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JORNADA DE TRABALHO DEFINIÇÃO Jornada de trabalho é o lapso temporal diário em que o empregado se coloca à disposição do empregador em virtude do respectivo contrato de trabalho. É a medida principal do tempo diário de disponibilidade do obreiro em face de seu empregador como resultado do cumprimento do contrato de trabalho que os vincula. É preciso, em primeiro lugar, fazer uma distinção entre os conceitos de duração do trabalho, jornada de trabalho e horário de trabalho. Duração do Trabalho é a noção mais ampla dos três conceitos colocados. Abrange o lapso temporal de trabalho ou de efetiva disponibilidade do empregado, considerando os mais distintos meios de mensuração: diária, semanal, mensal ou anual. Jornada de Trabalho é a expressão com sentido mais restrito que duração de trabalho, compreendendo o tempo diário em que o empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrência do contrato. O período considerado no conceito de jornada é sempre o período diário, então, jornada de trabalho trata do lapso temporal diário em que o obreiro tem que se colocar à disposição de seu empregador, muito embora a própria CLT acabe usando a expressão de modo muito mais amplo, como por exemplo, quando se refere à "soma das jornadas semanais...". Horário de Trabalho traduz estritamente o lapso temporal entre o início e o fim de certa jornada laborativa COMPOSIÇAO DA JORNADA DE TRABALHO São três os critérios principais de cálculo da extensão da jornada de trabalho: o do tempo efetivamente laborado, o do tempo à disposição no centro de trabalho e o do tempo despendido no deslocamento residência-trabalho-residência. Ao lado desses critérios mais gerais, existem ainda outros dois de caráter especial, que dizem respeito ao tempo de prontidão e ao tempo de sobreaviso. Tempo efetivamente trabalhado: o primeiro critério considera como componente da jornada de trabalho apenas o tempo efetivamente trabalhado pelo empregado, excluindo-se, portanto, os períodos em que o obreiro está à disposição do empregador, mas sem prestar efetivo labor. No entanto, a CLT, por ter normas específicas que consideram como tempo de serviço também aquele em que o empregado simplesmente esteja à disposição do empregador, sem a efetiva prestação de serviço, conforme se depreende da norma insculpida no art. 4º, tal conceito tem-se como rejeitado pelo Direito Brasileiro Tempo à disposição: o segundo critério considera como componente da jornada o tempo à disposição do empregador no centro de trabalho, independentemente de ocorrer a prestação de serviços efetiva, agregando-se, pois, ao primeiro critério, também o do tempo em que o obreiro está simplesmente aguardando ordens. Art. 4º. Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. É importante ressaltar que a ideia de centro de trabalho consignada neste conceito não traduz, necessariamente, a ideia de local de trabalho, muito embora, na prática, os dois conceitos coincidam. Pode haver, de fato, uma grande distinção entre local de trabalho e centro de trabalho, como por exemplo, no caso de trabalhadores de minas, que tem com centro de trabalho a sede da mina, onde tem que se apresentar diariamente e, o local de trabalho que é, justamente, a própria mina. (art. 294, CLT). Com a reforma trabalhista, o legislador incluiu no art. 4º da CLT, o § 2º que restringiu o conceito e as hipóteses de cômputo do tempo à disposição do empregador, tais como, as situações em que o empregado por escolha própria, buscar proteção pessoal na empresa, em caso de insegurança nas vias públicas ou más condições climáticas, bem como adentrar ou permanecer nas dependências da empresa para exercer atividades particulares, entre outras: práticas religiosas, descanso, lazer, estudo, alimentação, atividades de relacionamento social, higiene pessoal, troca de roupa ou uniforme, quando não houver obrigatoriedade de realizar a troca na empresa (CLT, art. 4º, § 2º). Tempo de deslocamento: o terceiro critério considera como componente da jornada de trabalho também o tempo despendido pelo trabalhador no percurso de sua residência para o trabalho e de lá para sua residência novamente, tempo este em que, evidentemente, não existe a efetiva prestação de serviços. O critério de deslocamento, muito embora tenha sido adotado como regra geral pela legislação acidentária, uma vez que equipara o acidente sofrido pelo segurado no percurso de sua residência para o trabalho ou vice-versa ao acidente de trabalho, mesmo que o segurado esteja se utilizando de veiculo próprio. (art. 21, IV. D, Lei 8.213/91), não foi adotado de modo pleno pela legislação trabalhista. Com efeito, existem, para o Direito do Trabalho, algumas poucas situações em que se acolhe o critério de tempo de deslocamento, como no caso dos ferroviários (art. 238, §3º, CLT). Art. 238, §3º - No caso das turmas de conservação da via permanente, o tempo efetivo de trabalho será contado desde a hora da saída da casa da turma até a hora em que cessar o serviço em qualquer ponto compreendido dentro dos limites da respectiva turma. Quando o empregado trabalhar fora dos limites de sua turma, ser- lhe-á também computado como tempo de trabalho efetivo o tempo gasto no percurso da volta a esses limites. Outra exceção que existia à não adoção do critério do tempo de deslocamento estava no que a jurisprudência chamou de horas in itinere. Muito embora a CLT, originalmente, não tivesse qualquer previsão, exceto a dos ferroviários, de pagamento das horas gastas em percurso, a reiteração das decisões jurisprudenciais e a criação da figura própria acabaram trazendo para a Lei Celetista o instituto das horas in itinere, que foi incorporado ao texto em 2001, pela Lei 10.243, inserindo o §2º ao art. 58 da CLT, que ficou com a seguinte redação: Art. 58... §2º - O tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte publico regular, o empregador fornecer condução. Assim, considerava-se parte integrante da jornada de trabalho o período em que o obreiro despenda no deslocamento ida e volta para o local de trabalho, desde que este não esteja servido por transporte público regular e que o empregador forneça a condução. Neste sentido também é a Sumula 90, TST. Sumula 90. Horas in itinere. Tempo de serviço. I – O tempo despendido eplo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho. II – A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera direito às horas in itinere. III – A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas in itinere. IV – Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas in itinere remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. V – Considerando que as horas in itinere são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. Eram dois, então, os requisitos para a concessão de horas in itinere: - o trabalhador deve ser transportado para o trabalho por condução oferecida por seu empregador, sendo indiferente o meio de transporte fornecido, se ônibus, van, etc. Mesmo que exista cobrança, por parte do empregador, do transporte oferecido, tal fato não descaracterizava a ocorrência das horas in itinere, nos termos da Súmula 320, TST. Súmula 320 - O fato do empregador cobrar, parcialmente, ou não, importância pelo transporte fornecido, para o local de difícil acesso ou nãoservido por transporte regular, não afasta o direito à percepção de horas in itinere - ser o local de difícil acessou OU não servido pro transporte público regular Entretanto, com o advento da Lei n° 13.467/2017, denominada de Lei da Reforma Trabalhista, o instituto das horas “in itinere” foi excluído da CLT, tendo em vista a nova redação ao § 2º do art. 58 e a revogação do § 3º do mesmo artigo. Entretanto, o instituto do tempo de deslocamento ainda pode ser objeto de negociação coletiva, nos termos do art. 611-A, inciso I da CLT. JORNADA PADRÃO DE TRABALHO O Direito Brasileiro prevê a existência de uma jornada padrão de trabalho, com a duração diária e semanal, aplicando-se, via de regra, a todo o mercado de trabalho. No entanto, ao seu lado, existem jornadas de trabalho especiais, que se aplicam às categorias específicas. A jornada padrão de trabalho é de oito horas diárias e 44 semanais, segundo o art. 7º, XIII, CF. A duração mensal do labor padrão, hoje, é de 220 horas mensais. Na Constituição Federal de 1988 está prevista a modalidade de jornada de trabalho em turno ininterrupto de revezamento (CF, at. 7º, XIV). O trabalho por turno ininterrupto em revezamento é um modo de organizar a atividade empresarial em virtude da qual grupos ou equipes de trabalhadores se sucedem nas mesmas máquinas do empregador, no mesmo local de serviço, cumprindo horários alternados, quando, a cada semana, quinzena ou mês, o trabalhador estará cumprindo um horário diverso daquele anterior, isto é, um período com a jornada pela manhã, outro período à tarde e outro período à noite, permitindo o funcionamento ininterrupto da empresa. A jornada para turnos ininterruptos em revezamento é de 6 horas diárias de trabalho, salvo acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando outra duração (art. 7º, XIV CF; STST 423). São devidas como extras as horas trabalhadas além do referido horário. A jornada reduzida se justifica na medida em que esse trabalho é muito desgastante para o trabalhador, pois seu relógio biológico é alterado constantemente. O art. 7º, XIV, da CF, “in fine”, faz uma ressalva, possibilitando que por meio de negociação coletiva se estabeleça jornada superior a 6 horas. Com o advento da lei da Reforma Trabalhista, foi incluída em nosso ordenamento jurídico a jornada especial em regime de 12 X 36 horas, que se trata de um sistema de compensação fixa de trabalho, que consiste em 12 horas de trabalho por dia, em horário fixo, seguidas de 36 horas ininterruptas de descanso, que excepcionalmente pode ser pactuada mediante acordo individual ou por acordo coletivo de trabalho (CLT, art. 59-A). Neste caso há uma ampliação da jornada diária, mas observa-se o limite semanal, sendo que em uma semana respeita o total de 44 horas, no montante de 220 horas, e em outra semana há uma redução, realizando a respectiva compensação. O parágrafo único do art. 59-A da CLT dispõe que na remuneração pactuada para trabalho na jornada 12 X 36 horas estão incluídos os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso em feriados e considera compensados os feriados e as prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 da Consolidação. MODALIDADES DE JORNADA E REGISTRO DE PONTO Jornada de trabalho é o lapso temporal diário em que o trabalhador presta serviços ou se coloca à disposição do empregador e, assim, para que exista a jornada de trabalho efetivamente cumprida, deve existir, por parte do empregador, uma fiscalização, uma vez que trabalho não fiscalizado ou minimamente fiscalizado é insuscetível de propiciar aferição real da jornada laborada pelo obreiro e, assim é insuscetível de percebimento de horas extras. As jornadas controladas, em que a prestação de serviço é efetivamente controlada pelo empregador, ensejam a prestação de horas extras, caso se evidencie a extrapolação da jornada normal de trabalho. As jornadas não controladas, nas quais a prestação de serviço não é submetida ao efetivo controle do empregador, não ensejam o cálculo de horas extraordinárias, uma vez que não se pode dizer, concretamente, quanto tempo de serviço prestou o empregado. Toda a empresa com mais de vinte empregados é obrigada a manter quadro de horários em lugar visível, com as escalas de trabalho de seus funcionários, bem como a registrar os horários de entrada e saída dos mesmos através da chamada “marcação de ponto”, conforme art. 74, caput e §2, da CLT, com a redação dada pela lei nº 13.874, de 2019, denominada de Lei da liberdade econômica. A Sumula 338 já pacificou entendimento quanto aos registros de ponto e, assim, uma vez não juntados ao processo ou juntados, mas com horários "britânicos" consignados, implicariam em confissão ficta, por parte do empregador, da jornada declinada em inicial. Sumula. 338 I – É ônus do empregador que conta com mais de dez empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, §2º, da CLT. A não apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário. II - Os cartões ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativa às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir. OUTROS COMPONENTES DA JORNADA DE TRABALHO Jornada Extraordinária Jornada extraordinária é o lapso temporal de trabalho ou disponibilidade do empregado perante o empregador que ultrapasse a jornada padrão, fixada em regra jurídica ou cláusula contratual. É a jornada cumprida em extrapolação à jornada padrão aplicável à relação de emprego. A jornada extraordinária se estabelece, então, pela ultrapassagem da fronteira da jornada normal, tendo como efeito, via de regra, o percebimento de adicional pelo tempo a mais trabalhado. No entanto, tal remuneração extra não é consequência regular do serviço extraordinário, uma vez que pode haver a ultrapassagem da jornada padrão sem o correspondente acréscimo salarial, como no caso de compensação de jornada. As horas extras devem ser calculadas sobre a globalidade salarial percebida pelo empregado. Tempo Residual A jurisprudência, no decorrer do tempo, acabou criando concepção relativa a determinados e pequenos lapsos temporais em que o empregado fica à disposição de seu empregador, geralmente nos momentos anteriores e posteriores à jornada de trabalho normal, em que o trabalhador já está na empresa, nos termos do art. 58, §1º, da CLT Art. 58... §1º - Não serão descontadas nem computadas na jornada como jornada extraordinária as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite de dez minutos diários. Assim, as pequenas variações de até dez minutos diários não são relevantes na jornada para quaisquer fins. A partir desse limite, no começo e no fim da jornada, o tempo lançado no cartão ponto será tido como a disposição do empregador ou, em caso de jornada inferior à contratada, será possível ao empregador o desconto do empregado, estando o entendimento consolidado na Sumula 366, TST Sumula 366 – Não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário de registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários. Se ultrapassado esse limite, será considerada como extra a totalidade do tempo que exceder a jornada normal Prontidão Ou horas de prontidão, dizem respeito ao período tido como integrante do contrato e do tempo de serviço obreiro, aplicável especialmente a categoria dos ferroviários e no qual os mesmos ficam nas dependências da empresa ou da via férrea respectiva (art. 244,§3º, CLT) Art. 244, §3º - Considera-se de prontidão o empregado que ficar nas dependências da Estrada, aguardando ordens. A escala de prontidão será, no Maximo, de 12 (doze) horas. As horas de prontidão serão, para todos os efeitos, contadas à razãode 2/3 do salário hora normal. As horas de prontidão são devidas uma vez que o obreiro, muito embora não esteja prestando efetivamente serviços a seu empregador, ele tem sua disponibilidade pessoal significativamente restringida, uma vez que se encontra nas dependências do estabelecimento ou nas suas cercanias. Porém, como meio de equilíbrio e justamente por não estar o trabalhador efetivamente prestando serviços, o Direito do Trabalho restringiu os efeitos contratuais das horas de prontidão para determinar sua remuneração a apenas 2/3 da hora normal de serviço. Sobreaviso As horas de sobreaviso são compreendidas como o período tido como integrante do contrato e do tempo de serviço obreiro em que o empregado permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço. Existe disposição específica para os ferroviários no art. 244, §2º, CLT Art. 244, §2º - Considera-se sobreaviso o empregado efetivo, que permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço. Cada escala de sobreaviso será, no Maximo, de 24 horas. As horas de sobreaviso, para todos os efeitos, serão contadas à razão de 1/3 do salário normal. A figura das horas de sobreaviso, muito embora originária na categoria dos ferroviários, já é aplicada, analogicamente, às outras categorias de trabalho, por força do entendimento consolidado na Súmula 229, TST. 229 - Por aplicação analógica do art. 244, §2º da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial O avanço tecnológico tem suscitado diversas discussões acerca da configuração ou não das horas de sobreaviso pela utilização de BIP's, pagers ou telefones celulares, instrumentos que possibilitam o contato imediato do empregador com seu empregado. Atualmente, o entendimento predominante da Jurisprudência é a de que não é necessário que o empregado permaneça em sua própria residência aguardando o chamado para o trabalho durante a escala de sobreaviso, basta que permaneça em local e em distância do centro do trabalho ajustado com o empregador, para o rápido atendimento ao trabalho, caso chamado. Configura-se a restrição a livre locomoção do empregado e a obrigação de atendimento imediato ao empregador, se chamado para se ativar, em um dia que seria de descanso. Neste sentido é a Súmula 428 do TST: I - O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos pela empresa ao empregado, por si só, não caracteriza o regime de sobreaviso. II - Considera-se em sobreaviso o empregado que, à distância e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso. HORAS EXTRAS As horas extras podem ser conceituadas como aquelas prestadas além do horário contratual, legal ou normativo. As horas podem ser prestadas tanto antes do início do expediente, como após o seu término normal ou durante os intervalos destinados a repouso e alimentação. Na maioria das vezes, as horas suplementares prestadas são remuneradas com o adicional respectivo, mas pode ocorrer de assim ser e não haver pagamento do adicional, como no caso de força maior, compensação de horas e banco de horas. Quando pagas, as horas extras geram um acréscimo de pelo menos 50% sobre o valor do salário hora normal (adicional de horas extras - art. 7º, XVI, CF). Nada impede, entretanto, que a legislação ordinária ou as normas coletivas estabeleçam percentual superior, o que normalmente é feito. Em nosso ordenamento jurídico trabalhista, são as seguintes hipóteses legais de realização de horas extras: acordo de prorrogação, sistema de compensação (Banco de Horas), força maior, conclusão de serviços inadiáveis e recuperação das horas de paralisação (CLT, arts. 59 a 61): DO ACORDO DE PRORROGAÇÃO DE JORNADA O acordo de prorrogação de jornada é o ajuste de vontade feito pelas partes para que a jornada de trabalho possa ser elastecida além do limite legal, mediante o pagamento de adicional de horas extras, estando tal permissão expressa no art. 59 da CLT. Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. O acordo deve ser necessariamente escrito, podendo ser um adendo ao contrato de trabalho ou mesmo cláusula daquele. Pode ser feito também por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, sendo que o adicional mínimo pelas horas extras prestadas é de 50%, conforme art. 7º, XVI, da CF. O limite de prorrogação da jornada de trabalho é de duas horas diárias, o que totalizaria mais dez horas diárias na jornada de trabalho do empregado. No entanto, caso o empregado preste serviço além das duas horas de prorrogação, deve receber por todas. Os menores (art. 413) e os cabineiros de elevador (art. 1º, Lei 3270/57) não podem prestar trabalho extraordinário, sendo a eles vedado firmar acordo de prorrogação de jornada. Já os bancários podem prorrogar sua jornada normal de 06 horas para oito, nos moldes do art. 225 da CLT. As telefonistas só podem fazer horas extras em decorrência de indeclinável necessidade (art. 227, §1º, CLT). Não podem ainda realizar horas extras os empregados contratados sob o regime de tempo parcial com jornada semanal de 30 horas (CLT, art. 58-A). Quanto ao artigo 60 da CLT, que determinava a possibilidade de prorrogação de jornada de trabalho para os trabalhadores em atividade insalubre, somente com prévia autorização da DRT, o mesmo acabou, por entendimento majoritário, sendo validado em razão do art. 7º, inciso XIII da CF, que coloca como condição para a prorrogação de jornada apenas a existência de acordo ou convenção coletiva. Portanto, nas atividades insalubres, quaisquer prorrogações só poderão ser ajustadas mediante licença prévia do Ministério do Trabalho (art. 60, CLT). Exceção à essa regra é a hipótese de 12 X 36 horas ininterrupta de descanso e de compensação de horário de trabalho que pode ser feita por acordo ou convenção coletiva de trabalho. As horas extras prestadas com habitualidade, se suprimidas da jornada do empregado, dão ao mesmo direito à indenização de um mês das horas suprimidas para cada ano de serviço, conforme pacificado pela Sumula 291 do TST. 291 - A supressão, pelo empregador, do serviço suplementar prestado com habitualidade, durante pelo menos 1 ano, assegura ao empregado o direito à indenização correspondente ao valor de 1 mês das horas suprimidas para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de prestação de serviço acima da jornada normal. O calculo observará a média das horas suplementares efetivamente trabalhadas nos últimos 12 meses, multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão. Uma vez que a Constituição fixou adicional mínimo de 50% para as horas extraordinárias prestadas, todos os adicionais previstos a menos pela CLT estão automaticamente revogados. A prorrogação de jornada pode, ainda, decorrer de necessidade imperiosa, conforme previsto no art. 61, da CLT, que engloba respectivamente: FORÇA MAIOR: é o acontecimento imprevisível, inevitável, para o qual o empregador não concorreu (art. 501), sendo permitido o perfazimento de jornada extraordinária nestes casos (art. 61), com o pagamento de adicional legal. SERVIÇOS INADIÁVEIS OU CUJA INEXECUÇÃO ACARRETARÁ PREJUÍZO MANIFESTO – são aqueles que devem ser concluídos na mesma jornada de trabalho. Não há necessidade de acordo nestes casos e a jornada extraordinária se limita a até quatro horas diárias, com adicional legal. REPOSIÇÃO DE PARALISAÇÕES (art. 61, §3º) – ocorre toda vez que houve impossibilidade de realização do trabalho, por causas acidentais ou de força maior, em que se admite a prorrogação da jornada para recuperar o tempo perdido, não podendo esta, porém, exceder o limite de duas horasextras diárias e o lapso de 45 dias por ano. DA COMPENSAÇAO DE JORNADA A compensação de jornada ocorre quando um empregado trabalha mais horas em determinado dia para prestar serviços em menor número de horas em outro dia, ou não prestar serviços determinado dia da semana. Com o advento da Constituição de 88, surgiram diversas discussões acerca da forma como deveria ser feito este acordo. A doutrina e jurisprudência haviam pacificado o entendimento quanto à exigência de acordo coletivo ou convenção coletiva para a celebração do chamado Banco de Horas (sistema de compensação anual). Assim, a lei n° 9.601 deu nova redação ao §2º do art. 59, dispondo que compensação poderia ser feita por acordo ou convenção coletiva e o período de compensação não poderia exceder de um ano, sendo chamado de banco de horas e este sim somente pode ser instituído por acordo ou convenção coletiva de trabalho. Este período de um ano deve ser contado da data em que entrou em vigor o acordo ou a convenção coletiva autorizadores da compensação, sempre se respeitando o limite máximo de 02 horas de extensão da jornada normal de trabalho. Com efeito, o instituto do “banco de horas” foi introduzido em nosso ordenamento jurídico através da Lei n° 9.601/98, que alterou o parágrafo 2º do artigo 59 da CLT. Desde o início foi conceituado como o sistema pelo qual a empresa pode flexibilizar a jornada de trabalho, diminuindo ou aumentando a jornada em período de baixa ou alta na produção, mediante a compensação dessas horas em outro período, sem redução do salário no período de redução, bem como não é devido pagamento das horas aumentadas. Por muito tempo não houve na legislação menção ao “banco de horas”. Existia, sim, previsão da possibilidade de estabelecer compensação da jornada de trabalho quando, respeitada a carga horária semanal e uma jornada diária máxima de dez horas, empregado e empregador ajustam acréscimo de trabalho em um ou alguns dias na semana, em favor da supressão de trabalho em outro dia, ou parte do dia, da mesma semana, consoante disposto no artigo 7º, XIII[1], da Constituição Federal e artigo 59, parágrafo 2º[2], da Consolidação das Leis do Trabalho. A redação antiga do art. 59, § 2º, da CLT estabelecia que “Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias”. Observando-se os parâmetros legais, tinha-se que os requisitos mínimos para a compensação eram os seguintes: a) Instrumento de compensação escrito; b) observância da carga horária diária máxima de 10 horas. Porém, existia ambiguidade na palavra “acordo”, que segundo alguns doutrinadores era possível firmar o banco de horas por meio de um acordo individual, acordo coletivo ou convenção coletiva e, segundo outros, somente através de acordo coletivo e convenção coletiva. O Tribunal Superior do Trabalho (TST), no vácuo legislativo e na dupla interpretação, regulava o assunto através da Súmula nº 85 – COMPENSAÇÃO DE JORNADA, estabelecendo que a modalidade “banco de horas” somente poderia ser instituído por negociação coletiva, ou seja, somente através de acordo coletivo ou convenção coletiva. Assim reza a Súmula n° 85: COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016 I. A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrário. III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva. VI - Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, ainda que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e permissão da autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT. Portanto, a instituição do banco de horas, para a compensação da jornada de trabalho, somente seria possível mediante a celebração de acordo coletivo ou convenção coletiva, ou seja, com o aval da entidade sindical, não sendo possível a pactuação individua, nos termos do item V da Súmula 85 do TST. No entanto, com a entrada em vigor da Lei 13.467 de 13 de julho de 2017, foram acrescidos os parágrafos 5º e 6º ao artigo 59 da CLT que autorizam a implantação do Banco de Horas por acordo individual, sem a participação do Sindicato. A atual redação do artigo mantém o texto quanto a possibilidade de pactuação através de acordo ou convenção coletiva de trabalho, porém prevê a possibilidade de pactuação do banco de horas por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. E mais: estabelece que se a compensação for realizada no mesmo mês, o acordo poderá ser individual, tácito ou escrito. Para uma melhor compreensão do assunto, segue a tabela comparativa dos dispositivos que sofreram alterações: CLT (ANTES DA REFORMA) NOVA CLT Art. 59 - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho. § 1º - Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho deverá constar, obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora suplementar, que será, pelo menos, 20% (vinte por cento) superior à da hora normal. § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma do parágrafo anterior, fará o trabalhador jus ao pagamento das horas extras não compensadas, Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. § 1º A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal. § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2º e 5º deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. § 4º (Revogado). calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. § 4o Os empregados sob o regime de tempo parcial não poderão prestar horas extras. § 5º O bancode horas de que trata o § 2º deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. § 6º É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. (NR) Apesar da aparente igualdade das redações (original e pós-reforma) dos dispositivos em apreço, profundas alterações serão implementadas no regime de compensação da jornada de trabalho. O parágrafo 2° permaneceu com a redação inalterada em relação à previsão do acordo de compensação de jornada de trabalho, inclusive na modalidade de banco de horas, e o parágrafo 3°, apesar da alteração da redação, em nada mudou a interpretação com relação ao pagamento das horas não compensadas em caso de rescisão do contrato de trabalho. A grande alteração está no parágrafo 5° que foi introduzido, possibilitando a instituição do regime de compensação de jornada na modalidade de banco de horas mediante acordo individual. Lembramos que a orientação do Tribunal Superior do Trabalho, através da Súmula n° 85, era de que a compensação mediante acordo individual somente é possível caso realizada dentro da mesma semana; caso a compensação ocorra em qualquer outro período, necessário acordo coletivo ou convenção coletiva, tendo em vista a instituição do banco de horas. Isso causava sérios transtornos ao empregador que não conseguia autorização dos sindicatos profissionais para a celebração do banco de horas, na grande maioria das vezes, por razões de ordem política, contrariando inclusive a vontade dos trabalhadores. Com o advento da nova legislação, está autorizada a instituição do banco de horas diretamente entre o empregado e o empregador, mediante acordo escrito individual, desde que a compensação seja realizada no período máximo de seis meses. Apesar de não estar expresso na redação do parágrafo 5°, esse prazo deve ser computado a partir da celebração do acordo individual escrito. Portanto, a hipótese de compensação anual de jornadas (banco de horas) que exigia acordo ou convenção coletiva de trabalho para a sua adoção, passa a ter permissão legal para pactuação individual, desde que essa compensação ocorra dentro de um período máximo de 06 meses. Importante salientar que a não observância dessas regras quanto à instituição do banco de horas, acarretará a nulidade da compensação, ensejando o pagamento das horas (ou somente do respectivo adicional) trabalhadas a mais. E ainda, fez bem o legislador em desburocratizar o sistema de compensação de jornada de trabalho, passando a admitir o ajuste tácito, pois na grande maioria das vezes, o trabalhador usufruiu do respectivo descanso em razão da sobrejornada realizada em outro dia, mas diante da ausência de acordo escrito, a Jurisprudência trabalhista não validava essa forma de compensação, determinando o pagamento. Diante do que foi exposto, podemos consolidar a questão da seguinte forma: Antes do advento da Lei n° 13.467/2017, somente eram permitidas as seguintes modalidades de compensação de jornada: - Compensação mediante Banco de Horas (anual): somente mediante acordo coletivo ou convenção coletiva (compensação no período máximo de um ano); - Compensação mediante Acordo Individual (empregado X empregador): somente compensação dentro da semana; Após o advento da Lei n° 13.467/2017, foram instituídas as seguintes modalidades de compensação de jornada, mantendo o Banco de Horas anual anteriormente contemplado: - Compensação mediante Banco de Horas (anual): somente mediante acordo coletivo ou convenção coletiva (compensação no período máximo de um ano); - Compensação mediante Banco de Horas (semestral): mediante acordo individual escrito (compensação no período máximo de seis meses), nos termos do parágrafo 5° do art. 59 da CLT[3]; - Compensação mediante Banco de Horas (mensal): mediante acordo individual, tácito ou expresso (compensação mensal), nos termos do parágrafo 6°do art. 59 da CLT[4]; Assim, para a instituição do regime de compensação mediante Banco de Horas semestral, poderá o acordo poderá ser pactuado diretamente entre empregado e empregador, sem necessidade de intervenção do Sindicato da categoria, devendo observar os seguintes requisitos: - O acordo deve ser, obrigatoriamente, por escrito (sugerimos a celebração de um termo aditivo ao contrato de trabalho dos empregados, devendo ser renovado esse aditivo, de forma expressa, a cada seis meses); - A quitação total do banco de horas (seja mediante a compensação das horas, seja em razão do pagamento das horas não compensadas) deverá ocorrer no máximo em seis meses; Importante destacar também que a compensação da jornada de trabalho mediante Banco de Horas individual (mensal ou semestral), poderá ser instituída para alguns ou para todos os empregados, sendo que, em qualquer dessas situações, não há necessidade de celebração de acordo coletivo ou convenção coletiva, pois não desconfigura a natureza individual da celebração do instrumento. Quando da rescisão do contrato de trabalho, o empregado não tiver compensado todas as horas trabalhadas a mais, estas são devidas como extras. (art. 59, §3º, CLT) JORNADAS ESPECIAIS DE TRABAHO Ao lado da jornada padrão, existem determinadas categorias de trabalhadores que, pela natureza de seu trabalho tem sua jornada reduzida. Para os trabalhadores que tem sua jornada legalmente regulada acima do padrão constitucional, os Tribunais ainda tem discutido acerca da validade de tal estipulação, entendo, porém, a maioria da jurisprudência, ser a jornada maior que oito horas diárias válida, desde que respeitado o total semanal de 44 horas. No entanto, é mais usual que a lei preveja jornadas especiais reduzidas, com lapsos temporais diários menores que o estipulados constitucionalmente. EXEMPLOS: • empregados em frigoríficos, telegrafistas e telefonistas com horários variáveis, radialistas do setor de cenografia, todos com jornadas de 07 horas diárias; • os cabineiros de elevador, artistas, bancários e economiários, telegrafistas e telefonistas, operadores cinematográficos, aeroviário em pista, professores, trabalhadores em minas e subsolo, com jornadas de 06 horas; • jornalistas e profissionais radialistas do setor de autoria e locução com jornadas de 05 horas diárias; • Advogado, a Lei 8.906/94 prevê uma jornada de 04 horas diárias 20 horas semanais salvo a existência de acordo ou convenção coletiva de trabalho. (art. 20) Quanto aos Turnos Ininterruptos de Revezamento, a Constituição Federal diz que jornada para os trabalhadores que se submetam ao sistema de turnos ininterruptos é de 06 horas diárias. (art. 7º, XIV, CF). O trabalho por turno é aquele realizado em grupo de trabalhadores que se sucedem nas mesmas máquinas do mesmo empregador, cumprindo horários que permitam o funcionamento ininterrupto da empresa. O revezamento, de que trata o inciso XIV do art. 7º é justamente a troca de trabalhadores em diferentes períodos do dia. Desse modo, enquadra-se no tipo legal o sistema de trabalho que coloque o empregado, alternativamente, em cada semana, quinzena ou mês, em contato com as diversas fases do dia ou da noite, cobrindo as 24 horas do dia. É irrelevante a existência de paralisação total ou parcial da empresa para tipificação dos turnos. Para a configuração do turno o empregado precisa, necessariamente, cobrir com seu trabalho as 24 horas do dia. Se um empregado trabalha continuadamente no horário da manhã, muito embora a empresa funcione nos três turnos, não está este empregado sujeito ao regime do inciso XIV, eis que não trabalha em turnos de revezamento, mas sim em jornada fixa. A mesma situação se vislumbra para o empregado que cobre os horários da manhã e tarde, mas não o da noite, não existindo para este a jornada reduzida. Cabe aqui uma ressalva, pois o TST, através da Súmula 360 entende que é considerado turno ininterruptode revezamento quando o empregado faz apenas dois turnos. 360. TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. DOIS TURNOS. HORÁRIO DIURNO E NOTURNO. CARACTERIZAÇÃO (DJ 14.03.2008) Faz jus à jornada especial prevista no art. 7º, XIV, da CF/1988 o trabalhador que exerce suas a�vidades em sistema de alternância de turnos, ainda que em dois turnos de trabalho, que compreendam, no todo ou em parte, o horário diurno e o noturno, pois subme�do à alternância de horário prejudicial à saúde, sendo irrelevante que a a�vidade da empresa se desenvolva de forma ininterrupta. A jornada reduzida do empregado submetido aos turnos de revezamento tem o objetivo claro de reduzir os males à saúde e à vida social que causa a constante troca de horários. Então, o intuito do legislador foi, claramente, salvarguardar o trabalhador já tão prejudicado pelo ciclo de trabalho em revezamento. A simples concessão de intervalo para refeição e descanso não descaracteriza o turno de revezamento, conforme já pacificado pelo TST em sua Sumula 360 e pelo STF em sua Súmula 675. 675. - Os intervalos fixados para descanso e alimentação durante a jornada de seis horas não descaracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento para efeito do art. 7º, XIV, da Constituição. 360 - A interrupção do trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro de cada turno, ou o intervalo para repouso semanal, não descaracteriza o turno de revezamento com jornada de 6 horas previsto no art. 7º, XIV, da CF/88 As horas prestadas além da sexta diária são horas extras que devem ser remuneradas com os respectivos adicionais legais ou convencionais Não obstante, a parte final do inciso XIV, do art. 7º, da CF prevê que a jornada de seis horas pode ser excepcionada por negociação coletiva e, assim, é entendimento sumulado pelo TST que pode haver flexibilização da jornada de seis horas, até o limite de oito diárias, sem o pagamento da 7ª e 8ª horas como extras, nos termos da Sumula 423, do TST. JORNADA NOTURNA Como a prestação do trabalho em horário noturno é, obviamente, muito mais penosa, o Direito do Trabalho tendeu à conferir tratamento diferenciado a este tipo de trabalho, que abrange, basicamente, duas dimensões: um conjunto de restrições ao trabalho prestado à noite e o favorecimento compensatório no cálculo da jornada noturna e na própria remuneração. Muito embora o conceito de noite seja o do período não abrangido pela iluminação solar, o Direito do Trabalho se afastou um pouco deste conceito e fixou a jornada noturna do trabalhador urbano aquela prestada entre as 22:00 hs até às 05:00 do dia seguinte, (art. 73, §2º), considerando-se a jornada total de oito horas e não sete como aparente, já que a hora noturna é menor que a hora diurna, contando com 52'30'', a chamada hora ficta noturna (art. 73, §1º, CLT) Para as horas prestadas à noite, dentro deste período, é devido ao trabalhador um adicional de pelo menos 20% sobre a hora normal de trabalho. (art. 73, caput) O trabalhador rural tem sua jornada noturna fixada da seguinte forma: • para a atividade pecuária, das 20:00 hs de um dia até às 04:00 hs do dia seguinte; • e, na lavoura, das 21:00 horas de um dia até às 05:00horas do dia seguinte No caso dos rurais, não existe a redução da hora noturna e o adicional incidente é de 25%. Para o trabalho em turnos, muito embora o art. 73, caput faça uma restrição a este tipo de serviço, a Constituição pacificou o entendimento que mesmo ao trabalhador em turnos é devido o adicional noturno, já que fala em remuneração do trabalho noturno superior ao diurno, sem determinar para quais as atividades, nos termos da Súmula 213 do STF. O art. 73, §4º, da CLT fala sobre as jornadas mistas, ou seja, aquelas cumpridas parte durante o horário diurno a parte em horário noturno, aplicando-se, às horas noturnas, o acima estudado. Por fim, as horas prestadas em continuação da jornada noturna, após às 05:00, muito embora existam posições contrárias, são remuneradas como noturnas, conforme disposto no art. 73, §5º, da CLT, entendimento pacificado pela Sumula 60, TST. Sumula 60 I - O adicional noturno pago com habitualidade, integra o salário do empregado para todos os efeitos. II - Cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, devido é também o adicional quanto às horas prorrogadas TRABALHO EM REGIME DE TEMPO PARCIAL O trabalho em regime de tempo parcial, descrito na CLT, se deu com a introdução do art. 58-A, é aquele que não supera o total de 25 horas de serviço por semana. O salário a ser pago aos empregados que trabalham em regime de tempo parcial será, obviamente, proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que cumpram a mesma função em tempo integral. Para que este regime de trabalho seja contratado é exigida a manifestação válida do empregador e do empregado, bem como a existência de acordo ou convenção coletiva de categoria que autorizem a adoção do regime. As duas consequências mais notórias deste regime de jornada eram: a proibição de realização de horas extras e as férias proporcionais ao tempo de serviço (art. 130-A, da CLT). Referido instituto foi alterada pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017), que estabeleceu duas situações para a caracterização do trabalho à tempo parcial: aquela cuja duração não exceda a 30 horas semanais, sem a possibilidade de horas suplementares semanais, ou, ainda, aquela cuja duração não exceda a 26 horas semanais, com a possibilidade de acréscimo de até 6 horas suplementares semanais (CLT, art. 58-A). O objetivo da jornada em regime de tempo parcial é a propiciar um número maior de empregos em razão daqueles que não podem ativar-se em jornada integral. É possível a conversão do contrato de trabalho de tempo integral para parcial, dependendo da opção formal e expressa do empregado perante a empresa, conforme permissão disposta em acordo coletivo ou convenção coletiva (CLT, art. 58- A, § 2º). Os empregados submetidos ao regime tempo parcial não excedente a 30 horas semanais, não poderão prestar horas extras. Os submetidos ao regime em horas inferior a 26 horas semanais, poderão prestar horas extras em um total de 6 horas semanais, a contar do término da jornada contratual, devendo estas serem remuneradas com acréscimo de no mínimo de 50% sobre o salário-hora normal (CLT, art. 58-A, “caput” e §§ 3º e 4º). Outra alteração importante diz respeito às férias anuais, que passaram a serem regidas pelo disposto no art. 130 da CLT, tendo sido revogado o art. 130-A e o parágrafo único deste diploma legal. TRABALHADORES EXCLUÍDOS DO CONTROLE DE JORNADA As Jornadas não Controladas são configuradas toda vez que o trabalho ou não é fiscalizado ou sofre fiscalização mínima, tornando insuscetível de se auferir a real jornada trabalhada pelo obreiro e, assim, sendo inviável o pagamento de horas extras Três tipos de empregados são enquadrados nas jornadas não controladas: os trabalhadores que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horários, os exercentes de cargo de confiança e o teletrabalhador. No entanto, é importante esclarecer que a CLT cria apenas uma presunção de que a jornada destes tipos de trabalhadores não são controladas e, havendo prova de que há controle de jornada se enquadram os mesmos nas regras gerais de duração do trabalho. No tocante aos empregados que exercem atividade externa, nos termos do art. 62, I, CLT, tal circunstância deve ser anotada em CTPS e no registro de empregados, e a presunção atinge, por exemplo, os vendedores viajantes, os motoristas carreteiros e similares Porém, não basta que a atividade seja simplesmente externa, mas sim completamente incompatível com a fixação de horários e com o próprio controle de jornada. Assim, a anotação em carteira e o registro de empregados são apenas elementos de prova que, de fato, não são absolutos, podendo ser desconstituídos por outros meios de prova. O TST, em sua OJ 332 fixou que a mera existência de tacógrafo nos veículos da empresa não configura,por si só, controle de jornada, necessitando o empregado, para tanto, de outros elementos que comprovem a efetiva fiscalização do empregador, como por exemplo, a determinação de comparecimento na empresa no início e no fim da jornada, utilização de roteiros pré-determinados pelo empregador, dever de informar, durante a jornada, os locais onde estão visitando. Existe trabalho controlado não só interno, mas também externo, nos dizeres do art. 74, §3º, CLT, quando o empregado, mesmo que preste serviços externos, tenha roteiros a serem cumpridos em horários lançados em fichas ou papeletas de registro. Art. 74, §3º - Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará do registro manual, mecânico ou eletrônico em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) Não obstante, os empregados que efetivamente não possuem controle de jornada, não tem direito às horas extras ou ao adicional noturno. A segunda hipótese colocada pelo art. 62, II, da CLT refere-se aos empregados gerentes ou os “exercentes de cargo de confiança”, que são aqueles empregados que possuem vínculo especial com seu empregador. Os gerentes são assim considerados por exercerem cargo de gestão na empresa, ou seja, atuam representando ou até agindo como se o próprio empregador fossem e, por este motivo, tendem a ter uma subordinação mais tênue. Assim, para ser um exercente de cargo de confiança não sujeito ao controle de jornada, deve o empregado ter poderes para representar e até agir como o próprio empregador, na tomada de decisões de grande relevância, como a admissão e demissão de funcionários, aplicação de penalidades, transações em nome da empresa, etc. Além deste amplo poder de gestão, também é outra característica do exercente de cargo de confiança a percepção de gratificação de função de, pelo menos, 40% do valor do salário efetivo, muito embora o próprio dispositivo legal nada fale a este respeito. Finalmente, A Lei de Reforma Trabalhista incluiu o inciso III ao art. 62, excluindo os empregados em regime de teletrabalho da duração diária e semanal da jornada de trabalho, e, por conseguinte, retirando o direito de receber horas extras. [1] XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; [2] §2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de cento e vinte dias, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o Iimite máximo de dez horas diárias. (Redação dada pela Lei nº 9.601, de 21.1.1998) [3] Art. 59, §5º: O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) [4] Art. 59, §6°: É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
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