Buscar

Do_E_book_Tema_02

Prévia do material em texto

DIREITO DO TRABALHO 
Módulo: 
JORNADA DE TRABALHO 
 
TEMA 02 – MODALIDADES DE 
COMPENSAÇÃO DA JORNADA 
 
 
A partir do momento em que o empregado trabalha fora de seu limite diário de 
trabalho (jornada de trabalho), o empregador tem duas formas de compensar essa 
extrapolação de jornada: (1) pagamento das horas extras; ou (2) compensação dessas 
horas com folgas. Sobre esse segundo ponto, o ordenamento jurídico brasileiro traz 
algumas modalidades através das quais essa compensação pode acontecer (banco de 
horas e regime de compensação). 
 
BANCO DE HORAS 
O banco de horas é a forma mais tradicional e geralmente utilizada quando há 
sobrejornada. Nada mais é do que “uma espécie de estoque de horas extras para fins 
de compensação futura” (RESENDE, 2020, p. 460). No decorrer da prestação dos 
serviços, o empregado pode ir acumulando horas extras para, no futuro, serem 
compensadas com folgas respectivas. 
Sua previsão está no art. 59, §2º, da CLT: 
Art. 59. [...] 
§ 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de 
acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um 
dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de 
maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das 
jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite 
máximo de dez horas diárias. 
 
Interpretar este dispositivo merece bastante atenção. Primeiramente, o que 
autoriza a instituição de um banco de horas para realizar as compensações de jornada? 
Para que o banco de horas seja válido, precisa ser previsto em “acordo ou convenção 
coletiva”, conforme dispositivo acima. 
 
 
 
 
 
 
Esse acordo seria o mero acordo individual? Não. Na verdade, o TST não adota 
esta tese de que bastaria acordo individual. Para o tribunal, o banco de horas ao qual 
se refere o art. 59, §2º, da CLT é aquele previsto em acordo coletivo de trabalho ou 
convenção coletiva de trabalho. Portanto, o referido dispositivo celetista prevê a 
necessidade destes dois instrumentos coletivos de negociação para efetivamente ser 
permitido o banco de horas para compensações no período máximo de 01 ano. 
Também é importante notar que o banco de horas não pode ser usado de forma 
abusiva. O fato de se permitir que o empregado trabalhe além de sua jornada de 08 
horas diárias para eventual compensação com folga no futuro exime o empregador de 
pagar horas extras. Porém, isso não significa que a CLT permita a utilização do instituto 
do banco de horas para exigir que o empregado labore 11, 12, 13 horas sem que isso 
se constitua em ônus financeiro ao empregador. 
Do ponto de vista empresarial, quanto maior flexibilidade em compensação de 
jornada, melhor. Aliás, até rende críticas na doutrina sobre seu uso nas relações de 
trabalho. Veja-se, por exemplo, o posicionamento de Martinez: 
O banco de horas não é propriamente um sistema de compensação nem 
de prorrogação. Ele, na verdade, é um instituto singular que cumula o 
que de pior existe em ambos os sistemas. Por meio dele se cumula a 
exigibilidade de prestação de horas suplementares sem prévio aviso e 
sem qualquer pagamento com a imprevisibilidade dos instantes de 
concessão das folgas compensatórias (2022, p. 282). 
 
Contudo, a saúde e a liberdade do trabalhador precisam entrar em cena para 
que haja um equilíbrio entre o valor social do trabalho e a livre iniciativa. Por isso, o art. 
59, §2º, da CLT, diz “nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias”. 
Significa que só entrarão no banco de horas, para fins de compensação, as horas 
extraordinárias que estejam dentro do limite de 10 horas diárias naquele dia. 
Assim, se o empregado tiver uma jornada de 08 horas diárias e trabalhar mais 02 horas 
como extras, estas 02 horas poderão entrar no banco de horas para serem 
compensadas em até 01 ano. Outro caso seria se este mesmo empregado trabalhasse 
11 horas, pois apenas 02 horas entrariam no banco de horas enquanto aquela 01 hora 
a mais seria, obrigatoriamente, paga como hora extra pelo empregador. Assim, a CLT 
traz um limite ao empregador em respeito à saúde e liberdade do trabalhador, pois 
determina que as horas que ultrapassarem o limite máximo de 10 horas diárias não 
serão passíveis de compor o banco de horas. 
 
 
 
 
 
 
Também acontece a situação em que o empregado tem horas extras 
acumuladas no banco de horas, mas teve o contrato rescindido sem que tais horas 
tivessem sido compensadas com as folgas respectivas. O que acontece nesse caso? O 
art. 59, §3º, da CLT traz uma saída: 
Art. 59. [...] 
§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha 
havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos 
§§ 2o e 5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das 
horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da 
remuneração na data da rescisão. 
 
Como tal banco compõe-se de horas extras, a impossibilidade de esse saldo de 
horas ser utilizado para futura compensação leva àquela primeira alternativa citada: 
pagamento como hora extra. Por isso, o §3º citado acima diz: “o trabalhador terá 
direito ao pagamento das horas extras não compensadas”. 
Então, há três possibilidades que fazem com que as horas “estocadas” no banco 
de horas serem pagas como extras, que são bem resumidas por Delgado: 
Dessa maneira, [1] a ultrapassagem do bloco temporal máximo de um 
ano; ou [2] a não correspondente redução da jornada dentro do 
respectivo bloco temporal (mesmo que em virtude da extinção do 
contrato); ou, até mesmo, [3] a ausência de instrumento coletivo 
autorizador desse sistema compensatório desfavorável (com a ressalva 
do §5º do art. 59 da CLT, conforme Lei n. 13.467/2017), qualquer dessas 
situações de desrespeito à regularidade da figura jurídica conduzirá à 
automática sobrerremuneração das horas diárias em excesso, como se 
fossem efetivas horas extras (2019, p. 1058). 
 
Acrescente-se, ainda, que a CLT traz uma regra sobre o valor desta hora. Diz o 
dispositivo celetista que tais horas terão o valor da remuneração do empregado na 
data da rescisão, o que significa que não se deve buscar no passado quanto valia 
aquela hora quando a remuneração do trabalhador era menor. 
Até antes da Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017), o banco de 
horas só poderia ser previso em acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho. 
 
 
 
 
Inclusive, a súmula 85, V, do TST também só permitia o banco de horas por previsão 
em negociação coletiva. No entanto, a reforma incluiu na CLT uma nova modalidade de 
banco de horas, desta vez constituído por simples acordo individual escrito: 
Súmula 85, V, do TST Art. 59, §5º, da CLT 
V. As disposições contidas nesta súmula 
não se aplicam ao regime 
compensatório na modalidade “banco de 
horas”, que somente pode ser instituído 
por negociação coletiva. 
§ 5º O banco de horas de que trata o § 
2o deste artigo poderá ser pactuado por 
acordo individual escrito, desde que a 
compensação ocorra no período máximo 
de seis meses. 
 
Diferentemente do banco de horas anteriormente tratado, a previsão do §5º 
acima permite por acordo individual escrito, mas com limite máximo de compensação 
de 06 meses. Assim, é possível fazer a seguinte comparação: 
 
 
O instituto do banco de horas anual, depois da referida reforma, pode se valer 
novas regras que não estejam previstas na lei. Acontece que, agora, existe a 
prevalência do negociado sobre o legislado. Assim, é possível que o banco de horas 
pactuado por negociação coletiva tenha disposições diferentes das regras que o art. 59, 
§2º, da CLT já dispõem. 
Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm 
prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: 
[...] 
II - banco de horas anual; 
 
Segundo o art. 611-A, II, da CLT, o banco de horas anual pode ser modificado 
pelo instrumento coletivo com prevalência às regras que a CLT dedica. Contudo,no que 
se refere ao banco de horas semestral, aquele constituível por acordo individual escrito, 
ele não está entre as hipóteses exemplificadas pelo art. 611-A da CLT. Isso não significa 
que seja proibido, mas apenas que fugiu ao rol exemplificativo que a reforma trouxe. 
Sabendo que a negociação coletiva pode prevalecer sobre a lei no caso de 
banco de horas anual, é possível, por exemplo, que as horas superiores ao limite 
máximo de 10 horas diárias possam ser incluídas no saldo do banco de horas. Outra 
possibilidade seria a pactuação de uma negociação coletiva mais benéfica ao 
 
 
 
 
empregado, a qual poderia trazer um limite de horas diárias menor que aquele previsto 
no art. 59, §2º, da CLT. 
 
REGIME DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA 
O regime de compensação de jornada não se confunde com o banco de horas. 
São institutos parecidos, mas com regramentos e limites distintos. O banco de horas, 
como visto, pode ser constituído para compensação anual ou semestral. No caso dos 
regimes de compensação de jornada, o tempo máximo para compensação já é mais 
reduzido. 
O regime de compensação é aquele em a compensação se dá intrassemanal, 
pois a hora extraordinária prestada em um dia é compensada dentro da mesma semana 
em que elas foram feitas; ou aquele em que a compensação se dá intersemanal e 
dentro do mesmo mês, pois a hora extraordinária prestada em uma semana pode ser 
compensada em outra semana, mas antes de fechar o mês. 
Na CLT, é possível encontrar o instituto da compensação intersemanal a partir 
da interpretação do art. 59, §6º, que foi incluído pela Reforma Trabalhista (Lei nº 
13.467/2017), que não exige acordo coletivo nem convenção coletiva para realizar a 
compensação de jornada: 
Art. 59. [...] 
§ 6o É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por 
acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. 
 
A compensação intersemanal depende apenas de acordo individual, que pode 
ser tácito ou escrito. Então, pode derivar do dia a dia de trabalho, sem estar expresso 
em lugar nenhum, ou pode estar previsto em acordo escrito entre empregado e 
empregador. Também é chamada de “semana espanhola”, mediante a qual é 
alternada, de forma sucessiva, a prestação de 48 horas em uma semana por 40 horas 
na semana seguinte (MARTINEZ, 2022, p. 278). 
DIAS DA SEMANA 01 
 
Segunda-
feira 
Terça-
feira 
Quarta-
feira 
Quinta-
feira 
Sexta-
feira 
Sábado Domingo 
Horas 
trabalhadas 
08 08 08 08 08 08 
Descanso 
semanal 
remunerado 
Total de 
horas 
48 horas 
 
 
 
 
trabalhadas 
na semana 
 
DIAS DA SEMANA 02 
 
Segunda-
feira 
Terça-
feira 
Quarta-
feira 
Quinta-
feira 
Sexta-
feira 
Sábado Domingo 
Horas 
trabalhadas 
08 08 08 08 08 
Compensação 
intersemanal 
Descanso 
semanal 
remunerado 
Total de 
horas 
trabalhadas 
na semana 
40 horas 
 
A conhecida “semana espanhola” já ganhou reconhecimento do TST a partir do 
enunciado da OJ 323 da SDI-1, que confere validade ao instituto: 
OJ 323, SDI-1, TST. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. 
"SEMANA ESPANHOLA". VALIDADE(DJ 09.12.2003) 
É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada 
adotada é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação 
de 48 horas em uma semana e 40 horas em outra, não violando os arts. 
59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/88 o seu ajuste mediante acordo ou 
convenção coletiva de trabalho. 
 
A compensação intrassemanal também é chamada de “semana inglesa”. É o 
caso daqueles empregados que saem 01 hora mais tarde de segunda a quinta, saem 
no horário normal na sexta e compensam essas horas prestadas a mais no sábado. 
Assim, não trabalham sábado (dia de trabalho compensado) nem domingo (repouso 
semanal remunerado). 
DIAS DA SEMANA 
 
Segunda-
feira 
Terça-
feira 
Quarta-
feira 
Quinta-
feira 
Sexta-
feira 
Sábado Domingo 
Horas 
trabalhadas 
08 + 01 08 + 01 08 + 01 08 + 01 08 
Compensação 
intrassemanal 
Descanso 
semanal 
remunerado 
Total de 
horas 
44 horas 
 
 
 
 
trabalhadas 
na semana 
 
Além disso, como a “semana inglesa” é mais benéfica ao empregado e mais 
simples de ser feita, a jurisprudência brasileira aplica as mesmas regras dedicadas à 
compensação intersemanal. Afinal, o que poderia ser compensado em qualquer outra 
semana dentro do mesmo mês já poderia ser compensado dentro da exata semana em 
que foram realizadas as horas extraordinárias. 
Martinez faz uma observação importante, a qual merece ser destacada aqui. 
Conforme os quadros acima, foi visto que o sábado costuma ser o dia em que as horas 
extras prestadas na semana são compensadas com folga. Contudo, o que acontece 
quando esse sábado de folga coincidir com um feriado? É um problema que pode 
acontecer, porque, afinal de contas, sendo dia de feriado, o empregado já teria que 
folgar naquele de toda forma. 
Anote-se, com o objetivo de dar completude a essa análise, que a 
compensação realizada tanto na semana inglesa quanto na espanhola 
pressupõe que o sábado seja um dia útil trabalhado. Faz-se essa 
observação porque podem ocorrer situações em que um feriado recaía 
justamente no sábado destinado à compensação. Em tal situação, as 
horas correspondentes ao sábado — e acrescidas no curso da semana 
ou no sábado seguinte — deverão ser pagas de forma dobrada, pois, 
em rigor, são horas extraídas de dias destinados ao descanso 
(MARTINEZ, 2022, p. 278). 
 
 
 
DESCUMPRIMENTO DO BANCO DE HORAS OU DO REGIME DE COMPENSAÇÃO 
O que acontece se não forem respeitados os requisitos do banco de horas ou 
do regime de compensação de jornadas? 
A Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017) incluiu o art. 59-B na CLT, 
trazendo uma orientação do que ocorre em caso de não atendimento das exigências 
legais no que se refere às modalidades de compensação de horário: 
Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação 
de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não 
implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada 
normal diária se não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo 
devido apenas o respectivo adicional. 
Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não 
descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de 
horas. 
 
 
 
 
 
Esse dispositivo da CLT permite que as horas extras trabalhadas e 
compensadas na mesma semana, mesmo quando não acordado conforme as 
exigências legais, não sejam pagas repetidamente. Por exemplo, se não houver acordo 
tácito ou escrito para o estabelecimento do banco de horas semestral, as horas extras 
trabalhadas não precisarão ser pagas repetidamente se o empregador permitir a 
compensação na mesma semana. Nesse caso, o art. 59-B da CLT exige apenas que se 
pague o adicional respectivo. 
Então, se o empregado laborar na quinta-feira com 02 horas extraordinárias, ele 
poderá compensar na sexta-feira mesmo sem instrumento de banco de horas ou outra 
modalidade de compensação instituídos, de forma que não serão pagas novamente 
estas 02 horas. Segundo Resende, trata-se de uma solução que evita o enriquecimento 
sem causa do trabalhador (2020, p. 463). Contudo, Martinez discorda da opção do 
legislador, pois, para ele, devia ser invalidado o ajuste e realizado o pagamento das 
horas extras como se não tivessem sido compensadas: 
O ideal – que não corresponde no caso com o real –, porém, seria a 
invalidação de todo o ajuste e o restabelecimento do sistema comum de 
pagamento de horas suplementares, como se jamais tivesse existido 
qualquer acordo de compensação de horários, mas isso não é previsto 
na norma legal (MARTINEZ, 2022, p. 279). 
 
Porém, apesar de a opção legislativa não estabelecer o pagamento repetitivo, 
exige-se apenas que seja acrescentado no contracheque deste empregado o adicional 
de 50% sobre estas horas. É como se fosse uma “sanção” imposta pela CLT quando a 
modalidade de compensação não for constituída segundoa lei determina. Porém, veja-
se que, neste exemplo, a compensação realizada foi intrassemanal, mesmo que sem 
instrumento de acordo constituído para tanto. 
Por outro lado, mudando o exemplo para uma compensação intersemanal, se 
esse mesmo empregado compensar 02 horas extras apenas na semana seguinte, o 
empregador terá que pagar as 02 horas + 50% de adicional em cada, mesmo que o 
trabalhador tenha descansado na compensação. 
Nesse caso do caput do art. 59-B, da CLT, houve uma compatibilidade com a 
súmula 85, III, do TST: 
Súmula 85, III, do TST Art. 59-B, caput, da CLT 
III. O mero não atendimento das 
exigências legais para a compensação 
de jornada, inclusive quando encetada 
mediante acordo tácito, não implica a 
repetição do pagamento das horas 
excedentes à jornada normal diária, se 
Art. 59-B. O não atendimento das 
exigências legais para compensação de 
jornada, inclusive quando estabelecida 
mediante acordo tácito, não implica a 
repetição do pagamento das horas 
excedentes à jornada normal diária se 
 
 
 
 
não dilatada a jornada máxima semanal, 
sendo devido apenas o respectivo 
adicional. 
não ultrapassada a duração máxima 
semanal, sendo devido apenas o 
respectivo adicional. 
 
Porém, o mesmo não aconteceu com o parágrafo único do art. 59-B da CLT, 
ocorrendo neste caso uma incompatibilidade. Este dispositivo foi uma inclusão feita 
pela reforma para afastar o entendimento jurisprudencial da súmula 85, IV, do TST, que 
descaracterizava os acordos de compensação de jornada quando havia na prática uma 
prestação de horas extras habituais: 
Súmula 85, IV, do TST Art. 59-B, parágrafo único, da CLT 
IV. A prestação de horas extras 
habituais descaracteriza o acordo de 
compensação de jornada. Nesta 
hipótese, as horas que ultrapassarem a 
jornada semanal normal deverão ser 
pagas como horas extraordinárias e, 
quanto àquelas destinadas à 
compensação, deverá ser pago a mais 
apenas o adicional por trabalho 
extraordinário. 
Parágrafo único. A prestação de horas 
extras habituais não descaracteriza o 
acordo de compensação de jornada e o 
banco de horas. 
 
 
Pode-se perceber que, com a inclusão do art. 59-B, parágrafo único, na CLT, 
afasta-se a orientação tradicional do TST, que mandava pagar repetidamente a hora 
extra prestada e descansada quando o labor extraordinário fosse habitual, mesmo 
quando o acordo de compensação fosse constituído validamente. 
 
JORNADA DE 12x36 
A jornada de 12x36 é aquela em que o empregado trabalha 12 horas e realiza 
uma folga de 36 horas até que possa voltar a exercer o labor, também chamada de 
“jornada de plantão” Nesse caso, o empregado está trabalhando mais horas em 
determinado dia, mas tem um intervalo interjornada maior em seguida para compensar. 
No final, as horas trabalhas no mês respeitam o limite de 220 horas: 
A jornada de plantão 12 x 36, considerada a duração mensal do labor e 
já incluído, em seu sistema o descanso semanal remunerado, respeita, 
conforme visto, o montante de 220 horas decorrente do art. 7º, XIII, da 
Constituição, ao passo que, no plano semanal, alterna um módulo mais 
amplo seguido por outro mais reduzido do que 44 horas, realizando a 
respectiva compensação. Por isso tem sido considerada, pela 
jurisprudência, compatível com o Texto Magno (art. 7º, XIII) (DELGADO, 
2019, p. 1077). 
 
Antes da Reforma Trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017), a súmula 444 do 
TST só permita a constituição deste regime especial por instrumento de negociação 
 
 
 
 
coletiva ou lei. Contudo, com a inclusão do art. 59-A, caput, na CLT pela reforma, a 
referida orientação do TST agora se encontra defasada, pois agora é permitida a 
constituição do regime 12x36 por acordo individual escrito: 
Súmula 444 do TST Art. 59-A, caput, da CLT 
Súmula nº 444 do TST 
JORNADA DE TRABALHO. NORMA 
COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 POR 
36. VALIDADE. - Res. 185/2012, DEJT 
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 - 
republicada em decorrência do 
despacho proferido no processo TST-
PA-504.280/2012.2 - DEJT divulgado 
em 26.11.2012 
É válida, em caráter excepcional, a 
jornada de doze horas de trabalho por 
trinta e seis de descanso, prevista em lei 
ou ajustada exclusivamente mediante 
acordo coletivo de trabalho ou 
convenção coletiva de trabalho, 
assegurada a remuneração em dobro 
dos feriados trabalhados. O empregado 
não tem direito ao pagamento de 
adicional referente ao labor prestado na 
décima primeira e décima segunda 
horas. 
Art. 59-A. Em exceção ao disposto no 
art. 59 desta Consolidação, é facultado 
às partes, mediante acordo individual 
escrito, convenção coletiva ou acordo 
coletivo de trabalho, estabelecer horário 
de trabalho de doze horas seguidas por 
trinta e seis horas ininterruptas de 
descanso, observados ou indenizados 
os intervalos para repouso e 
alimentação. 
 
A leitura do art. 59-A, caput, da CLT permite perceber outra mudança 
importante: os intervalos para repouso e alimentação podem ser concedidos em 
algum momento da jornada de 12 horas ou indenizados. Caso sejam indenizados, 
haverá o pagamento no próximo contracheque de todos os intervalos que não foram 
observados nas escalas do empregado, que serão pagos como indenização. Portanto, 
é possível que o trabalhador preste serviço por 12 horas ininterruptas sem parar para 
repouso e alimentação. 
É comum encontrar dúvidas sobre o que acontece quando a escala do 
empregado cai em domingo ou feriado. Se o trabalhador prestar serviços nesses dias, 
receberá o pagamento em dobro? Desde logo, pode-se adiantar a resposta: não. 
Porém, é preciso saber que existe uma mudança após a Reforma Trabalhista de 2017 
(Lei 13.467/2017). Antes da sua vigência, já se sabia que o trabalho em domingos não 
gerava pagamentos em dobro. Então, este não é o ponto de divergência aqui. Já se 
entendia desse jeito porque, quando o trabalhador presta serviço no domingo, ele já 
compensava com as horas de descanso no dia seguinte. Porém, a novidade vem com 
relação ao feriado, pois o TST orientava na súmula 444 que ele deveria ser pago em 
 
 
 
 
dobro. Agora, a partir da reforma, os dias de trabalho em feriado também deixam de ser 
pagos em dobro: 
Art. 59-A. [...] 
Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto 
no caput deste artigo abrange os pagamentos devidos pelo descanso 
semanal remunerado e pelo descanso em feriados, e serão 
considerados compensados os feriados e as prorrogações de trabalho 
noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta 
Consolidação. 
 
No final deste dispositivo, tem um ponto importante para os empregados em 
regime de 12x36 que acabam entrando no turno do período noturno. Por exemplo, um 
empregado urbano poderia entrar na empresa às 20:00 horas da noite e sair apenas às 
08:00 horas da manhã. Nesse caso, como trabalhou no período noturno, poderia 
receber o adicional noturno. Se fosse um empregado comum, fora do regime 12x36, 
esse adicional noturno continuaria a ser pago nas prorrogações de horário noturno, o 
que significa que, a partir das 05:00 horas da manhã, o sujeito continuaria a receber o 
adicional noturno até sair do trabalho. Porém, pelo fato de o art. 59, parágrafo único, da 
CLT prescrever “serão considerados compensados os feriados e as prorrogações 
noturnas”, o trabalhador no regime de 12x36 não receberá adicional noturno naquelas 
horas que ultrapassarem o período noturno, ou seja, não receberá este adicional nas 
horas após às 05:00 horas da manhã do dia seguinte. 
Em atividades insalubres, sabe-se que quaisquer prorrogações de horário 
precisam de licença prévia do Ministério do Trabalho, conforme art. 60 da CLT. Contudo, 
no que diz respeito às jornadas 12x36 nessas atividades, sua constituição não precisará 
de tal licença, segundo o art. 60, parágrafo único, da CLT: 
Art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes 
dos quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicinado 
Trabalho", ou que neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do 
Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só poderão ser 
acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em 
matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão 
aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos 
de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades 
sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em 
entendimento para tal fim. 
Parágrafo único. Excetuam-se da exigência de licença prévia as 
jornadas de doze horas de trabalho por trinta e seis horas ininterruptas 
de descanso. 
 
Em resumo, comparando-se as novas regras introduzidas pela reforma e a 
súmula 444 do TST, DELGADO identifica três gravames: 
 
 
 
 
A Lei da Reforma Trabalhista inseriu na CLT a jornada de plantão 12 x 
36 horas (art. 59-B, caput e parágrafo único). Entretanto, agregou três 
regras mais gravosas em comparação com o disposto na Súmula n. 444 
do TST. De um lado, [1] permitiu que o simples acordo individual escrito 
(ao invés de a negociação coletiva ou a lei), autorizasse tal tipo de 
jornada. De outro lado, [2] considerou compensados não apenas os dias 
de descanso semanal (corretamente, conforme visto), mas também os 
feriados trabalhados, bem como as prorrogações de trabalho noturno, 
quando houver (parágrafo único do art. 59-B, CLT). Por fim, [3] declarou 
dispensada, nas atividades insalubres, a exigência de licença prévia das 
“autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho”, 
relativamente às jornadas 12 x 36 horas, embora estas provoquem, 
evidentemente, significativa prorrogação do trabalho normal nos dias de 
prestação do plantão (novo parágrafo único do art. 60 c./c. caput do 
mesmo preceito da Consolidação) (DELGADO, 2019, p. 1078). 
 
 
Legislação 
 
CLT, Art. 59. [...] 
§ 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou 
convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela 
correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período 
máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja 
ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. 
§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a 
compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2o e 5o deste artigo, 
o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas 
sobre o valor da remuneração na data da rescisão. 
[...] 
§ 5º O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado por 
acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis 
meses. 
§ 6o É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo 
individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. 
 
CLT, Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é 
facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo 
coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por trinta 
 
 
 
 
e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para 
repouso e alimentação. 
Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto no 
caput deste artigo abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado 
e pelo descanso em feriados, e serão considerados compensados os feriados e as 
prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do 
art. 73 desta Consolidação. 
 
CLT, Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação 
de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a 
repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária se não 
ultrapassada a duração máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. 
Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o 
acordo de compensação de jornada e o banco de horas. 
 
CLT, Art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos 
quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicina do Trabalho", ou que 
neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, 
quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das 
autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, 
procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de 
trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, 
estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim. 
Parágrafo único. Excetuam-se da exigência de licença prévia as jornadas de 
doze horas de trabalho por trinta e seis horas ininterruptas de descanso. 
 
CLT, Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm 
prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: 
[...] 
II - banco de horas anual; 
 
Jurisprudência 
 
Súmula nº 85 do TST 
 
 
 
 
COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016, 
DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016 
[...] 
III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação 
de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não 
implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada 
normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido 
apenas o respectivo adicional. 
IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de 
compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem 
a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas 
extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá 
ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. 
V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime 
compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser 
instituído por negociação coletiva. 
 
Súmula nº 444 do TST 
JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 
POR 36. VALIDADE. - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 
27.09.2012 - republicada em decorrência do despacho proferido no 
processo TST-PA-504.280/2012.2 - DEJT divulgado em 26.11.2012 
É válida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho 
por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente 
mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, 
assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O 
empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor 
prestado na décima primeira e décima segunda horas. 
 
OJ 323, SDI-1, TST. ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. 
"SEMANA ESPANHOLA". VALIDADE(DJ 09.12.2003) 
É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada 
adotada é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação 
de 48 horas em uma semana e 40 horas em outra, não violando os arts. 
59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/88 o seu ajuste mediante acordo ou 
convenção coletiva de trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e 
atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e 
jurisprudenciais posteriores. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. 
MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho: relações individuais, 
sindicais e coletivas do trabalho. 13. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022. 
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense; São 
Paulo: MÉTODO, 2020.

Continue navegando