscientizar a população da comunidade nos assuntos como a educação bilíngue, alfabetização e política linguística são uma das temáticas que precisam ser esclarecidas para a comunidade educativa. Devido a isso, na comunidade surgiu vários questionamentos e dificuldades no que diz respeito a entender como deveria funcionar a educação bilíngue dentro de uma escola indígena. 
Assim as lideranças da comunidade local conseguiram refletir e avaliar de acordo com a sua observação sobre o uso das duas línguas. A seguir os discursos de dois líderes da comunidade;
	Pelo que vejo a educação é muito importante para nós, ainda agora que estou conseguindo observar de como a educação está mudando, pelo que vejo a educação através de duas línguas está valorizando nós como povo indígena, por isso hoje em dia não podemos mais falar para os professores ensinar as crianças somente na língua portuguesa, mas antigamente quando a gente não sabia que a escola é um lugar para fortalecer a nossa língua, nós pensávamos que a língua portuguesa era mais importante do que a nossa língua, mas agora já estamos sabendo de que a nossa ideia é contrária, dessa forma hoje os estudantes precisam aprender a escrever e ler na nossa língua como também a língua portuguesa, devido que futuramente nós precisaremos os dois conhecimentos: o nosso e o conhecimento dos brancos, assim facilitará a vida de cada estudante. (Inácio Felipe Mariano 2º líder da comunidade)
Como podemos perceber que nesse discurso se refere à educação por meio de duas línguas estão valendo para nós, isso pode analisar que a pessoa conseguiu entender que a nossa língua é muito importante quanto o português, mas antigamente ele não sabia que a escola era o lugar onde valorizava a língua materna que tinha a ideia contraria da educação escolar indígena. 
	Pelo que vejo na nossa comunidade quando eu trabalhava como professor, a preferência e preocupação dos pais que os filhos sejam ensinados através de língua portuguesa dentro das escolas. Mas pela minha observação isso não é bom ensinar somente na língua portuguesa, é preciso que também as crianças saibam a nossa língua materna e utilizar como língua de ensino dentro da nossa escola, seria melhor que as crianças aprendessem primeiro a escrever e ler na língua materna, depois da aprendizagem da nossa língua, poderia começar aprender a língua portuguesa, mas pelo que fazemos é contrário, a gente quer que nosso filho aprenda primeiro a língua portuguesa e depois que ele aprende a nossa língua. Pela minha análise, os estudantes da comunidade quando chega no 6º ano ou 9º ano, por exemplo, ainda apresentam a dificuldade de ler e escrever na nossa própria língua materna, segundo a orientação que recebemos primeiro deveria ensinar na língua materna. Por isso hoje a nossa língua émuito importante usar na sala de aula ao longo do processo de ensino, para que podemos manter e valorizar a nossa própria língua. (Cornélio Mario 1º líder da comunidade)
Nesse segundo discurso seria melhor começar trabalhar com estudantes somente na língua materna porque é a língua que as crianças dominam e falam na comunidade e depois que seria a introdução na língua portuguesa. Nesses discursos ainda apresentam duas ideias distintas, mas realmente para que poder melhorar o ensino a alfabetização seria ainda na língua materna. Assim poderia valorizar a nossa língua dentro da escola, e facilitaria o ensino e aprendizagem principalmente na alfabetização. 
Com esses discursos podemos entender que somente algumas pessoas conseguem entender e valorizam a língua materna na escola. Isso é uma forma de ver a avaliação da comunidade sobre a prática pedagógica das escolas, que a educação hoje está indo muito devagar a aprendizagem dos estudantes alguns conseguem aprender e outros com dificuldade.
Ideias a serem desenvolvidas quanto à educação bilíngue
Há algumas ideias quanto a educação bilíngue, sendo algumas delas as seguintes:
· Uma visão sobre as línguas como fruto e herança de gerações anteriores, mas estão sempre em eterna construção, reelaboração, criação e desenvolvimento. (RCNEI p. 22 BRASIL 1998);
· Pensar quanto a educação bilíngue sendo um direito; 
· Pensar quanto a mesma, que ela pode contribuir no fortalecimento e valorização da identidade cultural;
· Pensar quanto a mesma, que a língua materna sendo a primeira língua de instrução, facilitará na transição da criança que está saindo de casa e está indo para outro ambiente, a escola, normalmente distinta de sua realidade em casa;
· Ter planejamento linguístico definido pelos membros da comunidade escolar. Assim cada língua tem um tempo específico a ser desenvolvido na escola;
· Ter uma ideologia voltada na valorização da língua materna, mas que espera aquisição da segunda língua.
Essas são algumas ideias ou princípios que sendo discutidos e colocados num diálogo aberto poderá realmente contribuir para que uma escola se torne uma escola indígena bilíngue pensando e refletindo quanto ao fato que nós indígena somos diferentes em nossa forma de passar e receber conhecimento e principalmente na língua materna, isso é a nossa riqueza, e parte de nossa identidade que precisa ser preservada como sociedade indígena. (RCENEI P,22 BRASIL 1988)
Perspectiva para uma boa educação bilíngue Koripako
Em reunião que eu realizei junto com os professores das escolas da comunidade a maioria eles falaram que desde quando começaram a trabalhar na escola vieram trabalhando de acordo com a proposta das comunidades e assim os professores tentaram de trabalhar em duas línguas ao mesmo tempo, de acordo com um dos professores o Quirino Garcia Sanches deu a proposta que realmente não dá para trabalhar usando as duas línguas ao mesmo tempo, porque se nos estamos trabalhando assim para a criança vai ficar muito pesado e vai demorar muito para aprender a ler e escrever. Mas se a gente trabalhar somente a uma língua facilitaria a aprendizagem para a criança que está estudando porque é na língua que ela domina. Porque um professor usar uma língua que a criança não domina isso seria contrário, como a criança poderia aprender outra língua de outra cultura. (DISCUSSÃO ENTRE PROFESSORES)
Bilinguismo não é bom em educação infantil porque a criança pode até apropriar da língua materna, mas a língua escrita materna que é função da escola ensinar a criança não se apropria disso com facilidade, então tem que ser ensinada apropriar na língua materna escrita. (JOSINEY DOS SANTOS - PEDAGOGO)
Na entrevista realizado com professor Renato Athias foi falado que a Educação bilíngue tem ser alfabetizado primeiro na língua materna que é língua Koripako é onde se faz alfabetização é única vez que vai se fizer alfabetização, não se faz alfabetização em português não tem sentido fazer observação em língua portuguesa.
Na conversa que tive com professor Renato Athias ele falou que na fase de alfabetização deve ser realizado primeiro na língua materna falado pela comunidade, nesse sentido eu analiso que realmente para que poder melhorar a aprendizagem realmente somente poderia usar a língua Koripako para poder alfabetizar as crianças.
De acordo com entrevistado a liderança indígena senhor Bonifácio se refere que é necessário que a comunidade seja conscientizada na questão de valorização da língua materna que a nossa língua deveria ser a primeira língua para ser usado na primeira parte do ensino fundamental. Assim nesse sentido é preciso que haja diálogo constante e permanente com a comunidade educativa, para que eles podem ter a conscientização sobre a vantagem desse ensino principalmente na faze inicial como alfabetização assim como também em outras fases de ensino como fundamental e médio isso pode demonstrar a valorização mantendo a nossa língua forte na parte da oralidade e escrita em duas línguas Koripako e português. Que é necessário ajudar que a comunidade saiba que a língua indígena é muito importante para valorização e fortalecimento da identidade de um povo.
Consideração final
Na aldeia indígena Koripako por parte de algumas pessoas, há uma ideologia de que somente na língua portuguesa poderia facilitar a aprendizagem dos estudantes, tendo em vista, para esses, que apenas o conhecimento da língua nacional é que abrirão as portas do desenvolvimento para o nosso povo. E enquanto para uma escola indígena, segundo a política educacional vigente, isso deve estar baseado no projeto que reflita a decisão de cada comunidade educativa. Com isso, há uma necessidade de dialogar, com a comunidade educativa orientando-a e levando-a também a refletir o porquê a língua indígena deve ser usada em todo processo de aprendizagem, bem, como, refletindo o anseio do povo, esclarecer que, sem dúvida a segunda língua é também muito importante para os estudantes, para que possam comunicar com outras pessoas que não são falantes da língua materna, bem como tenham o domínio da língua nacional, com a qual possam lutar por seus direito e ideais.
Percebe-se também, que um agravante, ou melhor, dizer, um grande desafio para o melhor desenvolvimento da educação bilíngue está ligado ao escasso material desenvolvido, na nossa própria língua, de materiais adequados para esse fim. E é justamente nesses primeiros anos que os estudantes, ao se depararem com tantas coisas novas, precisam, muitas vezes, ter que lidar com o conhecimento da grafia, as vezes na segunda língua, que é a que, como criança, ainda não domina. E lidar de início com o uso de duas línguas no processo inicial de aprendizagem dentro de uma escola indígena, é outro desafio enorme para os estudantes que são, predominantemente, falantes apenas da língua materna. 
Entendendo esses desafios e realidades dentro da educação bilíngue nas duas escolas indígena Koripako da comunidade São Joaquim, que refletem também a realidade nas demais comunidades do Alto Rio Içana, os caminhos que teremos que trilhar para buscar uma educação adequada e de qualidade no contexto que essas escolas estão inseridas não é fácil. Mas continuando a promover constantes diálogos sobre o assunto, e compartilhando essa reflexão com as equipes de professores e juntamente com pais dos estudantes, sem dúvida, poderemos pensar em equipe e elaborar junto um projeto político pedagógico indígena de acordo com realidade da comunidade e buscando esclarecer tudo que envolve a nossa identidade como povo Koripako, de reconhecer a importância da nossa língua de estar presente na escola de maneira formal, para que a fortalecemos e valorizemos. 
E que possamos daqui pra frente, desenvolver materiais didáticos em nossa própria língua, cientes de que isso, embora não seja toda a solução, poderá contribuir com boa parte daquilo que tem faltado para o melhor desempenho da educação bilíngue entre os Koripako. E contribuir também como um meio de preservação da língua dos nossos antepassados.
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