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CADERNO - JUSTIÇA DANIEL OITAVEN

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Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
CADERNO – JUSTIÇA E ESTUDO DE CASO/ DANIEL OITAVEN - FBDG 
´ 
AULAS 01 E 02 – INTRODUÇÃO À JUSTIÇA DISTRIBUTIVA 
 
 29/03 – avaliação presencial; 
 17 e 24/05 – avaliação envolvendo a turma toda; 
 
 
1. Análise de um caso: 
Há uma flauta extremamente qualificada para três crianças, as quais tem aula de flauta na 
escola: 
 A – que toca melhor, mais habilidoso; 
 B – que se esforça mais para tocar e tem sede de aprender, realizando um curso a 
margem da escola; 
 C – que tem poucos recursos financeiros em comparação aos outros dois e, por 
conseguinte, tem menos brinquedos; 
 
 Quem deve ficar com a flauta? Não há uma resposta correta, apesar de tendermos a 
inclinar para C; 
 O foco da discussão é fazer o bem da criança ou o bem da flauta (dar melhor proveito 
ao instrumento)? 
Tomando como foco a segunda perspectiva (bem da flauta), seria mais benéfico dar a A, pois 
beneficiaria também as pessoas que ouviriam A. 
 
2. Argumentos: 
Se tomarmos como foco a primeira perspectiva, temos os seguintes argumentos: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
 
 
A 
 
 
 
 
Argumento do mérito natural 
 As pessoas têm habilidades 
diferentes, devendo-se privilegiar os 
mais talentosos; 
 Esse argumento é pautado na 
aleatoriedade (“loteria”); 
 A flauta deveria ficar com A, assim 
como uma bola deveria ficar com um 
Messi ou Cristiano Ronaldo; 
 Pensamento de Aristóteles: a 
melhor flauta deve ficar com o 
melhor flautista, já que não só as 
coisas, mas as pessoas têm lugar no 
mundo; 
 A distribuição de recursos escassos 
deve ocorrer com base no bem 
comum, ou seja, o bem deve ser 
aproveitado o máximo possível; 
 Platão pensa de forma similar a de 
Aristóteles; 
 Se A, neste caso, não usasse a flauta, 
isso não teria proveito social. A 
estaria, portanto, obrigado a usar a 
flauta; 
 Problema: Aleatoriedade, o que gera 
insegurança; 
 
 
 
 
B 
 
 
 
 
Argumento do mérito pelo 
esforço 
 Critica a primeira em virtude da série 
de aleatoriedades dela decorrente; 
 Critério individualista; 
 A pessoa merece receber algo pelo 
que ela fez (mérito pelo esforço); 
 A pessoa não pode receber algo pelo 
que é ou pelo que precisa; 
 Problema 1: As condições para aferir 
se o sujeito se esforçou e/ou para 
aferir a qualidade do esforço varia a 
depender de fatores sociais que 
independem da vontade do sujeito; 
 O cara que está passando fome 
prioriza a alimentação e não, 
obviamente, tocar flauta. Cenário 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
distinto vivenciado por aquele que 
apresenta estabilidade econômica; 
 Problema 2: Outro problema diz 
respeito à existência de uma 
sociedade que não valoriza tanto o 
mérito. Ex: Por mais que Daniel 
Oitaven se esforce e treine futebol, 
superando a carga horária de 
Neymar, o público pagaria para ver 
Neymar e não Daniel Oitaven; 
 Problema 3: Não se pode medir 
objetivamente o esforço/mérito. Em 
uma prova, por exemplo, não é 
possível afirmar que aqueles com 
melhor rendimento são, 
necessariamente, os mais 
esforçados. A nota em uma 
avaliação depende de uma série de 
fatores – compreensão, sorte, 
facilidade de aprendizagem em 
tempo reduzido, saúde mental, 
entre outros; 
 
 
 
 
C 
 
 
 
 
Argumento da necessidade 
 A pobreza é decorrente, muitas 
vezes, da aleatoriedade: ter nascido 
em uma família pobre; 
 O argumento da necessidade se 
vincula ao conceito de equidade – 
tratar os desiguais de forma desigual 
na medida da desigualdade; 
 A necessidade gera instabilidade 
social, uma vez que os indivíduos 
precisam suprir essas carências; 
 A distribuição de recursos escassos 
pode proporcionar uma sociedade 
mais harmônica, com menos 
conflitos e com menor criminalidade, 
uma vez que os indivíduos se 
sentiriam mais contemplados; 
 Para John Locke, o direito à 
propriedade e aos frutos do nosso 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
trabalho é o pilar fundamental de 
uma sociedade livre e justa; 
 Esse argumento se assemelha às 
políticas públicas. Contudo, as 
políticas públicas também geram 
efeitos negativos que podem ou não 
ser previstos anteriormente. Por 
isso, frequentemente vemos a 
interferência do Poder Judiciário, em 
especial do STF, no que tange às 
ações do Executivo; 
 
3. A proporcionalidade: 
A ideia de proporção aristotélica tem um caráter formal. Essa concepção de proporção pode 
ser aplicada aos outros dois critérios. 
Vejamos, por exemplo, o argumento da necessidade. Deve-se ter uma proporção na 
distribuição dos recursos escassos aos necessitados, de forma a evitar que novos conflitos 
sociais sejam gerados. Afinal, equidade é tratar os desiguais de forma desigual na medida da 
desigualdade. 
Da mesma forma ocorre na necessidade da proporcionalidade nos critérios de análise do 
mérito. Não se pode exigir pouco ou um padrão longe das capacidades humanas para aferir 
o mérito. 
Nesse cenário, as ações devem ser realizadas de forma equilibrada com o intuito de alcançar 
um determinado fim. 
 
AULA 03 – A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA PARA RAWLS 
 
1. Rawls: 
Aderiu mais a teoria do argumento pelo esforço, reconhecendo as limitações desta. 
Nossa sociedade não é fundada no utilitarismo, mas fundada em dois princípios: liberdade e 
igualdade. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A teoria proposta por Rawls ficou conhecida como teoria da justiça como equidade, embora 
tal denominação não seja um consenso na doutrina. Tal teoria apresenta dois pilares: 
equanimidade e fairness. 
A palavra racional, em Rawls, é trabalhar com a lógica de custo-benefício e de autointeresse. 
 
Para Rawls, a justiça é a primeira virtude das instituições sociais. A solução para uma 
sociedade promissora é um contrato social justo entre o Estado e os indivíduos, de modo 
que as necessidades de todos são atendidas equitativamente. 
Rawls posiciona-se contra o utilitarismo e se mostrou como um liberal igualitarista. Destarte, 
o ser humano tende a pensar de forma egoísta. Segundo Rawls, é necessário que as pessoas, 
no momento de tomada de decisão, estejam submetidas ao véu da ignorância – não saber 
quem da sociedade está na posição de vantagem e quem está na posição de desvantagem. 
Assim, as pessoas, atuando racionalmente, institucionalizam um Estado de modo que não 
fique ruim para ninguém, de modo a compatibilizar os interesses dos diferentes sujeitos. 
Caso o responsável pela tomada de decisão arrisque de forma aleatória – ele pode acertar 
favorecendo o desfavorecido ou errar, ampliando ainda mais a disparidade entre as duas 
classes. Dessa forma, não estaria atuando racionalmente. 
 
Rawls defende que o básico todos devem ter, ou seja, ninguém deve ficar abaixo do mínimo 
de sobrevivência. 
A concepção de justiça pública é pautada na liberdade e igualdade. Esse é o modelo que 
Rawls chama de razoável. Razoável não se confunde com racional. O indivíduo age de forma 
razoável quando é nutrido pela concepção pública de justiça. 
Para Rawls, a liberdade tem maior peso em comparação à igualdade (liberdade > igualdade). 
Na óptica do autor, não há como ter igualdade absoluta e liberdade absoluta 
simultaneamente. 
 
AULA 04 – RAWLS (CONTINUAÇÃO) E UTILITARISMO 
 
1. Rawls (continuação): 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Rawls acha que o homem é livre para escolher qual linha de raciocínio seguir. Ao mesmo 
tempo, o Estado, na visão de Rawls, não assume nenhuma doutrina como superior às demais 
e, portanto, não acampa uma visão de mundo abrangente em uma sociedade plural. 
Na perspectiva de Rawls, o Estado não intervém, por exemplo, em relações homo ou 
heteroafetivas pois isso cabe à esfera privada – os sujeitos escolhem com quem se 
relacionam. Não se deve hierarquizar valores – proibir o casamento homoafetivo por senso 
de valor, por exemplo. O Estado não se mete nas preferências individuaise trata todos de 
forma igualitária (isso não implica em ateísmo, pois isso seria seguir uma corrente). 
O Estado deve arbitrar a existência entre seres plurais, os quais pensam de forma diferente. 
Rawls chama, nesse cenário, a atenção para dois princípios: 
 Princípio da liberdade: Para Rawls, cada pessoa tem o mesmo direito irrevogável a 
um esquema plenamente adequado de liberdades básicas iguais que seja compatível 
com o mesmo esquema de liberdades para todos. As liberdades básicas, na óptica do 
direito brasileiro, seriam as liberdades fundamentais (liberdade religiosa, liberdade 
de ir e vir, liberdade de expressão, etc); 
 
 Princípio da igualdade: As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer duas 
condições: (I) devem estar vinculadas a cargos e posições acessíveis a todos em 
condições de igualdade equitativa de oportunidades; e (II) tendem a beneficiar os 
menos favorecidos da sociedade (o princípio da diferença); 
Para Rawls, não tem como liberdade absoluta e igualdade absoluta conviverem 
simultaneamente. O primeiro subprincípio da igualdade se relaciona à geração de 
oportunidades a todos; o segundo, à distribuição de renda e à minimização das disparidades 
socioeconômicas (exemplificado na distinção de alíquotas do imposto de renda). 
A liberdade absoluta tende a fomentar desigualdade. Ex: A, no exercício da sua liberdade, 
vende um produto cujo preço de mercado é R$ 50,00 a R$ 5.000,00. B compra. A liberdade 
absoluta de A gera desigualdade a B. Em um Estado de liberdade absoluta, não há que se 
falar em lesão. 
 
2. Teoria utilitarista: 
Analisa a utilidade do objeto para definir o que deve ser feito, não tendo um princípio 
norteador apriorístico. 
 Deve-se dar a flauta para o mais talentoso, para que todos se beneficiem da sua 
habilidade, mesmo que ele não seja o mais esforçado e não necessite 
economicamente? 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Deve-se dar a flauta para quem se esforça mais, para que isso estimule as pessoas se 
esforçarem e gerar emprego, mesmo que o beneficiado não tenha o devido domínio 
da técnica? 
 Deve-se dar a flauta para os que necessitam, sob o risco disso desestimular o esforço 
dos demais? 
O utilitarista na sua essência não tem compromisso com nenhuma corrente, almejando ao 
melhor resultado a partir da definição de prioridades. Depois de definir a prioridade, deve-
se traçar um planejamento a ser executado para atingir a finalidade. Tal prioridade deve ser 
definida em tempo adequado, sob possibilidade de comprometer o alcance da finalidade. 
Na série “The good place” (Netflix), o professor de filosofia Chidi, em um dos episódios, sofre 
um dilema. Dirigindo uma locomotiva desgovernada na direção de cinco pessoas, de modo 
que a única forma de impedir a colisão é puxar uma alavanca, mudar a direção do trem e 
matar apenas uma pessoa. A tomada de decisão não é fácil, o que evidencia que o 
utilitarismo não é tão simples. 
No utilitarismo, o conceito de certo e errado não está na ação em si, mas nos efeitos (atingir 
o melhor resultado). É uma elaboração mais aprofundada da ideia de que “os fins justificam 
os meios”. 
 
3. Teoria crítica: 
Deve-se analisar os impactos futuros antes de se tomar uma decisão. 
O sujeito como representante do grupo é uma solução eficaz. Tal sujeito é símbolo do grupo 
inferiorizado e dá visibilidade a esse grupo, facilitando o combate às desigualdades. Axel 
Honneth afirma que essa vertente faz sentido, uma vez que o sujeito-representante cumpre 
uma função social além do “ser o melhor”. 
Em oposição a Honneth emerge Nancy Fraser. Ela é uma autora da teoria crítica, contudo 
aponta para outro caminho. Posteriormente, Honneth e Fraser se unem e lançam um livro 
que debate sobre a teoria da justiça, contendo as visões dos dois autores. 
 
A teoria crítica é sustentada por dois pilares: 
 Teoria voltada para a prática – saindo da mera abstração, sendo voltada para a ação, 
intervindo no mundo; 
 Propósito de transformação social emancipatória – tal intervenção deve ser pautada 
em um viés emancipatório, tornando o sujeito mais autônomo, com maiores 
possibilidades de se realizar (de atingir um patamar elevado de liberdade e 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
igualdade). Livre no sentido de ser autônomo (não no sentido de fazer o que bem 
pretender), de não ser inferiorizado ou subjugado; 
Honneth é vinculado à Escola de Frankfurt e Fraser, da linha americana. Apesar das 
divergências, ambos apontam para a necessidade de transformar os cidadãos em sujeitos 
capacitados para transformar o mundo (há uma influência marxista). 
Fraser, feminista, se opôs a Honneth e vai apontar para os excessos cometidos pelo 
reconhecimento do Estado. 
 
Para a próxima aula: Honneth x Fraser. 
 
AULA 05 – HONNETH X FRASER 
 
1. Justiça redistributiva e reconhecimento: 
Honneth e Fraser, influenciados pela teoria crítica, se comprometeram a uma teoria voltada 
para a transformação do mundo, ou seja, para a prática. Há também um viés emancipatório 
– a busca pela ascensão da autonomia do sujeito. Apesar de tais convergências, os autores 
diferem quanto ao fator responsável por tal emancipação. 
Para Honneth, trata-se de uma ideia de reconhecimento. A justiça social seria, portanto, um 
problema de reconhecimento. Fraser, por outro lado, aponta para o problema de 
redistribuição, uma vez que o pensamento de Honneth negligencia o papel econômico. 
 
Fraser, grande defensora do movimento feminista, escreveu textos alertando sobre a 
importância do trabalho doméstico (até então visto como uma atividade inferior). O trabalho 
da mulher é menos valorizado quando é um trabalho doméstico e isso, automaticamente, 
leva a uma situação econômica mais instável em comparação aos homens. Ela se preocupou 
com elementos econômicos e elementos culturais. 
Para Fraser, o problema de reconhecimento é analiticamente distinto do problema de 
redistribuição. A solução do problema de reconhecimento causa um problema de 
redistribuição. É de suma importância, portanto, o equilíbrio. 
Há grupos bivalentes – marginalizados tanto na dimensão cultural, quanto na dimensão 
econômica (como as mulheres, por exemplo). Nas comunidades bivalentes, uma injustiça 
reforça a outra – logo, tais desigualdades devem ser analisadas conjuntamente na prática. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Fraser defendeu um multiculturalismo mainstream – necessidade de um equilíbrio entre as 
duas desigualdades supracitadas (cultural e econômica). 
Honneth se opôs a essa visão. Honneth defende que a questão socioeconômica importa, 
porém todo o problema de justiça social pode ser concebido como um problema de 
reconhecimento, incluindo a questão financeira. Podemos sintetizar da seguinte forma: 
PROBLEMA DE RECONHECIMENTO = PROBLEMAS CULTURAIS + PROBLEMAS ECONÔMICOS. 
Por ser um autor estrangeiro e não pertencer a minorias, Honneth é menos comentado do 
que deveria no âmbito acadêmico. O autor, porém, realizou contribuições significativas para 
o estudo da justiça, consistindo, por conseguinte, em uma referência. Contribuiu bastante, 
também, para a Psicologia Social – e por isso a questão do reconhecimento vai importar 
tanto. 
 
Honneth sofreu influência da filosofia hegeliana. Uma relação de escravidão só se mantém 
porque o escravo não percebe a sua real importância para o escravocrata. Se o escravo se 
recusar a trabalhar, o amo perceberá o valor desse e o reconhecerá enquanto cidadão. Isso 
se constata, também, na greve. Se o trabalhador parar, o chefe quebra. Uma maneira de 
mostrar o valor é cortar a fonte que alimenta essa disparidade. O chefe, neste caso, também 
reconheceria a importância do trabalhador. A categoria do reconhecimento, portanto, para 
Honneth, seria a esfera de discussão de dinâmicas que amolam a sociedade. 
O reconhecimento traçado por Honneth tende a ganhar uma dimensão psicológica. O 
indivíduo não reconhecidonão vai se sentir bem e pleno, não conseguindo emancipar-se. 
Infere-se que, segundo o alemão, emancipação = autorrealização. Para emancipar, o 
homem deve articular autoconfiança, autorrespeito e autoestima. Para o Honneth, tais 
pilares são garantidos pelas esferas de reconhecimento. 
 
2. Esferas de reconhecimento (Honneth): 
 
 Amor: Não se limita a uma relação amorosa. Se assemelha mais a relações afetivas 
diversas – amizade, família, casal. Honneth diz que o sujeito desprovido de afeto na 
sua infância cresce com dificuldade de autoconfiança ao longo da vida. Isso 
compromete o estabelecimento de laços sociais. Ex: A só era enaltecida por seus pais 
quando tirava boas notas. A passou a desenvolver uma concepção de afeto a partir 
do reconhecimento da obtenção de resultados. Os indivíduos são afetados e tendem 
a manifestar sentimentos negativos. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Direito: No caso de violência doméstica ou violência contra menores, por exemplo, o 
Direito intervém. Esse é um problema, inicialmente, da esfera do amor que, por 
conta da sua gravidade, transferiu-se para o Direito. Há, contudo, experiências 
concebidas de imediato na área jurídica. Isso é perceptível quando um indivíduo se 
sente inferiorizado em relação a um grupo de indivíduos (sobrecidadãos x 
subcidadãos, para Marcelo Neves). Alguns indivíduos são tratados de forma mais 
rígida do que a lei manda; já outros, são tratados com mais privilégios do que 
deveriam. Ex: O casamento homoafetivo durante muito tempo não foi reconhecido 
pelo Estado brasileiro, o que gerou uma desigualdade. Os homossexuais, sentindo-se 
inferiorizados (desrespeitados) e visando a nutrir um sentimento de autorrespeito, 
lutaram para que as relações entre si não fossem vistas como a margem da 
sociedade. No Brasil, ainda não é regulado em lei, mas apenas por uma resolução do 
CNJ. O reconhecimento do casamento homoafetivo se fez crucial na defesa de direitos 
fundamentais, como a liberdade sexual e a dignidade da pessoa humana. O Direito 
tem um papel estratégico pois, de certa medida, pode intervir tanto na esfera do 
amor quanto na esfera da solidariedade. 
 
 Solidariedade: Os sujeitos sentem que não recebem o mínimo de estima social. Se 
refere a questões internas, nas quais o Direito não intervém. São necessárias 
medidas para que essa estima social seja alcançada, ou seja, ações que evidenciem o 
valor social desses indivíduos. Ex: A é gari, uma profissão de risco e com baixa 
remuneração e, por isso, é visto como certo desdém pela sociedade. Se os garis 
deixarem de trabalhar, a importância dessa categoria seria escancarada, podendo, 
inclusive, culminar em um caos de saúde pública. Presenciamos uma situação similar 
durante a greve dos caminhoneiros (2018), a qual explicitou o papel exercido por 
esses trabalhadores no nosso dia-dia (abastecimento de água, gasolina, alimentos, 
medicamentos, etc). Em palavras curtas, tudo parou em 2018. 
 
O Direito tem um papel estratégico pois, de certa medida, pode intervir tanto na esfera do 
amor quanto na esfera da solidariedade. 
As ações de cotas consistem em programas sociais plausíveis visando à minimização das 
desigualdades e à concessão de oportunidades das minorias frequentarem o ensino 
superior. 
Há um outro caminho: independentemente da disputa de mérito, há um papel simbólico na 
presença de minorias em cargos de poder (juiz) – o que ajuda a reduzir a percepção 
inferiorizante das pessoas que integram esse grupo. O Direito, nessa ótica, seria um 
mecanismo para intervir na esfera da solidariedade/da estimação social. Portanto, há ações 
transformativas pois com elas, passa-se a naturalizar a presença de minorias em cargos que 
ganham bem (redução do olhar inferiorizante). Na medida em que a situação da estima 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
social melhora, tais indivíduos passam a ter mais voz e participação efetiva nos âmbitos dos 
três poderes, agindo em prol da solidariedade/estimação social, o que culmina em um ciclo 
positivo. 
 
AULA 06 – HONNETH X FRASER (CONTINUAÇÃO) 
 
1. Solução afirmativa x solução transformativa (Honneth x Fraser): 
Uma solução afirmativa é adotada quando um elemento de segregação é ressignificado e 
passa a servir para a reafirmação/celebração/prestígio de um grupo na sociedade. Ex: 
Durante muito tempo as pessoas negras foram inferiorizadas. As ações afirmativas 
ratificaram o processo de diferenciação por uma perspectiva diferente – a criação da 
identidade negra. 
Fraser acha que essa estratégia, por apostar em uma perpetuação da diferenciação, tem o 
risco de alimentar um conflito eterno entre indivíduos que buscam reafirmar a sua 
identidade. Trata-se de um critério perigoso. 
 Ex: De um lado negros reafirmando a sua identidade e, do outro, brancos 
reafirmando a raça ariana (risco iminente de conflitos entre os grupos); 
 Ex: A lógica de Fraser pode ser apontada como um norte para estabelecer critérios 
objetivos para costas raciais, sem a necessidade de afirmação identitária em virtude 
dos riscos a ele inerentes; 
 
Um mundo ideal, para Fraser, seria aquele em que as diferenças fossem dissolvidas e não 
que as pessoas afirmem as diferenças e lutem por espaços. 
Fraser é uma autora que une o liberalismo (do ponto de vista humanista) e marxista 
(transformações sociais mais profundas em prol de dissolver determinadas diferenças). 
Fraser pensa mais em uma solução transformativa, apostando em medidas para dissolver 
critérios de discriminação/inferiorização que normalmente afetam as minorias. Há, nesse 
viés, a rejeição ao modelo de enquadramento, o que acaba, também, gerando polêmicas. 
Uma solução transformativa, por exemplo, seria aquela que busca, a longo prazo, quebrar 
categorias utilizadas para inferiorizar os membros dos grupos modernizados. Fraser aponta 
na dissolução, a longo prazo, desses traços. O centro do debate é dissolver o traço – não 
dissolver a identidade/realidade, mas a categoria que traduz o traço (o enquadramento 
discursivo que é feito dessa realidade). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Ex: Tem um conflito entre movimentos de sexualidade – classificação em categorias 
(exposição ao mundo) x repúdio à cristalização da identidade em uma categoria (valorização 
do eu). As categorias deixam de importar e, portanto, não haverá enquadramentos (visão 
típica das ações transformativas). Não se trata de afirmar o orgulho, mas isso é irrelevante 
pois as relações são fluídas (o que será amplamente normalizado). Pragmaticamente esse 
modelo é difícil de aplicação, uma vez que exige uma transformação do viés moderno de 
classificar/categorizar. 
Há polêmicas entre o critério adotado – afirmativo ou transformativo. Um exemplo de trata-
se da avaliação do enquadramento e da autodeclaração de raça. Tal critério beneficia os 
“visivelmente negros”. Os sistemas que admitem a autodeclaração são mais flexíveis. Parte 
da doutrina (minoritária) aponta para a heteroidentificação (identificação por terceiros), 
mediante, por exemplo, a avaliação fenotípica da pessoa. Evita-se, para essa corrente, que 
pessoas que sofrem discriminação cotidiana peguem vagas de pessoas que sofrem (repúdio 
à supremacia da autodeclaração). 
Os tribunais, hoje, exigem a heteroidentificação (pautado no enquadramento). Destarte, 
quanto menos cristalizado o critério, mais idealista, mais criticável e menos útil é o critério/a 
política. Vejamos que constantemente a heteroidentificação de determinado indivíduo é 
motivo de debates no “tribunal social/da internet” – “é negro” x “não é negro”. Tal encrenca 
é reduzida mediante o critério da autodeclaração. 
A autodeclaração também está sujeita a ações de má-fé por parte de alguns indivíduos. Ex: 
A, branco e loiro, alega que tem 2% de fenótipo nigeriano e, por isso, deve ser merecedor de 
cotas raciais. 
 
Fraser, no primeiro momento, é contra as soluções afirmativas. Depois,quando tem contato 
com Honneth, Fraser se torna pragmática e objetiva, ou seja, a análise casuística para 
verificar se há a necessidade, a priori, de uma ação afirmativa. Apesar dessa flexibilização no 
seu raciocínio, Fraser não abre mão da transformação a longo prazo. 
As ações afirmativas geralmente são instituídas com caráter temporário. Tais políticas 
podem, no futuro (lapso temporal a ser determinado), deixar de ter sentido. Se um 
momento se demonstrar que não há disparidade entre os grupos, pode-se retirar tais ações. 
As ações afirmativas, de certo modo, estimulam os movimentos sociais identitários. 
Honneth diz que a luta pressupõe o conflito. Para Fraser, é necessário dar um basta no 
conflito – o que Honneth considera uma utopia. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Às vezes o que importa entre os autores é o fundamento e não a divergência. Vejamos o 
caso do casamento homoafetivo (o qual não necessariamente foi discutido entre os autores 
– é um mero exemplo). Não se estará analisando o mérito (se deve ter ou não), mas o 
fundamento. 
 Honneth: O fato do Estado não reconhecer o casamento homoafetivo, ainda que 
admita a fixação da união estável, trata-se de uma injustiça no âmbito do 
autorrespeito. Desse modo, existe uma dimensão psicológica na esfera do Direito. 
Para poupar os indivíduos de danos à sua saúde mental, seria imprescindível o 
reconhecimento do casamento homoafetivo por parte do Estado; 
 
 Fraser: O fundamento não é a fragilização psicológica do sujeito. Não se pode tomar 
decisões públicas pautadas em um critério que leva em consideração a sensibilidade 
do sujeito. Há que se estabelecer parâmetros objetivos e que se relacionem a todos. 
Fraser aponta para o efeito social para fins políticos. Ora, se foi reconhecida a união 
estável, deve-se reconhecer o casamento a fim de manter a coerência do sistema. 
Sofrimento não é um critério na óptica de Fraser, enquanto que para Honneth 
sofrimento é o cerne do critério; 
 
Na avaliação cairão dois blocos: 
 1º: Problema da flauta e distintos argumentos (Aristóteles e Rawls); 
 2º: Teoria redistributiva, Teoria do reconhecimento, Honneth e Fraser; 
 
Extra: Sínteses dos textos da 1ª unidade + mapa mental 
 
O DEBATE HONNETH-FRASER E A INJUSTIÇA COMO RECONHECIMENTO: O STF 
ENTENDEU A UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA COMO UMA QUESTÃO DE 
(IN)JUSTIÇA CULTURAL? 
 
Os autores Daniel Oitaven e Ramon Caldas Barbosa, neste artigo, buscaram avaliar se o STF, 
ao entender por unanimidade o estabelecimento de uniões homoafetivas como 
constitucional, aderiu ao debate Honneth-Fraser (desigualdade como um problema de 
injustiça cultural no contexto da gramática moral). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
No decorrer do artigo, buscou-se identificar, por meio de uma análise qualitativa, os 
esperados efeitos positivos da chancela estatal: o incremento da estima social (esfera da 
solidariedade honnethiana) e a promoção do autorrespeito (esfera do Direito honnethiana). 
Nesse sentido, os professores identificaram três argumentos principais no julgamento da 
ADI 4277 e da ADPF 132: 
 Argumento da autoestima: Reconhecimento da união homoafetiva em prol de 
combater obstáculos que minam o psicológico desses indivíduos; 
 Argumento do autorrespeito: Reconhecimento de direitos previstos em nosso 
ordenamento jurídico, para que se fomente um sentimento de autorrespeito. Nesse 
sentido, a união homoafetiva não seria mais vista como “a margem” do padrão 
(heteronormativo) da sociedade; 
 Argumento da circularidade entre desigualdades de direitos e desigualdades de 
status sociais: Síntese dos dois argumentos supracitados – (I) necessidade de 
combater a hierarquização de status social que privilegia a heteronormatividade e (II) 
consolidar o direito à liberdade, ou seja, repercussões jurídicas, para esses 
indivíduos. 
Apesar de menções implícitas a termos do campo semântico Honneth-Fraser e de citações 
diretas a trechos de obras dos autores, Daniel Oitaven e Ramon Caldas Barbosa chegaram à 
conclusão de que não. O sincretismo entre teorias da justiça, entre elas a de Dworkin e 
Rawls, bem como o minimalismo inerente ao voto de alguns ministros conduzem à 
percepção de uma influência bastante limitada dos estudos de Honneth e Fraser. 
 
A GRAMÁTICA MORAL DO RECONHECIMENTO NO STF: Honneth, Fraser e a 
desigualdade racial como injustiça cultural 
 
No artigo, Daniel Oitaven e Ramon Carlos Barbosa visam a analisar se o STF, ao decidir pela 
constitucionalidade da ação afirmativa de reserva de vagas para pessoas negras em 
instituições de ensino superior, aderiu à perspectiva da desigualdade racial como um 
problema de injustiça cultural nos moldes de Honneth e Fraser. 
No exame dos votos dos ministros na ADPF 186, os autores chegaram à conclusão de que 
não. Apesar de cinco ministros (Lewandowski, Fux, Carmen Lúcia, Joaquim Barbosa e Ayres 
Britto) revelarem tendências honnethianas e/ou fraserianas, tem-se as seguintes razões para 
afirmar que não houve a adoção majoritária das contribuições de Honneth e Fraser: 
 Sincretismo com outras teorias de justiça; 
 Ayres Britto ter sido o único a argumentar à la Honneth; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Predominância da justiça como equidade (modelo de Rawls), explicitada no 
argumento da igualdade equitativa de oportunidades (um dos subprincípios da 
igualdade); 
Resposta à pergunta: NÃO. Embora façam menções à teoria de Honneth-Fraser, os ministros 
do STF sincretizam-a com outras teorias de justiça e sustentam com mais firmeza a noção de 
igualdade equitativa de oportunidades de Rawls (maior destaque). 
Um argumento interessante foi o do Min. Joaquim Barbosa, o qual apontou para o 
argumento da representatividade simbólica ao trazer à tona o exemplo de Barack Obama 
como “role model” (modelo de comportamento e liderança para outros negros). 
 
MAPAS MENTAIS AUTORAIS: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
Thiago Coelho – T5A 2023.1 
@taj_studies 
 
 
AULA 07 – O JUSTO, O BOM E O ÚTIL 
 
1. Introdução: 
 
 Justo/correto: Kant, deontologismo; 
 Bom: Aristóteles; 
 Útil: Bentham; 
Ex 1: Um trem desgovernado está em direção a 100 pessoas. A única forma de evitar a 
colisão é jogar uma pessoa que está ao nosso lado na frente do trem – ou seja, é tragédia 
certa. O que devemos fazer – jogar ou não jogar o indivíduo? 
Vejamos as hipóteses: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Sem qualquer informação; 
 A pessoa do lado é um desconhecido; 
 A pessoa do lado apresenta relação de parentesco conosco; 
 A pessoa do lado é um parente com o qual temos afeto; 
 Há um parente no meio das 100 pessoas; 
 Há um parente ao seu lado (filho) e outro parente no meio das 100 pessoas (irmão); 
 
Não há uma única resposta correta para cada pergunta, variando a depender da corrente 
adotada pelo indivíduo. 
Daniel Oitaven acredita que, in abstrato, não jogaria. Entretanto, a depender de 
determinadas circunstâncias, como, por exemplo, para salvar um familiar querido (filho), ele 
jogaria 500 se fosse necessário. Isso é compreensível, uma vez que na dúvida entre pensar 
ou se deixar levar, as emoções sempre tendem a prevalecer. Caso o familiar estivesse entre 
o grupo de 100, ele jogaria o que estava no lado sem hesitar. É uma visão egoísta, mas 
natural, pois nos preocupamos com a vida daqueles que apresentam vínculo conosco. 
Thanos, em um dos filmes, decide exterminar metade da população para distribuir melhor 
os recursos escassos entre os restantes e solucionar o problema da desigualdade. Para isso, 
decide sacrificar o que fosse necessário, inclusive a própria filha, por considerar que está 
fazendo o certo. Opta, também, por um critério imparcial típico do deontologismo (estala os 
dedos e dizima metade da população = aleatoriedade). Ele tem um pé no utilitarismo (visão 
sofisticadade que os fins justificam os meios – foco no resultado) e outro no deontologismo 
(foco na conduta escolhida). 
O DILEMA DO TREM 
DEONTOLOGISMO COMUNITARISMO UTILITARISMO 
Destaque para Immanuel 
Kant. 
 
Deve fazer o que certo: foco 
na conduta escolhida (matar 
ou não matar), 
independentemente do 
resultado. 
 
Repúdio ao assassinato de 
qualquer forma (lei 
universal). 
 
As vidas humanas devem ser 
Destaque para Aristóteles; 
 
Criação do critério do vínculo 
comunitário para decidir 
quem deve receber a 
prioridade. 
 
O interesse coletivo deve 
prevalecer (analisar se salvar 
a única pessoal ou as 100 
atende, melhor, aos 
interesses sociais). 
Análise do resultado, ou 
seja, os efeitos da decisão. 
 
Visão sofisticada de que os 
fins justificam os meios. 
 
Se não souber as 
características dos 
indivíduos, o utilitarista raiz 
vai sustentar que é melhor 
poupar 100 vidas. 
 
Se souber, por exemplo, que 
a única vida salva é de um 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
preservadas, assim como a 
dos animais. Não se pode 
sacrificar/negociar vidas 
para a obtenção de 
resultados melhores. 
 
A pessoa não deveria ser 
jogada do trem. 
 
Assim, 100 vidas não valem 
mais do que uma única vida. 
 
 
homem que salvará muito 
mais que 100 pessoas (o 
responsável por curar o 
câncer ou Irmã Dulce, por 
exemplo), tal homem deve 
ser salvo. Observa-se que, 
portanto, uma informação 
extra entra no cálculo e 
interfere na ação. 
 
Pode-se matar seres vivos, 
poupando-lhes o sofrimento. 
 
 
Ex 2: Embora a situação anterior seja hipotética, no mundo do Direito lidamos com 
problemas concretos extremamente complexo, tais como a preferência dos mais jovens 
durante a escassez de respiradores no auge da pandemia da Covid-19, uma vez que 
apresenta maiores chances de sobrevivência. Já outros sustentaram que era necessário 
salvar os idosos, pois são os mais necessitados e os jovens tendem a aguentar mais. 
Protocolos foram estabelecidos durante a pandemia para, infelizmente, “filtrar” quem 
deveria sobreviver. 
Outro debate interessante é que envolve a máxima efetivação de direitos fundamentais 
sociais (como acesso a medicamentos) X a teoria da reserva do possível (não cometer um 
“investicídio” econômico ao ponto de comprometer outros âmbitos). Há pessoas que são 
mais firmes (utilitaristas), já outras buscam salvar vidas a qualquer custo – ainda que isso 
tenha impactos econômicos irremediáveis (deontologistas e comunitaristas). 
 
Ex 3: Vejamos outro exemplo. Determinado grupo de ambientalistas foi advertido para a 
necessidade de salvar uma espécie de peixes na realização de construções próximas ao 
habitat. Parcela sustentou que era impossível interromper a obra já em andamento para 
salvar o peixe, tendo em vista a insignificância da espécie, os gastos públicos, bem como os 
benefícios já trazidos e os futuros benefícios à população local. Outra parcela apontou para a 
possibilidade de se interromper a obra, ainda que implique em desperdício de recursos. 
 
 Deontologismo: Deve-se ser imparcial e fazer o certo; 
 Comunitarismo: Deve-se fazer o que atenda aos interesses da sociedade (salvar o 
peixe ou continuar com a obra); 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Utilitarismo: O peixe não agrega bastante para a comunidade e, portanto, a obra 
deve continuar e, com isso, trazer mais benefícios para a população local; 
 
Ex 4: Um irmão que entrega um serial killer às autoridades policiais age sob o véu kantiano 
(deontológico). Mesmo sentido bastante, faz o certo ao considerar que deve impedir que o 
outro irmão continue a tirar vida de civis. 
 
Ex 5: Na guerra de secessão, o Sul defendia a escravidão e o Norte, não. Um sulista contra a 
escravidão recusa a proposta de lutar pelo Norte em prol de servir ao seu povo, ainda que 
não concorde com a escravidão. O indivíduo, nesse cenário, foi comunitarista. 
 
AULA 08 – O JUSTO, O BOM E O ÚTIL (CONTINUAÇÃO) 
 
1. O justo, o bom e o útil: 
O justo está relacionado a uma visão deontológica, tendo Kant como principal expoente. O 
filósofo estabeleceu as fórmulas do imperativo categórico visando a transformar 
determinadas ações em leis universais. 
O bom está relacionado à corrente comunitarista, a qual é mais teleologista. Telus significa 
fim e, desse modo, decide-se qual ação a ser praticada a partir da consideração dos valores 
da comunidade. Privilegia-se, destarte, o bem comum em relação à satisfação individual (o 
coletivo se sobrepõe ao indivíduo). 
Na segunda metade do século XX, o conceito de bom foi vinculado à ideia de ética (ethos = 
conjunto de valores, hábitos e práticas de uma comunidades específica e tal conjunto impõe 
normas comportamentais). Nesse sentido, emerge a dicotomia entre ética e moral. 
JUSTO BOM 
Devido: Uma regra que, independentemente 
do contexto, deve ser seguida (é a regra 
justa e devida). 
 
Moral: A responsabilidade é decorrente de 
uma ação. 
 
Indivíduo: Foco na ação individual. 
Bem comum: Depende dos valores da 
comunidade em que um comportamento é 
praticado. Daí, analisa-se os efeitos positivos 
ou negativos da atitude. 
 
Ética: A responsabilidade não é decorrente, 
necessariamente, de uma ação. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Universalista: Acaba sendo idealista demais 
e desconectado dos processos históricos, 
bem como da forma pela qual os fenômenos 
acontecem. Pode ser emancipatório em 
algumas ocasiões e arbitrário, em outros. 
 
Ex: Cortar as genitálias femininas é errado. 
Comunidade: Foco nos interesses coletivos. 
 
Particularista: O ethos é variável a depender 
do tempo e lugar. O lado negativo é quando 
essa teoria se fecha e não abre espaço para 
críticas. 
 
Ex: Em determinada comunidade, é 
plenamente justificável cortar as genitálias 
femininas por questões culturais e/ou 
religiosas. 
 
2. O deontologismo kantiano: 
Para Kant, realizar uma ação por mera obrigação ou almejando a resultados específicos 
representa uma condição de escravidão. O agir racional é aquele através do qual o indivíduo 
atua guiado por uma lei moral, ou seja, a finalidade da ação é a ação em si mesma. 
O eulírico de uma das músicas de Seu Jorge tem desejo na amiga da sua esposa, mas se 
controla por entender que é moralmente incorreto. Tal sujeito é visto como kantiano. 
O Legislativo fixa certa resposta para um problema de conhecimento por meio de lei. O 
Legislativo permitiu o aborto em duas ocasiões: (I) gravidez decorrente de estupro ou (II) 
grave ameaça à saúde da mãe. O Direito não tem que discutir problema de conhecimento, 
porém tem o dever de garantir o cumprimento das normas, estabelecendo sanções no caso 
do descumprimento. A discussão sobre a eficácia da norma jurídica, no fundo, é um 
problema de conhecimento. O Direito joga com o exercício da coercitividade (caso X não 
cumpra a lei, sofrerá os efeitos da sanção Y). 
O Direito só é necessário porque o ser humano é dual – esferas sensível e inteligível. Como o 
Direito tem como uma das principais características a exterioridade, agiriam corretamente 
(do ponto de vista externo) A e B, caso: 
 A não mate porque acha matar errado; 
 B não mate porque, embora não ache errado, está receoso da sanção jurídica; 
Entretanto, internamente, agir com medo da sanção jurídica não é um agir racional para 
Kant pois isso não seria uma razão, mas uma atitude direcionada por coerção. 
Para Kant, é necessário passarmos pelo imperativo categórico, o qual se distingue do 
imperativo hipotético. O imperativo hipotético tem papel instrumental (é o agir mediante 
regras/interesses/finalidades – ex: construir um prédio seguindo as regras devidas), 
portanto, não apresenta um valor moral. O imperativo categórico é o critério moral para 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
avaliar se um comportamento tem um valor positivo ou um valor negativo – daí se discute se 
uma regra é racionalmentedefensável ou não. 
IMPERATIVO HIPOTÉTICO IMPERATIVO CATEGÓRICO 
Constitui uma ação que é realizada visando 
ao alcance de uma finalidade (repleta de 
interesses). 
 
Ex: Um aluno presenteia o professor em prol 
da obtenção de uma melhor nota. 
 
Ex: Seguir normas técnicas de construção 
para erguer um prédio de forma segura. 
Constitui uma ação moral que é necessária 
em si mesma, com aptidão para se tornar lei 
universal. 
 
Ex: Um passageiro cede o seu assento para 
uma idosa em um ônibus. 
 
Ex: Um indivíduo não mata por 
compreender a importância da vida do 
outro. Logo, matar é errado. 
 
O agir moralmente se funde exclusivamente 
na razão. 
 
Dessa forma, determina-se se o ato é, de 
fato, genuinamente moral ou possui 
segundas intenções. 
 
Na próxima aula trataremos das fórmulas do imperativo categórico kantiano. 
AULA 09 – FÓRMULAS DO IMPERATIVO CATEGÓRICO 
 
1. Fórmulas do imperativo categórico (deontologismo kantiano): 
 
 Universalidade: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo 
querer que ela se torne lei universal. Trata-se de analisar se uma ação pode ser 
repetida por outras pessoas sem causar impactos negativos, de modo que se torne 
uma lei universal. Devemos pensar: a minha ação pode ser repetida por outros sem 
causar danos? Essa pode ser replicada de modo imparcial? A título exemplificativo 
pode-se citar a vedação da tortura em qualquer hipótese, independentemente do 
contexto (mesmo que para castigar um criminoso ou salvar um familiar) – visão 
distinta da defendida pelos utilitaristas, os quais apontam para a importância de se 
analisar o contexto. A moralidade em Kant é independente do afeto, da piedade e da 
dedução que são juízos subjetivos. Aplicado de forma universal, o dever universal é 
igual para todos os homens. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Humanidade: Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tanto na tua pessoa 
como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca 
simplesmente como meio. Trata-se de agir sempre de modo a tratar a si mesmo e os 
outros como fins e nunca como meios. Não se deve instrumentalizar a si mesmo e 
nem outros. 
 
 Há uma decisão marcante no âmbito dos direitos fundamentais na direção de 
proibir o lançamento de anões como prática esportiva ou entretenimento (o 
cassino e o público estavam instrumentalizando o anão, assim como o anão 
estava se autoinstrumentalizando e recebendo uma quantia financeira); 
 A exploração de elfos na saga Harry Potter evidencia a aplicação dessa teoria 
no mundo da ficção; 
 O direito lida com problemas corriqueiros semelhantes. Prostituir-se, por 
exemplo, não é crime, entretanto o cafetão é prática ilícita (não se pode 
lucrar com o controle sexual ofertado por prostitutas). O cafetão 
instrumentaliza pessoas, o que é veementemente repudiado pelo nosso 
ordenamento jurídico; 
A fórmula de Kant é formal (1ª máxima) e conteudista (2ª máxima). Para alguns, Kant tem 
um viés humanista; para outros, ele é opressor e interventor significativo na liberdade 
humana. 
Do ponto de vista da teoria da justiça, a delação premiada é equivalente ao princípio da 
tortura. O indivíduo é encarcerado e lá fica por um tempo para a confissão. Diferentemente 
da tortura, o que muda é que não há violência física, entretanto, ambos submetem o sujeito 
a uma situação degradante que gera sofrimento para que este colabore e, como 
consequência, tenha a situação aliviada. Embora o Direito não permita a tortura física, 
permite a delação premiada (ainda que na prática determinados agentes usem métodos de 
tortura física para obter confissões). Em suma, a tortura filosófico-mental é legitimada, mas 
a tortura física, não. 
 
Para a próxima aula: Definição das datas dos trabalhos. 
 
AULA 10 – O BOM (COMUNITARISMO) 
 
1. Comunitarismo: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A vida é uma narrativa individual que está inserida em várias narrativas de grupo, as quais 
são mais abrangentes. 
O indivíduo responde pela sociedade, mesmo que nada tenha feito. Daí emerge a noção de 
reparação histórica dos atos cometidos por ancestrais. Aqueles que são individualistas, 
repudiam essa perspectiva. 
O comunitarismo preza pela defesa da comunidade nas situações – o limite, entretanto, é 
indeterminado (será que vale defender o meu grupo mesmo que este esteja errado ou eu 
não concorde?). Essa dualidade, em muitas ocasiões, emerge a partir da adoção de uma 
perspectiva comunitarista. 
Durante a Copa do Mundo realizada na Alemanha (2006), a Alemanha estava bastante 
preocupada com a imagem que transmitiriam ao mundo, a qual foi abalada pela 
consolidação do regime nazista em meados do século XX. Em síntese, houve uma reparação 
pelo que os antepassados fizeram. Por isso, alguns afirmam que o futebol ficou em segundo 
plano (a Alemanha terminou em 3º lugar), já que o foco era a reinserção positiva do país no 
cenário internacional. 
O indivíduo pode decidir ou se abster (lembrando que isso não se aplica aos juízes brasileiros 
– sendo competentes, têm que decidir em razão da vedação ao non liquet). Na tomada de 
decisão que envolva dois argumentos, o indivíduo, mesmo que em uma situação específica, 
está hierarquizando. 
Relembremos o caso da criminalização da homofobia. A doutrina entende, ao longo da 
história, que a homofobia é uma espécie de racismo. A jurisprudência passou a entender 
dessa forma, mas sem mencionar uma analogia (comparar orientação sexual à raça), embora 
tenha feito – o que é inconstitucional em virtude da vedação da analogia in malam partem 
no Direito Penal. Alguns operadores do direito perceberam. Nesse sentido, a teoria da 
justiça pode ser aplicada a um jurista garantista e de esquerda que fica em dúvida – 
defender a criminalização da homofobia (pensamento mais político) ou defender a vedação 
da analogia in malam partem (pensamento mais voltado para a segurança jurídica). 
 
A HOMOFOBIA DEVE SER EQUIPARADA A RACISMO? 
SIM NÃO 
Pensamento mais político. 
 
Viola a vedação da analogia prejudicial ao 
réu. 
 
Foco nos direitos fundamentais inerentes às 
Pensamento mais jurídico. 
 
Preservação da vedação da analogia 
prejudicial ao réu. 
 
Foco na coerência do ordenamento jurídico. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
relações homoafetivas. 
 
Perigoso, já que pode gerar precedentes que 
também contrariem o ordenamento jurídico 
e conduzam a um ativismo judicial. 
 
 
 
Perigoso, por ser um pensamento mais 
distante dos anseios da sociedade (aplicação 
mais fria do direito). 
No fim das contas, escolher uma prioridade é ter ciência de que uma visão vai prevalecer em 
detrimento da outra. 
 
 
A raposa de Berlin: “Muitas coisas sabe a raposa; mas o ouriço uma grande”. 
Parábola animal para classificar o homem em modos existenciais de vida e de pensamento: 
os que procuram e se deixam seduzir por pequenos saberes múltiplos (raposa) e os que se 
obstinam em fechar o mundo numa visão monista e totalizante (ouriço). O ouriço é mais 
previsível em comparação à raposa, uma vez que esta, detentora de mais possibilidades, é 
mais flexível. O ouriço, apesar de mais infeliz, persegue o seu objeto de análise de forma 
excessiva, procurando, assim, entender bastante sobre determinada matéria. A raposa é 
pluralista, o ouriço, obstinado. Eis o dilema: saber um pouco de muitas coisas ou muito de 
poucas coisas? 
 
 
AULA 11 – UTILITARISMO 
 
1. Utilitarismo: 
Caso de Dworkin: O CEO de uma empresa delimita as condutas que os vendedores podem 
fazer para alavancar as vendas. Um dos vendedores viola as regras, contudo, obtém mais 
sucesso em comparação ao restante ($$$), uma vez que vendeu mais. E agora, o que fazer? 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Punir o vendedor ou 
 Premiar o vendedor; 
 
 
 
ARGUMENTO TELEOLÓGICO 
(ARGUMENTO DA FINALIDADE) 
O fim que a empresa se destina é o lucro. Logo, o 
vendedornão deve ser punido, já que aumentou a 
receita da empresa. O mesmo se aplica a um salva-
vida que extrapola os limites da sua competência para 
evitar a morte de um banhista (finalidade, inclusive, 
estampada no nome da profissão). O sujeito deve ser 
premiado. É o utilitarismo dos atos. 
 
 
ARGUMENTO DO RISCO 
O vendedor teve um bom resultado, mas outro 
vendedor descumprindo as regras poderia se dar mal 
e prejudicar a empresa. Se o CEO (profissional 
qualificado) elaborou aquelas regras é porque 
entende que a sua violação tende a trazer maior 
probabilidade de dar errado. O vendedor deve ser 
punido. É o utilitarismo das regras. 
 
 
 
ARGUMENTO DO EFEITO 
As regras existem, não porque são perfeitas ou porque 
sempre vão dar certo, mas pensando-se em um custo-
benefício. Amarrar o sujeito às regras seria um dano 
colateral e, considerando o todo, a ação do vendedor 
trouxe efeitos positivos. O problema seria caso todos 
tivessem violado as regras (uns poderiam se dar bem; 
mas a maioria tenderia a se dar mal). Destarte, pune-
se o vendedor no caso concreto e muda-se as regras 
preexistentes, considerando as técnicas por ele 
sugeridas. É um meio-termo entre as duas vertentes 
do utilitarismo. 
 
Podemos falar, nesse cenário, em utilitarismo dos atos e utilitarismo das regras. 
 O utilitarismo das regras pressupõe que precisamos dar uniformidade às soluções 
possíveis. Quanto mais se flexibiliza a regra com exceções, mais se legitima a criação 
de uma nova regra, logo, as exceções devem ser repudiadas em prol da 
universalização; 
 O utilitarismo dos atos não cria uma regra para dar o mesmo tratamento a todos os 
comportamentos. Tal vertente trabalha ato a ato, analisando as peculiaridades do 
caso concreto (análise in concreto). Caso haja alguma transgressão por parte de 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
algum indivíduo, no todo, não haveria prejuízo. O problema disso é a insegurança 
jurídica gerada, um verdadeiro caos no ordenamento jurídico; 
No Caso Eduardo Cunha, o STF agiu consoante o utilitarismo dos atos. O STF deixou claro a 
excepcionalidade da decisão para suspender o mandato e realizar a cassação da presidência 
da Câmara por tempo indeterminado. Entendeu-se que Eduardo Cunha estava obstruindo 
investigações e, com isso, a sua permanência representava uma ameaça aos três poderes. 
Caso um indivíduo passe por uma situação semelhante, cabe ao STF não agir politicamente e 
aplicar o princípio da isonomia. 
A analogia é mais semelhante ao utilitarismo dos atos, entretanto, o utilitarismo das regras 
permite o preenchimento de lacunas através da analogia para manter a coerência do 
ordenamento. É o problema que os exegéticos enfrentaram acerca da flexibilização da regra 
“é proibido entrar cachorro no restaurante” (mas um leão poderia entrar ou, por analogia e 
considerando a maior periculosidade, deve, também, ser barrado?). Aquele que é fiel à regra, 
permite o leão entrar, mesmo que este venha a devorar pessoas (dano colateral). 
 
Vejamos o trecho a seguir extraído de uma das obras de Dworkin: 
Suponha que o presidente [de uma sociedade empresária], tendo fixado o preço de 
um [...] produto, descobre que um vendedor empolgado vendeu todo o estoque 
por um preço mais alto. O vendedor deve ser censurado ou elogiado? Um 
conselheiro sugere que ele deve ser elogiado, já que o seu comportamento, afinal, 
aumentou os lucros da empresa. Outro conselheiro adverte para o fato de que, se 
ele for elogiado, outros se sentirão encorajados a desobedecer futuras decisões do 
presidente, o que, presumivelmente, a longo prazo, gerará danos econômicos à 
empresa. Esse segundo conselheiro poderia admitir que a venda específica por um 
preço mais alto havia ajudado a empresa, e que, se o valor do comportamento 
pudesse ser avaliado independentemente dos efeitos que a decisão do presidente 
teria sobre o grau de obediência às próximas fixações de preço, a conduta do 
vendedor deveria ser elogiada." (DWORKIN, Ronald. Doeslaw have a function?) 
O primeiro conselheiro exemplifica o utilitarismo dos atos e o segundo, o utilitarismo das 
regras. 
 
Podemos, nesse cenário, fazer a seguinte síntese: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
Tema da AV2 (17/05/2023): Debate sobre a moção “Esta casa determina que os mutantes, 
humanos que nascem com traços genéticos que lhes concedem habilidades sobrenaturais e 
que representam 1% da população mundial, vivessem em uma comunidade isolada dos 
demais humanos”. 
Dicas para o debate: Falar bastante (não se esconder do debate), não mesclar teorias em 
um mesmo comentário (expresse com uma e rebata uma pergunta com outra), não se 
prender à lei em sentido estrito, fazer perguntas quando convenientes e não fugir do tema 
proposto. 
 
AULA 12 – TEORIAS DE JUSTIÇA E A POLÍTICA 
 
1. Teorias de Justiça e a política: 
Há quem condene a contratação de estrangeiros e mercenários para ajudar em uma guerra 
(utilitaristas). Essa visão comunitarista é a mesma que condena, por exemplo, a 
naturalização de atletas, a qual vem à tona com maior frequência durante a disputa da Copa 
do Mundo. 
Existem os comunitaristas de esquerda (democratas) e os comunitaristas de direita 
(republicanos). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Uma proposta anti-pornografia é comunitarista. 
No Brasil, o PSOL seria o partido mais próximo do comunitarismo de esquerda. 
 
 
Thiago Coelho – T5A 2023.1 
@taj_studies

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