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2015
FilosoFia Política
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Prof. Gesiel Anacleto
Copyright © UNIASSELVI 2015
Elaboração:
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Prof. Gesiel Anacleto
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
100 
L685f Leyser, Kevin Daniel dos Santos
 Filosofia política / Kevin Daniel dos Santos Leyser, Gesiel Anacleto. 
Indaial : UNIASSELVI, 2015.
 340 p. : il.
 
 ISBN 978-85-7830-881-0
 
 1. Filosofia. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
Impresso por:
III
aPresentação
Caro(a) acadêmico(a)!
O presente Caderno de Estudos tem como objetivo sistematizar os 
elementos básicos da disciplina de Filosofia Política, o qual proporcionará 
um contato com os principais tópicos, autores e obras da área, além dos 
instrumentos necessários não apenas para acompanhar a disciplina ofertada, 
mas também para os estudos autônomos posteriores.
Na primeira Unidade vamos nos concentrar em alguns autores e suas 
respectivas obras fundamentais à filosofia política. De Platão, analisaremos a 
Apologia de Sócrates (2008a), Críton (2008b) e A República (2001), de Aristóteles, 
A Política (1985, 2009) e de Maquiavel, O Príncipe (2001b, 2009a).
No primeiro tópico desta Unidade, vamos introduzir as questões 
centrais que fundamentam a filosofia política. Estas questões nortearão 
todo o desenvolvimento desta disciplina lançando problemas perenes que 
perpassam desde a filosofia política clássica à filosofia política contemporânea. 
Assim, em segundo lugar, vamos analisar a Apologia de Sócrates (2008a), o 
contexto político da época, as acusações contra Sócrates e modelo de cidadania 
proposto por ele. Vamos estudar brevemente outro diálogo platônico, uma 
obra intitulada Críton (2008b), veremos questões como: a desobediência à lei 
justificada por princípios, a apologia de Críton e vamos aplicar as lições de 
Atenas ao nosso mundo atual.
No segundo tópico, vamos estudar a famosa obra de Platão, A 
República (2001), mais especificamente, do Livro I ao V. Vamos introduzir, 
primeiramente, A República de Platão e os personagens centrais que compõem 
o seu diálogo: Céfalo, Polemarco, Trisímaco, Gláucon e Adimanto. Cada 
personagem com suas próprias características e argumentos serão centrais 
para a compreensão da proposta da República platônica, de seu pensamento 
político. A seguir, vamos nos concentrar no papel da “impetuosidade” para 
o estabelecimento da cidade justa. Então, já no Livro V da República, vamos 
analisar o controle das paixões, a proposta para a construção da cidade bela, 
a questão da justiça e do filósofo-rei. O que nos levará à discussão do que 
Platão tem a dizer sobre as democracias modernas.
No terceiro tópico vamos analisar a obra A Política (1985, 2009), 
vamos nos ater nos Livros I-III, no conceito de Aristóteles de que o “homem 
é naturalmente o animal político”. Isso nos levará a uma polêmica tese 
aristotélica, aquela da naturalidade da escravatura. A seguir, vamos analisar, 
no Livro IV da obra, questões sobre o regime político ou as formas de 
governo, assim como as suas estruturas e instituições. Vamos nos ater um 
IV
pouco sobre o regime democrático e sobre questões da lei, do conflito, do 
direito e da justiça natural. Na discussão do Livro VII, veremos a proposta 
da Politeia de Aristóteles e as soluções que ele propõe para os problemas das 
facções. Vamos também abordar a visão do filósofo sobre a propriedade e o 
comércio, assim como, discutir sobre o seu modelo para o melhor regime, 
a sua ciência política, sua percepção de um estadista e o seu método para o 
estudo da política.
No quarto tópico, nos concentraremos na análise da obra O Príncipe 
(2001b, 2009a) de Nicolau Maquiavel, vamos discutir a famosa distinção que 
ele estabelece entre os “profetas armados” e os “profetas desarmados”. Um 
tema central que também será visto nesta parte é a visão de Maquiavel sobre 
o bem e o mal, a virtude e o vício, e um problema central do pensamento de 
Maquiavel, o “problema das mãos sujas”, tal como seu papel na compreensão 
do envolvimento político. 
Na segunda Unidade vamos analisar algumas obras fundamentais à 
filosofia política moderna. De Thomas Hobbes, analisaremos o Leviatã (2003), 
de John Locke, o Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1994, 1998a) e de Jean-
Jacques Rousseau, o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade 
entre os homens (1999b) e O Contrato Social (1996, 1999c).
No tópico sobre Thomas Hobbes, abordaremos temas como a arte, a 
ciência, a política, e a legitimidade da autoridade no pensamento hobbesiano. 
Vamos focar na primeira parte, “Do homem”, de sua obra o Leviatã, 
aprofundando temas centrais como a individualidade, o conhecimento, o 
estado de natureza, as paixões do orgulho e do medo e as leis da natureza. 
Então, analisaremos a segunda parte da obra, intitulada “Da República”, 
discutindo temas como a doutrina do positivismo jurídico, o liberalismo e o 
estado moderno hobbesiano.
No tópico sobre John Locke, veremos temas centrais do pensamento 
lockeano, como a teoria da lei natural, o estado de natureza, a propriedade e o 
trabalho. Analisaremos também a relação da perspectiva lockeana e o “espírito 
do capitalismo”, a ideia de um governo pelo consentimento, a proposta de 
um governo limitado e o papel do poder executivo na teoria de Locke. Para 
finalizar o tópico faremos uma comparação entre a teoria do liberalismo 
lockeano e a teoria da justiça de John Rawls.
No tópico sobre Jean-Jacques Rousseau, vamos discutir sua concepção 
do Estado de Natureza, e sua proposta da transição do homem deste estado 
à sociedade. Veremos o papel do conceito de amour-propre e sua relação com 
a desigualdade e o mal-estar na civilização. A seguir, vamos nos focar em 
sua obra O contrato Social, analisando tanto o papel deste contrato social e o 
conceito de “vontade geral”. Finalizaremos nossa discussão das duas obras 
referidas com uma consideração ao legado dos escritos rousseaunianos. 
V
Na terceira Unidade faremos uma análise sobre o totalitarismo a 
partir da obra de Hannah Arendt. Nosso estudo levará em conta os aspectos 
principais dos regimes totalitários que se instalaram na Alemanha e na Rússia. 
O estado moderno será assunto do segundo tópico tendo como embasamento 
teórico a obra de Eric Weil. O conteúdo desenvolvido a partir de Weil nos 
possibilita compreender a maneira como o indivíduo se relaciona com a 
comunidade da qual faz parte e qual a importância da sua participação política 
para o exercício pleno da cidadania. No terceiro e último tópico faremos um 
estudo da justiça, liberdade e igualdade a partir da magna obra Uma Teoria da 
Justiça de John Rawls. Esta obra consiste num clássico contemporâneo sobre a 
justiça como equidade. É apresentada como uma alternativa ao utilitarismo, 
pois a ideia principal visa à concepção dos princípios de justiça que tenham 
como meta principal a liberdade e a igualdade de todos. 
Lembre-se, sempre que é necessário realizar as leituras das obras 
e dos textos específicos referidos neste caderno, assim como dos textos 
complementares, para que de fato o conhecimento desta disciplina seja 
construído.
Boa jornada a todos, rumo à edificação da educação e sucesso frente 
aos desafios intelectuais, éticos e pessoais proporcionados pelo estudo da 
filosofia política.
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser e Prof. Gesiel Anacleto
VI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estãode visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VII
VIII
IX
UNIDADE 1 – A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL ............ 1
TÓPICO 1 – PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON .............................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O QUE É A FILOSOFIA POLÍTICA? ................................................................................................ 4
2.1 O QUE É UM REGIME POLÍTICO? .............................................................................................. 6
2.2 QUEM É UM ESTADISTA? O QUE É UM ESTADISTA? .......................................................... 9
2.3 QUAL É O MELHOR REGIME? .................................................................................................... 10
3 A CIDADANIA SOCRÁTICA: PLATÃO E A APOLOGIA .......................................................... 12
3.1 O CONTEXTO POLÍTICO DO DIÁLOGO .................................................................................. 14
3.2 AS ACUSAÇÕES CONTRA SÓCRATES ...................................................................................... 16
3.3 AS NUVENS: SOLAPANDO O MODELO DE CIDADANIA DE SÓCRATES ...................... 18
3.4 O “GIRO” SOCRÁTICO ................................................................................................................. 19
4 A CIDADANIA SOCRÁTICA: PLATÃO E CRÍTON .................................................................... 22
4.1 A DESOBEDIÊNCIA À LEI JUSTIFICADA POR PRINCÍPIOS ................................................ 24
4.2 A APOLOGIA DE CRÍTON............................................................................................................ 27
4.3 APLICANDO AS LIÇÕES SOCRÁTICAS AO NOSSO MUNDO CONTEMPORÂNEO ..... 31
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 33
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 35
TÓPICO 2 – OS FILÓSOFOS E OS REIS: PLATÃO E A REPÚBLICA ......................................... 37
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37
2 PLATÃO E REPÚBLICA: LIVROS I-II ............................................................................................. 37
2.1 SOBRE O QUE É A REPÚBLICA DE PLATÃO? ......................................................................... 38
2.3 A CARTA SÉTIMA .......................................................................................................................... 42
2.4 O INÍCIO DA REPÚBLICA E A HIERARQUIA DOS PERSONAGENS ................................. 44
2.5 CÉFALO ............................................................................................................................................ 45
3 PLATÃO E A REPÚBLICA: LIVROS III-IV..................................................................................... 48
3.1 POLEMARCO .................................................................................................................................. 48
3.2 TRASÍMACO ...................................................................................................................................
3.3 GLÁUCON ....................................................................................................................................... 52
3.4 ADIMANTO ..................................................................................................................................... 53
3.5 A IMPETUOSIDADE E O ESTABELECIMENTO DA CIDADE JUSTA .................................. 56
4 PLATÃO E A REPÚBLICA: LIVRO V............................................................................................... 58
4.1 O CONTROLE DAS PAIXÕES ....................................................................................................... 59
4.2 UMA PROPOSTA PARA A CONSTRUÇÃO DE KALLIPOLIS ............................................... 60
4.3 A JUSTIÇA ........................................................................................................................................ 62
4.4 O FILÓSOFO-REI ............................................................................................................................. 64
4.5 PLATÃO E AS DEMOCRACIAS MODERNAS .......................................................................... 66
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72
TÓPICO 3 – O REGIME MISTO E A NOMOCRACIA: ARISTÓTELES E A POLÍTICA ......... 73
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73
2 ARISTÓTELES E A POLÍTICA: LIVROS I-III ................................................................................ 73
sumário
X
2.1 O HOMEM É NATURALMENTE O ANIMAL POLÍTICO ....................................................... 76
2.2 A NATURALIDADE DA ESCRAVATURA .................................................................................. 80
3 ARISTÓTELES E A POLÍTICA: LIVRO IV ..................................................................................... 83
3.1 O QUE É UM REGIME POLÍTICO OU UMA FORMA DE GOVERNO? .............................. 84
3.3 O REGIME DEMOCRÁTICO ......................................................................................................... 88
3.4 A LEI, O CONFLITO E O REGIME ............................................................................................... 91
3.5 O PADRÃO ARISTOTÉLICO DE DIREITO NATURAL OU DE JUSTIÇA NATURAL ........ 93
4 ARISTÓTELES E A POLÍTICA: LIVRO VII ................................................................................... 94
4.1 POLITEIA: O REGIME QUE CONTROLA AS FACÇÕES COM MAIOR SUCESSO ............ 95
4.2 A IMPORTÂNCIA DA PROPRIEDADE E DO COMÉRCIO PARA A REPÚBLICA 
PRÓSPERA ........................................................................................................................................96
4.3 A REPÚBLICA ARISTOCRÁTICA: UM MODELO PARA O MELHOR REGIME ................ 98
4.4 O QUE É A CIÊNCIA POLÍTICA DE ARISTÓTELES? .............................................................. 101
4.5 QUEM É UM ESTADISTA? ............................................................................................................ 103
4.6 O MÉTODO DE CIÊNCIA POLÍTICA DE ARISTÓTELES ....................................................... 104
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 107
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 109
TÓPICO 4 – NOVOS MÉTODOS E SISTEMAS: MAQUIAVEL E O PRÍNCIPE ....................... 111
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 111
2 QUEM ERA MAQUIAVEL? ................................................................................................................ 111
2.1 O PRÍNCIPE: O TÍTULO E A DEDICAÇÃO DO LIVRO ........................................................... 115
2.2 A DISTINÇÃO ENTRE PROFETAS ARMADOS E DESARMADOS ....................................... 117
2.3 O BEM E O MAL, A VIRTUDE E O VÍCIO .................................................................................. 118
3 NOVOS MÉTODOS E SISTEMAS ................................................................................................... 120
3.1 COMENTÁRIOS SOBRE TITO LÍVIO .......................................................................................... 121
3.2 O PROBLEMA DAS “MÃOS SUJAS” ........................................................................................... 123
3.3 MAQUIAVEL ERA UM MAQUIAVÉLICO? ............................................................................... 126
3.4 O QUE MAQUIAVEL ALCANÇOU? ........................................................................................... 129
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 132
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 134
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 137
UNIDADE 2 – FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA: HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU .......... 139
TÓPICO 1 – THOMAS HOBBES E O LEVIATÃ: O ESTADO SOBERANO ............................... 141
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 141
2 QUEM FOI THOMAS HOBBES? ...................................................................................................... 141
2.1 HOBBES, MAQUIAVEL E ARISTÓTELES................................................................................... 145
2.2 A ARTE, A CIÊNCIA E A POLÍTICA EM HOBBES ................................................................... 147
2.3 O QUE TORNA A AUTORIDADE LEGÍTIMA POSSÍVEL? ..................................................... 149
2.4 UM RELATO PLAUSÍVEL DO “ESTADO DE NATUREZA” ................................................... 151
3 HOBBES E A INDIVIDUALIDADE: PARTE 1 – DO HOMEM .................................................. 152
3.1 HOBBES e A VISÃO CÉTICA DO CONHECIMENTO ............................................................. 154
3.2 O ESTADO DE NATUREZA .......................................................................................................... 155
3.3 ORGULHO E MEDO: AS PAIXÕES QUE DOMINAM A NATUREZA HUMANA ............. 157
3.4 AS LEIS DA NATUREZA ............................................................................................................... 159
4 A TEORIA DA SOBERANIA DE HOBBES: PARTE 2 – DA REPÚBLICA ................................ 163
4.1 A DOUTRINA DO POSITIVISMO JURÍDICO: A LEI É O QUE O SOBERANO 
 COMANDA ...................................................................................................................................... 165
4.2 O LIBERALISMO HOBBESIANO ................................................................................................. 169
4.3 HOBBES E O ESTADO MODERNO ............................................................................................. 171
XI
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 178
TÓPICO 2 – JOHN LOCKE E O SEGUNDO TRATADO: O GOVERNO 
 CONSTITUCIONAL ........................................................................................................ 179
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 179
2 QUEM É JOHN LOCKE? ..................................................................................................................... 179
2.1 JOHN LOCKE E A TEORIA DA LEI NATURAL ........................................................................ 182
2.2 A LEI NATURAL E O ESTADO DE NATUREZA ...................................................................... 185
2.3 A PROPRIEDADE, O TRABALHO E A TEORIA DA LEI NATURAL .................................... 191
3 LOCKE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO .................................................................................. 193
3.1 GOVERNO PELO CONSENTIMENTO ....................................................................................... 196
3.2 O GOVERNO LIMITADO DE LOCKE ......................................................................................... 201
4 O PODER EXECUTIVO NA TEORIA DO GOVERNO DE LOCKE .......................................... 202
4.1 A TEORIA DA JUSTIÇA DE RAWLS E A TEORIA DO LIBERALISMO DE LOCKE ........... 209
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 213
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 218
TÓPICO 3 – JEAN-JACQUES ROUSSEAU: O DISCURSO SOBRE A DESIGUALDADE E O 
CONTRATO SOCIAL ...................................................................................................... 219
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 219
2 QUEM É JEAN-JACQUES ROUSSEAU? ......................................................................................... 219
2.1 O ESTADO DE NATUREZA DE ROUSSEAU ............................................................................. 223
2.2 A TRANSIÇÃO DO HOMEM, DA NATUREZA À SOCIEDADE: CIVILIZAÇÃO E 
PROPRIEDADE ................................................................................................................................ 228
3 O DISCURSO SOBRE A DESIGUALDADE: A PARTICIPAÇÃO E A DEMOCRACIA ....... 230
3.1 AMOUR-PROPRE: A CAUSA MAIS DURÁVEL DA DESIGUALDADE ............................... 231
3.2 O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO .............................................................................................. 236
3.3 O CONTRATO SOCIAL ................................................................................................................. 239
4 O CONTRATO SOCIAL E A VONTADE GERAL ........................................................................ 241
4.1 APLICAÇÕES DA VONTADE GERAL ........................................................................................ 247
4.2 O LEGADO DE ROUSSEAU ..........................................................................................................248
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 252
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 259
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 264
UNIDADE 3 – FILOSOFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ....................................................... 265
TÓPICO 1 – O TOTALITARISMO ....................................................................................................... 267
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 267
2 HANNAH ARENDT ............................................................................................................................ 267
3 ESTADO TOTALITÁRIO ................................................................................................................... 269
3.1 A MENTIRA E O TERROR ............................................................................................................. 269
3.2 A POLÍCIA SECRETA TOTALITÁRIA ......................................................................................... 270
3.3 A PROPAGANDA ........................................................................................................................... 272
3.4 AS MASSAS ...................................................................................................................................... 275
4 O ANTISSEMITISMO E OS APÁTRIDAS ..................................................................................... 278
5 “TUDO É POSSÍVEL” .......................................................................................................................... 282
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 284
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 286
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 287
XII
TÓPICO 2 – A MORAL, O ESTADO, A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO.................................... 289
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 289
2 ERIC WEIL ............................................................................................................................................. 290
3 A DISCUSSÃO NA CONSTRUÇÃO SOCIAL ............................................................................... 291
4 O ESTADO MODERNO ...................................................................................................................... 295
5 CIDADANIA ......................................................................................................................................... 301
6 A MORAL E A POLÍTICA .................................................................................................................. 302
7 O VALOR SOCIAL ............................................................................................................................... 306
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 307
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 308
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 309
TÓPICO 3 – JUSTIÇA, LIBERDADE E IGUALDADE ..................................................................... 311
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 311
2 JOHN RAWLS ....................................................................................................................................... 311
3 UMA ALTERNATIVA AO UTILITARISMO ................................................................................... 313
4 A JUSTIÇA COMO EQUIDADE ...................................................................................................... 315
4.1 O PRINCÍPIO DE DIFERENÇA .................................................................................................... 320
4.2 A ESTRUTURA BÁSICA DA SOCIEDADE ................................................................................. 321
5 O CONCEITO DE LIBERDADE E A LIBERDADE IGUAL ......................................................... 324
5.1 TOLERÂNCIA .................................................................................................................................. 325
6 DEVER E OBRIGAÇÃO ...................................................................................................................... 327
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 328
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 329
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 331
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 332
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 333
1
UNIDADE 1
A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, 
ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• conceituar e delimitar o campo de investigação da Filosofia Política;
• conhecer questões centrais à Filosofia Política em Platão, Aristóteles e Ma-
quiavel; 
• analisar as contribuições dos pensadores à Filosofia Política a partir de 
suas obras: Apologia de Sócrates, Críton e A República (Platão); Política 
(Aristóteles) e; O Príncipe (Maquiavel).
• compreender o pensamento da Filosofia Política Clássica (Platão e Aristó-
teles) e a transição paradigmática no pensamento político de Maquiavel.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles 
você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 - PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON 
TÓPICO 2 - OS FILÓSOFOS E OS REIS: PLATÃO E A REPÚBLICA
TÓPICO 3 - A POLÍTICA DE ARISTÓTELES E O REGIME MISTO
TÓPICO 4 - NOVOS MÉTODOS E SISTEMAS: MAQUIAVEL E O PRÍNCIPE
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E 
CRÍTON
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, em primeiro lugar, vamos introduzir as questões centrais 
que fundamentam a filosofia política. Questões como: O que é a filosofia política? 
O que é um regime político? O que é um estadista? Qual é o melhor regime? 
Estas questões nortearão todo o desenvolvimento desta disciplina, lançando 
problemas perenes que perpassam desde a filosofia política clássica à filosofia 
política contemporânea. Por mais que os problemas permaneçam, as respostas 
aos mesmos são variadas e divergem entre os autores, constituindo assim um 
campo heterogêneo e rico, com propostas distintas para as questões centrais da 
filosofia política. 
São estas respostas às questões centrais da filosofia política que constituem 
o material analisado nesta disciplina. É óbvio que seria impossível contemplar 
todos os autores, desde os clássicos aos contemporâneos. Por isso, optamos por 
alguns autores específicos do período da filosofia política clássica: Sócrates/Platãoe Aristóteles; da transição deste período ao Moderno: Maquiavel – os quais serão 
vistos nesta primeira unidade. Autores do período da filosofia política moderna: 
Hobbes, Locke e Rousseau, que serão vistos na Unidade 2; e autores do período 
da filosofia política contemporânea: Hannah Arendt, Eric Weil e John Rawls, que 
serão vistos na Unidade 3.
Optamos por analisar obras específicas de cada autor referido acima, 
consagradas como centrais para compreender seu pensamento político. A leitura 
dessas obras deverá acompanhar a leitura deste Caderno de Estudos. Na medida 
em que você avança nos tópicos das unidades, recomendamos sempre retornar 
à leitura atenta das obras discutidas, pois assim poderá compreender com mais 
profundidade cada tema abordado, ampliando sua capacidade de análise e 
interpretação. 
Assim, em segundo lugar, vamos analisar neste tópico a obra de Platão 
(428/427 AEC – 348/347 AEC) intitulada Apologia de Sócrates (2008a), cuja leitura, 
como referido, é obrigatória para esta disciplina. Neste diálogo de Platão vamos 
discutir o contexto político da época, as acusações contra Sócrates e o modelo 
de cidadania proposto por ele, quem consideramos ser o fundador da filosofia 
política. 
A seguir, em terceiro lugar, vamos analisar brevemente outro diálogo 
platônico, uma obra intitulada Críton (2008b), que também é de leitura obrigatória 
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
4
para esta disciplina. Aqui veremos questões como: a desobediência à lei justificada 
por princípios, a apologia de Críton, e vamos aplicar as lições de Atenas ao nosso 
mundo de hoje.
Por fim, você poderá ler o resumo deste tópico 1 e depois realizar a sua 
autoatividade. 
2 O QUE É A FILOSOFIA POLÍTICA?
Vamos começar levantando a seguinte questão: o que é filosofia política? 
O costume dita que de início se diga algo sobre o assunto em questão. De algum 
modo isto será “pôr a carroça na frente dos bois”, pois, como podemos dizer o 
que é filosofia política antes de fazê-lo? De qualquer modo, vamos expor questões 
úteis.
Em um sentido, podemos dizer que filosofia política é simplesmente uma 
ramificação ou o que chamamos de um subcampo do campo da ciência política. 
Sim, ela existe ao lado de outras áreas da investigação política, como, por exemplo, 
a política comparativa e as relações internacionais. Todavia, em outro sentido, a 
filosofia política é algo muito diferente do que um simples subcampo; parece ser 
a parte mais antiga e fundamental da ciência política. Seu propósito é desnudar, 
por assim dizer, os conceitos fundamentais e categorias que enquadram o estudo 
da política. A este respeito aparenta menos como meramente uma ramificação da 
ciência política e mais como a fundação da disciplina como tal.
O estudo da filosofia política frequentemente inicia, como também 
faremos neste Caderno de Estudos, com o estudo dos grandes livros ou alguns 
dos grandes livros de nosso campo. A filosofia política é a mais antiga das 
ciências sociais, e pode ostentar uma riqueza de pesos pesados, desde Platão 
e Aristóteles a Maquiavel, Hobbes, Hegel, Tocqueville, Nietzsche, e assim por 
diante. Poderíamos dizer que a melhor maneira de aprender o que é filosofia 
política seria simplesmente estudar e ler os trabalhos daqueles que moldaram o 
campo. Entretanto, para fazer isso, devemos reconhecer que é um trabalho com 
riscos, com frequência, riscos graves por si sós. Por exemplo, por que estudar 
estes autores e não outros? Uma lista de supostos grandes pensadores ou grandes 
textos não é, de algum modo, arbitrária, dizendo-nos mais sobre o que tal lista 
exclui que o que ela inclui? Além disso, poderia parecer que o estudo de grandes 
livros e grandes pensadores do passado pode facilmente degenerar em um tipo 
de antiquarismo, em um tipo de pedantismo. Nós nos encontramos facilmente 
intimidados por uma lista de nomes famosos e acabamos não pensando em nós 
mesmos. Seguindo nessa linha de pensar, será que o estudo de livros antigos, com 
frequência muito antigos, não põe em risco passar despercebidas as questões que 
enfrentamos na atualidade? A ciência política não faz nenhum progresso? Afinal, 
economistas não leem mais Adam Smith. Não hesitaria em afirmar que muitos 
não leriam Adam Smith em um curso de Economia, assim como é provável que 
muitos não lessem Freud em um curso de Psicologia. Então, por que a ciência 
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
5
2 O QUE É A FILOSOFIA POLÍTICA?
política, aparentemente singular entre as ciências sociais, continua a estudar 
Aristóteles, Locke, e outros autores e suas obras antigas?
Estas são todas questões reais, as levantamos agora para que possam pensar 
sobre estas questões na medida em que fazem as suas leituras e trabalhos desta 
disciplina. Uma razão pela qual sugerimos que continuemos a ler estes livros não 
é porque a ciência política não faz nenhum progresso, ou que de alguma forma 
está exclusivamente fixada em um passado antigo, mas porque estas obras nos 
fornecem as perguntas mais básicas que continuam a orientar o nosso campo. Nós 
continuamos a fazer as mesmas perguntas que foram feitas por Platão, Maquiavel, 
Hobbes e outros. Nós podemos não aceitar as suas respostas, e é bem provável 
que nós não o façamos, mas suas perguntas são, muitas vezes, formuladas com 
uma clareza e discernimento inigualável. O fato é que ainda existem pessoas no 
mundo, muitas pessoas, que se consideram aristotélicos, tomistas, lockeanos, 
kantianos, até mesmo marxistas podem ser encontrados nas várias universidades 
nacionais e internacionais. Estas doutrinas simplesmente não foram refutadas, 
ou substituídas, ou historicamente superadas; elas permanecem, em muitos 
aspectos, constitutivas de nossas perspectivas e atitudes mais básicas. Assim, a 
filosofia política não é apenas algum tipo de estranho apêndice histórico ligado 
ao tronco da ciência política; é constitutiva de seus problemas mais profundos.
Se você duvida da importância do estudo das ideias políticas para a 
política, considere as obras de um economista famoso, John Maynard Keynes. 
Keynes escreveu em 1935: “as ideias dos economistas e dos filósofos políticos, 
estejam elas certas ou erradas, têm mais importância do que geralmente se percebe 
[...]. Os homens objetivos”, Keynes continua, “que se julgam livres de qualquer 
influência intelectual são, em geral, escravos de algum economista defunto. Os 
insensatos, que ocupam posições de autoridade, que ouvem vozes no ar, destilam 
seus arrebatamentos inspirados em algum escriba acadêmico de certos anos 
atrás” (KEYNES, 1996, p. 349). Portanto, esta disciplina será dedicada ao estudo 
dos "escribas acadêmicos" que escreveram livros que continuam a impressionar e 
criar as formas de autoridade com a qual estamos familiarizados. Mas uma coisa 
que não devemos fazer é abordar estas obras como se elas fornecessem de alguma 
forma respostas prontas e acabadas para os problemas atuais. Só nós podemos 
fornecer respostas para os nossos problemas. Pelo contrário, as grandes obras 
nos fornecem, por assim dizer, um repositório de questões fundamentais ou 
permanentes que os cientistas políticos ainda continuam a confiar em seu trabalho. 
Os grandes pensadores são grandes não porque eles criaram um conjunto de 
peças de museu que podem ser catalogadas, admiradas e depois ignoradas como 
uma espécie de galeria de antiguidades em um museu de arte, mas sim, porque 
eles definiram os problemas que todos os pensadores e estudiosos posteriores 
tiveram de usar, a fim de dar sentido ao seu mundo. Mais uma vez, nós ainda 
pensamos em termos dos conceitos básicos e categorias que foram criadas há 
muito tempo.
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
6
Então, uma coisa que você vai notar rapidamente é que não há respostas 
permanentes em um estudo da filosofia política. Um ditado corriqueiro no mundo 
acadêmico é que para "cada questão deve ter uma resposta correta, para cada 
pergunta umaresposta". Isso em si é uma proposta eminentemente contestável. 
Entre os grandes pensadores há uma profunda divergência sobre as respostas até 
para as questões mais fundamentais em relação à justiça, aos direitos, à liberdade. 
Em filosofia política, uma resposta nunca é suficiente para responder a uma 
pergunta com uma declaração "porque Platão diz isso", ou "porque Nietzsche diz 
isso". Não há autoridades finais a esse respeito na filosofia, porque até mesmo 
os maiores pensadores discordam profundamente um com o outro sobre suas 
respostas, e é precisamente este desacordo um com o outro que torna possível para 
nós, os leitores de hoje, entrar em sua conversação. Somos chamados primeiro a 
ler e ouvir, e depois a avaliar "quem está certo?" e "como sabemos isso?". A única 
maneira de decidir não é submeter-se à autoridade, não importa de quem for a 
autoridade, mas de confiar em nossos próprios poderes da razão e do juízo; em 
outras palavras, a liberdade da mente humana para determinar para nós o que 
parece certo ou melhor.
Mas o que são esses problemas a que estamos nos referindo? Quais são 
esses problemas que constituem o objeto de estudo da política? Quais são as 
perguntas que os cientistas políticos tentam responder? Essa lista pode ser longa, 
mas não infinita. Entre as questões mais antigas e ainda mais fundamentais estão: 
O que é a justiça? Quais são os objetivos de uma sociedade decente? Como deve ser 
educado um cidadão? Por que eu deveria obedecer à lei, e quais são os limites, se 
houver, à minha obrigação? O que constitui o fundamento da dignidade humana? 
É a liberdade? É a virtude? É o amor, é a amizade? E, claro, a questão da mais alta 
importância, como diria Strauss (1978, p. 241), “mesmo que os filósofos políticos 
e cientistas políticos raramente a pronunciem, quid sit deus, o que é Deus, será que 
ele existe? E o que isso implica para as nossas obrigações como seres humanos 
e cidadãos?” Esses são alguns dos problemas mais básicos e fundamentais do 
estudo da política. Ainda assim poderíamos perguntar: onde é que se entra neste 
debate? Em quais perguntas e pensadores devemos focar?
2.1 O QUE É UM REGIME POLÍTICO?
Talvez a pergunta mais antiga e mais fundamental que examinaremos, no 
decurso deste Caderno de Estudos, é esta: o que é um regime político ou formas 
de governo? O que são os regimes políticos? O que são as políticas de regimes? 
O termo "regime" é um termo familiar. Com frequência ouvimos, hoje, sobre 
mudanças de regimes, mas o que é isso? Quantos tipos existem? Como eles são 
definidos? O que os mantém e o que os faz ruir? Existe uma forma de governo 
única e melhor? Essas são perguntas que consideraremos. 
O conceito de regime é talvez a mais antiga e fundamental das ideias 
políticas. Ela remonta a Platão e mesmo antes dele. Na verdade, o livro que 
você deverá ler como parte desta disciplina, a República (2001) de Platão, é, 
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
7
2.1 O QUE É UM REGIME POLÍTICO?
uma tradução da palavra grega politea, que significa constituição ou regime. A 
República é um livro sobre o regime e toda a filosofia política posterior “consiste 
de uma série de notas de rodapé a Platão” (WHITEHEAD, 2010, p. 39), e isso 
significa que ela deve fornecer uma série de variações, por assim dizer, sobre a 
concepção de Platão do melhor regime. Mas o que é um regime? Em termos gerais, 
um regime indica uma forma de governo, se é governado por um, por alguns, por 
muitos ou, como mais comum, uma mistura, uma combinação destas três formas 
de governo dominantes. O regime é definido em primeira instância pela forma 
como as pessoas são regidas e como os cargos públicos são distribuídos, seja 
por eleição, por nascimento, por sorteio, por qualidades e realizações pessoais 
notáveis, e o que constitui os direitos e responsabilidades de um povo. Portanto, 
o regime refere-se, sobretudo, a uma forma de governo. O mundo político não se 
apresenta simplesmente como uma variedade infinita de formas diferentes. Ele 
é estruturado e ordenado em alguns tipos básicos de regimes. Consideramos ser 
esta questão uma das mais importantes proposições e ideias da ciência política.
Mas há um corolário dessa visão. Pois o regime é sempre algo particular, 
está em uma relação de oposição a outros tipos de regimes e, como consequência, 
a possibilidade de conflito, de tensão e guerra está embutida na própria estrutura 
da política. 
Regimes são necessariamente partidários, isso quer dizer que incutem 
certas lealdades e paixões da mesma forma que uma pessoa pode sentir 
partidarismo referente a um time de futebol. Lealdade feroz e partidarismo 
são inseparáveis do caráter da política de regime. Estes adendos passionais não 
são apenas algo que ocorre entre os diferentes regimes, mas mesmo dentro de 
um mesmo regime, como entre diferentes partidos e grupos que lutam pelo 
poder, pela honra, e por diversos interesses. Henry Adams uma vez refletiu 
cinicamente que a “política, na prática, seja qual for a ideologia, sempre consistiu 
na organização sistemática do ódio” (1907, p. 5, tradução nossa), e há mais do 
que uma pitada de verdade nisso, embora ele não tenha dito que é também uma 
tentativa de canalizar e redirecionar esses ódios e animosidades em direção a 
um bem comum. Isso levanta a questão de saber se é possível transformar a 
política, para substituir a inimizade e o conflito entre facções com a amizade, 
para substituir o conflito com a harmonia? Hoje, é a esperança de muitas pessoas, 
tanto aqui como no exterior, de que possamos até mesmo superar, até mesmo 
transcender completamente a estrutura básica da política de regime e organizar 
o nosso mundo em torno de normas globais de justiça e do direito internacional. 
É possível uma coisa dessas? Essa possibilidade não pode ser descartada, mas 
tal mundo – um mundo administrado por tribunais de direito internacional, 
por juízes e tribunais judiciais – já não seria um mundo político. A política só 
tem lugar dentro do contexto do particular. Só é possível dentro da estrutura do 
próprio regime. 
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
8
Mas um regime é mais do que simplesmente um conjunto de estruturas 
e instituições formais. É constituído pelo modo de vida, pelas práticas morais e 
religiosas, hábitos, costumes e sentimentos que fazem um povo ser o que eles são. O 
regime constitui um ethos, ou seja, um caráter distintivo, que nutre tipos humanos 
específicos. Cada regime molda um caráter comum, um tipo de caráter comum 
com traços e qualidades peculiares. Assim, o estudo da política de regime é, em 
parte, um estudo dos distintos tipos de caracteres nacionais que constituem um 
corpo de cidadãos. Para dar um exemplo do que quero dizer, quando Tocqueville 
estudou o regime americano ou o regime democrático, propriamente falando, 
em A democracia na América (2000, 2005), ele começou com as instituições 
políticas formais como enumeradas na Constituição, coisas como a separação de 
poderes, a divisão entre o Estado e o governo federal e assim por diante. Mas, 
depois passou a olhar para práticas informais, tais como os costumes e a moral 
dos americanos, as suas tendências em formar pequenas associações cívicas, o 
moralismo peculiar e a vida religiosa, a atitude defensiva sobre a democracia e 
assim por diante. Todos estes costumes, hábitos morais e intelectuais ajudaram a 
constituir o regime democrático. Neste sentido, o regime descreve o caráter ou a 
“afinação” de uma sociedade. O que uma sociedade considera mais louvável e o 
que almeja alcançar. Você não pode entender um regime a menos que entenda o 
que aquele povo representa, o que eles almejam, assim como a estrutura das suas 
instituições, dos seus direitos e privilégios.
Isso levanta mais um conjunto de perguntas que iremos considerar 
ao longo desta disciplina neste Caderno de Estudos. Como os regimes são 
fundados? O que os traz à existência e os sustenta ao longo do tempo? Para 
pensadorescomo Tocqueville, por exemplo, os regimes estão incorporados nas 
estruturas profundas da história humana que têm determinado durante longos 
séculos a forma das nossas instituições políticas e a maneira como pensamos 
sobre elas. Outras vozes dentro da tradição, como Platão, Maquiavel e Rousseau, 
acreditavam que os regimes podem ser fundados conscientemente por meio de 
atos deliberados de grandes estadistas ou “pais fundadores”. Esses estadistas – 
Maquiavel, por exemplo, refere-se a Rômulo, Moisés e Ciro, como os fundadores 
exemplares; podemos pensar em homens como Washington, Jefferson, Adams 
e similares – são formadores de povos e instituições. O primeiro capítulo do 
livro O Federalista, por Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, já 
começa levantando esta questão em termos mais claros. “Estava reservado à 
América resolver essa importante questão”, escreve Hamilton, “se os homens são 
capazes de dar a si mesmos um bom governo por própria reflexão e escolha, 
ou se a Providência os condenou a receberem eternamente a sua Constituição 
política, da força ou do acaso” (2003, p. 13). Vemos Hamilton fazendo a pergunta 
básica sobre a fundação das instituições políticas: são elas criadas, como ele 
escreve, pela "reflexão e escolha", ou seja, por um ato deliberado de política e 
inteligência humana consciente, ou os regimes sempre são produtos do acidente, 
da circunstância, do costume e da história?
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
9
2.2 QUEM É UM ESTADISTA? O QUE É UM ESTADISTA?
A ideia de que os regimes podem ser criados ou fundados por um conjunto 
de atos deliberados levanta outra questão que vamos estudar, e que é inseparável 
do estudo dos regimes políticos. Quem é um estadista? O que é um estadista? Mais 
uma vez, uma das questões mais antigas da ciência política, todavia raramente 
levantada pela ciência política de hoje, que é muito cética em relação à prática 
de um estadista. Em seu sentido mais antigo, ciência política era simplesmente 
uma ciência da arte de governar. Foi direcionada ao estadista ou estadistas em 
potencial encarregados de conduzir o “navio” do Estado. Quais são as qualidades 
necessárias para um governar sadio? Como a arte de governar difere de outros tipos 
de atividades? Deve um bom estadista, como Platão acreditava, por exemplo, ser 
um filósofo versado em poesia, matemática e metafísica? Ou é o governar, como 
acreditava Aristóteles, uma habilidade puramente prática, exigindo julgamento 
baseado na deliberação e na experiência? Um vestígio de crueldade e uma 
disposição para agir imoralmente são necessários para a arte de governar, como 
Maquiavel argumentou infamemente? Deve o estadista ser capaz de literalmente 
transformar a natureza humana, como afirma Rousseau, ou o soberano é mais ou 
menos um burocrata sem rosto ao modo de um diretor executivo, um CEO (Chief 
Executive Officer) moderno, como, por exemplo, alguém como Hobbes parece ter 
acreditado? Todos os textos que vamos abordar neste Caderno de Estudos e que 
recomendamos a leitura integral – a Apologia de Sócrates, Críton e A República 
(Platão); a Política (Aristóteles); O Príncipe (Maquiavel); Leviatã (Hobbes); o 
Segundo Tratado Sobre o Governo Civil (Locke); Discurso sobre a origem e os 
fundamentos da desigualdade entre os homens e O Contrato Social (Rousseau); 
Origens do Totalitarismo (Arendt); Filosofia Política (Eric Weil); Uma Teoria da 
Justiça (Rawls) – têm opiniões diferentes sobre as qualidades de um estadista e 
quais são as qualidades necessárias para fundar e manter Estados.
Tudo isso é outra maneira de dizer, ou pelo menos implicar, que a filosofia 
política é uma disciplina eminentemente prática, um campo prático. Seu objetivo 
não é simplesmente a contemplação, o seu objetivo não é meramente a reflexão, 
mas é dar conselhos. Nenhum dos autores que vamos abordar neste Caderno de 
Estudos foi um estudioso enclausurado e desapegado do mundo, embora este 
seja um preconceito muito comum contra a filosofia política. Todavia, os grandes 
pensadores estavam muito longe de serem apenas intelectuais desapegados. 
Platão empreendeu três viagens longas e perigosas para Sicília, a fim de aconselhar 
o rei Dionísio. Aristóteles era um tutor de Alexandre, o Grande. Maquiavel 
passou grande parte de sua carreira no Serviço Exterior, como assessor de sua 
Florença natal, e escreveu como um conselheiro dos Médici. Hobbes foi o tutor 
de uma família real que acompanhou o rei para o exílio durante a Guerra Civil 
Inglesa. Locke foi associado com o Círculo de Shaftesbury e também foi forçado ao 
exílio depois de ser acusado de conspirar contra o rei inglês. Rousseau não tinha 
conexões políticas oficiais, mas ele sempre assinou seu nome como Jean-Jacques 
Rousseau, "cidadão de Genebra", e foi procurado para escrever constituições 
para a Polônia e para a ilha de Córsega. Finalmente, Tocqueville foi membro da 
Assembleia Nacional Francesa, cuja experiência da democracia americana afetou 
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
10
profundamente a forma como ele via o futuro da Europa. Assim, os grandes 
pensadores políticos estiveram tipicamente engajados na política de seu tempo 
e fornecem, desse modo, modelos de como pensaríamos sobre a nossa política.
2.3 QUAL É O MELHOR REGIME?
O estudo dos regimes políticos, implícita ou explicitamente, levanta uma 
questão que vai além do limite de uma determinada sociedade. Um regime constitui 
o modo de vida de um povo, o que eles acreditam que faz sua vida valer a pena, 
ou, para colocá-lo de forma ligeiramente diferente, o que um povo representa. 
Embora estejamos mais familiarizados com o caráter de um regime democrático 
moderno como o nosso, o estudo da filosofia política é, em muitos aspectos, uma 
espécie de imersão no que poderíamos chamar de política comparada; quer dizer 
que nos introduz as variedades de regimes, cada um com seu próprio conjunto 
distinto de reivindicações ou princípios, cada um disputando e em potencial 
conflito com todos os outros. Subjacente a essa “cacofonia” de regimes jaz a 
pergunta perene: qual destes regimes é o melhor? O que uma reivindicação tem 
ou deveria ter sobre a nossa lealdade e consentimento racional?
A filosofia política é sempre guiada pela questão do melhor regime. 
Mas o que é o melhor regime? Até mesmo levantar tal questão parece constituir 
obstáculos insuperáveis. Não seria isso um julgamento completamente subjetivo, 
o que pensamos ser o melhor regime? Como poderíamos começar esse tipo 
de estudo? O melhor regime é, como os antigos tendiam a acreditar – Platão, 
Aristóteles e outros –, uma república aristocrática em que apenas os poucos 
virtuosos habitualmente governam; ou o melhor regime é, como acreditam os 
modernos, uma república democrática em que, em princípio, o cargo político está 
aberto a todos apenas em virtude de sua participação na sociedade? Será que o 
melhor regime seria uma pequena sociedade fechada que através de gerações 
faria um sacrifício supremo para atingir a autoperfeição? Ou será que o melhor 
regime seria uma grande ordem cosmopolita envolvendo todos os seres humanos, 
talvez até mesmo uma espécie de Liga Universal das Nações consistindo de todos 
os homens e mulheres livres e iguais?
Qualquer que seja a forma que o melhor regime assuma, será sempre a 
favor de certo tipo de ser humano com certo conjunto de traços de caráter. O tipo 
de homem comum, que é encontrado nas democracias; os que possuem gostos 
seletos e dinheiro, nas aristocracias; o guerreiro ou até mesmo o sacerdote, nas 
teocracias. Isto, finalmente, levanta a questão da relação entre o melhor regime 
ou o bom regime, e o que podemos dizer que são os regimes realmente existentes, 
regimes dos quais somos todos familiarizados. Qual a função que o melhor regime 
tem na ciência política? Como é que pode conduzir nossas ações aqui e agora? 
Este assunto recebeu um tipo de formulação clássica na distinção aristotélica, do 
que ele chamou de o bomser humano (o homem de bem) e o bom cidadão. Para 
o bom cidadão – iremos discorrer detalhadamente sobre este assunto quando 
falarmos da Política de Aristóteles – você poderia dizer que o patriotismo é o 
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
11
2.3 QUAL É O MELHOR REGIME?
suficiente, sustentar e defender as leis de seu próprio país, simplesmente porque 
elas são as suas próprias leis é tanto necessário quanto suficiente. Tal ponto 
de vista da virtude do cidadão colide na objeção óbvia de que o bom cidadão 
de um regime vai estar em desacordo com o bom cidadão de outro: um bom 
cidadão do Irã contemporâneo não será o mesmo que um bom cidadão do Brasil 
contemporâneo.
Mas o bom cidadão, Aristóteles prossegue, não é o mesmo que o bom ser 
humano. Onde o bom cidadão é relativo ao regime, pode-se dizer específico ao 
regime, o bom ser humano é bom em todos os lugares. O bom ser humano ama o 
que é bom simplesmente, não porque é seu, mas porque é bom. Algo semelhante 
a isso foi demonstrado no elogio de Abraham Lincoln a Henry Clay. Lincoln 
(2009, p.133, tradução nossa) escreveu sobre Clay: “ele amava o seu país, em parte 
porque era o seu próprio país, mas principalmente porque era um país livre". Seu 
ponto é que Clay exibiu, pelo menos no dizer de Lincoln, algo do filósofo, o que 
ele amava era uma ideia, a ideia de liberdade. Essa ideia não era a propriedade 
de um país em particular, mas era constitutivo de qualquer boa sociedade. O bom 
ser humano, ao que parece, seria um filósofo, ou pelo menos teria algo filosófico 
sobre ele, e que só poderia sentir-se totalmente em casa no melhor regime. 
Todavia, é óbvio que o melhor regime carece de realidade. Nós todos sabemos 
que ele nunca existiu. Aparentemente o melhor regime encarna um paradoxo 
supremo. É superior em algumas maneiras a todos os regimes reais, mas não 
possui nenhuma existência concreta em qualquer lugar. Isso torna difícil (e este 
é o ponto de Aristóteles) para o filósofo ser um bom cidadão de qualquer regime 
real. A filosofia nunca vai se sentir totalmente ou verdadeiramente em casa em 
qualquer sociedade particular. O filósofo nunca pode ser verdadeiramente fiel a 
alguém ou alguma coisa, a não ser ao que é o melhor. Pense nisso, pois levanta 
uma questão sobre temas sobre o amor, a lealdade e amizade.
Esta tensão entre o melhor regime e qualquer regime real é o espaço que 
torna a filosofia política possível. Se pudéssemos habitar no melhor regime, a 
filosofia política seria desnecessária ou redundante, simplesmente esvaneceria. 
A filosofia política existe e só existe na "zona de indeterminação" entre o "é" e 
o "dever ser", entre o real e o ideal. É por isso que a filosofia política é sempre e 
necessariamente um empreendimento potencialmente perturbador. Aqueles que 
embarcam na busca pelo conhecimento do melhor regime podem retornar não 
sendo as mesmas pessoas que eram antes. Você pode voltar com muitas lealdades 
e fidelidades diferentes do que as que você tinha no início. Mas há alguma 
compensação por isso. Os gregos antigos tinham uma bela palavra para esta 
missão, para este desejo de conhecimento do melhor regime. Chamavam de Eros, 
ou amor. A busca de conhecimento do melhor regime deve, necessariamente, ser 
acompanhada, sustentada e elevada pelo Eros. Você pode não ter percebido no 
momento que iniciou a ler este Caderno de Estudos, desta disciplina específica, 
mas o estudo da filosofia política pode ser o maior tributo que pagamos ao amor. 
Pense nisso, e enquanto você está pensando sobre o assunto, pode começar a ler a 
obra Apologia de Sócrates, de Platão, que vamos discutir logo a seguir. 
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
12
3 A CIDADANIA SOCRÁTICA: PLATÃO E A APOLOGIA
Vamos iniciar esta parte com Platão, mais especificamente, com a Apologia 
de Sócrates (2008a), de Platão. Este é o melhor texto de introdução ao estudo 
da filosofia política. Por quê? Deixe-me dar-lhe duas razões. Primeiro, mostra 
Sócrates, o renomado fundador da nossa disciplina, o fundador da Filosofia 
Política, explicando-se e justificando-se, justificando seu modo de vida perante 
um júri de seus pares. Mostra Sócrates falando em um fórum público, defendendo 
a utilidade da filosofia para a vida política. E, em segundo lugar, a Apologia 
demonstra também a vulnerabilidade da filosofia política em sua relação com a 
cidade, em sua relação com o poder político. A Apologia coloca em julgamento 
não apenas um indivíduo em particular, Sócrates, mas coloca em julgamento a 
própria ideia de filosofia. Desde o início, a filosofia e a cidade, a filosofia e a vida 
política, estiveram em uma espécie de tensão uma com a outra. Sócrates é acusado, 
como veremos, pela cidade por corromper a juventude e por impiedade contra os 
deuses. Em outras palavras, ele é acusado de traição, um crime capital. Nenhuma 
outra obra de que temos conhecimento nos ajuda a pensar melhor através do 
conflito, necessário e inevitável, entre a liberdade da mente e as exigências da 
vida política. Estas duas coisas, esses dois bens, por assim dizer, a liberdade de 
espírito e a vida política, são compatíveis ou estão necessariamente em conflito 
um com o outro? Isso parece ser a questão fundamental que a Apologia nos pede 
para considerar.
Há gerações, a Apologia tem se destacado como um símbolo contra 
a violação da liberdade de expressão. Ela define o caso de um indivíduo 
comprometido com a vida examinada acima de, e contra uma multidão 
intolerante e preconceituosa. A afirmação mais clara deste ponto de vista do 
indivíduo ajustado contra a multidão é encontrada em uma obra de um libertário 
civil muito famoso, do século XIX, um homem chamado John Stuart Mill. Em seu 
famoso tratado, chamado simplesmente de Sobre a Liberdade, Mill escreveu: 
"Não será demais recordar à humanidade que houve, uma vez, um homem 
chamado Sócrates entre quem e as autoridades legais, e mais a opinião pública do 
seu tempo, se verificou uma colisão memorável." (2010, p. 55). Uma e outra vez 
Sócrates tem sido descrito como um mártir da liberdade de expressão e ele tem 
sido até mesmo comparado, em vários momentos, a Jesus, a Galileu, a Sir Thomas 
More, e tem sido usado como um modelo a seguir por pensadores e ativistas 
políticos desde Henry David Thoreau, a Gandhi e a Martin Luther King. Assim, 
Sócrates se tornou um símbolo central de resistência política e de resistência ao 
poder político.
Essa leitura da Apologia, você pode dizer, é uma espécie de defesa 
da liberdade de expressão e uma advertência contra os perigos da censura e 
perseguição. Embora esta tenha sido uma interpretação muito influente ao longo 
dos séculos, pelo menos no último século e meio, você tem que se perguntar: é 
esta a leitura que Platão pretendia? Será que Platão queria que lêssemos o diálogo 
dessa maneira? Como alguns professores de filosofia clássica costumam dizer: 
"Você lê Platão do seu jeito, eu o lerei do jeito dele." Mas, como é que Platão 
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
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3 A CIDADANIA SOCRÁTICA: PLATÃO E A APOLOGIA pretende que este diálogo seja entendido? Perceba que Sócrates nunca se defende 
com base na doutrina da liberdade de expressão ilimitada. Ele não faz essa 
afirmação. Ele não faz a afirmação sobre a utilidade geral da liberdade ou da fala 
ilimitada. Ao contrário, ele mantém como ele expressa, perto do final do discurso 
de defesa, que somente a vida examinada vale a pena ser vivida. Somente aqueles 
que se dedicam à luta contínua para esclarecer seus pensamentos, para remover 
as fontes de contradição e incoerência, apenas essas pessoas se pode dizer que 
vivem uma vida que vale a pena. "A vida não examinada não vale a pena ser 
vivida" (PLATÃO, 2008a, p. 163, 38a), Sócrates confiante, desafiadoramente 
afirma aos seus ouvintes, à sua audiência. Nada mais importa para ele.
A sua missão para a autoperfeição parece ser altamente individual, 
altamente pessoal, em muitos aspectos, e não uma doutrinageral sobre o 
valor da liberdade de expressão. Todavia, podes pensar, mesmo, que Sócrates 
pareça estar envolvido nessa busca altamente pessoal para autoperfeição, há 
algo profundamente político sobre a Apologia e sobre o seu ensino que não se 
pode evitar. No núcleo do diálogo ou no centro deste discurso há uma disputa, 
uma discussão com seus acusadores sobre a questão, talvez nunca declarada 
explicitamente, de quem tem o direito de educar os futuros cidadãos e estadistas 
da cidade de Atenas. O discurso de defesa de Sócrates, como qualquer diálogo 
platônico, é, em última análise, um diálogo sobre a educação. Quem tem o 
direito de ensinar, quem tem o direito de educar? Esta é, em muitos aspectos, 
para Sócrates, a questão política fundamental de todos os tempos. É a questão de 
quem realmente governa ou, talvez, por outras palavras, quem deve ou deveria 
governar.
Lembre-se também de que a cidade que levou Sócrates a julgamento 
não era apenas qualquer cidade, era um tipo peculiar de cidade, foi Atenas. Esta 
cidade-estado foi, até tempos relativamente recentes na história da humanidade, 
a mais famosa democracia que já existiu. Isso perdurou provavelmente até a 
democracia americana. Foi, portanto, até ao século XVIII ou XIX, a mais famosa 
democracia que já existiu. O discurso de Sócrates perante o júri é talvez a tentativa 
mais famosa de colocar a própria democracia em julgamento. Não é meramente 
Sócrates que está em julgamento. Sócrates tem a intenção de colocar a democracia 
de Atenas em si em julgamento. A Apologia não força somente Sócrates a 
defender-se ante a cidade de Atenas, mas Sócrates coloca a cidade de Atenas em 
julgamento e a faz defender-se perante o tribunal superior da filosofia. Assim, o 
debate que se seguiu no âmbito do diálogo pode ser lido como uma disputa sobre 
quem tem título de governar. É o povo? É o tribunal de Atenas, o demos (usando a 
palavra grega para "o povo"), ou é Sócrates o filósofo-rei que deve ser investido de 
autoridade política suprema? Esta é a busca. Ela é retomada de uma forma muito 
viva, muito mais explícita, na República, mas percorre durante toda a Apologia 
e você não pode realmente entender este diálogo a menos que perceba que aquela 
é a pergunta que Sócrates levanta do começo ao fim. 
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
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3.1 O CONTEXTO POLÍTICO DO DIÁLOGO
Vamos agora falar um pouco sobre o contexto político deste diálogo. Não 
há nada de errado com a leitura da Apologia como uma espécie de símbolo do 
indivíduo justo confrontado com uma multidão injusta, ou com um governo 
político injusto. É uma questão que Platão retoma na República quando um 
personagem no livro chamado Gláucon, que consta como o irmão de Platão, 
pergunta a Sócrates se realmente é melhor ser justo ou apenas ter a reputação 
de justiça? E Sócrates diz que é melhor ser justo, mesmo que isso resulte em 
perseguição e morte. Entretanto, o julgamento não é apenas um símbolo 
duradouro da justiça contra a injustiça, é um evento histórico real que ocorre 
em um determinado momento político e isso tem um peso decisivo sobre como 
compreenderemos o processo, tanto a favor e contra Sócrates.
Vamos discorrer um pouco sobre esse contexto. O julgamento de Sócrates 
tem lugar no ano de 399 antes da era comum (AEC). Alguns de vocês sabem que 
esse julgamento segue muito rapidamente após a famosa Guerra do Peloponeso. 
Esta foi a guerra narrada por um contemporâneo, de Sócrates, um homem 
chamado Tucídides, que escreveu a história da Guerra do Peloponeso, uma 
guerra que ocorreu entre as duas grandes potências do mundo grego, entre os 
espartanos e seus aliados e Atenas e seus aliados. A Atenas que lutou nesta guerra 
contra Esparta era uma Atenas no auge de seu poder político e prestígio sob a 
liderança de seu primeiro cidadão Péricles. Foi sob a sua liderança que Atenas 
construiu a famosa Acrópole. Ele tinha estabelecido Atenas como uma potência 
naval poderosa e temível e criou um nível sem precedentes de vida artística e 
cultural, ainda hoje conhecido simplesmente como o Século de Péricles ou a 
Atenas de Péricles.
Mas Atenas também foi algo completamente sem precedentes no mundo, 
era uma democracia. Ainda hoje, a expressão "democracia ateniense" conota um 
ideal da forma mais completa de governo democrático que já existiu. “Nossa 
cidade, em seu conjunto, é a escola de toda a Hélade” (TUCÍDIDES, 2001, p. 111), 
isto é o que Péricles se vangloria aos seus ouvintes na famosa oração fúnebre 
contada por Tucídides. "Mantemos nossa cidade aberta a todo o mundo e nunca, 
por atos discriminatórios, impedimos alguém de conhecer e ver qualquer coisa 
que, não estando oculta, possa ser vista por um inimigo e ser-lhe útil” (2001, 
p. 110), Péricles se vangloria mais uma vez. A pergunta que talvez você queira 
fazer sobre isso é como poderia a primeira sociedade mais livre e mais aberta do 
mundo sentenciar à morte um homem que falou abertamente sobre sua própria 
ignorância e professou cuidar de nada mais do que da virtude e da excelência 
humana? Vejamos, pois, na eclosão da Guerra do Peloponeso, Sócrates tinha um 
pouco menos de 40 anos de idade. E, nós aprendemos com o discurso que o próprio 
Sócrates serviu no exército e na defesa de seu país. A Guerra do Peloponeso foi 
travada ao longo de um período de tempo considerável, um período de quase 30 
anos e foi concluída no ano 404 AEC com a derrota de Atenas, a instalação de uma 
oligarquia pró-espartana, um regime pró-espartano conhecido simplesmente 
TÓPICO 1 | PLATÃO, A APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON
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3.1 O CONTEXTO POLÍTICO DO DIÁLOGO como os Trinta Tiranos, ou a Tirania dos Trinta, que governaram Atenas por um 
ano. No ano seguinte, 403 AEC, os tiranos, os Trinta, como eram chamados, foram 
expulsos e um governo democrático foi restabelecido em Atenas.
Apenas três anos depois, três homens, chamados Ânito, Meleto e Lícon, os 
quais fizeram parte do movimento de resistência democrática contra a oligarquia 
espartana, fizeram acusações contra Sócrates. As acusações contra ele foram: 
corromper a juventude e de descrença nos deuses que a cidade acredita. Os 
nomes de Ânito e Meleto, como você pode ler na Apologia, aparecem no próprio 
discurso. Assim, as acusações contra Sócrates não brotaram do nada. Talvez 
devêssemos reformular a pergunta. Não, por que os atenienses levaram Sócrates 
a julgamento? Mas, por que lhe permitiram exercer a sua prática de desafiar a lei 
e a autoridade da lei durante o tempo que ele assim o fez? Adicione a isso o fato 
de que quando Sócrates foi levado a julgamento, a democracia só recentemente 
tinha sido restabelecida, mas que muitos amigos e ex-alunos de Sócrates tinham 
eles próprios sido implicados no governo dos Trinta Tiranos.
Entre os membros dos Trinta havia um homem chamado Crítias, e há, na 
verdade, um diálogo platônico nomeado após ele. Era um parente de Platão e de 
outro homem chamado Cármides, tio de Platão, cujo nome é também o título de 
um diálogo platônico. O próprio Platão nos diz muito sobre eles, mais tarde em 
sua vida, em sua famosa Carta VII. Platão foi convidado por seus parentes para 
ajudar a formar uma parte do governo dos Trinta e relata: “Imaginei que iriam 
governar o Estado, tirando-o da vida injusta para colocá-lo na senda da justiça, de 
modo que passei a observá-los muito diligentemente, a fim de ver quais seriam as 
suas ações”, prossegue Platão; “realmente vi aqueles homens, em pouco tempo, 
levarem as pessoas a relembrar o governo anterior como uma idade de ouro” 
(PLATÃO, 2011a, p. 61). Então, o ponto que estamos sugerindo é que muitos dos 
estudantes e associados de Sócrates, incluindo o próprio Platão, tinham alguma 
ligação com aquele governo oligárquico que tinha governado Atenas por um breve 
tempo. Portanto, Sócrates não era ele mesmo acima de qualquer suspeita. Muitas 
vezes, ainda hoje, julgamos os professores por seus alunos, pela companhia que 
mantêm, não é? Ninguém está acima da suspeita. O próprioSócrates tinha sido 
um colaborador próximo de um homem chamado Alcibíades, provavelmente, o 
ateniense mais proeminente da geração após Péricles. Alcibíades foi o homem 
que projetou a desastrosa expedição contra Siracusa, na Sicília, o que o levou a 
desertar e refugiar-se em Esparta. Sua complexa relação com Sócrates é, aliás, 
narrada em um discurso de Alcibíades, que estando bêbado, aparece em um 
diálogo de Platão, O Banquete (2011b), também chamada de o Simpósio.
UNIDADE 1 | A FILOSOFIA POLÍTICA: PLATÃO, ARISTÓTELES E MAQUIAVEL
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Você pode, portanto, perceber que o julgamento de Sócrates, o pequeno 
discurso Apologia que deves ter lido, tem lugar à sombra da derrota militar, 
da resistência, da conspiração e da traição. Sócrates tinha 70 anos na época do 
julgamento. Era um ambiente político altamente carregado. Muito mais volátil 
do que, por exemplo, o tipo de querelas partidárias que vemos hoje em nossa 
república.
FIGURA 1 - O BANQUETE DE PLATÃO
FONTE: Pintura a óleo na tela, de Anselm Feuerbach (1829-1880). Disponível em: 
<http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jahrhundertausstellung_1906_
KatNr._0484.jpg>. Acesso em: 1º fev. 2015.
3.2 AS ACUSAÇÕES CONTRA SÓCRATES
Agora, vamos passar do contexto político do discurso para as acusações. 
Eu digo acusações porque, quando você lê atentamente a Apologia vai ver que 
havia, na verdade, dois conjuntos de acusações contra Sócrates. Logo no início 
do discurso, Sócrates afirma que seus acusadores atuais, Ânito e Meleto, fazem 
acusações contra ele que na verdade são elas próprias derivadas de uma geração 
anterior de acusadores que foram responsáveis por, segundo ele, difamá-lo e criar 
um preconceito desfavorável contra ele. “Meus acusadores são de dois tipos: os 
que recentemente acusaram-me, e os que, como eu dizia, fizeram-no há muito 
tempo. E considerai que devo defender-me primeiramente destes últimos”, 
prossegue Sócrates, “posto que os ouvistes fazerem suas acusações antes e com 
muito maior intensidade” (PLATÃO, 2008a, p. 139, 18e). Sócrates deixa claro que 
compreende que muitos membros do júri terão formado um parecer desfavorável 
sobre ele. Este discurso foi um dia antes de ocorrerem formas intensas de seleção 
do júri, onde se solicitava às pessoas: "Você tem um parecer do caso?". Muitos 
dos jurados teriam conhecido Sócrates, ou certamente teriam ouvido falar dele e, 
segundo ele, já teriam formado um parecer desfavorável sobre ele por causa da 
geração anterior de acusadores.
Ele faz referência a um poeta cômico, uma referência inequívoca ao 
dramaturgo Aristófanes. Este foi quem criou o preconceito inicial contra Sócrates. 
Qual foi o preconceito que Aristófanes tinha criado? A alusão a Sócrates e o poeta 
cômico é uma parte do que Platão chama, no Livro X da República (2001), de a 
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3.2 AS ACUSAÇÕES CONTRA SÓCRATES
velha querela entre a filosofia e a poesia. Esta discussão é uma parte importante 
dos diálogos de Platão, é um tema central, não só do Simpósio, em que Aristófanes 
e Sócrates são mostrados juntos na mesma mesa de jantar. Mas também é uma 
característica fundamental da República, que abordaremos no próximo tópico, 
onde Sócrates oferece uma proposta elaborada para a censura e controle da 
poesia, se é para ser compatível com as exigências da justiça política. Na verdade, 
você não pode entender a República, a menos que entenda o contexto poético 
dela e o engajamento, de longa data, de Sócrates com a tradição poética, assim 
como a disputa entre ele e o homem que ele chama de poeta cômico.
O núcleo dessa disputa entre o filósofo e o poeta, entre Sócrates e Aristófanes 
não é apenas um juízo estético ou não é simplesmente uma discussão estética, é 
profundamente político. Ele chega à essência da questão de quem está mais bem 
preparado para educar as futuras gerações de cidadãos e líderes cívicos. São os 
filósofos ou são os poetas os verdadeiros legisladores da humanidade? Usando a 
máxima de Shelley (2002, p. 195), “os poetas são os legisladores não reconhecidos 
do mundo”, será? Qual deles legisla para a humanidade na época de Sócrates? 
Os gregos já tinham uma longa tradição de educação poética, que remonta aos 
séculos dos tempos de Homero e Hesíodo, que estabeleceram certos modelos 
exemplares de virtude heroica e vida cívica. Os épicos homéricos foram para o 
mundo grego o que a Bíblia era ou é para o nosso mundo, em alguns aspectos, a 
autoridade máxima em relação à maneira dos deuses, sua relação com o mundo 
e o tipo de virtudes apropriadas para os seres humanos. As virtudes endossadas 
pela tradição poética, da qual Aristófanes é o grande herdeiro representante aqui, 
eram as virtudes de uma cultura guerreira, de povos guerreiros e de homens em 
guerra. Foram estas qualidades que nortearam os gregos durante séculos e que 
contribuíram para a sua ascensão ao poder. Contribuiu para a ascensão tanto de 
Atenas quanto a de Esparta para a grandeza, de um povo pequeno e disperso 
a uma grande potência mundial e lhes permitiu atingir um nível de realização 
artística, intelectual e política semelhante à Florença renascentista, à Inglaterra 
elisabetana e à Cultura de Weimar.
Então, o que está em jogo nesta querela entre Sócrates e a tradição poética 
que ele alude? Em primeiro lugar, a maneira de Sócrates ensinar é muito diferente 
daquela dos poetas. Os poetas são oraculares, basta lembrar-se da primeira 
linha da Ilíada de Homero: "Canta, ó Deusa, a cólera de Aquiles" (HOMERO, 
2013, p. 109). Os poetas são oraculares, eles clamam aos deuses e às deusas para 
inspirá-los com música, para enchê-los com a inspiração para contar histórias 
de pessoas com força, coragem e raiva sobre-humanas. Por outro lado, pode-
se dizer que o método de Sócrates não é oracular, não é por contar histórias, 
mas é pela conversação, é um método argumentativo, usando o termo que ele 
mesmo aplica, é dialético. Sócrates faz argumentos e ele quer que os outros se 
engajem com ele, para descobrir qual argumento pode resistir melhor ao teste do 
escrutínio racional e do debate. Não há argumentos na Ilíada nem na Odisseia 
de Homero. Você ouve histórias fortes e convincentes, mas nenhum argumento. 
Sócrates faz, em outras palavras, a essência desta nova educação política, um 
contínuo questionamento e não a narração de histórias e a recitação de versos. Ele 
questiona, portanto, os métodos de ensino dos poetas.
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Mas, em segundo lugar, Homero e os poetas cantam as virtudes de homens 
em guerra. Sócrates quer substituir o cidadão guerreiro e suas virtudes por um 
novo tipo de cidadão e um conjunto totalmente novo de virtudes. O novo cidadão 
socrático, vamos chamá-lo assim neste momento, pode ter algumas características 
em comum com o antigo guerreiro homérico. Mas, em última análise, Sócrates 
quer substituir o combate militar com um novo tipo de habilidade verbal, o 
combate verbal, no qual a pessoa com o melhor argumento é declarada vitoriosa. 
O melhor argumento prevalece. O famoso método socrático da argumentação é 
basicamente tudo o que resta da antiga cultura pré-socrática de luta e combate. O 
novo cidadão socrático é para ser treinado na arte da argumentação e da dialética. 
Falaremos um pouco mais adiante sobre o que isso significa.
3.3 AS NUVENS: SOLAPANDO O MODELO DE CIDADANIA 
DE SÓCRATES
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA PEÇA AS NUVENS, DE ARISTÓFANES
FONTE: Imagem de Steven S. Tigner. Disponível em: <http://faculty.ccri.
edu/paleclerc/intro/soc_trial.shtml>. Acesso em: 25 jan. 2015
É como um desafiante dos poetas e de tudo o que eles representam (a 
tradição da educação poética de séculos) que Sócrates se apresenta. A Apologia 
mostra Sócrates oferecendo um novo modelo de cidadania, um novo tipo de 
cidadão. Seu desafio aos poetas é, de certa forma, a base para o ressentimento que 
é construído contra ele, presente nas acusações de Aristófanes e dos acusadores 
anteriores. Na verdade,