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História Contemporânea APRESENTAÇÃO Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira Mestra em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino Superior, pelo Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV), graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá. Já atuou como tutora pedagógica no curso a distância de História (UEM), tutora operacional na Unicesumar e professora orientadora dos cursos de pós-graduação lato sensu na mesma instituição. Atualmente é supervisora de pós-graduação no Centro Universitário Cidade Verde. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/5335993798322851 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=14D74F4DDF7B5308DBEEB34D803830C7 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Caro (a) estudante, em nossa disciplina veremos os principais aspectos que marcaram a História Contemporânea. Foi um momento que se desenrola até os dias atuais, de interação entre as nações do mundo. Seja uma relação de troca, de dominação e, por vezes, conflituosa. Esperamos que a discussão iniciada aqui possa abrir caminhos para que você se aprofunde ainda mais em seus estudos. Na primeira unidade, você verá o conceito de imperialismo e como este foi usado como ferramenta de política externa, especialmente em países da europa, bem como dos Estados Unidos. O mundo, neste contexto, foi repartido e subjugado, principalmente na África e na Ásia. Veremos como se deu a partilha da África e ocupação da Ásia, que só foi possível pela ideia que os europeus tinham que se tratavam de povos inferiores. Você vai entender como essa perspectiva se mostra presente até os dias atuais. Bem como verá que é no século XIX que se desenvolvem os nacionalismos, cujo teor irá se desenvolver no início do século XX. Na próxima unidade, você entenderá como o crescente nacionalismo, a corrida armamentista e a disputa por território ocasionaram a Primeira Guerra Mundial, também chamada de a Grande Guerra. Veremos também como a Revolução Russa de 1917 se desenvolveu, no começo do século, gerando uma ordem política, econômica e social nunca antes vista. Veremos também, sobre a ascensão dos Fascismos, focando no caso italiano e, também, no movimento correlato na Alemanha, denominado nazismo. Inerente a isso está a Segunda Guerra Mundial, a qual mudou o rumo das potências e fez emergir os EUA como líderes mundiais. Os EUA tiveram como adversário a URSS, que no contexto da Guerra Fria, se envolveram mutuamente na disputa por zonas de influência. Na unidade que se segue, veremos com mais detalhes a Guerra Fria e o embate entre socialismo e capitalismo. Nesta unidade, você verá também o que foram os “trinta gloriosos”, que representaram o crescimento e fortalecimento dos países desenvolvidos. Após a queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS, o mundo passou por outra mudança drástica, já que o mundo bipolar havia deixado de existir, pelo menos em tese. O fim do mundo dividido entre os interesses da URSS e dos EUA, possibilitou a emergência do neoliberalismo. Veremos, portanto, na última unidade do que se trata esse conceito e a sua aplicação. Aliado a isso, temos o fortalecimento dos ideais neoliberais na Inglaterra de Thatcher, bem como nos Estados Unidos. Concluiremos a unidade, abordando a globalização e seus impactos. Por fim, esperamos que este material forneça as bases, para que você possa conhecer melhor os eventos que marcaram a História Contemporânea. UNIDADE I IMPERIALISMOS E NACIONALISMOS Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira Plano de Estudo: • Conceituando Imperialismos; • A partilha da África; • Imperialismo na Ásia e no Pacífico; • Nacionalismo. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar imperialismo; • Compreender o processo de partilha da África e colonização na Ásia; • Investigar o nascimento do nacionalismo. INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos adentrar no período que a historiografia convencionou chamar de história contemporânea. Nestes quatro primeiros tópicos, vamos discutir assuntos como imperialismos e suas consequências e nacionalismos. Você perceberá que foi um momento que o mundo como conhecemos hoje foi desenhado, repartido, subjugado. O globo ficou dividido entre dominadores e dominados, essa divisão marca até hoje as nações. No nosso primeiro capítulo, exploraremos o imperialismo. Ainda hoje usamos o conceito de imperialismo como um adjetivo para nos referir às nações cuja política externa tem como um dos escopos intervir na soberania de outros países. Você vai entender que esse conceito está ligado ao contexto do último quartel do século XIX e início do século XX. A ideia de dominação esteve ancorada em aspectos econômicos, políticos e culturais e foi sujeita a algumas análises teóricas. A concepção de que deva existir um grupo dominante e outro dominado implica necessariamente em reconhecer o outro como inferior, como passível de posse. No segundo tópico entenderemos como essa ideia se deu na prática por meio da partilha da África. Nunca na história no mundo um grupo de países se sentiu tão livre para repartir um continente inteiro. Isso se deu, como você verá, de acordo com interesses econômicos e políticos na região. A partilha da África, feita com base em acordo, muitas vezes fraudulentos, que modificaram radicalmente o mapa do continente. De uma maneira semelhante, mas com formas de administração diferenciadas, se deu a colonização na Ásia e no Pacífico, tema do terceiro tópico. Você perceberá que várias nações, que já tinham possessões na África, também se empenharam em fazer esferas de influência também nesta região. Por fim, no último tópico discutiremos um tema importante, que até os dias atuais continua em voga: o nacionalismo. Vamos entender que o sentimento de pertencimento a um Estado-Nação não é um dado natural, apesar de ser tido como se fosse. Na Europa, estar sobre o mesmo território não era critério único para o desenvolvimento de um sentimento nacionalista. Veremos que a criação desse sentimento foi algo paulatino e foi um dos estopins para algo muito maior no século seguinte. 1 CONCEITUANDO IMPERIALISMOS Fonte: Wikimedia Commons, 1888. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=imperialism&title=Special%3ASearch&go=Go&ns 0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106=1#/media/File:English_imperialism_octopus.jpg. Acesso em: 09 dez. 2021. 1.1 Imperialismo: contexto histórico Provavelmente você já deve ter ouvido falar em imperialismo, que determinados países agem de forma imperialista, mas você sabe o que significa esse conceito? É preciso compreendê-lo enquanto condição histórica que anda lado a lado com o capitalismo, que diz respeito ao período específico, mas que possui múltiplas expressões ao redor do globo até os dias atuais. Muitas sociedades se definiram como impérios, como o Império Romano, Império Britânico, Império Português, Império Espanhol, dentre tantos outros. De uma forma geral, independente do contexto histórico a que cada um pertença, eles possuem compartilham uma definição básica e usual acerca de suas práticas, sobre o modus operandi imperialista, que em síntese podemos entender que é a “expansão violenta por parte dos Estados, ou de sistemas políticos análogos, da área territorial da sua influência ou poder direto, e formas de exploração econômica em prejuízo dos Estados ou povos subjugados.” (PISTONE, 1998, p.15). Apesar da humanidade sempre ter convivido com Impérios, Eric Hobsbawm (2008) afirma que entre 1875 e 1914 nunca tantos governantes se declararam imperadores. Esse foi o caso da Alemanha, Áustria, Turquia, Rússia, Grã-Bretanha e outros paísesfora da Europa, tais como China, Japão, Pérsia, dentre outros. Por isso, para Hobsbawm “Os imperadores e impérios eram antigos, mas o imperialismo era novíssimo” (HOBSBAWM, 2008, p. 92). Esse período é conhecido por um imperialismo colonial, com exceção da Europa e das Américas, o mundo inteiro foi dividido e colocado sob governo direto ou dominação indireta, sobretudo, por parte de países como a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França, a Itália, a Holanda, os Estados Unidos, a Bélgica e o Japão. De uma maneira geral, a África e o Pacífico foram tomadas: Não restou qualquer Estado independente no Pacífico, então totalmente distribuído entre britânicos, franceses, alemães, holandeses, norte-americanos e – ainda em escala modesta – japoneses. Por volta de 1914, a África pertencia inteiramente aos impérios britânico, francês, alemão, belga, português e, marginalmente, espanhol (HOBSBAWM, 2008, p. 89). Além da conquista formal desses territórios, os países imperialistas também exerciam pressão política e econômica sobre a América Latina, mas nenhuma potência ousava desafiar os Estados Unidos, que desde a Doutrina Monroe de 1823, mostrava hostilidade a qualquer tipo de colonização em seu país (HOBSBAWM, 2008). Assim, observamos uma expansão sem medidas, na qual o capitalismo cumpre papel central. O empresário britânico, Cecil Rhodes, expressou bem a mentalidade da época; olhou o céu, deprimiu-se e disse “essas estrelas (...) esses vastos mundos que nunca poderemos atingir. Se eu pudesse anexaria os planetas” (RHODES apud ARENDT, 1989, p. 154). Hobsbawm (2008) considera o imperialismo como uma nova etapa do capitalismo, que preconizava a divisão do mundo entre as grandes potências capitalistas, assim não há como negar o aspecto econômico do imperialismo. Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas, comunicações e movimentos de bem, dinheiro e pessoas ligando os países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido (HOBSBAWM, 2008, p. 95). Na visão de Hobsbawm, o imperialismo inaugurou um novo capítulo no cenário mundial. O volume de exportações dos países imperialistas dobrou neste período, quilômetros e mais quilômetros de vias férreas foram construídas, colocando em jogo também a economia dos países periféricos. Havia, portanto, uma exploração dos nativos em função dos insumos vindos desses países, é o caso da borracha, exclusiva de clima tropicais, retirada no Congo e na Amazônia, do estanho da Ásia e da América do Sul, dos campos de petróleo do Oriente Médio, das jazidas de ouro e diamante da África do Sul – que é o maior produtor de ouro do mundo. Insumos alimentícios também eram expropriados dos países dominados, deixando um legado para vários países, hoje subdesenvolvidos, em exportar na grande maioria produtos primários, dando origem ao termo “República das bananas” (HOBSBAWM, 2008). O Brasil é um exemplo de país, o qual grande parte das exportações são de commodities1, passando por pouco ou nenhum processo industrial e que sempre foram baseados nas plantations2. Modelos como o do Brasil sustentaram a economia imperialista. [...] transformaram o resto do mundo, na medida em que o tornara um complexo de territórios coloniais e semicoloniais que crescentemente evoluíram em produtores especializados de um ou dois produtos primários de exportação para o mercado mundial, de cujo os caprichos eram totalmente dependentes (HOBSBAWM, 2008, p. 98). Hobsbawm (2008) justifica a expansão imperialista dizendo que as economias globais sentiram, ao mesmo tempo, a necessidade de expansão de seus mercados. Já Arendt (1989) considera que o principal evento do imperialismo foi a emancipação da burguesia, que cresceu junto e dentro do Estado, delegando a este último as suas decisões políticas. Com isso, podemos compreender que a burguesia instrumentalizou o Estado para fazer valer os seus interesses por novos mercados. A expansão continuada, característica central do imperialismo, voltava-se, para o crescimento da produção industrial, tanto dos bens a serem produzidos, quanto consumidos. O imperialismo surgiu quando a classe detentora da produção capitalista rejeitou as fronteiras nacionais como barreira à expansão econômica: como não desejava abandonar o sistema capitalista, cuja a lei básica é o constante crescimento econômico, a burguesia tinha de impor essa lei aos governo, para que a expansão se tornasse o objetivo final da política externa (ARENDT, 1989, p. 156, grifo nosso). 1 Produtos que são essencialmente matéria-prima. 2 Grandes extensões de terra com apenas um insumo. A história do Brasil viu a era da cana-de-açúcar, do café, da soja, dentre outros. Além do aspecto econômico do imperialismo, também gostaríamos de chamar a atenção para a questão política. O período mencionado, também é conhecido pela ascensão do nacionalismo, como veremos mais adiante, por isso, Arendt (1989) argumenta que diferentemente do fator econômico, que pode ser levado e multiplicado em outros territórios, o Estado-nação não pode ser replicado indefinidamente. Em consequência disso, a conquista de povos estrangeiros não comporta a ideia de integração, mas, quando muito, de mera assimilação. O Estado-nação deve ter a convicção de que está a impor uma lei superior a dos povos conquistados (ARENDT, 2012). Cabe aqui, esclarecer que a noção de que os países imperialistas, considerados “avançados” estariam conquistando povos ditos inferiores. Entretanto, essa intervenção do país imperialista, criava na nação conquistada o desejo de soberania, criando obstáculos para a criação do Império de fato. A ideia da existência de povos “inferiores” e “superiores”, encontrada como uma justificativa moral para o imperialismo, estava fortemente ancorada nos ideários de progresso econômico, moral, científico, bem como na concepção de darwinismo social. Mayer (1987), aponta que o darwinismo social se transformou na acepção aceita entre as classes dominantes e os governantes. Mas, afinal, do que trata tal ideologia? Em primeiro lugar, é importante dizer que entre o final do século XIX e início do século XX as ciências naturais se legitimavam como campo de conhecimento e passavam a gozar de grande prestígio. Charles Darwin com a publicação da Origem das espécies, abalou o mundo ao descobrir o mecanismo de seleção natural, que selecionava os indivíduos mais aptos, explicando a variabilidade das espécies e sua evolução não-linear e aleatória. De acordo com Mayer (1987), as descobertas de Darwin acerca da evolução natural, influenciaram pensadores a elaborar o darwinismo social e também do evolucionismo social3. Acredita-se que nas sociedades em geral vigorava a ideia de competição, da qual sairiam vencedores os mais fortes. Já no que concerne ao evolucionismo social, admitia-se que as sociedades estariam em diferentes estágios de 3 Diferentemente do darwinismo social, o evolucionismo social tomou partido das concepções de outros pensadores, tais como Herbert Spencer, Edward B. Tylor, dentre outros. evolução, em que, de grosso modo, países europeus estariam em um estágio mais avançado e os povos dominados em um estágio anterior ou, até mesmo, primitivo. O que vimos até agora é o imperialismo em seu estado clássico, focado principalmente nas apropriações europeias, que, para Hobsbawm (2008) e outros historiadores de renome, vai até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas é salutar que os EUA também tenham vigorado como nação imperialista a partir do final do século XIX, já que até então eram um país dedicado à agricultura, à pecuária,ao extrativismo e ao comércio e em pouco tempo se tornaram uma potência militar e industrial. Os EUA vêm expandindo seu território desde a fundação da república em 1776, em constantes guerras com o México – anexando 40% do território vizinho até 1848 – e também com os nativos a oeste. Acreditava-se que ocupar as terras indígenas ou dos católicos hispânicos era parte de um desígnio divino para com a nação estadunidense, que acreditava ser “dotada de ética e moral” (MUNHOZ, 2009, p. 246). Assistiu-se também a anexação do Alasca, comprado da Rússia por 7,2 milhões de dólares, em 1867, bem como a derrubada das lideranças locais do Havaí em vista da posse daquelas terras, que aconteceu em 1900. Esses territórios eram considerados estratégicos do ponto de vista comercial e militar na Ásia. A expansão estadunidense foi para além do seu entorno ainda em 1899, quando, em conjunto com a Alemanha, o país assumiu o controle das ilhas Samoa, localizadas no centro-sul do oceano Pacífico (MUNHOZ, 2009). A intenção era não apenas militar, mas também comercial. Assim como os imperialistas europeus, os EUA viram na conquista de novos mercados uma saída para a crise econômica que viviam no final do século XIX. Os EUA procuraram liderar o continente como um todo, influenciando largamente questões que lhe eram de interesse próprio, exemplo disso foi a construção do canal do Panamá, após o fracasso do projeto francês, os Estados Unidos decidiu levar a construção adiante, mas em meio a desentendimentos com a Colômbia – na época, a região do Panamá pertencia ao país latino – os EUA apoiaram rebeldes locais, provendo militarmente a revolta, para a declaração da independência panamenha. Mais tarde, os EUA assumiram o controle da região mediante pagamento e finalizaram a obra do canal do Panamá em 1914. No envolto de suas práticas imperialistas, com frequência os EUA intervinham em questões dos países vizinhos, como foi o caso da República Dominicana, que vivia uma crise para com os seus credores. Os EUA ocuparam o país, justificando que era necessário restaurar a ordem e garantir o direito dos credos, com isso eles conseguiram afastar a interferência de potências europeias na região. Era isso que pregava a política do presidente Roosevelt (1858-1919), o big stick, que procurava afastar a influência europeia do continente e acabou por violar a soberania de diversos países. De fato, os Estados Unidos empregavam o peso da sua economia para subordinar países da América Latina. Isso acontecia, sobretudo, pela concessão de empréstimos que levavam ao endividamento, em especial, dos países da América Central. Quando os débitos não podiam ser honrados ou se vislumbrava alguma instabilidade regional, os Estados Unidos justificavam a intervenção como medida de proteção aos seus direitos e dos seus capitalistas (MUNHOZ, 2009, p. 250). Diferente do que o imaginário popular legítima, não foi a livre iniciativa que fizeram dos EUA uma grande potência, mas sim a sistemática intervenção do Estado na economia. Poderíamos citar vários exemplos de corporações, como Carnegie Steel, que tiveram altos lucros, pois seus produtos estavam protegidos da concorrência de produtos de outros países, como a Inglaterra a qual eram impostas tarifas elevadas de importação. Nesse sentido, o imperialismo estadunidense mostra-se como compromisso entre a elite capitalista e o Estado (MUNHOZ, 2009). O imperialismo como fenômeno histórico deixou as suas marcas até os dias atuais. Enquanto elemento multifatorial, que envolve economia, política, cultura e sociedade, subjugou inúmeros povos entendidos como inferiores e modelou a sociedade contemporânea a que assistimos hoje. Esse fenômeno, também tomado como conceito – já que sua aplicabilidade é viável em diferentes contextos – foi objeto de estudo de alguns teóricos, como veremos a seguir. 1.2 Abordagens teóricas: os imperialismos Hoje vemos se disseminar uma postura condenatória do imperialismo, mesmo por parte de países que o praticam de forma velada. As diferentes formas que o imperialismo assumiu e assume, desde a compreensão mais geral que abrange todas as formas de Império, como as mais pontuais, referentes à fase histórica e classicamente denominada imperialista; são tributárias de teóricos que dissertam sobre este conceito. Dentre as interpretações sobre o conceito, temos as acepções marxistas, ainda que Marx em si não tenha discorrido sobre imperialismo em suas obras, mas sim tateava o colonialismo, que são conceitos correlatos. Os seguidores de Marx, chamando atenção para as contradições do capitalismo, concordam em dizer que estas contradições estruturais provocaram o uso de violência, que não se faria possível se não houvesse a mão do Estado, assim a política foi usada como instrumento pela burguesia capitalista (PISTONE, 1998). Por outro lado, o Imperialismo surge também como um instrumento essencial para fazer face às contradições do capitalismo e para prolongar a sua sobrevivência, estendendo-as ao âmbito internacional com a exploração de outros povos e permitindo com isso fazer concessões à classe operária das metrópoles capitalistas (PISTONE, 1998, p. 612). Nesse sentido, para os marxistas,, a superação do Imperialismo, só seria possível mediante a superação do próprio capitalismo. Isso teria ficado evidente mediante as sucessivas crises do capitalismo após o imperialismo, que seriam potencialmente revolucionárias, que é uma das contradições do capitalismo (PISTONE, 1998). Para entender essa reflexão, basta pensar que a Revolução Russa, de 1917, foi subsequente ao imperialismo. Alguns pensadores endossam a concepção marxista sobre o imperialismo, como Rosa Luxemburgo e Lenin que escreveu um pequeno livro intitulado um pequeno livro chamado Imperialismo em 1916, que abordou a divisão do mundo brevemente (PISTONE, 1998) (HOBSBAWM, 2008). Pensadores estadunidenses como Baran e Swezzy, nasceu desta corrente análises como o neocolonialismo e subdesenvolvimento, bem como explicações acerca do imperialismo soviético (PISTONE, 1998). Pistone (1998) segue apresentando a visão Rosa Luxemburgo sobre o imperialismo. O autor coloca que a pensadora via que a classe trabalhadora europeia, com baixo poder aquisitivo, não poderia participar do consumo preconizado pela expansão ilimitada do capitalismo, sendo assim, teria de haver um mundo extrínseco de consumo, para não refrear o capitalismo. Assim, os mercados internos se mostrariam insuficientes, sendo necessária a conquista de colônias. Já Lenin vê o imperialismo sob outros moldes: A hipótese fundamental da teoria de Lenin não se apóia[sic] no empobrecimento do proletariado e na sua falta de poder de consumo, mas na tendência à queda das taxas de lucro. Os monopólios financeiros dos Estados mais avançados do capitalismo são obrigados a explorar o mercado mundial, entrando em conflito com outros grupos financeiros que tentam fazer o mesmo, pois os lucros obtidos no mercado interno tendem a desaparecer (PISTONE, 1998, p. 614). A visão de Lenin ocupa lugar central entre os marxistas ortodoxos, é considerada a mais próxima da realidade histórica. A teoria de Lenin obteve mais aceitação do que a de Luxemburgo por ser mais elástica, pois apesar de ser formulada na época do colonialismo, serve também para abranger outros contextos (PISTONE, 1998). Os economistas estadunidenses Baran e Swezzy olham para o imperialismo considerando um contexto de pós-guerra e sobrevivência do capitalismo. Eles entendem que “a exploração dos países atrasados continuou, apesar da independência, porque eles continuaram inseridos no sistema mundial capitalista, dominado pelos países mais fortes e pelas grandes empresas multinacionais” (PISTONE, 1998, p. 614). Outra tese acerca do imperialismo advém da corrente social-democrata. Essaabordagem nega a relação entre capitalismo e imperialismo, bem como a crença de que qualquer tendência imperialista que o capitalismo possa ter e possa ser eliminada através reformas democráticas e econômico-sociais. Um dos principais representante desses pensadores foi Karl Kautsky, que: [...] sustenta, contra a tese dos marxistas revolucionários sobre a inevitabilidade das guerras imperialistas entre os países capitalistas, que o Imperialismo agressivo constitui, não uma fase necessária do capitalismo, mas uma das suas políticas, que pode ser substituída por outra, por uma política "ultra-imperialista", que implique uma pacífica colaboração entre as potências capitalistas (mais conveniente entre outras coisas porque o Imperialismo agressivo apresenta custos muito maiores do que vantagens), na organização do mercado mundial e na admissão nele dos países ainda não incluídos (PISTONE, 1998, p. 615). Kautsky difere os socialistas revolucionários, segundo Pistone (1998) ao não pregar o fim iminente do capitalismo, mas sim a sua transformação tendo em vista um modelo socioeconômico colaborativo entre os países “avançados” e os “atrasados”. A terceira corrente, que também se encontra afastada do marxismo ortodoxo, é a liberal. Um dos seus principais nomes foi Joseph Alois Schumpeter, o economista analisou a história da antiguidade até a Primeira Guerra Mundial e discorda dos marxistas que dizem que o imperialismo é uma fase ou um desdobramento do capitalismo. Para ele, existiriam, desde período Antigo, disposições culturais, políticas, sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, as quais o capitalismo não conseguiu superar e que deram origem ao Imperialismo moderno. Para ele, [...] o capitalismo [...] é, por sua natureza, essencialmente pacífico, na medida em que lhe é intrínseca uma forte tendência à racionalização — no sentido do cálculo racional dos custos e dos lucros —, que estende progressivamente a sua influência a todos os aspectos da vida social. Ele tende particularmente a neutralizar as atitudes agressivo- irracionais que se revelam na praxe política interna e internacional, em variadas formas de violência, entre elas a guerra e a expansão imperialista, canalizando-as e orientando-as para a racional e, portanto, pacífica competição econômica no mercado, e fomentando com isso a instituição de procedimentos democráticos. Dada esta tendência do capitalismo, o fato de que haja fenômenos importantíssimos de política imperialista que se manifestam no âmbito da civilização capitalista não se pode explicar senão em virtude de nele persistirem atitudes psicológicas e culturais e interesses concretos de origem e natureza pré-capitalistas, que manifestam sua influência através do poder político, orientando-o para uma política imperialista que contradiz a lógica do capitalismo (PISTONE, 1998, p. 616, grifo nosso). Isso quer dizer que para Schumpeter o imperialismo é resultado de fatores pré- capitalistas. Não haveria, portanto, um interesse econômico direto na expansão imperialista, mas sim um fator político de manutenção de poder e prestígios. Essa concepção teve bastante êxito, sobretudo, entre os liberais-conservadores estadunidenses, que tendiam a ver inclinações imperialistas clássicas apenas na União Soviética. Ao apresentarmos algumas das concepções teóricas acerca do imperialismo, podemos ver que não apenas a historiografia, mas também outros campos do conhecimento tendiam a ver a complexidade do fenômeno. Este capítulo na história contemporânea inaugura uma nova configuração no globo, no qual mercadorias, pessoas e ideias foram trocadas. Esse processo também evidenciou a visão de mundo européia e estadunidense e a submissão que impuseram a outros povos. 2 A PARTILHA DA ÁFRICA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/african-policy-europe- european-map-golden-496747030 A África foi palco de bruscas mudanças entre os anos de 1880 e 1910, que coincide com as investidas imperialistas de países europeus sobre o vasto continente. Até 1880 algumas poucas áreas estavam sob o regime colonial europeu, e havia uma imensa área cujo o governo estava nas mãos de seus próprios reis, rainhas, impérios, chefes de clã, e toda sorte de governos. Em toda a África ocidental, essa dominação limitava-se às zonas costeiras e ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem parte de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa do Ouro (atual Gana), ao litoral de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (atual Benin), e à ilha de Lagos (no que consiste atualmente a Nigéria). Na África setentrional, em 1880, os franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem um só palmo de terra havia tombado em mãos de qualquer potência europeia, enquanto, na África central, o poder exercido pelos portugueses restringia -se a algumas faixas costeiras de Moçambique e Angola. Só na África meridional é que a dominação estrangeira se achava firmemente implantada, estendendo -se largamente pelo interior da região (BOAHEN, 2010, p. 01). https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/african-policy-europe-european-map-golden-496747030 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/african-policy-europe-european-map-golden-496747030 Observe o mapa abaixo: Figura 1: Colonização européia na África até 1880 Fonte: Boahen (2010). A colonização européia no continente africano não veio sem hostilidades e resistências por parte das lideranças locais, que em sua grande maioria defenderam a soberania de seus povos ante as investidas dos europeus. Alguns tinham exércitos já formados ou tentavam resolver a questão com base na diplomacia. Entretanto, é importante pontuar que muitos viam com bons olhos a chegada de novas tecnologias e não viam a presença de europeus como ameaça a sua soberania, exemplo disso foi a criação de escolas primárias e secundárias na Costa do Ouro e na Nigéria. Além disso, muitos africanos ricos enviavam os filhos para a Europa, a fim de receberem educação superior (BOAHEN, 2010). Até 1880 os africanos possuíam relações de livre comércio com a Europa e outras localidades, bem como julgavam-se militarmente e religiosamente – a religião foi uma importante arma contra colonialismo – caso os europeus ou qualquer outro povo ousasse ameaçar sua independência: No entanto um fato escapava aos africanos: em 1880, graças ao desenvolvimento da revolução industrial na Europa e ao progresso tecnológico que ela acarretara – invenção do navio a vapor, das estradas de ferro, do telégrafo e sobretudo da primeira metralhadora, a Maxim –, os europeus que eles iam enfrentar tinham novas ambições políticas, novas necessidades econômicas e tecnologia relativamente avançada. Por outras palavras, os africanos não sabiam que o tempo do livre‑cambismo e do controle político oficioso cedera lugar, conforme diz Basil Davidson, à “era do novo imperialismo e dos monopólios capitalistas rivais” (BOAHEN, 2010, p. 07). Isso quer dizer que os europeus já não queriam apenas trocar produtos, mas sim exercer um controle político sobre o continente, assim naquela altura, o armamento europeu superava tecnologicamente as armas na África. Mas como explicar o porquê de naquele dado momento histórico a África ter sido tomada de assalto, repartida, dominada e ocupada? Por que os africanos não foram capazes de proteger sua soberania e afastar o colonialismo europeu? São questões amplas e multifatoriais, as quais iremos explorar a seguir. Alguns acontecimentos importantes estimularam a corrida pela partilha da África. O primeiro deles foi o interesse, até então inaudito, de Leopoldo I, rei dos belgas, em 1876. Neste ano na Conferência de Geográfica de Bruxelas, a realeza,fundamentou a exploração do Congo e a criação do Estado Livre do Congo. No mesmo ano, outro aspecto salutar, Portugal deu início a uma série de expedições, que levaram o país a anexar propriedades rurais moçambicanas. Um terceiro aspecto, que impulsionou a corrida, foi a política expansionista francesa entre 1879 e 1880, dividindo o controle do Egito com o Reino Unido, bem como “pelo envio de Savorgnan de Brazza ao Congo, pela ratificação de tratados com Makoko, chefe dos Bateke, [e] pelo restabelecimento da iniciativa colonial francesa tanto na Tunísia como em Madagáscar” (UZOIGWE, 2010, p. 32). Os Estados europeus passaram a efetivar a ocupação de vários territórios, o que gerava conflito entre as nações. Foi então que Portugal sugeriu uma conferência internacional para resolver questões referentes à ocupação da África, apesar da ideia, foi Bismarck, da Alemanha, que levou a cabo esta sugestão. Inicialmente, a ideia da Conferência de Berlim – que foi de 15 de novembro de 1884 a 26 de novembro de 1885 – era discutir a abolição do tráfico de pessoas escravizadas e ao bem-estar africano, mas não foi isso o que aconteceu: A conferência, que, inicialmente, não tinha por objetivo a partilha da África, terminou por distribuir territórios e aprovar resoluções sobre a livre navegação no Níger, no Benue e seus afluentes, e ainda por estabelecer as “regras a serem observadas no futuro em matéria de ocupação de territórios nas costas africanas. Por força do artigo 34 do Ato de Berlim, documento assinado pelos participantes da conferência, toda nação europeia que, daí em diante, tomasse posse de um território nas costas africanas ou assumisse aí um “protetorado”, deveria informá‑lo aos membros signatários do Ato, para que suas pretensões fossem ratificadas (UZOIGWE, 2010, p. 33). A partir daí se estabeleceram regras que tornaram “legal” a apropriação do território africano. O que revela a prepotência dos Estados europeus da época, já que nunca um grupo de países se entendeu no direito de repartir um outro continente como lhe bem conviesse. Antes da Conferência de Berlim, os Estados tinham suas formas de dominação dos povos africanos, seja por meio da colonização, do envio de missionários, da manutenção de dirigentes africanos, ainda sob o regime de protetorado. Mas com a conferência esse domínio pôde ser expresso no papel. Poderiam ser tratados entre os africanos e os europeus ou entre os europeus. Os tratados afro‑europeus dividiam‑se em duas categorias. Primeiramente houve aqueles sobre o tráfico de escravos e o comércio, que foram fonte de conflitos e provocaram a intervenção política europeia nos assuntos africanos. Depois, vieram os tratados políticos, mediante os quais os dirigentes africanos ou eram levados a renunciar a sua soberania em troca de proteção, ou se comprometiam a não assinar nenhum tratado com outras nações europeias (UZOIGWE, 2010, p. 34). Muitos africanos concordavam com esses tratados na esperança de obterem vantagens para seu povo. Muitas vezes um Estado africano fraco, que estava sob o domínio de outro Estado africano, assinava o tratado com uma potência, esperando ver- se livre do domínio de seu vizinho, por exemplo. Não se tratava, entretanto, de entregar a soberania de seu povo de bom grado, mas muitos governantes entendiam que podiam resolver conflitos internos com a ajuda de empresas ou governos estrangeiros. Foi mais tarde, que alguns reis e governantes africanos, perceberam que estes ameaçavam a independência dos seus países. As consequências da Conferência de Berlim se mostraram na legitimação do que se designou zonas de influência. “Uma zona de influência, portanto, nascia de uma declaração unilateral, mas ela só se tornava realidade uma vez aceita, ou pelo menos não contestada por outras potências europeias” (UZOIGWE, 2010, p. 37-38). Ou seja, se não houvesse nenhuma outra potência europeia que reivindicava direitos sobre aquela região, pouco a pouco, o país reclamava por direitos de soberania em determinada região. Mas havia casos em que dois ou mais países tomavam uma região como objeto de disputa, assim existiam acordos que determinavam com exatidão as fronteiras, sejam elas naturais ou políticas, de forma ocasional se levava em consideração as fronteiras originais dos povos. Considera‑ se que o tratado anglo‑ alemão de 29 de abril (e de 7 de maio) de 1885, que definia as “zonas de intervenção” da Inglaterra e da Alemanha em certas regiões da África, talvez seja a primeira aplicação a sério da teoria das esferas de influência nos tempos modernos. Mediante uma série de tratados, acordos e convenções análogos, a partilha da África nos mapas estava praticamente terminada em fins do século XIX (UZOIGWE, 2010, p. 38). A partir daí a África foi recortada de acordo com os interesses dos países europeus, seja através de tratados unilaterais ou bilaterais, o que fez com que o mapa do continente ficasse dividido não conforme a divisão étnica do continente. Segue abaixo um mapa, meramente ilustrativo, da divisão étnica do continente africano, que evidencia como provavelmente seria a divisão da África se não houvesse a repartição europeia. Figura 2 - Divisão étnica do continente africano Fonte: História e Cultura, 2016. Disponível em: https://historiaecultura.ciar.ufg.br/modulo2/capitulo4/cnt/1-14.html. Acesso em: 09 dez. 2021. Com a partilha da África, o mapa do continente foi completamente alterado. Figura 3 - Partilha da África até 1914 Fonte: Overdose de Teorias. Disponível em: https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg. Acesso em: 04 abr. 2022. Você pode observar que cerca de 30% das fronteiras são linhas retas, cortando ao meio, muitas vezes, fronteiras étnicas e linguísticas. Antes dessa partilha, como pudemos contemplar na imagem 2, a África era subdivida em etnias, porém essas fronteiras, segundo Uzoigwe (2010) eram móveis, por conta de relações internas. A partilha da África fixou fronteiras, seja de maneira imposta ou seguindo alguns contornos pré-definidos. Vimos que a partilha da África se deu por meio de tratados unilaterais ou bilaterais por parte dos europeus, mas em que medida esses tratados eram válidos? Como e porque os africanos os “aceitaram”? Seu estudo leva à conclusão de que alguns deles são juridicamente indefensáveis, outros moralmente condenáveis, enquanto outros ainda foram obtidos de forma legal. No entanto, trata‑ se aí de atos essencialmente políticos, defensáveis somente no contexto do direito positivo europeu, segundo o qual a força é a fonte de todo https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg o direito. Mesmo quando os africanos procuravam abertamente celebrar tratados com os europeus, a decisão era sempre ditada pela força que eles sentiam no lado europeu. Em certos casos, os africanos, por suspeitarem das razões apresentadas pelos europeus para a conclusão desses tratados, recusavam‑se a participar deles, mas, submetidos a pressões intoleráveis, acabavam por aceitá‑las. Muitas vezes, africanos e europeus divergiam sobre o verdadeiro sentido do acordo a que haviam chegado. Fosse como fosse, os governantes africanos consideravam, por sua parte, que esses tratados políticos não os despojavam de sua soberania. Viam neles, antes, acordos de cooperação, impostos ou não, que deveriam ser vantajosos para as partes interessadas (UZOIGWE, 2010, p. 39, grifo nosso). Assim, no contexto do Imperialismo, os povos africanos sofreram duramente com a partilha. Em um primeiro momento, os soberanos em África acreditavam estar fazendo acordos com os países europeus ou mesmo acabaram por sucumbir frente às novas tecnologias armamentistas da Europa. De qualquer forma, essa dominaçãoprovocou feridas econômicas, sociais e políticas, que custam a sarar até os dias atuais. 3 IMPERIALISMO NA ÁSIA E NO PACÍFICO Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=opium+war&title=Special%3ASearch&profile=adv anced&fulltext=1&advancedSearchcurrent=%7B%7D&ns0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106 =1#/media/File:Second_Opium_War_British_Beijing_1860.jpg Assim como as nações africanas viram o exercício das esferas de influência, praticada por conta do imperialismo europeu, a Ásia e a região do Pacífico, que corresponde hoje a parte da Oceania, também sofreu com a intervenção dos países da Europa. Mas não apenas a Europa se mostrou interessada na região, os EUA e o Japão também entraram na corrida na busca de matérias-primas e mercado consumidor. Um dos mais poderosos Impérios no final do XIX e início do século XX, era o britânico, que por sua extensão era conhecido, de acordo com Mason (2017, p. 111) como “o império no qual o sol nunca se punha”. Na Ásia foi um dos países com várias possessões: As colônias britânicas lá consistiam no que agora são sete países: Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Birmânia, Malásia e Singapura. Havia outros pequenas assentamentos, como Hong Kong, e também esferas de influência em países nominalmente independentes, mas preparados a aceitar a orientação britânica (MASON, 2017, p. 111). Já a França dominava o que hoje se conhece por Vietnã, Camboja e o Laos. Enquanto que a Holanda dominava a metade ocidental do arquipélago do Sudeste asiático. As mais de 400 ilhas da região do pacífico, primeiro ficaram nas mãos dos espanhóis, mais tarde passaram para os Estados Unidos. A China era e é uma região de grande extensão territorial e os imperialistas tinham dificuldade para penetrar na região ou temiam que os demais o fizessem, por isso, ela foi dividida em esferas de influências. Entretanto, na costa chinesa foram feitas importantes concessões de portos, que se industrializaram e se transformaram em grandes cidades, a custo da exaustão de recursos, exploração da mão de obra barata, gerando intenso sofrimento, pobreza e doenças (MASON, 2017). O Japão é um caso à parte, já que: [...] manteve sua independência somente porque “ocidentalizou” sua economia e indústria com velocidade e energia notáveis e ganhou respeito dos dominadores ao se tornar uma potência colonial, anexando a Coreia, Taiwan e a Manchúria. A Tailândia, sob controle sagaz de seus reis chakri, escapou ao status colonial a se curvar aos ventos – abrindo mão de território onde isso parecia vantajoso – e aceitando orientação europeia – especialmente britânica (MASON, 2017, p. 112). A Ásia tomou uma nova composição geográfica e por onde quer que se olhasse via-se povos divididos, isolados de sua maioria, isso por conta dos interesses econômicos na região. Uma das práticas econômicas típicas do imperialismo na Ásia era a imposição de monopólios, como era o caso dos monopólios de sal e ópio, no qual os países produtores só poderiam vender para o país que o dominava. Esses monopólios eram tão lucrativos que dobraram a receita vinda das colônias na primeira década de vigência. A prática econômica imperialista representou um duro golpe para o desenvolvimento de vários países asiáticos. Os imperialistas consumiam as matérias- primas e desestimulavam a industrialização, para não competir com seus próprios mercados. Um exemplo disso foi a Índia, A Índia, antes da era colonial a maior fornecedora de tecidos de algodão do mundo, perdeu essa posição no século XIX para a massiva indústria têxtil que se desenvolveu nas Midlands inglesas. Efetivamente, a porção asiática do PIB mundial caiu de mais de 60% em 1800 para menos de 20% em 1940. Esse enorme declínio não foi acidental. Enquanto a indústria e as economias dos dominadores prosperavam, as das colônias estavam deliberadamente restritas (MASON, 2017, p. 113). Outro aspecto econômico era a transformação de grandes extensões de terras em produtoras de grãos – sistema conhecido como plantation. A logística em torno da exportação desses insumos fez com que surgissem algumas estradas, ferrovias e portos, voltadas ao escoamento dos produtos e que beneficiavam em grande parte o dominador. O caso da Índia se mostrou particularmente importante, já que após muita resistência, o país se tornou uma colônia britânica durante um período de aproximadamente noventa anos, de 1858 até 1947. Durante a primeira parte desse período, entre 1858 e 1914, a Índia, como qualquer outra colônia, estava sob a supervisão e tutela do parlamento britânico. A administração do país estava subdividida em províncias, as quais eram geridas por representantes do governo, ainda que algumas vezes fossem escolhidos indianos para ocupar esses cargos, mas subordinados sempre a uma autoridade britânica. Os interesses do monopólio britânico na Índia não se baseavam principalmente em plantações. Eles se baseavam no transporte marítimo, bancário, seguro e no controle de comércio dentro do país através do maquinário de distribuição, porque Capitalistas indianos, percebendo que tinham poucas chances de independência, ajustaram- se à posição de agências de firmas britânicas. Nas primeiras décadas do nosso período, os interesses britânicos não era de estabelecer indústrias na Índia (PANIKKAR, 1961, p. 117, tradução nossa). A colonização britânica na Índia, apoiava-se na ideia de uma suposta superioridade racial. Acreditava-se que o mais simples colonizador até um homem que ocupasse o mais alto escalão administrativo, era superior e estava sob a proteção e desígnio divino de governar e dominar aquele povo (PANIKKAR, 1961). Na verdade, a ideia de superioridade pairava sobre o imaginário dos europeus, cada país acreditava em um suposto destino em explorar, ocupar, governar os povos da Ásia e do Pacífico. 4 NACIONALISMO Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/nacionalismo.htm Como pudemos ver, o período que compreende o último quartel do século XIX até 1914 foi marcado pela expansão dos países da Europa sobre quase todo o globo. Um sentimento comum que os unia era o sentimento de nacionalidade. A historiografia tem poucas dúvidas que no final do século XIX se formava caldo do nacionalismo, que vinha se formando desde a “primavera dos povos” de 1848. Para Hobsbawm (1979) a Primavera dos Povos de 1848 – série de manifestações populares em toda a Europa – foi uma afirmação de nacionalidade. Por toda parte via- se a construção de Estado-Nações, não apenas na Europa, mas nos Estados Unidos, onde a Guerra Civil expressou a tentativa de manter a unidade dos EUA , bem como no Japão com a Restauração Meiji. Mas do que se tratava esse nacionalismo? Certamente era algo difícil de definir, já que a “nação” era um dado natural. Certamente os ingleses sabiam o que era ser inglês, os franceses, alemães ou russos certamente não tinham dúvidas do que fosse sua identidade coletiva. Talvez não, mas na era da construção de nações acreditava-se que isso implicava a lógica necessária assim como a desejada transformação de “nações” em Estados-Nações soberanos, com um território coerente, definido pela área ocupada pelos membros da “nação”, que por sua vez era definida por sua história, cultura em comum, composição étnica e, com crescente importância, língua (HOBSBAWM, 1979, p. 127-128). Mas o nacionalismo não é tão lógico e racional como explicitado pela citação. O que parece estar por trás da constituição desses grupos humanos enquanto Estados- Nações estava assentado na recuperação das culturas orais, na herança folclórica do povo comum. Entretanto, aqueles que iniciaram, cada qual em sua nação, eram membros cultos da classe dirigente. Acreditava-se que as maiores nações, aquelas mais estabelecidas iriam engolir as pequenase frágeis, assim, estas nações estariam destinadas a prevalecer ou a vencer a luta pela existência, em uma perspectiva darwinista. Esse tipo de pensamento, de cada ideólogo de uma nação, não era destinado apenas a pequenas minorias linguísticas que vivem em seus territórios, mas também a estrangeiros. Contudo, a aspiração em fazer um Estado-Nação sob uma mesma língua, pertencente a uma classe letrada, só se fez possível como reação a movimentos de pequenos povos que aspiravam à própria nacionalidade. Estava posto o problema. Diante da questão, os ideólogos de cada nação tinham algumas escolhas. Primeiramente poderiam negar a legitimidade de tais movimentos nacionalistas, poderiam reduzi-los a movimento de autonomia regional ou mesmo aceitá-los como fatos inegáveis e incontroláveis. Qualquer que fosse a alternativa, nenhum outro país considerava os problemas internos de um outro país como um problema de cunho internacional (HOBSBAWM, 1979). É importante pontuar uma diferença básica entre Estado-Nação e nacionalismo. O primeiro era um subterfúgio político de unificação que buscava se apoiar no nacionalismo. Muitos países, como foi o caso da Itália e da Alemanha possuíam dentro de seus territórios variedades culturais e linguísticas tão diversas, que dificilmente se poderia enxergar um povo único com aspirações únicas. Tal era esse disparate que Massimo d’ Azeglio – estadista piemontês-italiano – exclamou em 1860: “Fizemos a Itália; agora precisamos fazer os italianos” (AZEGLIO apud HOBSBAWM, 1979, p. 134). É difícil mensurar ou mesmo ratificar o nacionalismo de cidadãos ingleses, franceses, italianos, alemães, estadunidenses etc. em meados do século XIX. Hobsbawm (1979) aponta que em casos de nações emergentes, como era o caso dos EUA, o nacionalismo começava a tomar forma graças ao mito e a propaganda. SAIBA MAIS A Doutrina do Destino Manifesto Nos EUA do século XIX se expandia para oeste, essa expansão estava apoiada na crença de que o país tinha uma missão, designada por Deus, de conquistar o continente. Sendo assim, a doutrina do Destino Manifesto estava ancorada em preceitos calvinistas, no qual acreditava-se que Deus escolhia os seus eleitos, tendo como missão principal levar valores morais e iluminar povos considerados inferiores. Este quadro, ainda que contestável pelos próprios contemporâneos, foi importante elemento para a criação de um sentimento nacional. Fonte: Costa, 2011. #SAIBA MAIS# No entanto, seja nas nações emergentes, como nas nações consideradas “históricas”, a construção do nacionalismo fica circunscrita a camadas intermediárias como professores, estudantes, membros dos baixo clero e pequenos comerciantes. As classes mais tradicionais ou pobres foram as últimas a se comprometerem com um sentimento nacional, que começou a se concretizar apenas atrelada ao desenvolvimento econômico e político. O nacionalismo de massa era algo novo, diferente do nacionalismo de elite ou das classes médias. A ideia de nação era um artefato produzido, ainda que não fosse necessariamente novo, “embora incorporasse características que membros de grupos humanos muito antigos tinham ou pensavam ter em comum, ou aquilo que os unia contra estrangeiros” (HOBSBAWM, 1979, p. 142). Ou seja, o país precisava construir um sentimento de nação, seja por meio da educação ou do serviço militar obrigatório. Houve um crescimento considerável de universidades e escolas secundárias dentro e fora da Europa, que cresceram sob influência nacionalista. No entanto, o maior avanço estava nas escolas primárias, onde eram impostos valores morais, patriotismo, dentre outros. Outro aspecto importante para a criação de Estados-Nações eram os meios de comunicação. Esses só podiam ser viáveis na medida que a população fosse alfabetizada, já que estamos falando de uma era dominada pela imprensa escrita. Assim, o ensino da língua nacional e oficial para a diversidade de etnias que viviam em um determinado país, era aspecto fundamental na constituição do ideário de nacionalidade. Dessa forma, o nacionalismo começa a ter como característica a incorporação de imigrantes ou minorias étnicas em seu escopo, para formação de um Estado-Nação. O sentimento de ser inglês, alemão, francês, dentre outros, foi construído e construído para expressar unicidade e oposição ao outro. Com isso colocava em rivalidade diferentes povos, o que foi fermento para a primeira grande guerra, conforme veremos mais adiante. REFLITA “O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido.” Fonte: (ARENDT, 1989, p. 289). #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), nesta unidade que inaugura nossos estudos em História Contemporânea, você viu alguns elementos que marcaram as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Temas como imperialismo e nacionalismo, continuam em pauta, ainda que com roupagens diferentes. No primeiro tópico discutimos sobre o imperialismo e suas consequências. A ideia de um grupo considerar-se como superior e, portanto, autorizado a dominar outros povos nasceu há muito tempo, mas foi só nos séculos XIX e XX que pudemos ver enquanto prática estabelecida de vários países da Europa e mais tarde dos EUA e do Japão. Essa política, que também é econômica e cultural, deixou marcas na organização do globo e até os dias atuais está sujeita a análises teóricas. Os europeus, os estadunidenses e outras nações à época viam legitimidade no domínio do que se considerava o “outro”. Este outro viu seu território ser invadido, suas riquezas exploradas e sua soberania expropriada. Conforme discutimos, isso foi presente no que reconhecemos hoje como a partilha da África. Um continente inteiro foi dividido conforme os interesses das grandes potências. Isso não se deveu a uma inocência dos africanos, mas sim a diversos fatores que foram explorados ao longo do tópico. A ideia de dominação também pairou sobre a Ásia e o Pacífico, nestes locais foram estabelecidas formas de administração política e econômica, mais uma vez de acordo com interesses de outros países. Esse foi o tema no terceiro tópico. No quarto e último tema falamos sobre a questão do nacionalismo. O nacionalismo, que começa a se formar a partir da noção da existência de um Estado- Nação, foi responsável por mudanças importantes no decorrer do século XX. Por isso, foi importante explorar suas bases, entendendo que é um artefato. LIVRO • Título: A Era dos Impérios: 1875 -1914 • Autor: Eric Hobsbawm. • Editora: Paz e Terra. • Sinopse: Este livro faz parte da trilogia das “Eras” do importante historiador Eric Hobsbawm. As obras de Hobsbawm são leituras quase que obrigatórias para estudantes e pesquisadores de História Contemporânea. No livro em questão, o autor traz uma análise sobre os acontecimentos desde a crise de 1875, a expansão europeia, o imperialismo até os acontecimentos que deram origem à Primeira Guerra Mundial. FILME/VÍDEO • Título: O Homem que Queria ser Rei • Ano: 1975. • Sinopse: Enquanto a Índia era dominada pelos colonizadores ingleses, dois ex- soldados britânicos decidem explorar os países ao redor. Os destemidos Peachy Carnahan (Michael Caine) e Daniel Dravot (Sean Connery) viajam para o Kafiristão, onde pretendem conquistar o sucesso e viver como reis. REFERÊNCIAS ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. BOAHEN, A. A. A África diante do desafio colonial. In: BOAHEN, A. A. (ed.). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial 1880-1935. 2 ed. rev. Brasília: UNESCO 2010. COSTA, P. B. da. O Destino Manifestodo Povo Estadunidense: Uma Análise dos Elementos Delineadores do Sentimento Religioso Voltado à Expansão Territorial. In: Congresso Internacional de História, 5, 2011, Maringá, Anais do V Congresso Internacional de História. Maringá, 2011, p. 2267-2276. HOBSBAWM, E. A Era do Capital 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. MASON, C. Uma breve história da Ásia. Trad. Ceasar Souza. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. MAYER, A. J. A força da tradição: a persistência no Antigo Regime (1848-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 1987. MUNHOZ, S. J. A Construção do império estadunidense. In: SILVA, F. C. T.; MUNHOZ, S. J.; CABRAL, R. (Orgs.). Impérios na História. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2009, p. 245-258. PANIKKAR, K. M. Asia and western dominance: a survey of Vasco da Gama Epoch of Asian History. Londres: George Allen & Unwin LTD, 1961. PISTONE, S. Imperialismo. In: BOBBIO, N. Dicionário de política. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1998. UZOIGWE, G. N. Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral. In: BOAHEN, A. A. (ed.). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial 1880-1935. 2 ed. rev. Brasília: UNESCO 2010. UNIDADE II A CRISE DO CAPITALISMO Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira Plano de Estudo: • Primeira Guerra e Revolução Russa; • A tentação totalitária: a ascensão dos Fascismos; • O Nazismo na Alemanha; • Segunda Guerra Mundial; • A Guerra Fria. Objetivos de Aprendizagem: • Compreender as causas e consequências da Grande Guerra e da Revolução Russa; • Analisar o surgimento e a anatomia do Fascismo; • Entender a ascensão do Nazismo na Alemanha; • Refletir sobre as causas da Segunda Guerra Mundial; • Analisar os principais eventos da Guerra Fria. INTRODUÇÃO Prezado (a) estudante, ao longo desta unidade veremos o desenrolar do breve século XX. Nas palavras de Hobsbawm este foi um momento de profunda crise do capitalismo, correlacionado com a derrocada dos sistemas democráticos; liberais e a ascensão de regimes totalitários. Com isso, esperamos que nesta unidade você possa ter domínio dos fatos e interpretações históricas que marcaram o mundo, especialmente a Europa e os EUA. O primeiro tópico traz dois assuntos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, que são fenômenos contemporâneos. Veremos que a Grande Guerra, como também é chamada, foi fruto de um crescente nacionalismo e imperialismo dos países beligerantes logo no início do século. Abordaremos também a queda do czar na Rússia e a subsequente implantação de um sistema político e econômico inspirado nas acepções socialista. O próximo tópico traz uma discussão importante sobre a ascensão do Fascismo. Nos debruçaremos, em especial, no caso italiano, que inspirou outras formas de fascismo em outros lugares do mundo. Procuraremos situar o fenômeno como consequência do conflito para as nações derrotadas, que viram o crescimento vertiginoso de movimentos ultranacionalistas, de extrema direita e de teor totalitário. Inerente ao fascismo temos o Nazismo na Alemanha que, como é de conhecimento geral, promoveu o holocausto gerando a morte de milhões de pessoas. É fundamental compreender que esse movimento na Alemanha também foi um desdobramento da Grande Guerra, da Grande Depressão de 1929, bem como de ideias eugenistas, racistas e do darwinismo social. Tais elementos, conforme veremos, vêm acompanhados da ideia de superioridade racial dos germânicos em detrimento de outros povos, como os judeus. Você verá com mais detalhes como aconteceu a escalada ao poder de Hitler. Além disso, a Alemanha de Hitler apregoava a necessidade de um “espaço vital”, justificando a política expansionista da Alemanha. Conforme abordaremos mais adiante, essa foi uma das causas do estopim da Segunda Guerra Mundial. Esse conflito teve como característica central o conceito de guerra total, quando todas as forças produtivas do país estão a serviço da guerra e também mobiliza não apenas militares, mas também civis. Por fim, discutiremos os principais eventos da Guerra Fria e seus desdobramentos. Dessa forma, procuraremos explorar os principais acontecimentos do século XX. Bons estudos! 1 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E REVOLUÇÃO RUSSA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/world-war-1-battle- verdun-french-785840254 1.1 A Primeira Guerra Vimos na unidade anterior que a virada do século XIX para o século XX foi para as nações um momento de intensa rivalidade, seja na partilha dos continentes asiático e africano, como também da construção do Estado-Nação, instrumentalizado pelo nacionalismo. Sem dúvida, esses foram alguns dos elementos que possibilitaram que eclodisse um conflito sem precedentes até então. A Primeira Guerra Mundial foi a primeira que envolveu as massas, diferentemente de guerras anteriores com maior duração e número de pessoas equivalentes, como foi o caso da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas, ela foi https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/world-war-1-battle-verdun-french-785840254 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/world-war-1-battle-verdun-french-785840254 para além dos campos de batalha. Nunca também as nações foram capazes de canalizar praticamente toda sua indústria pesada para fins bélicos, bem como nunca haviam voltado ao setor tecnológico exclusivamente para descobrir novos modos de destruição. Perdeu-se o controle da guerra. Houve uma disparidade entre as intenções e as consequências, que foram muito além do que qualquer um poderia imaginar. Dito isso, Thomson nos alerta: Por esta razão, é necessário manter perfeitamente separadas as questões declaradamente envolvidas na guerra, quando ela começou, e aquelas que vieram a sê-lo, antes do seu término; devem ser consideradas igualmente distintas de ambas as coisas as consequências que, agora o sabemos, derivaram da guerra (THOMSON, 1976, p. 55). Desta citação, podemos retirar três perspectivas: 1) As razões primárias que fizeram com que o conflito se deflagrasse 2) Os motivos que se sustentaram durante o conflito e 3) As consequências inesperadas da guerra. A primeira perspectiva diz respeito às razões pelas quais a Guerra se iniciou, portanto, comecemos por elas. Uma guerra generalizada na Europa já era prevista desde o último quartel do século XIX, pelo menos em nível intelectual. Enquanto Friedrich Engels em 1880 examinava as possibilidades de um conflito em nível mundial, Nietzsche observou a crescente militarização dos países da Europa. A preocupação foi suficiente para que fosse realizado o Congresso Mundial da Paz em 1890, o primeiro Nobel da Paz em 1897 e a primeira das Conferências de Paz de Haia em 1899. Apesar disso, “nos anos 1900, a guerra ficou visivelmente mais próxima e nos anos 1910 podia ser considerada iminente” (HOBSBAWM, 1995, p. 419). Antes de tudo é preciso entender a corrida armamentista que precedeu a guerra. Os exércitos, cada vez maiores e mais militarizados, serviam, sobretudo, para as guerras nas colônias, que eram extremamente inóspitas pelo alto índice de mortalidade, contudo, raramente os soldados atuavam no próprio continente. Tendo isso em vista que os governantes passaram a investir em tecnologia bélica, que cresceu notavelmente a partir de 1880. Essa “tecnologia da morte” cresceu não apenas no âmbito militar, mas também no campo civil com a invenção das cadeiras elétricas, por exemplo. Essa corrida armamentista foi extremamente cara, pois os países competiam um com outro em termos de poder bélico, movimentando a indústria da morte. Um exemplo de capitalista queenriqueceu no ramo de explosivos, foi Alfred Nobel, que tentando compensar sua atividade, destinou parte de sua riqueza à causa da Paz. Assim, foi criada uma economia da morte: Os bens que essa indústria produzia eram determinados não pelo mercado, mas pela interminável concorrência dos governos, que os fazia procurar garantir para si um fornecimento satisfatório das armas mais avançadas e, portanto, mais eficientes. E mais, o que os governos precisavam não era tanto da produção real de armas, mas sim da capacidade de produzi-las numa escala compatível com uma época de guerra, se fosse o caso; isso quer dizer que ele tinham que zelar para que suas indústrias mantivessem uma capacidade de produção altamente excedente para tempos de paz (HOBSBAWM, 1995, p. 425). A partir disso, fica claro que os governos para além de uma concorrência com outros Estados-Nação, tinham que manter a indústria nacional funcionando, ou seja, adotaram medidas protecionistas contra o livre-mercado e a imprevisível livre concorrência, por isso, os governos preferiram se aliar aos capitalistas nacionais. Ainda que os fabricantes de armas tenham feito acordo com os governos, não é possível explicar a guerra nesses termos (HOBSBAWM, 1995). De maneira gradual, formaram-se dois blocos de países e essa divisão foi originária da unificação da Alemanha, ocorrida entre 1864 e 1871, que buscava aliados para se defender do principal perdedor, a França, que perdeu a região da Alsácia-Lorena. Fruto, em partes, deste episódio foi a aliança entre Alemanha e a Áustria-Hungria para assegurar a integridade do frágil Império Alemão. Desse modo, juntou-se a aliança à Itália4 para formar a Tríplice Aliança (HOBSBAWM, 1995). 4 A Itália se afastou em 1915 para se unir ao campo anti alemão. A Áustria-Hungria enfrentava problemas na região dos Bálcãs – região disputada por vários países –, que se aprofundaram com a conquista da Bósnia-Herzegovina, gerando oposição da Rússia. Ficou claro que a Alemanha, apesar de Bismarck ter tentado ter boas relações com a Rússia, teria que ficar ao lado da Áustria-Hungria. Dada à oposição entre Alemanha e França, era óbvio que a França buscasse como aliada à Rússia, que foi deixada de lado pelos alemães (HOBSBAWM, 1995). Veja, são duas zonas de tensão, a primeira, entre a França e a Alemanha, devido à anexação da Alsácia-Lorena e, a segunda, entre Áustria e Rússia, devido à região dos Bálcãs. Mas como o conflito se generalizou a ponto de se tornar um conflito de grandes proporções? Os problemas entre França e Alemanha não eram de interesse da Áustria, bem como a questão dos Bálcãs não era relevante para a França. Sobre a nossa questão, Hobsbawm explica: Três problemas transformaram o sistema de aliança numa bomba- relógio: a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e ambições mútuas entre as nações, a lógica do planejamento militar conjunto que congelou os blocos que se confrontavam, ornando-os permanentes, e a integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos (HOBSBAWM, 1995, p. 433). Entre 1903 e 1907, a Grã-Bretanha se uniu ao lado anti alemão, mas quais foram os motivos dessa oposição? Em um primeiro momento a Grã-Bretanha não tinha atritos com a Alemanha, nem mesmo antes da unificação e construção do Império Alemão, tampouco tinha razões para estar ao lado da França, já que foram antagonistas em inúmeras guerras desde o século XVII, bem como concorrentes imperialistas. No que se refere à Rússia, o Império Britânico também foi seu oponente na conquista de territórios do oriente e em terras mal definidas que ficavam entre a Índia e as terras czaristas. As alianças entre Grã-Bretanha, França e Rússia aconteceram desafiando todas as probabilidades. Aconteceu porque até então o mapa de rivalidades estava restrito à Europa e agora tinha ficado bem maior com a entrada dos EUA e do Japão, bem como fatores inerentes à nova configuração econômica mundial que mudaram a posição da Grã- Bretanha. Diferentemente de meados do século XIX, a Grã-Bretanha já não era a “oficina do mundo”, nem o principal mercado importador, pelo contrário a centralidade britânica agora era posta em questão. Com isso, o poderio econômico, ligado ao contexto de concorrência, esteve também ligada ao poder militar e a sua demonstração (HOBSBAWM, 1995). No contexto imperialista, a penetração da Alemanha no Império Otomano gerou preocupação nos britânicos, que tinham claras intenções de continuar e expandir sua influência ao redor do globo. Cada vez mais ser um grande Estado passou a ser sinônimo de ser uma grande economia e capitalismo, cujo núcleo é a busca por lucro, não possui limites. Sendo assim, um conflito de grandes proporções entre Alemanha e Grã- Bretanha por territórios coloniais parecia impensável, mas não era igualmente imprevisto que os britânicos se unissem ao lado anti-alemão. Assim foi formado o bloco anglo-franco-russo, ou mais conhecido por Tríplice Entente. A Alemanha, pós-unificação, adotava um tom cada vez mais expansionista e nacionalista, expressa pela frase: “Heute Deutschland, margen die ganze” (Hoje a Alemanha, amanhã o mundo inteiro). O perigo residia antes que um poder global exigia uma marinha global, e a Alemanha empreendeu (1897), portanto, a construção de uma grande esquadra de guerra, que tinha a vantagem incidental de representar não os velhos estados alemães, mas exclusivamente a nova Alemanha unificada [...] (HOBSBAWM, 1995, p. 440). Isso era um sinal de alerta para a Grã-Bretanha, a senhora dos mares, que entendeu essa posição da Alemanha como extremamente preocupante, já que ameaça seus domínios. Por isso, os britânicos se aliaram aos EUA, um país amigo, para proteger as águas americanas, e as águas do extremo oriente ficaram a cargo dos EUA e Japão, que na época estavam envolvidos em conflitos regionais e não pareciam representar uma ameaça ao Império Britânico. Diante do perigo que se avizinhava, na visão dos britânicos, era lógico que estes se aproximassem dos franceses e dos russos contra a Alemanha (HOBSBAWM, 1995). Essa divisão em blocos, entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente levou um pouco mais de duas décadas, demonstrando o atrito internacional que foi instalado. Foram várias as tentativas de reaproximar os países de cada bloco, mas falharam tornando-os ainda mais inflexíveis. Houve algumas questões internacionais como 1) a revolução da Rússia de 1905 (que antecedeu a revolução de 1917), que deixou o poder czarista enfraquecido e abriu espaço para a Alemanha em suas investidas no Marrocos. 2) em 1907 houve a Revolução Turca que destruiu acordos pré-firmados e permitiu que a Áustria se apoderasse de uma vez por todas da Bósnia-Herzegovina, 3) A Alemanha enviou um canhão para o porto de Agadir no Marrocos – à época estava sob o protetorado dos franceses – a fim de obter alguma compensação, mas desistiu porque a Grã-Bretanha estava ao lado da França. Diante da desintegração do Império Otomano por revolucionários turcos, as potências europeias assistiram desesperadas a região ficar fora do controle da Europa: O máximo que as potências europeias conseguiram foi criar um Estado independente na Albânia (1913) [...] A crise balcânica seguinte foi precipitada em 28 de junho de 1914, quando o herdeiro do trono austríaco, arquiduque Francisco Fernando, visitou a capital da Bósnia, Sarajevo (HOBSBAWM, 1995, p. 444). Quando um jovem terrorista, o ativista sérvio Gavrilo Princip, decidiu pelo assassinato do arquiduque não se esperava que tal ato deflagrasse a primeira grande guerra. Foi então que a Áustria entrou em guerra com a Sérvia em 1914, a Alemanha ficou ao lado dos austríacos e não tentou acalmar a situação, enquanto que a Rússia e a França ficaramao lado dos Sérvios (THOMSON, 1976; HOBSBAWM, 1995). Figura 1 - Região dos Bálcãs em 1914 Fonte: O Espaço da História, 2017. Disponível em: http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct- menu-item-1/201-os-balcas-em-1914. Acesso em: 09 dez. 2021. Para entender a configuração dos motivos que levaram o Império Austro- húngaro a declarar guerra à Sérvia, é preciso entender a região dos bálcãs como um caldeirão multicultural, cujo o crescimento da Sérvia era vista como ameaça aos austríacos, no sentido de desintegrar os seus tão frágeis componentes nacionais. Já a Rússia, de acordo com Thomson (1976, p. 55) “não podia tolerar a Expansão Austríaca nos Bálcãs sem perder a simpatia dos povos eslavos da Europa Oriental”. No momento http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct-menu-item-1/201-os-balcas-em-1914 http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct-menu-item-1/201-os-balcas-em-1914 a Alemanha ficou ao lado da Áustria e a França ao lado da Rússia e da Sérvia era porque temiam perder suas alianças. A partir daí o jogo de alianças passará a ser perigoso. Depois disso, a Alemanha invadiu a Bélgica – que fica ao norte da Europa e faz divisa com a França – para atentar contra Paris “antes que os russos pudessem a atacar e antes que um possível apoio britânico pudesse se tornar efetivo” (THOMSON, 1976, p. 55). Logo em seguida, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha, temendo o poder naval do país. O Japão também declarou guerra à Alemanha com intenção de se apoderar de concessões na China e de ilhas no Pacífico. Depois de um certo tempo, o Império Turco Otomano e a Bulgária se aliaram à Alemanha, porque um era inimigo da Rússia e outro nutria desavenças com a Sérvia. A Itália se uniu à Tríplice Entente porque lhe foram prometidos ganhos territoriais, por meio do Tratado de Londres. De todo modo, a entrada de cada uma das nações foi guiada por avaliações acerca da segurança e poder nacional (THOMSON, 1976). Thomson (1976) entende que uma vez começada a guerra, no final de junho de 1914, os motivos que levaram à eclosão se modificaram. A França continuava lutando por uma questão de sobrevivência, porque havia sido invadida, na mesma situação estavam a Sérvia e a Rússia. A Alemanha lutava em duas frentes, a leste e a oeste, e tentava não sucumbir à invasão dos inimigos. Os Impérios Austro-húngaro e Turco viam a guerra como alternativa única ao colapso interno. Apenas Grã-Bretanha e mais tarde os EUA tinham alternativa, pois ainda não corriam o risco de serem invadidas. Até 1917 não podemos definir uma posição ideológica dos blocos. Os britânicos, russos e franceses, diziam lutar contra o imperialismo e militarização da Alemanha, mas eles próprios eram imperialistas e altamente militarizados. O ponto central de 1917, consistiu na saída da Rússia da guerra, que enfrentava os próprios conflitos internos – como veremos mais adiante – e na entrada definitiva dos EUA. A partir daí, tornou-se principalmente uma guerra entre as potências marítimas ocidentais, que também eram coloniais, e de idéias democráticas, e as potências dinásticas centrais e orientais, que eram impérios continentais hostis aos ideais da democracia (THOMSON, 1976, p. 58). Houve uma transformação da natureza do conflito em seu terceiro ano, que influenciou o resultado, uma vez que a participação dos EUA foi fundamental para a vitória da Tríplice Entente. A entrada dos EUA e a saída da Rússia fez com que fosse desenhado um conflito de ideologias entre nações “democráticas” e não-democráticas. Esse modelo tendeu a se fortalecer em outros conflitos, como foi o caso da Segunda Guerra. De uma maneira geral, a guerra não foi longa, se comparada a outros embates europeus. A Grande Guerra durou cinquenta e dois meses e ficou mais conhecida pela sua intensidade, pela capacidade veloz de mobilização de exércitos e suprimentos e também pela capacidade de autodestruição. Cada potência passou a requerer maiores esforços de sua população, como o alistamento obrigatório e o aumento/inserção de impostos. Os apelos pela ajuda dos civis tinham uma pauta nacionalista e defendiam a justiça social após a guerra e “cada vez mais se ouvia o argumento de que, se a organização e a determinação humanas podiam produzir tais maravilhas na guerra, um esforço comparável na paz podia remover todos os males sociais” (THOMSON, 1976, p. 60). Os discursos produzidos no contexto da guerra, essencialmente pelo bloco Entente, versavam sobre como seria a Europa pós-guerra. O presidente W. Wilson dos EUA esboçou 14 pontos para as negociações do pós-guerra e dentre estes pontos vemos: 1) liberdade nos mares em tempos de paz e guerra 2) retiradas das barreiras comerciais 3) reajuste das reivindicações coloniais e novo desenho do mapa da Europa, especialmente a região oriental 4) Criação de uma organização internacional para impedir a guerra (THOMSON, 1976). Estava formada uma ideologia de cunho liberal, que também tocava no ponto nevrálgico das diversas nacionalidades que estavam sob a guarida dos Impérios Alemão e Austro-húngaro, em uma espécie de guerra psicológica, desestabilizando a unidade destes Estados. Aos poucos a guerra foi tomada como uma cruzada moral, pela democracia e pelos ideais liberais. Mas, é importante lembrar que esse idealismo estava sobreposto aos velhos ideais nacionalistas que haviam guiado as nações ao conflito. A Grande Guerra ficou conhecida como a guerra das trincheiras, compostas por um emaranhado de arames farpados e homens munidos com metralhadoras. Isso quer dizer que a vantagem ficou entre aqueles que escolheram um plano militar estratégico mais defensivo, já que a ofensiva era extremamente dispendiosa. Thomson (1976, p. 64) ressalta, porém, que “Somente duas armas podiam arrebatar a vantagem de que gozava a defensiva. Um era o tanque e a coluna motorizada”. Depois que a Rússia se retirou da guerra, através de um tratado de paz com os alemães em 1917, a Alemanha estava disponível para lutar em apenas uma frente, a ocidental. Por outro lado, todos os aliados dos alemães estavam entrando em colapso, pois viam as nacionalidades dentro de seus territórios se inflamarem, o que as fez ruir em um momento posterior. Com o reforço estadunidense na frente oeste, a Alemanha não encontrou outra saída: Agora, no outono de 1918, com a Alemanha extenuada ao máximo, seus aliados rendendo-se e as tropas americanas desembarcando na Europa a uma média de 250.000 por mês, o Alto Comando Alemão notificou seu governo de que não poderia vencer a guerra, e recomendou que a Alemanha solicitasse armistício (THOMSON, 1976, p. 67). Os adversários da Alemanha insistiram que um acordo armistício só poderia ocorrer com uma Alemanha democrática. Diante da pressão exercida, de um motim e uma greve geral, o Kaiser Guilherme II renunciou ao trono alemão, com isso, a Alemanha tornou-se uma república e dois dias mais tarde o armistício foi assinado, no dia 11 de novembro. A guerra terminou com o exército alemão em território francês e nenhuma força inimiga nas terras alemãs, reforçando a ideia que o exército alemão não havia sido derrotado. “Ficou para a nova república democrática a responsabilidade pela assinatura do armistício e aceitação dos termos de paz” (THOMSON, 1976, p. 68). O mapa da Europa se modificou e nasceram novas nações. Depois da guerra o Império Austro-húngaro se desintegrou e a Áustria e a Hungria se transformaram em repúblicas diferentes. “Apareceram no mapa os novos Estados da Tcheco-Eslováquia, sob a liderança do tchecos, a Iugoslávia, sob a liderança dos sérvios, uma Polônia ressuscitada e uma Romênia aumentada” (THOMSON, 1976, p. 68). O resultado do pós-guerra foi uma Europa dividida , graças à fragmentação dos Impérios Austro-húngaro e Turco. As novas nacionalidades buscaram auxílio de uma ou outra potência para
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