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Seção 9 Fisiologia Endócrina Coordenadora: Maria Tereza Nunes 64 Introdução à Fisiologia Endócrina, 985 65 Hipotálamo Endócrino, 997 66 Glândula Hipófise, 1019 67 Glândula Pineal, 1045 68 Glândula Tireoide, 1055 69 Fisiologia da Glândula Adrenal, 1079 70 Pâncreas Endócrino, 1097 71 Gônadas, 1115 72 Moléculas Ativas Produzidas por Órgãos Não Endócrinos, 1139 73 Crescimento e Desenvolvimento, 1157 74 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético, 1167 75 Controle Neuroendócrino do Balanço Hidreletrolítico, 1181 76 Fisiologia do Metabolismo Osteomineral, 1199 77 Fisiologia da Reprodução, 1225 • . , • • • - ' • • • Conceituação de hormônio, 986 • Sistemas hormonais, 987 • Classificação dos hormônios quanto à sua natureza química, 988 • Sistemas de retroal imentação, 992 • Hormônios produzidos por outros órgãos, 993 • Fisiopatologia, 994 • Bibliografia, 995 986 .... Conceituação de hormônio O sistema endócrino tem a função de garantir o fluxo de informações entre diferentes células, possibilitando a inte gração funcional de todo o organismo. As inúmeras funções do sistema endócrino podem ser resumidas em 3 grupos: 1) garantir a reprodução, 2) promover crescimento e desenvol vimento e 3) garantir a homeostasia (estado de equilíbrio) do meio interno. No sistema endócrino, o fluxo de informações ocorre a partir dos efeitos biológicos determinados por moléculas, denominadas hormônios. Neste fluxo de informação inter celular, que define uma ação endócrina, participam a célula secretora e a célula-alvo: 1) a célula secretora é a responsável pela síntese e secreção do hormônio que vai levar a informa ção; 2) a célula-alvo é aquela que vai reconhecer o hormônio e modificar alguma função celular em resposta a esse hormônio. Nesse processo, a célula-alvo para um hormônio é aquela que expressa um receptor hormonal (R) específico para esse hor mônio, o que ocorre durante a diferenciação da célula-alvo. Assim, o receptor hormonal é um elemento fundamental na resposta endócrina (esse assunto está detalhadamente discu tido no Capítulo 3 - Sinalização Celular). A definição clássica de hormônio diz tratar-se de substân cia química produzida por tecidos especializados e secretada na corrente sanguínea, onde é conduzida até os tecidos-alvo. Entretanto, esta definição foi concebida quando a maioria dos sistemas hormonais conhecidos era restrita a vertebrados, sendo que vários princípios desta definição já foram revisados de acordo com o conhecimento atual. • Exemplos Os exemplos citados a seguir impuseram uma revisão na definição clássica de hormônio: • Hormônios produzidos e secretados por diferentes tipos celulares do organismo já foram amplamente caracteri zados, e a correlação de hormônio com tecido especiali zado em produzi-lo foi perdida • O sangue é próprio de vertebrados, e sabe-se que em artrópodes vários hormônios circulam por meio da hemolinfa. Adicionalmente, em vertebrados, os para hormônios difundem-se pelo fluido intersticial, alcan çando as células-alvo sem atingir a corrente sanguínea • Já estão bem caracterizados os ecto-hormônios (em grego, ektós designa superfície ou exterior) que atraves sam o ar ou a água, comunicando diferentes indivíduos da mesma espécie (como os feromônios, responsáveis pela atração sexual) ou de espécies diferentes (como os alomônios e cairomônios, envolvidos em atrações inte respécies) • Alguns hormônios produzidos por determinadas célu las são capazes de modular funções na própria célula secretora, sem serem secretados para o meio extracelu lar (ação denominada intrácrina). Assim, atualmente, o melhor conceito para definir hor mônio é: substância química não nutriente capaz de con duzir determinada informação entre uma ou mais células. Entretanto, mesmo esta definição exclui os alarmônios, que são substâncias produzidas e utilizadas unicamente em uma mesma célula, mas que preservam a essência da endocrino logia, que é uma coordenação química das funções corpo- Aires 1 Fisiologia rais. Por outro lado, o caráter químico dos hormônios, que a princípio parece lógico, é restritivo e provavelmente deverá ser revisto em breve. Já se sabe que algumas espécies animais, como os piróforos (ou vaga-lume), podem utilizar a energia da luz para induzir padrões comportamentais entre si; por tanto, excluir os fatores físicos na definição de hormônio é uma questão que precisa ser revisada. Finalmente, sabe-se que as rotas metabólicas são reguladas pelas concentrações de seus substratos; entretanto, os nutrientes ainda são eliminados do conceito de hormônio. Portanto, fica claro que, independente de dificuldades na definição de um hormônio, sua principal característica é a capacidade de induzir uma resposta celular, isto é, alterar uma função da célula. • Glândulas endócrinas e hormônios secretados O conhecimento da endocrinologia evoluiu a partir de sistemas macroscópicos para sistemas microscópicos e, pos teriormente, moleculares, de acordo com a evolução da tec nologia. Sendo assim, é natural que os primeiros sistemas endócrinos tenham sido descritos em órgãos que se mostra vam capazes de produzir substâncias que agiriam a distância, modificando funções de outras estruturas. Esses órgãos foram denominados glândulas endócrinas, uma vez que o produto de secreção era lançado no meio interno. As primeiras glândulas endócrinas descritas foram: gónadas (ovário e testículo), pân creas, suprarrenal, tireoide, paratireoide e hipófise, e nessas glândulas foram caracterizadas as células secretoras dos hor mônios. Foi verificado que diferentes tipos celulares poderiam estar presentes em uma mesma glândula e que, na maioria das vezes, cada um era responsável pela síntese e secreção de um hormônio específico. Notou-se também que um mesmo tipo celular poderia produzir mais de um hormônio. Posteriormente, foram caracterizadas células secretoras que se encontram dispersas em um determinado local, sem formar um tecido especializado, e muito menos ainda um órgão (ou glândula). Por exemplo, no parênquima da glândula tireoide foram identificadas células dispersas, especializadas na síntese e secreção do hormônio calcitonina, importante na regulação da homeostasia da calcemia. Além disso, à medida que a capacidade de demonstrar-se a atividade hormonal de uma molécula evoluiu, observou-se que praticamente todos os tipos celulares do organismo são capazes de produzir um ou mais hormônios; esta observação expandiu o sistema endó crino para muito além das clássicas glândulas endócrinas, ini cialmente caracterizadas. Não podemos deixar de falar sobre as interações do sistema nervoso e o sistema endócrino. Claude Bernard, considerado o pai da Fisiologia e quem lançou o conceito de homeostasia na segunda metade do século XIX, já demonstrara que a manu tenção do meio interno dependia da atividade coordenada de dois sistemas essenciais: o sistema endócrino e o sistema nervoso autônomo, salientando que a acetilcolina e a norepi nefrina podiam circular no sangue agindo como verdadeiros hormônios. Surgiu então a ideia de que o sistema nervoso interage com o endócrino, confundindo-se às vezes, e o que se conhece hoje é uma completa interação neuroendócrina, especialmente em sistemas localizados no sistema nervoso central (SNC), onde não existem barreiras separando o "ner voso" do "endócrino': A medula adrenal, um dos primeiros sis temas definido como neuroendócrino, é sabidamente glândula e gânglio pós-ganglionar ao mesmo tempo. Na evolução do conhecimento, a caracterização dos sistemas neuroendócri nos gerou a criação do termo neuro-hormônio para referir-se 64 1 Introdução à Fisiologia Endócrina às moléculas neles envolvidas. Entretanto, esse termo pouco contribuiu para clarear o conhecimento. O importante hoje é saber que há moléculas como a epinefrina, por exemplo, que agem como hormônio e como neurotransmissorna transmis são sináptica. .... Sistemas hormonais • Sistemas hormonais clássicos Uma vez que o conceito de hormônio evoluiu, novos e dis tintos sistemas hormonais foram caracterizados. São três os clássicos sistemas (ou ações) hormonais (Figura 64.1): 1) sis tema endócrino - o hormônio age em uma célula-alvo distante, na qual ele chega por meio do sangue; 2) sistema parácrino -o hormônio difunde-se no interstício agindo em células vizinhas da célula secretora e 3) sistema autócrino - o hormônio, uma vez secretado, volta a agir na própria célula secretora. Embora os termos sistema ou ação endócrina possam ser utilizados genericamente para qualquer fenômeno endócrino, atualmente esta designação refere-se ao primeiro tipo de ação caracterizada que envolve uma ação do hormônio a distância. Esse conhecimento surgiu a partir de experimentos de para biose. A parabiose é uma técnica experimental desenvolvida no laboratório de Claude Bernard em 1862, na qual se suturam dois animais lado a lado, por intermédio da parede lateral da região abdominal; a região da ligadura entre os animais (pele e tecido subcutâneo) revasculariza, proporcionando a comuni cação sanguínea entre os dois organismos. Esta técnica possi bilita demonstrar a existência de fatores humorais circulantes (hormônios) que, produzidos em um animal, determinam efeito biológico no outro, demonstrando a ação do hormô nio a distância. Thales Martins, fisiologista e endocrinologista brasileiro de importância internacional (ver As origens da Fisiologia no Brasil, na parte inicial deste livro), contribuiu muito à endocrinologia entre os anos de 1920 e 1940 utili zando esta técnica. Thales Martins demonstrou a masculini- Célula-alvo Célula-alvo Célula secretora Figura 64.1 • Ações endócrinas clássicas. Na parte inferior da figura es tá desenha da a célula secretora produtora de hormônio (representado pelas estrelas). Na ação endócrina, o hormônio se desloca pela circulação sanguínea e age em uma célula alvo distante. Na ação parácrina, o hormônio age em célula-alvo próxima da célula secretora, sem alcançar a circulação. Na ação autócrina, o hormônio secretado no meio extracelular volta a agir na própria célula secretora. 987 zação do animal pré-púbere colocando-o em parabiose com o animal adulto, concluindo que os hormônios do adulto pas savam para o jovem, masculinizando-o. Também demonstrou a existência de hormônios hipofisários reguladores da função gonádica, utilizando a parabiose entre animais adultos nor mais e castrados. Neste caso, sabe-se que a castração induz a um aumento na produção de hormônios hipofisários estimu ladores do trofismo (ou desenvolvimento) das gónadas (razão pela qual esses hormônios são chamados gonadotrofinas). Assim, quando um animal castrado é colocado em parabiose com um normal (que tem a gônada) observa-se, após alguns dias, uma hipertrofia da gônada do animal normal, em conse quência do aumento de gonadotrofinas do castrado, mais uma vez caracterizando a clássica ação endócrina na qual o hormô nio, deslocando-se pela corrente sanguínea, age em células alvo distantes. Além dos sistemas endócrinos descritos anteriormente, a interação das funções endócrina e nervosa provoca as ações neuroendócrinas, tanto a partir de neurotransmissores como de peptídios secretados por neurônios. • Sistemas hormonais não clássicos Atualmente, vários sistemas hormonais distintos têm sido descritos, o que vem sendo designado como endocrinologia não clássica. Esses sistemas são operados por hormônios fre quentemente sintetizados em múltiplos locais e que podem agir localmente. São características desses sistemas: grande repertório de ações, intercruzamento de suas ações e, oca sionalmente, ações contrárias. Geralmente tais hormônios são fatores de crescimento, e alguns têm ações opostas, como estimulação e inibição de crescimento, conforme o estágio de diferenciação da célula-alvo. Entre os sistemas hormonais não clássicos, em mamíferos, destacam-se três (Figura 64.2): • Criptócrino: a secreção e ação do hormônio ocorrem em um sistema fechado, que envolve diferentes células, inti mamente relacionadas. Como exemplo, há as interações da célula de Sertoli e as espermátides, em que a mem brana basal do túbulo seminífero impede que os hormô nios se difundam para o interstício testicular • Justácrino: o hormônio sintetizado passa a integrar a membrana plasmática (com parte da proteína localizada no meio extracelular) e, embora possa ser clivado for mando um peptídio solúvel que se distancia da célula secretora, em geral permanece aderido à membrana plasmática da célula secretora, mantendo sua capaci dade de ação restrita às células vizinhas, cujo alcance depende do tamanho de sua haste de sustentação. Agem desta maneira fatores de crescimento como EGF, TGF-a, TNF-a, entre outros • Intrácrino: a síntese do hormônio e a ligação ao seu receptor específico ocorrem dentro da mesma célula. O principal exemplo é o receptor Ah (hidrocarbonos aromáticos). Entretanto, uma variante deste tipo de sis tema inclui a geração de metabólitos ativos dentro da célula-alvo, como a síntese do T3 (a partir do precursor T4) dentro da célula-alvo, onde vai agir sem ao menos sair da célula. Outro exemplo é a síntese de estrógeno a partir da testosterona na célula-alvo. A ação intrácrina diferencia-se da autócrina pelo fato de que o hormônio não sai da célula secretora, sendo, portanto, restrito a 988 Ações endócrinas não clássicas Cript6crina Espermãtides Células de Sertoli Célula-alvo TNF-a lntrácrina .y3 T� {44 Justácrina Figura 64.2 • Exemplos dos 3 tipos de ações endócrinas, em que os hormônios es tão representados por estrelas. 1) Criptócrina -túbulo seminífero no qual observam se algumas células de Sertolli (junto à membrana basal) e espermátides; as células de Sertoli produzem o fator de diferenciação celular (TGF), que é importante para o desenvolvimento da espermatogênese; 2) Justácrina - a célula secreta o hormônio (o fator de crescimento TNF-a) que pode permanecer ligado na membrana celular, agindo somente em células-alvo próximas, ou pode romper-se indo para a circula ção; 3) lntrácrina - a célula utiliza como precursor o T4 para transformá-lo em T3, hormônio que vai agir na própria célula. hormônios que tenham receptores intracelulares, con forme será descrito adiante. Um sistema hormonal pode ainda ser designado como não clássico por envolver hormônios recentemente caracteriza dos, cuja produção ou é disseminada por vários territórios ou é proveniente de células até então não definidas ou caracte rizadas como células endócrinas. Exemplos desses sistemas/ hormônios serão detalhados adiante. .... Classificação dos hormônios ' , . quanto a sua natureza qu1m1ca Alguns princípios físico-químicos são fundamentais para se compreender a classificação dos hormônios quanto à sua natureza química. Uma vez que os hormônios são moléculas sintetizadas em células e secretadas para o meio extracelular, de onde muitas vezes alcançam a circulação sanguínea, é importante lem brar que o solvente desses meios é a água, cuja molécula tem um caráter polar (com um polo positivo e outro negativo), o que possibilita que toda e qualquer molécula de caráter polar solubilize-se nesse meio. Consequentemente, tanto o meio intra- como o extracelular são hidrofílicos, possibilitando a solubilização de qualquer molécula polar, caracterizando essas moléculas como hidrossolúveis (ou moléculas hidrofílicas ou lipofóbicas). Adicionalmente, a membrana plasmática, que delimita tanto a célula secretora como a célula-alvo, tem com ponentes lipídicos que são moléculas apolares. Portanto, na membrana plasmática, as moléculas hidrossolúveis são inca pazes de se solubilizar (a membrana é hidrofóbica ou lipofí lica), de maneira que a membrana plasmática representa uma barreira à passagem de moléculas hidrofílicas. Obviamente,o Aires 1 Fisiologia inverso é verdadeiro; isto é, moléculas lipídicas (ou lipofílicas) solubilizam-se na membrana plasmática, podendo atravessá-la facilmente. Compreende-se então que, dependendo da sua composição química, um hormônio é hidro- ou lipossolúvel e, consequen temente, várias de suas características decorrerão dessas suas qualidades físico-químicas. Assim, embora estruturalmente os hormônios possam ser bastante diversos, didaticamente é con veniente classificá-los em 2 grandes grupos: os hidrossolúveis e os lipossolúveis. A importância do caráter de hidrossolubi lidade dos hormônios repousa na determinação de uma série de características hormonais comuns nos processos de síntese, secreção, transporte e metabolização, assim como o tipo de receptor e o mecanismo de ação. • Hormônios hidrossolúveis São a maioria, sendo também conhecidos como o grupo dos hormônios proteicos, por incluírem todos os hormônios que são proteínas. As proteínas são constituídas por cadeias de aminoácidos que se unem por ligações peptídicas, preser vando a característica polar das moléculas dos aminoácidos e, assim, definindo-se como hidrossolúveis. A composição des ses hormônios varia desde um único aminoácido modificado, passando por peptídios simples, até grandes proteínas (com centenas de aminoácidos). Podem ser ainda maiores, quando forem: 1) constituídos por várias subunidades (ou cadeias de proteínas); 2) glicosilados (com um radical açúcar ligado em um aminoácido) ou 3) fosforilados (com um fosfato - P04, ligado em um aminoácido). Síntese dos hormônios hidrossolúveis Os menores hormônios hidrossolúveis são aminoácidos modificados, por exemplo: a tirosina origina a epinefrina e a norepinefrina; a histidina origina a histamina; e o triptofano origina a serotonina. A síntese desses hormônios depende da disponibilidade intracelular do aminoácido e do conteúdo e atividade das enzimas-chave no processo de metabolização (ou modificação) da molécula do aminoácido. Os demais hormônios (desde peptídios até proteínas) apre sentam genes específicos; portanto, sua síntese segue os prin cípios básicos da síntese de proteínas. Em resumo, na célula secretora, fatores transcricionais específicos (definidos no processo de diferenciação celular) são responsáveis por agi rem na região promotora do gene, determinando que este seja transcrito. O RNA mensageiro (mRNA) transcrito migra para o retículo endoplasmático rugoso e, nos ribossomos, ocorre a tradução desse mRNA em proteína. Entretanto, importan tes regulações pós-transcricionais e pós-traducionais podem ocorrer (Figura 64.3). Após a transcrição do gene, no processamento do RNA pri mário, por exemplo quando os introns são retirados, splicing alternativo pode ocorrer dando início a 2 diferentes RNAs, que consequentemente gerarão duas proteínas diferentes (p. ex., variantes da cadeia beta do hormônio estimulador da tireoide - TSH). Após a etapa da tradução, ocorrem processos de metabolização pós-traducional. Primeiro, as proteínas per dem o peptídio sinal (primeira sequência de aminoácidos que indica o início do processo de tradução); depois, peptidases específicas clivam essa proteína, até chegar à forma biologi camente ativa do hormônio. Adicionalmente, pode ocorrer glicosilação ou fosforilação da molécula proteica, processos fundamentais para a atividade biológica de alguns hormônios. (Figura 64.3). 64 1 Introdução à Fisiologia Endócrina 989 Esquema da síntese de hormônios proteicos Região reguladora Gene l Transcrição 1 ANA primário Processamento pós-transcricional Éxon �-- DNA Região codificadora íntron Éxon Íntron Éxon Núcleo mRNA �' --�--�--� l Tradução 1 PS Pró-hormônio 1 Processamento pôs-transcricional 1 Pró-hormônio Hormônio RER Ribossomo Sisterra de Golgie vesículas secretoras Figura 64.3 • Esquema da síntese dos hormônios proteicos, de acordo com os princípios de síntese de qualquer proteína (que tem um gene codificador). À esquerda, dentro de boxes, são indicadas as etapas do processo de expressão de um gene. À direita, em negrito, estão indicados os territórios celulares em que os processos ocorrem. As possibilidades de processamento pós-traducional para geração de hormônios ativos são múltiplas em termos de clivagem e ainda podem incluir outros processos, como glicosilação e fosforilação. A linha pontilhada representa a membrana nuclear. RER, retículo endoplasmático rugoso; PS, peptídio sinal. Quanto aos hormônios de dupla cadeia peptídica ou pro teica, duas possibilidades, completamente distintas, podem estar envolvidas: • apenas um gene codifica o hormônio, o qual expressa uma molécula precursora, que sofre processamento pós-traducional, quebrando-se em várias sequências; algumas delas ligam-se posteriormente, e constituem a forma final ativa do hormônio. Exemplo: o gene da insu lina codifica uma proteína, a proinsulina, a qual, após proce.ssamento, forma as cadeias A, B e C; as cadeias A e B ligam-se e constituem a molécula final da insulina • dois genes estão envolvidos na síntese do hormônio, os quais expressam duas proteínas distintas, que se ligam posteriormente para constituir a forma final ativa do hormônio. Exemplo: para a síntese do hormônio TSH, um gene codifica a cadeia a e outro é responsável pela cadeia �. as quais posteriormente se ligam, constituindo o hormônio. Secreção dos hormônios hidrossolúveis Na produção dos hormônios, é importante que se compre enda claramente a distinção entre síntese e secreção de um hormônio. A síntese, antes descrita, envolve todas as etapas que determinam a "fabricação" da molécula do hormônio, enquanto a secreção envolve os mecanismos que determinam a "saídá' do hormônio da célula secretora. Os processos de síntese e secreção, frequentemente, são estimulados ou inibi dos de maneira paralela, e por isso é comum a utilização indis criminada desses dois termos. Devido ao caráter hidrossolúvel da molécula, conforme já discutido, a membrana plasmática é impermeável aos hor mônios hidrossolúveis. Portanto, todos os hormônios hidros solúveis utilizam-se do mesmo mecanismo de secreção, que envolve o empacotamento das moléculas em vesículas (cha madas vesículas ou grânulos secretórios). Essas vesículas for mam-se paralelamente ao processo de síntese do hormônio, a partir de pequenos fragmentos de membranas do retículo endoplasmático ou do sistema de Golgi. Sendo assim, meca nismos secretórios, em geral envolvendo aumento da con - centração intracelular de cálcio livre, ativam a contração de estruturas do citoesqueleto celular, promovendo a mobiliza ção (ou translocação) dessas vesículas para a superfície celu lar. Uma vez que ocorra o contato da membrana da vesícula com a membrana plasmática, ambas de caráter lipofílico, essas membranas se fundem, e o conteúdo das vesículas é exposto ao meio extracelular (este fenômeno é chamado de extrusão do conteúdo do grânulo). Durante o processo de formação da vesícula, é comum que proteases específicas (enzimas que degradam ligações peptídi cas, clivando as proteínas em locais específicos) sejam empa cotadas junto com o conteúdo intravesicular; e, então, pro cessos de finalização da síntese hormonal (ou processamento pós-traducional) podem ocorrer dentro da vesícula secretória. Consequentemente, é comum detectarem-se pequenas quan tidades de pró-hormônio na circulação, que correspondem a moléculas que não chegaram a ser clivadas, assim como quan tidades equimolares (com mesmo número de moléculas) de peptídio (que fazia parte da molécula do pró-hormônio) e de hormônio. 990 É importante destacar que no processo de evolução a natu reza desenvolveu mecanismos extremamente econômicos, a partir dos quais um único gene pode ser responsável pela pro dução de vários hormônios. Isto é possível desde que múltiplos processos de clivagem da proteína precursora gerem vários peptídios, cada um deles comação biológica própria. Um exemplo magnífico desse tipo de processamento pós-tradu cional ocorre com o gene da pró-opiomelanocortina (POMC), que se expressa em vários territórios do SNC e na hipófise, podendo provocar vários diferentes hormônios (Figura 64.4). Especificidades de cada célula secretora, tais como a presença de determinadas proteases, possibilitam que esse gene seja res ponsável pela síntese de diferentes hormônios, de acordo com o tipo celular ou a espécie animal. Ainda é possível que uma mesma célula secretora, em diferentes condições fisiológicas, altere a expressão ou a atividade das proteases, modificando o padrão final de geração de hormônios a partir da molécula precursora. Finalmente, é importante que se ressalte a ocorrência de fusão entre vesículas secretoras dentro da célula secretora, mis turando os seus conteúdos. Portanto, fisiologicamente, frente a um estímulo secretório, não é verdadeira a ideia de que pri meiramente é secretado o hormônio que já estava sintetizado e armazenado, para apenas posteriormente ser secretado o hor mônio designado como recentemente sintetizado. Entretanto, é claro que se um estímulo secretório intenso persistir durante horas, observa-se uma predominância de moléculas recente mente sintetizadas, assim como começa a aumentar a quanti dade de pró-hormônio secretado, podendo até mesmo evoluir para uma situação de exaustão da célula secretora, na qual a velocidade de síntese hormonal não consegue acompanhar a demanda de secreção. Essas situações somente ocorrerão em estados patológicos ou experimentais. Aires 1 Fisiologia Circulação, metabolização e mecanismo de ação dos hormônios hidrossolúveis Devido à sua característica polar, os hormônios hidrosso lúveis solubilizam-se facilmente tanto no interstício como no sangue, tornando possível a livre circulação (como molécu las isoladas, solúveis no meio aquoso). Entretanto, exceções começam a ser demonstradas, como o hormônio do cresci mento e os IGF (insulin-like growth factors), que costumam circular ligados a uma proteína carregadora. Alguns territórios do organismo são ricos em enzimas pro teolíticas, como o fígado e o rim, sendo locais de degradação de hormônios proteicos. Uma vez que a cadeia peptídica seja quebrada, a atividade biológica do hormônio é perdida. Além disso, na célula-alvo da ação hormonal ocorre um contínuo processo de internalização do complexo hormônio-receptor; e, por ação de lisossomos, ocorre a metabolização/degrada ção dos hormônios. Alguns desses hormônios têm meia-vida (definida como tempo necessário para degradar 50% da quan tidade secretada em um dado momento) extremamente curta, como a da insulina, que é de 5 a 8 minutos. Sobre seu mecanismo de ação (detalhado no Capítulo 3 - Sinalização Celular), é importante destacar que, em conse quência do caráter hidrossolúvel da molécula, ela não poderá entrar na célula-alvo, pois não pode atravessar a membrana celular lipoproteica. Portanto, é característico dos hormônios hidrossolúveis apresentarem receptor localizado na membrana plasmática da célula-alvo, com o local de reconhecimento (ou ligação) ao hormônio exposto ao meio extracelular. • Hormônios lipossolúveis A característica básica dos hormônios lipossolúveis é ter uma molécula precursora lipídica, cujo caráter lipofílico está preservado na forma ativa do hormônio. Expessão do gene da pró-opiomelanocortina (POMC) Gene da POMC mRNAda POMC ! Proteína POMC Fragmento N-terminal (1-131) 1 1 ACTH (1-39) 1 L..l __ f3-_L_P_H_(_1-_9_1) _ __, a-MSH (1-13) ! CLIP (18-39) y-LPH (1-58) ! j3-MSH (41 -58) j3-Endorfina (61-91) ! Met-Enk (61-65) Figura 64.4 • Processamento pós-traducional da pró-opiomelanocortina (POMC). A sequência da POMC inclui um fragmento N-terminal e os hormônios corticotrofina (ACTH) e betalipotrofina ([3-LPH). O ACTH inclui a alfamelanotrofina (a-MSH) e um peptídio semelhante à corticotrofina (CLIP). A 13-LPH inclui a gamalipotrofina ("f·LPH) e a betaendorfina ([3-Endorfina), cada uma contendo em sua sequência os subprodutos betamelanotrofina ([3-MSH) e a metaencefalina (Met-Enk), respectivamente. Entre parênteses encontra-se a sequência de aminoácidos que compôem cada um desses subprodutos. 64 1 Introdução à Fisiologia Endócrina Síntese dos hormônios lipossolúveis A síntese dos hormônios lipossolúveis depende: 1) do aporte do substrato lipídico precursor à célula secretora e 2) da presença, na célula secretora, de enzimas específicas que metabolizam a molécula precursora até chegar à forma ativa. A grande maioria desses hormônios deriva do coles terol, sendo por isso chamados de hormônios esteroides. Adicionalmente, podem derivar de análogos do colesterol, os calciferóis, originando as diferentes formas de vitamina D. Também podem derivar de ácidos graxos, como as prostaglan dinas e alguns feromônios. Uma vez que o precursor lipídico seja disponibilizado para a célula secretora, por meio de conversões enzimáticas, vários metabólitos vão sendo gerados, com atividade biológica variá vel tanto na sua intensidade quanto no tipo de ação. São rea ções simples de hidroxilação, desidrogenação, o.xirredução, aromatação etc. Hormônios esteroides derivados do colesterol podem ser produzidos tanto no córtex adrenal como nas gónadas. O tipo de hormônio a ser sintetizado em cada território depende da presença de enzimas específicas na célula, conduzindo a rota da esteroidogênese para determinados produtos finais. Embora bioquimicamente estes hormônios sejam bastante parecidos, sua atividade biológica pode ser bem diversa, incluindo-se desde ações no metabolismo dos carboidratos (por glicocorti coides) e no balanço hidreletrolítico (pelos mineralocorticoi des ), até ações na função reprodutora masculina (por andró genos) ou feminina (pela progesterona e estrógenos). Um hormônio como a vitamina D depende da metaboli zação do precursor lipídico em diferentes territórios do orga nismo. A síntese completa necessita de conversões na pele, no fígado e finalmente nos rins. Entretanto, é preciso que se comente uma importante exce ção, os hormônios tireoidianos T3 e T4. Esses hormônios são constituídos por duas tirosinas acopladas, e iodadas (com presença de iodo). Embora as tirosinas sejam aminoácidos hidrossolúveis que originam outros hormônios hidrossolúveis (como as catecolaminas), uma vez acopladas e iodadas as tiro sinas perdem o caráter hidrossolúvel e passam a ter as caracte rísticas comuns dos hormônios lipossolúveis. Secreção dos hormônios lipossolúveis Diferentemente dos hormônios hidrossolúveis, os lipos solúveis não são armazenados em grânulos, sendo secretados por difusão na membrana plasmática, à medida que vão sendo sintetizados. Dessa maneira, não há estoque desses hormônios na célula secretora, e a secreção hormonal é regulada direta mente pela maior ou menor atividade da enzima-chave do processo de síntese hormonal. Como exceção, os hormônios tireoidianos têm um sistema próprio de armazenamento no coloide dos folículos tieroidianos, que torna possível a secre ção de hormônio durante alguns dias, mesmo que sua síntese esteja completamente bloqueada. Circulação, metabolização e mecanismo de ação dos hormônios lipossolúveis Os hormônios lipossolúveis são facilmente secretados por difusão através da membrana plasmática da célula secretora. Entretanto, essas moléculas encontram dificuldade para se deslocarem no interstício e no espaço intravascular, onde ten deriam a se ligar, formando gotículas gordurosas, que pode riam agir como verdadeiros trombos, entupindo capilares de pequeno diâmetro. Assim, é fundamental a ligação dos hor mônios lipossolúveis a proteínas (estas hidrossolúveis) que, 991 englobando a molécula lipídica, lhes confere hidrossolubili dade, possibilitando a mobilização através desses meios hidro fílicos. Existem proteínas, em geral de formato globular, e, por tanto,chamadas de globulinas, que são ligadoras específicas dos vários hormônios lipossolúveis. Designadas como binding globulin (BG), podem ligar andrógenos (denominadas ABG), estrógenos (EBG), glicocorticoides (GBG), hormônios tireoi dianos (TBG), entre outras. Além disso, a albumina, proteína encontrada em maior quantidade no plasma, também é um importante ligante de hormônios lipossolúveis. Assim, os hor mônios lipossolúveis circulam ligados a proteínas carregado ras (ou carreadoras). As proteínas carregadoras, ao englobarem a molécula do hormônio, impedem a sua disponibilidade à célula-alvo, impossibilitando a ação do hormônio. Entretanto, a ligação hormônio-proteína carregadora é um processo dinâmico regido por leis de afinidade, sendo que nesse processo uma pequena fração do hormônio pode ser encontrada tempora riamente livre. São essas moléculas livres que, ao entrarem em contato com a membrana plasmática das células, imedia tamente se difundem para o meio intracelular, tornando-se disponíveis para desencadear sua atividade biológica. Dessa maneira, é característica dos hormônios lipossolúveis apresen - tarem receptores intracelulares em suas células-alvo. Em geral, 1 % ou menos do hormônio total presente no plasma está na forma livre, sendo, portanto, biologicamente ativo. Essa característica é extremamente importante, pois o efeito biológico dos hormônios lipossolúveis depende da sua quantidade na forma livre. Algumas situações fisiológicas (como a gravidez) ou patológicas (como na doença hepática) podem aumentar ou diminuir a quantidade de proteínas car regadoras; consequentemente, aumenta ou diminui a quanti dade total de hormônio, sem que isso signifique alteração na sua quantidade livre, e, portanto, na magnitude do efeito bio lógico do hormônio. Além disso, mais recentemente foram descritos alguns sistemas de transporte (feito por proteínas) para moléculas lipídicas, tanto no meio intracelular como na membrana plas mática; isso explica o tráfego intracelular dos hormônios lipo fílicos, assim como sugere que tanto sua secreção como seu acesso à célula-alvo não sejam fenômenos dependentes apenas de difusão. Quanto à metabolização, esses hormônios são passíveis de inúmeros processos de metabolização (ou de conversão da molécula), podendo formar tanto metabólitos inativos como ativos. Processos de conjugação com ácido glicurônico ou de sulfatação ocorrem principalmente no fígado, e, em geral, ina tivam os hormônios esteroides. Adicionalmente, pode ocorrer a geração de metabólitos ainda biologicamente ativos. Veja a Figura 64.5: a testosterona, um andrógeno, no tecido adiposo pode ser convertida a estrógeno (por uma enzima tipo aroma tase) e, nos tecidos-alvo de ação androgênica, a di-hidrotestos terona (por uma enzima tipo 5 alfarredutase), outro potente andrógeno. Os hormônios tireoidianos têm sistema próprio de metabolização periférica, que por deiodinação (ou retirada de um iodo da molécula) podem formar tanto hormônio ativo como inativo (dependendo de qual dos iodos é retirado). Finalmente, é importante destacar que o mecanismo de ação dos hormônios lipossolúveis é desencadeado a partir da sua ligação a receptores intracelulares, cujo complexo hor mônio-receptor termina por se ligar em locais específicos da região promotora de genes-alvo, agindo como fatores transcri cionais da expressão gênica. Entretanto, recentes observações 992 o Metabolização da testosterona OH Testosterona ----1 .. � lnativação por conjugação hepática o Aromatase 1 OH OH HO Di-hidrotestosterona Estradiol Figura 64.5 • Metabolização do hormônio lipossolúvel testosterona (um andró geno) em hormônios ativos com ação de andrógeno (di-hidrotestosterona) ou de estrógeno (estradion. Dentro dos quadros, estão indicadas as enzimas responsáveis pela metabolização da testosterona. Na parte superior, à direita, está indicada a metabolização em produtos sem atividade biológica. No fígado, metabólitos da testosterona são inativados por conjugação com ácidos glicurônico ou sulfúrico, sendo depois excretados na urina como 17-cetoesteroides. demonstram que esses hormônios também têm ações bioló gicas imediatas, independentes do controle de transcrição gênica e utilizando-se de segundos mensageiros, sugerindo a existência de receptores na membrana plasmática e/ou intra celulares. .... Sistemas de retroalimentação A produção hormonal baseia-se no equilíbrio entre estí mulo e inibição da síntese e secreção do hormônio. Este padrão de equilíbrio tem uma importante base funcional: o meca nismo de feedback (ou retroalimentação ), negativo na grande maioria dos sistemas hormonais. Normalmente, uma vez que a concentração do hormônio aumente, são ativados mecanis mos inibidores da sua produção (síntese e secreção); e, uma vez que a concentração do hormônio diminua, são ativados mecanismos estimuladores da sua produção. Dessa maneira, ao longo do tempo, a concentração do hormônio se mantém oscilando em torno de um valor constante, o que chamamos de manutenção do equihôrio de secreção. Entretanto, para alguns hormônios a manutenção do equi hôrio de secreção hormonal pode variar, determinando o que chamamos de ritmo de secreção. Este pode variar tanto ao longo de 1 dia (a secreção de cortisol é maior pela manhã, diminuindo à noite; a isto chamamos de ritmo circadiano de secreção), como pode variar ao longo de vários dias (a secre ção de gonadotrofinas hipofísárias na mulher eleva-se durante cerca de 24 h a cada 28 dias, a isto chamamos de ritmo infra diano de secreção). Além disso, mesmo a chamada secreção constante de hormônio, em geral, é obtida a partir de pulsos secretórios, de intervalos curtos (20 a 30 minutos), e que pro porcionam ao longo do tempo (dia ou meses) uma concen tração média constante de hormônio. Sabe-se que o caráter pulsátil da secreção hormonal é fundamental para preservar o Aires 1 Fisiologia efeito biológico do hormônio, seja por proporcionar momen tos de maior repouso para a célula secretora, seja por deter minar o padrão de expressão de seus receptores específicos, fundamentais para concretizarem a ação hormonal. Os mecanismos de retroalimentação podem ser regula dos tanto por hormônios como por substratos metabólicos, podendo envolver vários níveis de regulação. Algumas funções endócrinas estão sob um controle que cha mamos de eixo hipotálamo-hipófise-glândula periférica (in cluem-se aqui as gônadas, a tireoide e o córtex adrenal). Tomando-se como exemplo o eixo da glândula tireoide (Figura 64.6), o hipotálamo produz um hormônio (denomi nado TRH, que é o hormônio estimulador do TSH) que esti mula a hipófise a liberar a tireotrofina (ou TSH, que é o hor mônio estimulador da tireoide), a qual, por sua vez, estimula a tireoide a produzir seus hormônios, T3 e T4. Desses, o T3 é o mais ativo e inibe a produção hipotalâmica de TRH e a hipo fisária de TSH, determinando a retroalimentação negativa. Ao longo do tempo, a secreção de todos os hormônios envolvidos permanece constante. O desequilíbrio de algum desses hor mônios proporciona indícios de defeitos em determinados territórios. Por exemplo, se a tireoide apresentar um defeito primário (intrínseco da glândula) que leve à baixa produção de T3 (ou hipotireoidismo), o TSH deverá se elevar; mas, se o T3 estiver baixo na vigência de TSH também baixo, o pro blema deve estar na hipófise ou no hipotálamo. Além disso, a produção hormonal no hipotálamo é fre quentemente modulada por sinais oriundos do SNC. É assim que o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é regulado ao longo do dia, relacionando-se com o ciclo de sono e vigília determinado no SNC. Por outro lado, mecanismos de retroalimentação podem implicar apenas a secreção de um hormônio e um substrato metabólico diretamente envolvido na sua ação. Por exem plo: o maior estímulo para secreção de insulina pelas células Eixo hipotálamo-hipófise-glândulaperiférica Q l...._H_ip_o_1a_· 1a_m_o__, ! TRH Hipófise 1 ! TSH Tireoide 1 ! Hormônios T3 e T4 --1 .. � [ Célula-alvo 1 Figura 64.6 • Exemplo de funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-glândula periférica. O eixo da tireoide envolve os hormônios produzidos pela tireoide (13 e T4), o hormônio estimulador da tireoide, denominado tireotrofina (ou TSH), produ zido pela hipófise, e o hormônio liberador do TSH (denominado TRH), produzido pelo hipotálamo. Os símbolos + e - indicam ações estimuladoras e inibidoras, res pectivamente. 64 1 Introdução à Fisiologia Endócrina B pancreáticas é a elevação da concentração plasmática de glicose. Uma vez que a concentração de insulina se eleve em consequência da elevação de glicose, um de seus efeitos é esti mular a captação de glicose por várias células, diminuindo a concentração de glicose, e, consequentemente, voltando a diminuir a concentração de insulina. Assim se estabelece o que chamamos de homeostasia (ou estado de equilíbrio) da glicemia (concentração de glicose no sangue). .... Hormônios produzidos por outros órgãos Em relação aos sistemas hormonais, a endocrinologia moderna foi além das grandes glândulas conhecidas há décadas, passando a envolver muitos outros órgãos e tecidos secretores de hormônios. O conhecimento atual revela-nos a presença de sistemas hormonais em determinadas estrutu ras que passaram a serem consideradas verdadeiros órgãos endócrinos. A célula endotelial dos vasos sanguíneos representa mais do que uma barreira na difusão de substâncias do sangue para os tecidos. Ela é uma célula endócrina que sintetiza e libera subs tâncias vasoativas (hormônios), tais como: 1) fatores relaxan tes derivados do endotélio (denominados EDRF), que incluem as prostaciclinas, o óxido nítrico e o fator hiperpolarizante derivado do endotélio (ou EDHF) e 2) fatores constritores derivados do endotélio (denominados EDCF), que incluem as prostaglandinas vasoconstritoras (PGH-2 e PGF-2ct), a trom boxana A2, as endotelinas, a angiotensina II e as espécies rea tivas do oxigênio (tais como o ânion superóxido). Originalmente, o tecido adiposo branco foi descrito apenas como um isolante térmico em mamíferos; posteriormente, foi considerado como o tecido-alvo da insulina, capaz de arma zenar substrato energético na forma de lipídios. Atualmente, também já é considerado um órgão endócrino, pois secreta: 1) substâncias com ação parácrina, como PAI-1, TGF-�, TNF, angiotensina, adipsina, leptina, IL-6 e hormônios esteroides e 2) substâncias com ação endócrina, tipo leptina, hormônios esteroides, angiotensina, entre outras a serem mais adequada mente caracterizadas. Além desses dois tecidos comentados (capazes de produzir hormônios que terão ação sistêmica), praticamente todos os demais territórios do organismo são capazes de produzir hor mônios com atividade pelo menos autócrina ou parácrina. Muitos destes hormônios foram caracterizados apenas recentemente, e por isso são frequentemente designados como hormônios não clássicos. Um breve comentário desses grupos hormonais é suficiente para evidenciar a abrangência da ação dos hormônios. No Capítulo 72 - Moléculas Ativas Produzidas por órgãos Não Endócrinos, esse assunto é discu tido em detalhe. • Famílias de fatores de crescimento genéricos Este grupo engloba várias famílias, descritas a seguir: • EGF: Fatores de crescimento epiderma!. Estão envolvi dos na proliferação epitelial e neovascularização. Dentre eles incluem-se EGF, TGF-ct e anfirregulina (purificada a partir de células de câncer de mama) 993 • TGF-{3: Fatores de crescimento e diferenciação. São homodímeros capazes tanto de inibir como de estimular o crescimento, além de promover a diferenciação; por isso, têm importante papel na embriogênese. Incluem-se o MIH (hormônio inibidor dos duetos müllerianos), a activina e a inibina, assim como várias proteínas mor fogênicas ósseas • PDGF: Fatores de crescimento derivados de plaquetas. São homo- ou heterodímeros envolvidos na quimiotaxia e na proliferação de tecido conectivo, especialmente no reparo tecidual à lesão. Este grupo inclui o VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), capaz de estimular a mitogênese no endotélio vascular e aumentar a perme abilidade vascular • FGF: Fatores de crescimento de fibroblasto. Incluem-se os FGF, KGF (fator de crescimento de queratinócitos) e IL-1 (interleucina-1). Estão envolvidos no crescimento de fibroblastos e também participam da diferenciação de neurônios e adipócitos • IGF: Fatores de crescimento insulina-símile. Incluem o IGF-1 (secretado principalmente pelo fígado em res posta ao GH, mas também por vários tecidos quando estimulados por fatores tróficos) e o IGF-2 (importante no crescimento fetal) • NGF: Fatores de crescimento do nervo. Incluem vários peptídios com ação sobre o crescimento neural, que diferem quanto aos locais de síntese e de ação. • Famílias de fatores de crescimento específicos do sistema hematopoético • Eritropoetina: É produzida por células renais peritubu lares; estimula a proliferação de células progenitoras de eritrócitos, assim como a liberação de eritrócitos da medula óssea • CSF: Fatores estimuladores de colônias. São produzidos em vários tipos celulares; estimulam a proliferação de várias linhagens leucocíticas. Incluem o G-CSF (granu lócito-CSF) e o M-CSF (macrófago-CSF), entre outros • Interleucinas: Primariamente envolvidas na proliferação e diferenciação de linfócitos; mas também modulam a pro liferação e a diferenciação de megacariócitos e eosi nófilos. • Famílias de fatores de crescimento relacionados com as respostas imune e inflamatória • Hormônios relacionados com a imunidade humoral e celular: Incluem os hormônios já citados, como os CSF e as interleucinas, além dos MHC (complexos de histo compatibilidade major) • Miscelânea: grupo de hormônios relacionados com a resposta imune-inflamatória que inclui: 0 TNF a e � (fator de necrose tumoral): Têm capa cidade de induzir regressão e, algumas vezes, total destruição de alguns tumores. Também podem agir em células normais, em geral induzindo a síntese de proteínas protetoras da célula. O LIF (fator inibidor da leucemia) é estruturalmente diferente; entretanto, funcionalmente é similar, podendo causar caquexia 0 Interferons: Têm capacidade de interromper a síntese proteica, mostram alta atividade antivira! e são indu tores de MHC, entre outras ações. 994 Adicionalmente, o universo atual dos hormônios amplia-se quando analisamos os invertebrados ou o reino vegetal. Nos invertebrados, vários hormônios já foram demonstra dos, a maioria deles em insetos, relacionados com os proces sos de metamorfose e muda (ou ecdisis), chamados ecdisonas, ou relacionados com os processos de reprodução, chamados de hormônios juvenis. Em crustáceos e moluscos, muitos hor mônios são similares aos de insetos; entretanto, destaca-se a ocorrência de um hormônio insulin-like, homólogo à insulina de mamíferos, capaz de estimular a síntese de glicogênio, o que determina o marco evolucionário no aparecimento filoge nético da insulina. Em plantas, vários hormônios importantes (auxinas, cito cinas e giberelinas) estão relacionados com os processos de crescimento, nas suas mais variadas características. Além destes, outros exemplos de hormônios do reino vegetal, entre tantos, são: o ácido abscícico (atua no estresse em resposta à água), as oligossacarinas (atuam no estresse em resposta à infecção e à lesão), o ácido salicílico (agente termogênico importante na polinização) e o ácido jasmônico (inibidor de germinação). Esta breve descrição da endocrinologia não clássica deixa evidente a imensa abrangência da fisiologia endócrina. Muitas dessas substâncias químicas são conhecidas há décadas, outras foram apenas recentemente descritas e outras tantas deverão ainda ser caracterizadas. Envolvidas com sistemas funcio nais específicos,muito do conhecimento dessas substâncias se desenvolveu e progride em territórios e ações específicos. Entretanto, conhecê-las como hormônios é fundamental do ponto de vista conceitua! e serve, entre outras coisas, para rei terar o caráter sistêmico da endocrinologia. .... Fisiopatologia As alterações patológicas que podem acometer os mais diferentes sistemas hormonais constituem um amplo espectro de doenças endócrinas. Consequentemente, a população aco metida por doenças endócrinas é enorme. O diabetes melito, decorrente de falha na secreção ou na ação do hormônio insu lina, atualmente é uma doença endêmica que acomete cerca de 200 milhões de indivíduos no mundo, e cuja incidência vem crescendo assustadoramente. Além disso, algumas altera ções metabólicas incluem-se na endocrinologia, como a obe sidade, também com características endêmicas na atualidade. Finalmente, há o problema do uso indevido de hormônios, que ao exacerbar algumas de suas ações, às vezes desejadas, pro voca uma série de complicações paralelas. É exemplo dessa situação o uso de determinados hormônios para aprimorar o desenvolvimento muscular, emagrecer ou combater o envelhe cimento, que não apresenta fundamentação científica sólida que o justifique como terapêutica segura. Geralmente, as doenças endócrinas envolvem diminuição ou aumento da atividade de um determinado hormônio, e as abordagens terapêuticas devem visar à correção desse dese quilíbrio. Assim, é importante lembrar que se pode aumentar ou diminuir uma determinada atividade hormonal tanto por elevar ou abaixar a concentração hormonal no sangue, como por estimular ou inibir os fenômenos envolvidos no meca nismo de ação do hormônio, que são os determinantes do seu efeito biológico final. O tratamento das deficiências hormonais evoluiu paralela mente à evolução do conhecimento sobre hormônios, e várias Aires 1 Fisiologia propostas terapêuticas surgiram para prover uma deficiência hormonal. Por definição literal e conceitua!, a terapia de reposição hor monal refere-se a toda e qualquer terapia que vise repor uma deficiência hormonal. Para isso, glândulas de animais foram amplamente utilizadas para delas se extraírem grandes quanti dades de hormônios. Entretanto, devido à heterologia entre as moléculas de humanos e animais, alguns hormônios somente se mostraram eficazes quando obtidos a partir de humanos, cuja fonte nem sempre é abundante. Um exemplo bem conhe cido é o hormônio do crescimento (GH), extraído de hipófi ses humanas post-mortem, cuja produção sempre permaneceu restrita e de custo elevado. Um grande passo foi o desenvolvimento de tecnologia para a obtenção de moléculas sintéticas, que tornou possí vel o desenvolvimento de hormônios a baixo custo. A síntese de hormônios de estrutura molecular mais simples é feita há décadas; mas a síntese de hormônios de estrutura mais com plexa, como as grandes proteínas, permaneceu um desafio. Entretanto, as modernas técnicas de biologia molecular já possibilitam a criação de DNA recombinante que, contendo a sequência gênica responsável pela transcrição do gene de um hormônio proteico, é inserido em bactérias, que passam a produzir o hormônio em grande escala (é um exemplo a produção de GH, FSH e LH humanos). Além disso, foram desenvolvidos fármacos que agem como estimuladores da secreção hormonal, úteis nas situações em que a deficiência de síntese/secreção do hormônio não é total; adicionalmente, foram criados os análogos hormonais, moléculas semelhan tes a determinados hormônios, que são capazes de induzir as ações hormonais. Um aspecto importante no tratamento de doenças endó crinas com hormônios é a via de administração do hormô nio. O epitélio absortivo intestinal representa uma grande barreira à absorção de moléculas biologicamente ativas, especialmente proteínas. O processo de absorção intesti nal envolve uma primeira etapa que é a digestão, na qual as macromoléculas são degradadas até suas unidades mais simples para, então, serem absorvidas. No caso das proteínas ingeridas, apenas produtos da sua degradação são absorvi dos; a maior parte como aminoácidos e no máximo alguns oligopeptídios. Assim, hormônios proteicos perdem sua ati vidade biológica quando administrados pela via oral, neces sitando ser injetados. Para isso, pequenas bombas de infusão, com cateteres inseridos no subcutâneo do organismo, já são uma opção para liberar um hormônio continuamente na cir culação, imitando sua secreção endógena. O transplante de glândulas é uma tentativa de tratamento que vem sendo desenvolvida há anos, mas ainda com pouco sucesso. O grande problema é preservar a viabilidade funcional da glândula, contornando os processos da rejeição. Por outro lado, a terapia gênica é bastante promissora, e uma esperança a ser consolidada no futuro. Pela terapia gênica poderiam ser implantadas no organismo células geneticamente modifi cadas e especializadas na produção de um hormônio (que é uma proteína). Espera-se que os estudos com células-tronco possibilitem que a geração de células secretoras de hormônios possa evoluir sem proibições, para que a terapia gênica seja uma realidade em breve (mais detalhes dessas novas tecnolo gias são dados no Capítulo 80 - Bases Fisiológicas das Terapias Celulares e no Capítulo 81 - Bases Fisiológicas da Terapia Gênica). A caracterização dos receptores hormonais e das etapas do mecanismo de ação dos hormônios gerou um grande campo de 64 1 Introdução à Fisiologia Endócrina tratamento para as doenças endócrinas, tornando possível que se mimetize a ação do hormônio com o emprego de molécu las que estimulem seu receptor ou eventos após sua ligação ao receptor. Por exemplo, atualmente existem vários medicamentos que são ligantes de receptores com atividade agonista, ou ainda fármacos que agem em eventos após a ligação ao receptor. Finalmente, as doenças endócrinas podem envolver a pro dução excessiva de hormônio. Esta situação, menos frequente, decorre de alteração neoplásica da célula secretora (com perda das características funcionais normais da célula), que passa a produzir o hormônio descontroladamente. Na maioria das vezes, envolve tumores glandulares que devem ser tratados cirurgicamente. Quando não for necessária a retirada do tecido glandular hipersecretor, a hipersecreção hormonal pode ser tra tada com substâncias inibidoras da secreção hormonal ou com ligantes do receptor hormonal com atividade antagonista. .... Bibliografia AHIMA RS and PLIER JS. Adipose tissue as an endocrine organ. Trends En docrino/ Metab, 11:327-32, 2000. BAXTER JD, RIBEIRO RCJ and WEBB P. 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' •• , • Relações anatomofundonais, 998 • Hormônios hipotalâmicos, 1001 • Controle neuroendócrino do ritmo de secreção hormonal, 1016 • Bibliografia, 1017 • 998 O hipotálamo é uma estrutura do sistema nervoso central (SNC) que está envolvida em uma série de proces sos fisiológicos, tais como controle da temperatura corporal e ingestão alimentar. Apresenta também grupamentos neuro nais que se relacionam ao controle da função endócrina, os quais, em conjunto, constituem o chamado hipotálamo endó crino. De fato, o hipotálamo representa, funcionalmente, uma interface entre os sistemas nervoso e endócrino. A eminência mediana hipotalâmica é o ponto de conver gência e integração final de informações criadas em diferentes regiões do organismo. Após processamento e ajuste fino, essas informações são transmitidas à glândula hipófise, por meca nismos que envolvem a liberação de hormônios específicos, o que resulta em modificações de, basicamente, todas as secre ções endócrinas do indivíduo. Os objetivos finais desse sistema de controle integrado são: (1) manutenção da constância do meio interno, isto é, regulação da temperatura, concentração e disponibilidade de substratos energéticos e estruturais; (2) interação do organismo com o meio ambiente, isto é, geração de padrões funcionais integrados de ajustes ao tipo de estresse e (3) controle da reprodução. .... Relações anatomofuncionais O hipotálamo e a glândula hipófise formam uma unidade que exerce controle sobre a função de várias glândulas endó crinas, tais como tireoide, adrenais e gónadas e, por conse guinte, sobre uma série de funções orgânicas. O controle que o sistema nervoso exerce sobre o sistema endócrino e a modu lação que este efetua sobre a atividade do SNC constituem os principais mecanismos reguladores de, basicamente, todos os processos fisiológicos. A íntima associação entre o hipotálamo e a hipófise foi reconhecida, inicialmente, por Galeno no século XI d.C. Ele observou que o prolongamento ventral do hipotálamo, em formato de funil, termina em uma massa glandular envolvida por rico aporte sanguíneo. Entretanto, o verdadeiro signifi cado do hipotálamo como controlador de todas as secreções hipofisárias só foi descoberto no século XX. Em 1920, o trato hipotálamo-neuro-hipofisário foi identificado por Lewi e Greving; pouco depois, em 1930, a ligação vascular existente entre o hipotálamo e a hipófise foi claramente demonstrada por Popa e Fielding, e o seu significado fisiológico elucidado por Green e Harris, em 1947. No hipotálamo, além dos elementos neurais característi cos, encontramos neurônios especializados em secretar hor mônios peptídicos, conhecidos como neurônios peptidérgicos. Esses neurônios apresentam as mesmas propriedades elétricas das outras células nervosas, como a deflagração de potenciais quando estimulados; o potencial de ação provocado no corpo celular trafega até a terminação do axônio, onde, por determi nar influxo de cálcio, desencadeia a secreção dos hormônios que se encontram em vesículas de armazenamento. Os pro dutos de secreção dos neurônios peptidérgicos são: (1) peptí dios liberadores ou inibidores dos vários hormônios da hipó fise anterior (ou adeno-hipófise), que agem, respectivamente, estimulando ou inibindo a secreção dos hormônios adeno-hi pofisários, e (2) os peptídios neuro-hipofisários: vasopressina (AVP) ou hormônio antidiurético (ADH) e ocitocina, que são sintetizados por neurônios hipotalâmicos e armazenados em terminações axônicas presentes no interior da hipófise poste rior ou neuro-hipófise (Figura 65.1). Aires 1 Fisiologia Os neurônios hipotalâmicos que se relacionam com a adeno-hipófise constituem o sistema parvicelular ou tuberoin fundibular. Fazem parte desse sistema neurônios curtos cujos corpos celulares encontram-se difusamente distribuídos em certas regiões do hipotálamo, tais como nos núcleos peri- e paraventriculares (porção parvicelular), arqueado e área pré óptica medial. Dessas regiões partem axônios que convergem para a eminência mediana do hipotálamo, onde os vários hormônios liberadores e inibidores são secretados. Devido à existência de um sistema vascular altamente especializado, que conecta a eminência mediana à adeno-hipófise (sistema porta-hipotálamo-hipofisário), os neuro-hormônios hipotalâ micos alcançam a hipófise anterior em altas concentrações, antes de se diluírem na circulação sistêmica. O emprego de técnicas tais como a imuno-histoquímica e a hibridização in situ possibilitou a identificação de áreas do hipo tálamo endócrino em que se concentram neurônios que expres sam os mesmos peptídios. Assim, temos as áreas: (1) tireotró fica, que apresenta neurônios cujo produto de secreção é o TRH (thyrotropin releasing hormone), (2) corticotrófica, que secreta o CRH (corticotropin releasing hormone), (3) gonadotrófica, cuja secreção é o GnRH (gonadotropin releasing hormone) etc. No entanto, mais de 30 peptídios distintos foram identificados em neurônios de núcleos como o arqueado e os paraventriculares, muitos deles coexistindo em uma mesma célula, porque deri vam do mesmo pró-hormônio, que é codificado por um único gene. Contudo, existem células que expressam dois peptídios relacionados com genes diferentes, como é o caso de alguns neurônios que se originam na porção parvicelular dos núcleos paraventriculares e que coexpressam ADH e CRH. Os peptídios neuro-hipofisários são sintetizados por neurô nios hipotalâmicos específicos, que apresentam corpos celula res de dimensões maiores que as dos neurônios parvicelulares, e longos axônios que se projetam na hipófise posterior. Esses neu rônios localizam-se em dois núcleos hipotalâmicos bem defini dos: (1) supraópticos e (2) paraventriculares. Desses núcleos é que partem os axônios que passam pela haste hipofisária e se dirigem à neuro-hipófise, onde estabelecem contatos sináp ticos nas proximidades dos capilares sinusoides; esses neurô nios constituem o trato hipotálamo-neuro-hipofisário ou trato supraóptico-hipofisário, ou ainda o sistema magnocelular. Esse sistema recebe, também, contribuições de pequenos grupos de neurônios magnocelulares acessórios localizados em outros núcleos do hipotálamo. Por outro lado, alguns neurônios que expressam ADH ou ocitocina, provenientes do núcleo paraven tricular, não fazem parte do sistema magnocelular, projetan do-se para outras regiões do sistema nervoso. • Interações do hipotálamo endócrino com outras áreas do SNC Os neurônios que compõem os sistemas parvi- e magnoce lular estão sob a influência de fibras nervosas originárias das mais variadas regiões do sistema nervoso, como, por exemplo, a formação reticular mesencefálica e componentes do sistema límbico. Isto faz com que o ritmo de secreção dos neuro-hor mônios, causado a partir do padrão interno hipotalâmico, seja influenciado fortemente pelo restante do sistema nervoso por meio de aferências noradrenérgicas, co linérgicas e serotoninér gicas, principalmente. Neurotransmissores tais como epine frina, dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e opioides também participam desse controle. Essa influência pode ser exercida por meio de sinapses axodendríticas, realizadas com 65 1 Hipotálamo Endócrino • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• •• •• ••·• · 3º ventrículo •• •• •• •• •• •• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 999 Hipotâlamo / )��=:;�/ Art. . h. 1· • . :........... ena 1po 1sana Haste hipofisâria Neuro-hipófise • • • • • • • • superior Adeno-hipólise L .•.• Vasos portais l • • : .•..•• Artéria hipofisâria inferior curtos Figura 65.1 • Organização do sistema hipotálamo-hipofisário. Observe que o hipotálamo ea hipófiseencontram-seconectados,anatomicamente, pela haste hipofisária e, funcionalmente, por neurônios provenientes de distintos núcleos hipotalâmicos. Os neurôniosparvicelulares (indicados pelos números2, 3 e4) se dirigem à rede de capilares presente na eminência mediana do hipotálamo, pertencente ao sistema porta-hipotálamo-hipofisário, por meio do qual os hormônios por eles produzidos (hormônios hipofisiotróficos) são conduzidos à adeno-hipófise, onde estimulam ou inibem a síntese e secreção dos hormônios hipofisários. Os neurôniosmagnocelu/ares (representados pelo número 5) se dirigem à neuro-hipófise, onde os hormônios produzidos no hipotálamo (hormônios neuro-hipofisários) ficam armazenados em vesículas de secreção até serem liberados por estímulos específicos que deflagram potenciais de ação nos mesmos. Neurônios provenientes de outras áreas do sistema nervoso (representados pelo número 1) podem, ainda, interagir sinapticamente com os neurônios hipotalâmicos que guardam relação com a hipófise, e podem interferir na secreção hormonal hipofisária. Note que o sistema porta-hipotálamo-hipofisário é constituído por capilares, derivados das artérias hipofisárias superior e inferior, que se confluem aos vasos portais longos e curtos, respectivamente. (Adaptada de Leichan RM. Neuroendocrinology of pituitary hormone regulation. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, 16:475-501, 1987.) os próprios núcleos hipotalâmicos (locais de síntese dos neuro hormônios ), bem como por sinapses axoaxônicas, efetuadas nas terminações axônicas da eminência mediana (local de armaze namento e secreção dos neurônios do sistema parvicelular). Alguns neurotransmissores podem, ainda, ser liberados direta mente no sangue portal, o que os caracteriza como hormônios, influenciando, por si sós, a secreção dos hormônios adeno-hi pofisários. Dessa maneira, o hipotálamo pode ser considerado como uma via final comum por meio da qual os sinais oriundos de múltiplos sistemas convergem à adeno-hipófise. Em linhas gerais, a aferência dopaminérgica é constituída por neurônios localizados no núcleo arqueado do hipotálamo. Deste, partem axônios em direção à camada externa da emi nência mediana, na qual terminações nervosas estabelecem íntima relação com os capilares porta-hipofisários, por meio dos quais a dopamina exerce controle direto sobre a secreção de hormônios adeno-hipofisários. Porém, ainda na eminên cia mediana, algumas fibras dopaminérgicas fazem sinapses axoaxônicas com neurônios peptidérgicos, e participam dessa maneira do controle da liberação dos peptídios hipotalâmicos. Fibras dopaminérgicas provenientes do núcleo arqueado tam bém são identificadas na neuro-hipófise, em que exercem um possível controle sobre a secreção de ADH e/ou ocitocina, bem como na hipófise intermediária, onde controlam a secreção de hormônio melanotrófico (MSH). As fibras noradrenérgicas que afluem ao hipotálamo ori ginam-se, principalmente, na ponte e no bulbo. As principais áreas do hipotálamo que recebem essas terminações são os núcleos dorsomedial, paraventricular e arqueado. A camada mais interna da eminência mediana (ver adiante) também recebe aferentes noradrenérgicos. Da mesma maneira, fibras serotoninérgicas, originárias dos núcleos da rafe, dirigem-se 1 000 ao hipotálamo, distribuindo-se, entre outras regiões, ao núcleo supraquiasmático, ao terço médio do núcleo retroquiasmático, à área pré-óptica e à região anterior da eminência mediana, de maneira similar às fibras noradrenérgicas. O sistema límbico exerce influências sobre a atividade dos sis temas magno- e parvicelular por meio de vias córtico-hipotalâ micas provenientes da amígdala, região septal, tálamo e retina. A relação funcional do hipotálamo com outras estruturas do SNC garante a integração do sistema endócrino com outros sistemas efetores do sistema nervoso, tais como o motor e o autônomo. Essa integração se completa com a chegada de informações provenientes da periferia, via sistema circulató rio, representadas por fatores metabólicos, bem como pelos hormônios hipofisários e aqueles produzidos pelas glându las-alvo dos hormônios hipofisários, nos quais baseiam-se os mecanismos de feedback negativo e positivo existentes entre o hipotálamo e as glândulas endócrinas. Dessa maneira, os neurônios dos sistemas magno- e parvicelular mantêm-se sob influências diversas, neuronais e endócrinas, as quais, conjun tamente, fazem com que a secreção de neuro-hormônios seja regulada momento a momento de acordo com as flutuações do meio interno (Figura 65.2). Apesar de os sistemas magno- e parvicelular terem sido apresentados de maneira independente, existem evidências de uma estreita relação entre eles: ( 1) alguns neurônios colaterais, que compõem o sistema magnocelular, projetam-se à eminên cia mediana modificando a secreção da hipófise anterior; (2) terminações nervosas que secretam GnRH, TRH, somatosta tina, leucina-encefalina, neurotensina e dopamina, pertencen tes ao sistema parvicelular, projetam-se para a neuro-hipófise, e podem, da mesma maneira, influenciar a secreção dos hormô nios neuro-hipofisários. • Eminência mediana A eminência mediana hipotalâmica é a estrutura que repre senta funcionalmente a interface entre o sistema nervoso e a Aires 1 Fisiologia adeno-hipófise, e é o ponto de convergência de informações que partem das diferentes áreas do SNC em direção ao sistema endócrino. A eminência mediana está limitada, ventralmente, pela porção tuberal do lobo anterior da hipófise (que envolve a haste hipofisária e porções da base do encéfalo) e grandes vasos porta-hipofisários e, cranialmente, pelo recesso ven tricular. Ela é ricamente vascularizada pelas artérias hipofisá rias superiores, que dão origem a um sistema capilar responsá vel pela coleta dos neuropeptídios secretados. Toda essa região permanece fora da barreira hematencefálica. Estruturalmente, a eminência mediana pode ser dividida em três camadas: (1) a camada ependimal (mais interna), que forra o assoalho do terceiro ventrículo, constituída basi camente por células ependimais, as quais estabelecem con tatos entre o terceiro ventrículo e vasos porta-hipofisários; (2) a camada fibrosa, que é atravessada pelos axônios do trato supraóptico-hipofisário em trânsito para a neuro-hipófise; e (3) a zona paliçada (mais externa), onde as fibras do trato tuberoin fundibular liberam a maior parte dos neuropeptídios. Os neurônios peptidérgicos que constituem o trato tube roinfundibular alcançam o espaço perivascular do sistema porta hipotálamo-hipofisário (zona paliçada), onde liberam os neuro-hormônios. Nota-se que, à medida que penetram na eminência mediana, essas fibras estabelecem sinapses com células ependimais e contatos com o terceiro ventrículo, indi cando: (1) possível interferência das células ependimais no processo neurossecretório e (2) que a liberação dos neuro hormônios possa acontecer também no líquido cerebrospinal (LCE). O papel fisiológico das células ependimais ainda está por ser esclarecido. Alguns estudos sugeremque, por serem conectadas por meio de tight junctions, essas células represen tam uma barreira entre o LCE e o sangue portal; outros estu dos, no entanto, indicam exatamente o contrário, ou seja, que elas são uma ponte de comunicação entre o LCE e o sistema porta-hipofisário. Aliás, a demonstração de que após 10 minu tos da injeção intracerebroventricular de 3H-TRH esse peptí dio é detectado nas camadas média e externa da EM, assim SNC { Formação reticular Sistema límbico ... Osmorreceptores Trato hipotálamo neuro-hipofisário Neuro hipófise ! Periferia Hipotálamo Sistema porta hipotálamo hipofisário ônios liberadores Horm ehorm ônios inibidores Adeno hipófise ormônlos deno- ADH Ocitocina H a h ipofisários Mecanorreceptores Glândulas/tecidos alvo - Luz Frio Estresse Estado alimentar Figura 65.2 • Organização geral do sistema hipotálamo-hipofisário e suas relações com a periferia e o sistema nervoso central (SNC). Note que a atividade desse sistema (e, portanto, da secreção dos hormônios adeno- e neuro-hipofisários) é controlada por sinais hormonais e neuronais, que o integram com a periferia; deste modo, garante se que quaisquer alterações de pressão arterial, volemia, temperatura, luminosidade, glicemia, dentre outras, gerem respostas endócrinas apropriadas para manutenção da homeostase do indivíduo. 65 1 Hipotálamo Endócrino como nos capilares do sistema portal, fortalece este último conceito (Figura 65.3). • Sistema porta-hipotálamo-hipofisário O sistema vascular porta-hipotálamo-hipofisário (ou sis tema porta-hipofisário) é responsável pelo transporte de hor mônios do hipotálamo para a adeno-hipófise. Duas redes capi lares estão interligadas, fazendo com que o sangue coletado na eminência mediana perfunda a hipófise anterior. Na eminência mediana e nas porções mais superiores da haste hipofisária, cujo suprimento sanguíneo provém das artérias hipofisárias superiores (ramos da carótida interna), observa-se uma densa rede de capilares, os quais se distribuem formando grandes alças, algumas penetrando cranialmente na eminência mediana, até as proximidades do líquido cerebros pinal do terceiro ventrículo, o que sugere possíveis trocas de moléculas entre eles. Esses capilares drenam para vasos que trafegam por toda a haste hipofisária em direção aos capilares sinusoides da adeno-hipófise, sendo, por essa razão, denomi nados de vasos portais longos. Uma segunda rede de capilares está presente nas porções mais ventrais da eminência mediana, na haste hipofisária e neuro-hipófise (processo infundibular). Essas regiões recebem suprimento sanguíneo das artérias hipofisárias inferiores e são drenadas por capilares portais que se dirigem à adeno-hipófise, passando pela hipófise intermédia; esses capilares, por serem mais curtos que os anteriores, são denominados vasos portais curtos (Figura 65.1). Por meio dessa via, altas concentrações dos hormônios neuro-hipofisários (o ADH e a ocitocina) alcançam a adeno-hipófise, e podem influenciar a secreção local dos hor mônios. Em humanos, cerca de 80% a 90% do sangue que se dirige à adeno-hipófise provêm dos vasos portais longos, sendo o restante conduzido pelos vasos portais curtos. Trato tuberoinfundibular Axônios bioarninérgicos Membrana basal 1001 Estudos dinâmicos da microcirculação local revelaram que o sangue dos vasos portais flui, principalmente, do hipotálamo para a adeno-hipófise (sendo, pois, denominado fluxo ante rógrado ), em que os hormônios hipotalâmicos exercem suas ações. No entanto, há evidências da existência de um fluxo sanguíneo retrógrado, por meio do qual os hormônios adeno e, possivelmente, neuro-hipofisários têm acesso ao SNC, onde podem influenciar a secreção dos hormônios hipofisiotróficos (ver adiante). .... Hormônios hipotalâmicos No hipotálamo podemos distinguir basicamente duas classes de neurônios: ( 1) os que secretam seus hormônios na circulação porta-hipofisária e (2) os que secretam hormônios diretamente na circulação geral, mais especificamente nos capilares sinusoides da neuro-hipófise. Os que secretam seus hormônios na circulação porta-hi pofisária são responsáveis pela regulação da síntese e libera ção dos hormônios da adeno-hipófise, sendo, por essa razão, também conhecidos como hormônios hipofisiotróficos. Estes foram designados há muito tempo como fatores liberadores hipotalâmicos, quando a sua estrutura química ainda não havia sido definida. O isolamento, a determinação da estrutura quí mica e a síntese desses neuro-hormônios em laboratório pro porcionaram um grande avanço no campo da endocrinologia experimental e clínica. Desde o início do século passado, inúmeras evidências clí nicas e experimentais indicavam a importância das relações existentes entre o hipotálamo e a glândula hipófise. Isto levou ao desencadeamento de uma verdadeira corrida entre vários laboratórios de pesquisa com o objetivo de identificar os fato- 3° ventrículo , . J l Axônios do trato hipotálarno neuro-hipofisário Figura 65.3 • Representação esquemática das relações anatômicas existentes entre as vias peptidérgicas, bioaminérgicas e eminência mediana. Os componentes estão identificados e descritos no texto. (Adaptada de Reichlin 5. Neuroendocrinology. ln: Wilson and Foster (eds). TexbookofEndocrinofogy. WB Saunders Company. Philadelphia, 509, 1985.) 1 002 res hipotalâmicos responsáveis pelo funcionamento normal da adeno-hipófise. Basicamente, a técnica empregada envolvia extração de grandes quantidades de tecido hipotalâmico e seu fracionamento em enormes colunas de sephadex; esse pro cedimento era seguido de subfracionamentos, em função do tamanho reduzido dos peptídios hipotalâmicos (ver adiante). O primeiro hormônio hipotalâmico a ser isolado foi o TRH (hormônio liberador de TSH), que estimula a síntese e a liberação de hormônio tireotrófico (TSH) e prolactina (Prl). Seguiu-se o isolamento do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), que estimula a síntese e a liberação dos hor mônios gonadotróficos foliculestimulante (FSH) e luteinizante (LH); da somatostatina (SS) ou GHRIH, que inibe a síntese e liberação tanto de hormônio de crescimento (GH) quanto de TSH; do CRH (hormônio liberador de ACTH), que estimula a síntese e liberação de corticotrofina (ACTH); e, no início dos anos 1970, do GHRH (hormônio liberador de GH), que estimula a síntese e liberação de GH. O sexto hormônio hipo talâmico é a dopamina, também conhecido como hormônio inibidor da liberação de prolactina (Prl), importante neuro transmissor, aqui chamado de hormônio por ser liberado na circulação porta-hipofisária. Um aspecto que surpreendeu os investigadores é que vários desses neuro-hormônios hipotalâmicos também foram encontrados em outras regiões do SNC não relacionadas com a função hipofisária, em que, provavelmente, exercem o papel de neuromoduladores (ou substâncias capazes de alterar o grau de excitabilidade de conjuntos de neurônios por tempo prolongado, de alguns minutos). Esses peptídios também se encontram presentes, em grandes quantidades, ao longo do tubo digestivo, no qual participam como moduladores do sistema nervoso local (sistema entérico). A própria somatos tatina também é encontrada no pâncreas, onde exerce efeito inibitório parácrino sobre a secreção de insulina e glucagon. Esses fatos revelam que, além da regulação da secreção dos hormônios adeno-hipofisários, esses peptídios, por se acha rem amplamente distribuídos pelo organismo, exercem várias outras funções em diferentes sistemas biológicos. Os estudos iniciais indicaram que a maior parte dos pep tídios hipotalâmicos age nas células-alvo e ativam o sistema adenilciclase/cAMP. Outros, tais como a somatostatina, ao interagir com o receptor, que está acoplado a uma proteína G inibitória (proteína-Gi), induzem diminuição da produção de cAMP, sendo observados efeitos inibitórios na célula-alvo. Verificou-se,
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