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1 CLASSIFICAÇÃO DOS SINTOMAS HOMEOPÁTICOS 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de em- presários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Gradua- ção e Pós-Graduação. Com isso foi criada a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici- pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma- ção contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, ci- entíficos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de for- ma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das ins- tituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário CLASSIFICAÇÃO DOS SINTOMAS HOMEOPÁTICOS ............................................ 1 NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2. A HOMEOPATIA .................................................................................................... 7 3. UMA ABORDAGEM DO SUJEITO NO PROCESSO DE ADOECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DOS SINTOMAS .......................................................................... 11 4. A CONSULTA MÉDICA COMO ATO TERAPÊUTICO ................................ 16 5. A CONSTRUÇÃO DA INTERSUBJETIVIDADE NO PROCESSO TERAPÊUTICO ........................................................................................................... 17 6. A ESCUTA HOMEOPÁTICA ............................................................................. 20 7. CONTEÚDOS TERAPÊUTICOS DO VÍNCULO ............................................ 23 8. A ANAMMESE NA HOMEOPATIA ........................................................... 29 9. O DIAGNÓSTICO ......................................................................................... 31 10. VANTAGENS DA HOMEOPATIA ....................................................................... 34 11. EFEITO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO DOS MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS ......................................................................................................... 35 12. PRESCRIÇÕES HOMEOPÁTICAS ........................................................... 36 13. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 37 file://192.168.40.10/O/Pedagogico/SAÚDE%20E%20BEM-ESTAR/HOMEOPATIA/CLASSIFICAÇÃO%20DOS%20SINTOMAS%20HOMEOPÁTICOS/CLASSIFICAÇÃO%20DOS%20SINTOMAS%20HOMEOPÁTICOS.docx%23_Toc94527032 4 1. INTRODUÇÃO A homeopatia foi introduzida no Brasil pelo médico homeopata francês Benoit Mure, em 1840, e sua difusão oscilou com influência direta dos fatores históricos, sociais, econômicos e culturais, com períodos de reconhecimento, ascensão e decadência. Segundo Luz (1996), 9 a homeopatia é marcada por diferentes fases na sua história no Brasil, com destaque para as décadas de 1970 e 1980, nas quais se identifica a retomada do ensino da homeopatia e o seu reconhecimen- to como especialidade médica em 1979, pela Associação Médica Brasileira, e, logo a seguir, em 1980, pelo Conselho Federal de Medicina. Assim, naqueles anos ocorreram a implantação e o desenvolvimento de inúmeras instituições formadoras em homeopatia no país e a retomada de associações como a As- sociação Paulista de Homeopatia (APH). Em 1981, foi criada a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), órgão corporativo que tem como objetivos: estabelecer diretrizes para os cursos de formação do médico homeopata, regulamentar o ensino e nor- matizar a concessão do "Título de Especialista em Homeopatia". Atualmente, os cursos de formação em homeopatia são oferecidos a médicos graduados, em caráter de especialização, com carga horária de mil e duzentas horas, distribuídas ao longo de dois ou três anos. São ministrados por entidades de ensino que compõem um Conselho de Entidades Formadoras em Homeopatia, criado em 1997, para tratar de assuntos como: o estabelecimento das metas de ensino, o intercâmbio entre as formadoras, os planejamentos e o estímulo à pesquisa. 28 Há décadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem apoiando a inclusão das chamadas “práticas alternativas de tratamento” no sistema de atenção à saúde das pessoas. Estas práticas recebem a denominação de “me- 5 dicina tradicional e complementar” (MTC). No que diz respeito à MTC, cuja missão é “ajudar a salvar vidas e melhorar a saúde”, a OMS vem facilitando sua inserção nos sistemas de saúde, elaborando diretrizes, estimulando a “in- vestigação clínica sobre segurança e eficácia” e “atuando como centro coor- denador para facilitar o intercâmbio de informação.” 28 Em seu discurso na Conferência Internacional sobre MTC (Nova Delhi, Índia, fevereiro de 2013), a Dra. Margaret Chan, Diretora Geral da OMS, apon- ta por que estas terapias estão sendo consideradas como uma parte im- portante do sistema de saúde. Segundo ela, usuários de serviços de saúde em todo o mundo têm demonstrado interesse crescente pela MTC e, em decorrên- cia, este segmento passou a desempenhar papel importante no desenvolvi- mento econômico de alguns países, reduzindo gastos sanitários. Além disso, tem havido grande progresso na investigação e no desenvolvimento de conhecimento na área. 28 Decorre daí o entendimento da OMS sobre a necessidade de uma “inte- gração mais estreita” da MTC nos sistemas de saúde e, para isso, “as instânci- as normativas e os usuários deveriam examinar de que maneira isso deve ser viabilizado.” 28 Falando sobre a integração da MTC com a medicina hegemônica, Mar- garet Chan afirma que “Os dois sistemas de medicina (...) não precisam se chocar. No contexto dos cuidados de saúde primários, eles podem se misturar numa harmonia benéfica, usando as melhores características de cada sistema e compensando certas fraquezas de cada um. Isso não é algo que acontecerá sozinho. Decisões políticas deliberadas têm de ser tomadas. Mas pode ser feito com sucesso.” 28 A homeopatia é tradicionalmente incluída entre as MTC, caracterizando- se, porém, como a que mais se aproxima da prática da clínica médica ocidental; vem daí sua grande importância social e corporativa. Trata-se de uma prática médica bicentenária, idealizada e organizada pelo médico alemão Samuel Hahnemann (nascido em 10 de abril de 1755, Meissen, Alemanha; falecido em 2 de julho de 1843, Paris, França) caracterizada por sua resolu- tividade, baixo custo, amplo alcance e incontestável aceitação social. 29-37 Desde 1796, quando começou a ser praticada na Saxônia, até os dias de hoje, ou seja, ao longo de 220 anos, o saber acumulado tem mostrado que esta 6 práxis clínica e terapêutica tem potencial para melhorar a saúde das pessoas, não apenas a um custo menor que o da prática hegemônica, mas também e especialmente, sem efeitos colaterais adversos. 32 Sobre os marcos referenciais, esclarecemos que, em 2014, a Liga Médi- ca Homeopática Internacional (LMHI), em parceria com o Comitê Europeu de Homeopatia (Bélgica) e com o Conselho Central de Investigação Homeopática (Índia), fundamentada em publicações anteriores e nos trabalhos apresentadosem seu 69o Congresso (Paris, França, julho de 2014), elaborou um panorama científico da homeopatia, com o objetivo principal de firmar a posição desta prática clínica e terapêutica, contextualizando-a no mundo de hoje, e, desta forma, torná-la mais visível globalmente e, particular e especialmente, no uni- verso médico.39 Em 2015, o governo da Índia - país no qual a homeopatia está envolvida nos sistemas de atenção à saúde, ensino e pesquisa - designou um comitê pa- ra elaborar um dossiê que proporcionasse uma visão ampla e atualizada da homeopatia “a partir de uma breve introdução à ciência, à sua rede, infraestru- tura e status em várias partes do mundo, com especial ênfase para a Índia” 41. Importante salientar que esta publicação contou com corpo de referen- cias locais e internacionais - França, Reino Unido, EUA, Hungria e Brasil, este representado por Flavio Dantas e Silvia Waisse. 7 2. A HOMEOPATIA Na arte da significação (semântica), estudamos as mudanças ou as transições sofridas pelas palavras em seus significados, ao longo do tempo e do espaço. No intuito de caracterizar a homeopatia como modelo terapêutico para o tratamento das enfermidades humanas, inúmeros adjetivos são-lhe atribuídos: medicina alternativa, complementar, não-convencional, coadjuvante, integrativa, etc ( 64 Nestas acepções imputadas ao modelo homeopático, importa enten- dermos o conceito ou a noção do que os termos expressam ou exprimem, pois representam o papel que o agente da ação (médico homeopata) deverá des- empenhar quando assumir tal ou qual atribuição.64 Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “os termos ‘comple- mentar’ e ‘alternativa’ (e, às vezes, também ‘não-convencional’ ou ‘paralela’) são utilizados para referir-se a um amplo grupo de práticas sanitárias que não fazem parte da tradição de um país, ou não estão integradas em seu sistema sanitário prevalente”, estando a homeopatia encaixada nesta classificação. 56 Dentro de uma conotação terapêutica, o adjetivo “alternativo” significa “o que se diz ou faz com alternação” ou “que vem ora um, ora outro”, descartando a frequente atuação da homeopatia de forma concomitante a outras práticas médicas. 64 A denominação “complementar” também não condiz com a atuação des- ta prática no tratamento das enfermidades humanas, pois significa “que serve de complemento” ou “que sucede ao elementar”, em contradição às evidências clínicas que apontam para a resolutividade de diversos problemas de saúde tratados exclusivamente pela homeopatia. Assim como para outras formas de tratar distintas das empregadas comumente pelo modelo tradicional, o termo “não-convencional” exprime uma conotação institucional e política para estas atitudes terapêuticas “distintas das amplamente ensinadas nas faculdades de medicina e geralmente utilizadas em hospitais.” 57 No termo “coadjuvante”, que significa aquele que “coadjuva, ajuda ou concorre para um fim comum”, encontramos um significado apropriado para a 8 forma como a terapêutica homeopática deve se colocar perante as demais práticas médicas vigentes, em vista de buscarem, como objetivo comum, o bem-estar físico, psíquico, social e espiritual dos seus pacientes. 64 O adjetivo “integrativo” (“capaz de integrar ou juntar-se, tornando-se parte integrante”) também exprime a idéia de atuar de forma integrada com outras abordagens terapêuticas. Aspectos práticos da terapêutica homeopática impedem que ela se arrogue no direito de atuar, indistintamente, de forma in- dependente e autônoma (não-coadjuvante, não-integrativa) dos demais conhecimentos e práticas da medicina moderna, como a prerrogativa sinequa non de se valorizar a individualização do medicamento homeopático, que sig- nifica a aplicação do princípio da semelhança entre a totalidade de sintomas característicos do indivíduo e as manifestações patogenéticas despertadas pe- las substâncias nos experimentadores humanos.58 Apenas o medicamento homeopático corretamente adaptado ao conjun- to de sintomas característicos da individualidade enferma (individualizado) po- derá promover a reação homeostática almejada, responsável pela cura de enfermidades crônicas e agudas das mais diversas categorias. 64 A não observância deste pressuposto obrigatório e intrínseco ao modelo homeopático de tratamento das doenças redunda em ineficácia terapêutica, como demonstrou a meta-análise do The Lancet publicada em 2005: não foram observadas diferenças estatisticamente significativas quando se comparou a eficácia do placebo versus a eficácia dos tratamentos homeopáticos que desprezaram a individualização do medicamento homeopático [a grande ma- ioria dos ensaios clínicos homeopáticos selecionados apresentava desenhos impróprios à clínica da individualidade, empregando “um mesmo medicamento” ou “uma mesma mistura de medicamentos (complexos homeopáticos)” para uma queixa clínica comum de todos os pacientes, sendo que na análise final nenhum dos oito ensaios clínicos homeopáticos incluídos aplicava a individual- ização na escolha do medicamento]. 59,60 Por outro lado, quaisquer médicos homeopatas honestos, que aprove- item os ensinamentos que a prática clínica lhe demonstra diariamente, sabem que este “processo de individualização medicamentosa” nem sempre é imedi- ato, exigindo consultas e avaliações periódicas no processo gradual de 9 conhecimento do binômio doente-doença e suas suscetibilidades mórbidas in- dividuais. 64 De forma análoga às outras práticas médicas, incertas por natureza, as limitações existentes na homeopatia, no médico homeopata e no paciente ex- igem um tempo mínimo para que o ajuste satisfatório do medicamento e suas potências ocorram, fazendo do tratamento homeopático uma técnica empírica, na qual os resultados somente serão observados a posteriori da administração da terapêutica. Assim sendo, o diagnóstico medicamentoso correto poderá ser um processo mais ou menos demorado (horas a dias nos processos agudos; semanas a meses nos processos crônicos), exigindo do médico homeopata uma conduta consciente e ética que impeça a suspensão imediata dos demais medicamentos em uso, desde que necessários e indispensáveis ao bem-estar físico, psíquico, social e espiritual do paciente. 64 Ao contrário dos episódios benignos, que evoluem de forma satisfatória, causando incômodos suportáveis ao paciente, nas doenças agudas e crônicas graves a intervenção terapêutica pode ser o diferencial entre a vida e a morte. Todo médico homeopata consciente deve refletir na capacidade pessoal, evi- denciada em sua experiência clínica diária, de atingir o diagnóstico precoce do medicamento homeopático individualizado ideal (simillimum), único capaz de atuar em profundidade e estimular a resposta homeostática terapêutica nestes casos complexos.64 Homeopatas respeitados referem o índice de 20%-30% de acerto do medicamento simillimum num curto período de acompanhamento do paciente. Desta forma, 70%-80% destes casos graves, que necessitam de drogas alo- páticas para a manutenção das funções vitais, estariam desprotegidos e sus- cetíveis a desenvolverem iatrogenias fatais com a suspensão prematura dos medicamentos em uso.64 Desprezando estas premissas inerentes ao modelo, muitos colegas não assumem o caráter “coadjuvante” do tratamento homeopático, suspendendo drogas aloenantiopáticas imprescindíveis à manutenção do equilíbrio orgânico numa primeira consulta, ou mesmo antes de terem a confirmação da resposta clínica do medicamento indicado, desrespeitando critérios fundamentais e sec- ulares da “boa prática médica homeopática”. 64 10 Como aceitar a suspensão imediata de hipotensores em pacientes hipertensos graves, da insulina em diabéticos tipo 1, de anticoagulantes em cardiopatas severos, de broncodilatadores em asmáticosgraves, etc., sem que tenhamos total segurança da atuação substitutiva do medicamento homeopáti- co prescrito? Além do possível agravamento da doença de base (AVE, cetoac- idose diabética, IAM, crise asmática grave, respectivamente), a suspensão ab- rupta e indiscriminada dos medicamentos enantiopáticos poderá desencadear a reação paradoxal ou efeito rebote do organismo (reação vital) causando eventos graves e fatais. 61-63 Como desprezar a probabilidade da ocorrência destas iatrogenias nesta conduta homeopática imprudente? Exemplos deste tipo de conduta inaceitável por parte de colegas “homeopatas” são vivenciados freqüentemente em pronto- socorros ou atendimentos de emergência, transmitindo a falsa idéia de que “a suspensão imediata dos medicamentos alopáticos em uso” representa uma prerrogativa da clínica homeopática. Este preconceito, fomentado pelos casos de insucesso inicial da terapêutica associados à postura irresponsável de mé- dicos, contribui para que a homeopatia encontre dificuldades em ser aceita como uma importante colaboradora no tratamento de inúmeras doenças perante a medicina convencional.64 Em vista de ser um modelo de difícil execução, que exige dedicação e estudo constante, a terapêutica homeopática deve ser encarada como “prática médica coadjuvante” perante as demais especialidades médicas, até que se atinja o status medicamentoso ideal (simillimum), que poderá permitir a substi- tuição gradativa das drogas aloenantiopáticas em uso, desde que viável fisio- logicamente.64 Para isto, devemos embasar nossa conduta substitutiva em exames clí- nicos e subsidiários (bioquímicos, provas de função, imagens, etc.) que atestem o reequilíbrio dos sistemas orgânicos primordialmente alterados, desprezando as suposições da mentalidade “contra cultural”, avessa aos avanços da ciência contemporânea, que ainda impregna alguns segmentos do movimento homeopático. 64 Homeopatia não pode ser encarada como um deslumbre de médicos “al- ternativos” que desprezam a integridade de seus pacientes por acreditarem num “poder absoluto e imediato” de qualquer substância homeopática prescri- 11 ta, desprezando, na maioria das vezes, o critério da individualização medica- mentosa, fundamental para o sucesso da terapêutica homeopática. 64 Para evitarmos estas disparidades, presentes em todas as classes de especial- istas despreparados, os cursos de formação e educação continuada em home- opatia deveriam explicitar, de formas claras e objetivas, as limitações temporais do modelo, evitando os exageros da prática médica homeopática displicente, que pode se transformar num instrumento nocivo quando utilizada de forma inconseqüente. 64 Juntamente com a certeza dos benefícios do tratamento homeopático bem conduzido, que contribui de forma eficaz e efetiva na resolutividade de inúmeras enfermidades humanas, o médico homeopata deve incorporar à sua conduta holística, generalista e integrativa o aforismo hipocrático primo non nocere. 64 3. UMA ABORDAGEM DO SUJEITO NO PROCESSO DE ADOECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DOS SINTOMAS A Medicina Homeopática como prática de saúde que, ao assumir o pa- ciente como sujeito portador de necessidades e expectativas, favorece a am- pliação de sua autonomia no processo de adoecimento, possibilitando maior consciência com relação à sua maneira própria de enfermar-se, o que permite remetê-lo a um projeto de saúde. A questão do cuidado ao paciente caracteriza-se como crucial no campo da Saúde Pública e sua relevância, para o doente e para o médico, pode ser evidenciada nos diferentes componentes do processo terapêutico da Home- opatia. A centralidade da doença no paradigma da medicina ocidental contem- porânea e a crescente intermediação tecnológica que têm ocorrido nos últimos anos incidem nos diferentes componentes de sua prática, implicando no dis- tanciamento do médico da situação de adoecimento dos pacientes e abalando uma relação milenar associada ao processo de cura. 3,4 Estes aspectos permitem compreender por que o paciente não se sente cuidado e tratado, apesar de sua doença ser objeto de múltiplas e sofisticadas 12 intervenções tecnológicas, e constituem-se em razões de busca de outros modelos terapêuticos, tanto por parte dos médicos, como dos pacientes. 5 Sabemos que parte significativa da demanda que busca atenção médica ambulatorial não preenche os requisitos para um diagnóstico de base anátomo- clínica e é caracterizada por queixas vagas e inespecíficas, manifestações de um sofrimento que não se traduz, necessariamente, em lesões ou disfunções que possam ser enquadradas em alguma nosologia. 6,7 A tendência a desqualificar algumas queixas de pacientes, traduzidas por “mal-estares” e sintomas indefinidos, representa uma situação bastante comum nos serviços de saúde, decorrente, justamente, dos desencontros entre a expectativa do médico em identificar e reconhecer doenças e as demandas do doente de obter atenção para o seu sofrimento. É possível considerar que certas queixas trazidas por muitos pacientes que escapam a sua objetivação como doença e, portanto, não são legitimadas pelo saber e pela prática médica, representam fenômeno experimentado por su- jeitos numa situação singular do adoecimento referida ao seu universo simbóli- co. Ou seja, a percepção do doente sobre suas enfermidade, inúmeras ve- zes, não coincide com a doença lesional ou orgânica diagnosticada pelo médi- co, o que pode explicar os motivos de descontinuidade e falta de adesão aos processos terapêuticos. Ao perceber que o médico frequentemente não valori- za ou não valida suas queixas, aborta-se a possibilidade do vínculo e o trata- mento não se instaura. Ou seja, o fato de identificar categorias e de obter uma classificação nosográfica não encerra o processo terapêutico e não parece atender às expectativas de cuidado dos pacientes. Conforme adverte Luz 8-10, a “irracionalidade” da medicina não se resume a um problema somente gerencial ou de políticas públicas inadequadas. Há de se destacar que o próprio paradigma que rege a medicina contemporânea afastou-se do sujeito humano sofredor como uma totalidade viva, tanto em su- as investigações diagnósticas, como em sua prática de intervenção. A revalorização dos aspectos interativos do ato médico no contexto atual das práticas de saúde parece estar vinculada a preocupações que buscam re- colocar a pessoa como objeto central do processo terapêutico. Componentes 13 deste processo que favoreçam a construção de um espaço intersubjetivo po- dem propiciar o resgate de sujeitos adoecidos, através de uma aproximação não somente do paciente ao seu médico, mas também da doença ao seu por- tador, o doente, e da terapêutica ao processo de recuperação dos pacientes. A discussão dos aspectos constituintes da prática homeopática capazes de resgatar a dimensão do cuidado ao indivíduo doente tem como pressuposto o entendimento de que a Homeopatia é dotada de uma racionalidade médica específica que possibilita ser reconhecida como campo de saber e de prática com características próprias. 11 A concepção a respeito do processo saúde doença na prática homeopáti- ca é norteada por uma visão que inclui, necessariamente, o sujeito enfermo sob um enfoque que valoriza, sobretudo, a singularidade do adoecer humano, enfatizando as características assumidas pela doença em cada paciente, não se limitando a compreendê-la de maneira restrita à condição de entidade noso- lógica ou apenas como evento biológico. Uma medicina do sujeito (na alopatia) os pacientes praticamente não ti- nham nomes, eram patologias a serem tratadas. Comecei a me desencantar. Mais parece que a gente está numa oficina de automóvel, parecia que o paci- ente entrava em uma linha de produção, uma coisa muito mecanicista, e a pes- soa não existia. 11 (Dr. Joel) Certos elementosdo campo do saber e da prática homeopática permitem caracterizá-la como um sistema médico que, ao resgatar a dimensão da arte de curar, está centrada no sujeito doente portador de uma cultura e de uma historicidade, tanto no que se refere aos elementos da diagnose como da terapêutica. 11 De acordo com estas características do seu objeto de abordagem, a diag- nose em Homeopatia se propõe a entender e interpretar o fenômeno do adoe- cimento dentro da realidade específica de cada paciente, não se restringindo apenas à caracterização do evento patológico. Para tanto, busca individualizar o sofrimento da pessoa, conhecendo sua maneira particular de vivenciar a ex- periência da doença. 14 A ênfase no sujeito adoecido amplia as possibilidades de compreensão do enfermo, inserindo-o em um contexto sociocultural que contempla aspectos de sua história de vida a ser recuperada no processo de entendimento da do- ença. Além disso, resgata manifestações de sua suscetibilidade e sensibilidade determinantes de uma forma particular de expressão dos sintomas. A proposta terapêutica homeopática não se restringe, portanto, a afastar sintomas ou a eliminar queixas; busca compreender o enfermo dentro da espe- cificidade do seu processo de adoecimento, o que inclui aspectos da relação do doente com sua doença e os sentidos que ele atribui a esta experiência. Isto permite entender o indivíduo adoecido no processo de resgate de sua singula- ridade e não reduzido a um conjunto de órgãos ou a uma patologia específica. Compreender o paciente como sujeito adoecido implica, portanto, consi- derá-lo em todos os seus aspectos, não somente biológicos e psíquicos, mas também como porta-voz de um conjunto de representações social e cultural e agente de um processo de interação que pode aproximá-lo, inclusive, da res- significação dos conceitos de saúde, cura e doença. “Sintoma é um modo de ser” (Thiago, 8 anos).27 Ao ter como foco de abordagem as manifestações do sofrimento que indi- vidualizam o doente, a Homeopatia fundamenta-se nos critérios de singularida- de, buscando encontrar a expressão destas particularidades nos sintomas apresentados pelos pacientes. Seu enfoque está voltado, portanto, para escu- tar, olhar, observar e examinar aquilo que é inusitado em cada paciente e que se manifesta por meio dos sintomas. 27 Sintomas representam, por conseguinte, a própria doença, a expressão do paciente e o meio de se encontrar o medicamento apropriado. Ao contem- plar os sintomas do ponto de vista da singularidade ou como parcialidades que engendram a dinâmica de cada sujeito, podemos afirmar que não existem dois sintomas idênticos mesmo diante de fenomenologias clínicas semelhantes. 27 Os sentidos subjetivos atribuídos aos sintomas e à própria doença são distintos de um paciente para outro e correspondem à maneira como cada um vivencia a experiência do adoecimento de acordo com suas particularidades e com as circunstâncias do ambiente social e cultural em que estão inseridos. 19 15 Em face disso, é possível considerar que os sintomas podem ser compre- endidos como representações do sujeito enfermo na medida em que trazem em si certos conteúdos vivenciais do mesmo. Constituem-se, portanto, no obje- to a ser captado para a apreensão da “diferença”, do não habitual, do singular, através da utilização do princípio da semelhança na terapêutica homeopática. Segundo Hahnemann, os sintomas homeopáticos são “uma manifestação anômala na maneira de sentir e de operar da parte do organismo acessível aos sentidos do observador e do médico”, “produzidos pela desarmonia da força vital que provoca as desagradáveis sensações que experimenta o organismo e o impele a reações anormais que conhecemos com o nome de enfermidade”. Os sintomas homeopáticos podem ser classificados: Quanto ao observador Sintomas subjetivos: são sofridos ou percebidos somente pelo enfermo sem que o observador possa ter conhecimento deles, a menos que o próprio pa- ciente o manifeste. A este grupo correspondem numerosos sintomas mentais, tais como temores, penas, ilusões, etc., e todas as manifestações dolorosas com suas sensações respectivas. Sintomas objetivos: quando podem ser apreciados pelo observador ou o médi- co, tais como alterações no aspecto, forma ou volume de algum setor orgânico, transtornos nos movimentos, nos sons normais de certos órgãos (coração, pulmão), alterações nas excreções normais, secreções patológicas, etc., assim como alterações detectadas através de exames laboratoriais (sangue, urina, fezes, etc). Inclui-se também nesse grupo os processos inflamatórios e neoplásicos. Natu- ralmente, muitos desses fenômenos objetivos podem e são observados pelo próprio paciente. Quanto à localização Sintomas mentais: quando suas manifestações consistem em transtornos psíquicos da afetividade, do juízo, da inteligência, ilusões, alucinações, etc. Sintomas gerais: manifestações que devem ser referidas a totalidade do or- ganismo e são a expressão de uma perturbação geral como: o cansaço, a de- 16 bilidade, a insônia ou sonolência, alterações da transpiração, da temperatura, o apetite, os desejos sexuais, os desejos e aversões. São as expressões do estado geral do paciente frente a distintas circunstânci- as. Pergunta: “como se sente” Sintomas locais: quando os transtornos envolvem somente um setor da eco- nomia, um aparelho ou um órgão sem repercussão no estado geral, tais como dores, inflamações, tumores, etc. Segundo sua Frequência: Sintomas Comuns: quando se apresentam em grande quantidade de pa- cientes e de enfermidades e são também produzidos por grande quantidade de medicamentos nas experimentações patogênicas, na esfera mental, geral ou local. Ex: irritabilidade, insônia, déficit memória, a tristeza, a cefaléia, o cansa- ço, a febre, a falta de apetite, etc. Sintomas patognomônicos: quando são fundamentais para diagnóstico fisio- patológico, o qual não pode ser formulado até que se achem presentes Ex: hiperglicemia nos diabetes o exantema morbiliforme no sarampo. Sintomas característicos: quando ao sintoma comum se agrega uma modali- dade reacional de agravação ou melhoria. Esta modalidade singulariza e cir- cunscreve o sintoma, de maneira tal que já não são muitos os sujeitos que apresentam, nem são tantos os remédios. Ex: cefaléia que se agrava pelo mo- vimento e por tossir e que se alivia pela pressão externa. Sintomas peculiares: quando possuem alguma modalidade ainda menos freqüente que as anteriores e provocadas patogeneticamente por uns poucos medicamentos. Ex: cefaléia quando tem fome (antes de comer). Sintomas raros: quando escassos indivíduos e pouquíssimos remédios ou um só os produz. Ex: alegria durante as tormentas (tempestades). Essa perspectiva de análise convida-nos para um novo entendimento sobre os sintomas, que implica em ampliar o olhar sobre eles, não se restringindo à cap- tura de transtornos a serem classificados nosologicamente, mas privilegiando a maneira como eles são qualificados e como foram sendo ressignificados na ação terapêutica. 27 4. A CONSULTA MÉDICA COMO ATO TERAPÊUTICO 17 O momento da consulta tem especial importância para a prática da Home- opatia pelo fato de mobilizar e materializar elementos que dão especificidade ao seu processo terapêutico e, também, por constituir-se no espaço de con- strução da intersubjetividade entre médicos e pacientes. 27 Na Biomedicina, a consulta vem sofrendo interferências de uma prática tec- nicista que, diante dos procedimentos e equipamentos diagnósticos, tende a restringir sua importância e reduzi-la a uma intervenção mecânica e técnica. Ao ter seu foco de conhecimento e de intervenção centrado, sobretudo, na busca da lesão ou disfunção, a prática médica atual tem utilizado cada vez menos a semiologia clássica colocando,muitas vezes, em plano secundário este com- ponente do agir médico que traduz a essência da clínica. 27 Já a Homeopatia, ao fundamentar todo o seu sistema diagnóstico e terapêutico na individualização do adoecer humano, necessita de uma anam- nese mais profunda que busca aproximar-se do paciente com o intuito de conhecer as manifestações da doença através das diferentes modalidades de sintomas que expressam, em última instância, a forma particular de ser daquele paciente. 27 Sob este enfoque, as queixas não podem ser traduzidas somente por uma leitura técnica e a fala do paciente adquire um outro significado; ela é provida de sentidos que permitem uma maior compreensão do adoecimento. O que se busca alcançar, portanto, no espaço da consulta homeopática, é uma ampli- ação da abordagem do paciente de tal forma que não se restrinja aos sinais da doença, mas sim às manifestações que o doente transmite em sua totalidade de sujeito sofredor. 27 Para tanto, são necessários procedimentos que permitam individualizar o sujeito doente, tais como a escuta e a observação, os quais possuem uma na- tureza específica e são considerados essenciais para a operacionalização da técnica homeopática. 27 5. A CONSTRUÇÃO DA INTERSUBJETIVIDADE NO PROCESSO TE- RAPÊUTICO 18 Eu acho que o bom médico é aquele que se interessa pelo caso do pa- ciente como se fosse o único caso. Ele tem que atender aquele paciente como se fosse o único. 27 As características singulares do objeto de abordagem em Homeopatia - o sujeito humano - determinam a natureza particular dos componentes da consul- ta permeados de elementos que expressam conteúdos subjetivos, tanto do médico como do paciente. 27 Ao assumir o sofrimento das pessoas enfermas como unidade funda- mental de sua abordagem, os traços de intersubjetividade estão inscritos na prática homeopática. Nessa perspectiva, a boa consulta é caracterizada, por pacientes, como aquela que dispõem de tempo e onde se materializam ele- mentos que permitem que o ato médico realize-se plenamente, quais sejam, olhar, escutar, tocar e observar a pessoa doente. 27 Estes componentes de uma prática menos tecnificada contribuem para a ex- pressão da subjetividade do paciente, propiciando maior aproximação com os sintomas, além do sentimento de poder compartilhar seu sofrimento dentro de um processo interativo. 27 Por outro lado, são associados às manifestações de atenção e de inter- esse, favorecendo maior confiança e segurança dos pacientes no profissional e no tratamento. Diante disso têm, muitas vezes, relevância maior que o próprio medicamento e representam um estímulo para retornar à consulta favorecendo o estabelecimento do vínculo, conforme pode ser observado neste depoimento: me sinto bem só de estar vindo à consulta, fico até em dúvida se estou mesmo precisando do medicamento. (Caderno de campo) 27 Evidencia-se assim o papel “psicossocial” desempenhado pelo espaço da consulta homeopática no contexto atual, onde o paciente é estimulado a falar de si e expor os aspectos diversos de sua vida. Estes elementos constitu- tivos da natureza da consulta homeopática têm sido destacados como motivos de satisfação de pacientes e de médicos com o atendimento. 27 Assim, ao tomar como questão essencial de sua diagnose a biopatografia de sujeitos adoecidos, a Homeopatia não está tão mediada pelo objeto, o que possibilita que a construção de um espaço interativo entre o paciente e o médi- co represente uma das dimensões fundamentais de sua prática terapêutica. Tecendo a relação. 27 19 O primeiro elemento preponderante é estabelecer uma boa relação de duas pessoas que estão querendo atingir um objetivo comum, um objetivo in- terpessoal. (Dr. Joel) A busca das particularidades que caracterizam o adoeci- mento e não apenas dos aspectos técnicos da doença requer uma aproxima- ção mais ampla e profunda com o paciente, permitindo que ocorra um vínculo de natureza mais consistente. 27 Sob este enfoque, a relação médico-paciente refere-se ao ato de com- por e entrelaçar elementos de natureza intersubjetiva que emergem no momen- to da consulta e que permitem caracterizá-la como um espaço interativo. Estes conteúdos intersubjetivos traduzem aspectos essenciais da racionalidade ho- meopática, tanto em sua dimensão técnica como interpessoal. A conceituação de pacientes e médicos como sujeitos no espaço do atendimento tem, portan- to, um caráter mais abrangente do que os referir como agentes ou objetos de ação técnica, já que envolve, também, os aspectos afetivos, éticos e sociocul- turais. 14 O deslocamento do enfoque da doença para o paciente abre possi- bilidades para a incorporação de conteúdos de natureza interativa, que possi- bilita uma perspectiva de atenção à saúde nas quais se destacam as noções de cuidado e de pessoa. 27 Por outro lado, a intersubjetividade presente no espaço da relação fa- vorece o surgimento de uma postura mais ativa do paciente, o que representa estímulo ao compartilhamento de responsabilidades no que diz respeito aos diferentes aspectos do tratamento. 27 A disponibilidade de tempo durante a consulta, permitindo maior espaço para a conversa e para a escuta, constitui-se em componente do vínculo e pode ser destacada como fator que proporciona outra dimensão ao atendimen- to, importante tanto para o paciente como para o trabalho do médico. 27 A percepção de um bom médico se manifesta, de acordo com muitos pacientes, já “na porta do consultório”, o que evidencia a relevância dos com- ponentes intersubjetivos da relação. Tais aspectos estão também subjacentes à motivação de muitos médicos ao optarem pela Homeopatia, conforme sugere este entrevistado: eu ia deixar de ser médico quando tomei contato com a Ho- meopatia. Foi uma forma de ser médico sem ser aquele médico que eu rejeita- va uma forma mais humana. (Dr. Roger). 27 20 Para muitos profissionais, o fato de poder vivenciar a experiência da relação e de compartilhar com os pacientes os componentes subjetivos refer- entes ao sofrimento humano é considerado mais gratificante e prazeroso que o próprio exercício da técnica: eu estou falando que é mais fundamental do que a própria técnica, é esse compartilhar de responsabilidades do sofrimento do pa- ciente, conhecer a vida dele, compartilhar a vida com ele. (Dr. Fabricio) 27 O fato de a Homeopatia ser norteada por concepções com relação ao adoecimento e a cura, cuja finalidade é “encontrar o paciente”, imprime certas características à relação, que podem ser compreendidas como elementos de legitimação dessa prática e que serão discutidas a seguir. 27 6. A ESCUTA HOMEOPÁTICA Ao conceber a Homeopatia como um sistema médico centrado no sujeito humano, a escuta pode ser caracterizada como componente intrinsecamente relacionado à sua episteme e como instrumento de abordagem fundamental para a realização de sua prática. 15,16 O caráter amplo da escuta decorre dos propósitos de conhecer as mani- festações da enfermidade sob um enfoque que privilegia a intersubjetividade na compreensão do adoecer humano. 15,16 A relevância deste componente no âmbito de um sistema médico repre- senta uma questão específica da prática homeopática pela simples razão que, de maneira semelhante às disciplinas do campo denominado “psi”, esta prática lida com a questão do sujeito. 17 A fragmentação da abordagem do paciente na Biomedicina e a intermedi- ação tecnológica representada por exames e procedimentos diagnósticos re- sultam em uma escuta “focada” e pontual, coerente com o seu objeto específi- co, a doença ou uma determinada queixa relacionada a um órgão ou aparelho. O médico, de um modo geral, retém uma pequena parcela do discurso do do- ente, quando o deixa discursar, e isso ocorre devido à frágil intersecção da “doença do médico” com a “doença do doente”. 17 Ou seja, grande partedo relato de pacientes, muitas vezes transbordantes de sentidos variados, mas 21 que não podem ser identificáveis como patologias, interessa secundariamente ao profissional, já que para ele tem pouca utilidade como informação útil à in- vestigação e ao tratamento. 17 As narrativas dos pacientes são fundamentais na abordagem da Medicina Homeopática; é justamente a palavra, o discurso do enfermo que lhe possibilita situar-se como sujeito no espaço de uma consulta médica e no processo de adoecimento. 18-20 O objeto central da escuta homeopática é, portanto, a história do pacien- te, a sua biografia pessoal obtida através de suas narrativas. Relaciona-se à compreensão de que toda enfermidade integra uma unidade de sentido que necessita ser situada no contexto individual e cultural do paciente para a sua adequada compreensão. 21,22 O discurso da pessoa enferma representa fonte privilegiada de informa- ções e de investigação, não somente no que se refere ao relato técnico de sin- tomas e queixas, mas, sobretudo, no que tange às manifestações de uma for- ma particular de lidar com o sofrimento relacionado a uma dinâmica própria no processo de adoecimento. 27 Ouvir o paciente, do ponto de vista da homeopatia, não é, por conseguin- te, uma questão de maior ou menor paciência de um profissional “da espécie de um psicólogo”, de disponibilidade para confidências, ou somente uma de- monstração de “humanismo” ou de compaixão do médico. Trata-se de um traço próprio do exercício da diagnose e da terapêutica desta prática que operacio- naliza um método ampliado de abordagem do processo de adoecimento. 23 Podemos afirmar que todo indivíduo adoecido terá sempre um discurso a ser proferido, uma narrativa que lhe permite traduzir as condições biopsicosso- ciais que refletem seu estado de maior ou menor desconforto. 23 Possibilitar esse espaço durante a consulta, permitindo, através da escu- ta, que o paciente manifeste seu universo subjetivo, tem grande importância do ponto de vista terapêutico e pode favorecer o processo de cura. O ato de ouvir possibilita recuperar a dimensão do enfermo como sujeito mediante o reconhe- 22 cimento da forma como ele vivencia a experiência da doença e do processo de tratamento. 27 Para muitos pacientes, “um bom médico tem que ser bom ouvinte”, e ser bom ouvinte é assegurar espaço na consulta para conhecer bem o paciente. “Saber ouvir” é considerado atributo da mesma ordem de importância que os elementos concernentes à competência técnica do médico e representa mani- festação de interesse capaz de estimular uma postura mais ativa do paciente no seu processo terapêutico. 27 A natureza de uma escuta cujo objeto primordial é a narrativa do sujeito humano pressupõe uma atitude de interesse e de disponibilidade para “o ou- tro”, isto é, uma abertura ao processo de interação com o paciente. Tal atitude é influenciada por certos aspectos que indicam o modo de proceder do médico e que se refere ao ato de observar, olhar e ver o paciente. 27 A escuta e o olhar não representam, portanto, apenas procedimentos de natureza técnica relacionados à investigação; são atitudes que revelam a dis- posição de perceber, conhecer e compreender o doente como portador de um sofrimento específico. Ver: um gesto físico e psicológico “Ver” pode ser enten- dido como uma categoria ao mesmo tempo física e psicológica, representando uma forma de olhar relacionada a “olhar para”. Neste sentido, não significa simplesmente enxergar alguém ou alguma coisa, mas caracteriza-se como uma tomada de consideração pela pessoa. Ver o enfermo no sentido técnico de examinar, de investigar e de observar seus sintomas constitui-se em com- ponente de qualquer consulta médica. 27 No enfoque homeopático, no entanto, o ver é compreendido como uma atitude de “olhar em face”, isto é, de enxergar o paciente como pessoa, o que faz com que ele traduza este gesto como manifestação de respeito e de consi- deração. 27 Não ser olhado ou não ver uma pessoa representa uma atitude de arro- gância, é ignorá-la, é não desejar conhecê-la, é desconsiderá-la e o paciente sofre com isso. A ausência do olhar compromete os elementos intersubjetivos do encontro entre o médico e o paciente, podendo interferir na qualidade e na continuidade do atendimento. 27 23 Nesse sentido, o ver representa uma atitude que permeia uma relação capaz de produzir vínculo, caracterizando-se como componente de um proces- so interativo entre dois sujeitos. Ser olhado pelo médico é parte de um atendi- mento e do contexto de uma consulta na qual existe atenção e na qual o paci- ente se sente respeitado. 27 Assim sendo, pacientes consideram bom médico aquele que olha a gente desde a hora que a gente entra no consultório. Ele observa desde o modo de andar. (Irani). Estes componentes presentes na prática homeopática possibili- tam enxergar o paciente como sujeito e permitem caracterizar a consulta como espaço de um encontro intersubjetivo que pode favorecer maior adesão e par- ticipação do paciente, tanto na consulta como no tratamento, contribuindo para a construção de maior autonomia no processo de cura. 27 7. CONTEÚDOS TERAPÊUTICOS DO VÍNCULO “Porque ele entende as coisas, ele entende o que eu sinto, quer dizer, ele já vai sentido o que eu estou sentindo só de olhar para mim. Agora o doutor normal não, ele nem sequer olha na sua cara. Aí que eu fico mais atacado.” (Cristovão). 27 A ênfase nos aspectos que particularizam o adoecimento de cada pessoa a partir da compreensão do enfermo como sujeito vivo e não como objeto de intervenção técnico científico representa um dos traços essenciais da aborda- gem homeopática. 27 A consulta médica homeopática, conforme discutimos anteriormente, pos- sui características que traduzem aspectos essenciais da natureza do processo terapêutico da Homeopatia, favorecendo uma postura do profissional que pode ser considerada determinante para a constituição do vínculo com o paciente. 27 Olhar, no sentido de enxergar o indivíduo portador de sofrimento e não somente visando acessar tecnicamente as manifestações da doença. Ouvir as queixas do doente, não apenas como relato de um conjunto de sintomas, mas como expressão de um sujeito adoecido. Tocar o corpo do paciente e não sim- plesmente palpar e percutir em busca de sinais de seus órgãos ou sistemas. O 24 fato de poder personificar um responsável pelo tratamento e de, ao ser escuta- do, ter seu sofrimento assumido pelo outro, faz com que o paciente se sinta cuidado e isso representa importante componente terapêutico capaz de interfe- rir no processo de cura. Ao se redimensionar o objeto de enfoque do paciente, 24,25 de portador de uma doença à condição de sujeito adoecido, modificam-se as características desta abordagem e dos elementos envolvidos na relação entre médico e paciente. A natureza do contato passa a ser menos tecnológica e mais permeada de conteúdos subjetivos tanto do médico como do paciente. Tendo em vista estas considerações, podemos identificar que certos componentes da prática homeopática têm importância particular na criação de um espaço interativo en- tre o enfermo e o médico, engendrando possibilidades para uma outra postura na forma de lidar com as queixas e sintomas que são trazidos durante a con- sulta. 27 Já ressaltamos o papel da escuta e do ver, traços de uma atitude de aco- lhimento e de interesse do médico, capazes de favorecer as manifestações subjetivas do paciente. A importância do vínculo para eficácia e resolutividade do tratamento, ilustrativo da histórica significação simbólica presente na relação terapeuta paciente, pode ser ilustrada na afirmação de um dos pacientes en- trevistados: [...] 27 o medicamento aparece através do médico, reconhecendo no profissional mais que um prescritor de remédios e referindo-se a elementosde natureza intersubjetiva que emergem da relação. 27 A noção de confiança, componente inerente e característica básica do vínculo, influenciam positivamente o papel que o médico pode exercer no sen- tido de mobilizar recursos curativos nos pacientes. Tais características da práti- ca homeopática redimensionam o papel do médico, instrumentalizando-o para uma ação de natureza mais ampla capaz de estimular reflexões e percepções que ampliem a compreensão e a autonomia do paciente sobre o seu adoeci- mento. O relato que se segue evidencia estes aspectos: acho que é essencial para começar um processo terapêutico você poder se transformar em um canal de transmissão que inclui a sua técnica, a sua afetividade. Este papel de meio eu acho absolutamente fundamental. (Dr. Fabricio) 27 25 Por outro lado, o processo interativo entre médicos e pacientes não se restringe ao espaço da consulta, tem um caráter contínuo e dinâmico e não se encerra no encontro físico do consultório. A sistemática de consultas progra- madas que caracteriza a continuidade inerente ao processo terapêutico da Homeopatia pode também contribuir para o fortalecimento do vínculo, o que, por sua vez, favorece o desenvolvimento de uma “aliança terapêutica” entre pacientes e médicos. 27 A perspectiva de um tratamento que habitualmente tem como referência um único profissional e que implica em encontros periódicos com o paciente permite que se instaure um processo interativo em que o médico pode-se fazer presente e estar próximo, mesmo estando distante. 27 A situação interativa entre pacientes e médicos tende a estabelecer-se de uma maneira mais profunda na Medicina Homeopática e favorece a ampliação das percepções a respeito do adoecimento e dos objetivos terapêuticos. 27 De acordo com outro profissional, o papel do médico, não somente como elemento que instrumentaliza uma substância, mas uma outra percepção para o problema que o paciente tem. (Dr. Joel) 27 O medicamento: um remédio que não ataca A motivação foi que os remé- dios que eu tomava me atacavam. Então eu tomei a iniciativa de mudar. E com a Homeopatia eu tomo o remédio e não me ataca, eu acho que é por causa de eu ter confiança que dá certo. (Olivia) 27 A característica da não agressão, inerente à natureza da substância me- dicamentosa homeopática, pode ser considerada um componente da racionali- dade da Homeopatia e representa um dos principais motivos de busca do tra- tamento. Os pacientes desejam livrar-se do uso de substâncias que conside- ram danosas e agressivas para a sua saúde e enfatizam estes aspectos ao comentarem sobre sua opção pela terapêutica homeopática. 27 A busca do tratamento homeopático é caracterizada como uma alternati- va, muitas vezes considerada “último recurso” a ser experimentado, na tentati- va de solucionar um determinado problema, poupando o organismo dos efeitos colaterais dos remédios da Biomedicina que, de acordo com a percepção de 26 pacientes, apesar de “muito fortes” e “potentes”, são considerados, muitas ve- zes, de pouca resolutividade. Assim, a percepção da eficácia do atendimento na prática homeopática é influenciada pela avaliação positiva que os pacientes, de um modo geral, trazem a respeito do medicamento. 27 As representações que conferem ao remédio da Homeopatia atributos de “bom, saudável e que não faz mal para o organismo” e que aproximam pacien- tes do tratamento homeopático têm sido observadas em outros estudos 9 e contrapõem-se ao medicamento da Biomedicina, que é considerado “forte, ca- paz de intoxicar e de dar problemas”. Tais questões podem ser consideradas decorrentes de um sentimento de frustração de pacientes com o fato de perce- berem que, apesar da verdadeira “peregrinação” percorrida por diferentes ser- viços e especialidades, permanecem sem tratamento. Ou seja, resultam da crescente fragmentação de uma prática que, pulverizada nas diferentes espe- cialidades, torna-se incapaz de oferecer um tratamento para o sujeito doente em sua totalidade. 27 O fato de os pacientes manifestarem a percepção de estarem carentes de tratamento apesar do uso continuado de medicamentos ao longo de um tempo, muitas vezes longo, remete à relevância de certos elementos simbólicos e sub- jetivos que compõem suas necessidades em termos de atenção à saúde. 26 A natureza abrangente do medicamento, ou seja, suas possibilidades de atuar na totalidade do indivíduo fazem com que os pacientes considerem a Homeopatia “mais eficiente”, demonstrando uma expectativa de que ela é ca- paz de dar conta de seus diferentes problemas de saúde. Ou seja, os pacien- tes parecem estar em busca de um tratamento que lhes proporcione um cuida- do mais amplo voltado às suas necessidades como sujeito adoecido e que re- mete à noção de recuperação e de cura. 27 A busca de outras formas ou outros caminhos de tratamento sugere tam- bém uma disposição para mudanças mais amplas que envolvem aspectos di- versos da vida do paciente, conforme sugere o depoimento: [...] um caminho, a impulsão para mudar certos hábitos e ter uma vida mais saudável. (Antonieta) 27 27 No imaginário dos pacientes, o medicamento homeopático costuma ser referido a substâncias originadas de “ervas” ou “remédios de mato”, substân- cias puras que pelo fato de não terem origem química representam uma alter- nativa de tratamento mais saudável. Estas características influenciam as per- cepções de “naturalidade” e “espontaneidade” que os pacientes têm do perfil do médico homeopata e que podem estar referindo-se a uma postura menos técnica coerente com representações de pacientes e médicos que vêem na homeopatia uma “resolução natural de saúde”. 27 Outro aspecto igualmente relevante para médicos e pacientes refere-se à acessibilidade financeira e à “simplicidade” do medicamento, considerados “go- tinhas simples”, “remedinhos” fáceis de tomar e baratos. As características que dão especificidade ao medicamento homeopático situam-se no contexto de um atendimento que traz implícito um outro olhar sobre o processo saúde e doen- ça, que pode contribuir para mudar a perspectiva de pacientes e de médicos no tratamento. Ou seja, a percepção de um “bom medicamento” situa-se no con- texto da atenção do “bom doutor”, no espaço onde existe o cuidado amplo, vol- tado para a pessoa e traduzido no ato de tocar, de olhar e de escutar. 27 O perfil das pessoas que buscam e utilizam a homeopatia como forma de tratamento a partir de levantamento de artigos produzidos na Europa, EUA, Índia e Brasil, 42-54 o Scientific Framework of Homeopathy: Evidence Based Homeopathy traça o perfil das pessoas que, nos dias de hoje, buscam e utili- zam a homeopatia como forma de tratamento. Foi observado tratarem-se de pessoas com altos níveis de escolaridade e educação, situadas na faixa etária entre 33 e 55 anos, com estilo de vida saudável e atitude positiva em relação à terapêutica. 39 Em síntese, os fatos observados e relatados indicam que quem se vale de tratamento homeopático nos dias de hoje é capaz de fazer uma escolha infor- mada. E é desejável que a escolha de qualquer terapêutica seja feita dessa forma. Fatores que levam as pessoas doentes a buscar a homeopatia como for- ma de tratamento 28 No panorama elaborado pela LMHI são relatados também quais fatores determinaram a busca dessa opção terapêutica. Com base em estudos reali- zados principalmente na Europa (42,43,45,46,48,50,51,53,55) são apontados os seguin- tes determinantes: (a) Preocupação com os efeitos colaterais dos outros métodos de trata- mento; (b) Falta de resultado dos tratamentos convencionais ou desejo de evitar este tipo de tratamento por longo prazo; (c) Experiências positivas nas consultas; (d) Preferência pessoal ou tradição familiar; (e) Custo menor; (f) Bem-estar geral; (g) Crença tradicional no conceito imaterialou holístico; (h) Conscientização sobre a falta de papel dos antibióticos nas doenças virais; e (i) Desconfiança em relação à medicina convencional. 39 Pode-se inferir que a opção pela homeopatia se deve, em parte, à cres- cente percepção, pelos que a adotam como opção de tratamento, de suas vir- tudes como terapêutica com visão sistêmica, por ser isenta de efeitos adversos e pela relação custo-efetividade, mas também, em parte, devido à crescente desconfiança em relação às práticas oferecidas pela medicina convencional. 39 Neste sentido, o dossiê Homoeopathy: science of gentle healing observa que “tato, simpatia e compreensão são esperados do médico, pois o paciente não é mera coleção de sintomas, sinais, funções desordenadas, órgãos danifi- cados e emoções perturbadas” 41 (...) a pessoa doente é “um ser humano, te- meroso, esperançoso buscando alívio, ajuda e tranquilidade (...)”. 41 Estes requisitos são aplicáveis na integralidade na prática homeopática, uma vez que “o objetivo da homeopatia não é apenas combater doenças indi- 29 viduais numa pessoa, mas compreendê-la como um todo e aliviá-la de suas queixas” 41. Para reforçar esta tendência de busca da homeopatia como opção tera- pêutica, o documento afirma que, apesar destas milhares de observações e relatos necessitarem de “(...) ensaios de controle pragmáticos e aleatórios, (...) ao longo dos anos, os medicamentos homeopáticos têm sido utilizados com sucesso no tratamento de várias condições, tais como doenças pépticas, ansi- edade, dermatite atópica, autismo, distúrbios comportamentais, fraturas, con- juntivite, varicela, depressão, dismenorreia, dores de cabeça, herpes zoster, gripe (...) fobias, cálculos renais (...) cólicas ou dores da dentição em crianças (...)” 41. Este relato está baseado no atendimento de cerca de 1,1 milhão de pes- soas que buscam cuidados primários em dispensários homeopáticos em Nova Delhi 41. Os autores relatam, também, que a homeopatia é usada em casos de câncer, HIV/AIDS e doenças terminais, com o objetivo de proporcionar cuida- dos paliativos sintomáticos e melhorar a qualidade de vida das pessoas doen- tes 41. A notícia promissora deste documento é que “(...) estudos têm gerado evidências a favor da homeopatia, mesmo através de ensaios de controle ran- domizado e meta-análises em muitas condições como diarreia e infecções do trato respiratório em crianças (...) febre do feno, queixas da menopausa, doen- ças musculoesqueléticas, osteoartrite, rinofaringite (...) artrite reumatoide (...)” 41. 8. A ANAMMESE NA HOMEOPATIA Antes de dar continuidade à leitura assista o vídeo abaixo, que irá auxiliá-lo de forma prática, por parte de profissionais, quanto ao processo de anammese numa consulta homeopática. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Vídeo de apoio: Anamnese homeopática Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=_GBGAK_BCmY> https://www.youtube.com/watch?v=_GBGAK_BCmY 30 Sinopse: Prof. Reinaldo Mota Gaspar apresenta detalhadamente os procedi- mentos durante uma anammese numa consulta homeopática, abordagem e modalização dos sintomas. -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Como descrito acima a escuta é de suma importância no processo homeo- pático, por isso a anamnese homeopática é caracterizada pela escuta atenta, interessada e sem julgamento de todo o relato do paciente. Assim, pode-se dizer que a anamnese homeopática ou entrevista vitalista, investiga-se todas as queixas, as sensações subjetivas, assim como os sintomas mentais, gerais e particulares. Pesquisa-se os hábitos de vida e de modo especial o psiquismo do paciente, o seu humor, sua sensibilidade, suas reações emocionais, sua memória, como se relaciona consigo mesmo e com os outros, seu sono, seus sonhos, seus desejos, fatos marcantes de sua vida e como os vivenciou. A história biopatográfica (tudo que aconteceu antes do adoecimento) e a história familiar complementam a investigação. É por meio da anamnese que se busca a singularidade de cada pessoa, observando o que há de mais característico, ou seja, aquilo que o particulariza. A subjetividade de cada sujeito será considerada na tomada e na análise de cada caso. Para isso, o tempo destinado à consulta deve ser suficiente para que possa ter a quali- dade necessária para uma boa prescrição. Só depois de concluída esta fase de relato espontâneo, deve o médico pro- ceder com um interrogatório, através de perguntas não diretivas, que iInicial- mente visam esclarecer, especificar e modalizar os sintomas relatados pelo paciente. Depois, investigar sua história familiar, seus hábitos e condições de vida, sua história patológica pregressa. E só após deve-se iniciar as perguntas que buscam conhecer as condições atuais de funcionamento do organismo, como um todo (relação com clima, ho- rários, sono, sede, desejos e aversões alimentares, sexualidade, suor...) e de cada parte (revisão de cada sistema e função). Aos exames físicos e os exames complementares deve-se dar o devido valor, pois além de um bom homeopata, ser um bom clínico é impresindível, ser capaz de fazer não apenas o diagnóstico homeopático (medicamentoso), mas também o diagnóstico das entidades nosológicas. Isto é importante não 31 apenas pela necessidade de comunicação com o paciente, seus familiares e o meio médico-sanitário em geral, mas também para o estabelecimento do prognóstico e a avaliação do caso em consultas subsequentes. Na anamnese identificam-se os sintomas homeopáticos, que podem ser mentais, gerais e locais (ou particulares). Para que um sintoma seja consider- ado homeopático deve estar modalizado, isto é, associado às circunstâncias e condições que o provocam ou modificam. A valorização dos sintomas, além de considerar a hierarquia mental - geral - local, depende de sua raridade (fator que torna o sintoma específico ao indivíduo e pouco comum no conjunto de pessoas portadoras de uma determinada enfermidade); intensidade (diz re- speito a quanto o sintoma perturba ou limita o indivíduo), antiguidade (diz re- speito ao tempo prolongado de inserção do sintoma na vida do indivíduo), frequência e duração. Construída a síndrome mínima de valor máximo (conjunto de sintomas mais relevantes) para o paciente, procede-se à reavaliação do caso, que con- duz ao diagnóstico medicamentoso, aquele a ser prescrito. Com base no diagnóstico das entidades nosológicas, avalia-se o grau de aco- metimento da energia vital e formulam-se as observações prognósticas: como se espera que o paciente reaja ao tratamento? Como deve se apresentar na próxima consulta, obedecidas às leis de cura? Lembrar que a matéria médica clínica homeopática, que é a organi- zação e a reunião dos dados resultantes da observação da ação de substânci- as no organismo sadio, visando à aplicação da Lei da Semelhança, é um in- strumento utilizado pelo homeopata no estudo dos medicamentos, que o auxil- iará na prescrição para cada caso em particular. Há diversos tipos de matérias médicas, como as clínicas e a matéria médica pura. O repertório homeopático é o índice de sintomas coletados a partir de registros toxicológicos, experi- mentações em indivíduos "sãos" e curas na prática clínica, que é um instru- mento complementar ao uso da matéria médica homeopática, na escolha do medicamento melhor indicado. 9. O DIAGNÓSTICO 32 Na prática, pode-se se dizer que a predisposição inclina o sujeito a ex- primir determinado distúrbio, ao passo que a suscetibilidade corresponde à permissão para que algum fator externo o provoque. A presença num mesmo indivíduo de predisposição e vulnerabilidade acentuadas aumenta bastante a probabilidade de ocorrência de uma possível alteração. As duasalternativas, em geral, se conjugam, ora sobrepujando a predisposição individual, ora a in- fluência do ambiente. Ainda que se reafirme que o fator externo não tem poder de manifestar sintomas por si só e depende do organismo para elaborar as al- terações, é necessário reconhecer que o ambiente não é totalmente passivo e inerte, como postularam alguns homeopatas: as bactérias são resultados da doença 65. Sob preceitos reducionistas, o conhecimento científico progrediu deveras quanto aos fatores locais da enfermidade. Sabe-se que muitas patolo- gias estão relacionadas com a presença de determinado patógeno, com al- terações moleculares e fisiopatológicas ou alguma condição do meio. No caso das infectocontagiosas, valoriza-se o grau de infectividade e de patogenicid- ade, que varia para cada agente externo e aquele, com altos índices nesses dois aspectos, contagiará muitas pessoas e grande parte delas manifestará os respectivos sinais mórbidos. Desse modo, um microrganismo com alta pato- genicidade, a exemplo do sarampo, tende a se manifestar em 99% das pes- soas suscetíveis que se expõem a esse vírus66. Comparativamente, o vírus da poliomielite mostra baixa patogenicidade já que apenas 0,5% dos suscetíveis expostos apresentam a doença. Acrescente-se também que a variação de infectividade às vezes de- pende da faixa etária, como na hepatite, em que a infecção crônica ocorre em mais de 95% das crianças infectadas ao nascimento, em 25 a 50% das cri- anças infectadas entre 1 e 5 anos de idade e menos de 5% no adulto. A visão homeopática valoriza mais o sujeito, restringindo nele, praticamente, toda a possibilidade de adoecer, inclusive nos transtornos infectocontagiosos. A homeopatia propõe que a enfermidade depende de uma susceti- bilidade pessoal e, sem esta, o fator extrínseco torna-se inócuo: a verdadeira causa da enfermidade está no próprio paciente. Existem alguns, em zonas ma- láricas, que estão livres de infecção... 65 33 Nesse enfoque, o meio ambiente só atua quando existe vulnerabilidade ou idiossincrasia, que significa disposição de temperamento do indivíduo que o faz reagir de maneira muito pessoal à ação dos agentes externos. Ao afirmar que sem vulnerabilidade do sujeito não há doença, caminha-se para o extremo de menosprezar a participação do meio ambiente na causalidade da patologia, considerando-o sempre subordinado à suscetibilidade individual. Contudo, im- porta admitir a existência de casos nos quais prepondera a predisposição e outros em que predomina o meio ambiente, sem esquecer aqueles em que ambos participam com cotas semelhantes. Focalizando a tendência individual para se manifestar determinado distúrbio, podemos classificá-la em discreta, moderada e intensa. O primeiro tipo dificilmente apresentará alterações de modo espontâneo, a não ser em presença de algum agente fortemente desencadeante. O ele- mento com propensão moderada tem maiores possibilidades de manifestar as perturbações decorrentes do contato, especialmente se o fator externo tiver média ou alta patogenicidade. Finalmente, o sujeito com predisposição intensa pode exteriorizar a moléstia, sob estimulação exterior débil ou ausente. Em relação ao último tipo, a Teoria do Caos em Epidemiologia — que deve merec- er a atenção do homeopata, ocupa-se com questões muito relevantes, por is- so, questiona-se como alguém pode explicar que a doença possa desenvolver livremente, sem influência do meio ambiente, uma vez iniciado, o processo patológico se desenrola como se as condições iniciais ou contextuais não tivessem impacto algum sobre a progressão da doença? Assim, é, portanto, necessário conciliar a predisposição e o meio, dando a cada um o seu peso. A valorização de ambos, idiossincrasia e ambiente, na gênese das enfermidades produz uma teoria ampla, capaz de responder satis- fatoriamente a uma gama de questões referentes ao tema. Ao se investigar a saúde ou eventual predisposição a qualquer patologia torna-se imprescindível verificar a trajetória de vida da pessoa, observando como reagiu ao impacto das experiências que ela própria classifica como difíceis. De acordo com as características do seu objeto de abordadem, a diag- nose em Homeopatia, requer uma compreensão mais ampla, e se refere ao modo de entender e interpretar o fenômeno do adoecimento dentro da reali- 34 dade específica de cada paciente, não se atendo, assim, apneas à classifi- cação nosológica de doenças. Assim, para entender a diagnose em Homeopatia, é necessário ressaltar a importância dos conceitos de sensibilidade e de suscetibilidade para a prática centrada na totalidade da pessoa doente, cujos critérios terapêuticos e de in- vestigação são baseados na individualização do paciente. Confirmando toda está ideia 70 discorre que toda e qualquer doença só poderia se instalar em um sujeito a ela predisposto, constituindo o mais im- portante dos momentos etiol´gicos observados na clínica e na anátomo patolo- gia. Portanto, em seu ponto de vista, a predisposição consiste na vulnerabi- lidade do organismo em geral, ou em qualquer de suas partes, a determinadas moléstias. Dentro da visão homeopática, tanto a suscetibilidade, como a sensi- bilidade, caracterizam-se como fenômenos não localizáveis, que se referem à totalidade do organismo e denotam a vulnerabilidade a que está exposto o pa- ciente. Desta forma, ao buscarmos apreender o complexo sintomatológico com vistas à investigação do processo de adoecimento, parace necessário reconhecer as interferênicas do ambiente cultural e social na conformação da identidade do enfermo e da singularidade da doença. Ou seja, contextualiza o paciente e sua doença do processo histórico em que ele foi constituído como sujeito. Quanto à seleção dos medicamentos o profissional deve seguir os baseiam-se, também, nos parâmentros acima descritos, que são os mais am- plos, à medida que levam em conta os sintomas físicos e mentais do paciente. 10. VANTAGENS DA HOMEOPATIA Após apresentar amplo material atualizado e rigorosamente analisado, sobre pesquisas básicas, ensaios clínicos e revisões da literatura, o dossiê in- diano conclui que o tratamento com medicamentos homeopáticos traz como vantagens: 35 (a) “(...) ser seguro, eficaz e baseado em substâncias naturais”; (b) por utilizar “(...) substâncias simples em microdoses, os medicamentos não estão associados com qualquer efeito tóxico e podem ser utilizado com segurança em mulheres grávidas, mães lactantes, lactentes e crianças e na população geriátrica”; (c) nas infecções, “pelo fato dos medicamentos homeopáticos não agirem diretamente sobre os microrganismos e sim sobre o sistema imune (autoprote- tor) para combater o processo da doença (...) não se conhece resistência mi- crobiana a homeopáticos”; (d) “o modo de administração de medicamentos homeopáticos é simples (...)”, não sendo utilizados “(...) métodos invasivos (...)” e, além disso, “(...) os medicamentos são altamente palatáveis, aumentando assim sua aceitação”; (e) “a falta de diagnóstico confirmado não representa um obstáculo para iniciar o tratamento com medicamentos homeopáticos”; (f) “a abordagem individualizada do tratamento está em consonância com a crescente tendência do tratamento preconizado na era moderna”; (g) “remédios homeopáticos não viciam: uma vez que o alívio ocorre, a pessoa doente pode facilmente parar de tomá-los”; e (h) “a relação custo-benefício do tratamento homeopático é comparativa- mente melhor do que a de outros sistemas terapêuticos”41. 11. EFEITO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO DOS MEDICAMENTOS HOME- OPÁTICOS As substâncias atuam nos organismos vivos produzindo uma per- turbação que denominamos de efeito primário, provocado diretamente por elas. Para o reestabelecimento do estado normal após essa perturbação, o organis- mo desenvolvereações, que denominamos de efeito secundário. O efeito secundário é oposto ao primário, pois é uma reação a ele. A utilização das doses mínimas em homeopatia tem por objetivo estimular o efeito secundário, oposto ao provocado pelo agente nocivo, possibilitando o reequilíbrio do organ- 36 ismo, sem os indesejáveis efeitos primários71. O efeito secundário depende de fatores próprios do indivíduo, como sua sensibilidade, mas está relacionado também à potência do medicamento que deverá ser adequada para estimular de modo apropriado a força vital (KOSSACKROMANACH,2003). 12. PRESCRIÇÕES HOMEOPÁTICAS Para esclarecer procedimentos e normas para a prescrição homeopáticas, as- sita o vídeo abaixo indicado, que lhe agregará mais conhecimento prático, quanto ao assunto. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Vídeo de apoio: HOMEOPATIA - O medicamento homeopático Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=cU7QizTXhJQ> Sinopse: O Dr. Moisés, nesta resportagem, no vídeo apresenta que o medicamento homeopático é receitado após uma consulta médica específica. Sendo assim, ele é único, para aquele quadro e para aquele momento (o simil- limum). Assim, o medicamento precisa ser manipulado por profissional far- macêutico habilitado a fabricá-lo, estocá-lo e dispensá-lo de forma adequada e que esteja apto a prestar. https://www.youtube.com/watch?v=cU7QizTXhJQ 37 13. REFERÊNCIAS 1. LUZ, H.S. O conselho de entidades formadoras de especialistas em Homeopatia, suas metas e perspectivas. Rev. Homeopat. 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