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Compendio_de_Medicina_Primeiro_Periodo p

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Dedicado a todos aqueles que 
ajudam a construir a história da 
melhor de minas. 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Compêndio para estudo prático e orientado do primeiro período do curso de Medicina da 
Universidade Estadual de Montes Claros 
 
 
Colaboradores: 
Jerson Antônio Leite 
Thiago Carvalho Pires 
Apoio: 
Associação Atlética Acadêmica Mário Ribeiro 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros 
2014 
 Sucesso! 
INTERPRETAÇÃO 
 RACIOCÍNIO TEORIA 
 
4 
 
 
 
 
Prefácio 
 
 Cidadão, primeiramente gostaria de parabeniza-lo pela magnífica conquista no vestibular 
mais concorrido do país e o consequente egresso numa das melhores faculdades de medicina do 
Brasil. Este compêndio especialmente feito para mentes habilidosas como a sua conta com a 
apresentação de fatos de arrebatadora inquietude que instigam seu aprendizado e o leva a tecer 
comentários mais críticos a respeito da medicina contemporânea. 
 Não raro também se encontra, pelos corredores do CCBS, cidadãos que utilizam desse 
recurso como mecanismo de ajuda nas tutorias. Sem dúvida, o “Compêndio de Medicina” é uma 
arma poderosa para esse fim, no entanto, deve servir como complemento e estar associado às 
demais formas de apreensão do conteúdo, bem como artigos e livros largamente utilizados como 
fontes de pesquisa e reconhecidamente marcantes na literatura científica. 
 A missão primordial desse livro é fazer com que você tenha uma nota satisfatória no 
Exame de Avaliação Cognitiva, no entanto, nossos objetivos se estendem à formação de um 
calouro realmente ativo no processo de ensino-aprendizagem, bem como um profissional 
humanizado e ciente da história pela qual seu curso passou até chegar aos dias atuais. Também 
é importante compreender as influências que a Medicina sofreu ao longo do tempo, as 
metodologias incrustadas nos currículos médicos e o modelo ético pertencente a essa profissão. 
 
 Silvio Tibo 
 
 
“Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. Toda a medicina 
provém de Deus. A ciência do médico o eleva em honra e ele é admirado na presença dos 
grandes” 
 Eclesiástico, 38 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
ÍNDICE 
 
Módulo 1 – Introdução ao Estudo da Medicina 
Problema 1: “Novos desafios”.........................................................................................................07 
Problema 2: “A Natureza do Homem”...........................................................................................10 
Problema 3: “O Modelo do Fracionamento”...................................................................................14 
Problema 4: “As Verdades Absolutas”..........................................................................................22 
Problema 5: “Comportamento de Risco e Cultura”........................................................................25 
Problema 6: “Diário de um Médico”................................................................................................28 
Problema 7: “Investigando uma Situação de Saúde”.....................................................................34 
Problema 8: “Dilemas da Prática Médica”......................................................................................43 
Questões – Introdução ao Estudo da Medicina.............................................................................47 
 
Módulo 2 – Concepção e Formação do Ser Humano
Problema 1: “Pátria que me Pariu”.................................................................................................51 
Problema 2: “Dança de Salão”.......................................................................................................53 
Problema 3: “Maluca por uma Gravidez”........................................................................................61 
Problema 4: “Eventos da Gravidez”...............................................................................................67 
Problema 5: “Diário de uma Gestação”..........................................................................................75 
Problema 6: “Diário de uma Gestação”..........................................................................................83 
Problema 7: “Menor que o Esperado”...........................................................................................87 
Problema 8: “Herança Genética”...................................................................................................90 
Problema 9: “Difícil Decisão”..........................................................................................................96 
Questões – Concepção e Formação do Ser Humano..................................................................102 
 
 
 
 
6 
 
 
Módulo 3 – Metabolismo 
Problema 1: “Dieta Preocupante”.................................................................................................105 
Problema 2: “Energia, Reserva e Uso” (Primeira Sessão)..........................................................144 
Problema 2: “Energia, Reserva e Uso” (Segunda Sessão)..........................................................185 
Problema 2: “Energia, Reserva e Uso” (Terceira Sessão)...........................................................210 
Problema 3: Sobre Metabolismo de Ácidos Graxos....................................................................226 
Problema 4: Sobre Aminoácidos e Ciclo da Ureia.......................................................................232 
Problema 5: O Etanol e Sua Absorção........................................................................................243 
Problema 6: Diabetes...................................................................................................................252 
Problema 7: Vitaminas.................................................................................................................257 
 
Considerações da A.A.A.M.R........................................................................................................265 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
Problema 1: “Novos Desafios” 
Ana Carolina, 18 anos, natural de Ponte Nova – MG é caloura do Curso Médico da 
Unimontes. Recém-chegada à cidade, para ela tudo é novidade: os colegas, os 
professores, o fato de estar morando longe da família. Mas o que mais a surpreende é a 
metodologia adotada pelo curso – PBL – do qual se dizia coisas antagônicas. Quais seriam 
os princípios deste método? O que é metodologia ativa de aprendizagem? Como é a 
dinâmica das sessões tutoriais? Qual o papel do estudante dentro do método? Ana 
Carolina tinha uma certeza: sempre teve o professor como referência e como fonte de 
informação, e desta forma ela conseguiu ser vitoriosa nos exames. Enfim, as coisas 
parecem estar indo muito bem assim. Como pode, portanto, a nova metodologia ser 
melhor que a tradicional? 
 Nesse primeiro problema, não elencaremos nenhum questionamento, afinal, eles já 
aparecem no próprio texto-problema. No entanto, a partir de leitura minuciosa é possível produzir 
alguns objetivos de aprendizagem, que são eles: 
 Estudar, pesquisar e compreender quais são os métodos ativos de aprendizagem. 
 Compreender a dinâmica das sessões tutoriais, suas vantagens e desvantagens. 
 Identificar o papel e a interação entre os atores no método PBL. 
 Pesquisar o histórico, embasamento filosófico, origens do método PBL e quais instituições 
adotam o método. 
 Cumprindo o que foi exposto pelo primeiro objetivo, podemos dividir as metodologias 
ativas de aprendizagem entre o Método da Problematização e o Método da Aprendizagem 
Baseada em Problemas (ABP ou PBL). Nas duas propostas, o ensino e a aprendizagem ocorrem 
a partir de problemas. Na ABP, o estudante deve adquirir a capacidade de gerenciar a 
autoaprendizagem. Os estudantes trabalhamem pequenos grupos sob a orientação de um tutor 
(docente) e aprendem trabalhando na solução de problemas elaborados com a finalidade de 
fornecer um contexto significativo para sua aprendizagem. 
 Na Problematização, professores e estudantes são mediatizados pela realidade que 
apreendem e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem a fim de atuarem nela e, assim, 
possibilitar a transformação social. Portanto, o que é aprendido não decorre da imposição ou da 
memorização, mas do nível crítico de conhecimento ao qual se chega pelo processo de 
compreensão, reflexão e crítica. 
 A Problematização é uma alternativa de metodologia de ensino, os problemas são 
extraídos da realidade pela observação realizada pelos alunos. Na Aprendizagem Baseada em 
Problemas, enquanto proposta curricular, os problemas de ensino são elaborados por uma 
equipe de especialistas para cobrir todos os conhecimentos essenciais do currículo. É preciso 
ficar atento a essa diferenciação entre um método e outro. 
 A primeira referência para essa metodologia da Problematização é o Método do Arco, de 
Charles Maguerez. Nesse esquema, constam cinco etapas que se desenvolvem a partir da 
realidade ou do recorte da realidade: Observação da realidade; Pontos-chave; Teorização; 
Hipóteses de Solução e Aplicação à realidade (prática). 
 Com relação ao Método da Problematização e o Método da Aprendizagem Baseada em 
Problemas, a primeira deve ser entendida como uma metodologia que pode ser utilizada para o 
 
8 
ensino de determinados temas de uma disciplina e nem sempre é apropriada para todos os 
conteúdos; a segunda trata-se de uma metodologia que passa a direcionar toda uma organização 
curricular. A primeira opção é uma opção do professor e a segunda é uma opção de todo um 
corpo docente, administrativo e acadêmico, já que as mudanças afetam a todos. 
 Ao contrário da Aprendizagem Baseada em Problemas, em que todos os objetivos 
cognitivos são previamente estabelecidos, na Metodologia da Problematização não há controle 
total dos resultados em termos de conhecimentos. Eles são buscados para responder ao 
problema em estudo, este entendido amplamente, considerando-se suas possíveis causas e 
determinantes, que em geral ultrapassam os aspectos técnico-científicos. 
 Na Aprendizagem Baseada em Problemas, as hipóteses são elaboradas pelos alunos 
sobre as possíveis explicações do problema antes de seu estudo, como uma forma de estimulá-
los a partir dos conhecimentos que já dispõem pelas experiências anteriores. Na 
Problematização, as hipóteses, porém, são formuladas após o estudo, quando já contando com 
informações científicas, técnicas, legais, históricas, empíricas ou outras, formulam as hipóteses 
de solução, que orientarão a intervenção na realidade da qual se extraiu os problemas. 
 Ambas as propostas incluem também o trabalho em grupo. Na Metodologia da 
Problematização, o grupo trabalha junto o tempo todo, com a supervisão de um professor. Na 
Aprendizagem Baseada em Problemas, o grupo inicia junto o conhecimento e discussão do 
problema e retorna depois para rediscussão no grupo tutorial, quando os estudos individuais já 
foram feitos. Professores especialistas podem ser consultados durante o estudo. 
 Abordado agora o segundo objetivo, temos ciência de que o grupo tutorial desenvolve suas 
atividades obedecendo a uma dinâmica própria, passando por oito passos, que consistem em: 1. 
Ler atentamente o problema e esclarecer os termos desconhecidos; 2. Identificar questões 
(problema) propostos pelo enunciado; 3. Oferecer explicações para estas questões com base no 
conhecimento prévio que o grupo tenha sobre o assunto (formulação de hipóteses); 4. Resumir 
estas explicações; 5. Estabelecer objetivos de aprendizagem que levem o estudante à 
comprovação, aprofundamento e complementação das explicações; 6. Estudar individualmente, 
respeitando os objetivos estabelecidos; 7. Rediscussão no grupo tutorial dos avanços do 
conhecimento obtidos pelo grupo; 8. Avaliação. 
 O PBL aumenta o senso de responsabilidade do estudante, pois ele precisa aprender por 
conta própria. Estimula a leitura, o emprego do raciocínio lógico e a discussão. Incita o estudante 
a investigar e a resolver problemas. Desenvolve a habilidade de se trabalhar em grupo. Permite o 
cruzamento de informações de diferentes disciplinas e especialidades, sem falar que promove o 
conhecimento de forma mais contextualizada e não apenas o entendimento do fato isolado. 
 O método do PBL oferece a desvantagem de ser mais caro, o que diminui os investimentos 
pessoais em professores, originando uma secundarização da docência, pois os docentes não 
encaram as aulas com o mesmo profissionalismo. Além disso, no PBL, os estudantes podem 
recorrer a fontes de pesquisa duvidosas, o que empobrece a discussão e torna o método um alvo 
de críticas, considerando-o até como uma metodologia superficial. 
 Atentando-nos ao terceiro objetivo, vamos observar que os atores do PBL são o tutor, o 
coordenador, o relator e os demais estudantes. É papel do tutor conhecer os objetivos e estrutura 
do módulo temático, ter sempre em mente que a metodologia PBL é centrada no estudante e não 
no professor, assumir a responsabilidade pedagógica no processo de aprendizagem, orientar na 
 
9 
escolha do coordenador em cada grupo tutorial, estimular a participação ativa de todos os 
estudantes do grupo, não ensinar ao estudante – ajuda-lo a aprender. 
 O coordenador deverá iniciar a atividade, deixando bem claros os objetivos do trabalho, 
manter sempre presente o objetivo da discussão e evitando que o grupo se encaminhe para rumo 
diferente do fim proposto. É também sua função obter participação de todos os membros a fim de 
que todos contribuam para a resolução do problema, não se esquecendo também do seu 
desempenho como membro sujeito às mesmas regras e coordenar a indicação do relator feita 
pelo grupo. 
 É papel do relator fazer anotações, expressando fielmente as conclusões do grupo, resumir 
e expressar ideias por escrito, expor de forma clara, sucinta e fiel as conclusões do grupo e 
responder questões com a cooperação do seu grupo. 
 Atentos agora ao quarto objetivo, salientando ainda que o embasamento filosófico de 
ensino centrado no estudante já foi discutido anteriormente, poderemos nos concentrar no 
histórico do método PBL, que surgiu no final da década de 60 nas faculdades de Medicina da 
Universidade de MacMaster no Canadá e Maastricht, na Holanda. No Brasil, algumas faculdades 
que adotam o PBL são: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Faculdade de Medicina de 
Marília (FAMEMA), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade Estadual de 
Montes Claros (UNIMONTES), entre várias outras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
Problema 2: “A Natureza do Homem” 
Cena 1: No templo de Asklépios, Grécia antiga, 600 a.C. 
É madrugada e vários corpos dormem sobre o chão. No altar estão as oferendas que os 
doentes trouxeram como pagamento. A porta lateral se abre e sacerdotes adentram o 
recinto, sendo seguidos por um homem que parece ser o mais importante do séquito. Traz 
enrolado no seu antebraço esquerdo, uma cobra, e um fumegante recipiente pende da sua 
mão direita. Eles dirigem-se lentamente a cada doente, param solenemente, cercando-os. O 
sumo sacerdote se abaixa, pergunta ao doente qual a sua queixa, profere algumas orações 
ininteligíveis, agita o recipiente impregnando de fumaça o queixoso e parte para o doente 
seguinte. Após percorrer toda a sala, a comitiva se retira, não sem antes recolher todas as 
oferendas. 
Cena 2: Escola de Cós, Grécia antiga, 400 a.C. 
Um homem jaz em uma pedra recoberta por uma lã de carneiro. Na sua cabeceira estão um 
ancião e dois jovens. O homem mais velho pergunta ao doente suas queixas, onde ele 
mora, como é o clima da sua região, qual é a sua dieta e a sua profissão e quando 
começaram os “ataques”.O doente está assustado e pergunta o que ele teria feito de 
errado para que os deuses o castigassem daquela forma. Hipócrates responde-lhe que os 
seus males não são devidos a castigos divinos, mas ao desequilíbrio natural entre quatro 
elementos chamados humores. Aos dois jovens, continua a falar sobre a nova teoria sobre 
o adoecer humano, preceituando, sobretudo sobre a ética na prática médica. 
 
 Nesse problema nós poderíamos nos questionar como foi a evolução da Medicina do mito 
para a razão, além de questionarmos sobre quem havia sido Hipócrates e como ele foi visto pela 
sociedade. Qual seria, ainda, a teoria dos quatro humores? Como era a ética médica segundo 
Hipócrates? Quais as contribuições de Hipócrates para a Medicina? Como foi a evolução do 
conceito de saúde da época de Hipócrates até hoje? 
 A leitura minuciosa do problema e atenção maior aos questionamentos apresentados 
permite que nós elenquemos algumas estratégias de busca de respostas e formulemos os 
seguintes objetivos desse estudo: 
 Pesquisar sobre Hipócrates: contribuições para Medicina; 
 Entender a evolução do conceito de saúde dos tempos anteriores a Hipócrates até os dias 
de hoje; 
 Compreender a evolução da prática médica mística para a natural/científica; 
 Pesquisar o modelo de ética médica na época de Hipócrates. 
 
 Iniciando o nosso estudo pelo primeiro objetivo, vamos nos atentar a um fato importante: 
a existência da coleção dos tratados médicos hipocráticos, que é uma realização coletiva, uma 
obra plural da qual se obteve grandes diferenças teóricas, suficiente para que se possa criar uma 
pluralidade de doutrinas que, interpretada e comentada, resultou na construção da Medicina 
ocidental. 
 
11 
 No período helenístico, na cidade de Alexandria, surgiram os primeiros comentários críticos 
à coleção hipocrática. A partir de então, o corpus hippocraticum serviu como modelo de atuação e 
também como modelo para erros a serem corrigidos. 
 É nesse contexto, em análise à obra hipocrática, que surge a separação entre dois adeptos 
da Medicina dogmática (acreditam que a teoria serve como ponto de partida do raciocínio) dos 
adeptos da Medicina empírica (sustentam que a experiência ou observação empírica é que 
servem como ponto de partida). 
 Após o período helenístico, a segunda e mais importante interpretação do legado 
hipocrático foi realizada pelo trabalho de Galeno, que além de comentar os trabalhos de 
Hipócrates, fez uma compilação dos comentários anteriores. Mas esse chamado hipocratismo 
galênico durou até o século XV, quando médicos e filósofos, influenciados por humanistas, 
passaram a exigir obras “puras”, livres de interpretação. 
 A maior parte dos tratados da coleção hipocrática, que agrupam aqueles considerados 
fundamentais para o pensamento médico que compôs a tradição futura, surgiu entre os anos 420 
a.C. e 350 a.C., embora alguns sejam bem anteriores e outros bem posteriores. A “questão 
hipocrática”, ou seja, a discussão de quais tratados teriam, de fato, sido escritos por Hipócrates 
não está resolvida. 
 Os tratados hipocráticos foram, muito provavelmente, utilizados como material de ensino e 
orientação prática e teórica, numa época em que a literatura científica começou a substituir o 
ensino oral. Hipócrates provoca, portanto, uma ruptura na forma como a Medicina era ensinada. 
 Curiosidades: 
 Hipócrates pertenceu a escola de Cós, pois sua família descendia diretamente dos 
asclepíades de Cós; 
 Quando o médico pretendia estabelecer-se numa cidade para clinicar, o nome do professor 
era a única exigência solicitada pela assembleia para a comprovação da formação médica; 
 Por pertencer a uma família de origem aristocrática Hipócrates recebeu, antes da formação 
médica, a educação formal grega; 
 Na época de Hipócrates o ensino e a prática da Medicina não eram regulamentados, era 
uma época em que o médico, para estabelecer-se numa cidade, precisava convencer a 
população a contratá-lo. 
 
 Sem esquecer as diferenças doutrinárias, a pluralidade de autores e a cronologia que se 
estende do século V a.C. ao período greco-romano, é possível retirar desse conjunto de escritos 
os conceitos fundamentais gerais que forneceram os instrumentos teóricos e práticos para a 
atuação médica, tais como o conhecimento da natureza do corpo e de suas alterações na 
doença, a maneira de reconhecer e trata-las, a identificação das suas causas, a formação ideal 
(moral e intelectual) do médico e sua conduta no atendimento clínico e, por fim, o domínio dos 
instrumentos e das técnicas de intervenção dos casos cirúrgicos e ortopédicos, conhecimento 
mais do que essencial numa época de atletas e esportistas contumazes. 
 
 
 
12 
 
 
Teoria dos Quatro Humores 
Nos tratados “Sobre a natureza do homem e dos humores”, a doutrina humoral é sistematizada 
com maior clareza. Os elementos primários constituintes do corpo são a água, o fogo, o ar e a 
terra. Tais elementos geram as qualidades que, organizadas em pares, dão origem aos quatro 
humores (chymós). As doenças dependerão, em sua maioria, de uma discrasia ou desequilíbrio 
entre a composição natural de tais humores. 
 ELEMENTOS QUALIDADES HUMORES 
 Ar Quente e Úmido Sangue 
 Fogo Quente e Seco Bile Amarela 
 Terra Fria e Seca Bile Negra 
 Água Fria e Úmida Fleugma/Pituíta 
 
 A dynamis, uma propriedade da physis, serviu como plano de fundo para a teoria humoral, 
uma vez que cada humor resulta na interação de tais dynameis ou virtudes operativas. 
 Após compreender as contribuições de Hipócrates para a Medicina, passemos para a 
busca do entendimento da evolução do conceito de saúde dos tempos anteriores a Hipócrates até 
os dias de hoje, que se trata do segundo objetivo do problema. 
 O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja, 
saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da 
classe social. Dependerá de calores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, 
filosóficas. 
 A Medicina grega representa uma importante inflexão na maneira de encarar a doença. É 
verdade que, na mitologia grega, várias divindades estavam vinvuladas à saúde. Os gregos 
cultuavam, além da divindade da Medicina, Ausclépius ou Esculapios, duas outras deusas, 
Higiéia, a Saúde, e Panaceia, a Cura, filhas do deus Ausclépius. 
 Essa visão religiosa antecipa a entrada em cena de um importante personagem: o pai da 
Medicina, Hipócrates de Cós (460 – 377 a.C.), que tinha uma cisão racional da Medicina, bem 
diferente da concepção mágico-religiosa antes descrita. A definição de saúde, para Hipócrates, 
estava intimamente relacionada ao equilíbrio dos humores. 
 No oriente, a concepção de saúde e de doença seguia e segue um caminho diferente, mas 
de certa forma análogo ao da concepção hipocrática. Fala-se de forças vitais que existem no 
corpo: quando funcionam de forma harmoniosa, há saúde; caso contrário, sobrevém a doença. 
 Na Idade Média europeia, a influência da religião cristã manteve a concepção da doença 
como resultado do pecado e a cura como questão de fé; o cuidado de doentes estava, em boa 
parte, entregue a ordens religiosas, que administram inclusive o hospital. 
 No século XVII, o desenvolvimento da mecânica influenciou as ideias de René Descartes. 
Ele postulava um dualismo mente-corpo, o corpo funcionando como uma máquina. Ao mesmo 
tempo, o desenvolvimento da anatomia, também consequência da modernidade, afastou a 
 
13 
concepção humoral da doença, que passou a ser localizada nos órgãos. No famoso conceito de 
François Xavier Bichat, saúde seria o “silêncio dos órgãos”. 
 Segundo definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um estado de 
completo bem-estar físico, mental e social, e não de mera ausência de doença ou invalidez.Com 
esta definição, a OMS ampliou a noção tradicional de saúde, incorporando outros elementos para 
a conceituação de uma situação que depende não só da higidez biológica, mas também de um 
estado psíquico de equilíbrio e das relações com o indivíduo. Trata-se da definição atual para o 
complexo saúde-doença. 
 Agora trataremos do terceiro objetivo, que discute a evolução da prática médica mística 
para a natural/científica, evolução essa que já foi discutida dentro das contribuições de Hipócrates 
para a Medicina. 
 A ideia da natureza do corpo ou da physis é a base da Medicina hipocrática. A physis é o 
princípio formador do corpo, regendo as funções normais do organismo e o harmonizando, mas a 
physis também rege a doença e os seus sintomas e é por esse motivo que a doença era para o 
modelo hipocrático como um fato natural e não sagrado. Aquilo que ocorre por necessidade ou 
fatalidade divina não permite a ação ou intervenção humana. Já aquilo que ocorre acidentalmente 
pode ser evitado e suprimido por uma techné, tal como a Medicina. 
 Por fim, tratando do quarto objetivo, vamos destacar o modelo da ética médica na época 
de Hipócrates. O entendimento da ética médica pode ser dividido em quatro períodos: tempo da 
religiosidade, tempo dos filósofos, era monástica e predomínio laico. 
 Nos povos pré-históricos e entre aqueles que viveram nos primeiros séculos da 
Antiguidade a prática da Medicina e a religião estavam tão entrelaçados que os valores religiosos 
tinham predominância sobre os valores morais propriamente médicos. Há que se lembrar de que 
nessas antigas sociedades a prática médica era, normalmente, conduzida por sacerdotes, cujo 
poder para efetivar a cura somava aos seu conhecimentos terrenos a capacidade de auferir o 
beneplácito da divindade. 
 No tempo dos filósofos, que é aquele que nos interessa, se dá ênfase no juramento 
hipocrático, o mais antigo código de ética médica conhecido. Possuía em sua parte inicial uma 
invocação aos deuses, o que permite coloca-lo como produto de sua época histórica, na qual a 
Medicina ainda não era considerada atividade essencialmente laica. O restante do juramento é 
composto por deveres gerais do médico para com a sociedade e constituído de proibições com 
uma única afirmação: conservarei pura e santa a minha vida e minha arte. Tal imperativo exige 
mais do médico do que da média dos cidadãos e demais profissionais. 
 Consciente do caráter social da Medicina, Platão via os aspectos éticos inerentes à 
profissão, que transmitiu em trechos como: nenhum médico, exercendo o seu ofício, considera 
preferencialmente o seu bem no que prescreve, mas o do paciente; para o médico verdadeiro é 
também uma regra ter o corpo humano como sujeito e não como meio de ganhar dinheiro, 
pensamento que era compartilhado com Aristóteles. 
 
 
 
 
14 
Problema 3: “O Modelo do Fracionamento” 
Suzana, bancária, 33 anos, apresenta uma série de sintomas inespecíficos, tais como: 
cansaço, mal estar, palpitações e tristeza. Procura um cardiologista, que após realizações 
de exames, informa-lhe que do ponto de vista “cardiológico” não apresenta nenhuma 
alteração e a encaminha ao endocrinologista, devido a ligeira alteração no seu exame de 
glicose. A mesma situação ocorre durante a sua passagem pelo endocrinologista, que a 
encaminha ao reumatologista devido sutil alteração em outro exame específico. O 
reumatologista após avaliação clínica e laboratorial, a encaminha ao pneumologista, pois o 
problema de Suzana não era “reumatológico”. 
Nesta peregrinação, Suzana teve um sonho: encontra-se num labirinto que possui várias 
salas pequenas, cada uma delas com uma mesa e duas cadeiras. Sentado numa delas está 
um médico e a outra está vazia. A todos aos que encontra na sala ela pergunta a mesma 
coisa: por que a Medicina não a avalia de uma maneira integral, por que tantas 
especialidades? Ela só obtém uma resposta dos médicos: René Descartes! 
 Com relação a esse problema, podem ser levantados os seguintes questionamentos: 
Quem desenvolveu o modelo filosófico que se associa a prática hegemônica fracionada da 
Medicina? De onde surgiu a necessidade das especializações e quais são suas vantagens e 
desvantagens? Como se estabelece o relacionamento médico-paciente nesse contexto? Quais os 
tipos de especialização? Quais os tipos de modelo médico? 
 Diante dos questionamentos apresentados, podemos formular os seguintes objetivos de 
aprendizado: 
 Compreender os modelos filosóficos da prática médica; 
 Pesquisar o fracionamento da Medicina evidenciado nas especialidades médicas; 
 Identificar conceitos do paradigma cartesiano. 
 Com relação ao primeiro objetivo, pode-se fazer uma divisão sistemática dos modelos 
explicativos do processo saúde-doença. O primeiro a ser citado nesse histórico é o modelo da 
Medicina mágico-religiosa, predominante na antiguidade, se inseria em um contexto religioso-
mitológico no qual o adoecer era resultante de transgressões de natureza individual ou coletiva, 
sendo requerido para reatar o enlace com as divindades, o exercício de rituais que assumiam as 
mais diversas feições, conforme a cultura local, liderados pelos feiticeiros, sacerdotes ou xamãs. 
 Avanço significativo no pensamento médico ocorre quando se dá um desvio do foco de 
interesse das forças sobrenaturais para o portador da doença, passando a mesma, 
gradativamente, a ser vista como um fenômeno natural, passível de ser compreendido e liberado 
da intromissão de forças divinas ou malévolas. Esse novo enfoque, que poderia ser designado 
como medicina racional teve seus primórdios no Egito (papiros com fragmentos de textos 
médicos datam de três mil anos antes de Cristo). No ocidente, a aproximação da causalidade 
não-sobrenatural foi feita com os filósofos da Grécia Clássica. 
 O alquimista Paracelso (1493-1541) contribuiu significativamente para romper com esse 
modelo médico e estabelecer uma transição entre a escola galênica que sustentava o empirismo 
e as teorias hipocráticas, como a dos humores, e o modelo biomédico. Ele se opunha vivamente 
às ideias do passado. 
 
15 
 O modelo biomédico ou mecanicista, hoje predominante, tem suas raízes históricas 
vinculadas ao contexto do Renascimento e de toda a revolução artístico-cultural que ocorre nessa 
época, associada, igualmente, ao projeto expansionista das duas metrópoles de então – Portugal 
e Espanha. Como precursores significativos das mudanças radicais de ordem técnico-científica 
ocorridas a partir do século XV hão de ser citadas as contribuições dos astrônomos, 
particularmente Copérnico e Galileu e, mais adiante, Kepler. 
 Temos ainda a contribuição marcante de Descartes, que será tratada em um objetivo 
específico, e a contribuição de Isaac Newton, a quem coube a criação de teorias matemáticas 
que confirmaram a visão cartesiana do corpo e do mundo como uma grande máquina a serem 
explorados. 
 O modelo biomédico, inspirado na visão mecanicista do ser humano, considera que saúde 
é mera ausência de doença e que, como uma máquina, se uma das peças se “avaria”, há que se 
centrar na sua reparação. De acordo com esta perspectiva, o indivíduo tem um papel passivo no 
controle do seu bem-estar, limitando-se a procurar um técnico que imediatamente se 
responsabiliza pela “cura” dos aspectos biológicos da sua saúde, através da cirurgia ou de 
fármacos. 
 Se este modelo respondeu bem às necessidades numa época em que havia um 
predomínio de mortes por causas infecciosas, quando a evolução da ciência encontrou soluções 
para muitas doenças agudas, diversas questões foram levantadas. Surgiu, assim, outro modelo, 
neste caso o modelo biopsicossocial. Trata-se de uma perspectiva que dá importância já não 
só aos aspectos biológicos da saúde humana, mas também a aspectos psicológicos e sociais. 
 Atentos ao segundo objetivo, é importante comentar que o entendimento do corpo humano 
como uma máuina, a partirdos preceitos cartesianos evidenciados no “Discurso do Método”, 
passou a exigir uma divisão do corpo, a máquina, em várias partes, peças, e buscar especialistas 
em cada uma delas. Daí surge pelo modelo biomédico o fracionamento da Medicina. 
ANEXO 1: Relação das Especialidades Médicas da resolução do Conselho Federal de Medicina 
de 2012. 
 RELAÇÃO DAS ESPECIALIDADES RECONHECIDAS 
1. Acupuntura 
2. Alergia e Imunologia 
3. Anestesiologia 
4. Angiologia 
5. Cancerologia 
6. Cardiologia 
7. Cirurgia Cardiovascular 
8. Cirurgia da Mão 
9. Cirurgia de Cabeça e Pescoço 
 
16 
10. Cirurgia do Aparelho Digestivo 
11. Cirurgia Geral 
12. Cirurgia Pediátrica 
13. Cirurgia Plástica 
14. Cirurgia Torácica 
15. Cirurgia Vascular 
16. Clínica Médica 
17. Coloproctologia 
18. Dermatologia 
19. Endocrinologia e Metabologia 
20. Endoscopia 
21. Gastroenterologia 
22. Genética Médica 
23. Geriatria 
24. Ginecologia e Obstetrícia 
25. Hematologia e Hemoterapia 
26. Homeopatia 
27. Infectologia 
28. Mastologia 
29. Medicina de Família e Comunidade 
30. Medicina do Trabalho 
31. Medicina de Tráfego 
32. Medicina Esportiva 
33. Medicina Física e Reabilitação 
34. Medicina Intensiva 
35. Medicina Legal e Perícia Médica 
36. Medicina Nuclear 
37. Medicina Preventiva e Social 
38. Nefrologia 
 
17 
39. Neurocirurgia 
40. Neurologia 
41. Nutrologia 
42. Oftalmologia 
43. Ortopedia e Traumatologia 
44. Otorrinolaringologia 
45. Patologia 
46. Patologia Clínica/Medicina Laboratorial 
47. Pediatria 
48. Pneumologia 
49. Psiquiatria 
50. Radiologia e Diagnóstico por Imagem 
51. Radioterapia 
52. Reumatologia 
53. Urologia 
 
ANEXO 2: Relação das Áreas de Atuação Reconhecidas da resolução do Conselho Federal de 
Medicina de 2012. 
 
RELAÇÃO DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO RECONHECIDAS 
1. Administração em Saúde 
2. Alergia e Imunologia Pediátrica 
3. Angiorradiologia e Cirurgia Endovascular 
4. Atendimento ao Queimado 
5. Cardiologia Pediátrica 
6. Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial 
7. Cirurgia do Trauma 
8. Cirurgia Videolaparoscópica 
9. Citopatologia 
10. Densitometria Óssea 
 
18 
11. Dor 
12. Ecocardiografia 
13. Ecografia Vascular com Doppler 
14. Eletrofisiologia Clínica Invasiva 
15. Endocrinologia Pediátrica 
16. Endoscopia Digestiva 
17. Endoscopia Ginecológica 
18. Endoscopia Respiratória 
19. Ergometria 
20. Foniatria 
21. Gastroenterologia Pediátrica 
22. Hansenologia 
23. Hematologia e Hemoterapia Pediátrica 
24. Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista 
25. Hepatologia 
26. Infectologia Hospitalar 
27. Infectologia Pediátrica 
28. Mamografia 
29. Medicina de Urgência 
30. Medicina do Adolescente 
31. Medicina do Sono 
32. Medicina Fetal 
33. Medicina Intensiva Pediátrica 
34. Medicina Paliativa 
35. Medicina Tropical 
36. Nefrologia Pediátrica 
37. Neonatologia 
38. Neurofisiologia Clínica 
39. Neurologia Pediátrica 
 
19 
40. Neurorradiologia 
41. Nutrição Parenteral e Enteral 
42. Nutrição Parenteral e Enteral Pediátrica 
43. Nutrologia Pediátrica 
44. Pneumologia Pediátrica 
45. Psicogeriatria 
46. Psicoterapia 
47. Psiquiatria da Infância e Adolescência 
48. Psiquiatria Forense 
49. Radiologia Intervencionista e Angiorradiologia 
50. Reumatologia Pediátrica 
51. Sexologia 
52. Toxicologia Médica 
53.Transplante de Medula Óssea 
54. Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia 
 No total, são mais de 50 especialidades médicas distribuídas em mais de 50 áreas de 
atuação, segundo resolução CFM Nº 2.005/2012. 
 Fazendo a identificação de conceitos do paradigma cartesiano no modelo mecanicista 
fracionado, portanto, cumprindo o terceiro objetivo, veremos que o papel de René 
Descartes(1596-1650) para a filosofia e a matemática é tão decisivo que, muitas vezes, é 
relegado para segundo plano o facto de também ser médico e se ter interessado bastante pela 
Medicina. Descartes chegou mesmo a abordar esta ciência à luz do seu novo método num dos 
seis capítulos de sua célebre obra “Discurso do Método”, tendo apresentado explicações, em 
particular, para o funcionamento do coração humano, bem como para a circulação do sangue. 
 Descartes resume a Lógica e enumera apenas quatro regras, quatro passos a serem 
dados no caminho de seu método: 
 
“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse 
evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção. E de 
nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito, 
que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida”. 
 
“O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas 
quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las”. 
 
 
20 
“O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples 
e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos 
mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns 
aos outros”. 
 
“E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu 
tivesse a certeza de nada omitir”. 
 
RELATÓRIO DE FLEXNER 
 Às vésperas de completar cem anos de publicação, o Relatório Flexner e a figura de seu 
autor são, até hoje, foco de debates e polêmica. Aqui será discutido os aportes de Abraham 
Flexner para a educação médica a partir da publicação de seu relatório, em 1910. 
As profundas mudanças que aconteceram em diferentes áreas do conhecimento nas 
últimas décadas provocaram grande impacto sobre as estratégias de ensino-aprendizagem e os 
processos de produção, desenvolvimento e distribuição do conhecimento. 
 As neurociências e a psicologia cognitiva desvendaram grande parte dos processos por 
meio dos quais aprendemos. Demonstraram, por exemplo, que fatos e conceitos são mais 
facilmente recordados e mobilizados quando ensinados, praticados e avaliados no contexto em 
que são usados. Isto exige a reconfiguração das situações e ambientes de ensino-aprendizagem 
disponibilizados para os estudantes em sua formação 
 O aumento incontrolável e incontornável do volume e a grande transitoriedade da base de 
conhecimentos necessários à prática de uma profissão, a médica em particular, exigem que a 
capacidade para aprender durante toda a vida – aprender a aprender – seja desenvolvida desde 
o processo de graduação. 
A distribuição do cuidado da saúde também sofreu modificações importantes. O acesso à 
saúde das pessoas e comunidades é considerado hoje um direito social. Isto, ao lado do maior 
acesso às informações em saúde e da conscientização das pessoas, mudou as expectativas e 
exigências da população quanto às condições de oferta dos serviços e trouxe modificações 
importantes nas relações entre o médico e seu(s) paciente(s). 
A mudança do perfil epidemiológico da população, com o grande predomínio das doenças 
crônico-degenerativas, também exigiu um reordenamento das ações e estratégias na saúde, com 
sérias implicações na formação dos profissionais. Cada vez mais, o trabalho multiprofissional e os 
conhecimentos interdisciplinares se fazem necessários para enfrentar as complexas 
necessidades de saúde das pessoas e comunidades. Os conhecimentos e práticas da saúde 
coletiva, o entendimento e a participação na construção das políticas públicas e na organização 
dos serviços de saúde tornam-se competências necessárias e imprescindíveis ao desempenho 
dos profissionais da saúde. 
Nesses novos contextos, aumentam muito as dificuldades de integrar os conhecimentos, 
as habilidades e as atitudes dos profissionais em formação, com o intuito de desenvolver a 
competência necessária para dar conta das demandas da saúde em nossos dias. 
 
21 
Os desenhos curriculares tradicionais, nesses novos contextos, precisam ser 
completamente redesenhados.Os cenários e as estratégias de ensino-aprendizagem necessitam 
ser repensados e reestruturados, e o processo de avaliação da aprendizagem deve sofrer uma 
total ressignificação. A certificação e a acreditação das escolas médicas também estão sofrendo 
grandes modificações. 
As críticas ao modelo ainda hegemônico da educação médica, o modelo proposto por 
Flexner há quase cem anos, estão finalmente sendo seriamente consideradas. 
Independentemente dos interesses e motivações envolvidos, abre-se a oportunidade de 
considerar novas e antigas questões relacionadas à educação médica, mas que envolvem 
fundamentalmente questões muito mais amplas, como as concepções de saúde-doença, os 
modelos de atenção em saúde e as políticas públicas para o setor, entre outras. A participação de 
amplos setores neste processo – profissionais, estudantes, instituições representativas da 
categoria, instâncias reguladoras e o controle social – pode garantir que as transformações, de 
fato, contribuam para a formação de médicos que desempenhem suas atividades profissionais 
considerando as multidimensões das pessoas que necessitam de cuidados de saúde e 
desenvolvam suas ações abordando toda a amplitude do processo da saúde e da doença e seus 
determinantes. 
O modelo flexneriano prevalente ainda hoje foi feito a partir do seu estudo em mais de 150 
escolas de Medicina do Canadá e dos Estados Unidos durante o período de seis meses. Essa 
pesquisa demorada foi financiada pelo magnata Rockfeller e por indústrias farmacêuticas. A 
pesquisa e suas conclusões propuseram uma mudança de pensamento em relação à Medicina, 
bem como o estabelecimento de profunda reforma nas escolas norte-americanas, buscando 
maior excelência nas instituições, pautada no princípio da racionalidade científica. As escolas 
médicas, antes autônomas, passariam a ser integradas às universidades e haveria a 
implementação da experimentação e práticas clínicas já observadas em escolas médicas da 
Alemanha e França. Flexner propunha ainda um aumento na carga horária e nas disciplinas do 
currículo médico, que para ele ainda era insuficiente. 
O aumento indiscriminado de escolas médicas despreparadas e a formação de 
profissionais desqualificados foram as causas da busca por essa pesquisa. Flexner se apoia no 
estudo médico centrado na doença de forma individual e concreta. O social, o coletivo, o público e 
a comunidade não eram levados em conta no processo de saúde e doença, o que implica numa 
grande aproximação e influência ao modelo biomédico. 
Enquanto por um lado o trabalho de Flexner permitiu reorganizar e regulamentar o 
funcionamento das escolas médicas, por outro desencadeou um processo terrível de extirpação 
de todas as propostas de atenção em saúde de maneira não só biológica, mas também 
psicológica e social. 
 
 
 
 
 
 
22 
Problema 4: “As verdades absolutas” 
Angélica, 23 anos, estudante, mora em um bairro próximo ao Distrito Industrial de Montes 
Claros e apresenta quadro alérgico. Após tratamento convencional com diversos 
antialérgicos, apresenta melhora parcial dos seus sintomas. Um colega de trabalho chama-
lhe a atenção que seu problema surgiu após a morte da sua mãe e sugere-lhe outras 
abordagens médicas como homeopatia, psicanálise ou uma prática que siga o modelo 
biopsicossocial. Angélica, procurando se informar pela internet, percebe diferenças 
significativas nas explicações e nas abordagens destas outras racionalidades ao adoecer 
humano, em comparação ao que antes experimentara. Nota, inclusive, que os médicos que 
a tratavam e as pessoas em geral têm opiniões distintas sobre estes outros métodos: uns 
desacreditam, outros aconselham, a maioria desconhece. 
 Com relação a esse problema, podem ser feitos os seguintes questionamentos: Quais são 
os campos de atuação da Medicina complementar? Quais as outras racionalidades médicas 
alternativas que contrapõem o modelo biomédico? Em que contexto surgiu a homeopatia? O que 
é homeopatia e psicanálise? Qual a relação entre holismo e homeopatia? Quais são os 
resultados efetivos da Medicina alternativa? É possível uma convivência harmoniosa entre a 
Medicina alternativa e a tradicional? 
 A partir desses questionamentos, é possível elencar como objetivos os seguintes 
comandos: 
 Compreender o que é a medicina complementar, com ênfase em Homeopatia e 
Psicanálise; 
 Pesquisar a origem, a prática, embasamento filosófico, os resultados e o conceito de 
saúde relacionado a cada racionalidade citada no objetivo 1; 
 Identificar a interação entre as Medicinas alternativas e sua relação com o modelo 
biomédico e com o biopsicossocial. 
 Iniciando a discussão pelo primeiro objetivo, verificaremos que na maior parte das 
sociedades, as pessoas que sofrem de algum desconforto físico ou abalo emocional têm várias 
maneiras de se auto-ajudar ou buscar ajuda de outros. Quanto maior e mais complexa a 
sociedade na qual o indivíduo vive, maior a probabilidade da disponibilidade dessas alternativas 
terapêuticas. Além deste sistema médico “oficial” que conhecemos e que inclui a profissão de 
médico e enfermeiro, geralmente coexistem sistemas menores, alternativos, também 
denominados de subculturas médicas. 
 Analisando qualquer sociedade complexa, é possível identificar três alternativas de 
assistência a saúde, sobrepostos entre si: a informal, a popular e a profissional. A alternativa 
informal é o campo leigo, não-profissional e não-especializado da sociedade, em que as pessoas 
recorrem sem pagamentos e sem consulta de médicos. Dentre as alternativas consideradas 
informais estão o autotratamento ou automedicação, conselho ou tratamento recomendado por 
um parente, amigo, vizinho ou colega de trabalho. Há estimativas de que cerca de 70% a 90% 
dos tratamentos de saúde ocorrem informalmente. 
 A alternativa popular é especialmente ampla em sociedades nã-ocidentais, nela 
determinados indivíduos tornam-se especialistas em métodos de cura, que podem ser sagrados, 
seculares ou uma combinação de ambos. Esses curandeiros não fazem parte do sistema médico 
 
23 
“oficial” e ocupam uma posição intermediária entre a alternativa informal e a profissional. Como 
exemplos temos as parteiras, extratores de dentes, curandeiros espirituais, etc. 
 Por último e não menos importante está o setor profissional, alternativa que compreende 
as profissões sindicalizadas e sancionadas legalmente, como a Medicina científica ocidental ou 
alopatia, bem como suas respectivas especialidades e, entre elas, se encontra a Homeopatia e a 
Acupuntura. No mesmo setor encontra-se também a Psicanálise, embora esta não seja uma 
especialidade, mas um campo clínico. 
 Vamos nos concentrar agora na origem, a prática, o embasamento filosófico, os resultados 
e o conceito de saúde relacionado à Homeopatia e a Psicanálise, caracterizando o cumprimento 
do segundo objetivo. 
 A Homeopatia surgiu no fim do século XVIII, início do século XIX com seu fundador Samuel 
Hahnemann (1755-1843). Trata-se de um sistema terapêutico que utiliza os quatro seguintes 
fundamentos: 
1. Lei dos semelhantes = Segundo essa lei, as substâncias existentes na natureza (de origem 
mineral, vegetal e animal) têm a potencialidade de curar os mesmos sintomas que são 
capazes de produzir. 
 
2. Experimentação no homem são = As experiências com substâncias preparadas 
homeopaticamente devem ser realizadas em homens sãos para que possam ser usados 
para curar homens doentes. As experiências são realizadas pela administração de uma 
determinada substância em um grupo de experimentadores saudáveis e depois se observa 
o aparecimento de sintomas e sensações decorrentes dessa administração. Os resultados 
são coletados e compõem o que chamamos de Patogenesias do medicamento em 
questão. 
 
Obs.: Patogenesia é o conjunto de sinais e sintomas que um organismo sadio apresenta 
ao experimentar determinada substância medicinal. 
 
Éesse conjunto que o médico homeopata recorre a fim de encontrar o medicamento ideal 
para o caso, o chamado medicamento Simillimum. 
 
3. Doses mínimas e dinamizadas = Hahnemann observou que à medida em que o 
medicamento ia sendo diluído, mais energia as substâncias pareciam desprender pelo 
processo de agitação. Não era a quantidade de substância que importava, ao contrário, 
quanto menor a quantidade/presença e quanto mais agitado era a diluição, maior o 
potencial de energia curativa possuíam. 
 
4. Medicamento Único = Hahnemann recomendava o uso de apenas um medicamento de 
cada vez, ou seja, o mediamento que contivesse o maior número de sintomas que o 
paciente apresenta. Existem divergências, como em todas as especialidades médicas e 
em todas as áreas do conhecimento humano. Temos basicamente duas tendências: a 
UNICISTA, que usa apenas um medicamento para tratar todos os sintomas de um 
determinado paciente, e a PLURALISTA, que usa vários medicamentos, um para cada 
grupo de sintomas do paciente, como é feito na Alopatia. 
 
24 
 
 Para a Homeopatia, todos os seres vivos apresentam uma espécie de “força 
organizadora” que ajuda a manter os vários tipos de organismos em estado mais ou menos 
saudável (mantém nossa saúde em dia). Podemos chama-la, também, de “força vital” ou princípio 
vital. A perturbação desta força estabilizadora pode ter como consequência a primeira etapa de 
um mal estar. 
 A Homeopatia considera a doença uma desarmonia que precede à alteração em toda parte 
no seu organismo. A força vital, perturbada por tal anormalidade, fornece ao organismo as 
sensações desagradáveis. 
 Os resultados clínicos são a propaganda principal da Homeopatia, responsável pelo seu 
crescimento no mundo e constatado pela própria Organização Mundial da Saúde, em seus 
sucessivos relatórios dos últimos anos. Vale ressaltar que uma parcela expressiva destes 
pacientes percorrem previamente outros caminhos de tratamentos, e poderiam bem ter obtido 
resultados de efeito placebo com qualquer outra técnica ou por simples sugestão. É importante 
salientar que a OMS, além de constatar o crescimento do uso da Homeopatia nos diversos 
continentes, vem também adotando como estratégia o incentivo aos demais países. 
 Olhando para os resultados já obtidos e verificados, podemos afirmar que o método 
homeopático tem o direito de ser utilizado na Medicina do século XXI. A pesquisa revela 
importante melhora clínica em 70% dos pacientes. Em certas condições patológicas específicas, 
a eficácia da Homeopatia obteve uma elevada razão de significação estatística. 
 Falaremos agora da Psicanálise, uma área independente do conhecimento ligada a 
Psicologia. Não se trata de um ramo da Medicina, pois se abstém de agir no organismo tanto por 
exames quanto pelo uso de medicação. A palavra, unicamente a palavra, é o meio pelo qual a 
Psicanálise age. 
 A Psicanálise nasceu na Áustria e teve como grande criador Sigmund Freud (1856-1939), 
que era médico em Viena e fundamenta a Psicanálise na prática médica, recuperando para a 
psicologia a importância da afetividade. O objeto de estudo da Psicanálise é o inconsciente, o que 
quebra com a tradição da psicologia como ciência do consciente e da razão. 
 A Psicanálise utiliza-se da interpretação para buscar o significado oculto das coisas. Seu 
método de investigação consiste em buscar o significado inconsciente das palavras, ações e 
produções imaginárias de um indivíduo. 
 Freud insiste na ideia de que a pulsão é um “representante” daquilo que ele chama de 
“força”, pois ela mantém em vida e em funcionamento o organismo e o psiquismo numa perfeita 
unidade, assim como a “força vital” na Homeopatia de Hahnemann. 
 Dois pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Hamburg-Eppendorf conduziram 
uma meta-análise sobre a perspicácia da Psicanálise. A psicoterapia psicanalítica mostrou-se 
duas vezes mais eficaz que as demais terapias no geral. Quase quatro vezes mais eficaz para 
problemas funcionais de personalidade e largamente mais eficaz para problemas relativos a 
funcionamento social e transtornos mais complexos. 
 
 
25 
Problema 5: “Comportamento de Risco e Cultura” 
Em pesquisa antropológica realizada na cidade de Santos, litoral de São Paulo, com 
um grupo de mulheres que, embora fossem informadas sobre os perigos a que estavam 
expostas, bem como sobre as formas de prevenção de Doenças Sexualmente 
Transmissíveis (DST) e de HIV/AIDS, continuavam se contaminando. 
De diferentes maneiras, essas mulheres, sabiam da possibilidade do parceiro estar 
contaminado, seja pelo conhecimento do uso de drogas injetáveis, por avisos de familiares 
e conhecidos, ou por desconfiarem dos companheiros terem práticas de risco para 
contaminação pelo HIV. Contudo, não exigiam o uso da camisinha e não questionavam tais 
práticas dos parceiros e, como consequência acabaram sendo contaminadas. 
O desenvolvimento desta questão relaciona a exposição ao perigo de contaminação 
não à ignorância ou irresponsabilidade, mas à forma como estas mulheres constroem, do 
ponto de vista cultura, as classificações sobre a doença. Tais classificações se justificam, 
fundamentalmente, na categoria “amor”, conforme foi definido pelas entrevistadas. O não 
fazer nada para se prevenir da doença não é resultado de uma decisão individual, mas está 
inserida em todo um contexto sociocultural. 
Com base nesse problema, podemos fazer os seguintes questionamentos iniciais: O que é 
estudo antropológico dentro da Medicina e qual sua contribuição na prática médica? Qual a 
influência dos fatores socioculturais na saúde da população? Como se constrói a influência 
sociocultural na concepção de saúde? Como o profissional da saúde pode interferir no 
comportamento em relação à doença? 
A inserção da Antropologia tratada nesse problema nos leva a elencar dois objetivos claros 
de aprendizagem: 
 Compreender o que é um estudo antropológico e sua importância na Medicina; 
 Entender a influência dos fatores socioculturais no processo saúde-doença. 
 Principiando nosso estudo, perceberemos que o estudo antropológico envolve a 
realização de três processos distintos, mas que se relacionam e são fundamentais no processo 
de construção do pensamento antropológico, são eles: etnografia, etnologia e antropologia 
cultural ou social. 
 Abordada na ciência antropológica, a etnografia é um método tradicional que visa realizar 
a descrição dos significados pertencentes a um determinado grupo. Todo grupo social atua 
atribuindo significados às suas experiências de vida. A etnografia atua enfatizando a exploração 
da natureza e de um fenômeno social particular: realiza pesquisas e entrevistas em profundidade, 
inicia observação, analisa o discurso dos informantes, investiga os detalhes de um fato, lança 
perspectiva microscópica e por fim interpreta os significados e práticas sociais. A etnografia 
investiga a realidade de um grupo e o saber gerado a partir do ponto de vista do outro. Essa 
ferramenta antropológica praticamente inaugurou as aplicações dos métodos na Antropologia. 
 A etnologia representa um primeiro passo em direção à síntese. A partir da etnografia, a 
etnologia estuda os fatos documentados no sentido antropológico cultural e social. A etnologia 
analisa e compara as culturas estudadas pela etnografia. É um campo de pesquisa e estudos que 
visa enxergar as diferenças entre as sociedades através de toda vida social, relações entre 
pessoas e expressões de cada grupo. 
 
26 
 Em toda parte onde encontramos os termos antropologia cultural ou social, eles estão 
ligados a uma segunda e última etapa de síntese, tomando por base as conclusões da etnografia 
e da etnologia. A antropologia visa a um conhecimento global do homem, abrangendo seu objeto 
em toda sua extensão histórica e geográfica, aspirando a um conhecimento aplicável ao conjunto 
do desenvolvimento humano desde,digamos, os hominídeos até as raças modernas, e tendendo 
para todas as sociedades humanas. Pode-se dizer, assim, que existe entre a antropologia e a 
etnologia a mesma relação que se definiu acima entre a etnologia e a etnografia. 
 Todos os conceitos acima propostos foram elaborados pelo antropólogo Lévi-Strauss que, 
por fim, escreveu que a etnografia, etnologia e a antropologia não constituem três disciplinas 
diferentes, ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São, na verdade, três etapas ou 
três momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por este ou aquele destes termos 
exprime somente uma atenção predominante voltada para um tipo de pesquisa, que não poderia 
nunca ser separado dos outros dois. 
 Autores que se denominavam “folcloristas”, cuja principal preocupação era recuperar as 
tradições regionais do mundo rural brasileiro, produziram grande variedade de obras com 
diferentes graus de complexidade a respeito de “medicina popular”. 
 Em geral, o conjunto desses trabalhos é impregnado de caráter ideológico e etnocêntrico e, 
por esse motivo, sua contribuição para o desenvolvimento científico do tema é precária. 
 De um modo geral, a maioria dos autores “folcloristas”, quando apresentam uma 
preocupação teórica ou uma elaboração mais complexa do tema consideram a “medicina popular” 
como um conjunto de crenças e práticas “rústicas” e “imitativas”, resultando da difusão de 
medicinas eruditas passadas e das diferentes etnias que compuseram a população brasileira. 
 De um modo geral, os estudos antropológicos até essa época não observaram os 
elementos sociais como integrados num sistema coerente. Assim, a “medicina popular” era vista 
como uma colcha de retalhos costurada por influências passadas sem conexão lógica e 
sociológica entre eles. 
 
 Evidentemente, essa perspectiva revela-se atualmente como uma base epistemológica 
pobre para a apreensão da realidade social. 
 
Difusionismo Cultural = A hipótese difusionista sustenta que os diversos povos 
terrestres receberam influências dos vizinhos e dos diversos contatos que 
estabeleceram ao longo da história e que a maior parte das inovações sociais, 
técnicas, mitos, entre outros, se propagaram pelas migrações e pelos contatos 
estabelecidos entre os povos. 
 
 
27 
Evolucionismo Cultural = De acordo com a teoria evolucionista da humanidade, a 
história do homem seguiu, desde sempre, um mesmo caminho, linear e 
progressivo. Analisando algumas condições entendidas como universais, pode-se 
traçar o caminho realizado pelo homem desde seus primórdios até os dias de hoje, 
evidenciando uma diferença temporal entre aqueles que ainda não possuíam 
determinados estágios desenvolvidos. 
 
 As décadas de 50 e 60 foram marcadas pela presença da teoria funcionalista nas ciências 
sociais, o que significa dizer que os factos sociais passaram a ser observados uns em relação 
com os outros, dentro de um sistema global. No entanto, falta ao funcionalismo ir além da 
superfície da realidade social para que possa apreender a sua estrutura profunda. 
 Fernandes e Fontenelle, dois folcloristas, percebem o mundo tradicional e, dentro dele, 
suas crenças e práticas de cura, como um conjunto assistemático em via de desintegração, uma 
vez que são disfuncionais ao contexto sócio urbano moderno (influência do funcionalismo). Esse 
pressuposto não se mantém, na medida em que, apesar da urbanização, persistem e se 
desenvolvem saberes e práticas de cura populares como têm demonstrado várias pesquisas. 
 A solução para a análise epidemiológica, portanto, era adotar o conhecimento de medidas 
sociais e também psicológicas envolvidas nos fatores e determinantes. Na Medicina, por 
exemplo, destaca-se a importância do pensamento antropológico na apreensão global da doença 
por meio de aspectos biopsicossociais e não tão somente biológicos, como prega o modelo 
biomédico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Problema 6: “Diário de um Médico” 
Primeiro encontro: 
Sabrina, 16 anos. A mãe relata graves problemas de relacionamento consigo e com os 
professores da escola, chegando a agressões físicas em duas situações. Responde-me 
curta e quase monossilabicamente. Diz que não vai tomar nenhuma medicação, que ela 
não está maluca, que o sistema é que é uma droga e que ela não via motivos para a 
consulta. 
Segundo encontro: 
Peço à mãe que nos deixe conversar a sós. Após as agressões iniciais, pergunto-lhe: 
“Porque sua agressividade para comigo, se você não me conhece?” Surpreendentemente, 
ela me responde: “Antes de você poder me ferir, eu te ataco”. 
Terceiro encontro: 
Pergunto sobre o falecimento do pai, quando Sabrina contava cinco anos de idade. Esta, 
primeiro, diz não se lembrar de nada, voltando novamente a ser agressiva comigo: “...o 
que você tem a ver com isso?” “O que isso tem a ver comigo?” Nesta hora lembro-me de 
como minha própria filha, por vezes mostrava-se agressiva comigo. Senti certa antipatia 
pela garota a minha frente, mas coloquei este sentimento de lado e continue a entrevista. 
Após alguns minutos, Sabrina começou a chorar: “Não quero me ligar a ninguém, pois 
tenho certeza que você também vai me abandonar”. 
 Com relação a esse problema, é possível fazer, entre outros, os seguintes 
questionamentos: Qual a importância da relação médico-paciente? Quais os fundamentos da 
relação médico-paciente? Como a ética interfere nas relações médico-paciente? Quando ser 
imparcial ou parcial na relação médico-paciente? A imagem do médico influencia na relação 
médico-paciente? Como a subjetividade do médico deve ser trabalhada para beneficiar a relação 
médico-paciente? O que é transferência e contratransferência? 
 Como objetivos de aprendizagem, podemos elencar os seguintes: 
 Compreender a relação médico-paciente em seus múltiplos aspectos: ética, subjetividade, 
fundamentos, princípios; 
 Conceituar transferência e contratransferência. 
 
 Atendendo ao primeiro objetivo, notaremos que apesar da maior atenção que a 
comunidade médica vem dando aos aspectos emocionais e mentais como sendo extremamente 
importantes na gênese ou desencadeamento de inúmeras doenças, é ainda, por vezes, muito 
difícil ao médico estabelecer com o paciente boa relação, sem dúvida proveitosa para ambos. 
 A formação e o modo de atuação do médico estão, hoje, permeados de tal forma por uma 
mentalidade tecnicista que, na prática, o médico acaba por encarar o corpo humano quase como 
sendo apenas uma máquina, e suas desordens – doenças – como situações decorrentes de 
desarranjos anatômicos, fisiológicos ou bioquímicos. 
 
29 
 Essa mentalidade, não raro, gera situações em que encontramos grande dificuldade em 
fazer com que o paciente admita que os aspectos mentais são importantes no desencadeamento 
da doença. É preciso mudar essa perspectiva e evidenciar que a situação psicológica e social 
interferem nesse contexto. A relação médico-paciente pode cumprir o papel de mudar a forma 
como se encara a doença. 
 Obviamente, não há como criar esquemas prontos para que possamos envolver os 
pacientes dessa forma participativa que propomos, pois cada paciente e cada médico são 
indivíduos com características próprias. No entanto, é imprescindível, por exemplo, estabelecer 
um bom “rapport” (“entrar em sintonia”) no início da consulta com o paciente. 
 Gostaria aqui de pontuar e comentar algumas das necessidades das pessoas quando 
buscam um relacionamento, e que, portanto, são os elementos fundamentais na relação médico-
paciente: segurança = é a necessidade de se sentir seguro em relação ao outro. O paciente 
precisa ter certeza de que encontrará no médico alguém que possa dar proteção às suas 
necessidades, podendo, sem medo, expor-se física e psicologicamente; validação = é a 
afirmação da importância da pessoa dentro de um relacionamento. É importante, para o paciente, 
que suas necessidades sejam reconhecidas como verdadeirase aceitas pelo médico; aceitação 
= é a necessidade de o paciente sentir-se aceito por uma outra pessoa estável, confiável e 
protetora, presente na figura do médico; confirmação da experiência pessoal = é o desejo de 
estar à frente de alguém que é semelhante, que compreende, como se tivesse vivido situações 
parecidas (pode ser documentado na Medicina narrativa); auto definição = é a necessidade de 
reconhecimento e aceitação da própria identidade, percebendo, então, que o médico o reconhece 
como indivíduo e aceita sua história. É necessário se aceitar e se afirmar para ser creditado; 
impacto sobre a outra pessoa = é a necessidade de que, na relação, a outra pessoa se 
sensibilize, é o paciente ver que o médico não está distante e insensível. Demonstrar compaixão 
se o paciente está triste, fornecer proteção e segurança se ele está assustado, leva-lo a sério se 
está com raiva, ou compartilhar se o mesmo está alegre; iniciativa = estar diante de alguém que 
toma iniciativas, indicando caminhos, telefonando, se necessário, para ter notícias, etc. 
Tipos de Pacientes 
 
 
Coléricos = Determinados, dominadores, impulsivos, tendem a dominar a situação. Vale a pena, 
nessas situações, propor desafios, convidar a pensar a respeito, conduzir o diálogo de modo que 
 
30 
o paciente se sinta estimulado a pensar de outra forma, bem como observar novos aspectos 
relacionados a si mesmo e a sua doença. 
Fleumáticos = Tranquilos, observadores, passivos, dedutivos, costumam aceitar colocações, mas 
pensam metódica e cuidadosamente a respeito, refletem, procuram novos dados que lhes 
permitam avaliar melhor a situação, e talvez necessitem de um tempo maior para digerir tudo que 
ouviram, É importante que o médico lhes forneça todas as informações e dados que julgar úteis. 
Melancólicos = Sensíveis, emotivos, intuitivos, geralmente desenvolvendo relacionamentos pouco 
numerosos, porém profundos. Há que se ter muito cuidado no modo de informa-los, sobretudo 
quando as informações podem gerar algum tipo de medo ou ansiedade, pois tendem a ficar 
deprimidos. 
Sanguíneos = Lábeis, sedutores, atraentes, de relacionamentos fáceis e numerosos, porém 
tendendo a superficiais. Provavelmente aceitarão facilmente os argumentos e orientações do 
médico, o que não quer dizer que realmente estarão convencidos de tudo o que o médico disse. 
É importante o médico não o contrapor, mas buscar, de forma paciente e firme, que o paciente se 
conscientize da situação, determinando-se a seguir a orientação. 
 É importante, neste momento, observar algumas situações onde a relação médico-paciente 
estará prejudicada, dificultando a informação e o envolvimento do paciente em um processo 
terapêutico: 1. Quando o médico se vê em uma posição superior à do paciente, podendo assumir 
posturas autoritárias e prepotentes; 2. Quando o médico demonstra falta de confiança e 
determinação; e 3. Quando o médico se revela desinteressado e sem perspectiva. 
 Passamos agora a buscar as informações que permitem que possamos descrever os 
fenômenos da transferência e contratransferência, caracterizando o segundo objetivo do 
problema. 
O termo "transferência" foi utilizado pela primeira vez por Freud em 1895, como uma forma 
de resistência, ou seja, um obstáculo ao processo analítico, como meio de evitar os conteúdos da 
sexualidade infantil que ainda permanece ligada às "zonas erógenas", as quais, na evolução 
normal, já deveriam estar desligadas. 
Foi em 1912 que Freud publicou a primeira obra exclusivamente dedicada à transferência, 
denominada “A dinâmica da transferência”, na qual explica como a transferência é 
necessariamente relacionada ao tratamento psicanalítico. Freud enfatiza que a transferência não 
se deve ao tratamento psicanalítico, mas é devido à neurose. O autor explica que se a 
necessidade de amar de algum indivíduo não é totalmente satisfeita pela realidade, ele irá se 
aproximar de cada pessoa que conhecer inclusive o médico. Por isso, para ele, a transferência é 
um dos elementos fundamentais para caracterizar o método de tratamento psicanalítico. 
 Freud, no inicio de seu trabalho, tentava explicar às pacientes o que ele percebia; ele falava 
para elas como se instalavam os conflitos e como elas estavam vivendo esta briga interna. Mas 
muito cedo, e isto aconteceu ainda quando trabalhava com Breuer, percebeu que as pacientes 
viviam desejos intensos para com o médico. O próprio Breuer, tomado de surpresa por Ana O., 
quase teve seu casamento desmoronado. Havia então um fenômeno típico, perigoso com o qual 
era preciso se acautelar. 
 
 No caso Dora, ficou bem claro para Freud que o rompimento do trabalho depois de apenas 
três mêses de análise, ocorreu por causa dos desejos intensos da paciente e que ele não 
 
31 
percebeu em tempo e não mostrou a ela. Havia os sintomas histéricos de Dora, mas, diz Freud, 
surgiu um novo sintoma: a transferência. 
 
 Transferências são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da 
análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir 
uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de 
experiências psíquicas prévias é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo atual 
com a pessoa do médico. Algumas são simples reimpressões, reedições inalteradas. Outras se 
fazem com mais arte: passam por uma moderação do seu conteúdo, uma sublimação. São, por 
tanto, edições revistas, e não mais reimpressões. 
 Bion (2000) diz que a importância da transferência está em seu uso na prática da 
psicanálise e que ela deve ser observada tanto por analisandos como por analistas, essa é a sua 
força e sua fraqueza. A sua força é devido a estar disponível às duas pessoas e, portanto, 
passível de ser discutido por elas; sua fraqueza, porque o fato é inefável e não pode ser discutido 
por mais ninguém”. 
 Segundo Laplanche e Pontalis (2001), a transferência é entendida como: O processo pelo 
qual desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo 
de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da situação analítica. Trata-se 
aqui de uma repetição de modelo infantil vivido com um sentimento de atualidade acentuada. 
“Freud postula que o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas 
expressa-o pela atuação, ou seja, ele reproduz o reprimido não como uma lembrança, mas como 
uma ação repetitiva e inconsciente.” 
“Foi apenas em 1909 que Freud parou de considerar a transferência como algo contra-
produtivo para o processo analítico. Pois, até então, a transferência era considerada um 
obstáculo para a análise, uma resistência do paciente.” 
 
Tipos de Transferências 
A ocorrência da transferência parece ter um caráter ambivalente, e essa relação se destaca 
tanto no relacionamento analista-paciente quanto o inverso, ou seja, dificultando a fluidez da 
análise. No entanto a transferência é condição para que o tratamento ocorra e, ao mesmo tempo, 
a maior resistência possível ao tratamento. 
“Em 1912 Freud descreveu três diferentes tipos de transferência: a negativa, a erótica e a 
positiva. Sendo que a negativa e a erótica eram consideradas como as que dificultavam o 
trabalho terapêutico, e a positiva como a que auxiliava o trabalho terapêutico.” 
Transferência Negativa 
Segundo Löst, s.d., a transferência negativa era considerada como transferência de 
sentimentos hostis em relação ao analista, podendo também representar uma forma de defesa 
contra o aparecimento da transferência positiva, podendo coexistir, mesmo que infimamente com 
a transferência positiva. 
Transferência Erótica 
 
32 
A transferência erótica era considerada aquela onde o analisando transfere para a pessoa do 
analista sentimento de amor, ou seja, quando o paciente diz estar apaixonado pela pessoa do 
analista. Quando isso acontece,o paciente perde o interesse no tratamento e fica “inteiramente 
sem compreensão interna e absorvido em seu amor”. O foco das sessões será o amor que o 
paciente exige que seja retribuído e esse é exatamente o objetivo do paciente. O paciente esta 
resistindo à análise. Ele coloca suas defesas em prática para não se lembrar ou admitir certas 
situações passadas. 
 
Transferência Positiva 
 Freud a conceitualizou da seguinte forma: “Transferência positiva é ainda divisível em 
transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, que são admissíveis à consciência, e 
transferência de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente.” 
 
 Resistência e transferência são mecanismos de defesa imprescindíveis para a realização 
do tratamento. Sem elas, não há psicanálise. Uma aparece na tentativa de encobrir e se defender 
de lembranças dolorosas, a outra como a repetição de uma relação objetal passada, e as duas 
trazem consigo pilares fundamentais com material riquíssimo. Uma vez que, para que a 
transferência adquira contornos de resistência é necessário o suporte da transferência afetuosa. 
 É sabido que FREUD não deixou nenhum estudo sistematizado sobre a 
contratransferência, embora tenha reconhecido a sua existência e a necessidade de mantê-la sob 
rigoroso controle, a fim de evitar os seus perigos. 
 Castro (2005) diz que em 1910, surgiu o conceito de contratransferência, como sendo 
uma reação do analista provocada pela transferência do paciente, e, como tal, algo a ser 
superado ou ultrapassado para que o analista volte a trabalhar em condições adequadas. No 
trabalho de 1912, Freud conclui que o médico tenta compelir o paciente a ajustar seus impulsos 
emocionais ao nexo do tratamento e da história de sua vida, submetendo-os à consideração 
intelectual e a compreendê-los à luz de seus valores psíquicos. E que “esta luta, entre o médico e 
o paciente, entre o intelecto e a vida instintual, entre a compreensão e a procura da ação, é 
travada, quase exclusivamente nos fenômenos das transferências”. 
 Segundo Isolan (2005), a contratransferência inicialmente passou pelas mesmas 
vicissitudes da transferência, sendo vista como uma manifestação indesejável no tratamento. O 
conceito de contratransferência foi introduzindo por Freud que o definiu como sendo aquilo que 
"surge no médico como resultado da influência que exerce o paciente sobre os seus sentimentos 
inconscientes". 
 Segundo Laplanche e Pontalis (2001) o fenômeno da contratransferência se ampliou 
depois de Freud, principalmente a medida em que o tratamento foi sendo compreendido enquanto 
uma relação e também com a expansão da psicanálise a novos campos, a análise de pacientes 
psicóticos e de crianças, onde as reações inconscientes do analista podiam ser mais solicitadas. 
 Após Freud, o conceito tomou novas conotações, ampliando consideravelmente a sua 
compreensão. Pode-se dizer que quase cada autor que escreveu sobre o fenômeno da 
contratransferência nestas últimas décadas, apresentou sua própria versão. Há desde os que 
consideram como contratransferência a totalidade das reações do analista como relação ao 
paciente, aos que limitam o conceito às respostas eliciadas pela contratransferência do paciente, 
sem falar na concepção atualmente mais divulgada, segundo a qual a contrantransferência 
 
33 
compreende as reações oriundas do inconsciente do analista, vinculadas experiências da 
infância do analista, projetadas na relação analítica. 
 Posteriormente, Freud já percebia o valor da contratransferência e recomendava: "o 
analista deve voltar seu próprio inconsciente como um órgão receptor para o inconsciente 
transmissor do paciente, de modo que o inconsciente do médico possa, a partir dos derivados do 
inconsciente que se comunicam reconstruir o inconsciente do paciente". 
 
 Transferência e contratransferência são conceitos centrais na compreensão da relação 
terapêutica nas diversas vertentes da psicanálise. Desde o início de sua prática clínica, Freud 
depara-se com a dinâmica da transferência. Podemos entender e concluir que a Transferência foi 
considerada por Freud um instrumento central de todo tratamento analítico e foi reconhecendo, 
gradativamente que os pacientes repetiam na sua relação com o médico (psicanalista) aquilo que 
tinha vivido na infância com outras pessoas. 
A contratransferência, um dos conceitos fundamentais do campo analítico, é uma das mais 
complexas e controversas entre as diferentes correntes psicanalíticas e, permanece ainda hoje 
problemática. A partir dos textos descritos por alguns teóricos a contratransferência é uma reação 
inevitável causada no analista. Quanto mais analisado ele for, menos ele sucumbirá aos efeitos 
contratransferenciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Problema 7: “Investigando uma Situação de Saúde...” 
 Um acadêmico do curso de Medicina estava atendendo em uma unidade de saúde da 
Estratégia Saúde da Família (ESF), ele nota que, a partir do início daquele ano, os alunos 
de uma escola pública têm sido encaminhados frequentemente por apresentarem um 
determinado quadro nosológico. Ele também percebe que esta situação não está 
acontecendo em outras escolas públicas da região. A diretora do educandário esteve no 
centro de saúde, pois, segundo ela, os professores estão querendo fechar a escola por 
tempo indeterminado com medo da situação. Numa reunião convocada no centro de saúde 
para tratar do assunto, foi decidido que a equipe deveria fazer um estudo epidemiológico 
para definir as causas possíveis do aumento da prevalência e da incidência dos casos 
desta morbidade. Como não havia pessoas suficientes para serem deslocadas a esta tarefa 
no corpo funcional, o acadêmico recebeu a incumbência de realizar um estudo para definir 
as causas ou associações epidemiológicas. 
 Com relação ao problema apresentado, podem ser feitos os seguintes questionamentos: 
Como se faz um estudo epidemiológico? O que é um estudo epidemiológico? O que é um quadro 
nosológico? Qual a definição de prevalência, incidência, causas ou associações epidemiológicas? 
Quais os tipos de estudos existentes na epidemiologia? O que é endemia, epidemia e pandemia? 
 Dados os questionamentos e levando em consideração o assunto proposto pelo problema, 
é possível estabelecermos como objetivos de aprendizagem: 
 Compreender os estudos epidemiológicos: características, aplicabilidades, objetivos, 
vantagens e desvantagens; 
 Conceituar os termos epidemiológicos e entender os cálculos de incidência e prevalência. 
 Atentos ao primeiro objetivo, veremos que desde os primórdios do pensamento ocidental 
na Grécia Antiga, havia um antagonismo entre duas filhas do deus Asclépios: Panacéia 
(padroeira da Medicina curativa) e sua irmã Higéia (padroeira da promoção de saúde por meio de 
ações preventivas). Muitos autores acreditam que a Epidemiologia nasceu com Hipócrates. De 
fato, a estrutura e conteúdo dos textos hipocráticos sobre as epidemias e sobre a distribuição de 
enfermidades nos ambientes, por sua clara adesão à tradição higéica, sem dúvida antecipam o 
chamado raciocínio epidemiológico. 
 
Conceito de Epidemiologia: A Epidemiologia é o eixo da saúde pública. Proporciona as bases 
para avaliação das medidas de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças transmissíveis 
e não-transmissíveis e enseja a verificação da consistência de hipóteses de causalidade. 
1. Estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade a fim de traçar o perfil de saúde-
doença nas coletividades humanas; 
 
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2. Realiza testes de eficácia e de inocuidade de vacinas; 
3. Desenvolve a vigilância epidemiológica; 
4. Analisa os fatores ambientais e socioeconômicos que possam ter alguma influência na 
eclosão de doenças e nas condições de saúde; 
5. Constitui um dos elos de ligação comunidade/governo, estimulando a prática da cidadania

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