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TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS – Prof. UESLEI SOLATERRAR DA SILVA CARNEIRO
Aula – Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias Psicoativas
Roteiro da Aula 
2. “Dependência” de Substâncias Psicoativas e alcoolismo: 
2.1- Conceito de substância psicoativa; 
2.2- Uso, intoxicação, abuso, uso nocivo e “dependência”; 
2.3- Conceitos comuns ao campo: “abstinência”, “binge”, 
“fissura”, “tolerância”; 
2.4- Transtornos causados por substâncias psicoativas lícitas: 
álcool, nicotina, cafeína; 
2.5- Transtornos causados por substâncias tornadas ilícitas: 
cannabis, alucinógenos, cocaína, anfetaminas e inalantes; 
2.6- Transtornos causados por substâncias lícitas: sedativos, 
hipnóticos, ansiolíticos, antidepressivos, neurolépticos e 
concentradores de atenção; 
2.7- Clínica Ampliada: o cuidado a partir do CAPSAd e da redução 
de danos como resistência à lógica manicomial das comunidades 
terapêuticas. 
 
Conceito de Substância Psicoativa 
• Uma substância psicoativa é qualquer substância química que, quando ingerida, modifica uma ou várias funções do SNC, produzindo 
efeitos psíquicos e comportamentais (Dalgalarrondo, 2008); 
• Essas substâncias produzem, de modo geral, sensações de prazer ou excitação (respostas de recompensa), cuja correspondência cerebral 
está vinculada às chamadas áreas e circuitos de recompensa do cérebro. As principais estruturas desses circuitos são o nucleus 
accumbens (NAc), a área tegmental ventral e a amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a dopamina (Gardner, 2011); 
• As substâncias com ação no cérebro e repercussões no psiquismo/comportamento que fazem parte deste capítulo da psicopatologia são: 
álcool, cafeína, tabaco, Cannabis (ou maconha), psicoestimulantes como cocaína (pó ou crack) e anfetamínicos, opioides, alucinógenos, 
inalantes, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos (Dalgalarrondo, 2019). 
• Classificação das substâncias segundo o efeito farmacológico 
no Sistema Nervoso Central: 
 
• Classificação das substâncias segundo a origem: 
 
• Classificação das substâncias segundo o estatuto jurídico: 
Substâncias tornadas ilícitas e questão da “guerra às drogas”; 
 
Conceitos Importantes no Campo 
• USO DE SUBSTÂNCIAS: 
➢ O uso de substâncias psicoativas tem feito parte da vida das pessoas há milênios (Austin, 1978); 
➢ Aproximadamente metade da população mundial utiliza pelo menos uma substância psicoativa e, embora a maioria da pessoas o 
faça sem dificuldades, para algumas surgem problemas relacionados a tal uso (United Nations Office on Drugs and Crime, 2005); 
➢ No mundo, os transtornos por uso de álcool e drogas (exceto o tabaco) são a sexta maior causa de doença em adultos; 
➢ Enquanto a utilização de tabaco e a exposição à sua fumaça são as principais causas de morte que podem ser prevenidas (World 
Health Organization, 2003). 
• ABUSO E USO NOCIVO: 
➢ O abuso de substâncias psicoativas ocorre quando há uso recorrente ou contínuo de uma substância psicoativa, uso este que é lesivo 
ou mal-adaptativo (levando a prejuízos ou sofrimento clinicamente significativos). Tal uso produz prejuízos ao sujeito em sua vida 
familiar, no trabalho ou na escola. Ocorre também situações que trazem risco à integridade; 
➢ Uso de qualquer tipo de droga, em geral autoadministrada, de um modo que desvia dos padrões médicos ou aceitos socialmente; 
➢ O conceito de uso nocivo de uma substância psicoativa é mais restrito que o de abuso. Refere- se a um padrão de uso que causa 
dano à saúde física (esofagite ou hepatite alcoólica, bronquite por tabagismo) ou mental (depressão associada a pesado consumo de 
álcool) 
• INTOXICAÇÃO: 
➢ A intoxicação é definida como uma síndrome reversível específica, com alterações comportamentais ou mentais, como prejuízo do 
nível de consciência (embriaguez, sedação, torpor), perturbação da percepção, da atenção, do pensamento, do julgamento e do 
comportamento psicomotor, além de agressividade, beligerância ou humor instável, causados por uma substância recentemente 
ingerida. 
• FISURA E BINGE: 
➢ Fissura (correspondente ao craving, em inglês) é o termo que se dá ao desejo intenso de usar uma substância; 
➢ Binge: descrevem-se os episódios de consumo intenso, rápido e compulsivo, que se relaciona intimamente à intoxicação (Ribeiro; 
Andrade, 2007). 
• DEPENDÊNCIA: 
➢ A dependência a substâncias psicoativas é definida como um padrão mal-adaptativo de uso de substâncias em que há repercussões 
psicológicas, físicas e sociais que resultam da interação entre o ser humano e uma substância psicoativa. Implica: 
o grande envolvimento (sujeito x substância); 
o muito tempo gasto (para obtenção e/ou uso da substância); 
o estreitamento do repertório de interesses; 
o abandono de outras atividades sociais; 
o embora possa ter consciência dos problemas, o uso 
permanece contínuo. 
OBS: Atualmente, a distinção rígida entre dependência física e 
comportamental é cada vez mais criticada como excessivamente 
artificial 
• TOLERÂNCIA: 
➢ A tolerância refere-se à diminuição do efeito de uma substância após repetidas administrações. O organismo passa a necessitar de 
quantidades cada vez maiores da substância para que se obtenha o mesmo nível inicial de seu efeito; 
➢ Algumas drogas, como álcool, opioides e benzodiazepínicos, revelam com frequência o fenômeno da tolerância. 
• ABSTINÊNCIA: 
➢ Síndrome específica de cada substância que ocorre após a interrupção ou redução da quantidade da droga ou substância de uso 
regular durante um período prolongado. A síndrome se caracteriza por sinais e sintomas fisiológicos, além de alterações psicológicas, 
como perturbações no pensamento, sentimentos e comportamento. Também chamada de síndrome de abstinência ou síndrome de 
descontinuação; 
➢ O indivíduo passa a apresentar sintomas como tremores, ansiedade, sudorese, insônia ou sonolência (os sintomas específicos 
dependem muito do tipo específico de substância). A abstinência ocorre com frequência em relação a álcool, opioides, cafeína, 
tabaco, estimulantes (como cocaína e anfetamínicos) e sedativos (como benzodiazepínicos). 
 
Transtornos Relacionados a Substâncias 
• O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), os transtornos relacionados a substâncias são classificados em dois 
grandes grupos: 
1) transtornos por uso de substâncias; 2) transtornos induzidos por substâncias. 
 
Transtornos Por Uso de Substâncias 
• A característica essencial de um transtorno por uso de substâncias consiste na presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, 
comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo pelo indivíduo apesar de problemas significativos relacionados à substância; 
• O indivíduo apresenta: 
1) dificuldade importante ou baixo controle sobre tal uso; 
2) prejuízos psicossociais e sociais evidentes; 
3) riscos físicos e psicológicos; 
4) fenômenos farmacológicos como tolerância e abstinência. 
Obs: A categoria “transtorno por uso de substâncias” vem 
substituir, no DSM-5, a noção mais restrita de “dependência 
química” (que é fenômeno farmacológico, podendo ou não estar 
rigorosamente presente nesses transtornos). 
• O baixo controle sobre o uso é um elemento básico desses transtornos. Ele se expressa pelo fracasso em relação a tentativas de reduzir 
ou regular o consumo. O indivíduo pode gastar muito tempo para obter a droga, e grande parte (se não todas) das atividades diárias gira 
em torno da substância. Há, em geral, fissura (forte desejo ou necessidade intensa de usar a droga) para o uso, normalmente 
desencadeada por um ambiente onde a droga foi consumida ou obtida anteriormente; 
• O prejuízo psicossocial ou social se verifica pelas dificuldades em cumprir as obrigações nos estudos, no trabalho ou em casa, bem como 
pelo abandono de importantes atividades sociais, profissionais, estudantis e recreacionais em virtude do uso da substância; 
• O indivíduo continua a usar a droga apesar dos problemas interpessoais e sociais relacionados ao consumo. Além disso, o uso envolveriscos à integridade física e/ou psicológica da pessoa. O indivíduo, apesar de tais riscos, não consegue manter-se abstinente; 
• Por fim, pode haver também critérios farmacológicos que caracterizam o transtorno por uso de substâncias (mas que não são necessários 
para o diagnóstico, pelo DSM-5): a tolerância e a abstinência. 
• Avaliação da Gravidade: 
➢ Em uma estimativa geral de gravidade, um transtorno por uso de substância é considerado: 
o leve: presença de dois ou três sintomas; 
o moderado: presença de quatro ou cinco sintomas; 
o grave: presença de seis ou mais sintomas. 
➢ A mudança da gravidade ao longo do tempo também reflete a redução ou o aumento na dose e/ou na frequência do uso da 
substância, conforme avaliação do relato do próprio indivíduo, do relato de outras pessoas cientes do caso, de observações do 
clínico e exames biológicos. 
 
Transtornos Induzidos Por Uso de Substâncias 
• De particular interesse no trabalho clínico com pacientes é a diferenciação entre os quadros psicopatológicos graves induzidos por 
substâncias (ou, menos frequentemente, por síndrome de abstinência) e episódios (de esquizofrenia, mania, depressão, entre outros) 
independentes do efeito delas. Aqui, usam-se dois parâmetros importantes: 
1) Nos quadros induzidos por substâncias (ou pela síndrome de 
abstinência da substância), os sintomas devem regredir em, 
no máximo, até 30 dias após o indivíduo ter cessado o uso. 
Em geral, o quadro vai regredindo após alguns dias sem o 
consumo (ou da passagem da abstinência), e, em uma ou 
duas semanas, todos os sintomas desaparecem. Os quadros 
induzidos dependem diretamente da ação da substância (ou 
dos efeitos da síndrome de abstinência) no cérebro do 
paciente. Por exemplo, aquelas que com mais frequência 
produzem quadros psicóticos induzidos são os alucinógenos 
(como a dietilamida do ácido lisérgico [LSD]), a cocaína, a 
maconha e as anfetaminas. 
2) Nos quadros independentes, é comum que o episódio já 
tenha surgido outra vez na vida, independentemente do uso 
da substância. De modo geral, nos quadros independentes, 
como um surto de esquizofrenia ou um episódio de mania, a 
duração é superior a 30 dias. Uma dificuldade importante 
aqui é que com frequência episódios independentes de, por 
exemplo, esquizofrenia, mania ou depressão podem ser 
desencadeados pelo uso intenso de substâncias ou piorados 
em sua intensidade. A diferença entre desencadeado (o 
transtorno básico, fundamental, é a esquizofrenia ou a 
mania) e induzido (o transtorno de base é relacionado à 
substância) pode ser difícil de se estabelecer, mas é muito 
importante do ponto de vista psicopatológico. 
 
Início de Desenvolvimento de Transtornos Por Uso de Substâncias 
• Não há uma razão única que explique, para todas as pessoas, por que se passa a usar substâncias ou quando e por que tal uso se torna 
um transtorno destrutivo para o indivíduo e para a sociedade (Dawes et al., 2000); 
• Para muitas pessoas, sobretudo adolescentes, verifica-se que o início do uso de substâncias está relacionado aos seguintes fatores: 
curiosidade, convivência e pressão de pares ou companheiros(as) que já fazem uso da substância, tentativa de ser aceito pelo grupo, 
sensação de fazer parte de uma subcultura, excitação por estar fazendo algo ilegal, secreto, expressão de hostilidade e independência em 
relação aos pais ou professores, tentativa de reduzir sensações desagradáveis (tensão, ansiedade, solidão, tristeza, sensação de 
impotência); 
• A diminuição da autoestima é um ponto importante nos transtornos por uso de substâncias; 
• As teorias sobre adição ou dependência de substâncias versam a respeito de possíveis mecanismos neurobiológicos, teorias de 
comportamento aprendido e mecanismos de memória até teorias psicanalíticas, psicossociais, sociológicas e antropológicas (Camí; Farré, 
2003). Entretanto, atualmente há ênfase nas bases neurobiológicas do uso de substâncias, as quais apontam para a importância de 
regiões corticais préfrontais, por meio de sua ação de modulação comportamental e do processo de tomada de decisões. Essas regiões 
interagem com estruturas subcorticais (como o sistema límbico e o sistema de recompensa, o NAc), que estão relacionadas a 
recompensas imediatas. A ativação do sistema de recompensa é modulada pelos níveis de dopamina não apenas durante a realização de 
atividades percebidas como prazerosas, mas também em sua antecipação; 
• Pensar sempre: qual o lugar que a substância ocupa na vida do sujeito. 
 
Identificação de Substância (Diagnóstico) 
• A identificação da substância deve ser feita a partir de todas as fonte de informações possíveis: 
➢ informações dadas pelo próprio paciente; 
➢ análises de sangue e outros líquidos corporais; 
➢ sintomas físicos e psicológicos característicos; 
➢ sinais e comportamentos clínicos e outras evidências (drogas achadas); 
➢ relatos de terceiros (família, amigos, colegas, vizinhos, etc). 
• CID10: Subdivisões (terceiro caracter) quanto a substância implicada: 
➢ F10 - Devidos ao Uso de Álcool 
➢ F11 - Devidos ao Uso de Opiáceos 
➢ F12 - Devidos ao Uso de Canabinóides 
➢ F13 - Devidos ao Uso de Sedativos e Hipnóticos 
➢ F14 - Devidos ao Uso da Cocaína 
➢ F15 - Devidos ao Uso de Outros Estimulantes, Inclusive a 
Cafeína 
➢ F16 - Devidos ao Uso de Alucinógenos 
➢ F17 - Devidos ao Uso de Fumo 
➢ F18 - Devidos ao Uso de Solventes Voláteis 
➢ F19 - Devidos ao Uso de Múltiplas Drogas e ao Uso de 
Outras Substâncias 
• Subdivisões (quarto carater) quanto ao quadro clínico: 
➢ .0 → Intoxicação aguda; 
➢ .1-→ Uso nocivo para a saúde; 
➢ .2 → Síndrome de dependência; 
➢ .3 → Síndrome [estado] de abstinência; 
➢ .4 → Síndrome de abstinência com delirium; 
➢ .5 → Transtorno psicótico; 
➢ .6 → Síndrome amnésica; 
➢ .7 → Transtorno psicótico residual ou de instalação 
tardia; 
➢ .8 → Outros transtornos mentais ou comportamentais; 
➢ .9 → Transtorno mental ou comportamental não 
especificado. 
• Serão apresentados as substâncias mais importantes, por sua frequência em nosso meio e por sua relevância psicopatológica: álcool, 
maconha, cocaína/crack e psicofármacos como sedativos e hipnóticos (o tabaco e a cafeína, apesar de representarem uso importante do 
ponto de vista epidemiológico, não acarretam consequências psicopatológicas na mesma intensidade que essas três substâncias). 
 
 
 
 
Álcool: Transtornos Por Uso e Transtornos Induzidos (DSM-5 e CID-11) 
• Bebidas alcoólicas têm sido utilizadas pelos seres humanos desde a pré-história (Room; Babor; Rehm, 2005). Os graves problemas 
relacionados ao álcool, entretanto, ganharam proporções epidêmicas nos últimos três séculos (Britto Pereira, 2013); 
• De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD), estudo realizado em todo o Brasil, em 2012, com 149 
municípios sorteados e 4.607 pessoas entrevistadas, com 14 anos ou mais, a prevalência de dependência de álcool na vida foi de 6,8% 
(em homens, 10,5% e, em mulheres, 3,6%). Esse estudo mostra ainda que houve crescimento nas taxas de binge drinking (beber de uma 
vez grande quantidade de álcool) e associação de uso com acidentes e violência (INPAD, 2014). Assim, é possível concluir que, segundo 
todos os estudos revisados, a prevalência de dependência de álcool na vida no Brasil situa-se entre 6 e 7%, e tal dependência tem 
implicações gravíssimas para a vida das pessoas e para a sociedade. 
• A CID-11 mantém o construto “dependência de álcool” como a incapacidade de poder regular ou controlar o uso de bebidas alcoólicas 
que pode surgir a partir de uso repetido ou contínuo importante. O elemento central aqui é a forte necessidade ou compulsão de usar o 
álcool, associada à incapacidade de controlar o consumo, com aumento de sua prioridade em relação a outras atividades e persistência 
de tal prioridade apesar de suas consequências danosas. As pessoas com dependência de álcool geralmente desenvolvem sintomas de 
tolerância e abstinência; 
• Alcoolismo ou Síndrome da dependência do álcool;• Os transtornos por uso ou devido ao álcool (DSM-5 e CID-11) revelam, de modo geral, um estado psíquico e físico resultante da ingestão 
repetitiva de álcool durante um período de pelo menos 12 meses. O fenômeno de tolerância está frequentemente presente (mas não é 
obrigatório); 
• É comum que o indivíduo negue terminantemente ou minimize que o álcool seja um problema em sua vida, que usa bebidas alcoólicas de 
forma claramente perigosa e prejudicial, que não consegue parar de beber ou que perdeu o controle sobre seu padrão de ingesta (Duffy, 
1995). 
 
Síndromes Associadas aos Transtornos Devidos ao Álcool 
• Delirium tremens: é uma forma grave de síndrome de abstinência de álcool, em que ocorrem, além dos sintomas clássicos do delirium 
(rebaixamento do nível de consciência, alteração da atenção, confusão mental, desorientação temporoespacial, flutuação dos sintomas 
ao longo do dia), intensas manifestações autonômicas (como tremores, febre, sudorese profusa, entre outras), ilusões e alucinações 
visuais e táteis marcantes, principalmente com insetos e pequenos animais (zoopsias); 
• Alucinose alcoólica: pode ocorrer durante a síndrome de abstinência ou em períodos independentes dela, com o indivíduo sóbrio (com o 
sensório claro) ou alcoolizado. Caracteriza-se por alucinações audioverbais de vozes que, tipicamente, falam do paciente na terceira 
pessoa (“O João é mesmo um semvergonha, um frouxo”, etc.) ou o humilham e desprezam. O indivíduo pode ou não ter crítica de tal 
experiência alucinatória. A alucinose alcoólica pode durar apenas horas ou dias, mas também pode persistir por meses e até algum tempo 
mesmo após o paciente ter parado de beber; 
• Delírio de ciúmes: associado aos transtornos devidos ao álcool é também bastante típico. Em geral, o indivíduo (mais frequente em 
homens) passa a acreditar plenamente no fato de que sua esposa, parceira ou parceiro, o trai de modo vil, com muitos homens, com seu 
melhor amigo, com toda a vizinhança. Sente-se profundamente humilhado com tal “traição”. Muitas vezes, esse delírio se insere em uma 
dinâmica social e conjugal particular de deterioração dos relacionamentos. 
• Embriaguez patológica (intoxicação idiossincrática, mania à potu): embora descrita há muito tempo, desperta controvérsias conceituais e 
não é aceita por todos. Caracteriza-se por uma resposta paradoxal, intensa, à ingestão de pequena quantidade de álcool. A compreensão 
de seus possíveis mecanismos também é ainda precária. O paciente pode tornar-se muito excitado, violento, às vezes paranoide e mesmo 
homicida (“fúria alcoólica”). Tal agitação surge de forma inexplicável, dura várias horas, é seguida de exaustão e termina comumente com 
sono profundo e amnésia posterior em relação ao evento. O quadro costuma ocorrer entre indivíduos que revelam pouca capacidade 
para lidar com seus impulsos agressivos. 
 
Maconha: Transtornos Por Uso e Transtornos Induzidos (DSM-5 e CID-11) 
• A Cannabis (ou substâncias canabinoides extraídas da planta Cannabis sativa) é a droga ilícita mais utilizada no mundo (APA, 2014). 
• No Brasil, é denominada maconha, baseado, beck, erva, bagulho, Maria Joana, fininho, fuminho, ganja ou baura. Entre as cerca de 60 
substâncias canabinoides, o princípio ativo mais importante para os transtornos por uso de maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol 
(delta-9-THC). Os canabinoides agem sobre os receptores de canabinoides CB1 e CB2, encontrados em todo o sistema nervoso central; 
• A maconha, em geral, é fumada, e seu uso produz efeitos muito variáveis, mas os mais comuns relatados por usuários são relaxamento, 
sensação de prazer (de “brisa” ou “barato”), risos espontâneos sem motivos e fome (“larica”); pode haver também distorções da 
percepção do tempo e do espaço, de leves a moderadas, dificuldade na atenção e na concentração, sensação de que os sentidos estão 
aguçados, hiperemia da mucosa conjuntival (“olhos vermelhos”) e boca seca. Nos primeiros usos, parte dos usuários pode sentir 
ansiedade mais ou menos intensa e ter crises de pânico, taquicardia, perturbação da coordenação motora fina ou pensamentos confusos; 
• No Brasil, o uso da droga, nos últimos 12 meses, foi de 2,1% para a população em geral, e ser do sexo masculino, ter melhor nível 
educacional, estar desempregado e morar nas Regiões Sul e Sudeste associaram-se aos maiores índices de consumo (Jungerman et al., 
2010); 
• Pessoas com transtorno por uso de Cannabis podem usar a substância o dia inteiro, ao longo de um período de meses ou anos, passando 
muitas horas do dia sob sua influência. Surgem problemas recorrentes relacionados à família, à escola ou ao trabalho, como ausências 
repetidas e negligência de obrigações familiares (DSM-5); 
• Em indivíduos que usam maconha persistentemente, tem sido relatada tolerância farmacológica e comportamental à maioria de seus 
efeitos. A interrupção abrupta do uso diário ou quase diário da droga frequentemente resulta em síndrome de abstinência da substância, 
com ansiedade, inquietação, irritabilidade, raiva ou agressividade, humor deprimido, insônia, redução do apetite. Tal síndrome, embora 
não seja grave como no caso do álcool, pode produzir sofrimento significativo e dificuldade em cessar o uso (DSM-5); 
• Debate-se, nos últimos anos, sobre as potenciais consequências positivas e negativas da legalização da maconha em muitos países, assim 
como no Brasil. Trata-se de debate complexo, com níveis e perspectivas distintos, inclusive aspectos psicopatológicos, farmacológicos, 
sociológicos, antropológicos, políticos, criminológicos e filosóficos. 
• Pesquisas epidemiológicas têm revelado, nas últimas décadas, uma associação clara entre o uso de Cannabis na adolescência e o risco de 
desenvolver transtorno psicótico, em particular esquizofrenia. Nesse sentido, a associação entre uso da droga na adolescência e 
desenvolvimento de psicose ao longo da vida apresenta os índices necessários para a atribuição de causalidade, como relação temporal, 
gradiente biológico, plausibilidade neurobiológica, evidência experimental, consistência e coerência (ver revisão em Radhakrishnan et al., 
2014). 
Cocaína/Crack: Transtornos Por Uso e Transtornos Induzidos (DSM-5 e CID-11) 
• A cocaína, substância extraída das folhas da planta Erythroxylon coca, é utilizada no Brasil de três modos principais: inalada, injetada na 
veia ou fumada. A cocaína em forma de pó, que geralmente é branco (pois o cloridrato de cocaína em pó é misturado pelos produtores e 
traficantes com talco, areia fina, pó de giz, cal ou leite em pó, para “render mais”), costuma ser inalada, mas pode ser também diluída em 
água e injetada (atualmente, um modo menos frequente de uso); 
• A cocaína fumada se apresenta como crack, que é mistura de cloridrato de cocaína com bicarbonato de sódio e água (por 
• “cozimento” da pasta básica combinada com bicarbonato), solidificada em cristais e vendida em forma de pequenas pedras, que são 
geralmente aquecidas (o crack vaporiza a 90ºC) e fumadas em cachimbos ou dispositivos semelhantes. O nome crack parece ter sido dado 
pelo fato de o cristal de cocaína, ao ser fumado, produzir um estalido, um “crack”; 
• Quando aspirada, a cocaína-pó leva de 1 a 2 minutos para iniciar sua ação, que se prolonga por 30 a 45 minutos. Já a cocaína-crack 
fumada é absorvida muito rapidamente, agindo no cérebro logo após à inalação da fumaça, cujo efeito intenso perdura por volta de 10 
minutos (“barato imediato e intenso, mas de curta duração”). Em função disso, a fissura por voltar a usar o crack é muito intensa, e a 
dependência produzida por ele é uma das mais graves; 
• Os transtornos por uso de cocaína, sobretudo na forma de crack (que produz dependência mais grave que aquela associada ao pó) , têm 
ganhado marcante relevância social em muitos países, inclusive no Brasil. O crack surgiu, no início dos anos de 1980, nos Estados Unidos, 
como uma forma mais barata de cocaína, vendida em áreas pobres e centrais de grandes cidades. 
• No Brasil, emestudo coordenado por Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, em 2011-2012 (com 4.607 pessoas com 14 anos ou mais), o 
consumo de qualquer forma de cocaína (pó e crack) pelo menos uma vez no último ano ocorreu em 2,2% das pessoas; o uso de cocaína 
cheirada (pó), na vida, em 3,9% e, no último ano, em 1,7%. O uso na vida de crack foi de 1,5% e, no último ano, de 0,8%. Entre todos os 
usuários de cocaína, estimou-se que 41,4% apresentavam o quadro de dependência da substância (Abdalla et al., 2014). Estimou-se 
também que, no Brasil, 2,6 milhões de pessoas usaram alguma forma de cocaína (pó ou crack) no último ano (ocupando o lugar de 
segundo país do mundo, atrás dos Estados Unidos, em usuários de cocaína). 
• Os efeitos imediatos mais frequentes da cocaína (pó ou crack) são: “sensação subjetiva de bem-estar ou euforia”, de estar “mais ativo, 
mais alerta, autoconfiante ou forte”, com “mais energia” e pensamento acelerado. Fisicamente, pode haver taquicardia, aumento da 
frequência respiratória, sudorese, dilatação das pupilas, tremores leves de mãos e pés, tiques e contrações musculares de língua e 
mandíbula; 
• Em algumas pessoas, ou em doses mais altas, podem ocorrer desconfiança mais ou menos intensa, ideias e/ou forte sensação de 
perseguição (a chamada “noia”), ansiedade e crises de pânico. Alguns usuários relatam aumento do desejo sexual, e pode haver também 
irritabilidade, agressividade e comportamento violento, além de instabilidade emocional e perturbação da atenção e da concentração; 
• A cocaína pode produzir um transtorno psicótico induzido pela ação da droga que é sintomaticamente parecido com um surto 
esquizofrênico ou um episódio de mania psicótica; 
• A síndrome de abstinência da cocaína geralmente não é grave, expressando-se com apatia, tristeza e sonolência nos dias após a 
interrupção, podendo mimetizar um quadro depressivo; 
• No Brasil, o crack chegou no início dos anos de 1990, e seu uso cresceu vertiginosamente em algumas regiões da cidade de São Paulo 
(assim como em outras cidades), passando a reunir usuários e traficantes em espaços públicos, que foram então chamados de 
cracolândias. A partir de 2010, a quase totalidade das cidades brasileiras já apresentava população dependente de crack e, muitas, 
cracolândias; 
 
Medicamentos Psicotrópicos 
• Os medicamentos psicotrópicos são substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC), podendo desencadear alterações e 
dependência (CARVALHO et al., 2016). Estes medicamentos classificam-se em quatro categorias: ansiolíticos-sedativos; antidepressivos; 
estabilizadores do humor e antipsicóticos ou neurolépticos (FIGUEIREDO, 2015); 
• Os ansiolíticos são medicamentos cujos componentes químicos atuam no controle da ansiedade com efeitos que incidem sobre as 
emoções, o humor e o comportamento (FIGUEREDO, 2012). O principal representante desta classe são os benzodiazepínicos, um dos 
medicamentos mais prescritos mundialmente, como o Diazepam, o Clonazepam, o Alprazolam e o Midazolan (CARVALHO et al., 2016); 
• A utilização de ansiolíticos pela população muitas vezes ocorre de maneira abusiva (NOTO et al., 2002). Este fato pode ocorrer devido a 
fatores como: erros em prescrições médicas, automedicação, dependência química e aumento das enfermidades relacionadas à 
psiquiatria (GRASSI e CASTRO 2012). Entretanto, os efeitos dessas substâncias, decorrentes do seu uso crônico, por meses ou anos, 
podem resultar na dependência química do usuário (GRUBER e MAZON, 2014), sendo que a abstinência prejudica severamente a sua vida 
social, devido à irritabilidade, à insônia excessiva, à sudoração, à dor no corpo a até mesmo às convulsões (CARLINI et al., 2001). 
• Diante dessas premissas, é possível afirmar que o uso irracional de psicotrópicos pode trazer problemas associados à intoxicação, além de 
outros impactos sociais e econômicos como: dificuldades no desenvolvimento do aprendizado dos pacientes; aumento de investimentos 
em saúde pública destinado ao tratamento de pessoas com dependência química; prejuízo das relações familiares; e o incentivo ao 
consumo ilícito dessas substâncias (LOPES e GRIGOLETO, 2011); 
• Quanto maior o tempo de uso da medicação, mais difícil é parar de utiliza-lo e, consequentemente, maiores são as chances de 
desenvolvimento de síndrome de abstinência (NUNES e BASTOS, 2016). Tal fato foi observado nesta pesquisa, uma vez que 30% dos 
usuários já tentaram interromper o seu uso e não conseguiram, devido ao aparecimento de sintomas, como: nervosismo, insônia, 
agitação, inquietude, pânico, cefaleia e tremores (FAVERO, SATO, SANTIAGO, 2017); 
• A interrupção do uso destes medicamentos não deve ser feita de forma repentina, mas gradual, sendo sua retirada feita em um período 
de 6 a 8 semanas (NUNES e BASTOS, 2016). Geralmente os sintomas de abstinência têm início de 5 a 10 dias após a sua retirada, 
incluindo: tremores, sudorese, palpitação, letargia, náusea, insônia, irritabilidade, inquietação, agitação, convulsão e alucinação 
(GONÇALVES, 2012). 
 
Dependências Comportamentais ou Transtornos Aditivos Não Relacionados a Substâncias (CID-11 E DSM-5) 
• Nas últimas décadas, expandiu-se a noção de dependência, das dependências químicas para outras dependências comportamentais 
(como jogo, compras, internet, sexo, entre outras). Trata-se de quadros de dependência que, embora não tenham o elemento bioquímico 
de uma substância agindo no cérebro, têm muitos elementos semelhantes às dependências químicas e implicam estruturas e circuitos 
cerebrais análogos. 
• Verificar pag. 718 livro Dalgalarrondo, 3ª Ed.: semiotécnica de avaliação de pessoas com problemas ou transtornos relacionados ao uso 
abusivo de substâncias. 
 
Clínica Ampliada: o cuidado a partir do CAPSAd e da redução de danos como resistência à lógica manicomial das comunidades 
terapêuticas. 
• Relatório CFP: Este relatório apresenta o resultado da Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas, realizada em outubro de 2017, 
na qual foram visitadas 28 instituições nas cinco regiões do país, em 12 unidades da federação (11 estados e o Distrito Federal); 
• Centros religiosos; 
• Trabalho, violência e violações de direitos; 
• Modelo manicomial; 
• Abstinência como condição. 
• A redução de danos (rd) foi adotada como estratégia de saúde pública pela primeira vez no Brasil no município de Santos-SP no ano de 
1989, quando altos índices de transmissão de HIV estavam relacionados ao uso indevido de drogas injetáveis (Mesquita, 1991); 
• O CAPSad utiliza a Redução de Danos (RD) como estratégia para minimizar as consequências do uso de álcool e outras drogas. A RD é uma 
estratégia de baixa exigência, sendo mais flexível e não possui a abstinência total como meta do tratamento dos usuários (Ministério da 
Saúde, 2004; Dias, Ribeiro, Bastos, & Page, 2014); 
• Redução de Danos é uma estratégia de saúde pública que busca controlar possíveis conseqüências adversas ao consumo de psicoativos - 
lícitos ou ilícitos - sem, necessariamente, interromper esse uso, e buscando inclusão social e cidadania para usuários de drogas. 
• A redução de danos é um conjunto de estratégias que tem por objetivo oferecer alternativas de cuidados à saúde que possam ser 
adotadas sem abandonar a prática do uso de drogas (SAÚDE, 2001).

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