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QUÍMICA QUÂNTICA AULA 5 Profª Líliam Maria Born Martinelli CONVERSA INICIAL Elétrons, prótons, nêutrons e partículas subatômicas apresentam comportamentos individuais e, para entender esses comportamentos e também como eles influenciam na formação de ligações químicas, de moléculas, e até mesmo determinar a estabilidade dessas moléculas, precisamos entender melhor a química quântica. Para tanto, nesta aula, pretende-se avaliar os conceitos fundamentais da química quântica para a aplicação a teorias modernas. No entanto, essa tarefa não é fácil e muito menos trivial. Veremos alguns métodos para cálculo de sistemas atômicos e poliatômicos que auxiliam na modelagem atômica e molecular de moléculas que já conhecemos também como novas moléculas. Observaremos que, ao longo das décadas, esses modelos foram melhorados para se obter resultados mais exatos. Iniciaremos com a identificação dos limites da teoria quântica e os métodos para contorná-los, para então compreender os princípios de Hartree. Na sequência, retomaremos o contato com as bases da química quântica para entendermos a existência dos férmions e dos átomos multieletrônicos. Por fim, vamos analisar a teoria da correlação eletrônica e suas aplicações e estudar as moléculas diatômicas e poliatômicas fundamentadas pelo método CLAO. TEMA 1 – LIMITES PRÁTICOS DA TEORIA E MÉTODOS PARA CONTORNÁ- LOS Quando estudamos a equação de Schrödinger, entendemos que ela apresenta uma solução para o conhecimento do átomo de hidrogênio, de modo que essa equação descreve os quatro números quânticos. No entanto, quando começamos a aumentar o número de elétrons, no caso de átomos maiores, ou até mesmo ligações entre átomos, começamos a ter que realizar algumas aproximações para obtermos os resultados (Bastos, 2015). Mesmo no caso do átomo de hélio, que possui dois elétrons, não se pode chegar à expressão analítica dos orbitais e das energias, sendo indispensável lançar mão das aproximações. De mesma forma para moléculas poliatômicas, nas quais temos ainda outros parâmetros que devemos levar em consideração, por exemplo, a distância das ligações e seus respectivos ângulos (Levine, 1991). 3 Diante disso, é importante reconhecer os limites que a teoria apresenta e as formas possíveis para o contorno destes. Assim, é importante perguntar: como podemos calcular as propriedades dos sistemas poliatômicos? É importante saber que há hoje quatro métodos, sobre os quais vamos discutir a seguir. O primeiro é a mecânica molecular, que, por ser um método mais simples e eficiente, tem sido amplamente utilizado para realizar a modelagem de estruturas moleculares e determinar a energia conformacional na verificação de problemas experimentais em química e bioquímica. Os estudos em mecânica molecular utilizam equações derivadas, que se baseiam na mecânica clássica (Coelho et al., 1999). Esse modelo julga as moléculas como um conjunto de átomos ligados entre si por forças elásticas ou harmônicas, em que os principais fatores que influenciam os resultados são: comprimento da ligação, ângulo de ligação, ângulos diedros e interação não ligadas (átomos que não há ligação entre si). Entre os resultados obtidos por esse modelo estão as propriedades termodinâmicas, geométricas e vibracionais da estrutura molecular pesquisada (Coelho et al., 1999). Saiba mais Aprofunde seus conhecimentos por meio da leitura do artigo “Aplicação da mecânica molecular em química inorgânica”, de Lilian W. Coelho e demais colaboradores, publicado em 1999 na revista Química Nova. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/qn/v22n3/1093.pdf>. Acesso em: 8 out. 2020. A teoria do funcional da densidade é o segundo método que pode ser utilizado para resolver o problema discutido anteriormente. Desde os anos 1970, tem sido usado para determinar propriedades de sistemas em estado sólido. Essa teoria realiza aproximações da equação de Schrödinger para sistemas de muitos corpos. Com isso, é possível, por exemplo, obter valores aproximados da energia de ionização e dados da teoria de bandas, porque essa teoria faz uso de equações funcionais (funções que recebem como argumento outra função) que dependem da densidade eletrônica. Entretanto, a teoria do funcional da densidade não descreve adequadamente interações intermoleculares, em especial, as interações de Van der Waals (Levine, 1991; Parr, 1950). 4 O terceiro método é o semiempírico, baseado na teoria de Hartree-Fock, juntamente com aproximações e uso de dados obtidos experimentalmente. Esse método é utilizado no tratamento de grandes moléculas, sendo até a década de 1990 aplicado em moléculas com até uma centena de átomos; atualmente, pode ser utilizado para sistemas contendo centenas de milhares de átomos (Parr, 1950). Saiba mais A respeito da teoria de Hartree-Fock, conheça-a um pouco mais lendo o artigo “Método de Hartree-Fock”, de Carlos M. de O. Bastos, que pode ser acessado no endereço a seguir. Disponível em: <http://www.ifsc.usp.br/ ~strontium/Teaching/Material2015-2%20SFI5814%20Atomicamolecular/Semina rio%20-%20Carlos%20-%20Hartree-Fock.pdf>. Acesso em: 8 out. 2020. O nome do quarto método, ab initio – “desde o princípio” – já implica que são utilizados nele apenas constantes da física. Desse modo, tenta resolver a equação de Schrödinger, a fim de se obter dados como a densidade eletrônica. Apesar de ser um dos métodos que mais se aproxima da solução da equação de Schrödinger, é um método que funciona para sistemas menores quando comparados com os métodos mecânica molecular ou semiempíricos (Coelho et al., 1999). Todos esses métodos utilizam aproximações as quais são baseadas em teorias e postulados. Por exemplo, por meio da teoria de Hartree, utilizando a ideia do que conhecemos como aproximação das partículas independentes, foi criada uma equação como uma função do produto das funções de onda de cada elétron individualmente (orbital). Com isso, é possível encontrar uma equação para um único elétron, mas que possui, na equação, a interação dos elétrons restantes. TEMA 2 – HARTREE E A APROXIMAÇÃO DAS PARTÍCULAS INDEPENDENTES Um ano após Schrödinger ter publicado sua equação, em 1927, Hartree tentou, sem fazer uso de parâmetros empíricos, resolver a equação de Schrödinger para sistemas de átomos mais complexos com base em princípios físicos fundamentais, podendo dizer que este pode ter sido o início do método ab initio (Monte, Ventura, 2011). 5 Hartree, segundo Bastos (2015), propôs que a função de onda eletrônica de um átomo possuindo N elétrons é dada como a multiplicação de N funções de onda de um elétron. Com isso, ele sugeriu a seguinte equação. Figura 1 – Equação sugerida por Hartree Fonte: Bastos, 2015. Na equação da Figura 1, ri, i e i correspondem às coordenadas esféricas do elétron i. Hartree sugeriu que o princípio de exclusão de Pauli era aceito, ou seja, se dois elétrons apresentassem os mesmos números quânticos n, l e ml, então os números quânticos de spin seriam diferentes. Hartree deixou de considerar as funções hidrogenoides, ou seja, não desprezou as repulsões intereletrônicas. Com isso, ele propôs a equação que é demonstrada na Figura 2 a seguir. As soluções dessa equação são chamadas de orbitais moleculares; com a resolução dessa equação, as energias dos orbitais não dependem exclusivamente do número quântico principal (n), mas também do número quântico secundário ou momento angular (l) (Monte; Ventura, 2011). Figura 2 – Equação proposta por Hartree Fonte: Monte; Ventura, 2011. Com essa equação, Hartree comprovou a ideia de degenerescência dos orbitais de um mesmo nível. Por exemplo, como no caso do carbono, o qual possui a seguinte distribuição de Linus Pauli, 1s2, 2s2, 2p2, em que orbitais 2s e 2p não possuema mesma energia (Monte; Ventura, 2011). No entanto, a equação de Hartree não é exata, visto que deixou de considerar a antissimétrica da função de onda e não incorporou em sua equação os princípios da indistinguibilidade. Estes conceituam que mesmo partículas idênticas podem ser distintas entre si, já que cada partícula segue um caminho 6 próprio, e possibilita saber a cada momento de qual partícula se trata (Monte; Ventura, 2011). Estudiosos de quântica na época não aceitaram a teoria de Hartree, pois ela não dependia de dados empíricos e não conseguiu demonstrar se a sua hipótese era condizente com o método variacional (uma ferramenta matemática muito utilizada na mecânica quântica, utilizada para encontrar aproximações do valor próprio de mais baixa energia ou estado fundamental). No entanto, alguns anos depois, em 1930, Vladimir Aleksandrovich Fock e John Clarke Slater reformularam as ideias de Hartree, considerando na equação o caráter antissimétrico dos elétrons, criando assim um método para tratar o problema de muitos corpos (Bastos, 2015). TEMA 3 – FOCK: FÉRMIONS E ÁTOMOS MULTIELETRÔNICOS Como vimos anteriormente, Hartree usou em sua teoria o princípio de exclusão de Pauli, ou seja, “proibiu” a existência de duas partículas no mesmo estado quântico e, com isso, negligenciou a estatística quântica. Foi então que, em 1929, J. Slater demonstrou um jeito de criar uma função de onda antissimétrica por meio dos orbitais eletrônicos. Atualmente, esse estudo é conhecido como Determinante de Slater. Como as partículas são indistinguíveis, em uma função antissimétrica há a troca do sinal quando mudamos a posição das partículas. Ou seja, se há dois elétrons que ocupam o mesmo estado, a função de onda será a mesma, mas com sinal trocado (Bastos, 2015). Se utilizarmos a equação de Hartree (função de onda de N elétrons, sendo o produto de cada um dos orbitais de cada elétrons), o método de antissimetrizar a função de onda exige o determinante de Slater, como demonstrado na Figura 3 a seguir (Bastos, 2015). Figura 3 – Utilização do determinante de Slater Fonte: Bastos, 2015. 7 Podemos representar o determinante de Slater também na forma de somatória. Figura 4 – Determinante de Slater na forma de somatória Fonte: Bastos, 2015. Como podemos verificar, o Determinante de Slater aceita os orbitais como independentes ao fazer o produto entre os diferentes orbitais e depois antissimetrizar a função de onda total. Essa aproximação é conhecida como aproximação de Hartree-Fock (Monte; Ventura, 2011). Figura 5 – Vladimir Fock Crédito: © CC-20. Vladimir Fock, físico soviético, foi um dos pioneiros no estudo da mecânica quântica e da eletrodinâmica quântica, simultaneamente. No entanto, diferentemente de Slater, contribuiu de modo significativo no entendimento dos átomos multieletrônicos, o qual foi utilizado para definir a energia e a função de onda de um sistema quântico de férmions (nesse caso, elétrons) em um estado estacionário de maneira aproximada, conhecido como Espaço de Fock (Monte, Ventura, 2011). O método Hartree-Fock propõe que a função de onda de N corpos de um sistema se aproxima por um único Determinante de Slater, quando muitas partículas sejam férmions (partículas que possuem spin semi-inteiros, como no caso de prótons e elétrons). Usando o método variacional, é possível derivar um 8 conjunto de N equações dos N orbitais de spin, sendo a solução dessa equação a função de onda de Hartree-Fock, que fornece a energia do sistema (Monte, Ventura, 2011). Mesmo o método sendo fisicamente mais preciso do que os anteriores, ele apresentou dificuldades, pois ainda que um átomo tenha tamanho médio, os cálculos eram muito complexos. Além disso, as aproximações de interação entre os elétrons eram realizadas utilizando a média do campo gerado, deixando de considerar que a interação entre os elétrons ocorre de maneiras diferentes entre si. Para corrigir o problema dessa interação, também conhecida como correlação eletrônica, surgiram posteriormente os métodos pós-Hartree-Fock (Cramer, 2002). Saiba mais É certo que esse assunto apresenta muitas equações, cujos resultados contribuem para entender os mecanismos que formam o que de mais íntimo a matéria possui. Para saber mais sobre tais equações, acesse o artigo “A importância do método Hartree no ensino da química quântica”, de Silmar A. do Monte e Elizete Ventura, no endereço a seguir. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/qn/v34n3/28.pdf>. Acesso em: 8 out. 2020. TEMA 4 – CORRELAÇÃO ELETRÔNICA Como vimos anteriormente, o método Hartree-Fock apresentava alguns problemas que haviam de ser corrigidos. Ao longo dos anos, surgiram melhoramentos, como o método de Monte Claro, o método da Teoria da Perturbação (Moller-Presset), o método da Interação de Configuração (CI), entre outros. Todos ficaram conhecidos como Pós-Hartree-Fock (Cramer, 2002). Nesse momento, daremos atenção especial aos métodos CI e da Teoria da Perturbação. Como vimos anteriormente, o método de Hartree-Fock utiliza apenas um Determinante de Slate, porém, as funções de onda exatas, em geral, não podem ser descritas com determinantes únicos. Foi então que Per-Olov Lowdin descreveu a função de onda como uma combinação linear de todos os determinantes de Slater em um sistema, podendo nesse modelo incluir estados excitados do sistema (Bugalski; Gabe, 2020). 9 Outro método muito conhecido é o da Teoria da Perturbação, o qual nasceu por meio da astronomia. Ao calcular a órbita da Terra em volta do Sol, não levamos em conta os outros planetas. No entanto, a Terra “sente” a atração de outros planetas presente no Sistema Solar, e isso faz com que haja alterações em nossa órbita. Para corrigir essas pequenas mudanças, foi proposto um método para que o cálculo seja mais exato. Para tanto, como ponto de partida calcula-se a órbita da Terra sem a interferência dos outros planetas, por exemplo, Júpiter, ou seja, sem perturbação. Em seguida, calcula-se diretamente as alterações que deveriam ser introduzidas na orbita não perturbada (Cramer, 2002). O aprimoramento desse método levou, inclusive, à revelação de Netuno, atraído pela perturbação que causava em Urano. No campo da quântica, a ideia é a mesma, inicia-se com um átomo ou molécula simples, como o átomo de hidrogênio ou a molécula do gás hidrogênio (que possui apenas um elétron no caso do átomo e dois elétrons no caso da molécula) e então gradativamente adiciona-se hamiltonianos “perturbativos”, como novos orbitais e elétrons ao sistema, passando assim a ter resultados para átomos e moléculas maiores e mais complexas, que apresentam mais elétrons e mais orbitais. TEMA 5 – MOLÉCULAS DIATÔMICAS E POLIATÔMICAS: MÉTODO CLAO Vimos ao longo desta aula que o modelo de Hartree-Fock é valioso, visto que se tornou padrão para o entendimento inicial de qualquer estudo de representação de estados eletrônicos de átomos e moléculas. Contudo, na prática, é um método em que a escolha das funções matemáticas que representam os orbitais atômicos é difícil, o que nos leva a imaginar como seriam complicadas ao tratar de moléculas. Além disso, a forma das equações matemáticas dos orbitais que deveriam ser utilizadas também representava um problema, pois, para os cálculos de modelos atômicos, era possível resolver com soluções numéricas, mas para moléculas essa resolução se tornava computacionalmente inadequada (Custódio; Morgon, 2018). A solução para esses problemas, que possibilitou o cálculo para qualquer sistema imaginável, foi o método proposto pelo físico e químico holandês Clemens C. J. Roothaan. Ele cursou seu doutorado ao lado de outro grande nome da mecânica quântica, Robert S. Mulliken, que escreveu, em sua palestra para o Nobel sobre Roothaan: https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_S._Mulliken10 Tentei induzir Roothaan a fazer seu doutorado, sua tese sobre cálculos do tipo Hückel em benzenos substituídos. Mas, depois de realizar alguns cálculos muito bons sobre eles, ele se revoltou contra o método de Hückel, jogou seus excelentes cálculos pela janela e, para sua tese, desenvolveu de forma totalmente independente seu agora conhecido método de campo autoconsistente LCAO totalmente eletrônico para o cálculo de funções de onda atômicas e moleculares, agora apropriadamente chamadas, creio eu, de método Hartree-Fock- Roothaan1. (Mulliken, 1966, p. 150, tradução nossa) Como podemos deduzir, Roothaan desenvolveu aquele que seria considerado o método mais sofisticado e exato para o cálculo de funções atômicas e moleculares, o método LCAO (do inglês, “Combinação Linear dos Orbitais Atômicos”) (Custódio; Morgon, 2018). Figura 6 – Clemens C. J. Roothaan Crédito: © CC-20. Roothaan sugeriu que as funções utilizadas para representar orbitais moleculares poderiam ser obtidas em termos de funções que representassem orbitais atômicos. Um ótimo exemplo e mais simples para demonstrar esse método é a molécula H2. Quando imaginamos os dois átomos de hidrogênio com uma ligação entre eles, supomos que o local com maior probabilidade de encontrarmos um elétron é entre os núcleos dos dois átomos, logo, esses dois átomos deixaram, cada um, de possuir um orbital separadamente e passaram a ter entre eles um orbitar molecular (Custódio; Morgon, 2018). 1 No original: “I tried to induce Roothaan to do his Ph.D.thesis on Hückel-type calculations on substituted benzenes. But after carrying out some very good calculations on these he revolted against the Hückel method, threw his excellent calculations out the window, and for his thesis developed entirely independently his now wellknown all-electron LCAO SCF self-consistent-field method for the calculation of atomic and molecular wave functions, now appropriately referred to, I believe, as the Hartree-Fock-Roothaan method”. 11 NA PRÁTICA Ao longo desta aula, conhecemos inúmeros métodos para cálculo de energia dos átomos e moléculas, mas qual seria a importância disso? Por meio da química quântica, foi possível descrever, explicar e prever o comportamento de sistemas físico-químicos, orgânicos, bem como o desenvolvimento de equipamentos. No entanto, nas últimas duas décadas, a quântica deu muito mais passos e não apenas nas áreas da química, física ou biologia, mas também na área da saúde e computação (Jarowski, 2018). Nesses últimos 20 anos, recebemos as notícias sobre a criação de computadores quânticos, inclusive com um modelo comercial lançado pela IBM em 2019, este sendo um híbrido entre o computador quântico e convencional. Mas como eles funcionam e qual a importância disso? (Bonsor; Strickland, 2000). O funcionamento desses computadores quânticos usa qubits em vez de bits tradicionais (dígitos binários). Qubits são diferentes dos bits tradicionais porque, até que sejam lidos (ou seja, medidos), podem existir em um estado indeterminado, em que não podemos dizer se serão medidos como 0 ou 1. Isso é devido a uma propriedade única chamada de sobreposição (Bonsor, Strickland, 2000). A superposição torna os qubits interessantes, mas seu verdadeiro superpoder é o emaranhamento. Qubits entrelaçados podem interagir instantaneamente. Para fazer qubits funcionais, os computadores quânticos precisam ser resfriados até quase o zero absoluto. Mesmo quando super- resfriados, os qubits não mantêm seu estado emaranhado (coerência) por muito tempo, sendo esta a principal (e talvez única) desvantagem dessa tecnologia (Bonsor; Strickland, 2000). A importância? Bem, como visto ao longo desta aula, há vários métodos diferentes para cálculos de energia, propriedades moleculares, entre outros, e os quais são todos calculados por computadores sofisticados. Mesmo assim, são cálculos demorados, podendo levar meses para um computador tradicional chegar aos resultados de moléculas relativamente simples (Jarowski, 2018). Com a computação quântica, isso seria trivial, podendo levar algumas horas para o computador quântico realizar os cálculos para moléculas complexas. Isso, por exemplo, foi comprovado pela IBM em 2019, na realização de cálculos de uma molécula orgânica com alto grau de complexidade em seu https://www.extremetech.com/tag/qubits 12 computador quântico, mostrando assim a importância do desenvolvimento dessa tecnologia para a área da saúde. Saiba mais A quem interessar, no link disponibilizado a seguir há uma lista de empresas que começaram a operar nesse ramo, sendo estes apenas alguns dos exemplos práticos da utilização da química quântica, ou melhor, “quiminformática”. Disponível em: <https://www.biopharmatrend.com/post/99-8- startups-applying-quantum-calculations-for-drug-discovery/>. Acesso em: 8 out. 2020. FINALIZANDO No decorrer desta aula, passamos a conhecer quatro métodos para calcular as propriedades de um sistema, cada um com suas vantagens e desvantagens. Vimos também como Hartree não usou parâmetros empíricos para resolver a equação de Schrödinger nos sistemas de átomos mais complexos por meio de princípios físicos fundamentais. Entretanto, com isso, deixou de considerar a existência de duas partículas no mesmo estado quântico e negligenciou a estatística quântica. Para contornar esse problema, Fock apresentou seu método, que posteriormente ficou conhecido como Hartree- Fock. Observamos ainda os inúmeros métodos que surgiram na sequência, todos sendo chamados de pós-Hartree-Fock, sendo o mais importante o método de Combinação Linear dos Orbitais Atômicos (LCAO), que, entre outras funções, demonstra os orbitais moleculares. 13 REFERÊNCIAS BASTOS, C. M. O. Método de Hartree-Fock. São Paulo, 17 nov. 2015. Disponível em: <http://www.ifsc.usp.br/~strontium/Teaching/Material2015-2%20SFI5814%20A tomicamolecular/Seminario%20-%20Carlos%20-%20Hartree-Fock.pdf>. Acesso em: 8 out. 2020. BONSOR, K.; STRICKLAND, J. How Quantum Computers Work. How Stuff Works, Dec. 8, 2000. Disponível em: <https://computer.howstuffworks.com/ quantum-computer1.html>. Acesso em: 8 out. 2020. BUGALSKI, L. B.; GABE, D. A. Química Quântica. Curitiba: InterSaberes, 2020. COELHO, L. W. et al. Aplicação da mecânica molecular em química inorgânica. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 396-404, maio/jun. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0 100-40421999000300018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 8 out. 2020. CRAMER, C. J. Fundamentos de Química Computacional. Chichester: John Wiley & Sons, 2002. p. 207- 211. CUSTODIO, R.; MORGON, N. H. Método LCAO. Revista Chemkeys, n. 3, p. 1- 8, 17 set. 2018. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ chemkeys/article/view/9639>. Acesso em: 8 out. 2020. JAROWSKI, P. High Throughput Quantum Chemistry for Drug Discovery: Towards Reaction Screening. Biopharma Trend, Feb. 15, 2018. Disponível em: <https://www.biopharmatrend.com/post/55-high-throughput-quantum-chemistry-f or-drug-discovery-towards-reaction-screening/>. Acesso em: 8 out. 2020. LEVINE, I. N. Quantum C/hemistry. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1991. p. 455-544. MONTE, S. A. do; VENTURA, E. A importância do método de Hartree no ensino de química quântica. Química Nova, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 527-534, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 40422011000300028&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 8 out. 2020. MULLIKEN, R. S. Spectroscopy, molecular orbitals, and chemical bonding. Nobel Lecture, Dec. 12, p. 130-160, 1966. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/ uploads/2018/06/mulliken-lecture.pdf>. Acesso em: 8 out. 2020. https://www.biopharmatrend.com/contributor/17/ 14 PARR, R. G.; CRAIG, D. P.; ROSS, I. G. Molecular Orbital Calculations ofthe Lower Excited Electronic Levels of Benzene, Configuration Interaction included. Journal of Chemical Physics, v. 18, n. 12, p. 1.561-1.563, 1950. Disponível em: <https://aip.scitation.org/doi/10.1063/1.1747540>. Acesso em: 8 out. 2020.
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