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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA AULA 1 Prof. Almir Cléydison Joaquim da Silva 2 CONVERSA INICIAL Introdução ao estudo de projetos Em alguma dimensão, todos nós já ouvimos relatos sobre dificuldades enfrentadas por algumas empresas ou por empreendedores, assim como alguns relatos de sucesso quanto à participação no mercado. Qual a diferença entre eles? Por que alguns empreendimentos fracassam? Por que outros têm sucesso? Nesta aula, concentraremos nossas discussões nos elementos introdutórios aos estudos de projetos, apresentando as principais definições que darão subsídios para a avaliação acerca da viabilidade (ou não) de empreendimentos. Para tanto, os esforços de aprendizagem se voltarão para as seguintes discussões: a. Por que empreendimentos fracassam? b. Aspectos conceituais de projetos. c. Características de projetos. d. Classificações usuais de projetos. e. Etapas do ciclo de vida de projetos. CONTEXTUALIZANDO O avanço da integração econômica e financeira, especificamente com o processo de globalização, tem implicado a existência de mercados cada vez mais competitivos. Somada a essa dinâmica concorrencial, a aceleração das transformações tecnológicas tem provocado constantes mudanças no mercado. Tais mudanças ocorrem “[...] nos produtos, nos processos produtivos, nas fontes de matérias-primas, nas formas de organização produtiva, ou nos próprios mercados, inclusive em termos geográficos” (Possas, 2002, p. 246). Essa economia cada vez mais dinâmica e competitiva tanto requer mudanças de comportamento na gestão empresarial quanto aponta para a necessidade de se avaliar as decisões de investimento antes de abrir um negócio ou de executar um projeto ou obra específica. A ausência de planejamento prévio ao início das atividades de um negócio configura-se como um dos aspectos determinantes para o fracasso de um negócio. Mas você sabe quais outros aspectos contribuem para esse fracasso? 3 E, ainda, quais as características, classificações e etapas de um projeto? Ao longo desta aula, iremos avançar na discussão desses e de outros elementos contextuais e introdutórios aos estudos de viabilidade econômico-financeira de projetos. TEMA 1 – POR QUE EMPREENDIMENTOS FRACASSAM? Crédito: Fizkes/Shutterstock. Compreender as razões e as dimensões do fracasso e da mortalidade de empreendimentos é, certamente, um bom meio para se destacar a importância da realização de estudos de análise de viabilidade econômico-financeira de projetos e, consequentemente, a tomada de decisão de alocação ou não de recursos em um negócio. Inicialmente, cabe estabelecer as distinções existentes entre fracasso e mortalidade de empresas. Trata-se de uma discussão relevante e que nos auxilia na compreensão das causas e dos elementos que levam a situações de incapacidade gerencial ou de concepção analítica da situação da empresa e de seu consequente encerramento. Muitas vezes, os estudos que analisam essas questões consideram e apresentam uma concepção de que ambas são situações que partem da mesma natureza e, consequentemente, são análogas, em certo aspecto. Isso decorre tanto da ausência de notificações de 4 registros sobre as causas da extinção de empresas quanto de fragilidades de algumas pesquisas empíricas (Machado; Espinha, 2005). Mas você sabe qual é a diferença entre mortalidade e fracasso empresarial? De modo geral, a mortalidade de empresas é reflexo da tomada de decisão voluntária, ou seja, quando o empreendedor resolve abandonar ou encerrar os negócios em decorrência de deliberações como: não fazer mais investimentos; realizar a venda da marca de um produto para concorrentes; ter necessidade de capital para mudar ou iniciar outro negócio; estar com problemas de saúde; querer se aposentar; não ter sucessores; ou, ainda, querer se tornar um empregado de outro negócio (Machado; Espinha, 2005). Por outro lado, o fracasso envolve situações de decisão involuntária e que resultam no fechamento de uma empresa – que se revela por meio da falência ou da perda de crédito. As condições que induzem situações de falência estão, muitas vezes, vinculadas a um declínio rápido ou gradual que impacta diretamente os resultados da empresa. Algumas condições de estagnação ou deterioração dos negócios podem ser controladas pelos dirigentes (a exemplo de disputa de poder interno, fragilidade do modelo de negócios, obsolescência tecnológica ou deficiência na interpretação de informações e na gestão); enquanto outras condições estão fora de sua percepção (por exemplo, quando o declínio das atividades da empresa decorre de mudanças no ciclo de vida de produtos, de mudanças no ambiente e no setor de atividade) (Machado; Espinha, 2005). Diversos fatores podem interferir na sobrevivência de empresas no mercado e determinar o encerramento de suas atividades empresariais. Em pesquisa sobre o sucesso e o fracasso de empresas nos seus primeiros cinco anos de atividades, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em São Paulo (Sebrae-SP, 2014) procurou identificar quais fatores contribuem para a sobrevivência de empresas no Estado de São Paulo. As principais causas mortis de empresas, identificadas na pesquisa, estão relacionadas à falta de planejamento prévio, aos problemas de gestão empresarial e comportamento empreendedor. Pelo Gráfico 1, nota-se que os principais motivos para o fechamento de empresas referem-se a fragilidades no planejamento financeiro e a desconhecimento do mercado. No Gráfico 1, Outros motivos correspondem, por exemplo, a “[...] problemas com fornecedores, sazonalidade dos produtos e serviços e criminalidade na vizinhança” (Sebrae-SP, 2014, p. 33). 5 Gráfico 1 – Principais motivos para o fechamento de empresas Fonte: Sebrae-SP, 2014, p. 33. Todas as causas destacadas no Gráfico 1 são elementos importantes que um estudo de análise de viabilidade econômico-financeira procura compreender, na tentativa de minimizar potenciais ameaças ou riscos de fracassos na alocação de recursos em projetos. Esses elementos vão desde o entendimento do produto, do mercado e dos fatores de produção até aspectos técnicos de produção, localização do projeto e aspectos financeiros. Antes de avançarmos nos elementos que compõem os estudos de viabilidade econômico-financeira, é fundamental discutirmos alguns aspectos conceituais, características, classificações e etapas do ciclo de vida de projetos. Isso nos dará subsídios para uma melhor compreensão dos objetivos e projeção de resultados esperados com a estruturação de um projeto. TEMA 2 – ASPECTOS CONCEITUAIS DE PROJETOS Crédito: NicoElNino/Shutterstock. 19% 14% 9% 8% 9% 8% 7% 6% 3% 17% Falta de capital/lucro Encontrou outra atividade Falta de clientes Problemas de planejamento/administração Problemas particulares Perda do cliente único Problemas com sócios Burocracia/impostos Concorrência forte Outros motivos* 6 Existem diferentes definições conceituais a respeito da palavra projeto, que vão desde expressões vinculadas a plano e proposta até a formulação de entendimentos das características, especificidades e objetivos de determinado empreendimento. Projetos estão presentes em todos os níveis organizacionais de uma empresa, em suas atividades estratégicas e operacionais (Camargo, 2014), assim como nas diversas áreas do conhecimento e também nas dimensões da vida pessoal. Mas você sabe o que é um projeto? Em uma percepção mais ampliada, projeto configura-se como um [...] empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma sequência clara e lógica de eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo claro e definido, sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros predefinidos de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade. (Vargas,2009, p. 26) Nessa perspectiva, projetos não devem ser confundidos com trabalhos rotineiros, nem com programas. No primeiro caso, a principal distinção reside no fato de que um projeto é realizado uma única vez – a exemplo do desenvolvimento de um novo produto farmacêutico para o mercado; da fusão de duas organizações; ou da construção de um supermercado –, enquanto que o trabalho rotineiro exige que uma atividade semelhante seja executada repetidamente – a exemplo da inserção diária de notas fiscais de venda no livro- razão contábil ou a colocação de etiquetas em um produto fabril. Dessa forma, trabalhos rotineiros são atividades que não impactam a estratégia de negócio de um empreendimento e nem o desenvolvimento de produtos novos e inovadores (Larson; Gray, 2016; PMI, 2017). Com relação a programa, este não deve ser empregado como sinônimo de projeto, tendo em vista que “um programa é um grupo de projetos relacionais concebidos para realizar uma meta comum em um longo período” (Larson; Gray, 2016, p. 5). Projetos também podem ser compreendidos como ferramentas de avaliação de viabilidade. A esse respeito, Correia Neto (2009, p. 1) destaca que projeto “[...] é um instrumento utilizado para permitir a tomada de decisão sobre a realização de um determinado empreendimento”. Já o Project Management Institute (PMI) sintetiza a definição de projeto como “[...] um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único” (PMI, 2017, p. 4). Com base na análise dos elementos dessa definição, é importante destacar alguns aspectos objetivos que se referem à temporalidade e à entrega. Nesse último caso, a realização dos objetivos do 7 projeto resulta na produção de entregas de caráter econômico, social, material ou ambiental. Os objetivos podem almejar tanto posições estratégicas ou algum propósito a ser atingido quanto à criação de produtos ou à realização de serviços. O cumprimento dos objetivos em um projeto ocorre na produção de entregas, que se configura como “qualquer produto, resultado ou capacidade único e verificável que deve ser produzido para concluir um processo, fase ou projeto” (PMI, 2017, p. 4). Por sua vez, a natureza temporária do empreendimento não expressa que o projeto seja de curta duração, mas que tenha um início e um término de execução estabelecidos. Alguns fatores também podem indicar o término de um projeto, como: a. alcance dos objetivos do projeto; b. não cumprimento dos seus objetivos; c. esgotamento ou não disponibilidade de recursos financeiros para alocação no projeto; d. ausência de necessidade do projeto, a partir de mudanças de estratégias ou prioridades dos clientes; e. indisponibilidade de recursos humanos e físicos; f. motivações legais ou conveniências. Esses fatores podem ocorrer sozinhos ou combinados com outros (PMI, 2017). Além desses elementos, outros aspectos de projetos também são destacados pelo PMI (2017), como o impulsionamento de mudanças e a criação de valor de negócio. Mudanças nas organizações são impulsionadas por meio de projetos que, ao procurarem atingir um objetivo específico, movem a organização de um estado atual para outro ponto desejado, chamado de estado futuro. Para o alcance desse resultado desejado, alguns projetos demandam a execução de várias atividades e etapas planejadas, conforme apresentado na Figura 1. 8 Figura 1 – Transição entre estados de uma organização por meio de projetos Fonte: PMI, 2017, p. 6. A criação de valor de um negócio por meio de projetos corresponde ao “[...] benefício líquido quantificável derivado de um empreendimento de negócio” (PMI, 2017, p. 7) ou simplesmente aos resultados alcançados com um dado projeto. Esses benefícios podem ser tangíveis, intangíveis ou a combinação de ambos, conforme exemplos apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Benefícios e resultados provenientes de projetos Elementos Exemplos Tangíveis Ativos monetários; capital acionário; serviços públicos; instalações; ferramentas; participação de mercado Intangíveis Boa-fé; reconhecimento da marca; benefício público; marcas registradas; alinhamento estratégico; reputação. Fonte: Elaborado com base em PMI, 2017. Os principais elementos inerentes a um projeto, que acabamos de discutir, encontram-se sistematizados na Figura 2. 9 Figura 2 – Elementos inerentes ao projeto Fonte: Elaborado com base em PMI, 2017. Cabe ainda destacar que o processo de iniciação de um projeto se dá em decorrência e em resposta a fatores que influenciam diretamente as estratégias de negócio das organizações. Nesse sentido, projetos são iniciados com base em quatro categorias de fatores: 1. cumprir requisitos regulatórios, legais ou sociais; 2. atender a pedidos ou necessidades das partes interessadas; 3. implementar ou alterar estratégias de negócio ou tecnológicas; 4. criar, melhorar ou corrigir produtos, processos ou serviços (PMI, 2017). Os projetos conferem, portanto, os meios necessários para que organizações respondam a esses fatores e, consequentemente, mantenham o seu empreendimento viável no mercado. TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS COMUNS DE PROJETOS Crédito: Puchong Art/Shutterstock. 10 Independentemente do objetivo e do tamanho do empreendimento, projetos apresentam características comuns, mas com intensidades variadas, de acordo com os objetivos específicos de cada empreendimento. Correia Neto (2009) destaca três características que normalmente surgem na elaboração de um projeto: 1. complexidade; 2. interdisciplinaridade; 3. incerteza. Você sabe quais os aspectos que abrangem cada uma das características de projetos? A complexidade de projetos está diretamente vinculada à quantidade de variáveis envolvidas no processo decisório que envolve o empreendimento. Trata-se de uma relação de causalidade em que, quanto mais variáveis e informações estiverem associadas a um projeto, mais complexas se tornam as análises e decisões relacionadas aos seus objetivos (Correia Neto, 2009). A elaboração de projetos possui uma forte inter-relação com a perspectiva de avaliação da viabilidade de empreendimentos, que, em geral, necessita de um conjunto de dados, informações e estudos componentes que subsidiem a tomada de decisão de aceitação ou rejeição do investimento em um negócio. Nesse sentido, o tamanho, o tipo e o setor de atividade econômica do empreendimento não eliminam a complexidade inerente à elaboração de projetos, apenas influenciam nas demandas específicas de informações para cada caso. Correia Neto (2009, p. 4) chama a atenção para essa questão ao apontar que “[...] mesmo projetos com menor escala incorporam uma quantidade de informações bastante relevante. Além disso, as informações devem ser analisadas de maneira isolada e em conjunto, tornando essa tarefa especialmente mais complexa”. A segunda característica, a interdisciplinaridade, remete à variedade de informações relacionadas aos aspectos de um empreendimento e que são requeridas para a elaboração de um projeto. É ainda decorrente da característica discutida anteriormente, a complexidade de variáveis envolvidas em um projeto (Correia Neto, 2009). Por conseguinte, a variedade de informações presentes no processo de elaboração de um projeto demanda o trabalho de profissionais de diferentes perfis e de diversas áreas do conhecimento (Correia Neto, 2009; Larson; Gray, 2016). Por exemplo, um projeto para implantação de uma 11 cervejaria necessita de profissionais das áreas de engenharia, finanças, produção, comércio e compras, assim como a interação com pessoas externas ao projeto – como fornecedores, provedores e terceiros. Mas você sabe quem desempenha a função de integrar os esforços dos membros de uma equipe de projetos? E, ainda, quais as habilidades requeridas paraisso? A constituição de equipes multidisciplinares – com diferentes formações, perfis, compreensões e perspectivas sobre as partes de um projeto – necessita de um bom gerente de projetos e pessoas. Esse profissional proporcionará direção, coordenação e integração à equipe (Larson; Gray, 2016). Para tanto, é imprescindível que gerentes de projetos tenham habilidades interpessoais e de equipe, especialmente ligadas ao gerenciamento de conflitos, tomada de decisões, liderança, influência, negociação, facilitação, comunicação, integração da equipe, motivação e inspiração da equipe para o alcance e cumprimento dos objetivos do projeto (PMI, 2017). Por fim, a terceira característica refere-se à incerteza associada aos resultados possíveis da decisão de se investir em um empreendimento. Mas você sabe por que a incerteza existe? Ela existe em decorrência tanto da quantidade de variáveis envolvidas no processo decisório quanto da necessidade de projetar os resultados financeiros antes da execução do projeto. A incerteza configura-se, portanto, como valores ou estados de natureza incertos. Nesse sentido, a incerteza está relacionada à possibilidade de que os resultados observado e projetado sejam diferentes entre si, em maior ou menor nível (Correia Neto, 2009). Exemplos de fatores sujeitos à incerteza, que afetam os retornos de um projeto de investimento e que estão fora do controle da administração, são: a. mudanças tecnológicas; b. surgimento ou desaparecimento de concorrentes; c. existência de produtos complementares ou substitutos; d. conjuntura da economia nacional e internacional; e. mudanças de política econômica; f. custo de insumos; g. mudanças climáticas (Sanvicente, 1987). Alguns fatores de incerteza podem ser reduzidos com a utilização de certos instrumentos, em projetos. Um panorama mais detalhado dos fatores de incerteza sobre um empreendimento pode ser obtido com a realização de 12 estudos mais aprofundados que, em geral, possuem um custo de aquisição, mas possibilitam que gestores se antecipem a problemas com decisões que reduzam as incertezas. Contudo, cabe destacar que isso implica um trade-off, ou seja, uma situação de conflito de escolha entre investir em mais estudos com informações para reduzir a incerteza e investir menos e gerar menos informações para a tomada de decisão (Correia Neto, 2009). O Quadro 2 apresenta uma sistematização dos principais elementos da discussão das características comuns de projetos. Quadro 2 – Síntese dos principais aspectos e implicações das características comuns de projetos Características Aspectos principais Implicações Complexidade Quantidade de variáveis envolvidas Requer um conjunto de dados, informações e estudos componentes para orientar a tomada de decisão de se investir em um negócio Interdisciplinaridade Variedade de informações Demanda profissionais de diversos perfis e áreas do conhecimento para conclusão do projeto Incerteza Valores ou estados de natureza incertos Requer a utilização de instrumentos que diminuam alguns fatores de incerteza e a diferença entre os resultados projetados e os observados Fonte: Elaborado com base em Correia Neto, 2009. TEMA 4 – CLASSIFICAÇÕES USUAIS DE PROJETOS Crédito: Karen Roach/Shutterstock. 13 As classificações de projetos ajudam na compreensão das necessidades e dos objetivos requeridos de cada tipo de projeto. Existem diferentes formas de se classificar projetos. Nesta aula, serão discutidas algumas mais usuais, como: a. pela origem; b. pelas finalidades; c. pelos tipos de setor; d. pelo uso. Você sabe quais os aspectos que abrangem cada uma das classificações de projetos? A origem remonta à iniciativa de realização de um empreendimento, se privada, se pública. Cada uma dessas origens incorpora perspectivas distintas e possuem uma estrutura, por trás do projeto, diferente (Correia Neto, 2009; Pereira; Lima; Torre, 2014). A elaboração de projetos de origem privada parte de empresas que vislumbram oportunidades lucrativas com base em uma demanda não atendida no mercado ou em melhorias de processos produtivos. O seu objetivo-fim é a obtenção de retornos financeiros sobre os investimentos ou a maximização de um retorno financeiro já existente com base em uma nova atividade explorada. Esse retorno se manifesta por medidas como lucro líquido, valor agregado ou geração de caixa (Correia Neto, 2009). Por outro lado, os projetos públicos – realizados por órgãos governamentais nos níveis de administração municipal, estadual e federal – objetivam a melhoria do bem-estar social da população por meio da oferta de serviços públicos em diversas áreas como educação, saúde, saneamento básico, segurança, entre outras. Nesse sentido, os projetos públicos partem de uma necessidade social de oferta de serviços com o menor custo possível e não procuram maximizar o retorno sobre o investimento (Correia Neto, 2009). Cabe ainda destacar que o tempo e a execução de algumas atividades em projetos públicos são diferentes dos de projetos privados, em decorrência das leis que regulamentam as contratações de serviços e aquisições de produtos via processos de licitação (Pereira; Lima; Torre, 2014). O Quadro 3 apresenta uma sistematização do direcionamento de cada origem de projeto. 14 Quadro 3 – Síntese dos principais aspectos da origem de projetos Origem Necessidade Objetivo Exemplos Privada Mercadológica ou geradora de retorno Retorno sobre o investimento Criação de uma nova empresa ou expansão da capacidade produtiva Pública Social Melhoria do bem-estar social Construção de uma escola ou hospital Fonte: Adaptado de Correia Neto, 2009, p. 6. Com relação à classificação de um projeto com base na sua finalidade, existem diferentes situações de projetos que indicam a necessidade de elaboração de estudos de viabilidade. Os principais e mais recorrentes tipos de finalidade são de implantação, ampliação, modernização e relocalização. Em todas essas situações, é fundamental verificar se os investimentos são viáveis e atingem os objetivos do projeto (Correia Neto, 2009). O Quadro 4 apresenta uma sistematização das quatro classificações de finalidade de projetos. Quadro 4 – Principais finalidades de um projeto Finalidade Aspectos principais Exemplo de projeto Implantação Execução de um empreendimento novo Criação de uma empresa, equipamento turístico ou edifício comercial Ampliação Expansão da capacidade produtiva de uma empresa em funcionamento Expansão da área fabril de uma empresa alimentícia, em resposta a um aumento da demanda de mercado Modernização Elevação da produtividade e sobrevivência dos negócios Incorporação de um processo tecnológico mais moderno, decorrente de pressões mercadológicas Relocalização Alteração de local de uma planta fabril Mudança de localidade de empreendimento ou planta fabril, decorrente de melhores oportunidades e incentivos fiscais Fonte: Elaborado com base em Correia Neto, 2009. Quanto à classificação de projetos com base no tipo de setor, as atividades econômicas são organizadas em três grandes setores: primário, secundário e terciário. O primeiro concentra as atividades relacionadas à agropecuária e ao extrativismo, ou seja, as atividades produtivas realizadas sobre a natureza e que, por conseguinte, fornecerão recursos naturais e matérias-primas para o segundo setor da economia. O setor secundário corresponde às atividades industriais, de transformação de matérias-primas, que serão absorvidas pelo terceiro setor. Esse último setor refere-se às atividades de serviço e comércio (Signor; Marin, 2011). 15 Por fim, os projetos também podem ser classificados quanto ao seu uso, a exemplo dos tipos de projetos de viabilidade, financiamento e acompanhamento. O primeiro tipo procura verificar internamente se determinadoempreendimento é viável ou não. O segundo visa à obtenção de financiamento de instituições de fomento. Enquanto que o terceiro tipo de projeto é realizado após o investimento em determinado negócio ser aceito, servindo para acompanhar o atendimento dos seus objetivos e os seus resultados (Correia Neto, 2009). Concentraremos atenção no primeiro tipo de uso de projetos. TEMA 5 – ETAPAS DO CICLO DE VIDA DE PROJETOS Crédito: Elnur/Shutterstock. Por se caracterizarem como empreendimentos temporários, os projetos possuem um início e um término de execução estabelecidos, ou seja, possuem um período de vida limitado, em que mudanças e o nível de esforços despendidos, ao longo de sua vida, são previsíveis. Existem diferentes modelos de ciclo de vida de projetos que incorporam ou suprimem algumas etapas, a depender do tipo de empreendimento e do objetivo de entrega. Quatro fases são normalmente utilizadas: definição, planejamento, execução e fechamento, que podem ser sequenciais, iterativas ou sobrepostas. Esses estágios auxiliam na distribuição de tempo e esforço das tarefas ao longo de um projeto (PMI, 2017; 16 Larson; Gray, 2016). A Figura 3 ilustra essa situação, evidenciando que o nível de esforço cresce lentamente à medida que tarefas vão sendo realizadas; chega até um pico; e desacelera, com o fechamento e entrega do produto final. Figura 3 – Ciclo de vida de um projeto Fonte: Larson; Gray, 2016, p. 6. De forma geral, projetos partem de uma ideia, avançam para um plano que, ao se verificar sua viabilidade, são executados e, depois, concluídos. Nesse caso, cada etapa gera entregas tangíveis, a exemplo de relatórios, cronogramas e tarefas realizadas (Vargas, 2009). Ampliando a visualização do ciclo de vida de projetos, é importante destacar que são nas suas duas primeiras fases que são realizados estudos preliminares e a avaliação da viabilidade de execução do projeto. Esses estudos são fundamentais para indicar a existência de demanda de mercado, oportunidades lucrativas e sustentabilidade econômica e financeira do negócio (Correia Neto, 2009). 17 TROCANDO IDEIAS Sabendo-se que um projeto carrega incertezas quanto aos seus resultados observados e aqueles projetados, em um fórum de discussão, apresente argumentos sobre: a. qual a importância de estudos preliminares em um projeto, para a redução do seu nível de incerteza; b. se é vantajoso, para o empreendedor, despender recursos em estudos mais aprofundados visando à sustentabilidade de um negócio, ao longo do tempo. NA PRÁTICA Pesquise um projeto ou plano estratégico de um empreendimento e identifique as suas classificações como projeto. Para resolução da questão, recomenda-se que você siga esses passos: a. pesquisa de um projeto ou plano estratégico; b. leitura do projeto; c. identificação das classificações do projeto; d. apresentação dos pontos identificados, juntamente com a identificação e o link de acesso ao projeto escolhido. Orientação para a resolução da questão: para a identificação das classificações do projeto, procure apresentar a origem da realização do empreendimento (pública ou privada), a sua finalidade (implantação, ampliação, modernização, relocalização ou outro tipo), o setor de atividade econômica em que se encontra (agropecuária, indústria ou serviços) e o uso do projeto (viabilidade, financiamento ou acompanhamento). FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos uma discussão dos principais aspectos conceituais, características, classificações e etapas do ciclo de vida de um projeto. Vimos também que a falta de planejamento prévio e o desconhecimento de informações importantes sobre o mercado em que se pretende investir estão entre os principais elementos de fracasso de negócios. Nesse sentido, é fundamental conhecer e analisar as variáveis com influência no setor de 18 atividade econômica ao qual se pretende direcionar recursos. E os projetos de viabilidade econômico-financeira cumprem essa função, ao auxiliarem, na tomada de decisão de investimentos, empresários que desejam tanto entrar no mercado quanto buscar estratégias de permanência. 19 REFERÊNCIAS CAMARGO, M. Gerenciamento de projetos: fundamentos e prática integrada. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. CORREIA NETO, J. F. Elaboração e avaliação de projetos de investimento: considerando o risco. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. LARSON, E. W.; GRAY, C. F. Gerenciamento de projetos: o processo gerencial. Tradução: Théo Amon. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MACHADO, H. V.; ESPINHA, P. G. Reflexões sobre as dimensões do fracasso e mortalidade de pequenas empresas. Revista Capital Científico – Eletrônica, v. 3, n. 1, p. 51-64, 2005. Disponível em: <https://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico/article/view/612>. Acesso em: 21 jun. 2020. PEREIRA, M. L.; LIMA, R. J. B.; TORRE, J. A. P. G. Gestão de projetos públicos. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional, 2014. PMI – Project Management Institute. Guia do conhecimento em gerenciamento de projetos: guia PMBOK. 6. ed. Newtown, 2017. POSSAS, M. Concorrência schumpeteriana. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. (Org.). Economia industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p. 245-252. SANVICENTE, A. Z. Administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1987. SEBRAE-SP – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo. Causas mortis: o sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros 5 anos de vida. São Paulo, 2014. SIGNOR, D.; MARIN, S. R. Desenvolvimento socioeconômico e os setores de atividade econômica: uma análise do Rio Grande do Sul no período de 2000 a 2008. Revista Economia Ensaios, Uberlândia, v. 26, n. 1, p. 7-20, jul./dez. 2011. VARGAS, R. V. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. 7. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2009.
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