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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA AULA 2 Prof. Almir Cléydison Joaquim da Silva 2 CONVERSA INICIAL A decisão de se investir em um negócio e de executar um projeto ou uma obra específica deve ser orientada com base em vários estudos inter- relacionados, em que as informações produzidas em cada um darão sustentação à verificação da viabilidade do empreendimento. Em geral, os projetos de viabilidade econômico-financeira iniciam com o estudo de mercado. Mas você sabe qual a razão de se analisar as especificidades de mercado? Nesta aula, nos dedicaremos à compreensão do ambiente de mercado ao qual se pretender investir em um negócio, procurando discutir e analisar aspectos relacionados ao produto, à demanda e à oferta em mercados competitivos. Nesse sentido, os esforços de aprendizagem se voltarão para as seguintes discussões: 1. Estruturas de mercado; 2. Identificação do produto; 3. Demanda do produto; 4. Oferta do produto; 5. Projeções da demanda e da oferta. CONTEXTUALIZANDO Analisar o mercado que se pretende investir implica em “determinar o grau de necessidade de que a sociedade apresenta em relação ao bem ou serviço cuja produção se deve estudar” (Buarque, 1984, p. 40). Nesse sentido, um projeto para instalação de uma panificadora, por exemplo, requer que se estime a procura insatisfeita. Ou seja, o projeto deve analisar aspectos de demanda e oferta do produto ou serviço (com base em dados de comportamento de consumo passado, presente e projeções de tendências) em determinada área geográfica e considerando condições específicas de venda que um grupo de consumidores esteja disposto a comprar. Mas você sabe quais elementos determinam o funcionamento de economias de mercado? Quais as estruturas que esse mercado assume, a depender do produto? E ainda, qual a razão de se analisar o comportamento do consumidor e de projetar o consumo de um produto? Essas e outras questões serão abordadas nesta aula. 3 TEMA 1 – ESTRUTURAS DE MERCADO A interação e o comportamento de agentes econômicos (pessoas, empresas e o governo) que resultam em relações de trocas, de produtos ou de serviços constituem o mercado. Em outras palavras, o mercado é “um grupo de compradores e vendedores de determinado bem ou serviço. Os compradores, como grupo, determinam a demanda pelo produto e os vendedores, também como grupo, determinam a oferta do produto” (Mankin, 2013, p. 64). Mas qual a importância de se analisar a configuração do mercado? As forças de oferta e de demanda determinam o funcionamento de economias de mercado. Logo, a quantidade de agentes atuantes no mercado influencia o comportamento de produtos e serviços, as relações entre competidores e clientes, assim como determina a quantidade produzida e os diferentes níveis de preço (Correia Neto, 2009; Mankin, 2013), conforme Gráfico 1. Gráfico 1 – Equilíbrio de mercado Fonte: adaptado de Vasconcellos, 2006. O mercado também assume diferentes formas ou diferentes estruturas que dependem de três variáveis principais: i) número de empresas produtoras no mercado; ii) tipo de produto (se fabricam produtos idênticos ou diferenciados); e iii) existência de barreiras à entrada de novas empresas nesse mercado (Vasconcellos, 2006). Você sabe quais são as principais estruturas de mercado e seus aspectos centrais? Seguindo essas três variáveis que condicionam as estruturas de mercado, seis tipos de mercados podem ser destacados: i) concorrência perfeita; ii) monopólio; iii) concorrência monopolística (ou imperfeita); iv) oligopólio; v) monopsônio; e vi) oligopsônio. 4 O mercado de concorrência perfeita apresenta algumas hipóteses que incidem em um mercado livre, transparente e sem barreiras à entrada. As hipóteses são: a) atomicidade: inúmeros vendedores e compradores, em que os preços são dados pelo mercado, ou seja, um único agente não consegue afetar os preços praticados; b) homogeneidade: os produtos ofertados são semelhantes, sem distinção e são substitutos perfeitos. Na tentativa de elevação dos preços de um produto, os compradores continuarão com muitas alternativas de fornecedores e a empresa que elevou o preço será forçada a reduzi-lo ao preço de mercado; c) mobilidade de competidores e consumidores: mercado com livre entrada e saída de vendedores e compradores, sem custos relevantes para a mobilidade; d) racionalidade: os agentes agem racionalmente, ou seja, empresários maximizam lucro e consumidores maximizam utilidade com base no consumo; e) transparência: os agentes têm acesso a todas as informações sobre preço, qualidade, custos, receitas e lucros; f) mobilidade de bens: inexistência de custos de transporte de produtos entre regiões; e g) ausência de externalidades: considera-se que tanto as empresas não influenciam no custo das demais quanto os consumidores não interferem no consumo dos outros (Vasconcellos, 2006). O mercado em situação de monopólio configura-se por apenas um fornecedor do produto e vários compradores. Na ausência de concorrentes diretos, a empresa fornecedora apresenta-se em poder de monopólio frente aos seus clientes. Como consequência, tem a “capacidade de praticar preços acima do que praticaria em uma situação em que houvesse concorrentes diretos” (Correia Neto, 2009, p. 18). Algumas barreiras induzem o surgimento de um monopólio, como: i) monopólio puro ou natural, decorrente de concessão legal para exploração de atividades em razão de sua elevada escala de produção e de alto nível de investimento exigido; ii) proteção de patentes, o direito único na produção de determinado produto; iii) controle sobre o fornecimento de matérias-primas- chaves; e iv) monopólio estatal ou institucional, em que a legislação determina que atuação e exploração de algumas atividades produtivas sejam realizadas por órgão ou empresa estatal (Vasconcellos, 2006; Fonseca, 2012). A concorrência monopolística (ou imperfeita) aproxima-se do mercado em concorrência perfeita por apresentar muitas empresas no mercado e não ter 5 barreiras à entrada e saída. Entretanto, distingue-se da concorrência perfeita em razão dos produtos serem diferenciados em termos de qualidade, aparência, reputação da marca e outras características singulares. O poder de monopólio para alteração de preços depende da capacidade de diferenciação do produto sobre as demais empresas, mas está limitado pelo fato dos produtos serem substitutos próximos (Fonseca, 2012). O mercado em oligopólio caracteriza-se pela participação de poucas empresas responsáveis por grande parte (ou pela totalidade) da produção de produtos, que podem ser homogêneos ou diferenciados. As empresas dominantes exercem poder de mercado sobre os preços, assim como também apresentam barreiras à entrada de novas empresas, a exemplo de: i) proteção de patentes; ii) controle de matérias-primas-chaves; iii) oligopólio puro ou natural, decorrente de elevado nível de investimento; iv) dificuldades de obtenção de tecnologias, o que exige elevando investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) (Vasconcellos, 2006). Uma estrutura de mercado de monopsônio configura-se pela presença de muitos fornecedores e apenas um comprador. Nesse caso, o comprador exerce poder de monopsônio frente aos fornecedores, influenciando na determinação do preço; ao passo que um oligopsônio refere-se a um mercado com muitos fornecedores e poucos compradores, em que estes podem exercer poder de mercado sobre os preços (Correia Neto, 2009). O Quadro 1 apresenta uma sistematização dos principais aspectos discutidos sobre as estruturas de mercado e alguns exemplos. Quadro 1 – Síntese das estruturas de mercado Estrutura de mercado Aspectos principais Exemplos Concorrência perfeita - Número infinito de firmas; - Produto homogêneo; - Não existênciade barreiras à entrada de empresas e consumidores. Produtos como o leite, cereais, grãos, dentre outros. Monopólio - Uma única empresa que fornece o produto ou serviço; - Produto sem substitutos próximos; - Existência de barreiras à entrada de novas firmas no mercado. Serviços de coleta de lixo, abastecimento de água, esgoto e energia elétrica. Concorrência monopolística (ou imperfeita) - Inúmeras empresas; - Produto diferenciado, mas com substitutos próximos; Creme dental, detergente, refrigerantes, cervejas, remédios, sabonetes, 6 - Livre acesso de empresas ao mercado; - Empresas com certo poder de monopólio sobre os preços. xampus, desodorantes, produtos esportivos, serviços médicos, dentre outros. Oligopólio - Pequeno número de empresas - Produtos podem ser homogêneos ou diferenciados; - Barreiras à entrada de novas empresas. - Poder de mercado sobre os preços depende da diferenciação de produtos. Produtos homogêneos (alumínio, cimento, aço). Produto diferenciado (automóveis, equipamentos elétricos, computadores). Monopsônio - Muitos fornecedores de um produto; - Apenas um comprador Algumas obras públicas, em que construtoras e empreiteiras têm como cliente único o governo. Oligopsônio - Poucos compradores; - Muitos vendedores; - Os compradores exercem poder de mercado sobre os fornecedores, influenciando os preços de produtos. A indústria de autopeças frente à indústria automobilística (as poucas compradoras). Fonte: adaptado de Vasconcellos, 2006; Correia Neto, 2009; Fonseca, 2012; Mankiw, 2013. É importante compreender a estrutura de mercado que o empreendimento estará inserido, pois cada uma exige estratégias diferenciadas na elaboração e análise do projeto de viabilidade, assim como também influenciam na formação do preço e na quantidade demandada de determinado produto ou serviço. TEMA 2 – IDENTIFICAÇÃO DO PRODUTO Nos estudos de mercado, é fundamental a caracterização dos aspectos relacionados aos produtos ou serviços que se pretende ofertar. Mas você sabe qual a importância de se conhecer os produtos ou serviços objeto de estudo? Em uma explicação mais objetiva, distintos “tipos de produtos podem indicar diferentes tipos de pesquisa de mercado e expectativas de comportamento ao longo de seu ciclo de vida” (Correia Neto, 2009, p. 17). A análise de cada parte do produto ou serviço possibilita ainda compreender o que se pretende produzir, as necessidades e interesse de consumo de potenciais clientes, as necessidades orçamentárias de materiais diretos ou indiretos e os insumos de produção. Essa caracterização também auxiliará nas estimativas e projeções posteriores (Fonseca, 2012). Para orientar a identificação do produto, as subseções seguintes abordam aspectos de definição, descrição e utilização de produtos, bem como apresenta uma discussão dos canais de distribuição e do seu ciclo de vida. 7 2.1 Definição, descrição e utilização de produtos No âmbito de um projeto de viabilidade, a definição de um produto implica em classificá-lo quanto às suas características econômicas, que envolvem três grupos de produtos: i) tangíveis; ii) intermediários; e iii) intangíveis. O grupo de produtos tangíveis subdivide-se em: a) bens de consumo duráveis: apresentam uma baixa taxa de reposição por um mesmo cliente e, consequentemente, um consumo em menor proporção quando comparado a bens não duráveis. Contudo, é importante considerar o avanço tecnológico como variável que tende a alterar a frequência de aquisição de produtos duráveis. Exemplo disso é o caso das televisões, que ao longo do século XXI já avançaram de TVs de tubo convencionais para TVs de plasma, LCDs, LEDs e 3D; b) bens de consumo não duráveis: são produtos que se esgotam com a utilização/consumo e têm uma elevada frequência de reposição por um mesmo cliente; e c) bens de capital: são os fatores fixos de produção utilizados para a fabricação de outros bens (Correia Neto, 2009; Fonseca, 2012). Os produtos intermediários correspondem a produtos manufaturados que são utilizados ou reincorporados no processo produtivo para a fabricação de outros bens finais ou intermediários; ao passo que os produtos intangíveis se referem aos serviços privados e públicos. Os serviços privados direcionam-se às necessidades de uso individual ou empresarial; e os serviços públicos voltam-se para o atendimento das necessidades da população, ou seja, para um uso coletivo em que o consumo de um indivíduo não impede ou não exclui o consumo de outro (Correia Neto, 2009). O Quadro 2 apresenta as características discutidas sobre os produtos. Quadro 2 – Classificação dos produtos Grupos de produtos Tipos de produtos Principais aspectos Exemplos Tangíveis Bens de consumo duráveis - Produtos de elevada vida útil; - Baixa frequência de aquisição por um mesmo cliente. Automóveis, equipamentos e eletrodomésticos. Bens de consumo não duráveis - Produtos de baixa vida útil; - Elevada frequência de utilização ou consumo por um mesmo cliente. Alimentos, materiais de limpeza e higiene, e materiais de escritório. Bens de capital Fatores fixos de produção utilizados no processo produtivo Máquinas e equipamentos 8 necessários à produção de outros bens. Intermediários Insumos à manufatura Fatores variáveis de produção utilizados no processo produtivo. Matérias-primas, insumos e embalagens Intangíveis Serviços privados Uso individual ou empresarial. Consultorias, auditorias, instalações de equipamentos Serviços públicos - Uso coletivo; - Atendimento das necessidades da população. Serviços educacionais, hospitalar e de segurança pública Fonte: adaptado de Correia Neto, 2009; Fonseca, 2013. Com relação à descrição, é importante a análise do produto considerando todas as suas partes, assim como a especificação dos principais elementos do seu processo produtivo — como propriedades fundamentais da produção, variações do produto e formas de apresentação, além da identificação de preços praticados no mercado e da existência de bens substitutos e complementares (cuja demanda por um produto depende da procura final de outros produtos). Para a identificação da utilização do produto, cabe um olhar para o público-alvo, considerando questionamentos como: são consumidores finais? São empresas que utilizam o produto de forma intermediária para transformá-los em produtos finais? Ou seja, essa identificação auxiliará na formulação e composição da demanda do produto (Buarque, 1984; Fonseca, 2012). 2.2 Canais de distribuição de produtos Os canais de distribuição correspondem aos caminhos e estratégias utilizadas para que o produto chegue a seu destino final, os clientes. Com a função de estimular a demanda, os canais de distribuição também compreendem o “conjunto de agentes externos que estão envolvidos no processo de tornar produtos e serviços disponíveis para uso e consumo” (Silva; Fischmann, 2002, p. 6-7). Os agentes envolvidos e o caminho adotado também formam a cadeia de suprimentos para disponibilização do produto. Nesse sentido, é fundamental a identificação e descrição dos caminhos do produto até os usuários finais (Correia Neto, 2009). A Figura 1 apresenta um exemplo de uma cadeia típica de distribuição de produtos. Em um projeto de viabilidade, é importante deixar claro onde o 9 empreendimento está localizado e quais as relações diretas e indiretas que serão estabelecidas na cadeia de suprimentos. Figura 1 – Cadeia típica de distribuição de produtos Fonte: Correia Neto, 2009, p. 25. Considerando um produto do setor de vestuário, por exemplo, a utilização de fatores variáveis em um processo produtivo gera um fluxo de recebimento de matérias-primas e de pagamento por parte do fabricante.O produto finalizado é vendido para um atacadista ao preço P1, em que o faturamento do fabricante resultará da quantidade vendida Q1 multiplicada pelo P1. Esse mesmo fluxo também ocorre nas demais etapas da cadeia, em que o faturamento será dado pela Q2 multiplicada pelo P2 (em que P2>P1), e assim sucessivamente. Além de gerar informações para melhorar o fluxo dos canais de distribuição, a demanda de cada membro da cadeia depende do atendimento das expectativas do cliente final (Correia Neto, 2009). A depender das especificidades do produto/serviço e do respectivo setor de atividade econômica, os canais de distribuição incorporam outras relações e aspectos que merecem ser observados, como perecibilidade, sazonalidade e dispersão geográfica (Silva; Fischmann, 2002; Correia Neto, 2009). 2.3 Ciclo de vida de produtos Os produtos lançados no mercado apresentam fases e distintos comportamentos de preço e de quantidade demanda, que determinam diferentes níveis de receita. Mas você sabe quais circunstâncias contribuem para que produtos apresentem um ciclo de vida? Os produtos ou serviços são transacionados em mercados cada vez mais dinâmicos. A inserção de novos produtos no mercado pode provocar reação de concorrentes e estimular o surgimento de produtos substitutos, o que pode interferir na participação de mercado do novo produto (Correia Neto, 2009). 10 Em geral, a inserção de um novo produto no mercado apresenta quatro fases que formam o seu ciclo de vida: i) introdução; ii) crescimento; iii) maturidade; e iv) declínio. O Quadro 3 apresenta uma sistematização dos principais aspectos do comportamento dos produtos ao longo do tempo. Quadro 3 – Comportamento do ciclo de vida de produtos Fase Característica Demanda Preço Introdução Disponibilização do produto Baixa Dois comportamentos distintos: baixos (para penetração no mercado) e altos (no caso de um produto diferenciado) Crescimento Aceitação do produto, resultado dos esforços mercadológicos Variação positiva Dois comportamentos distintos: baixos (para continuar incentivando o crescimento da demanda) e altos (caso apresente uma demanda inelástica, ou seja, com pouca sensibilidade à alteração no preço) Maturidade Estabilidade da quantidade vendida Constante Estável (caso não surjam produtos substitutos ou a entrada de concorrentes) Declínio Redução da participação no mercado Variação negativa Queda nos preços Fonte: adaptado de Correia Neto, 2009, p. 24. Nesses termos, é importante destacar que ao perceber o início do declínio, algumas estratégias podem ser tomadas para tentar ampliar o ciclo de vida dos produtos, a exemplo de melhorias e incorporação de inovações incrementais nos produtos. Contudo, em alguns setores, o avanço tecnológico tende a reduzir o ciclo de vida de alguns produtos (Correia Neto, 2009). TEMA 3 – DEMANDA DO PRODUTO/SERVIÇO A análise da demanda considera um conjunto de informações qualitativas e quantitativas sobre o mercado consumidor. A depender da classificação e especificidades do produto, um projeto de viabilidade requer informações relativas às características dos consumidores potenciais, comportamento do consumidor em função do preço e da renda, consumo histórico do produto, bem como informações relativas à contabilidade nacional (Buarque, 1984). A identificação das características dos consumidores potenciais é fundamental para compreender seu comportamento frente ao produto objeto do estudo. Como vimos anteriormente, a classificação e o tipo de produto indicam, em certa medida, os possíveis consumidores, se clientes finais ou se empresas 11 que utilizarão os produtos em seus processos produtivos. No caso de clientes finais, podemos destacar características socioeconômicas como faixa etária, sexo, nível de escolaridade, níveis de renda, estrutura familiar e localização geográfica. Caso o público-alvo seja empresarial, cabe descrição de aspectos como o setor produtivo, porte da empresa, tempo de atuação no mercado e localização (Buarque, 1984; Clemente, 2008; Fonseca, 2012). Além disso, cabem considerações a respeito da sensibilidade do comportamento do consumidor diante de variações de renda e de atributos do produto, a exemplo de preço, qualidade, forma de apresentação e outros aspectos de diferenciação (Buarque, 1984; Clemente, 2008). O levantamento de informações sobre o consumo histórico do produto é relevante tanto para compreensão do comportamento do consumo ao longo do tempo quanto para a realização de projeções futuras. Para alguns produtos ou serviços já existentes, a coleta de dados do seu consumo anterior pode ser encontrada em fontes de dados oficiais ou em entidades de classe do setor de atividade que o produto esteja vinculado. Quando esses dados não estão disponíveis, deve-se recorrer a outros procedimentos, como observar o comportamento de produtos com elevado grau de similaridade. As estatísticas nacionais que possibilitam uma aproximação do consumo de determinado produto referem-se a dados de consumo aparente. Este corresponde à produção interna, adicionada das importações menos as exportações (Buarque, 1984). Já as informações relativas à contabilidade nacional são importantes pelo fato de que o “consumo futuro dos bens está relacionado a uma quantidade de dados da economia em geral” (Buarque, 1984, p. 50), em termos de renda nacional, produto, poupança, investimento e, caso se aplique, informações sobre as relações comerciais entre países. TEMA 4 – OFERTA DO PRODUTO/SERVIÇO A análise da oferta de um produto ou serviço considera um conjunto de fatores externos, também chamados de fatores do ambiente de negócio. Para observamos esses fatores, consideraremos a abordagem de Michel Porter sobre a análise estrutural das indústrias. Você conhece esta abordagem? Também conhecida como as Cinco Forças de Porter, o autor identifica cinco fatores que determinam a intensidade da competitividade: i) poder de barganha dos 12 fornecedores; ii) poder de barganha dos compradores; iii) ameaça dos produtos substitutos; iv) ameaça de novos entrantes; e v) rivalidade entre concorrentes existentes (por posição em um mesmo mercado). O Quadro 4 apresenta alguns aspectos determinantes dessas forças (Porter, 1998). Quadro 4 – Forças competitivas de Porter e seus principais aspectos Forças Aspectos determinantes Poder de barganha dos fornecedores - Tamanho e o grau de concentração em relação ao mercado; - Nível de diferenciação de insumos fornecidos; - Custo de mudança que compradores terão para trocar de fornecedores; - Inexistência de produtos substitutos; - Empresa não é um cliente importante para o fornecedor; - Importância do produto fornecido para o comprador. Poder de barganha dos compradores - Volume de compra e grau de concentração dos compradores; - Elevada sensibilidade a variações de preço; - Existência de produtos substitutos; - Produtos não diferenciados; - Transparência de informações sobre preços, custos dos fornecedores. Ameaça dos produtos substitutos - Desempenho relativo dos preços dos produtos substitutos; - Baixo custo de mudança de um produto pelos seus substitutos; - Propensão do comprador a substituir. Ameaça de novos entrantes - Economia de escala (elevação da capacidade produtiva sem aumento proporcional dos custos); - Diferenciação do produto; - Necessidade de capital; - Desvantagem de custo decorrente de aprendizagem, experiência das empresas já instaladas; - Acesso aos canais de distribuição; - Custos de mudança; - Políticas governamentais. Rivalidade entre concorrentes existentes - Diversidade de concorrentes; - Crescimento lento da indústria; - Elevados custos fixos ou de armazenamento; - Ausência de diferenciação ou custos de mudança; - Interesses estratégicose complexidade informacional; - Barreiras de saída elevadas. Fonte: adaptado de Porter, 1998. As cinco forças competitivas mencionadas influenciam diretamente preços, custos, investimentos necessários e, portanto, a lucratividade de negócios. Os aspectos de cada força podem variar a depender do empreendimento e do seu desempenho no tempo. Contudo, possibilitam que empreendimentos observem o ambiente de negócio, identificando os fatores que determinam a concorrência e estratégias inovadoras para estabelecer uma posição lucrativa diante das forças competitivas (Porter, 1998). 13 TEMA 5 – PROJEÇÕES DA DEMANDA E DA OFERTA Para a projeção da demanda e da oferta, são utilizados modelos econométricos. Existem diversos modelos para estimativa de dados em séries temporais. Utilizaremos o modelo de regressão linear, que consiste em uma técnica de previsão com base na relação entre variáveis — neste caso, tempo e demanda ou oferta pelo produto (Woiler, 1996; Gujarati, 2006). A equação do modelo de regressão linear é dada por: 𝑌 = 𝑎 + 𝑏𝑋. Em que: • Y = variável explicada (ou dependente); • X = variável explicativa (ou independente); • a = coeficiente linear, ou seja, a interceptação (cruzamento) da reta com o eixo vertical. É dado por: ∑ 𝑌 𝑛 . • b = ângulo da reta, ou seja, a inclinação em relação à variável explicativa. É dado por: ∑(𝑋−�̅�)(𝑌−�̅�) ∑(𝑋−�̅�)² , em que �̅� 𝑒 �̅� correspondem às médias aritméticas das suas respectivas variáveis. Para determinar a função, utilizaremos o método de mínimos quadrados ordinários, que procura diminuir os resíduos e evitar soma zero para obtenção de uma reta. Neste caso, a regressão linear transforma o conjunto de dados iniciais em uma função estimada para a amostra, dada por: �̂� = 𝑎 + 𝑏(𝑋 − �̅�) (Woiler, 1996; Gujarati, 2006). Esse modelo pode ser aplicado para estimar tanto a demanda quanto a oferta. Para uma melhor compreensão deste, vejamos uma aplicação prática para projeção do consumo aparente de gasolina para os próximos anos. O consumo aparente de gasolina de 2014 a 2018 em metro cúbico (m³) foi respectivamente de: 33.429; 30.267; 31.461; 32.281; e 28.045 (Ipeadata, 2020). Conhecidos os dados das duas primeiras colunas do Quadro 4, iremos aplicar as fórmulas para encontrar os parâmetros desconhecidos (a e b) e estimar a função, conforme segue. 14 Quadro 4 – Consumo aparente de gasolina no Brasil (2014-2018) Ano (X) Gasolina (Y) (𝑿 − �̅�) (𝑿 − �̅�)² (𝒀 − �̅�) (𝑿 − �̅�) (𝒀 − �̅�) 2014 (1) 33.429 -2 4 2.332,4 -4.664,8 2015 (2) 30.267 -1 1 -829,6 829,6 2016 (3) 31.461 0 0 364,4 0 2017 (4) 32.281 1 1 1.184,4 1.184,4 2018 (5) 28.045 2 4 -3.051,6 -6.103,2 ∑ 𝑋 = 15 ∑ 𝑌 = 155.483 10 -8.754,0 Fonte: adaptado de Ipeadata, 2020. Cálculo dos parâmetros desconhecidos e da função estimada: �̅� = ∑ 𝑋 𝑛 = 15 5 = 𝟑 𝑎 = �̅� = ∑ 𝑌 𝑛 = 155.483 5 = 𝟑𝟏. 𝟎𝟗𝟔, 𝟔 𝑏 = ∑(𝑋 − �̅�)(𝑌 − �̅�) ∑(𝑋 − �̅�)² = −8.754,0 10 = −𝟖𝟕𝟓, 𝟒 �̂� = 𝑎 + 𝑏(𝑋 − �̅�) = 31.096,6 − 875,4(𝑋 − 3) = 31.096,6 + 2626,2 − 875,4𝑋 Substituindo o X da função estimada �̂� pela indicação temporal dos próximos anos, encontramos a projeção do consumo aparente de gasolina para os anos de 2019 a 2023, conforme segue: �̂�2019 = 33.722,8 − 875,4 (6) = 𝟐𝟖. 𝟒𝟕𝟎, 𝟒 𝐦³ �̂�2020 = 33.722,8 − 875,4 (7) = 𝟐𝟕. 𝟓𝟗𝟓, 𝟎 𝐦³ �̂�2021 = 33.722,8 − 875,4 (8) = 𝟐𝟔. 𝟕𝟏𝟗, 𝟔 𝐦³ �̂�2022 = 33.722,8 − 875,4 (9) = 𝟐𝟓. 𝟖𝟒𝟒, 𝟐 𝐦³ �̂�2023 = 33.722,8 − 875,4 (6) = 𝟐𝟒. 𝟗𝟔𝟖, 𝟖 𝐦³ O Gráfico 2 apresenta uma série histórica dos dados observados e da projeção do consumo aparente de gasolina no Brasil para os próximos anos. �̂� = 𝟑𝟑. 𝟕𝟐𝟐, 𝟖 − 𝟖𝟕𝟓, 𝟒𝑿 15 Para compreender essa trajetória de queda, é importante considerar tanto a análise dos elementos discutidos anteriormente quanto observar o comportamento dos consumidores e concorrentes frente ao avanço de combustíveis alternativos. Gráfico 2 – Projeção do consumo aparente de gasolina em metro cúbico (2014- 2023) Fonte: adaptado de Ipeadata, 2020 e em projeções realizadas. TROCANDO IDEIAS Considerando a estrutura de mercado monopolista, em um fórum de discussão posicione-se a respeito da importância (ou não) da regulação governamental sobre o poder de monopólio de empresas sobre seus clientes, especialmente quanto ao poder de formação de preços. NA PRÁTICA No Brasil, o consumo de fertilizantes (em toneladas) utilizados na produção agrícola entre 2014 e 2018 foi, respectivamente, de 32.209.066,0; 30.201.998,0; 34.083.415,0; 34.438.840,0; e 35.506.301,0 (Ipeadata, 2020). Considerando esses dados e o modelo de regressão linear, estabeleça a projeção da série de consumo de fertilizantes para o período de 2019 a 2023. Orientação da resolução: i) organize as informações disponíveis em uma tabela (ver modelo utilizado nesta aula); ii) considerando a equação do modelo (𝑌 = 𝑎 + 𝑏𝑋), encontre os parâmetros desconhecidos (a e b); iii) com os dados encontrados, estime a função �̂� = 𝑎 + 𝑏(𝑋 − �̅�); iv) estabelecidos os cálculos, 33.429,0 30.267,0 31.461,0 32.281,0 28.045,0 28.470,4 27.595,0 26.719,6 25.844,2 24.968,8 22.000,0 24.000,0 26.000,0 28.000,0 30.000,0 32.000,0 34.000,0 36.000,0 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Dados observados Dados projetados 16 substitua o X pela indicação temporal dos anos que se pretende estimar e encontre a projeção do consumo de fertilizantes de 2019 a 2023. FINALIZANDO Nesta aula, discutimos aspectos relacionados a um estudo de mercado que, de forma geral, procura compreender o mercado consumidor, o ambiente de negócios e, com base no conhecimento do mercado atual, estabelecer previsões do mercado futuro. Ao final, deve-se ter uma percepção se o projeto, sob o ponto de vista do mercado (não em termos financeiros), é viável. 17 REFERÊNCIAS BUARQUE, C. Avaliação econômica de projetos: uma apresentação didática. 26. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 1984. CLEMENTE, A (Org.). Projetos empresariais e públicos. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2008. CORREIA NETO, J. F. Elaboração e avaliação de projetos de investimento: considerando o risco. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. FONSECA, J. W. F. Elaboração e análise de projetos: a viabilidade econômico-financeira. São Paulo: Atlas, 2012. GUJARATI, D. N. Econometria básica. 4. ed. Tradução de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. IPEADATA. Base de dados macroeconômicos de consumo. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 15 mar. 2020. MANKIN. N. G. Introdução à economia. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. PORTER, M. E. Competitive advantage: creating and sustaining superior performance. Nova York: Free Press, 1998. SILVA, A. L.; FISCHMANN, A. A. Adoção de tecnologia de informação em canais de distribuição. Revista de Administração, v. 37, n. 2, p. 6-16, abr./jun., 2002. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2006. WOILER, S. Projetos: planejamento, elaboração, análise. São Paulo: Atlas, 1996.
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