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CENTRO TEOLÓGICO FATAD
CURSO EM TEOLOGIA MODULAR
HERMENÊUTICAHERMENÊUTICA
PROF.º JALES BARBOSA
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
APRESENTAÇÃO
Amados e queridos estudantes, amigos da verdade, povo adquirido, nação eleita.
Graça e paz, da parte de Deus nosso pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo.
Grande é a nossa responsabilidade do servo e salvo em Jeová, de anunciar,
apresentar, fazer chegar claramente à todos, da infinita bondade e grandeza, de tão grande
salvação em Cristo Jesus.
Conscientes dessa grande, esplendida, árdua e laboriosa tarefa do ensino da
palavra. E te convidamos para estudar a Santa e maravilhosa palavra de Deus.
Numa serie de apostilas andaremos juntos, passo a passo com, o Senhor Jesus.
Nos evangelhos; seremos missionário com os apóstolos em atos; profetizaremos com Isaias,
Ezequiel, e outros profetas; caminharemos com Moisés pelo deserto, passaremos o Jordão
com Josué; venceremos todos os Golias ao lado de Davi em nome de Jeová;
salmodiaremos canções ao nosso Deus com “Asafe”, teremos a coragem de Débora, a
sabedoria de Salomão, a graça de Jesus, a visão de Paulo, a fidelidade de Samuel,
amaremos e reclinaremos nosso rosto no peito de Cristo, tal qual João.
Venha conosco, seja como os crentes de Beréia (At, 17.10-12), examinando cada
dia as escrituras, você estará tomando posse das bênçãos do Senhor, fortalecendo-se,
aprendendo e falando dessa palavra, você salvará tomando a ti mesmo como seus ouvintes.
(1 Tm 4:16).
Em Cristo Jesus,
A Diretoria
FATAD Prof. Jales Barbosa 2
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
COMO ESTUDAR ESTE LIVRO
Às vezes estudamos muito e aprendemos ou retemos pouco ou nada.
Isto em parte acontece pelo fato de estudarmos sem ordem nem método.
Embora sucintas as orientações que passamos a expor ser-lhe-á muito útil.
1. Busque a ajuda divina
Ore a Deus dando-lhe graças e suplicando direção e iluminação do alto. Deus pode
vitalizar e capacitar nossas faculdades mentais quanto ao estudo da Palavra de Deus.
Nunca execute qualquer tarefa de estudo ou trabalhos da palavra de Deus sem primeiro
orar.
2. Além da matéria a ser estudada , tenha à mão as seguintes fontes de consulta e
refe-rência:
 Bíblia. Se POSSÍVEL em mais de uma versão.
 Dicionário Bíblico.
 Atlas Bíblico.
 Concordância Bíblica.
 Livro ou caderno de apontamentos -individuais.
 Habitue-se a sempre tomar notas de seus estudos e meditações.
3. Seja ORGANIZADO ao estudar
A. Ao primeiro contato com a matéria procure obter uma visão global da mesma isto é
como um todo. Não sublinhe nada. Não faça apontamentos. Não procure
referências na Bíblia. Procure sim descobrir o propósito da matéria em estudos, isto
é o que deseja ela comunicar-lhe.
B. Passe então ao estudo de cada lição observando a SEQÜÊNCIA dos Textos que a 
englobam. Agora sim à medida que for estudando sublinhe palavras frases e 
trechos-chaves. Faça anotações no caderno a isso destinado.
C. Ao final de cada lição encontra-se uma revisão geral de cada parte do livro perguntas
e EXERCÍCIO que deverão ser respondidas ao termino de cada parte, que deverão
ser respondidas sem consulta ao texto correspondente. responda todas as
perguntas que for POSSÍVEL, logo em seguida volte ao texto e confira as suas
respostas. Fazendo assim VOCÊ chegara a um final do seu estudo, com um bom
aprendizado quanto no conhecimento intelectual e ESPIRITUAL.
FATAD Prof. Jales Barbosa 3
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................5
I. A HERMENÊUTICA..........................................................................................................................5
II. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS ENTRE OS JUDEUS........................................6
A. DEFINIÇÃO DA HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA.....................................................................................6
B. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO ENTRE OS JUDEUS............................................................................6
II. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS NA IGREJA CRISTÃ......................................10
A. O PERÍODO PATRÍSTICO..................................................................................................................10
B. O PERÍODO DA IDADE MÉDIA...........................................................................................................13
C. O PERÍODO DA REFORMA................................................................................................................14
D. O PERÍODO DO CONFESSIONALISMO................................................................................................16
E. O PERÍODO HISTÓRICO - CRÍTICO....................................................................................................17
III. CONCEPÇÃO PRÓPRIA DA BÍBLIA – OBJETO DA HERMENÊUTICA SACRA........................22
A. A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA.................................................................................................................22
IV. A UNIDADE E DIVERSIDADE DA BÍBLIA...................................................................................28
A. OS LIVROS DA BÍBLIA.......................................................................................................................28
B. DIVERSIDADE BÍBLICA......................................................................................................................29
C. A UNIDADE DO SENTIDO DA ESCRITURA..........................................................................................30
D. O ESTILO DA ESCRITURA................................................................................................................31
E. PONTO DE VISTA EXEGÉTICO DO INTÉRPRETE...................................................................................33
VI. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL...............................................................................................34
A. SIGNIFICADO DAS PALAVRAS ISOLADAS............................................................................................34
B. O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS NO SEU CONTEXTO – “USUS LOUENDI”...............................................35
C. AJUDAS INTERNAS PARA EXPLICAÇÃO DAS PALAVRAS.......................................................................36
D. O USO FIGURADO DE PALAVRAS.......................................................................................................38
E. A INTERPRETAÇÃO DO PENSAMENTO................................................................................................40
F. O CURSO DO PENSAMENTO DE UM TEXTO COMPLETO.......................................................................45
G. AUXÍLIOS INTERNOS PARA A INTERPRETAÇÃO DO PENSAMENTO........................................................46
VII. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA..................................................................................................52
A. DEFINIÇÃO E EXPLICAÇÃO...............................................................................................................52
B. CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DO AUTOR..........................................................................................53
C. ELEMENTOS PARA A INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA.............................................................................60
VIII. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA................................................................................................63
IX. APLICAÇÃO DA MENSAGEM BÍBLICA......................................................................................82
A. UMA PROPOSTA PARA O PROBLEMA TRANSCULTURAL.......................................................................82X. REPETIÇÕES E OBSERVAÇÕES................................................................................................93
CONCLUSÃO.....................................................................................................................................95
A. A TAREFA DO MINISTRO (DO OBREIRO, DO CRISTÃO EM GERAL).......................................................95
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................96
FATAD Prof. Jales Barbosa 4
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO
Após completar o estudo desta matéria, você será capaz de:
a) Definir os termos hermenêutica, hermenêutica geral e hermenêutica especial;
b) Descrever os vários campos de estudo bíblico (estudo do cânon, da crítica textual, da crítica
histórica, da exegese, da teologia bíblica, da teologia sistemática) e sua relação com a hermenêutica.
d) Explicar a base teorética e bíblica da necessidade da hermenêutica;
e) Apontar três opiniões fundamentais da doutrina da inspiração e explicar as implicações
dessas opiniões para a hermenêutica;
I. A HERMENÊUTICAI. A HERMENÊUTICA
A hermenêutica é uma ciência primordial para o estudante e pregador da palavra de
Deus. 
O dicionário define “hermenêutica” (Gr. hermeneutes=intérprete) como a “arte de
interpretar leis e/ou textos sagrados”.
Podemos referir-nos a hermenêutica geral e especial. A primeira se aplica à interpretação
de qualquer obra escrita; a última se aplica a determinados tipos de produção literária, tais como:
Leis, História, Profecia, Poesia. A Hermenêutica Sacra tem caráter especial, pois trata de um livro
peculiar no campo da literatura: a Bíblia, como inspirada Palavra de Deus. Somente podemos
conservar o caráter teológico da Hermenêutica Sacra quando reconhecemos o princípio da
inspiração divina da Bíblia.
A hermenêutica bíblica faz parte da teologia exegética (exegese = expor; extrair uma
verdade oculta) e se preocupa em conhecer com exatidão o sentido das verdades bíblicas. É o
estudo metódico dos princípios e regras de interpretação das Sagradas Escrituras.
Distingue-se, entretanto da crítica textual que procura determinar as “palavras” exatas do
texto original. A hermenêutica, em contrário, procura descobrir o “sentido” dessas palavras. Isto é, a
crítica textual pergunta: “O que está escrito?”, e a hermenêutica indaga: “O que o autor quer dizer?”
Ao estudarmos a hermenêutica, iremos conhecer algumas regras de interpretação da
Bíblia que muito auxiliarão o estudante na exegese da mesma. A hermenêutica apresenta as regras
e a exegese é a prática destas regras.
A principal regra da hermenêutica é “A BÍBLIA SE EXPLICA A SI MESMA”, isto é, “A BÍBLIA É
INTERPRETADA PELA PRÓPRIA BÍBLIA”.
Sabemos que a Bíblia é um conjunto de 66 livros que forma um volume único, pois foi o
Espírito Santo que inspirou cerca de 40 homens, de vários níveis de educação, classe social etc.,
FATAD Prof. Jales Barbosa 5
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
dando esta unidade. O Espírito Santo é o único autor das Sagradas Escrituras. É Ele, entretanto, o
intérprete que nos fornece vários guias que servem para ajudar-nos na interpretação da Palavra.
Como os escritores bíblicos eram de variadas classes sociais, educação, épocas, etc., o
Espírito Santo respeitou seus estilos e suas culturas. Por isso, os estudantes da Bíblia devem levar
em consideração as regras da hermenêutica que nos orientam a observar os detalhes de cada livro,
olhando os contextos textuais, históricos, culturais, geográficos, etc.
Nesta disciplina iremos analisar cada uma das principais regras de interpretação da
Bíblia, o que muito nos ajudará a entender melhor o que o Espírito Santo quis dizer, quando disse e
como disse.
II. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS ENTRE OS JUDEUSII. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS ENTRE OS JUDEUS
A. Definição da História da Hermenêutica
Devemos fazer uma distinção entre a história da Hermenêutica como uma ciência e a
história dos princípios hermenêuticos. A primeira teria começado no ano de 1567 da nossa era,
quando Flacius Illyricus fez a primeira tentativa de um tratamento científico de Hermenêutica; a última
teve seu início no próprio começo da era cristã.
Uma história de princípios Hermenêuticos tenta responder a três questões:
a) Qual era a visão predominante com respeito às Escrituras?
b) Qual foi o conceito de método de interpretação prevalecente?
c) Quais foram às qualidades consideradas essenciais ao intérprete da Bíblia?
As duas primeiras questões têm caráter mais permanente do que a última e,
naturalmente, requer maior atenção.
B. Princípios de Interpretação entre os Judeus
Por causa da integralidade, será feito um breve comentário sobre os princípios que os
judeus aplicaram na interpretação da Bíblia. As seguintes classes de judeus devem ser distinguidas:
1. Judeus Palestinos. 
Estes tinham um respeito profundo pela Bíblia como a Palavra infalível de Deus.
Consideravam até mesmo as letras como sagradas, e seus copistas tinham o hábito de contá-las
como receio de que alguma delas se perdesse na transcrição. Ao mesmo tempo, estimavam muito
mais a Lei do que os Profetas e Escritos Sagrados. Consequentemente, a interpretação da Lei era
seu grande objetivo. Faziam uma distinção cuidadosa entre o mero sentido literal da Bíblia
(tecnicamente chamado peshat) e sua exposição exegética (midrash). “Ao se investigar o motivo e o
caráter do midrash deve-se examinar e elucidar, por intermédio de todos os meios exegéticos
disponíveis, todos os possíveis significados escondidos e aplicações da Escritura” (Oesterley e Box,
FATAD Prof. Jales Barbosa 6
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
The Religion and Wordship of the Synagogue, p. 752.) Num sentido amplo, a literatura midrash pode
ser dividida em duas categorias:
a) Interpretações de caráter legal, que lidam com assuntos de lei que impõe obrigações num
sentido legalista (Hadakhah), e 
b) Interpretações de uma tendência mais edificante e livre, que cobrem todas as partes não-
legalistas da Escritura (Haggadah).
A última é mais homilética e ilustrativa do que exegética.
Uma das grandes fraquezas da interpretação dos escribas se deve ao fato de ela exaltar
a Lei Oral, a qual, em última análise, é idêntica às inferências dos rabinos, como um suporte
necessário da Lei Escrita e que, no final, era usada como meio para pôr a Lei Escrita de lado. Isso
deu origem a todos os métodos de interpretação arbitrários. Observe o veredicto de Cristo em
Marcos 7.13.
Hillel foi um dos maiores intérpretes dos judeus. Ele nos deixou sete regras de
interpretação pelas quais, pelo menos aparentemente, a tradição oral poderia ser deduzida a partir
dos dados da Lei Escrita.
Essas regras, na sua forma mais abreviada, são as seguintes:
a) leve e pesado (isto é, a minore ad majus, e vice-versa);
b) “equivalência”;
c) dedução do especial para o geral;
d) inferência a partir de várias passagens;
e) inferência geral para o especial;
f) analogia a partir de outra passagem;
g) inferência a partir do contexto.
2. Judeus Alexandrinos
Sua interpretação era determinada mais ou menos pela filosofia de Alexandria. Adotavam
o princípio fundamental de Platão de que não se deveria acreditar em nada que fosse indigno de
Deus. E sempre que encontravam coisas do Antigo Testamento que não estavam de acordo com a
sua filosofia e que ofendiam o seu senso de adequação, se valiamdas interpretações alegóricas. Filo
foi o grande mestre, entre os judeus, desse método de interpretação. Ele não rejeitou completamente
o sentido literal da Escritura, mas o considerou como uma concessão aos fracos. Para ele, o sentido
literal era meramente um símbolo de coisas muito mais profundas. O significado escondido das
Escrituras era o que tinha grande importância. Ele, também, nos deixou alguns princípios de
interpretação. “Negativamente, ele diz que o sentido literal deve ser excluído quando qualquer coisa
dita for indigna de Deus; - quando então uma contradição estaria envolvida; - e quando a própria
Escritura alegoriza. Positivamente, o texto deve ser alegorizado quando as expressões foram dúbias;
quando palavras supérfluas foram usadas; quando houver uma repetição de fatos já conhecidos;
quando uma expressão for variada; quando houver o emprego de sinônimos; quando um jogo de
FATAD Prof. Jales Barbosa 7
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
palavras for possível em qualquer uma das variedades; quando as palavras admitirem uma pequena
alteração; quando houver qualquer coisa anormal no número ou tempo do verbo” (Farrar, History of
Interpretation, p. 22). Essas regras, naturalmente, abrem caminho para todos os tipos de más
interpretações.
3. Os Caraítas
Esta seita, denominada por Farrar “Os Protestantes do Judaísmo”, foi fundada por Anan
Ben David, cerca de 800 A.D. Do ponto de vista de suas características fundamentais, podem ser
considerados como descendentes espirituais dos saduceus. A forma hebraica da palavra “Karaites” é
Beni Mikra “Filhos da Leitura”. Eram considerados assim porque seu princípio fundamental era
considerar a Escritura como única autoridade em matéria de fé. Sua exegese, como um todo, era
muito mais correta do que a dos judeus palestinos e alexandrinos.
4. Os Cabalistas
O movimento cabalista do século XII era de natureza bem diferente. Ainda que
empregasse também o método alegórico dos judeus alexandrinos, representava uma reductio ad
absurdum do método de interpretação empregado pelos judeus da Palestina. Admitiam que todo o
Massorah, mesmo os versos, as palavras, letras, vogais e acentos foram entregues a Moisés no
Monte Sinai; e que o “número de letras, cada letra de per si, a transposição e a substituição tinha
poder especial e sobrenatural”. Em sua tentativa de desvendar os mistérios divinos, lançaram mão
dos métodos seguintes:
a) GEMATRIA, de acordo com o qual podiam substituir certa palavra bíblica por outra que
tivesse o mesmo valor numérico;
b) NOTARIKON, que consistia em formar palavras pela combinação de letras iniciais e finais,
ou por considerar cada letra de uma palavra a letra inicial de outras palavras; e
c) TEMOORAH, que indicava o método pelo qual se conseguia nova significação das palavras
por meio do intercâmbio de letras.
5. Os Judeus Espanhóis
Do século XII ao século XV desenvolveu-se um método mais sadio de interpretação entre
os judeus da Espanha. Quando a exegese da Igreja Cristã estava periclitante, e o conhecimento do
hebraico estava quase perdido, alguns judeus instruídos da Península Pirenaica restauraram a luz ao
castiçal. Algumas de suas interpretações ainda hoje são citadas.
QUESTIONÁRIO
FATAD Prof. Jales Barbosa 8
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
1. Defina o termo “Hermenêutica”.
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2. Qual a importância do estudo da hermenêutica?
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3. Mencione a principal regra da hermenêutica.
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4. Escreva três regras de hermenêutica dos judeus palestinos.
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5. Em que era baseada a interpretação dos judeus alexandrinos.
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6. Qual o princípio fundamental da seita dos caraítas.
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7. Cite e explique cada método usado pelos cabalistas.
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FATAD Prof. Jales Barbosa 9
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
II. História dos Princípios Hermenêuticos na Igreja CristãII. História dos Princípios Hermenêuticos na Igreja Cristã
A. O Período Patrístico
No período patrístico, o desenvolvimento dos princípios hermenêuticos está associado a
três diferentes centros da vida da igreja.
1. Escola de Alexandria. 
No início do terceiro século d.C., a interpretação bíblica foi influenciada especialmente
pela escola catequética de Alexandria. Esta cidade foi um importante local de aprendizado, onde a
religião judaica e a filosofia grega se encontraram e exerceram influência uma sobre a outra. A
filosofia Platônica ainda estava em curso nas formas do Neoplatonismo e o Gnosticismo. E não é de
se admirar que a famosa escola catequética dessa cidade caísse sob o encanto da filosofia popular e
se acomodasse à sua interpretação da Bíblia. O método natural encontrado para harmonizar religião
e filosofia foi a interpretação alegórica, visto que:
a) Os filósofos pagãos (Estóicos) já havia, por um longo tempo, aplicado o método na
interpretação de Homero e, assim, mostrado o caminho; e
b) Filo, que também era um alexandrino, emprestou ao método o peso da sua autoridade,
reduziu-o a um sistema e aplicou-o até mesmo nas mais simples narrativas.
Os principais representantes dessa escola foram Clemente de Alexandria e seu discípulo,
Orígenes. Ambos consideravam a Bíblia como Palavra inspirada de Deus, no sentido mais estrito e,
compartilhavam da opinião corrente de que regras especiais tinham de ser aplicadas na
interpretação das mensagens divinas. E, embora reconhecessem o sentido literal da Bíblia, eram daopinião de que só a interpretação alegórica contribuía para o conhecimento real.
Exegese Patrística (100-600 D.C)
A despeito da prática dos apóstolos, uma escola de interpretação alegórica dominou a
igreja nos séculos que se sucederam. Esta alegorização derivou-se de um propósito digno - o desejo
de entender o Antigo Testamento como documento cristão. Contudo, o método alegórico segundo
praticado pelos pais da igreja muitas vezes negligenciou por completo o entendimento de um texto e
desenvolveu especulações que o próprio autor nunca teria reconhecido. Uma vez abandonado o
sentido que o autor tinha em mente, conforme expresso por suas próprias palavras e sintaxe, não
permaneceu nenhum princípio regulador que governasse a exegese.
Clemente de Alexandria (150-DC – 215 DC)
Exegeta patristico de nomeada fama. Clemente acreditava que as Escrituras ocultavam
seu verdadeiro significado a fim de que fôssemos inquiridores, e também porque não é bom que
todos a entendam. Ele desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à Escritura
FATAD Prof. Jales Barbosa 10
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
(histórico, doutrinal, profético, filosófico, e místico), com as mais profundas riquezas disponíveis
somente aos que entendem os sentidos mais profundos. Sua exegese de Gênesis 22:1-4 (a viagem
de Abraão a Moriá para sacrificar lsaque) dá o sabor de seus escritos:
Quando, no terceiro dia, Abraão chegou ao lugar que Deus lhe havia indicado, erguendo
os olhos, viu o lugar à distância. O primeiro dia é aquele constituído pela visão de coisas boas; o
segundo é o melhor desejo da alma; no terceiro a mente percebe coisas espirituais, sendo os olhos
do entendimento abertos pelo Mestre que ressuscitou no terceiro dia. Os três dias podem ser o
mistério do selo (batismo) no qual cremos realmente em Deus. É, por consequência, à distância que
ele percebe o lugar . Porque o reino de Deus é difícil de atingir, o qual Platão chama de reino de
idéias, havendo aprendido de Moisés que se tratava de um lugar que continha todas as coisas
universalmente. Mas Abraão corretamente o vê à distância, em virtude de estar ele nos domínios da
geração, e ele é imediatamente iniciado pelo anjo. 
Por esse motivo diz o apóstolo: "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente,
então veremos face a face" , mediante aquelas exclusivas aplicações puras e incorpóreas do
intelecto.
Orígenes (185? - 254?)
Orígenes foi o notável sucessor de Clemente. Ele cria ser a Escritura uma vasta alegoria
na qual cada detalhe é simbólico, e dava grande importância a 1 Coríntios 2:6-7 ("falamos a
sabedoria de Deus em mistério").
Orígenes acreditava que assim como o homem se constitui de três partes - corpo, alma e
espírito - da mesma forma a Escritura possui três sentidos. O corpo é o sentido literal, a alma o
sentido moral, e o espírito o sentido alegórico ou místico. Na prática, Orígenes tipicamente
menosprezou o sentido literal, raramente se referiu ao sentido moral, e empregou constantemente a
alegoria, uma vez que só ela produzia o verdadeiro conhecimento.
Agostinho (354-430)
Em termos de originalidade e gênio, Agostinho foi de longe o maior homem de sua
época. Em seu livro sobre a doutrina cristã ele estabeleceu diversas regras para exposição da
Escritura, algumas das quais estão em uso até hoje. Entre suas regras encontramos as seguintes,
conforme resumo de Ramm:
a) O intérprete deve possuir fé cristã autêntica.
b) Deve-se ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura.
c) A Escritura tem mais que um significado e portanto o método alegórico é adequado.
d) Há significado nos números bíblicos.
e) O Antigo Testamento é documento cristão porque Cristo está retratado nele do princípio ao
fim.
FATAD Prof. Jales Barbosa 11
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
f) Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto o
significado que ele, expositor, quer lhe dar.
g) O intérprete deve consultar o verdadeiro credo ortodoxo.
h) Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versículos que o
cercam.
i) Se o significado de um texto é obscuro, nada na passagem pode constituir-se matéria de fé
ortodoxa.
j) O Espírito Santo não toma o lugar do aprendizado necessário para se entender a Escritura. 
k) O intérprete deve conhecer o idioma hebraico e grego, além da geografia e outros assuntos
relacionados ao texto bíblico.
l) A passagem obscura deve dar preferência à passagem clara;
m) O expositor deve levar em consideração que a revelação é progressiva. 
Na prática, Agostinho renunciou à maioria de seus princípios e inclinou-se para uma
alegorização excessiva. Esta prática faz que seus comentários exegéticos sejam alguns dos menos
valiosos de seus escritos. Ele justificou suas interpretações alegóricas em 2 Coríntios 3:6 ("porque a
letra mata, mas o espírito vivifica"), querendo com isso dizer que uma interpretação literal da Bíblia
mata, mas uma alegórica ou espiritual vivifica.
Agostinho cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo histórico, etiológico, analógico,
alegórico. Sua opinião foi a predominante na Idade Média. Portanto, a influência de Agostinho no
desenvolvimento de uma exegese científica foi mista: na teoria ele sistematizou muitos dos princípios
de exegese sadia, mas na prática deixou de aplicar esses princípios em seu estudo bíblico.
2. A Escola de Antioquia 
Esta foi fundada, provavelmente, por Doroteu e Lúcio, no fim do terceiro século. Embora
Farrar considere Diodoro, seu primeiro presbítero, e depois em 378 A.D., bispo de Tarso, como o
verdadeiro fundador da escola.
Escreveu um tratado sobre princípios de interpretação. Teve dois discípulos: Teodoro de
Mopsuéstia e João Crisóstomo, que diferiam grandemente em vários aspectos. Teodoro sustentou
um ponto de vista liberal a respeito da Bíblia, enquanto que Crisóstomo a considerou em todas as
suas partes como sendo a infalível Palavra de Deus. A exegese do primeiro era intelectual e
dogmática; a do último, mais espiritual e prática. Um tornou-se famoso como crítico e intérprete; o
outro, eclipsou todos os seus contemporâneos como orador. Teodoro é considerado O EXEGETA,
enquanto que João foi chamado Crisóstomo (BOCA DE OURO). Ambos avançaram no sentido de
uma exegese verdadeiramente científica, reconhecendo, como o fizeram, a necessidade de
determinar o sentido original da Bíblia, a fim de fazer dele uso proveitoso. Eles deram grande valor
ao sentido literal da Bíblia, como também, rejeitaram o método alegórico de interpretação.
3. O Tipo Ocidental de Exegese
FATAD Prof. Jales Barbosa 12
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Surgiu no Ocidente um tipo intermediário de exegese. Acolheu alguns elementos da
escola alegórica de Alexandria, mas também reconheceu os princípios da escola Síria. Seu aspecto
mais característico, contudo, encontra-se no fato de haver acrescentado outro elemento que até
então não havia sido considerado, a saber, a autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da
Bíblia. Atribuiu valor normativo ao ensino da Igreja no campo da exegese. Este tipo de exegese foi
representado por Hilário e Ambrósio, todavia, de modo especial, por Jerônimo e Agostinho. 
A fama de Jerônimo baseia-se mais na tradução da Vulgata do que na sua interpretação
da Bíblia. Era conhecedor tanto do hebraico como do grego, entretanto, seu trabalho no campo
exegético consiste principalmente de grande número de notas lingüísticas, históricas e
arqueológicas.Agostinho difere de Jerônimo no fato de ter um conhecimento muito deficiente das
línguas originais, Fundamentalmente, ele não foi um exegeta. Foi grande na sistematização das
verdades bíblicas, mas, não o foi na interpretação das Escrituras. Seus princípios hermenêuticos,
apresentados no trabalho “De Doctrina Christiana”, eram melhores do que sua exegese. 
Advogava que um intérprete devia estar preparado para sua tarefa, tanto filológica como
crítica e historicamente, e devia, acima de tudo, ter amor ao autor. Enfatizou a necessidade de se
considerar o sentido literal, e de se basear nele o alegórico; contudo, ao mesmo tempo, usou muito
livremente a interpretação alegórica. Nos casos em que o sentido da Escritura era dúbio, ele deu voz
decisiva a regula fidei que significava uma afirmação compendiada da fé da Igreja. 
Infelizmente, Agostinho também adotou um quádruplo sentido da Escritura: histórico,
etimológico, analógico e alegórico. Foi especialmente neste sentido que ele influenciou a
interpretação da Idade Média.
B. O Período da Idade Média
Durante a Idade Média, muitos, até mesmo do clero, viviam em profunda ignorância
quanto à Bíblia. E o que conheciam era devido apenas à tradução da Vulgata e aos escritos dos
Pais. A Bíblia era, geralmente, considerada como um livro cheio de mistérios, os quais só poderiam
ser entendidos de uma forma mística. Nesse período, o sentido quádruplo da Escritura (literal,
topológico, alegórico e analógico) era geralmente aceito, e o princípio de que a interpretação da
Bíblia tinha de se adaptar à tradição e à doutrina da Igreja tornou-se estabelecido. 
Reproduzir os ensinos dos Pais e descobrir os ensinos da Igreja na Bíblia eram
considerados o ápice da sabedoria. A regra de São Benedito foi sabiamente aplicada nos
monastérios, e decretado que as Escrituras deveriam ser lidas e, com elas, como explicação final, a
exposição dos Pais. Hugo de São Vítor chegou a dizer: “Aprenda primeiro as coisas em que você
deve crer e, então, vá a Bíblia para encontrá-las lá”. Nos casos em que as interpretações dos Pais
diferiam, como freqüentemente acontecia, o intérprete tinha o dever de escolher, quod ubique, quod
semper, quod ab omnibus creditum est. Nem um único princípio hermenêutico foi desenvolvido nessa
época, e a exegese estava de mãos e pés atados pela tradição oral e pela autoridade da Igreja.
FATAD Prof. Jales Barbosa 13
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
C. O Período da Reforma
A Renascença foi de grande importância para o desenvolvimento dos princípios sadios
da Hermenêutica. Nos séculos XIV e XV, a ignorância densa prevaleceu quanto ao conteúdo da
Bíblia. Houve doutores de divindade que nunca a haviam lido inteira. E a tradução de Jerônimo era a
única forma pela qual a Bíblia era conhecida. 
A Renascença chamou a atenção para a necessidade de se voltar ao original. Reuchlin e
Erasmo – chamados os dois olhos da Europa – seduzidos pela idéia, insistiram em que os intérpretes
da Bíblia tinham o dever de estudar as Escrituras nas línguas em que haviam sido escritas. Além
disso, facilitaram grandemente esse estudo: o primeiro pela publicação de uma Gramática Hebraica
e um Lexicon Hebraico; e o último, publicando a primeira edição crítica do Novo Testamento em
Grego. O sentido quádruplo da Escritura foi sendo gradualmente abandonado e foi estabelecido o
princípio de que a Bíblia tinha apenas um sentido. 
Os reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra inspirada de Deus. Mas, por mais
escrita que fosse sua concepção de inspiração, concebiam-na como orgânica ao invés de mecânica.
Em certos particulares, revelaram até mesmo uma liberdade notável ao lidar com as Escrituras. Ao
mesmo tempo, consideravam a Bíblia como a autoridade suprema e como corte final de apelo em
disputas teológicas. Em oposição à infalibilidade da Igreja, colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua
posição é perfeitamente evidenciada na declaração de que a Igreja não determina o que as
Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve ensinar. O caráter essencial
da sua exegese era o resultado de dois princípios fundamentais:
a) Scriptura Scripturae interpres, isto é, a Escritura é a intérprete da Escritura; e
b) Omnis intellectus ac expositio Scripturae sit analogia fidei, isto é, todo o entendimento e
exposição da Escritura deve estar em conformidade com a analogia da fé. E, para eles a analogia
fidei é igual à analogia Scripturae, isto é, o ensino uniforme da Escritura.
Verifica-se que na exegese da reforma nos séculos XIV e XV predominava uma profunda
ignorância concernente ao conteúdo da Escritura: alguns doutores de teologia nunca haviam lido a
Bíblia toda. A Renascença chamou a atenção para a necessidade de conhecer as línguas originais a
fim de entender-se a Bíblia. Erasmo facilitou este estudo ao publicar a primeira edição de crítica ao
Novo Testamento grego, e Reuchlin com sua tradução de uma gramática e léxico hebraicos. O
sentido quádruplo da Escritura foi, aos poucos, deixado de lado e substituído pelo princípio de que a
Escritura tem apenas um único sentido.
Lutero (1483-1546)
Lutero acreditava que a fé e a iluminação do Espírito eram requisitos indispensáveis ao
intérprete da Bíblia. Ele asseverava que a Bíblia devia ser vista com olhos inteiramente distintos
daqueles com os quais vemos outras produções literárias.
Lutero sustentava, também, que a igreja não deveria determinar o que as Escrituras
ensinam; pelo contrário, as Escrituras é que deveriam determinar o que a igreja ensina. Rejeitou o
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
método alegórico de interpretação da Escritura, chamando-o de "sujeira", "escória", e "um monte de
trapos obsoletos".
De acordo com Lutero, uma interpretação adequada da Escritura deve proceder de uma
compreensão literal do texto. O intérprete deve considerar em sua exegese as condições históricas,
a gramática e o contexto. Ele acreditava, também, que a Bíblia é um livro claro (a perspicuidade da
Escritura), contrariamente ao dogma católico romano de que as Escrituras são tão obscuras que
somente a igreja pode revelar seu verdadeiro significado.
Ao abandonar o método alegórico que por tanto tempo servira para fazer do Antigo
Testamento um livro cristão, Lutero viu-se forçado a encontrar outro meio de explicar aos crentes
como o Antigo se aplicava ao Novo. Isto ele fez sustentando que o Antigo e o Novo Testamento
apontam para Cristo. Este princípio de organização, que em realidade se tornou um princípio
hermenêutico, levou Lutero a ver a Cristo em muitos lugares (como alguns dos Salmos que ele
designou como messiânicos) onde mais tarde os intérpretes deixaram de encontrar referências
cristológicas.
Quer concordemos, quer não, com todas as designações de Lutero, seu princípio
cristológico capacitou-o, de fato, a demonstrar a unidade da Escritura sem apelação para a
interpretação mística do texto do Antigo Testamento.
Um dos grandes princípios hermenêuticos de Lutero dizia que se deve fazer cuidadosa
distinção entre aLei e o Evangelho. Para Lutero, aLei refere-se a Deus em sua ira, seu juízo, e seu
ódio ao pecado; o Evangelho refere-se a Deus em sua graça, seu amor, e sua salvação. O repúdio à
Lei estava errado, segundo Lutero, porque conduz à ilegalidade. Fundir a Lei e o Evangelho também
estava errado, porque conduz à heresia de acrescentar obras à fé.
Lutero acreditava, pois, que o reconhecimento e a manutenção cuidadosa da distinção
Lei-Evangelho eram decisivos ao entendimento adequado da Bíblia. Melanchton, companheiro de
Lutero em questõesde exegese, continuou a aplicação dos princípios hermenêuticos de Lutero em
suas exposições do texto bíblico, sustentando e aumentando o impulso da obra de Lutero.
Calvino (1509-1564)
O maior exegeta da Reforma foi, provavelmente, Calvino, que concordava, em geral, com
os princípios articulados por Lutero.
Ele, também, acreditava que a iluminação espiritual é necessária, e considerava a
interpretação alegórica como artimanha de Satanás para obscurecer o sentido da Escritura.
“A Escritura interpreta a Escritura" era uma sentença predileta de Calvino, a qual aludia à
importância que ele dava ao estudo do contexto, da gramática, das palavras, e de passagens
paralelas, em lugar de trazer para o texto o significado do próprio intérprete.
Numa famosa sentença ele declarou que "a primeira tarefa de um intérprete é deixar que
o autor diga o que ele de fato diz, em vez de atribuir-lhe o que pensa que ele deva dizer" . Calvino,
provavelmente, superou a Lutero em harmonizar suas práticas exegéticas com sua teoria. Ele não
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
partilhava da opinião de Lutero de que Cristo deve ser encontrado em toda a parte nas Escrituras
(e.g., ele não concordava com Lutero quanto ao número de Salmos que são legitimamente
messiânicos). A despeito de algumas diferenças, os princípios hermenêuticos sistematizados por
esses reformadores haveriam de tornar-se os grandes princípio norteadores para a moderna
interpretação protestante ortodoxa.
D. O Período do Confessionalismo
Após a Reforma, tornou-se evidente que os protestantes não se haviam purgado do velho
fermento. Teoricamente, conservavam o princípio: Scriptura Scripturae interpres. Mas se recusavam
a submeter sua exegese ao domínio da tradição e da doutrina da Igreja tal como havia sido
formulada pelos concílios e papas, corriam o risco de se deixar escravizar pelos Padrões
Confessionais da Igreja”.
Foi o período preeminente das Confissões. “Ao tempo, quase toda a cidade importante
tinha o seu credo favorito” (Farrar).O protestantismo estava lamentavelmente dividido em várias
facções, pois este foi o período das controvérsias. O espírito militante da época encontrou expressão
em centenas de trabalhos polêmicos. Cada um defendia a sua própria opinião, apelando para a
Escritura. A exegese tornou-se serva da dogmática, e degenerou em mera busca de textos-provas.
Estudava-se as Escrituras para nelas encontrar as verdades incorporadas nas Confissões. Foi nesse
período que alguns se inclinaram na direção de uma idéia mecânica da inspiração da Bíblia. Há três
tendências dessas reações abaixo mencionadas:
1. Os Socinianos
Eles não criaram nenhum novo princípio hermenêutico, todavia, em todas as suas
exposições se baseavam na afirmação de que a Bíblia deve ser interpretada de modo racional, ou,
talvez melhor, em harmonia com a razão. Como Palavra de Deus a Bíblia não podia conter qualquer
coisa contrária à razão, isto é, de acordo com o seu pensamento, qualquer coisa que não pudesse
ser racionalmente entendida. Assim, as doutrinas da Trindade, das Duas Naturezas de Cristo, da
Divina Providência foram abandonadas. Construíram um sistema teológico que representava uma
mistura de Racionalismo e Supernaturalismo. Sua exegese era, no final das contas, dominada por
seu sistema dogmático.
2. Coccejus
Teólogo holandês não se satisfez com o método corrente de interpretações. Sentiu que
os que consideravam a Bíblia como coleção de textos-provas não faziam justiça à Escritura como um
organismo, do qual as diferentes partes eram tipologicamente relacionadas entre si. Insistiu em que o
intérprete devia estudar cada passagem à luz do seu contexto, do pensamento dominante e do
propósito do autor. Seu princípio fundamental era o de que as palavras da Escritura significavam o
que podiam significar em todo o discurso; ou, como diz em uma das suas obras: “O sentido das
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
palavras da Bíblia é tão abrangente que contém mais de um pensamento, sim, algumas vezes, uma
multiplicidade de pensamentos, que um intérprete pode deduzir”. Segundo Farrar “... ele introduziu
uma falsa pluralidade de significações, fazendo confusão entre o sentido real e todas as possíveis
aplicações”. E isto foi agravado por sua excessiva tipologia, que o levou não só a ver a Cristo em
toda parte da Bíblia, mas também descobrir as vicissitudes da Igreja do Novo Testamento, no curso
de sua história, tipificada no Velho Testamento, e até nas palavras e atos do próprio Cristo. Apesar
de falhas de sua exegese, prestou um bom serviço, chamando a atenção para o caráter orgânico da
revelação de Deus.
J. A. Turretin se opôs ao procedimento arbitrário de Coccejus e de seus seguidores. Ao
contrário do sentido imaginário descoberto pela escola de Coccejus. Turretin insistiu em que a Bíblia
devia ser interpretada sem preconceitos dogmáticos, e com o auxílio da lógica e da análise. 
3. Os Pietistas
Cansados de lutas entre os protestantes, os pietistas se inclinaram a promover uma vida
verdadeiramente piedosa. No todo, eles representavam uma reação sadia contra as interpretações
dogmáticas de seu tempo. Insistiam no estudo da Bíblia nas línguas originais, e sob a influência e
iluminação do Espírito Santo. De acordo com o seu ponto de vista, o estudo gramatical, histórico e
analítico da Palavra de Deus produzia apenas o conhecimento externo e superficial do pensamento
divino, enquanto que o estudo porismático (isto é, aquele que tira inferências para repreensão) e o
prático (consistindo de oração e lamentação) penetram no âmago da verdade.
E. O Período Histórico - Crítico
Se o período anterior foi testemunha de alguma oposição à interpretação dogmática da
Bíblia, no período que ora consideravam o espírito de reação ganhou o lugar predominante no
campo da Hermenêutica e da Exegese. Freqüentemente, encontrou expressão em oposições
extremas, e então se defrontava com determinada resistência. Divergentes pontos de vista foram
expressos a respeito da inspiração da Bíblia, mas eram unânimes em negar a inspiração verbal e a
infalibilidade da Escritura. O elemento humano na Bíblia foi reconhecido e enfatizado como não havia
sido antes, e os que acreditavam também no elemento divino, refletiam sobre a mútua relação entre
o humano e o divino.
Fizeram-se tentativas no sentido de sistematizar a doutrina da inspiração. Alguns
adotaram o ponto de vista de Le Clerk, segundo o qual a inspiração variava em graus nas diferentes
partes da Bíblia¸ admitindo a existência de erros e imperfeições naquelas partes em que esta
inspiração era de grau mais baixo. Outros aceitaram a teoria de uma inspiração parcial, limitando-a
às porções pertinentes à fé e à moral, admitindo, portanto, a possibilidade de erros históricos e
geográficos. Schleiermacher e seus seguidores negaram o caráter sobrenatural da inspiração, e a
identificaram com a iluminação espiritual dos cristãos; enquanto que Wegscheider e Parker
reduziram-na ao poder que todo homem possui simplesmente em virtude da luz natural. Em nossos
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
dias, é comum falar-se da inspiração como dinâmica, e relaciona-la mais com os autores do que com
seus escritos. “a inspiração é o resultado da energia supernatural e espiritual, que se manifesta num
alto grau e nova ordem da energia espiritual do homem” LADD.
Exige-se como conditio sine qua non que o exegetaseja voraussetzunglos, isto é, sem
pressuposições, e, portanto, inteiramente livre do domínio dos padrões dogmáticos e confessionais
da Igreja. Além disso, estabeleceu-se o princípio segundo o qual a Bíblia devia ser interpretada como
qualquer outro livro. O elemento divino da Bíblia foi, em geral, menosprezado, e o intérprete se
limitava à discussão de questões históricas e críticas. O fruto produzido por este período foi a
consciência da necessidade da interpretação gramático-histórica da Bíblia. Há também evidências de
uma crescente convicção de que este duplo princípio de interpretação devia ser complementado por
outro princípio, a fim de fazer-se justiça à Bíblia como revelação divina.
O começo deste período foi marcado pelo aparecimento de duas escolas opostas – a
Gramatical e a Histórica.
1. A Escola Gramatical
Foi fundada por Ernesti, que escreveu importante trabalho sobre a interpretação do Novo
Testamento, no qual estabelece quatro princípios: 
a) o sentido múltiplo da Escritura deve ser rejeitado, e somente se deve conservar o sentido
literal;
b) as interpretações alegóricas devem ser abandonadas, exceto nos casos em que o autor
indique o que deseja, a fim de se combinar com o sentido literal;
c) visto que a Bíblia tem o sentido gramatical em comum com outros livros, isto deve ser
considerado em ambos os casos;
d) o sentido literal não pode ser determinado por um suposto sentido dogmático.
A Escola Gramatical era essencialmente supernaturalista, prendendo-se “às palavras do
texto como legítima fonte de interpretação autêntica da verdade religiosa”. ELLIOT.
2. A Escola Histórica
Originou-se com Semler, filho de pais pietistas, tornou-se apesar disso, em certa
extensão, o pai do Racionalismo. Em seu trabalho sobre o Cânon, chamou a atenção para o aspecto
humano da origem histórica e da composição da Bíblia, fato até então negligenciado. Num segundo
trabalho, sobre a interpretação do Novo Testamento, estabeleceu princípios de interpretação. Semler
salientou o fato de vários livros da Bíblia e o Cânon se originaram de modo histórico, e eram,
portanto, historicamente condicionados. 
Partindo do fato de que os livros foram escritos por diferentes classes do povo, concluiu
que seu conteúdo, em grande parte, é local e efêmero, e que não pretendiam Ter valor normativo
para todos os homens em todos os tempos. Além disso, viu neles uma mistura de erros, pois Jesus
e seus apóstolos se acomodaram em alguns pontos ao povo a quem se dirigiram. Daí ele dizer que
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
era necessário que o intérprete tivesse estas coisas em mente para a interpretação do Novo
Testamento.
3. Tendências Resultantes
Este período começou com duas escolas opostas, logo revelou três tendências distintas
no campo da Hermenêutica e da Exegese. Grande número de intérpretes desenvolveu os princípios
racionalistas de Semler a ponto de espantar o próprio iniciador do movimento. Outros recuaram das
posições extremadas do Racionalismo, ou assumiram um meio-termo ou voltaram aos princípios da
Reforma. Ainda outros salientaram o fato de que o método gramático-histórico de interpretação devia
ser suplementado por algum princípio que capacitaria o expositor a penetrar no espírito da Escritura.
A semente espalhada por Semler produziu a ala racionalista no campo da exposição
histórica. Exemplos:
a) PAULUS, professor de Heidelberg, assumiu uma posição puramente naturalista.
Considerava a “fidelidade prática à razão”, como fonte da religião cristã. Seu trabalho mais famoso é
que se relaciona com a interpretação dos milagres. Distinguiu duas questões, a saber: Se eles
ocorreram; e, como tudo que aconteceu pode ter acontecido.
b) A teoria de Paulus foi ridicularizada por STRAUSS, que propôs a teoria da interpretação
mítica do Novo Testamento. Sob a influência de Hegel, ensinou que a idéia messiânica, com todos
os seus acréscimos do miraculoso, desenvolveu-se gradualmente na história da humanidade. No
tempo de Jesus, as expectações messiânicas estavam no seu auge. O trabalho de Jesus e seu
ensino deixaram impressão tão profunda sobre os discípulos que, depois de sua morte, atribuíram-
lhe palavras e obras maravilhosas, que se esperavam do Messias, incluindo a ressurreição.
c) Este ponto de vista foi ridicularizada por F. C. BAUR, o fundador da Escola de Tuebingen,
que ensinou que o Novo Testamento se originou de acordo com o princípio hegeliano de tese,
antítese e síntese. Sustentou que a hostilidade entre as facções Paulina e Petrina produziu uma
literatura rival, e, finalmente, também a composição de livros que visavam a reconciliação dos
partidos oponentes. Como resultado, evidenciaram-se três tendências na literatura do Novo
Testamento. 
d) No presente, o Velho Testamento é mais objetivamente pelos assaltos críticos do que o
Novo Testamento. A Escola Graf-Kuenen-Wellausen tem por objetivo explicar o Velho Testamento
de modo “histórico e objetivo”, ou seja, de acordo com a filosofia evolucionista. Seu trabalho
caracteriza-se pela minudência que causa admiração e por sua grande engenhosidade; mas mesmo
agora há sinais que indicam seu caráter passageiro.
O Racionalismo não se desenvolveu sem oposição. No curso dos tempos apareceu uma
dupla reação:
a) A Escola de Conciliação – Se bem que não se possa dizer que Schleiermacher tenha sido o
fundador dessa escola, ele foi certamente seu principal impulsionador. Sua obra póstuma sobre
Hermenêutica não responde a essa expectação geral. Ele ignorou a doutrina da inspiração, negou a
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
validade permanente do Velho Testamento e tratou a Bíblia como outro livro qualquer, se bem que
não duvidasse da genuinidade substancial da Escritura. Distinguiu entre o essencial e não essencial,
e achou que a ciência crítica era capaz de estabelecer a linha divisória entre ambos. Com toda a sua
insistência sobre a piedade do coração, ele seguiu em seu trabalho exegético, principalmente os
caminhos do Racionalismo. Alguns racionalistas adotaram uma posição intermediária, entre eles:
Tholuck, Riehm, Weiss, Luecke, Neander e outros. Eles rejeitaram inteiramente a teoria da
inspiração verbal, mas ao mesmo tempo revelaram profunda reverência para com a autoridade das
Escrituras Sagradas. “Sem admitir a infalibilidade do Cânon ou a inspiração plenária do texto, e
reservando-se o direito de submeter ambas ao teste do criticismo histórico, a Escola da Conciliação
não faz mais do que proclamar a autoridade da Bíblia em matéria de religião” LICHTENBERG.
b) A Escola de Hengstenberg – Naturalmente, o caráter intermediário da escola precedente foi
também sua fraqueza. Ela não serviu para impedir o curso do Racionalismo. Uma reação muito mais
efetiva apareceu na Escola de Hengstenberg, que retornou aos princípios da Reforma. Ele acreditou
na inspiração plenária da Bíblia, e, consequentemente, defendeu sua absoluta infalibilidade. 
4. Tentativas de ir além do sentido Gramático-Histórico
O resultado final deste período é o método gramático-histórico de interpretação.
Encontramos este método representado em manuais de hermenêutica como os de C.A.G. Keil,
Davidson, P. Fairbairn, A.Imer e N.S. Terry. Geralmente, porém, surge uma tendência segundo a
qual se revela que a interpretação gramático-histórica não satisfaz plenamente, e procurou-se
complementá-la.
KANT afirmou que somente a interpretação moral da Bíblia tem significado religioso.
OLSHAUSEN advogou a necessidade de se alcançar “o sentido mais profundo da
Escritura”; “amaneira de descobrir o sentido mais profundo é reconhecer a revelação divina na
Escritura e seu ponto central, Cristo, em sua unidade com Deus e com a humanidade”;
GERMAR adotou o que ele chamou de interpretação pan-harmônica da Escritura. “Exigiu
completa harmonia entre o sentido encontrado na Escritura, desde que seja considerado como
revelação de Deus, e as declarações de Cristo e tudo mais que seja certo e verdadeiro”;
T. BECK sugeriu a interpretação pneumática ou espiritual. Ensinou que o intérprete devia
ter o espírito de fé, que daria ao intérprete a convicção de que as várias partes da Escritura formam
um todo orgânico.
QUESTIONÁRIO
1. Que benefícios a escola de Alexandria trouxe a hermenêutica.
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2. Que regras Agostinho usava no estudo das Escrituras?
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
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3. Que movimento no período da reforma chamou a atenção para a necessidade de se voltar ao
original.
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4. Diferencie os métodos de interpretação de Lutero com os métdos de interpretação de Calvino.
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5. Mencione as três tendências do período do confessionalismo e explique uma.
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6. Quem são os pietistas?
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
III. CONCEPÇÃO PRÓPRIA DA BÍBLIA – OBJETO DA HERMENÊUTICA SACRAIII. CONCEPÇÃO PRÓPRIA DA BÍBLIA – OBJETO DA HERMENÊUTICA SACRA
O estudo da Hermenêutica Sacra exige, antes de tudo, uma descrição do seu objeto – a
Bíblia – porque a Hermenêutica Especial deve adaptar-se sempre à classe de literatura a que se
aplica. O caráter especial da Bíblia determinará, também, em certa extensão, os princípios que
devem ser adotados na sua interpretação.
A. A Inspiração Da Bíblia
Ao discutir o caráter da Bíblia, é natural colocar-se em primeiro lugar o princípio
dominante a respeito do qual diz a nossa confissão: “confessamos que esta palavra de Deus não foi
enviada ou entregue pela vontade do homem, porém que homens santos de Deus falaram movidos
pelo Espírito Santo, como diz o apóstolo Pedro. E que Deus, por causa do interesse que tem em nós
e em nossa salvação, mandou que seus servos, os profetas e apóstolos, escrevessem sua palavra
revelada, e ele mesmo escreveu, com o próprio dedo, as duas tábuas da Lei. Portanto, chamamos
tais escritos de “Santa e Divina Escritura”.
“A Bíblia é divinamente inspirada” – Este é um dos grandes princípios da Hermenêutica
Sacra. Não pode ser ignorado impunemente. Qualquer teoria de interpretação que o despreze é
fundamentalmente precária e não nos levará à compreensão da Bíblia como a Palavra de Deus.
Por inspiração “entendemos a influência sobrenatural exercida pelo Espírito Santo sobre
os escritores sacros, em virtude da qual seus escritos conseguem veracidade divina, e constituem
suficiente e infalível regra de fé e prática”.
a) Provas Escriturísticas da Inspiração Divina – Muitos intérpretes se opõem decididamente a
qualquer semelhante concepção de inspiração divina. Quase sempre a apresentam como sendo uma
teoria inventada pelos teólogos conservadores, a fim de enquadrarem a Bíblia nas suas noções
preconcebidas daquilo que supõem que a Palavra de Deus devia ser. A inspiração divina da Bíblia é
uma das doutrinas ao lado da Providência, de Deus, de Cristo e da Expiação, entre outras.
(1) a Bíblia ensina claramente que os órgãos da revelação foram inspirados, quando
comunicaram oralmente ao povo as revelações que haviam recebido.
As expressões que a Bíblia emprega para descrever as funções proféticas implicam
necessariamente na idéia de uma inspiração direta.
As fórmulas proféticas mostram claramente que os profetas eram cônscios do fato de que
iam ao povo com a Palavra do Senhor.
Há outro aspecto digno de nota nos escritos proféticos que aponta para a mesma
direção. Em muitos dos seus discursos, nos quais o Senhor é apresentado falando, os profetas
passam rapidamente do uso da terceira pessoa gramatical para o da primeira, sem incluir a frase “diz
o Senhor”.
FATAD Prof. Jales Barbosa 22
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Voltando ao Novo Testamento, vemos que Cristo prometeu aos seus discípulos o Espírito
Santo para ensinar-lhes todas as coisas, e fazer que se lembrassem de tudo que lhes havia ensinado
(Jo 14.26).
(2) A Bíblia ensina a inspiração da Palavra escrita – Esta certeza dá origem a uma
conclusão favorável à inspiração dos órgãos de revelação. Se Deus julgou necessário que eles
transmitissem ao povo a mensagem oral sob a direção do Espírito Santo, não consideraria menos
importante que seus escritos fossem de igual modo salvaguardados. Nós, porém, não nos devemos
contentar apenas com suposições. A Bíblia, de fato, ensina a inspiração da Palavra escrita. É
verdade que não se pode citar uma passagem que assevere explicitamente a inspiração de toda a
Bíblia, mas as evidências são tais que não deixam dúvidas sobre este ponto.
As citações do Novo Testamento, os judeus possuíam uma coleção de escritos
tecnicamente chamados he graphe (a Escritura), ou hai graphai (as Escrituras) (Rm 9.17; Lc 24.27).
A Escritura é muitas vezes citada em o Novo Testamento como tendo autoridade divina. Para Cristo
e seus discípulos, um apelo he graphe significava pôr fim a toda controvérsia. Seu “está escrito”
eqüivalia a “Deus diz”. Além disso, esses escritos são designados de modo que o seu caráter
sagrado se salienta; por exemplo, são chamados graphai hagiai (Rm 1.2) e ta hiera grammata (II Tm
3.15). E, além destes, há uma descrição que indica diretamente o seu caráter divino. São chamados
“os oráculos de Deus” (Rm 3.2). Na clássica passagem de II Tm 3.16, as Escrituras são concebidas
claramente como revelação divina.
Há muitas citações do Velho Testamento em o Novo Testamento que identificam Deus e
as Escrituras como os que falam. Encontramos um expressivo exemplo em Hb 1.5-13, onde são
citadas sete palavras do Velho Testamento que se diz haverem sido proferidas por Deus (Sl 2.7; II
Sm 7.14; Dt 32.43 (LXX) ou Sl 97.7; 104.4; 45.6,7; 102.24-27; 110.1). Examinando estas passagens,
notamos que em algumas delas Deusé quem fala, em outras, não. O que a Escritura diz é
simplesmente atribuído a Deus. Além disso, em Rm 9.17 e Gl 3.8 citam-se palavras do Velho
Testamento com a fórmula “A Escritura diz” (“prega”), enquanto que nas passagens citadas, Ex 9.16;
Gn 22.18, quem fala é Deus. Esta identificação só seria possível à base de um estrito ponto de vista
de inspiração.
O LOCUS CLASSICUS para o estudo da inspiração da Bíblia é II Tm 3.16. Para uma
interpretação pormenorizada deste versículo, recorremos aos comentários. Para o momento,
faremos apenas algumas observações. No contexto precedente imediato, o Apóstolo fala das
vantagens que Timóteo teve pelo fato de haver recebido uma estrita educação religiosa, e também
pelo fato de haver conhecido desde a infância as Escrituras Sagradas, isto é, o Velho Testamento. E
agora, no versículo 16, o apóstolo enfatiza a grande importância destas Escrituras. Partindo daí,
segue-se que he graphe se refere também ao Velho Testamento como um todo. A palavra Theo-
pneustos significa sopro de Deus, ou seja, o produto do sopro criador de Deus. A palavra grega pasa
é traduzida por alguns por “todo”, e por outros, “cada” o que faz uma diferença muito pequena, visto
que uma enfatiza a totalidade e a outra, cada uma de suas partes. Também alguns traduzem: “toda
FATAD Prof. Jales Barbosa 23
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
(cada) Escritura é dada por inspiração de Deus, e é proveitosa”, etc.; e outros: “toda (cada) Escritura
dada por inspiração de Deus é também proveitosa”, etc. Mas, mesmo isto não faz grande diferença,
pois a inspiração do Velho Testamento, em qualquer dos casos, é asseverada ou implicada.
Outra importante passagem é II Pe 1.19-21, onde o apóstolo mostra a seus leitores que o
que lhes foi feito saber sobre a vida e poder de nosso Senhor Jesus Cristo não se baseia em fábulas
habilmente inventadas, mas na palavra de testemunhas oculares. 
E então acrescenta que eles têm melhor testemunho na palavra profética (que no
entender de Dr. Warfield se refere a todo o Velho Testamento). Isto é dito por mais seguro, porque
não é de particular interpretação, ou seja, não resulta da investigação humana, nem é mero produto
do próprio pensamento do escritor. Não resultou da vontade do homem, mas é dom de Deus.
Ainda outra passagem de considerável importância se encontra em I Co 2.7-13. Paulo
salienta o fato de que a sabedoria de Deus, que esteve oculta desde a eternidade, e que somente o
Espírito de Deus podia conhecer, foi-lhe revelada. E, então, continua: “Disto também falamos, não
em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito Santo”. Desde que ele
usa o presente, isto se aplica também às coisas que estava escrevendo aos Coríntios.
(3) a Bíblia ensina que a inspiração se estende também às palavras empregadas pelos
escritores. É conhecido que muitos dos que dizem acreditar na inspiração da Bíblia são enfáticos em
negar a inspiração verbal. Satisfazem-se em aceitar uma espécie de inspiração parcial, como por
exemplo, a de que somente os pensamentos foram inspirados e não as palavras, ou que somente os
assuntos relativos à fé e à vida ou, em sentido mais limitado, somente as palavras de Jesus foram
inspiradas. Alguns rejeitam o termo “inspiração verbal”; porque sugere uma teoria mecânica da
inspiração e, preferem usar o termo “inspiração plenária”. Não há objeção a isto se entendemos,
entre outras coisas, que a orientação sobrenatural do Espírito Santo se estendeu à escolha das
palavras, pois isto é ensinado na Bíblia, tanto por declaração expressa como por implicação. Note-se
especialmente o que se segue:
Na passagem já mencionada, Paulo diz estar ensinando coisas que foram reveladas pelo
Espírito de Deus “... não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas (em palavras)
ensinadas pelo Espírito Santo”. Aqui o apóstolo claramente se refere a palavras particulares como
palavras ensinadas pelo Espírito Santo, e a dupla expressão fortalece a sua afirmativa. 
Quando o Senhor chama Jeremias para a sua difícil tarefa, ele diz: “Eis que eu ponho
minhas palavras na tua boca”. Ora, se ele teve cuidado especial para com as palavras através das
quais Jeremias transmitiria suas revelações a Israel, a suposição é que ele teria igual cuidado com
respeito às palavras por meio das quais o profeta apresentaria estas revelações de uma forma
permanente a todas as futuras gerações.
De acordo com João 10.33, os judeus se ofenderam porque, como disseram, Jesus
estava se fazendo Deus. Em resposta a esta objeção, Jesus apela para uma palavra da Escritura,
em Salmos 82.6, onde os juízes são chamados deuses, e ao mesmo tempo salienta o fato de que a
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Escritura não pode ser anulada, mas tem autoridade incontestável. Visto que Jesus baseia seu
argumento no uso de uma palavra, segue-se que cada palavra tem autoridade divina.
Em Gl 3.16, Paulo fundamenta todo o seu argumento no fato de uma palavra ser usada
no singular e não no plural. Este argumento tem sido atacado, alegando-se que a palavra hebraica a
que se refere não de ser usada no plural para indicar posteridade (Gn 3.15). Isto, todavia, não destrói
a validade do seu argumento, pois Moisés podia ter usado outra palavra ou expressão no plural. E
mesmo que isto tivesse ocorrido, a passagem ainda provaria que Paulo acreditava na inspiração das
palavras particulares.
b) A Relação entre o Divino e o Humano na Autoria Escriturística - Do que foi dito, é
bastante claro que um duplo fator, o divino e o humano, operaram na produção da Bíblia. E então
levanta-se a questão a respeito de como estes dois elementos se relacionam na composição dos
livros da Bíblia. “Foram os escritores humanos meramente usados como penas na mão de Deus?
Foram eles simplesmente amanuenses que escreveram o que Deus ditou?“
Foi a sua personalidade suprimida quando o Espírito de Deus veio sobre eles e os
orientou a escrever o que desejava? Foram sua memória e imaginação, compreensão e julgamento,
desejos e vontade anulados pelo fato de haverem sido movidos pelo Espírito Santo?” Para todas
estas questões só há uma respostas à luz dos elementos fornecidos pela Escritura.
(1) Os autores humanos da Bíblia não foram máquinas, nem mesmo amanuenses. O
Espírito Santo não reduziu a sua liberdade nem destruiu sua individualidade. As provas seguintes
são decisivas a este respeito:
Em muitos casos, os autores investigaram de antemão a matéria a respeito da qual
pretendiam escrever, Lucas nos diz no prefácio do seu Evangelho que procedeu deste modo; e os
autores dos livros de Reis e Crônicas se referem constantemente às suas fontes.
Os escritores muitas vezes expressaram suas próprias experiências, como Moisés o fez
nos capítulos iniciais e finais do livro de Deuteronômio, e Lucas, na segunda metade do livro dos
Atos dos Apóstolos. Os salmistas cantaram a respeito do seu pecado pessoal e da recepção da
graça perdoadora, dos perigos que os cercavam e dos maravilhosos livramentos.
Muitos livros da Bíblia têm caráter ocasional. Sua composição foi motivada por
circunstâncias externas, e seu caráter determinado pelas condições morais e religiosas dos leitores
originais. Em o Novo Testamento, isso se aplica particularmente às Epístolas de Paulo, de Pedro e
de Judas, mas também, em grau menor, aos outros escritores.
Os vários livros se caracterizam por uma marcante diferença de estilo. Ao lado da
exaltada poesia dos Salmos e dos Profetas, temos a prosa comum dos historiadores. Ao lado do
hebraico castiço de Isaías, temos a linguagem influenciada pelo aramaiconos escritos de Daniel; o
estilo dialético de Paulo, ao lado da exposição simples de João. 
(2) É claro, portanto, que o Espírito Santo usou os escritores da Bíblia como eles eram, e
como ele mesmo os preparou para a tarefa, com suas idiossincrasias pessoais, seu caráter e
temperamento, seus talentos e educação, sua preferências e aversões, sem suprimir suas
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
personalidades. Há, contudo, uma importante limitação: o Espírito Santo não permitiu que sua
natureza pecaminosa se expressasse.
(3) Objeções à doutrina da Inspiração Verbal – Têm surgido muitas objeções à doutrina
da inspiração verbal ou plenária; não podemos despreza-las; todavia devemos considera-las
devidamente. Algumas delas têm grande aparência de plausibilidade, tais como as que se baseiam
nos chamados fenômenos da Escritura, como erros textuais, aparentes discrepâncias, citações
supostamente incorretas e mal aplicadas, e duplas representações. Essas objeções derivam sua
força do suposto fato de que uma teoria verdadeiramente científica de inspiração deve basear-se
num estudo indutivo de todos estes fenômenos.
Há, todavia, um ponto que merece ser considerado. As asserções de que as Escrituras
são, em todo o sentido, infalivelmente inspiradas, referem-se somente aos autógrafos, e não, no
mesmo sentido, aos manuscritos que hoje possuímos, às atuais edições e traduções da Bíblia. Os
autógrafos originais foram escritos sob a orientação divina, e eram, portanto, absolutamente
infalíveis. Todavia, isto não significa que um perpétuo milagre tenha preservado o texto sagrado de
erros dos copistas. Uma comparação dos manuscritos revela claramente a presença de tais erros.
Daí, então, alguns inferem que a inspiração da Bíblia tem pouca significação, e não assegura a
infalibilidade das Escrituras tal como as possuímos.
Finalmente, há muitos há muitos estudiosos de Hermenêutica e Exegese que se opõem
decididamente a um conceito a priori de inspiração divina, em seus trabalhos exegéticos. 
IMMER acrescenta o princípio de que “toda pressuposição que de alguma forma antecipe
o resultado exegético é inadmissível”. E advoga que “a crença incondicional na autoridade e
inspiração da Escritura é uma destas pressuposições”.
(1) Ele mesmo acha que nenhum intérprete pode livrar-se de todas as pressuposições.
Parece que ele teria de colocar-se à parte, o que é impossível. O intérprete não pode abandonar
suas convicções mais profundas, nem assumir uma atitude indiferente para com o autor que procura
interpretar. E certamente um teólogo reformado não pode fugir da firme convicção, que não é
meramente uma questão de inteligência, mas do coração, de que a Bíblia é a infalível Palavra de
Deus.
(2) A suposição de que a Bíblia é a inspirada Palavra de Deus, e portanto, tem autoridade
divina, se bem que nos dê certeza de que cada uma das suas partes é verdadeira e não pode ser
autocontraditória, não determina, como regra, de uma ou de outra maneira, a nossa exegese de
determinadas passagens.
(3) É digno de nota que os que têm tais escrúpulos contra a aceitação da inspiração
divina em seus trabalhos exegéticos são sempre dominados por preconceitos que determinam o
resultado de suas interpretações em maior extensão do que faria a aceitação da doutrina bíblica da
inspiração. Um desses preconceitos dos nossos dias, que tem produzido muito mal e pervertido
muitas passagens das Escrituras, é a teoria evolucionista aplicada à religião de Israel.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
QUESTIONÁRIO
1. A Bíblia é toda inspirada? Explique.
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2. Apresente algumas provas escriturísticas da Inspirração Divina.
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3. Argumente sobre a relação entre o divino e o humano na autoria escriturística.
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Anotações:
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IV. A UNIDADE E DIVERSIDADE DA BÍBLIA IV. A UNIDADE E DIVERSIDADE DA BÍBLIA 
A. Os livros da Bíblia
Os livros da Bíblia constituem uma Unidade Orgânica. Esta unidade não é meramente
mecânica, consistindo de diferentes partes, preparadas com vistas a uma correlação mútua, como
peças de um relógio, e que finalmente tenham sido colecionadas em um volume. A Bíblia não é
comparada a uma catedral construída de acordo com os planos de um arquiteto, porém se compara
a uma árvore majestosa. É o produto de um crescimento progressivo. A Bíblia não foi feita, porém,
cresceu.
a) As passagens citadas para provar a inspiração da Bíblia, e muitas outras que poderiam ser
acrescentadas a estas, indicam o fato de que ela tem um autor principal. Ela é, em todas as suas
partes, produção do Espírito Santo.
b) O conteúdo da Bíblia, não obstante sua verdade, revela admirável unidade. Todos os livros
da Bíblia têm como centro unificador a pessoa de Jesus Cristo. Todos eles se relacionam com a obra
da redenção e com a função do reino de Deus na terra. Além disso, todos eles concordam em seu
ensino doutrinário e em sua pratica a respeito da vida. É uma da maravilhas do século o fato de
sessenta e seis livros, que surgiram gradativamente no curso de dezesseis séculos, poderem revelar
tão notável unanimidade.
c) O caráter progressivo d revelação de Deus é também uma prova efetiva de sua unidade. O
estudo da “Teologia Bíblica” esta tornando este fato cada vez mais claro. As Escrituras revelam o
desenvolvimento de um pensamento divino singularco várias subdivisões, como, por exemplo, a da
graça de Deus em Cristo Jesus para a redenção dos pecadores. Elas como o botão das promessas
divinas gradualmente se abriu e se tornou uma linda flor. Cristo que havia de projetar sua luz diante
si, e finalmente aparece em pessoa.
d) As citações coletivas da Escritura também indicam a sua unidade. Os escritores do Novo
Testamento freqüente ilustravam ou apoiavam alguma particular, citando vários livros do Velho
Testamento, revelando, assim, a convicção de que estes eram de igual autoridade divina.
encontramos um exemplo disso em Rm 3:10-18, onde Paulo cita Ec 7.20; Sl 14.2,3; 5.10; 140.4;
10.7; Is 59.7,8; 36.2. Outros exemplos podem ser encontrados em Hb 1.5-13; 2.6-8, 12-13. Com
respeito ao primeiro, TURPE afirma: “Esta citação, feita de várias passagens, dá-nos um exemplo do
que se pode chamar de citação combinada e, como é precedida da frase “conforme está escrito”,
torna claro que os diferentes escritos de que é tirada, ou seja, Salmos, Eclesiastes e Isaías, são
igualmente Escritura e estão no mesmo nível. Se suas declarações fossem de diferentes valore, por
que declara-las todas juntas?
e) Mais indiretamente, a unidade da Escritura provada pelo fato de os autores do Novo
Testamento, citando o Velho Testamento, alterarem de certo modo as passagens citadas, ou as
aplicarem num sentido que não é evidente no Velho Testamento. Isso dificilmente poderia ser
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
defendido, a não ser admitindo-se que o Espírito Santo é, sem última análise, o autor de toda a
Bíblia, e que naturalmente tem o direito de citar e aplicar suas próprias palavras como lhe convém.
B. Diversidade Bíblica
Ao lado Desta Unidade, todavia, a Bíblia revela também a maior diversidade. Há várias
distinções que devem ser conservadas em mente, na interpretação da Escritura.
1. A Distinção entre o Velho e o Novo Testamento
a) Quanto ao conteúdo – O Velho Testamento contém a promessa; o Novo Testamento o
cumprimento. O primeiro aponta para a vinda de Cristo e nos conduz a ele; o último tem em Cristo o
seu ponto de partida e contempla seu sacrifício perfeito como expiação pelo pecado do mundo. O
V.T. é o botão, o N.T. a flor.
b) Quanto à forma - O V.T. é profético, enquanto que o N.T. é apostólico. O elemento
simbólico, que é muito saliente no V.T., reduz-se ao mínimo no N.T. Além disso, o fator divino é
muito mais destacado no V.T. do que em o N.T.
c) Quanto à linguagem - O V.T. está escrito em hebraico, com exceção de algumas partes do
livro de Daniel e poucos versículos em Jeremias e Esdras, enquanto que o N.T. está escrito em
grego Koiné.
2. A Distinção entre os vários Livros da Bíblia.
O fato de o Espírito Santo usar profetas e apóstolos, com suas características pessoais,
seus conhecimentos e talentos naturais, de modo orgânico, suscita naturalmente uma grande
diversidade. Cada autor dá a seu livro certa feição definida. Cada um desenvolve seus próprios
pensamentos de modo particular, apresentando-os de acordo com as exigências do momento, e
expressando-os em estilo característico.
3. A Distinção entre as formas fundamentais da Revelação de Deus.
Deus objetivou sua revelação, em parte, em forma de narrativas históricas. É da mais alta
importância ter-se em mente que os fatos históricos narrados na Bíblia formam também uma parte
essencial da revelação divina, e como tal devem ser interpretados.
Também Deus fez conhecida a sua vontade por meio de escritos didáticos ou discursos.
No V.T., encontramos isto especialmente na Lei e na literatura Chokmah, enquanto que em o Novo
Testamento, encontra-se nas parábolas e discursos do Salvador e nas Epístolas.
Também ele nos fez conhecer os mistérios de seu conselho através da profecia. A
profecia interpreta os caminhos de Deus no passado, revela sua vontade no presente e nos dá uma
visão gloriosa para consolo do povo de Deus.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Finalmente, ele também se revela na poesia, na qual ouvimos os sons de poderosa
orquestra. O Dr. Stuart Robinson diz poeticamente: “Notas de cordas feridas do coração de Deus
orientam a composição, e notas de todas as cordas feridas da alma humana respondem em coro”.
C. A Unidade do Sentido da Escritura
É da mais alta importância entender-se que a Escritura tem apenas um sentido e que,
portanto, é suscetível de investigação lógica e científica. Este princípio fundamental deve ser
colocado enfaticamente no início, em oposição à tendência revelada na história, e que persiste até os
nossos dias, de aceitar um sentido múltiplo para a Escritura Sagrada.
Tendência esta que torna impossível qualquer espécie de ciência hermenêutica, e abre a
porta a todas as espécies de interpretações arbitrárias.
(1) Base desse princípio – Deve-se reconhecer que a Escritura não obstante as significações
veladas que as palavras possam ter, tem apenas uma significação adequada.
(2) Da veracidade de Deus - É princípio estabelecido entre os homens, que a pessoa da
veracidade indubitável geralmente se expressa por meio de linguagem inequívoca. A consciência
humana nunca aprovou o método dos jesuítas.
(3) Do propósito da revelação de Deus – Deus revela sua vontade e o meio de salvação dos
homens, a fim de glorificar-se na redenção dos pecadores. Ele tinha em mente um fim gracioso e
glorioso.
(4) Da necessária conformidade entre a revelação do Logos na mente do homem e sua
revelação na natureza e na Escritura – É exatamente a adaptação de um ao outro que torna possível
todo o conhecimento. Toda revelação, a fim de ser entendida, deve ser racional. 
(5) Do caráter da linguagem humana em que a Bíblia está escrita - A lógica da mente humana
naturalmente se reflete na linguagem usada pelo homem. E é absolutamente estranho ao caráter
desta linguagem que uma palavra tenha duas, três, ou mesmo mais significações na mesma
conexão.
(6) Defesa Contra a Má Compreensão Deste Princípio - Mas, conquanto devamos ter em
mente o grande princípio de que a Escritura tenha apenas um sentido adequado, devemos guardar-
nos de várias interpretações errôneas.
(7) É necessário distinguir entre o sentido real de uma passagem da Escritura e o sentido que
lhe é atribuído por vários intérpretes - As várias interpretações dadas a uma passagem não
contrariam a unidade do sentido da Escritura.
(8) Devemos ter em mente a distinção entre o sentido de uma passagem e as diferentes
maneiras em que ele possa ser aplicado - De acordo com as circunstâncias, o texto pode ser
aplicado para exortar ou divertir, encorajar ou reprovar.
Também, é de grande importância distinguir entre o sentido literal e o sentido místico, e
entender que eles não constituem uma dupla significação, porém um sentido singular. Muitas
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
passagens da Escritura têm, além do seu sentido literal, também um sentido simbólico ou tipológico.
As coisas mencionadas são símbolos ou tipos de outras coisas.
Finalmente, deve-se fazer cuidadosa distinção entre o cumprimento duplo de uma
profecia e uma passagem de duplo sentido. Algumas profecias se cumprem em vários fatos ou
eventos sucessivos. Em tais casos os primeiros cumprimentos são parciais e típicos daqueles que se
hão de realizar futuramente.
D. O Estilo da Escritura
1. Características Gerais
O estilo da Escritura será aqui discutido de modo muito geral, e maisde um ponto de
vista exegético do que literário. Somente as peculiaridades gerais que têm importância para a
interpretação da Bíblia serão mencionadas.
(1) A simplicidade do Estilo da Escritura – Tanto os crentes como os descrentes estudiosos
falam da simplicidade da Bíblia. Os mais elevados assuntos são ali tratados de modo ao mesmo
tempo profundo e simples, resultando numa visão imediata e perfeita da verdade.
No hebraico, quase todas as raízes consistem de três radicais. Há somente dois tempos, o
perfeito e o imperfeito; somente dois gêneros, o masculino e o feminino. Substantivos e verbos
compostos são poucos, e quase todas as sentenças são coordenadas.
A relação entre as diferentes sentenças é, em muitos casos, indicada pela simples copulativa
vav (e), onde a conexão lógica exigiria uma conjunção mais específica. Daí porque esta partícula, se
bem que seja apenas conectivo geral, possa indicar várias relações especiais. Ela pode ser
explicativa (portanto), Amós 3.11; 4.10; adversativa, (e ainda): Jz 16.15; Sl 28.3; dedutiva (portanto,
então): Ez 8.32; causal (porque): Sl 5.2; final (a fim de que), principalmente em frases exortativas.
Em o Novo Testamento a conjunção kai é também usada na mesma maneira.
A ocorrência freqüente da hendíades, em que duas palavras unidas por uma conjunção
expressam a mesma idéia de uma palavra com um qualitativo, por exemplo, “que sejam eles para
sinais, para estações, e para dias e anos” (Gn 1.14); “uma cidade e uma mãe em Israel” (II Sm
20.19); “no tocante à esperança e à ressurreição dos mortos sou julgado” (At 23.6).
Muitas vezes encontramos o discurso direto onde esperaríamos encontrar o indireto. Podemos
encontrar alguns exemplos disto em II Sm 13.32; Is 3.6; Jr 3.16.
(2) A vividez do Estilo da Escritura. Em geral, os orientais são muito vívidos em suas
representações. Os autores da Bíblia não fugiram a esta regra. 
Revelam marcada tendência para representar verdades abstratas em formas concretas.
Qualidades espirituais às vezes são descritas por meio de figuras das partes do corpo pelas quais
são simbolizadas. 
Eles vêem a natureza ao seu redor como algo vivo e consequentemente a personificam com
freqüência. Todas as coisas inanimadas são representadas como macho ou fêmea, o gênero
particular dependendo das qualidades reveladas. Intelecto e vontade, emoções e desejos, são
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
atribuídos a toda a criação. Encontramos exemplos desta descrição animada da natureza dos
Salmos 19.2,3; 96.12; 98.8; Is 55.12 e Rm 8.19-22.
Os historiadores da Bíblia não fazem a simples narrativa, porém, pintam a história. Eles deixam
que os fatos passem diante dos olhos dos leitores como um panorama. Daí o uso freqüente da
palavra “eis”. Provavelmente, isto também determina o uso do imperfeito hebraico com um vav
conversivo em narrativas continuadas que começam com um perfeito. 
Certas expressões redundantes aumentam também a vividez do estilo da Escritura. Por
exemplo, expressões como: “abriu sua boca e falou”; “levantou os seus olhos e viu”; “levantou a sua
voz e chorou”; “inclina o teu ouvido e ouve”
(3) O uso extensivo da linguagem figurada – Isto resulta, em parte, da impossibilidade de
descrever coisas espirituais e celestes por meio da linguagem, da preferência oriental pela
representação plástica e pictórica, e do desejo de alcançar beleza e variedade de estilo. Visto que
será necessário discutir a linguagem figurada da Bíblia e sua interpretação separadamente,
deixaremos o assunto, por ora.
(4) O paralelismo peculiar que caracteriza grande parte da poesia bíblica e parte da sua prosa.
O Bispo Lowth foi o primeiro a usar a expressão parallelismus membrorum para descrever a feição
peculiar em que “em duas linhas ou membros do mesmo período, na maior parte, coisas
correspondem a coisas e palavras a palavras”. Isto se encontra particularmente nos Salmos e nos
outros livros poéticos da Bíblia.
Paralelismo sinonímico, em que a mesma idéia é repetida em diferentes palavras. Neste caso,
pode haver apenas similaridade (Sl 24.2; Jó 5.6); ou identidade (Pv 6.2; Sl 93.3).
Paralelismo antitético, em que o segundo membro de uma linha ou verso apresenta o anverso
do mesmo pensamento. Isto se encontra especialmente no livro de Provérbios. Pode ser simples (Pv
14.34; Sl 30.6); ou composto (Is 1.3, 19,20).
Paralelismo sintético, também chamado construtivo e epitético. No segundo membro
acrescenta algo de novo ao primeiro ou explica. Pode ser correspondente, quando a primeira linha
corresponde à terceira, e a segunda à quarta (Sl 27.1; 35.26,27); ou cumulativo, quando apresenta
uma série de idéias sucessivas, algumas vezes conduzindo a um clímax (Sl 1.1-2; Is 55.6-7; Hb
3.17).
Paralelismo inverso ou quiástico, definido como paralelismo em ordem reversa em que os
hemistíquios dos membros são arranjados quiasticamente (Pv 23.15-16; 10.4-5; 13.24).
Aspectos típicos da Língua do Novo Testamento. Finalmente, temos a considerar o fato
de a linguagem em o N.T. apresentar feições típicas. Não é o grego puro do período clássico, mas o
grego helenístico, também chamado koiné ou língua comum. Por muito tempo foi defendida a
posição de que a linguagem do N.T. era grandemente influenciada pelo grego da LXX e, através
desta, pelo hebraico ou aramaico. 
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
E. Ponto de vista exegético do intérprete
A relação entre o Intérprete e o objeto do seu estudo. Ao contrário da Igreja Católica, as
igrejas da Reforma aceitam o importante princípio de que cada indivíduo tem o direito de investigar e
interpretar por si mesmo a Palavra de Deus. É verdade que elas defendem também que a Igreja, em
virtude do seu potestas doctrinae, foi incumbida da importante tarefa de preservar, interpretar e
defender a Palavra de Deus. Repudiam, entretanto, a idéia de que qualquer interpretação
eclesiástica per se seja infalível e possa ser imposta à consciência. As interpretações da Igreja têm
autoridade divina somente enquanto estão em harmonia com os ensinos da Bíblia como um todo.
Cada indivíduo tem o direito de julga-las por si mesmo. Os protestantes negam que Deus tenha
constituído a Igreja como intérprete especial da Palavra divina, e sustentam que cada cristão tem o
direito de estudar e interpretar a Escritura.
O intérprete deve ser perfeitamente livre em seu trabalho, contudo, não deve confundir
sua liberdade com licenciosidade. Ele é, de fato, livre de restrições ou autoridades externas, todavia
não é livre das leis inerentes ao objeto de sua interpretação. Em todas as suas exposições está
limitado ao que está escrito, e não tem o direito de atribuir seus pensamentos aos autores que
interpreta. Este princípio é hoje geralmente reconhecido. É bem diferente, contudo, quando a posição
defendida é a de que a liberdade do intérprete é também limitada pelo fato de a Bíblia ser inspirada,
e consequentemente autoconsciente Palavra de Deus. Também este princípio deve ser reconhecido
por todos os intérpretes protestantes.
QUESTIONÁRIO
1. O que vem a ser a unidade da Bíblia?
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2. Que tipo de distinção existe entre o Velho Testamento e o Novo Testamento. Explique cada uma.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
VI. INTERPRETAÇÃO GRAMATICALVI. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL
A. Significado das palavras isoladas
A Bíblia foi escrita em linguagem humana e consequentemente deve, antes de tudo, ser
interpretada gramaticalmente. No estudo do texto, o intérprete pode proceder de duas maneiras.
Pode começar com a sentença, com a expressão do pensamento do autor considerado como
unidade, e daí descer às particularidades, à interpretação das palavras isoladas e dos conceitos. Ou
pode começar com estes e daí subir à consideração da sentença, do pensamento como um todo. Do
ponto de vista puramente lógico e psicológico o primeiro método merece preferência. Razões
práticas, porém, aconselham começar a interpretação de literatura estrangeira com o estudo de
palavras isoladas. 
a) A etmologia das palavras – A significação etimológica das palavras merece a primeira
atenção, não por ser a mais importante para o exegeta, mas porque logicamente precede às outras
significações. Em regra, não é aconselhável que o intérprete se deixe embrenhar demasiadamente
em investigações etimológicas. Este trabalho é extremamente difícil e pode, ordinariamente, ser
realizado com maiores vantagens pelos especialistas no assunto. Além do mais, a significação
etimológica da palavra nem sempre lança luz sobre a sua significação corrente. Ao mesmo tempo, é
aconselhável que o expositor da Escritura note a etimologia estabelecida de uma palavra, desde que
ele ajude a determinar sua significação real e possa esclarece-la de modo surpreendente. Tomemos
as palavras hebraicas kopher, kippurim e kapporeth, traduzidas respectivamente por “resgate”,
“redenções” ou “expiações” e “propiciatório”. Todas elas se derivam da raiz kaphar, que significa
“cobrir” e, contém a idéia de uma redenção ou expiação efetuada por certo acobertamento. O pecado
ou os pecadores são cobertos pelo sangue expiatório de Cristo. 
b) O uso corrente das palavras – A significação corrente da palavra é de muito maior
importância para a interpretação do que a sua significação etimológica. A fim de interpretar
corretamente a Bíblia, o expositor deve conhecer as significações que as palavras adquiriram no
decorrer dos tempos, e o sentido em que os autores bíblicos as empregaram. Este ponto importante
deve ser estabelecido. Supõe-se que se pode conseguir esse conhecimento facilmente apenas por
consultar os dicionários, que dão geralmente da palavra tanto o sentido original como o adquirido, e
que indicam o sentido em que é empregada em determinadas passagens. Em muitos casos, isso é
perfeitamente verdadeiro. Ao mesmo tempo, é necessário ter em mente que os dicionários não são
infalíveis, e sua credibilidade diminui de importância na proporção em que descem a particularidades.
Eles simplesmente incorporam os resultados dos labores exegéticos de vários intérpretes que se
recomendaram à discriminação dos lexicógrafos, e que freqüentemente revelam diferentes pontos de
vista.
c) O uso das palavras sinônimas – Toda língua tem antônimos e sinônimos. Sinônimas são as
palavras que têm a mesma significação, ou que concordam em uma ou mais de suas significações,
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
mesmo diferindo em outras. Este uso dá grande beleza à linguagem enquanto ajuda o autor a variar
suas expressões. Enriquece a linguagem, fazendo-a capaz de expressar mais precisamente os
diferentes aspectos de uma dada idéia. A importância do estudo cuidadoso de palavras sinônimas
pode ser ilustrada com alguns exemplos: Em Is 53.2 são usadas três palavras para expressar a
ausência de glória exterior na vida do Servo do Senhor: “Não tinha aparência nem formosura;
olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse”. A primeira palavra (tho’ar) significa
“forma”, com a idéia adicional de beleza e, portanto, se refere à forma de beleza corporal. A segunda
(hadar) sugere um ornamento, e aplicada a Deus descreve sua majestade. Refere-se ao estado de
humilhação com que cristo apareceu. A terceira (mar’eh, derivada da palavra ra’ah, ver) algumas
vezes se refere à aparência externa que é a expressão e, portanto, em harmonia com a natureza
essencial íntima do ser. A significação que o profeta não era tal qual os judeus esperavam para o
Messias.
O Novo Testamento oferece um belo exemplo em João 21.15-17. Quando o Senhor
ressuscitado interrogou a Pedro quanto ao seu amor, empregou duas palavras – agapao e phileo. A
distinção entre estes dois verbos é dada por Trench nas seguintes palavras: “O primeiro expressa um
afeto mais racional resultante do fato de se ver no objeto desse afeto algo que é digno de
consideração; ou ainda, resulta da sensação de que tal afeto é devido à pessoa considerada
benfeitora ou algo parecido; enquanto que no segundo, sem ser necessariamente um afeto irracional,
preocupa-se menos consigo mesmo; é mais instintivo; procede mais dos sentimentos e afeições
naturais, implica mais na existência da paixão”. O primeiro, baseado na admiração e respeito, é o
amor controlado pela vontade e é de caráter permanente; o último, baseado na afeição, é o amor
mais impulsivo e mais pronto a perder o seu fervor. Quando Jesus perguntou a Pedro “amas-me?”
usou o verbo agapao. Pedro, todavia, não ousou responder afirmativamente, embora amasse ao
Senhor com o amor que alcançou seus grandes triunfos nos momentos de tentação.
Então, Pedro empregou o verbo phileo. Ao repetir a pergunta, Pedro responde da mesma
maneira. Então o Salvador desce ao nível de Pedro e em sua terceira pergunta usa a segunda
palavra, como se duvidasse até mesmo deste amor (philein) de Pedro. Não é de admirar que Pedro
ficasse triste e apelasse para a onisciência do Senhor.
B. O significado das palavras no seu contexto – “usus louendi”
No estudo das palavras isoladas a questão mais importante não é tanto o seu significado
etimológico, nem mesmo as várias significações que gradualmente adquiriram. O essencial é que se
refere ao sentido particular em que elas ocorrem. O intérprete deve determinar se as palavras são
usadas em sentido geral ou particular; se empregados em sentido literal ou figurado. Seguem abaixo
os seguintes princípios:
(1) “A linguagem da Escritura deve ser interpretada de acordo com a sua importância
gramatical; e o sentido de qualquer expressão, proposição, ou declaração deve ser determinado
pelas palavras empregadas”. O conhecimento teológico é falho na razão do seu afastamento do
FATAD Prof. Jales Barbosa 35
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
pleno significado da Bíblia. Embora este princípio seja óbvio, é repetidamente violado por aqueles
que tentam adaptar a Escritura ao esquema de suas teorias ou opiniões.
(2) Uma palavra pode ter apenas uma significação no contextoem que ocorre. Isso é tão
evidente que parece não merecer sequer uma referência. O desejo de parecer original e profundo e
de surpreender o povo com exposições fantasiosas de que nunca ouviu, algumas vezes tenta os
intérpretes a perderem de vista este princípio de interpretação. 
(3) Os casos em que várias significações de uma palavra são reunidas de maneira que
resultam numa Unidade Maior não entram em conflito com o princípio acima estabelecido.
a) Algumas vezes uma palavra é usada no seu sentido mais geral a ponto de incluir suas
significações especiais, mesmo que estas não sejam enfatizadas;
b) Há também casos em que um uso especial de palavra inclui outro que não entra em
conflito com o propósito e o contexto da passagem em que se encontra;
c) Às vezes um autor emprega a palavra num sentido abundante, como que a indicar mais do
que a palavra em si mesma expressa.
(4) Se uma Palavra é usada mais de uma vez na mesma conexão, a suposição natural é que
tem sempre o mesmo sentido.
Em geral um autor não usaria uma palavra em dois ou três diferentes sentidos numa só
passagem. Isto levaria, em circunstâncias ordinárias, à confusão. Todavia, há algumas exceções à
regra. Em algumas passagens uma palavra é repetida com mudança de significação. Mas esses
casos são de tal espécie que o perigo de uma interpretação errônea se torna óbvio. O contexto
claramente indica que a palavra não tem o mesmo sentido nos dois casos. Ilustremos com os casos
seguintes: Mt 8.22: “deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos”; Rm 9.6: “porque nem
todos os de Israel são de fato israelitas”; II Co 5.21: “àquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”.
C. Ajudas internas para explicação das palavras
É natural que se pergunte como é que o intérprete vai saber o sentido de uma palavra em
dado contexto. Pode-se pensar que a melhor maneira será consultar um dicionário ou alguns bons
comentários. E, em alguns casos, isto será suficiente, entretanto, em outros casos, o próprio
intérprete terá que decidir. Quando isso ocorre, deve valer-se de ajudas internas. A seguir há
algumas ajudas importantes:
(1) As definições e explicações que os próprios autores dão às suas palavras constituem um
dos mais eficazes auxílios. Ninguém mais do que o autor conhece o sentido particular atribuído a
uma palavra. Ilustremos com os seguintes exemplos: Gn 24.2: disse Abraão ao seu mais antigo
servo da casa”, e acrescentou a título de definição, “que governava sobre tudo que ele tinha”. II Tm
3.16: “a fim de que o homem de deus seja perfeito”, para significar que o homem de Deus deve ser
“perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Hb 5.14: “mas o alimento sólido é para os adultos” (ou
FATAD Prof. Jales Barbosa 36
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
perfeitos), que é explicado pelas palavras: “para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bom, mas também o mal”.
(2) O Sujeito e o Predicado de uma proposição se explicam mutuamente. Em Mt 5.13, onde
lemos: “...se o sal perder o seu sabor”, o sentido do verbo moranthei, que também pode significar
tornar-se louco (Rm 1.22), é determinado pelo sujeito Sl Em Rm 8.19-23, o significado do sujeito,
criatura, é limitado por vários predicados. Os anjos bons são incluídos pelo verso 20; os maus, pelos
versos 19-21. Os mesmos versos tornam impossível a inclusão dos maus entre os homens,
enquanto que o verso 23 também exclui os filhos de Deus. A idéia se limita, portanto, à criação
irracional e inanimada.
(3) O Paralelismo pode ajudar na determinação do sentido de uma palavra. Isto se aplica
especialmente ao paralelismo sinonímico e antitético. Em Sl 7.13: “... para ele preparou já
instrumentos de morte”, que é explicado pela parte seguinte: “preparou suas setas inflamadas contra
os perseguidores”. Em Is 46.11, o Senhor diz de si mesmo que está “chamando a ave de rapina do
oriente”, e isso é explicado no paralelismo: “o homem que executa o meu conselho desde terras
remotas”. Também em II Tm 2.13, Paulo afirma a respeito de Deus que “ele permanece fiel, pois de
maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”. A primeira expressão explica a segunda, que em Lc
9.23 significa sacrificar interesses e prazeres pessoais. Em Pv 8.35: “... o que me achar achará a
vida”; e no número antitético do paralelismo no verso seguinte: “Mas o que peca contra mim violenta
a sua própria alma”. A primeira explica a segunda, e mostra claramente que o verbo “chata” é aqui
empregado no seu sentido original, ou seja, errar o alvo. Poderíamos ler assim: “Mas aquele que
erra...”. 
(4) As passagens paralelas constituem também importante auxílio. Estas dividem-se em duas
classes: verbal e real. “Quando a mesma palavra ocorre em semelhantes conexões, ou em
referência ao mesmo objeto geral, o paralelismo é chamado verbal... Paralelos reais são as
passagens semelhantes nas quais a identidade consiste não em palavras ou frases, porém em fatos,
assuntos, sentimentos ou doutrinas”. Os paralelos verbais estabelecem pontos de lingüista usual,
enquanto que os paralelos reais servem para explicar pontos de interesse histórico, ético ou
dogmático. No momento, estamos interessados em tratar apenas de paralelos verbais, que podem
servir para explicar uma palavra obscura ou desconhecida. É possível que nem a etimologia da
palavra nem o contexto em que é encontrada sejam suficientes para determinar sua exata
significação. Em tais casos, é da mais alta importância que se estudem passagens paralelas em que
a mesma palavra é encontrada em semelhante conexão, ou em referência ao mesmo assunto geral. 
D. O uso figurado de palavras
(1) Os principais tropos usados na Escritura. Aqui não estamos interessados no exame de
figuras de sintaxe ou figuras de pensamentos, porém nas figuras de linguagem comumente
chamados tropos, em que uma palavra ou expressão é usada em sentido diferente daquele que lhe é
FATAD Prof. Jales Barbosa 37
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
próprio. Baseiam-se em certas semelhanças ou em relações definidas. Os principais tropos são a
metáfora, a metonímia e a sinédoque.
a) Metáfora – pode ser chamada uma comparação não expressa. é a semelhança entre duas
coisas que se aplicam a um termo. Exemplo: “vós sois a luz do mundo” (mt 5.14); “...vós sois as
varas...” (jo 15.5).
b) Metonímia - quando se relaciona uma coisa com outra que tem com a primeira uma relação
de causa e efeito. Exemplo: “...se eu não te lavar, não tens parte comigo” (jo 13.8). lavar aqui
significa purificar.
c) Sinédoque - quando se relacionam duas coisas que não são semelhantes entre si. nessa
figura há certa identidade entre o que é expresso e o que se quer significar. uma parte é tomada pelo
todo, ou o todo é tomado pela parte; o gênero pela espécie, ou a espécie pelo gênero; o indivíduo
pela classe, ou a classe pelo indivíduo; o plural pelo singular, ou vice-versa. Exemplo: “A minha
carne repousará segura” (Sl 16.9). Carne em lugar de corpo.
(2) Auxílios internos para saber se o sentido é Literal ou Figurado. É importantíssimo que o
intérprete saiba se a palavra é usada em sentido literal ou figurado. Os judeus, e até os discípulos,
cometeram freqüentes erros quando interpretavam literalmente o que Jesus declarava de modo
figurado (conferir Jo 4.11,32; 6.52; Mt 16.6-12). O fato de não se compreender o sentido figurado da
declaração de Jesus “isto é o meu corpo”, tornou-se fonte de divisão nas igrejas da Reforma.
Portanto, é de grande importância que o intérpreteesteja certo deste ponto. As considerações
seguintes podem ajuda-lo na fixação da questão.
a) Há certos escritos em que o uso de linguagem figurada a priori impossível. Entre estes estão
as leis e todas as espécies de instrumentos legais, ensinos históricos, trabalhos estritamente
filosóficos e científicos e confissões. Estes têm por objetivo primário a clareza e a precisão e fazem
da beleza uma consideração secundária. Mesmo assim é bom lembrar que a prosa dos orientais é
mais figurativa do que a do povo ocidental.
b) Existe um velho e repetido princípio de hermenêutica, segundo o qual as palavras devem ser
entendidas em seu sentido literal, a não ser que tal interpretação envolva uma contradição manifesta
ou uma absurdidade. Deve-se observar, contudo, que na prática isto se torna apenas um apelo ao
juízo racional de cada pessoa. 
c) O meio mais fácil de determinar se uma palavra é usada literal ou figurativamente em certo
texto, encontra-se nos auxílios internos a que já nos referimos. O intérprete deve dar toda a atenção
ao contexto imediato, aos adjuntos da palavra, ao caráter do sujeito e do predicado a ele atribuído,
ao paralelismo, se estiver presente, e às passagens paralelas.
(3) Princípios recomendáveis na Interpretação da Linguagem Figurada da Bíblia. Conquanto o
intérprete deva empregar os auxílios internos já mencionados, há certos pontos especiais que ele
deve observar. 
FATAD Prof. Jales Barbosa 38
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
a) É da maior importância que o intérprete tenha uma concepção clara das coisas sobre as
quais se baseiam as figuras, ou de onde são extraídas, visto que o uso de tropos se fundamenta em
certas semelhanças ou relações. A linguagem figurada da Bíblia se deriva especialmente:
- Dos aspectos físicos da Terra Santa;
- Das instituições religiosas de Israel;
- Da história do antigo povo de Deus, e
- Da vida cotidiana e dos costumes dos vários povos que ocupam lugar importante na Bíblia.
b) O intérprete deve esforçar-se por descobrir a idéia principal, a TERTIUM COMPARATIONIS,
sem dar demasiada ênfase aos detalhes. Quando aos autores bíblicos empregaram metáforas,
tinham em geral algum ponto específico em mente. E mesmo que o intérprete seja capaz de
descobrir outros pontos, deve se limitar aos que fazem parte da intenção do autor. Em Rm 8.17,
Paulo diz, num arroubo de segurança: “E se filhos, também herdeiros; herdeiros de Deus e co-
herdeiros de Cristo”. É perfeitamente claro que ele se refere às bênçãos que os crentes recebem
com Cristo do seu Pai comum. A metáfora contida na palavra herdeiro poderia ser reforçada demais
se quiséssemos que ela significasse como Ap 16.15 mostra como é perigoso aplicar uma passagem
figurada. Aí lemos: “Eis que venho como ladrão”. O texto geralmente determinará até onde se pode
aplicar a figura.
c) Em conexão com a linguagem figurada que se refere a Deus e à ordem geral das coisas, o
intérprete deve ter em mente que ela geralmente oferece apenas uma expressão inadequada da
perfeita realidade. Deus é chamado Luz, Rocha, Fortaleza, Alta Torre, Sol e Escudo. Todas estas
figuras sugerem alguma idéia daquilo que Deus é para seu povo, mas nenhuma delas, nem todas
juntas são capazes de dar uma completa representação de Deus. E quando a Bíblia apresenta os
redimidos como vestidos nas vestes da salvação, revestidos da couraça da justiça, coroados com a
coroa da vida, e trazendo as palmas da vitória, as figuras certamente nos dão algo, porém somente
uma idéia muito imperfeita da sua glória futura.
d) Em certa extensão podemos testar nossa compreensão da linguagem figurada da Bíblia,
procurando expressar em linguagem literal os pensamentos que elas sugerem. Mas é necessário ter
em mente que grande parte da linguagem figurada da Bíblia desfia tais esforços. Isto se aplica
particularmente à linguagem em que a Bíblia fala de Deus e das coisas eternas. O estudo cuidadoso
e diligente da Bíblia, mais do que qualquer outra coisa, nos ajudará a entender a linguagem figurada
da Escritura.
E. A interpretação do pensamento
Da interpretação das palavras isoladas partimos para a de suas mútuas ou do
pensamento. Por enquanto, trataremos apenas da expressão formal do pensamento e não do seu
conteúdo material. A discussão deste último aspecto será feita quando considerarmos as
interpretações históricas e teológicas. Às vezes, a interpretação do pensamento é chamada
“interpretação lógica”. Parte da admissão do fato de que a linguagem da Bíblia é como outra
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
linguagem qualquer, produto do espírito humano, desenvolvido sob orientação providencial. Os
pontos que merecem especial atenção para que se interprete a Bíblia com os mesmos princípios
lógicos de outros escritos são os seguintes:
(1) Os idiotismos e as figuras de linguagem. Toda língua tem sérias características, chamadas
idiotismos. O hebraico também transportou alguns para o N.T. Há um uso freqüente de hendíases.
Em I Sm 2.3: “Não multiplicarás, não falarás”, evidentemente, significa: “não multiplicarás palavras”.
Há também outras figuras de linguagem:
a) Alegoria – Que é apenas uma metáfora ampliada e deve ser interpretada segundo os
mesmos princípios gerais. Encontramos exemplos de alegorias em Salmos 80.8-15; João 10.1-18. “A
alegoria é um uso figurativo e a aplicação de alguma história ou fato que se admite, enquanto que a
parábola é em si mesma esta suposta história ou este fato. As parábolas usa palavras em seu
sentido literal, e sua narrativa nunca ultrapassa os limites daquilo que poderia ter acontecido. A
alegoria usa as palavras em sentido metafórico, e sua narrativa, ainda que em si mesma seja
possível, é manifestamente fictícia”.
b) Outras figuras abreviam a expressão. Resultam da rapidez e energia do pensamento do
autor, que nutre o desejo de omitir todas as palavras supérfluas.
- Elipse – Consiste na omissão de uma palavra ou palavras necessárias à construção
completa de uma sentença, porém que não é necessária à sua compreensão. Moisés ora: “Volta, ó
Jeová – até quando? (nos desampararás?)”. As sentenças curtas, abruptas, revelam a emoção do
poeta (ver outros exemplos em I Co 6.13; II Co 5.13; Ex 32.32; Gn 3.22).
- Braquiologia – É também uma forma concisa ou abreviada do discurso, que consiste
especialmente na não repetição ou omissão de uma palavra, quando sua repetição ou uso seria
necessário para completar a construção gramatical. Nesta figura, a omissão não é tão evidente como
na elipse. Paulo diz em Rm 11.18: “Não te glories contra os ramos; porém se te gloriares, sabe que
não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz (sustenta) a ti”. 
- A Construção Praegnans – em que uma preposição se junta a um verbo expresso, quando
realmente pertence a um verbo não expresso que é incluído no outro como seu conseqüente. Por
exemplo, em Salmos 74.7 lemos: “Deitam fogo ao teu santuário; profanam, arrasando-o até o chão, a
morada do teu nome”. O pensamento deve ser completado mais ou menos assim: arrasando-a ou
queimando-a totalmente. Paulo diz em II Tm 4.18: “Ele (o Senhor) me salvará (trazendo-me) para
seu reino”.
- Zeugma, consiste no uso de dois nomes construídos com um verbo, se bem que somente
um deles – geralmente o primeiro – convenha diretamente ao verbo. I Co 3.2: “Fiz que bebessem
leite e não carne”. Lc 1.64: “E sua boca foi imediatamente aberta, e sua língua”. Em suprir as
palavras omissas, o intérprete deve ter grande cuidado, a fim de não mudar o sentido em que está
escrita.
c) Outras expressões visam abrandar uma expressão.São explicadas pela delicadeza do autor
ou pelo sentimento de modéstia.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
- Eufemismo, consiste na substituição de uma palavra um pouco ofensiva por outra que
expresse mais acuradamente o que se quer dizer: “E quando disse isto, adormeceu” At 7.60.
- Litotes afirma uma coisa pela negação do oposto. Assim o Salmista canta: “Um coração
compungido e contrito não desprezarás, ó Deus” Sl 51.7.
- Meiose, que se relaciona intimamente com a litotes. Alguns acham que se trata da mesma
figura; outros consideram a litotes como uma espécie de meiose. É uma figura de linguagem em que
se diz menos do que se quer dizer (I Ts 10.15; II Ts 3.2; Hb 13.17).
b) Finalmente, há figuras que dão mais ênfase a uma expressão, ou que a fortalecem. Podem
ser o resultado de justa indignação ou de vívida imaginação.
- Ironia - É uma expressão de sentido contrário do que se pretende dizer com o objetivo de
diminuir, depreciar ou de louvar e engrandecer. Exemplo: “E sucedeu que, ao meio dia, Elias
zombava deles, e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando,
ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; porventura dorme, e
despertará” (I Rs 18.27).
- Epizêuxis – que fortalece uma expressão pela simples repetição uma palavra (Gn 22.11; II
Sm 16.7; Is 40.1).
- Hipérbole - figura que diminui ou engrandece exageradamente a verdade das coisas.
exemplo: “...cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem.
amém.” (Jo 21.25).
(2) A ordem das palavras na sentença. “O arranjo de várias palavras numa sentença, é
determinado, em geral pela ordem em que as concepções são formadas, e pela relação mais íntima
em que certas partes da sentença estão para com a outra” WINER. Entretanto, acontece
freqüentemente que os autores bíblicos, por uma ou outra razão, se afastam deste arranjo usual. Há
casos em que a transposição é motivada pelo desejo de enfatizar determinada palavra. Estes
exemplos são de particular interesse para o intérprete. Em geral, o contexto revela o motivo da
mudança verificada. Na sentença verbal hebraica a ordem regular é: predicado, sujeito, objeto. Se
em dada sentença o objeto vier primeiro, ou se o sujeito for colocado no começo ou no fim, é
provável que sejam enfáticos. A língua hebraica, todavia, tem outras formas de expressar ênfase. A
função do infinitivo absoluto é tão conhecido a esse respeito que não há necessidade de ilustrações.
Dá-se maior ênfase a um substantivo colocando-o, absolutamente, no início de uma sentença, e
então o representando no seu lugar próprio, por um pronome. Confira Gn 47:21: “...o povo, ele os
removeu” e Sl 18:3: “Deus,...perfeito é seu caminho”. Algumas vezes, uma idéia é primeiramente
expressa por um pronome e então resumida por um substantivo, como acontece em Js 1:12: “...a
terra que lhes dei, os filhos de Israel”.
Princípios semelhantes se aplicam à interpretação do Novo Testamento. No grego, o sujeito e
seus modificadores ocupam, ordinariamente, o primeiro lugar: seguem-se o predicado e seus
adjuntos. O objeto geralmente segue o verbo e seus adjuntos. O objeto geralmente segue o verbo: o
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
adjetivo, o substantivo que modifica; e um genitivo, o substantivo que rege. Caso seja alterada a
ordem, é porque, merece ênfase especial.
(3) A significação especial dos casos e das preposições. O expositor deve ter cuidado especial
com certas combinações de palavras, como frases preposicionais, e frases em que ocorrem o
genitivo ou o dativo. Deve-se responder a perguntas como esta: “o genitivo em Ezequiel 12.19, “... a
violência de todos que habitam nela”, é subjetivo ou objetivo? Que dizer de Obadias, vs. 10, “... a
violência de teu irmão Jacó”, e de Gn 18.20, “... o clamor de Sodoma e Gomorra”? Que tipo de
genitivo temos em Is 37.22, “... a virgem, a filha de Sião”? As frases preposicionais podem também
suscitar importantes questões. A significação especial de uma preposição depende do caso com que
ela ocorre. Além disso, há algumas preposições que têm significação semelhante, e mesmo assim
revelam diferenças peculiares. O intérprete não pode negligenciar essas distinções sutis. Visto que a
preposição em grego ocupa lugar mais importante do que no hebraico. Em I Co 15.15, lemos: “E
somos também considerados como falsas testemunhas, porque testificamos de (kata) Deus, que ele
ressuscitou a Cristo...”. É correto traduzir-se com a significação “de” ou “contra” (Meyer) ou “por”
como em Mt 26.63? Qual o significado da mesma preposição em Rm 8.27, “kata theon”; e em Hb
11.13, “todos estes morreram na (kata) fé?” será que aqui significa “em” ou “de acordo com”, ou
ainda “de conformidade com a fé” Que significa a preposição apo em Hb 5.7, “e foi ouvido quanto
(apo) ao que temia”. Deveríamos traduzir “por causa de”, ou seja, “ouvido, livrando-o por causa do
temor” (constructio praegnans); ou é melhor traduzir, “... a respeito do que ele temia”; ou ainda “... por
conta do piedoso temor?”. Como se deve interpretar en na frase “em Cristo” (Rm 8.2; Gl 1.22; 2.17);
e eis na expressão, “em nome” (Mt 28.19)? São eis e en usadas com a mesma significação, ou
sempre diferem quanto ao sentido? Qual o significado de eis depois de verbos que indicam repouso,
e qual o sentido que tem depois de verbos que indicam movimento? Qual a diferença entre dia tes
charitos (Rm 12.3), e dia tem charin (Rm 15.15)? Qual a significação de dia em Jo 6.57, “também ele
viverá di’eme”? Em Rm 3.30, o Apóstolo diz que Deus “justificará a circuncisão pela (ek) fé, e a
incircuncisão por meio da (dia) fé”. Qual a diferença de significação? Qual a diferença de significação
entre as preposições anti, huper e peri, quando usadas em relação à obra de Cristo, em conexão
com o pecado ou em favor à obra de Cristo, em conexão com o pecado ou em favor dos pecadores?
(comparar Mt 20.28; I Co 15.3; Rm 5.6; Gl 1.4). Como se pode distinguir a significação de huper e
peri, quando usadas em orações intercessórias? (Mt 5.44; I Ts 5.25).
(4) A conexão lógica das diferentes cláusulas e sentenças. É absolutamente necessário que o
intérprete tenha uma clara concepção da relação lógica existente entre as várias cláusulas e
sentenças. Para tal é necessário fazer um estudo dos particípios e das conjunções.
A relação indicada pelo particípio. Pode ser: 
a) Modal: Mateus 19:22 “...Ele retirou-se, estando triste”; Atos 2:13, “...outros, zombando,
disseram”.
b) Causal: Atos 2:13, “...deixaram-nos ir, nada achando” (isto é, porque não entraram nada).
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
c) Condicional: Romanos 2:27, “ E a incircuncisão ...cumprindo a lei (isto é, se cumprir à lei),
não te julgará?”
d) Concessiva: Romanos 1:32, “ que, conhecendo o juízo de Deus (isto é, apesar de
conhecerem) não somente fazem o mesmo”.
e) Temporal: expressando ação antecedente, simultânea ou conseqüente. Sobre este ponto
podem levantar-se muitas questões exegéticas importantes. “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o
que desceu do céu, o Filho do Homem que está (particípio presente) no céu.” É correto traduzir-se o
particípio por “está” ou porque por “estava”? Em II Coríntios 8:9, o Apostolo diz: “porque já sabeis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico (particípio presente), por amor de vós se fez
pobre”. É correto traduzir assim, ou seria melhor dizer-se:“apesar de que ele era rico...”. A resposta
a estas questões depende do contexto. O particípio em si mesmo não tem a idéia de tempo.
“Se a ação do particípio é antecedente à do verbo, o particípio é mais comumente precede o
verbo, mas não invariavelmente. Tal particípio está usualmente no aoristo, mas pode ocasionalmente
aparecer no presente”.
“Se a ação do particípio é simultânea com a do verbo pode preceder ou seguir o verbo, sendo
o último caso o mais freqüente. Está de fato no presente”. (Esta declaração de Burton merece
reparos). Há muitos casos em o Novo Testamento em que o particípio aoristo e o verbo principal
indicam ação idêntica ou coincidente. Conferir (Mt 22.1; At 10.33).
“Se a ação do particípio é subseqüente à do verbo principal, mais invariavelmente segue o
verbo, sendo o tempo do particípio determinado pela concepção da ação com respeito a seu
progresso”. (Não há provas de um aoristo de ação subseqüente).
A Relação indicada pelas conjunções:
As conjunções são o meio mais importante de estabelecer conexão entre cláusulas e
sentenças. Fornecem o índice mais claro e decisivo da relação lógica em que se encontram os
pensamentos. Seu valor, como auxílio da interpretação, aumenta com sua especificidade. Quanto
mais numerosas forem as suas significações, mais difícil se torna determinar a exata relação que
indicam. A conjunção hebraica vav, que serve como conjunctio generalis, ajuda muito pouco. Outra
dificuldade resulta do fato de, em certos casos, uma conjunção ser, aparentemente, usada em lugar
de outra. A conjunção hoti serve para introduzir tanto uma cláusula objetiva como uma causal, de
modo que surge a questão de saber se ela deve ser traduzida “porque” ou “que”. Em geral, o
contexto responde prontamente à questão. Faz pouca diferença qual seja o caso de João 7.23, mas
em Rm 8.20-21 o caso é diferente. O apóstolo diz: “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por
sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou na esperança, que (ou porque) também a
mesma criatura será libertada”. Tudo depende da acepção de hoti, para determinar se as últimas
palavras descrevem o conteúdo da esperança ou se dão para ela uma causa ou razão. Alguns
gramáticos defendem que hina é sempre final em o N.T. e, portanto, introduz uma cláusula final.
Mas, apesar de ser verdadeira tal afirmação, não é o que ocorre em todo o Novo Testamento. Há
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
casos em que ela é praticamente equivalente a hoti (conferir Mt 10.25; Lc 1.43; Jo 4.34). Além disso,
é também usada num sentido de écbase, para expressar um resultado que se tem em vista.
 Este é caso em Gl 5.17, “... para que não façais o que quereis”. Em I Ts 5.4: “Mas vós,
irmãos, não estais em trevas, para que (hina) aquele dia vos surpreenda como um ladrão”. Se é
verdade que os autores bíblicos ocasionalmente se afastam do uso ordinário de uma conjunção – e o
intérprete deve estar advertido quanto a isso – nunca deve, entretanto, o intérprete apressar-se em
atribuir um significado à conjunção, o que não é permitido lingüisticamente. É procedimento arbitrário
traduzir ki em Isaías 5.10 como “certamente”, visto que tal conjunção não tem sentido explicativo, e o
sentido usual é perfeitamente apropriado. Na interpretação de Lucas 7.47: “por isso te dito que os
seus muitos pecados lhe são perdoados, porque (hoti) ela muito amou”, alguns expositores, por
considerações dogmáticas, atribuem à conjunção a significação de dio (por isso), se bem que ela
nunca ocorra com essa significação. 
Deve-se ter em mente que a afirmação de alguns dos mais antigos exegetas de que os
escritores do N.T. freqüentemente confundiam as conjunções e, por exemplo, usavam de por gar, e
vice-versa, é também inadmissível. O estudo cuidadoso revelará que houve discriminação. Confira
as várias gramáticas do Novo Testamento. Além disso, é necessário evitar o erro de supor que a
conjunção sempre liga um pensamento com outro que o precede imediatamente. Em Mt 10.31: “Não
temais, portanto, mais valeis vós do que muitos passarinhos”. 
E imediatamente segue o pensamento: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos
homens...” Esta é uma inferência, não da exortação do vs. 31, mas daquilo que foi dito a partir do
versículo 16. Semelhantemente, em Ef 2.11-13, o “por isso” com que a passagem se inicia não liga o
verso 11 com o verso 10, mas com as proposições nos vs. 1 a 7.
Finalmente, há passagens que não estão ligadas por conjunções. Em alguns casos, se
relacionam logicamente, como em Lc 16.15-18. Comparar o verso 16 com Mt 11.12-13; o vs. 17, com
Mt 5.18; e o vs. 18, com Mt 5.32. Em outros casos, contudo, se relacionam claramente, como Mt 5.2-
11 e I Jo 1.8-10. Em tais casos, é necessário descobrir a conexão por meio do estudo diligente do
curso do pensamento e do arranjo das palavras na frase.
F. O curso do pensamento de um texto completo.
Não é suficiente que o intérprete fixe sua atenção nas cláusulas e sentenças separadas,
deve familiarizar-se com o pensamento geral do escritor ou do orador. Às vezes, é difícil seguir o
raciocínio dos autores da Bíblia. Não nos referimos às dificuldades peculiares encontradas nas
interpretações dos profetas. Outras passagens da Escritura apresentam também cruces interpretum.
Os pensamentos em separado podem parecer sem relação, quando, de fato, estão intimamente
relacionados. Há casos em que o curso do pensamento pode parecer a alguns que não está em
harmonia com as leis da lógica.
Às vezes o discurso o discurso todo sofre de aparente contradição. Apenas um exemplo
serve para mostrar a dificuldade que temos em mente. Em João 3, Nicodemos se aproxima de Jesus
FATAD Prof. Jales Barbosa 44
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
com palavras: “Rabi, sabemos que és Mestre.... sinais tu fazes se Deus não for com ele.” Como se
relaciona à resposta de Jesus, no versículo 3, com estas palavras? No versículo 4, Nicodemos
declara que não entende Jesus. Responde o Senhor sua pergunta dos versículos 5-8? O fariseu
repete sua questão no versículo 9 e Jesus mostra surpresa quanto à sua ignorância, no versículo 10.
Por que salienta ele agora o fato de que sabe o que fala: da descrença dos judeus, inclusive
Nicodemos; e de sua vinda do céu de sua fatura exaltação na cruz para a salvação dos que crêem?
Contêm os versículos 16 e 21 também as palavras de Jesus? (Conferir também João 8:31-37; Gal.
2:11-21.)
1. As parábolas merecem especial atenção.
A palavra “parábola” se deriva do grego paraballo (atirar ou colocar ao lado de), e sugere
a idéia de colocar uma coisa ao lado de outra para efeito de comparação. Indica o método simbólico
de linguagem, em que uma verdade moral ou espiritual é ilustrada por analogia com a experiência
comum. Mas, enquanto uma parábola seja essencialmente uma comparação, um símile, todo símile
não é necessariamente uma parábola. A parábola se limita ao real e não vai além dos limites da
possibilidade, ou daquilo que poder acontecer. Conserva distintos os dois elementos da comparação
como “um interno e outro externo”, e não atribui as qualidades e relações de um ao outro. Neste
sentido diferente da alegoria, que é, de fato, uma metáfora extensiva e contém em si mesma sua
interpretação. O Senhor tinha dois propósitos ao usar as parábolas, a saber, revelar os mistérios do
reino de Deus a seus discípulos, e ocultá-los daqueles que não tinham olhos para as realidades do
mundo espiritual.
Devemos tomar em consideração três elementos na interpretação da parábola.
a) O escopo da parábola, ou a coisa a ser ilustrada. É de importância primária que o propósito
da parábola esteja bem claro na mente dointérprete. Na tentativa de descobri-lo, não deve
subestimar os importantes auxílios oferecidos pela Bíblia.
b) A ocasião que produz a parábola pode ilustrar o seu significado. (Mt 20:1ss), se explica por
19:27; Mt 25:14ss.,pelo versículo 13;Lc16:19-31, pelo versículo 14 (conferir também Lc.10;29;15:1,2
e 19:11,para entender os propósitos das parábolas que se seguem).
c) O objeto da parábola pode estar claramente expresso na introdução, como Lc 18:1.
Certas expressões ao fim da parábola podem também indicar suas significação (conferir
Mt.13:49;Lc.11;9;12:21).
Uma parábola semelhante, de semelhante importância, pode indicar a coisa a ser
ilustrada. Comparar Lc 15:6ss.com Mt 18:12ss.o versículo 14 de Mt 18 contém valiosa sugestão.
Em muitos casos, entretanto, o intérprete terá de descobrir o propósito de uma parábola
por meio do cuidadoso estudo do seu contexto.
2. Representação figurativa da parábola.
Depois de determinar o escopo de uma parábola, devemos atentar para sua
representação figurativa. A narrativa formal expressa para ocultar a verdade deve ser
FATAD Prof. Jales Barbosa 45
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
cuidadosamente estudada. E todas as luzes geográficas, arqueológicas e históricas devem ser
lançadas sobre elas.
3. A tertium comparationis.
Finalmente, a tertium comparationis deve definir o ponto exato da comparação. Há
sempre algum aspecto especial do reino de Deus, alguma linha de dever a ser seguida, algum
período a ser evitado, que a parábola procura revelar e a que serve sua linguagem figurada.
Enquanto o intérprete não descobrir este ponto, não pode esperar compreender a parábola, e não
tentará explicar seus aspectos particulares, pois estes só podem ser vistos em sua verdadeira luz
quando contemplados em relação com sua idéia central. Além disso, deve ter muito cuidado para
não atribuir significação especial a todos os pormenores da parábola. É impossível estabelecer
exatamente até que ponto um expositor pode chegar com respeito a esse assunto. A questão de
saber-se o conteúdo da parábola é doutrinário ou ético não admite uma resposta duvidosa. Muito tem
que depender do bom senso. O intérprete deve fazer cuidadosa discriminação. Se não conseguir
isso, pode ser levado a interpretações fantasiosas e arbitrárias. Em geral, a regra estabelecida por
IMMER pode ser útil: “Aquilo que serve ao pensamento fundamental ou intenção da parábola
pertence ao conteúdo doutrinário, mas o que para isto não serve constitui-se apenas de roteiro”. Será
de utilidade que se estude sobre o assunto as explicações que o Senhor deu das parábolas do
semeador e do trigo e do joio.
G. Auxílios internos para a interpretação do pensamento.
A Bíblia mesma contém algo que auxilia a interpretação lógica de seu conteúdo, e o
intérprete deve aproveitar-se disso o máximo que puder.
1. O propósito especial do Autor
Com isso queremos dizer o objeto que ele tinha em vista ao escrever a parte de sua obra
sob consideração. Os autores bíblicos, certamente, tinham propósito definido em mente quando
compuseram as diferentes partes dos seus diferentes escritos, e tinham por alvo o desenvolvimento
de algum pensamento especial. É natural supor que escolheram palavras e expressões que melhor
se adaptavam à apresentação do seu intento e que contribuíram para o argumento geral. Portanto, a
familiaridade com o propósito do autor lançará luz sobre os menores detalhes, sobre o uso de
particípios e conjunções, e de frases preposicionais e advérbios.
É necessário observar como as palavras e expressões devem ser estudadas à luz do
propósito especial do autor, para que o propósito especial, por seu turno, possa ser visto no seu
contexto geral, ou propósito que o autor tinha em escrever o seu livro. O propósito mais amplo será
considerado quando estudarmos a interpretação histórica da Bíblia.
Surge então o problema de se saber qual o melhor método para descobrir o propósito
especial. Nem sempre isso é fácil. Algumas vezes, o autor declara plenamente. O propósito particular
FATAD Prof. Jales Barbosa 46
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
do cântico de Moisés em Deuteronômio 32 está claramente indicado em 31.19-21. Paulo diz a seus
leitores, em Rm 11.14. porque está se dirigindo aos gentios naquela seção particular, e enfatiza sua
adoção como filhos de Deus. Mas na maioria dos casos o propósito especial não é declarado, e o
intérprete terá necessidade de ler e talvez reler toda a seção juntamente com o contexto anterior e
posterior, a fim de descobrir o seu propósito. Muitas vezes, a conclusão a que chega um autor nesta
conexão revelará o propósito que tem em mente. Isso é particularmente verdadeiro quanto aos seus
escritos de Paulo em que predomina o raciocínio lógico. Note-se, por exemplo, Rm 2.1; 3.20,28;
5.18; 8.1; 10.17; Gl 3.9; 4.7,31. Além disso, é importante notar-se cuidadosamente a ocasião que
motiva a argumentação em certos trechos, pois ocasião e propósito são correlativos. O motivo que
Paulo tinha em mente ao escrever a clássica passagem a respeito da humilhação e exaltação de
Cristo, Fp 2.6-11, é melhor entendida à luz das declarações feitas nos versículos precedentes (3 e 4).
Ali o apóstolo admoesta os filipenses: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por
humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o
que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”. E então continua: “Tende em
vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...” deixando claro que deseja
apresentar Cristo aos filipenses como aquele que se humilhou a si mesmo, para que pudesse servir
aos outros; que não considerou apenas o que era exclusivamente seu, mas também o que era dos
outros; e que subiu da mais profunda humilhação para a mais alta glória.
2. A conexão.
É quase impossível exagerar a necessidade que se tem de observar a conexão de uma
passagem, próxima ou remota, com a precedente ou com a subseqüente. Esta é a conditio sine qua
non de toda boa exegese. Mesmo assim, é quase sempre negligenciada especialmente por aqueles
que consideram a Bíblia uma coleção de textos-provas. A divisão do conteúdo da Escritura em
capítulos e versículos quase sempre traz dificuldades. Consequentemente, muitas passagens da
Bíblia foram mal interpretadas no curso dos tempos, e estas perversões foram transmitidas de
geração em geração. (Ex.: Pv 28.14; 31.6; Jr 3.14b; Zc 4.6b; Mt 4.4b; 10.19; II Co 3.6b). Qualquer
interpretação que não leve em conta a conexão não merece o nome de “exegese”. A seguir quatro
tipos de conexão:
a) Puramente histórica – quando uma narrativa histórica segue outra com a que se relaciona
genética e ideologicamente (Mt 3.13-17; 4.1-11).
b) Histórico-dogmática - quando um discurso ou ensino dogmático se relaciona com um fato
histórico (João 6.1-14, 26-65).
c) Lógica – em que os pensamentos ou argumentos são apresentados em ordem
rigorosamente lógica (Rm 5.1 ss.; I Co 15.12-19).
d) Psicológica – quando a conexão depende da associação de idéias. Isso, geralmente, produz
uma aparente quebra de linha de pensamento (Hb 5.11 ss.).
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
No estudo da conexão, deve-se dar atenção especial às conjunções. Negligenciado esse
ponto, o intérprete pode olvidar aspectos importantes. Em alguns casos, a conjunção mesma pode
representar um elemento de incerteza, e o expositor terá de depender do contextogeral. Por
exemplo, a conjunção de pode ser tanto continuativa como adversativa, e isso nos leva à incerteza
quanto a de João 3.1 apresenta Nicodemos como ilustração ou como exceção.
Em regra a conexão deve ser procurada o mais proximamente possível. Mas se a
passagem não dá bom sentido em conexão com o que a precede imediatamente, deve-se consultar
o texto mais remoto. Alguns comentaristas relacionaram Rm 2.16 com o vs. 15. Mas essa construção
é objetável, e é preferível voltar aos vs. 12 ou 13, e considerar as sentenças intermediárias como se
fossem um parêntese. Por outro lado, é desnecessário ligar Rm 8.22 com o vs. 19, visto que ele faz
bom sentido quando relacionado com o vs. 21.
Quando a conexão não se torna logo evidente o intérprete não deve concluir
apressadamente que há mudança no curso de pensamento, mas, antes, pausa ou reflexão. A
consideração cuidadosa mostrará que existe apenas uma mudança aparente, visto que, de fato, o
sujeito é o mesmo. Em I Coríntios 8, trata do uso correto da liberdade cristã como sendo matéria
pertinente à consciência individual. Então parece que ele se afasta desse assunto em 9.1; e começa
uma defesa do seu apostolado, quando diz: “Não sou apóstolo?“ Etc. Mas isso é somente aparente.
Ele salienta que, como apóstolo de Jesus Cristo, tem muitos direitos e tem liberdade, mas faz deles
uso razoável, a fim de que o seu trabalho seja mais frutífero.
O intérprete deve prestar atenção aos parênteses, às digressões e aos anacolutos. No
caso de parênteses, intercalam-se observações relativas ao tempo e lugar, ou rápidas circunstâncias
secundárias, depois do que o parágrafo continua como se não houvesse ocorrido qualquer
interrupção. Assim, em Gn 23.2: “E Sara morreu em Quiriate-Arba (que é Hebrom, na terra de
Canaã), e Abraão veio lamentar Sara e chorar por ela”. Ver Is 52.14-15; Dn 8.2; At 1.15.
As digressões diferem do parêntese no fato de serem mais longas e consistirem no
afastamento da linha de argumentação seguida em tópicos colaterais, ou na passagem do curso
direto do pensamento para outro, que lhe seja algo semelhante. Há um caso notável em Ef 3.2-13,
que alguns estendem até o capítulo 4, vs. 1. Ver II Co 3.14-17; Hb 5.10-7.1.
O anacoluto consiste na mudança inesperada de uma construção para outra, sem
completar a anterior. Geralmente, expressa energia ou fortes emoções (Zc 2.11; Sl 18.47; Lc 5.14; I
Tm 1.3). Às vezes, um anacoluto se relaciona com um parêntese ou com uma digressão, e então,
apresenta uma dupla dificuldade. Em Rm 5.12, o apóstolo diz: “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, porque todos pecaram”. Então, era de se esperar que continuasse: “Assim também por
um, Jesus Cristo, entrou a justiça e pela justiça, a vida”. Mas o apóstolo corta o pensamento no vs.
12, e quando continua no vs. 18, a construção é mudada.
Nos casos em que a conexão não é óbvia, levanta-se a questão de saber se a passagem
a ser interpretada não contém uma reflexão ou resposta a pensamentos, distintos das palavras, e se
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
não há possibilidade de uma conexão psicológica. Um cuidadoso estudo dos discursos e palestras
do Salvador revela que, muitas vezes, ele responde mais aos pensamentos do que ás palavras dos
seus ouvintes (conferir Lc 14:1-5;Jo 3:2;5:17,19;6:26). Muitos comentaristas têm considerado
interpolação as palavras encontradas em Mq 2:12,13,por causa da aparente falta de conexão
psicológica. Mais é possível encontrar ali uma conexão psicológica. O profeta adverte o povo quanto
a profecia a respeito do vinho da bebida forte que pareciam desejáveis para muitos. E pensamento
de estes constituírem aparentemente um bem dá ao profeta ocasião de falar sobre as verdadeiras
bênçãos que o Senhor concederia a seu povo 
O intérprete deve aceitar alegremente as aplicações que os próprios autores
ocasionalmente dão de suas próprias palavras ou das palavras das pessoas que falam, no contexto
imediato. Isso equivale a dizer que eles estão melhores qualificados para falar com autoridade a esse
respeito do que qualquer outra pessoa. Encontramos exemplos de tais interpretações em Jo
22:21;7:29;12:23;Rm 7:18; Hb7;21. 
3. Paralelismo pode ajudar na interpretação do pensamento.
No seu emprego o intérprete deve guardar-se de dois erros. Por um lado, não deve supor
que toda cláusula paralela tem significado uma da outra. 
Esse foi o estremo que a muitos antigos intérpretes chegaram, pois consideravam
destoante da sabedoria do Espírito Santo a repetição dos mesmos pensamentos. Por outro lado, é
necessário evitar a suposição de que há sempre mera tautologia, e que os membros paralelos
contém exatamente a mesma idéia. É erro pensar que há completa identidade de significação nos
membros correspondentes de um paralelo sinônimo, ou um exato contraste num paralelismo
antitético. A respeito do primeiro, “Às vezes, um dos membros expressa universalmente o que o
outro anuncia particularmente, ou vice-versa; num pode haver o gênero, no outro a espécie; um
expressa a coisa afirmativamente, o outro, negativamente; um pode ser figurado, o outro, literal; um
tem uma comparação, o outro, a maneira como o fato ocorreu” DAVIDSON.
É óbvio, portanto, que a função exegética do paralelismo consiste em “oferecer a
apreensão geral do significado de uma cláusula mais do que uma especificação pormenorizada
desta mesma cláusula”. Em seu emprego, o intérprete deve estar certo quanto à relativa lucidez dos
membros paralelos, caso contrário, cometerá o erro de lançar luz sobre o que é menos obscuro,
servindo-se de algo menos compreensível. Se um dos membros é figurativo e o outro é literal, este
deve ser usado para elucidar aquele. Alguns exemplos servirão para ilustrar o uso do paralelismo.
Em Sl 22.27, lemos: “Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante
ele se prostrarão todas as famílias das nações”. O paralelismo torna evidente que “os confins da
terra” é uma referência às nações distantes, aos gentios. Sl 104.6 contém a enigmática expressão:
“Tomas-te o abismo por vestuário e a cobriste”. Isto, porém é elucidado pelas palavras seguintes: “As
águas ficaram acima das montanhas”. Em Jo 6.35, Jesus diz: “Eu sou o pão da vida; o que vem a
mim jamais terá fome”. Aqui se levanta a questão de saber-se a que tipo de vida Jesus se refere, e a
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
resposta se encontra no membro seguinte do paralelismo: “e o que crê em mim jamais terá sede”. II
Co 5.21 contém um paralelismo antitético: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós; para que fôssemos feitos justiça de Deus”. Quer o apóstolo dizer que Cristo foi feito pecado por
nós num sentido ético ou num sentido legal? A antítese, “para que nele fôssemos feitos justiça de
Deus”, contém a resposta, pois isso só pode ser entendido num sentido legal.
4. O uso correto dos comentários
Podemos acrescentar algumas observações quanto ao uso de comentários.
a) Desejando explicar uma passagem, o intérprete não deve valer-se imediatamente de
comentários, pois isso eliminaria as possibilidades de originalidade, envolveria muito trabalho
desnecessário e resultaria em confusão. Deve esforçar-se, antes de tudo, por interpretar a passagem
independemente, com a ajuda de todos os recursos internos disponíveis, e de auxílios externos
como gramáticas, concordâncias e dicionários. 
b) Se, depois de haver feito algum estudo original dapassagem, sentir a necessidade de
consultar um ou mais comentários, deve evitar os chamados Comentários Práticos, por melhores que
sejam, pois estes são mais devocionais do que propriamente interpretativos.
c) Seu trabalho será grandemente facilitado se ele for aos comentários com questões definidas.
Isto só será possível depois de considerável esforço pessoal, poupará tempo e dará oportunidade de
ver o que os comentários dizem sobre a passagem em apreço. Além disso, quando ele consulta os
comentários com uma determinada linha de pensamento, estará mais bem preparado para escolher
entre as opiniões divergentes que possa encontrar.
d) Se ele conseguir dar uma interpretação aparentemente satisfatória sem a ajuda de
comentários, mesmo assim será aconselhável compara-la com a interpretação que outros tem dado.
Se descobrir que sua posição é contrária à opinião geral, em algum ponto particular, é prudente que
ele reconsidere para ver se lançou mão de todas as informações, e se suas inferências são corretas
em todos os aspectos. Deve evitar erros que o obrigariam a revisar a sua opinião. Mas, se verifica
que todos os passos que seguiu são permissíveis, então deve consentir em que sua interpretação
permaneça, não obstante a posição contrária dos comentaristas.
QUESTIONÁRIO
1. O que vem a ser a etmologia?
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2. Defina as seguintes palavras:
a) Metáfora
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b) Metonímia
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
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c) Alegoria
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d) Eufemismo
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3. Dê o significado de parábola?
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4. Mencione os quatro tipos de conexão.
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5.Como deve ser o uso dos comentários.
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FATAD Prof. Jales Barbosa 51
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
VII. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICAVII. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
A. Definição e Explicação
Este capítulo nos apresenta uma nova divisão da Hermenêutica Sacra. É verdade, diz
Davidson, que a interpretação histórica e gramatical, quando corretamente entendidas, são
sinônimas. As leis especiais da gramática, de acordo com as quais os leitores sagrados empregaram
a linguagem, foram o resultado de suas circunstâncias peculiares, e somente a história nos pode
reconduzir a estas circunstâncias. Mas, apesar de não haver dúvida de que as duas se inter-
relacionam intimamente, e não puderam ser completamente separadas, ainda assim é possível, e
mais do que isso, necessário distingui-las, se conservá-las separadas em nossa discussão.
A interpretação histórica, como é aqui entendida, não deve confundir-se com a teoria da
acomodação de Semler, se bem que ele a apresente com o mesmo nome; nem com o método
histórico-crítico de interpretação aplicada à história. O termo é aqui usado para indicar o estudo da
Escritura à luz das circunstâncias históricas que se estampam nos diferentes livros da Bíblia. Immer
a chama de “Explicação Real”. Ao contrário da interpretação lógica e gramatical que se aplica ao
aspecto formal da Escritura – à linguagem em que é apresentada – a interpretação histórica se refere
ao conteúdo material da Bíblia. Ela parte das seguintes afirmações:
a) Afirmações Básicas da Interpretação Histórica
- A Palavra de Deus, originada de modo histórico, só pode ser entendida à luz da história.
Isso não significa que tudo que ela contém possa ser explicado historicamente. Como revelação
sobrenatural de Deus é natural que contenha elementos que transcendem os limites do histórico.
Mas significa que o conteúdo da Bíblia é em grande extensão determinado historicamente e,
portanto, na história encontra a sua explicação.
- Uma palavra nunca é compreendida completamente até que se possa entende-la como
palavra viva, isto é, originada da alma do autor. Isso implica a necessidade da interpretação
psicológica, que é, de fato, uma subdivisão da interpretação histórica.
- É impossível entender um autor e interpretar corretamente suas palavras sem que ele seja
visto à luz de suas circunstâncias históricas. É verdade que o homem, em certo sentido, controla as
circunstâncias de sua vida e determina seu caráter; mas é igualmente verdadeiro que ele é, em
grande escala, o produto do seu ambiente histórico. Por exemplo, ele é filho de seu povo, de sua
terra e de sua força;.
- O lugar, o tempo, as circunstâncias e as concepções prevalecentes do mundo e da vida em
geral naturalmente emprestam cores aos escritos produzidos sob essas condições de tempo, lugar e
circunstâncias. Isto se aplica também aos livros da Bíblia, particularmente aos que são de caráter
histórico. Em todas as linhas literárias não há livro que se iguale à Bíblia no que ela diz sobre a vida
em todos os seus aspectos.
FATAD Prof. Jales Barbosa 52
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
b) Que se exige do Exegeta. Em vista do que foi dito, a interpretação histórica exige do
exegeta:
- Que procure conhecer o autor que deseja interpretar, seu parentesco, seu caráter e
temperamento, suas características morais, intelectuais e religiosas, bem como as circunstâncias
externas de sua vida. Deve igualmente procurar conhecer os que falam nos livros da Bíblia, bem
como os seus leitores originais.
- Que reconstrua, tanto quanto possível, a partir dos dados históricos disponíveis e com o
auxílio de hipóteses históricas, as circunstâncias em que esses escritos se originaram; em outras
palavras, deve conhecer o mundo do autor. Deve informar-se a respeito dos aspectos físicos da terra
em que os livros foram escritos, e considerar o caráter e a história, os costumes, a moral e a religião
do povo no meio do qual foram escritos.
- É de fundamental importância que considere as várias influências que determinaram mais
diretamente o caráter dos escritos que se considera. Tais como, os leitores originais, o propósito que
o autor tinha em mente, a idade do autor, seu tipo de mente, e as circunstâncias especiais em que
escreveu seu livro.
- Além do mais, deve transportar-se mentalmente ao primeiro século a.D. e às condições
orientais. Deve colocar-se na posição do autor, e procurar entrar em sua alma até que seja capaz de
viver sua vida e pensar seus pensamentos. Isso significa que ele deve guardar-se do erro de querer
transferir o autor para os dias presentes e fazê-lo falara linguagem do século vinte. Se ele não
aceitar isso, existe o perigo, como disse McPheeters, de a voz que ele ouve ser apenas um eco de
suas próprias idéias. Sua regra deve sempre ser que ele “non ex subjecto, sed ex objecto sensum
quaerit”. 
B. Características Pessoais do Autor.
1. Quem é o autor?
Na interpretação histórica de um livro, é natural que se pergunte em primeiro lugar: Quem
foi seu autor? Alguns dos livros da Bíblia mencionam seus autores; outros não. Daí a pergunta,
Quem foi seu autor? Mesmo que isto seja considerado apenas uma questão de nome, nem sempre é
fácil responder. Em conexão, porém, com a interpretação histórica da Bíblia, a questão envolve mais
do que isto. O mero conhecimento de um nome não oferece ajuda material ao exegeta. Ele deve
procurar conhecer o autor mesmo, ou seja, o seu caráter e temperamento, sua disposição habitual
modo de pensar. Deve esforçar-se por penetrar no recôndito de sua vida íntima, a fim de poder
entender, tanto quanto possível, os motivos dominantes de sua vida e assim obter, na visão anterior
dos seus pensamentos, volições e ações. É desejável que o intérprete conheça alguma coisa a
respeito da profissão do autor, pois esta pode exercer poderosa influência sobre a atitudes e a
linguagem do homem. “É suficiente falar-se no marinheiro, no soldado, no comerciante, no operário,
no clérigo e no advogado para se reconhecer quão diferentes tipos de homens eles são, tendo cada
FATAD Prof. Jales Barbosa 53
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
um o seu modo habitual, suas expressões familiares, suas imagens familiares, seu modo favorito de
ver as coisas – numa palavra, sua natureza especial” (ELLIOTT).
Como a melhor maneira de se conhecer os outros é se associar com eles, assim o modo
mais efetivo de se conhecer um autor é estudar diligentemente os seus escritos, e prestar particular
atenção aos toques pessoais e às notas incidentais que ostentam sua vida e seu caráter. Quem
quiser conhecer Moisés, deve estudar o Pentateuco, particularmente os quatro últimos livros e
observar especialmente passagens como Ex 2.4; 16.15-19; 33.11; 34.5-7; Nm 12.7-8; Dt 34.7-11; At
7.20-35; e também Hb 11.23-29. Estas passagens lançam luz sobre o parentesco do mediador do
Velho Testamento, seu livramento providencial, seus privilégios educacionais, e seu ardente amor a
seu povo que estava sofrendo. Além do mais, essas passagens o apresentam como um homem que,
não obstante haver sido impulsivo em sua mocidade, aprendeu a paciência e a humildade durante
um longo período de espera; um homem que hesitou em lançar-se a um grande empreendimento, se
bem que tivesse qualidades para liderar; um homem de grandes recursos intelectuais, mas de
caráter humilde; um homem incompreendido por seu próprio povo, porém que, apesar disso, o amou
ardentemente, e suportou o seu opróbrio com paciência exemplar – um herói da fé.
A fim de conhecer Paulo, é necessário ler sua história tal como está registrada em Lucas
e também ler suas Epístolas. Deve-se dar especial atenção a passagens como Atos 7.58; 8.1-4;
9.1,2,22,26; 26.9; 13.46-48; Rm 9.1,3; I Co 15.9; II Co 11; 12.1-11; Gl 1.13-15; 2.11-16; Fp 1.7,8,12-
18; 3.5-14; I Tm 1.13-16. Nessas passagens a figura de Paulo se apresenta como um produto da
Diáspora e da Escola Rabínica de Gamaliel, um homem bastante versado na literatura judaica, e eu
assumia a responsabilidade de suas convicções. Um perseguidor consciencioso da Igreja, mas
também um convertido penitente, desejoso de confessar os erros de seu procedimento; um servo
leal de Jesus Cristo desejoso de gastar a sua vida no serviço do seu Mestre, trabalhando pela
salvação dos seus concidadãos, porém, orando e trabalhando também com zelo infatigável e
coragem indômita para levar a salvação aos gentios; um homem desejoso de negar-se a si mesmo, a
fim de que Deus em Cristo pudesse receber toda a glória.
Um conhecimento íntimo do autor do livro facilitará a compreensão adequada de suas
palavras. Isso habilitará o intérprete a suspeitar e, talvez, a estabelecer conclusões de como as
palavras e expressões foram geradas na alma do escritor.
Iluminará certas frases e sentenças de modo inesperado, e fará que elas pareçam mais
reais e mais expressivas. Jeremias é apresentado na Bíblia como uma pessoa de caráter sensível,
terno e impulsivo, que evade o cumprimento do seu dever. Este conhecimento ajudará o intérprete a
entender a ternura e a beleza patética que caracterizam partes de seus escritos, e também o ajudará
a apreciar sua veemente ira em condenar o inimigo (11.20 ; 12.3; 15.10 ss.; 17.15-18); sua queixa
porque o Senhor não revela o poder do seu braço, e sua maldição do dia em que nasceu (20.7-18).
O apóstolo João era evidentemente por natureza um caráter veemente e impetuoso,
ocasionalmente movido por ambição egoística, e tão zeloso do trabalho do Senhor que se tornou por
demais severo para com aqueles que considerava competidores e inimigos de Jesus. Mas os
FATAD Prof. Jales Barbosa 54
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
naturais defeitos do seu caráter foram suavizados pela Graça. Seu amor foi santificado e seu zelo
dirigido pelos canais próprios. Bebeu profundamente da fonte da vida e, mais do que outros, refletiu
sobre os mistérios da vida maravilhosa do Salvador. Isso explica, em grande parte, as diferenças
entre o seu Evangelho e os Sinópticos, e também pesa na consideração do fato de que ele enfatiza a
necessidade de habitar em Cristo, de amar a Cristo e aos irmãos. Na leitura da profecia de Amós,
será necessário ter em mente que ele era um vaqueiro de Tecoa, o que ajuda a compreender muitas
de suas expressões figuradas. Ezequiel não poderia ter escrito como o fez nos caps 40 a 48 de sua
profecia, se não houvesse sido um dos sacerdotes do exílio, familiarizado com o ritual do templo e
compreender do fato de que a glória passada de Sião havia desaparecido.
2. Quem é que fala?
Outra questão a considerar é: “quem é que fala?” Os autores bíblicos freqüentemente se
apresentam outros como as pessoas que falam, e é da mais alta importância que o expositor distinga
claramente entre as palavras do autor e as da pessoa ou pessoas apresentadas. Nos livros históricos
a linha de demarcação é tão clara que não é fácil olvida-la. Mesmo assim, há exceções. Por
exemplo, é muito difícil determinar se as palavras encontradas em Jo 3.16-21 foram ditas por Jesus a
Nicodemos ou se formam uma explicação adicional acrescentada por João. Nos profetas, as
mudanças rápidas do humano para o divino são, em regra, facilmente reconhecidas pela mudança
da terceira para a primeira pessoa gramatical (conferir Os 9.9-10; Zc 12.8-10; 14.1-3). 
Algumas vezes, encontramos um diálogo entre o escritor e um suposto oponente. Tais
casos requerem cuidados especiais, pois interpretação incorreta poderá resultar em sérios erros (Mt
3.13-16; Rm 3.1-9). A seguinte regra poderá ajudar: “O escritor do livro deve ser considerado como a
pessoa que fala até que apareça evidência expressa em contrário”. E quando o intérprete sabe quem
é que fala, pode utilizar-se desse conhecimento para melhor compreensão dessa pessoa. Pessoas
como Abraão, Isaque, Jacó, José, Samuel, Jó e seus amigos, e classes de pessoas como os
fariseus, os saduceus e os escribas devem ser objeto de estudo especial. Quanto melhor eles forem
conhecidos, mais bem entendidas serão as suas palavras.
3. As Circunstâncias Sociais do Autor
Por circunstâncias entende-se tudo aquilo que não é peculiar ao autor, porém de que ele
participa com os seus contemporâneos. São naturalmente de caráter mais geral.
a) Circunstâncias Geográficas – As CircunstânciasGeográficas e Climáticas em geral
influenciam o pensamento, a linguagem e as representações do autor, e deixam marcas nas suas
produções literárias. Daí, a necessidade de o intérprete da Bíblia ter conhecimentos de geografia da
Terra Santa, a pátria dos autores bíblicos. É importante que ele conheça o caráter das estações, os
ventos e sua função, a diferença de temperatura nos vales, nas regiões montanhosas e no cimo das
montanhas. Deve ter algum conhecimento dos produtos da terra, de suas árvores, arbustos e flores,
grãos, vegetais e frutas; seus animais, tanto selvagens como domésticos; seus insetos nativos; e
FATAD Prof. Jales Barbosa 55
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
suas aves. Deve saber localizar montanhas e vales, lagos e rios, cidades e vilas, estradas e
planícies.
Para o estudo dos aspectos mais variáveis, tais como a fertilidade do solo, a localização de
cidades e vilas, etc., devemos preferir trabalhos mais antigos como os de Josefus e Eusébio
(“Onomasticon”). Esse estudo é essencial, particularmente em vista do fato de que os orientais em
geral viviam muito ligados à natureza e davam muita atenção ao seu simbolismo.
 Os discursos e parábolas do Salvador, por exemplo, estão repletos de emocionantes
passagens em que a relação simbólica entre o natural e o espiritual é indicada. Ele compara o reino
de Deus a um grão de mostarda (Mt 13.31-32), e compara Israel e uma figueira (Lc 13.6-9).
Apresenta-se como a videira verdadeira e a seu Pai como o agricultor (João 15).
É evidente e, portanto, não carece de prova elaborada, que o expositor deve conhecer os
aspectos físicos da Palestina, seu clima, topografia, produções, etc. Como pode ele explicar a
afirmação do poeta quando diz que “o orvalho de Hermom descia sobre as montanhas de Sião” (Sl
133.3), a não ser que ele seja conhecedor do efeito causado pela neve que cobria o pico do
Hermom, ocasionando a neblina que surgia freqüentemente dos fossos encontrados a seu pé? Como
pode ele interpretar tais expressões como “a glória do Líbano” e “a excelência do Carmelo e Sarom”,
se ele não conhecer algo sobre sua exuberante vegetação e surpreendente beleza? Que poderá ele
dizer a respeito do uso de carruagens no Reino do Norte (I Rs 18.44 ss; 22.29 ss.; II Rs 5.9 ss; 9.16;
10.12,15), e de sua ausência no Reino do Sul? Como pode admitir a possibilidade de Davi escapar
de Saul, visto que falavam a certa distância um do outro, a não ser que ele compreenda a
conformação do lugar? Somente a familiaridade com as passagens como Cânticos 2.11: “Porque eis
que o inverno é passado e a chuva já se foi”; e Mt 24.20: “Orai para que a vossa fuga não seja no
inverno”.
b) Circunstâncias Políticas – as condições políticas de um povo deixam profunda impressão
sobre a sua literatura. A Bíblia contém disto ampla evidência e, portanto, é necessário que o
expositor tenha conhecimento da importância em tudo isso. Sua história nacional, suas relações com
outras nações e suas instituições políticas devem ser objeto de cuidadoso estudo. Atenção particular
deve ser dada às mudanças políticas na vida nacional de Israel.
Somente a história lança luz sobre o motivo porque não foi permitido a Israel afligir os moabitas
e amonita (Dt 2.9,19). A subordinação de Edom nos dias de Salomão e Josafá explica esses reis
puderam construir navios em Eziongibar, nas terras de Edom (I Rs 9.26; 22.47-48; I Cr 18.13; II Cr
8.17-18). Passagens como II Rs 15.19; 16.7; Is 20.1, encontram sua explicação no surgimento do
poder assírio e na gradual extensão do seu império, tal como nos revelam as inscrições dos seus
reis. As palavras de Rabsaqué em II Rs 18.21 e Is 36.6 tornam-se claras à vista do feto de que havia
um partido egípcio bastante influente em Jerusalém, durante o reino de Ezequias (Is 30.1-7). As
mudanças radicais ocorridas na posição política e na constituição de Israel devem ser consideradas
pelo intérprete, quando estuda os escritos pós-exílicos. Somente à luz da história contemporânea
podemos explicar passagens como: Esdras 4.4-6 ss; Ne 5.14-15; Zc 7.3-5; 8.19; Ml 1.8. E, passando
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
do V.T. ao N.T., o intérprete encontra uma situação que o surpreenderá, a menos que tenha
estudado o período interbíblico. Os romanos são o poder dominante. 
Os idumeus têm o domínio sobre a herança de Jacó. O V.T. não fala de seitas; aqui elas
ocupam um lugar saliente. Existe um sinédrio judaico que decide sobre assuntos de alta monta, e há
uma classe de escribas que praticamente suplanta os sacerdotes como mestres do povo. Daí se
levantarem perguntas como estas: Como se constituía o Estado de Israel? Por que sorte de ironia os
idumeus vieram a ser chefes do povo judeu? Que limites a supremacia romana impunha ao governo
judaico? Tinham as seitas significação política? E, em caso afirmativo, qual o seu alvo? Um estudo
do passado de Israel responderá a estas questões. Passagens como Mt 2.22-23; 17.24-27; 22.16-21;
27.2; e João 4.9 só podem ser explicadas à luz da história.
c) Circunstâncias Religiosas – A vida espiritual de Israel sempre esteve no mesmo nível, nem
sempre se caracterizava pela verdadeira espiritualidade. Houve seguidos períodos de degradação
moral e religiosa. As gerações que serviram a Deus com espírito humilde e reverente foram
repetidamente sucedidas por outras que adoravam a falsos deuses, ou que buscavam satisfação
num culto hipócrita que consistia apenas em louvor de lábios. A história da religião de Israel, vista
como um todo, revela mais deterioração do que progresso, involução do que evolução.
O Período dos juízes foi uma fase de sincretismo religioso, resultante da fusão do culto de
Jeová com a adoração dos baalins cananitas. 
Nos dias de Samuel a ordem profética começou a afirmar-se e a exercer benéfica influência
sobre a vida espiritual da nação. Em Judá o período dos reis se caracterizou por repetidos declínios
e avivamentos. Adoração nos lugares altos e, em certas ocasiões, até mesmo flagrante idolatria, foi o
constante pecado do povo. Durante o mesmo período, o pecado típico do Reino do Norte foi sua
adoração ao bezerro. Pecado este que foi aumentado nos dias de Acabe coma introdução do culto a
Melkart, o Baal fenício. Depois do exílio, a idolatria se tornou rara em Israel, porém sua religião
degenerou em frio formalismo e ortodoxia morta.
Estas coisas devem ser levadas em consideração na interpretação de passagens que se
referem à vida religiosa do povo. Além disso, o intérprete deve conhecer as instituições e práticas
religiosas de Israel, tal como são reguladas pela lei de Moisés. Passagens como Jz 8.28, 33; 10.6;
17.6 só podem ser explicadas à luz da história daqueles dias. Em I Sm 2.13-17, o escritor mesmo dá
uma explicação histórica da maneira como os filhos de Eli desrespeitavam a lei. O motivo porque
Jeroboão estabeleceu altares em Dã e Betel só pode ser explicado do ponto de vista histórico. A
história explica porque os piedosos reis de Israel e os profetas combatiam constantemente a
adoração nos altos enquanto que os profetas de Efraim raramente condenavam sua prática. Sem o
necessário conhecimento histórico, o expositor achará impossível compreender a palavra do anjo a
Manoá: “a criança será nazireu de Deus” (Jz 13.7); a referência de Jeremias no vale de Hinom, como
o “vale da matança” (Jr 19.6); 7.31-33); a referência de Miquéias “aos estatutos de Onri” (Mq 6.16); a
ordem de Jesus ao leproso para que fosse e se apresentasse ao sacerdote (Mt 8.4); em sua
referência aos “carpidores e ao povo fazendobarulho” (Mt 9.23), bem como a referência à venda de
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
bois, ovelhas e pombos, e aos cambiadores (Jo 2.14). è a história que capacitará o intérprete a
explicar expressões como esta: “Sepultados...” (Rm 6.4), e “porque Cristo, nossa Páscoa, foi
sacrificado por nós”. A grande significação do conhecimento histórico se torna evidente, quando ele
se encontra com passagens como a de I Co 15.29, que se refere a um costume do qual não temos
conhecimento seguro.
d) Circunstâncias peculiares aos Escritos – Além das circunstâncias gerais que envolvem a
vida do autor, há algumas de caráter mais especial que influenciam diretamente os seus escritos.
Certamente que uma interpretação correta requer o conhecimento dessas circunstâncias especiais.
4. Ouvintes e Leitores Originais.
Para a correta compreensão de um escrito ou discurso, é da mais alta importância que se
saiba a quem se destina primariamente. Isto se aplica particularmente aos livros da Bíblia que têm
caráter ocasional, como os livros proféticos e as Epístolas do Novo Testamento. Esses livros se
adaptavam naturalmente às circunstâncias especiais e às necessidades particulares do leitor.
O escritor levava em conta sua posição geográfica, histórica e social, sua relação
industrial e comercial, suas oportunidades sociais e educacionais, seu caráter moral e religioso, suas
idiossincrasias pessoais, preconceitos e hábitos peculiares de pensamento. Seu conhecimento
dessas coisas se reflete no seu livro. Isso vale em grande extensão para explicar as diferenças
características dos Evangelhos Sinópticos. A deserção dos gálatas explica a severidade com que
Paulo lhes escreveu uma epístola.
A devoção dos filipenses ao grande apóstolo aos gentios, e sua aceitação das doutrinas,
explica a nota fundamental de gratidão e alegria que marca a carta que receberam de Paulo, o
prisioneiro. As condições dos leitores originais não somente determinam o caráter do escrito, mas
explicam muitas de suas peculiaridades. As divisões em Corinto deram lugar a que Paulo dissesse:
“E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos. Portanto,
ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, Seja Cefas, seja o
mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós
de Cristo, e Cristo de Deus” (I Co 3.20-23). E quando o apóstolo diz em I Co 15.32: “Se, como
homem, lutei em Éfeso com as feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam,
comamos e bebamos, que amanhã morreremos” é provável que a forma de expressão indicava que
esse tipo de luta era comum em Corinto. 
Não é verdade que as condições da igreja na Galácia explicam porque Paulo, que
circuncidara a Timóteo, lhes escrevesse: “Eu Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar,
Cristo de nada vos aproveitará” (Gl 5.2). Por que escreveria ele aos colossenses e não a outros,
dizendo: “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9)? O conhecimento
íntimo dos leitores originais iluminará de modo admirável as páginas que lhes são endereçadas. O
mesmo princípio se aplica aos ouvintes originais de um discurso, por isso eles devem ser objeto de
estudo especial. 
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
5. O Propósito do Autor.
Os escritores dos livros bíblicos tinham, naturalmente, um propósito em mente ao
escrever seus trabalhos. O intérprete, portanto, deve ter esse propósito em mente. Podemos admitir
que a mente do escritor estava fixada nesse propósito, e que por ele foi guiado na seleção do
material e na expressão de seus pensamentos. Portanto, o conhecimento do fim que o autor tinha
em mente não somente ajuda a entender o livro como um todo, mas também lançará luz sobre
alguns detalhes. “Este objeto uma vez descoberto completará as frases abreviadas, lançará luz sobre
obscuridades, e descobrirá o verdadeiro significado quando houver possibilidade de várias
interpretações. O objeto ajudará a distinguir entre o literal e o figurativo, entre o relativo e o absoluto,
entre o pensamento principal e o secundário” (ELLIOTT).
Nem sempre é fácil determinar o objetivo de um escrito. Em alguns casos, o intérprete
terá de depender de uma tradição eclesiástica que nem sempre é digna de crédito e que, portanto,
deve ser recebida com reserva. Em outros casos, como acontece com Salomão em Pv 1.2,4; com
Lucas em Lc 1.1-4; com João em Jo 20.31; e Ap 1.1; com Pedro, em II Pe 5.12. Ainda em outros
casos, o conhecimento dos leitores originais e as circunstâncias em que viveram juntamente com a
ocasião que motivou a composição do livro ajudará a descobrir seu propósito, como II Coríntios, I
Tessalonicenses e Hebreus. Há, porém, alguns casos em que somente a leitura demorada do livro
ajudará a descobrir o seu objetivo. Certas expressões repetidas ou observações, às vezes, trazem
este propósito. A frase eleth toledoth (estas são as gerações), usada tantas vezes em Gênesis 2.4;
5.1; 6.9; 10.1; 11.10; 11.27; 25.19; 36.1; 37.2, o aponta como o livro das gerações ou começos. As
repetidas referências no Evangelho de João ao modo como os discípulos foram levados a crer em
Cristo e a descrença de outros indicam o objetivo do Evangelho (Jo 2.11; 6.64,68; 7.38; 12.16; 14.1;
16.31; 17.8; 20.29). Semelhantemente, a sentença lançada sobre os reis de Israel e de Judá por
ocasião de sua morte indica o fato de que os livros dos Reis se propõem a mostrar como os líderes
do povo e o próprio povo estavam longe do padrão divino.
O tempo de vida, as circunstâncias especiais e o estado da mente em que o autor
escreveu seu trabalho são importantes considerações. Se bem que tenhamos de nos guardar do
extremo de alguns racionalistas irreverentes que dizem que João escreveu sua primeira epístola
quando já era demasiadamente velho para pensar clara e logicamente, devemos ter em mente que o
Espírito de Deus empregou os escritores sagrados de modo orgânico, e não fez que um jovem
escrevesse como um homem de idade madura, nem que um homem de idade escrevesse como
alguém que estivesse na flor da idade. É natural que as produções literárias daqueles que ainda não
cruzaram o meridiano da vida sejam caracterizadas pela originalidade e virilidade; e os escritos
daqueles que já se encontram no declínio da vida, por uma visão séria da vida e pela sabedoria
prática. Comparar Gálatas com II Timóteo, e os discursos de Pedro em Atos dos Apóstolos com sua
Segunda Epístola. Estudar também o discurso de despedida de Moisés (Dt 3.1-32), e as últimas
palavras de Davi (II Sm 23.1-7).
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
As circunstâncias históricas do autor e a estrutura de sua mente influenciaram seus
escritos. Isto se aplica não somente aos livros da Bíblia, mas também aos discursos nela registrados.
É impossível interpretar a emocionante elegia de Davi por ocasião da morte de Saul e de Jônatas, a
não ser à luz de sua profunda reverência ao ungido do Senhor, e de seu grande amor a Jônatas (II
Sm 1.19-27). Como pode alguém dar uma explicação adequada das Lamentações de Jeremias, a
não ser que conheça a triste condição da Santa Cidade, e o abatimento e angústia do desolado
profeta?
O real sentimento e a tocante beleza dos Salmos 137 só podem ser entendidos por
alguém que conheça o grande afeto dos piedosos exilados por Jerusalém e as saudades de Sião
que enchiam seu coração (Jo 14.16; Fl 1.12-35; II Tm 4.16-18).Mas, apesar de o intérprete poder
aplicar qualquer conhecimento histórico à sua disposição, na interpretação da Bíblia, ele deve ter
cuidado para não permitir que sua imaginação prejudique seu trabalho. Pois o que é simplesmente
fruto da imaginação não pode ser apresentado como verdade histórica.
C. Elementos para a Interpretação Histórica
1. Internos
Os principais recursos de interpretação histórica da Escritura se encontram na própria
Bíblia. Ao contrário de outros escritos, a Bíblia contém a verdade absoluta e, portanto, suas
informações devem ser preferidas às que são tiradas de outras fontes. Esta lembrança não é
supérflua, pois muitos se inclinam a dar mais crédito às vozes da antigüidade reveladas nas recentes
descobertas arqueológicas do que à infalível Palavra de Deus. O expositor crente e consciente
perguntará antes de tudo: Que diz a Bíblia? 
Em II Cr 30.1, o rei Ezequias ordenou que todo o Israel observe a Páscoa. Se o intérprete
deseja conhecer melhor essa festa não deve ler Josefo em primeiro lugar, mas passagens como Ex
12.1-27; Lv 23.4-14; Nm 28.16 ss.; Dt 16.1-8. De acordo com a profecia do anjo a Manoá, Sansão
seria um nazireu (Jz 13.5). Todavia, que era um nazireu? A resposta a esta pergunta se encontra em
Números 6. Zefanias condena os que “juram por Milcom”. I Rs 11.5,7,33 fala de Milcom como sendo
o deus dos amonitas, e Lv 18.21 e 20.2-5, salienta o fato de que ele era servido com sacrifícios
humanos. Em o Novo Testamento encontramos a seita dos saduceus, e levanta-se a questão: Quais
as suas características? As passagens seguintes respondem em parte à questão – Mt 22.23; Mc
12.18; Lc 20.27; At 23.8. Há freqüente menção em o N.T. aos samaritanos. Pergunta-se: Quem eram
eles? O estudo de trechos como II Rs 17.24,41; Ed 4 e Ne 4 lançam luz sobre o assunto. 
2.Externos
Se o expositor houver esgotado os recursos bíblicos e ainda precisar de informações
mais amplas, deve recorrer as fontes profanas que estejam ao seu alcance.
FATAD Prof. Jales Barbosa 60
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
a) As inscrições – Sem dúvida, as inscrições são muito importantes. Elas revelam ao mundo a
história de períodos quase desconhecidos, e servem, muitas vezes, para corrigir relatos históricos
errados. Daí porque o intérprete não deve desprezar as informações que elas contém.
b) As inscrições que se relacionam com o Velho Testamento – As inscrições cuneiformes são
da maior importância: As narrativas da criação e do dilúvio, as Tábuas de Tel-el-Amarna, o Código
de Hamurábi e as inscrições dos grandes reis assírios e babilônicos. Mesmo assim não devem ser
consideradas como dignas de crédito absoluto do ponto de vista histórico. Por exemplo, admite-se
hoje que os relatos dos reis são exagerados e têm por objetivo a exaltação e glorificação desses
monarcas e não a verdade bíblica.
c) As inscrições s que se relacionam com o Novo Testamento – Nesse particular, são de
grande importância às inscrições dos papiros egípcios e as encontradas na Ásia Menor. As
primeiras, entretanto, têm mais interesse lingüístico do que histórico, se bem que não sejam
destituídas de valor histórico. Enquanto que as últimas contêm mais da história do que da linguagem
do N.T. 
Outros escritos históricos. Entre esses, os trabalhos de Josefo – Antigüidades Judaicas e
Guerras Judaicas – merecem lugar especial. Os dez primeiros livros das Antigüidades contêm muito
pouco que também não esteja no V.T. O valor real de seu maior trabalho começa com o décimo
primeiro livro. A partir desse ponto, o autor se refere a fontes que hoje não nos são acessíveis, tais
como Berosus, Nicolau de Damasco, Alexandre Palistor, Menandro e outros. Naturalmente, que o
valor dessa parte do seu trabalho depende grandemente das fontes de que se serve. É evidente que
ele as usou com certo critério, mas não é absolutamente certo que sua avaliação seja correta. Josefo
é acusado freqüentemente por seu subjetivismo e inexatidão histórica. Mesmo assim, como um todo,
seu trabalho é perfeitamente aceitável se bem que na parte apologética de seu trabalho ele exalte
um pouco os judeus. 
O seu “Guerras Judaicas”, é considerado um trabalho de confiança e de muito valor. A
única objeção é que há exageros nos números, e que os feitos heróicos e a magnanimidade dos
romanos receberam um louvor indevido.
A História de Heródoto é valiosa para o estudo do período persa. De acordo, porém, com
o testemunho dos seus críticos, ele nem sempre é digno de crédito, e deve ser usado com cautela.
Além disso, o Talmude e os escritos dos rabinos podem servir para elucidar a parte
histórica da Bíblia. LIGHTFOOT realizou importante coleta de máximas judaicas que trazem
elementos da Escritura, em seu livro Horae Hebricae et Talmudicae.
É provável que o expositor, no estudo dessas fontes, chegue a verificar que elas,
aparentemente, em certas ocasiões, entram em conflito com a Bíblia. Em tais casos, não deve
concluir apressadamente que a Escritura está errada, porém deve ter em mente que, não obstante a
possibilidade de erro de transcrição, a Bíblia é a infalível Palavra de Deus. Pode ser que nossa fonte
extrabíblica não mereça crédito no ponto em apreço., ou que o conflito seja mais com a errônea
interpretação da passagem.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Portanto, sempre que encontrar casos de aparente conflito, terá de investigar a
veracidade dessas fontes profanas, e se esta estiver acima de qualquer dúvida razoável, deve fazer
revisão de seu ponto de vista exegético, porém é também possível que ele se encontre com uma
dificuldade insolúvel; que uma fonte aparentemente crível entre em conflito não com sua
interpretação da Bíblia, mas até onde pode ver, com a própria Bíblia. Em tais casos, só há um modo
legítimo de orientar-se – apegar-se com fé à afirmação da Bíblia, e esperar pacientemente por
melhores esclarecimentos. Não é de todo impossível, como mostram os casos de Sargão e Belsazar,
que uma fonte aparentemente digna de confiança, no fim, venha a revelar-se inacreditável.
Anotações
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VIII. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICAVIII. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA
1. Designação
Muitos autores que escrevem sobre Hermenêutica são de parecer que a interpretação
histórica e a gramatical reúnem todos os requisitos para uma adequada interpretação da Bíblia. Não
dão atenção ao caráter teológico dessa disciplina.Há outros, entretanto, que são cônscios da
necessidade do reconhecimento de um terceiro elemento na Interpretação da Escritura. Huyper
enfatiza a necessidade de reconhecer o fator místico na interpretação da Bíblia. Bavinck insiste em
que a Bíblia deve ser lida teologicamente. Klausen e Landerer falam de interpretação teológica, e
Cellerier e Sikkel, de interpretação escritural. Todos concordam no desejo de fazer justiça ao
elemento teológico da Bíblia, e recusam colocá-la no mesmo nível com outros livros.
Na Escritura há muita coisa que não pode ser explicada pela história, nem pelos autores
secundários, mas somente em Deus, como o Autor primarius. Considerações puramente históricas e
psicológicas não velem para explicar os seguintes fatos: (1) que a Bíblia é a Palavra de Deus; (2) que
ela constitui um todo orgânico, do qual cada livro em particular é parte integrante; (3) que o Velho e o
Novo Testamentos se relacionam como tipo e antítipo, profecia e cumprimento, germe e perfeito
desenvolvimento; (4) que não somente as afirmações explícitas na Bíblia, mas também aqulo que se
pode deduzir dela por boa e necessária conseqüência , constitui a Palavra de Deus. Em vista de tudo
isto, não é apenas perfeitamente possível, mas absolutamente necessário, complementar a
interpretação histórica e gramatical com um terceiro tipo – a interpretação teológica.
A designação interpretação teológica merece a preferência, de pronto, pelo fato de
indicar a autoridade divina da Bíblia, e pela consideração igualmente importante de que, em última
análise, Deus é o verdadeiro intérprete de sua Palavra. Serão considerados os seguintes assuntos:
(1) a interpretação da Bíblia como um todo; (2) o sentido místico da Escritura; (3) as implicações da
Bíblia; e (4) os elementos para a interpretação teológica.
2. A Bíblia como um todo
a) A Revelação do Velho com o Novo Testamento. Em vista da atual tendência de enfatizar a
diversidade do conteúdo da Bíblia, não será supérfluo chamar a atenção ao fato de que ela deve ser
interpretada como um todo. A primeira questão que o intérprete tem de enfrentar é a relação entre o
Velho e o Novo Testamentos.
O passado histórico revela duas posições opostas que se afirmaram e reafirmaram de
várias formas. Houve o erro antimoniano de atribuir demasiado valor ao elemento carnal judaico, por
um lado; por outro lado, a falácia nomística que tentou impor em demasia o judaísmo sobre o
cristianismo. Um elevou o cristão às expensas da religião judaica, a que atribuía um caráter
puramente nacional, externo e temporal; assim fazendo, criou a idéia de que o V.T. não tem validade
permanente. O outro concebeu o N.T. como uma nova lex, algo da ordem do V.T., e que, no curso
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
dos anos, levou à instituição de um sacerdócio separado, à ereção de altares nos quais se ofereciam
sacrifícios, e à consagração de ocasiões e lugares sagrados.
Em oposição a esses pontos de vista, é necessário enfatizar a unidade da Bíblia. Tanto o
Velho como o Novo Testamento formam partes essenciais da revelação especial de Deus. Deus é o
autor de ambos e em ambos revela o mesmo propósito. Ambos contém a mesma doutrina da
redenção, pregam o mesmo Cristo, e impõem aos homens os mesmos deveres morais e religiosos.
Ao mesmo tempo, a revelação que eles contém é progressiva, aumenta gradualmente em precisão,
clareza e concepção espiritual. Assim como o N.T. está implícito no Velho, está explícito em o Novo,
Portanto, dizemos que 
b) O Velho e o Novo Testamentos constituem uma unidade.
(1) A doutrina da redenção foi essencialmente a mesma, tanto para os que viveram sob o
Velho Concerto como para a Igreja do N.T. Este fato é muitas vezes esquecido por aqueles que,
embora reconhecendo o elemento tipológico do V.T., perdem de vista o caráter simbólico de muitas
de suas instituições e cerimônias. Eles vêem nas instituições cerimoniais, ritos e procedimentos do
V.T. somente formas externas sem significação espiritual, e exercícios corporais de pouco proveito,
quando, de fato, essas cerimônias eram símbolos de verdades espirituais. Os sacrifícios realizados
falavam de perdão de pecado baseado no sangue expiatório de Cristo, e as constantes lavagens
simbolizavam a influência purificadora do Espírito Santo. Todo o Tabernáculo era uma revelação da
maneira em que Deus dirigiu o seu povo, e a própria Canaã constituía um símbolo do repouso
reservado ao povo de Deus. As passagens seguintes provam que os israelitas tinham alguma
concepção do significado espiritual de seus ritos e cerimônias; Lv 26.41; 20.25,26; Sl 26.6; 51.7,16-
17; Is 1.16.
(2) Os verdadeiros israelitas, tanto no Velho como em o N.T., não são os descendentes
naturais de Abraão, como tais, mas somente os que partilham a sua fé. Na eleição de Israel, Deus
não visava, em última análise, a separação de Israel como nação, mas a formação de um povo
espiritual, primariamente constituído da raça eleita, mas incluindo também elementos das nações
vizinhas. Israel incorporou prosélitos desde os tempos mais primitivos. Salomão, em sua oração
dedicatória, não esqueceu o estrangeiro que podia vir adorar no Templo (I Rs 8.41 ss.); e os profetas
anteviram, com alegria, o tempo quando os gentios também trariam seus tesouros ao Templo do
Senhor.
(3) A diferença entre os privilégios e deveres do povo de Deus, tanto no Velho como em o N.T.,
é puramente relativa e não absoluta. É verdade que o V.T. e o N.T., às vezes, são contrastados na
Bíblia. Isso é possível à vista do fato de que um enfatiza a Lei, e o outro, a Graça. Mas não existe
antítese absoluta. Mesmo no V.T. a lei está subordinada ao concerto da graça. Ela não era apenas
uma regra externa; o israelita piedoso a tinha escrita nas tábuas do seu coração (Sl 37.31; 40.8).
Eles não eram salvos de um modo diferentes dos crentes do N.T. Eles precisavam do mesmo
Mediador e do mesmo Espírito Santo, e recebiam as mesmas bênçãos do concerto da graça, se bem
que não as recebessem tão abundantemente, nem exatamente da mesma maneira. O V.T. e o N.T.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
se relacionam não apenas como tipo e antítipo, mas também como botão e flor, como uma revelação
mais primitiva e outra mais perfeita.
(4) As ordenanças do Velho e o Novo Concertos se distinguem apenas por diferenças relativas,
tal como corresponde em natureza à mudança na economia divina e nas condições espirituais
daqueles que estão sob essa economia.
No V.T., a circuncisão e a páscoa, os sacrifícios e as purificações, não eram apenas
instituições carnais pertinentes à carne, meras sombras de uma realidade porvindoura.
Relacionavam-se também com a consciência; e sua aceitável participação requeria fé por parte do
adorador. É bem certo que, como diz a Epístola aos Hebreus: “se oferecem assim dons como
sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que
presta culto” (Hb 9.9). Isto não significa, porém, que se referissem apenas à purificação da carne. Tal
purificação não teria sentido para alguém cuja culpa fosse fraude, opressão, orgulho ou um
juramento falso. Contudo, o perdão para tais pecados era alcançado através de tais oferendas. Elas
tinham significação espiritual, de modo como têm o Batismo e a Ceia do Senhor, em o N.T., mas,
certamente, somente em conexão com o perfeito sacrifício de Jesus Cristo.
(5) Na interpretação do V.T. e do N.T. em sua relação mútua, o intérprete deve ser guiado por
considerações definidas:
a) O V.T. oferece a chave da corretainterpretação do N.T. O conteúdo do N.T. é o fruto de
longo e prévio desenvolvimento. O V.T., por exemplo, contém o relato da criação e quada do homem,
do estabelecimento do concerto da graça e dos princípios do futuro Redentor. Todos esses fatos são
pressupostos em o N.T., e o conhecimento deles é um pré-requisito para sua correta interpretação.
Além disso, o V.T. contém muitos elementos que servem para ilustrar passagens do N.T. (Jo 3.14-
15; Rm 4.9-13; Hb 13.10-13).
b) O N.T. é um comentário do V.T. Se o V.T. contém apenas uma pálida representação das
realidades espirituais, o N.T. as apresenta à perfeita luz da plenitude dos tempos. Um contém tipos, o
outro, antítipos. Um contém profecia, o outro, cumprimento. A mais perfeita revelação do N.T. ilumina
as páginas do V.T. Algumas vezes, os escritores do N.T. oferecem claras e explícitas explicações de
passagens do V.T., e revelam profundezas que teriam escapado ao intérprete (At 2.29-31; Mt 11.10;
21.42; Gl 4.22-31); e toda a Epístola aos Hebreus.
c) por um lado, o intérprete deve ter cuidado para não diminuir a importância do V.T. Este foi o
erro dos que tiveram uma concepção por demais carnal de Israel e de suas instituições religiosas, e
dos privilégios e deveres do povo de Deus no V.T. Este é o erro de muitos em nossos dias que
consideram o V.T. apenas como fruto de desenvolvimento histórico, e que, em alguns casos, e
ousadamente, declaram que ele teve o seu tempo até que o N.T. chegasse à nossa posse.
d) por outro lado, o intérprete deve ter cuidado para não ver demais no V.T. Isto é feito,
por exemplo, toda vez que os detalhes na obra da redenção, revelada no N.T., são reconduzidos ao
V.T. Muitos intérpretes, por exemplo, encontram em Gn 3.15 a promessa de um Redentor pessoal. A
grande questão do exegeta é saber quanto, de fato, Deus revelou nesta ou naquela passagem
FATAD Prof. Jales Barbosa 65
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
particular. Isto só pode ser determinado por um estudo cuidadoso da passagem em apreço, em seu
exato contexto, e em conexão com o estágio de progressiva revelação de Deus a que pertence.
3. A significação dos diferentes livros da Bíblia no Organismo da Escritura.
(1) Considerações gerais. A Palavra de Deus é uma produção orgânica e consequentemente
os livros que a constituem estão organicamente relacionados uns com os outros. O Espírito Santo
dirigiu seus autores humanos de tal maneira que os livros da Bíblia são mutuamente
complementares. Eles são um registro da obra que Deus, na execução do seu plano divino, realizou
em Cristo para a redenção de um povo que o glorificará eternamente. O V.T. revela isto, antes que
tudo, historicamente, na formação e direção de Israel como povo. Os livros poéticos e os livros de
sabedoria revelam seus frutos nas experiências espirituais e na vida prática do povo de Deus. Os
profetas viram a obra de Deus à luz de seu eterno conselho, enfatizando a falha do povo em viver de
acordo com as exigências divinas, e dirigindo as esperanças dos piedosos para o futuro. Uma linha
semelhante de desenvolvimento percorre o N.T. Os Evangelhos e Atos contém a história da obra
redentora de Cristo. 
As Epístolas revelam o efeito dessa obra na vida e experiência das igrejas. O Apocalipse
revela uma fase final em raios de luz celeste.
(2) Exemplos específicos. Essas considerações gerais nos levam à seguinte questão: Como
cada livro em particular se relaciona com a Bíblia como um todo? A resposta a essa questão só
pode ser encontrada mediante um cuidadoso estudo dos livros em conexão com as idéias
dominantes da Escritura. O intérprete deve por alvo não apenas descobrir a mensagem que cada
livro contém para os contemporâneos do autor, mas, saber que valor permanente encerra e que
palavra da parte de Deus comunica às gerações seguintes.
A título de ilustração, apresentamos as idéias fundamentais de alguns livros da Bíblia: Gênesis
fala a todas as eras até o fim dos tempos, da criação do homem à imagem e semelhança de Deus;
da entrada do pecado no mundo, e da revelação inicial da graça redentora de Deus. Êxodo fornece
às sucessivas gerações o esclarecimento da doutrina do livramento através do derramamento de
sangue, enquanto que o livro de Levítico ensina como o homem pecador pode aproximar-se de Deus
e permanecer em sua santa presença. Números descreve a peregrinação do povo de Deus.
Deuteronômio enfatiza a bênção que acompanha a vida de obediência a Deus, e a maldição que
aguarda o infiel. O livro de Jó oferece a solução para o problema do sofrimento na vida do povo de
Deus. Os Salmos nos dão uma visão das experiências espirituais do povo de Deus – suas lutas e
triunfos, suas alegrias e pesares. Se Isaías descreve o amor de Deus ao seu povo, Jeremias oferece
uma revelação de sua justiça. Enquanto Ezequiel enfatiza a santidade do Senhor, que santificou o
seu nome entre as nações, Daniel revela a glória do Senhor, exaltado acima de todos os reis da
terra. Na Epístola aos Gálatas, Paulo defende a liberdade do povo de Deus em face ao
cerimonialismo do V.T. E enquanto em sua carta aos Efésios chama a atenção para a unidade da
Igreja, na carta aos Colossenses apresenta a Cristo glorificado como o Cabeça da Igreja.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Se o intérprete estudar os livros da Bíblia com tais idéias dominantes em sua mente, isso o
ajudará a ver, por exemplo, que Paulo e Tiago não ensinaram doutrinas contrárias, mas
simplesmente viram a mesma verdade de diferentes pontos de vista, e que são, portanto,
reciprocamente complementares.
(3) O Sentido Místico da Escritura – O estudo do Sentido Místico da Escritura nem sempre tem
sido caracterizado pela necessária precaução. Alguns expositores têm defendido a indefensável
posição de que toda passagem da Bíblia tem, além do sentido literal, um sentido místico. Outros,
fugindo dessa posição extravagante, vão ao ponto extremo de negar a existência de qualquer sentido
místico da Escritura. Muitos eruditos cuidadosos, entretanto, preferem formar uma posição
intermediária, afirmando que certas partes das Escrituras têm um sentido místico e que, em tal caso,
não constitui um segundo, porém o real sentido da Palavra de Deus. A necessidade de reconhecer o
sentido místico é evidente, bastando que para isso se note como o N.T. freqüentemente interpreta o
Velho.
Elementos que ajudam a descobrir o Sentido Místico – O Dr. Kuyper diz que o intérprete,
no seu propósito de descobrir o sentido místico, deve ter em mente que:
(1) A Escritura mesma contém indicações do sentido místico. Por exemplo, é bem sabido que o
N.T. interpreta várias passagens do V.T. messianicamente e, assim fazendo, não somente indica a
presença do sentido místico dessas passagens, mas também subere que passagens dessa categoria
devem ser interpretadas de igual forma.
(2) Existe uma relação simbólica entre as diferentes esferas da vida, em virtude do fato de que
a vida se relaciona organicamente. O mundo natural se relaciona simbolicamente com o espiritual: a
vida atual, com as glórias da vida futura. Assim, Paulo, em Efésios, aponta o casamento como um
mistério indicativo da relação entre Cristo e a Igreja.
(3) A história se caracteriza pela unidade dioramática, em virtude da qual eventos análogos
freqüentemente reaparecem, se bem que com ligeiras modificações, e essas repetições estão, mais
ou menos, tipicamente relacionadas. Israel foi um povo típico, e a história do antigo povo de Deus é
rica em elementos tipológicos. Isso é provado por muitas citações do V.T. em o Novo, passagens
como Gálatas 5.22-31, e toda a Epístola aos Hebreus.
(4)Uma íntima conexão entre a vida individual e a comunitária revela-se claramente na poesia
lírica. Nos Salmos líricos, os poetas sacros não cantaram como indivíduos isolados, mas, como
membros da comunidade. Partilharam da alegria e da tristeza do povo de Deus, que é, em última
análise, a alegria e a tristeza daquele em quem a Igreja encontra seu laço de união. Isso é evidente
nos Salmos em que ouvimos alternadamente o poeta, a comunidade e o Messias.
(5) Extensão do Sentido Místico. O sentido místico da Bíblia não se limita a qualquer livro da
Bíblia, nem a qualquer tipo fundamental da revelação de Deus, como, por exemplo, a profecia. Ele é
encontrado em vários escritos bíblicos – nos históricos e nos poéticos tanto quanto nos livros
proféticos. Esse caráter místico pode ser melhor apresentado na breve discussão que se segue: (1)
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
A Interpretação Tipológica e Simbólica da Escritura; (2) A Interpretação da Profecia; (3) A
Interpretação dos Salmos.
4. A Interpretação Tipológica e Simbólica da Escritura.
Deus não se revela apenas em palavras, mas também em fatos. Essas duas formas são
mutuamente complementares. As palavras explicam os fatos, e os fatos dão formas concretas às
palavras. A síntese perfeita das duas encontra-se em Cristo, pois nele a palavra se fez carne. Todos
os fatos da história redentora registrados na Bíblia têm como centro este grande fato. As várias
linhas da revelação do V.T. convergem para ele e as da revelação do N.T. dele se irradiam. Somente
no seu centro unificador – Jesus Cristo – as narrativas da Escritura encontram sua explicação. O
intérprete só as entenderá perfeitamente na proporção em que discernir sua conexão com o grande
fato central da História Sagrada.
Segue-se do exposto que o expositor não deve contentar-se com a mera compreensão
da narrativa escriturística como tal. Deve descobrir o sentido de fatos como a chamada de Abraão, a
luta de Jacó, a libertação de Israel da escravidão egípcia, a profunda humilhação por que passou
Davi antes de subir ao trono. Deve-se fazer justiça ao caráter tipológico e simbólico da História de
Israel. Além disso, na interpretação dos milagres, não se deve esquecer de que eles estão
intimamente relacionados com a obra da redenção. Em alguns casos, simbolizam a obra redentora
de Cristo; em outros prefiguram as bênçãos da era futura. Numa palavra, o intérprete deve
determinar o significado dos fatos históricos como parte da revelação divina da redenção.
a) Os Fatos Podem Ter significação Simbólica. Fatos ou eventos históricos podem servir de
símbolos da verdade espiritual. Um símbolo (de sun e ballo) não é uma imagem, mas sinal de
alguma coisa. E isso é o que acontece em muitos casos com a narrativa bíblica. Alguns exemplos
podem ilustrar isso.
Tomemos o caso da luta de Jacó, registrado em Gn 32.24-32, e mencionado em Os 12.2-4.
Qual o significado desse incidente? Não pode ser compreendido enquanto não for contemplado
como um símbolo do fato de que Jacó, não obstante herdeiro da promessa de Deus, havia lutado
com Deus e procurado obter êxito por sua própria força e astúcia, e agora era-lhe ensinado que seu
propósito de ajudar-se a si mesmo e a sua resistência a Deus eram inúteis; e que ele tinha de usar
os instrumentos espirituais, particularmente a oração, para obter as bênçãos de Jeová. Sua força
teve de ser quebrantada para que nele se manifestasse o poder de Deus.
Ou tomemos um milagre do Salvador. De acordo com Jo 6.1-13, Jesus alimentou
miraculosamente uma multidão de mais de 5.000 pessoas. Considerar esse milagre meramente
como prova da onipotência do Senhor é omitir o ponto principal como fizeram os judeus nos dias de
Jesus. Eles perderam de vista o fato de que esse milagre é um sinal que indica a suficiência de
Jesus, como o Pão celeste, para satisfazer às almas famintas dos homens.
O próprio Cristo revela claramente o significado desse milagre em seu discurso em Cafarnaum
no dia seguinte. Os milagres da Escritura são sempre símbolos de verdades espirituais. O próprio
FATAD Prof. Jales Barbosa 68
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
nome semeia indica isso; e algumas passagens dos Evangelhos o afirmam mui claramente (João
9.1-7; especialmente o vs. 5; e 11;17-44, especialmente os vs. 25-26).
b) Os Fatos Podem Ter Significação Tipológica. Quando Abraão ofereceu seu único filho no
Monte Moriá, realizou um fato tipológico. Davi, como rei teocrático, foi claramente um tipo de seu
grande filho. A serpente levantada no deserto apontava para a elevação de Cristo na cruz. E o sumo
sacerdote entrando no Santo dos santos uma vez por ano, para fazer expiação do pecado do povo,
prefigura Aquele que na plenitude dos tempos entrou no santuário celestial com seu próprio sangue,
obtendo assim uma eterna redenção. Em relação aos tipos que ocupam importante lugar na Bíblia,
levantam-se duas questões: (a) Que é um tipo? e (b) Quais as regras de sua interpretação?
(1) As características dos tipos. Que é um tipo? A resposta correta a esta questão nos
salvaguardará do duplo erro de limitar em demasia o elemento tipológico, por um lado e, por outro,
ampliá-lo indevidamente. A palavra “tipo” (do grego tupos, derivada do verbo tupto indica: a) A marca
de um golpe; b) uma impressão, a marca feita por um cunho – daí o sentido de figura, imagem; e c)
exemplo ou modelo, que é o sentido mais comum da Bíblia. Tanto os tipos como os símbolos
indicam alguma coisa. Diferem, entretanto, em pontos importantes. Um símbolo é um sinal, enquanto
que um tipo é um modelo ou imagem de alguma coisa. Um símbolo pode referir-se a algo, quer do
passado, presente ou futuro, enquanto que o tipo sempre prefigura uma realidade futura. Davidson
diz: “O símbolo é um fato que ensina uma verdade moral. O tipo é um fato que ensina uma verdade
moral e prediz a realidade daquela verdade”. Os tipos escriturísticos não são todos da mesma
espécie. Há tipos de pessoas, lugares, coisas, ritos e fatos. De acordo com Terry, a idéia
fundamental é que existe uma relação representativa preordenada segundo a qual certas pessoas,
acontecimentos e instituições do V.T. correspondem a pessoas, eventos e instituições no N.T.
As três seguintes características são geralmente indicadas pelos autores que escrevem sobre
tipologia: a) Deve haver algum ponto notável de semelhança entre um tipo e seu antítipo. Qualquer
diferença que possa existir, primeiro deve ser um verdadeiro retrato do último el algum aspecto
particular. b) tipo deve ser designado por indicação divina a ostentar uma semelhança com o antítipo.
Semelhanças acidentais entre pessoas ou eventos do V.T. e N.T. não constituem necessariamente
um tipo do outro. Deve haver alguma evidência escriturística de que tal coisa foi designada por Deus.
Isso não equivale à posição de Marsh, que insiste em que nada deve ser considerado tipológico se
assim não for expressamente designado no N.T. Se este critério fosse correto, por que não aplicá-lo
também às profecias do V.T.? c) Um tipo sempre prefigura alguma coisa futura. Moorehead afirma
corretamente: “Um tipo escriturístico e uma profecia preditiva são substancialmente os mesmos,
diferindo apenas na forma”. Isto o distingue de um símbolo. Convém conservar em mente, entretanto,
que os tipos do V.T. eram ao mesmo tempo símbolos que comunicavam verdades espirituais aos
contemporâneos, pois sua significação tipológica poder ser determinada.
(2) A Interpretação dos tipos. Na interpretação de símbolos e tipos, aplicam-se as mesmas
regras gerais utilizadas na interpretação das parábolas. Daí podermosfazer referências a elas. Há,
porém, certas considerações que devem ser conservadas em mente.
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
a) O intérprete deve guardar-se do erro de considerar uma coisa má como tipo de uma coisa
boa e pura. Deve haver congruência. E chocante para o nosso senso moral dizer que as vestes de
Esaú, com as quais Jacó se vestiu, representavam um tipo da justiça com que Cristo adorna seus
santos. De fato, há tipos in malum partem de semelhantes antítipos (conferir Gl 4:22-31).
b) Os tipos do Velho Testamento eram, ao mesmo tempo,símbolos e tipos; pois eram, antes de
tudo, símbolos expressivos de verdades espirituais. 
A verdade representada por esses símbolos aos contemporâneos era a mesma que
prefigurava como tipos, se bem que em sua realização futura essa verdade fosse elevada a um nível
mais alto. Daí se dizer que a melhor maneira de se entender um tipo reside no estudo do símbolo. A
questão deve ser posta antes de tudo no propósito de saber qual a verdade moral e espiritual que os
símbolos comunicavam aos israelitas. Somente depois de respondida satisfatoriamente essa questão
é que o intérprete deve prosseguir em sua inquirição no sentido de descobrir como essa verdade se
realizou num nível mais alto em o Novo Testamento. Assim, os próprios limites da interpretação de
tipos serão logo limitados. Proceder ao contrário, começando com a realização verificada em o Novo
Testamento, conduz a toda espécie de interpretação fantasiosa e arbitrária. Por exemplo, alguns
intérpretes encontram no fato de a serpente de bronze haver sido feita de um metal inferior a figura
de desprezibilidade exterior do Cristo ou de sua aparência humilde; em sua solidez eles vêem um
sinal do seu poder divino, e em seu brilho ofuscado, uma prefiguração do véu de sua natureza
humana.
Mas, havendo compreendido, através do estudo de sua significação simbólica, os exatos
limites dos tipos, a verdade que comunicaram ao povo de Deus no Velho Testamento, o intérprete
deve voltar ao Novo Testamento para penetrar na verdade tipificada.
E evidente que os tipos apresentam a verdade em forma velada, enquanto que as
realidades do Novo Testamento dissipam as sombras e apresentam a verdade em plena luz.
Se é verdade que as profecias só podem ser plenamente compreendidas à luz do seu
cumprimento, a mesma coisa se pode dizer a respeito dos tipos. Note-se, por exemplo, quanta luz a
Epístola aos Hebreus lança para a compreensão das verdades contidas no tabernáculo e nas peças
que o compunham.
d) É princípio fundamental que os tipos que não são de natureza complexa devem ter apenas
uma significação principal. Segue-se que o intérprete não deve multiplicar sua significação, e fazer,
por exemplo, que a passagem do Mar Vermelho, considerada um tipo de batismo, venha a significar:
(a) o sangue expiatório de Cristo, que nos oferece o caminho certo para a Canaã celestial; e (b) as
provações através das quais Cristo conduz o seu povo a seu eterno descanso. Ao mesmo tempo,
deve-se ter em mente que alguns tipos podem ter mais de um cumprimento em o Novo Testamento;
por exemplo, um em Cristo, e outro no povo que com ele se relaciona organicamente. A habitação de
Deus entre os filhos de Israel era um tipo de tabernaculização entre os homens na pessoa de Cristo,
bem como de sua habitação na congregação de seus santos. As duas idéias são fundamentalmente
a mesma e, portanto, na mesma linha uma da outra.
FATAD Prof. Jales Barbosa 70
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
e) Finalmente, é necessário considerar-se a diferença essencial que existe entre tipo e antítipo.
Um representa a verdade num nível inferior, o outro apresenta a mesma verdade num estágio
superior. Passar do tipo ao antítipo é subir do que prepondera na carne ao que é puramente
espiritual, do externo ao interno, do presente ao futuro, do terreno ao celestial. Roma perdeu isso de
vista quando encontrou o antítipo dos sacrifícios do Velho Testamento na Missa; do sacerdócio, na
sucessão apostólica dos sacerdotes e bispos; e do sumo sacerdote, no papa.
5. Interpretação de Profecias
No estudo da profecia o expositor encontra alguns dos mais difíceis problemas de
interpretação. Isto resulta, em parte, do próprio caráter da profecia, e, em parte, da forma em que ela
é apresentada. Há dois pontos de vista opostos, quanto à profecia, que devem ser evitados. Um é o
sugerido por Butler e adotado por muitas seitas em nossos dias, segundo o qual, "profecia não é
nada mais do que história de acontecimentos antes de sua realização".
Deste ponto de vista, a profecia deve ser estudada como História Sagrada, e se deve
esperar confiadamente em seu cumprimento literal. O outro ponto de vista é o adotado por muitos
racionalistas, segundo o qual a profecia preditiva é simplesmente o fruto de uma intuição ou vaticínio
como os que têm os grandes estadistas. Há extremistas que negam tal profecia, e consideram os
casos aparentes como vaticinia post eventum (predições depois do acontecimento). Profecia pode
ser definida simplesmente como a proclamação daquilo que Deus revelou.
O profeta recebeu revelações especiais de Deus, e, por sua vez, comunicou-as ao povo.
Essas revelações servem para explicar o passado, para elucidar o presente e para revelar o título.
Seu interesse está centralizado no reino de Deus ou na obra redentora através de Cristo. O profeta
toma conhecimento do conselho de Deus por meio de sonhos, visões, sugestões interiores ou
comunicação oral; e comunica sua mensagem ao povo ou por simples declarações, ou pela
descrição dos seus sonhos e visões ou por ações simbólicas. Dois pontos merecem consideração
especial: a) as características especiais da profecia; e b) as regras de interpretação da profecia.
a) Características Especiais da Profecia. Estas são as mais importantes peculiaridades que o
intérprete deve ter em mente.
(1) A profecia como um todo tem caráter orgânico. - É igualmente absurdo negar o elemento
preditivo da profecia, como considerar a profecia meramente uma coleção de predições aforísticas.
Os profetas nem sempre predisseram fatos particulares, porém sempre apresentaram idéias gerais
que se foram gradualmente realizando. Algumas das mais importantes profecias foram
primeiramente redigidas em termos gerais, mas no curso da progressiva revelação de Deus
aumentaram em definibilidade e particularidade, como se nota nas profecias de caráter messiânico.
Elas representam um botão que gradualmente se abre e transforma em linda flor .
(2) A profecia se relaciona intimamente com a história. Para poder ser entendida, a profecia
deve ser vista em seu contexto histórico. Os profetas tiveram, antes de tudo, uma mensagem para os
seus contemporâneos. Eram vigias sobre os muros de Silo para guiar os destinos do antigo povo de
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Deus, e para guardá-lo dos perigos da apostasia. É um erro freqüente considerar os profetas como
personalidades abstratas que não viviam em contato com a sua realidade. No presente, o pêndulo
está oscilando na direção oposta, e toma-se necessário prevenir-se contra a idéia de que a história
explica tudo a respeito dos profetas. O antigo vidente freqüentemente descobria ocasiões históricas
que transcendiam os limites da história.
(3) A profecia tem a sua própria perspectiva. O elemento tempo não tem grande peso nos
profetas. Se bem que não faltem designações de tempo, seu número é excepcionalmente pequeno.
Os profetas comprimiam grandeseventos num breve lapso de tempo, reuniam movimentos
momentosos e os consideravam de um só lance. Isto é chamado de "perspectiva profética", ou como
o chama Delitzsch "encurtamento do horizonte profético". Eles olhavam o futuro como o cavaleiro
olha uma cadeia de montanhas á distância. Imagina que um topo da montanha encontra-se logo
após o outro, quando na realidade estão separados por longa distância. Ver, por exemplo, as
profecias a respeito do Dia do Senhor, e da segunda vinda de Cristo.
(4) As profecias são sempre condicionais. Seu cumprimento, em muitos casos, depende das
ações contingentes dos homens. Alguns eruditos atribuem caráter condicional a todas as predições,
e aí encontram a explicação para o não cumprimento de grande número delas. Este, porém, é um
ponto de vista errado. Este caráter condicional deve ser atribuído apenas àquelas profecias que se
referem a um futuro próximo, e que, portanto, dependem da livre ação dos contemporâneos do
profeta. Segue-se da natureza do caso que as profecias que se referem a um futuro distante não são
assim tão condicionais. Deve-se ter em mente que uma profecia pode ser condicional mesmo
quando a condição não está expressa (conferir ler. 26:17-19; I Reis 21:17-29; Jn 3:4, 10). 
(5) Se bem que os profetas muitas vezes se expressassem simbolicamente, é errado
considerar sua linguagem inteiramente simbólica. Eles não inventaram uma espécie de alfabeto
simbólico, como pensam alguns autores, para expressar com ele os seus sentimentos. Até P.
Fairbairn cai nesse erro quando diz que "nas profecias do Velho Testamento e no livro do
Apocalipse, as nações são uma designação geral de reinos mundanos, estrelas representam
poderes governantes, mares agitados significam tumultos das nações, árvores representam os graus
mais altos da sociedade e grama representa as camadas inferiores, a correnteza do regato significa
a vida e o rejuvenescimento, etc." (On Prophecy, p. 143). É mais seguro tomar a posição de
Davidson: "Quando Joel fala de locustas, ele significa aqueles seres. Quando fala de sol, lua e
estrelas, refere-se a esses corpos. Quando ele diz: 'como gemem as bestas?' ele se refere a bestas
mesmo, e não, como pensa Hengstenberg, às nações do mundo pagão que não pertencem ao
concerto" (Old Testament Prophecy, p. 171). Quando os profetas se expressam simbolicamente, o
contexto geralmente o indica. Algumas vezes, isto é claramente afirmado, como em Daniel 8 e
Apocalipse 17. Em regra, a linguagem dos profetas deve ser entendida literalmente. 
(6) A Escritura, entretanto, apresenta exceções a esta regra. Os profetas vestiam sua
linguagem com as vestes derivadas da dispensação a que pertenceram, isto é, da vida. constituição
e história de seu próprio povo. Em vista desse fato, surge, naturalmente, a questão de saber-se se a
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
forma era essencial ou se a profecia seria cumprida nos termos exatos em que foi proferida. Se bem
que seja natural que as profecias que se referem a um futuro próximo devam realizar-se em todas as
particularidades, é evidente que este não seria o caso de profecias que apontam para uma futura
dispensação. A pressuposição é que depois que as formas de vida sofreram modificações radicais,
não mais se expressa senão a realização da idéia central. De fato, o Novo Testamento prova
claramente que não se expressa em todos os casos um cumprimento literal, e que em algumas
profecias importantes a forma dispensacional deve ser despojada. Portanto, é precário dizer-se que
uma profecia não é cumprida quando os detalhes externos não se realizam (conferir Is. 11:10-16;
Joel 3:18-21; Miq. 5:5-8; Zac. 12:11-14; Am. 9:11-12; At. 15:15-17).
(7) Sob a orientação do Espírito Santo, os profetas às vezes transcenderam os seus limites
históricos e dispensacionais e falaram de uma dispensacionais espiritual no futuro. Em tais casos,
deu-se o alargamento do horizonte profético, perceberam algo do caráter transitório das velhas
formas e fizeram descrições ideais das bênçãos da Igreja do Novo Testamento. Esta feição é mais
comum nos últimos do que nos primeiros profetas (conferir Jer. 31:31-34; Mal. 1:11).
(8) Alguns profetas revelaram a palavra do Senhor em ações proféticas. Isaías andou nu e
descalço nas ruas de Jerusalém; Jeremias correu ao Eufrates para esconder seu cinto; Ezequiel
ficou 390 dias sobre o seu lado esquerdo, e 40 dias sobre o seu lado direito, suportando a iniquidade
do povo; e Oséias desposou uma mulher prostituta. Alguns intérpretes acham que essas ações não
foram reais, mas ocorreram em visões.
b) Interpretação de Profecias. Ao que foi dito sobre o caráter da profecia acrescentaremos
algumas regras para a sua interpretação.
(1) As palavras dos profetas devem ser tomadas em seu sentido literal, a não ser que o
contexto ou maneira de seu cumprimento indiquem claramente que elas têm uma significação
simbólica. Esta regra é desrespeitada por Hengstenberg e Henderson, quando afirmam que Joel,
quando fala de locustas, refere-se a nações pagãs.
(2) No estudo das descrições figurativas encontradas nos profetas, o Intérprete deve ter por
alvo descobrir a idéia fundamental que expressam. Quando Isaías descreve animais selvagens e
domésticos vivendo em paz e dirigidos por uma criança, ele dá uma descrição poética da paz que
reinará sobre a terra no futuro.
(3) Na Interpretação das ações simbólicas dos profetas, o Intérprete deve partir da admissão
de sua realidade, isto é, de sua ocorrência na vida real, a não ser que haja algo que claramente
prove o contrário. Alguns comentaristas se apressam em ver em curtas visões mais do que
realmente elas podem conter. Esse procedimento violenta o significado pleno da Bíblia-
(4) O cumprimento de algumas das mais importantes profecias se encontra em gemle, isto é,
são cumpridas por etapas, cada cumprimento é a garantia do cumprimento seguinte. Se bem que
seja errado falar-se de duplo ou tríplice significado de uma profecia, é perfeitamente correto falar-se
de um duplo ou triplo cumprimento. É bem claro, por exemplo, que a profecia de Joel, no capítulo 2,
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
vv . 28-32, não foi cumprida completamente no Dia do Pentecostes. Notar também as predições a
respeito da vinda do Filho do Homem, em Mateus 24.
(5) As profecias devem ser analisadas à luz de seu cumprimento, pois isto muitas vezes revela
profundezas que de outra maneira escapariam à nossa atenção. O intérprete deve ter em mente,
entretanto, que muitas profecias não se referem a eventos históricos específicos, mas enunciam
princípios gerais que podem ser realizados de várias maneiras. Se ele simplesmente perguntar, em
tal caso, a que evento o profeta se refere, correria o risco de limitar o escopo da predição de modo
injustificável. Além do mais, não deve partir da suposição de que as profecias sempre se cumprem
do modo exato em que foram proferidas. A pressuposição é que se aio cumpridas numa dispensação
posterior, a forma dispensacional será patente no seu cumprimento.
6. A Interpretacão dos Salmos
Os Salmos, cânticos sagrados de Israel, formam também uma parte da Palavra de Deus.
Reúnem poesia lírica e didática. Nos Salmos didáticos, Deus instrui através do poeta e se dirige ao
conhecimento; nos líricos, Deus se revela através das emoções e experiências espirituais dos poetas
sacros e se dirige ao coração.
A presente discussão se refere primariamente à interpretação dos Salmos líricos, que
constituem a maior parte desta coleção.a) Natureza dos Salmos. Nesses Salmos, o poeta dá expressão às suas mais profundas
experiências e emoções de alegria, e de tristeza, de esperança e de temor, agradável expectação e
desapontamentos amargos, confiança filial e grato reconhecimento. Expressa seus mais profundos
sentimentos e eleva sua alma até Deus.
Diz-se que, enquanto em outras partes da Escritura Deus fala ao homem, nos Salmos, ao
contrário, o homem fala a Deus. Mas, apesar de haver um elemento de verdade nessa afirmação, e
os Salmos apresentarem mais de subjetivo do que qualquer outra parte da Bíblia, não significa que
os Salmos não sejam parte essencial da Palavra de Deus. A fim de entender como Deus se revela
nesses cânticos sagrados, será necessário ter algum conhecimento da poesia lírica e da inspiração
lírica.
A poesia lírica contém, em primeiro lugar, um elemento individual. Os poetas cantam suas
circunstâncias históricas e suas experiências pessoais. Isso é bastante claro nos títulos dos Salmos.
Conferir , por exemplo, os Salmos 3, 6, 18, 30, etc. O mesmo se pode concluir do próprio conteúdo
dos Salmos. Mas, essas experiências, ainda que pessoais, têm caráter representativo. No mais
íntimo recesso de sua alma, o poeta está cônscio de sua solidariedade com toda a raça humana, e
sente o pulsar de todos os corações. E o cântico nascido em sua consciência, em seus crescendos e
diminuendos, interpreta a alegria e a tristeza, não somente do poeta, porém do homem em geral. E
em vista do fato de esta vida comum ter sua fonte em Deus, o poeta lírico desce às maiores
profundezas, ou atinge as maiores alturas, até descansar em Deus, em quem a vida da humanidade
se origina e que controla suas alegrias e tristezas.
FATAD Prof. Jales Barbosa 74
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Surgindo das profundidades, seu cântico é, de fato, nascido de Deus.
O intérprete dos Salmos deve ter em mente este princípio geral. Os Salmos em certo sentido
são universais e transcendem o histórico e o pessoal. Os cantores sagrados eram membros ativos
da Igreja de Deus, e como tais eram cônscios de sua unidade com a Igreja e seus cânticos incluíam
também os louvores e as lamentações dessa Igreja. E, como membro da Igreja, sentiam também que
estavam unidos Aquele que é sua gloriosa Cabeça, que sofre por ela, e é o autor de sua alegria. Isso
explica o fato de Cristo ser muitas vezes ouvido nos Salmos, ora entoando um cântico triste, ora
entoando um hino de vitória. Também a vida do poeta em união com Cristo tem sua fonte em Deus.
Daí, por que seu cântico, que é também o cântico da Igreja, encontra sua fonte em Deus. O resultado
de tudo isso é que em alguns Salmos salientam-se as experiências pessoais do poeta; em outros, a
maior expressão é dada à vida da comunidade de Israel e da Igreja; e, ainda em outros, ouve-se o
Cristo humilhado e exaltado. Em todos os Salmos encontramos o profundo lastro a que nos
referimos, e o intérprete deve prevenir-se para não considerá-los superficialmente. Não deve
descansar enquanto não ouvir neles a voz de Deus. E o fato de que, à vista de Deus, a antítese entre
pecado e santidade é absoluta, que ele ama a sua Igreja, mas odeia tudo o que se opõe a seu reino,
explicará as fortes expressões de amor e de ódio encontradas nos Salmos.
b) Regras de Interpretação. Em conexão com o que foi dito acima, aplicam-se as seguintes
regras à interpretação dos Salmos:
(1) Se houver uma circunstância histórica que determinou a composição de um Salmo. deve
ser cuidadosamente estudada. Notar como isto esclarece os Salmos 3, 32, 51,63.
(2) Visto que os Salmos representam aparte mais subjetiva da Bíblia, o elemento psicológico é
de grande importância para a sua correta interpretação. O intérprete deve estudar o caráter do poeta
e o estado de mente em que compôs o seu cântico. Quanto mais compreendermos a Davi, tanto
melhor entenderemos os Salmos.
(3) A vista do fato de que os Salmos não são puramente individuais. mas comunitários em
larga escala, devem ser considerados como expressões do coração regenerado. da vida procedente
de Deus; e o intérprete Dão deve contentar-se enquanto Dão entender o que revelam sobre a
vontade do Senhor.
(4) Na interpretação dos Salmos messiânicos. deve o intérprete fazer cuidadosa distinção entre
Salmos ou partes de Salmos que são diretamente messiânicos e aqueles que o são apenas
indiretamente. Por exemplo, enquanto os Salmos 2, 22, 45, 110 são diretamente messiânicos, outros
como 72 e 89 se aplicam em primeiro lugar ao poeta ou a outro santo do Velho Testamento e,
somente através dele como tipo intermediário, se aplicam, em segundo lugar, a Cristo. Há também
alguns Salmos que não podem enquadrar-se em nenhum dos dois casos mencionados, aos quais
Binnie chama de "Salmos misticamente messiânicos", pelo fato de a chave de sua interpretação não
se encontrar na doutrina dos tipos, mas na união mística de Cristo com a Igreja (conferir Salmos 16 e
40). Desde que os Salmos messiânicos são proféticos, deve-se dar atenção especial às citações
deles em o Novo Testamento, bem como ao cumprimento de suas predições, (5) Em relação aos
FATAD Prof. Jales Barbosa 75
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
chamados "Salmos Imprecatórios", ou, melhor, às imprecações nos Salmos, devemos considerar
alguns fatos:
- Os orientais gostam do que é concreto, e, portanto, muitas vezes representam o pecado na
forma concreta do pecador.
- Essas imprecações expressam o desejo dos santos no Velho Testamento no sentido de
vindicar a justiça e santidade de Deus.
- Não são manifestações de vinganças pessoais, mas da aversão da Igreja ao pecado,
representado no pecador .
- Há, ao mesmo tempo, uma revelação da atitude de Deus para com os que são hostis à sua
pessoa e ao seu reino.
7. O Sentido Implícito da Escritura
A Bíblia como Palavra de Deus contém uma riqueza insondável de sabedoria. Isto se
evidencia não somente nos tipos, símbolos e profecias, mas também no seu conteúdo implícito.
Mesmo nas composições humanas distinguimos o que é expresso do que é implícito. Em escritos de
ordem superior, é freqüente verificar-se que a linguagem sugere e envolve importantes verdades
contidas nas palavras. As grandes mentes contêm riqueza de conhecimento e tudo que comunicam e
sugerem se relaciona com esse vasto repositório, de modo que é possível ler-se nas entrelinhas. Se
isso é verdade a respeito das produções literárias humanas, aplica-se ainda mais à infalível Palavra
de Deus.
Há, entretanto, uma importante distinção. O homem conhece apenas em parte, e nem
sempre é cônscio daquilo que conhece. Além do mais, muitas vezes não pode alcançar as
implicações daquilo que diz ou escreve. É bem possível que suas palavras contenham implicações
que ele não vê e que não subscreveria. É bem provável que aquilo que se pode deduzir de suas
asserções explícitas, por meio de comparações ou inferências lógicas, esteja inteiramente fora de
sua linha de pensamento e seja, de fato, o oposto do que ele queria dizer .
Daí a regra, freqüentemente esquecida na prática, porém sempre necessária na
consideração do assunto, de que "não é permitido lançar sobre um autor as conseqüências de suas
afirmações quando não expressamente declaradas, mesmo que essas conseqüências possam estar
necessariamente envolvidas nessas declarações".
É provável que não tenha alcançado tais implicações, de modo que não pode
responsabilizar-se por elas, mas somente pelo emprego da linguagem que de modo intencional
venha a implicá-las. De igual modo, não é permitido inferir-se a opinião do autor a partir de
expressões acidentais,quando a matéria em apreço não está em jogo. Em regra, não se deve
atribuir a um autor pensamentos ou sentimentos que ele não expressa claramente em conexão com
a matéria de que trata. Quem assim procede é culpado de criar conseqüências.
Essas restrições, porém, se aplicam ao caso da Palavra de Deus. O conhecimento de
Deus é todo abrangente e é sempre conhecimento consciente. Transmitindo sua Palavra ao homem,
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Deus não somente adverte perfeitamente quanto a tudo que disse, mas também de tudo o que está
implicado. Ele sabia as inferências que seriam deduzidas de sua Palavra Escrita. Diz Bannerman: "
As conseqüências deduzidas da Escritura por inevitável inferência, e ainda mais as conseqüências
deduzi das da comparação das várias afirmações da Escritura entre si, foram previstas pela
sabedoria infinita no ato da inspiração sobrenatural do registro dos fatos de que resultam, e o
Revelador não somente sabia que os homens chegariam a tais deduções, mas determinou que
assim fosse" (Inspiration of the Scriptures, ). Portanto, não somente as declarações expressas da
Escritura, mas igualmente suas implicações, devem ser consideradas como Palavra de Deus.
Jesus mesmo autoriza essa posição. Quando os saduceus lhe trouxeram a questão, que,
a seu ver, claramente provava a insustentabilidade da doutrina da ressurreição, ele lhes mencionou a
auto designação de Jeová na sarça: .'Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de
Jacó"; e deduziu desse fato a doutrina que eles negavam. Além disso, Jesus reprovou a
incapacidade que revelaram de alcançar as implicações do texto, e disse: "Errais não conhecendo as
Escrituras" (Mt 22:29-32; Mc 12:24-27; Lc 20:37, 38). Podemos encontrar outros exemplos em
Romanos 4:5-12; I Coríntios 9:8-10; I Timóteo 5: 17 , 18; Hebreus 4:5-9.
Julgamos razoáveis, portanto, o estabelecimento da seguinte regra: "As deduções
doutrinárias tiradas das afirmações da Bíblia e que resultam da comparação de tais afirmações, se
bem feitas, constituem parte do sentido da revelação de Deus, pois nela estão virtualmente contidas,
do mesmo modo que as próprias declarações" (Bannerman, Inspiration of the Scriptures, ). Deve
haver, entretanto, muito cuidado em fazer inferências da palavra escrita. As deduções devem ser
boas, isto é, verdadeiramente contidas nas afirmações inspiradas das quais claramente se derivam;
e devem também ser necessárias, ou como se fossem forças atuando sobre a mente que
honestamente procura aplicá-las à interpretação da Bíblia.
8. Elementos para a Interpretação Teológica
Os elementos que ajudam o expositor na interpretação teológica são de dois tipos: (1) o
paralelismo real ou o paralelismo de idéias, e (2) a analogia da fé ou da Escritura. Ambos partem da
afirmação de que a Palavra de Deus é um todo orgânico, no qual as partes se relacionam e todas se
subordinam à revelação de Deus, e que, em última análise, a Bíblia se interpreta a si mesma.
a) Paralelismo real ou paralelismo de Idéias. Paralelismos reais, diz Terry, são as passagens
similares em que a identidade ou semelhança consiste não em palavras ou frases, mas em fatos,
assuntos, sentimentos ou doutrinas. Em seu emprego, o intérprete deve determinar, antes de tudo,
se as passagens são realmente paralelas, ou se apenas algo parecidas, e não essencialmente
idênticas. Por exemplo, Provérbios 22:2 e 29:13, ainda que revelem certa semelhança e sejam às
vezes consideradas paralelas, não o são de fato. O paralelismo de idéias pode ser dividido em duas
classes: paralelismo histórico e paralelismo didático. A estes se devem acrescentar as citações que o
Novo Testamento contém do Velho, pois são, em certo sentido, passagens paralelas.
(1) Paralelismos históricos. Estes são de vários tipos:
FATAD Prof. Jales Barbosa 77
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
- Há alguns em que se narra uma história nas mesmas palavras e nas mesmas circunstâncias
apesar das ligeiras diferenças quanto aos detalhes. São interessantes para mútua confirmação
(comparar I Rs 22:29-35 com II Cr 18:24-34; e Lc 22: 19, 20 com I Co 11:24, 25).
- Há também passagens em que as mesmas narrativas são feitas em diferentes palavras e as
circunstâncias são mais pormenorizadas num caso do que no outro. Nesses casos, é natural que a
narrativa mais circunstanciada ilumine a outra (comparar Mt 9:1-8 com Mc 2:1-12).
- Além disso, há narrativas que são indubitavelmente idênticas, porém ocorrem em condições
diferentes. Dessas há muitos exemplos nos Evangelhos. Nesses exemplos, a mais provável
oferecerá a situação histórica e lançará luz sobre a outra (comparar Mt 8:2-4 com Mc 1:40-45 e Lc
5:12-16; e Mt 11:6-19 com Lc 7:31-35).
- Finalmente, há passagens que não repetem outras, mas acrescentam certa circunstância, e
são, portanto, em certo aspecto, complementares (comparar Gn 32:24-32 com Os 12:4, 5).
(2) Paralelismos didáticos. Aqui também há diferentes tipos:
- Há casos em que o mesmo assunto é tratado, porém, não nos mesmos termos (comparar Mt
10:37 com Lc 14:26). Muitos intérpretes atenuam o significado da palavra "ódio" usada por Lucas,
apelando para a passagem encontrada em Mateus; e recorrem a Mateus 6:24 para provar que o
verbo "odiar" pode significar simplesmente .'amar menos". A correção desta interpretação,
entretanto, é duvidosa. Os "sacrifícios espirituais" de que fala Pedro (1 Ped. 2:5) encontram
explicação parcial em Romanos 12: 1, que, por seu turno, é explicado por Romanos 6:19.
- Há passagens paralelas que se correspondem em pensamento e expressão, porém uma não
tem conexão direta com a precedente ou com o contexto seguinte. Assim, em Mateus 7:13, 14, as
palavras: “entrai pela porta estreita...“ ocorrem sem qualquer conexão histórica. Isso é suprido,
entretanto, em Lucas 13:23, 24 (comparar também Mt 7:7-11 com Lc 11:5-13).
- Finalmente, há também paralelos que ocorrem em conexão inteiramente diferente, ainda que
igualmente provável. E provável que o motivo da afirmação não seja o mesmo em ambos os lugares.
A mesma afirmação pode ter sido feita em diferentes ocasiões (comparar Mt 7:21-23 com Lc 13:25-
28; e Mt 13:16, 17 com Lc 10:23, 24).
(3) Citações do Velho Testamento em o Novo. Em certo sentido, essas passagens são
paralelas. Merecem atenção especial porque muitos eruditos modernos não hesitam em dizer que os
escritores do Novo Testamento citaram o Velho de modo muito arbitrário. Immer afirma: "Numerosas
são as citações que tratam do Velho Testamento arbitrariamente, e em que apenas podem ser
encontradas relações remotas entre o pensamento do escritor do Novo Testamento e o pensamento
da passagem original. Distinguimos citações em que a concordância se encontra apenas na
linguagem; citações em que a concordância se prende apenas a uma palavra de sentido contrário; e,
finalmente, citações em que a passagem do Velho Testamento poderia ser trazida ao pensamento
presente apenas por meio da aplicação de uma tipologia e alegorização ilimitadas". Esse ponto de
vista se baseia no fato de não se conceber a Bíblia como um todo, de não se entender a relação
FATAD Prof. Jales Barbosa 78
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
profético-tipológica entre o Velho e o Novo Testamentos e o sentido implícito da Escritura Sagrada.
As citações encontradas em o Novo Testamento não servem todas ao mesmo propósito.
- Algumas servem para mostrar que as predições diretas ou indiretas do Velho Testamento
foram cumpridasem o Novo. Isso é verdade quanto a todas as passagens proféticas introduzidas
pela fórmula: "Para que se cumprisse" e muitas outras (conferir Mt 2:17, 23; 4:14, 15; João 15:25;
19:36; Hb 1:13).
- Outras são citadas para estabelecer uma doutrina. Em Romanos 3:9-19, Paulo cita muitas
passagens dos Salmos para provar a universalidade da depravação do homem. Também, em
Romanos 4:3, cita o exemplo de Abraão e várias afirmações de Davi, para provar que o homem é
justificado pela fé e não pelas obras da lei (conferir também Gl 3:6 e Hb 4:7).
- Há outras passagens que são citadas para refutar e reprovar o inimigo. Jesus cita a Escritura
em João 5:39, 40 para demonstrar a inconsistência dos judeus, pois diziam reverenciar as Escrituras
e não acreditavam naquele de quem as Escrituras testificam. Notar também Como usou a Escrituras
contra eles em Mateus 22:29-32; 41-46; João 10:34-36.
- Finalmente, algumas são citadas com propósitos retóricos ou para ilustração da verdade.
Nessas, pouca atenção se dá à conexão em que ocorrem no Velho Testamento e seu uso é
praticamente arbitrário. Daí por que estas são usadas como argumento pelos racionalistas. A crítica,
porém, é inadmissível à luz do propósito por que são citadas. Em Romanos 10:6-8, o Apóstolo
adapta à linguagem de Moisés (Dt 30: 1214) ao seu propósito. Em Romanos 8:36, ele aplica aos
cristãos sofredores uma palavra que o Salmista escreveu com referência a outros indivíduos (Sl
44:22). E, em I Timóteo 5:18, ele cita alei a respeito do boi que trilha o grão, como paralelo instrutivo,
e deixa que o leitor deduza, por inferência a minori ad majus, a lição de que os trabalhadores
humanos são ainda mais dignos de seus salários.
b) Analogia da Fé ou da Escritura. O termo "Analogia da Fé" se deriva de Romanos 12:6, onde
lemos "tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se profecia, seja segundo a
proporção da fé (kata ten analogian tes pisteos)". Alguns comentaristas erradamente interpretam
aqui, no sentido de doutrina, e e consideram analogian como designação de um padrão externo.
Corretamente interpretada, entretanto, a expressão significa simplesmente, de acordo com a medida
de vossa fé subjetiva. Daí, dizer-se que o termo derivado dessa passagem se baseia numa errada
compreensão.
Quando os Pais da Igreja primitiva falavam de Analogia ou Regula Fidei, eles se referiam aos
princípios gerais de fé, da qual existiam muitas formas sumárias. Com o passar dos tempos, o nome
foi aplicado aos credos aceitos pela Igreja, como, por exemplo, o Credo de Nicéia. A Igreja Católica
Romana chegou mesmo a considerar a tradição como regra de fé. Isso, porém, representa o uso
indevido do termo. Ê ridículo elevar-se as Confissões da Igreja à dignidade de Regulae Versatatis,
pois isto faz com que o que se deriva da Escritura se torne um critério de verdade da Escritura. A
analogia da fé corretamente interpretada encontra-se na própria Bíblia. Cellerier, em seu livro
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Hermeneutics, fala de dois graus superiores e dois inferiores dessa analogia, mas, ao mesmo tempo,
declara que os graus inferiores não são realmente dignos de menção.
(1) Há dois graus de analogia da fé que interessam ao intérprete da Bíblia.
- Analogia positiva. O primeiro e mais importante destes é a analogia positiva, que se
fundamenta em passagens da Escritura. Consiste dos ensinos da Bíblia, clara e positivamente
afirmados e sustentados por tantas passagens que não há dúvida quanto à sua significação e valor.
São verdades como a existência de um Deus de infinita perfeição, santidade e justiça, mas também
misericordioso e bom; o governo providencial de Deus e do seu propósito para com o pecador; a
graça redentora revelada em Cristo Jesus; e a vida futura e a retribuição.
- Analogia geral. O segundo grau é chamado analogia geral. Não se baseia em declarações
explícitas da Bíblia, mas no sentido óbvio dos seus ensinos como um todo e nas impressões
religiosas que deixa sobre a humanidade. E claro que o espírito da lei mosaica, bem como o Novo
Testamento são contrários à escravidão humana. E também perfeitamente claro que a Bíblia é
contrária ao puro formalismo na religião, e defende um culto espiritual.
Esses dois graus de analogia da fé constituem um modelo de interpretação. Como um crítico
que julga uma obra-prima de pintura fixa sua atenção, em primeiro lugar, no objeto de interesse
central, e depois é que considera os detalhes a ele relacionados, assim também o intérprete deve
estudar os ensinos particulares da Bíblia à luz de suas verdades fundamentais.
(2) A analogia da fé nem sempre tem o mesmo grau de valor evidente e de autoridade. Isso
depende de quatro fatores:
- O número de passagens que contém a mesma doutrina. A analogia é mais forte quando se
apóia em doze, ao invés de em seis passagens.
- A unanimidade ou correspondência das diferentes passagens. O valor da analogia está na
proporção da concordância das passagens em que se fundamenta.
- A clareza da passagem. Naturalmente, uma analogia que repousa total ou parcialmente em
passagens obscuras tem valor duvidoso.
- A distribuição das passagens. Se a analogia se fundamenta em passagens derivadas de um
só livro, ou de poucos escritos, não será tão valiosa como a que se baseia em passagens do Velho e
do Novo Testamentos, datando de épocas diferentes e procedentes de vários autores.
(3) Ao empregar a analogia na interpretação da Bíblia, o intérprete pode ter em mente:
- Que a doutrina apoiada claramente peia analogia não possa ser contradita por uma
passagem contrária e obscura. Considere I João 3:6 e o ensino geral da Bíblia que os crentes
também pecam.
- Que uma passagem que nem apóia nem contradiz uma analogia pode sentir de base a uma
doutrina desde que seu ensino seja claro. A doutrina assim estabelecida, entretanto, não tem a
mesma força daquela que se baseia na analogia.
FATAD Prof. Jales Barbosa 80
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
- Quando uma doutrina se apóia apenas numa passagem obscura, e não tem o apoio da
analogia, deve ser aceita com grandes reservas. Possivelmente, para não dizer provavelmente, a
passagem requer outra interpretação .que não se lhe está dando (conferir Ap 20: 1-4).
- Nos casos em que a analogia leve ao estabelecimento de duas doutrinas aparentemente
contraditórias, ambas as doutrinas devem ser aceitas na certeza de que resultarão numa unidade
superior. Pensemos, por exemplo, na doutrina da predestinação e o livre arbítrio, da depravação total
e da responsabilidade humana.
Anotações
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
IX. APLICAÇÃO DA MENSAGEM BÍBLICAIX. APLICAÇÃO DA MENSAGEM BÍBLICA
A. Uma proposta para o problema transcultural
Nos sete capítulos anteriores estudamos as práticas da hermenêuticatradicional com o
fim de responder à pergunta básica:
“Qual o significado que o autor tinha em mente ao escrever determinado texto?" Este
capítulo formulará outra pergunta: "Quaís as implicações desse significado para nós em época e
cultura diferentes?" São duas as principais categorias de passagens bíblicas as quaís a pergunta
acima deve ser endereçada. A primeira é constituída de porções narrativas. Como podemos tomar
essas porções bíblicas úteis para o ensino, para a repreensão, para a correção, e para a educação
na justiça de um modo hermeneuticamente válido? Segunda, como podemos aplicar os
mandamentos normativos da Escritura? Transferimo-los por atacado para nosso tempo e cultura,
sem levar em conta quão arcaicos ou peculiares nos pudessem parecer? Ou devemos transformá-
los? Que diretrizes adotamos para responder a essas perguntas?
Este capítulo divide-se em duas partes. A primeira descreve um método - dedução de
princípios - isto é, um modo hermeneuticamente legítimo de demonstrar a aplicabilidade das porções
narrativas da Escritura aos crentes hodiemos. A segunda propõe um modelo para traduzir
mandamentos biblicos de uma cultura para outra.
1. Dedução de Princípios: Uma Alternativa para a Alegorização de Narrativas Biblicas
Conforme vimos anteriormente, o alegorismo desenvolveu-se de um motivo correto: o
desejo de tomar as passagens do Antigo Testamento aplicáveis ao crente do Novo. O alegorismo foi
rejeitado, porém, porque leva para o texto significado que o autor nunca tencionou. Por conseguinte,
há necessidade de um método que tome as longas seções históricas da Escritura aplicáveis ao
crente de nossos dias. Uma simples repetição da narrativa é um método expositivo insuficiente e
ineficaz. Sozinho, tal método conduz a uma mensagem a.c.", mensagem que pode ter tido
aplicabilidade para os crentes da época em que foi escrita, mas deixa de ser pertinente aos de hoje.
Há necessidade, pois, de um método expositivo que tome as porções narrativas da Escritura
aplicáveis aos crentes de nossos dias sem fazer o texto dizer algo que o primitivo autor não tinha em
mente.
Na falta de uma palavra que descreva o método que realize isto, damos-lhe o nome de
dedução de princípios. Esse método é uma tentativa para descobrir em uma narrativa os princípios
espirituais, morais ou teológicos que dizem respeito ao crente de hoje. Baseia-se na suposição de
que o Espírito Santo escolheu esses incidentes históricos registrados na Escritura com uma
finalidade: informar, transmitir uma mensagem, esclarecer uma importante verdade etc. Trata-se de
um método que tem como objetivo tentar entender uma história de tal modo que possamos
FATAD Prof. Jales Barbosa 82
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
reconhecer o motivo primário por que foi incluída na Escritura, bem como os princípios que ela
pretendia ensinar.
Diferente da alegorização, que dá a uma história novo significado, atribuindo aos seus
detalhes significação simbólica que o autor não tencionava dar, a dedução de princípios busca
derivar seus ensinos de uma cuidadosa compreensão da própria história.
Diferente da desmitologização, a dedução de princípios reconhece a validade tanto dos
detalhes históricos de uma narrativa como dos princípios que esses detalhes tentam ensinar.
Metodologicamente, o sistema é o mesmo da exegese de qualquer passagem bíblica.
Observam-se cuidadosamente as circunstâncias históricas e os costumes culturais que iluminam o
significado de várias ações e mandamentos. Estuda-se a finalidade do livro em que a narrativa
ocorre, bem como o contexto mais estreito das passagens imediatamente precedentes e seguintes à
seção em exame. Também se examinam o estado do conhecimento teológico e o compromisso.
Depois de realizado tudo isso, o intérprete está, pois, em posição de entender o
significado da narrativa em seu ambiente de origem.
Por fim, com base neste entendimento e usando um processo de dedução, o intérprete
procura articular o princípio ou princípios exemplificados na história, princípios que continuam a
possuir aplicabilidade ao crente hodierno. Examinaremos duas narrativas para esclarecer este
processo de deduzir princípios.
Exemplo 1: O "Fogo Estranho" de Nadabe e Abiú (Levítico 10:1-11)
A história de Nadabe e Abiú é interessante não só por causa de sua brevidade, mas
também pela severidade e singularidade do juízo que trouxe sobre eles. Ela desperta curiosidade
porque não se vê de imediato o que era o "fogo estranho", nem por que trouxe reação tão rápida e
poderosa da parte de Deus. Ações da Narrativa:
a) Arão e seus filhos acabavam de ser consagrados ao sacerdócio (Levítico 8). Depois de
ordenar que o fogo ardesse continuamente sobre o altar (6:13), Deus confirmou a oferta sacrificial de
Arão por si e pelo povo, acendendo o fogo miraculosamente (9:24).
b) Nadabe e Abiú, os dois filhos mais velhos de Arão, tomaram "fogo estranho" e fizeram uma
oferta de incenso ao Senhor. De imediato o fogo do Senhor os feriu de morte. Moisés profetizou, e a
seguir deu ordens aos parentes de Arão que tirassem do acampamento os corpos de Nadabe e de
Abiú. Arão e seus filhos restantes, que também eram sacerdotes, receberam ordens para não
demonstrar as tradicionais expressões de luto (desgrenhar os cabelos e rasgar as vestes), embora
os parentes tivessem permissão de fazê-lo. Então o Senhor deu a Arão três ordens (Levítico 10:8-
10): (1) nem ele nem outro qualquer de seus descendentes sacerdotais deviam tomar bebidas
fermentadas antes de entrar para o exercicio de seus deveres sagrados; (2) deviam diferençar entre
o santo e o profano, entre o imundo e o limpo; e (3) deviam ensinar ao povo todos os estatutos do
Senhor .
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
2. Significado ou sentido das ações (Análise histórico-cultural)
Israel acabara de sair da adoração idólatra, mas continuava rodeado de cultuadores
idólatras. Havia um constante perigo de sincretismo, isto é, de associar o culto ao verdadeiro Deus
com as práticas do culto pagão.
Análise contextual. Este era o dia de investidura de Arão e de seus filhos como
iniciadores do sacerdócio levítico. Suas ações seriam, sem a menor dúvida, consideradas como
precedentes para os que viessem depois. De igual modo, a aceitação ou rejeição dessas ações por
parte de Deus influiria sobre os futuros desenvolvimentos do próprio sacerdócio e das atividades
sacerdotais.
a) Análise léxico-sintática e teologica. Quase todas as religiões antigas, incluindo o judaísmo,
consideravam o fogo como símbolo divino. Explica-se o fogo profano ou "estranho" que Nadabe e
Abiú ofereceram como fogo que Deus não lhes havia ordenado oferecer (v 1). Uma expressão
semelhante encontra-se em Exodo 30:9, onde o incenso que não fora preparado segundo as
instruções do Senhor é chamado de "incenso estranho". Uma análise mais completa da sequência
de tempo dos capítulos 9 e 10 mostra que Nadabe e Abiú fizeram a oferta de incenso entre a oferta
sacrificial (holocausto) (9:24) e a oferta de manjares que a devia ter seguido (10:12-20), isto é, numa
hora que não a designada para a oferta de incenso. Keil e Delitzsch dizem que não é improvável que:
b) Nadabe e Abiú tencionavam associar-se aos gritos do povo como uma oferta de incenso
para o louvor e glória de Deus, e apresentaram a oferta de incenso não só numa hora imprópria, mas
não preparada do fogo do altar, e cometeram tal pecado com esta adoração de iniciativa própria, que
foram mortos pelo fogo que saiu de diante de Jeová.
c) O fogo do Deus santo (Êxodo 14:18), queacabara de santificar o serviço de Arão como
agradável a Deus, trouxe destruição a seus dois filhos mais velhos, porque não haviam santificado a
Jeová em seus corações, mas haviam eles próprios assumidos a responsabilidade de um serviço
rebelde.
Esta interpretação é ademais confirmada pela profecia de Deus a Arão, por intermédio de
Moisés, imediatamente depois de o fogo haver consumido a Nadabe e Abiú. "Isto é o que o Senhor
disse: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de
todo o povo" (v. 3).
Logo depois disto, Deus falou diretamente a Arão, dizendo: "Vinho nem bebida forte tu e
teus filhos não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto
perpétuo será isso entre as vossas gerações; para fazerdes diferença entre o santo e o profano e
entre o imundo e o limpo" (vv. 9-10).
Alguns comentaristas têm inferido desses versículos que Nadabe e Abiú estavam sob a
influência de bebidas embriagantes quando ofereceram o fogo estranho. O texto não nos permite
afirmar tal coisa, com absoluta certeza, embora seja provável que Deus estivesse dando
mandamentos relacionados com a infração que trouxera juízo de morte sobre Nadabe e Abiú.
FATAD Prof. Jales Barbosa 84
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
A principal lição das três ordens é clara: Deus fora cuidadoso em mostrar o modo pelo
qual os israelitas podiam receber expiação por seus pecados e manter com ele um relacionamento
reto. Deus havia demonstrado claramente a Arão e seus filhos as diferenças entre santo e profano,
limpo e impuro, os quais haviam sido instruídos a ensinar essas coisas ao povo. Nadabe e Abiú, num
gesto de obstinação, haviam adotado sua própria forma de adoração, obscurecendo a diferença
entre o santo (os mandamentos de Deus), e o profano (os gestos religiosos de iniciativa própria do
homem). Esses gestos, se não fossem prontamente reprovados, podiam facilmente conduzir à
assimilação de todos os tipos de práticas pagãs pessoais no culto aDeus.
A segunda lição reside no fato de que a reconciliação com Deus depende da graça
diVina, e não de práticas obstinadas do homem e de sua própria iniciativa. Deus havia dado os meios
de reconciliação e de expiação. Nadabe e Abiú tentaram acrescentar algo aos meios diVinos de
reconciliação. 
Como tal, eles continuam como exemplo a todos os povos e religiões que colocam suas
próprias ações no lugar da graça de Deus como meio de reconciliação e salvação.
Aplicação:
7Deus é o iniciador de sua misericórdia e graça na relação divino-humana; cabe-nos a
responsabilidade de aceitar essa graça. Os crentes, especialmente os que se acham em postos de
liderança dentro da comunidade cristã, têm uma responsabilidade oriunda de Deus de ensinar, com
todo o cuidado, que a salvação vem pela graça de Deus, e não por via de obras do homem, e a
diferençar entre o santo e o profano (v. 10). Crer e atuar como se fôssemos os iniciadores e não os
respondentes em nosso relacionamento com Deus, especialmente se ocupamos postos com
probabilidade de servir de modelo para o comportamento de outras pessoas, como no caso de
Nadabe e Abiú, é trazer sobre nós mesmos a desaprovação divina.
Exemplo 2: Uma Análise do Processo da Tentação
Às vezes uma narrativa proporciona diversos princípios ou verdades que continuam a
possuir pertinência, como é o caso da narrativa da primeira tentação, registrada em Gênesis 3:1-6.
As ações da narrativa são encontradas num relato direto do texto:
Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha
feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da
árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não
morrais;
Então a serpente disse à mulher: E certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no
dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do
mal.
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore
desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele
comeu.
FATAD Prof. Jales Barbosa 85
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Importância das Ações:
A tentação de Eva por Satanás pode ser conceitualizada em seis passos, que podemos
ver na tentação de Satanás aos crentes de nossos dias. O passo número um encontra-se no primeiro
versículo. O hebraico pode ser parafraseado da seguinte forma: "Ora, a serpente era mais matreira
do que qualquer criatura ,selvagem que o Senhor Deus tinha criado. Ela disse à mulher: E verdade
que Deus proibiu vocês de comer de todas as árvores do jardim?" Qual é a dinâmica desta
passagem? Por que Satanás fez tal pergunta? Obviamente ele sabia o que Deus havia dito a Adão e
Eva, do contrário ele não poderia ter feito uma pergunta dessas. Além do mais, deliberadamente ele
distorceu o que Deus havia dito: "E verdade que Deus proibiu vocês de comer de todas as árvores
do jardim?" O ardil de Satanás era óbvio: ele queria que Eva desviasse os olhos das coisas que
Deus lhe havia dado para desfrutar, e os concentrasse na única coisa que Deus havia proibido. Com
toda a probabilidade havia mil coisas agradáveis que Eva poderia ter feito no jardim, mas agora toda
a sua atenção se concentrava na única coisa que ela não podia fazer. A este primeiro passo
podemos chamar de maximizar a restrição .
Eva estava agora preparada para o próximo passo de Satanás. Em resposta à
declaração de Eva de que Deus disse que o comer do fruto da árvore resultaria em morte, Satanás
declarou com atrevimento: "É certo que não morrereis." Os resultados de tal ação realmente não
seriam tão maus conforme Deus havia dito. A isto podemos chamar de minimizar as consequências
do pecado. De dois modos Satanás minimizou tais consequências: primeiro, dizendo a Eva que as
consequências do pecado não seriam tão más como foram declaradas; e, segundo, finalmente
concentrando a atenção da mulher sobre a árvore, de modo tão completo, que ela se esqueceu
inteiramente das consequências (v. 6). 
O terceiro passo que Satanás deu podia chamar-se de dar novo rótulo à ação. No
versículo 5 ele diz: "Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e,
como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." Aqui Satanás lançou a suspeita na mente de
Eva de que não era porque o fruto da árvore fizesse mal a ela que Deus havia proibido comê-lo, mas
porque ele não desejava que ela fosse igual a ele. Satanás foi hábil em tentar remover sua tentação
da categoria de pecado, dando-lhe um novo rótulo. Neste caso particular, o comer do fruto foi
rotulado como um modo de ampliar a consciência, o conhecimento de Eva. Ela se tomaria uma
pessoa mais completa se o experimentasse. Antes disto Eva havia pensado no ato proibido como
desobediência: agora ela o vê como uma necessidade, se quiser tomar-se uma pessoa completa e
madura. Satanás não perdeu um instante sequer para acrescentar outro aspecto à sua tentação,
aspecto que se pode chamar de misturar o bem com o mal. O versículo 6 diz: "Vendo a mulher que a
árvore era agradável. “A isto podíamos dar o nome de misturar o pecado com a beleza. A tentação
muitas vezes vem na forma de algo belo, algo que apela para nossos sentidos e desejos. Com
frequência é necessário pensar duas vezes antes de percebermos que um objeto ou um alvo belo na
realidade é pecado disfarçado. Neste incidente Eva falhou em discriminar entre o bonito pacote e seu
conteúdo pecaminoso.FATAD Prof. Jales Barbosa 86
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Finalmente Eva deu o sexto passo: a narrativa diz que ela viu "que a árvore era...
desejável para dar entendimento". Em essência, ela engoliu a mentira do diabo. Este passo pode
denominar-se má interpretação das implicações. Conquanto possa este parecer um ponto menos
significativo no processo de interpretação, talvez seja o mais decisivo. Com efeito, ao aceitar a
declaração de Satanás, Eva estava chamando a Deus de mentiroso, muito embora ela não tivesse
percebido tais implicações. Ela aceitou a Satanás como verdadeiro e a Deus como mentiroso: ao
comer o fruto ela estava implicitamente afirmando sua crença em que Satanás estava mais
interessado no bem-estar dela do que Deus. O render-se à tentação implicava que ela aceitava a
análise de Satanás concernente à situação e não a de Deus.
Aplicação:
Muitas das mesmas dinâmicas da tentação de Eva estão presentes nas tentações com
que Satanás ataca o crente hoje. Com apenas ligeira introspecção, suas táticas de maximizar a
restrição minimizar as consequências, dar novo rótulo à ação, misturar o bem e o mal, e misturar o
pecado com a beleza podem, com frequência, encontrar-se operando em nossas vidas.
3. Diretrizes para a Dedução de Princípios:
(1) Essa dedução focaliza os princípios implícitos num relato, aplicáveis através dos tempos e
das culturas. Os detalhes podem variar, mas os princípios permanecem os mesmos: e.g., Satanás
pode continuar a tentar-nos maximizando a restrição, mas não é provável que o faça utilizando-se de
uma árvore frutífera.
(2) Ao derivar o significado de uma narrativa como base para deduzir princípios, o significado
deve sempre se desenvolver a partir de uma cuidadosa análise histórica e léxica: o significado deve
ser aquele que o autor tinha em mente.
(3) De uma perspectiva teológica, o significado e os princípios derivados do relato devem estar
em consonância com todos os demais ensinos da Escritura. Um princípio dedutivo extraído de uma
narrativa que contradiz o ensino de outra passagem bíblica não é válido.
(4) Os princípios derivados por este método podem ser normativos ou não-normativos. Por
exemplo, é válido dizer que Satanás às vezes emprega os métodos acima para tentar os crentes
hoje, mas seria inválido dizer que ele sempre usa esses métodos, que ele usa somente esses
métodos.
(5) Os textos têm somente um significado, mas podem ter muitas aplicações. A dedução de
princípios é um método de aplicar o significado que o autor tinha em mente, mas as aplicações desse
significado podem referir-se a situações que o autor, num tempo e cultura diferentes, nunca
imaginou. Por exemplo, o autor do Gênesis tencionava dar-nos um relato da primeira tentação - e
não uma análise psicológica do processo da tentação. Para que nossa aplicação do texto (mediante
a dedução de princípios) seja válida, é preciso que ela esteja fundamentada na intenção do autor, e
seja de todo coerente com ela. Portanto, se a intenção do autor numa passagem narrativa era
descrever um evento de tentação, é válido analisar tal passagem dedutivamente a fim de entender-
FATAD Prof. Jales Barbosa 87
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
se a sequência e o processo dessa tentação especial e então ver como podia ela aplicar-se à nossa
vida. Não seria válido generalizar, a partir desse mesmo texto, princípios acerca do modo como a
tentação sempre ocorre, visto que o autor não tencionava que o texto servisse de base para doutrina
normativa.
4. Tradução de Mandamentos Bíblicos de uma Cultura para Outra:
Em 1967 a Igreja Presbiteriana Unida nos Estados Unidos adotou uma nova confissão de
fé que continha a seguinte declaração: As Escrituras, dadas sob a orientação do Espírito Santo, são,
não obstante, palavras de homens, condicionadas pela língua, formas de pensamento, e estilos
literários dos lugares e tempos em que foram escritas. Refletem pontos de vista da vida, da história e
do cosmo, correntes na época. A igreja tem, portanto, a obrigação de tratar as Escrituras com
entendimento literário e histórico. Visto que Deus proferiu sua palavra em situações culturais
diversas, a igreja confia em que ele continuará a falar através das Escrituras num mundo em
mudança e em toda forma de cultura humana.
Conquanto essa declaração obviamente trate de alguns problemas culturais básicos, ela
não dá diretrizes específicas para interpretar as Escrituras em "situações culturais diversas". Duas
importantes perguntas a que ela não responde, são: (1) Até que ponto os mandamentos bíblicos
devem ser entendidos como condicionados culturalmente e, portanto, não normativos para o crente
hodierno? e (2) Que tipo de metodologia deve aplicar-se para traduzir mandamentos bíblicos dessa
cultura para a nossa? Numa extremidade do espectro estão os intérpretes que crêem que muitas
vezes tanto o princípio biblico como o mandamento comportamental que expressa esse princípio
deveria ser modificado à luz das transformações históricas. Na outra extremidade estão os que
crêem que os princípios bíblicos e os mandamentos comportamentais que os acompanham sempre
deveriam ser aplicados literalmente na igreja hoje. Muitos crentes adotam uma posição intermediária
entre essas duas perspectivas.
A maioria das igrejas evangélicas tem, por suas ações, aceitado implicitamente que
alguns mandamentos bíblicos não devem ser adotados por atacado em nosso tempo e cultura. Por
exemplo, o mandamento de saudar uns aos outros com ósculo santo aparece cinco vezes no Novo
Testamento, e não obstante, poucas são as igrejas que observam esta ordem hoje. De igual modo,
poucas igrejas protestantes observam o mandamento para as mulheres usarem véu quando oram (1
Coríntios 11:5). Poucas igrejas continuam a prática do lava-pés de que fala João 13:14, porque as
culturas e os tempos em mudança diminuíram a necessidade e significado da prática.
Mais controverso ainda, algumas igrejas evangélicas já têm mulheres que pregam,
embora Paulo tenha declarado em 1 Timóteo 2:12 não permitir que mulher alguma ensinasse ou
tivesse autoridade sobre os homens. Muitos evangélicos, homens e mulheres igualmente, estão-se
perguntando se os tradicionais papéis de esposo-esposa delineados no capítulo 5 de Efésios e em
outras passagens devem continuar em nossa cultura e época. Perguntas semelhantes estão sendo
levantadas sobre muitos outros problemas também.
FATAD Prof. Jales Barbosa 88
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Em 1973 o "Ligonier Valley study Center" convocou uma conferência para tratar da
pergunta: "Está a Escritura culturalmente amarrada?" Entre os oradores desta conferência estavam
alguns dos eminentes eruditos evangélicos de nossos tempos. A dificuldade e complexidade do
problema demonstram-se pelo fato de que o principal resultado da conferência ter sido o refinamento
da pergunta, em vez de respostas concretas. Por conseguinte, trata-se de uma pergunta de imensa
importância, não obstante as respostas não serem fáceis e ainda não se ter chegado a um acordo.
Se adotarmos, como o tem feito a maioria dos cristãos evangélicos, a opinião de que
alguns mandamentos bíblicos são limitados culturalmente enquanto outros não, então se faz
necessário elaborar critérios para diferençar entre os que se aplicam literalmente e os que não se
aplicam. Se nosso procedimento não deve ser simplesmente arbitrário, no qual descartamos os
mandamentos e os princípios dos quais discordamos e retemos os queaceitamos, devemos
desenvolver critérios: (a) ruja lógica possa ser demonstrada, (b ) que possam ser uniformemente
aplicados a uma variedade de problemas e questões, e (c) ruja natureza é extraída da Escritura ou,
pelos menos, seja consoante com ela.
Estabelecer uma Estrutura Teorética para Analisar o Comportamento e os Mandamentos
Comportamentais Primeiro postulado: Um comportamento único geralmente tem significado ambíguo
para o observador. Por exemplo, se da janela de meu gabinete vejo lá fora um homem subindo a rua,
não sei se ele (a) está caminhando como exerácio, (b) se está a caminho de um ponto de ônibus, ou
(c) se está saindo de casa depois de uma briga com a esposa.
Segundo postulado: O comportamento assume maior significado para o observador à
medida que ele investiga o seu contexto. À medida que observo mais intimamente o homem do
exemplo acima, devido à sua idade, roupa, pasta, e livros, formulo a hipótese de que é um estudante
que vai para a escola. Contudo, observo também uma mulher, evidentemente sua esposa (devido
aos estilos semelhantes de vestimenta), que o segue cerca de quatro metros e meio atrás,
caminhando com a cabeça baixa. De imediato me pergunto se estiveram brigando, e ela o segue
numa tentativa de apaziguá-lo depois de ele ter saído irado de casa. Imediatamente descarto esta
hipótese ao perceber que os estilos de roupa indicam que este casal pertence a uma cultura onde é
normal que a esposa caminhe a certa distância atrás do marido em público.
Terceiro postulado: O comportamento que tem certo significado numa cultura pode ter
significação totalmente diverso em outra. Na sociedade ocidental, o fato de uma mulher seguir o
marido a uma distância de quatro metros e meio, com a cabeça baixa, geralmente indicaria um
problema de relacionamento entre eles.
Noutra cultura, este mesmo comportamento pode ser considerado normal. Examinemos
as implicações desses três postulados.
Primeira, o significado de um único comportamento não pode ser averiguado à parte de
seu contexto. Analogamente, o significado (e o princípio que está por trás) de um mandamento
comportamental na Bíblia não pode ser averiguado à parte do contexto desse mandamento.
FATAD Prof. Jales Barbosa 89
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
Segunda, o significado que está por trás de determinado comportamento pode ser
averiguado com maior exatidão se temos mais conhecimento acerca do contexto dessa conduta. De
igual modo, quanto mais sabemos do contexto de um mandamento comportamental, se não há
variação alguma, tanto mais podemos averiguar com precisão o significado (e o princípio por ele
expresso) desse mandamento.
Terceira, visto que determinado comportamento numa cultura pode ter significado
diferente em outra, talvez seja necessário mudar a expressão comportamental de um mandamento
bíblico a fim de traduzir o princípio que está por trás desse mandamento de uma cultura e tempo
para outra cultura e tempo.
É preciso diferençar dois aspectos do mandamento bíblico: o comportamento
especificado, e o principio expresso mediante tal comportamento. Por exemplo, a saudação com
ósculo santo (comportamento) expressava amor fraternal (principio). 
Ao fazer aplicações transculturais de mandamentos bíblicos, há três alternativas a
considerar:
a) Reter tanto o princípio como sua expressão comportamental.
b) Reter o princípio mas propor uma mudança na forma como esse principio é expresso
comportamentalmente em nossa cultura.
c) Mudar tanto o princípio como sua expressão comportamental, supondo que ambos estavam
presos à cultura e, portanto, já não são aplicáveis.
Como exemplo, vejamos o costume de as esposas usarem véu como expressão de
submissão espontânea a seus maridos (1 Coríntios 11:2-16). Vários comentaristas têm adotado três
métodos:
a) Reter tanto o princípio de submissão como sua expressão mediante o uso de véus.
b) Reter o princípio de submissão, mas substituir o véu por outra conduta que mais
significativamente expresse a submissão em nossa cultura.
c) Substituir tanto o princípio de submissão como todas as expressões de submissão por uma
filosofia mais igualitária, crendo que o conceito de hierarquia dentro da família está jungido à cultura.
Portanto, a análise das ordens bíblicas em (a) principios, e (b) comportamentos que
expressem tais principios, possuem pouco valor, a menos que haja meios de diferençar entre os
principios e comportamentos culturais e os transculturais.
Algumas diretrizes preliminares para diferençar entre a restrição cultural e os principios e
mandamentos transculturais. As diretrizes seguintes são chamadas de preliminares por dois motivos:
Primeiro, são incompletas no sentido de que não cobrem todos mandamentos e principios bíblicos, e,
segundo, são a esta altura provisórias, com a intenção de iniciar a discussão e mais adiante
apresentar a exploração do problema.
a) Diretrizes para discernir se os princípios são transculturais ou culturais. Primeiro, determinar
o motivo dado para o principio. Por exemplo, devemos amar-nos uns aos outros porque Deus nos
FATAD Prof. Jales Barbosa 90
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
amou primeiro (1 João 4:19). Não devemos amar o mundo e seus valores, porque o amor do mundo
e o amor de Deus se excluem mutuamente (1 João 2:15).
Segundo, se o motivo de um princípio for limitado pela cultura, então o princípio também poderá sê-
lo. Se o motivo tem sua base na natureza imutável de Deus (sua graça, seu amor, sua natureza
moral, ou sua ordem criada), então o próprio princípio provavelmente não mudará.
b) Diretrizes para discernir se os mandamentos (aplicações dos princípios) são transculturais
ou culturais. Primeiro, quando um princípio transcultural está corporificado numa forma que fazia
parte dos hábitos culturais comuns da época, a forma pode ser modificada, muito embora o princípio
permaneça inalterado. Por exemplo, Jesus demonstrou o princípio de que devemos ter uma atitude
de humildade e de disposição para servir-nos uns aos outros (Marcos 10:42-44) ao lavar os pés dos
discípulos (João 13:12-16), um costume comum da época. Retemos o princípio, embora seja
possível que haja outros meios de expressar esse princípio de modo mais significativo em nossa
cultura. Tiago argumentou, também, que os crentes não devem fazer acepção de pessoas dentro da
comunidade cristã de modo que os ricos se assentem em cadeiras e os pobres no chão (Tiago 2:1-
9). Retemos o princípio da não acepção, mas sua aplicação assume dimensões diferentes em nosso
tempo e cultura. Segundo, quando uma prática aceita fazia parte de uma cultura pagã e a Escritura
proibia tal prática, com toda probabilidade será proibida também em nossa cultura, especialmente se
o mandamento está alicerçado na natureza moral de Deus. Exemplos de práticas que eram partes
aceitas de culturas pagãs mas proibidas na Bíblia incluem a fornicação, o adultério, o espiritismo, o
divórcio e a homossexualidade. Terceiro, é importante definir quais os beneficiários que o
mandamento tinha em mira, e aplicá-lo discriminadamente a outros grupos. Se um mandamento foi
dado tão-só a uma igreja, isto pode indicar que ele pretendia ser apenas uma prática local em vez de
universal.
Alguns passos propostos na tradução de mandamentos bíblicos de uma cultura e tempo
para outra cultura e tempo:
a) Discernir tão precisamente quanto possível o princípio por trás do mandamento
comportamental dado. Por exemplo, os cristãos devem julgar o pecado individual em sua
comunidade local cometido por crentes, porque se não for corrigido, o mal exercerá efeito sobre todaa comunidade (1 Coríntios 5:1-13, especialmente o v. 6).
b) Discernir se o princípio é permanente ou limitado a uma época (transcultural ou cultural). Na
última seção apresentamos algumas sugestões para se fazer isto. Uma vez que a maior parte dos
princípios bíblicos está arraigada na natureza imutável de Deus, parece deduzir-se que o princípio
deve ser considerado transcultural, a menos que haja evidência contrária.
c) Se um princípio é transcultural, estude a natureza da aplicação comportamental em nossa
cultura. A aplicação comportamental dada então será apropriada para nossos dias, ou será ela uma
esquisitice anacrônica ? É muito grande o perigo de conformar a mensagem bíblica ao nosso molde
cultural. Há ocasiões em que a expressão de um princípio dado por Deus levará os cristãos a
comportar-se de um modo diferente dos não-cristãos (Romanos 12:2), mas não
FATAD Prof. Jales Barbosa 91
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
desnecessariamente, não por amor à diferença em si. O critério para discernir se um mandamento
comportamental deve aplicar-se à nossa cultura não há de ser se ele se conforma ou não às práticas
culturais modernas, mas se ele expressa ou não, adequada e precisamente, o princípio intencional
de Deus.
d) Se a expressão comportamental de um princípio deve ser mudada, proponha um
equivalente cultural que expresse adequadamente o princípio de origem divina que está por trás do
mandamento primitivo. Por exemplo' J. B. Phillips acha que "Saudai-vos uns aos outros com cordial
aperto de mão" pode ser um bom equivalente cultural para o Ocidente de "Saudai-vos uns aos outros
com ôsculo santo". Se não houver equivalente cultural, talvez valesse a pena considerar a criação de
um novo comportamento cultural que expresse de modo significativo os princípios envolvidos. (De
um modo semelhante, mas não estritamente análogo, algumas das mais recentes cerimônias de
casamento expressam os mesmos princípios que os mais tradicionais, porém em novas fórmulas
muito criativas e significativas).
e) Se depois de cuidadoso estudo a natureza do princípio biblico e o mandamento que o
acompanha continuam em dúvida, aplique o preceito biblico da humildade. Pode haver ocasiões em
que, mesmo depois de cuidadoso estudo de determinado princípio e de sua expressão
comportamental, ainda continuamos em dúvida se devemos considerá-lo transcultural ou cultural. Se
temos de decidir sobre tratar o mandamento de um modo ou de outro, mas não temos meios
conclusivos para tomar a decisão, pode ser proveitoso o princípio da humildade. Afinal de contas,
seria melhor tratar um principio como transcultural e levar a culpa de ser excessivamente
escrupuloso em nosso desejo de obedecer a Deus? Ou seria melhor tratar um princípio transcultural
como sujeito à cultura e ser culpado de quebrar uma exigência transcendente de Deus? A resposta
deveria ser óbvia.
Se este princípio de humildade estiver isolado das demais diretrizes mencionadas acima,
com facilidade ele poderia ser mal interpretado como base para conservadorismo desnecessário. O
princípio só deve ser aplicado depois de havermos cuidadosamente tentado determinar se ele é
transcultural ou cultural, e a despeito de nossos melhores esforços, o problema ainda continua em
dúvida. Esta é uma diretriz de último recurso e seria destrutiva se usada como primeiro.
FATAD Prof. Jales Barbosa 92
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
X. REPETIÇÕES E OBSERVAÇÕESX. REPETIÇÕES E OBSERVAÇÕES
Repetindo e resumindo algo do que foi dito anteriormente, convém que nos recordemos e
sempre tenhamos presente:
1º - Que o primeiro requisito para o bom entendimento das Escrituras é um espírito de discípulo
humilde. Tanto é assim, que uma pessoa comparativamente ignorante, que humildemente invoca a
luz do Espírito de Deus no estudo da Bíblia, conseguirá conhecimentos bíblicos exatos com mais
facilidade do que um homem de talento e sabedoria humana que, preocupado e carecendo do
espírito de discípulo, empreende seu estudo. Numerosos exemplos apóiam esta verdade.
2° - Que as grandes doutrinas e princípios do Cristianismo estão expostos com clareza nas
Escrituras.
3° - Que, por conseguinte e em realidade, só se invocam as regras de interpretação para
conseguir o significado verdadeiro dos pontos obscuros e de difícil compreensão.
4°- Que, apesar disso, é de grande importância que até o cristão mais humilde tenha alguma
idéia de tais regras e de sua aplicação, porquanto é seu dever aprofundar-se nas Escrituras,
confirmar-se em suas verdades e familiarizar-se com elas para seu próprio proveito e para poder
iluminar aos que as contradizem.
5° - Para conhecer o sentido inato da Bíblia, ela mesma deve ser sua própria intérprete.
6° - Que o verdadeiro sentido de seus textos é conseguido pelo significado de suas palavras, e
que assim, pela aquisição do verdadeiro sentido das palavras, se consegue o verdadeiro sentido de
seus textos.
7° - Que não se deve esquecer por um momento que o significado das palavras está
determinado pela peculiaridade e uso da linguaguem bíblica, devendo-se, portanto, buscar o
conhecimento do sentido em que se usam as palavras antes de tudo na própria Bíblia.
8° - Que as palavras devem ser tomadas no sentido que comumente possuem, se este sentido
não estiver manifestamente contrário a outras palavras da frase em que ocorrem, com o contexto e
com outras partes das Escrituras.
9° - Que, no caso de haver uma palavra com significado diferente, oferecendo-se assim ou de
outro modo um ponto obscuro, recorra-se às regras acima citadas para se conseguir o sentido exato
que intentava o escritor inspirado, ou melhor, o próprio Espírito de Deus.
10° - Que, à parte da correta interpretação de passagens e textos separados quanto às
doutrinas, estas só são bíblicas e exatas quando expressam tudo quanto dizem as Escrituras em
relação a elas.
Ao averiguar, pois, qual seja o verdadeiro significado de uma passagem da Escritura, é
preciso que perguntemos:
FATAD Prof. Jales Barbosa 93
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
1° - Qual é o significado de suas palavras? Se não têm mais que um significado, estamos de
imediato esclarecido: possuímos já o verdadeiro sentido. Porém se há alguma que tem mais de um
sentido, perguntemos:
2° - Que sentido requer o restante da frase?
Se em resposta encontramos dois ou três sentidos, perguntemos:
3° - Qual é o sentido que requer o contexto para que tenha um sentido harmônico toda a
passagem? Se ainda couber dar-lhe mais de um sentido, perguntemos:
4° - Qual é o sentido que requer o desígnio ou objetivo geral da passagem ou livro em que se
encontra? E se a todas estas perguntas se oferece ainda mais de uma resposta, perguntemos:
5°- Qual é o sentido que requerem outras passagens das Escrituras? Se, por acaso, em
resposta a tantas averiguaçÕes, ainda fosse possível encontrar mais de um significado nalguma
palavra da passagem, podem considerar-se verdadeiros ambos os significados ou ambas as
interpretações, devendo-se, por certo, preferir a que mais condições reúna para ser aceita como
verdadeira.
Repetimos que o procedimento acima indicado e as regras aqui estampadas são tão
justas quanto necessárias, não somente para a interpretação de todo tipo de linguagem da Escritura,
como para o reto entendimento e interpretação de toda linguagem ou documento de uso na vida
ordinária.
Anotações:
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INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
CONCLUSÃOCONCLUSÃO
A. A Tarefa do Ministro (do Obreiro, do Cristão em geral)
A tarefa do ministro, no que se relaciona com o conteúdo deste texto, é dupla: (1) ele tem
de ser ministro da Palavra de Deus, e (2) deve ministrar a Palavra de Deus com exatidão. Dou minha
aprovação às palavras de Ramm:
O pregador é um ministro da Palavra de Deus. . . . Sua tarefa fundamental na pregação
não é ser inteligente ou didático, solene ou profundo, mas ministrar a verdade de Deus. Os apóstolos
foram chamados ministros da palavra (Lucas 1:2). Os apóstolos foram ordenados como testemunhas
de Jesus Cristo (Atos 1:8). A tarefa deles era pregar o que tinham ouvido e visto com referência à
vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. O presbítero (pastor) deve afadigar-se na palavra e no
ensino (1 Timóteo 5:17). O que Timóteo deve transmitir a outros é. . . a verdade do Cristianismo que
ele ouviu de muitos cristãos (2 Timóteo 2:2).
Paulo instrui a Timóteo “... a pregar a palavra" (2 Timóteo 4:2. Grego: Kerukson ton
logon). Pedro diz ser presbítero em virtude de haver testemunhado os sofrimentos de nosso Senhor
(1 Pedro 5:1).
O servo de Cristo do Novo Testamento não era livre para pregar conforme lhe
aprouvesse, mas era obrigado a pregar a verdade do Cristianismo, pregar a palavra de Deus, e ser
testemunha do evangelho.
O servo de Cristo deve fazer mais do que pregar a Palavra. É possível ser fervoroso,
eloquente e ter excelente conhecimento das Escrituras e, não obstante, pregá-la com inexatidão ou
ficar aquém de sua plena verdade (e.g., ApoIo em Atos 18:24-28). Paulo ordena a Timóteo: "Procura
apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem
a palavra da verdade" (2 Timóteo 2:15). Um obreiro se sentiria envergonhado se descobrisse
incompetência ou desleixo em seu trabalho. Paulo diz a Timóteo que o modo de não se envergonhar
e de ser aprovado diante de Deus é manejar bem a Palavra da verdade. Por conseguinte, a dupla
tarefa do pastor, conforme definida no versículo acima, é (1) pregar a Palavra de Deus, e (2)
interpretá-la com exatidão.
A interpretação e o ponto fundamental na vida da Igreja....faça isto com temor e
reverencia na presença de Deus...
Deus-lhes abençoe no termino do estudo desta apostila.>.
FATAD Prof. Jales Barbosa 95
INTRODUÇÃO A HERMENÊUTICA
BIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Antônio - Manual de Hermenêutica Sagrada - CEP/IPB/1985.
BERKHOF, Louis - Princípios de Interpretação Bíblica - Juerp/1994.
CROATO, J. Severino - Hermenêutica Bíblica - EP/1985
FEE, Gordon D. & STUART, Douglas - Entendes O Que Lês? - Vida Nova/1989.
HENRICHSEN, Walter A. - Princípios de Interpretação da Bíblia. Mundo Cristão/1995.
LUND, E./Nelson P. C. - Hermenêutica - Vida/1981.
PAULA, Oséas Macedo de - Anotações De Hermenêutica Sagrada- 1992.
SOBRINHO, Antonieto Grangeiro - Hermenêutica Bíblica - CPAD/1981
FATAD Prof. Jales Barbosa 96
	INTRODUÇÃO
	I. A HERMENÊUTICA
	II. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS ENTRE OS JUDEUS
	A. Definição da História da Hermenêutica
	B. Princípios de Interpretação entre os Judeus
	1. Judeus Palestinos.
	2. Judeus Alexandrinos
	3. Os Caraítas
	4. Os Cabalistas
	5. Os Judeus Espanhóis
	II. História dos Princípios Hermenêuticos na Igreja Cristã
	A. O Período Patrístico
	1. Escola de Alexandria.
	Exegese Patrística (100-600 D.C)
	Clemente de Alexandria (150-DC – 215 DC)
	Orígenes (185? - 254?)
	Agostinho (354-430)
	2. A Escola de Antioquia
	B. O Período da Idade Média
	C. O Período da Reforma
	Lutero (1483-1546)
	Calvino (1509-1564)
	D. O Período do Confessionalismo
	1. Os Socinianos
	2. Coccejus
	3. Os Pietistas
	E. O Período Histórico - Crítico
	1. A Escola Gramatical
	2. A Escola Histórica
	3. Tendências Resultantes
	4. Tentativas de ir além do sentido Gramático-Histórico
	III. CONCEPÇÃO PRÓPRIA DA BÍBLIA – OBJETO DA HERMENÊUTICA SACRA
	A. A Inspiração Da Bíblia
	IV. A UNIDADE E DIVERSIDADE DA BÍBLIA
	A. Os livros da Bíblia
	B. Diversidade Bíblica
	1. A Distinção entre o Velho e o Novo Testamento
	2. A Distinção entre os vários Livros da Bíblia.
	3. A Distinção entre as formas fundamentais da Revelação de Deus.
	C. A Unidade do Sentido da Escritura
	D. O Estilo da Escritura
	1. Características Gerais
	E. Ponto de vista exegético do intérprete
	VI. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL
	A. Significado das palavras isoladas
	B. O significado das palavras no seu contexto – “usus louendi”
	C. Ajudas internas para explicação das palavras
	D. O uso figurado de palavras
	E. A interpretação do pensamento
	F. O curso do pensamento de um texto completo.
	1. As parábolas merecem especial atenção.
	2. Representação figurativa da parábola.
	3. A tertium comparationis.
	G. Auxílios internos para a interpretação do pensamento.
	1. O propósito especial do Autor
	2. A conexão.
	3. Paralelismo pode ajudar na interpretação do pensamento.
	4. O uso correto dos comentários
	VII. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
	A. Definição e Explicação
	B. Características Pessoais do Autor.
	1. Quem é o autor?
	2. Quem é que fala?
	3. As Circunstâncias Sociais do Autor
	4. Ouvintes e Leitores Originais.
	5. O Propósito do Autor.
	C. Elementos para a Interpretação Histórica
	1. Internos
	2.Externos
	VIII. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA
	1. Designação
	2. A Bíblia como um todo
	3. A significação dos diferentes livros da Bíblia no Organismo da Escritura.
	4. A Interpretação Tipológica e Simbólica da Escritura.
	5. Interpretação de Profecias
	6. A Interpretacão dos Salmos
	7. O Sentido Implícito da Escritura
	8. Elementos para a Interpretação Teológica
	IX. APLICAÇÃO DA MENSAGEM BÍBLICA
	A. Uma proposta para o problema transcultural
	1. Dedução de Princípios: Uma Alternativa para a Alegorização de Narrativas Biblicas
	2. Significado ou sentido das ações (Análise histórico-cultural)
	3. Diretrizes para a Dedução de Princípios:
	4. Tradução de Mandamentos Bíblicos de uma Cultura para Outra:
	X. REPETIÇÕES E OBSERVAÇÕES
	CONCLUSÃO
	A. A Tarefa do Ministro (do Obreiro, do Cristão em geral)
	BIBLIOGRAFIA

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