Buscar

Apostila Dependencia Quimica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 179 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 179 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 179 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
2 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Aspectos Históricos, culturais e conceituais da dependência química ___________________4 
Neurobiologia ______________________________________________________________6 
Neuropsicologia e Dependência Quimica________________________________________14 
Etiologia, critérios diagnósticos e classificação____________________________________18 
Critérios diagnósticos e classificação___________________________________________21 
Comorbidades _____________________________________________________________26 
Principais comorbidades_____________________________________________________28 
Poliusuários _______________________________________________________________33 
Drogas lícitas: Álcool _______________________________________________________37 
Drogas lícitas: Nicotina ______________________________________________________43 
Drogas lícitas: Opióides _____________________________________________________49 
Drogas lícitas: Anfetaminas __________________________________________________55 
Drogas lícitas: Benzodiazepínicos, Ansiolíticos e Hipnóticos ________________________60 
Drogas lícitas: Anabolizantes_________________________________________________64 
Drogas ilícitas: Maconha, Haxixe e Skunk_______________________________________70 
Drogas ilícitas: Cocaína _____________________________________________________75 
Drogas ilícitas: Crack e similares ______________________________________________80 
3 
 
 
Drogas ilícitas: Alucinógenos _________________________________________________83 
Drogas ilícitas: Inalantes e outras drogas de abuso _________________________________87 
Construtos Cognitivos _______________________________________________________89 
Comprometimento da Atenção e Funções Executivas_______________________________94 
Comprometimento da Memória _______________________________________________97 
Comprometimento da praxia e visuo-construção __________________________________99 
Reabilitação Neuropsicológica e Dependência Quimica____________________________101 
Populações Especiais: Crianças e Adolescentes __________________________________103 
Populações Especiais: Mulher, Gestante e Perinatal ______________________________112 
Populações Especiais: Idosos ________________________________________________117 
Populações Especiais: LGBT e conseqüências do abuso____________________________121 
Populações Especiais: Minorias_______________________________________________124 
População em Situação de Rua: ______________________________________________125 
População Indígena: _______________________________________________________127 
População Carcerária: ______________________________________________________128 
Intervenção Breve: ________________________________________________________128 
Terapia de Grupo no Tratamento da Dependência Química ________________________134 
Prevenção a Recaída _______________________________________________________138 
4 
 
 
Terapia Familiar e Dependência Química_______________________________________142 
Grupo de Apoio (Paciente e Família) __________________________________________146 
Redução de Danos _________________________________________________________148 
Papel das equipes multidisciplinares no tratamento da Dependência Química 
________________________________________________________________________151 
Políticas Públicas para a dependência Química e Lei Orgânica ______________________154 
Organização do serviço no tratamento da Dependência Química ____________________158 
Dispositivos de Atenção Psicossocial __________________________________________162 
Comunidades Terapêuticas e Residências Assistidas ______________________________165 
Suicídio e Dependência Química _____________________________________________168 
Fatores de Proteção e Risco na Dependência Química _____________________________173 
Dicas de Filme ___________________________________________________________175 
Referências Bibliográficas _ _________________________________________________177 
Anexos _________________________________________________________________180 
 
 
 
 
5 
 
 
 
MÓDULO I – Aspectos Introdutórios da Dependência Quimica e 
Neuropsicologia 
Aspectos históricos, culturais e conceituais a dependência quimica 
“Toda forma de vício é ruim, não importa que seja droga, álcool ou idealismo.” 
Carl Jung 
 Pontos chaves 
 A história do uso das substâncias psicoativas de confundem com a história da própria humanidade. 
 Compreensão da dependência quimica como doença. 
 
 Vivemos em um mundo permeado de mudanças, com constantes avanços nas ciências 
humanas. A busca da compreensão por certos fenômenos datam idades remotas, no qual o 
olhar investigativo torna-se evidente frente aos fatos que o homem não compreende. É 
interessante destacar que na buscar do plano da compreensão acerca do ser humano e suas 
facetas, o contexto histórico- cultural do objeto que se pretende estudar ocupa lugar de 
destaque. 
 A partir das referências históricas, o fenômeno “uso de substâncias psicoativas” 
marcam seu espaço na história da humanidade, configurando sua presença nas relações 
humanas desde os tempos pré-históricos. 
 De acordo com uma revisão histórica publicada de décadas de pesquisas 
arqueológicas, o seres humanos em todo o mundo fizeram uso de substâncias psicoativas 
como o ópio, álcool e cogumelos alucinógenos desde o período pré-histórico, datando cerca 
de 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural cerca de 5 mil anos atrás. 
Observe que a relação homem-droga é bastante antiga e persistente. O álcool, segundo 
evidências arqueológicas, data sua existência entre 7000 a.C e 6600 a.C, a partir de resíduos 
da bebida (misto de arroz, mel, frutas fermentadas) encontrados em fragmentos de cerâmica 
de um vilarejo chinês. 
Quanto aos alucinógenos, resquícios de fósseis de cacto alucinógeno de São Pedro 
foram encontrados em uma caverna do Peru, entre o ano 8600 a.C e 5600 a.C. Sementes da 
6 
 
 
leguminosa Dermatophylum, forma encontradas na região do sul do Texas no período de 
1000 d.C. Pequenas esculturas de pedra chamada “pedra de cogumelo” foram encontradas na 
cidade Guatemala no México, com possível uso dos cogumelos alucinógenos em cerimônias 
religiosas. 
 Já o ópio, vestígios de fôsseis desta planta foram encontrados em um sítio 
arqueológico na Itália, por meados do sexto milênio a.C. Resquícios de cápsulas de semente 
de papoula e de Opiáceos foram localizados em ossos de esqueleto humano no quarto milênio 
a.C., com indícios de utilização em cerimônias religiosas. 
 Quanto ao tabaco, nota-se que os vestígios de sua existência foi evidenciada em 
cachimbos encontrados na Argentina, por cerca de 2000 a.C., pelos povos que ali habitavam 
neste período. Já a nicotina está presente na história da humanidade desde o período de 300 
a.C. 
 As evidências do uso das folhas de coca datam aproximadamente 8000 atrás, na região 
da América do Sul. Seus resquícios foram encontrados em restos dentários de humanos e em 
cabelo de múmias, o que indica que os povos que faziam uso desta planta, faziam através do 
processo de mascá-la. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota-se que o uso das substâncias 
psicoativas não é um evento novo no repertório humano, ele vem se entrelaçando ao longo da 
história da humanidade, permeadas pela cultura, religião, hábitos e costumes dos povos com 
finalidades específicas. Mas porque este fenômeno é tão Milenar? Podemos inferir que o 
homem sempre buscou através dos tempos, o aumento de seu prazer e a diminuição do 
O termo DROGA, é compreendido no 
ambiente cientifico, como qualquer 
substância capaz de alterar o 
funcionamento do organismo, 
resultando em mudanças fisiológicas e 
comportamentais, sejam elas nocivas 
ou medicinais. 
7 
 
 
sofrimento. O uso das drogas sempre esteve relacionado às questões que fazem parte da 
condição humana, prazer/dor, vida/morte,sofrimento/alívio trazendo a tona à fragilidade 
humana. Observa-se que através da evolução histórica do homem, é possível verificar que em 
cada época este ser apresenta uma maneira particular em lidar com esses elementos, bem 
como a forma de consumo das drogas. 
 
Mas enfim, o que vem a ser dependência quimica? 
 
É o impulso que leva a pessoa a usar droga de forma continua ou periódica, no qual o 
controle do consumo é precário, fazendo com que o dependente aja de forma impulsiva e 
repetitiva com evidentes prejuízos cognitivos, emocionais, sociais e familiares. A 
dependência é entendida como uma DOENÇA que envolve uma gama de fatores 
biopsicossociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neurobiologia 
“O vício não é uma escolha...” 
Dr. Gabor Maté 
 
 Pontos chaves 
 A compreensão da neurociência auxilia no entendimento da neurobiologia da dependência quimica. 
Você sabia... 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtorno Mental – DSM-V, os Transtornos por uso de 
Substâncias, consiste na presença de agrupamentos de 
sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos 
mediante ao uso continuo pelo indivíduo, onde o consumo 
em excesso da substância atua na ativação direta do sistema 
de recompensa do cérebro. Estes transtornos são divido em 
dois grupos: transtorno por uso de substância e transtorno 
induzidos por substâncias. 
8 
 
 
 O sistema de recompensa tem sido um dos fatores para entendimento do abuso das substâncias 
psicoativas. 
 De acordo com pesquisas recentes, as regiões pré-frontais são mais afetadas com o uso de substâncias 
psicoativas, apresentando intima ligação com processo de dependência. 
Compreender a dependência quimica é entender que está doença não está ligada 
apenas a fatores comportamentais e psico-sociais, mas com uma configuração perpassada por 
fatores genéticos e epigenéticos. Atualmente, os avanços científicos na área da dependência 
química permitem dizer que, assim como a ação do uso prolongado de substâncias com 
potencial de abuso no cérebro, aspectos sociais, culturais, educacionais e comportamentais 
têm papel central no desenvolvimento da síndrome de dependência. 
As bases neurobiológicas da dependência química têm recebido crescente atenção em 
inúmeras pesquisas, uma vez que um melhor entendimento dos mecanismos cerebrais ligados 
ao comportamento de dependência tem permitido a busca de tratamentos medicamentosos 
mais eficazes para o comportamento repetitivo de busca pela substância, assim como para a 
síndrome de abstinência. Porém a pouca compreensão das alterações bioquímicas que as 
substâncias de abuso promovem no cérebro humano, assim como da relação entre essas 
alterações cerebrais e comportamentais presentes na síndrome de dependência tem sido 
segundo a comunidade científica, alguns dos motivos que têm impedido o desenvolvimento 
de tratamentos farmacológicos mais efetivos para a os quadros de dependência quimica. 
Observa-se dentro desse contexto, que o sistema dopaminérgico, sobretudo as vias 
dopaminérgicas envolvidas nos circuitos motores, límbicos e cognitivos dos núcleos da base, 
tem-se apresentado como potencialmente envolvido em mecanismos que desempenhariam 
um papel central nas síndromes de dependência e abstinência (Almeida, Bressan & Lacerda, 
2011). 
Mas de fato, qual é o objetivo do estudo da neurobiologia dos transtornos 
relacionados ao uso de substâncias? 
Segundo a literatura cientifica atual, a neurobiologia busca compreender os 
mecanismos genéticos e epigenéticos, além dos mecanismos celulares e moleculares 
envolvidos na dependência de substâncias. Esses mecanismos podem mediar à transição entre 
o padrão de uso chamado “recreacional” e um padrão caracterizado por perda do controle, 
9 
 
 
bem como o comportamento de busca apesar de evidentes prejuízos em diferentes esferas, 
“fissura” e recaídas freqüentes, tipicamente descritos nos quadros de dependência. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
Observa-se 
que na compreensão da 
neurobiologia da 
dependência química o sistema cerebral de recompensa (SCR) tem ocupado papel central na 
tentativa de entendimento desse fenômeno multifacetado. Entende-se que o uso de substâncias 
psicoativas apresentam um mecanismo particular de ação no cérebro, cada droga tem seu 
mecanismo próprio de ação, e essa ação particular atua de forma direta ou indireta no sistema 
recompensa cerebral. 
Mas para que entendamos o sistema cerebral de recompensa, é de suma importância 
tecer uma linha de raciocínio e entendimento acerca dos mecanismos de ação das substâncias 
psicoativas. 
Então, o que é mecanismos de ação? Qual a importância desse entendimento 
para compreensão da dependência quimica? 
 Os mecanismos de ação são expressões utilizadas pela farmacologia, com intuito de 
delinear a interação bioquímica específica que determinada droga em uso produz como efeito 
A transição entre o padrão “recreativo” e a perda de 
controle envolve reprogramação de circuitos neuronais, 
nos quais os processos de motivação, os 
comportamentos de recompensa, a memória, o 
condicionamento, a habituação, o funcionamento 
executivo e o controle inibitório, bem como a resposta 
ao estresse sofre alterações. Sendo assim, essa transição 
é fortemente influenciada por fatores genéticos, de 
neurodesenvolvimento e ambientais, que poderão 
determinar o curso e a gravidade da dependência. 
 
10 
 
 
farmacológico. Em suma, o mecanismo de ação é o alvo molecular específico, uma enzima, 
um receptor em que a droga se conecta. Por exemplo, vejamos o mecanismo de ação do álcool 
na figura abaixo: 
 
Neurotransmissão glutamatérgica e GABAérgica 
Fonte: csmmse.wixsite.com/etanol/dependencia-tolerancia-e-abstinenci 
 Como observado na figura, o mecanismo de ação do etanol ocorre nos 
neurotransmissores GABA (ácido gama-aminobutírico) com efeitos inibitórios e no 
Glutamato – com feitos excitatórios, promovendo alterações simultâneas de inúmeras vias 
neuronais, deprimindo o sistema nervoso central, com profundo impacto neurológico e com 
repercussões no comportamento e cognição do dependente. 
 A partir do entendimento do mecanismo de ação, nota-se que a compreensão das bases 
biológicas no uso das substâncias psicoativas, a partir dos avanços científicos, tem 
evidenciado perspectivas promissoras para o entendimento das alterações neurobiológicas e 
seu desencadeamento nos aspectos fisiológicos, comportamentais e estados emocionais da 
condição que torna a dependência quimica tão complexa. 
 
 
C
omo já 
iniciado 
anterior
Você sabia... 
A quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtorno 
mental (DSM-V) pondera a premissa neurobiológica dos transtornos 
relacionados ao uso de substâncias – os critérios diagnósticos são 
embasados predominantemente em aspectos clínicos comportamentais. 
11 
 
 
mente, o sistema cerebral de recompensa, denominado por James Olds (1950, apud Ornell, 
Diemen & Kessler) como sistema mesolímbico-mesocortical, se projeta anatomicamente na 
área tegmental ventral (ATV) para o córtex frontal e estriado ventral (núcleo accumbens). É 
percebido que este sistema tem participação na busca de estímulos causadores de prazer. Por 
meio de reforço positivo, há o impulso de manter o prazer repetido vezes, criando-se uma 
memória específica. 
No abuso de substâncias psicoativas, os processos fisiológicos de recompensa se 
alteram, dando lugar para a instalação do ciclo de reforço negativo nas vias de gratificação 
cerebral. Embora cada substância tenha um mecanismo de ação particular no cérebro e 
diversos outros núcleos cerebrais serem afetada com o uso da substância, estas acarretam 
alterações no sistema de recompensa no cérebro. Portanto a ativação desta área, a priori está 
relacionada aos sentimentos de prazer reforçados por situações de potencial reforçador, e é 
intensificada como abuso de substâncias que poderão gerar o ciclo da repetição crônica da 
substância. 
 
Sistema de Recompensa Cerebral 
Fonte: http://aumagic.blogspot.com/2019/04/neurobiologia-mecanismos-de-reforco-e.html?m=1 
Segundo Quevedo e Izquierdo (2020) tal processo relatado acima, resulta no aumento 
direto ou indireto das concentrações de dopamina extracelular no sistema de recompensa, 
sobretudo no nucleus accumbens, estendendo-se para a amígdala e induzindo os estados 
excitatórios. A dopamina nesse contexto desempenha papel chave nos processos de 
aprendizagem e está associada a recompensas e a definição de eventos de potencial 
gratificante, onde os estímulos desencadeadores de prazer e sistema de recompensa ocorrem 
pela expressão de dopamina. O aumento de sua concentração sináptica em regiões especifica 
do cérebro está associado às sensações de prazer e bem estar desencadeada frente a certos 
comportamentos. 
12 
 
 
No uso das substâncias, observamos uma liberação bastante elevada da dopamina, 
com intensidade e duração excedente aquelas desencadeadas por reforçadores naturais, 
ocasionando um desequilíbrio entre os circuitos dopaminérgicos relacionados à recompensa. 
De acordo com certos estudos científicos, essa possível repetição crônica da atividade da 
dopamina no sistema de recompensa pode promover um desequilíbrio neuroquímico, 
conduzindo a uma homeostase alterada ao gerar neuoadaptação estruturais e funcionais 
permanentes a neuroplasticidade cerebral. 
 
 
 
Vimos que a dependência quimica é caracterizada por sintomas fisiológicos, 
comportamentais e cognitivos. Mas quais seriam as principais fases do transtorno relacionado 
à substância e suas alterações neurobiológicas? 
 Observamos que o uso da substância psicoativa gera um padrão patológico e mal 
adaptativo de uso, propiciando a continuidade do consumo mesmo na existência de sintomas 
negativos. 
Do ponto de vista clinico, percebemos que os elementos de impulsividade e 
compulsividade produzem ciclos que envolvem a compulsão em conseguir a usar a 
substância. Nota-se a perda de controle sobre o uso com evidente surgimento de sintomas 
Você sabia... 
Os autores Volkow e colaboradores sugerem a presença de 
diferenças marcantes em circuitos cerebrais nos pacientes com 
dependência quimica. O modelo proposto por eles é de que além 
dos circuitos de recompensa, os de memória, condicionamento, 
controle executivo e motivação estão envolvidos na dependência 
de sustâncias. 
13 
 
 
negativos quando o consumo não ocorre. Tais sintomas são: disforia, irritabilidade e 
ansiedade. Como conseqüência do uso agudo e impulsivo, o ato pode se tornar compulsivo e, 
assim, desenvolver o uso crônico, a fissura, a tolerância e a recaída. 
Este processo pode ser resumido na figura abaixo 
 
Neurocircuito e Neurotransmissores 
Fonte: Livro Neurobiologia dos transtornos psiquiátricos 
Observa-se na figura acima que o uso agudo e impulsivo passa por três fases, são elas: 
 Compulsão para busca e obtenção da substância, intoxicação e perda do controle sobre 
o consumo, no qual envolve principalmente a rede ventromedial e o sistema de 
recompensa; 
 Alteração clinica e estados emocionais negativos, quando limitado o acesso a 
substância. Envolve a rede da amígdala estendida e o sistema cerebral de estresse; 
 Preocupação e antecipação. Envolve rede de saliência e o sistema cognitivo. 
Na etapa de compulsão e intoxicação o sistema de recompensa corresponde à rede 
mesocorticolímbica, sendo dividida em dois subsistemas: mesolímbico e mesocortical. O 
sistema mesolímbico ativa o estriado envolvendo o septo, a amígdala e o hipocampo, estando 
associados aos sistemas de gratificação, processos de antecipação e aprendizado de 
recompensas. Já o subsistema mesocortical, inclui além do estriado, o córtex pré-frontal 
medial, giro do cigulo, córtex orbitofrontral e córtex perirrinal. Embora essas áreas estejam 
14 
 
 
associadas às funções executivas, elas possuem papel importante no processamento da 
recompensa quanto no planejamento do comportamento aprendido e direcionado a metas. 
 Nota-se que a exposição do indivíduo repetidamente gera a construção do reforço 
positivo. No abuso das substâncias o cérebro identifica as pistas ambientais associados ao uso 
da substância e as transforma em sinais preditivos de recompensa, causando sensação de 
gratificação mesmo ante de recebê-la (antecipação da recompensa). Com o pareamento dos 
sinais e recompensa, resultando em “Gatilhos”, quando ativados estimulam os neurônios 
dopaminérgicos a emitirem uma reposta frente ao estimulo exposto mesmo antes da 
recompensa ser suscitada. Essas respostas ficam gravadas no cérebro modificando o 
comportamento do indivíduo mesmo após a interrupção do efeito da substância. O 
armazenamento destas repostas ocorrem devido a duas classes de mecanismos moleculares, 
adaptações homeostáticas (papel na tolerância, dependência e na abstinência da substância) e 
aprendizado associativo (papel relacionado na recaídas). 
 Na etapa de abstinência e disforia, podemos entender que a supressão dopaminérgica 
e exposição crônica a picos elevados de dopamina reduzem a ativação da serotonina, 
aumentando assim o sistema cerebral de estresse por meio dos hormônios. Com a progressão 
da abstinência, outros hormônios relacionados ao estresse são recrutados ocasionando 
sintomas como angústia, disforia, insatisfação e anedonia. Nota-se que quando o individuo 
torna-se abstinente por um período, a disforia induz o comportamento de busca da 
recompensa a fim de amenizar os efeitos causados pela privação da substância. Assim, um 
indivíduo que fazia uso da substância na busca da euforia, nessa etapa buscará o alívio da 
disforia, reforçando a dependência do uso. 
 Na terceira etapa preocupação, antecipação e fissura, vemos que o comportamento 
aprendido, tanto pela sensação agradável como pela sensação desagradável, é totalmente 
esperado no transtorno de substâncias. Nessa etapa, a saliência ao estimulo pareado no uso da 
substância se intensifica exigindo recursos de controle no processo de tomada de decisão, no 
qual o mecanismo neurobiológico gera um sistema de “vá/não vá” em busca da recompensa. 
Veja que esse sistema influência intimamente as funções cognitivas, como direcionamento de 
metas e flexibilidade cognitiva. A partir desse exposto, notamos que as alterações cerebrais 
ocasionadas pelo uso de substâncias resultam não apenas na intensificação do desejo de usar 
(fissura), mas também na capacidade do individuo resistir à tentação, gerando um novo 
episódio de compulsão e intoxicação, iniciando assim o ciclo do transtorno relacionado ao uso 
de substâncias. 
15 
 
 
Vimos neste tópico de estudo, à introdução da neurobiologia dos transtornos de uso de 
sustâncias psicoativas, a fim de elucidar pontos importantes para a compreensão deste 
fenômeno complexo e multifacetado. Tais informações sobre os efeitos neurobiológicos e 
potenciais mecanismos fisiopatológicos da dependência química, nos trazem reflexões 
importantes acerca das esferas enigmáticas dos sistemas cerebrais que ocorrem na 
dependência quimica e sua repercução na vida e funcionalidade do sujeito. É importante 
destacar que o período pré-mórbido presente nos usuários crônicos de substâncias é 
considerado uma predisposição do sujeito para o uso. Tentar compreender a dependência 
quimica é manter o olhar no individuo em sua forma biopsicossocial respeitando as dinâmicas 
envolvidas na inter-relação desses aspectos. 
 
Neuropsicologia e Dependência Química 
“Um homem pinta com seu cérebro, não com suas mãos” 
Michelangelo Buonarroti 
 Pontos chaves 
 Compreensão da importância da avaliação neuropsicológica na dependência quimica. 
 O uso de substâncias psicoativas altera o funcionamento cognitivo. 
 Os comprometimentos cognitivos parecem interferir na adesão ao tratamento.Como já discorrido anteriormente o transtorno por uso substâncias é entendido como 
uma doença crônica que afeta as funções cognitivas com repercuções na funcionalidade e 
adesão ao tratamento. Compreender os aspectos de comprometimento neuropsicológico pode 
auxiliar na construção de recursos para um tratamento mais eficaz e individualizado, 
contemplando as limitações e potencialidades cognitivas apresentadas pelo dependente 
químico. Nesta perspectiva a Neuropsicologia surge com objetivo de estabelecer relações 
entre o cérebro e comportamento humano, por meio de processos cerebrais que podem se 
observados direta ou indiretamente. 
Pode-se observar que ao longo da história da humanidade, o homem vem tecendo 
estudos na tentativa de explicar os processos cerebrais. Na antigüidade clássica, Hipócrates 
(século V a.C.) já se referia ao cérebro como o órgão do intelecto. Galeno, no século II a.C., 
em seus estudos, enfatizou que o encéfalo era formado de duas partes: o cerebrum, 
16 
 
 
relacionado às sensações, e o cerebellum, relacionado ao controle dos músculos, sendo que os 
nervos eram condutos que levavam os líquidos vitais ou humores, permitindo que as 
sensações fossem registradas e os movimentos iniciados. 
Já Descartes, referia-se à glândula pineal como centro da alma. Gall, ao final do século 
XVIII, discorreu que as faculdades humanas estariam localizadas em diferentes órgãos e 
centros cerebrais e que as atividades intelectuais estariam situadas nos dois hemisférios 
cerebrais. Com isso, surgiu a base da frenologia e da corrente localizacionista. 
Broca, em 1861, em seus estudos observou que um paciente com hemiplegia à direita 
era capaz de compreender a linguagem falada, porém produzia apenas uma única palavra 
desprovida de significado. As publicações de Wernicke, em 1874, mostraram que lesões nas 
porções posteriores da região temporal superior provocavam alterações de linguagem, sendo 
um tipo de afasia na qual a compreensão estava prejudicada. 
No século XX, Luria desempenhou importante papel para o desenvolvimento da 
Neuropsicologia, no estudo das funções cognitivas, além do trabalho em conjunto com 
Vygotsky, em relação aos mecanismos cerebrais envolvidos e desenvolvidos com a educação 
formal, assunto que é estudado até os dias atuais. 
Mas, então... o que é Neuropsicologia? 
Atualmente, a Neuropsicologia é um campo intermediário entre as neurociências e as 
ciências do comportamento, desenvolvido a partir da neurologia e da psicologia. Nota-se que 
com o constante avanço tecnológico dos exames de neuroimagem permitiu que a investigação 
neuropsicológica contribuísse para o entendimento das relações de complexibilidade entre as 
estruturas cerebrais e o comportamento. 
Com a expansão do conhecimento, e o avanço nas pesquisas científicas, a 
Neuropsicologia nas últimas décadas vem sendo mais conhecida no cenário da sociedade. Por 
ser uma interface dentro neurociência e psicologia, podemos ver os seguintes campos de 
atuação do profissional psicólogo: clinica, hospitais, pesquisa e docência, centro de 
reabilitações, juizados, e áreas onde há a busca do entendimento da entre o cérebro e o 
comportamento e suas repercussões na vida das pessoas. 
17 
 
 
 Observa-se que o Neuropsicólogo busca o entendimento das relações dos 
processos cerebrais/comportamento através do método de avaliação, investigação de 
hipóteses, para assim desenvolver um plano de tratamento para o paciente. Mas qual seu 
objeto de estudo? Quais os domínios cognitivos avaliados pelo Neuropsicólogo? 
 O Neuropsicólogo debruça seus estudos na compreensão da cognição humana. A 
cognição é a expressão de um conjunto de processos cerebrais complexos, responsáveis pela 
elaboração do conhecimento que o ser humano adquire e necessita ao longo de seu 
desenvolvimento. Dessa forma, estamos falando sobre funções cerebrais, das quais podemos 
destacar a atenção, a memória, a linguagem, as funções executivas, as funções visuoespaciais 
e praxias e a percepção. 
As funções cognitivas são habilidades desempenhadas em várias áreas cerebrais, que 
trabalham de forma cooperativa por meio de vias de conexão neuronal. De forma, serão 
destacadas algumas funções. 
A atenção é a capacidade pelos quais o organismo se torna receptivo aos estímulos 
internos e externos. Proporciona habilidades que orientam o organismo a mudar o estímulo, 
trocar o foco e/ou sustentá-lo, inibindo estímulos internos. Este constructo tem um papel 
fundamental na realização das nossas atividades diárias, tendo a dependência do interesse e a 
necessidade da realização de determinada tarefa, como caracteriza primordial. 
A memória consiste na capacidade de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e 
recuperar (evocação) informações. A memória não é um sistema único e se divide em dois 
tipos: memória de curto prazo (ou operacional) e memória de longo prazo. 
As funções executivas permitem ao homem desempenhar, de forma independente e 
autônoma, atividades dirigidas a um objetivo específico de estreita relação com o 
comportamento humano. Essas funções englobam ações complexas que dependem da 
integridade de vários processos cognitivos, emocionais, motivacionais e volitivos, os quais 
estão intimamente associados ao funcionamento dos lobos frontais. Desse modo, as funções 
executivas abarcam processos como planejamento, controle inibitório, tomada de decisões, 
flexibilidade cognitiva, memória operacional, que categorização, fluência e criatividade. 
18 
 
 
Avaliação Neuropsicológica consiste em um 
processo investigativo, sob a perspectiva quantitativa e 
qualitativa, que por meio de ferramentas padronizadas 
(de acordo com o SATEPSI), testes neuropsicológicos 
com evidências de validade na comunidade científica, 
observação clinica, entrevista e anamnese, visa investigar 
a relação entre o funcionamento cerebral e o 
comportamento do sujeito que está sendo avaliado. 
A Praxia é a habilidade de idealizar e executar um ato motor normalmente gestual, 
tratando-se do componente cognitivo do comportamento motor. A percepção é a capacidade 
de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos 
órgãos sensoriais. Já a linguagem é definida através dos processos biológicos e sociais, que 
exprimem seu caráter essencial de favorecer a adaptação do individuo ao meio. 
A partir do entendimento dos constructos cognitivos, iremos entender o conceito da 
avaliação neuropsicológica, que segue logo abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto 
a avaliação neuropsicológica no 
contexto da dependência quimica, busca identificar déficits 
cognitivos, extensão e gravidade, bem como as funções que se encontram preservadas. O 
conhecimento das alterações cognitivas decorrentes do uso de substâncias é fundamental para 
o entendimento do processo de dependência desses indivíduos. Visto que as substâncias 
psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o cérebro, alterando de alguma maneira o 
psiquismo. Com isso, pode-se observar em usuários de substâncias o aparecimento de 
comportamentos inadequados ou ineficientes com a manifestação de prejuízos no 
funcionamento. 
 Nota-se que o estudo nessa área é um desafio, visto que existem diversas dificuldades 
metodológicas para a realização de pesquisas nessa área, como as variáveis do tipo de testes 
neuropsicológicos utilizados, intervalo entre a última vez que a substância psicoativa foi 
19 
 
 
consumida e o momento da avaliação, efeitos do uso de outras substâncias, presença de 
Comorbidades psiquiátricas e tempo e intensidade do uso da substância. 
 Pesquisas cientificas relatam, que o uso das drogas podem alterar o funcionamento 
cognitivo, com repercução na eficácia da proposta de tratamento, visto que as funções mais 
comprometidos no uso referem-se as funções executivas. As alterações nesse domino 
cognitivo denotam incapacidade para utilizar conhecimentosespecíficos em uma ação 
apropriada, dificuldade de mudar de um conceito para o outro e alterar um comportamento 
depois de iniciado, dificuldade em integrar detalhes isolados e de manipular informações 
simultâneas. 
Sendo assim a identificação precoce das alterações cognitivas possibilita o aumento 
das chances de adequar uma intervenção ao dependente químico. Além disso, auxilia no 
complemento do diagnóstico, esclarecendo possíveis dificuldades que o indivíduo possa 
enfrentar para se manter abstinente ou evitar uma recaída. 
 
 
MÓDULO II– Diagnóstico e classificação dos transtornos relacionados ao 
uso de substâncias. 
 Etiologia, critérios diagnósticos e classificação 
 
“O diagnóstico não é o fim, mas o começo da prática” 
Martim H. Fischer 
 Pontos chaves 
 Os modelos etiológicos existentes são teorias com embasamento científico que objetivam a busca da 
compreensão dos motivos e da manutenção do uso das substâncias psicoativa; 
 Devido à complexibilidade da dependência quimica, não existe um modelo etiológico que consiga por 
si só abarcar a dinamicidade dos aspetos que compõem a dependência de sustâncias psicoativas; 
 A característica essencial do transtorno por uso de substância consiste na presença de um agrupamento 
de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo pelo indivíduo, 
mesmo mediante ao comprometimento significativo relacionado a uso da substância; 
 A triagem, ou rastreamento sobre o consumo de drogas deve incluir uma investigação sobre o padrão 
consumo, assim como uma avaliação de sua gravidade. 
 
 
20 
 
 
Os modelos etiológicos são teorias com fundamento científico, construídas com 
propósito de explicar e orientar as observações dos autores sobre o fenômeno da 
dependência química, com certa predição deste fenômeno para assim fundamentar as 
intervenções, na tentativa de explicar os motivos do primeiro episódio de consumo, da 
permanência do uso ocasional, da manutenção de uso, do surgimento de padrão de uso 
nocivo, e por fim a compreensão do surgimento da dependência. 
Dentre os modelos etiológicos, podemos destacar: modelo moral, modelo de 
temperança, modelo de degenerescência neurológica, modelo de aconselhamento 
confrontativo, modelos naturais, modelos biológicos, modelos psicológicos, modelos 
espirituais, modelo de saúde publica e ecletismo informado. 
Um dos primeiros modelos etiológicos foi o modelo moral criado na tentativa da 
sociedade contemporânea de entender e controlar o uso de substâncias psicoativas, 
enfatizando a escolha pessoal como fator de causa primordial. Nota-se que nesse modelo é 
uma reedição do pensamento acerca do uso excessivo do álcool desde a antiguidade 
clássica. 
No modelo de temperança a embriaguez era considerada uma doença, no qual 
gerava perda de controle e comprometimento do equilíbrio corporal. Nesse modelo a 
intensidade do consumo variava ao longo de um continuum de gravidade, na qual os 
problemas ocorriam ao longo do tempo. 
Já modelo de degenerescência neurológica, apresentou pensamentos 
revolucionários para época. O termo “alcoolismo” foi utilizado pela primeira, na 
sociedade, e sendo compreendido como uma doença de fato. Neste modelo havia pouca 
atenção para os aspectos comportamentos, o foco de tratamento era voltado para 
internações prolongadas e tratamentos físicos, como tônicos banhos a vapor e estimulação 
farádica até o uso de sanguessugas. 
O modelo de aconselhamento confrontativo defendia a idéia que o dependente era 
um indivíduo que recebera na vida muitas provisões sem aprender a compartilhar quando 
adulto. Desta forma, o método enfatizava convivência comunitária, hierarquizada entre os 
dependentes utilizando da terapia denominada “choque”, ou seja, uma confrontação 
agressiva como cerne da intervenção. 
21 
 
 
Os modelos naturais enfatizavam que o homem possui uma tendência inata e 
universal ao consumo de drogas, tendo como percepção do dependente, um sujeito fraco 
diante da sua incapacidade de se controlar, responsabilizando-o por suas escolhas e por 
seus excessos, com evidentes vieses sociais e culturais neste modelo. 
O olhar para o aspecto orgânico com enfoque nas alterações físicas e psíquicas da 
dependência quimica surge os modelos biológicos como fonte de estudo e compreensão da 
predisposição biológica para o desenvolvimento do uso indevido de substâncias 
psicoativas, considerando os estágios da dependência quimica. Dentro desse modelo surge 
o modelo constitucional e as explicações neurobiológicas e genéticas que trouxeram 
avanços incontestáveis para o entendimento atual da dependência química. 
Nos modelos psicológicos as teorias psicológicas estão focadas no individuo, bem 
como nos processos que os conduziram ao consumo desregrado das substancias 
psicoativas. Nesse modelo, a psicoterapia é uma das técnicas utilizadas com intuito de 
compreender a natureza e qualidade da experiência individual que aumentam a 
probabilidade e o risco do desenvolvimento da doença. Dentre as teorias psicológicas 
abarcadas dentro desse modelo se destacam: o modelo caracteriológico e determinista, as 
explicações psicanalíticas, a teoria sistêmica, teorias comportamentais e a teoria 
cognitivo-comportamental. 
Já os modelos sociais são embasados pelo referencial teórico da terapia cognitivo-
comportamental, bem como no treino das habilidades sociais. Dentro desse modelo temos 
a teoria de controle social como outra vertente existente. 
No modelo espiritual a espiritualidade é uma característica única e responsável 
pela ligação do individuo com o universo e com os outros, estando para além da religião e 
religiosidade. Este modelo propõe que há uma possível influência positiva da 
espiritualidade na recuperação dos dependentes químicos. Principais exemplos são os 
Alcoólicos Anônimos (AA) e congêneros. 
O modelo de saúde pública correlaciona a interação entre sujeito, ambiente e 
substância psicoativa, visando à explicação do fenômeno da dependência química. 
Observa-se a construção de uma inter-relação dos aspectos de aprendizado social, controle 
social, psicológicos, estados biológicos e espirituais do individuo com intuito de entender 
a suscetibilidade ao uso e o processo de evolução do consumo. 
22 
 
 
E por fim, o modelo ecletismo informado assim como o modelo de saúde pública 
reúne os fatores biológicos, psicológicos, sociais e da própria substância envolvidos na 
gênese do uso indevido das drogas. Esse modelo entende que cada indivíduo requer uma 
abordagem especialmente desenhada e que leve e consideração seu estágio de tratamento 
e suas idiossincrasias. 
Critérios diagnósticos e classificação 
 Segundo Marque (2017): 
 “Qualquer avaliação inicial em saúde tem como objetivo coletar dados do indivíduo 
para identificá-lo social, demográfica e economicamente, pesquisar sobre seu estado 
de saúde e suas possíveis alterações, investigar a sua história clínica, seus 
antecedentes familiares e, então, desenvolver a hipótese diagnóstica e planejar seu 
cuidado”. (pg. 83) 
 Para se realizar uma avaliação com triagem específica no uso, abuso e dependência de 
substâncias psicoativas existem algumas considerações a serem adotadas pelos profissionais 
de saúde na execução do processo de triagem, são elas: 
 Não há uso seguro de drogas psicoativas; 
 O uso nocivo e a dependência de álcool e outras drogas são poucos diagnosticados; 
 As complicações clínicas ocorrem com maior freqüência; 
 A demora do diagnóstico impacta negativamente no prognóstico; 
 Evidente deficiência na formação e conhecimento dos profissionais que atual na área. 
Nota-se que a entrevista inicial deve ser conduzida de fora clara, simples, breve, 
flexível e ampla, e apenas ao final focar os hábitos do indivíduo em relação ao seu uso ou 
abuso de substâncias psicoativas. Na entrevista inicial os instrumentos como escalas e 
questionários podem ser utilizadosa fim de contribuírem para a construção do diagnóstico 
clínico, e corroborarem na consistência da intervenção implementada com possíveis melhoras 
a adesão no tratamento. 
Nos serviços especializados, assim como o diagnóstico das complicações, 
comorbidade psiquiátricas, a avaliação terá um enfoque mais aprofundado, pois a 
complexibilidade do diagnóstico propõe maior elucidação dos aspectos clínicos para se 
estabelecer a construção de um tratamento adequado e eficaz. 
23 
 
 
Observa-se, que de acordo com a literatura cientifica atual, existe uma freqüência de 
sintomas que são considerados sinalizadores do uso problemático de drogas psicoativas, 
observados ao longo da história do problema atual e durante o exame psíquico (história do 
problema até queixa atual –anamnese completa), logo após o exame físico, realizado por um 
médico especialista. É de suma importância dar enfoque na pesquisa sobre o inicio do uso e 
outros eventos correlacionados, a saber, o último uso, quantidade, vias de administração da 
substância psicoativa, ambiente, etc. 
 
Se Liga!!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota- se que além dos 
sintomas relatados acima, há o 
esquadrilhamento dos 
sintomas físicos observados 
durante o exame físico 
realizado pelo médico especialista 
em álcool e outras drogas, são 
eles: 
 Tremor leve – sugestivo de uso de diferentes substâncias; 
 Pressão arterial lábil – sugestiva de síndrome de abstinência de alcool, nicotina, 
cocaína; 
SINTOMAS SINALIZADORES: 
 
 Distúrbio do sono; 
 Depressão; 
 Ansiedade; 
 Humor Instável; 
 Irritabilidade exagerada; 
 Disfunção sexual; 
 Problemas gastrintestinais; 
 Alterações da pressão arterial; 
 História de traumas e acidentes 
freqüentes; 
 Alterações da memória e da percepção 
da realidade; 
 Faltas freqüentes no trabalho ou na 
escola ou diante de compromissos 
24 
 
 
 Taquicardia e/ou arritmia cardíaca – uso de estimulantes ou síndrome de abstinência; 
 Aumento do fígado; 
 Irritação das conjuntivas – sugestiva de uso de maconha, crack, álcool, nicotina; 
 Irritação nasal; 
 Odor de álcool; 
 Odor de maconha ou nicotina nas roupas; 
 “Síndrome da higiene bucal”, disfarce do odor de álcool ou tabaco. 
 Uso freqüente de colírio ocular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dentro dessa 
perspectiva, se o indivíduo 
se mantiver colaborativo, com a percepção que um novo processo se inicia, o diagnóstico 
relacionado ao uso de drogas psicoativas poderá ser mais bem realizado. 
Você sabia... 
Oito etapas a ser seguida na apresentação do 
Diagnóstico para o paciente: 
1. Clareza dos critérios positivos e /ou 
negativos; 
2. Explicação do método adotado; 
3. Enfatizar que o problema não é culpa do 
individuo; 
4. Definir com o individuo a responsabilidade 
da etapa seguinte; 
5. Apresentar o plano de tratamento mínimo 
ou encaminhamento; 
6. Sugerir participação familiar no 
tratamento; 
7. Planejamento do retorno; 
8. Rastrear os problemas relacionados ao uso 
das drogas. 
25 
 
 
Outro fator importante a se manter durante a entrevista é o estabelecimento de um 
vinculo com o individuo, a fim de facilitar a colaboração do individuo, a adesão e efetividade 
ao tratamento. Lembre-se que para cada indivíduo, haverá a construção de um plano 
terapêutico único e individualizado, conhecido com Plano Terapêutico Singular, compatível 
com o grau de sua problemática. 
Segundo a OMS, o abuso ou a dependência de substancias é entendida como um uso 
nocivo como “um padrão de uso de substâncias psicoativas e psicotrópicas que esteja 
causando dano à saúde.” (Marques, 2017) 
Segundo o CID-10, os critérios para o uso nocivo das substâncias psicoativas são: 
 
 
 
 
 
 
 
 
J
á de 
acordo 
com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V) o diagnóstico de 
um transtorno por uso de substância baseia-se em um padrão patológico de comportamento 
relacionado ao uso, levando a comprometimentos ou sofrimentos clinicamente significativos, 
manifestados pelo menos dois critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses. Podem 
apresentar uma gama de a gravidade, desde leve a grave. Uma gravidade leve sugere a 
presença de dois a três sintomas; moderado, por quatro ou cinco sintomas; e grave por seis ou 
mais sintomas. A síndrome de abstinência (critério 11) ocorre quando as concentrações de 
uma substância no sangue ou tecidos diminuem em um individuo que manteve uso intenso 
 O diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado à saúde 
física e mental do usuário; 
 Presença de intoxicação aguda ou a “ressaca” não são evidências 
suficientes do dano a saúde requerida para codificar uso nocivo; 
 Padrões nocivos de uso são com freqüência criticada por outras 
pessoas e estão associados às conseqüências sociais diversas, não são 
suficientes para evidenciar o uso nocivo; 
 O uso nocivo não deve ser diagnosticado se a síndrome de 
dependência, um transtorno psicótico ou outra fora específica de 
transtorno relacionado ao uso de drogas ou álcool estiverem presentes. 
26 
 
 
prolongado, no qual o sujeito busca consumir a substância para aliviar os sintomas da 
abstinência. 
A fim de melhor organizar os critérios diagnósticos propostos pelo DSM V, segue a 
tabela abaixo: 
 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DOS TRANSTORNOS RELACIONADOS A USO DE SUBSTÂNCIA – DSM V 
Critério A Baixo controle, deterioração social, uso arriscado e critérios farmacológicos 
Critério 1 Substância consumida em quantidades maiores, ou por um tempo mais longo do 
que pretendido. 
Critério 2 Desejo persistente de reduzir ou regular o uso da substância com esforços 
malsucedidos. 
Critério 3 Muito tempo gasto para obter a substância ou na recuperação de seus efeitos. 
Critério 4 Fissura ou forte desejo em usar a substância. 
Critério 5 Uso recorrente da substância pode resultar no fracasso em cumprir obrigações no 
trabalho, escola ou no lar. 
Critério 6 Mesmo mediante os prejuízos sociais e interpessoais persistentes, a continuidade do 
uso da substância é mantida. 
Critério 7 Abandono ou redução de atividades profissionais, sociais ou recreativas por conta 
do uso da substância. 
Critério 8 Uso recorrente da substância em situações que apresentam perigo para integridade 
física do indivíduo. 
Critério 9 Uso mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico 
persistente ou recorrente, que tende a ser causado pelo uso da substância. 
Critério 10 Tolerância definida pelos seguintes aspectos: 
a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores para alcançar o 
efeito desejado; 
b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma 
quantidade da substância. 
Critério 11 Abstinência manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: 
27 
 
 
a. Síndrome de abstinência característica do uso da substância de acordo 
com os critérios propostos pelo DSM V para a síndrome de abstinência 
de cada substancia usada; 
b. Substância utilizada para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 
É importante ressaltar que a dependência de substâncias é um fenômeno que se 
caracteriza por padrões diferenciados de consumo. Pacientes dependentes químicos podem 
apresentar diversos graus de consumo, desde um consumo que no momento não gere 
prejuízos evidentes, passando por níveis que afetam determinados contextos da vida do 
indivíduo, até chegar a padrões que prejudicam intensamente sua vida, o que podemos 
considerar um nível grave de dependência. Mesmo o paciente tratado e em determinado 
momento “abstinente” do uso de determinada substância ainda é dependente químico, embora 
não esteja dependente de uma substância específica naquele exato momento. 
A equipe que acompanha o dependente químico, deve estar atento a esse padrão de 
consumo, a partir dessa observação elaborar um plano de tratamento que atenda às 
necessidades específicas daquele paciente e não utilizar um modeloque chamamos de 
tamanho único. Devem-se evitar posições radicais, não diagnosticando o paciente à luz dos 
critérios diagnósticos puramente, mas compreendendo os sistemas diagnósticos à luz do 
paciente que temos à nossa frente e de sua história, pois a partir desse olhar, o planejamento 
do tratamento será orientado de forma singular a partir das hipóteses levantadas. 
 
Comorbidades Psiquiátricas 
“Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou fazer um castelo…” 
Fernando Pessoa 
 
 Pontos chaves 
 Comorbidade compreendida como a incidência de duas patologias durante o mesmo curso do 
adoecimento; 
 Teorias desenvolvidas objetivando com intuito de explicar a co-ocorrência dos transtornos relacionados 
ao uso de substâncias e dos transtornos mentais; 
 Complexidade na construção do diagnóstico entre duas patologias, devido à inespecificidade dos 
sintomas ou o fato de ser comum tanto para o quadro produzido pela substância (ou pela falta dela) 
quanto para um quadro primário. 
28 
 
 
 
 Comorbidade é compreendida como a ocorrência de uma patologia qualquer em um 
individuo já portador de outra doença, com potencialização recíproca entre elas, apresentando 
capacidade em alterar a sintomatologia, interferindo no diagnóstico, tratamento e prognóstico 
da primeira doença. 
 No que se refere aos transtornos mentais, o consumo de substâncias psicoativas 
aumentam a chance do surgimento de outros transtornos, podendo mimetizar, atenuar ou 
piorar os sintomas físicos, cognitivos, emocionais ou comportamentais de outros transtornos 
psiquiatricos, tecendo assim certa complexibilidade na construção do diagnóstico. 
 Vista a complexidade na compreensão do surgimento da doença secundária 
(comorbidade) ou das associações entre duas doenças, ou seja, na tentativa em explicar os 
principais transtornos associados ao consumo de substância e o impacto dos quadros 
comorbidos, foram desenvolvidas varias teorias objetivando os principais motivos pelos quais 
o uso de drogas e dos transtornos mentais geralmente co-ocorrem. 
 Dentre as teorias criadas, temos as seguintes: 
 
 
 
 
 
 
Na Hipótese da etiologia comum, o transtorno primário e o comórbido seriam 
apresentações da mesma doença em formas e estágios diferentes resultantes de fatores 
extrínsecos e intrínsecos associados a uma predisposição genética. 
Já na Hipótese bidirecional, a presença de um determinado transtorno resultaria no 
surgimento de outro, ambos se influenciando durante seus cursos. O surgimento do primeiro 
transtorno causaria fragilidades (vulnerabilidades), facilitando o surgimento do segundo. 
 Hipótese da etiologia comum; 
 Hipótese bidirecional; 
 Hipótese do uso de substâncias secundário ao transtorno psiquiátrico; 
 Hipótese do transtorno psiquiátrico secundário ao do uso de substâncias. 
29 
 
 
Na Hipótese do uso de substâncias secundário ao transtorno psiquiátrico, a condição 
psiquiátrica causaria sofrimentos que seriam atenuados pelo uso de substâncias, na tentativa 
de produzir melhoras nos sintomas apresentado pelo transtorno psiquiátrico. 
Observa-se que na Hipótese do transtorno psiquiátrico secundário ao do uso de 
substâncias, relata que o consumo da substância antecede o surgimento da doença 
psiquiátrica. 
Principais Comorbidades associadas 
Esquizofrenia 
Segundo a Classificação internacional de doenças – 10º edição (CID-10), esse 
transtorno é caracterizado por distorções do pensamento e da percepção, sem mudanças do 
nível de consciência, e pela presença de afeto embotado ou inadequado. Inicialmente, não 
ocorrem alterações intelectuais, mas estas podem surgir no decorrer da evolução da doença. 
A esquizofrenia é uma patologia complexa, crônica e com dificuldades de tratamento 
próprias, que são exacerbadas quando associadas a quadros de consumo abusivo/dependência 
de substâncias, ocasionando piora na evolução em comparação com pacientes que não 
apresentam tal comorbidade. 
Nota-se que o uso de substâncias associados à esquizofrenia, pode estar atrelados Na 
tentativa de minimizar os sintomas da doença e os efeitos colaterais dos remédios utilizados; 
em pacientes suscetíveis, o consumo abusivo de substâncias propiciaria o surgimento da 
patologia ainda não desperta; ou, por fim, não existiria relação causal entre estas, mas uma 
coincidência no surgimento dos dois transtornos por apresentarem semelhanças quanto à 
idade de instalação e à prevalência. 
Depressão 
 Segundo a CID-10 são caracterizado por humor deprimido, perda do interesse e do 
prazer e energia reduzida, que resulta em diminuição de atividade, em virtude de maior 
fatigabilidade. Outros sintomas importantes são: 
1. Redução da concentração e da atenção; 
2. Redução da autoconfiança e da autoestima; 
30 
 
 
3. Idéias de inutilidade e culpa pessimismo acerca do futuro; 
4. Idéias que podem levar a atos autolesivos ou ao suicídio; 
5. Alteração de sono; 
6. Apetite diminuído. 
O diagnóstico é feito com a sintomatologia apresentada, envolvendo dois dos sintomas 
principais e pelo menos dois dos seis itens anteriores por um período mínimo de duas 
semanas. 
Observa-se que a droga mais freqüentemente associada ao quadro depressivo é o álcool. 
Em geral, a depressão antecede o surgimento da dependência do álcool, principalmente em 
mulheres, porém, na maioria das vezes, é muito difícil determinar o transtorno primário e o 
secundário, visto que há interferência entre os transtornos depois de instalada a comorbidade. 
A importância do diagnóstico está em determinar se os sintomas apresentados pelo paciente 
fazem parte da depressão ou se estão relacionados com o consumo de álcool. É necessária 
abstinência de pelo menos duas semanas para que seja realizado o diagnóstico, quando, então, 
os sintomas podem persistir ou haver remissão total do quadro depressivo, mesmo sem a 
utilização de antidepressivos. 
Transtorno bipolar 
O transtorno afetivo bipolar é caracterizado por repetidos episódios de perturbação do 
humor e dos níveis de atividade, que ocasionalmente estarão relacionados com o aumento da 
atividade e da energia e com a elevação do humor e, outras vezes, apresentarão redução de 
energia e atividade com humor rebaixado. A recuperação entre os episódios é completa e tem 
incidência igual para ambos os sexos, podendo ocorrer em qualquer idade, de crianças até 
idosos. Os episódios depressivos tendem a durar por volta de seis meses e os quadros de 
mania duas semanas a quatro meses. 
O Transtorno Bipolar do humor costuma ser associado ao consumo de drogas/álcool 
com piora no prognóstico, com maior número de episódios e internações, sendo estas mais 
prolongadas, além de levar à maior risco de suicídio. 
No consumo de cocaína há produção de sintomas semelhantes aos dos quadros de 
hipomania/mania, como agitação, disforia, aumento de energia, pensamento acelerado e 
grandiosidade, que, contudo, ficam limitados à ação da droga e surgem após consumo recente. 
31 
 
 
Nota-se que as substâncias que estimulam o sistema nervoso central, possuem tendência em 
produzir, mimetizar e perpetuar um quadro maníaco. 
Já nos episódios depressivos, observa-se que o consumo de álcool pode aumentar em 
15%. Já nos quadros de mania, esse aumento pode ser ainda mais significativo, de cerca de 
25%, tornando o diagnóstico das doenças afetivas ainda mais difícil por apresentarem vários 
sintomas em comum com os quadros relacionados com a substância. 
Transtornos de ansiedade 
 Alguns estudos indicam que um terço dos alcoolistas apresenta um quadro 
significativo de ansiedade, com evidências de que 50 a 67% dos alcoolistas e 80% dos 
dependentes de outras drogas têm sintomas que se assemelham aos do transtorno de pânico, 
dos transtornos fóbicos ou do transtorno de ansiedade generalizada. 
Os quadros ansiosos são comumente associados aos transtornos por consumo de 
drogas. Essa estreita relação pode ser explicada pelo fato deas drogas psicoativas, de modo 
geral, causarem sintomas de ansiedade por intoxicação com drogas estimulantes do sistema 
nervoso central ou por um quadro de abstinência a depressores deste sistema. Outras drogas 
perturbadoras do funcionamento do sistema nervoso central, como a maconha, também 
podem produzir efeitos como ansiedade, com quadros de pânico transitório. 
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade 
 Esse grupo de transtornos caracteriza se por início precoce podendo ser feito na idade 
adulta, comportamento hiperativo, com desatenção marcante (julgadas com referência as 
normas apropriadas do desenvolvimento) e falta de envolvimento persistente nas tarefas, além 
de conduta invasiva nas situações e persistência na duração dessas características de 
comportamento. 
Pesquisas associando a esse transtorno e os usos de substâncias têm revelado alto grau 
de sobreposição e de comorbidade. Estudos prospectivos de crianças, cujos sintomas 
persistiram na adolescência e na idade adulta, têm demonstrado que estas estão em risco 
aumentado de consumo abusivo de substâncias, o qual se torna ainda maior se associado a 
Comorbidades com outras entidades psiquiátricas, como transtorno de personalidade 
antissocial. 
32 
 
 
 Ratto e Cordeiro (2018) relatam que cerca de 33% dos adultos com TDAH têm 
problemas relacionados com consumo abusivo/dependência de álcool e drogas, entre as quais 
a maconha é a mais comumente utilizada, seguida de estimulantes e cocaína. O consumo de 
álcool nessa população, segundo estudo recente, tem representativa prevalência: cerca de 38% 
das pessoas que apresentaram TDAH na infância. 
Transtornos de personalidade 
Segundo o CID-10, são perturbações graves da constituição caracterológica e das 
tendências comportamentais do indivíduo, ou padrões de comportamentos mal adaptativos e 
desvios significativos da norma cultural do modo de pensar, sentir, perceber e, 
particularmente, de se relacionar com os outros. Esses transtornos tendem a surgir no final da 
infância ou adolescência, mas o diagnóstico antes dos 16 ou 17 anos de idade talvez seja 
inapropriado. Dentre os transtornos de personalidade com maior prevalência durante no uso 
de substâncias, destacam-se o Transtorno de personalidade antissocial e transtorno de 
personalidade borderline. 
Nota-se que muitos estudos têm documentado a prevalência de transtornos de 
personalidade e uso de substâncias. A presença de um transtorno de personalidade pode 
modificar os sintomas apresentados, a resposta terapêutica e o curso da dependência. 
Transtornos alimentares 
Anorexia nervosa 
 É um transtorno caracterizado por determinada redução de peso, induzida e/ou 
mantida pelo paciente, mais comum em adolescentes e mulheres jovens. Sendo necessários os 
seguintes critérios para o diagnóstico desse transtorno: 
 O peso corporal é mantido 15% abaixo do ideal; 
 Autoimagem distorcida; 
 Ocorre um transtorno endocrinológico generalizado, com várias alterações 
manifestadas em mulheres, como amenorréia, e em homens, como diminuição de 
interesse e potência sexuais. 
Bulimia nervosa 
33 
 
 
É um quadro caracterizado por repetidos ataques de ingestão de grandes quantidades 
de alimentos com preocupação excessiva relacionado ao peso corporal. Pode ser seqüela da 
anorexia nervosa (mas o inverso também pode ocorrer) e sua incidência tende a ser 
semelhante quanto à idade e ao sexo, porém, é um pouco mais tardia. 
Os critérios diagnósticos para a bulimia nervosa são: 
 Preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de comida; 
 Para tentar neutralizar os efeitos de engorda dos alimentos, o paciente auto induz 
vômitos, abusa de purgante, tem períodos de inanição e utiliza drogas anorexígenas. 
No caso de pacientes diabéticos, observa-se a negligência no tratamento com a 
insulina; 
 Existe um medo acentuado em engordar, gerando um limiar de peso, estabelecido pelo 
próprio paciente, bem abaixo do que se consideraria saudável na opinião de um 
médico. 
Diagnóstico 
 Segundo Ratto e Cordeiro (2018) as dificuldades encontradas na realização do 
diagnóstico estão circunscritas a inespecificidade dos sintomas ou o fato de serem comuns 
tanto para o quadro produzido pela substância (ou pela falta dela) quanto para um quadro 
primário. Porém, um tratamento adequado só será possível após um diagnóstico mínimo. Para 
tanto, podem ser utilizados: anamnese e exames clínicos adequados, questionários 
padronizados, dados do prontuário e entrevistas aos profissionais que atendem ou atenderam o 
paciente, entrevistas familiares, análise de amostras de urina e cabelo. 
Por se tratar de uma população com diferente apresentação de sintomas e evolução, 
muitos dos tratamentos propostos para pacientes sem comorbidade se mostram impróprios 
para os que recebem esse diagnóstico. Muitos programas têm sido propostos para auxiliar na 
conscientização da necessidade de abstinência, adesão ao tratamento e reorganização de redes 
sociais. Existe uma gama de programas propostos para esses pacientes. Alguns serviços 
seguem o modelo dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos (AA) e outros oferecem lares 
abrigados, entre outras opções, porém, nenhum destes se mostrou superior. 
Nota-se que devido à complexibilidade do tema, alguns tópicos importantes devem ser 
observados durante a implementação da estratégia mais eficaz durante o tratamento: 
34 
 
 
 A abordagem deve ser integrada e com o uso de estratégias de manejo biopsicossocial; 
 Deve haver sinergismo, melhorando o quadro psíquico comum ao quadro de consumo 
abusivo de substâncias, e redução do risco de recaídas, melhorando a qualidade de 
vida. 
Segundo a Associação Brasileira de Estudos de álcool e outras drogas (ABEAD) a 
melhor abordagem no tratamento de pacientes com Comorbidades devem contemplar a 
integralidade, visando o tratamento em conjunto de ambas as patologias com abordagens que 
possam aumentar a adesão e programas psicoeducacionais para atendimento familiar. Deve-se 
levar em conta a interação do estágio de motivação para o tratamento do transtorno 
relacionado a uso de substâncias psicoativas e para outra patologia comórbida. Nota-se a 
importância da utilização de tratamento medicamentoso na fase de desintoxicação e fase 
inicial do tratamento, o uso de técnicas psicossociais e atendimento familiar e bem como o 
acompanhamento psiquiátrico. 
 
Poliusuários 
“A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”. 
Anônimo 
 
 Pontos chaves 
 O uso de mais de uma substância é REGRA para o conceito de policonsumo. 
 A associação de várias substâncias, seja simultânea ou seqüencial, pode produzir sinergia de seus 
efeitos e apresentações clínicas atípicas. 
 A compreensão do policonsumo auxilia no estabelecimento de intervenções terapêuticas adequadas. 
 
O policonsumo de substâncias psicoativas pode ser definido como o consumo 
concomitante ou consecutivo de diferentes drogas lícitas e/ou ilícitas. O uso de múltiplas 
substâncias é um padrão que atualmente se constitui mais em regra do que em exceção. A 
abrangência do termo permite, porém, que diferentes tipos de uso possam ser considerados 
nessa categoria. Dessa maneira, o poliuso de substâncias pode ser definido sob alguns 
35 
 
 
parâmetros, vistos a seguir. Padrão de poliuso simultâneo é o uso de duas ou mais substâncias 
em um intervalo de tempo curto o suficiente para que haja interação entre os diversos efeitos 
psicoativos. Nessa situação, os efeitos de uma substância podem atenuar os efeitos 
desagradáveis de outra, ou ainda prolongar o efeito de outra substância. 
Nota-se que o uso das substâncias normalmente inicia-se na adolescência, na qual os 
usos dessas substâncias costumam ser lícitas, a saber, álcool e tabaco. A evolução para 
poliuso na adolescência está associada, entre outros fatores, a dificuldades sociais e pouca 
continência familiar, podendo ser um fator indicativode maior gravidade e maior chance de 
desenvolvimento de dependência. Nessa fase ocorre o desenvolvimento neuronal do sistema 
límbico do córtex pré-frontal, com aprimoramento das funções executivas. O controle da 
impulsividade nessa fase é precário devido a um de desequilíbrio natural entre o 
desenvolvimento de vias inibitórias e estimulatórias. 
Um dos princípios mecanismos neurobiológicos da dependência envolve o lobo frontal 
e o sistema límbico, que tem seus circuitos neuronais alterados com a mediação 
principalmente dos neurotransmissores, tais como: dopamina, serotonina e norepinefrina. 
Sendo assim as substâncias podem ser classificada em três classes em relação a sua ação 
principal no sistema nervoso central: depressoras (álcool, sedativos, hipnóticos, solventes, 
opioides), estimulantes (nicotina, cocaína/crack, anfetaminas, anfetaminícos) e perturbadoras 
(maconha e outros canabinoides, anticolinérgicos, alucinógenos naturais e sintéticos). 
Nessa compreensão, podemos discorrer que a associação de substâncias da mesma 
classe produz sinergismo de seus efeitos, tanto na intoxicação quanto na exarcebação dos 
quadros de abstinência. Já a associação de classes diferentes pode produzir metabólicos ativos 
e tóxicos, alem de apresentações clínicas atípica. 
Uma pesquisa nacional realizada em 2015 com estudantes entre 13 e15 anos abordou 
componentes de riscos ente jovens. Os resultados mostraram que o percentual de jovens que 
já experimentaram bebidas alcoólicas subiu de 50,3% em 2012, para 55,5%, em 2015; já a 
taxa dos que dos que usaram drogas ilícitas aumenta de 7,3 para 9% no mesmo período. 
A associação Cocaína/crack e Álcool são bastante prevalentes. Na combinação da 
cocaína co o álcool os níveis plasmáticos de cocaína e norcocaína reduzem as concentrações 
de benzoilecgonina e induz a síntese de cocaetileno, que tem alta taxa de distribuição no 
cérebro/sangue, com meia vida plasmática 3 a 5 vezes maior do que a da cocaína. O 
36 
 
 
cocaetileno possibilita o aumento da duração dos efeitos de euforia, com maior dano renal, 
cardíaco e no sistema nervoso central. Além disso, os efeitos desagradáveis da abstinência 
recente de cocaína e crack, denominada crash, são atenuados pelos efeitos do álcool. 
A ação do cocaetileno sobre a inibição da recaptação de dopamina é mais intensa do 
que a de cocaína, assim como as ações serotonérgicas. Isso resulta na intensificação dos 
efeitos psicoativos quando cocaína e álcool são utilizados juntos. As ações do álcool 
envolvendo as vias dopaminérgicas, a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA 
principal neurotransmissor inibitório), o aumento da concentração de dopamina e endorfina 
no nucleus accumbens, ativando as vias mesolímbicas, somadas à inibição da função do 
receptor de Glutamato, produz uma euforia inicial que é identificada como um dos mais 
importantes facilitadores (“gatilhos”) para o uso da cocaína, havendo altos índices de 
comorbidade para abuso das duas drogas. O álcool também atenua a hiperatividade causada 
pela intoxicação por cocaína, levando muitos dos usuários ao uso seqüencial. 
No consumo seqüencial ou combinado de Cocaína/Crack e Cannabis, nota-se que esta 
mescla empregada pelos os usuários é com a finalidade de diminuir a fissura e os efeitos 
ansiogênicos causados pelo crack. Uma vez atenuada à fissura, o comportamento compulsivo 
de busca pela droga, torna-se mais controlável, permitindo ao indivíduo uma possibilidade de 
descontinuar seu uso e tentar retornar as suas atividades diárias. 
Na Cocaína e Opioides, cerca de 90% dos dependentes de heroína fazem uso regular 
de cocaína, sendo essa combinação ainda pouco freqüente no Brasil. Um dos mecanismos de 
ação dos opioides consiste na ativação dopaminérgica do sistema mesolímbico. Tanto a 
heroína quanto a cocaína exercem efeitos sobre os neurônios dopaminérgicos do nucleus 
accumbens, no qual ocorrem o reforço positivo e o comportamento de busca pela substância, 
facilitando o uso associado. A cocaína ameniza os efeitos da abstinência de heroína, o que 
contribui para aumentar a prevalência de uso concomitante. Uma das conseqüências e um dos 
indicadores da gravidade da dependência é o comportamento de busca pela droga: os 
dependentes de heroína que usam cocaína apresentam maior exposição a riscos, tanto por 
envolvimento com a criminalidade. 
Nas MDMA e outras substâncias psicoativas, o MDMA, conhecido também como 
ecstasy, substância que exerce efeitos perturbadores e estimulantes no sistema nervoso 
central, apresenta efeitos serotonérgicos potentes, e o seu uso concomitantemente com outras 
substâncias (álcool, maconha e cocaína) pode potencializar riscos de intoxicações. 
37 
 
 
O uso simultâneo de MDMA e etanol mostraram prejuízos nas funções executivas, 
como atenção e memória. A percepção subjetiva desse prejuízo, porém, foi bem menor em 
indivíduos que usaram MDMA e álcool se comparados aos que usaram apenas álcool. 
Os usuários de MDMA costumam fazer uso de diversas substâncias de forma 
concomitantes, sendo a principal associação é do álcool com benzodiazepínicos, com uso da 
maconha comum também nesse grupo, que intensifica os sintomas (efeitos) e aumenta o 
tempo de intoxicação do MDMA. A associação da maconha e MDMA podem causar falhas 
na memória e aumentar a chance de desenvolvimento de transtornos neuropsiquiátricos. 
O uso concomitante de MDMA e outros estimulantes também ocorrem com relativa 
freqüência, embora menor se comparado ao uso concomitante de álcool e maconha. Tanto o 
MDMA quanto a cocaína e as anfetaminas exercem efeitos estimulantes sobre o sistema 
nervoso central, por isso o uso concomitante em princípio acentua os efeitos estimulantes de 
ambas as substâncias. Também eleva o risco de desenvolvimento de dependência. Nota-se 
que o aumento da sociabilidade, um efeito típico do MDMA, é atenuado pelo uso simultâneo 
de cocaína. Há, ainda, um aumento do risco de desenvolvimento de sintomas paranoide e 
alterações de humor, principalmente mania e hipomania, durante a intoxicação. 
Nota-se que o poliuso de substâncias expõe o usuário a riscos consideráveis. O sujeito 
tende apresenta maior comprometimento no funcionamento laboral, social e afetivo, além de 
maiores taxas de abandono do tratamento. Para que a evolução no tratamento aumente, a 
abordagem terapêutica deve ser realizada sob perspectiva multidisciplinar, atentando para as 
particularidades do sujeito, e um olhar investigativo no padrão de consumo de substâncias nos 
diferentes contextos de atendimento, tendo também, associado a avaliação de fatores 
favorecedores do poliuso e mapeamento das conseqüências físicas, psíquicas e sociais 
decorrentes do uso. Portanto, o profissional da saúde que se depara com um usuário de 
múltiplas substâncias deve estar atento a diversos graus de gravidade e atipicidade na 
apresentação clínica dos quadros. 
Em suma, o poliuso de substâncias psicoativas é um fenômeno freqüente entre os 
usuários, em especial entre os que apresentam transtornos relacionados ao uso de drogas, uso 
nocivo ou dependência. O padrão é variável, assim como as razões que levam o indivíduo a 
usar múltiplas substâncias, tendo destaque ação neurobiológica da associação das substâncias, 
aspectos psíquicos e contexto em que está inserido o usuário. 
38 
 
 
 
Módulo III – Drogas específicas de abuso e dependências. Drogas Lícitas 
 
Álcool 
“Álcool: princípio essencial de todos os líquidos que fazem o homem ficarem com o olho 
negro”. Ambrose Bierce 
 
 Pontos chaves 
 Fatores para compreensão da dependência do álcool 
 Morbidades causadas pelo Álcool 
 Transtornos psiquiatricos decorrentes do consumo do álcool. 
 
 
O álcool é um, depressor do sistema nervoso central que, dependendo da quantidade 
ingerida, causa leve euforia e progressiva sedação, propriedades afrodisíacas. Seu mecanismo 
de ação atua nos neurotransmissores GABA e noGlutamato, também, segundo estudos 
científicos recentes, monoamina e do transportador de monoaminas pré-sinápticos. 
O uso do álcool vem permeando a história da humanidade. Observam-se evidências de 
consumo desde os tempos pré-biblicos, enviesado pela cultura e costumes da época. O 
conceito de beber como nocivo começou a ser vinculados a uma condição médica somente 
após a revolução industrial, meados do século 19, onde as bebidas até então consumidas eram 
predominantes (vinho e alguns tipos de cerveja) fermentadas. Nota-se, que a partir da 
revolução industrial a produção de bebidas fermentadas começou a ser produzidas em larga 
escala, diminuindo seu custo de acesso, e com conseqüente aumento no consumo. Além do 
aumento da produção, a destilação dos fermentados começou a ser implementada com técnica 
para aumentar a concentração alcoólica das bebidas. Somando-se todos esses fatores com o 
fator histórico da urbanização, os perfis das relações sociais começaram a se modificar, 
aumentando o número de pessoas que passaram a consumir o álcool. 
O ato de beber é estimulado na maioria dos países do mundo. No Brasil não há política 
publicas reguladoras do consumo, o que torna o acesso fácil e de baixo custo. Estudos 
epidemiológicos enfatizam que o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil entre os jovens é 
um importante problema de saúde de pública. O beber em Binge, quando o individuo ingere 
grandes quantidades de álcool em curto espaço de tempo (homens 5 doses, mulheres 4 doses, 
39 
 
 
em ocasião única, em um período de 2 horas), tem mostrado si um aumento significativo de 
31,1% entre os anos de 2006 a 2012. 
O consumo de álcool é medido por um conceito denominado unidades de álcool. Cada 
unidade da substância equivale a 10 gramas de álcool puro. Para obter as unidades 
equivalentes, é necessário multiplicar a quantidade de bebida por sua concentração alcoólica. 
Na prática, há dificuldades de obter esses valores com precisão, uma vez que existem 
variedades de bebidas com diferentes apresentações alcoólicas, as quais nem sempre são 
condizentes ou reveladas no rótulo. 
Como entender quando o uso do álcool apresenta baixo risco para a pessoa que 
consome? 
Para compreender este aspecto, é necessário o entendimento das unidades de álcool. 
Esse aspecto é calculo através de uma fórmula, como por exemplo, de uma pessoa que bebe 
três doses de uísque por dia, é preciso considerar os seguintes aspectos: cada dose de uísque 
tem em média 50 mL, logo, essa pessoa estaria ingerindo 150 mL de uma bebida alcoólica 
destilada cuja concentração é aproximadamente 40%. Observe a fórmula do cálculo: 
 
Imagem: Livro Dependência Quimica, prevenção, tratamento e política públicas. 
 
Se uma unidade de álcool equivale a 10 gramas de álcool puro, isso significa que a 
pessoa do exemplo ingeriu 60 gramas de álcool. Ao longo da semana, essa pessoa ingeriria 42 
unidades de álcool, ultrapassando, em grande escala, a faixa do beber de baixo risco. 
40 
 
 
 
 Imagem: Livro Dependência Quimica, prevenção, tratamento e política públicas 
É consenso entre especialistas que não existe consumo de álcool isento de riscos. 
Portanto o uso do álcool está associado a diversos problemas, mas qual seria a quantidade de 
consumo necessária para que isso ocorra? Apesar de essa ser uma questão bastante polêmica 
entre os estudiosos do assunto, está questão não é claramente respondida. Observa-se na 
literatura que existe um nível de consumo associado a baixo risco de desenvolver problemas. 
Esse consumo é diferente para o gênero masculino 21 unidades de álcool no período de uma 
semana, e para o feminino 14 unidades de álcool também no período de uma semana. 
A dependência do álcool deve ser entendida como uma doença de caráter 
biopsicossocial, que se instala por meio de um processo que decorre ao longo de um 
continuum de uso de bebia alcoólica. Esse consumo pode passar por um padrão de uso de 
baixo risco, uso nocivo, dependência Leve, dependência moderada e dependência grave, 
sendo complexo a definição da passagem de um estágio para o outro. De acordo com 
pesquisas realizadas por Edwards Griffith, existem fatores que estão presentes na síndrome de 
dependência, nos quais são: estreitamentos do repertório, síndrome de abstinência, alívio dos 
sintomas da síndrome de abstinência pelo uso, fissura ou craving, evidências de tolerância, 
saliência do comportamento de busca e reinstalação da síndrome de dependência depois de 
recaída. 
Com o consumo crônico do álcool pode-se evidenciar distúrbios físicos por meio de 
efeitos diretos e indiretos com significativa morbidade nesta população. A identificação dos 
problemas físicos é fundamental para avaliar a gravidade da situação a fim e promover 
estímulos que possam influenciar no comportamento de beber. O consumo é muito perigoso 
com repercuções na saúde física do dependente. Dentre as possíveis morbidades podemos 
elencar as seguintes: 
 Distúrbios Gastroenterológios; 
41 
 
 
 Distúrbios musculoesqueléticos; 
 Distúrbios endócrinos; 
 Câncer; 
 Doenças cardiovasculares; 
 Doenças respiratórias; 
 Distúrbios metabólicos; 
 Distúrbios hematológicos; 
 Distúrbios no sistema nervoso central e periférico; 
 Síndrome fetal alcoólica; 
 Doenças dermatológicas; 
 Supressão do sistema imunológico; 
 Alterações no funcionamento sexual. 
Além das morbidades físicas aqui apresentadas, alguns transtornos psiquiátricos 
podem decorrer do uso do álcool, tais como: intoxicação alcoólica aguda, síndrome de 
abstinência do álcool, convulsões, Delirium tremes, alucinose alcoólica, Transtorno psicótico 
delirante induzido pelo álcool, intoxicação patológica, Depressão, suicídio, hipomania, 
ansiedade, danos ao tecido cerebral, ciúme patológico. Para elucidar uma maior compreensão 
das complicações psiquiátricas, descreveremos as características principais desses transtornos. 
A intoxicação alcoólica aguda é uma condição clinica passageira oriunda da ingestão 
aguda de bebidas alcoólicas, com produção de alterações como: embriaguez leve a anestesia e 
coma, inconsciência em alguns casos, depressão respiratória e, mais raramente a morte. É 
importante salientar que é pouco provável que uma dose excessiva ponha em risco a vida do 
dependente em virtude da tolerância desenvolvida ao álcool. A manifestação sintomatológica 
da intoxicação aguda pelo álcool inclui comportamento sexual inadequado, agressividade, 
labilidade do humor, diminuição do julgamento critico e funcionamento social e ocupacional 
prejudicados. 
A síndrome de abstinência do álcool é um conjunto de sintomas que se manifestam 
quando as pessoas que bebem excessivamente diminuem ou param. Partindo da gravidade do 
diagnóstico, é possível classificar o comprometimento em leve/moderado e grave. Considera-
se também na avaliação do diagnostico os aspectos biológicos, psicológicos e sociais na 
definição dos níveis de comprometimento do paciente e o correspondente tratamento a que 
este deverá ser submetido. O tratamento farmacológico pode incluir flumazenil e naloxona, 
42 
 
 
sendo de inteira responsabilidade do médico a avaliação clínica e a subseqüente terapia 
medicamentosa de acordo com a necessidade do caso. 
Vejamos os sinais e sintomas da síndrome de abstinência do álcool (SAA) e 
encaminhamento terapêutico: 
 
Imagem: Livro Aconselhamento em Dependência Química (2018). 
 
Nas convulsões, a maioria das crises é do tipo Tônico-clônica generalizada. São uma 
manifestação precoce da SAA, ocorrendo até 48 h após a interrupção do uso de álcool, sendo 
associadas à evolução para formas graves de abstinência. 
Já no Delirium Tremes, forma mais grave de abstinência, seu início é geralmente entre 
1 a 4 dias após da interrupção do uso de álcool, com duração de ate 3 a 4 dias. Sua 
manifestação sintomatológica inclui rebaixamento do nível da consciência com desorientação,

Continue navegando