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Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico Unidade 2 Contextos de uso da avaliação psicológica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria JÉSSICA DE ASSIS SILVA SHEILA MARIA PRADO SOMA FÁBIO PEREIRA SOMA AUTORIA Jéssica de Assis Silva Sou formada em Psicologia pela Universidade Federal do Pará, com Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos e Doutorado em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Adicionalmente, sou especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP sendo docente em cursos de graduação e especialização e gostaria de dividir um pouco dessa experiência com você! A Editora Telesapiens e eu estamos empenhados em te acompanhar nessa jornada! Conte conosco! Sheila Maria Prado Soma Sou Psicóloga há 22 anos, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Carlos. Tenho experiência em Psicologia Clínica e docência no ensino superior, pois trabalhei todo esse tempo com a formação de profissionais nessa área e produção de conteúdos e pesquisas. Psicologia é a minha paixão e, transmitir minha experiência profissional e de vida àqueles que estão em formação é um dos focos do meu trabalho. Por esse motivo fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Fábio Pereira Soma Tenho formação em Filosofia, Pedagogia e sou Mestre em Filosofia pela Unesp, com experiência técnico-profissional na área de educação de mais de 12 anos. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; 7 UNIDADE 02 Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a área de Avaliação Psicológica é uma das mais versáteis na profissão e fornece bases para outros campos de atuação e intervenções? Isso mesmo. A área de Avaliação Psicológica pode se faz presente em diversas etapas de uma intervenção e em vários campos de atuação. Sua principal responsabilidade é compreender a amplitude de possibilidades na Avaliação Psicológica a partir dos mais diversos contextos de atuação. Você verá o profissional no âmbito clínico e as finalidades da avaliação atreladas a esse contexto. O ambiente organizacional também será abordado, além da importância e passos da avaliação psicológica em contexto escolar. Adicionalmente, a interdisciplinaridade desse campo de atuação pode ser mais bem vista a partir da aplicação da avaliação no campo jurídico e no esportivo, ambos os contextos em desenvolvimento na área são de extrema importância. Entendeu a importância de aprender um pouco mais sobre essa temática? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 9 OBJETIVOS Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliá- lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Analisar o contexto clínico e organizacional do uso da avaliação psicológica. 2. Analisar o contexto da avaliação psicológica em ambiente escolar. 3. Compreender a dinâmica da avaliação psicológica nos campos esportivos e judiciários. 4. Compreender a dinâmica da avaliação psicológica no ambiente esportivo e para porte de arma. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 10 Contexto clínico e organizacional do uso da avaliação psicológica OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona o contexto clínico e organizacional no campo da avaliação psicológica. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que se engajaram na compreensão desses contextos têm maior flexibilidade no mercado de trabalho e podem adentrar em variados tipos de instituições. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Contexto clínico O profissional de avaliação psicológica, que pretende seguir no campo clínico, deve atentar-se para os princípios teóricos que norteiam a sua prática e refletir sobre os métodos e técnicas a serem empregados em sua atuação (ARAÚJO, 2007). Arzeno (1995) enfatiza que a partir de um bom diagnóstico estabelecido no campo clínico, tal diagnóstico pode servir para as mais variadas ações, desde a atuação no âmbito jurídico até o campo vocacional, por exemplo. A Figura 1 exemplifica as vantagens de se estabelecer um diagnóstico. Figura 1 - Vantagens do estabelecimento de um diagnóstico Compreender o que ocorre e suas causas Avaliação de riscos e seguimento do tratamento Proteção profissional Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 11 Um diagnóstico é vantajoso a partir do momento em que é possível uma melhor compreensão acerca do fenômeno analisado e suas possíveis causas. Adicionalmente, pode-se verificar se de fato é possível seguir com o tratamento ou intervenção. Ainda, o mesmo favorece a escolha do tipo de técnica e método a ser utilizado durante a intervenção (ARZENO, 1995). VOCÊ SABIA? Estabelecer um diagnóstico também significa uma proteção profissional no sentido de reforçar ambos os compromissos: éticos e clínicos. Cabe ao profissional estar atento a possíveis desdobramentos a partir do diagnóstico realizado e também fundamentar a sua prática a partir de uma avaliação consistente (ARZENO, 1995). A literatura aponta, de maneira geral, três pontos que auxiliam na escolha da técnica para a realização de uma avaliação em contexto clínico (ARAÚJO, 2007), conforme exposto na Figura 2. Figura 2 - Quesitos para a escolha de uma técnica de avaliação psicológica no contexto clínico segundo Araújo (2007) Referencial teórico Abordagem psicológica Objetivo Clínico, profissional etc. Finalidade Diagnóstico, tratamento, prevenção. Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Desde a concepção de homem e de mundo (referencial teórico) os objetivos e fins de uma avaliação são essenciais na seleção das técnicas e métodos a serem empregados (ARAÚJO, 2007). Para outros autores, há algumas outras finalidades no psicodiagnóstico clínico que devem ser enfatizadas. A Figura 3 resume as principais finalidades envolvendo o estabelecimento de uma avaliação no âmbito clínico: Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 12 Figura 3 - Finalidades do estabelecimento de um psicodiagnóstico clínico segundo Arzeno (1995) Diagnóstico Avaliação do tratamento Meio de comunicação Investigação Psicodiagnóstico Clínico Fonte: Elaborado pelos autores(2021). Dentre as finalidades de um psicodiagnóstico clínico, Arzeno (1995) destaca o próprio diagnóstico, mas não no sentido de estabelecer um rótulo, entendendo que se trata de um processo dinâmico. O uso de testes padronizados, a análise do vínculo terapêutico em entrevistas iniciais é fundamental para um bom diagnóstico. Para tanto, o diagnóstico pode ser realizado para sanar dúvidas na avaliação ou nas etapas de intervenção, e ainda como resposta a alguma demanda específica (ARZENO, 1995). IMPORTANTE: Ao profissional cabe salientar, que quanto mais fontes de informação são utilizadas na avaliação, maior a segurança no estabelecimento do diagnóstico na prática clínica. Uma segunda possibilidade, quanto à realização de um psicodiagnóstico clínico, pode envolver a própria avaliação do tratamento, de maneira a verificar possíveis avanços terapêuticos ou mesmo o estabelecimento e planejamento de uma alta no processo ou reavaliação para a proposição de uma nova conduta (ARZENO, 1995). Nesse sentido, é extremamente importante no contexto clínico a atitude imparcial do profissional psicólogo quanto ao seu trabalho e a intervenção realizada, assumindo o papel de um observador/ “fotógrafo” da situação (ARZENO, 1995). Araújo (2007) enfatiza, todavia, a postura profissional para além da neutralidade e objetividade: os avanços no Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 13 psicodiagnóstico a partir do momento que cederam lugar a subjetividade e a relação terapêutica permitiram uma compreensão do indivíduo de forma global. Figura 4 - Fotógrafo Fonte: FreeImages O psicodiagnóstico clínico também pode funcionar como um meio de comunicação de maneira a ampliar a consciência do cliente acerca do que foi analisado ou mesmo do que é necessário intervir, sendo uma das formas de auxiliar no engajamento para a resolução do problema disposto. Por fim, o psicodiagnóstico também pode servir como fonte de investigação, cujos objetivos podem ser a construção de instrumentos ou mesmo a avaliação quanto a validade das conclusões/ informações obtidas dentro do processo clínico (ARZENO, 1995). IMPORTANTE: É válido frisar que o diagnóstico clínico pode ser um meio também para que haja um melhor aceite por parte do cliente, das condições estabelecidas para o tratamento e mesmo uma forma de discutir com os familiares, quando é o caso, sobre o melhor tipo de tratamento a ser estabelecido e as diretrizes da intervenção. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 14 Um processo de psicodiagnóstico pode ser longo e engloba diferentes etapas. Ocampo (2005) destaca quatro etapas envolvendo o diagnóstico clínico, conforme destacado na figura 5. Figura 5 - Etapas envolvendo o diagnóstico segundo Ocampo (2005). Entrevista Inicial Aplicação de testes e técnicas projetivas Encerramento com devolutiva oral Laudo Fonte: Elaborado pelos autores (2001). As etapas do psicodiagnóstico clínico devem envolver desde o contato inicial do avaliador com o cliente até a devolutiva, também por escrito, a respeito do que foi realizado, apresentando a seguinte sequência: 1) entrevista inicial, de maneira a conhecer a demanda e estabelecer os objetivos do trabalho; 2) a aplicação de testes e técnicas projetivas, compreendendo a base de um psicodiagnóstico no âmbito psicodinâmico; 3) a devolutiva oral, a respeito de todas as etapas e resultados obtidos ao longo do processo a serem devolvidos ao cliente ou aos responsáveis (ex. pais, em se tratando de avaliação infantil); 4) Elaboração de um laudo, um documento escrito como retorno da avaliação de maneira a registrar e finalizar o processo. Arzeno (1995) detalha as etapas do psicodiagnóstico clínico em sete momentos, a saber: 1. Solicitação da consulta: tal etapa é referente ao contato inicial do profissional com a demanda. 2. Entrevista: Etapa em que há a coleta de informações e histórico de vida e clínico do cliente. 3. Reflexão: Etapa na qual são elaboradas hipóteses iniciais e, é realizado o planejamento da intervenção. 4. Estratégia diagnóstica: Etapa na qual as técnicas selecionadas são empregadas ao longo do processo. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 15 5. Análise: integração dos dados frutos do processo de avaliação. 6. Devolução: Etapa na qual há a entrevista devolutiva a partir do que foi observado e concluído do processo. 7. Laudo: Elaboração de um documento por escrito devolvido a quem de interesse na avaliação. Sobre as etapas iniciais no processo de avaliação clínico, há autores que enfatizam e incluem nesse contato inicial com a demanda, a prática do enquadre (ARAÚJO, 2007; ARZENO, 1995). DEFINIÇÃO: Enquadre, de maneira geral, consiste em um contrato terapêutico estabelecido com o cliente de maneira a elucidar os pontos acerca do tratamento e estabelecer os limites de seu trabalho (CATANI, 2013). Araújo (2007) destaca alguns tópicos que são úteis no estabelecimento do contrato terapêutico entre terapeuta e cliente e/ou responsáveis, como detalhar os objetivos da intervenção, os principais papéis desempenhados na relação, a duração, local, horário/tempo da avaliação, bem como, quais os honorários e como serão realizados os pagamentos. Figura 6 - Pessoa organizando a agenda Fonte: FreeImages. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 16 O enquadre pode ser realizado em outros contextos que não só o clínico. O texto de Catani (2013) aborda o enquadre na abordagem psicanalítica e no contexto hospitalar, discutindo possibilidades e limites dessa etapa. Acesso-o clicando aqui. Contexto organizacional No contexto organizacional, há a responsabilidade do profissional em avaliação, entre outras atividades, contribuir junto as tarefas de recrutamento e seleção. Tal responsabilidade se reflete tanto na captação, quanto na classificação de pessoas em organizações (MAHL; SCHWAB, 2017). Figura 7 – Avaliação em empresa Fonte: Freepik DEFINIÇÃO: Recrutamento refere-se ao processo cujo objetivo é atrair pessoas com potencial para compor vagas existentes em uma organização (LACOMBE, 2005). O quadro 1 mostra a diferença entre recrutamento interno e recrutamento externo, conforme exposto por Mahl e Schwab (2017) e de acordo com outros autores, condizente com o que é descrito na literatura da área. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 17 Quadro 1 – Comparativo entre Recrutamento interno e Recrutamento externo conforme apontado por Mahl e Schwab (2017) Tipos de Recrutamento Recrutamento Interno Recrutamento Externo Envolve, sobretudo, o remanejamento de colaboradores em uma empresa (Exemplo: promoção, transferência). Envolve o preenchimento da vaga por uma pessoa externa à organização, mas com potencial a esse preenchimento. Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Seleção implica em uma vaga a ser preenchida a partir da escolha de um candidato conforme o seu potencial para a vaga, de maneira a prezar pela manutenção ou aumento do desempenho da equipe, ou mesmo um aumento da eficácia da empresa em questão (CHIAVENATO, 2009). Segundo Pereira et al. (2003 apud MAHL; SCHWAB, 2017), o processo de seleção depende inicialmente da própria descrição do cargo e as competências que são exigidas para a ocupação do mesmo. Apesar de haver essa variação, Lacombe (2005) enfatiza algumas possíveis etapas envolvendo o processo de seleção, conforme apontado pela Figura 8. Figura 8 - Etapas de um processo de seleção de pessoas para cargos em uma organização segundo Lacombe (2005) Análise de curriculo Triagem preliminar Testes técnico- profissionais Testes psicológicos Entrevista Dinâmicas Entrevista com os chefes Análise de histórico laboral Informações cadastrais Exame médico Fonte: Elaborado pelos autores (2021). A avaliação psicológica em contexto organizacional permite a comparação entre as características que são pessoais/individuais do candidato às características compatíveisa demanda da função a ser Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 18 executada. Cabe destacar que a seleção pode não só impactar diretamente na função, mas também no próprio clima organizacional, o que mostra a relevância de se realizar uma boa seleção (MAHL; SCHWARB, 2017). Wechsler (1999 apud MAHL; SCHWARB, 2017) enfatiza que o profissional nesses processos deve não só conhecer a organização, mas o departamento no qual essa função será executada. Adicionalmente, o mesmo autor destaca a importância de conhecer as características da vaga além das relações estabelecidas a partir da função desempenhada. Apesar do profissional de psicologia ser o mais adequado para a realização da seleção, outras pessoas podem executar a seleção sem quaisquer impedimentos, ainda que não tenham a formação adequada para isso (MAHL; SCHWARB, 2017). Há muitos testes utilizados no contexto organizacional. Nesse sentido, em meio a realidade de testes muitas vezes sem a adaptação para o contexto brasileiro, há a necessidade natural da adaptação ou construção de um instrumento na área. Para que isso seja feito é importante e recomendável o contato com os responsáveis pelo teste e, em seguida, seguir algumas etapas, conforme apontado por Bandeira e Hutz (2020) e dispostas na Figura 9. SAIBA MAIS: O estudo de Borsa et al. (2012) fornece maiores detalhes e exemplificação a respeito do processo de adaptação de instrumentos para uso profissional. BORSA, J. C. et al. Adaptação e validação de instrumentos psicológicos entre culturas: algumas considerações. Paidéia, v. 22, n. 53, p. 423-432, Ribeirão Preto, 2012. Figura 9 - etapas de adaptação de testes estrangeiros para uso no campo organizacional segundo Bandeira e Hutz (2020) Tradução Síntese Estudo piloto Tradução reversa Avaliação por especialistas Avaliação pelo público-alvo Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 19 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo, tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que é possível aplicar a avaliação psicológica considerando contextos diferentes, a exemplo da clínica e das organizações. No contexto clínico a importância da avaliação reside também no fato de poder servir de base para a atuação em outros contextos. Tal avaliação depende do referencial adotado, do objetivo e de sua finalidade. Além disso, o diagnostico nesse âmbito pode ser entendido também como forma de proteção além de um cuidado ético e técnico profissional. O processo de avaliação psicológica clínico é composto por várias etapas desde o primeiro contato com a demanda até a finalização do processo envolvendo a elaboração de um documento psicológico. Já no contexto organizacional, as etapas de avaliação dependem do contexto organizacional e uma das formas de trabalhar é dentro de processos de recrutamento e seleção. Você viu que há dois tipos de recrutamento, interno e externo, e diversas etapas no processo de seleção que envolve desde a análise de currículo até o preenchimento no cargo. Você também viu que em alguns casos são necessárias adaptações de instrumentos para avaliação pensando na realidade brasileira e que não necessariamente o processo de seleção seja exclusivo do psicólogo, muito embora seja um dos profissionais mais indicados para o desempenho dessa função. Resumidamente, é tarefa do profissional em avaliação no âmbito organizacional e envolvendo contratação, verificar a compatibilidade de habilidades individuais e de habilidades exigidas pela função a ser desempenhada. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 20 Contexto da avaliação psicológica em ambiente escolar OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a avaliação psicológica no contexto escolar. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão, sobretudo para aqueles profissionais que têm interesse em adentrar no campo da Educação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Psicologia escolar e da educação É importante para a discussão do profissional da psicologia inserido no contexto escolar compreender a diferença entre Psicologia Escolar e Psicologia Educacional. Embora sejam campos passíveis de articulação, as ênfases são distintas (ANTUNES, 2008). Psicologia Educacional é relativa a uma subárea da Psicologia, cujos objetivos são relativos à produção de conhecimento em torno do processo psicológico e discussão de processos educativos (ANTUNES, 2008). Figura 10 - Livro aberto Fonte: FreeImages Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 21 A Resolução nº 13/2007 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece a Psicologia Escolar enquanto área de atuação do profissional da Psicologia. Há a possibilidade para o profissional refletir quanto a processos de ensino e aprendizagem, bem como os impactos de vários fatores sobre esse processo. A Psicologia Escolar refere-se ao campo de atuação profissional e lida diretamente com o processo de escolarização, bem como, com as relações estabelecidas em ambiente escolar. A Resolução nº 13/2007 do CFP também destaca que o profissional pode realizar o trabalho dentro de uma equipe interdisciplinar, possuindo algumas tarefas, exemplificadas na Figura 11. Figura 11 - Tarefas executadas por um psicólogo na área escolar Aplicação de conhecimentos psicológicos Análise de relações no sistema de ensino Estudo de processo ensino-aprendizagem e produtividade educacional Desenvolvimento de programas de qualidade de vida Prestação de serviços a agentes educacionais Desenvolver habilidades para aquisição de conhecimento Validação e utilização de testes Desenvolvimento científico Fonte: Elaborado pelos autores (2021) com base na Resolução nº 13/2007 do CFP. ACESSE: A resolução versa sobre as especialidades do profissional de Psicologia, dentre elas a Psicologia Escolar/Educacional. Clique aqui para acessá-la. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/08/Resolucao_CFP_nx_013-2007.pdf 22 É válido frisar que o campo da educação sempre esteve em destaque na Psicologia, seja auxiliando no estabelecimento da Psicologia enquanto profissão ou contribuindo para o status científico da mesma (MÄDER, 2016). É importante que o profissional, nessa área, tenha conhecimentos acerca do desenvolvimento humano e que compreenda como uma de suas possibilidades de atuação também pode ser a de facilitar o trabalho de educadores. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre o histórico da Psicologia Escolar e Educacional, o artigo de Antunes (2008) é uma excelente referência, fornecendo inclusive um debate a respeito de perspectivas na área. Acesse-o clicando aqui. Embora adentre no campo escolar, cabe destacar que o psicólogo não se torna pedagogo, mas dele é exigido conhecimentos acerca da área e um trabalho com enfoque interdisciplinar. Antunes (2008) enfatiza que o profissional na área escolar deve atuar em três instâncias, sendo: a) aquele que se compromete; b) aquele com quem se compromete e c) aquilo com o que se compromete. Figura 12 - Menina realizando atividades escolares Fonte: FreeImages Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://www.scielo.br/j/pee/a/kgkH3QxCXKNNvxpbgPwL8Sj/ 23 Avaliação em contexto escolar Inicialmente o uso de testes no campo escolar era visto de maneira ruim e passava desconfiança quanto à validade dos resultados, visto que muitas avaliações eram realizadas como caráter classificatório (OLIVEIRA et al., 2007). Sisto et al. (2001 apud OLIVEIRA et al., 2007) destacam que os testes são mais um recurso para a avaliação e não devem ser considerados como fonte única de informação. O autor indica possibilidades de complementação dos dados de maneiraqualitativa, a partir do uso de entrevistas ou técnicas de observação, por exemplo. Oliveira et al. (2007) enfatizaram que a avaliação psicológica em contexto escolar abarca múltiplas dimensões e que os instrumentos utilizados podem variar entre uma abordagem direta ou indireta do fenômeno observado. A Figura 13 aponta as dimensões passíveis de avaliação psicológica no referido contexto. Figura 13 - Dimensões debatidas em uma avaliação psicológica escolar Aspectos cognitivos Aspectos afetivos Aspectos culturais Aspectos sociais Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Oliveira et al. (2007) destacam como possibilidades de investigação em avaliação psicológica, habilidades de leitura e escrita, que são os estudos tradicionalmente realizados, além de outros pontos de investigação, tais como as habilidades sociais, dificuldades de aprendizagem ou avaliação da interação entre os participantes do ambiente escolar. A literatura aponta, como principal causa de encaminhamento para avaliação, as dificuldades escolares (SANTOS; CAVALCANTE, 2016; SPRADA; GARGUETTI, 2016). Nesse sentido, cabe destacar o fato de que a deficiência nem sempre equivale a dificuldade de aprendizagem, embora em ambos os casos exista a necessidade de adaptações num modelo de atendimento especial (SPRADA; GARGUETTI, 2016). Segundo Arzeno (1995), um psicodiagnóstico clínico poderia servir como fundamentos para um psicodiagnóstico psicopedagógico. A autora Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 24 relata que muitos profissionais restringem a sua prática à aplicação de testes e uma análise quanto a aptidões do indivíduo, embora uma contextualização da história de vida e das relações estabelecidas pelo cliente possa favorecer uma atuação mais contemplativa do fenômeno. Cabe lembrar que apesar de mais comum, a avaliação em contexto de aprendizagem engloba não só crianças, pois adolescentes e adultos também recorrentemente precisam de atenção a respeito das dificuldades no campo de aprendizagem (ARZENO, 1995). Figura 14 - Pessoa adulta estudando Fonte: Freepik As dificuldades de aprendizagem podem causar impactos sob o desenvolvimento da criança, por isso a necessidade não só da sua identificação, mas também da sua avaliação e tratamento (SPRADA; GARGUETTI, 2016). Dificuldades de aprendizagem envolvem e podem ter sua influência na escola, na família ou fatores da própria criança. Rotta (2006) enfatiza que as questões podem ser então relativas a fatores orgânicos, de ordem psicológica ou ambiental. Dessa forma, uma abordagem multidisciplinar favoreceria essa avaliação. Furtado (2010 apud SPRADA; GARGUETTI, 2016) fala que uma pessoa em situação de aprendizagem pode apresentar uma disponibilidade tanto favorável quanto desfavorável em aprender. A Figura 15 indica os fatores que influenciam tal disponibilidade. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 25 Figura 15 - Fatores que exercem influência sob a disponibilidade para aprender segundo Furtado Momento de vida História pessoal Percepção do contexto de aprendizagem Fonte: Elaborado pelos autores (2021). A análise dos fatores que influenciam a disponibilidade de aprender em articulação com os fatores mais comuns atrelados a dificuldades de aprendizagem, fornecem uma visão global do indivíduo e favorecem o processo de avaliação (SPRADA; GARGUETTI, 2016). O quadro 2 exemplifica os dois tipos de enfoque apontados por Mäder (2016) para ações desenvolvidas no contexto escolar, sendo cada um desses enfoques responsáveis por diferentes estratégias ou mesmo locais onde ocorrem a intervenção. Quadro 2 – Diferentes enfoques na Avaliação Psicológica em contexto educacional segundo Mäder (2016) Foco de Avaliação Psicopedagógica Preliminar Objetivo Compreensão do processo de aprendizagem, verificando potencialidades e obstáculos a aquisição de conhecimento. Focal, com demandas de processo de aprendizagem, sendo útil para a realização de encaminhamentos ou orientação. Estratégias comuns Entrevistas, aplicação de testes, escalas e questionários, recursos complementares, análise documental, observação, contato institucional e com outros profissionais. Entrevistas, análise documental, recursos complementares, observação, contato com outros profissionais. Número de encontros Depende do objetivo e fenômeno envolvido. Depende do objetivo e fenômenos envolvidos. Local Clínicas psicológicas e multiprofissionais. Instituições educacionais. Fonte: Elaborado pelos autores (2021) com base em Mäder (2016). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 26 Mäder (2016) aponta ainda processos que são comuns as etapas de avaliação psicológica em contexto educacional: 1. Acolhimento da demanda: motivo da avaliação, queixa etc. 2. Caracterização do objeto de estudo: quem e o que será avaliado. 3. Análise da demanda: Detalhamento da demanda e hipóteses iniciais relativas ao fenômeno. 4. Definição do objetivo da avaliação: o que o profissional pretende realizar a partir da demanda e avaliação inicial. 5. Construção do planejamento técnico: seleção das melhores estratégias e estabelecimento do método e enquadre. 6. Aplicação do plano estabelecido: desenvolvimento da intervenção em si. 7. Levantamento, análise e interpretação dos dado: a partir do que foi observado e das técnicas e instrumentos aplicados. 8. Integração dos resultados: A partir do que foi avaliado dos resultados, estabelecimento de um raciocínio crítico. 9. Discussão dos dados a partir da perspectiva teórica adotada para a avaliação. 10. Elaboração de uma conclusão de maneira sintética a respeito do que foi observado e avaliado. 11. Planejamento da proposta de intervenção. 12. Elaboração de documento psicológico de maneira a concluir/ finalizar a avaliação realizada. 13. Seleção de uma metodologia adequada para a sessão ou sessões de devolutiva. 14. Devolutiva. A escola por si só já é um ambiente diferente para a criança, por isso a apreensão dos pais é algo recorrente. Normalmente há a ideia de fracasso se opondo ao sucesso, e compreender que muitas vezes se Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 27 busca um ideal de comportamento da criança (SANTOS; CAVALCANTE, 2016). A contextualização da criança em suas relações e seu histórico é fundamental e imperativa: trata-se de uma análise biopsicossocial a ser realizada. Figura 16 - Crianças na escola Fonte: FreeImages Santos e Cavalcante (2016) enfatizam que há a necessidade de atentar-se, quando se trabalha com crianças no contexto escolar, em realizar uma boa anamnese, complementada por uma entrevista com pais. Os autores destacam ainda a necessidade de empatia na relação profissional-criança, para a garantia de uma intervenção bem-sucedida. Inclusive, a ação dos professores, quando motivadores, favorecem também o desenvolvimento saudável da criança. Figura 17 - Adulto auxiliando criança Fonte: FreeImages Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 28 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo, tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a relação da Psicologia com o campo da Educação é uma relação antiga. Há a necessidade, pois, de você aprender a diferenciação entre Psicologia Educacional e Psicologia Escolar, sendo a primeira um campo de saber e produção de conhecimento, uma subárea da Psicologia e a segunda um campo de atuação, uma especialidade na prática profissional do psicólogo. Em se tratando de atuação, o psicólogo em contexto escolar pode exercer múltiplas funções, desde a avaliação da criança e seu desenvolvimento até a promoção de processos de aprendizagem mais favoráveis. A avaliação psicológica é uma das ações que podem ser desempenhadas. É importante destacar que as dificuldades de aprendizagemrepresentam a maior demanda nesse contexto e, por tanto, o principal motivo de solicitação de avaliação. Cabe lembrar que o profissional deve realizar uma análise global do indivíduo a partir da avaliação das seguintes dimensões: cognitiva, afetiva, social e/ou cultural. A avaliação psicológica em contexto escolar não deve ser restrita a testes, entendo que há recursos complementares que podem favorecer essa avaliação, tais como a entrevista envolvendo pais. A avaliação psicológica em contexto escolar pode ter enfoques diferentes, mas o psicodiagnóstico clínico pode fornecer bases para a atuação profissional na escola. Escola, família e indivíduo devem ser avaliados, destacando-se que não só crianças participam desse processo, mas adolescentes e adultos também podem ser objetos de avaliação, principalmente quando se trata de dificuldades de aprendizagem. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 29 A avaliação psicológica no campo judiciário e esportivo OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona o contexto jurídico da avaliação psicológica, bem como, possibilidades para a atuação profissional no campo esportivo. Isto será fundamental para compreender a amplitude do exercício de sua profissão. As pessoas que se engajarem na compreensão desses contextos terão maior flexibilidade no mercado de trabalho, no sentido que compreenderão um pouco mais sobre o trabalho profissional em contextos interdisciplinares. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A Psicologia e suas aproximações com o Direito Para Urra e Mezquita, (1993, apud PENSO; CONCEIÇÃO; COSTA, 2018), o termo “Psicologia Jurídica” seria o termo adequado para abarcar ambas as práticas, tanto a Psicologia Forense quanto a Psicologia Criminal. Figura 18 - Homem sendo preso Fonte: Freepik Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 30 A interdisciplinaridade do campo recai sobre o comportamento humano, todavia o Direito é responsável pela regulamentação do mesmo, enquanto que a Psicologia trabalha em prol da sua compreensão e contextualização (GAUDÊNCIO et al., 2015). Dessa forma, a Psicologia está interessada além da aplicação de uma lei, também na aplicação de princípios do comportamento humano para fornecer suporte à prática jurídica (HUSS, 2001), contribuindo com a objetividade e a mensuração, tanto do que é passível de observação, como o que é de cunho privado, como crenças, processos tanto cognitivos como emocionais (QUINTERO; LOPEZ, 2010). Não há subordinação entre o Direito e a Psicologia, são áreas autônomas podendo ser complementares na Psicologia Jurídica/ Forense. A Figura 19 enfatiza algumas diferenças entre a Psicologia e o Direito, conforme apontado por Huss (2001). Figura 19 - Quadro comparativo entre as ciências Direito e Psicologia Psicologia Direito Empírica Nomotética Caráter Probabilístico Pesquisa objetiva (experimentação) Caráter descritivo Dogmático Ideográfico Caráter definitivo Sistema adversarial (disputa) Caráter prescritivo Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Observando o contexto histórico, a década de 50 foi um marco para a entrada da Psicologia no âmbito jurídico, muito embora com uma prática restrita a diagnósticos, mais como um parecer para servir de base a decisões dos profissionais de direito (PENSO; CONCEIÇÃO; COSTA, 2018). É a partir de 1984 que ocorrem mudanças pertinentes à prática psicológica no campo da justiça, no qual no Código Criminal Federal Brasileiro o testemunho de profissionais psicólogos é adicionado, prática antes restrita apenas ao campo da Psicologia (GOMIDE, 2016). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 31 A Resolução nº 02/2001 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) foi fundamental, sobretudo na criação de uma prática fruto da inserção do profissional no contexto jurídico, a de Psicologia Jurídica. Tal resolução contribuiu estabelecendo regras pertinentes à função do profissional, bem como a elaboração de documentos relativos a essa especialidade. ACESSE: A Resolução nº 02/2001 versa sobre o título de especialista em Psicologia. Para saber mais acesse-a clicando aqui. Figura 20 - Alguns marcos da prática psicológica forense Déc. 50 Entrada da Psicologia no Direito 1984 Testemunho de Profissionais psicólogos Resolução 02/2001 - CFP Especialidade de Psicologia Jurídica. Fonte: Elaborado pelos autores (2021). A Resolução nº 007/2003 envolveu o esclarecimento quanto à elaboração de laudos, pareceres ou relatórios psicológicos como exemplos de documentos envolvidos na prática de perito ou assistente técnico do judiciário. ACESSE: A Resolução nº 007/2003 versa sobre a elaboração de documentos escritos oriundos da prática de avaliação psicológica. Para acessá-la, Clique aqui. Para Huss (2001) há três subáreas principais na prática forense, sendo elas a de avaliação, tratamento e consultoria. Gomide (2016) destaca outras possibilidades de atuação, inclusive enfatizando a relevância que a pesquisa tem, não só na proposição e modificação no contexto legislativo, mas também produzindo bases científicas para atuação nas medidas de Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2006/01/resolucao2001_2.pdf https://transparencia.cfp.org.br/wp-content/uploads/sites/15/2016/12/resolucao2003-07.pdf 32 conflito e justiça. A figura 21 apresenta um resumo das áreas de atuação do profissional na prática forense. Figura 21 - Áreas de atuação no campo forense segundo Gomide (2016) Psicologia do Crime Avaliação Forense Psicologia do Sistema Correcional Psicologia aplicada a Programas de Prevenção Clínica Forense Psicologia da Polícia Assessoria/ consultoria Pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores (2021). O psicólogo em trabalho na área jurídica/forense pode auxiliar em questões de inimputabilidade ou mesmo avaliar sobre aspectos de negligência. Adicionalmente, pode auxiliar em tratativas acerca de danos oriundos de crimes na esfera civil (HUSS, 2021). Apesar de muitas possibilidades de atuação, Gomide (2016) aponta que na literatura a prática de avaliação é considera como prática nuclear da Psicologia Forense. O processo de avaliação no contexto jurídico É importante pontuar que a avaliação psicológica no contexto jurídico depende, entre outros quesitos, de variáveis como idade, gênero, tipologia e gravidade dos crimes envolvidos (GOMIDE, 2016). Nessa área podem ser trabalhadas desde a identificação de psicopatologias a elaboração e aplicação de testes. A avaliação neuropsicológica também se faz presente nesse campo, sobretudo no fornecimento de subsídios em perícias (SERAFIM et al., 2010). Há pelo menos três campos de possibilidade de atuação profissional indicados por Serafim et al. (2016) e dispostos na Figura 22. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 33 Figura 22 - Possibilidades de atuação em avaliação neuropsicológica forense Vara criminal Ministério Público Vara cível Interesses privados; Vara da Família; Vara da Infância e Juventude Vara trabalhista Relações de trabalho, engloba também o Direito Administrativo e Direito Militar Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Gomide (2016) destaca a possibilidade do psicólogo forense em atender demandas voltadas não só para o agressor, como também para a vítima, avaliando desde a responsabilidade criminal do réu em questão, a indicação de reclusão ou reinserção social; quanto a vítima, verificar os impactos a partir da ocorrência do crime. O profissional no campo jurídico também pode atuar em situações que envolvem o assédio moral no trabalho ou em outros contextos, como em disputas de guarda. Há muitos procedimentos voltados tanto para o agente, quanto para o receptor de ações no campo jurídico e, normalmente a procura pelo serviço se dá por uma imposição de um juiz, dificilmente há demanda espontânea(GAUDÊNCIO et al., 2015). É importante constar que o próprio ambiente jurídico impacta o indivíduo e seu comportamento, o que pode se tornar um obstáculo a prática da avaliação, sendo essa de caráter multifatorial (GAUDÊNCIO et al., 2015). Tavares (2012) aponta algumas variáveis relevantes pertinentes ao processo avaliativo, destacadas na Figura 23. Figura 23 - Variáveis relevantes no processo de avaliação segundo apontado por Tavares (2012) Relação sujeito x avaliador Características do sujeito Técnicas do procedimento Complexidade da tarefa Sujeito x contexto avaliativo História/ contexto de vida do sujeito Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 34 A literatura aponta que há algumas condutas comumente associadas à prática de crimes, tais como o baixo engajamento a papéis sociais tradicionais ou valores e mesmo alguns transtornos, a exemplo do Transtorno de Personalidade Antissocial, cuja indiferença relativa aos sentimentos do outro é marcante (GAUDÊNCIO; CARVALHO, 2015). Cabe destacar que há dificuldades quanto a instrumentos de avaliação psicológica no sistema prisional brasileiro (GAUDÊNCIO; CARVALHO, 2015). Um dos exemplos atrelados a psicopatia é o Psychopathy Checklist Revised (PCL-R), traduzido e validado por Morana (2003). SAIBA MAIS: A tese de doutorado de Morana (2003) discute a avaliação do instrumento PCL-R para a realidade brasileira associando-o a traços de personalidade. Uma ótima oportunidade para saber mais sobre essa relação. MORANA, H. C. P. Identificação do ponto de corte para a escala PCL-R (Psychopathy Checklist Revised) em população forense brasileira: caracterização de dois subtipos de personalidade; transtorno global e parcial. 178f. Tese (Doutorado) Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2003. Clique aqui. Figura 24 - Individuo em avaliação Fonte: Freepik Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-14022004-211709/publico/HildaMorana.pdf 35 As vantagens do uso de diversos recursos para um psicodiagnóstico completo, de cunho dinâmico e com maior viabilidade para a realização de inferências na prática clínica são apontadas por Costa e Costa (2016). As autoras validam, sobretudo, a entrevista como fonte de informação e uma atenção especial a confiabilidade dos testes utilizados, visto que os resultados impactam diretamente no trabalho de outras áreas, como o Direito ou mesmo a Psiquiatria. O profissional de psicologia no contexto de avaliação psicológica em articulação com o direito deve sempre refletir sobre os objetivos da avaliação, a qual instância ele responde e quem deve ser priorizado nessa avaliação (WILLIAMS; CASTRO, 2016). É comum a existência de múltiplos informantes durante a avaliação. Em questões de disputa sobre guarda de uma criança, é interessante elencar os fatores de risco e proteção presentes no ambiente familiar, bem como, os tipos de relacionamento presentes (WILLIAMS; CASTRO, 2016). Baish e Lago (2016) destacam que o relacionamento entre os pais deve ser considerado, bem como a comunicação entre os mesmos ou flexibilidade do contato. Atenção especial quando há comportamentos cujo objetivo seja desqualificar o ex-companheiro. Para uma criança com necessidades de cuidado e proteção, a organização de tempo e financeira do cuidador frente às demandas da criança/adolescente deve ser considerada. O psicólogo pode então indicar ou contraindicar uma guarda compartilhada, por exemplo. Figura 25 - Criança diante do conflito dos pais Fonte: Freepik Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 36 SAIBA MAIS: O texto de Lago e Bandeira (2008) exemplifica processos de disputa de guarda no Brasil e o papel da avaliação psicológica nesse contexto. Vale à pena conferir! Clique aqui para ler! Outra possibilidade de atuação profissional é em casos de adoção no qual cabe ao psicólogo avaliar ambos, adotado e adotante, orientando os pais no que se concerne a essa nova etapa de vida e trabalhando em prol da garantia de um ambiente familiar saudável (MAGALHÃES, 2017). É importante destacar que o psicólogo, nesses casos, não necessita fornecer a devolutiva diretamente ao indivíduo avaliado, o que muitas vezes gera conflito inclusive com os princípios éticos da profissão. A demanda judicial é a que deve ser atendida (WILLIAMS; CASTRO, 2016). Psicologia no esporte: possibilidades para avaliação psicológica A Psicologia no campo do esporte normalmente é ligada a práticas envolvendo o estudo do atleta de alto rendimento, mas pode ser ligado também a atividades esportivas e atividades não regulamentadas (RABELO, 2016). DEFINIÇÃO: Entende-se por esporte, não somente as práticas profissionais e de alto rendimento, mas uma classificação mais abrangente, envolvendo qualquer atividade física (RABELO, 2016). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000200013 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000200013 37 Figura 26 - Grupo de pessoas jogando basquete Fonte: FreeImages O esporte pode ser considerado um elemento que viabiliza a interação social e pode ser um meio de auxílio a políticas de saúde ou mesmo uma forma de promoção de lazer. Nesse sentido, pode ser considerado inclusive como uma oportunidade de promoção de igualdade e justiça social (RABELO, 2016). As práticas de avaliação nesse campo podem envolver o aprimoramento do indivíduo, considerando aspectos físicos, técnicos e emocionais, bem como o enfoque no máximo aproveitamento das potencialidades individuais, agindo em prol também do desenvolvimento das ciências do esporte. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 38 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo, tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a avaliação psicológica pode ser aplicada em diversos contextos, inclusive no âmbito jurídico e nas ciências esportivas. O trabalho do psicólogo em avaliação psicológica no contexto jurídico é um campo interdisciplinar e o que é comunicado como forma de devolutiva normalmente é de posse do juiz o que pode causar algum conflito quanto a princípios éticos. É importante, pois, o profissional refletir a quem ele presta serviços naquele momento. Nesse contexto, cabe diferenciar Psicologia e Direito como ciências autônomas e, mesmo na área jurídica não deve haver submissão, mas sim, colaboração entre ambas as partes para um trabalho envolvendo o comportamento humano sob essas diferentes perspectivas. Dentre as várias possibilidades de atuação o profissional pode atuar em casos de imputabilidade, disputa de guarda, saúde do trabalhador e adoção. Cabe ao profissional uma leitura de diversos aspectos do avaliando, desde o contexto no qual ele se insere, as suas relações e histórico. No campo do esporte, é válido frisar que se entende por essa prática a atividade esportiva num sentido amplo, e a avaliação não é feita apenas em situações que envolvem atletas de alto rendimento, mas qualquer atividade, mesmo as não regulamentadas. O trabalho no esporte pode atuar em complemento com princípios de saúde e igualdade entre os indivíduos. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 39 Avaliação Psicológica no esporte e para porte de arma de fogo OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona o contexto de avaliação no âmbito da Psicologia do Esporte e do Exercício. Adicionalmente, você aprenderá sobre a Avaliação Psicológica no contexto da segurança pública e privada, sobretudo no que se concerne a avaliação para porte de arma de fogo. As pessoas que se engajaram na compreensão desses contextos têm maior flexibilidade no mercado de trabalho epodem ampliar sua prática e senso de contribuição social. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Avaliação Psicológica no esporte A Resolução nº 013/2007 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) regulamenta a prática do profissional de Psicologia no âmbito esportivo. Tal prática é concernente tanto ao auxílio a atletas, como ao auxílio à comissão técnica, sobretudo com vias de aumento de desempenho do atleta como melhora em sua performance (GARCIA; BORSA, 2016). Figura 27 - Ciclistas Fonte: FreeImages Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 40 SAIBA MAIS: O texto de Vieira et al. (2010) traz uma discussão a respeito do desenvolvimento da Psicologia como uma Psicologia do Esporte. São discutidas questões históricas do desenvolvimento da área, bem como aspectos da ética e formação. Clique aqui. É válido frisar que o profissional pode atuar em prol do aumento do engajamento de participantes nas atividades esportivas, sejam adultos, crianças ou pessoas portadoras de necessidades especiais (GARCIA; BORSA, 2016). Testes psicológicos no campo esportivo são raros, sobretudo no Brasil. Tem sido realizado um esforço em termos de pesquisas na área e, quando necessários, são utilizados instrumentos do contexto clínico ou educacional para melhor embasamento da avaliação. Pesquisas nesse sentido são necessárias, embora ainda seja importante a diferenciação da prática de avaliação de uma simples testagem psicológica (GARCIA; BORSA, 2016). Rabelo (2016) coloca a avaliação psicológica no campo do esporte aproximando-a de um processo psicodiagnóstico esportivo, cujos objetivos normalmente envolvem a avaliação de características individuais do esportista ou equipe esportiva em situações como preparação ou mesmo competições. A Figura 28 descreve o enfoque do psicodiagnóstico esportivo nas três categorias de análise segundo estabelecido por Fleury (2002). Figura 28 - Tópicos de atenção no psicodiagnóstico esportivo segundo Fleury (2002) Característica do esportista Requisitos técnicos do esporte Objetivos do treinamento Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/?format=pdf 41 As características do esportista são relevantes no que concerne a sua idade, o nível de competitividade e histórico na modalidade praticada, bem como recursos sociais. Já os requisitos técnicos envolvem, por exemplo, a modalidade e as regras ou o que é demandado no esporte. Por fim, os objetivos específicos do treinamento seria uma maneira de refletir se a finalidade é aumento de desempenho, melhora na performance, competitividade etc. (FLEURY, 2002). Figura 29 - Jogadora de vôlei de praia Fonte: FreeImages O profissional da Psicologia do Esporte e do Exercício deve adotar uma postura investigativa de maneira a aprimorar o desempenho do atleta em situações de treino ou competições (RABELO, 2016). Além de auxiliar o atleta, a avaliação pode favorecer também a equipe ou técnico esportivo de maneira a favorecer o desempenho do atleta em questão (RABELO, 2016). Como estratégias de avaliação, o profissional pode fazer uso de entrevistas, observação do comportamento, realizar dinâmicas de grupo ou aplicação de testes, entre outros recursos. Para uma boa prática no campo do esporte, o profissional deve ampliar seus conhecimentos acerca do esporte e mesmo da modalidade com a qual irá trabalhar, sempre preocupado com as bases científicas ao exercer sua função, embora pesquisas na área ainda sejam escassas (RABELO, 2016). Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 42 Ao profissional, também é recomendada uma parceria e conhecimento, sobretudo com as áreas de tecnologia e informática, as quais podem auxiliar o profissional e a equipe no fornecimento de maior controle e gestão de dados produzidos (RABELO, 2016). Figura 30 - Time e treinador de futebol americano Fonte: FreeImages Para atletas de alto rendimento, podem ser trabalhados também, aspectos motivacionais e as relações com técnico e equipe. Adicionalmente, é possível não só quantificar, como também qualificar as emoções envolvidas nos diversos contextos nos quais o atleta participa. É importante destacar que quanto maior a consciência do indivíduo sobre a atividade a qual ele participa, maiores as chances de regulação (RABELO, 2016). SAIBA MAIS: O texto de Rubio (2007) discute a singularidade da prática em avaliação esportiva no Brasil, comparando ao desenvolvimento em outros países e a necessidade de se ampliar a visão sobre as possibilidades da prática no país. Clique aqui para acessá-lo. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-91452007000100007 43 Avaliação Psicológica para porte de arma de fogo Mäder (2016) destaca que há a possibilidade de trabalho do profissional de psicologia no campo da avaliação psicológica tanto na segurança pública como na segurança privada. A Figura 31 destaca as possibilidades de atuação nesse campo. Figura 31 - Possibilidades de Avaliação Psicológica na segurança pública e privada Avaliação Psicológica Admissional Avaliação Psicológica Periódica Avaliação Psicológica para porte/registro de arma de fogo Segurança pública ou privada Fonte: Elaborado pelos autores (2021). No âmbito da segurança, seja na esfera pública ou privada o profissional pode trabalhar com a Avaliação Psicológica Admissional que envolve a prática de avaliação voltada para concursos em uma interface com práticas de recrutamento e seleção (MÄDER, 2016). SAIBA MAIS: O texto de Parpinelli e Lunardelli (2006) destaca sobre a avaliação psicológica em processos seletivos, embasada na abordagem sistêmica. É uma excelente fonte de pesquisa para você conhecer um pouquinho mais sobre a área. Clique aqui para acessá-lo. A Avaliação Psicológica Periódica é comum na segurança privada e normalmente envolve o período de renovação a cada dois anos, juntamente com a reciclagem e atualização da formação. Se inapto, o profissional tem suas atividades suspensas por 30 dias, podendo refazer a avaliação após esse período (MÄDER, 2016). Na Avaliação Psicológica envolvendo o porte ou registro de arma de fogo é avaliada desde a necessidade do indivíduo em fazer uso e possuir Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico https://www.scielo.br/j/estpsi/a/DT9kJ3pPbm8fKQcpjdms8CJ/ 44 a arma, até a sua capacidade técnica e aptidão psicológica para tal. O profissional nesse campo deve estar em constante atualização quanto a sua formação e normatizações (MÄDER, 2016). Trata-se de uma área com interfaces, demonstradas na Figura 32. Figura 32 - Áreas da Psicologia com envolvimento na avaliação de porte ou registro de armas Psicologia Organizacional e do Trabalho Psicologia Forense Psicologia da Saúde Psicologia Social Psicologia Clínica Fonte: Elaborado pelos autores (2021). Os psicólogos, para realizar a avaliação de porte de armas, devem atender aos requisitos estabelecidos pelo Sistema Nacional de Armas – SINARM. A Polícia Federal é a responsável pelo credenciamento e capacitação de indivíduos para exercer a função de avaliação. Tal credenciamento é necessário, exceto pelos casos previstos na Lei nº 10.826/03 (BRASIL, 2003). Há em algumas legislações da qual o profissional dessa área deve estar ciente para exercer adequadamente a sua prática, conforme apontado a seguir: • Código de ética profissional do psicólogo, estabelecido pelo Conselho Federal de Psicologia (2005), que elucida sobre a postura ética do profissional. • Resolução CFP nº 007/2003: que envolvia o antigo Manual de Elaboração de Documentos Escritos, com vias de elaboração dos documentos psicológicos. • Resolução nº 006/2019: envolve as diretrizes atuais sobre a elaboração de documentos psicológicos. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico45 • Resolução CFP nº 018/2008: envolvendo as diretrizes do trabalho profissional para o registro e/ou porte de armas de fogo. • Resolução CFP nº 002/2009 altera a Resolução CFP nº 018/2008. • Resolução CFP nº 009/2018: fornece diretrizes para avaliação e para o sistema de avaliação de testes psicológicos – SATEPSI. • Lei Federal nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento. • Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas (SINARM) e define crimes. • Instrução Normativa do Departamento de Polícia Federal n° 78, no qual há diretrizes tanto para o credenciamento como para a fiscalização, aplicação e correção de exames realizados pelos profissionais credenciados e laudos sobre a aptidão do manuseio de arma de fogo para o exercer da profissão no campo de segurança. Figura 33 - Arma apontada para o céu Fonte: FreeImages. Para Gaudêncio et al (2015) a avaliação psicológica, no que tange ao porte de armas é de extrema importância, uma vez que pode auxiliar na minimização da violência na sociedade. A violência é compreendida também, como um fenômeno social e de grandes impactos ao indivíduo e nas suas diferentes formas, além disso, a violência envolvendo armas é destaque na violência urbana. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 46 SAIBA MAIS: O estudo de Caneda e Teodoro (2012) traz uma revisão da literatura a respeito da avaliação psicológica envolvendo o porte de armas no Brasil. Vale à pena conhecer um pouco mais sobre o que é discutido nessa temática. CANEDA, C. R. G.; TEODORO, M. L. M. Contribuições da avaliação psicológica ao porte de arma: uma revisão de estudos brasileiros. n. 38-39. Aletheia, 2012. p. 162-172 Figura 34 - Assalto envolvendo arma Fonte: FreeImages Para a avaliação, o profissional deve estar atento desde aos aspectos cognitivos, ao grau de impulsividade, à presença de psicopatologia ou mudanças em seu estado emocional. É imprescindível que o indivíduo seja avaliado quanto a sua capacidade em avaliar situações de risco ou planejamento (GAUDÊNCIO et al., 2015). Impulsividade pode ser compreendida, conforme apontado por (VON DIEMEN, 2006 apud GAUDÊNCIO et al., 2015) condutas tipicamente precipitadas com ausência de planejamento e com impactos negativos aos indivíduos. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 47 Figura 25 - Atirador Fonte: FreeImages É válido frisar que para profissionais das forças armadas, profissionais de corporações policiais, empresas do ramo privado de segurança ou em contextos de transporte de valores e caçadores, são permitidos o manuseio de arma mediante avaliação, sendo avaliados quesitos como a tomada de decisão desses indivíduos (GAUDÊNCIO et al., 2015). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo, tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que tanto o contexto do esporte como o contexto de segurança são passíveis de atuação do profissional de avaliação psicológica. No campo esportivo normalmente a avaliação psicológica coincide com a nomenclatura de psicodiagnóstico esportivo e tal área é comprometida tanto com o auxílio ao atleta como a comissão técnica. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 48 RESUMINDO: Para se atuar no campo esportivo, faz-se necessário obter informações sobre as características do esportista tanto quanto se informar a respeito das técnicas e objetivos do esporte e do treinamento, respectivamente. Normalmente nesse tópico são trabalhados tanto a melhora no desempenho como na performance do indivíduo. Podem ser trabalhados ainda, aspectos motivacionais. Você também viu que, embora sejam fontes importantes de informação, há uma escassez de testes que servem a essa área de avaliação esportiva, sendo recorrente a necessidade de fazer uso de instrumentos de outros campos de avaliação. Adicionalmente, é uma área que pode envolver o trabalho com indivíduos de diferentes idades, promovendo um aprimoramento de seu desempenho. No campo da segurança, o trabalho do profissional psicólogo em avaliação pode ser concernente tanto a esfera pública como a esfera privada. Há pelo menos três tipos de avaliação que servem a esse contexto, como a avaliação admissional, a periódica e a de porte e registro de armas, amplamente discutida nesse capítulo. Para a atuação enquanto psicólogo avaliador de porte de armas, faz-se necessário o credenciamento no conselho de classe, bem como no Departamento de Policia Federal, exceto por casos presentes na lei. É de extrema importância que o profissional esteja atento as normatizações envolvendo a prática nesse contexto, para que sejam garantidos o compromisso técnico e ético com sua prática. Adicionalmente, a importância de se trabalhar com avaliação psicológica no contexto de porte de armas promove ainda um reflexo de comprometimento social, sendo uma das formas de combate à violência instaurada em nossa sociedade. Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico 49 REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. F. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica. Psicologia, teoria e prática, v. 9, n. 2. São Paulo, dezembro, 2007. ARZENO, M. E. 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