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DIREITO DO TRABALHO Módulo: JORNADA DE TRABALHO TEMA 02 – MODALIDADES DE COMPENSAÇÃO DA JORNADA A partir do momento em que o empregado trabalha fora de seu limite diário de trabalho (jornada de trabalho), o empregador tem duas formas de compensar essa extrapolação de jornada: (1) pagamento das horas extras; ou (2) compensação dessas horas com folgas. Sobre esse segundo ponto, o ordenamento jurídico brasileiro traz algumas modalidades através das quais essa compensação pode acontecer (banco de horas e regime de compensação). BANCO DE HORAS O banco de horas é a forma mais tradicional e geralmente utilizada quando há sobrejornada. Nada mais é do que “uma espécie de estoque de horas extras para fins de compensação futura” (RESENDE, 2020, p. 460). No decorrer da prestação dos serviços, o empregado pode ir acumulando horas extras para, no futuro, serem compensadas com folgas respectivas. Sua previsão está no art. 59, §2º, da CLT: Art. 59. [...] § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. Interpretar este dispositivo merece bastante atenção. Primeiramente, o que autoriza a instituição de um banco de horas para realizar as compensações de jornada? Para que o banco de horas seja válido, precisa ser previsto em “acordo ou convenção coletiva”, conforme dispositivo acima. Esse acordo seria o mero acordo individual? Não. Na verdade, o TST não adota esta tese de que bastaria acordo individual. Para o tribunal, o banco de horas ao qual se refere o art. 59, §2º, da CLT é aquele previsto em acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho. Portanto, o referido dispositivo celetista prevê a necessidade destes dois instrumentos coletivos de negociação para efetivamente ser permitido o banco de horas para compensações no período máximo de 01 ano. Também é importante notar que o banco de horas não pode ser usado de forma abusiva. O fato de se permitir que o empregado trabalhe além de sua jornada de 08 horas diárias para eventual compensação com folga no futuro exime o empregador de pagar horas extras. Porém, isso não significa que a CLT permita a utilização do instituto do banco de horas para exigir que o empregado labore 11, 12, 13 horas sem que isso se constitua em ônus financeiro ao empregador. Do ponto de vista empresarial, quanto maior flexibilidade em compensação de jornada, melhor. Aliás, até rende críticas na doutrina sobre seu uso nas relações de trabalho. Veja-se, por exemplo, o posicionamento de Martinez: O banco de horas não é propriamente um sistema de compensação nem de prorrogação. Ele, na verdade, é um instituto singular que cumula o que de pior existe em ambos os sistemas. Por meio dele se cumula a exigibilidade de prestação de horas suplementares sem prévio aviso e sem qualquer pagamento com a imprevisibilidade dos instantes de concessão das folgas compensatórias (2022, p. 282). Contudo, a saúde e a liberdade do trabalhador precisam entrar em cena para que haja um equilíbrio entre o valor social do trabalho e a livre iniciativa. Por isso, o art. 59, §2º, da CLT, diz “nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias”. Significa que só entrarão no banco de horas, para fins de compensação, as horas extraordinárias que estejam dentro do limite de 10 horas diárias naquele dia. Assim, se o empregado tiver uma jornada de 08 horas diárias e trabalhar mais 02 horas como extras, estas 02 horas poderão entrar no banco de horas para serem compensadas em até 01 ano. Outro caso seria se este mesmo empregado trabalhasse 11 horas, pois apenas 02 horas entrariam no banco de horas enquanto aquela 01 hora a mais seria, obrigatoriamente, paga como hora extra pelo empregador. Assim, a CLT traz um limite ao empregador em respeito à saúde e liberdade do trabalhador, pois determina que as horas que ultrapassarem o limite máximo de 10 horas diárias não serão passíveis de compor o banco de horas. Também acontece a situação em que o empregado tem horas extras acumuladas no banco de horas, mas teve o contrato rescindido sem que tais horas tivessem sido compensadas com as folgas respectivas. O que acontece nesse caso? O art. 59, §3º, da CLT traz uma saída: Art. 59. [...] § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2o e 5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. Como tal banco compõe-se de horas extras, a impossibilidade de esse saldo de horas ser utilizado para futura compensação leva àquela primeira alternativa citada: pagamento como hora extra. Por isso, o §3º citado acima diz: “o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas”. Então, há três possibilidades que fazem com que as horas “estocadas” no banco de horas serem pagas como extras, que são bem resumidas por Delgado: Dessa maneira, [1] a ultrapassagem do bloco temporal máximo de um ano; ou [2] a não correspondente redução da jornada dentro do respectivo bloco temporal (mesmo que em virtude da extinção do contrato); ou, até mesmo, [3] a ausência de instrumento coletivo autorizador desse sistema compensatório desfavorável (com a ressalva do §5º do art. 59 da CLT, conforme Lei n. 13.467/2017), qualquer dessas situações de desrespeito à regularidade da figura jurídica conduzirá à automática sobrerremuneração das horas diárias em excesso, como se fossem efetivas horas extras (2019, p. 1058). Acrescente-se, ainda, que a CLT traz uma regra sobre o valor desta hora. Diz o dispositivo celetista que tais horas terão o valor da remuneração do empregado na data da rescisão, o que significa que não se deve buscar no passado quanto valia aquela hora quando a remuneração do trabalhador era menor. Até antes da Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017), o banco de horas só poderia ser previso em acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho. Inclusive, a súmula 85, V, do TST também só permitia o banco de horas por previsão em negociação coletiva. No entanto, a reforma incluiu na CLT uma nova modalidade de banco de horas, desta vez constituído por simples acordo individual escrito: Súmula 85, V, do TST Art. 59, §5º, da CLT V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva. § 5º O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. Diferentemente do banco de horas anteriormente tratado, a previsão do §5º acima permite por acordo individual escrito, mas com limite máximo de compensação de 06 meses. Assim, é possível fazer a seguinte comparação: O instituto do banco de horas anual, depois da referida reforma, pode se valer novas regras que não estejam previstas na lei. Acontece que, agora, existe a prevalência do negociado sobre o legislado. Assim, é possível que o banco de horas pactuado por negociação coletiva tenha disposições diferentes das regras que o art. 59, §2º, da CLT já dispõem. Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: [...] II - banco de horas anual; Segundo o art. 611-A, II, da CLT, o banco de horas anual pode ser modificado pelo instrumento coletivo com prevalência às regras que a CLT dedica. Contudo,no que se refere ao banco de horas semestral, aquele constituível por acordo individual escrito, ele não está entre as hipóteses exemplificadas pelo art. 611-A da CLT. Isso não significa que seja proibido, mas apenas que fugiu ao rol exemplificativo que a reforma trouxe. Sabendo que a negociação coletiva pode prevalecer sobre a lei no caso de banco de horas anual, é possível, por exemplo, que as horas superiores ao limite máximo de 10 horas diárias possam ser incluídas no saldo do banco de horas. Outra possibilidade seria a pactuação de uma negociação coletiva mais benéfica ao empregado, a qual poderia trazer um limite de horas diárias menor que aquele previsto no art. 59, §2º, da CLT. REGIME DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA O regime de compensação de jornada não se confunde com o banco de horas. São institutos parecidos, mas com regramentos e limites distintos. O banco de horas, como visto, pode ser constituído para compensação anual ou semestral. No caso dos regimes de compensação de jornada, o tempo máximo para compensação já é mais reduzido. O regime de compensação é aquele em a compensação se dá intrassemanal, pois a hora extraordinária prestada em um dia é compensada dentro da mesma semana em que elas foram feitas; ou aquele em que a compensação se dá intersemanal e dentro do mesmo mês, pois a hora extraordinária prestada em uma semana pode ser compensada em outra semana, mas antes de fechar o mês. Na CLT, é possível encontrar o instituto da compensação intersemanal a partir da interpretação do art. 59, §6º, que foi incluído pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017), que não exige acordo coletivo nem convenção coletiva para realizar a compensação de jornada: Art. 59. [...] § 6o É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. A compensação intersemanal depende apenas de acordo individual, que pode ser tácito ou escrito. Então, pode derivar do dia a dia de trabalho, sem estar expresso em lugar nenhum, ou pode estar previsto em acordo escrito entre empregado e empregador. Também é chamada de “semana espanhola”, mediante a qual é alternada, de forma sucessiva, a prestação de 48 horas em uma semana por 40 horas na semana seguinte (MARTINEZ, 2022, p. 278). DIAS DA SEMANA 01 Segunda- feira Terça- feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta- feira Sábado Domingo Horas trabalhadas 08 08 08 08 08 08 Descanso semanal remunerado Total de horas 48 horas trabalhadas na semana DIAS DA SEMANA 02 Segunda- feira Terça- feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta- feira Sábado Domingo Horas trabalhadas 08 08 08 08 08 Compensação intersemanal Descanso semanal remunerado Total de horas trabalhadas na semana 40 horas A conhecida “semana espanhola” já ganhou reconhecimento do TST a partir do enunciado da OJ 323 da SDI-1, que confere validade ao instituto: OJ 323, SDI-1, TST. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. "SEMANA ESPANHOLA". VALIDADE(DJ 09.12.2003) É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada adotada é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/88 o seu ajuste mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. A compensação intrassemanal também é chamada de “semana inglesa”. É o caso daqueles empregados que saem 01 hora mais tarde de segunda a quinta, saem no horário normal na sexta e compensam essas horas prestadas a mais no sábado. Assim, não trabalham sábado (dia de trabalho compensado) nem domingo (repouso semanal remunerado). DIAS DA SEMANA Segunda- feira Terça- feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta- feira Sábado Domingo Horas trabalhadas 08 + 01 08 + 01 08 + 01 08 + 01 08 Compensação intrassemanal Descanso semanal remunerado Total de horas 44 horas trabalhadas na semana Além disso, como a “semana inglesa” é mais benéfica ao empregado e mais simples de ser feita, a jurisprudência brasileira aplica as mesmas regras dedicadas à compensação intersemanal. Afinal, o que poderia ser compensado em qualquer outra semana dentro do mesmo mês já poderia ser compensado dentro da exata semana em que foram realizadas as horas extraordinárias. Martinez faz uma observação importante, a qual merece ser destacada aqui. Conforme os quadros acima, foi visto que o sábado costuma ser o dia em que as horas extras prestadas na semana são compensadas com folga. Contudo, o que acontece quando esse sábado de folga coincidir com um feriado? É um problema que pode acontecer, porque, afinal de contas, sendo dia de feriado, o empregado já teria que folgar naquele de toda forma. Anote-se, com o objetivo de dar completude a essa análise, que a compensação realizada tanto na semana inglesa quanto na espanhola pressupõe que o sábado seja um dia útil trabalhado. Faz-se essa observação porque podem ocorrer situações em que um feriado recaía justamente no sábado destinado à compensação. Em tal situação, as horas correspondentes ao sábado — e acrescidas no curso da semana ou no sábado seguinte — deverão ser pagas de forma dobrada, pois, em rigor, são horas extraídas de dias destinados ao descanso (MARTINEZ, 2022, p. 278). DESCUMPRIMENTO DO BANCO DE HORAS OU DO REGIME DE COMPENSAÇÃO O que acontece se não forem respeitados os requisitos do banco de horas ou do regime de compensação de jornadas? A Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017) incluiu o art. 59-B na CLT, trazendo uma orientação do que ocorre em caso de não atendimento das exigências legais no que se refere às modalidades de compensação de horário: Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária se não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de horas. Esse dispositivo da CLT permite que as horas extras trabalhadas e compensadas na mesma semana, mesmo quando não acordado conforme as exigências legais, não sejam pagas repetidamente. Por exemplo, se não houver acordo tácito ou escrito para o estabelecimento do banco de horas semestral, as horas extras trabalhadas não precisarão ser pagas repetidamente se o empregador permitir a compensação na mesma semana. Nesse caso, o art. 59-B da CLT exige apenas que se pague o adicional respectivo. Então, se o empregado laborar na quinta-feira com 02 horas extraordinárias, ele poderá compensar na sexta-feira mesmo sem instrumento de banco de horas ou outra modalidade de compensação instituídos, de forma que não serão pagas novamente estas 02 horas. Segundo Resende, trata-se de uma solução que evita o enriquecimento sem causa do trabalhador (2020, p. 463). Contudo, Martinez discorda da opção do legislador, pois, para ele, devia ser invalidado o ajuste e realizado o pagamento das horas extras como se não tivessem sido compensadas: O ideal – que não corresponde no caso com o real –, porém, seria a invalidação de todo o ajuste e o restabelecimento do sistema comum de pagamento de horas suplementares, como se jamais tivesse existido qualquer acordo de compensação de horários, mas isso não é previsto na norma legal (MARTINEZ, 2022, p. 279). Porém, apesar de a opção legislativa não estabelecer o pagamento repetitivo, exige-se apenas que seja acrescentado no contracheque deste empregado o adicional de 50% sobre estas horas. É como se fosse uma “sanção” imposta pela CLT quando a modalidade de compensação não for constituída segundoa lei determina. Porém, veja- se que, neste exemplo, a compensação realizada foi intrassemanal, mesmo que sem instrumento de acordo constituído para tanto. Por outro lado, mudando o exemplo para uma compensação intersemanal, se esse mesmo empregado compensar 02 horas extras apenas na semana seguinte, o empregador terá que pagar as 02 horas + 50% de adicional em cada, mesmo que o trabalhador tenha descansado na compensação. Nesse caso do caput do art. 59-B, da CLT, houve uma compatibilidade com a súmula 85, III, do TST: Súmula 85, III, do TST Art. 59-B, caput, da CLT III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. Porém, o mesmo não aconteceu com o parágrafo único do art. 59-B da CLT, ocorrendo neste caso uma incompatibilidade. Este dispositivo foi uma inclusão feita pela reforma para afastar o entendimento jurisprudencial da súmula 85, IV, do TST, que descaracterizava os acordos de compensação de jornada quando havia na prática uma prestação de horas extras habituais: Súmula 85, IV, do TST Art. 59-B, parágrafo único, da CLT IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de horas. Pode-se perceber que, com a inclusão do art. 59-B, parágrafo único, na CLT, afasta-se a orientação tradicional do TST, que mandava pagar repetidamente a hora extra prestada e descansada quando o labor extraordinário fosse habitual, mesmo quando o acordo de compensação fosse constituído validamente. JORNADA DE 12x36 A jornada de 12x36 é aquela em que o empregado trabalha 12 horas e realiza uma folga de 36 horas até que possa voltar a exercer o labor, também chamada de “jornada de plantão” Nesse caso, o empregado está trabalhando mais horas em determinado dia, mas tem um intervalo interjornada maior em seguida para compensar. No final, as horas trabalhas no mês respeitam o limite de 220 horas: A jornada de plantão 12 x 36, considerada a duração mensal do labor e já incluído, em seu sistema o descanso semanal remunerado, respeita, conforme visto, o montante de 220 horas decorrente do art. 7º, XIII, da Constituição, ao passo que, no plano semanal, alterna um módulo mais amplo seguido por outro mais reduzido do que 44 horas, realizando a respectiva compensação. Por isso tem sido considerada, pela jurisprudência, compatível com o Texto Magno (art. 7º, XIII) (DELGADO, 2019, p. 1077). Antes da Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017), a súmula 444 do TST só permita a constituição deste regime especial por instrumento de negociação coletiva ou lei. Contudo, com a inclusão do art. 59-A, caput, na CLT pela reforma, a referida orientação do TST agora se encontra defasada, pois agora é permitida a constituição do regime 12x36 por acordo individual escrito: Súmula 444 do TST Art. 59-A, caput, da CLT Súmula nº 444 do TST JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 - republicada em decorrência do despacho proferido no processo TST- PA-504.280/2012.2 - DEJT divulgado em 26.11.2012 É válida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas. Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por trinta e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação. A leitura do art. 59-A, caput, da CLT permite perceber outra mudança importante: os intervalos para repouso e alimentação podem ser concedidos em algum momento da jornada de 12 horas ou indenizados. Caso sejam indenizados, haverá o pagamento no próximo contracheque de todos os intervalos que não foram observados nas escalas do empregado, que serão pagos como indenização. Portanto, é possível que o trabalhador preste serviço por 12 horas ininterruptas sem parar para repouso e alimentação. É comum encontrar dúvidas sobre o que acontece quando a escala do empregado cai em domingo ou feriado. Se o trabalhador prestar serviços nesses dias, receberá o pagamento em dobro? Desde logo, pode-se adiantar a resposta: não. Porém, é preciso saber que existe uma mudança após a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei 13.467/2017). Antes da sua vigência, já se sabia que o trabalho em domingos não gerava pagamentos em dobro. Então, este não é o ponto de divergência aqui. Já se entendia desse jeito porque, quando o trabalhador presta serviço no domingo, ele já compensava com as horas de descanso no dia seguinte. Porém, a novidade vem com relação ao feriado, pois o TST orientava na súmula 444 que ele deveria ser pago em dobro. Agora, a partir da reforma, os dias de trabalho em feriado também deixam de ser pagos em dobro: Art. 59-A. [...] Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto no caput deste artigo abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso em feriados, e serão considerados compensados os feriados e as prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta Consolidação. No final deste dispositivo, tem um ponto importante para os empregados em regime de 12x36 que acabam entrando no turno do período noturno. Por exemplo, um empregado urbano poderia entrar na empresa às 20:00 horas da noite e sair apenas às 08:00 horas da manhã. Nesse caso, como trabalhou no período noturno, poderia receber o adicional noturno. Se fosse um empregado comum, fora do regime 12x36, esse adicional noturno continuaria a ser pago nas prorrogações de horário noturno, o que significa que, a partir das 05:00 horas da manhã, o sujeito continuaria a receber o adicional noturno até sair do trabalho. Porém, pelo fato de o art. 59, parágrafo único, da CLT prescrever “serão considerados compensados os feriados e as prorrogações noturnas”, o trabalhador no regime de 12x36 não receberá adicional noturno naquelas horas que ultrapassarem o período noturno, ou seja, não receberá este adicional nas horas após às 05:00 horas da manhã do dia seguinte. Em atividades insalubres, sabe-se que quaisquer prorrogações de horário precisam de licença prévia do Ministério do Trabalho, conforme art. 60 da CLT. Contudo, no que diz respeito às jornadas 12x36 nessas atividades, sua constituição não precisará de tal licença, segundo o art. 60, parágrafo único, da CLT: Art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicinado Trabalho", ou que neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim. Parágrafo único. Excetuam-se da exigência de licença prévia as jornadas de doze horas de trabalho por trinta e seis horas ininterruptas de descanso. Em resumo, comparando-se as novas regras introduzidas pela reforma e a súmula 444 do TST, DELGADO identifica três gravames: A Lei da Reforma Trabalhista inseriu na CLT a jornada de plantão 12 x 36 horas (art. 59-B, caput e parágrafo único). Entretanto, agregou três regras mais gravosas em comparação com o disposto na Súmula n. 444 do TST. De um lado, [1] permitiu que o simples acordo individual escrito (ao invés de a negociação coletiva ou a lei), autorizasse tal tipo de jornada. De outro lado, [2] considerou compensados não apenas os dias de descanso semanal (corretamente, conforme visto), mas também os feriados trabalhados, bem como as prorrogações de trabalho noturno, quando houver (parágrafo único do art. 59-B, CLT). Por fim, [3] declarou dispensada, nas atividades insalubres, a exigência de licença prévia das “autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho”, relativamente às jornadas 12 x 36 horas, embora estas provoquem, evidentemente, significativa prorrogação do trabalho normal nos dias de prestação do plantão (novo parágrafo único do art. 60 c./c. caput do mesmo preceito da Consolidação) (DELGADO, 2019, p. 1078). Legislação CLT, Art. 59. [...] § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2o e 5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. [...] § 5º O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. § 6o É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. CLT, Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por trinta e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação. Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto no caput deste artigo abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso em feriados, e serão considerados compensados os feriados e as prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta Consolidação. CLT, Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária se não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de horas. CLT, Art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicina do Trabalho", ou que neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim. Parágrafo único. Excetuam-se da exigência de licença prévia as jornadas de doze horas de trabalho por trinta e seis horas ininterruptas de descanso. CLT, Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: [...] II - banco de horas anual; Jurisprudência Súmula nº 85 do TST COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016 [...] III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva. Súmula nº 444 do TST JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 - republicada em decorrência do despacho proferido no processo TST-PA-504.280/2012.2 - DEJT divulgado em 26.11.2012 É válida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas. OJ 323, SDI-1, TST. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. "SEMANA ESPANHOLA". VALIDADE(DJ 09.12.2003) É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada adotada é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/88 o seu ajuste mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Bibliografia DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 13. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022. RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.
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