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1 
 
 
 
2 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Aspectos Históricos, culturais e conceituais da dependência química ___________________4 
Neurobiologia ______________________________________________________________6 
Neuropsicologia e Dependência Quimica________________________________________14 
Etiologia, critérios diagnósticos e classificação____________________________________18 
Critérios diagnósticos e classificação___________________________________________21 
Comorbidades _____________________________________________________________26 
Principais comorbidades_____________________________________________________28 
Poliusuários _______________________________________________________________33 
Drogas lícitas: Álcool _______________________________________________________37 
Drogas lícitas: Nicotina ______________________________________________________43 
Drogas lícitas: Opióides _____________________________________________________49 
Drogas lícitas: Anfetaminas __________________________________________________55 
Drogas lícitas: Benzodiazepínicos, Ansiolíticos e Hipnóticos ________________________60 
Drogas lícitas: Anabolizantes_________________________________________________64 
Drogas ilícitas: Maconha, Haxixe e Skunk_______________________________________70 
Drogas ilícitas: Cocaína _____________________________________________________75 
Drogas ilícitas: Crack e similares ______________________________________________80 
3 
 
 
Drogas ilícitas: Alucinógenos _________________________________________________83 
Drogas ilícitas: Inalantes e outras drogas de abuso _________________________________87 
Construtos Cognitivos _______________________________________________________89 
Comprometimento da Atenção e Funções Executivas_______________________________94 
Comprometimento da Memória _______________________________________________97 
Comprometimento da praxia e visuo-construção __________________________________99 
Reabilitação Neuropsicológica e Dependência Quimica____________________________101 
Populações Especiais: Crianças e Adolescentes __________________________________103 
Populações Especiais: Mulher, Gestante e Perinatal ______________________________112 
Populações Especiais: Idosos ________________________________________________117 
Populações Especiais: LGBT e conseqüências do abuso____________________________121 
Populações Especiais: Minorias_______________________________________________124 
População em Situação de Rua: ______________________________________________125 
População Indígena: _______________________________________________________127 
População Carcerária: ______________________________________________________128 
Intervenção Breve: ________________________________________________________128 
Terapia de Grupo no Tratamento da Dependência Química ________________________134 
Prevenção a Recaída _______________________________________________________138 
4 
 
 
Terapia Familiar e Dependência Química_______________________________________142 
Grupo de Apoio (Paciente e Família) __________________________________________146 
Redução de Danos _________________________________________________________148 
Papel das equipes multidisciplinares no tratamento da Dependência Química 
________________________________________________________________________151 
Políticas Públicas para a dependência Química e Lei Orgânica ______________________154 
Organização do serviço no tratamento da Dependência Química ____________________158 
Dispositivos de Atenção Psicossocial __________________________________________162 
Comunidades Terapêuticas e Residências Assistidas ______________________________165 
Suicídio e Dependência Química _____________________________________________168 
Fatores de Proteção e Risco na Dependência Química _____________________________173 
Dicas de Filme ___________________________________________________________175 
Referências Bibliográficas _ _________________________________________________177 
Anexos _________________________________________________________________180 
 
 
 
 
5 
 
 
 
MÓDULO I – Aspectos Introdutórios da Dependência Quimica e 
Neuropsicologia 
Aspectos históricos, culturais e conceituais a dependência quimica 
“Toda forma de vício é ruim, não importa que seja droga, álcool ou idealismo.” 
Carl Jung 
 Pontos chaves 
 A história do uso das substâncias psicoativas de confundem com a história da própria humanidade. 
 Compreensão da dependência quimica como doença. 
 
 Vivemos em um mundo permeado de mudanças, com constantes avanços nas ciências 
humanas. A busca da compreensão por certos fenômenos datam idades remotas, no qual o 
olhar investigativo torna-se evidente frente aos fatos que o homem não compreende. É 
interessante destacar que na buscar do plano da compreensão acerca do ser humano e suas 
facetas, o contexto histórico- cultural do objeto que se pretende estudar ocupa lugar de 
destaque. 
 A partir das referências históricas, o fenômeno “uso de substâncias psicoativas” 
marcam seu espaço na história da humanidade, configurando sua presença nas relações 
humanas desde os tempos pré-históricos. 
 De acordo com uma revisão histórica publicada de décadas de pesquisas 
arqueológicas, o seres humanos em todo o mundo fizeram uso de substâncias psicoativas 
como o ópio, álcool e cogumelos alucinógenos desde o período pré-histórico, datando cerca 
de 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural cerca de 5 mil anos atrás. 
Observe que a relação homem-droga é bastante antiga e persistente. O álcool, segundo 
evidências arqueológicas, data sua existência entre 7000 a.C e 6600 a.C, a partir de resíduos 
da bebida (misto de arroz, mel, frutas fermentadas) encontrados em fragmentos de cerâmica 
de um vilarejo chinês. 
Quanto aos alucinógenos, resquícios de fósseis de cacto alucinógeno de São Pedro 
foram encontrados em uma caverna do Peru, entre o ano 8600 a.C e 5600 a.C. Sementes da 
6 
 
 
leguminosa Dermatophylum, forma encontradas na região do sul do Texas no período de 
1000 d.C. Pequenas esculturas de pedra chamada “pedra de cogumelo” foram encontradas na 
cidade Guatemala no México, com possível uso dos cogumelos alucinógenos em cerimônias 
religiosas. 
 Já o ópio, vestígios de fôsseis desta planta foram encontrados em um sítio 
arqueológico na Itália, por meados do sexto milênio a.C. Resquícios de cápsulas de semente 
de papoula e de Opiáceos foram localizados em ossos de esqueleto humano no quarto milênio 
a.C., com indícios de utilização em cerimônias religiosas. 
 Quanto ao tabaco, nota-se que os vestígios de sua existência foi evidenciada em 
cachimbos encontrados na Argentina, por cerca de 2000 a.C., pelos povos que ali habitavam 
neste período. Já a nicotina está presente na história da humanidade desde o período de 300 
a.C. 
 As evidências do uso das folhas de coca datam aproximadamente 8000 atrás, na região 
da América do Sul. Seus resquícios foram encontrados em restos dentários de humanos e em 
cabelo de múmias, o que indica que os povos que faziam uso desta planta, faziam através do 
processo de mascá-la. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota-se que o uso das substâncias 
psicoativas não é um evento novo no repertório humano, ele vem se entrelaçando ao longo da 
história da humanidade, permeadas pela cultura, religião, hábitos e costumes dos povos com 
finalidades específicas. Mas porque este fenômeno é tão Milenar? Podemos inferir que o 
homem sempre buscou através dos tempos, o aumento de seu prazer e a diminuição do 
O termo DROGA, é compreendido no 
ambiente cientifico, como qualquer 
substância capaz de alterar o 
funcionamento do organismo, 
resultando em mudanças fisiológicas e 
comportamentais, sejam elas nocivas 
ou medicinais. 
7 
 
 
sofrimento. O uso das drogas sempre esteve relacionado às questões que fazem parte da 
condição humana, prazer/dor, vida/morte,sofrimento/alívio trazendo a tona à fragilidade 
humana. Observa-se que através da evolução histórica do homem, é possível verificar que em 
cada época este ser apresenta uma maneira particular em lidar com esses elementos, bem 
como a forma de consumo das drogas. 
 
Mas enfim, o que vem a ser dependência quimica? 
 
É o impulso que leva a pessoa a usar droga de forma continua ou periódica, no qual o 
controle do consumo é precário, fazendo com que o dependente aja de forma impulsiva e 
repetitiva com evidentes prejuízos cognitivos, emocionais, sociais e familiares. A 
dependência é entendida como uma DOENÇA que envolve uma gama de fatores 
biopsicossociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neurobiologia 
“O vício não é uma escolha...” 
Dr. Gabor Maté 
 
 Pontos chaves 
 A compreensão da neurociência auxilia no entendimento da neurobiologia da dependência quimica. 
Você sabia... 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtorno Mental – DSM-V, os Transtornos por uso de 
Substâncias, consiste na presença de agrupamentos de 
sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos 
mediante ao uso continuo pelo indivíduo, onde o consumo 
em excesso da substância atua na ativação direta do sistema 
de recompensa do cérebro. Estes transtornos são divido em 
dois grupos: transtorno por uso de substância e transtorno 
induzidos por substâncias. 
8 
 
 
 O sistema de recompensa tem sido um dos fatores para entendimento do abuso das substâncias 
psicoativas. 
 De acordo com pesquisas recentes, as regiões pré-frontais são mais afetadas com o uso de substâncias 
psicoativas, apresentando intima ligação com processo de dependência. 
Compreender a dependência quimica é entender que está doença não está ligada 
apenas a fatores comportamentais e psico-sociais, mas com uma configuração perpassada por 
fatores genéticos e epigenéticos. Atualmente, os avanços científicos na área da dependência 
química permitem dizer que, assim como a ação do uso prolongado de substâncias com 
potencial de abuso no cérebro, aspectos sociais, culturais, educacionais e comportamentais 
têm papel central no desenvolvimento da síndrome de dependência. 
As bases neurobiológicas da dependência química têm recebido crescente atenção em 
inúmeras pesquisas, uma vez que um melhor entendimento dos mecanismos cerebrais ligados 
ao comportamento de dependência tem permitido a busca de tratamentos medicamentosos 
mais eficazes para o comportamento repetitivo de busca pela substância, assim como para a 
síndrome de abstinência. Porém a pouca compreensão das alterações bioquímicas que as 
substâncias de abuso promovem no cérebro humano, assim como da relação entre essas 
alterações cerebrais e comportamentais presentes na síndrome de dependência tem sido 
segundo a comunidade científica, alguns dos motivos que têm impedido o desenvolvimento 
de tratamentos farmacológicos mais efetivos para a os quadros de dependência quimica. 
Observa-se dentro desse contexto, que o sistema dopaminérgico, sobretudo as vias 
dopaminérgicas envolvidas nos circuitos motores, límbicos e cognitivos dos núcleos da base, 
tem-se apresentado como potencialmente envolvido em mecanismos que desempenhariam 
um papel central nas síndromes de dependência e abstinência (Almeida, Bressan & Lacerda, 
2011). 
Mas de fato, qual é o objetivo do estudo da neurobiologia dos transtornos 
relacionados ao uso de substâncias? 
Segundo a literatura cientifica atual, a neurobiologia busca compreender os 
mecanismos genéticos e epigenéticos, além dos mecanismos celulares e moleculares 
envolvidos na dependência de substâncias. Esses mecanismos podem mediar à transição entre 
o padrão de uso chamado “recreacional” e um padrão caracterizado por perda do controle, 
9 
 
 
bem como o comportamento de busca apesar de evidentes prejuízos em diferentes esferas, 
“fissura” e recaídas freqüentes, tipicamente descritos nos quadros de dependência. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
Observa-se 
que na compreensão da 
neurobiologia da 
dependência química o sistema cerebral de recompensa (SCR) tem ocupado papel central na 
tentativa de entendimento desse fenômeno multifacetado. Entende-se que o uso de substâncias 
psicoativas apresentam um mecanismo particular de ação no cérebro, cada droga tem seu 
mecanismo próprio de ação, e essa ação particular atua de forma direta ou indireta no sistema 
recompensa cerebral. 
Mas para que entendamos o sistema cerebral de recompensa, é de suma importância 
tecer uma linha de raciocínio e entendimento acerca dos mecanismos de ação das substâncias 
psicoativas. 
Então, o que é mecanismos de ação? Qual a importância desse entendimento 
para compreensão da dependência quimica? 
 Os mecanismos de ação são expressões utilizadas pela farmacologia, com intuito de 
delinear a interação bioquímica específica que determinada droga em uso produz como efeito 
A transição entre o padrão “recreativo” e a perda de 
controle envolve reprogramação de circuitos neuronais, 
nos quais os processos de motivação, os 
comportamentos de recompensa, a memória, o 
condicionamento, a habituação, o funcionamento 
executivo e o controle inibitório, bem como a resposta 
ao estresse sofre alterações. Sendo assim, essa transição 
é fortemente influenciada por fatores genéticos, de 
neurodesenvolvimento e ambientais, que poderão 
determinar o curso e a gravidade da dependência. 
 
10 
 
 
farmacológico. Em suma, o mecanismo de ação é o alvo molecular específico, uma enzima, 
um receptor em que a droga se conecta. Por exemplo, vejamos o mecanismo de ação do álcool 
na figura abaixo: 
 
Neurotransmissão glutamatérgica e GABAérgica 
Fonte: csmmse.wixsite.com/etanol/dependencia-tolerancia-e-abstinenci 
 Como observado na figura, o mecanismo de ação do etanol ocorre nos 
neurotransmissores GABA (ácido gama-aminobutírico) com efeitos inibitórios e no 
Glutamato – com feitos excitatórios, promovendo alterações simultâneas de inúmeras vias 
neuronais, deprimindo o sistema nervoso central, com profundo impacto neurológico e com 
repercussões no comportamento e cognição do dependente. 
 A partir do entendimento do mecanismo de ação, nota-se que a compreensão das bases 
biológicas no uso das substâncias psicoativas, a partir dos avanços científicos, tem 
evidenciado perspectivas promissoras para o entendimento das alterações neurobiológicas e 
seu desencadeamento nos aspectos fisiológicos, comportamentais e estados emocionais da 
condição que torna a dependência quimica tão complexa. 
 
 
C
omo já 
iniciado 
anterior
Você sabia... 
A quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtorno 
mental (DSM-V) pondera a premissa neurobiológica dos transtornos 
relacionados ao uso de substâncias – os critérios diagnósticos são 
embasados predominantemente em aspectos clínicos comportamentais. 
11 
 
 
mente, o sistema cerebral de recompensa, denominado por James Olds (1950, apud Ornell, 
Diemen & Kessler) como sistema mesolímbico-mesocortical, se projeta anatomicamente na 
área tegmental ventral (ATV) para o córtex frontal e estriado ventral (núcleo accumbens). É 
percebido que este sistema tem participação na busca de estímulos causadores de prazer. Por 
meio de reforço positivo, há o impulso de manter o prazer repetido vezes, criando-se uma 
memória específica. 
No abuso de substâncias psicoativas, os processos fisiológicos de recompensa se 
alteram, dando lugar para a instalação do ciclo de reforço negativo nas vias de gratificação 
cerebral. Embora cada substância tenha um mecanismo de ação particular no cérebro e 
diversos outros núcleos cerebrais serem afetada com o uso da substância, estas acarretam 
alterações no sistema de recompensa no cérebro. Portanto a ativação desta área, a priori está 
relacionada aos sentimentos de prazer reforçados por situações de potencial reforçador, e é 
intensificada como abuso de substâncias que poderão gerar o ciclo da repetição crônica da 
substância. 
 
Sistema de Recompensa Cerebral 
Fonte: http://aumagic.blogspot.com/2019/04/neurobiologia-mecanismos-de-reforco-e.html?m=1 
Segundo Quevedo e Izquierdo (2020) tal processo relatado acima, resulta no aumento 
direto ou indireto das concentrações de dopamina extracelular no sistema de recompensa, 
sobretudo no nucleus accumbens, estendendo-se para a amígdala e induzindo os estados 
excitatórios. A dopamina nesse contexto desempenha papel chave nos processos de 
aprendizagem e está associada a recompensas e a definição de eventos de potencial 
gratificante, onde os estímulos desencadeadores de prazer e sistema de recompensa ocorrem 
pela expressão de dopamina. O aumento de sua concentração sináptica em regiões especifica 
do cérebro está associado às sensações de prazer e bem estar desencadeada frente a certos 
comportamentos. 
12 
 
 
No uso das substâncias, observamos uma liberação bastante elevada da dopamina, 
com intensidade e duração excedente aquelas desencadeadas por reforçadores naturais, 
ocasionando um desequilíbrio entre os circuitos dopaminérgicos relacionados à recompensa. 
De acordo com certos estudos científicos, essa possível repetição crônica da atividade da 
dopamina no sistema de recompensa pode promover um desequilíbrio neuroquímico, 
conduzindo a uma homeostase alterada ao gerar neuoadaptação estruturais e funcionais 
permanentes a neuroplasticidade cerebral. 
 
 
 
Vimos que a dependência quimica é caracterizada por sintomas fisiológicos, 
comportamentais e cognitivos. Mas quais seriam as principais fases do transtorno relacionado 
à substância e suas alterações neurobiológicas? 
 Observamos que o uso da substância psicoativa gera um padrão patológico e mal 
adaptativo de uso, propiciando a continuidade do consumo mesmo na existência de sintomas 
negativos. 
Do ponto de vista clinico, percebemos que os elementos de impulsividade e 
compulsividade produzem ciclos que envolvem a compulsão em conseguir a usar a 
substância. Nota-se a perda de controle sobre o uso com evidente surgimento de sintomas 
Você sabia... 
Os autores Volkow e colaboradores sugerem a presença de 
diferenças marcantes em circuitos cerebrais nos pacientes com 
dependência quimica. O modelo proposto por eles é de que além 
dos circuitos de recompensa, os de memória, condicionamento, 
controle executivo e motivação estão envolvidos na dependência 
de sustâncias. 
13 
 
 
negativos quando o consumo não ocorre. Tais sintomas são: disforia, irritabilidade e 
ansiedade. Como conseqüência do uso agudo e impulsivo, o ato pode se tornar compulsivo e, 
assim, desenvolver o uso crônico, a fissura, a tolerância e a recaída. 
Este processo pode ser resumido na figura abaixo 
 
Neurocircuito e Neurotransmissores 
Fonte: Livro Neurobiologia dos transtornos psiquiátricos 
Observa-se na figura acima que o uso agudo e impulsivo passa por três fases, são elas: 
 Compulsão para busca e obtenção da substância, intoxicação e perda do controle sobre 
o consumo, no qual envolve principalmente a rede ventromedial e o sistema de 
recompensa; 
 Alteração clinica e estados emocionais negativos, quando limitado o acesso a 
substância. Envolve a rede da amígdala estendida e o sistema cerebral de estresse; 
 Preocupação e antecipação. Envolve rede de saliência e o sistema cognitivo. 
Na etapa de compulsão e intoxicação o sistema de recompensa corresponde à rede 
mesocorticolímbica, sendo dividida em dois subsistemas: mesolímbico e mesocortical. O 
sistema mesolímbico ativa o estriado envolvendo o septo, a amígdala e o hipocampo, estando 
associados aos sistemas de gratificação, processos de antecipação e aprendizado de 
recompensas. Já o subsistema mesocortical, inclui além do estriado, o córtex pré-frontal 
medial, giro do cigulo, córtex orbitofrontral e córtex perirrinal. Embora essas áreas estejam 
14 
 
 
associadas às funções executivas, elas possuem papel importante no processamento da 
recompensa quanto no planejamento do comportamento aprendido e direcionado a metas. 
 Nota-se que a exposição do indivíduo repetidamente gera a construção do reforço 
positivo. No abuso das substâncias o cérebro identifica as pistas ambientais associados ao uso 
da substância e as transforma em sinais preditivos de recompensa, causando sensação de 
gratificação mesmo ante de recebê-la (antecipação da recompensa). Com o pareamento dos 
sinais e recompensa, resultando em “Gatilhos”, quando ativados estimulam os neurônios 
dopaminérgicos a emitirem uma reposta frente ao estimulo exposto mesmo antes da 
recompensa ser suscitada. Essas respostas ficam gravadas no cérebro modificando o 
comportamento do indivíduo mesmo após a interrupção do efeito da substância. O 
armazenamento destas repostas ocorrem devido a duas classes de mecanismos moleculares, 
adaptações homeostáticas (papel na tolerância, dependência e na abstinência da substância) e 
aprendizado associativo (papel relacionado na recaídas). 
 Na etapa de abstinência e disforia, podemos entender que a supressão dopaminérgica 
e exposição crônica a picos elevados de dopamina reduzem a ativação da serotonina, 
aumentando assim o sistema cerebral de estresse por meio dos hormônios. Com a progressão 
da abstinência, outros hormônios relacionados ao estresse são recrutados ocasionando 
sintomas como angústia, disforia, insatisfação e anedonia. Nota-se que quando o individuo 
torna-se abstinente por um período, a disforia induz o comportamento de busca da 
recompensa a fim de amenizar os efeitos causados pela privação da substância. Assim, um 
indivíduo que fazia uso da substância na busca da euforia, nessa etapa buscará o alívio da 
disforia, reforçando a dependência do uso. 
 Na terceira etapa preocupação, antecipação e fissura, vemos que o comportamento 
aprendido, tanto pela sensação agradável como pela sensação desagradável, é totalmente 
esperado no transtorno de substâncias. Nessa etapa, a saliência ao estimulo pareado no uso da 
substância se intensifica exigindo recursos de controle no processo de tomada de decisão, no 
qual o mecanismo neurobiológico gera um sistema de “vá/não vá” em busca da recompensa. 
Veja que esse sistema influência intimamente as funções cognitivas, como direcionamento de 
metas e flexibilidade cognitiva. A partir desse exposto, notamos que as alterações cerebrais 
ocasionadas pelo uso de substâncias resultam não apenas na intensificação do desejo de usar 
(fissura), mas também na capacidade do individuo resistir à tentação, gerando um novo 
episódio de compulsão e intoxicação, iniciando assim o ciclo do transtorno relacionado ao uso 
de substâncias. 
15 
 
 
Vimos neste tópico de estudo, à introdução da neurobiologia dos transtornos de uso de 
sustâncias psicoativas, a fim de elucidar pontos importantes para a compreensão deste 
fenômeno complexo e multifacetado. Tais informações sobre os efeitos neurobiológicos e 
potenciais mecanismos fisiopatológicos da dependência química, nos trazem reflexões 
importantes acerca das esferas enigmáticas dos sistemas cerebrais que ocorrem na 
dependência quimica e sua repercução na vida e funcionalidade do sujeito. É importante 
destacar que o período pré-mórbido presente nos usuários crônicos de substâncias é 
considerado uma predisposição do sujeito para o uso. Tentar compreender a dependência 
quimica é manter o olhar no individuo em sua forma biopsicossocial respeitando as dinâmicas 
envolvidas na inter-relação desses aspectos. 
 
Neuropsicologia e Dependência Química 
“Um homem pinta com seu cérebro, não com suas mãos” 
Michelangelo Buonarroti 
 Pontos chaves 
 Compreensão da importância da avaliação neuropsicológica na dependência quimica. 
 O uso de substâncias psicoativas altera o funcionamento cognitivo. 
 Os comprometimentos cognitivos parecem interferir na adesão ao tratamento.Como já discorrido anteriormente o transtorno por uso substâncias é entendido como 
uma doença crônica que afeta as funções cognitivas com repercuções na funcionalidade e 
adesão ao tratamento. Compreender os aspectos de comprometimento neuropsicológico pode 
auxiliar na construção de recursos para um tratamento mais eficaz e individualizado, 
contemplando as limitações e potencialidades cognitivas apresentadas pelo dependente 
químico. Nesta perspectiva a Neuropsicologia surge com objetivo de estabelecer relações 
entre o cérebro e comportamento humano, por meio de processos cerebrais que podem se 
observados direta ou indiretamente. 
Pode-se observar que ao longo da história da humanidade, o homem vem tecendo 
estudos na tentativa de explicar os processos cerebrais. Na antigüidade clássica, Hipócrates 
(século V a.C.) já se referia ao cérebro como o órgão do intelecto. Galeno, no século II a.C., 
em seus estudos, enfatizou que o encéfalo era formado de duas partes: o cerebrum, 
16 
 
 
relacionado às sensações, e o cerebellum, relacionado ao controle dos músculos, sendo que os 
nervos eram condutos que levavam os líquidos vitais ou humores, permitindo que as 
sensações fossem registradas e os movimentos iniciados. 
Já Descartes, referia-se à glândula pineal como centro da alma. Gall, ao final do século 
XVIII, discorreu que as faculdades humanas estariam localizadas em diferentes órgãos e 
centros cerebrais e que as atividades intelectuais estariam situadas nos dois hemisférios 
cerebrais. Com isso, surgiu a base da frenologia e da corrente localizacionista. 
Broca, em 1861, em seus estudos observou que um paciente com hemiplegia à direita 
era capaz de compreender a linguagem falada, porém produzia apenas uma única palavra 
desprovida de significado. As publicações de Wernicke, em 1874, mostraram que lesões nas 
porções posteriores da região temporal superior provocavam alterações de linguagem, sendo 
um tipo de afasia na qual a compreensão estava prejudicada. 
No século XX, Luria desempenhou importante papel para o desenvolvimento da 
Neuropsicologia, no estudo das funções cognitivas, além do trabalho em conjunto com 
Vygotsky, em relação aos mecanismos cerebrais envolvidos e desenvolvidos com a educação 
formal, assunto que é estudado até os dias atuais. 
Mas, então... o que é Neuropsicologia? 
Atualmente, a Neuropsicologia é um campo intermediário entre as neurociências e as 
ciências do comportamento, desenvolvido a partir da neurologia e da psicologia. Nota-se que 
com o constante avanço tecnológico dos exames de neuroimagem permitiu que a investigação 
neuropsicológica contribuísse para o entendimento das relações de complexibilidade entre as 
estruturas cerebrais e o comportamento. 
Com a expansão do conhecimento, e o avanço nas pesquisas científicas, a 
Neuropsicologia nas últimas décadas vem sendo mais conhecida no cenário da sociedade. Por 
ser uma interface dentro neurociência e psicologia, podemos ver os seguintes campos de 
atuação do profissional psicólogo: clinica, hospitais, pesquisa e docência, centro de 
reabilitações, juizados, e áreas onde há a busca do entendimento da entre o cérebro e o 
comportamento e suas repercussões na vida das pessoas. 
17 
 
 
 Observa-se que o Neuropsicólogo busca o entendimento das relações dos 
processos cerebrais/comportamento através do método de avaliação, investigação de 
hipóteses, para assim desenvolver um plano de tratamento para o paciente. Mas qual seu 
objeto de estudo? Quais os domínios cognitivos avaliados pelo Neuropsicólogo? 
 O Neuropsicólogo debruça seus estudos na compreensão da cognição humana. A 
cognição é a expressão de um conjunto de processos cerebrais complexos, responsáveis pela 
elaboração do conhecimento que o ser humano adquire e necessita ao longo de seu 
desenvolvimento. Dessa forma, estamos falando sobre funções cerebrais, das quais podemos 
destacar a atenção, a memória, a linguagem, as funções executivas, as funções visuoespaciais 
e praxias e a percepção. 
As funções cognitivas são habilidades desempenhadas em várias áreas cerebrais, que 
trabalham de forma cooperativa por meio de vias de conexão neuronal. De forma, serão 
destacadas algumas funções. 
A atenção é a capacidade pelos quais o organismo se torna receptivo aos estímulos 
internos e externos. Proporciona habilidades que orientam o organismo a mudar o estímulo, 
trocar o foco e/ou sustentá-lo, inibindo estímulos internos. Este constructo tem um papel 
fundamental na realização das nossas atividades diárias, tendo a dependência do interesse e a 
necessidade da realização de determinada tarefa, como caracteriza primordial. 
A memória consiste na capacidade de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e 
recuperar (evocação) informações. A memória não é um sistema único e se divide em dois 
tipos: memória de curto prazo (ou operacional) e memória de longo prazo. 
As funções executivas permitem ao homem desempenhar, de forma independente e 
autônoma, atividades dirigidas a um objetivo específico de estreita relação com o 
comportamento humano. Essas funções englobam ações complexas que dependem da 
integridade de vários processos cognitivos, emocionais, motivacionais e volitivos, os quais 
estão intimamente associados ao funcionamento dos lobos frontais. Desse modo, as funções 
executivas abarcam processos como planejamento, controle inibitório, tomada de decisões, 
flexibilidade cognitiva, memória operacional, que categorização, fluência e criatividade. 
18 
 
 
Avaliação Neuropsicológica consiste em um 
processo investigativo, sob a perspectiva quantitativa e 
qualitativa, que por meio de ferramentas padronizadas 
(de acordo com o SATEPSI), testes neuropsicológicos 
com evidências de validade na comunidade científica, 
observação clinica, entrevista e anamnese, visa investigar 
a relação entre o funcionamento cerebral e o 
comportamento do sujeito que está sendo avaliado. 
A Praxia é a habilidade de idealizar e executar um ato motor normalmente gestual, 
tratando-se do componente cognitivo do comportamento motor. A percepção é a capacidade 
de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos 
órgãos sensoriais. Já a linguagem é definida através dos processos biológicos e sociais, que 
exprimem seu caráter essencial de favorecer a adaptação do individuo ao meio. 
A partir do entendimento dos constructos cognitivos, iremos entender o conceito da 
avaliação neuropsicológica, que segue logo abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto 
a avaliação neuropsicológica no 
contexto da dependência quimica, busca identificar déficits 
cognitivos, extensão e gravidade, bem como as funções que se encontram preservadas. O 
conhecimento das alterações cognitivas decorrentes do uso de substâncias é fundamental para 
o entendimento do processo de dependência desses indivíduos. Visto que as substâncias 
psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o cérebro, alterando de alguma maneira o 
psiquismo. Com isso, pode-se observar em usuários de substâncias o aparecimento de 
comportamentos inadequados ou ineficientes com a manifestação de prejuízos no 
funcionamento. 
 Nota-se que o estudo nessa área é um desafio, visto que existem diversas dificuldades 
metodológicas para a realização de pesquisas nessa área, como as variáveis do tipo de testes 
neuropsicológicos utilizados, intervalo entre a última vez que a substância psicoativa foi 
19 
 
 
consumida e o momento da avaliação, efeitos do uso de outras substâncias, presença de 
Comorbidades psiquiátricas e tempo e intensidade do uso da substância. 
 Pesquisas cientificas relatam, que o uso das drogas podem alterar o funcionamento 
cognitivo, com repercução na eficácia da proposta de tratamento, visto que as funções mais 
comprometidos no uso referem-se as funções executivas. As alterações nesse domino 
cognitivo denotam incapacidade para utilizar conhecimentosespecíficos em uma ação 
apropriada, dificuldade de mudar de um conceito para o outro e alterar um comportamento 
depois de iniciado, dificuldade em integrar detalhes isolados e de manipular informações 
simultâneas. 
Sendo assim a identificação precoce das alterações cognitivas possibilita o aumento 
das chances de adequar uma intervenção ao dependente químico. Além disso, auxilia no 
complemento do diagnóstico, esclarecendo possíveis dificuldades que o indivíduo possa 
enfrentar para se manter abstinente ou evitar uma recaída. 
 
 
MÓDULO II– Diagnóstico e classificação dos transtornos relacionados ao 
uso de substâncias. 
 Etiologia, critérios diagnósticos e classificação 
 
“O diagnóstico não é o fim, mas o começo da prática” 
Martim H. Fischer 
 Pontos chaves 
 Os modelos etiológicos existentes são teorias com embasamento científico que objetivam a busca da 
compreensão dos motivos e da manutenção do uso das substâncias psicoativa; 
 Devido à complexibilidade da dependência quimica, não existe um modelo etiológico que consiga por 
si só abarcar a dinamicidade dos aspetos que compõem a dependência de sustâncias psicoativas; 
 A característica essencial do transtorno por uso de substância consiste na presença de um agrupamento 
de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo pelo indivíduo, 
mesmo mediante ao comprometimento significativo relacionado a uso da substância; 
 A triagem, ou rastreamento sobre o consumo de drogas deve incluir uma investigação sobre o padrão 
consumo, assim como uma avaliação de sua gravidade. 
 
 
20 
 
 
Os modelos etiológicos são teorias com fundamento científico, construídas com 
propósito de explicar e orientar as observações dos autores sobre o fenômeno da 
dependência química, com certa predição deste fenômeno para assim fundamentar as 
intervenções, na tentativa de explicar os motivos do primeiro episódio de consumo, da 
permanência do uso ocasional, da manutenção de uso, do surgimento de padrão de uso 
nocivo, e por fim a compreensão do surgimento da dependência. 
Dentre os modelos etiológicos, podemos destacar: modelo moral, modelo de 
temperança, modelo de degenerescência neurológica, modelo de aconselhamento 
confrontativo, modelos naturais, modelos biológicos, modelos psicológicos, modelos 
espirituais, modelo de saúde publica e ecletismo informado. 
Um dos primeiros modelos etiológicos foi o modelo moral criado na tentativa da 
sociedade contemporânea de entender e controlar o uso de substâncias psicoativas, 
enfatizando a escolha pessoal como fator de causa primordial. Nota-se que nesse modelo é 
uma reedição do pensamento acerca do uso excessivo do álcool desde a antiguidade 
clássica. 
No modelo de temperança a embriaguez era considerada uma doença, no qual 
gerava perda de controle e comprometimento do equilíbrio corporal. Nesse modelo a 
intensidade do consumo variava ao longo de um continuum de gravidade, na qual os 
problemas ocorriam ao longo do tempo. 
Já modelo de degenerescência neurológica, apresentou pensamentos 
revolucionários para época. O termo “alcoolismo” foi utilizado pela primeira, na 
sociedade, e sendo compreendido como uma doença de fato. Neste modelo havia pouca 
atenção para os aspectos comportamentos, o foco de tratamento era voltado para 
internações prolongadas e tratamentos físicos, como tônicos banhos a vapor e estimulação 
farádica até o uso de sanguessugas. 
O modelo de aconselhamento confrontativo defendia a idéia que o dependente era 
um indivíduo que recebera na vida muitas provisões sem aprender a compartilhar quando 
adulto. Desta forma, o método enfatizava convivência comunitária, hierarquizada entre os 
dependentes utilizando da terapia denominada “choque”, ou seja, uma confrontação 
agressiva como cerne da intervenção. 
21 
 
 
Os modelos naturais enfatizavam que o homem possui uma tendência inata e 
universal ao consumo de drogas, tendo como percepção do dependente, um sujeito fraco 
diante da sua incapacidade de se controlar, responsabilizando-o por suas escolhas e por 
seus excessos, com evidentes vieses sociais e culturais neste modelo. 
O olhar para o aspecto orgânico com enfoque nas alterações físicas e psíquicas da 
dependência quimica surge os modelos biológicos como fonte de estudo e compreensão da 
predisposição biológica para o desenvolvimento do uso indevido de substâncias 
psicoativas, considerando os estágios da dependência quimica. Dentro desse modelo surge 
o modelo constitucional e as explicações neurobiológicas e genéticas que trouxeram 
avanços incontestáveis para o entendimento atual da dependência química. 
Nos modelos psicológicos as teorias psicológicas estão focadas no individuo, bem 
como nos processos que os conduziram ao consumo desregrado das substancias 
psicoativas. Nesse modelo, a psicoterapia é uma das técnicas utilizadas com intuito de 
compreender a natureza e qualidade da experiência individual que aumentam a 
probabilidade e o risco do desenvolvimento da doença. Dentre as teorias psicológicas 
abarcadas dentro desse modelo se destacam: o modelo caracteriológico e determinista, as 
explicações psicanalíticas, a teoria sistêmica, teorias comportamentais e a teoria 
cognitivo-comportamental. 
Já os modelos sociais são embasados pelo referencial teórico da terapia cognitivo-
comportamental, bem como no treino das habilidades sociais. Dentro desse modelo temos 
a teoria de controle social como outra vertente existente. 
No modelo espiritual a espiritualidade é uma característica única e responsável 
pela ligação do individuo com o universo e com os outros, estando para além da religião e 
religiosidade. Este modelo propõe que há uma possível influência positiva da 
espiritualidade na recuperação dos dependentes químicos. Principais exemplos são os 
Alcoólicos Anônimos (AA) e congêneros. 
O modelo de saúde pública correlaciona a interação entre sujeito, ambiente e 
substância psicoativa, visando à explicação do fenômeno da dependência química. 
Observa-se a construção de uma inter-relação dos aspectos de aprendizado social, controle 
social, psicológicos, estados biológicos e espirituais do individuo com intuito de entender 
a suscetibilidade ao uso e o processo de evolução do consumo. 
22 
 
 
E por fim, o modelo ecletismo informado assim como o modelo de saúde pública 
reúne os fatores biológicos, psicológicos, sociais e da própria substância envolvidos na 
gênese do uso indevido das drogas. Esse modelo entende que cada indivíduo requer uma 
abordagem especialmente desenhada e que leve e consideração seu estágio de tratamento 
e suas idiossincrasias. 
Critérios diagnósticos e classificação 
 Segundo Marque (2017): 
 “Qualquer avaliação inicial em saúde tem como objetivo coletar dados do indivíduo 
para identificá-lo social, demográfica e economicamente, pesquisar sobre seu estado 
de saúde e suas possíveis alterações, investigar a sua história clínica, seus 
antecedentes familiares e, então, desenvolver a hipótese diagnóstica e planejar seu 
cuidado”. (pg. 83) 
 Para se realizar uma avaliação com triagem específica no uso, abuso e dependência de 
substâncias psicoativas existem algumas considerações a serem adotadas pelos profissionais 
de saúde na execução do processo de triagem, são elas: 
 Não há uso seguro de drogas psicoativas; 
 O uso nocivo e a dependência de álcool e outras drogas são poucos diagnosticados; 
 As complicações clínicas ocorrem com maior freqüência; 
 A demora do diagnóstico impacta negativamente no prognóstico; 
 Evidente deficiência na formação e conhecimento dos profissionais que atual na área. 
Nota-se que a entrevista inicial deve ser conduzida de fora clara, simples, breve, 
flexível e ampla, e apenas ao final focar os hábitos do indivíduo em relação ao seu uso ou 
abuso de substâncias psicoativas. Na entrevista inicial os instrumentos como escalas e 
questionários podem ser utilizadosa fim de contribuírem para a construção do diagnóstico 
clínico, e corroborarem na consistência da intervenção implementada com possíveis melhoras 
a adesão no tratamento. 
Nos serviços especializados, assim como o diagnóstico das complicações, 
comorbidade psiquiátricas, a avaliação terá um enfoque mais aprofundado, pois a 
complexibilidade do diagnóstico propõe maior elucidação dos aspectos clínicos para se 
estabelecer a construção de um tratamento adequado e eficaz. 
23 
 
 
Observa-se, que de acordo com a literatura cientifica atual, existe uma freqüência de 
sintomas que são considerados sinalizadores do uso problemático de drogas psicoativas, 
observados ao longo da história do problema atual e durante o exame psíquico (história do 
problema até queixa atual –anamnese completa), logo após o exame físico, realizado por um 
médico especialista. É de suma importância dar enfoque na pesquisa sobre o inicio do uso e 
outros eventos correlacionados, a saber, o último uso, quantidade, vias de administração da 
substância psicoativa, ambiente, etc. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota- se que além dos 
sintomas relatados acima, há o 
esquadrilhamento dos 
sintomas físicos observados 
durante o exame físico 
realizado pelo médico especialista 
em álcool e outras drogas, são 
eles: 
 Tremor leve – sugestivo de uso de diferentes substâncias; 
 Pressão arterial lábil – sugestiva de síndrome de abstinência de alcool, nicotina, 
cocaína; 
SINTOMAS SINALIZADORES: 
 
 Distúrbio do sono; 
 Depressão; 
 Ansiedade; 
 Humor Instável; 
 Irritabilidade exagerada; 
 Disfunção sexual; 
 Problemas gastrintestinais; 
 Alterações da pressão arterial; 
 História de traumas e acidentes 
freqüentes; 
 Alterações da memória e da percepção 
da realidade; 
 Faltas freqüentes no trabalho ou na 
escola ou diante de compromissos 
24 
 
 
 Taquicardia e/ou arritmia cardíaca – uso de estimulantes ou síndrome de abstinência; 
 Aumento do fígado; 
 Irritação das conjuntivas – sugestiva de uso de maconha, crack, álcool, nicotina; 
 Irritação nasal; 
 Odor de álcool; 
 Odor de maconha ou nicotina nas roupas; 
 “Síndrome da higiene bucal”, disfarce do odor de álcool ou tabaco. 
 Uso freqüente de colírio ocular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dentro dessa 
perspectiva, se o indivíduo 
se mantiver colaborativo, com a percepção que um novo processo se inicia, o diagnóstico 
relacionado ao uso de drogas psicoativas poderá ser mais bem realizado. 
Você sabia... 
Oito etapas a ser seguida na apresentação do 
Diagnóstico para o paciente: 
1. Clareza dos critérios positivos e /ou 
negativos; 
2. Explicação do método adotado; 
3. Enfatizar que o problema não é culpa do 
individuo; 
4. Definir com o individuo a responsabilidade 
da etapa seguinte; 
5. Apresentar o plano de tratamento mínimo 
ou encaminhamento; 
6. Sugerir participação familiar no 
tratamento; 
7. Planejamento do retorno; 
8. Rastrear os problemas relacionados ao uso 
das drogas. 
25 
 
 
Outro fator importante a se manter durante a entrevista é o estabelecimento de um 
vinculo com o individuo, a fim de facilitar a colaboração do individuo, a adesão e efetividade 
ao tratamento. Lembre-se que para cada indivíduo, haverá a construção de um plano 
terapêutico único e individualizado, conhecido com Plano Terapêutico Singular, compatível 
com o grau de sua problemática. 
Segundo a OMS, o abuso ou a dependência de substancias é entendida como um uso 
nocivo como “um padrão de uso de substâncias psicoativas e psicotrópicas que esteja 
causando dano à saúde.” (Marques, 2017) 
Segundo o CID-10, os critérios para o uso nocivo das substâncias psicoativas são: 
 
 
 
 
 
 
 
 
J
á de 
acordo 
com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V) o diagnóstico de 
um transtorno por uso de substância baseia-se em um padrão patológico de comportamento 
relacionado ao uso, levando a comprometimentos ou sofrimentos clinicamente significativos, 
manifestados pelo menos dois critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses. Podem 
apresentar uma gama de a gravidade, desde leve a grave. Uma gravidade leve sugere a 
presença de dois a três sintomas; moderado, por quatro ou cinco sintomas; e grave por seis ou 
mais sintomas. A síndrome de abstinência (critério 11) ocorre quando as concentrações de 
uma substância no sangue ou tecidos diminuem em um individuo que manteve uso intenso 
 O diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado à saúde 
física e mental do usuário; 
 Presença de intoxicação aguda ou a “ressaca” não são evidências 
suficientes do dano a saúde requerida para codificar uso nocivo; 
 Padrões nocivos de uso são com freqüência criticada por outras 
pessoas e estão associados às conseqüências sociais diversas, não são 
suficientes para evidenciar o uso nocivo; 
 O uso nocivo não deve ser diagnosticado se a síndrome de 
dependência, um transtorno psicótico ou outra fora específica de 
transtorno relacionado ao uso de drogas ou álcool estiverem presentes. 
26 
 
 
prolongado, no qual o sujeito busca consumir a substância para aliviar os sintomas da 
abstinência. 
A fim de melhor organizar os critérios diagnósticos propostos pelo DSM V, segue a 
tabela abaixo: 
 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DOS TRANSTORNOS RELACIONADOS A USO DE SUBSTÂNCIA – DSM V 
Critério A Baixo controle, deterioração social, uso arriscado e critérios farmacológicos 
Critério 1 Substância consumida em quantidades maiores, ou por um tempo mais longo do 
que pretendido. 
Critério 2 Desejo persistente de reduzir ou regular o uso da substância com esforços 
malsucedidos. 
Critério 3 Muito tempo gasto para obter a substância ou na recuperação de seus efeitos. 
Critério 4 Fissura ou forte desejo em usar a substância. 
Critério 5 Uso recorrente da substância pode resultar no fracasso em cumprir obrigações no 
trabalho, escola ou no lar. 
Critério 6 Mesmo mediante os prejuízos sociais e interpessoais persistentes, a continuidade do 
uso da substância é mantida. 
Critério 7 Abandono ou redução de atividades profissionais, sociais ou recreativas por conta 
do uso da substância. 
Critério 8 Uso recorrente da substância em situações que apresentam perigo para integridade 
física do indivíduo. 
Critério 9 Uso mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico 
persistente ou recorrente, que tende a ser causado pelo uso da substância. 
Critério 10 Tolerância definida pelos seguintes aspectos: 
a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores para alcançar o 
efeito desejado; 
b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma 
quantidade da substância. 
Critério 11 Abstinência manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: 
27 
 
 
a. Síndrome de abstinência característica do uso da substância de acordo 
com os critérios propostos pelo DSM V para a síndrome de abstinência 
de cada substancia usada; 
b. Substância utilizada para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 
É importante ressaltar que a dependência de substâncias é um fenômeno que se 
caracteriza por padrões diferenciados de consumo. Pacientes dependentes químicos podem 
apresentar diversos graus de consumo, desde um consumo que no momento não gere 
prejuízos evidentes, passando por níveis que afetam determinados contextos da vida do 
indivíduo, até chegar a padrões que prejudicam intensamente sua vida, o que podemos 
considerar um nível grave de dependência. Mesmo o paciente tratado e em determinado 
momento “abstinente” do uso de determinada substância ainda é dependente químico, embora 
não esteja dependente de uma substância específica naquele exato momento. 
A equipe que acompanha o dependente químico, deve estar atento a esse padrão de 
consumo, a partir dessa observação elaborar um plano de tratamento que atenda às 
necessidades específicas daquele paciente e não utilizar um modeloque chamamos de 
tamanho único. Devem-se evitar posições radicais, não diagnosticando o paciente à luz dos 
critérios diagnósticos puramente, mas compreendendo os sistemas diagnósticos à luz do 
paciente que temos à nossa frente e de sua história, pois a partir desse olhar, o planejamento 
do tratamento será orientado de forma singular a partir das hipóteses levantadas. 
 
Comorbidades Psiquiátricas 
“Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou fazer um castelo…” 
Fernando Pessoa 
 
 Pontos chaves 
 Comorbidade compreendida como a incidência de duas patologias durante o mesmo curso do 
adoecimento; 
 Teorias desenvolvidas objetivando com intuito de explicar a co-ocorrência dos transtornos relacionados 
ao uso de substâncias e dos transtornos mentais; 
 Complexidade na construção do diagnóstico entre duas patologias, devido à inespecificidade dos 
sintomas ou o fato de ser comum tanto para o quadro produzido pela substância (ou pela falta dela) 
quanto para um quadro primário. 
28 
 
 
 
 Comorbidade é compreendida como a ocorrência de uma patologia qualquer em um 
individuo já portador de outra doença, com potencialização recíproca entre elas, apresentando 
capacidade em alterar a sintomatologia, interferindo no diagnóstico, tratamento e prognóstico 
da primeira doença. 
 No que se refere aos transtornos mentais, o consumo de substâncias psicoativas 
aumentam a chance do surgimento de outros transtornos, podendo mimetizar, atenuar ou 
piorar os sintomas físicos, cognitivos, emocionais ou comportamentais de outros transtornos 
psiquiatricos, tecendo assim certa complexibilidade na construção do diagnóstico. 
 Vista a complexidade na compreensão do surgimento da doença secundária 
(comorbidade) ou das associações entre duas doenças, ou seja, na tentativa em explicar os 
principais transtornos associados ao consumo de substância e o impacto dos quadros 
comorbidos, foram desenvolvidas varias teorias objetivando os principais motivos pelos quais 
o uso de drogas e dos transtornos mentais geralmente co-ocorrem. 
 Dentre as teorias criadas, temos as seguintes: 
 
 
 
 
 
 
Na Hipótese da etiologia comum, o transtorno primário e o comórbido seriam 
apresentações da mesma doença em formas e estágios diferentes resultantes de fatores 
extrínsecos e intrínsecos associados a uma predisposição genética. 
Já na Hipótese bidirecional, a presença de um determinado transtorno resultaria no 
surgimento de outro, ambos se influenciando durante seus cursos. O surgimento do primeiro 
transtorno causaria fragilidades (vulnerabilidades), facilitando o surgimento do segundo. 
 Hipótese da etiologia comum; 
 Hipótese bidirecional; 
 Hipótese do uso de substâncias secundário ao transtorno psiquiátrico; 
 Hipótese do transtorno psiquiátrico secundário ao do uso de substâncias. 
29 
 
 
Na Hipótese do uso de substâncias secundário ao transtorno psiquiátrico, a condição 
psiquiátrica causaria sofrimentos que seriam atenuados pelo uso de substâncias, na tentativa 
de produzir melhoras nos sintomas apresentado pelo transtorno psiquiátrico. 
Observa-se que na Hipótese do transtorno psiquiátrico secundário ao do uso de 
substâncias, relata que o consumo da substância antecede o surgimento da doença 
psiquiátrica. 
Principais Comorbidades associadas 
Esquizofrenia 
Segundo a Classificação internacional de doenças – 10º edição (CID-10), esse 
transtorno é caracterizado por distorções do pensamento e da percepção, sem mudanças do 
nível de consciência, e pela presença de afeto embotado ou inadequado. Inicialmente, não 
ocorrem alterações intelectuais, mas estas podem surgir no decorrer da evolução da doença. 
A esquizofrenia é uma patologia complexa, crônica e com dificuldades de tratamento 
próprias, que são exacerbadas quando associadas a quadros de consumo abusivo/dependência 
de substâncias, ocasionando piora na evolução em comparação com pacientes que não 
apresentam tal comorbidade. 
Nota-se que o uso de substâncias associados à esquizofrenia, pode estar atrelados Na 
tentativa de minimizar os sintomas da doença e os efeitos colaterais dos remédios utilizados; 
em pacientes suscetíveis, o consumo abusivo de substâncias propiciaria o surgimento da 
patologia ainda não desperta; ou, por fim, não existiria relação causal entre estas, mas uma 
coincidência no surgimento dos dois transtornos por apresentarem semelhanças quanto à 
idade de instalação e à prevalência. 
Depressão 
 Segundo a CID-10 são caracterizado por humor deprimido, perda do interesse e do 
prazer e energia reduzida, que resulta em diminuição de atividade, em virtude de maior 
fatigabilidade. Outros sintomas importantes são: 
1. Redução da concentração e da atenção; 
2. Redução da autoconfiança e da autoestima; 
30 
 
 
3. Idéias de inutilidade e culpa pessimismo acerca do futuro; 
4. Idéias que podem levar a atos autolesivos ou ao suicídio; 
5. Alteração de sono; 
6. Apetite diminuído. 
O diagnóstico é feito com a sintomatologia apresentada, envolvendo dois dos sintomas 
principais e pelo menos dois dos seis itens anteriores por um período mínimo de duas 
semanas. 
Observa-se que a droga mais freqüentemente associada ao quadro depressivo é o álcool. 
Em geral, a depressão antecede o surgimento da dependência do álcool, principalmente em 
mulheres, porém, na maioria das vezes, é muito difícil determinar o transtorno primário e o 
secundário, visto que há interferência entre os transtornos depois de instalada a comorbidade. 
A importância do diagnóstico está em determinar se os sintomas apresentados pelo paciente 
fazem parte da depressão ou se estão relacionados com o consumo de álcool. É necessária 
abstinência de pelo menos duas semanas para que seja realizado o diagnóstico, quando, então, 
os sintomas podem persistir ou haver remissão total do quadro depressivo, mesmo sem a 
utilização de antidepressivos. 
Transtorno bipolar 
O transtorno afetivo bipolar é caracterizado por repetidos episódios de perturbação do 
humor e dos níveis de atividade, que ocasionalmente estarão relacionados com o aumento da 
atividade e da energia e com a elevação do humor e, outras vezes, apresentarão redução de 
energia e atividade com humor rebaixado. A recuperação entre os episódios é completa e tem 
incidência igual para ambos os sexos, podendo ocorrer em qualquer idade, de crianças até 
idosos. Os episódios depressivos tendem a durar por volta de seis meses e os quadros de 
mania duas semanas a quatro meses. 
O Transtorno Bipolar do humor costuma ser associado ao consumo de drogas/álcool 
com piora no prognóstico, com maior número de episódios e internações, sendo estas mais 
prolongadas, além de levar à maior risco de suicídio. 
No consumo de cocaína há produção de sintomas semelhantes aos dos quadros de 
hipomania/mania, como agitação, disforia, aumento de energia, pensamento acelerado e 
grandiosidade, que, contudo, ficam limitados à ação da droga e surgem após consumo recente. 
31 
 
 
Nota-se que as substâncias que estimulam o sistema nervoso central, possuem tendência em 
produzir, mimetizar e perpetuar um quadro maníaco. 
Já nos episódios depressivos, observa-se que o consumo de álcool pode aumentar em 
15%. Já nos quadros de mania, esse aumento pode ser ainda mais significativo, de cerca de 
25%, tornando o diagnóstico das doenças afetivas ainda mais difícil por apresentarem vários 
sintomas em comum com os quadros relacionados com a substância. 
Transtornos de ansiedade 
 Alguns estudos indicam que um terço dos alcoolistas apresenta um quadro 
significativo de ansiedade, com evidências de que 50 a 67% dos alcoolistas e 80% dos 
dependentes de outras drogas têm sintomas que se assemelham aos do transtorno de pânico, 
dos transtornos fóbicos ou do transtorno de ansiedade generalizada. 
Os quadros ansiosos são comumente associados aos transtornos por consumo de 
drogas. Essa estreita relação pode ser explicada pelo fato deas drogas psicoativas, de modo 
geral, causarem sintomas de ansiedade por intoxicação com drogas estimulantes do sistema 
nervoso central ou por um quadro de abstinência a depressores deste sistema. Outras drogas 
perturbadoras do funcionamento do sistema nervoso central, como a maconha, também 
podem produzir efeitos como ansiedade, com quadros de pânico transitório. 
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade 
 Esse grupo de transtornos caracteriza se por início precoce podendo ser feito na idade 
adulta, comportamento hiperativo, com desatenção marcante (julgadas com referência as 
normas apropriadas do desenvolvimento) e falta de envolvimento persistente nas tarefas, além 
de conduta invasiva nas situações e persistência na duração dessas características de 
comportamento. 
Pesquisas associando a esse transtorno e os usos de substâncias têm revelado alto grau 
de sobreposição e de comorbidade. Estudos prospectivos de crianças, cujos sintomas 
persistiram na adolescência e na idade adulta, têm demonstrado que estas estão em risco 
aumentado de consumo abusivo de substâncias, o qual se torna ainda maior se associado a 
Comorbidades com outras entidades psiquiátricas, como transtorno de personalidade 
antissocial. 
32 
 
 
 Ratto e Cordeiro (2018) relatam que cerca de 33% dos adultos com TDAH têm 
problemas relacionados com consumo abusivo/dependência de álcool e drogas, entre as quais 
a maconha é a mais comumente utilizada, seguida de estimulantes e cocaína. O consumo de 
álcool nessa população, segundo estudo recente, tem representativa prevalência: cerca de 38% 
das pessoas que apresentaram TDAH na infância. 
Transtornos de personalidade 
Segundo o CID-10, são perturbações graves da constituição caracterológica e das 
tendências comportamentais do indivíduo, ou padrões de comportamentos mal adaptativos e 
desvios significativos da norma cultural do modo de pensar, sentir, perceber e, 
particularmente, de se relacionar com os outros. Esses transtornos tendem a surgir no final da 
infância ou adolescência, mas o diagnóstico antes dos 16 ou 17 anos de idade talvez seja 
inapropriado. Dentre os transtornos de personalidade com maior prevalência durante no uso 
de substâncias, destacam-se o Transtorno de personalidade antissocial e transtorno de 
personalidade borderline. 
Nota-se que muitos estudos têm documentado a prevalência de transtornos de 
personalidade e uso de substâncias. A presença de um transtorno de personalidade pode 
modificar os sintomas apresentados, a resposta terapêutica e o curso da dependência. 
Transtornos alimentares 
Anorexia nervosa 
 É um transtorno caracterizado por determinada redução de peso, induzida e/ou 
mantida pelo paciente, mais comum em adolescentes e mulheres jovens. Sendo necessários os 
seguintes critérios para o diagnóstico desse transtorno: 
 O peso corporal é mantido 15% abaixo do ideal; 
 Autoimagem distorcida; 
 Ocorre um transtorno endocrinológico generalizado, com várias alterações 
manifestadas em mulheres, como amenorréia, e em homens, como diminuição de 
interesse e potência sexuais. 
Bulimia nervosa 
33 
 
 
É um quadro caracterizado por repetidos ataques de ingestão de grandes quantidades 
de alimentos com preocupação excessiva relacionado ao peso corporal. Pode ser seqüela da 
anorexia nervosa (mas o inverso também pode ocorrer) e sua incidência tende a ser 
semelhante quanto à idade e ao sexo, porém, é um pouco mais tardia. 
Os critérios diagnósticos para a bulimia nervosa são: 
 Preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de comida; 
 Para tentar neutralizar os efeitos de engorda dos alimentos, o paciente auto induz 
vômitos, abusa de purgante, tem períodos de inanição e utiliza drogas anorexígenas. 
No caso de pacientes diabéticos, observa-se a negligência no tratamento com a 
insulina; 
 Existe um medo acentuado em engordar, gerando um limiar de peso, estabelecido pelo 
próprio paciente, bem abaixo do que se consideraria saudável na opinião de um 
médico. 
Diagnóstico 
 Segundo Ratto e Cordeiro (2018) as dificuldades encontradas na realização do 
diagnóstico estão circunscritas a inespecificidade dos sintomas ou o fato de serem comuns 
tanto para o quadro produzido pela substância (ou pela falta dela) quanto para um quadro 
primário. Porém, um tratamento adequado só será possível após um diagnóstico mínimo. Para 
tanto, podem ser utilizados: anamnese e exames clínicos adequados, questionários 
padronizados, dados do prontuário e entrevistas aos profissionais que atendem ou atenderam o 
paciente, entrevistas familiares, análise de amostras de urina e cabelo. 
Por se tratar de uma população com diferente apresentação de sintomas e evolução, 
muitos dos tratamentos propostos para pacientes sem comorbidade se mostram impróprios 
para os que recebem esse diagnóstico. Muitos programas têm sido propostos para auxiliar na 
conscientização da necessidade de abstinência, adesão ao tratamento e reorganização de redes 
sociais. Existe uma gama de programas propostos para esses pacientes. Alguns serviços 
seguem o modelo dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos (AA) e outros oferecem lares 
abrigados, entre outras opções, porém, nenhum destes se mostrou superior. 
Nota-se que devido à complexibilidade do tema, alguns tópicos importantes devem ser 
observados durante a implementação da estratégia mais eficaz durante o tratamento: 
34 
 
 
 A abordagem deve ser integrada e com o uso de estratégias de manejo biopsicossocial; 
 Deve haver sinergismo, melhorando o quadro psíquico comum ao quadro de consumo 
abusivo de substâncias, e redução do risco de recaídas, melhorando a qualidade de 
vida. 
Segundo a Associação Brasileira de Estudos de álcool e outras drogas (ABEAD) a 
melhor abordagem no tratamento de pacientes com Comorbidades devem contemplar a 
integralidade, visando o tratamento em conjunto de ambas as patologias com abordagens que 
possam aumentar a adesão e programas psicoeducacionais para atendimento familiar. Deve-se 
levar em conta a interação do estágio de motivação para o tratamento do transtorno 
relacionado a uso de substâncias psicoativas e para outra patologia comórbida. Nota-se a 
importância da utilização de tratamento medicamentoso na fase de desintoxicação e fase 
inicial do tratamento, o uso de técnicas psicossociais e atendimento familiar e bem como o 
acompanhamento psiquiátrico. 
 
Poliusuários 
“A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”. 
Anônimo 
 
 Pontos chaves 
 O uso de mais de uma substância é REGRA para o conceito de policonsumo. 
 A associação de várias substâncias, seja simultânea ou seqüencial, pode produzir sinergia de seus 
efeitos e apresentações clínicas atípicas. 
 A compreensão do policonsumo auxilia no estabelecimento de intervenções terapêuticas adequadas. 
 
O policonsumo de substâncias psicoativas pode ser definido como o consumo 
concomitante ou consecutivo de diferentes drogas lícitas e/ou ilícitas. O uso de múltiplas 
substâncias é um padrão que atualmente se constitui mais em regra do que em exceção. A 
abrangência do termo permite, porém, que diferentes tipos de uso possam ser considerados 
nessa categoria. Dessa maneira, o poliuso de substâncias pode ser definido sob alguns 
35 
 
 
parâmetros, vistos a seguir. Padrão de poliuso simultâneo é o uso de duas ou mais substâncias 
em um intervalo de tempo curto o suficiente para que haja interação entre os diversos efeitos 
psicoativos. Nessa situação, os efeitos de uma substância podem atenuar os efeitos 
desagradáveis de outra, ou ainda prolongar o efeito de outra substância. 
Nota-se que o uso das substâncias normalmente inicia-se na adolescência, na qual os 
usos dessas substâncias costumam ser lícitas, a saber, álcool e tabaco. A evolução para 
poliuso na adolescência está associada, entre outros fatores, a dificuldades sociais e pouca 
continência familiar, podendo ser um fator indicativode maior gravidade e maior chance de 
desenvolvimento de dependência. Nessa fase ocorre o desenvolvimento neuronal do sistema 
límbico do córtex pré-frontal, com aprimoramento das funções executivas. O controle da 
impulsividade nessa fase é precário devido a um de desequilíbrio natural entre o 
desenvolvimento de vias inibitórias e estimulatórias. 
Um dos princípios mecanismos neurobiológicos da dependência envolve o lobo frontal 
e o sistema límbico, que tem seus circuitos neuronais alterados com a mediação 
principalmente dos neurotransmissores, tais como: dopamina, serotonina e norepinefrina. 
Sendo assim as substâncias podem ser classificada em três classes em relação a sua ação 
principal no sistema nervoso central: depressoras (álcool, sedativos, hipnóticos, solventes, 
opioides), estimulantes (nicotina, cocaína/crack, anfetaminas, anfetaminícos) e perturbadoras 
(maconha e outros canabinoides, anticolinérgicos, alucinógenos naturais e sintéticos). 
Nessa compreensão, podemos discorrer que a associação de substâncias da mesma 
classe produz sinergismo de seus efeitos, tanto na intoxicação quanto na exarcebação dos 
quadros de abstinência. Já a associação de classes diferentes pode produzir metabólicos ativos 
e tóxicos, alem de apresentações clínicas atípica. 
Uma pesquisa nacional realizada em 2015 com estudantes entre 13 e15 anos abordou 
componentes de riscos ente jovens. Os resultados mostraram que o percentual de jovens que 
já experimentaram bebidas alcoólicas subiu de 50,3% em 2012, para 55,5%, em 2015; já a 
taxa dos que dos que usaram drogas ilícitas aumenta de 7,3 para 9% no mesmo período. 
A associação Cocaína/crack e Álcool são bastante prevalentes. Na combinação da 
cocaína co o álcool os níveis plasmáticos de cocaína e norcocaína reduzem as concentrações 
de benzoilecgonina e induz a síntese de cocaetileno, que tem alta taxa de distribuição no 
cérebro/sangue, com meia vida plasmática 3 a 5 vezes maior do que a da cocaína. O 
36 
 
 
cocaetileno possibilita o aumento da duração dos efeitos de euforia, com maior dano renal, 
cardíaco e no sistema nervoso central. Além disso, os efeitos desagradáveis da abstinência 
recente de cocaína e crack, denominada crash, são atenuados pelos efeitos do álcool. 
A ação do cocaetileno sobre a inibição da recaptação de dopamina é mais intensa do 
que a de cocaína, assim como as ações serotonérgicas. Isso resulta na intensificação dos 
efeitos psicoativos quando cocaína e álcool são utilizados juntos. As ações do álcool 
envolvendo as vias dopaminérgicas, a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA 
principal neurotransmissor inibitório), o aumento da concentração de dopamina e endorfina 
no nucleus accumbens, ativando as vias mesolímbicas, somadas à inibição da função do 
receptor de Glutamato, produz uma euforia inicial que é identificada como um dos mais 
importantes facilitadores (“gatilhos”) para o uso da cocaína, havendo altos índices de 
comorbidade para abuso das duas drogas. O álcool também atenua a hiperatividade causada 
pela intoxicação por cocaína, levando muitos dos usuários ao uso seqüencial. 
No consumo seqüencial ou combinado de Cocaína/Crack e Cannabis, nota-se que esta 
mescla empregada pelos os usuários é com a finalidade de diminuir a fissura e os efeitos 
ansiogênicos causados pelo crack. Uma vez atenuada à fissura, o comportamento compulsivo 
de busca pela droga, torna-se mais controlável, permitindo ao indivíduo uma possibilidade de 
descontinuar seu uso e tentar retornar as suas atividades diárias. 
Na Cocaína e Opioides, cerca de 90% dos dependentes de heroína fazem uso regular 
de cocaína, sendo essa combinação ainda pouco freqüente no Brasil. Um dos mecanismos de 
ação dos opioides consiste na ativação dopaminérgica do sistema mesolímbico. Tanto a 
heroína quanto a cocaína exercem efeitos sobre os neurônios dopaminérgicos do nucleus 
accumbens, no qual ocorrem o reforço positivo e o comportamento de busca pela substância, 
facilitando o uso associado. A cocaína ameniza os efeitos da abstinência de heroína, o que 
contribui para aumentar a prevalência de uso concomitante. Uma das conseqüências e um dos 
indicadores da gravidade da dependência é o comportamento de busca pela droga: os 
dependentes de heroína que usam cocaína apresentam maior exposição a riscos, tanto por 
envolvimento com a criminalidade. 
Nas MDMA e outras substâncias psicoativas, o MDMA, conhecido também como 
ecstasy, substância que exerce efeitos perturbadores e estimulantes no sistema nervoso 
central, apresenta efeitos serotonérgicos potentes, e o seu uso concomitantemente com outras 
substâncias (álcool, maconha e cocaína) pode potencializar riscos de intoxicações. 
37 
 
 
O uso simultâneo de MDMA e etanol mostraram prejuízos nas funções executivas, 
como atenção e memória. A percepção subjetiva desse prejuízo, porém, foi bem menor em 
indivíduos que usaram MDMA e álcool se comparados aos que usaram apenas álcool. 
Os usuários de MDMA costumam fazer uso de diversas substâncias de forma 
concomitantes, sendo a principal associação é do álcool com benzodiazepínicos, com uso da 
maconha comum também nesse grupo, que intensifica os sintomas (efeitos) e aumenta o 
tempo de intoxicação do MDMA. A associação da maconha e MDMA podem causar falhas 
na memória e aumentar a chance de desenvolvimento de transtornos neuropsiquiátricos. 
O uso concomitante de MDMA e outros estimulantes também ocorrem com relativa 
freqüência, embora menor se comparado ao uso concomitante de álcool e maconha. Tanto o 
MDMA quanto a cocaína e as anfetaminas exercem efeitos estimulantes sobre o sistema 
nervoso central, por isso o uso concomitante em princípio acentua os efeitos estimulantes de 
ambas as substâncias. Também eleva o risco de desenvolvimento de dependência. Nota-se 
que o aumento da sociabilidade, um efeito típico do MDMA, é atenuado pelo uso simultâneo 
de cocaína. Há, ainda, um aumento do risco de desenvolvimento de sintomas paranoide e 
alterações de humor, principalmente mania e hipomania, durante a intoxicação. 
Nota-se que o poliuso de substâncias expõe o usuário a riscos consideráveis. O sujeito 
tende apresenta maior comprometimento no funcionamento laboral, social e afetivo, além de 
maiores taxas de abandono do tratamento. Para que a evolução no tratamento aumente, a 
abordagem terapêutica deve ser realizada sob perspectiva multidisciplinar, atentando para as 
particularidades do sujeito, e um olhar investigativo no padrão de consumo de substâncias nos 
diferentes contextos de atendimento, tendo também, associado a avaliação de fatores 
favorecedores do poliuso e mapeamento das conseqüências físicas, psíquicas e sociais 
decorrentes do uso. Portanto, o profissional da saúde que se depara com um usuário de 
múltiplas substâncias deve estar atento a diversos graus de gravidade e atipicidade na 
apresentação clínica dos quadros. 
Em suma, o poliuso de substâncias psicoativas é um fenômeno freqüente entre os 
usuários, em especial entre os que apresentam transtornos relacionados ao uso de drogas, uso 
nocivo ou dependência. O padrão é variável, assim como as razões que levam o indivíduo a 
usar múltiplas substâncias, tendo destaque ação neurobiológica da associação das substâncias, 
aspectos psíquicos e contexto em que está inserido o usuário. 
38 
 
 
 
Módulo III – Drogas específicas de abuso e dependências. Drogas Lícitas 
 
Álcool 
“Álcool: princípio essencial de todos os líquidos que fazem o homem ficarem com o olho 
negro”. Ambrose Bierce 
 
 Pontos chaves 
 Fatores para compreensão da dependência do álcool 
 Morbidades causadas pelo Álcool 
 Transtornos psiquiatricos decorrentes do consumo do álcool. 
 
 
O álcool é um, depressor do sistema nervoso central que, dependendo da quantidade 
ingerida, causa leve euforia e progressiva sedação, propriedades afrodisíacas. Seu mecanismo 
de ação atua nos neurotransmissores GABA e noGlutamato, também, segundo estudos 
científicos recentes, monoamina e do transportador de monoaminas pré-sinápticos. 
O uso do álcool vem permeando a história da humanidade. Observam-se evidências de 
consumo desde os tempos pré-biblicos, enviesado pela cultura e costumes da época. O 
conceito de beber como nocivo começou a ser vinculados a uma condição médica somente 
após a revolução industrial, meados do século 19, onde as bebidas até então consumidas eram 
predominantes (vinho e alguns tipos de cerveja) fermentadas. Nota-se, que a partir da 
revolução industrial a produção de bebidas fermentadas começou a ser produzidas em larga 
escala, diminuindo seu custo de acesso, e com conseqüente aumento no consumo. Além do 
aumento da produção, a destilação dos fermentados começou a ser implementada com técnica 
para aumentar a concentração alcoólica das bebidas. Somando-se todos esses fatores com o 
fator histórico da urbanização, os perfis das relações sociais começaram a se modificar, 
aumentando o número de pessoas que passaram a consumir o álcool. 
O ato de beber é estimulado na maioria dos países do mundo. No Brasil não há política 
publicas reguladoras do consumo, o que torna o acesso fácil e de baixo custo. Estudos 
epidemiológicos enfatizam que o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil entre os jovens é 
um importante problema de saúde de pública. O beber em Binge, quando o individuo ingere 
grandes quantidades de álcool em curto espaço de tempo (homens 5 doses, mulheres 4 doses, 
39 
 
 
em ocasião única, em um período de 2 horas), tem mostrado si um aumento significativo de 
31,1% entre os anos de 2006 a 2012. 
O consumo de álcool é medido por um conceito denominado unidades de álcool. Cada 
unidade da substância equivale a 10 gramas de álcool puro. Para obter as unidades 
equivalentes, é necessário multiplicar a quantidade de bebida por sua concentração alcoólica. 
Na prática, há dificuldades de obter esses valores com precisão, uma vez que existem 
variedades de bebidas com diferentes apresentações alcoólicas, as quais nem sempre são 
condizentes ou reveladas no rótulo. 
Como entender quando o uso do álcool apresenta baixo risco para a pessoa que 
consome? 
Para compreender este aspecto, é necessário o entendimento das unidades de álcool. 
Esse aspecto é calculo através de uma fórmula, como por exemplo, de uma pessoa que bebe 
três doses de uísque por dia, é preciso considerar os seguintes aspectos: cada dose de uísque 
tem em média 50 mL, logo, essa pessoa estaria ingerindo 150 mL de uma bebida alcoólica 
destilada cuja concentração é aproximadamente 40%. Observe a fórmula do cálculo: 
 
Imagem: Livro Dependência Quimica, prevenção, tratamento e política públicas. 
 
Se uma unidade de álcool equivale a 10 gramas de álcool puro, isso significa que a 
pessoa do exemplo ingeriu 60 gramas de álcool. Ao longo da semana, essa pessoa ingeriria 42 
unidades de álcool, ultrapassando, em grande escala, a faixa do beber de baixo risco. 
40 
 
 
 
 Imagem: Livro Dependência Quimica, prevenção, tratamento e política públicas 
É consenso entre especialistas que não existe consumo de álcool isento de riscos. 
Portanto o uso do álcool está associado a diversos problemas, mas qual seria a quantidade de 
consumo necessária para que isso ocorra? Apesar de essa ser uma questão bastante polêmica 
entre os estudiosos do assunto, está questão não é claramente respondida. Observa-se na 
literatura que existe um nível de consumo associado a baixo risco de desenvolver problemas. 
Esse consumo é diferente para o gênero masculino 21 unidades de álcool no período de uma 
semana, e para o feminino 14 unidades de álcool também no período de uma semana. 
A dependência do álcool deve ser entendida como uma doença de caráter 
biopsicossocial, que se instala por meio de um processo que decorre ao longo de um 
continuum de uso de bebia alcoólica. Esse consumo pode passar por um padrão de uso de 
baixo risco, uso nocivo, dependência Leve, dependência moderada e dependência grave, 
sendo complexo a definição da passagem de um estágio para o outro. De acordo com 
pesquisas realizadas por Edwards Griffith, existem fatores que estão presentes na síndrome de 
dependência, nos quais são: estreitamentos do repertório, síndrome de abstinência, alívio dos 
sintomas da síndrome de abstinência pelo uso, fissura ou craving, evidências de tolerância, 
saliência do comportamento de busca e reinstalação da síndrome de dependência depois de 
recaída. 
Com o consumo crônico do álcool pode-se evidenciar distúrbios físicos por meio de 
efeitos diretos e indiretos com significativa morbidade nesta população. A identificação dos 
problemas físicos é fundamental para avaliar a gravidade da situação a fim e promover 
estímulos que possam influenciar no comportamento de beber. O consumo é muito perigoso 
com repercuções na saúde física do dependente. Dentre as possíveis morbidades podemos 
elencar as seguintes: 
 Distúrbios Gastroenterológios; 
41 
 
 
 Distúrbios musculoesqueléticos; 
 Distúrbios endócrinos; 
 Câncer; 
 Doenças cardiovasculares; 
 Doenças respiratórias; 
 Distúrbios metabólicos; 
 Distúrbios hematológicos; 
 Distúrbios no sistema nervoso central e periférico; 
 Síndrome fetal alcoólica; 
 Doenças dermatológicas; 
 Supressão do sistema imunológico; 
 Alterações no funcionamento sexual. 
Além das morbidades físicas aqui apresentadas, alguns transtornos psiquiátricos 
podem decorrer do uso do álcool, tais como: intoxicação alcoólica aguda, síndrome de 
abstinência do álcool, convulsões, Delirium tremes, alucinose alcoólica, Transtorno psicótico 
delirante induzido pelo álcool, intoxicação patológica, Depressão, suicídio, hipomania, 
ansiedade, danos ao tecido cerebral, ciúme patológico. Para elucidar uma maior compreensão 
das complicações psiquiátricas, descreveremos as características principais desses transtornos. 
A intoxicação alcoólica aguda é uma condição clinica passageira oriunda da ingestão 
aguda de bebidas alcoólicas, com produção de alterações como: embriaguez leve a anestesia e 
coma, inconsciência em alguns casos, depressão respiratória e, mais raramente a morte. É 
importante salientar que é pouco provável que uma dose excessiva ponha em risco a vida do 
dependente em virtude da tolerância desenvolvida ao álcool. A manifestação sintomatológica 
da intoxicação aguda pelo álcool inclui comportamento sexual inadequado, agressividade, 
labilidade do humor, diminuição do julgamento critico e funcionamento social e ocupacional 
prejudicados. 
A síndrome de abstinência do álcool é um conjunto de sintomas que se manifestam 
quando as pessoas que bebem excessivamente diminuem ou param. Partindo da gravidade do 
diagnóstico, é possível classificar o comprometimento em leve/moderado e grave. Considera-
se também na avaliação do diagnostico os aspectos biológicos, psicológicos e sociais na 
definição dos níveis de comprometimento do paciente e o correspondente tratamento a que 
este deverá ser submetido. O tratamento farmacológico pode incluir flumazenil e naloxona, 
42 
 
 
sendo de inteira responsabilidade do médico a avaliação clínica e a subseqüente terapia 
medicamentosa de acordo com a necessidade do caso. 
Vejamos os sinais e sintomas da síndrome de abstinência do álcool (SAA) e 
encaminhamento terapêutico: 
 
Imagem: Livro Aconselhamento em Dependência Química (2018). 
 
Nas convulsões, a maioria das crises é do tipo Tônico-clônica generalizada. São uma 
manifestação precoce da SAA, ocorrendo até 48 h após a interrupção do uso de álcool, sendo 
associadas à evolução para formas graves de abstinência. 
Já no Delirium Tremes, forma mais grave de abstinência, seu início é geralmente entre 
1 a 4 dias após da interrupção do uso de álcool, com duração de ate 3 a 4 dias. Sua 
manifestação sintomatológica inclui rebaixamento do nível da consciência com desorientação,alterações sensoperceptivas, tremores e sintomas autônomos como: taquicardia elevação da 
pressão arterial e temperatura corporal. O tratamento farmacológico pode incluir diazepam ou 
lorazepam nos casos de hepatopatia grave, haloperidol, sendo da responsabilidade do médico 
prescrever a melhor medicação de acordo com as particularidades do caso. 
Na Alucinose Alcoólica, a alucinação auditiva é típica após o consumo excessivo do 
álcool, sendo uma complicação da abstinência alcoólica. As alucinações são vividas, de início 
agudo e costumam ocorrer e cenário de clara consciência, que ocorrem de forma geral, após 
48 horas após a interrupção do consumo, com remissão dos sintomas após algumas semanas. 
43 
 
 
Sua manifestação clínica é: ansiedade e agitação. Não deve ser confundida com o delírio 
tremes, deve ser excluído antes de se fazer esse diagnóstico. 
No Transtorno Psicótico delirante induzido pelo álcool, o paciente desenvolveu 
delírios paranoide ou grandiosos no contexto de uso pesado, sem manifestações de confusão 
ou obnubilação da consciência. Segundo a literatura, parece não haver qualquer associação co 
a esquizofrenia. 
Na Intoxicação patológica, o comportamento agressivo freqüentemente violento é de 
inicio súbito não tipo do individuo quando sóbrio, podendo se manifestar logo após a ingestão 
de pequenas quantidades de álcool, promovendo classicamente uma amnésia para o evento. 
No transtorno depressivo, hipomaniaco e ansiedade, é necessária uma avaliação 
clínica apurada, buscando na história da doença atual e do indivíduo a coexistência desses 
transtornos, que estão consideravelmente associados ao consumo do álcool, para assim poder 
estabelecer as estratégias terapêuticas mais assertivas para o paciente. 
Por fim, além dessas complicações já descritas, os comprometimentos sociais são 
perceptíveis em dependentes de álcool. Identificar os problemas sociais irá auxiliar no 
planejamento de estratégias e intervenções, a fim de promover um bom prognóstico. 
Nicotina 
 
“Um café, cigarro um trago. Um dia vamos pagar por isso.”. 
Cleber Guilherme 
 
 
 Pontos chaves 
 Entendimento que o tabagismo é uma doença crônica, porém passível de tratamento. 
 Uma avaliação inicial deverá abordar aspectos da história do tabagismo, comorbidade psiquiátricas e 
clinicas, bem como a utilização de questionários e inventários. 
 O tratamento é singular e individualizado contemplando as especificidades de cada paciente. 
O tabagismo é uma pandemia com as principais causas de morte evitável no mundo. 
De acordo com a organização mundial de saúde (OMS), estima-se que um terço da população 
mundial adulta, seja fumante. No Brasil, as taxas prevalentes são inferiores aos países 
44 
 
 
vizinhos quanto ao uso de tabaco durante a vida, o que não descarta um estado de alerta para 
as complicações causadas pelo consumo do tabaco na população brasileira. 
O termo “tabagismo” pode ser utilizado para denominar o consumo de qualquer 
produto derivado do tabaco. O cigarro industrializado é a forma de consumo de tabaco mais 
prevalente na sociedade brasileira. Porém, vale ressaltar que o tabaco pode ser usado de 
diversas maneiras de acordo com sua forma de apresentação: inalada (cigarro, charuto, cigarro 
de palha, narguilé), aspirada (rapé), mascada (fumo-de-rolo). Há uma falsa crença entre os 
usuários que outros produtos derivados da folha do tabaco que não cigarros industrializados 
oferecem menos risco à saúde. 
O tabaco usado para produzir cigarros é ácido, e, por isso, o fumante precisa tragar 
para que a nicotina seja absorvida nos pulmões; já o tipo de tabaco usado para cachimbo e 
charuto é alcalino, permitindo que a nicotina seja absorvida pela mucosa oral. Isso explica por 
que os fumantes destes dois últimos não têm tanta necessidade de tragar o fumo para se 
satisfazer. No entanto, em todos os casos, há absorção de substâncias, como alcatrão, nicotina 
e monóxido de carbono, entre outras, aumentando as taxas de mortalidades entre os usuários. 
Pensando em termos neurobiológicos, o mecanismo de ação da nicotina age 
diretamente nos receptores colinérgicos nicotínicos na ATV, aumentando o ritmo cardíaco, 
que pode causar hipertensão arterial, agregando plaquetas e aumentando o depósito de 
colesterol. O tabagismo é um fator de risco com mais de 50 doenças relacionados ao uso do 
tabaco, no qual podemos citar: doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, cânceres, 
doença pulmonar obstrutiva crônica, aterosclerose, hipertensão arterial, leucemia, úlcera 
hepática entre outras. 
O consumo do tabaco, tem se tornado cada vez maior, com seu inicio em idades mais 
precoce. A indústria do cigarro, conhecedora do potencial de mercado, direciona seu 
marketing principalmente aos jovens, bem como para mulheres o que destaca sérias 
complicações a saúdes dessas populações bem como uma incidência maior de possíveis 
óbitos. 
45 
 
 
Como realizar o diagnóstico do consumo de tabaco sendo que há uma relutância 
por parte do fumante, e serviços de saúde que não possuem uma equipe técnica treinada para 
detectar o paciente de risco quando este busca tratamento? 
Todos os usuários de tabaco que buscam os serviços de saúde deveriam ser orientados 
a interromper o uso devido aos riscos e complicações que esta substância pode causar na 
saúde física do indivíduo. Para orientar essa investigação, podemos incorporar nos 
atendimentos duas perguntas de suma relevância: 
Qual seu consumo diário de tabaco? 
Você acredita ter problemas associados a esse consumo? 
 
A avaliação é parte fundamental da abordagem ao fumante. A partir dela podemos 
definir qual tratamento é mais adequado para o momento em que se encontra o paciente. 
Pensando nesta avaliação inicial devemos investigar alguns tópicos que são de suma 
importante para o delineamento do tratamento: buscar compreender a história do tabagismo, 
tentativas anteriores de tratamento, complicações clínicas, Comorbidades psiquiátricas, grau 
de motivação, qual o tipo de apoio familiar existente no ciclo familiar do paciente 
(sabotadores e/ou pessoas que possam o ajudar). Após esta avaliação inicial é fundamental dar 
feedback para o paciente sobre sua avaliação e sobre as possibilidades disponíveis para ajudá-
lo. Para a avaliação torna-se mais completa podemos incluir questionários, escalas, 
inventários desenvolvidos para avaliar e diagnosticar a gravidade do consumo do tabaco. Na 
prática clínica o questionário de Fagerström é consideravelmente utilizado a fim de mensurar 
o grau de dependência de nicotina. 
DICA: Questionário Fagerström encontra-se no anexo dessa apostila 
46 
 
 
Outro critério que poderá auxiliar a avaliação da gravidade de consumo é o tempo 
decorrido entre o despertar e o uso do primeiro cigarro do dia. A maioria dos usuários acende 
o cigarro na primeira hora de vigília, denotando uma dependência maior. As diretrizes 
diagnósticas do CID-10 e do DSM-V podem ser utilizadas para fazer o diagnóstico da 
dependência. 
Mas como compreender que o uso de nicotina tornou-se um sinal de alerta para 
um possível diagnóstico de dependência? 
Segundo a OMS (1997), três ou mais características descritas abaixo, por um período 
de um ano configura a dependência. Vejamos- eles: 
 Forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; 
 Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de 
seu início, término ou níveis de consumo; 
 Estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, 
como evidenciado por síndrome de abstinência característica para a substância ou uso 
da mesma substância (ou de uma substância intimamente relacionada) com a intenção 
de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; 
 Tolerância, ou seja, o aumento das doses da substância é requerido para alcançar 
efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas; 
 Abandono progressivode prazeres ou interesses alternativos em favor de uso de 
substância, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a 
substância ou para se recuperar de seus efeitos; 
 Persistência do uso da substância, a despeito da evidência clara de conseqüências 
manifestamente nociva 
O consumo do tabaco em seu uso crônico pode trazer inúmeras complicações físicas 
para os usuários, como descreve Figlie, Bordin e Laranjeira (2018); 
 Doenças cardiovasculares; 
 Câncer; 
 Doenças respiratórias; 
 Doenças pulmonares; 
47 
 
 
 Efeitos sobre o feto durante uma gestação. 
No tocante da absorção da nicotina, os pulmões, a mucosa nasal e bucal, a pele e o 
trato gastrintestinal assumem o papel de absorver essa substância no organismo. A 
metabolização da nicotina é feita pelo fígado, no qual é transformada em dois metabólicos 
inativos, sendo a cotinina o principal deles. As diferenças genéticas entre os indivíduos 
parecem exercer diferenças na forma da metabolização da nicotina. A sua excreção, 
normalmente é realizada pelos rins, a quantidade vai depender do pH da urina e alcança de 2 a 
35% da eliminação total. 
O consumo da nicotina provoca um rápido e pequeno estado de alerta, melhorando a 
atenção, concentração e memória, provocando um estado estimulante rápido, semelhante aos 
efeitos descritos pelos usuários de cocaína/crack. 
Com o quadro de dependência instaurado, a interrupção do consumo pode provocar a 
Síndrome de abstinência. A síndrome de abstinência da nicotina, cujos sinais e sintomas estão 
descritos na figura baixo pode se instalar se o consumo for reduzido a 50%. Parece que quanto 
maior o consumo, maior a gravidade da síndrome, que pode persistir por meses, sendo 
iniciada 8 h após o último cigarro, alcançando o auge no terceiro dia. 
 
 
 Fonte: West e Shiffman (2004) 
Além da dependência física, mensurada pelo Teste de Fagerström, devemos avaliar os 
aspectos psicológicos e comportamentais do consumo de tabaco. 
48 
 
 
De acordo com a literatura cientifica, na dependência comportamental, o fumante 
estabelece uma rotina, criando hábitos que se tornam gatilhos do desejo de fumar. Nesses 
momentos, em geral que o fumante consome o tabaco, a vontade de fumar costuma acontecer 
automaticamente pela lembrança do consumo naquela situação. A repetição da associação do 
hábito de fumar com algum comportamento gera o condicionamento. Além de prazeroso, 
fumar muitas vezes torna-se um amortecedor de emoções, no qual a associação de 
sentimentos com o cigarro gera uma dependência emocional. 
Vejamos os principais hábitos associados e os aspectos psicológicos do ato de fumar: 
 
Nota-se que as pessoas fumam por motivos distintos, assim como consomem 
quantidades diferentes de nicotina, experimentam sintomas variados de abstinência e não são 
semelhantes em outros aspectos, como idade, presença de Comorbidades clínicas ou 
psiquiátricas, grau de educação, nível socioeconômico etc. Daí a importância de tratamentos 
individualizados. É fundamental para o sucesso do tratamento que o paciente tenha 
expectativas adequadas, bem como não recorra a tratamentos que já fracassaram em tentativas 
anteriores. 
Dentre as propostas farmacológicas não nicotínicas, temos o uso de antidepressivos 
como a Bupropiona, Nortriptilina e Vereniclina, que são utilizados durante a síndrome de 
abstinência atuando, na maior parte das vezes, sob vias neurotransmissoras que participam 
dos mesmos mecanismos da dependência da nicotina. 
Já no tratamento farmacológico com nicotina, entende-se que hábito de fumar está na 
relação que a nicotina tem no organismo, sendo o principal reforçador desse hábito e que a 
utilização de fármacos com reposição de nicotina seria administrada na tentativa de diminuir 
49 
 
 
os sinais e sintomas da síndrome de abstinência de nicotina. Portanto a partir desse principio a 
utilização de adesivos e goma de nicotina seria uma das estratégias terapêuticas do tratamento 
da dependência da nicotina aliada a outras intervenções. 
Dentre os tratamentos não farmacológicos, as terapias psicossociais vêm sendo 
avaliadas no decorrer dos anos, visando auxiliar o paciente na interrupção do uso do tabaco 
em conjuntos com as terapias farmacológicas. Dentre as terapias psicossociais podemos citar: 
aconselhamento telefônico, materiais de autoajuda, aconselhamento médico, terapia de grupo 
e terapia complementar (Acumputura, hipnoterapia, exercícios físicos). 
Enfim, é preciso entender que a dependência de nicotina é uma doença crônica e que a 
recaída faz parte do processo. A relação entre os profissionais da saúde e os fumantes em 
tratamento deve ser sempre de muito respeito, com certa empatia para a motivação e evitando 
qualquer tipo de julgamento. O local de tratamento deve ser um ambiente livre de tabaco. 
Devemos entender que o tabagismo é passível de prevenção, no qual o esforço para evitar a 
iniciação ao vício e o controle social do tabaco devem ser incentivado. Porém há muitos 
desafios a se enfrentar no âmbito farmacológico e das invenções na dependência de nicotina 
que visem à efetivação e manutenção da abstinência. 
Opioides 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.”. 
Cleber Guilherme 
 
 
 
 Pontos chaves 
 Os opioides são drogas depressoras do Sistema Nervoso central. 
 O curso é crônico, embora períodos breves de abstinência possam ocorrer. A recaída é um evento 
bastante comum. 
 As intervenções farmacológicas prescritas no tratamento de dependência de opioides são: naloxona, 
Naltrexona, metadona e buprenorfina. 
 
O termo opioide é qualquer droga que tenha propriedades semelhantes ao ópio ou a 
seu princípio ativo, a morfina. Já o termo opiáceo é freqüentemente utilizado para se referir 
aos opioides naturais e semissintéticos. Existem também opiáceos endógenos, de ocorrência 
50 
 
 
natural no corpo humano, que são as endorfinas e as encefalinas – substâncias com papel de 
mediação do reforço positivo e do prazer nos circuitos de recompensa cerebral (Figlie, Bordin 
& Laranjeira, 2018). 
O uso de opioides pela humanidade se confunde com sua própria origem. A papoula 
era cultivada nas casas na antiguidade e consumida sem restrições pelas famílias. Entre os 
egípcios, os opioides eram utilizados inclusive na primeira infância, com a finalidade de 
amenizar o choro e a agitação. Apesar do uso difundido (profano ou sagrado), não há relatos 
médicos de dependência ou abstinência dessas substâncias entre as diversas culturas do 
mundo antigo. No entanto, no século 19, milhões de chineses se tornaram dependentes com a 
entrada dessas drogas em seu país. 
Do ponto de vista clinico, os opioides são drogas depressoras do SNC que também 
atuam em órgãos periféricos (p. ex., intestinos), devido aos seus efeitos analgésicos potentes, 
antitussígenos e antidiarreicos. Podem ser classificados em três tipos: opioides naturais, 
semissintéticos e sintéticos. Vejamos na tabela abaixo os opiodes mais conhecidos. 
OPIODES 
Opioides naturais Ópio, morfina, codeína e tebaína: são preparados a partir do ópio 
(em grego, “suco”), uma seiva de aspecto leitoso obtida por meio 
de cortes na papoula. 
Opioides 
semissintéticos 
Heroína, oxicodona, hidrocodona, oximorfona e hidromorfona: 
são obtidos por meio de alterações das moléculas dos opioides 
naturais. 
Opioides sintéticos Meperidina, fentanil, LAAM (L-α acetilmetadol ou 
levometadilacetato), propoxifeno e metadona: são obtidos 
totalmente em laboratório 
Os opioides podem ser administrados por vias oral (VO), nasal ou parenteral. Quando 
ingeridos VO, como o ópio, que pode ser comido ou bebido, e a morfina, que pode ser 
veiculada em comprimidos, estas drogas têm menor potencial de efeito e de adição, pois têm 
lenta absorção e passampelo metabolismo hepático antes de atingir o cérebro. Assim, essa 
forma de administração, segundo a literatura científica, é a mais vantajosa clinicamente, pois 
permite controlar com maior facilidade os níveis desejados da substância no sangue. Quando 
utilizados como droga de abuso, os opioides são geralmente injetados, aspirados ou fumados, 
pois assim são alcançados níveis séricos mais altos, e com maior velocidade. O uso 
51 
 
 
intravenoso produz os efeitos mais rápidos e mais intensos, as injeções intramusculares 
produzem efeitos intermediários em velocidade e intensidade, e quando inalado ou fumado, 
apresenta efeitos mais lentos e menos intensos, causando dependência independente da sua 
forma de administração. 
Na perspectiva neurobiológica, todos os opiáceos atuam nos mesmos receptores 
cerebrais. Há pelo menos cinco tipos de receptores específicos para opioides, localizados 
principalmente nas áreas corticais sensoriais, nas áreas corticais límbicas (amígdala), no 
hipotálamo e na substância cinzenta periaquedutal (receptores Mu (µ), receptores Kappa (κ), 
receptores Delta (δ), receptores Épsilon (ε) e receptores Rô (ρ)). Isto vale para os opiáceos 
endógenos e para os exógenos, sejam sob a forma de medicamentos ou como drogas 
causadoras de consumo abusivo. Uma vez absorvida no sangue, a maior parte da droga se 
concentra nos pulmões, no fígado e no baço, e uma grande parte se liga às proteínas do 
sangue. Na gravidez, essas drogas atravessam rapidamente a placenta e alcançam o feto. 
Com o uso dos opioides inicialmente o efeito é analgésico, associado a pico de euforia 
intensa, porém muito breve, que é o denominado rush. Este é um estado muito agradável, com 
forte sensação de contentamento, bem-estar e ausência de preocupações. Após isto, observa-
se uma tranqüilidade profunda, que pode se manter por algumas horas. Então, iniciam se 
sonolência, oscilações de humor, embotamento mental, apatia e alentecimento motor. Em 
doses excessivas, pode ocorrer intoxicação, na qual o efeito é exclusivamente depressor da 
respiração, podendo induzir coma. 
No estado de intoxicação por uso recente de opioides, os usuários podem apresentar 
alterações mal-adaptativas de comportamento, com inicio entre 2 a 5 minutos após o consumo 
da substância, incluindo com certa freqüência uma euforia inicial, que pode persiste por 10 a 
30 minutos, apresentando os seguintes sintomas: apatia, letargia, sonolência, disforia, retardo 
psicomotor, prejuízo do julgamento e disfunção do funcionamento social e ocupacional, que 
podem durar de 2 a 6 horas. Sinais neurológicos específicos costumam estar associados, tais 
como: miose, fala ininteligível e prejuízo da atenção e da memória. 
De acordo com o DSM V e CID 10 segue os critérios para o diagnóstico de 
intoxicação aguda: 
52 
 
 
 
Fonte: Adaptado de American Psychiatric Association (2013) e World Health Organization (1993) 
De acordo com estudos científicos, a associação entre a dependência de heroína e 
atividades ilícitas fora construída. O respaldo dessa associação está na vertente de que a 
heroína provoca a diminuição da inibição podendo conduzir seus usuários a se envolver em 
atividades nas quais normalmente não se evolveriam. O alto custo da substância e os sintomas 
de abstinência seriam válvulas propulsoras para a incidência do comportamento criminoso 
como forma de manter o uso da droga. 
Nos estados de abstinência, a Síndrome de Abstinência aguda inicia-se após 6 horas 
nos usuários de opioides de ação curta (p. ex., heroína). Já entre aqueles que usam os de ação 
longa (p. ex., metadona), o início é mais longo, em torno de 1 a 2 dias. A princípio, o usuário 
evolui com sudorese, lacrimejamento, rinorreia, bocejos, ansiedade e fissura. Os usuários 
dependentes de opioides queixam-se de insônia, bocejos, mialgias, artralgias, anorexia, 
diarréia, náuseas e/ou vômitos, cãibras e cólicas intestinais. Já a síndrome de Abstinência 
crônica é mais longa, podendo durar até seis meses. O quadro clínico é mais sutil, e essa 
síndrome está associada a possibilidades de recaídas. 
53 
 
 
 
 Fonte: Adaptado de American Psychiatric Association (2013) e World Health Organization (1993). 
 
Nos casos de overdose, os usuários cursam com a tríade caracterizada por depressão 
respiratória, coma e miose. As características clínicas que predizem evolução para overdose 
são os usuários de heroína que fazem uso concomitante de outras drogas depressoras do SNC 
(p. ex., o álcool). 
Quais são os sintomas apresentados no exame físico e psíquico que podem me 
direcionar a uma possível hipótese de intoxicação e/ou abstinência por opiodes? 
No exame psíquico, o nível de consciência encontra-se rebaixado (sonolência ou 
coma) nos estados de intoxicação, e o humor, disfórico ou eufórico. No estado de abstinência, 
a irritabilidade prevalece, e o humor fica deprimido ou ansioso. O usuário fica hipervígil e 
agitado, relata uma avidez pelos efeitos psicoativos da droga (fissura). 
54 
 
 
Já no exame físico, o usuário em estado de intoxicação pode apresentar rubor facial, 
miose com ou sem prejuízo da acuidade visual, taquicardia, hipotensão arterial, arreflexia e 
prurido. No estado de abstinência, fica evidenciada presença de coriza, hiperalgesia, midríase, 
fotofobia, sudorese, tremor, febre, lacrimejamento e piloereção. O uso crônico de opioides 
injetáveis está associado à presença de veias esclerosadas com marcas de picadas nas 
extremidades dos membros superiores. Os usuários que inalam heroína e outros opioides 
podem apresentar irritação da mucosa nasal. 
O tratamento da intoxicação aguda é uma emergência psiquiátrica e deve receber 
intervenção imediata e manejo clínico adequado, garantindo ao paciente um prognóstico 
satisfatório. Já o paciente em coma deve ser atendido conforme protocolo clínico habitual 
para tal situação: avaliação do indivíduo pela escala de coma, avaliação dos aparelhos 
respiratórios e cardiocirculatórios, busca por sinais de traumatismo, realização de exames 
laboratoriais e, se possível, identificação do tipo e da quantidade de opioide utilizado. Em 
usuários crônicos, uma investigação mais detalhada de problemas clínicos deverá ser 
realizada. 
Nos casos de intoxicações leves requerem apenas medidas de suporte até que o 
paciente recupere o estado de vigília. Já nos casos graves de superdosagem, devem ser 
utilizados antagonistas opiáceos sintéticos, medicamentos que competem com os receptores 
opiáceos, possibilitando a reversão das ações agudas dessas drogas. 
A síndrome de abstinência de opioides tem baixa letalidade na ausência de problemas 
clínicos associados, embora traga muito desconforto físico e psíquico. As medidas 
medicamentosas e de suporte são instituídas com o objetivo de proporcionar bem estar ao 
paciente e prevenir complicações clínicas. O tratamento deve ocorrer em ambiente tranqüilo e 
iluminado, abrangendo comorbidade detectadas e provendo aporte nutricional ao paciente, 
bem como tratamento farmacológico que vise reduzir os sinais de hiperatividade autonômica 
durante a abstinência, auxiliando a desintoxicação, e medicamentos que ajudem a amenizar as 
dores musculares, a insônia e a inquietação, de acordo com a avaliação do médico. 
 A meta do tratamento farmacológico da dependência de opioides consiste em 
possibilitar ao indivíduo a interrupção do uso da droga, de maneira gradual ou abrupta, o que 
deve ser definido após avaliação individualizada. 
55 
 
 
 
 Fonte: Livro Transtornos relacionados a substâncias e do controle de impulsos (2016). 
 
Como parte do tratamento, as intervenções psicossociais têm como objetivos incluir 
uma abordagem da motivação do usuário para o tratamento, prevenção de recaída e 
treinamento de habilidades sociais. A terapia de grupo, terapia familiar, aconselhamento 
profissional, atendimento médico epsiquiátrico são outras formas interventivas aliadas no 
tratamento da dependência por opioides. 
Por fim, na dependência por opioides o curso é crônico, embora períodos breves de 
abstinência possam ocorrer. A recaída é um evento bastante comum. A dependência de 
opioides pode ter início em qualquer idade, mas dois picos de incidência sobressaem: o fim da 
adolescência e após os 20 anos de idade (APA, 1995). 
Diversas complicações clínicas podem cursar com o uso de opioides. Entre as 
complicações clínicas mais comuns, destacam-se endocardite, Seps, embolia pulmonar, 
hepatites virais e a própria HIV. As principais causas de óbitos associados aos opioides são 
overdose (parada respiratória), suicídio e infecções. Seqüelas neurológicas associadas a 
anoxia cerebral podem ocorrer se a overdose não for rapidamente revertida. 
Observa-se que os usuários de heroína como droga de escolha ou primária, mas que 
também usam outras drogas, como o crack, está mais predisposto a apresentar prejuízos em 
funções cerebrais executivas, sobretudo na memória, bem como na fluência e no 
planejamento de tarefas (Fernández-Serrano et al, 2010). 
56 
 
 
Estes tratamentos substitutivos são mais adequados quando realizados no contexto de 
um programa multiprofissional, que vise a uma abordagem ampla do paciente, com foco na 
abstinência e em sua manutenção. 
 
Anfetaminas 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 
 
 
 
 Pontos chaves 
 A definição de anfetamina refere-se a potentes estimulantes do sistema nervoso central. 
 Atua nos sistemas dopaminérgicos e serotonérgicos do sistema nervoso central. 
 O tratamento é focado em programas de redução de danos associados à entrevista motivacional, 
reconhecimento de possíveis “gatilhos” associados às recaídas. 
 
As anfetaminas são potentes estimulantes do sistema nervoso central, capazes de criar 
dependência em razão de seus efeitos euforizantes e de sua habilidade de reduzir a fadiga e 
aumentar o estado de alerta. Apesar de seus efeitos capazes de causar dependência química, 
as anfetaminas podiam ser prescritas para fins clínicos. Atualmente, com sua venda proibida, 
o abuso dessas substâncias é cometido por pessoas que as conseguem de forma ilegal. 
São substâncias sintéticas, que além da própria anfetamina, vários outros derivados, 
como femproporex, metilfenidato, pemolina, mazindol, dietilpropiona e metanfetaminas 
fazem parte desse grupo. 
Os primeiros Estimulantes tipo anfetaminas (ETAs) foram sintetizados no fim do 
século XIX e início do século XX com finalidades terapêuticas de elevar a pressão arterial, 
como descongestionantes nasais e como antiasmáticos. Posteriormente, foram caracterizados 
como inibidores do apetite (anorexígenos). Em pouco tempo, seus efeitos estimulantes sobre o 
sistema nervoso central (SNC), aumento do estado de alerta, sensação de mais energia e 
57 
 
 
redução da fadiga, associados à inibição do apetite, tornaram-se motivadores de uso intenso 
pelos indivíduos (Rasmussen, 2008). 
Segundo a perspectiva da neurobiologia as Anfetaminas, são aminas 
simpatomiméticas de ação indireta, potentes estimulantes do SNC, quimicamente relacionadas 
a dois compostos naturais, a efedrina e a epinefrina (hormônio humano). Elas atuam 
estimulando a liberação de monoaminas, mais intensamente de dopamina e norepinefrina, nas 
sinapses neuronais e, em concentrações elevadas, podem inibir a enzima monoaminoxidase 
(MAO). Tais ações potencializam a Neurotransmissão dopaminérgica, noradrenérgica e 
também serotonérgica, sendo responsáveis pelos efeitos estimulantes do SNC: euforia e 
excitação, aumento da resistência, insônia, estimulação psicomotora, anorexia e efeitos 
psíquicos (ansiedade, depressão, sintomas psicóticos) (Rang et al, 2016). 
Entre os precursores dessas drogas estão à efedrina, a pseudoefedrina, 
descongestionantes e broncodilatadores. São produtos lícitos que podem ser usados para a 
produção de metanfetamina, substância ilícita. No entanto, devido a controles cada vez mais 
rigorosos em muitos países, os traficantes de drogas diversificam sua abordagem e fazem 
preparações farmacêuticas desviadas, contendo efedrina ou pseudoefedrina. 
As anfetaminas podem ser administradas de várias formas. A intensidade e a duração 
dos efeitos variam conforme a via utilizada. Seguem os tipos de administração e o tipo da 
substância: 
 A via oral: anfetaminas medicamentosas (comprimidos), speed e ecstasy (tabletes e 
cápsulas); 
 Via intravenosa (IV): crack, ice e cristal (cristais de metanfetamina); 
 Via nasal: ice e cristal; 
 Via pulmonar (“fumada”): ice e cristal. 
A metabolização das anfetaminas é predominantemente hepática; sua eliminação é 
renal, sendo excretados na urina na sua forma inalterada. Os efeitos são imediatos se a droga 
for injetada ou fumada, durando cerca de 4 horas. Se aspirada, os efeitos começam em 3 a 5 
minutos, e, se administrada por via oral, iniciam-se em 15 a 20 minutos dependendo de 
fatores como a existência ou não de alimentos no estômago, podendo durar até 12 horas (daí o 
maior risco de neurotoxicidade e as complicações no organismo). A meia-vida varia de 8 a 18 
58 
 
 
horas. Quanto maior a meia-vida, maior o risco de neurotoxicidade. Seus efeitos tóxicos 
afetam diretamente os sistemas dopaminérgicos, noradrenérgicos e serotonérgicos. 
Nota-se que a droga é mais potente quando administrada por meio de injeção ou 
inalação. Quando ingeridas oralmente, as anfetaminas tendem a ser ionizado no sistema 
digestivo, o que torna sua absorção mais lenta. Neste caso, a perda da potência do efeito pode 
ser compensada com o aumento da dose e tem a vantagem de poder manter os níveis 
sanguíneos razoavelmente constantes, sem muita variação ao longo do tempo. 
Quanto ao quadro clinico, atuam também sobre os sistemas dopaminérgicos e 
serotonérgicos. O aumento da liberação de dopamina (DA) no sistema límbico e neo-estriados 
é responsável por efeitos comportamentais e motores, sendo que as alterações das percepções 
e manifestações psicóticas estão também relacionadas com um aumento na liberação de 
serotonina. São efeitos simpáticos das substâncias anfetamínicas: aumento da pressão arterial 
e bradicardia reflexa; arritmias; dificuldade para urinar; constipação ou diarréia, dependendo 
da atividade entérica; contração uterina, o que pode provocar cólicas e aborto. Estimula o 
centro respiratório na medula, diminuindo o efeito depressor de outras drogas. Também inibe 
o sono, aumenta o estado de alerta (ativação da formação reticular), diminui a sensação de 
fadiga, inibe o apetite, estimula o humor, aumenta a iniciativa, a autoconfiança e a 
concentração, provoca sensação de poder, melhora a clareza e organização da mente, provoca 
euforia e agitação psicomotora com taquilalia. Embora pareça que o desempenho para tarefas 
simples fique aumentado, quanto mais atividades envolvidas, maior a possibilidade de erros, 
denotando comprometimento na a habilidade motora fina. Estes efeitos são seguidos, horas 
depois, de um sentimento de depressão. 
Quanto aos usuários crônicos de altas doses sofrem efeitos diferentes. Estudos 
sistemáticos demonstram que o uso de anfetaminas causa insônia. Comportamentos 
estereotipados incluem atos ininterruptos, despropositados e repetitivos; explosões súbitas de 
agressividade e violência; delírios paranoide; e anorexia grave. Um estado psicótico pode se 
desenvolver e ser indistinguível de um ataque agudo de esquizofrenia. As anfetaminas 
parecem produzir mais quadros psicóticos que a cocaína. Tal evento parece estar relacionado 
com o fato dos usuários de anfetaminas utilizarem mais continuamente que os usuários de 
cocaína. 
Tem-se o conhecimento que as anfetaminas induzem tolerância, mas não está claro se 
há uma verdadeira síndrome de abstinência e, por anos, pairou o questionamento acercado 
59 
 
 
potencial de dependência dessas drogas. Os sintomas mais pronunciados de abstinência foram 
observados em fumantes de metanfetaminas (ice e cristal), tais como dores abdominais, 
gastrenterites, letargia, dispnéia, aumento do apetite, depressão profunda e, ocasionalmente, 
suicídio. Obviamente, a maneira mais rápida de acabar com esse estado é ingerir a substância 
novamente. Para muitos, esse quadro configura uma definição de síndrome de abstinência. 
 
Quanto ao tratamento, certos programas estão tentando encontrar soluções para esse 
problema e fazem combinações entre programa de redução de danos associados à entrevista 
motivacional, reconhecimento de possíveis “gatilhos” associados às recaídas, modos de 
evitá-los ou mesmo maneiras de interromper possíveis lapsos ou recaídas. 
Uma revisão conduzida por Cao e colaboradores (2016) aponta recentes avanços nos 
medicamentos que estão sendo desenvolvidos para tratar os transtornos por uso de ETAs. 
Embora nenhuma evidência substancial de medicamentos eficazes tenha surgido, alguns 
desses agentes, incluindo bupropiona, naltrexona e mirtazapina, mostraram-se promissores em 
estudos clínicos. 
Quanto o manejo clinco durante episódios de intoxicação aguda de ETAs que 
cursaram com agitação psicomotora pode ser feito a partir dos seguintes elementos: 
 Antipsicótico; 
 Benzodiazepínicos; 
 Observação: ambiente seguro e calmo; 
 Tratamento de possíveis desidratação e hipertermia. 
60 
 
 
Já o manejo da síndrome de abstinência pode envolver: 
 Descanso; 
 Alimentação saudável; 
 Insônia e ansiedade: BZD de curta ação (p. ex.: alprazolam, bromazepam, lorazepam); 
 Craving e humor depressivo: o manejo deve ser abstinência da droga e abordagens 
psicossociais. 
As abordagens psicossociais do tratamento destacam-se a terapia cognitivo-
comportamental e a terapia comportamental, o manejo de contingências, e os grupos de mútua 
ajuda do tipo 12 passos. São recomendadas também a entrevista motivacional e a terapia 
interpessoal. 
 
 
Benzodiazepínicos, Hipnóticos e Ansiolíticos 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 
 
 
 Pontos chaves 
 Os benzodiazepínicos são agentes sedativos hipnóticos, com habilidade de produzir depressão no 
sistema nervoso central. 
 Atuam no sistema Gabaérgico do sistema nervoso central. 
 Há o uso indiscriminado desse fármaco na população de idosos. 
 
De acordo com Mandrioli, Mercolini e Raggi (2008), os benzodiazepínicos (BZDs) 
estão entre as drogas mais freqüentemente para diversas patologias psiquiátricas, como 
ansiedade generalizada, fobia social, transtorno de pânico, transtornos do sono, e como 
coadjuvantes no tratamento de transtornos do humor e transtornos psicóticos, possuindo 
61 
 
 
propriedades sedativo-hipnóticas, atuando na redução da latência para o sono, no aumento do 
tempo total de sono e na redução dos despertares. Eles foram primeiramente desenvolvidos na 
década de 1960 pela necessidade de se obter medicações ansiolíticas mais seguras dos que os 
barbitúricos. 
Os BZDs também são usados no tratamento de algumas fases relacionadas aos 
transtornos por uso de substâncias, especialmente para desintoxicação alcoólica. Eles têm a 
função de minimizar os sintomas de abstinência alcoólica, como ansiedade, agitação, 
sudorese, taquicardia e aumento da pressão arterial, dando-se preferência aos 
benzodiazepínicos de longa ação. Apesar de seus benefícios, são capazes de induzir tolerância 
e sintomas de abstinência e com certo potencial de letalidade. 
Conforme a literatura cientifica, o diazepam tornou-se muito popular e transformou-se 
na droga mais prescrita nos Estados Unidos da América (EUA) entre as décadas de 1960 e 
1990. Em seguida, sua popularidade passou a ser dividida com outros ansiolíticos, todos 
fazendo parte da lista das cem medicações mais prescritas. Atualmente, há cerca de 20 tipos 
diferentes de BZDs aprovados para uso médico. Atualmente o Brasil apresenta aumento nas 
taxas referente ao uso abusivo e indiscriminado desta substancia. 
Nota-se que o uso em longo prazo não é sinônimo de dependência. O risco de 
dependência de BZDs está associado significativamente com a presença de história de 
comorbidade com outra doença mental, dependência de múltiplas substâncias e com uso 
muito maior do que as doses terapêuticas. Já os benzodiazepínicos de ação mais curta, como 
lorazepam e oxazepam, são indicados para a população mais idosa e para hepatopatas. 
Do ponto de vista neurobiológico, os BZDs agem pela ligação nos receptores GABA o 
que provoca efeitos sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, sendo sua metabolização hepática. 
Sua via de administração depende do propósito do uso por parte do dependente químico. 
Como agentes sedativos hipnóticos, os BZDs têm a habilidade de produzir depressão 
no sistema nervoso central, por meio da ativação do sistema Gabaérgico. Em doses menores, 
pode diminuir o nível de atividade do indivíduo, moderando a excitação e com efeitos 
calmantes e ansiolíticos. Em doses maiores, observa-se sonolência com repercução na indução 
e a manutenção do sono. Pode haver casos de desinibição do comportamento, com 
agressividade e hostilidade, principalmente se for combinado ao álcool. 
62 
 
 
De acordo com Figlie, Bordin e Laranjeira (2018), estudos demonstram que usuários 
crônicos de benzodiazepínicos apresentam desempenho comprometido em várias medidas 
psicomotoras e de memória, incluindo aumento do tempo de reação, dificuldades na 
coordenação motora, confusão mental, amnésia, tonturas e moleza. Esses prejuízos podem 
dificultar e comprometer o funcionamento social do indivíduo (sua habilidade ao volante e 
seus resultados acadêmicos, profissionais e nos relacionamentos sociais e familiares. A 
maioria dos especialistas recomenda que o uso desses medicamentos seja limitado a curtos 
períodos de tempo para o tratamento da insônia. Mas, na prática, o que ocorre é o contrário: 
são prescritos por longos períodos, o que aumenta a probabilidade de desenvolvimento de 
dependência. 
Quando é feita a retirada de forma abrupta dos BZDs pode gerar quadros graves como 
o Delirium. A síndrome de abstinência para os sedativos hipnóticos pode começar 12 a 72 h 
após a última dose, dependendo da meia vida da droga utilizada. Os sintomas são similares 
aos da abstinência alcoólica e podem ser mais ou menos graves. Alguns sintomas de 
abstinência são: 
 
SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA POR BZDS 
Psicológicos Somáticos Síndrome cerebral aguda 
 Rebote dos sintomas iniciais com 
maior intensidade: insônia, 
ansiedade e pânico 
 Irritabilidade, inquietação e 
agitação 
 Diminuição da memória e da 
concentração 
 Distorções de percepção: 
hipersensibilidade a luz, som, tato 
e paladar 
 Gosto metálico 
 Distorção da imagem corporal 
 Despersonalização e desrealização 
 Depressão/disforia 
 Sudorese 
 Tremores/fasciculações 
 Dores 
musculares/cãibras/contrações 
 Tontura 
 Parestesia 
 Palpitação 
 Visão borrada/fotofobia/diplopia 
 Tinnitus/zumbido 
 Dor de cabeça 
 Sintomas gastrintestinais: náusea, 
diarréia, perda de peso 
 Perda de 
equilíbrio/quedas/desmaios 
 Menorragia 
 Confusão, desorientação e 
Delirium (quadro 
intermitente, mais freqüente 
em idosos) 
 Delírios e paranóia 
 Alucinações visuais e 
auditivas 
 Convulsões tipo grande mal: 
ocorrem entre 1-12 dias após 
a interrupção do uso 
Como já relatado anteriormente, embora os benzodiazepínicos sejam importantes 
estratégias terapêuticas no tratamento de diversos quadros clínicos, ele pode dificultar o 
diagnóstico de uso nocivo e dependência, uma vez que seu uso pode ter sido prorrogado 
indevidamente. Além disso, pacientes com predisposição ao uso de múltiplas drogas podem 
63 
 
 
usar os benzodiazepínicos para potencializaros efeitos euforizantes de outras substâncias ou 
para automedicar sintomas intensos de ansiedade. 
Como identificar se o paciente pode estar fazendo uso abusivo e indiscriminado 
de Benzodiazepínicos? 
Estudos relatam que consumidores de BZDs com sintomas de ansiedade, abuso de 
álcool ou drogas e transtornos do sono estão mais predispostos a desenvolver dependência 
(Licata e Rowlett, 2008). Uma avaliação completa do uso da medicação é fundamental para 
determinar a abordagem com o paciente. Vejamos na figura abaixo algumas sugestões de 
perguntas que podem guiar essa avaliação. 
 AVALIAÇÃO DO USO DE BENZODIAZEPÍNICOS: O QUE DEVE SER 
INVESTIGADO? 
Aspectos Perguntas 
Motivação do uso  Para que foi prescrito? Qual a indicação terapêutica? 
Essa indicação ainda persiste? Já fez uso com outra 
finalidade além da terapêutica (recreativa)? 
 Você imagina estar correndo algum risco ao usar essa 
substância? 
 Você já teve o desejo de parar de usar ou reduzir o uso 
do BZD? 
Intensidade de consumo  Há quanto tempo você utiliza essa medicação? 
 Qual a dose utilizada inicialmente? 
 Continua usando a mesma dose ou precisou aumentar 
depois de algum tempo? Se aumentou, qual foi o 
máximo que usou em um dia? 
 Já fez uso da medicação em horários fora do prescrito? 
 Já usou outros tipos de BZDs além do atual? 
 Já utilizou diferentes tipos de BZDs ao mesmo tempo? 
Padrão divergente, uso 
crônico e fora da prescrição 
 Já solicitou a receita a diferentes médicos em um 
curto espaço de tempo? Por quê? 
64 
 
 
médica  Já solicitou a medicação a familiares ou amigos? 
História de uso de 
substâncias 
 Já usou alguma outra substância psicoativa? Qual? 
 Quando e por quanto tempo manteve esse uso? 
 Quais as doses regulares e máximas dessa(s) 
substância(s) foram utilizadas? 
 Qual o tempo de abstinência máximo para cada 
substância? 
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Brasileira de Neurologia (2013); Lingford-Hughes e 
colaboradores (2012). 
Nota-se que a avaliação é parte fundamental dentro do tratamento com o dependente 
químico. A avaliação das comorbidades clínicas, a solicitação de exames laboratoriais, como 
provas de função hepática e renal, bem como a avaliação do suporte social e de atividades 
laborativas do paciente, também são fundamentais para orientar as condutas terapêuticas. 
Com todas as informações necessárias, podem-se dividir os pacientes de acordo com sua 
gravidade e risco. 
O tratamento por intoxicação por benzodiazepínicos também pode ocorrer em 
ambiente hospitalar quando os pacientes apresentarem idade avançada, complicações clínicas 
e comorbidades psiquiátricas importantes, com pouco ou nenhum suporte externo para 
desintoxicação ambulatorial, bem como àqueles pacientes pouco motivados que estão usando 
altas doses de BZDs, isolados ou em conjunto com outras drogas. Já para os pacientes 
dependentes de benzodiazepínicos que não têm história de abstinência severa ou convulsões, 
não apresentam dependência de álcool ou outras substâncias e não apresentam comorbidades 
clínicas ou psiquiátricas significativas, pode-se optar pela desintoxicação ambulatorial eletiva. 
O uso agudo e prolongado de BZDs pode acarretar uma série de danos, que devem 
sempre ser levados em consideração ao se prescrever essa classe de fármacos. Dentre os 
possíveis danos podemos citar: depressão respiratória, suicídio, prejuízo da memória (amnésia 
anterógrada), pseudodemência, desinibição/efeito paradoxal, síndrome de abstinência 
protraída, depressão, sintomas psicóticos e Delirium e Transtorno de estresse pós-traumático 
(TEPT). 
 
65 
 
 
Anabolizantes 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 
 
 
 Pontos chaves 
 Os anabolizantes são divididos em anabolizantes esteróides e andrógenos. 
 Substância utilizada não apenas para performace, mas para o ganho de massa muscular. 
 Pouquíssimos estudos relacionados com o tratamento de esteróides anabolizantes, os que existem foram 
conduzidos a partir da experiência clínica. 
Esteróides são hormônios naturais. Existem vários tipos de hormônios esteróides, 
produzidos em diferentes locais do corpo e com efeitos distintos e necessários para o 
funcionamento normal do organismo. Eles podem ter dois efeitos diferentes no metabolismo 
do organismo: catabolizante e anabolizante. O efeito catabolizante está relacionado à quebra 
tanto de proteína quanto de armazenamentos de energia celular. O efeito anabolizante refere- 
se à produção e ao acúmulo de proteína e é este o efeito buscado por aquelas pessoas que 
utilizam os esteróides de maneira errônea. 
 Os esteróides anabolizantes androgênicos (EAAs) são drogas sintéticas, derivadas do 
hormônio sexual masculino, a testosterona, tendo dois efeitos primários no corpo: efeitos 
androgênicos e efeitos anabolizantes propriamente ditos. Os efeitos androgênicos contribuem 
para o desenvolvimento das características sexuais masculinas, como crescimento do pênis e 
dos pêlos, engrossamento da voz, aumento da libido e da potência sexual etc. Os efeitos 
anabolizantes incluem aumento da massa muscular e do tamanho de vários órgãos internos e 
controle da gordura corporal. 
O ápice da atenção popular para a utilização dessa substância na sociedade ocorreu na 
década de 60, quando o sucesso dos atletas soviéticos foi atribuído, em parte, ao uso dessas 
substâncias. Porém houve controvérsias nesse período, relacionado à utilização dos esteróides 
anabolizantes por homens e mulheres a fim de promover melhoras no desempenho atlético e 
melhorar a aparência física. 
Apesar das controvérsias a respeito do potencial de dependência dos anabolizantes, 
surgiram muitos materiais resultados de pesquisas que apareceram para documentar que os 
66 
 
 
esteróides anabolizantes podem criar dependência. Porém, os mecanismos que a criam e 
sustentam estão longe de ser conhecidos. A forma como essas substâncias são utilizadas e o 
propósito do uso torna difícil aos pesquisadores chegar a conclusões a respeito da freqüência, 
da 
duração do uso e das dosagens necessárias para gerar dependência. 
Normalmente, essa substância é consumida em períodos intermitentes, uma prática 
chamada de cycling (“cíclico”), sendo que o período de uso pode variar, porém marcado com 
interrupções ao fim de cada ciclo. Já a pratica de stacking (“empilhamento”), envolve o uso de 
vários esteróides diferentes, para a melhora da performance. Efeitos como aumento da 
intensidade do treinamento, da agressividade e outras alterações de humor podem ser 
considerados secundários e, para alguns, talvez indesejáveis. Os usuários relatam sintomas 
indesejável tais como: mudanças afetivas, dificuldade ou falta de vontade para reduzir o uso e 
outros aspectos compatíveis com aqueles referidos por dependentes de outras drogas. Além 
disso, a tolerância e sintomas de abstinência já foram relatados. 
 
 
 
 
 
 
Você sabia... 
Entre os esteróides anabolizantes mais consumidos, constam, por via oral, a 
oxandrolona (Anavar®), o estanozolol (Winstrol®), a metandrostenolona (Dianabol®) e 
a oximetolona (Anadrol®). Por via intramuscular, podem-se listar o decanoato de 
nandrolona (Deca-durabolin®), o fempropionato de nandrolona (Durabolin®), o 
cipionato de testosterona (Depo-testosterona®) e o undecilenato de boldenona 
(Equipoise®). 
 
67 
 
 
 
As vias de administração podem ser feita de duas maneiras: por via oral e com 
injeções intramusculares. Alguns têm efeitos quando ingeridos oralmente; outros, só quando 
injetados. De acordo com Figlie, Bordin e Laranjeira (2018) a absorção dos esteróides 
anabolizantes ocorre da seguinte maneira: 
“Uma vez na corrente sanguínea, a testosterona ou qualquer esteróide anabolizante exógeno atravessa 
as paredes das células-alvo e se liga a seus receptores no citoplasma.Essas células-alvo se encontram 
em vários tecidos do corpo humano, incluindo esqueleto, músculo cardíaco, sistema nervoso central, 
pele e próstata. Esses complexos receptores de hormônios alcançam, então, o núcleo da célula e seu 
material genético ácido desoxirribonucléico (DNA, deoxyribonucleicacid). Isso dá início a um 
processo cujo resultado final será a produção de proteínas específicas, que vão deixar a célula e 
mediar às funções biológicas do hormônio. O aumento dos níveis de testosterona (ou drogas 
similares) produz um efeito de feedback negativo no hipotálamo, inibindo o lançamento de mais 
testosterona (o mesmo processo que ocorre com os contraceptivos orais à base de estrogênio e 
progesterona)”, pg. 132. 
 
A literatura cientifica ressalta que existe certa dificuldade em obter uma identificação 
precisa do mecanismo de ação dos esteróides anabolizantes por vários motivos: pela ampla 
variedade dos tecidos atingidos; pela variedade das drogas desse tipo; pela complexidade dos 
processos de regulação hormonal. Quanto a sua metabolização é feita pelo fígado e excreta 
pela urina. 
Quanto aos efeitos do uso crônico, podemos destacar: 
EFEITOS POSITIVOS EFEITOS NEGATIVOS 
Aumento transitório do tamanho dos músculos e 
da força muscular 
Cardiovasculares: 
Aumento de fatores de risco cardíacos, como hipertensão e 
taxas de colesterol (lipoproteína de baixa densidade [LDL, 
low density lipoprotein] e lipoproteína de alta densidade 
[HDL, high density lipoprotein]) 
Infarto do miocárdio 
Trombose 
 
Tratamento de traumas e cirurgias. 
Hepáticos (associados ao consumo oral): 
Aumento do número de enzimas 
68 
 
 
Tumores do fígado: benignos e malignos (uso superior a 24 
meses) 
Sistema reprodutor: 
Diminuição da produção de testosterona 
Espermatogênese anormal 
Infertilidade transitória 
Atrofia dos testículos 
Impotência 
Alterações da menstruação 
 
Sistema endócrino: 
Diminuição do funcionamento da tireóide 
Efeitos imunológicos: 
Diminuição das imunoglobulinas 
Efeitos musculoesqueléticos: 
Fechamento prematuro dos centros de crescimento dos ossos 
Degeneração dos tendões 
Estéticos: 
Ginecomastia em homens 
Atrofia dos testículos 
Acne e seborreia 
Estrias 
Calvície 
Aumento do clitóris 
Crescimento dos pelos do corpo e do rosto (principalmente 
em mulheres) 
Engrossamento da pele 
69 
 
 
Engrossamento da voz (em mulheres) 
Psicológico 
Risco de desenvolvimento de dependência 
Alterações graves do humor 
Tendência à agressividade 
Episódios psicóticos 
Depressão 
Distimia 
Ansiedade generalizada 
Transtorno de pânico 
Suicídio. 
 
Relacionado à síndrome de abstinência interrupção do uso de altas doses de esteróides 
anabolizantes pode vir acompanhada de depressão psicológica, fadiga, inquietude, insônia, 
perda de apetite e diminuição da libido. Outros sintomas incluem craving, dores de cabeça, 
insatisfação com a imagem corporal e, raramente, ideação suicida. Apesar disso, nenhuma 
síndrome de abstinência foi psiquiatricamente descrita. 
Pouquíssimos estudos relacionados com o tratamento de esteróides anabolizantes 
foram conduzidos e o conhecimento atual se baseia na experiência clínica. Como no uso de 
outras drogas, o tratamento requer a interrupção do uso. Os sintomas de abstinência são o alvo 
do tratamento, conjuntamente com a terapia de suporte com avaliação de possíveis 
pensamentos suicidas. O uso de antidepressivos pode ser indicado caso haja quadros 
depressivos, bem como o tratamento endocrinológico em casos de alterações hormonais. 
Quadros graves podem exigir hospitalização. Passada essa fase dos cuidados com a 
abstinência, a terapia deve se centrar na manutenção da abstinência e na prevenção da recaída. 
70 
 
 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 4: Drogas específicas de abuso e dependências 
 Drogas ilícitas 
 
Maconha, Haxixe, Skank 
“A literatura neuropsicológica em evolução tem mostrado que 
indivíduos com muitas outras formas de dependência química têm 
um cluster de atributos cognitivos que podem ser sumarizados 
como déficits de tomada de decisão e julgamento, bem como 
impulsividade aumentada e dificuldade em aguardar recompensas 
não imediatas. Esses déficits são também associados a traços 
antissociais ou psicopáticos, incluindo o transtorno da conduta. 
Essas características podem, em conjunto, marcar um 
endofenótipo com possível papel causal no desenvolvimento da 
dependência química”. 
71 
 
 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 
 
 
 Pontos chaves 
 O THC e outros canabinoides agem por meio de receptores específicos nos sistema nervoso central e 
periférico. 
 Exame de neuroimagem evidencia alterações significativas no hipocampo em usuários de maconha. 
 
 Cannabis sativa está entre as plantas mais antigas cultivadas pelo homem, com 
indicações arqueológicas e históricas do cultivo para obtenção de fibras, desde 6 mil anos 
atrás, na China, sendo utilizada durante milhares de anos medicinalmente. Porém no início do 
século 20 a Cannabis praticamente desapareceu do mundo ocidental para fins medicinais, em 
virtude da descoberta de drogas sintéticas e do aumento das restrições legais ao seu uso, 
Na atualidade podemos perceber que o uso terapêutico da maconha voltou ser 
discutido na comunidade cientifica, gerando considerável controvérsia a respeito. Por um 
lado, estudos já demonstraram que o princípio ativo puro da maconha (THC, 
Δ-9-tetra-hidrocanabinol) é útil no alívio de náuseas e vômitos e na estimulação do apetite. Os 
efeitos analgésicos, antiespasmódicos, anticonvulsivantes, de broncodilatação em casos de 
asma e de alívio da pressão intraocular. Mas, por outro lado, existem medicamentos 
sintetizados para essas finalidades, mais seguros e eficazes, não justificando a utilização de 
uma droga que pode gerar dependência e cujos efeitos nocivos ainda não são completamente 
conhecidos. 
A maconha é a forma mais utilizada no Brasil e também é conhecida pelos nomes 
marijuana, erva, fumo, back etc. É uma mistura das folhas, sementes, caules e flores secas da 
planta. Existem evidências de que nos últimos anos a concentração de THC na maconha vem 
aumentando: nos anos 1960, ficava em torno de 1%. Atualmente, chega a 4%, podendo, em 
algumas situações, atingir 20%. Produtores de alguns países criaram uma nova cepa de 
maconha, com concentrações mais elevadas de THC. Uma das mais conhecidas é o skunk, 
uma forma artificial de produzir maconha, gerada por meio do cultivo de dois tipos diferentes 
da Cannabis (sativa e indica) e que incorpora geralmente hidropônico. Os efeitos da droga são 
72 
 
 
os mesmos da maconha, porém mais intensificados, já que, neste caso, a concentração de 
THC varia, em geral, de 6% a 15%. 
Já o haxixe, preparação mais potente, é uma resina extraída da planta seca e das flores, 
sendo de 5 a 10 vezes mais potente que a maconha comum. O óleo de hash é uma substância 
viscosa ainda mais potente, cujo THC é extraído do haxixe ou da maconha com o uso de um 
solvente orgânico. Esse “extrato” é filtrado e, muitas vezes, purificado. A concentração de 
THC no óleo de hash fica entre 15% e 50%. 
Por volta da primeira metade dos anos 60, um grupo de pesquisa Israelita do professor 
Rafael Mechoulam, determinou a estrutura dos principais canabinoides (Canabidiol), 
incluindo o ∆9-tetra-hidrocanabinol (∆9-THC), responsável pelos efeitos psicoativos da 
planta. Hoje são conhecidos cerca de cem canabinoides, com pouca ou nenhuma 
psicoatividade, porém com outros efeitos, muitos deles com potencial terapêutico. 
A maconha é a droga ilícita mais consumida no mundo, com proibitiva de consumo no 
Brasil, com incidência maior entre populações de jovens. Normalmente a maconha é fumada 
na forma de cigarro, popularmente conhecido como “baseado”, mas também pode ser fumado 
no pipe (cachimbo)ou no bong, instrumento que contém água e aumenta a concentração da 
fumaça, bem como na vaporização por baixa temperatura apresentando mais segurança em 
relação à droga queimada de forma convencional. 
 
 Algumas 
formas em que a 
maconha é consumida: 
A) baseado; B) 
pipe; C) bong; D) 
vaporizador 
Você sabia... 
Que o metabolismo do THC começa imediatamente nos pulmões (se 
tiver sido inalado) ou no intestino (se ingerido via oral), mas a maior 
parte da substância é absorvida pela circulação sanguínea e levada 
ao fígado, no qual é convertida em metabólitos, penetrando no 
cérebro rapidamente e contribuindo para a maioria dos efeitos 
psicoativos da droga. 
73 
 
 
portátil. 
O haxixe pode ser utilizado em uma mistura com tabaco e fumado como cigarro, 
porém é mais comumente fumado em um cachimbo, com ou sem tabaco. Já o óleo de hash é 
utilizado algumas gotas devido sua alta potência, que podem ser colocadas no cigarro ou 
cachimbo, ou vapor inalado através do aquecido do óleo. Qualquer que seja o método 
utilizado, os fumantes inalam a fumaça profundamente e a prendem por alguns segundos nos 
pulmões, a fim de aumentar a absorção do THC. 
O THC e outros canabinoides agem por meio de receptores específicos nos sistema 
nervoso central e periférico, embora nem todos os efeitos sejam mediados por esses 
receptores. Primeiramente afetam o funcionamento do sistema cardiovascular e nervoso 
central causando aumento da pulsação, os vasos sanguíneos da córnea se dilatam, resultando 
em olhos avermelhado, sem evidências de depressão respiratória. Os usuários costumam 
referir aumento do apetite, boca seca, vertigens ocasionais e leves náuseas. Podem ocasionar 
também alterações cognitivas (afrouxamento das associações, fragmentação do pensamento, 
confusão, alterações na memória de fixação), prejuízo da atenção, alterações de humor e 
dificuldades de coordenação motora em vários graus. Pode induzir quadros de ansiedade, 
disforia, pânico e paranóia, sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. 
Concernente a intoxicação provocada pelo uso da maconha, estudos demonstram que o 
THC compromete a capacidade de dirigir automóveis e de realizar outras atividades que 
requeiram maior atenção e coordenação motora, bem como habilidades de falar 
coerentemente, formar conceitos, concentrar e transferir material da memória imediata para a 
de longo prazo ficam comprometidas, além de alterações na percepção de tempo e espaço. 
Se o uso da maconha provoca tantas alterações indesejáveis, porque o uso se 
mantém vigoroso em determinadas populações? 
A razão para um uso tão indiscriminado desta substância reside na sensação de 
“barato” que os usuários experimentam. Essas sensações referem-se a um estado alterado de 
consciência, caracterizado por mudanças emocionais, como euforia moderada e relaxamento; 
alterações perceptuais, como distorção do tempo; e intensificação das experiências sensoriais 
simples, como comer, assistir a filmes, ouvir músicas e ter relações sexuais. Quando a 
74 
 
 
maconha é utilizada em um contexto social, essas experiências são acompanhadas de risadas, 
fala excessiva e aumento da sociabilidade. 
Vejamos os principais efeitos do uso agudo da maconha: 
 Relaxamento 
 Euforia 
 Pupilas dilatadas 
 Conjuntivas avermelhadas 
 Boca seca 
 Aumento do apetite 
 Rinite 
 Faringite 
 Comprometimento da capacidade mental 
 Alteração da percepção 
 Alteração da coordenação motora 
 Maior risco de acidentes 
 Voz pastosa (mole) 
 Aumento dos batimentos cardíacos 
 Aumento da pressão arterial 
 Despersonalização 
 Ansiedade/confusão 
 Alucinações 
 Perda da capacidade de insights 
 Aumento do risco de sintomas psicóticos entre aqueles com história pessoal ou 
familiar anterior. 
Se liga!!! 
75 
 
 
Quanto à síndrome de abstinência sua existência até recentemente, era objeto de 
controvérsias devido ao lento desaparecimento do ∆9-THC do organismo, que após a 
interrupção do uso, pode atenuar os sintomas de abstinência, contribuindo para dificultar sua 
identificação. Porém estudos recentes demonstram que sujeitos que haviam cessado 
abruptamente o uso de grandes doses diárias de Cannabis relataram certo “desassossego 
interno”, irritabilidade, calores repentinos, insônia, suores, inquietude, coriza, soluços, 
diminuição do apetite, náuseas, dores musculares, ansiedade, sensação de frio, diarréia, 
sensibilidade aumentada à luz, vontade intensa de usar a droga, depressão, perda de peso e 
tremores discretos. É percebido também ansiedade, mudanças rápidas de 
humor/irritabilidade, ataques de pânico, tentativas de suicídio, mudanças de personalidade, 
isolamento social e afastamento do lazer e de outras atividades sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
O tratamento de forma geral, o estudo das intervenções farmacológicas nos efeitos 
fisiológicos da Cannabis divide-se em relatos de caso e ensaios clínicos – os primeiros, com 
descrição de condutas adotadas com sucesso em situações adversas, e os últimos, com drogas 
utilizadas antes de o indivíduo fazer uso da Cannabis. O tratamento farmacológico irá se 
constituir a partir dos efeitos agudos fisiológicos e efeitos agudos psiquiatricos na fase 
intoxicação. Na fase de dependência e abstinência as intervenções não farmacológicas para o 
tratamento da dependência de maconha demonstraram ser efetivas tendo paralelo com as que 
De acordo com Figlie, Bordin e Laranjeira (2018), evidência cientifica têm mostrado 
que o uso prolongado da maconha pode acarretar alterações cognitivas sutis nas “funções 
cognitivas superiores” da memória, tais como: atenção, organização e integração de 
informações complexas. Problemas no funcionamento neuropsicológico, particularmente em 
regiões pré-frontais do cérebro e nas funções executivas, podem influenciar negativamente a 
motivação para tratamento, adesão ao programa de recuperação e aumentar as chances de 
recaída, o que torna a avaliação neuropsicológica um recurso importante para a detecção de 
prejuízos associados ao uso dessa substância. Recentemente, um estudo relatou efeito do uso de 
maconha na diminuição do quociente de inteligência (QI), sendo maiores os prejuízos em 
pessoas que iniciaram o consumo na adolescência, não retornando após a cessação do uso. Mas 
esses dados têm sido contestados. 
76 
 
 
são eficazes no tratamento de outros transtornos por uso de substâncias. Dentre as estratégias 
não medicamentosas se destacam: terapia cognitivo-comportamental (TCC) e manejo de 
contingências (MC) mostraram-se eficazes para promover a redução e a abstinência do uso de 
Cannabis. 
 
Cocaína 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 
 Pontos chaves 
 A administração da cocaína pode ser pela via oral, intravenosa e pela aspiração. 
 A cocaína pode produzir alterações importantes no sistema cardiovascular, aumentando os níveis de 
epinefrina e provocando vasoconstrição. 
 
Cocaína é uma droga com fortes propriedades estimulantes. É extraída da planta 
Erythroxylon coca, nativa da América Andina. Refere-se a uma droga ilícita que mais motiva 
o usuário a buscar tratamento, ainda que não seja a mais consumida revela o impacto pessoal 
e familiar dessa dependência. 
O uso da cocaína começou nos países andinos. Sendo o isolamento químico feito por 
um alemão, chamado Albert Niemann, cujo trabalho foi publicado em 1860. A partir de então, 
passou a ser usada prescrita e vários de seus efeitos foram relatados como benéficos por 
diversos autores, como anestésicas no uso em cirurgias oftalmológicas. Na década de 1980, o 
consumo da cocaína aumentou muito e várias razões contribuíram para isso: aumento da 
oferta, redução do custo e diversificação nas vias de administração (além de aspirada, a 
cocaína passou a ser injetada e fumada). 
A produção da cocaína começa com as folhas de coca e passa porvários estágios até 
chegar à forma de cloridrato de cocaína, que é a droga na forma de sal, vendida como pó. 
Durante a produção, existe uma forma intermediária da droga, especialmente perigosa devido 
à sua impureza, conhecida como pasta de coca que é fumada em alguns países. Nota-se que a 
77 
 
 
cocaína em sua forma de administração não pode ser fumada, pois ela é volátil, ou seja, 
grande parte de sua forma ativa é destruída a altas temperaturas. 
A cocaína pode ser usada por diferentes vias de administração: oral, intranasal, 
injetável ou pulmonar. No Brasil, a forma mais comum de uso da cocaína era a via nasal. 
Cada uma dessas vias de administração apresenta diferenças, vistas a seguir, tanto na 
quantidade e qualidade dos efeitos esperados, quanto nos riscos de complicações associadas. 
Quanto mais rápido e maior o início e a duração dos efeitos, maior é a probabilidade de 
dependência. 
Na administração tomada oralmente, a cocaína é absorvida de forma lenta e 
incompleta, onde é absorvida e metabolizada primeiramente no fígado. Somente 25% da 
droga ingerida alcança o cérebro e isso requer um longo período de tempo. Por isso, não 
existe, nessa forma de administração, o sentimento de rush comum a outras formas. 
Na via de aspiração, a cocaína é pobremente absorvida por dois motivos: somente uma 
pequena quantidade atravessa a mucosa nasal; e a vasoconstrição, gerada pela própria 
cocaína, acaba limitando sua absorção. De 20% a 30% da droga é absorvida e o pico de 
concentração nos níveis sanguíneos acontece entre 30 e 60 min. 
Já na administração intravenosa (injetável), a cocaína cruza todas as barreiras de 
absorção e alcança a corrente sanguínea imediatamente. O tempo que leva para atingir o 
cérebro e instalar seus efeitos é entre 30 e 60 segundos. Produz um rápido, poderoso e breve 
efeito. Por essa razão, foi uma das formas de uso preferidas entre os usuários compulsivos. 
Depois que a cocaína penetra no cérebro, é rapidamente redistribuído para outros tecidos e se 
concentra no baço, nos rins e no cérebro. 
Existem determinados populações de pacientes, com mecanismos de metabolização 
deficientes, que são mais vulneráveis a toxidade da cocaína: idosos, pacientes com doenças no 
fígado, mulheres grávidas e crianças. Em combinação com o álcool, outro metabólito ativo é 
formado, o cocaetileno, cujos efeitos sobre o cérebro são mais duradouros, e é ainda mais 
tóxico que as drogas sozinhas. Logo, o uso combinado de cocaína e álcool aumenta o risco de 
toxicidade da cocaína. 
 Na farmacologia a cocaína possui algumas ações farmacológicas, tais como: 
anestésico local, vasoconstritor; e um poderoso psicoestimulante. 
78 
 
 
Na ação anestésica, a cocaína é preferida para determinadas cirurgias de garganta, 
devido às suas propriedades anestésicas e vasoconstritoras (que reduzem o sangramento). 
Porém em pacientes sensíveis, pode produzir certa toxidade causando estimulação do sistema 
nervoso central, psicose tóxica e, em raríssimas ocasiões, morte. 
A cocaína pode produzir alterações importantes no sistema cardiovascular, 
aumentando os níveis de epinefrina e provocando vasoconstrição, com efeitos iniciais de 
taquicardia e aumento da pressão arterial. Pode provocar arritmias ou ataque cardíaco, além 
da vasoconstrição que pode causar danos a outros órgãos: aos pulmões de indivíduos que 
fumam a cocaína; destruição da cartilagem nasal daqueles que a aspiram; e danos ao trato 
gastrintestinal. 
Já no sistema nervoso central, a cocaína age de duas formas: causando impacto no 
sistema neurotransmissor e nos mecanismos de tolerância e dependência. Produz uma 
ativação nos sistemas de dopamina, norepinefrina e serotonina. Em usuários crônicos observa-
se o esvaziamento dos neurotransmissores. As sinapses operam usando um sistema de 
feedback negativo. Logo, mudanças compensatórias ocorrem para permitir que os neurônios 
se adaptem às alterações causadas. As conseqüências desses efeitos serão vistas ao se 
abordarem os efeitos cardiovasculares e psicoativos. 
Segundo a literatura científica, o uso de estimulantes, parece aumentar as habilidades 
físicas e mentais dos usuários. Nota-se a presença de euforia, exaltação da energia e da libido, 
diminuição do apetite, exacerbação do estado de alerta e aumento da autoconfiança. Em altas 
doses de cocaína intensificam a euforia, a agilidade, a verbosidade e os comportamentos 
estereotipados, além de alterarem o comportamento sexual. Esses efeitos positivos encorajam 
o uso contínuo e a dependência dessa droga. 
Esses sentimentos de alegria e confiança causados pela cocaína podem se transformar 
facilmente em irritabilidade, inquietude e confusão. O uso da cocaína aumenta o risco de 
suicídio, traumas maiores e crimes violentos. No uso crônico, o sistema nervoso central 
promove algumas modificações para adaptar-se à nova situação. Três fenômenos podem ser 
observados: a tolerância, a sensibilização e o kindling. Vejamos alguns sintomas o uso 
crônico da cocaína. 
 Euforia 
 Sensação de bem-estar 
 Estimulações mentais e motoras 
79 
 
 
 Aumento da autoestima 
 Agressividade 
 Irritabilidade 
 Inquietação 
 Sensação de anestesia 
 Tiques 
 Coordenação motora diminuída 
 Acidente vascular cerebral 
 Convulsão 
 Dor de cabeça 
 Desmaio 
 Tontura 
 Tremores 
 Tinido no ouvido 
 Visão embaçada 
 Desconfiança e sentimento de perseguição (“noía”) 
 Depressão (efeito rebote da intensa excitação) 
 Isolamento 
 Falar muito 
 Desinibição 
 Aumento dos batimentos cardíacos 
 Batimento cardíaco irregular 
 Aumento da pressão arterial 
 Ataque cardíaco 
 Parada respiratória 
 Tosse 
A tolerância é a necessidade de doses cada vez maiores para se obter o efeito esperado. 
No caso da cocaína, a tolerância aparece para os efeitos euforizantes e cardiovasculares. A 
sensação de euforia desaparece completamente com o uso de doses regulares. Já na 
sensibilização há a exacerbação da atividade motora e dos comportamentos estereotipados 
após a exposição a doses repetidas de cocaína. Nota-se que o processo de sensibilização 
também pode levar ao aparecimento de convulsões, em grande parte como resultado de um 
fenômeno chamado kindling. Com o uso crônico, a resposta neuronal é intensa, mesmo 
perante baixas doses da substância. O sistema límbico tem seu funcionamento elétrico 
alterado e essa disfunção pode se espalhar, causando convulsões generalizadas. 
A síndrome de abstinência da cocaína síndrome de abstinência, segundo Gawin e 
Kleber (1986), foi dividiram a síndrome em três fases – crash, abstinência e extinção –, a 
primeira começando imediatamente após o último uso e podendo durar muitos meses. No 
80 
 
 
crash ocorre uma drástica redução do humor e da energia, na forma de alentecimento e fadiga, 
de 15 a 30 minutos após o último uso. É causada pela rápida depleção da dopamina em nível 
sináptico. Os usuários experimentam craving (fissura), depressão, ansiedade e paranóia. 
Já a abstinência começa de 12 a 96 h após o crash e pode durar de 2 até 12 semanas. A 
anedonia é importante nesse período e contrasta com as memórias eufóricas do uso. A 
presença de fatores e situações desencadeadores de craving normalmente suplanta o desejo de 
se manter em abstinência e as recaídas são comuns nessa fase. Ansiedade, hiper/hipossonia, 
hiperfagia e alterações psicomotoras (tremores, dores musculares, movimentos involuntários) 
são outros sintomas típicos dessa fase. 
 
No tratamento com a farmacoterapia não é para todos os usuários de cocaína e deve 
ser reservada àqueles cujos sintomas responderiam às medicações. Várias medicações foram 
propostas, mas as evidências científicas dos benefícios ainda são discutíveis. Ao se decidir 
pelo tratamento farmacológico, deve-se levar em conta o eventual diagnóstico psiquiátrico 
concomitante, ou seja, quadros psiquiatricos comorbidos e a presençade sintomas de 
abstinência de cocaína. A literatura expõe medicamentos adjuntos normalmente utilizados na 
dependência da cocaína são: agentes dopaminérgicos, agentes antidepressivos, agentes 
antipsicóticos e agentes antiepilépticos, apesar de nenhuma eficácia ter sido comprovada. 
Assim como qualquer outro tipo de droga, o tratamento para a dependência de cocaína 
envolve a desintoxicação e reabilitação do dependente. Há uma diversidade de tratamento 
que são funcionais, como abordagens terapêuticas, internações em casos específicos, 
desintoxicações e grupos terapêuticos. 
 
81 
 
 
Crack e similares 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 Pontos chaves 
 É uma nova forma de apresentação e administração da cocaína. 
 O crack é uma das substâncias que apresenta o maior risco da instalação de um quadro de dependência 
logo no primeiro ano de consumo. 
 
Crack é um termo popular utilizado para descrever a cocaína no seu estado 
cristalizado, que forma aglomerados semelhantes a pedras brancas que, quando queimados, 
fazem pequenos estalos - "crack". É basicamente uma nova forma de apresentação e 
administração da cocaína, uma vez que a forma básica, obtida por adição de uma base, como 
sulfato de amônio ou bicarbonato de sódio, à pasta –base ou à cocaína na forma de cloridrato 
(pó em seu estado final de refinamento), sendo administrado por via fumada. 
A pasta básica de coca (sulfato de cocaína) pode ser obtida por meio da maceração ou 
pulverização das folhas de coca com solvente (álcool, benzina, parafina ou querosene), ácido 
sulfúrico e carbonato de sódio. Desde os primeiros relatos, chamavam atenção dos 
pesquisadores a intensidade e a curta duração dos sintomas de euforia, seu preço muito 
inferior ao da cocaína refinada, as impurezas do amálgama e o “microtráfico” feito pelo 
usuário para a manutenção do próprio consumo. A pasta básica era chamada nos países 
andinos de “basuco”, evocando a natureza da mistura (alcalina) e a potência de seus efeitos 
psicotrópicos (bazuca). 
 
 
 
 
 
 
82 
 
 
O
 crack 
surgiu 
nos 
EUA, 
no 
meio 
dos 
anos 
1980. 
No Brasil, os primeiros relatos aconteceram no início dos anos 1990, com rápido crescimento 
do seu consumo, provavelmente relacionado com os preços mais baixos que os da cocaína 
refinada; a facilidade de acesso; pelos efeitos mais intensos do que a cocaína; e por apresentar 
menores riscos de contaminação que aqueles existentes no consumo de cocaína injetável. 
Quando o crack surgiu no cenário mundial construiu-se o pensamento de que os 
índices de óbitos seriam alarmantes por ser uma droga altamente prejudicial ao organismo. 
Porém hoje em dia, as mortes associadas ao crack são em maioria associadas às causas 
violentas relacionadas com o tráfico e confrontos com a polícia. Usuários em crise de 
abstinência costumam apresentar elevados padrões de comportamento agressivo, existindo 
forte relação entre mortalidade e agressividade. Outro fator associado à mortalidade são as 
complicações do vírus da imunodeficiência humana (HIV) relacionadas com comportamento 
sexual de maior risco. 
Quanto ao quadro clínico dos usuários de crack a ocorrência de problemas com outras 
drogas é uma realidade bem palpável. A maior parte dos usuários costuma utilizar algumas 
vezes outras drogas no intuito de minimizar a abstinência ou atenuar efeitos indesejáveis do 
consumo (tais como álcool, benzodiazepínicos e maconha). O poliuso pode trazer problemas 
agudos para o usuário, como maior risco de overdose (especialmente no consumo de álcool, 
uma vez que há a produção de um metabólito também ativo, o cocaetileno, com meia-vida 
bastante superior à da cocaína). A literatura médica aponta que os dependentes de crack em 
geral são também dependentes de maconha e tabaco e apresentam uso problemático ou 
dependência de álcool, trazendo, assim, complicação no quadro clinica com o poliuso de 
outras substâncias psicoativas. 
Você sabia... 
Que o oxi é outra variação da cocaína, sendo obtida com a adição de cal 
virgem e querosene na pasta base de cocaína. Tanto o crack como o oxi são opções 
que tornam o consumo da droga mais barato, porque, além de adicionar outras 
substâncias químicas, a produção destas formas facilita a adulteração. Cachimbos 
improvisados com latas de alumínio são utilizados para o consumo de crack e oxi. 
Também podem ser consumidos em cigarros contendo fragmentos dessas drogas, 
quando junto ao tabaco (chamado de pitilho) ou maconha (chamado de mesclado). 
83 
 
 
Os efeitos agudos do crack são iguais aos vistos na cocaína, com a diferença de ser 
mais rapidamente atingidos; isto ocorre porque os pulmões apresentam grande área 
(facilitando a absorção rápida) e ótima vascularização (a função destes é fazer a troca de gases 
do organismo, conduzindo oxigênio para os tecidos, em especial, o cérebro). Os efeitos 
surgem em poucos segundos e dura pouco tempo, cerca de 4 min, causando disseminação 
maciça no cérebro. Após atingir o cérebro, a droga se concentra em outros órgãos, como os 
rins e o baço. 
De acordo com a literatura existe acerca dessa temática, quanto mais jovem o 
indivíduo começa a usar uma droga e esse consumo for pesado, maiores serão as chances do 
surgimento da dependência química. Para o crack, o maior risco da instalação de um quadro 
de dependência ocorre no primeiro ano de consumo. O uso do crack, com o decorrer do 
tempo, aumenta a metabolização da dopamina, alterando os circuitos dopaminérgicos, o que 
irá causar a diminuição deste neurotransmissor na sinapse. O efeito disto é o surgimento de 
sintomas depressivos, como sensação de desânimo, diminuição da sensação de energia, 
irritabilidade, além de fissura. Juntamente com estes ocorre maior chance do surgimento de 
convulsões e sintomas psicóticos, geralmente, persecutoriedade. 
Se liga!!! 
Semelhantemente a cocaína, Figlie, Bordin e Laranjeira (2018) relatam que a síndrome 
de abstinência do crack também é dividida em três fases. A primeira ocorre da primeira hora 
sem a droga até 3 ou 4 dias, sendo constituída de um quadro de arrependimento por ter usado, 
irritabilidade, cansaço e sonolência. Em seguida, há o desejo de retornar ao consumo, que 
pode ocorrer ainda na primeira fase. A segunda fase é constituída de piora importante do 
Muitas das complicações apresentadas pelo consumo de crack são semelhantes 
às vistas no consumo de cocaína, porém algumas características próprias da 
droga fumada causam outros problemas que antes não eram vistos com o 
consumo da cocaína (ou se eram não se apresentavam tão intensos). O padrão de 
consumo intenso produz grande vulnerabilidade a doenças físicas ou transtornos 
psiquiátricos. Não é raro relato de indivíduo que passa dias seguidos utilizando a 
droga sem dormir ou pouco se alimentando. 
84 
 
 
humor, com irritabilidade mais intensa, maior desejo pela droga, apatia e dificuldade em 
sentir prazer. Esta fase dura em torno de 2 semanas a 4 meses e, por conta destas 
características, é um período de risco importante para recaídas. No terceiro estágio de 
síndrome de abstinência, algumas características da segunda fase são mantidas, como a 
dificuldade de planejamento e de atitudes que sejam assertivas, pouco prazer em atividades 
diárias. Nesta fase, ocorre diminuição da fissura, mas esta ainda poderá retornar em situações 
que desencadeiem sentimentos de excitação/euforia, frustração, estresse e locais, pessoas e 
eventos que possam estar relacionados com a época de consumo. Esta fase pode perdurar por 
meses até mesmo anos. 
Quanto ao tratamento do crack, podemos enfatizar que transtorno por uso de 
substâncias não é fruto de apenas um fator. O tratamento em dependência química traz a 
premissa de abordagens que possam atuar de forma biopsicossocial. Visto que não existe um 
tratamento único e ideal para a dependênciaquímica, cada paciente deve receber tratamento 
personalizado para suas necessidades, levando em consideração a complexidade de problemas 
reunidos. Algumas mudanças de funcionamento cerebral do usuário de crack podem tornar os 
casos desses pacientes ainda mais graves. O uso compromete as áreas do córtex pré-frontal, 
manifestando sintomas como: impulsividade e a compulsão pela droga podem alterar o 
funcionamento cognitivo, e esses efeitos podem contribuir para os prejuízos evidenciados no 
componente decisório, ou seja, pacientes poderiam ter maior dificuldade para perceber 
malefícios do consumo da droga e, não se sentindo doentes, tardariam a procurar auxílio. Os 
usuários de crack são os dependentes químicos que menos procuram ajuda e, quando isto 
ocorre, geralmente é devido a uma situação de emergência, dando preferência a internações. 
 
 
Alucinógenos 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 Pontos chaves 
 Os alucinógenos possuem duas categorias, natural e sintético. 
 Há catalogado mais de 100 diferentes tipos de alucinógenos. 
85 
 
 
 Normalmente o quadro de intoxicação é bastante sintomático. 
 
Os alucinógenos fazem parte da história da humanidade, marcando relatos desde o 
Egito antigo, passando pela Ásia ou na Europa, na Idade Média, sobre a utilização de 
substâncias capazes de produzir estados alterados de consciência com alucinações visuais e 
outras manifestações dos sentidos. 
De acordo com Cordeiro (2018) os alucinógenos incluem drogas capazes de induzir 
ilusões, alucinações, delírios, ideações paranoide e outras alterações do humor e do 
pensamento. Apesar do nome, a característica que distingue os alucinógenos de outras classes 
de drogas é a sua capacidade de induzir não somente os estados de percepção, mas também de 
pensamento e de sentimento alterados. 
Segundo a literatura cientifica mais de 100 tipos de alucinógenos com estruturas 
moleculares diferentes, agrupados segundo sua similaridade com algum neurotransmissor: 
 LSD, psilocibina e dimetiltriptamina (DMT) são semelhantes à serotonina; 
 A mescalina e vários derivados de anfetaminas, como 2,5-dimetoxi-4-metilanfetamina 
(DOM), metilenodioxifenilisopropilamina (MDA) e metilenodioximetanfetamina 
(MDMA), são semelhantes às catecolaminas, norepinefrina e dopamina; 
 Outro grupo, menos utilizado, bloqueia os receptores de acetilcolina e, por isso, é 
chamado de anticolinérgico; inclui beladona, mandrágora, henbane, datura e muitas 
outras drogas sintéticas usadas no tratamento dos sintomas parkinsonianos; 
 Outro grupo, sem similaridade com qualquer neurotransmissor conhecido e chamado 
de “miscelânea”, inclui fenciclidina, cetamina e Amanita muscaria. 
É visto que os alucinógenos possuem duas categorias, natural e sintético, porém em 
ambas há manifestação de quadros de intoxicação, em especial, os naturais que apesar de 
terem menos propriedades, quando ingeridos, apresentam duração mais prolongada, 
desempenhando um importante papel nessa fase de intoxicação. Alguns sintomas podem estar 
presentes em ambas as categorias, porém não são patognomônico, e com uma anamnese mais 
detalhada será de grande utilidade para melhor elucidação diagnóstica. 
86 
 
 
Então como deveremos fazer para elucidar um possível diagnóstico de 
Transtorno por uso de alucinógeno? 
Na investigação de intoxicação por alucinógenos, algumas dicas podem ser úteis 
durante a investigação, são elas: 
 Em pacientes com febre, deve-se considerar a necessidade de culturas de sangue e de 
urina; 
 A dosagem de eletrólitos pode ser útil para investigar outros possíveis agentes 
causadores do quadro de intoxicação; 
 É necessário considerar um teste de gravidez para todas as pacientes em idade fértil; 
 O eletrocardiograma (ECG) é importante nos quadros de suspeita de intoxicação 
exógena; 
 O exame de líquido cerebrospinal deve ser feito em pacientes com febre e com estados 
cognitivos alterados; 
 Os quadros de alteração do funcionamento mental habitual podem ser investigados 
com exames de imagem, sobretudo, em pacientes cuja história apresente pouca 
informação, quando o quadro apresentado for pouco explicado pela intoxicação ou 
quando a terapêutica utilizada não tiver a resposta esperada. 
Normalmente o tratamento da intoxicação por alucinógenos, na maioria das vezes, 
é sintomático, precisamos nos ater as seguintes recomendações: 
 
 
 
 
TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO POR ALUCINÓGENOS 
87 
 
 
Quadros ansiosos  Orientação voltada para a realidade. 
 Se os pacientes apresentarem piora ou sintomas de pânico, 
 A administração de BZDs VO deve ser realizada. Os pacientes devem ser 
mantidos em locais calmos, longe de barulhos e multidões e, se possível, com 
música ambiente para distrair. 
 Os exercícios simples, como os de respiração profunda, podem ser úteis também 
como formas de distração dos sintomas de ansiedade. 
 Os quadros de agitação psicomotora ou os psicóticos devem receber administração 
de BZD (no Brasil, apenas o midazolam) e/ou antipsicóticos IM. Por exemplo, 
15mg de midazolam IM e 5mg de haloperidol IM. 
 Se esse quadro trouxer importantes riscos de auto ou heteroagressão, deve ser 
realizada contenção física. 
Hipertermia  Devem ser tomadas medidas agressivas de resfriamento nos casos em que a 
temperatura alta do paciente o coloque em situações de risco. 
 Podem ser utilizados banhos e cobertores hipotérmicos. 
 É aconselhada administração de dantroleno (3 mg/kg em 1 hora) com rápida 
reidratarão. 
Hipertensão arterial  Devem ser administrados β-bloqueadores, como atenolol ou pindolol. 
 Nos quadros associados a PCP, a hipertensão deve ser tratada de forma ainda mais 
vigorosa, visto que, nesses casos, há risco maior para encefalopatia hipertensiva e 
hemorragias intracranianas. 
Quadros de taquicardia  Devem ser administrados α-bloqueadores, como doxazosina e prazosina. 
Intoxicação por ingestão 
de alcalóides 
 Envolve menos sessão e, freqüentemente, menos tempo global do que muitos 
outros tipos de terapia. A duração do tratamento varia conforme a complexidade e a 
severidade do problema que está sendo tratado. 
Intoxicações por PCP  O tratamento mais eficaz é feito por aumento da acidez da urina e da excreção 
urinária. 
 A acidificação apenas deverá ser realizada após eliminar a hipótese de 
mioglobinuria (que sinalizaria rabdomiólise) e pode ser feita com ácido ascórbico 
ou cloreto de amônio. 
 O pH deve ser mantido em torno de 5,5 e constantemente monitorado. 
Fonte: Cordeiro (2018) 
 
 
Inalantes e outras drogas de abusos 
88 
 
 
“As pessoas não são viciadas em álcool ou drogas, são viciadas em sair da realidade.” 
Cleber Guilherme 
 Pontos chaves 
 Os inalantes ainda são pouco reconhecidos como droga de abuso em muitos lugares do mundo. 
 O uso normalmente é feito pela inalação. 
 A síndrome de abstinência dos solventes não foi bem documentada e parece não ser clinicamente 
significativa. 
 
Os solventes também são chamados de inalantes ou substâncias voláteis. Representam 
um grupo de substâncias psicoativas quimicamente bastante diversificado e envolvem uma 
grande variedade de produtos: gasolina, cola, solventes, tintas, vernizes, esmaltes, aerossóis, 
removedores, fluido de isqueiro, gás de botijão, benzina, inseticidas, extintores de incêndio, 
laquês, acetonas, lança-perfume, cheirinho da loló etc. Freqüentemente, são divididos em 
quatro classes: voláteis ou solventes orgânicos, aerossóis, anestésicos e nitratos voláteis. 
Podem ser inalados involuntariamente por trabalhadores da indústria ou utilizados como 
drogas de abuso. 
O uso por inalação é o preferido para a intoxicação voluntária. No entanto, existem 
relatos de ingestão oral para esconder a prova, em caso de aproximação policial. Em geral, um 
chumaço de algodão ou trapo embebido com a substânciaé encostado no nariz e na boca e 
seus vapores são inspirados. Alguns usuários aquecem esses compostos para acelerar a 
vaporização. As substâncias a serem inaladas também podem ser colocadas em um saco 
plástico ou de papel, para aumentar a concentração dos vapores. Podem, ainda, ser inalados de 
suas embalagens e os aerossóis podem ser levados diretamente à boca ou ao nariz. 
Sob o ponto de vista de saúde pública, o uso de inalantes é uma forma importante e 
ainda pouco reconhecida de uso de substâncias em muitos lugares do mundo. No entanto, seu 
uso atravessa todas as fronteiras demográficas, étnicas e socioeconômicas, causando 
morbidade e mortalidade significativas, principalmente, em crianças em idade escolar e em 
adolescentes. 
Quais as razões para o uso de inalante entre as populações de jovens? 
89 
 
 
 Ter curiosidade sobre o efeito; 
 Sentir-se aborrecido; 
 Ter facilidade de acesso em comparação com outras drogas; 
 Fazer uso associado à diversão ou à busca de relaxamento; 
 Ter opinião de que essa droga não é perigosa; 
 Esquecer-se dos problemas; 
 Sentir-se triste ou ansioso; 
 Haver pressão dos seus pares; 
 Impressionar terceiros; 
 Estar com raiva de alguém; 
 Estar com problemas familiares; 
 Ter raiva de si mesmo; 
 Gostar dessa droga mais do que de outras. 
Quanto aos efeitos agudos de inalantes e solventes, podemos verificar os seguintes 
sintomas: 
EFEITOS AGUDOS DE SOLVENTES E DE INALANTES 
Primeira fase Fase de excitação, em que o indivíduo sente euforia, excitação, tonturas, perturbações auditivas 
e visuais. Pode gerar efeitos como náuseas, espirros, tosse, salivação e faces avermelhadas. 
Segunda fase Ocorre a depressão do sistema nervoso central, com efeitos de confusão, desorientação, voz 
pastosa, visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e alucinações visuais e 
auditivas. 
Segunda fase Há redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora, fala 
enrolada, reflexos deprimidos e alucinações. 
Quarta fase Caracterizada por estados depressivos tardios. Podem ocorrer queda da pressão, sonhos 
estranhos, inconsciência e episódios de convulsões. 
Fonte: Diehl e Figlie (2015) 
Quanto a síndrome de abstinência dos solventes não foi bem documentada e parece 
não ser clinicamente significativa. Também não está clara qual é a intensidade da exposição 
(duração e dosagem) necessária para resultar em sintomas de abstinência. Normalmente 
inicia-se 24 a 48 h após a cessação do uso, pode durar de 2 a 5 dias e inclui perturbações do 
sono, tremores, irritabilidade, respiração acelerada, náuseas e desconforto no abdome e no 
tórax. 
90 
 
 
A morbidade psiquiátrica é alta entre os usuários de inalantes, mas há poucas 
evidências para considerá-la um resultado direto do uso dessas substâncias. Já há relato de 
caso de indução de sintomas de mania. O uso de inalantes também tem sido associado a 
conseqüências clínicas, como alterações cardíacas (por exemplo, prolongamento do espaço 
QT e morte súbita por parada cardíaca) e neurológicas relativas ao prejuízo de funções 
cognitivas, à redução do volume talâmico e a prejuízo nas esferas. 
Enfim a cada descoberta de uma nova substância, é preciso lidar com um novo evento 
relativamente excepcional, porque nem sempre há uma resposta regulatória envolvida na 
avaliação dos riscos à saúde pública e à inclusão da nova substância na lista de substâncias 
controladas em muitos países. Isso é válido, em especial, para o grupo de alucinógenos e 
inalantes, porque muitos deles são plantas, cogumelos e fungos que já existem na natureza ou 
que são usados em rituais e em contextos culturais religiosos e/ou espiritualistas. Ou, no caso 
dos inalantes, são substâncias comercializadas com certa facilidade no mercado legalizado 
(Cordeiro, 2018). 
 
Módulo 5: Prejuízos neuropsicológicos na dependência química 
 Constructos Cognitivos 
“O que se vê depende do que acontece no cérebro.” 
Bertrand Russell 
 Pontos chaves 
 Entendimento da Neuropsicologia e suas interfaces. 
 Compreensão dos domínios cognitivos. 
 Impacto dos comprometimentos nas esferas cognitiva, comportamental e emocional do dependente 
químico. 
Ao se falar de Neuropsicologia, devemos nos remeter ao seu fundador, Luria foi da 
Neuropsicologia contemporânea, mas também teve papel proeminente no desenvolvimento da 
psicologia histórico-cultural. Uma das idéias essenciais da abordagem de Luria é a noção de 
que vínculos funcionais entre regiões cerebrais são construídos historicamente. 
Luria promove uma desconstrução da idéia de função ao sugerir que, em suas formas 
complexas, esta não pode ser atribuída a um único órgão ou tecido, questionando até então as 
91 
 
 
teorias localizacionista da época. Modalidades complexas de cognição seria, segundo ele, um 
exemplo privilegiado de funcionamento sistêmico, com diferentes áreas cerebrais trabalhando 
em concerto para sua consecução. Luria identifica três sistemas com base em contribuições 
funcionais específicas: uma unidade de sono-vigília, uma de processamento sensorial e 
armazenamento de informação e uma de regulação e monitoramento de atividades. 
Se Luria é o “pai” da Neuropsicologia moderna, então qual o conceito dessa 
ciência? 
A Neuropsicologia pode ser definida como uma subárea das neurociências, tendo uma 
interface com a Psicologia, que visa à aplicação dos princípios de avaliação e intervenção 
baseados no estudo científico do comportamento humano ao longo do ciclo vital relacionado 
ao funcionamento normal e alterado do sistema nervoso central, em outras palavras, a 
Neuropsicologia atua mais freqüentemente no estudo das funções mentais superiores. 
 Já a neurociência tem sido vista como um ramo da biologia. Entretanto, atualmente 
ela é uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como a educação, química, 
ciência da computação, engenharia, antropologia, lingüística, matemática, medicina e 
disciplinas afins, filosofia, física, comunicação, anatomia e psicologia. O termo neurobiologia 
é usado alternadamente com o termo neurociência, embora o primeiro se refira 
especificamente à biologia do sistema nervoso, enquanto o último se refere à inteira ciência 
do sistema nervoso. 
O estudo do funcionamento do sistema nervoso central e dos temas da Neurociência, 
em especial as capacidades de aprendizagem, a organização de informações, a memória, a 
manutenção e alteração de comportamentos e o controle e manifestação das emoções, pode 
ocorrer por diversos caminhos: desde sua estrutura básica (o cérebro e suas funções), a partir 
da Medicina (em especial a Neurologia e a Psiquiatria), passando pelo funcionamento e/ou 
disfunções eletro bioquímicas do cérebro, recuperação de funções perdidas por traumas 
físicos ou ocasionadas por doenças, identificação de regiões no córtex cerebral responsáveis 
por determinadas funções (como a fala, a memória, a discriminação de informações etc.), a 
relação entre os estímulos ambientais e o desenvolvimento da inteligência, o papel das 
emoções nas relações humanas. 
92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D
e acordo 
com 
Santos, 
Andrade 
e Bueno (2018) pg. 92, 
“O cérebro é a parte mais volumosa do encéfalo composta por um conjunto de estruturas 
(telencefálicas e diencefálicas), bilateral e simetricamente dispostas. As estruturas cerebrais 
estão distribuídas a partir da superfície dos hemisférios, que são recobertos por uma fina 
camada celular (córtex cerebral), enquanto a região mais interna é composta pela substância 
branca, pelo hipocampo, pela amígdala e pelos núcleos da base. Em termos evolutivos, o 
córtex cerebral é a porção mais recente do SN, sendo responsável por funções como 
percepção, controle dos movimentos e das ações, comportamentos e funções cognitivas 
(aprendizagem, memória, linguagem, inteligência)”. 
 
Podemos ver na imagem abaixo o encéfaloe seus lobos corticais: 
Saiba mais... 
A cognição é a expressão de um conjunto de processos cerebrais 
complexos, responsáveis pela elaboração do conhecimento que o ser 
humano adquire e necessita ao longo de seu desenvolvimento. Dessa 
forma, quando nos referimos aos processos cognitivos, estamos 
falando sobre funções cerebrais, das quais podemos destacar a 
atenção, a memória, a linguagem, as funções executivas, as funções 
visuoespaciais e praxias e a percepção. As funções cognitivas são 
habilidades desempenhadas em várias áreas cerebrais, que 
trabalham de forma cooperativa por meio de vias de conexão 
neuronal. 
93 
 
 
 
Fonte: Livro Neuropsicologia Hoje (2015) 
 
Vimos na figura acima que cérebro é organizado em regiões funcionais, que são 
chamados de lóbulos corticais, no qual podemos citar: lobo frontal, lobo temporal, lobo 
parietal, lobo occipital e lobo da ínsula. 
 Segue as áreas corticais com suas respectivas funções: 
Funções 
Parietal Processamento de informações táteis e integração sensorial multimodal. 
Temporal Processamento de informações auditivas, gustativas e olfatórias, além de integração 
multimodal e de linguagem (percepção lingüística). 
Occipital Processamento de informações visuais e integração sensorial multimodal 
Frontal Planejamento e processamento motor voluntário, integração de funções superiores, 
como expressão da linguagem, consciência, raciocínio e tomada de decisão. 
Insula Processamento emocional para coordenação de comportamentos e estados 
emocionais. 
 
Já o córtex cerebral é formado por uma camada de substância cinzenta pregueada, 
compondo giros que se dobram em reentrâncias (sulcos), as quais delimitam as 
circunvoluções que revestem externamente os hemisférios cerebrais. Ele apresenta uma 
organização funcional em áreas, as quais são divididas em primárias e associativas 
94 
 
 
unimodais (secundárias) e multimodais, dedicadas à integração de informações sensoriais, 
motoras e da linguagem, assim como a outras funções executivas (atenção, motivação, 
percepção, memória, raciocínio, cognição, planejamento, lógica, consciência, 
pensamento). 
As funções executivas estão relacionadas à nossa capacidade de direcionar o 
comportamento a objetivos, sendo à base da nossa intencionalidade e capacidade de 
autogestão. É um conjunto de processos mentais que de forma integrada permite o 
individuo direcione seu comportamento a metas, avalie a eficiência e a adequação desses 
comportamentos abandonando estratégias ineficazes a fim de resolver determinado 
problema. 
O construto memória, “faz de nós aquilo que somos e podemos vir a ser, pois cada 
lembrança recordada ou esquecida faz com que sejamos sujeitos únicos, uma vez que, 
para duas pessoas, vivenciando a mesma situação, a forma como esse momento será 
armazenado será distinta, levando a pontos de vista diferentes que, por sua vez, trarão 
recordações diferentes. O conjunto de memórias de cada pessoa influencia a sua 
personalidade. Devido a essa característica, nenhuma pessoa é capaz de ser igual a outra, 
mesmo gêmeos monozigóticos originarão seres humanos totalmente diferentes, de acordo 
com as experiências de memória que tiverem”. (IZQUIERDO, 2011) 
A atenção refere-se à capacidade ou ao processo pelos quais o organismo se torna 
receptivo aos estímulos internos e externos. Proporciona habilidades que orientam o organismo a 
mudar o estímulo, trocar o foco e/ou sustentá-lo, inibindo estímulos internos (pensamentos e 
memórias) e externos (sensações), sendo subdividida em diferentes tipos: atenção seletiva, atenção 
sustentada, atenção dividida, atenção alternada e amplitude atencional. 
Praxia e visuconstrução caracterizam-se como funções neuropsicológicas 
complexas que correspondem a sistemas de movimentos coordenados em função de um 
resultado ou intenção. Denomina-se apraxia a dificuldade/ impossibilidade de realizar 
corretamente movimentos gestuais como conseqüência de um acometimento neurológico 
que afete o planejamento motor, estando ausentes alterações sensoriais, perceptivas, 
motoras (anteriores à lesão) e de compreensão. Esses comportamentos são inúmeros e 
muito variáveis, envolvendo diversas habilidades neuropsicológicas. 
No contexto prático, a avaliação neuropsicológica é indicada quando as queixas 
extrapolam o uso das substâncias e refletem transtornos cognitivos– comportamentais que 
afetam o rendimento do trabalho, a aprendizagem e as relações interpessoais. Essas alterações 
ficam mais claras quando o indivíduo tenta manter suas atividades, mas demonstra 
dificuldades ou diferenças em seu desempenho. 
95 
 
 
Nota-se que a utilização da substância psicoativa causa impacto no sistema nervoso, 
sendo extremamente nocivo ao equilíbrio físico, cognitivo, comportamental e emocional do 
indivíduo. Com isso, a avaliação neuropsicológica pode contribuir para o levantamento de 
possíveis prejuízos cognitivos, possibilitando a identificação de comportamentos alterados e o 
desenvolvimento de estratégias para minimizar esses déficits. 
Portanto o uso de substâncias e a presença de prejuízos cognitivos podem, de forma 
potencial, produzir alterações comportamentais, emocionais e de personalidade nesses 
indivíduos, aspectos que devem ser considerados em um processo de tratamento e reabilitação 
neuropsicológica. 
 
 
Comprometimentos da atenção e funções executivas 
“O que se vê depende do que acontece no cérebro.” 
Bertrand Russell 
 
 Pontos chaves 
 As funções executivas são habilidades cognitivas que permite o sujeito orientar o comportamento a 
metas. 
 A atenção é o construto cognitivo pelos quais o organismo se torna receptivo aos estímulos internos e 
externos. 
 A identificação precoce das alterações cognitivas possibilita o aumento das chances de adequar uma 
intervenção ao dependente químico. 
 
Para Malloy-Diniz, Paula, Sedó, Fuentes e Leite (2014), As funções executivas 
correspondem a um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo 
direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses 
comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse 
modo, resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo. Essas funções são 
requisitadas sempre que se formulam planos de ação e que uma seqüência apropriada de 
respostas deve ser selecionada e esquematizada. 
96 
 
 
“As funções executivas 
compreendem diversos processos 
relativamente independentes, os 
quais interagem entre si em uma 
estrutura hierárquica ou 
simplesmente paralela.” 
 
 
 
 
 
 
Os complexos circuitos relacionados às funções executivas envolvem diferentes 
sistemas de neurotransmissão, de modo que alterações nesses sistemas também estão 
relacionadas ao desempenho das funções executivas. Por exemplo, as vias dopaminérgicas 
estão relacionadas a memória operacional, atenção, controle inibitório, planejamento, 
flexibilidade cognitiva e tomada de decisão, as vias serotonérgicas são particularmente 
importantes para processos como o controle inibitório e a tomada de decisão afetiva. 
Na região pré-frontal dorsolateral é uma área que está relacionada a processos 
cognitivos de estabelecimento de metas, planejamento, solução de problemas, fluência, 
categorização, memória operacional, monitoração da aprendizagem e da atenção, flexibilidade 
cognitiva, capacidade de abstração, auto-regulação, julgamento, tomada de decisão, foco e 
sustentação da atenção. 
O córtex orbitofrontal pré-frontal é fortemente interconectado com áreas de 
processamento cognitivo e emocional. Esta área tem sido associado a aspectos do 
comportamento social, como empatia, cumprimento de regras sociais, controle inibitório e 
auto-monitoração. Seu comprometimento está geralmente associado a comportamentos de 
risco e alterações da personalidade caracterizadas por redução da sensibilidade às normas 
sociais,infantilização e dependência de reforço evidente e baixa tolerância à frustração. Há 
também prejuízo no julgamento social, no aprendizado baseado em emoções. 
O circuito do giro do cíngulo anterior é importante para a motivação, a monitoração de 
comportamentos, o controle executivo da atenção, a seleção e o controle de respostas. 
Comprometimentos nesse circuito podem levar a dificuldades na realização de atividades que 
requerem manutenção de respostas e controle da atenção. Como conseqüência do 
comprometimento dessas circuitaria, o paciente pode apresentar apatia, dificuldades em 
97 
 
 
controlar a atenção, dificuldade em identificar e corrigir erros produzidos a partir de 
tendências automatizadas, desinibição de respostas instintivas. 
 
Já em relacionada à atenção, esta é a capacidade ou ao processo pelos quais o 
organismo se torna receptivo aos estímulos internos e externos. Proporciona habilidades que 
orientam o organismo a mudar o estímulo, trocar o foco e/ou sustentá-lo, inibindo estímulos 
internos (pensamentos e memórias) e externos (sensações). 
A atenção pode ser classificada em: 
• Amplitude atencional – quantidade de informação que pode ser processada ao mesmo 
tempo; 
• Atenção seletiva – capacidade de selecionar uma ou mais informações em um 
determinado momento; 
• Atenção sustentada – capacidade para manter uma atividade atencional por um 
período determinado de tempo; 
• Atenção dividida – capacidade de executar duas ou mais tarefas simultaneamente, no 
contexto de uma tarefa complexa; 
• Atenção alternada – implica disposição para mudar de foco e de tarefa. 
A identificação precoce das alterações cognitivas possibilita o aumento das chances de 
adequar uma intervenção ao dependente químico. Além disso, auxilia no complemento do 
diagnóstico, esclarecendo possíveis dificuldades que o indivíduo possa enfrentar para se 
manter abstinente ou evitar uma recaída. 
98 
 
 
Na dependência do álcool, a literatura nos informa que o papel das estruturas do córtex 
pré-frontal na dependência é ativado em sujeitos durante a intoxicação, craving, bienging, 
sendo desativado com a retirada da substância. Estas regiões estão envolvidas, também, nos 
níveis superiores de ordem cognitiva e motivacional, tais como a capacidade de acompanhar, 
atualizar e modular a evidência de um reforço da capacidade de controle prepotente de inibir 
as respostas. É visto também desmotivação para mudança de comportamento. As alterações 
constatadas nas capacidades de planejamento e flexibilidade mental estão diretamente 
relacionadas com a dificuldade de fazer escolhas assertivas com relação à manutenção da 
abstinência e afetando a aderência ao tratamento. 
Já nas substâncias estimulantes do sistema nervoso central, estas tendem a apresentar 
maiores prejuízos de controle inibitório, através de prejuízos no processamento cognitivo e no 
monitoramento de respostas, além de níveis elevados de impulsividade, comprometimento da 
atenção sustentada e retenção verbal em tarefas que exigem maior tempo de elaboração, 
problemas na fluência verbal que podem determinar dificuldades de aprendizagem. Já em 
usuários de crack é percebido índice mais elevado de raiva e agressividade. 
Já em usuários de maconha percebem-se déficits no controle inibitório e no 
planejamento, parecendo haver uma relação entre dose ingerida e aumento de 
comportamentos impulsivos em sujeitos que fazem uso leve da maconha. Já em estudos de 
efeito do uso crônico da maconha, os déficits encontrados dizem respeito à capacidade de 
abstração, formação de conceitos e flexibilidade mental, apesar de controvérsias, déficits 
persistentes no funcionamento executivo. 
 
Comprometimentos da memória 
“O que se vê depende do que acontece no cérebro.” 
Bertrand Russell 
 Pontos chaves 
 A memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar diferentes tipos de informações. 
 A memória é subdividida em diversos tipos. 
 O comprometimento da memória impacta no tratamento do dependente químico. 
 
99 
 
 
Segundo Santos, Andrade e Bueno (2015) a memória caracteriza-se pela capacidade 
de adquirir, armazenar e recuperar diferentes tipos de informações, sendo fundamental para a 
sobrevivência e a formação da identidade. O ser humano se constitui a partir de momentos e 
experiências vivenciados ao longo da vida. Aprender a locomover-se e a comunicar-se o torna 
apto para o convívio social. A personalidade se caracteriza por seus gostos, opiniões e 
posicionamentos, baseados também nas experiências de vida. 
As ciências cognitivas que vêm sendo desenvolvidas há vários anos consideram que a 
memória não é uma entidade única, mas subdividida em vários tipos e subtipos: memórias de 
longo prazo (MLP), que, por sua vez, podem ser divididas em memória declarativa (ou 
explícita) e memória não declarativa (ou implícita). 
A memória declarativa consiste na lembrança consciente de eventos pessoais e de 
fatos culturais aprendidos ao longo da vida, se subdividindo em memória episódica e memória 
semântica. 
A memória implícita é aprendida aos poucos, com repetições que seguem as mesmas 
regras. Elas compreendem diversos tipos, como a memória de procedimento, o 
condicionamento clássico (pareamento entre estímulos), o condicionamento operante (relação 
de contingência entre uma resposta e um estímulo reforçador), a habituação, a sensibilização. 
Outra distinção antiga entre os sistemas de memória é aquela entre memória de curto 
prazo e de longo prazo, conforme o tempo e a capacidade de armazenamento. A memória de 
curto prazo armazena conteúdo limitado (cerca de quatro itens ao mesmo tempo) e apenas por 
alguns segundos, enquanto a memória de longo prazo é capaz de armazenar quantidade 
ilimitada de informações por minutos ou anos. 
Sendo assim podemos compreender que a memória de curto prazo foi conceitualmente 
englobada por outro sistema: o de memória operacional. A memória operacional (working 
memory) é entendida como a capacidade de manter e, ao mesmo tempo, manipular 
informações por um período breve de tempo. 
No uso abusivo e crônico de álcool, estudos relatam através de neuroimagem que os 
danos estruturais e funcionais afetam o hipocampo e os lobos frontais, e até mesmo no córtex 
cerebelar. Em quadros de intoxicação aguda por álcool, há sérias conseqüências como a 
síndrome de Korsakoff e demência alcoólica, causando perda de memória recente, prejuízo 
para novos aprendizados, perturbação em relação ao tempo, produção de falsas memórias. 
100 
 
 
 Com o uso da maconha, percebemos que há um aumento no risco de derrame e a 
diminuição de certas regiões do cérebro como a amígdala e o hipocampo, que são ricas em 
receptores para o tetrahidrocanabinol (THC). Isso pode afetar diretamente a capacidade de 
memorização e a regulação de emoções como medo e agressividade. Nota-se também 
alterações anatômicas do hipocampo (área de formação de novas memórias) e estruturas do 
sistema límbico (amígdala), podendo agravar as funções referente à memória e atenção. 
A cocaína apresenta um enorme potencial para a dependência, sendo capaz de 
estimular o funcionamento cerebral, causando déficit na concentração, memória visual e 
verbal, no aprendizado. De acordo com estudos o uso crônico da cocaína causa alterações 
neuronais e sinápticas em diferentes regiões cerebrais incluindo o hipocampo. 
Vemos então, a importância da memória em nossas vidas. A memória refere-se à 
retenção dos conhecimentos adquiridos sobre o mundo. Ela transforma o passado em 
presente, nos possibilita a aquisição de novos conteúdos promovendo assim os aprendizados 
durante a vida. Nota-se que o uso da substância, seja ele crônico ou agudo, provoca alterações 
significativas nesse construto neuropsicológico. As alterações evidenciadas na memória 
podem comprometer o tratamento na dependência quimica, fazendo com que o sujeito não 
aprenda de formaeficiente o programa proposto acarretando em dificuldades na mudança 
comportamental. 
 
Comprometimentos da Praxia e visuo-construção 
“O que se vê depende do que acontece no cérebro.” 
Bertrand Russell 
 
 Pontos chaves 
 Praxia e visuoconstrução construtos complexos do funcionamento do individuo. 
 Na visuoconstrução os comprometimentos estão relacionados na capacidade de realizar o escaneamento 
espacial, na construção e na utilização e manipulação da informação a partir de imagens visuais. 
 
Os termos Praxia e Visuoconstrução designam uma esfera complexa do 
funcionamento humano, a da capacidade de realizar atos voluntários no plano prático. Uma 
101 
 
 
gama grande de atividades depende dessas capacidades, desde o ato de se vestir, escovar os 
dentes, até a realização de tarefas mais complicadas como construir um modelo ou maquete 
tridimensional. Em outras palavras, praxia e visuoconstrução se referem às habilidades que 
permitem executar ações voltadas a um fim no plano concreto, através da atividade motora. 
Os comportamentos ditos práxicos ou visuoconstrutivos são muitos e variáveis, 
portanto envolvem diferentes processos neuropsicológicos. A capacidade para desempenhar 
essas atividades requer algumas condições: percepção visual, raciocínio espacial, habilidade 
para formular planos ou metas, comportamento motor e capacidade de monitorar o próprio 
desempenho. Assim, um prejuízo em algum desses componentes pode ocasionar um distúrbio 
práxico/visuo-construtivo. 
 Apraxia é uma desordem neurológica que se caracteriza por provocar uma perda da 
capacidade em executar movimentos e gestos precisos que conduziriam a um dado objetivo, 
apesar do paciente ter a vontade e a habilidade física para os executar. Resulta de disfunções 
nos hemisférios cerebrais, no lobo frontal, mais especificamente no córtex motor e na sua 
área motora secundária. Caracteriza-se, mais especificamente, na diminuição da capacidade 
para executar atividades motoras, apesar destas, a função sensorial e a compreensão da tarefa 
requerida, estar intactas. 
Assim temos as seguintes apraxias: 
Apraxia Ideomotora; Inabilidade para a realização de uma seqüência lógica e harmoniosa de 
gestos de um ato complexo. 
 Apraxia Ideativa; 
 Apraxia Ideatoria; 
 Apraxia Visioconstrutiva; 
 Apraxia Conceitual. 
No que tange a dependência quimica e a visuoconstrução, podemos verificar 
comprometimentos na capacidade de realizar o escaneamento espacial, na construção e na 
utilização e manipulação da informação a partir de imagens visuais. Prejuízos nas medidas de 
orientação alocêntrica, na análise de característica e configuração e em três tarefas de 
memória espacial anterógrada. Aspectos fundamentais do processamento de informações 
espaciais, dificuldades em processar a informação espacial e, desta forma, o desempenho em 
tarefas de navegação espacial estarão comprometidas significativamente. 
102 
 
 
 
Reabilitação neuropsicológica e dependência química 
“O que se vê depende do que acontece no cérebro.” 
Bertrand Russell 
 
 Pontos chaves 
 Neuropsicologia é uma interface entre a psicologia e neurociências, que visa o estudo da relação entre o 
Cérbero e o comportamento humano. 
 A reabilitação neuropsicológica na dependência quimica auxilia na melhor adesão ao tratamento. 
 A reabilitação neuropsicológica melhora os processos cognitivos que auxiliarão na mudança 
comportamental. 
 
A palavra reabilitação provém de rehabilitario, em latim, que significa restauração, 
recuperação. É um termo formado pela junção de duas palavras re (de novo) e habilitare 
(adequar), esta, derivada de habilis, significa fácil adaptação. Já o termo Neuropsicologia, 
propõe o conhecimento do cérebro e comportamento, dando ênfase na cognição. 
Dentro da Neurociência a possibilidade do cérebro reorganizar seus múltiplos padrões 
de respostas e conexões mediante a experiência, mesmo após diversos tipos de dano cerebral, 
é um dos aspectos mais fascinantes das fronteiras das neurociências com a reabilitação. 
Através dos mecanismos da plasticidade neural, a própria lesão representa um impulso 
mobilizador para que o cérebro reprograme seus padrões originais de funcionamento e 
especialização hemisférica. Nesse sentido, conhecer de que maneira os mecanismos de 
compensação, adaptação e modelagem neural são passíveis de serem acionados pelos 
diferentes tipos de experiências e estratégias de reabilitação é um desafio constante para os 
profissionais que atuam com reabilitação de doenças neurológicas (Gomez, 2012). 
Nesse panorama, a Reabilitação Neuropsicológica, segundo Miotto (2015) é entendida 
um conjunto de procedimentos e técnicas que visam promover o restabelecimento do mais 
alto nível de adaptação física, psicológica e social do indivíduo incapacitado. 
Sendo assim a reabilitação neuropsicológica é um processo que busca capacitar 
pacientes com prejuízos cognitivos, oferecendo-lhes um maior ajustamento biopsicossocial, 
proporcionando, ao maior nível possível, sua capacidade de autonomia e independência dos 
103 
 
 
demais. Esse processo também implica em orientar os familiares e/ou cuidador para que esses 
tenham maior habilidade em lidar com as conseqüências físicas e psicólogas causados por 
lesão, doença, ou pelas conseqüências decorrentes do abuso de drogas. 
Dentre os programas de reabilitação neuropsicológica existentes, eles podem 
apresentar as seguintes abordagens e objetivos: 
 Recuperar ou restaurar a função cognitiva comprometida; 
 Potencializar a plasticidade cerebral ou a reorganização funcional por meio das áreas 
cerebrais preservadas; 
 Compensar as dificuldades cognitivas com meios alternativos ou auxílios externos que 
possibilitem a melhor adaptação funcional; 
 Modificar o ambiente com tecnologia assistida ou outros meios de adaptação às 
dificuldades individuais de cada paciente. 
 
 
 
 
 
 
O consumo substâncias psicoativas atuam sobre o cérebro, alterando de alguma 
maneira o psiquismo. Com isso, pode-se observar em usuários de substâncias o aparecimento 
de comportamentos inadequados ou ineficientes, ou seja, habilidades que antes eram 
executadas de forma satisfatória podem expressar falhas com o uso prolongado da droga, 
manifestando prejuízos no funcionamento. Esses vários comprometimentos cognitivos afetam 
na funcionalidade do usuário, bem como na adesão de seu tratamento. 
Mas porque é importante ter a reabilitação neuropsicológica como uma estratégia 
dentro do tratamento em dependência quimica? 
“É importante que a intervenção 
seja interdisciplinar, uma vez 
que o individuo apresenta 
diferentes funções cognitivas e 
participa de diferentes 
domínios”. 
104 
 
 
Mediante ao uso de sustâncias, várias funções cognitivas ficam comprometidas. A 
reabilitação das funções prejudicadas, à medida que são estimuladas, intervêm positivamente 
na adesão ao tratamento da dependência química, além de que com a intensificação do 
tratamento maiores habilidades serão exigidas, como: controle da impulsividade, 
compreensão dos conceitos abstratos, reconhecimento de suas restrições, planejamento da 
rotina, habilidades de comunicação, no qual interferirão nas mudanças de comportamento 
auxiliando o usuário na sustentação e manutenção da abstinência e na sua re-socialização. 
 Portanto, a intervenção realizada sob a ótica da Neuropsicologia no de tratamento da 
dependência química, objetiva auxiliar o tratamento do paciente e a orientação familiar, 
melhorando os processos cognitivos que implicam, diretamente, em melhoras na mudança de 
comportamento. Vemos também que com a reorganização das capacidades cognitivas há 
possibilidade na ampliação das estratégias de reconstrução da autonomia, dos processos 
decisórios e, mais do que isso, no resgate do sentimento de competência, ora perdido durante 
o uso abusivo da substância. 
Nesse cenário surge um grande desafio parao futuro, que é a ampliação da capacidade 
de tratamento para o dependente químico, aliando as várias frentes de intervenção reunidas 
em uma equipe interdisciplinar que inclua o enfoque neuropsicológico. 
 
Módulo 6: Populações Especiais 
 
Crianças e Adolescentes 
“O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade”. 
 Karl Mannheim 
 Pontos chaves 
 Principal tarefa na adolescência é a construção da identidade própria, de sua imagem e papel social. 
 O uso de drogas na infância e adolescência é um dos principais problemas das sociedades atuais. 
 Não há critérios diagnósticos específicos para essa fase no DSMV, se utiliza os critérios gerais. 
 
Os primeiros contatos com o álcool e outras drogas geralmente ocorrem na adolescência. Nos 
anos de 1950 a 1960, isso acontecia por volta dos 18 anos, quando os jovens ingressavam na 
faculdade. Nas últimas décadas, porém, a experimentação tem sido cada vez mais precoce, com 
105 
 
 
quadros de uso e dependência incidindo em idades menores, apesar de os esforços preventivos estarem 
aumentando. 
A principal tarefa na adolescência é a construção da identidade própria, de sua imagem 
e papel social. É um momento no qual ocorre o desenvolvimento de várias habilidades; sendo 
necessário que o indivíduo tenha a oportunidade de ser estimulado. Assim, os jovens 
experimentam novos contatos sociais, novos atividades de lazer e começam a treinar papéis 
visando a sua escolha vocacional. Por isso, é natural que enfrentem novas situações, sintam 
insegurança e se deparem com a necessidade de fazer escolhas, o que pode acontecer com a 
experimentação do uso de substâncias psicoativas nessa fase. 
De acordo com a literatura, felizmente, a maioria dos adolescentes interromperá o uso 
de drogas conforme for assumindo outros papéis na vida adulta, porém o consumo de tabaco 
constitui exceção, tendendo a permanecer na idade adulta. Há, ainda, indivíduos que 
progredirão do consumo em geral experimental dessa fase para padrões mais graves de uso e 
dependência, que na adolescência costuma envolver múltiplas drogas. 
Alguns autores relatam que o uso experimental de certas substâncias, entre elas álcool, 
tabaco e também algumas ilícitas, é considerado como um comportamento dentro do padrão 
normal de desenvolvimento na adolescência. Ainda que o consumo de álcool e tabaco seja 
legalmente proibido para menores de 18 anos, o seu uso não deveria ser visto 
automaticamente como patológico. O uso da droga pelo adolescente geralmente se faz por 
curiosidade. Ele busca uma sensação diferente, algo que pode ser incentivado e valorizado 
pelo grupo. O problema é que o consumo precoce pode afastar o adolescente de seu 
desenvolvimento normal, impedindo-o de experimentar outras atividades importantes nessa 
fase da vida. 
A experimentação de uma substância expõe o adolescente a outros fatores de risco, 
que podem contribuir para a evolução do uso regular para a dependência. Não se sabe, porque 
ainda não há relatos científicos consistentes de que os adolescentes têm maior predisposição 
para passar do uso experimental para a dependência, mas o fato é que o consumo será um 
fator de risco para o desenvolvimento normal e saudável nessa fase. 
De acordo com Diehl, Cordeiro e Laranjeira (2019), dos estudantes do último ano das 
escolas secundárias dos Estados Unidos, 61,2% já experimentaram álcool, sendo que 33,2% 
fizeram uso no último mês e 1,3% destes bebem diariamente. No Brasil, em levantamento 
realizado em 2010 entre estudantes de ensino fundamental e médio da rede de escolas 
106 
 
 
públicas, 60,5% referiram já ter consumido álcool em algum momento, sendo que 21,2% o 
haviam feito no último mês, 2,7% apresentaram uso freqüente (seis ou mais vezes no último 
mês) e 1,6% uso pesado (20 ou mais vezes no último mês). O uso na vida de álcool nos 
estudantes no Brasil foi menor do que na Argentina (73,2%), no Uruguai (75,1%) e no Chile 
(78,4%), mas próximo do verificado no Paraguai (62,9%) e na Costa Rica (60,4%), além de 
maior do que na Bolívia (46,5%) e na Venezuela (47,2%). 
O uso de álcool e outras drogas estão relacionados com 50% dos suicídios em jovens, 
sendo que o consumo específico de álcool está ligado com 80 a 90% dos acidentes 
automobilísticos na faixa dos 16 aos 20 anos. Observa-se que um início mais precoce do uso 
está associado a pior prognóstico na vida adulta, com maior chance de uso pesado, 
dependência e evidencias de quadros comorbidos. 
Nesse panorama, o uso do tabaco também está entre as substâncias mais consumidas 
pelos jovens. No Brasil, no levantamento de 2010, os números entre os estudantes de ensino 
fundamental e médio mostram que 16,9% já tinham feito uso na vida, 9,6% no último ano, e 
5,5% no último mês. 
Em relação o uso de outras substâncias, podemos conferir na tabela a prevalências e 
incidência dentro dessa população: 
 
 PREVALÊNCIA DE USO DE DROGAS NA VIDA* ENTRE ESTUDANTES 
COMPARAÇÃO ENTRE VÁRIOS PAÍSES (DADOS PERCENTUAIS) 
Drogas Brasil Chile Venezuela Franca Itália Grécia EUA 
Álcool 60,5 78,9 47,2 84,0 84,0 94,0 41,9 
Cigarro 16,9 57,2 - 55,0 58,0 39,0 18,2 
Maconha 5,7 26,5 1,7 31,0 27,0 9,0 28,6 
Solvente 8,7 7,0 0,7 6,0 6,0 13,0 6,5 
Cocaína 2,5 5,9 0,6 4,0 3,0 1,0 2,3 
Ansiolíticos 5,3 15,6 15,8 10,0 5,0 4,0 5,5 
Anfetaminas 5,3 2,6 6,4 2,0 3,0 2,0 8,1 
 
*Uso na vida: quando a pessoa fez uso de qualquer droga psicotrópica pelo menos uma vez na vida. 
Fonte: Adaptada de Carlini e colaboradores (2010); Comisión Interamericana para el Control del Abuso de Drogas (2015); Kraus e 
colaboradores (2016); Ministério del Interior y Seguridad Pública (2011); Monitoring the Future Study (2016). 
107 
 
 
 
Outra questão que não deve cair no esquecimento é o problema do uso de esteróides 
anabolizantes nessa fase. Bahrke e colaboradores (1998), em uma breve revisão da literatura 
por ocasião do relato de um grupo de casos, observam que a prevalência do uso dessas 
substâncias alcança 6,6% dos adolescentes do sexo masculino de uma escola de ensino médio 
e que o risco de uso chega a ser 2 a 3 vezes superior nos jovens desse sexo quando comparado 
com o sexo feminino. A literatura discursa que o consumo de anabolizantes é mais provável 
em grupos de adolescentes que estão envolvidos em musculação e levantamento de peso, em 
uma tentativa de melhorar a aparência como conseqüência de insatisfação com a própria 
imagem corporal. Outro fato importante apontado é a associação do uso de anabolizantes com 
o de outras drogas ilícitas. No Brasil, a prevalência de uso na vida de anabolizantes entre 
estudantes foi de 1,4%. 
Outra classe de substâncias que tem sido estudada é a dos energéticos — substâncias 
muito associadas ao álcool para aumentar o efeito excitatório. Entre os estudantes brasileiros, 
a prevalência de uso na vida de energéticos (associados ao álcool) é de 15,4%. A estimativa 
da prevalência do consumo de drogas se depara com a dificuldade de mensurar a ocorrência 
de um comportamento ilegal, sendo, dessa forma, subestimada em relação aos números reais. 
O consumo de drogas existentes na população de crianças e adolescentes é um dos 
principais problemas das sociedades atuais. As pesquisas trouxeram avanços no entendimento 
de que o consumo de substâncias pode resultar, para significativo número de pessoas, na 
adição. No entanto, o diagnóstico de transtorno por uso de substâncias (TUS) ou de 
dependência entre crianças e adolescentes ainda é um tema controverso, não diferençando a 
apresentação clinica entre adultos adolescentes, e sem validação para adaptação testada nessa 
comunidade. Além de a adolescência ser uma fase de desenvolvimento com amplas 
modificações corporais, emocionais, culturais e sociais, o diagnóstico por TUS torna-se 
complexo de ser realizado. 
Com isso o diagnóstico por uso de substâncias em jovens depende mais da 
sensibilidade do clínico do quede critérios. Para isso, é necessário um entendimento intuitivo 
desse transtorno, um estilo flexível de abordagem do paciente e uma grande dose de 
ceticismo. Partindo do pressuposto de que adolescentes usuários de substâncias tendem a 
mentir, o profissional deve desenvolver a capacidade cognitiva de alternadamente acreditar e 
duvidar do relato do jovem - o pensamento duplo. Dessa forma, o profissional que está 
108 
 
 
avaliando, deverá considerar se as queixas e os comportamentos relatados podem ser 
explicados por TUS. Devido às grandes mudanças que ocorrem na adolescência, a família e a 
escola podem interpretar determinados comportamentos problemáticos como uma fase que 
logo passará, levando, às vezes, a uma tolerância exagerada às atitudes inadequadas e 
desvalorizando sinais que podem indicar o uso de substâncias. 
Para auxiliar no diagnóstico, podemos nos ater alguns sinais que podem elucidar na 
construção do diagnóstico: 
 Faltas às aulas; 
 Queda do rendimento escolar; 
 Mudanças radicais no vocabulário; 
 Amizades; 
 Estilo de se vestir; 
 Interesses culturais, religiosos ou hábitos de lazer; 
 Isolamento social; 
 Irritabilidade e agressividade; 
 Alterações em hábitos (como horário de dormir e de se alimentar, perda de objetos ou 
roupas, gastos exagerados, etc.); 
 Mentiras freqüentes; 
 Problemas disciplinares graves no colégio; 
 Envolvimento com brigas ou problemas legais. 
Em razão das características peculiares da adolescência, a imprecisão dos critérios 
diagnósticos pode ser substituída por uma graduação de gravidade do uso. Alguns autores 
propõem a avaliação em níveis de uso ao longo de um espectro que vai da experimentação à 
dependência (Nowinski, 1990). Essa escala aumentaria a sensibilidade do clínico, evitando 
que o diagnóstico só se realizasse nos estágios mais graves do problema. 
 No sentido de melhorar essa percepção do clínico, Nowinski (1990) apresenta um 
esquema de evolução do uso entre adolescentes, com cinco estágios: 
1. Experimental (uso motivado pela curiosidade e/ou correr risco); 
2. Social (uso relacionado a eventos); 
3. Instrumental (busca de substância química para manipular emoções e comportamentos 
com fins hedonísticos ou compensatórios para enfrentar o estresse ou disforia); 
109 
 
 
4. Hábito (acomodação – área cinzenta que leva à dependência –, na qual o uso de drogas 
torna-se um estilo de vida para enfrentamento e recreação, e o interesse anterior é 
abandonado); 
5. Compulsivo (acomodação completa, preocupação e deterioração do funcionamento 
global). 
Volkow e colaboradores (2016) dividem a adição em três estados recorrentes, com 
fundamentações nas neurociências: 
1. Uso pesado (binge) e intoxicação; 
2. Abstinência e afeto negativo; 
3. Preocupação e antecipação (craving). 
Cada estado está associado à ativação de circuitos neurológicos específicos e às 
conseqüentes características clínicas e comportamentais. 
Já Blum (1987) propôs um instrumento de avaliação centrado em quatro áreas: 
1. Gravidade do problema; 
2. Fatores precipitantes (sinais, sintomas, conseqüências e padrões de uso de 
substâncias); 
3. Fatores de risco predisponentes e perpetuadores (genéticos, sociodemográficos, 
intrapessoais, interpessoais e ambientais); 
4. Critérios diagnósticos. 
Em resumo, o profissional clinico, além dos padrões de critérios diagnósticos, deve 
ficar atento às mudanças de comportamento que podem indicar o uso de drogas e às 
conseqüências que esse uso pode trazer às diversas áreas da vida da criança e do adolescente, 
para estabelecer medidas e intervenções que sejam preventivas, no sentido de minimizar o 
contato do paciente com as drogas e, no caso de uso, prevenir a evolução do consumo para 
padrões mais graves de adição. 
Percebem-se na infância e adolescência certas vulnerabilidades que podem corroborar 
no início do uso de drogas, na qual podemos citar: 
 Transformações corporais e as dificuldades para estabelecer novas relações e 
interações sociais (influências ambientais) 
 Curiosidade natural dos adolescentes; 
 Opinião dos amigos e facilidade de obtenção; 
110 
 
 
 O fácil acesso às drogas e a oportunidade de uso são fatores importantes no início do 
consumo; 
 Influência dos modismos; 
 A autoestima; 
 O tipo de papel familiar na formação do adolescente; 
 Os pares de iguais. 
Analisando-se os fatores internos do adolescente que podem facilitar o uso de álcool e 
drogas, merece destaque a insatisfação e a não realização em suas atividades, a insegurança e 
os sintomas depressivos. Os jovens precisam sentir que são bons em alguma atividade, e isso 
representará sua identidade e sua função no grupo. O adolescente que não consegue se 
destacar nos esportes, estudos, relacionamentos sociais, entre outras atividades, pode buscar 
nas drogas a sua identificação. A insegurança quanto ao desempenho exerce o mesmo papel, 
no sentido de empurrá-lo para experimentar atividades nas quais se sinta mais seguro. Em 
relação ao uso de esteróides anabolizantes, a insatisfação com a própria imagem corporal e a 
deposição de muita importância aos atributos físicos, que acabam tendo papel na manutenção 
da autoestima dos jovens, são fatores de risco para seu uso. Essa função que a droga passa a 
assumir na vida desses jovens deverá ser obrigatoriamente revista durante o tratamento. 
A frustração também configura um fator de risco na adolescência. Quanto mais 
impulsivo e menos tolerante à frustração for o adolescente, maior será o risco. A vivência de 
eventos adversos (como negligência, abuso físico e sexual, e violência doméstica) também 
parece aumentar o risco de uso de substâncias, em especial as ilícitas. 
De forma geral, fatores externos e internos interagem, não sendo possível isolar a ação 
de cada um. Os citados com maior freqüência são: 
 Uso de drogas pelos pais e amigos; 
 Desempenho escolar insatisfatório; 
 Relacionamento deficitário com os pais; 
 Baixa autoestima; 
 Sintomas depressivos; 
 Ausência de normas e regras claras associada à baixa tolerância 
 Do meio às infrações; 
 Necessidade de novas experiências e emoções; 
 Baixo senso de responsabilidade; 
 Pouca religiosidade; 
111 
 
 
 Antecedente de eventos estressantes; 
 Uso precoce de álcool. 
Para se estabelecer o diagnóstico de TUS, é conveniente usar os seguintes elementos: 
história clínica e exame do estado mental; 
 Exame físico; 
 Autorrelato; 
 Relato de colaterais (família, amigos, professores e colegas); 
 Entrevistas estruturadas; 
 Exames laboratoriais; 
 Exames de rastreamento de drogas (urina e cabelo). 
Os principais meios de diagnóstico para o TUS são a entrevista e a avaliação clínica 
do paciente, o exame do estado mental para o reconhecimento de sinais e sintomas, a 
determinação do grau e da extensão do uso e o diagnóstico de qualquer problema médico e 
psicológico relacionado ou preexistente ao uso. Alguns instrumentos estruturados podem ser 
usados. A aplicação dos questionários Cut down, Annoyed, Guilty, Eye-opener Questionnaire 
(CAGE), Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) (Harris et al, 2014) e Drug Use 
Screening Inventory (DUSI) (Fidalgo e Formigoni, 2016) são úteis para auxiliar na construção 
do diagnóstico. 
DICA: Questionário AUDIT encontra-se no anexo dessa apostila. 
No que tange as comorbidades presentes em crianças e adolescentes que apresentam TUS 
são, na sua maioria, os principais diagnósticos diferenciais. Além disso, a correlação entre eles é 
bastante próxima, gerando confusão diagnóstica, sobretudo em quadros de início muito precoce, como, 
por exemplo, o transtorno de oposição desafiante (TOD) e quadros ansiosos. 
Não é incomum que um ataque de pânico ecloda a partir do uso de substâncias, 
principalmente estimulantes ou álcool. Diagnósticos clínicos como o TDAH, o transtorno da 
conduta (TC) e o TOD, apresentam sintomascomo hiperatividade, impulsividade, inquietação 
psicomotora e postura opositora, agressiva e hostil, podem se confundir com o uso ativo de 
substâncias. Outras condições que em geral se iniciam na vida adulta, como o transtorno 
bipolar (TB) e a esquizofrenia, podem ter o curso clínico modificado, iniciando-se mais 
precocemente a partir do uso de substâncias. O transtorno mental comórbido poderá também 
112 
 
 
aprofundar o uso de drogas, e este, por sua vez, tornar a evolução do transtorno mental 
associado mais grave e de prognóstico menos favorável. 
Quanto ao diagnóstico de uma comorbidade psiquiátrica esta somente poderá ser 
considerada a partir do momento em que a criança ou adolescente esteja em abstinência total 
do uso de quaisquer substâncias por determinado período, pois, do contrário, esse quadro 
deverá ser considerado parte da sintomatologia produzida pela própria droga. 
Embora haja uma variedade de abordagens com um bom resultado inicial, os índices 
de recaída em TUS na adolescência são elevados, muitos jovens não sustentando a abstinência 
após um ano de tratamento o que impele a elaboração de um plano de cuidados mais 
prolongado. Algumas estratégias básicas incluem sessões de terapia, treino de habilidades de 
assertividade, a reestruturação cognitiva a partir de experiências passadas e o tratamento das 
comorbidades, as quais estão associadas a um pior prognóstico. 
 
 
 
Mulheres, Gestante e Perinatal 
“Aquele que é feliz, espalha felicidade. Aquele que teima na infelicidade, que perde o 
equilíbrio e a confiança, perde-se na vida”. 
Anne Frank 
 
 Pontos chaves 
 As taxas de consumo de álcool entre homens e mulheres têm diminuído. 
 População com demandas especifica. 
 Não critérios diagnósticos específicos para essa população no DSMV, normalmente utiliza-se os 
critérios gerais aliado com as especificidades dessa população. 
 
O uso de álcool, fármacos prescritos e de substâncias ilícitas é um problema crescente 
de saúde pública entre a população das mulheres. O consumo de substâncias entre mulheres 
na idade fértil representa um peso crescente para a sociedade e para os provedores de saúde 
em vários locais do mundo. 
113 
 
 
Estima-se que 20 a 30% das mulheres grávidas usem tabaco, 15% usem álcool, 3 a 
10% usem maconha e 0,5 a 3% usem cocaína. Importante destacar, no entanto, que a 
estimativa do consumo de tabaco durante a gravidez é mais conhecida quando comparada 
com a prevalência de uso de álcool e outras substâncias nesse período, que permanece 
subestimada ou desconhecida — o que preocupa, considerando que o uso de crack na 
gravidez, por exemplo, leva a repercussões relacionadas à saúde do recém-nascido e à 
reestruturação familiar. 
O uso maconha é relativamente comum entre as usuárias dessa droga, mesmo no 
período pré-natal e pós-parto. A vigilância do seu consumo entre mulheres grávidas e 
puérperas é fundamental para entender melhor a relação do uso dessa substância com os 
desfechos do parto e as experiências pós-parto. 
Com o envelhecimento, as mulheres passam pela menopausa, experimentando 
mudanças na composição corporal e na vida, como a aposentadoria ou a perda de um ente 
querido. O estresse e a depressão relacionados à menopausa podem desencadear o 
aparecimento de consumo de álcool em binge ou piorar um padrão de consumo preexistente. 
 
 
 
 
 
 
Você sabia... 
“A disparidade das taxas de consumo de álcool entre homens e 
mulheres tem diminuído, em especial, nas últimas duas décadas. O 
uso dessa substância na forma de binge diminui a qualidade de vida, e 
quaisquer efeitos positivos potenciais da sua ingestão moderada são 
minúsculos em comparação com os efeitos adversos causados pelo 
seu abuso”. 
114 
 
 
 
Quanto ao tratamento, observa-se que a mulher apresenta mais dificuldade em ter 
acesso ao tratamento e a se recuperarem da dependência do álcool em relação aos homens, 
por sofrer os estigmas sociais relacionados ao seu gênero e papel na sociedade. 
Na população das mulheres, varias vulnerabilidades são visualizadas que podem 
contribuir para o consumo de substâncias psicoativas. Vejamos algumas: 
Físicas, biológicas e genéticas: 
 As diferenças entre os gêneros, como o menor volume de água corporal, o aumento da 
razão corporal entre gordura/água, a menor quantidade da enzima álcool-
desidrogenase, responsável pelo metabolismo do álcool no estômago, e a interface do 
álcool com os hormônios femininos (estrógenos e progesteronas), que aumentam o 
dano hepático; 
 Os estudos genéticos sobre alcoolismo envolvendo gêmeos monozigóticos mostraram 
maior influência genética nos homens; 
 As usuárias de substâncias ilícitas são mais prováveis de apresentarem famílias mais 
(dis)funcionais e falta de modelos parentais de identificação que seus companheiros 
homens em tratamento. 
 
Psicológicas e psiquiátricas: 
 O início do uso entre mulheres tem sido associado a um mecanismo de enfrentamento 
da timidez, da ansiedade e da baixa autoestima; 
 As mulheres mostram, a partir de alguns discursos comuns, que começaram a fazer 
uso de substâncias por intermédio e/ou na companhia de suas parcerias 
afetivas/sexuais/amorosas; 
 As meninas adolescentes estão sob a influência da mídia em relação ao álcool, ao 
tabaco e aos anorexígenos, que associam o consumo à beleza, à riqueza e ao sucesso 
profissional; 
 Os transtornos psiquiátricos tendem a ser a morbidade primária, já a dependência é a 
morbidade secundária, ao contrário dos homens; 
 O consumo de álcool e substâncias também se encontra mais associado a 
comorbidades psiquiátricas, como os transtornos do humor (mania e depressão), de 
115 
 
 
ansiedade (pânico, fobias e transtorno do estresse pós-traumático [TEPT]) e de 
personalidade borderline , um preditor de pior desfecho nos tratamentos. 
Sociais e culturais: 
 As mulheres ainda sofrem com a desvantagem social por causa de uma cultura que 
segue muito preconceituosa, de relação de poder e de controle sobre seus corpos, 
muito desigual e discriminatória em diversas sociedades ao redor do mundo; 
 A prevalência, nesse contexto, de discursos como “a mulher não pode se embriagar”, 
por exemplo, ainda permeiam as narrativas da sociedade patriarcal; 
 A falta de apoio do cônjuge para o início de um tratamento, além de o sistema de 
saúde carecer de serviços especializados e de os estudos científicos ser raros. Assim, 
as mulheres buscam menos o tratamento, fazem segredo sobre ele e têm o medo 
freqüente em relação à perda de seu papel de mãe e esposa; 
 A relação de gênero, violência doméstica (VD) e álcool e substâncias é bem estreita. 
Durante a gestação: 
 O consumo de substância durante a gestação, qualquer que seja e principalmente no 
primeiro trimestre, pode causar alguma alteração na formação do feto, provocando 
diferentes graus de lesões, abortos espontâneos ou mortalidade perinatal, pois tais 
substâncias atravessam todas as barreiras biológicas, até mesmo a placenta 
(vulnerabilidade fetal). 
Aspectos relacionados à sexualidade: 
 A sexualidade da mulher usuária de álcool e outras substâncias traz ainda dois outros 
aspectos importantes: o aumento no número de parcerias sexuais sem proteção e, 
conseqüentemente, de infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV); 
gestação não desejada, principalmente entre adolescentes, trazendo um imenso ônus 
psicossocial tanto para meninos como para meninas. 
A detecção precoce do uso de substâncias é crucial na prevenção de diversos 
problemas de saúde, além de melhorar o prognóstico do tratamento. Assim, a investigação do 
uso de álcool e outras drogas deveria ser parte integral da avaliação em serviços de saúde em 
nível primário. Um teste simples que pode auxiliar a identificação de mulheres com potencial 
problema pelo consumo de álcool é o TWEAK. Este é composto de cinco questões, sendo 
116 
 
 
uma quantitativae quatro com respostas do tipo sim/não e seu nome caracteriza o acrônimo 
que envolve os aspectos avaliados por essas questões: 
 
1. Tolerance (tolerância): quantas doses de bebida alcoólica você toma até começar a 
sentir os primeiros efeitos do álcool? 
2. Worry (preocupação): parentes e amigos têm se preocupado ou reclamado da sua 
forma de beber? 
3. Eye-opener (alerta): você bebe logo pela manhã às vezes? 
4. Amnésia (esquecimento): às vezes, após beber, você sente dificuldade para lembrar o 
que falou ou fez? 
5. K/cut-down (redução): você, às vezes, sente que precisa reduzir ou controlar seu 
consumo de álcool? 
 
A primeira questão recebe dois pontos quando a resposta indica que três ou mais 
doses seriam necessárias até que os primeiros efeitos do álcool pudessem começar a serem 
sentidos. A segunda questão recebe dois pontos e as demais recebem um ponto quando a 
resposta é positiva. As demais questões são pontuados com 2 pontos, caso a reposta seja 
afirmativa. Ao final somam-se todos os pontos das 5 questões. No escore obtido a presença 
de pelo menos dois pontos indica que um problema com o álcool possa estar presente e que a 
mulher deveria ser encaminhada para uma avaliação especializada para que o diagnóstico 
possa ser corretamente elaborado e o tratamento adequado instituído. 
Entre as principais recomendações do tratamento de mulheres com transtornos por uso 
de substâncias (TUS), podemos citar: 
 Realizar a detecção precoce, que é um dos principais pontos do tratamento de 
mulheres com TUS, pois, quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances 
de melhores desfechos; 
 Lembrar que os programas exclusivamente de mulheres, tanto em regime de 
internação como ambulatorial, tendem a ter melhores desfechos; isto é, os grupos 
compostos apenas por mulheres podem ser mais atrativos, principalmente no caso de 
vítimas de violência; 
117 
 
 
 Considerar que, quanto mais específico é o desenho do programa para o público 
feminino, melhores são os resultados; 
 Ter, de preferência, um projeto terapêutico personalizado, o qual pode incluir 
expressão corporal e trabalhar intensivamente sentimentos e demandas específicas 
dessa população, como temáticas de filhos, culpa, exigências estéticas, gestação, VD, 
abuso sexual, prostituição feminina, estigmas, passividade, autoestima, além de 
oficinas de auto-cuidado com cabeleireiro, de culinária e de dança. Incluir cuidados 
pré-natais, cuidados ginecológicos e prevenção a HIV/infecção sexualmente 
transmissível (IST); 
 Atentar que as mulheres grávidas devem ter prioridade no atendimento, de preferência, 
vinculando o tratamento ao acompanhamento obstétrico e nutricional; 
 Incluir a participação dos filhos durante o tratamento, a qual pode ser desde uma 
visita, com atividades desenvolvidas para a interação de mãe e filhos, a regimes 
intensivos, que não afastam os filhos de mães e permitem que sejam cuidados de 
forma concomitante; 
 Lembrar que os programas devem considerar as diferenças culturais do local onde está 
inserido; 
 Observar que é importante existir uma competência cultural para compreender as 
particularidades e heterogeneidades dentro de cada uma das comunidades envolvidas 
com uso, abuso e dependência de substâncias, assim como reconhecer seus ícones e 
suas festividades; 
 Envolver líderes comunitários e pares ou semelhantes, em especial, para populações 
de difícil acesso. Os resultados apontam que a aproximação dos pares na abordagem 
tende a motivar a busca de tratamento. Incluir suporte social e jurídico, como atenção 
a creches e transporte; 
 Ter programas abrangentes, sendo que o tratamento deve incluir aconselhamento, 
educação e orientação, além de intervenções psicossociais e farmacológicas. 
No tratamento de mulheres usuárias de substâncias psicoativas, devemos incluir a 
perspectiva social da construção do “ser mulher” ou do “fazer o gênero” na sociedade. Além 
disso, é preciso tentar integrar não somente multidisciplinaridade para poder perceber que, 
dentro do universo de mulheres, existem diversas diferenças, materializadas em necessidades 
e vulnerabilidades distintas, que podem ser compreendidas não somente pelos pesquisadores 
da área, mas também pelos terapeutas que oferecem cuidados em saúde na área. 
 
118 
 
 
Idosos 
“No final, não são os anos da sua vida que contam, e sim a vida ao longo desses anos”. 
Abraham Lincoln 
 
 
 Pontos chaves 
 População com característica especifica para dependência quimica. 
 Dentre as drogas ilícitas utilizadas por essa população, se destacam a maconha, cocaína e heroína. As 
drogas licitas, temos o álcool e os benzodiazepínicos. 
 Não há critérios diagnósticos específicos no DSMV, utilizam-se os critérios gerias, porém aliados com 
as especificidades dessa população. 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica, sob perspectiva cronológica, 
como sendo idosas as pessoas com mais de 65 anos que vivem em países desenvolvidos e 
com mais de 60 anos quando vivem em países em desenvolvimento. Contudo, o termo idoso 
inclui adultos com idade maior ou igual a 60 anos, uma vez que foram identificados alguns 
artigos que consideraram essa idade como limite inferior para esse período da vida. 
De acordo com pesquisas recentes o indicie de idosos apresenta quadros de TUS vem 
crescendo nos últimos tempos. Estudos recentes indicam que esse comportamento é maior do 
que nas gerações anteriores, e que o impacto dessa alteração já é detectado nos atuais 
atendimentos dos idosos. Dentre as substâncias lícitas usadas por essa população, destacam-se 
o álcool e medicamentos prescritos (benzodiazepínicos e analgésicos). O uso de substâncias 
ilícitas ainda é pequeno comparado ao de lícitas e de medicamentos prescritos. 
Em decorrência das alterações biológicas e sociais determinadas pelo envelhecimento, 
devem ser consideradas estratégias específicas de prevenção e intervenção precoce ao uso de 
substâncias no atendimento aos idosos. 
Na literatura existente, evidencia-se que os critérios diagnósticos para essa população 
são pouco confiáveis quando empregados a idosos e tendem a minimizar os quadros mais 
graves. Isso ocorre porque os principais critérios diagnósticos para identificação do uso de 
substâncias (problemas relacionados com o trabalho, interferências nas interações sociais e 
aumento da tolerância com a cronicidade do uso) nem sempre se aplicam aos idosos. No 
entanto, essa população procura atendimento médico com mais freqüência que adultos, 
119 
 
 
aumentando a chance do reconhecimento do uso de substâncias mesmo na presença de um 
padrão de sintomas de menor intensidade. 
Em geral, idosos apresentam maior taxa de uso de medicamentos quando comparados 
com adultos mais jovens. Entretanto, poucos são os estudos que investigaram a prevalência do 
uso de medicamentos psicoativos nessa faixa etária. Aqueles que o fizeram demonstraram que 
o consumo dessas substâncias é baixo, mas que apresenta impacto significativo. 
Dentre os opioides usados para o tratamento da dor, os BZDs, indicados para 
ansiedade/insônia, são as duas classes de medicamentos que causam as maiores complicações 
para idosos. Comumente, os idosos que apresentam risco mais elevado de uso de substâncias 
são mulheres, com isolamento social e história pregressa de uso de substâncias ou transtornos 
mentais, sendo os benzodiazepínicos a classe que estão mais associados ao aumento do 
comprometimento cognitivo. 
Os idosos dependentes de benzodiazepínico apresentam algumas características que 
podem sinalizar um quadro de dependência, como: como resistência em diminuir a dose do 
medicamento, descumprimento da orientação de diminuição da dose e solicitação de receitas 
adicionais fora do dia da consulta, muitas vezes com histórias de que “precisou” tomar 
medicação a mais para dormir, de que a medicação não faz mais efeito, ou qualquer outradesculpa que possibilite ter acesso facilitado à substância. 
Em relação ao álcool, há uma associação destes com os medicamentos prescritos, o 
que piora a sintomatologia clínica desses quadros e determina um crescimento exponencial na 
hospitalização de idosos. 
Com o processo de envelhecimento, os idosos passam por mudanças biológicas 
decorrentes da própria senescência, onde há a redução corporal dos níveis de água, 
diminuição das enzimas hepáticas, maior vulnerabilidade cerebral, apresentando risco 
aumentado de interações medicamentosas, o que determina uma maior suscetibilidade aos 
efeitos decorrentes do uso de álcool. 
O consumo leve do álcool nos idosos, segundo evidências científicas, não apresentam 
efeitos significativos na proteção contra doenças coronarianas como é apresentado em adultos 
de meia-idade. Já o consumo de grandes quantidades de álcool está associado ao 
desenvolvimento de volume cerebral menor nos idosos, que com freqüência está relacionado a 
declínio cognitivo acelerado quadros demenciais. 
120 
 
 
A identificação dos problemas decorrentes do consumo de álcool nos idosos é um 
desafio. Isso ocorre porque os sintomas de uso podem se assemelhar a sintomas de doenças 
clínicas e psiquiátricas freqüentes nessa faixa etária. As definições habituais usadas para uso e 
dependência de álcool são difíceis de empregar em idosos, uma vez que a maioria deles já se 
aposentou ou apresenta grande redução dos contatos sociais. 
Na tabela podemos verificar algumas condições clinicas que dificultam no diagnóstico 
de consumo de álcool e outras drogas. 
CONDIÇÕES CLÍNICAS, NEUROPSIQUIÁTRICAS E FUNCIONAIS QUE DIFICULTAM O 
DIAGNÓSTICO DE USO DE ÁLCOOL E DE OUTRAS SUBSTÂNCIAS NOS IDOSOS 
Neuropsiquiátrica  Quadros psiquiátrico (depressão, ansiedade, alterações do humor, esquizofrenia e 
outros transtornos psicóticos); 
 Comprometimento cognitivo (doença de Alzheimer e outras demências); 
 Delirium; 
 Transtornos da personalidade; 
 Convulsões; 
 Tremores; 
 Alterações do sono (insônia, hipersonia e sonolência excessiva diurna). 
 
Clínicas  Dores crônicas; 
 Distúrbios gastrintestinais; 
 Distúrbios hepáticos e renais 
 
Funcionais  Quedas, fraturas e outros traumas; 
 Declínio funcional; 
 Deterioração da higiene; 
 Acidentes automobilísticos. 
 
Historicamente, o uso de drogas ilícitas é um problema de adultos mais jovens. No 
entanto, nas últimas décadas, a mudança do perfil de consumo determinou o interesse da 
investigação de seu uso também nos idosos. 
Como o uso de álcool, dois padrões bem definidos de uso de drogas ilícitas foram 
demonstrados: usuários de início precoce e usuários de início tardio. O primeiro grupo inclui 
indivíduos com uma longa história de uso que o continua mesmo com o envelhecimento, ao 
passo que o segundo desenvolveu o uso depois dos 65 anos. 
Com relação aos fatores associados, observa-se que o padrão de início precoce está 
associado ao sexo masculino, a fatores socioeconômicos, à raça e às comorbidades com 
transtornos psiquiátricos. Já o padrão de início tardio é menos freqüente. Vários fatores estão 
121 
 
 
relacionados ao início tardio do uso de drogas ilícitas. Entre eles, destacam-se o 
desenvolvimento de condições clínicas dolorosas, o desenvolvimento de transtornos 
psiquiátricos, incluindo depressão geriátrica, demência e outras causas de comprometimento 
cognitivo, bem como o aparecimento recente de situações estressantes na vida, como luto, 
isolamento social, dificuldades financeiras e suporte social deficiente. 
Dentre as drogas ilícitas utilizadas por essa população, se destacam a maconha, 
cocaína e heroína. Sendo o diagnóstico de uso de drogas nos idosos um desafio único para o a 
equipe que o acompanha. Em muitos casos, o paciente idoso apresenta várias queixas e 
questões médicas. Muitos dos sinais e sintomas comportamentais que, em um adulto, podem 
sugerir a intoxicação ou abstinência de drogas, podem ser facilmente confundidos com 
doenças clínicas ou transtornos psiquiátricos e, portanto, tratados inadequadamente. 
Para se realizar um diagnóstico de drogas ilícitas nos idosos devemos investigar os 
fatores de risco para o uso dessas substâncias, que poderão elucidar o reconhecimento o uso 
nessa população. Vejamos alguns fatores de risco: 
 Ser idoso mais jovem, do sexo masculino e não casado; 
 Possuir baixo nível social; 
 Ter feito uso prévio de substância ilícita; 
 Estar em tratamento atual de manutenção com metadona; 
 Fazer uso de medicamentos ou álcool; 
 Apresentar comorbidade com transtornos psiquiátricos (sobretudo 
depressão/ansiedade); 
 Conviver entre familiares mais próximos que façam uso de substância; 
 Ter envolvimento em crimes (sobretudo crimes por drogas); 
 Viver em isolamento social/baixo nível de suporte social; 
 Ser um prisioneiro idoso. 
O uso de substâncias lícitas e ilícitas é bastante freqüente nos idosos. Seu 
reconhecimento é difícil, principalmente devido às alterações biológicas e sociais decorrentes 
do envelhecimento e à ausência de critérios diagnósticos específicos para essa faixa etária. 
A equipe multidisciplinar que atende o idoso deve estar sempre preparado para 
considerar o diagnóstico de dependência química, com o intuito de beneficiá-los com 
intervenções mais precoces para esse problema. 
 
122 
 
 
LGBTQIA+ Consequências do abuso 
“Ame o próximo. Se não conseguir, pelo menos respeite”. 
 
 Pontos chaves 
 LGBT apresentam taxas mais elevadas de transtornos por uso de substâncias. 
 Essa população apresenta certas vulnerabilidades que podem contribuir para o consumo das substâncias 
psicoativas. 
 O tratamento deve um olhar voltado a própria história, costumes, valores e suas normas 
comportamentais e sociais dessa população. 
De acordo com Diehl, Cordeiro e Laranjeira (2019), a compreensão das variações da 
orientação sexual humana e das vulnerabilidades individuais e coletivas que a orientação 
homoafetiva tem na sociedade em geral é tão importante quanto compreender a influência e a 
relevância da cultura, da etnia, da idade, da genética, do nível socioeconômico e do meio em 
que as pessoas vivem no desenvolvimento de ajustamentos individuais a diferenças, que nem 
sempre são bem toleradas pela maioria das pessoas. 
Além disso, vulnerabilidades variadas, estigmas, preconceitos; comprometimentos 
físicos, psíquicos, cognitivos e emocionais; dificuldades sociais, culturais, educacionais, 
jurídicas e familiares fazem parte da complexidade vivenciada por usuários de álcool e drogas 
tanto da comunidade LGBT como de qualquer outro segmento da sociedade que procura por 
serviços de saúde. Por isso, vergonha e medo do preconceito afastam as pessoas da busca por 
tratamento. 
Sabe-se que indivíduos LGBT apresentam taxas mais elevadas de transtornos por uso 
de substâncias, quando comparados com os heterossexuais. No entanto, pouco se têm 
explorado os desafios que esta minoria sexual pode enfrentar ao apresentar-se para o 
tratamento. Estudo de Cochran et al. (2007, citado por Diehl, Cordeiro & Laranjeira,2019), 
com uma amostra de 46 conselheiros que realizam tratamento para álcool e outras drogas em 
serviços públicos nos EUA, revelou que os preconceitos negativos de conselheiros dirigidos a 
indivíduos LGBT eram mais fortes por parte dos conselheiros heterossexuais e para aqueles 
que tinham poucos amigos LGBT. Os resultados foram também relacionados com uma 
medida recentemente desenvolvida, chamada de competência cultural, para trabalhar com 
123 
 
 
usuários de substâncias LGBT que também revelaram que, quanto menor a competência 
cultural, menor é adequação da prestação dos cuidados. 
Diehl conduziu uma revisão da literatura cuja busca de artigos se baseou na seleção de 
estudos de abuso e/ou dependência de álcool e/ou drogas ilícitas na população em geral ou em 
amostras representativas selecionadas,na qual a orientação sexual foi relatada. Dos nove 
estudos incluídos na revisão, pelo menos seis mostrou claramente risco ou prevalência de 
maiores taxas de abuso de substâncias psicoativas, sobretudo o álcool, entre lésbicas e 
mulheres bissexuais. 
Uma revisão sistemática conduzida por Marshal e colaboradores, avaliou que os 
estudos sobre uso de substâncias psicoativas em jovens LGB (lésbicas, gays e bissexuais), 
mostraram que essa população tem taxas mais altas de uso de álcool e drogas que os jovens 
heterossexuais (RC = 2,89, Cohen’s d = 0,59). Em outras palavras, as taxas são 190% maiores 
em jovens LGB, quando comparados a jovens heterossexuais, e substancialmente mais altas 
em determinadas subgrupos de jovens LGB, como 340% mais altas em jovens bissexuais e 
400% mais altas em lésbicas. 
Os estudos sobre essa temática apresentam limitações metodológicas, diversos são os 
fatores que corroboram para essa limitação. Um deles é o fato de a sexualidade não ser algo 
estático, mas sim fluido, em processo de desenvolvimento e evolução. Assim sendo, 
investigadores muitas vezes não concordam quanto aos critérios de definições de orientação 
sexual, identidade sexual ou atração sexual. Conseqüentemente, em algumas pesquisas não há 
uniformidade de definição de critérios e termos relacionados a questões ligadas ao grupo 
LGBT. 
Essa população apresenta certas vulnerabilidades que podem contribuir para o 
consumo das substancias psicoativas. Vejamos abaixo algumas: 
 Preconceito no tratamento e na avaliação, seja focando a orientação sexual quando 
inapropriado seja ignorando importantes fatos ligados à sexualidade; 
 Ignorância sobre questões LGBTQI + e desconforto em abordar assuntos sobre 
sexualidade; 
 Ignorância sobre as inter-relações entre sexualidade e abuso de álcool e drogas; 
 Há dificuldade em revelar a orientação sexual devido ao medo de ser maltratado por 
funcionários ou pacientes. Alguns são forçados a revelar sua orientação homoafetiva; 
124 
 
 
 Há os que recebem alta dos locais de tratamento logo que sua sexualidade fica 
conhecida; 
 Alguns temem que se sua orientação sexual for conhecida, isso acabe recebendo mais 
ênfase do que seus problemas com o uso de substâncias psicoativas; 
 Alguns serviços não gostam de ter as parcerias afetivas de seus pacientes participando 
de programas de família ou grupos de mútua ajuda; 
 A maioria dos programas de desintoxicação e programas de reabilitação não é sensível 
a questões de orientação sexual e gênero, e, portanto, não encorajam que isso seja 
discutido ou revelado; 
 Não conseguir admitir a orientação sexual pode facilitar recaídas; 
 Redes tradicionais de apoio à recuperação (família, igreja, escola, trabalho) em geral 
são fechadas para o público LGBTQIA+; 
 O homossexual não “assumido” que freqüenta grupos de mútua ajuda, como 
alcoólicos anônimos (AA) e narcóticos anônimos (NA), pode se sentir constrangido e 
não retornar às reuniões por acreditar estar quebrando a chave da filosofia da 
sobriedade dessas irmandades, que é “ser honesto e aberto em suas relações com seus 
pares. 
A comunidade LGBT necessita de serviços específicos para tratamento de abuso 
e dependência de substâncias psicoativas? 
Nem sempre nem necessariamente. Mas, existindo preocupação com problemas 
relacionados ao uso abusivo de substâncias psicoativas, quanto mais ampliarmos o “menu” de 
opções de acesso a cuidados, prevenção e tratamento do problema, melhores chances teremos 
de lidar de forma efetiva com a situação. Isso pode significar a identificação de possíveis 
vulnerabilidades específicas de estilo de vida, padrões de uso de drogas, estigmas, 
preconceitos, barreiras, dificuldades. 
Como qualquer outra, a comunidade LGBT é formada por sua própria história, seus 
costumes, seus valores e suas normas comportamentais e sociais. Portanto, uma intervenção 
efetiva na prevenção do abuso de substâncias psicoativas, no tratamento e na recuperação 
desse grupo deve mobilizar e refletir sua cultura. Prevenção e tratamento que não sejam 
afirmativos e positivos em relação às pessoas LGBTs não só são improdutivos como podem 
125 
 
 
aumentar os problemas. É fundamental a formulação de ações a partir do entendimento real 
dos públicos-alvo os quais se quer ajudar a promover mudanças qualitativas em suas vidas. 
 
Minorias 
“A menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não 
podem se dizer defensores das minorias” Ayn Rande 
 
 Pontos chaves 
 Na dependência quimica das minorias é salutar evidenciar o conceito de vulnerabilidade. 
 Tratamento voltado para a realidade e as necessidades dessa população. 
 
 
O termo minorias diz respeito a determinado grupo social e humano que esteja em 
inferioridade do ponto de vista quantitativo em relação a um grupo dominante. Minorias 
podem ser étnicas, religiosas, culturais ou lingüísticas. Não necessariamente indica que 
minorias sejam perseguidas ou exterminadas pelo grupo dominante, embora existam, na 
História, numerosos casos de perseguições a minorias. A noção contemporânea de minoria 
refere-se, portanto, à possibilidade de terem voz ativa ou intervirem nos interesses decisórios 
do poder aqueles setores sociais comprometidos com as várias modalidades de reivindicações 
assumidas pela questão social. 
Para falar do tema da dependência química entre minorias, é necessário abordar o 
conceito de vulnerabilidade, proposto por Ayres, que leva em conta três grandes eixos, 
representados por três planos interdependentes de determinação e conseqüentemente de 
apreensão da maior ou da menor vulnerabilidade do indivíduo e da coletividade: 
1. Vulnerabilidades individuais: aspectos relacionados a comportamentos e trajetórias 
pessoais; 
2. Vulnerabilidades sociais: aspectos relacionados a condições sociais e de vida (classe 
social, escolaridade, condições de moradia, acesso a bens de consumo, lazer e 
alimentação, estigmas e preconceitos sociais); 
126 
 
 
3. Vulnerabilidades programáticas: aspectos que dizem respeito a políticas públicas, 
serviços e/ou programas públicos destinados aos indivíduos. 
 
População em situação de rua 
População em situação de rua está inscrita em um processo social complexo. Nas 
últimas décadas, vem chamando atenção pela crescente visibilidade em espaços públicos, 
adquirindo identidade social, modos particulares de sobrevivência e subsistência, tornando-se, 
por conseguinte, uma preocupação e ganhando importância para o poder público. 
A situação de rua deve ser compreendida como parte de um processo de 
marginalização e desfiliação dos indivíduos, os quais podem utilizar as ruas de maneiras 
diversas. Em geral, três subgrupos podem ser identificados de acordo com tempo de 
permanência e grau de vínculos familiares: 
 Ficar na rua – circunstancialmente; 
 Estar na rua – recentemente; 
 Ser da rua – permanentemente. 
Pessoas em situação de rua é uma população bastante heterogênea, mas apresentam 
algumas características em comum no que concerne às semelhanças de vivência na extrema 
pobreza, vínculos familiares rompidos ou prejudicados, inexistência de moradia formal, 
elevado uso de substâncias como álcool, tabaco e crack, presença de doenças mentais e 
clínicas associadas (tuberculose, HIV, sífilis), maior número de visitas a pronto-socorros, 
práticas sexuais sem proteção. Além disso, os baixos mecanismos de prestação de serviços em 
saúde fornecidos para essa população revelam que o acesso a eles ainda é deficiente e que há 
baixa adesão ao tratamento e pouco efeito dos tratamentos oferecidos nas doenças 
comórbidas. 
Por ser uma população estigmatizada pela sociedade, a realização de abordagem 
terapêutica deve ter um olhar específico para suas vulnerabilidades sociais e individuais. 
Assim podemos ver no quadro abaixo as principais barreiras que podem dificultar o acesso ao 
tratamento de pessoasem situação de rua: 
 
PRINCIPAIS BARREIRAS ENFRENTADAS POR PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA PARA 
127 
 
 
ACESSO A TRATAMENTO 
 Dificuldade de locomoção por limitação física; 
 Impossibilidade de pagar pelo transporte; 
 Dificuldade de encontrar vagas em albergues; 
 Necessidade de se adaptar aos horários das refeições dos albergues ou de restaurantes que oferecem comida 
a preço popular (“bocas de rango”); 
 Necessidade de fazer “bicos” ou mesmo pedir dinheiro nas ruas. 
 
Assim como as pessoas em situação de rua têm de reinventar seu cotidiano para lidar 
com a violência, as vulnerabilidades e os recursos existentes nas ruas e criar estratégias de 
sobrevivência, a rede assistencial deve caminhar no mesmo sentido, procurando articular, 
comunicar e se solidarizar, para, juntas, construírem respostas mais efetivas e assertivas para 
os problemas dessa população. Deve-se possibilitar aos indivíduos em situação de rua a 
chance de terem instrumentos para modificar suas condições de vida, exercendo sua condição 
de ser humano e, com ela, seu direito de escolha, já que viver na rua só pode ser considerado 
uma escolha quando houver outras condições para que se possa, de fato, optar por outras. 
É importante destacarmos que os setores que oferecem tratamento para a dependência 
química intensifiquem esforços para assegurar que tanto a equipe como a competência 
organizacional dos serviços estejam preparadas para garantir o atendimento das múltiplas 
necessidades dos diversos tipos de pessoas com transtorno por uso de substâncias, em especial 
as pessoas em situação de rua. 
Populações Indígenas 
Os processos de colonização no mundo tiveram semelhanças importantes, sendo que 
os atuais problemas de saúde (incluindo transtornos psiquiátricos relacionados ao uso de 
substâncias) são resultados de políticas governamentais inadequadas, criação de reservas 
indígenas, adoção de estilos de vida sedentários, marginalização, racismo e, por fim, criação 
de uma autoimagem indígena negativa. 
Os comportamentos relacionados ao consumo de substâncias nas populações indígenas 
parecem estar associados com três fatores distintos: 
1. Fuga do estresse crônico; 
2. Forma de automedicação; 
128 
 
 
3. Relação inversa com o nível socioeconômico; em outras palavras, quem mais consome 
álcool ou drogas entre os povos indígenas são os economicamente mais 
desfavorecidos. 
O alcoolismo tem sido considerado um dos principais fatores relacionados ao aumento 
dessa mortalidade, com o surgimento ou a piora de doenças, como cirrose, depressão e 
doenças cardíacas, e com mortes relacionadas a fatores externos, como acidentes e brigas. 
Outras complicações encontradas nessa população devido ao consumo de álcool são aumento 
dos casos de suicídios, homicídios e estupros. Na população indígena infantil, o resultado do 
consumo de álcool pelos pais tem aumentado a ocorrência de síndrome alcoólica fetal (SAF) e 
desnutrição. Essa última ocorre devido aos pais estarem com freqüência intoxicada e 
deixarem os menores desassistidos. 
Quanto ao tratamento, assim como ocorre populações não indígenas, o tratamento das 
diferentes dependências químicas está relacionado a uma mudança do padrão de 
comportamento e hábitos de vida. Com isso, um dos problemas associados ao tratamento da 
dependência química das populações indígenas é a não valorização de seus conhecimentos 
relacionados ao modo de vida, saúde e bem-estar, o que resulta em baixa adesão. Há uma 
importante associação entre os níveis mais elevados de saúde e bem-estar nos povos que 
valorizam suas culturas e transmitem língua e conhecimento para as gerações mais jovens. 
 
População Carcerária 
Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas em populações carcerárias são 
considerados extremamente altos, trazendo grande impacto na vida de seus usuários, assim 
como custos elevados para a saúde pública. Associados ao uso de substâncias estão também 
comportamentos sexuais de risco, que aumentam chances para infecções sexualmente 
transmissíveis. 
 Há uma variedade de estudos internacionais que aborda essa questão, propondo 
estratégias medicamentosas centradas, sobretudo no tratamento da heroína e em medidas de 
penas alternativas para essa população, o que de certa forma é ainda distante da realidade 
nacional, porque a heroína não é a principal droga de abuso no nosso país. Infelizmente no 
Brasil não existem estudos acerca dessa população, principalmente estudos representativos, da 
extensão da dependência química no sistema prisional brasileiro. Porém, não é difícil supor os 
129 
 
 
possíveis entraves para condução de estudos dessa magnitude, que poderiam revelar contextos 
de violação de legislação e corrupção. 
 
Módulo 7: Terapias Psicológicas 
Intervenção Breve 
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros” 
Carl Jung 
 
 Pontos chaves 
 A intervenção breve é eficaz em reduzir o consumo e os problemas ligados ao consumo de álcool. 
 Ela se baseia no modelo cognitivo de dependência. 
 Desenvolvida para atender os estágios iniciais dos transtornos por uso de substâncias. 
 
A intervenção breve (IB) faz parte de um seleto grupo de intervenções psicossociais 
para o tratamento de transtornos por uso de substância (TUSs) que apresentam eficácia 
baseada em evidência. Hoje, existe evidência de que a IB é eficaz em reduzir o consumo e os 
problemas ligados ao consumo de álcool. Além disso, aparece como a intervenção mais eficaz 
em reduzir os riscos ligados ao álcool em serviços de rede de atenção básica de saúde. Além 
disso, ela aparece como a intervenção mais eficaz em reduzir os riscos ligados ao álcool em 
serviços de atenção primária à saúde. 
A intervenção breve é uma intervenção desenvolvida em um curto espaço de tempo 
em sessões que variam de 5 a 45 minutos, raramente ultrapassando cinco encontros. Embora 
possa ser aplicada em vários contextos, ela é mais utilizada na atenção primária de saúde. É 
destinada a indivíduos que apresentam problemas ou potencial para desenvolver problemas 
ligados ao seu padrão de consumo de álcool, mas que não preenchem o critério diagnóstico de 
dependência. A IB pode ser dividida em dois passos: triagem e intervenção. 
Em um primeiro momento, o atendimento é focado na triagem, na qual são avaliados 
os possíveis riscos ligados ao álcool a partir do padrão (frequência, intensidade, contexto) de 
consumo de determinado indivíduo. Após essa triagem, inicia-se a fase de intervenção, que 
130 
 
 
tem enfoque de terapia de tempo limitado e é centrada no paciente. Ela é composta de técnicas 
usadas na entrevista motivacional (EM) e na terapia cognitivo-comportamental (TCC) (Silva, 
2005). O objetivo desta aula é apresentar a IB de forma didática, considerando suas principais 
características, seu método de aplicação e as evidências científicas de sua eficácia. 
A Intervenção breve baseia-se no modelo cognitivo de dependência, em que fatores 
etiológicos (chamados de fatores predisponentes) atuam e interagem, aumentando a 
probabilidade de se desenvolver uma dependência. Esses fatores podem ser divididos em: 
1. Fatores genéticos; 
2. Fatores ambientais; 
3. Fatores culturais; 
4. Fatores psicológicos. 
Silva e Serra (2004) relatam que ao entrar em contato com determinada substância 
com potencial aditivo, o individuo que consome a substância poderá ou não se tornar 
dependente, de acordo com o número e a intensidade desses fatores predisponentes, estando 
congruente com os conceitos do modelo de aprendizagem social do autor Bandura. 
Dessa maneira, para mudar certos comportamentos, a teoria cognitiva foca em alterar 
fatores individuais e ambientais. Nessa perspectiva, a autoeficácia, a confiança e a capacidade 
que um indivíduo tem de mudar seus comportamentos, e a motivação para fazê-lo, são 
componentes fundamentais para alterar comportamentos tidoscomo nocivos. 
No processo de triagem realizado na intervenção breve, é importante realizar um 
rastreamento (Screening) dos padrões de consumo do indivíduo. É nessa fase que se avaliam 
os possíveis riscos e problemas decorrentes do padrão de consumo de álcool. Na realização 
dessa etapa, é possível usar o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-
5) ou a Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10). 
Mas como é de comum conhecimento, os serviços de atenção primária à saúde são, muitas 
vezes, sobrecarregados, e, por isso, seus atendimentos devem ocorrer de forma breve e eficaz, 
o que por esta razão a utilização de rastreamento, como o AUDIT torna-se uma escolha rápida 
e assertiva dentro desse contexto. 
131 
 
 
DICA: Questionário AUDIT e CAGE encontra-se no anexo dessa apostila. 
Esses instrumentos são importantes na atenção primária à saúde, pois permitem que 
qualquer profissional do serviço faça um rastreamento rápido de pessoas que podem se 
beneficiar desta técnica, além de apontar aquelas com quadros mais severos, que devem ser 
avaliadas por processos diagnósticos mais demorados. 
O AUDIT consiste em 10 perguntas que analisam a quantidade e a freqüência de 
consumo de álcool, possíveis sintomas de abstinência e possíveis problemas ligados ao 
consumo de álcool. Cada resposta tem uma pontuação, sendo que o escore varia de 0 a 40. 
Nos casos em que a pontuação supera 8 pontos, existe o risco de problemas ligados ao 
consumo excessivo de álcool, e uma avaliação mais detalhada é indicada. 
Já o questionário CAGE é composto por quatro perguntas (todas com respostas “sim” 
ou “não”). Por isso, sua aplicação e sua avaliação são mais rápidas em comparação ao 
AUDIT. Nos casos em que duas ou mais respostas “sim” são obtidas, é indicada uma 
avaliação mais detalhada. Embora este instrumento seja sensível em detectar problemas 
ligados ao álcool, apresenta dificuldade em detectar riscos para consumidores menos graves, 
mulheres e adolescentes. 
É de suma importância ressaltar que embora esses instrumentos auxiliem na prática 
clínica, eles não fazem o diagnóstico de abuso ou dependência de álcool, pois são 
instrumentos de rastreio, mas podem apontar prováveis casos que merecem ser avaliados com 
mais cuidado. 
Mediante a esse fator uma avaliação mais detalhada é indicada. Essa avaliação deve 
investigar o nível de comprometimento do paciente no momento da intervenção, o grau de 
problemas relacionados ao consumo de álcool e possíveis complicações e/ou comorbidades 
associadas. 
Após a avaliação clínica na qual se constatou que o paciente pode se beneficiar da 
intervenção breve é importante avaliar a motivação para reduzir o consumo de álcool que 
cada paciente apresenta. A motivação é um processo dinâmico, que pode ser influenciado por 
vários fatores. Sabe-se que, para aumentá-lo, o profissional deve ser empático, ter paciência e 
ser ativo e firme nesse momento da intervenção. Um modelo interessante para entender o 
estado de motivação foi desenvolvido por Di Clemente e colaboradores (1999). Os estágios de 
modificação comportamental segundo esse modelo são: 
132 
 
 
 Pré-contemplação: Na pré-contemplação, os pacientes apresentam pouca ou 
nenhuma preocupação com os problemas associados ao uso de álcool. A maioria deles 
não deseja modificar os próprios comportamentos, pois acha que não tem nenhum tipo 
de problema relacionado ao consumo excessivo de álcool. Muitas vezes, são 
pressionados pelos familiares a procurar tratamento. Nesse momento, é importante 
auxiliá-los na avaliação dos problemas. 
 Contemplação: Na contemplação, os pacientes já se preocupam com os problemas 
associados ao uso de álcool, porém não apresentam um plano para modificar seu 
comportamento. Estão começando a ter consciência ou a se preocupar com as 
conseqüências adversas do consumo excessivo de álcool. 
 Preparação: Na preparação, os pacientes se preocupam com os problemas associados 
ao uso de álcool, inclusive com a busca de um plano para se tratar. Nesse estágio, a 
decisão de modificar seu comportamento é assumida, porém ainda não foi acionado o 
plano de tratamento. 
 Determinação: Na determinação, os pacientes colocam em prática o plano para 
modificar o comportamento-problema, engajando-se ativamente em um programa de 
tratamento. 
 Ação: Na ação, os pacientes iniciam o tratamento e interrompem o uso, tomando 
ações eficazes para atingir a meta estabelecida. 
 Manutenção: Na manutenção, os pacientes rediscutem seus objetivos e a mudança de 
comportamento, fazendo uma avaliação dos resultados. 
A identificação em que estágio de motivação o paciente se encontra é fundamental 
para o tratamento, pois o paciente precisa estar convencido e relacionando seus problemas ao 
uso do álcool, pois só a partir desse momento conseguirá tomar atitudes e ações que o 
previnam do uso. São estabelecidas metas para cada paciente, individualmente, a partir da 
clara identificação de seu padrão atual de consumo e dos riscos associados. 
Existem seis elementos que parecem contribuir substancialmente para a eficácia da 
intervenção breve. Eles podem ser identificados por meio do acrônimo FRAMES, originado 
pela composição da primeira letra das palavras inglesas Feedback, Responsibility, Advice, 
Menu, Empathy e Self efficacy. 
133 
 
 
O feedback é empregado para definir a retroalimentação do paciente por meio da 
comunicação dos resultados de sua avaliação, mais comumente feita pela devolutiva dos 
resultados obtidos na aplicação de um instrumento de rastreamento. 
A responsibility refere-se à ênfase na autonomia do paciente e sua responsabilidade 
nas decisões, o que implica o posicionamento necessário de autoproteção e cuidado e 
compromisso com mudança. 
A advice corresponde às orientações e recomendações que o profissional deve oferecer 
ao paciente, fundamentadas no conhecimento empírico atual, sendo essas claras, diretas e 
desvinculadas de juízo de valor moral ou social, devendo preservar a autonomia de decisão do 
paciente. 
O menu é o fornecimento ao paciente de um catálogo de alternativas de ações – 
voltadas a sua autoajuda ou a opções de tratamento disponíveis – que podem ser 
implementadas por ele. 
A empathy refere-se ao modo empático, solidário e compreensivo, postura que deve 
ser adotada pelo profissional diante do paciente. 
A self efficacy é o termo empregado para o foco que o profissional deve ter no sentido 
de promover e facilitar a confiança do paciente em seus recursos e em seu sucesso, 
correspondendo a um reforço do otimismo e da autoconfiança do paciente. 
Tendo em mente esses elementos são realizadas as consultas na qual existem cinco 
passos a serem seguidos na aplicação de uma IB. Segue os passos na tabela abaixo: 
 
PASSOS DA INTERVENÇÃO BREVE E RESPECTIVAS INTERVENÇÕES 
Avaliação e feedback  Aplicar CAGE ou AUDIT para Screening; 
 Ter em mente o diagnóstico de transtornos pelo uso de álcool; 
 Dar retorno ao paciente sobre o resultado da avaliação efetuada, tanto sobre o uso de 
álcool como sobre outros diagnósticos (hipertensão, gastrites, neuropatias, etc.); 
 Se o paciente estiver com sintomas de abstinência, deve-se iniciar a desintoxicação 
seguindo o consenso sobre síndrome de abstinência de álcool (SAA); 
Negociação da meta de 
tratamento 
 Estabelecer uma meta de tratamento em acordo com o paciente; 
 Se o paciente estiver fazendo uso de alto risco, o médico pode sugerir como meta o 
beber controlado; 
 Se o paciente tiver uma dependência já instalada, a melhor meta é a abstinência; 
Técnicas de modificação 
de comportamento 
 Diagnosticar o estado de motivação do paciente; 
 Realizar balanço entre os prós e contras do uso de álcool; 
 Realizar avaliação laboratorial e investigar áreas de vida com problemas relacionados 
ao consumo; 
Material de autoajuda  Fornecer ao paciente material didáticoinformativo sobre uso de álcool; 
Seguimento  Realizar visita mensal ao consultório ou visita domiciliar mensal ou dar um 
134 
 
 
telefonema. 
 
 
Segundo Miller (2009), hoje existe, grande evidência para a eficácia da IB no 
tratamento e na prevenção secundária de problemas ligados ao consumo de álcool e/ou outras 
substâncias. Desenvolvida para atender os estágios iniciais dos transtornos por uso de 
substâncias, a intervenção breve, aparece como importante estratégia para prevenir o 
agravamento desses transtornos e dos problemas ligados a eles. 
 
Psicoterapia de Grupo no tratamento da Dependência Quimica 
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros” 
Carl Jung 
 Pontos chaves 
 Busca resgatar a sensação de pertencimento do usuário e a identidade. 
 Poucos estudos no cenário científico, com limitações metodológicas que confirmem a efetividade da 
psicoterapia grupal. 
 Intervenção de baixo custo. 
 
A psicoterapia de grupo tem se mostrado, ao longo do tempo, um recurso com 
vantagens consideráveis no tratamento da dependência química, tendo sido amplamente 
empregada a ponto de, às vezes, ser prioritária como tratamento de escolha. Apesar do uso 
bastante comum, existem poucos estudos controlados ou com limitações metodológicas que 
confirmem a efetividade da psicoterapia grupal. 
No que tange a utilização da psicoterapia de grupo requer conhecimento de técnicas e 
aprimoramento constante, que possibilita ao especialista ser atuante no processo de mudança, 
dirigindo o grupo de forma a permitir que essas pessoas possam emergir na direção 
construtiva de suas vidas. 
Segundo Figlie, Cordeiro e Laranjeira (2019) a dependência se configura em uma 
condição física, psicológica e social, muitas vezes fruto da tentativa do indivíduo de lidar com 
seus conflitos. Muitos fatores podem representar riscos para que a pessoa trilhe o caminho da 
dependência, como sua constituição psíquica, somada às circunstâncias do ambiente e à sua 
135 
 
 
história de vida. A dependência provoca muitas conseqüências e sua causa está associada a 
fatores de ordem maior na estruturação do sujeito. 
Visto a complexidade inerente na própria dependência quimica, esta não nos permite 
padronização quanto a personalidade do usuário e do plano de recuperação específica para 
diferentes drogas, entre outros, dificultando assim as respostas genéricas. Diversos fatores 
tornam a escolha da psicoterapia de grupo viável, ou como forma principal de tratamento ou 
como forte coadjuvante em casos de maior gravidade, quando associada a recursos, como 
acompanhamento médico e psiquiátrico, treinamentos de inclusão social, grupos de autoajuda 
e a própria psicoterapia individual. A primeira e mais simples questão que viabiliza a 
psicoterapia de grupo é a praticidade, em atender um número maior de pessoas, o que é de 
grande valia, considerando a demanda e, ao mesmo tempo, as dificuldades do atendimento 
público. 
É perceptível que o usuário de drogas sofre uma estigmatização da sociedade, 
colocando em evidência sua exclusão em diversos contextos, acarretando sofrimento e 
isolamento. A escolha da terapia de grupo pode oferecer ao dependente químico, meios para 
que esse indivíduo se perceba como parte integrante do grupo, com o qual se identifica, vendo 
pelo sofrimento, pela experiência e pelos anseios da outra parte de sua própria história. A 
sensação de pertencimento e de experiência compartilhada com pessoas “iguais” a ele o 
auxilia a criar saídas para o isolamento e a solidão tão presente no usuário de drogas. 
O grupo tem a força de criar uma identidade, que servirá posteriormente como apoio 
para a construção de uma identidade própria, mais fortalecida e autêntica. A psicoterapia de 
grupo, com objetivos focados, bem definidos e coerentes com a realidade, tem sido uma 
grande contribuição para que o indivíduo atualize seus conflitos e sofrimentos em um 
ambiente protegido, que o auxilie a reformular sua forma de agir e reagir frente aos eventos de 
sua vida. 
No contexto grupal, o indivíduo pode encontrar maior possibilidade de perceber a si 
mesmo e ao outro, por meio daquilo que podemos chamar “reação espelho” (enxergar-se a 
partir do outro), além de poder se familiarizar com novas maneiras de sofrimento e de 
soluções, representadas por pessoas reais colocadas durante a terapia de grupo. 
A psicoterapia de grupo pode ser utilizada para diversas finalidades, desde a busca do 
autoconhecimento e mudanças nas relações interpessoais até grupos que se propõem a 
trabalhar sintomas específicos, como é o caso da dependência de álcool e outras substâncias.. 
136 
 
 
Além das muitas aplicabilidades, vários referenciais teóricos podem ser utilizados, 
dependendo da formação do especialista, do perfil do grupo, dos objetivos terapêuticos, entre 
outros critérios básicos. 
No caso da dependência química, é importante que a abordagem teórica leve em conta 
a amplitude da problemática e as conseqüências negativas nela inseridas, principalmente 
quanto ao potencial destrutivo (físico, mental e social). Geralmente, o indivíduo apresenta um 
quadro de perdas e limitações, o que dificulta, em primeira instância, o aprofundamento para 
questões mais amplas, inconscientes e angustiantes de sua vida. Mesmo o especialista tendo 
plena consciência do caráter sintomatológico da questão, acreditamos existir aqui a 
necessidade de abordar o comportamento de maneira menos angustiante. Grupos de 
orientação, aconselhamento ou apoio centralizam a busca de soluções mais práticas, 
objetivando a mudança de padrões de comportamentos destrutivos por novas atitudes para 
lidar com as mesmas questões conflitantes. 
Na dependência quimica, a terapia cognitiva comportamental vem demonstrando 
maior eficácia em termos de custo-benefício quando aplicada em grupo, em vez de 
individualmente. A terapia cognitiva atua basicamente no fortalecimento das atitudes e do 
pensamento, focando, de maneira mais diretiva, o comportamento em questão. Aborda os 
determinantes do hábito aditivo, incluindo antecedentes situacionais e ambientais, crenças e 
expectativas, história familiar individual e experiências anteriores com a substância 
psicoativa, atividades que envolvem o consumo e as conseqüências do hábito. Segundo a 
teoria, sendo o comportamento resultado do aprendizado, o ser humano pode, 
conscientemente, aprender e adquirir atitudes mais adaptadas. 
Já prevenção à recaída, derivada do enfoque cognitivo-comportamental, pode ser 
incorporada a terapia de grupo, com o objetivo auxiliar o indivíduo a aprender outras 
respostas para as mesmas situações, por meio da percepção de crenças errôneas ligadas ao 
uso, treinamento de habilidades comportamentais e modificações no estilo de vida. 
O psicodrama, a Gestalt e outras terapias de ação também podem ser úteis como 
abordagens principais ou inseridas na terapia convencional, principalmente em casos em que 
o grupo apresenta maiores resistências. 
Independentemente da linha teórica, vários autores destacam vantagens do trabalho 
envolvendo interações grupais. Tão importante quanto o referencial teórico do psicoterapeuta 
é seu preparo técnico e pessoal, bem como sua disponibilidade para flexibilizar alternativas 
137 
 
 
para as diversas demandas. Estando atento para quais são as situações de risco para recaída e 
desenvolver estratégias para evitá-las. É notório que na primeira fase do tratamento 
predominam sentimentos ambivalentes e poucas condições para lidar com a angústia e a 
frustração, o que aumenta o risco de retorno ao uso; portanto, na fase de tratamento, o preparo 
do terapeuta para utilização de técnicas de prevenção de recaída é bastante útil. 
Para manter a estrutura organizativa do grupo, é necessário estabelecer o cumprimento 
das regras, pois serão os norteadores do trabalho grupal. Ter regras coerentes e claras, 
objetivamenteexpostas a todos os participantes, permite o acompanhamento de seu 
cumprimento e um referencial seguro para todos. Se o contrato é dúbio ou implícito, a pessoa 
se sente em condições de mudar as regras de acordo com visão e desejos particulares, 
reproduzindo sua função desadaptativa no grupo. 
Para questões que apareçam no decorrer do tratamento e que não estavam previstas no 
contrato, é sugerido pela literatura, que primeiramente sejam pensadas pela coordenação do 
grupo, objetivando coerência com os objetivos do tratamento, e colocadas para o grupo, ou 
para serem discutidas e se chegar a um consenso entre os participantes ou apenas para colocar 
as regras já decididas pela coordenação, nunca esquecendo de que quem dirige o grupo são os 
profissionais/coordenadores; portanto, estes precisam ter a visão do todo para lidar com as 
decisões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você sabia... 
Que para se formular um bom contrato terapêutico é necessário abordar os 
seguintes aspectos: 
 Objetivo (abstinência e melhoria da qualidade de vida); 
 Prazo mínimo de compromisso e alta; 
 Tentativa de abstinência no dia da sessão; 
 Evitar segredo entre os membros do grupo; 
 Necessidade de sigilo no tocante ao conteúdo das sessões, bem como 
aos participantes; 
 Horários e local das sessões; 
 Aviso de faltas previstas; 
 Honorários, dia de pagamento, reajustes e férias do terapeuta. 
138 
 
 
Segundo a literatura científica existente acerca desse tema, a interação grupal 
possibilita a aprendizagem social, principalmente quando a vivência se dá em grupo, uma vez 
que surge o suporte positivo dos pares; a sensação de isolamento e discriminação diminui; são 
compartilhados exemplos realistas de mudanças; é cenário de posturas assertivas de 
prevenção de recaídas; oferece um ambiente familiar a partir de um senso de acolhimento e 
pertencimento construído entre os participantes; propicia a oportunidade de treinamento de 
habilidades sociais; estimula a autoeficácia pelo fato de ser uma intervenção que oferece 
suporte e ajuda para vários participantes simultaneamente com partilha constante de 
informações entre os membros e os coordenadores de grupo, mediante um cenário estruturado 
e organizado, pautado em regras, normas e horários que mantém uma atmosfera de esperança, 
suporte e encorajamento necessários para a modificação do comportamento de consumo 
abusivo ou dependência de substâncias. 
 
Prevenção a Recaída 
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros” 
Carl Jung 
 
 
 Pontos chaves 
 Variedade de técnicas, quase todas cognitivas ou comportamentais, que objetivam a mudança do habito 
autodestrutivo. 
 Baseada na aprendizagem social de Bandura. 
 Nessa abordagem podemos compreender a recaída, não como uma catástrofe inexplicável, mas como 
um evento que acontece por meio de uma série de processos cognitivos, comportamentais e afetivos. 
 
O termo “prevenção de recaída” refere-se a uma ampla variedade de técnicas, quase 
todas cognitivas ou comportamentais, que essencialmente, busca mudar um hábito 
autodestrutivo e manter essa mudança, consistindo na identificação de situações de alto risco 
para um determinado indivíduo, no desenvolvimento de estratégias para lidar efetivamente 
com essas situações e em mudanças nas reações cognitivas e emocionais associadas. No 
entanto, convém ressaltar que a grande maioria dos programas de prevenção de recaída 
139 
 
 
embasa-se no modelo teórico do processo de recaída, proposto por Marlatt, em 1985, para o 
quais vários outros autores contribuíram após sua formulação pioneira. 
As intervenções nessa abordagem de tratamento focam o desenvolvimento de 
comportamentos positivos e saudáveis para substituir aqueles associados ao consumo abusivo 
de substâncias e reforçam o não uso. Portanto, o objetivo da prevenção da à recaída é bem 
mais amplo do que apenas ajudar o paciente a desenvolver habilidade para aprender a viver 
sem ter no álcool ou na droga uma prioridade. Seu comportamento de uso é apenas o ponto de 
partida para a modificação de todo um estilo de vida, de um jeito de ser no mundo. 
Esta intervenção embasa-se no modelo de aprendizagem social de Bandura proposto 
por Marlatt. Segundo essa teoria, o comportamento de uso ou consumo abusivo de substâncias 
é aprendido e sua freqüência, duração e intensidade aumentam em função dos benefícios 
psicológicos alcançados. Na aprendizagem social, a interação dos fatores biológicos, 
genéticos e psicossociais é percebida como importante, ou seja, é possível que uma 
vulnerabilidade genética interaja com fatores psicossociais, resultando em habilidades 
deficientes que requeiram treinamento e remediação. Nessa perspectiva o uso de substâncias é 
um mecanismo aprendido, por meio de reforço e de modelagem, que tem como finalidade 
reduzir o estresse. Conforme o uso da substância continua, o indivíduo poderá utilizá-la com 
mais freqüência e em doses maiores, para evitar os sintomas de abstinência. 
Quanto ao processo de recaída, presume-se que o indivíduo experiencie um senso de 
controle, enquanto mantém a abstinência. Quanto maior o tempo de abstinência, maior será 
sua percepção de controle. Esse senso de controle continuará até que a pessoa encontre uma 
situação de alto risco. Uma situação de alto risco é definida, de maneira ampla, como 
qualquer situação que represente uma ameaça ao senso de controle e aumente o potencial 
risco de recaída. Na iminência da situação de risco, o usuário pode apresenta ou não uma 
resposta de enfrentamento eficaz. Quando não há uma resposta de enfrentamento, o indivíduo 
tende a experimentar uma diminuição da autoeficácia (impotência e tendência a render-e 
passivamente). 
A situação de risco, de acordo com Figlie, Cordeiro e Laranjeira (2019) significa 
qualquer determinante interno (psicológico) ou externo (ambiental) que ameace a percepção 
de controle (autoeficácia) do indivíduo. Vejamos algumas situações de riscos iminentes para o 
dependente químico: 
140 
 
 
 Estados emocionais negativos como: frustração, raiva, ansiedade, depressão ou tédio, 
antes ou no momento da ocorrência do primeiro lapso; 
 Conflitos interpessoais, tal como: problemas no casamento, amizade, membros 
familiares ou relações de trabalho; 
 Discussões e confrontações; 
 Pressões sociais ocorrida de forma direta (contato interpessoal direto com persuasão 
verbal) ou indireta (estar na presença de outros que se engajam no mesmo 
comportamento-alvo, ainda que sem qualquer pressão direta). 
Com a situação de risco instaurada, exigirá do usuário a emissão de uma resposta de 
enfrentamento cognitiva ou comportamental eficaz diante da situação. Caso não ocorra a 
reposta eficaz a probabilidade de recaída aumenta significativamente. À medida que a 
autoeficácia diminui diante da situação de alto risco precipitadora, as expectativas do 
indivíduo para lidar eficazmente com situações problemáticas também começam a cair. A 
combinação da incapacidade para lidar eficazmente com uma situação de alto risco aliado 
com expectativas de resultado positivo para os efeitos da antiga e habitual forma de 
enfrentamento aumenta imensamente a probabilidade de ocorrência de um lapso inicial. Nesse 
ponto, a menos que ocorra uma resposta de enfrentamento ou uma súbita mudança na 
circunstância no último minuto, o indivíduo pode atravessar a fronteira da abstinência (ou uso 
controlado) para a recaída (uso descontrolado), por meio de um uso inicial ou lapso. 
Nessa perspectiva podemos compreender a recaída, não como uma catástrofe 
inexplicável pelo modelo de prevenção de recaída, mas como um evento que acontece por 
meio de uma série de processos cognitivos, comportamentais e afetivos. Já um lapso se refere 
a um escorregão, descuido ou falha, uma retomada do antigo padrão de consumo alcoólico, 
um retorno ao beber nos mesmos níveis anteriores à intervençãoterapêutica ou à abstinência. 
Observa-se no tratamento em dependência quimica que os lapsos ou escorregões durante a 
abstinência são inevitáveis e vistos como um ponto crítico, a partir do qual o indivíduo pode 
retornar à abstinência ou desenvolver um completo padrão de recaída como resposta ao efeito 
da violação da abstinência proposta pelo próprio indivíduo. 
Já que primeira etapa de prevenção a recaída é ensinar o paciente a reconhecer as 
situações de alto risco que podem precipitar ou desencadear uma recaída, então quais os 
métodos que poderiam auxiliar os pacientes a identificar as situações de alto risco? 
141 
 
 
Segundo os autores Figlie, Cordeiro e Laranjeira (2019) três métodos que se destacam 
como recurso para auxilio na identificação de uma possível recaída: 
 Automonitoramento: paciente é encorajado a manter um registro contínuo da 
ocorrência do comportamento de uso da substância e das circunstâncias em que se 
manifestou, a fim de conscientizar o paciente cada vez mais acerca do seu 
comportamento de uso. 
 Avaliações de autoeficácia: este procedimento envolve a apresentação de uma lista 
de várias situações de alto risco e a solicitação ao cliente para avaliar o grau de 
tentação que tende a experienciar e o grau de segurança que sente sobre sua 
capacidade de lidar efetivamente (evitar um lapso) em cada uma dessas situações. 
 Descrições de episódios passados ou fantasias de recaída: as recaídas pelas quais o 
paciente já passou, ou teme passar, podem ser utilizadas como fontes de informação e 
aprendizado. Quais foram às circunstâncias que culminaram ou culminariam com o 
uso inicial? Que habilidade(s) seria(m) necessária(s) para enfrentar essas situações? 
De que maneira o uso inicial evolui para uma recaída? O que o paciente pensa/sente a 
respeito do uso inicial? A que atribui à causa? 
Além das intervenções específicas que consistem na identificação de situações de alto 
risco, há várias estratégias específicas de intervenção na prevenção a recaída, tais como 
podemos citar: intervenções em respostas de enfrentamento, intervenções em expectativas de 
resultado positivo do uso da substância, intervenções para frear o uso inicial, intervenções 
sobre o efeito da violação da abstinência, processo da recaída/estilo de vida desequilibrado, 
intervenções globais, intervenções no estilo de vida, intervenções no desejo de indulgência, 
intervenções sobre as compulsões e fissuras e Mindfulness ou atenção plena. 
Em suma, a prevenção da Recaída, desenvolvida por G. Alan Marlatt, utiliza 
princípios da terapia cognitivo-comportamental, e visa auxiliar o usuário de substâncias 
psicoativas a identificar e a lidar com situações de risco e de alto risco, que poderão levá-lo a 
consumir novamente sua droga de preferência ou outra qualquer, dependendo da situação. A 
importância em praticar o inventário proposto para lidar com situações de risco, o 
conhecimento teórico e básico da prevenção a recaída, auxiliam o paciente a identificar 
(reconhecer), evitar e a lidar na manutenção da abstinência frente aos obstáculos encontrados. 
 
Terapia de Família e Dependência Química 
142 
 
 
“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros” 
Carl Jung 
 Pontos chaves 
 Família é um importante sistema dentro da sociedade. 
 A família pode ser entendida como um cenário de risco e/ou de proteção frente às complexidades do 
abuso de substâncias. 
 A terapia familiar (TF) é uma modalidade que traz benefícios e contribui de maneira positiva para a 
mudança no padrão de abuso ou dependência quimica. 
 
 
A família é considerada um importante elo entre o indivíduo e a sociedade, fonte de 
aprendizagem e de interação social fundamental. Compreender os elementos que compõem a 
correlação desse sistema para o campo de tratamento e da prevenção é, conseqüentemente, 
uma via imperativa. Identificar sistemicamente as características do membro da família e da 
comunidade que apresenta algum comportamento sintomático é requisito essencial para as 
intervenções voltadas às famílias. 
Não existe um único modelo de família. Elas são definidas muito mais pelos laços 
afetivos do que por consangüinidade, e as mudanças sociais trouxeram várias formas de 
convivência e configurações. Estas configurações refletem em uma arena de negociações de 
papéis, de intercâmbios de gerações, de gênero e culturas, em que, muitas vezes, a na não 
adaptação esperada para uma convivência harmoniosa, ou na promoção de relações 
interdependentes entre os membros, torna possível a presença do problema do uso de 
substâncias dentro do sistema familiar. 
Hoje, a família pode ser entendida como um cenário de risco e/ou de proteção frente às 
complexidades do abuso de substâncias. O pressuposto básico desse entendimento explica que 
as pessoas que usam drogas estão inseridas em um contexto no qual seus valores, crenças, 
emoções e comportamentos influenciam os comportamentos dos membros da família, também 
sendo por eles influenciados. 
 
143 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E
vidê
ncias 
apon
tam 
que 
filhos de pais dependentes tendam a ter mais chances de desenvolver problemas de uso ou 
dependência, é importante constatar que problemas dessa ordem podem ocorrer com qualquer 
família. Vertentes socioculturais, interferência da vulnerabilidade social presente nos lares, 
tanto para um indivíduo como para todo o núcleo família são fatores que impactam no 
contexto familiar altamente frágil e desprotegido. 
Fatores de risco e de proteção familiares, comportamentos presentes entre os membros 
que vão além da perspectiva da codependência e que ilustram novas formas de compreensão 
quanto às condições de enfrentamento familiar, características e aspectos predominantes na 
dinâmica familiar ou no perfil das famílias que apresentam o desafio da dependência. 
A terapia familiar (TF) é uma modalidade de reconhecer que traz benefícios e 
contribui de maneira positiva para a mudança no padrão de abuso ou dependência de 
Você sabia... 
Em 2007 o IBGE realizou uma pesquisa nacional com as familias brasileiras, que revelou as 
seguintes configurações familiares: 
• Famílias com filhos predominam (67,6%). 
• Crescimento da proporção de pessoas que vivem sozinhas, dos casais sem filhos, das 
mulheres sem cônjuge — mas com filhos — na chefia das famílias, além de uma 
redução da proporção dos casais com filhos. 
• Aumento considerável, entre 1996 e 2006, do número de mulheres indicadas como 
provedoras, com uma variação de 79%, enquanto, no mesmo período, o número de 
homens “chefes” de família aumentou 25%. 
• A família monoparental feminina tem expressão significativa nas áreas urbanas, 
sobretudo no contexto metropolitano. • Tendência de redução do tamanho da família, 
que passou de 3,6 pessoas, em 1996, para 3,2, em 2006. 
• Arranjos unipessoais representaram 10,7% do total no País. 
• 40% das familias tinham um membro com mais de 60 anos. 
144 
 
 
substâncias e para a qualidade de vida da família, com achados científicos propostos pro 
vários autores. 
Portanto as intervenções familiares precisam oferecer acolhimento e orientação; 
procurando conhecer a cultura da família e sua linguagem, crenças e normas; elaborando um 
diagnóstico diferencial para propor um plano de tratamento à família; estabelecendo, em 
conjunto com ela, um plano de tratamento após o diagnóstico diferencial; detectando e 
orientando a família em relação às suas próprias competências; detectando e valorizando as 
áreas “preservadas” dos vínculos familiares; orientando e motivando a família a participar do 
processo de tratamento; e evitando julgamentos e preconceitos. Também é esperado que o 
profissional identifique o padrão familiar. 
Quanto às modalidades de intervenções, os principais modelos de atendimento para as 
famílias inseridas nesse contexto, pode se verificar os seguintesmodelos: 
 Intervenção: a ação prevê a união de familiares e pessoas importantes para o usuário 
com o objetivo de dar a este um ultimato quanto ao uso de drogas. 
 Abordagem de reforço da comunidade: todo o contexto em volta do usuário se 
organiza para que, por meio de uma política de reforços positivos, seja possível o 
alcance e a manutenção da abstinência; familiares, grupo social, recreacional e 
ocupacional estão envolvidos na ação. 
 Treinamento de reforço da comunidade: o profissional envolvido está à disposição 
em tempo integral para assistência à família, de modo a atendê-la durante os períodos 
mais críticos. 
 Treinamento de família e reforço da comunidade: tem como objetivo motivar o 
paciente a aderir ao tratamento por meio do atendimento aos familiares. 
 Identificação do membro mais motivado da família: objetiva facilitar a entrada do 
paciente no tratamento e ajudar o familiar envolvido 
 Terapia de família unilateral: terapia feita com o cônjuge, no sentido de facilitar a 
entrada do paciente no tratamento. 
 Aconselhamento cooperativo: treinamento oferecido a familiares que necessitam de 
ajuda em função de estarem envolvidos com dependentes químicos, recrutados pela 
mídia. 
 Método de engajamento sistêmico estrutural-estratégico: tratamento focado na 
mudança dos padrões de interação familiar, já que enfatizam a importância desses 
padrões, alguns relacionados ao uso de drogas. 
145 
 
 
 Seqüência de intervenção relacional para o engajamento: forma de intervenção 
mais flexível que permite à família, em conjunto com seu familiar dependente, tomar 
decisões relacionadas ao familiar em função de seu uso de drogas. 
 Terapia de rede: foca a família como um grupo que atua como substrato para a 
mudança, ampliando o apoio para o contexto social dos pacientes (rede). 
No que tange a estrutura e forma de atendimento com que cada abordagem pode ser 
empregada, temos as opções a seguir: 
 Psicoterapia familiar: reúnem-se a família e o dependente químico. 
 Grupos de pares: membros da família são distribuídos em diferentes grupos de pares 
(dependentes químicos, pais, mães, irmãos, cônjuges, etc.). A interação entre pares é 
facilitadora de mudanças, uma vez que escutar “não” de um par é o mesmo que o 
escutar de um terapeuta. 
 Grupo unofamiliar: conhecido como grupo de acolhimento ou de orientação. Grupo 
com diversas famílias. Conta-se com um membro familiar, representante de cada 
família, em sessões semanais, ou conforme periodicidade de cada serviço. 
 Grupos de multifamiliares: por meio de um encontro de famílias que compartilham 
da mesma problemática, cria-se um novo espaço terapêutico que permite um rico 
intercâmbio a partir da solidariedade e da ajuda mútua, em que as famílias se 
convocam para ajudar a solucionar o problema de todas, gerando um efeito em rede. 
Todas as famílias são participantes e destinatárias de ajuda. 
 Psicoterapia de casal: casais podem ser atendidos individualmente ou em grupos, 
caso o terapeuta tenha habilidade para conduzir as sessões sem expor particularidades 
de cada casal que não sejam adequadas ao tema focado. 
 Grupo de educadores, grupo de outros familiares e variações: o atendimento 
familiar é múltiplo, e o trabalho interventivo pode ser definido pelos núcleos, como 
pelo gênero, ou por questões específicas a serem discutidas. 
Dentro das abordagens terapêuticas podemos citar algumas: 
 Terapia familiar cognitivo-comportamental; 
 Terapia de casal comportamental; 
 Modelo sistêmico e seu entendimento sobre abuso e dependência de substâncias; 
 Terapia estratégica breve para adolescentes; 
 Terapia motivacional sistêmica. 
146 
 
 
A diversidade do atendimento familiar também se refere ao processo, havendo 
diferenças entre as famílias que recebem psicoterapia familiar e aquelas que são 
esporadicamente atendidas dentro do tratamento do dependente químico. Conforme a 
modalidade adotada, é possível conciliar sessões abertas com sessões dirigidas, tanto em 
grupos como em atendimentos familiares individualizados, com ou sem a presença do 
dependente, desde que acordado previamente entre as partes. 
A terapia familiar é fundamental no tratamento da dependência quimica, trazendo 
benefícios significativos tanto no padrão de consumo do paciente quanto na melhora das 
relações familiares e sociais. Os ganhos de qualquer intervenção familiar devem ser vistos no 
contexto de vida do paciente e de sua família, sendo analisadas dentro de um processo, o que 
significa que mudanças não serão imediatas, e sim construídas conforme a realidade de cada 
sistema familiar. 
 
Grupo de Apoio (Família e Paciente) 
“Só por hoje...” 
 Pontos chaves 
 As irmandades são conceituadas como grupos de autoajuda mútua. 
 São conhecidas: alcoólicos anônimos (AA), narcóticos anônimos (NA) e amor exigente. 
 
As irmandades anônimas, como são conhecidos os grupos de autoajuda ou ajuda 
mútua são mundiais. O grupo mais conhecido e popular do mundo são os alcoólicos anônimos 
(AA). Os AA são definidos, de acordo com sua literatura oficial, como “uma irmandade de 
homens e mulheres que se ajudam mutuamente a resolver seu problema comum, isto é, o 
alcoolismo, e o abuso de outras drogas são conhecidos como narcóticos anônimos (NA). 
A filosofia dos Alcoólicos Anônimos é baseada em 12 passos que são sugeridos para a 
recuperação. O primeiro deles, considerado o mais difícil, é admitir a impotência perante o 
álcool, e a perda do domínio sobre a vida. “É o caminho para a liberdade”, relata o homem 
que coordena os AA em todo o Estado, e que é um alcoólico em recuperação. 
147 
 
 
Os outros passos tratam de temas como a importância da crença em um poder 
superior, a confissão de falhas cometidas, entre outros. “O AA é um programa para quem quer 
ter uma vida feliz, útil e significativa”, destaca um dos membros. 
A literatura do AA lista também as 12 tradições que devem ser respeitadas. Trata-se da 
Constituição Mundial da irmandade. Manter a unidade – ou seja, o bem-estar comum – é uma 
tradição dos Alcoólicos Anônimos, bem como divulgar a mensagem do AA, por meio de 
palestras em hospitais e empresas, e manter-se auto-suficiente, rejeitando qualquer tipo de 
doação. 
 
Alcoólicos Anônimos (AA) destaca-se como uma organização de autodenominados 
alcoólicos que se reúnem freqüentemente e voluntariamente para reforçar sua prática de 
abstinência de ingestão de bebidas alcoólicas. Os Narcóticos Anônimos (NA) destaca-se 
como uma organização de autodenominados narcóticos que se reúnem freqüentemente e 
voluntariamente para reforçar sua prática de abstinência de ingestão de outras drogas. 
Já os grupos de apoio para as familiares, destacam-se o Amor Exigente é um grupo 
cujo programa terapêutico focado na prevenção, mas também na recuperação. Ajuda não só 
jovens quimicamente dependentes, mas também qualquer jovem ou casal de pais com 
problemas, na tentativa de mudar seus comportamentos e, conseqüentemente, os 
comportamentos dos seus. 
Portanto vimos a importâncias dos grupos de ajuda no tratamento da dependência 
quimica, embora, a rigor, como assinala alguns autores, o modelo de autoajuda não se 
configure como um “ambiente de tratamento”, de qualquer maneira, é uma fonte 
importantíssima de ajuda a muitas pessoas com problemas com álcool e outras drogas. Os 
grupos de autoajuda não se autodenominam como fonte de solução para o problema da 
dependência química ou outro distúrbio relacionado com as compulsões. Seus membros 
148 
 
 
reconhecem que tiveram sucesso ao tratar de seus próprios problemas, entretanto, sob 
quaisquer circunstâncias não compartilham da opinião de que sua visão terapêutica deva ser 
adotada universalmente. 
 
 
 
Redução de Danos 
“Só por hoje...” 
 Pontos chaves 
 A redução de danos é uma estratégia que visa minimizar as conseqüências adversas do usode 
substâncias psicoativas. 
 Considerada um meio, não uma finalidade no tratamento. 
 
 
A redução de danos (RD) é um conjunto de medidas de saúde pública voltadas a 
minimizar as conseqüências adversas do uso de drogas, sejam lícitas ou ilícitas, sendo 
compreendida como uma das possíveis estratégias de abordagem no tratamento e na 
prevenção do uso de drogas. É reconhecido pelo International Narcotics Control Board 
(INCB), órgão responsável por verificar se a comunidade mundial obedece aos ditames das 
convenções, como uma estratégia de prevenção indicada (prevenção terciária) que tem suas 
149 
 
 
ações voltadas a interromper ou diminuir as conseqüências do uso contínuo de substâncias 
psicoativas, destinados a atingir usuários que não poderiam ser alcançados por outros meios. 
Essa técnica parte das seguintes premissas: 
 O uso de substâncias produz conseqüências negativas nas pessoas que as consomem; 
 As conseqüências do uso de substâncias podem ser minimizadas ou evitadas com 
abordagens dirigidas; 
 As abordagens de redução de danos são alternativas aos tratamentos usuais, as quais 
podem ser empregadas a qualquer momento do tratamento, sobretudo, quando a 
pessoa com problema pelo uso de substâncias não está motivada de forma suficiente 
para interromper o consumo. 
De acordo com Federal HAPCO, (2010), a prática de redução de danos abrange: 
 A abstinência ou a redução do consumo de substâncias; 
 A prevenção da transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e de outras 
doenças infectocontagiosas entre usuários de substâncias injetáveis por meio do uso de 
material descartável para consumo e do provimento de locais seguros e limpos para 
uso dessa substância; 
 A prevenção de conseqüências da overdose da substância, como uso em locais com 
assistência médica, treinamento e distribuição de uso de medicamentos para paradas 
cardiorrespiratórias, entre outras ações; 
 A substituição de substâncias mais danosas por outras menos prejudiciais. 
A prática de redução de danos é uma estratégia para estabelecer vínculo e trazer a 
pessoa com transtorno por uso de substâncias (TUS) para perto das equipes de saúde. Dessa 
forma, não se deve considerá-la uma estratégia finalística para o tratamento da pessoa com 
TUS, mas, sim, como parte de um tratamento integral, compreendendo as abordagens médica, 
psicológica, de assistência social e reinserção social, que consideram as necessidades 
particulares de cada indivíduo com usuário de substâncias psicoativas. 
Atualmente, as práticas de redução de danos são feitas em 91 países. Nos países 
pioneiros como Suíça, Holanda, Canadá, Austrália, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Suécia 
e Nova Zelândia, tais práticas se associam a outras técnicas de tratamento e prevenção: 
 Intervenções socioeducativas; 
 Intervenções breves; 
150 
 
 
 Programas de trocas de seringas; 
 Programas de substituição de substâncias; 
 Salas limpas para uso de substâncias; 
 Programas de prevenção de overdose; 
 Distribuição de naloxona; 
 Treinamento de pares em ressuscitação cardiopulmonar; 
 Mudanças legislativas e regulatórias. 
No Brasil, as medidas de redução de danos foram introduzidas em São Paulo, no ano 
de 1989, para a prevenção da transmissão do vírus HIV. Nessa época, a prevalência de 
infecção por HIV em usuários de substâncias injetáveis era próxima de 60%, sendo que 25% 
dos indivíduos com o vírus faziam uso de substâncias injetáveis. Na segunda metade dos anos 
de 1990, houve o surgimento de programas e associações de redução de danos em diversos 
estados, porém, somente em 2002, a estratégia de redução de danos foi incluída na Política 
Nacional Antissubstâncias. Mas ainda é incipiente nos países da América Latina. 
Ao longo dos anos, um corpo teórico foi construído e partilhado entre os grupos que 
realizam a prática de redução de danos. Destes, alguns princípios e valores foram 
considerados parte importante dessa abordagem. 
A redução de danos entende o fato concreto de que muitas pessoas usam substâncias e 
não se tornam dependentes e de que visões idealistas de uma sociedade livre dessas 
substâncias não têm chances de se tornar realidade. Reconhece a abstinência como resultado 
ideal, mas aceita e propõe alternativas para reduzir os danos produzidos pelo consumo de 
substâncias. Ela oferece a possibilidade de diminuir as conseqüências negativas de 
comportamentos de risco aos indivíduos que não têm como objetivo inicial a abstinência 
completa ou não são capazes de atingi-la. 
A redução de danos tem como princípios básicos os seguintes aspectos: 
 A RD é uma alternativa de saúde pública para os modelos moral, criminal e de 
doença; 
 A RD reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita alternativas que 
reduzam os danos; 
 A RD surgiu principalmente como uma abordagem “de baixo para cima”, com base na 
defesa do dependente, em vez de uma política “de cima para baixo”, promovida pelos 
formuladores de políticas de drogas; 
151 
 
 
 Acesso a serviços de baixa exigência como uma alternativa para abordagens 
tradicionais de alta exigência: como já dito; 
 A RD se baseia nos princípios do pragmatismo empático versus idealismo moralista. 
Quanto custo-benefício da redução de danos nota-se que a maior efetividade é 
demonstrada na prevenção de doenças infectocontagiosas, principalmente HIV e hepatites 
virais, nos usuários de substâncias injetáveis. A estratégia de alcance também tem se 
mostrado efetiva para a redução de danos nos usuários de substâncias ilícitas, bem como a 
estratégia de alcance pode ser realizada pelos pares, substituição da heroína pela metadona, 
terapia de substituição da nicotina e campanhas educativas e as leis. Estudos internacionais 
revelam que para a redução de danos tenha um tratamento efetivo, não deve ser utilizada uma 
estratégia única para todos. As evidências mostram uma maior efetividade quando se 
individualizam as abordagens, respeitando cada sujeito. Os usuários de substâncias variam 
amplamente em relação às metas pessoais associadas a uso da substância, motivação e 
estágios de prontidão para a mudança, estado emocional e psiquiátrico, traços de 
personalidade, vulnerabilidades e variáveis socioeconômicas. 
Por fim, para que seja maximizada a efetividade da redução de danos, ela não pode ser 
considerada a única prática possível para a abordagem dos usuários de substâncias. Ela deve 
ser considerada um meio, não uma finalidade no tratamento desses indivíduos, sobretudo, 
quando é necessária a criação de vínculo entre o usuário e o sistema de saúde e quando o 
usuário não tem como objetivo inicial a abstinência completa. 
 
Módulo 8: Rede de Assistência aos usuários de substâncias psicoativas 
Papel das equipes multidisciplinares no tratamento da dependência química 
 “Só por hoje...” 
 
 Pontos chaves 
 A de organização do trabalho tem sido apontado como elemento dificultador da produção de um 
cuidado integral em saúde. 
 A interdisciplinaridade tem sido considerada componente essencial da organização do trabalho. 
152 
 
 
 A assistência em saúde envolve um do tipo profissional e especializado, que tenham qualificação 
técnica em graus diversificados. 
 
Na modernidade, o avanço do saber produziu o isolamento das disciplinas e o 
surgimento de interesses corporativos que levaram a uma fragmentação do conhecimento. 
Esse fenômeno resultou na racionalidade técnico-científica que regula os processos de 
trabalho na área da saúde. Nas últimas décadas, tem-se demonstrado a insuficiência dessa 
racionalidade, o que coloca a interdisciplinaridade no centro das discussões acerca do 
desenvolvimento do conhecimento científico e das práticas sanitárias. 
O modo de organização do trabalho tem sido apontado como elemento dificultador da 
produção de um cuidado integral e de mais qualidade em saúde, tanto na perspectiva daqueles 
que o realizamcomo daqueles que dele usufruem. A complexidade envolvida nesse campo 
ultrapassa os saberes de uma única profissão ou área do conhecimento. A busca de novas 
formas de organização e gestão do trabalho em saúde é uma decorrência da evolução do 
conhecimento e uma necessidade própria da complexidade que os problemas de saúde vão 
assumindo na contemporaneidade. (Morin, 2000; Pires, 1999) 
Para dar conta dessa complexidade, que envolve um cenário no qual se reconhece a 
insuficiência do olhar parcelado que é proporcionado por disciplinas estanques, o trabalho em 
saúde deve envolver práticas em âmbito multi, pluri, inter e transdisciplinar. 
A interdisciplinaridade tem sido considerada componente essencial da organização do 
trabalho na contemporaneidade e importante facilitador na obtenção de resultados positivos e 
na otimização da relação custo-efetividade em vários contextos de saúde e em todos os níveis 
de atenção à saúde, buscando alcançar uma abordagem integral sobre os fenômenos que 
interferem no processo saúde-doença da população. Remete às ações conjuntas, integradas e 
inter-relacionadas, desenvolvidas por profissionais de diferentes procedências quanto à área 
básica do conhecimento. 
Já a multidisciplinaridade refere se ao trabalho e estudo de profissionais de diversas 
áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de atuação. 
Desse modo, não implica a integração de ações desses diferentes profissionais tendo em vista 
o objetivo comum de alcançar um entendimento mais amplo do fenômeno abordado. 
Como ponto de partida para compreensão do tratamento da dependência química, este 
assunto deve ser entendido com um campo complexo e multifatorial, que exige abordar, de 
153 
 
 
forma integrada, as diversas dimensões implicadas. Já é considerado consenso, pela literatura, 
que esse tratamento seja organizado segundo um enfoque interdisciplinar, para além de uma 
abordagem multidisciplinar. 
Nesse contexto, a interdisciplinaridade exige que se pensem as questões relativas à 
comunicação entre as diversas áreas de conhecimento, o que exige superar os termos 
especializados e herméticos, criando-se uma linguagem única e acessível a todos os 
envolvidos no processo de trabalho para expressar os conceitos e as contribuições das várias 
disciplinas, o que vai possibilitar a compreensão das diversas facetas do problema e o 
intercâmbio de possíveis estratégias de solução. 
Tendo em vista a gravidade dos problemas colocados pelo uso e dependência de álcool 
e/ou outras drogas, o tratamento constitui um processo dinâmico, caracterizado pelas 
interfaces das diversas áreas implicadas. Nessa medida, o manejo dos problemas exige uma 
constante negociação, capacidade de articulação e integração entre os profissionais da equipe. 
O paciente deve ser entendido e abordado sob a ótica da totalidade, considerada na 
perspectiva da integralidade, que é a chave da intervenção terapêutica, a fim de atenuar o 
sofrimento humano, onde o sujeito assume o protagonismo de sua vida. Já as intervenções 
com as famílias objetivam empoderar os familiares para que compreendam o problema em 
suas diferentes facetas, incluindo sua repercussão no plano das interações do sistema familiar, 
para que a família se conscientize da necessidade de se reposicionar ante o familiar 
dependente. 
A assistência em saúde envolve um do tipo profissional e especializado, que tenham 
qualificação técnica em graus diversificados e que, portanto, dominam saberes e técnicas 
específicas para auxiliar indivíduos com problemas de saúde ou em situação de 
vulnerabilidade psicossocial que implica riscos para adoecimento. De acordo com a 
complexidade do serviço prestado, existe a necessidade de diversos profissionais na prática 
clinica: médicos de diversas especialidades, enfermeiros, técnicos e auxiliares de 
enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, 
farmacêuticos, assistentes sociais, entre outros. 
A natureza das relações de trabalho nas equipes interdisciplinares constitui uma das 
barreiras mais salientes para a implementação da interdisciplinaridade. A organização 
taylorista-fordista, que ordena o campo das relações de trabalho na saúde, impõe uma 
fragmentação e hierarquização de tarefas. 
154 
 
 
O trabalho em equipe exige uma lógica cooperativa, diferente do modelo fragmentado 
de organização do trabalho, em que cada profissional realiza parcelas do trabalho sem uma 
integração com as demais áreas envolvidas. A abordagem interdisciplinar pressupõe novas 
formas de relacionamento, tanto no que diz respeito à hierarquia institucional, a gestão, a 
divisão e a organização do trabalho, quanto no que se refere às relações que os trabalhadores 
estabelecem entre si e com os usuários do serviço. As barreiras que se interpõem a um 
trabalho efetivo da equipe multidisciplinar compreendem: formação e capacitação 
profissional, definição dos objetivos e papéis, manejo dos conflitos, padrões de comunicação 
e fatores institucionais. 
 
Políticas públicas para dependência química e Lei Orgânica da Saúde 
“De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco”. 
Michel Foucault 
 
 Pontos chaves 
 Conceito ampliado de saúde. 
 Lei orgânica de saúde 8.080/90. 
 Saúde como um direito constitucional. 
 
Uma das principais questões que permeiam o campo da Saúde Mental gira em torno de 
como a loucura e todos os tipos de “transtornos” mentais é vistos na sociedade. Desde muito 
tempo, essa é uma problemática discutida e questionada, principalmente em autores como 
Foucault (1972), que analisou as formas de manifestação e controle da loucura ao longo do 
tempo. Para o autor, no final do século XVIII a loucura foi alienada de si mesma a partir de 
um estatuto de objeto. 
Para compreender o conceito de saúde na contemporaneidade é fundamental atentar-se 
à sua historicidade, bem como compreender o processo que culminou no reconhecimento da 
saúde como um direito de todo cidadão. Durante muito tempo, a saúde foi entendida como 
ausência de doença a partir de uma perspectiva biológica que considerava, primordialmente, 
as características físicas dos indivíduos. Com o passar do tempo, esse conceito foi ampliado e 
155 
 
 
a saúde passou a ser sinônimo de um “estado de completo bem estar físico, mental e social e 
não somente ausência de afecções e enfermidades” (Organização Mundial da Saúde). 
A partir da Constituição Federal de 1988, a saúde passou a ser um direito de todos e, 
em 1990, o Sistema Único de Saúde é regulamentado pela Lei Orgânica de Saúde 8.080 de 
1990. A partir dessa lei fica instituído: Art. 2º: “A saúde é um direito fundamental do ser 
humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício” 
(BRASIL, 1990). Além disso, assegura-se no § 1º: 
“O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de 
políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros 
agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e 
igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. 
Atualmente há a compreensão de que o conceito de saúde não é limitada a um 
conceito fixo, cristalizado, mas sim ligada a um conjunto de fatores delimitados pelo tempo. 
Isso significa que a forma de compreender a saúde está relacionada diretamente às concepções 
acerca do próprio homem e suas relações com a vida. A partir de tal pressuposto, é preciso 
analisar a historicidade da saúde no Brasil, especificamente com relação ao acesso à Saúde 
Pública antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS). 
 
A idéia de bem-estar pode ser relacionada à satisfação das necessidades (conscientes 
ou inconscientes), naturais ou psicossociais, ou seja, a saúde como sinônimo de bem-estar 
apresenta-se como um processo biológico, físico, psicológico,mental e social (MIRANDA-
SÁ JR., 2004). É a partir de um olhar ampliado que a saúde é representada na 
contemporaneidade. 
O acesso igualitário e universal às ações de saúde é contemplado pelos seguintes 
princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde: 
 Universalização: que consiste no direito de cidadania de todas as pessoas sem nenhum 
tipo de distinção social; 
156 
 
 
 Equidade é a tentativa de diminuição das desigualdades e na reparação de seus efeitos; 
 Integralidade: que considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas 
necessidades, a partir da integração de ações, e da articulação do campo da saúde com 
outras políticas públicas. 
Já os princípios Organizativos do SUS: 
 Regionalização e Hierarquização: relaciona-se à organização dos níveis de 
complexidade, de acordo com a área geográfica e os critérios epidemiológicos, para 
conhecimento da população a ser atendida. 
 
Quanto a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), criada 
em 2006, define os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) como “os fatores sociais, 
econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a 
ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população” (BUSS e 
PELLEGRINI FILHO, 2007). 
 Há uma variedade de estudos que consideram os Determinantes Sociais de Saúde, um 
ponto de partida para a compreensão dos indicadores de saúde de determinada população, 
entre eles vale destacar: a relação entre pobreza e saúde e a produção de iniqüidades e os 
desdobramentos no processo de saúde-doença. Este último enfoque é base para as discussões 
contemporâneas, que objetivam compreender o ser humano a partir de sua integralidade, pois 
considera toda a rede de relações produzidas no meio social que o circunda. 
O Ministério da Saúde adotou a estratégia da organização do SUS a partir da criação 
das Redes de Atenção à Saúde, com sub-redes temáticas, com a finalidade de superar a 
fragmentação no contexto da atenção nas Regiões de Saúde, bem como para assegurar ao 
usuário o conjunto de ações e serviços para responder às suas necessidades de saúde. A Rede 
de Atenção à Saúde é definida na legislação vigente como o conjunto de ações e serviços de 
saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a 
integralidade da assistência à saúde, sendo um conjunto de ações e serviços de saúde 
articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade 
da assistência à saúde. A partir de 2011, com a regulamentação da Portaria nº 3.088, surge um 
novo arranjo organizativo de serviços e estratégias, que propõe a integralidade e continuidade 
do cuidado. 
157 
 
 
No Brasil, o campo da saúde foi construído, ao longo do tempo, por diferentes 
modelos que culminaram num processo de luta e conquista social com base na promoção do 
bem-estar e no cuidado humanizado, amparado na perspectiva crítica e ampliada. Nesse 
sentido, o processo saúde-doença é compreendido de acordo com as multiplicidades que 
permeiam os sujeitos, pelos aspectos psicossociais biológicos, culturais, econômicos que, de 
alguma forma, interferem em seus modos de vida. A partir da década de 1970 – 1980 as 
mobilizações no campo da saúde ganham força e, em 1988, de acordo com a Constituição 
Federal, a saúde passa a ser um direito de todos os cidadãos. Essas transformações sociais e 
políticas contribuem, gradativamente, para a construção coletiva de um novo paradigma em 
torno da saúde, que deixa de ser entendida como a ausência da doença para ser considerada 
parte de um conjunto de fatores – biológicos, psíquicos, sociais. Essa perspectiva 
biopsicossocial tem como objetivo desconstruir reducionismos e priorizar a atenção integral 
dos sujeitos através de práticas cotidianas pautadas em saberes interdisciplinares que 
contemplem a complexidades da vida humana e social. 
 
Organização do serviço no tratamento da Dependência Química 
“De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco”. 
Michel Foucault 
 
 Pontos chaves 
 Necessidade de uma organização de trabalho voltada para a necessidade do usuário. 
 Não há um modelo que seja melhor, o modelo é o que for mais adequado para o sujeito. 
 Há um grande numero de papéis profissionais no tratamento da dependência química. 
 
A organização de serviços de tratamento para dependência química tem se tornado um 
paradigma atual para profissionais e gerenciadores de saúde que atuam nessa área, uma vez 
que tal atividade se mostra uma tarefa extremamente complexa e que envolve um grande 
número de variáveis. Observa-se que grande parte dos programas de tratamento para abuso e 
dependência de substâncias psicoativas, tanto nacionais quanto internacionais, está organizada 
de forma empírica a partir do empenho e da experiência pessoal de seus profissionais, 
158 
 
 
havendo ainda uma grande lacuna entre o que tem eficácia comprovada por pesquisa e o que 
se faz na prática clínica. 
Com o novo conceito de dependência também passou a atribuir pesos semelhantes aos 
critérios biológicos, psicológicos e sociais que compõem o quadro diagnóstico da 
dependência química. A internação era o recurso terapêutico mais utilizado, porque o objetivo 
primordial era a busca da abstinência completa. A partir dessa nova concepção, no entanto, 
passou-se a pensar para além dela: o tratamento da dependência química carecia de 
abordagens capazes de motivar os indivíduos a ampliarem novamente seu repertório social, a 
buscarem novas maneiras de relacionamento com seu ambiente, novas habilidades sociais 
para lidar com o cotidiano, enfim, a construção de um novo estilo de vida. Desse modo, novas 
dimensões de tratamento foram desenvolvidas e indicadas de acordo com a gravidade dos 
sintomas e do contexto social dos indivíduos. 
Mediante a esse cenário, os serviços de atendimento foram sendo criados ou adaptados 
para o tratamento da dependência química: ambulatórios, centros de convivência, internações 
breves e longas, hospitais-dia, moradias assistidas, acompanhamento terapêutico, agentes 
multiplicadores, dentre outros. Para ampliar ainda mais os atendimento a esses usuários, daí 
nasceu a necessidade de sensibilizar a rede primária de atendimento, para fazer o diagnóstico 
precoce e motivar os usuários ao tratamento. Abordagens como a política de redução de danos 
surgiram com a finalidade de prevenir conseqüências danosas à saúde do usuário, tais como as 
doenças sexualmente transmissíveis (DST) e a síndrome da imunodeficiência adquirida, sem 
necessariamente interferir na oferta ou na demanda. 
A partir disto necessitou-se uma organização de um serviço, que é uma tarefa 
complexa, envolta por inúmeras variáveis. Um serviço de atendimento contemporâneo deve 
ser preferencialmente interdisciplinar, construído com base nas necessidades do paciente, 
considerando parceiros locais e envolvendo os familiares nos cuidados oferecidos. 
Há uma possibilidade ilimitada de modelos de tratamento, cada um deles tem 
vantagens e desvantagens na prestação de auxílio ao dependente químico, não havendo um 
serviço melhor do que o outro, mas sim pacientes mais indicados para cada serviço. 
Alguns ambientes de tratamento: 
 Rede primária de atendimento à saúde; 
 Unidades comunitárias de álcool e drogas; 
 Unidade ambulatorial especializada; 
159 
 
 
 Comunidades terapêuticas; 
 Grupos de autoajuda; 
 Hospitais gerais; 
 Hospital-dia; 
 Moradia assistida; 
 Hospitais psiquiátricos; 
 Sistema judiciário; 
 Empresas. 
 
Ambientes de tratamento posicionados de acordo com o nível de atenção à saúde ao qual estão destinados. 
Todo o serviço deve procurar o seu lugar para apoiar com mais eficácia o paciente que 
o procura. Isso vai além da determinação do papel e do posicionamento do serviço: é 
necessário também se conectar aosdemais serviços disponíveis, para formar redes de apoio 
mútuo. Isso reforça e amplia as estratégias de tratamento do serviço e possibilita o 
encaminhamento aqueles que já concluíram o tratamento proposto, mas ainda necessitam de 
outras abordagens. 
Dentre da organização de trabalho, há um grande número de profissionais diretamente 
envolvidos no tratamento da dependência química. Cada ambiente (e a complexidade de sua 
organização) requer um tipo de equipe. Podemos citar alguns dos papéis profissionais: 
 Medico generalista e médico especialista; 
 Psicólogo; 
 Assistente social; 
 Enfermeiro; 
 Terapeuta ocupacional; 
 Acompanhante terapêutico; 
 Agentes comunitários de saúde; 
160 
 
 
 Conselheiros ex-usuários. 
Segundo o Instituto Nacional para a Saúde e Excelência Clínica, do Reino Unido, todo 
indivíduo com problemas relacionados com o consumo de substâncias psicoativas tem o 
direito de tomar decisões informadas sobre o seu cuidado, em parceria com a equipe que lhe 
assiste. Organização pan-americana de Saúde (OPAS) e a Comissão Interamericana para o 
Controle do Abuso de Drogas (CICAD) descrevem quatro aspectos fundamentais para 
caracterizar um tipo de tratamento: caráter da intervenção, estratégia terapêutica, metas 
terapêuticas e filosofia do tratamento. 
Segundo o National Institute on Drug Abuse (NIDA) considera que qualquer 
enquadramento terapêutico proposto deve contemplar ao menos 13 itens e propiciar ao 
paciente que o procura uma infraestrutura capaz de atender às suas necessidades e remover 
barreiras que dificultem sua adesão à proposta terapêutica: 
1. Individualização da abordagem; 
2. Disponibilidade de acesso; 
3. Multidisciplinaridade; 
4. Plano de tratamento maleável; 
5. Tempo de permanência mínimo; 
6. Psicoterapia individual e em grupo; 
7. Farmacoterapia; 
8. Tratamento integrado da comorbidade; 
9. Desintoxicação apenas como primeiro passo; 
10. Tratamento voluntário e involuntário; 
11. Monitoramento do consumo; 
12. Doenças sexualmente transmissíveis e síndrome da imunodeficiência adquirida; 
13. Tratamento em longo prazo. 
 Quanto ao planejamento, este está destinado ao desenvolvimento do conteúdo do 
serviço, do processo de implantação e gestão, bem como ao estabelecimento das normas de 
interação entre os membros da equipe e entre estes e o público-alvo. Tudo isso visa um só 
objetivo: produzir um atendimento de qualidade para aqueles que buscam os serviços para 
dependência química. A avaliação é a parte constituinte (e indissociável) do planejamento, 
sendo responsável pelo dinamismo que toda proposta de tratamento deve possuir. 
161 
 
 
Trabalhar com dependentes químicos em geral é uma atividade que exige dos 
profissionais envolvidos capacidade de acolher, de receber, de estar aberto para a vivência do 
outro. Além disso, somam-se muita capacidade de tolerar frustrações, grau elevado de 
reafirmação interna e externa de regras e de limites. O recurso humano para essa função é, 
portanto, o grande diferencial de qualquer serviço de dependência química que se deseje 
organizar. A combinação do conhecimento do profissional com mais anos de experiência e 
das vicissitudes dos profissionais mais jovens são ingredientes que podem ser facilitadores 
desse processo. É importante, sobretudo que haja treinamento específico e educação 
continuada sobre a área de atuação, por meio dos vários cursos de capacitação existentes, mas 
principalmente daqueles ligados a especializações em comportamentos aditivos. 
 
Dispositivos de Atenção Psicossocial 
“De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco”. 
Michel Foucault 
 
 Pontos chaves 
 Níveis de atenção em saúde: primário, secundário e terceiro. 
 A atenção primária é a porta de entrada do SUS. 
 O CAPS tem como função acolher pessoas em sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com 
necessidades decorrentes do uso de álcool e outras droga. 
 
Atenção em Saúde, no Brasil, divide-se em três níveis de complexidade: o primário, 
que engloba as práticas de promoção e prevenção desenvolvidas pela atenção Básica 
(Unidades Básicas de Saúde; Programa Saúde da Família) nos territórios; o secundário que 
está ligado ao tratamento especializado e curativo, como por exemplo, psiquiatria, 
ginecologia, neurologia, etc., e, por fim, o nível terciário marcado pela alta complexidade, que 
consiste nos serviços que dispõem de tecnologias para cirurgias e reabilitação, como no caso 
dos hospitais. 
Entende-se por atenção primária o nível básico da organização dos serviços de saúde, 
de acordo com os princípios do SUS, que atua, principalmente na promoção e proteção à 
162 
 
 
saúde da população. Fazem parte desta categoria as Unidades Básicas de Saúde (UBS), as 
iniciativas da Estratégia de Saúde da Família (ESF), assim como os consultórios de ruas, entre 
outros. A estratégia de Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da 
população brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco. Sendo assim 
destacam cinco princípios básicos da Atenção Primária, tais como: acessibilidade, 
abrangência, coordenada, contínua e responsabilidade. De acordo com portal PenseSus, 
podemos compreender melhor o conceito de atenção básica: 
“atenção básica ou atenção primária em saúde é conhecida como a “porta de 
entrada” dos usuários nos sistemas de saúde. Ou seja, é o atendimento inicial. Seu 
objetivo é orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos de 
agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento superiores em 
complexidade. A atenção básica funciona, portanto, como um filtro capaz de 
organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais 
 
O Programa Saúde da Família tem como proposta a reestruturação do sistema de saúde 
no âmbito da atenção primária. A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a 
qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, 
como falta de atividade física, má alimentação, uso de tabaco, dentre outros. Com atenção 
integral, equânime e contínua, a ESF se fortalece como a porta de entrada do Sistema Único 
de Saúde. 
Atenção Secundária à saúde está relacionada aos serviços de média complexidade que 
englobam as especialidades de densidade tecnológica intermediária, os tratamentos 
específicos de apoio diagnóstico e terapêutico, assim como atendimentos em urgência e 
emergência. Este nível de atenção é composto por assistências curativas, tratamento de 
163 
 
 
doenças e prevenção do agravamento, ou seja, na atenção secundária, já existe um processo de 
adoecimento em curso que precisa ser tratado adequadamente. 
De forma geral, o nível secundário de atenção à saúde é composto pelos seguintes 
serviços: Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Policlínicas, Centro de Atenção 
Psicossocial (CAPS), Centro Especializado de Odontologia (CEO) e o Serviço de 
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). 
Na atenção secundária podemos destacar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 
são unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por 
equipe multiprofissional e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou 
transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras 
drogas sejam em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. 
CAPS tem como papel acolher as demandas em saúde mental em substituição ao 
modelo psiquiátrico centrado no hospital e na forma de encarar os mais variados tipos de 
sofrimento psíquico como um mal a ser excluído. Para YASUÍ (2006, p.107), o CAPS é uma 
estratégia de transformação que faz parte de uma ampla rede de cuidados e “não se limita ou 
se esgota na implantação de um serviço. O CAPS é meio, é caminho, não fim”. 
 
De acordo com a Portaria nº 336 (BRASIL, 2002),os CAPS são divididos em 
modalidades, conforme Art.1º:CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de 
porte/complexidade e abrangência populacional. Ficando estabelecido da seguinte maneira: 
 CAPS I - Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para 
atendimento em municípios com população entre 20.000 e 70.000 habitantes; 
 CAPS II - Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para 
atendimento em municípios com população entre 70.000 e 200.000 habitantes; 
164 
 
 
 CAPS III - Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para 
atendimento em municípios com população acima de 200.000 habitantes; 
 CAPS i II - Serviço de atenção psicossocial para atendimentos a crianças e 
adolescentes, constituindo-se na referência para uma população de cerca de 200.000 
habitantes, ou outro parâmetro populacional a ser definido pelo gestor; 
 CAPS ad II - Serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com 
transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, com 
capacidade operacional para atendimento em municípios com população superior a 
70.000. 
A partir da Portaria nº 130, de 26 de janeiro de 2012, há uma redefinição do Centro de 
Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas 24 h (CAPS AD III) e os respectivos 
incentivos financeiros. 
No terceiro nível de atenção à saúde, este tem como base os hospitais e ambulatórios 
de procedimentos especializados. A assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS) é 
organizada a partir das necessidades da população, a fim de garantir o atendimento aos 
usuários, com apoio de uma equipe multiprofissional, que atua no cuidado e na regulação do 
acesso, na qualidade da assistência prestada e na segurança do paciente. 
Dentro dos dispositivos de atenção psicossocial temos o programa de Volta para 
Casa, que foi instituído pela Lei Federal 10.708 de 31 de julho de 2003 e dispõe sobre a 
regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial a pacientes que tenham permanecido em 
longas internações psiquiátricas. 
O objetivo deste programa é contribuir efetivamente para o processo de inserção social 
dessas pessoas, incentivando a organização de uma rede ampla e diversificada de recursos 
assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio social, capaz de assegurar o bem-estar 
global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de cidadania. 
Além disso, o De Volta para Casa atende ao disposto na Lei 10.216 (Lei Paulo 
Delgado) que determina que os pacientes longamente internados ou para os quais se 
caracteriza a situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica 
de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida. 
Comunidades Terapêuticas e Residências assistidas 
“De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco”. 
165 
 
 
Michel Foucault 
 Pontos chaves 
 Comunidades terapêuticas são dispositivos de internação especializada. 
 As comunidades terapêuticas trabalham com a proposta de abstinência, baseadas nos 12 passos e 
espiritualidade. 
 As residências terapêuticas por sua vez, são locais para pacientes com necessidades decorrentes do uso 
de álcool e outras droga destinadas e com transtornos mentais que permaneceram em longas internações 
psiquiátricas. 
 
As comunidades terapêuticas (CT) são ambientes de internação especializados, 
presentes em mais de 60 países, que oferecem programas de tratamento estruturados e 
intensivos, visando ao alcance e manutenção da abstinência, inicialmente em ambiente 
protegido, com encaminhamento posterior para internação parcial e/ou seguimento 
ambulatorial, conforme as necessidades do paciente. 
Esta abordagem de autoajuda acontece por intermédio da convivência entre os pares, 
provocando e promovendo mudanças e desenvolvimento de hábitos e valores importantes 
para uma vida saudável, manteve sua característica essencial e diversificou-se, englobando e 
combinando com eficácia outros modelos psicossociais, tais como a prevenção da recaída e 
técnicas motivacionais, além de inúmeros serviços adicionais relacionados com a família, a 
educação ou o trabalho e com a saúde física e mental. Que visa tratar o transtorno do 
indivíduo como um todo, objetivando para sua recuperação, a médio e longo prazo, 
transformar positivamente seu estilo de vida e a identidade pessoal. Para isso, uma série de 
programas e metas é oferecida aos pacientes em recuperação 
As mudanças multidimensionais que os dependentes químicos necessitam para que o 
tratamento surta efeito e, assim, entrem em recuperação, acontecem por meio de um processo 
que pode ser descrito dinamicamente na rotina da comunidade terapêutica e nas intervenções 
planejadas e não planejadas que o dia a dia proporciona. As mudanças, inicialmente 
observadas nos comportamentos, percepções e experiências, evoluem gradualmente para 
mudanças de estilo de vida. Vejamos alguns dos objetivos: 
1. Proporcionar a abstinência de álcool e drogas psicoativas na comunidade terapêutica e 
na etapa da reinserção social; 
2. Convivência e estabelecimento de relacionamentos saudáveis entre o grupo e outros 
dependentes de álcool e drogas; 
166 
 
 
3. Fortalecer o senso de responsabilidade individual, entre os companheiros e na equipe; 
4. Aconselhamento utilizando técnicas motivacionais e prevenção de recaída; 
5. Acompanhamento individual, auxílio no processo de educação e reeducação, 
treinamento profissional por meio de experiência e cursos; 
6. Atenção aos cuidados com sua estadia na comunidade e desenvolvimento psicossocial 
do residente; 
7. Acompanhamento pós-alta. 
A comunidade terapêutica considera o uso de drogas um sintoma do 
comprometimento daquele que faz uso nocivo ou é dependente, incapaz de manter-se 
abstinente, sendo gravemente disfuncional do ponto de vista social e interpessoal, tomando 
atitudes e condutas anti-sociais. As comunidades terapêuticas funcionam como agente chave 
do processo de mudança, sendo o seu método e diferencial maior em relação às demais 
modalidades de tratamento. 
 Os Doze Passos e as Doze Tradições dos Alcoólicos Anônimos (AA) e/ou Narcóticos 
Anônimos (NA) são à base dos programas de recuperação oferecidos pelas comunidades 
terapêuticas em grande parte do mundo e na maioria das comunidades no Brasil. Programas 
com referencial na espiritualidade e/ou na religião também podem compor as abordagens 
nesse ambiente de tratamento, em graus variados de combinação entre si e com outros 
modelos. 
No que concernem os serviços de Residências Terapêuticas, também conhecidos como 
Residências Terapêuticas, são casas, locais de moradia, destinadas a pessoas com transtornos 
mentais que permaneceram em longas internações psiquiátricas e impossibilitadas de retornar 
às suas famílias de origem. 
As Residências Terapêuticas foram instituídas pela Portaria/GM nº 106 de fevereiro 
de 2000 e são parte integrante da Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Esses 
dispositivos, inseridos no âmbito do Sistema Único de Saúde/SUS, são centrais no processo 
de desinstitucionalização e reinserção social dos egressos dos hospitais psiquiátricos. 
Tais casas são mantidas com recursos financeiros anteriormente destinados aos leitos 
psiquiátricos. Assim, para cada morador de hospital psiquiátrico transferido para a residência 
terapêutica, igual número de leitos psiquiátricos deve ser descredenciado do SUS e os 
recursos financeiros que os mantinham devem ser realocados para os fundos financeiros do 
estado ou do município para fins de manutenção dos Serviços Residenciais Terapêuticos. 
167 
 
 
 
 
 
 
 
Suicídio e 
Dependência Química 
“Os suicidas, mesmo os que planejam a morte, não querem se matar, mas matar a sua dor.” 
Augusto Cury 
 
 
 Pontos chaves 
 Suicídio associado a vários transtornos psiquiatrios, no qual são passíveis de tratamento. Mandamento da preservação a vida: proteja a vida, não minimize a tentativa de suicídio, seja empático 
sempre e avalie os fatores de risco e proteção. 
 Desenvolvimento de programas mais efetivos na prevenção do comportamento suicida. 
O termo suicídio é derivado do latim a partir das palavras sui (si mesmo) e caedes 
(ação de matar). É um fenômeno descrito como existente desde a Pré-história e que evoluiu 
com significados conceituais diferentes ao longo da história humana. Evoluindo com 
significados conceituais diferentes ao longo da história humana. Em 400 a.C., por exemplo, 
Hipócrates atribuía o suicídio à melancolia como uma conseqüência da depressão. Já Santo 
Agostinho (354- -430) entendia o suicídio como algo relacionado ao pecado baseado no 
mandamento não matarás – Santo Agostinho interpretou “não matarás nem a ti próprio” e daí 
a conotação de pecado. Em 967, na Inglaterra, o suicídio torna-se, então, um crime. Somente 
em 1827, com quirol, o fenômeno adquire a conotação de um problema psiquiátrico, e apenas 
recentemente, em 1976, o suicídio passou a ser compreendido em uma abordagem mais 
biológica. 
Compreende-se por comportamento suicida o ato pelo qual o indivíduo se agride, 
independentemente de quão letal seja esse ato ou mesmo sem reconhecimento genuíno dessa 
atitude. Assim, o comportamento suicida é compreendido fazendo parte de um continuum que 
Você sabia... 
Que em todo o território nacional existem mais de 470 residências 
terapêuticas. 
168 
 
 
engloba pensamentos, gestos e atitudes autodestrutivos e o suicídio em si. Esse último 
corresponde a um ato deliberado de autoagressão realizado na expectativa de ser fatal. 
O suicídio tem sido associado de forma consistente a uma doença psiquiátrica em 
evolução via de regra tratável. Entre os principais diagnósticos envolvidos estão os 
transtornos psicóticos primários, os afetivos e os relacionados ao uso de substâncias 
psicoativas. É considerada uma questão de saúde pública, sendo imperativo preveni-lo. Mas, 
para bem prevenir, é necessário compreender. 
 
Pesquisa realizada pela UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) 
No entanto, parece ainda discreta a compreensão cultural do suicídio como uma 
manifestação de uma doença psiquiátrica. Prevalece muitas vezes o sentimento de desprezo e 
o conceito cultural de que o suicida se conduz dessa forma “porque quer”. Além disso, 
percebe-se que as equipes de saúde em geral encontram muitas dificuldades para enfrentar, 
interpretar, resolver e acolher as tentativas de suicídio e o suicídio. 
O impacto social e psicológico do suicídio em uma família e na sociedade em geral é 
algo imensurável. Atualmente, esse fenômeno é considerado um problema de saúde pública 
mundial. 
Inúmeros fatores podem se tornar fatores de risco para o suicídio, podemos estabelecer 
alguns: depressão grave (sobretudo no início do curso da doença); história familiar ou pessoal 
prévia de depressão ou tentativas de suicídio; psicose; agitação; homofobia internalizada; 
ansiedade grave; luto; insônia; doença física ou dor crônica; traumas; abuso sexual; identidade 
sexual masculina; idosos (de modo especial em associação com doenças clínicas); 
adolescência; falta ou perda de apoio social; encarceramento; crise pessoal; falta de um 
tratamento psiquiátrico ativo e mantido; e abuso e dependência de álcool ou outras drogas. 
169 
 
 
Existe uma carência de estudos nacionais, em especial em prontos-socorros e salas de 
emergência, avaliando o uso agudo e a dependência de álcool e outras drogas em tentativas de 
suicídio e suicídios. Por isso, é importante o desenvolvimento de mais pesquisas nessa área e, 
sobretudo de outros desenhos de pesquisas a fim de melhor examinar o papel do álcool e das 
drogas em suicídio e tentativas de suicídio. A maioria dos casos de suicídio envolve um 
transtorno psiquiátrico em evolução passível de tratamento adequado. Talvez, em metade 
desses casos, haja um transtorno maior do humor (p. ex., depressão maior, transtorno bipolar) 
isolado ou complicado por uma Dependência química e comorbidade como o abuso do álcool 
e/ou de outras substâncias psicoativas. 
Diehl, Cordeiro e Laranjeira (2019) relatam que existe evidência científica mostrando 
a importância da associação entre álcool e suicídio, tanto no que diz respeito a seu consumo 
crônico (dependência) quanto ao agudo (p. ex., intoxicação aguda). Foram encontrado estudos 
mostrando que 2 a 3,4% dos dependentes de álcool se suicidam. Outros dados de metanálise 
elevam esse risco a 7%. Porém, os estudos publicados até o momento não distinguem com 
clareza se o risco é maior sob abuso ou sob dependência de substâncias psicoativas. 
Pesquisas com foco nos adolescentes e suicídios recebem menos atenção nos tipos de 
comportamento suicida, como ideação e tentativas, os quais são mais comuns entre mulheres. 
Algumas pesquisas têm associado o suicídio em mulheres principalmente a beber em binge, 
experiência de uma infância adversa, problemas de relacionamento, depressão e 
comportamento suicida precoce. 
Com certa freqüência há características em comum entre indivíduos com problemas 
relacionados a abuso ou dependência de álcool que cometem suicídio, vejamos elas: 
1. Iniciaram o uso de bebidas muito jovens; 
2. Pertencem ao gênero masculino; 
3. Tendem a ser brancos, de meia-idade, solteiros, sem amigos e socialmente isolados; 
4. Consumiram álcool compulsivamente durante vários anos de forma pesada e têm 
história familiar de dependência de álcool; 
5. Apresentam saúde física comprometida, sentimentos depressivos, vida pessoal 
perturbada e caótica, sofreram uma grande perda interpessoal recente, como luto ou 
separação conjugal, e têm baixo rendimento no trabalho ou estão desempregados. É 
muito provável que as perdas interpessoais e os outros eventos indesejáveis sejam 
conseqüência da própria síndrome de dependência de álcool e que tenham contribuído 
170 
 
 
para o desenvolvimento de um transtorno do humor, que muitas vezes está presente 
nas semanas que antecederam o suicídio. 
O suicídio entre dependentes de álcool pode ocorrer em três situações principais: 
1. Casos de suicídio ocorridos sob o efeito do álcool, ou seja, o indivíduo se intoxica para 
realizá-lo; 
2. Casos de suicídio que ocorrem durante o Delirium tremens (DT) ou quadros agudos 
semelhantes; 
3. Casos de suicídio de dependentes de álcool crônicos. 
Quanto ao manejo clinico frente à ideação suicida devemos sempre seguir os 4 
mandamentos de proteção ao paciente: 
1º mandamento: Proteja a vida; 
2º mandamento: Não minimize a tentativa de suicídio; 
3º mandamento: Demonstre empatia sempre; 
4º mandamento: Avalie fatores de risco e de proteção. 
Observa-se no cenário mundial que mesmo com o aumento na oferta de tratamento 
não houve diminuição significativa em relação a pensamentos suicidas, planos, atos ou 
tentativas. Algo semelhante também pode estar ocorrendo no Brasil. São necessários esforços 
continuados para aumentar a busca de indivíduos sem tratamento, com ideação suicida, antes 
da ocorrência de tentativas, e melhorar a efetividade do tratamento para tais casos. É também 
importante desenvolver esforços para determinar melhor compreensão e atendimento das 
tentativas de suicídio, objetivando o desenvolvimento de programas efetivos de prevenção do 
comportamento suicida, bem como o papel de meios altamente letais de suicídio, incluindo, 
entre outros, álcool e drogas. 
 
Fatores de proteção e risco na dependência química 
“Sempre existe um caminho para a recuperação”. 
Anônimo 
 
 
171 
 
 
 Pontos chaves 
 Estratégias de prevenção visam evitar problemas de saúde. 
 Fatores de risco são condições internas ou externas que podem afetar recuperação do paciente. 
 A participação nas estratégias de prevenção auxilia a melhora da autopercepção e dos própriosconhecimentos a respeito de substâncias. 
 
Na área da saúde, é possível pensar as estratégias de prevenção como sendo aquelas 
capazes de oferecer à comunidade a oportunidade de evitar o surgimento de problemas de 
saúde. Procuram antecipar ações que venham a fortalecer o indivíduo, ante a necessidade de 
enfrentamento de eventuais obstáculos que possam provocar danos a sua saúde. Em relação a 
álcool, tabaco e outras drogas (ATOD) de maneira geral, as estratégias de prevenção têm 
como objetivos impedir ou retardar o início do uso e/ou diminuir a gravidade e a intensidade 
das conseqüências decorrentes dele. 
Os programas de prevenção ao uso nocivo de substâncias psicoativas podem partir de 
perspectivas distintas. Alguns visam reforçar a determinação do indivíduo para recusar o uso 
(enfoque da guerra às drogas). Outros procuram contribuir para a inibição de comportamentos 
autodestrutivos, diminuindo os riscos de exposição da pessoa a situações que perpetuem o uso 
(enfoque da redução de riscos). 
Fator de risco (FR) pode ser determinado pela combinação de características ou 
atributos de uma pessoa, grupo ou comunidade à qual pertence e da probabilidade da 
ocorrência do uso de substância em algum momento da vida. 
Os fatores de proteção (FP) visam reforçar a determinação das pessoas para negar o 
uso ou evitar a progressão dos riscos causados por ele, inibindo comportamentos 
autodestrutivos e minimizando a influência de possíveis fatores de risco presentes. 
Existem vários FRs para o uso de substâncias. Cada um representa um desafio ao 
desenvolvimento psicológico e social do indivíduo, causando impactos diferentes em cada 
fase de seu desenvolvimento. É importante notar que os FPs não são simplesmente o oposto 
dos FRs. Eles variam ao longo do processo de desenvolvimento, podendo ser mais ou menos 
relevantes, de acordo com um momento específico. 
Basicamente, os modelos de prevenção focados no indivíduo visam oferecer condições 
intrapessoais que reforcem a determinação da pessoa para a recusa de ATOD ou para evitar a 
172 
 
 
progressão dos riscos causados por um consumo já existente, seja pela modificação de 
comportamentos tidos como autodestrutivos, seja pelo enfraquecimento de possíveis fatores 
de risco presentes. 
 
A importância da participação dos pais em programas de prevenção se evidencia na 
melhora da autopercepção destes sobre os próprios conhecimentos a respeito de substâncias 
psicoativas, acarretando maior confiança para dialogar com seus filhos. Além disso, outros 
dois pontos se mostram bastante significativos: a melhora na comunicação entre pais e filhos, 
tanto em assuntos diversos quanto acerca daqueles específicos sobre drogas; e a capacidade de 
influência sobre seus filhos, possibilitada pela melhoria dos conhecimentos e das habilidades 
de comunicação, particularmente relevantes para essa mudança. 
 
 
É possível considerar as intervenções preventivas economicamente benéficas quando a 
condição a ser prevenida é prevalente, quando a condição ou doença tem um custo elevado, 
quando as intervenções preventivas são consideradas efetivas e quando os custos das 
intervenções são baixos. O que se percebe é que as intervenções preventivas relacionadas ao 
uso de ATOD preenchem, para não dizer todas, várias dessas condições. Além disso, os 
valores investidos na prevenção ao uso de substâncias retornam à sociedade na forma de 
redução dos agravos de saúde e do custo social relacionado. 
173 
 
 
Por muito tempo, a saúde mental vem sendo negligenciada. Várias causas defendidas 
pelos profissionais da área recebem forte oposição de setores do governo, da indústria, de 
grupos religiosos, comunitários e outros. Essa oposição pode ocorrer devido a interesses 
implícitos ou simplesmente por serem as causas consideradas irrelevantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DICAS DE FILME 
 
Querido menino 
David Sheff (Steve Carell) é um conceituado jornalista e escritor que vive com a segunda 
esposa e os filhos. Nic Sheff (Timothée Chalamet), seu filho do primeiro casamento, é viciado 
“Buscar ajuda é muito 
importante. Você pode ter uma 
vida infinitamente melhor se 
aceitar seu problema e buscar 
tratamento. Sempre existe um 
caminho para a recuperação. 
Muitos conseguiram você pode 
conseguir também”. 
174 
 
 
em metanfetamina e abala completamente a vida de toda a família. David tenta entender o que 
acontece com o filho, que teve uma infância saudável, e sempre recebeu todo o seu amor, 
assim como da mãe, sua ex-esposa, e da madrasta. Ao mesmo tempo, David estuda a droga e 
sua dependência. Nic, por sua vez, passa por diversos ciclos da vida de um dependente 
químico, lutando para se recuperar, mas volta e meia se entregando ao vício. 
 
O bicho de 7 cabeças. 
Conta a história de Neto (Rodrigo Santoro) e como o seu vício em maconha o levou a ruína 
mental. Isso porque sues pais o internaram em um manicômio que não tratava sua situação de 
maneira adequada, fazendo com que o jovem sofresse torturas físicas, com choques, e 
psicológicas, com confinamento e uso de diversos remédios. 
 
Réquiem para um sonho 
O drama de Réquiem retrata como os sonhos de pessoas que se viciam em drogas podem 
desmoronar do dia para a noite. Harry Goldfarb (Jared Leto), Marion Silver (Jennifer 
Connely) e Sara Goldfarb (Ellen Burstyn) tinham grandes aspirações para o futuro. 
Harry e Marion desejavam abrir o próprio negócio e viverem felizes e Sara queria emagrecer 
para ficar bela em seu vestido favorito para aparecer na televisão. No entanto, as drogas 
atrapalharam os sonhos dessas três personagens de uma maneira surpreendente. 
28 dias 
Gwen Cummings (Sandra Bullock) é uma escritora que não enxerga limites quando o assunto 
é bebida alcoólica. A princípio, tudo parece festa e diversão, mas quando o consumo está 
fazendo com que ela passe dos limites, algo deve ser feito. 
Portanto, esse drama discorre sobre o período em que Gwen se vê internada, durante 28 dias, 
em uma clínica de reabilitação. Lá, ela precisa lidar com os próprios sentimentos e conviver 
175 
 
 
com outras pessoas que vivem a mesma situação que ela. Esse contato muda sua perspectiva 
sobre as coisas. 
O diário de um adolescente 
Baseado na história real do escritor e cantor Jim Carroll, interpretado por Leonardo 
DiCaprio, O Diário de um Adolescente retrata como o jovem Jim deixou de ser o astro de 
um time de basquete e se inseriu no submundo das drogas e da prostituição. 
Desse modo, todos os dramas e medos são colocados de uma forma tocante e impactante 
nesse longa-metragem que rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator para DiCaprio. 
 
Eu, Christiane F. 
Christiane F. é uma menina de somente 13 anos de idade, que começa a freqüentar uma boate 
nova na Alemanha. Sendo assim, a partir das influencias que ela tem, a menina passa a ver a 
sua vida se deteriorando aos poucos, com o uso excessivo de heroína, entre outras drogas, 
alem de cair na prostituição. É, portanto, um drama comovente, que mostra todas as nuances 
desse submundo. 
No link abaixo, você pode assistir a uma conversa sobre “Medicalização da 
Saúde”, com Naomar Almeida Filho. Acesse: 
https://www.youtube.com/watch?v=kF58rMxir2I 
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http://inpad.uniad.org.br/wp-content/uploads/2013/03/SDS_Maconha.pdf 
http://inpad.uniad.org.br/wp-content/uploads/2013/03/SDS_Coca.pdf 
 
 
 
179 
 
 
ANEXOS 
Inserir: TESTE DE FAGERSTRÖM 
Inserir: AUDIT – TESTE PARA IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS RELACIONADOS 
AO USO DE ÁLCOOL 
Cálculo do consumo de álcool: https://aps.bvs.br/apps/calculadoras/?page=8 
Inserir: Questionário ASSIST 
Inserir: Questionário ASSIST 2 
Inserir: Escala SDS – Maconha 
Inserir: Escala SDS – Cocaína 
Questionário Cage: https://sites.usp.br/acolhe/avalie-seu-consumo/questionario-cage/

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