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1 Entendendo o PBL FEBRE Temperatura corporal acima da faixa normal de variação, provocada por anormalidades no cérebro ou substâncias tóxicas que afetam os centros termorreguladores e alteram o “set point” (termostato hipotalâmico). Esse parâmetro é importante, considerado que é isso que diferencia uma febre de uma hipertermia. A febre não é uma doença, é um mecanismo de resposta do organismo a alguma anomalia. OBS: NÃO é sinônimo de infecção, mas por ser causada por infecção, inflamação e trauma FEBRE HIPERTERMIA Elevação do set point hipotalâmico EX: infecção Elevação da temperatura corporal sem alteração do set point hipotalâmico, é decorrente do fenômeno de INTERMAÇÃO (resposta defeituosa do resfriamento do sistema termorregulador frente a temperaturas ambientes extremamente altas), que excede capacidade do organismo de dissipá-la (há falha nesses mecanismos) EX: atividade física excessiva FISIOPATOLOGIA HIPOTÁLAMO ANTERIOR HIPOTÁLAMO POSTERIOR AFERENTE E EFERENTE - Responsável pela perda de calor e sempre reconhece as variações EFERENTE - Responsável pelo ganho de calor A ação de fatores pirogênicos sobre o centro termorregulador do hipotálamo eleva o limiar térmico. PIROGÊNIOS: substâncias que em situações patológicas, atuam no centro de regulação da temperatura no hipotálamo elevando o ponto de ajuste do termostato hipotalâmico e causam conservação e aumento da produção de calor (de forma direta e imediata ou indiretamente, necessitando de várias horas de latência para ter efeito) → ENDÓGENOS: provenientes de tecidos corporais em degeneração, proteínas e produtos de degradação de proteínas, produtos secretados por linfócitos, complexo antígeno-anticorpo. ex: IL-1, IL-6, TNF e IFN. → EXÓGENOS: agentes infecciosos (vírus, bactérias, protozoários), produtos microbianos/fatores de virulência das bactérias (endotoxinas: substâncias das membranas celulares de bactérias - toxinas de lipossacarídeos -, provenientes de bactérias gram negativas), complexos imunes, agentes farmacológicos em indivíduos sensibilizados (penicilina, dipirona, bleomicina) 2 Entendendo o PBL A conservação de calor pode se dar por meio de 2 vias: via humoral 1 e a via humoral 2 VIA HUMORAL 1(Exógena) PIROGÊNIOS EXÓGENOS (bactérias ou produtos de degradação das bactérias presentes nos tecidos ou sangue) → fagocitose e digestão por leucócitos, monócitos e macrófagos teciduais e células NK → liberação de CITOCINAS, que são os pirógenos endógenos (principalmente IL-1 e IL-6 e também TNF-α, TNF-β, IF-α e IL-11) nos líquidos corporais/corrente circulatória → ativação de receptores TLR-4 (Toll- Like) na barreira hematoencefálica → atua no organum vasculosum da lamina terminalis (OVLT), ativa receptores e chega ao CENTRO DE CONSERVAÇÃO DE CALOR no hipotálamo anterior (núcleo pré-óptico) = aumento de COX (alteração da membrana celular) e maior transformação de ácido araquidônico em PROSTAGLANDINA E2 → aumenta o ponto de ajuste hipotalâmico VIA HUMORAL 2 (endógena): → DIRETA: citocinas atuam diretamente no núcleo pré-óptico do hipotálamo (onde se encontra o centro de controle termostático) e provocam o aumento do ponto de ajuste hipotalâmico → INDIRETA: PIROGÊNIOS ENDÓGENOS citocinas ativam receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica e desencadeiam toda a sequência da VIA HUMORAL 1 Como resultado, o ponto de ajuste se torna maior que a temperatura do sangue → termogênese impulsos nervosos desencadeiam respostas metabólicas de produção e conservação de calor. Algumas dessas respostas são: → VASOCONSTRIÇÃO (conservação): fibras nervosas provenientes do centro termorregulador no hipotálamo anterior estimulam o centro vasomotor no hipotálamo posterior, e o nervo simpático causa a constrição dos vasos sanguíneos, primeiramente nas extremidades, desviando o fluxo sanguíneo periférico para órgãos internos = diminui a perda periférica de calor (se concentra no centro do corpo) e aumenta a temperatura corpórea → PILOEREÇÃO (conservação): estímulo simpático estimula a contração dos músculos piloeretores e coloca os pelos na posição vertical, formando uma camada de ar isolante próximo a pele, que diminui a transferência de calor para o ambiente → TREMORES ou calafrios (produção de calor): neurônios motores aumentam tônus muscular no músculo agonista e iniciam o reflexo de estiramento (dos antagonistas), formando um ciclo de contrações no músculo esquelético, que aumenta a produção de calor em 4x a taxa basal → quando o ponto de ajuste é atingido, pessoa não apresenta mais calafrios → AUMENTO DO METABOLISMO (produção de calor): impulsos nervosos simpáticos: - Células neurossecretoras hipotalâmicas produzem TRH (hormônio liberador de tireotrofina) → adeno hipófise (hipófise anterior) libera TSH (hormônio tireoestimulante) → tireóide libera mais TIROXINA T4 (hormônios tireoidianos) no sangue = aumento da taxa metabólica - Atingem a suprarrenal → liberação de A e NA no sangue = aumento do metabolismo celular 3 Entendendo o PBL OBS: quando a temperatura corpórea tende a retornar ao normal frente a novo ajuste no setpoint, os mecanismos de perda de calor são acionados = vasodilatação periférica e sudorese → permite dissipação do calor pela pele → PRÓS: Febre alta é prejudicial para indivíduos muito jovens, desnatura proteínas naturais do corpo e pode causar isquemia (vasoconstrição), arritmias, convulsões ou lesão cerebral; Como ocorre aumento do consumo de O² pelo organismo e a redução na febre também controla cefaléia, mialgia, artralgia e mal estar, tratamento com antipiréticos pode ser válido → CONTRAS: Febre é um sinal de alarme e também uma defesa, enfraquece os patógenos (que precisam de uma faixa de temperatura específica para sobreviver e se reproduzir) para que as células de defesa os eliminem = pode promover RECUPERAÇÃO DA INFECÇÃO; Curva febril auxilia no diagnóstico → uso de antitérmicos podem mascarar a gravidade da doença SEMIOLOGIA Devem ser persistentes as seguintes características semiológicas da febre: inicio, intensidade, duração, modo de evolução e término. INÍCIO → BRUSCO/SÚBITO: doenças infecciosas; Pode ser acompanhada da SÍNDROME FEBRIL (abrange doenças que tem como sinal a febre por um período maior que o habitual, sem sintoma imediato que justifique sua existência): frio, tremor, astenia, inapetência, cefaléia, taquicardia, 4 Entendendo o PBL taquisfigmia, taquipnéia, oligúria, dor no corpo, calafrios, náuseas, vômitos, delírio, confusão mental e até convulsões em RN e crianças → INSIDIOSO/GRADUAL: doenças imunes ou tumores malignos; Pode ser acompanhada de cefaléia, sudorese e inapetência INTENSIDADE INTENSIDADE VALOR REFERÊNCIA (PORTO 8° EDIÇÃO) LEVE OU FEBRÍCULA 37 a 37,5°C MODERADA 37,6 a 38,5°C ALTA OU ELEVADA >38,6°C A faixa de normalidade esperada de temperatura corporal é de 35,3°C a 37,7°C, com uma media de 36,7°C Ainda, considerando variações corporais, tem-se temperaturas: → Temperatura oral ou bucal: região sublingual, reflete a temperatura das áreas centrais do corpo → normal: 36 a 37,4ºC → Temperatura retal: ampola retal, muito próxima à temperatura central (pelo suprimento sanguíneo constante), porém é específica da região e não da somatória das áreas do corpo → normal: 36 a 37,5ºC Ao longo do dia, a temperatura corporal pode variar, ainda, cerca de 0,5°C, ou mesmo ultrapassar 1,0°C DURAÇÃO → Recente: até 7 dias → Prolongada: > 7 ou 10 dias → tuberculose, septicemia, malária, endocardite infecciosa, febre tifóide, colagenoses, linfomas e pielonefrite EVOLUÇÃO Anotações (registro): 1 ou 2 aferições por dia, de 4/4 horas ou de 6/6h → gráficos ou quadros de curva térmica → CONTÍNUA: temperatura permanentemente elevada, com variações de até 0,3ºC → febre tifóide, pneumonia → INTERMITENTE: temperatura elevada com RETORNO aosvalores normais/apirexia cíclica (febre um dia e no outro não, febre pela manhã e apirexia a noite) → malária, infecções urinárias, linfomas e septicemia - Cotidiana: manhã/ tarde/ noite 5 Entendendo o PBL - Terçã: dia sim dia não, a cada 48h → malária por Plasmodium vivax - Quartã: dia sim 2 não, a cada 72h → malária por Plasmodium falciparum → REMITENTE: temperatura permanentemente elevada com variações entre 0,3 a 1,4ºC, que não retorna aos valores normais (sem períodos de apirexia) → abcessos, septicemia, pneumonia e tuberculose → IRREGULAR, HÉTICA ou SÉPTICA: grandes variações > 1,4°C, intercaladas com temperaturas baixas ou apirexia, imprevisíveis (sem caráter cíclico) e bem evidenciadas nas horas do dia → abscessos pulmonares, tuberculose e fase inicial da malária → RECORRENTE ou ONDULANTE: períodos de febre sem grandes oscilações, interrompidos por períodos de apirexia que podem durar dias ou semanas → HIV, brucelose, linfoma de hodgkin e outros linfomas/neoplasias malignas TÉRMINO → Abrupto (“em crise”): desaparecimento súbito acompanhado de sudorese prostração → Lentamente (“em lise”): desaparecimento gradual/lento (diminuição da temperatura dia após dia até os valores normais) sem sintomas associados 6 Entendendo o PBL DIAGNÓSTICO CLÍNICO: aferição de temperatura, anamnese (procedência do paciente, se já estava internado ou veio da “comunidade”) e exame físico completo, investigação de outras queixas (tosse produtiva e dispneia = pneumonia, disúria = ITU, queixa articular = artrite reumatóide ou LES) para determinar etiologia e exames complementares. TRATAMENTO → TRATAR CAUSA BASE → TRATAMENTO DA FEBRE ISOLADAMENTE (dipirona, paracetamol, AINE) depende da situação, não é necessária a manutenção para evitar a elevação de temperatura ANTIPIRÉTICOS: fármacos que reduzem a febre, impedem a formação de PG a partir do ácido araquidônico, abortando ou diminuindo a febre → DIPIRONA (adultos e > 15 anos) IM/IV: 2 a 5 mL → dose máxima/ dia: 10 mL; VO: 500 mg a 1 g/dose até 6/6h → PARACETAMOL (adultos e > 15 anos) VO: 500 a 750 mg/dose 6/6h → AAS (contraindicado na DENGUE, úlcera péptica e trombocitopenia) VO: 300 a 900 mg/dose 4/4h ou 6/6h REFERÊNCIAS: Tratado de Infectologia - 5ª edição Semiologia Médica 8ª edição - Porto Tratado de Fisiologia Médica 13ª edição - Guyton Imunologia: Celular e Molecular - Abbas https://www.scielo.br/j/jped/a/jFq9jVMGQyXns5KqXwLXT7p/?format=pdf&lang=pt
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