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PEER REVIEW, Vol. 5, Nº 1, 2023 DOI: 10.53660/prw.149.uni149 ISSN: 1541-1389 Recebido: 03/01/2023 | Aceito: 05/02/2023 | Publicado: 18/02/2023 Avaliação do Ensino Remoto nos Cursos de Enfermagem de uma Universidade Pública durante a Pandemia Covid-19 Evaluation of Remote Education in Nursing Courses at a Public University During the Covid-19 Pandemic Francislene Aparecida de Souza Rodrigues ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2032-2747 Universidade do Estado de Mato Grosso, MT E-mail: francislene.rodrigues@unemat.br Denize Jussara Rupolo Dall’Agnol ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2551-2382 Universidade do Estado de Mato Grosso, MT E-mail: denize.dallagnol@unemat.br Grasiele Cristina Lucietto da Silva ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6097-2600 Universidade do Estado de Mato Grosso, MT E-mail: grasiele.lucietto@unemat.br Alexandra de Paula Rothebarth ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9053-3166 Universidade do Estado de Mato Grosso, MT E-mail: alexandra.rothebarth@unemat.br RESUMO Introdução: No ano de 2020 foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a pandemia pela COVID-19, causada pelo Coronavírus SARS-CoV-2 que provoca síndrome respiratória aguda. Objetivo: Avaliar o ensino remoto nos cursos de enfermagem de uma universidade pública durante pandemia Covid-19. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal com delineamento descritivo, de abordagem quantitativa. Participaram do estudo 152 discentes de enfermagem de uma universidade pública de Mato Grosso. Resultados: Ao avaliar o ensino remoto emergencial ofertado por uma universidade pública nos cursos de graduação em enfermagem, a maioria dos acadêmicos quando indagados se as aulas remotas supriram as necessidades de aprendizagem discordaram da afirmativa e apresentaram resultados divergentes. Conclusão: Os dados obtidos desvelaram fragilidades do ensino remoto emergencial implantado, sentimentos e necessidades manifestadas pelos acadêmicos de enfermagem, que pode subsidiar intervenções no curso de graduação em Enfermagem e outras pesquisas neste contexto. Palavras-chave: Educação à Distância; Educação em Enfermagem; COVID-19. mailto:grasiele.lucietto@unemat.br 206 ABSTRACT Introduction: In the year 2020, the World Health Organization (WHO) declared a pandemic by COVID-19, caused by the Coronavirus SARS-CoV-2 that causes acute respiratory syndrome. Objective: To evaluate remote teaching in nursing courses at a public university during the Covid-19 pandemic. Methodology: This is a cross-sectional study with a descriptive design, with a quantitative approach. 152 nursing students from the State University of Mato Grosso participated in the study. Results: When evaluating the emergency remote teaching offered by the State University of Mato Grosso in undergraduate nursing courses, most academics when asked whether remote classes met the learning needs disagreed with the statement and presented divergent results. Conclusion: The data obtained revealed weaknesses in the implemented emergency remote teaching, feelings and needs expressed by nursing students, which can support interventions in the undergraduate nursing course and other research in this context. Keywords: Distance Education; Nursing Education; COVID-19. 207 INTRODUÇÃO No ano de 2020 foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a pandemia pela COVID-19, causada pelo Coronavírus SARS-CoV-2, que provoca síndrome respiratória aguda. Na tentativa de minimizar a rápida transmissão do vírus, medidas como distanciamento social, fechamento prolongado de escolas, universidades e o afastamento do local de trabalho, além da necessidade de Lockdown foram implementadas, a fim de conter a pandemia COVID-19 (FONG, 2020). Além de impactar nas esferas política, econômica e social, o contexto pandêmico ainda causou graves consequências para a educação. Diante do fechamento de instituições de ensino em todos os níveis, em escala mundial, governos implementaram medidas para continuar o ensino por meio de plataformas digitais, vídeo conferências, correio eletrônico, e pela utilização de meios e tecnologias digitais de informação e comunicação, configurando-se como estratégias alternativas para possibilitar a continuidade de atividades escolares, ainda que sem o adequado planejamento (CARNEIRO et al., 2021; UNESCO, 2020). A mudança súbita do ensino presencial para Ensino Remoto Emergencial (ERE) adotado de acordo com Resolução CNE/CP no 2, de 10 de dezembro de 2020, pelas escolas e universidades, levantou questionamentos e preocupações em relação a efetividade do ensino ofertado, podendo comprometer a qualidade do ensino-aprendizagem, prejudicando o período formativo desses futuros profissionais (TORRES; ALVES; COSTA, 2020). Diante disso, houve necessidade de soluções de ensino que suportasse o isolamento social fornecendo, de forma rápida, acesso temporário às instruções e apoio instrucional confiável, enquanto persistisse a emergência. O ensino remoto emergencial é uma mudança temporária da entrega de instruções, para um modo de entrega alternativo em decorrência de uma circunstância de crise (HODGES et al., 2020). Um dos principais desafios do ensino remoto está na dependência de internet para que ele seja realizado. Pesquisa feita por Sharma et al., (2021) em Nepal com 200 estudantes de enfermagem demonstrou que 87% dos participantes relataram a perda de conectividade de internet como principal obstáculo para a sua aprendizagem. Corroborando com esse resultado, o estudo de Thapa et al., (2021) com estudantes de enfermagem, também relatou que a maioria (81,7%) dos entrevistados citou os problemas com a internet como a principal desvantagem do ensino remoto, além da parte financeira para comprar novos dispositivos tecnológicos ser um problema para algumas famílias. Dessa forma, mesmo que seja adotada o ensino remoto 208 em algumas situações e sejam utilizadas estratégias como simulações e estudos de caso, por ser um curso clínico/prático, a enfermagem exige a prática, de modo presencial com pacientes, para que os alunos consigam adquirir as habilidades necessárias (SHARMA et al., 2021; SULIMAN et al., 2021). Estudo brasileiro feito na Bahia corrobora com os achados da pesquisa ao citar a inviabilidade de realização das aulas práticas como entrave do ensino remoto para os acadêmicos de enfermagem (SILVA et al., 2021). Ademais, o ensino online não permite que o educando trabalhe sua interação em equipe, essencial para a profissão. Este estudo faz-se necessário para que a universidade e conselhos de ensino, assim como os conselhos da classe, conheçam os aspectos positivos e negativos do ensino remoto na formação dos acadêmicos. Além disto, esta pesquisa contribuirá, para a reorganização e estruturação dos cursos de enfermagem, na capacitação docente, assim como na implementação de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICS) como recurso auxiliar no ensino. Diante do exposto, é necessário realizar uma reflexão acerca da implantação e desenvolvimento do ensino remoto emergencial no contexto educacional dos cursos de Enfermagem de uma universidade pública do Estado de Mato Grosso e para entender melhor esse processo, buscamos responder os seguintes questionamentos: Como os acadêmicos de enfermagem avaliam o ensino remoto emergencial? A partir desse questionamento, essa pesquisa objetiva avaliar o ensino remoto nos cursos de enfermagem de uma universidade pública durante pandemia Covid- 19. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal descritivo, de abordagem quantitativa. Desenvolvido com alunos do curso de Enfermagem de uma universidade pública do Estado de Mato Grosso. O tipo de amostra é não probabilístico por conveniência. O número de participantes do estudo foi estimado a partir datotalidade de alunos matriculados nos cursos de enfermagem da referida instituição, com o número aproximado de 677 estudantes. Considerando um erro de 5% com nível de confiança de 95%, um n adequado para a composição da amostra seriam 181 universitários. Foram incluídos na pesquisa acadêmicos que cursaram no mínimo duas disciplinas no período remoto, podendo ser nos Períodos Letivos Suplementares Excepcionais (PLSEs) ou nos períodos de 2021 /1 e 209 2021 /2. A coleta de dados foi realizada no período de junho a agosto de 2022, utilizando um instrumento de coleta de dados online por meio da ferramenta Google Forms. O Instrumento de coleta de dados foi um questionário semiestruturado composto por 20 perguntas, desenvolvidos pelos pesquisadores e fundamentado no trabalho de Baticulon e colaboradores (2020). O questionário foi dividido em duas partes, na primeira buscou caracterizar o perfil do entrevistado, a partir de informações como: gênero, cor/raça, estado civil, religião, renda familiar, trabalho e horas trabalhadas por semana, filhos etc. Na segunda parte, foram questionados sobre o número de disciplinas cursadas durante o ensino remoto e os aspectos sobre como avaliam o ensino remoto emergencial, nessa segunda parte do questionário utilizou-se como respostas escala do tipo Likert de 5 pontos, sendo os mesmos: Concordo totalmente, Concordo, Não concordo, nem discordo, Discordo, Discordo totalmente. O questionário foi disponibilizado via e-mail das coordenações dos cursos de enfermagem dos três Campus, e estes encaminharam aos discentes matriculados. O mesmo também foi divulgado com auxílio de meios de comunicação (redes sociais), tais como grupos de WhatsApp®. Os participantes foram convidados a participar voluntariamente do estudo e após clicar em no link de acesso foram direcionados ao questionário, em que sua primeira página continha o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Após aceite do Termo, foram redirecionados a responder questionário com duração média de 20 minutos, as respostas foram enviadas ao pesquisador principal e arquivadas em google® drive institucional. Os dados foram exportados para o software Microsoft Office Excel 2019®. Com a finalidade de organizar e compilar o banco de dados, foi utilizada a estatística descritiva como análise de frequências absolutas e relativas, para estas análises utilizou-se o software EPI infoTM versão 7.2.3.1. Os resultados estão apresentados na forma de tabelas para melhor visualização. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade onde ocorreu o estudo, sob parecer número 5356.700 e CAAEE no 97679118.5.0000.5166, respeitando os preceitos éticos contidos na Resolução 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). RESULTADOS Participaram da pesquisa 155 estudantes, destes três foram excluídos seguindo os critérios de inclusão pré-estabelecidos, dessa forma a amostra final contou com 152 indivíduos. Em sua maioria foram alunos que estavam regularmente matriculados no Campus Universitário de Tangará da Serra (57,89%), e estão cursando a quarta fase (21,71%). Se 210 identificam com o gênero feminino (cisgênero 85,53%), como pardos (48,68%), católicos (50%), solteiros (74,34%), não possuem filhos (82,29%), possuem renda familiar de 1 a 3 salários mínimos (49,34%), não trabalham (78,29%). Dentre os que trabalham (21,71%), a maioria trabalha até 30h semanais (51,61%), conforme dados da Tabela 1. Tabela 1 - Perfil sociodemográfico dos acadêmicos de Enfermagem. Tangará da Serra - MT, 2022. Variável Frequência absoluta (n=152) Frequência Relativa (%) Câmpus que estuda Tangará da Serra 088 57,89 Cáceres 049 32,24 Diamantino 015 09,87 Fase regularmente matriculado Primeira 002 01,32 Segunda 004 02,63 Terceira 017 11,18 Quarta 033 21,71 Quinta 015 09,87 Sexta 007 04,61 Sétima 016 10,53 Oitava 021 13,82 Nona 014 09,21 Décima 023 15,13 Gênero Feminino Cisgênero 130 85,53 Feminino Transgênero 001 00,66 Masculino Cisgênero 019 12,50 MasculinoTransgênero 002 01,32 Cor/raça Pardo (a) 074 48,68 Branco(a) 055 36,18 Preto (a) 020 13,16 Indígena 002 01,32 Oriental 001 00,66 Estado Civil Solteiro (a) 113 74,34 Casado (a) 024 15,79 União Estável 013 08,55 Divorciado (a) 001 00,66 Viúvo (a) 001 00,66 Qual religião pertence Catolicismo 076 50,00 Evangélicos 061 40,13 Religiões de Matriz Africana 003 01,97 Espiritismo 002 01,32 Ateísmo 006 03,95 Outras 002 01,32 Sem religião 002 01,32 Possui Filhos Não 128 82,29 Sim 026 17,11 Renda Familiar(Salário Mínimo-SM) Até 1 SM 052 34,21 1 a 3 SM 075 49,34 211 Mais de 3 SM 025 16,45 Trabalha Não 119 78,29 Sim 033 21,71 Carga horária semanal de trabalho Até 30horas 016 51,61 30 a 40horas 011 35,48 >40horas 006 03,94 Fonte: dados da pesquisa Ao avaliar o ensino remoto emergencial ofertado pela universidade pública estudada nos cursos de graduação em enfermagem, a maioria dos acadêmicos quando indagados se as aulas remotas supriram as necessidades de aprendizagem discordaram da afirmativa 62,5% (34,21% discordam e 28,29% discordam totalmente), a maioria também 58,55% discorda que o ensino remoto foi suficiente para aprender conteúdos para desenvolvimento das habilidades de um futuro enfermeiro (30,26% discordam e 28,29% discordam totalmente). Por outro lado, a maioria 52,62 % afirmam que se sentem seguros em aplicar a teoria apreendida no ensino remoto com as atividades práticas presenciais como aulas de laboratório, campo e/ou estágio curricular supervisionado. Sobre os recursos digitais utilizados no ensino remoto, 43,42% dos acadêmicos concordam que as vídeo-aulas transmitiram os conteúdos corretamente, e 36,18% concordam que o cronograma de vídeo-aulas e atividades da universidade funcionaram, ainda 42,11% também concordam que os recursos digitais da universidade ajudaram no ensino remoto. Além disso, 73,3% dos entrevistados afirmam que as TICs e o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) devem ser utilizados como ferramentas complementares ao ensino presencial. Ao indagar sobre os materiais ofertados para estudo pelos docentes a maior parte dos acadêmicos 40,13% discordam que estes foram suficientes para aprender em casa (32,24% discordam e 7,89% discordam totalmente), porém 38,82% afirmaram que receberam as devidas orientações dos docentes para o desenvolvimento das atividades remotamente. Em relação efetividade das avaliações realizadas remotamente 44,74% dos discentes discordam que estas foram efetivas (28,95% discordam e 15,79% discordam totalmente). Quanto a capacitação docente para atuar no ensino remoto a maior parte dos acadêmicos 40,79% não souberam opinar se os docentes estavam capacitados para atuarem no ensino remoto, porém, 51,97% deles concordam que os docentes cumpriram planejamento proposto e seguiram as orientações da universidade, conforme dados da Tabela 2. 212 Tabela 2 – Avaliação do ensino remoto emergencial pelos acadêmicos de Enfermagem de uma Universidade pública do Estado de Mato Grosso. Tangará da Serra-MT, 2022. Variável Frequência Absoluta Frequência Relativa (%) As aulas remotas supriram as necessidades de aprendizagem dos acadêmicos? Concordo totalmente 02 01,32 Concordo 19 12,50 Não concordo, nem discordo 36 23,69 Discordo 52 34,21 Discordo totalmente 43 28,29 O ensino remoto foi suficiente para apreender os conteúdos para o desenvolvimento de habilidades de um futuro enfermeiro? Concordo totalmente 02 01,32 Concordo 23 15,13 Não concordo, nem discordo 38 25,00 Discordo 46 30,26 Discordo totalmente 43 28,29 Se sente seguro em aplicar a teoria apreendida no ensino remoto com as atividades práticas presenciais (laboratório, campo e/ou estágio curricular supervisionado)? Sim 80 52,63Não 72 47,37 O cronograma de videoaulas e atividades virtuais da Universidade funcionou? Concordo totalmente 03 01,97 Concordo 55 36,18 Não concordo, nem discordo 48 31,58 Discordo 09 25,66 Discordo totalmente 07 04,61 As videoaulas transmitiram os conteúdos corretamente? Concordo totalmente 04 02,63 Concordo 66 43,42 Não concordo, nem discordo 42 27,63 Discordo 33 21,71 Discordo totalmente 07 04,61 Os recursos digitais da universidade ajudaram no ensino remoto? Concordo totalmente 08 05,26 Concordo 64 42,11 Não concordo, nem discordo 47 30,92 Discordo 25 16,45 Discordo totalmente 08 05,26 As Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) e o SIGAA devem ser utilizados como ferramentas complementares ao ensino presencial? Sim 111 73,03 Não 012 07,89 Talvez 029 19,08 Os materiais oferecidos pelos professores foram suficientes para aprender em casa? Concordo totalmente 05 03,29 Concordo 40 26,32 Não concordo, nem discordo 46 30,26 Discordo 49 32,24 Discordo totalmente 12 07,89 As avaliações foram eficazes na modalidade de ensino remoto? Concordo totalmente 03 01,97 Concordo 40 26,32 Não concordo, nem discordo 41 26,97 Discordo 44 28,95 Discordo totalmente 24 15,79 Os docentes deram a devida orientação aos acadêmicos para o desenvolvimento de atividades? Concordo totalmente 04 02,63 213 Concordo 59 38,82 Não concordo, nem discordo 50 32,89 Discordo 28 18,42 Discordo totalmente 11 07,24 Os docentes estavam capacitados para atuarem no ensino remoto? Concordo totalmente 03 01,97 Concordo 30 19,74 Não concordo, nem discordo 62 40,79 Discordo 46 30,26 Discordo totalmente 11 07,24 Os docentes cumpriram o planejamento proposto e seguiram as orientações da universidade? Concordo totalmente 05 03,29 Concordo 79 51,97 Não concordo, nem discordo 45 29,61 Discordo 20 13,16 Discordo totalmente 03 01,97 TOTAL 152 100,00 Fonte: dados da pesquisa DISCUSSÃO Nesta pesquisa observou-se o predomínio de discentes participantes do sexo feminino, acredita- se que esse fato seja devido a enfermagem estar fortemente ligada as mulheres por seu contexto histórico, corroborando com os achados dos estudos conduzidos por Corrêa e colaboradores (2018) e Bervig e colaboradores (2020) no estado de São Paulo em que cerca de 82,58% dos alunos em formação em enfermagem eram do sexo feminino, reforçando a prevalência do gênero na profissão. Quanto a raça/cor a maioria se auto declarou pardos, este achado pode estar relacionado por vários fatores e um deles se deve a política de cotas nas universidades, por meio da Lei Federal no 12.711/2012, estratégia que visa tornar mais justo o acesso da população à graduação (BRASIL, 2012). Além da política de cotas, os dados deste estudo também condizem com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), onde retrata que os brasileiros se consideram predominantemente pardos/mulatos, em sequência brancos e por fins negros (CONASS, 2019). As cotas racias vêm exatamente desarticular e desconstruir essa lógica de exclusão, em 2004 foi criado e implantado o programa de integração e inclusão étnico racial, desde então, parte do número total das vagas ofertadas em todos os cursos de graduação da universidade em estudo ficou reservado a candidatos autodeclarados negros (de cor preta ou parda), de acordo com critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE. Verificou-se predomínio de discentes solteiros e sem filhos, semelhante aos estudos de Bernadino e colaboradores (2018) e Santos e colaboradores (2020) onde o número de solteiros foi de (92,5%) e que 89,5% não possuíam filhos, 214 respectivamente. É importante destacar que ter filhos no decorrer da graduação pode ser precursor de diversos desafios limitando o acesso às aulas e agregando ainda mais responsabilidade ao aluno (GALVÃO et al., 2021). Já em relação a renda familiar a maioria não possuí vínculo empregatício e aqueles que possuem, trabalham em média 30 horas semanais e sua renda mensal varia de um a três salários mínimos, contrariando estudos publicados por Fonseca e colaboradores (2019) que ao contrapor acadêmicos brasileiros e portugueses apresenta maior frequência de renda mensal entre as famílias de quatro a dez salários mínimos. Estudo realizado em Sobral-CE (2017) revela no tocante à renda familiar dos acadêmicos, 10,9% (30) com renda menor que um salário mínimo (SM), 30,8% (85) com renda de um SM, e 41,7%, (115) dos acadêmicos possuem renda familiar mensal de até um SM nacional. Os dados mostram um número significativo de estudantes abaixo da linha da pobreza, vivendo com menos de um SM, utilizando-se de benefícios sociais do Governo Federal. O ensino remoto emergencial foi uma modalidade implementada pela universidade no intuito de dar seguimento ao semestre letivo, para que de certa forma os alunos não fossem prejudicados em relação à carga horária e em atrasos da formação acadêmica. Quando questionados se as aulas remotas supriram suas necessidades de aprendizagem, os acadêmicos majoritariamente discordaram da afirmativa, demonstrando a fragilidade desta modalidade de ensino. As fragilidades nessa modalidade ensino surgiram no decorrer do tempo, por ser uma plataforma nova, com ferramentas pouco conhecidas, que de certa forma gerou impactos negativos no processo ensino-aprendizagem (SANTOS; ZABOROSK, 2020). Ressalta- se que com a pandemia os diversos setores de ensino estiveram diante de situações até então inimagináveis (COUTO; COUTO; CRUZ, 2020), onde as Instituições de Ensino Superior (IES) estiveram em um dilema de formação de profissionais de qualidade para inserção no mercado de trabalho, e principalmente aqueles voltados à área da saúde, que necessitam de carga horária extensa de aulas práticas, emerge-se as necessidades dos alunos em compor um ensino que seja portador de comprometimentos e auxilie no processo ensino aprendizagem (SILVA et al., 2021) Desta forma, algumas das fragilidades estiveram atreladas a isso, em que neste estudo a maior parte dos estudantes entrevistados estavam iniciando os campos práticos (4ª fase/semestre) e alguns deles ainda em fases mais avançadas que denotam grande carga horária de atividades práticas de campo e laboratório, além do mais, pelo fato de serem pessoas consideradas mais jovens e que almejam a conclusão mais breve possível do processo de formação, corrobora para essa 215 visão mais negativista do processo-ensino aprendizado de forma remota, já que os mesmos anseiam concluir a graduação sem desafios e exercendo suas potencialidades (SILVA et al., 2021; PALÁCIO; TAKENAMI, 2020; SANTOS; ZABOROSK, 2020). Quando se trata do desenvolvimento de habilidades e competências em enfermagem, se torna imprescindível um processo de formação crítico e rigoroso para que futuramente se torne um profissional apto e com capacidade crítico-resolutiva, uma vez que as competências estão voltadas a liderança, gerenciamento de recursos e insumos, organização do processo de trabalho e gerenciamento de conflitos entre equipes, dentre outras (MAFRA; SANTOS, 2018; LIRA et al., 2020; KARPOWICZ et al., 2020). Sendo assim, de acordo com os entrevistados a maioria discorda ou discorda totalmente que o ensino remoto tenha sido suficiente para o desenvolvimento das habilidades necessárias para um futuro enfermeiro. O estudo em enfermagem denota de maior capacidade crítica- resolutiva, intermediado entre o ensino, pesquisa e extensão, e o corpo acadêmico enquanto tem capacidade de aprimoramento frente as demandas que surgem no decorrer da formação (SANTOS; ZABOROSK, 2020). Destaca-se que essa insegurança relatada pelos acadêmicos se deve à ausência das atividades presenciais que tem como característica estar próximo à realidade dos conteúdos ministrados, estar entre o convívio social com demais colegas e professores, externandoo contato corroborando para que se haja aperfeiçoamento em seu desenvolvimento pessoal, potencializando aprendizado contínuo pautado no desenvolvimento de competências e aprimoramento para desafios futuros (SANTOS et al., 2018). Aliado a ausência das atividades presenciais, outro fator que pode ter corroborado com essa insegurança são as dificuldades em ter uma rotina de estudos consistente (SANTOS; SABOROSK, 2020), o que permite falhas no desenvolvimento de competências em enfermagem (LIRA et al., 2020; KARPOWICZ et al., 2020). Em relação aos recursos digitais da universidade, quando perguntado aos acadêmicos se ajudaram no ensino remoto, a maior parte dos acadêmicos concordam com a afirmação. O que é justificável por Couto e colaboradores (2020) os recursos digitais são ferramentas que possibilitam novas interações e a criação de espaços favoráveis ao processo de ensino aprendizagem, pois atuam como facilitadores na construção e na troca de conhecimentos, estimulando o exercício de autonomia dos sujeitos envolvidos pela população, gerando grandes desafios e novos modelos para o processo de ensino- aprendizagem (COUTO; COUTO; CRUZ, 2020). Ao se questionar os entrevistados sobre a utilização das TICs e o SIGAA como ferramentas complementares ao ensino presencial, 216 a maioria dos entrevistados afirmam que esta é uma estratégia que deve ser adotada. O SIGAA é o sistema utilizado pela universidade pesquisada para realização de aulas, avaliações, tarefas e disponibilização de vídeo aulas, este ambiente virtual tem demonstrado ser eficiente e corroborou com a continuidade do ensino na universidade durante o período pandêmico. Em pesquisa conduzida por Pascon (2022) com estudantes ingressantes da graduação em enfermagem mostrou que o uso de tecnologias online tem gerado resultados favoráveis. Em relação ao desempenho docente durante o ensino remoto emergencial, a maior parte dos alunos acreditam que os docentes ofertaram orientações suficientes aos acadêmicos no desenvolvimento de atividades, porém discordam que essas atividades foram suficientes para garantir um aprendizado efetivo, assim como discordam que as avalições realizadas no ensino remoto foram eficazes. Observa-se que a elaboração de estratégias ativas de ensino-aprendizagem exige mudanças significativas na prática docente, mediante empenho de energia física, mental e emocional, aumentando, assim, a carga horária na preparação das aulas (BARBOSA; VEIGA; BATISTA, 2020). O papel do estudante em metodologias ativas como centro do processo em que ele mesmo identifica suas potencialidades e seus desafios a serem superados ficou nítido no ensino remoto. Em estudos na literatura sobre metodologias ativas, afirmou-se que os estudantes podem-se mostrar resistentes à mudança, pois a quebra da passividade do estudante na aquisição do conhecimento pode gerar desconforto (AMARAL; BOERY; VILELA; SENA, 2021). Em estudo realizado no Texas foram mencionados a incerteza sobre a aprendizagem do ensino remoto, como sendo um fator de grande tensão, bem como a motivação reduzida para aprender e a tendência para procrastinar (SON et al., 2020). Vale ressaltar que o processo avaliativo por meio do ensino remoto, utilizando ferramentas digitais para Grossi (2021) é efetivo quando direcionado à avaliação formativa, possibilita aos estudantes e professores a realização de feedbacks ágeis, práticos, remotos e síncronos. A preocupação ainda é evidente diante da formação dos profissionais de enfermagem, principalmente pela qualidade desse processo, e por ser a área da enfermagem a qual a prática é indispensável. Sendo assim, para sanar tais fragilidades e não ocorra sobrecarga de cognição ou limitações aos estudantes em entender e os diferentes conteúdos, é importante que o professor observe a quantidade de conteúdo disponibilizado ao aluno, para isso ele deve ser criterioso na seleção do material, isto é, que o material seja importante para o aluno na sua formação acadêmica. Outro fator importante é inclusão de descanso semanal (FILATRO, 2018). 217 No que tange à questão se os docentes estavam capacitados para atuarem no ensino remoto, a maioria dos acadêmicos nem concordam, nem discordam da afirmação, o ensino remoto trouxe à tona a problemática da capacitação laboral dos docentes universitários, ou seja, o despreparo de docentes para o ensino remoto emergencial e a falta de uma estrutura realmente capaz de atender às necessidades de práticas pedagógicas eficientes (SILVA et al., 2021; PALÁCIO; TAKENAMI, 2020; SANTOS; ZABOROSK, 2020). Outro fator que vem acarretar essa falta de capacitação docente foi o curto período de tempo que os docentes tiveram para se adaptar à nova modalidade de ensino. Porém é possível destacar como ponto positivo que apesar dos desafios os professores conseguiram cumprir o planejamento proposto pela universidade e seguir o cronograma de aulas de acordo com os calendários acadêmicos da época. CONCLUSÃO O conhecimento do perfil dos acadêmicos e avaliação dos mesmos quanto ao ensino remoto emergencial nos cursos de enfermagem proporciona às instituições de ensino superior, docentes e gestores a capacidade de desenvolver e de reorganizar estratégias voltadas ao ensino dos acadêmicos e melhorias na modalidade do ensino remoto. A utilização da TICs como recursos auxiliares na pandemia, foi essencial para continuidade da programação letiva dos acadêmicos no contexto da pandemia, principalmente no que diz respeito ao conteúdo teórico. As TICs integram o modelo contemporâneo de ensino em saúde e em enfermagem e apresentam tendência de maior incorporação, na medida em que se avança o desenvolvimento científico e tecnológico. Entretanto, faz-se necessário uma reflexão sobre os limites e possibilidades do uso das tecnologias no ensino em saúde e enfermagem. A pesquisa poderá trazer avanços no conhecimento científico voltado para a área da enfermagem, pois servirá como conteúdo para embasar o desenvolvimento de ações que proporcionem melhorias no ensino de enfermagem, e também de demais cursos que compõem as instituições de ensino superior. É fundamental destacar que, a graduação em enfermagem é um curso que agrega teoria e prática para envolver os estudantes no processo de aprendizagem, portanto, o ensino remoto deve se fazer como forma não a substituir o conhecimento prático, e sim, possibilitar que os alunos englobem mais conhecimento. Como limitação do estudo, apesar de muito 218 próximo, não foi possível atingir o n estabelecido segundo o cálculo amostral. Sugere-se que sejam realizados estudos futuros sobre as mudanças de estratégias na realização de aulas remotas após os adventos da pandemia para fortalecimento da aprendizagem de enfermagem. Acredita-se, que os resultados obtidos no estudo servem de subsídios para sanar as deficiências no ensino decorrentes da pandemia e embasar o desenvolvimento de estratégias visem recuperar o aprendizado efetivo dos acadêmicos de enfermagem, contribuindo para a formação de profissionais enfermeiros críticos, reflexivos e competentes no exercício da sua profissão. REFERÊNCIAS AMARAL A.P.S, BOERY R.N.S.O, VILELA A.B.A, SENA E.L.S. Metodologias ativas: relato de experiência da participação em curso de especialização na área da saúde. Rev Docência Ens Sup. v.11, n.11, p1-20, 2021.BRASIL. LEI Nº 12.711, DE 29 DE AGOSTO DE 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm/ Acesso 30 Nov2022. BASTOS, M.D.E.C. et al. Ensino remoto emergencial na graduação em enfermagem: relato de experiência na COVID-19. Reme Rev. Mineira de Enfer, v.24, p.1–6,2020. Disponível: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1135978. Acesso 1 Out 2022. BRASIL. 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