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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Brasileira
Prof. Renan Subtil Torres
1a Edição
sociologia
Elaboração:
Prof. Renan Subtil Torres
Copyright © UNIASSELVI 2020
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
T693s
 Torres, Renan Subtil
 Sociologia brasileira. / Renan Subtil Torres. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
 170 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-347-3
 ISBN Digital 978-65-5663-342-8
 1. Sociologia brasileira. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 300
Saudações, caro acadêmico! O presente material, o qual se encontra em suas 
mãos ou na tela de seus aparelhos digitais, é fruto de um zeloso trabalho da UNIASSELVI 
que almeja apresentar a você a relevância das principais abordagens e autores 
trabalhados na Sociologia Brasileira. Por meio de nosso livro didático, entraremos 
em contato com o desenvolvimento da Sociologia em território brasileiro, tão como 
conheceremos um pouco do trabalho intelectual de cada um dos autores que mais 
contribuíram para o pensamento acerca da sociedade de nosso país.
A Sociologia Brasileira é responsável pelos estudos das particularidades 
da dinâmica social brasileira que, apesar de influenciada por toda uma série de 
acontecimentos globais, desenvolve-se de maneira única. A recente descoberta e 
vastidão de nosso território, a mistura dos povos originários com invasores e escravos, 
a abundância de nossos recursos naturais, a exploração colonialista dentre outras 
características, são o pano de fundo para a ocorrência de fenômenos sociais específicos 
e complexos. Sendo assim, nosso material de estudos apresentará os principais temas e 
teorias que contemplam nossa realidade, sempre de maneira clara e objetiva.
O livro de Sociologia Brasileira desenvolvido pela UNIASSELVI pretende 
apresentar a você, acadêmico, de uma maneira ao mesmo tempo consistente e didática, 
as principais discussões sobre as tribulações sociais brasileiras. Também será abordado 
o desenvolvimento de nossas problemáticas por meio da reconstrução histórica dos 
mais importantes objetos de estudo que reproduzem a formação do Brasil. A escolha 
dos autores foi realizada de maneira com a qual possamos enxergar a realidade nacional 
da maneira mais objetiva e menos abstrata possível, auxiliando-nos a nos situar em 
meio a uma complexa realidade. 
A Unidade 1 abordará o desenvolvimento do pensamento social brasileiro, 
apresentando a maneira com a qual se pensava a sociedade anteriormente aos séculos XIX 
e XX, as particularidades das análises sociais que compreendem o período posterior. Feito 
isso, trabalharemos o processo de sistematização da Sociologia em território brasileiro, 
finalizando com a formalização e institucionalização da Sociologia no Brasil. Para tanto, 
utilizaremos de autores que lançaram mão de análises sociais em tais períodos, mesmo 
que anteriores à formação das Ciências Sociais tal como a concebemos hoje. Também 
apresentaremos as ideias de importantes autores nacionais que interpretam as análises 
sociais de tempos passados e reconstroem a dinâmica social por meio de análises 
históricas que devem ser consideradas.
Na Unidade 2 estudaremos interpretações clássicas sobre o Brasil por meio de 
autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Caio 
Prado Júnior. Tais pensadores desenvolveram teorias sobre a formação social brasileira 
desde o período colonial, processo de modernização nacional, relações raciais no país 
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
além de cultura, política e economia locais. Trata-se de grandes nomes da investigação 
acerca da dinâmica social de nosso território e importantes teóricos do processo 
histórico de construção nacional.
Finalmente, na Unidade 3, trabalharemos alguns dos principais temas abordados 
pela Sociologia Brasileira. Dentre eles estão assuntos como raça e identidade sob a 
perspectiva de pensadores das Ciências Sociais brasileiras, o processo de modernização 
do Brasil e a Sociologia Brasileira após a década de 1970. Esperamos que aproveitem o 
conteúdo preparado pela UNIASSELVI e ampliem seus conhecimentos sobre o contexto 
social de nosso país! Bons estudos!
Prof. Renan Subtil Torres
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
QR CODE
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX ................... 1
TÓPICO 1 - FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA ......................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA ........................................................33 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA .................................................................8
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 20
TÓPICO 2 - SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ............................................ 23
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23
2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO .......................................... 23
3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL BRASILEIRA ...................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 33
TÓPICO 3 - A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ............................... 35
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35
2 O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ................................................................ 35
3 A SOCIOLOGIA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS ....................................... 39
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 49
RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 54
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL .....................................57
TÓPICO 1 — SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL .............................................59
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................59
2 OS GRANDES INTÉRPRETES DO BRASIL E SUAS PRINCIPAIS ABORDAGENS.............59
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 68
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 69
TÓPICO 2 - GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO 
 DO POVO BRASILEIRO ..................................................................................... 71
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 71
2 GILBERTO FREYRE E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .......................................................... 71
3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO BRASIL ..........79
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 88
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 89
TÓPICO 3 - FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR ........................................ 91
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 91
2 FLORESTAN FERNANDES: RELAÇÕES SOCIAIS E ESTRUTURA DE CLASSES 
 NA SOCIEDADE BRASILEIRA ........................................................................................... 91
3 CAIO PRADO JÚNIOR: A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA 
 CONTEMPORÂNEA ............................................................................................................96
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 101
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................106
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................107
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................109
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA ........................................................111
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO ........ 113
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 113
2 O DEBATE RACIAL NO BRASIL ....................................................................................... 113
3 O DEBATE ACERCA DA IDENTIDADE DE GÊNERO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO .... 121
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................128
TÓPICO 2 - MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA ....................................................................... 131
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 131
2 A MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX ........................................................... 131
3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO BRASILEIRO PÓS-PRIMEIRA 
 GUERRA MUNDIAL ..........................................................................................................135
4 A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES DE ÁLVARO VIEIRA PINTO, 
 RUY MAURO MARINI, CAIO PRADO JÚNIOR E FLORESTAN FERNANDES ...................139
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................146
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 147
TÓPICO 3 - SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES ............................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................149
2 SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: DA DITADURA MILITAR NO BRASIL 
 ÀS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS NOS DIAS ATUAIS ............................149
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................160
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................165
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................166
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................168
1
UNIDADE 1 - 
O PENSAMENTO SOCIAL 
BRASILEIRO DOS SÉCULOS 
XIX E XX
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar o processo de transformação do pensamento sociológico brasileiro por 
meio de registros do período colonial;
• reconstruir as principais abordagens anteriores à formalização da Sociologia em 
território brasileiro;
• evidenciar o processo de sistematização da Sociologia no Brasil;
• abordar a institucionalização da Sociologia brasileira;
• apresentar autores cujas ideias foram importantes à compreensão do processo de 
formação da Sociologia e da sociedade brasileira como um todo.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO
TÓPICO 2 – A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
TÓPICO 3 – AINSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
Pensar a sociedade na qual estamos inseridos demanda um esforço no sentido 
de considerarmos todos os elementos que a constitui. Isso significa que o pensamento 
sociológico lançado a determinado território parte da ideia de que toda sociedade é 
constituída por seus aspectos sociais. Ou seja, toda sociedade é constituída por suas 
condições materiais e históricas, tão como por todo e qualquer tipo de manifestação 
humana, sendo ela cultural, artística ou filosófica.
 
A Sociologia Brasileira emergiu de um longo processo interdisciplinar que leva 
em conta todos os registros possíveis acerca dos povos originários, invasores, escravos 
e sua interrelação, passando pela realidade material que é única de cada região do 
mundo. Sendo assim, estudaremos no primeiro tópico da Unidade 1 de nosso material, 
as condições em meio às quais emergiu o pensamento social brasileiro, passando por 
uma breve história do Brasil, do período pré-colonial aos primeiros estudos sobre as 
populações nativas e seu contato com os invasores europeus e os escravizados por 
eles. Bons estudos!
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA
Antes de iniciarmos nossos estudos acerca do Brasil como era anteriormente à 
invasão portuguesa do ano de 1500, devemos considerar alguns pontos importantes com 
relação ao conceito de pensamento social. Primeiramente, não devemos considerar ape-
nas análises sociológicas, antropológicas, históricas ou provenientes de outros campos 
do saber de forma separada. A sociedade é um fenômeno complexo que deve ser ana-
lisado sob o máximo de perspectivas possíveis. Segundo, devemos pensar a sociedade 
de maneira macro e micro concomitantemente, ou seja, analisar o indivíduo em sua sub-
jetividade, de forma isolada, como um elo que compõe a totalidade da realidade e, não 
menos importante, analisar a sociedade como um todo, um grupo de indivíduos capaz de 
modificar a realidade e construir a história do território onde habita. Em terceiro lugar, para 
se pensar sociologicamente, devemos estudar a maior variedade possível de fontes de 
informação, sejam elas escritas, ouvidas, vivenciadas, formais ou não formais. Dessa ma-
neira conseguimos conceber a dinâmica social de maneira mais fiel possível à realidade. O 
autor Freitas Pinto (2002, p. 144-145) acredita que: 
4
A ideia de pensamento social corresponde em parte à constatação 
de que a riqueza dos processos sociais e culturais jamais é revelada 
plenamente quando utilizamos tão somente os métodos e recursos 
de uma determinada disciplina como a sociologia, a antropologia ou 
história. O pensamento social é construído transpondo barreiras e 
limites de disciplinas e campos de conhecimento, combinando, em 
muitos casos, dados empíricos e fatos com percepções extraídas da 
poesia, do romance, do teatro.
Sabendo os pressupostos sociológicos apresentados anteriormente, comece-
mos nossos estudos respeitando uma ordem cronológica de fatos que se iniciam antes 
da colonização portuguesa, antes mesmo de nosso país se chamar Brasil. Estima-se 
que o continente americano abrigava aproximadamente uma centena de milhão de 
pessoas, e é importante destacar que o território – o qual, hoje, corresponde ao nos-
so país – era habitado por cerca de 1 a 5 milhões de pessoas, dependendo da fonte 
informativa. Devido ao fato da ausência de registros escritos, uma vez que os povos 
originários transmitiam seus conhecimentos por meio, principalmente, da fala, é difícil o 
acesso àquelas culturas existentes anteriormente à invasão portuguesa.
FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/index_clip_image002.jpg>. 
Acesso em: 30 abr. 2020.
FIGURA 1 – TRIBO BRASILEIRA XINGU
É importante saber que o povo nativo se organizava em grupos sociais comu-
mente conhecidos como “tribos”. Os indivíduos foram chamados de “índios” pelos colo-
nizadores e esse tratamento perdura até hoje. Isso se deve ao fato de os portugueses 
supostamente estarem buscando um caminho alternativo à Índia ao se depararem com 
as terras brasileiras, referindo-se a elas como Índias Ocidentais por determinado perí-
odo. Esse tipo de tratamento acabou por generalizar as centenas de etnias e línguas 
que foram classificadas por estratos linguísticos centrais. São eles: tupis-guaranis, que 
habitavam a região do litoral, macro-jê ou tapuias, região do Planalto Central, aruaques 
ou aruak, da Amazônia e caraíbas ou karib, também da região amazônica. 
5
Muitos dos registros acerca da cultura dos povos nativos, que viveram na 
época das primeiras expedições portuguesas ao Brasil, foram retratados 
pela Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Pedro Álvares 
Cabral, que destinou, ao então rei de Portugal, Dom Manuel, suas primeiras 
impressões sobre o território recém explorado. 
A carta pode ser acessada por meio do endereço eletrônico a seguir: http://
objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf. 
É bastante interessante analisarmos o ponto de vista dos invasores europeus 
às terras dos tupiniquins – primeiros povos a entrar em contato com os 
portugueses recém-chegados.
DICAS
As múltiplas sociedades nativas eram complexas, porém possuíam algumas 
características comuns como a divisão social do trabalho. Geralmente, os homens 
eram responsáveis pela caça, pesca, construção de habitações, guerras dentre 
outras atividades. As mulheres costumavam se incumbir dos cuidados com a família, 
confecção de vestimentas, preparo de alimentos, agricultura do milho, feijão, abóbora, 
batata-doce, amendoim, mandioca e outros tipos de trabalho. Quase sempre havia uma 
hierarquia bem estabelecida e líderes específicos, além de pessoas especializadas nos 
cuidados à saúde e referências espirituais. 
Era comum a domesticação de alguns animais considerados selvagens pelo ho-
mem branco e a harmonia com a natureza era plena quando comparada à contempora-
neidade. Costumava-se utilizar apenas recursos indispensáveis à sobrevivência humana, 
como madeira, peles de animais, penas, corantes naturais, fibras de plantas diversas além 
de uma riquíssima medicina da floresta, infelizmente soterrada e discriminada pela cultu-
ra europeia. Hoje existem alguns poderosos remédios remanescentes da cultura nativa, 
utilizados na cura de diversas doenças e terapias. Um bom exemplo é o chamado Santo 
Daime ou Ayahuasca, chá de folhas e cipós utilizados em ritos e tratamentos para males 
como a depressão, ansiedade e vícios em substâncias químicas diversas.
O embate entre as culturas originárias e europeias resultaram no soterramento 
dos costumes dos povos nativos. Em outras palavras, a miscigenação – que era em parte 
consequência de estupros realizados pelos portugueses colonizadores –, o processo de 
catequização e ensino da língua portuguesa à população genuinamente brasileira, foram 
alguns dos fatores que acabaram por descaracterizar o modo de vida dos chamados po-
vos indígenas. A esse processo se dá o nome de aculturação: quando uma cultura perde 
suas características ou deixa de existir devido à influência de uma cultura exterior.
6
A colonização de nossas terras não foi a primeira ideia dos portugueses após a 
chegada de Pedro Álvares Cabral em sua primeira expedição ao Brasil, cujo desembar-
que foi no dia 22 abril de 1500, onde hoje é o estado da Bahia. Buscando por insumos 
comercializáveis, que poderiam ser alternativa ao então lucrativo comércio oriental de 
especiarias, os portugueses se decepcionaram à primeira vista, pelo fato de não encon-
trarem recursos naturais como metais preciosos no litoral brasileiro. Logo descobriram o 
Ibirapitanga ou Arabutã, que tempos depois ficaria conhecida como Pau-brasil. Tratava-se 
de umaárvore abundante em território nacional, tão como em diversas outras localidades 
da América e ilhas próximas. O nome dela tem origem da cor vermelha de seu interior, 
que lembrava brasa. Chamada inicialmente de pau-de-tinta pelos portugueses, logo ficou 
conhecida como Pau-brasil que, tempo depois, inspiraria o nome de nosso país.
O comércio do Pau-brasil, apesar de lucrativo, não chegava perto da lucrativi-
dade que o comércio de especiarias no ocidente proporcionava a Portugal. Com a ajuda 
dos povos nativos, seduzidos por meio do escambo. Tratava-se da troca de serviços 
braçais por quinquilharias diversas, oferecidas pelos portugueses, configurando uma 
transação comercial primitiva entre povos estrangeiros e originários. O Pau-brasil 
foi explorado de maneira devastadora, chegando à beira da extinção tempos após suas 
primeiras extrações. Isso se devia à utilidade da tinta da madeira no tingimento de teci-
dos brancos, muito valorizados na Europa após coloridos com o vermelho de sua seiva.
FIGURA 2 – EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL POR MEIO DA MÃO DE OBRA NATIVA
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/01/ciclo-do-pau-brasil-2-750x430.
jpg>. Acesso em: 6 maio 2020.
A extração da madeira no Brasil demandava uma autorização concedida pelo 
rei de Portugal. Essa autorização se chamava estanco. A primeira pessoa a receber 
o estanco foi Fernando de Noronha, que hoje é o nome de uma das ilhas do litoral 
nordestino brasileiro. O Pau-brasil extraído pelas pessoas que recebiam o estanco 
da realeza portuguesa era armazenado em feitorias, ou seja, armazéns espalhados 
pela costa brasileira que serviam de depósito para a madeira que, posteriormente, era 
enviada por meio de embarcações para a metrópole europeia.
7
QUADRO 1 – PERÍODO PRÉ-COLONIAL
FONTE: O autor
Toda essa movimentação de mercadorias ao longo da costa brasileira atraía a atenção 
de outros povos. Os franceses eram os principais interessados nessa nova fonte de riquezas. Eles 
faziam alianças com tribos inimigas dos portugueses e atacavam o litoral em busca do domínio 
da transação mercantil do Pau-brasil. A fim de se defender dos ataques franceses, Portugal 
decide organizar expedições guarda-costas para o Brasil, que eram caravelas armadas 
enviadas para patrulhar os mais de 8 mil quilômetros de litoral e refrear a ameaça estrangeira. 
Diante às disputas que pelo vasto território brasileiro e seus abundantes recursos 
naturais, surge a demanda pela garantia dessas terras por parte de Portugal. Foi assim que, 
no ano de 1534, o então rei português, Dom João III, decide implementar um programa de 
ocupação efetiva do Brasil. Esse ano foi o marco final do chamado Período Pré-Colonial, a 
partir do qual a coroa portuguesa decide enviar pessoas para colonizar o território brasileiro. Tal 
estratégia serviu para estabelecer os domínios portugueses sobre as terras recém-tomadas 
pelos europeus, dificultando a entrada de outros povos que estavam em busca das riquezas 
encontradas em terras tupiniquins. Vale salientar que o Pau-brasil era apenas um dos inúme-
ros recursos naturais descobertos, até então, no que hoje corresponde aos limites brasileiros. 
Diversas outras riquezas ainda viriam a ser descobertas pelos invasores portugueses, am-
pliando ainda mais seus interesses sobre o território dominado a partir do ano de 1500. 
Podemos sintetizar o Período Pré-Colonial como um tempo de descobertas para os po-
vos europeus que aqui desembarcaram em busca da ampliação de seus domínios comerciais. 
Marcada pela aculturação dos povos nativos frente à cultura europeia, a época pré-colonial foi 
fundada na descoberta do valor comercial do Pau-brasil, e do conveniente trabalho braçal do 
povo originário, intermediado pelo escambo e fundamental para a extração daquela madeira. 
O estanco era a autorização provida pela coroa portuguesa para a extração do Pau-brasil, que 
era armazenado em feitorias espalhadas pelo litoral brasileiro e, logo depois, transportado para a 
Europa por meio de embarcações. As expedições guarda-costas serviam de intimidação frente 
às invasões estrangeiras, principalmente de franceses, que objetivavam a disputa dos recursos 
materiais brasileiros. O referido período, classificado como pré-colonial, encerra-se em 1534, 
quando Portugal envia pessoal para ocupar o Brasil de maneira definitiva. O quadro a seguir 
salienta os principais aspectos desse período, que perdura do ano de 1500 até 1534:
• Duração – de 1500 a 1534.
• Principal atividade econômica – extrativismo.
• Principal matéria-prima – Pau-brasil.
• Regime de trabalho – utilização da mão de obra nativa intermediada pelo regime de 
escambo.
• Autorização real para a atividade – estanco.
• Depósito da matéria-prima bruta – feitoria.
• Principais ameaças – ataques de franceses aliados a tribos nativas rivais aos 
portugueses.
• Principal defesa portuguesa – expedições guarda-costas.
8
Agora que exploramos as principais características do primeiro período após 
à entrada dos portugueses no território que hoje corresponde ao Brasil, estudaremos 
outra fundamental fase da ocupação dessas terras: o Período Colonial. Por meio 
dos estudos dessa outra importante etapa do desenvolvimento social brasileiro, 
construiremos as bases para a investigação acerca da produção e desenvolvimento do 
pensamento sociológico de nosso país.
3 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA
Tendo em vista que a coroa portuguesa reconheceu a potencialidade do Brasil 
em termos de riquezas, que já estavam atraindo forças estrangeiras que as disputavam 
com os pioneiros europeus, Dom João III, então rei de Portugal, decide, em 1534, 
colonizar essas terras com o objetivo de estabelecer sua dominação. Cabe salientar 
que já ocorriam revoltas e diversas resistências em nome das terras brasileiras, antes 
mesmo da chegada de Portugal ao país. 
Desde o ano de 1494, o Tratado de Tordesilhas já dividia legalmente o Brasil que 
conhecemos hoje em duas partes. As coroas de Portugal e Espanha, na época Reino de 
Portugal e Coroa de Castela, já se interessavam no chamado “novo continente”, a América 
recém invadida pela expedição marítima capitaneada por Cristóvão Colombo em 1492. 
O tratado consistia em uma divisão de terras por meio de uma linha imaginária. 
Essa linha cortava o Brasil de norte a sul, do que hoje corresponde ao estado do Pará até 
Santa Catarina. De acordo com o tratado que objetivava pôr fim às disputas pelas terras 
americanas entre os dois reinos, tudo o que situava a oeste da linha pertenceria à Coroa 
Castela e, a leste, do Reino de Portugal. Anos depois esse tratado foi revogado a pedido 
dos portugueses ao perceberem a vastidão ainda inexplorada ao centro e a oeste do 
que hoje corresponde à América Latina. 
Por volta do ano de 1534, o então rei de Portugal, Dom João III, divide o Brasil 
em sesmarias, que consiste em pedaços de terras demarcados por meio de linhas 
imaginárias traçadas vertical e horizontalmente com relação ao mapa do território 
nacional. Cada um desses pedaços de terra era destinado a um nobre escolhido pelo rei. 
As terras delimitadas não eram posse de seus destinatários, os chamados donatários. 
Cada donatário tinha direito de ocupar o território e produzir riquezas dentro dele, 
porém, a decisão acerca da destituição dos territórios e/ou substituição dos donatários 
estava nas mãos do rei. Cada um dos donatários recebia uma Carta de Doação, que 
consistia em um documento que assegurava que cada uma das sesmarias era delegada 
a um administrador específico. 
A Carta Foral, por sua vez, era o documento em que constavam as diretrizes de 
posse da sesmaria, ou seja, as instruções acerca daquilo que o donatário pode ou não 
pode fazer em relação à ocupação do espaço que tomaria conta a partir do momento 
em que recebesse sua Carta de Doação.
9
As faixas de terra, cuja gestão era passada de pais para filhos, foram batizadas 
de Capitanias Hereditárias. A partir do ano de 1934, o país passou a ser dividido 
em 15 Capitanias Hereditáriasque seriam distribuídas entre 12 donatários. Cada uma 
das sesmarias que vieram a se tornar Capitanias Hereditárias, recebia um nome e 
era concedida aos respectivos donatários, incumbidos da tarefa de ocupar e produzir 
riquezas em seus territórios.
• Capitania do Maranhão: João de Barros e Aires da Cunha e Fernando Álvares de 
Andrade.
• Capitania do Ceará: Antônio Cardoso de Barros.
• Capitania do Rio Grande: João de Barros e Aires da Cunha.
• Capitania de Itamaracá: Pero Lopes de Sousa.
• Capitania de Pernambuco: Duarte Coelho Pereira.
• Capitania da Baía de Todos os Santos: Francisco Pereira Coutinho.
• Capitania de Ilhéus: Jorge de Figueiredo Correia.
• Capitania de Porto Seguro: Pero do Campo Tourinho.
• Capitania do Espírito Santo: Vasco Fernandes Coutinho.
• Capitania de São Tomé: Pero de Góis da Silveira.
• Capitania de São Vicente: Martim Afonso de Sousa.
• Capitania de Santo Amaro: Pero Lopes de Sousa.
• Capitania de Santana: Pero Lopes de Sousa.
FIGURA 3 – DIVISÃO POLÍTICA ESTABELECIDA PELO TRATADO DE TORDESILHAS
FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/tordesilhas.jpg>. 
Acesso em: 15 maio 2020.
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É importante termos em mente que o processo de formação colonial de nosso 
país não se deu de maneira pacífica, muito menos democrática. A terra, que já possuía 
moradores há milênios, fora dividida em vários pedaços que agora passariam a ser 
jurisdição de um donatário europeu, mesmo que sem a aprovação de muitos povos 
nativos. Foram muitas as batalhas que foram travadas entre nativos e colonizadores 
europeus. Anteriormente ao loteamento e distribuição das terras litorâneas do Brasil, 
existiam conflitos em torno da ocupação de seu território vasto e rico em recursos 
naturais. Além da diversidade da fauna e da flora brasileira, a água é abundante e escoa 
por meio de gigantescos rios. Diversas populações vivenciavam disputas por territórios 
que dispunham de tais recursos fundamentais para a sobrevivência.
O século XVI foi marcado por batalhas como o Cerco de Igarassu que, 
conforme Hans Staden (1945), consistiu em um levante realizado pelos índios caetés 
contra os portugueses que, dentre outros fatores motivacionais, escravizaram membros 
de sua etnia. O cerco ocorreu em uma vila de Pernambuco, entre 1549 e 1551, conforme 
alguns historiadores, os quais nem sempre entram em consenso quanto à data oficial da 
resistência. Em 1562, foi realizado o Cerco de Piratininga, que foi a união entre índios 
carijós, guaianás, guarulhos e tupiniquins, organizados contra a dominação portuguesa. 
O fato ocorreu em São Paulos dos Campos de Piratininga, quando as etnias indígenas 
reunidas atacaram a vila onde portugueses aliados a tupiniquins se defenderam da 
ofensiva. Isso evidencia a existência da aliança, não só entre índios de diferentes tribos, 
mas entre “homens brancos” (europeus) e indígenas (nativos). 
A imagem a seguir ilustra um pouco da relação amistosa que os colonizadores 
conseguiram estabelecer com os antigos donos das terras de São Paulo dos Campos de 
Piratininga, os índios tupiniquins. Embora a aliança entre brancos e indígenas favorecesse 
ambas as partes, outros povos e, inclusive os próprios tupiniquins, levantaram-se contra 
essa jovem vila, então com dois anos de idade. Observe:
FIGURA 4 – ALIANÇA ENTRE HOMENS BRANCOS E TRIBOS NATIVAS
FONTE: <https://cutt.ly/ggbanjn>. Acesso em: 15 maio 2020.
11
Mais tarde, entre os anos de 1554 a 1567, foi formada a Confederação dos Ta-
moios que era composta majoritariamente pelo povo Tupinambá, por sua vez composto 
por tribos Tupiniquins, Aimorés e Terminós. Tratava-se de um dos primeiros grandes con-
flitos entre os povos originários, que reivindicavam sua liberdade tão como a retomada de 
suas terras, e homens brancos, especialmente portugueses e franceses, que ocupavam 
um território que compreendia parte do litoral paulista e fluminense. A Guerra dos Ai-
morés foi outro importante episódio de resistência por parte dos povos nativos. Os Ai-
morés eram povos que habitavam o território que hoje corresponde aos estados de Minas 
Gerais e Espírito Santo e resistiram à colonização portuguesa por mais de um século. 
Essa guerra, que durou aproximadamente de 1555 a 1673, foi composta por di-
versas batalhas, dentre elas a Batalha do Cricaré. Essa batalha ocorreu na Capitania 
de Espírito Santo, mais especificamente no Povoado de Cricaré, onde uma ofensiva li-
derada por Vasco Fernandes Coutinho, donatário responsável pela referida sesmaria, 
desembarcou com sua armada vinda do litoral do que hoje corresponde à Bahia. Apesar 
da difícil batalha que custou a vida de vários nativos e colonizadores, os Aimorés con-
seguiram afastar a tropa que defendia os domínios de Vasco Fernandes Coutinho, cujo 
comandante, Fernão de Sá, morrera neste combate. Após a retirada dos colonizadores 
invasores, os Aimorés destruíram as feitorias dos bandeirantes por volta do ano de 1558.
Outro importante episódio da história da ocupação dos Brasil por invasores 
europeus se materializou com a Guerra dos Bárbaros (1650-1720). O conflito ocorreu 
entre os nativos Tapuias e colonizadores portugueses que, com o fim da União Ibérica, 
em 1640, e a expulsão dos holandeses, em 1654, passaram a concentrar sua atenção nas 
terras nordestinas, mais especificamente da Bahia ao Maranhão, para a consolidação do 
cultivo da cana-de-açúcar e expansão da pecuária. Foram aproximadamente 70 anos 
de combates entre os povos nativos e os invasores portugueses, custando a vida de 
centenas de índios e muitos colonizadores portugueses. Para Puntoni (1999, p. 196):
A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série heterogênea 
de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que de um movimento 
unificado de resistência. Resultado de diversas situações criadas ao 
longo da segunda metade do século XVII, com o avanço da fronteira 
da pecuária e a necessidade de conquistar e “limpar” as terras para 
a criação de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e 
sociedades indígenas contra moradores, soldados, missionários e 
agentes da coroa portuguesa.
A Guerra dos Bárbaros foi um massacre contra o povo Tapuia, que era composto 
por grupos culturais que compreendia o povo Jê, Tarairiu, Cariri e outros grupos que 
não eram classificados pelos cronistas da época. Alguns dos povos que podem ser 
citados entre os não batizados pelos colonizadores são os Sucurú, os Bultrim, os Ariu, 
os Pega, os Panati, os Corema, os Paiacu, os Janduí, os Tremembé, os Icó, os Carateú, 
os Carati, os Pajok, os Aponorijon e os Gurgueia. Toda essa diversidade fora ignorada 
pelos invasores europeus que, por meio de um processo de aculturação que operava 
12
através da catequização e alfabetização compulsória de nativos às línguas e crenças 
europeias, apagou culturas altamente complexas e de ciência avançada. O domínio dos 
Tapuia sobre os saberes advindos da interação homem-natureza, poderiam, hoje, nos 
proporcionar diversas soluções à vida em sociedade, como a cura de diversos males 
e doenças, tão como uma dinâmica social mais harmoniosa e menos destrutiva em 
relação aos recursos naturais e seres humanos que coexistem contemporaneamente.
“Uma índia-velha cachimbeira conta a seus netos a história de luta de 
seus antepassados contra as invasões dos colonizadores do nordeste 
do Brasil, provocadas pela expansão da pecuária bovina. A historiografia 
oficial denominou os confrontos de guerra dos bárbaros. Resta-nos 
saber se são bárbaros os índios ou os europeus”, tal frase se encontra na 
descrição da animação feita sob direção de Júlia Manta, recontando sob a 
perspectiva de uma índia Tapuia remanescente do terrível massacre que, 
entre os séculos XVII e XVIII, tirou a paz dos povos nativos do nordeste 
brasileiro: A Guerra dos Bárbaros: vale a pena conferir essa interessante 
obra brasileira que retrata, por meio de desenhos, a força e resistência 
dos povos originários do Brasil contra as mazelas da colonização 
europeia. O vídeo pode ser assistido por meiodo sítio eletrônico a seguir: 
https://www.youtube.com/watch?v=e5duD0qNCrU.
DICAS
A chegada massiva e compulsória de outro povo foi determinante à formação de 
nossa cultura e de pensamento social brasileiro: o negro africano. Os negros foram trazidos 
da África pelos colonizadores europeus como alternativa à mão de obra indígena, fosse ela livre 
ou escrava. A expansão da economia canavieira do século XVI, trouxe consigo a demanda por 
um trabalho intensificado nas lavouras. Os povos africanos, fisicamente adaptados às rígidas 
condições de sobrevivência de seu continente de origem, foram a solução ao trabalho indígena.
As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não 
falar em causas, mas em um conjunto de fatores. A escravização do 
índio chocou-se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os 
fins da colonização. Os índios tinham uma cultura incompatível com o 
trabalho intensivo e regular e mais ainda compulsório, como pretendi-
do pelos europeus. Não eram vadios ou preguiçosos. Apenas faziam o 
necessário para garantir sua subsistência, o que não era difícil em uma 
época de peixes abundantes, frutas e animais. Muito de sua energia e 
imaginação era empregada nos rituais, nas celebrações e nas guerras. 
As noções de trabalho contínuo ou do que hoje chamaríamos de pro-
dutividade eram totalmente estranhas a eles (BORIS, 1996, p. 28).
A mão de obra escrava proveniente dos negros africanos foi fruto do tráfico de 
pessoas, intensificado durante as expedições portuguesas à costa africana no século 
XV. Após esse período, o comércio escravista se tornou uma atividade muito lucrativa 
para os colonizadores. Os escravos negros possuíam habilidades, tanto no cultivo da 
cana-de-açúcar – que já era uma das atividades portuguesas nas ilhas do Atlântico – 
13
quanto na criação de gado. Conforme Boris (1996), entre os anos de 1550 e 1855, cerca 
de 4 milhões de negros, em sua maioria jovens e do sexo masculino, entraram no Brasil 
pelos portos utilizados para seu comércio.
Não por acaso, a partir da década de 1570 incentivou-se a importação 
de africanos, e a Coroa começou a tomar medidas através de várias 
leis, para tentar impedir o morticínio e a escravização desenfreada dos 
índios. As leis continham ressalvas e eram burladas com facilidade. 
Escravizavam-se índios em decorrência de "guerras justas", isto é, 
guerras consideradas defensivas, ou como punição pela prática de 
antropofagia. Escravizava-se também pelo resgaste, isto é, a compra 
de indígenas prisioneiros de outras tribos, que estavam para ser 
devorados em ritual antropofágico. Só em 1758 a Coroa determinou 
a libertação definitiva dos indígenas. Mas, no essencial, a escravidão 
indígena fora abandonada muito antes pelas dificuldades apontadas 
e pela existência de uma solução alternativa (BORIS, 1996, p. 28-29).
O povo negro, assim como os nativos brasileiros, também resistiu contra a cruel domi-
nação europeia sobre as terras do Brasil. Foram inúmeros os levantes, guerras e batalhas contra 
o sistema escravagista da época. É muito importante nos lembrarmos que o nosso país foi o 
último a abolir legalmente a escravidão dos negros africanos que para cá foram trazidos. 
No ano de 1758 fora abolida a escravidão dos índios e, somente em 13 de maio de 1888, os 
escravos negros do Brasil foram libertados das senzalas por meio da assinatura da Lei Áurea. 
Contudo, a abolição da escravatura em terras brasileiras não foi um simples ato de benevolên-
cia da nobreza, mas resultado de intensas e sangrentas batalhas em nome da liberdade. 
Cabe salientar que o povo negro brasileiro muito sofreu após a abolição 
da escravidão. Assolados pela fome, escassez de empregos remunerados, falta de 
moradias, o povo negro foi empurrado para longe do convívio do branco, concentrando-
se em localidades que hoje são chamadas de periferias. 
Ao português estranho ao continente cumpre juntar o negro, igual-
mente alienígena. A importação começou desde o estabelecimento 
das capitanias e avultou nos séculos seguintes, primeiro por causa 
da cultura da cana, mais tarde por causa do fumo, das minas, do 
algodão e do café. Depois da supressão do tráfico em 1850, o café 
provocou deslocações consideráveis na distribuição interna; o mes-
mo efeito produziu a abolição (ABREU, 2009, p. 16).
FONTE: <https://www.olharconceito.com.br/imgsite/noticias/1(85).jpg>. Acesso em: 16 maio 2020.
FIGURA 5 – TRANSPORTE DE NEGROS AFRICANOS PARA COMPOSIÇÃO DE MÃO DE OBRA ESCRAVA
14
Diversos foram os personagens e acontecimentos que marcaram a resistência 
negra em território brasileiro. Desde o suicídio das pessoas que não mais aguentavam os 
maus-tratos de uma vida sob regime de escravidão, os abortos induzidos pelas escravas 
negras que eram estupradas recorrentemente pelos seus senhores, até as paralisações, 
assassinatos e guerras contra os escravocratas, são exemplos de reação do povo negro 
trazido para cá. Muitos mártires, símbolos da violência e crueldade cometidas contra o 
povo negro no Brasil, são hoje considerados heróis que contribuíram no processo de 
libertação que se arrasta até os dias de hoje. 
Os escravos negros, muitas vezes, conseguiam fugir das senzalas, que eram 
os barracões e outras habitações insalubres e inseguras construídas pelos senhores 
de escravos (“donos” das pessoas que eram traficadas para mão de obra escrava) para 
abrigar o povo capturado em terras africanas. Esses escravos, então, associavam-se 
e formavam comunidades denominadas quilombos, onde passavam a se concentrar 
e acolher os demais negros fugitivos. Os quilombolas, moradores dos quilombos, 
eram comumente surpreendidos por ofensivas de capitães do mato, empregados dos 
senhores de escravos que caçavam e castigavam os fugitivos. Cabe salientar que 
muitos desses capitães do mato eram negros que ganhavam algumas regalias de seus 
senhores em troca de seus serviços, dentre elas a delação de escravos que planejavam 
fugir e a aplicação de penas físicas e diversos tipos de tortura.
 No interior das senzalas, os negros escravizados manifestavam sua fé e cultura, 
na medida do possível. As más condições das habitações resultavam em doenças e outros 
tipos de mazelas que dificultavam ainda mais a vida dos escravos. Já nos quilombos, 
que eram assentamentos mais isolados, escondidos da ação dos senhores de escravos e 
capitães do mato, os costumes dos negros escravizados podiam se manifestar de forma 
mais livre. Até hoje, no Brasil, existe certo preconceito em relação à cultura e religião de 
matriz afrodescendente. O senso comum dos brasileiros recorrentemente associa as 
crenças religiosas dos negros à feitiçaria ou a chamada “macumba”, expressão utilizada 
para estigmatizar a cultura negra. 
Houve muitas grandes e sangrentas revoltas decorrentes da tentativa de 
emancipação do povo negro em nosso país. Alguns dos principais símbolos de resistência 
negra e batalhas em nome da libertação dos escravos negros no Brasil estão listadas 
no quadro a seguir:
QUADRO 2 – ALGUMAS DAS RESISTÊNCIAS DE ESCRAVOS NEGROS NO BRASIL
• Quilombo dos Palmares: liderado por Zumbi dos Palmares e sua esposa Dandara, 
foi o maior quilombo brasileiro, situado onde hoje fica o estado do Alagoas, 
concentrando boa parte dos escravos fugitivos e soltos voluntariamente.
15
FONTE: O autor
FIGURA 6 – MOVIMENTO ABOLICIONISTA
FONTE: <https://cutt.ly/6gbdOZ2>. Acesso em: 17 maio 2020.
• Fuga do Engenho Santana: em 1789, um grupo de escravos fugitivos constituiu 
um quilombo dentro do qual se organizaram e construíram um trato para apresentar 
aos senhores daquele engenho. Dentre as principais reivindicações estavam o 
direito ao lazer, folgas e liberação das manifestações culturais daquele grupo.
• Revolta dos Malês: rebelião organizada por negros livres e escravos da Bahia em 
busca da abolição. Esse levante ocorreu no ano de 1835 e foi uma das dezenas de 
greves só no estado baiano.
• Rebelião de Carrancas: outra importante rebelião ocorrida, dessa vez, em Minas 
Geraisno ano de 1833.
• Revolta de Manoel Congo: levante organizado por Manoel Congo no município de 
Vassouras, no Rio de Janeiro. Ocorreu no ano de 1838.
• Balaiada: resistência que ocorreu entre os anos de 1839 a 1842 no Maranhão, na 
qual escravos liderados por Cosme Bento das Chagas preocuparam as elites.
Muito contribuiu para o fim da escravidão formal no Brasil as ações do chamado 
Movimento Abolicionista, composto por diversas classes sociais. Artistas, membros da 
elite, intelectuais, negros alforriados, escravos e mulheres promoveram diversos tipos de 
trabalho a favor da abolição da escravatura no Brasil. Isso não significa que os outros ti-
pos de resistência já mencionados, além de muitos outros, não configurem movimentos 
abolicionistas. Todavia, o movimento passa a ter maior visibilidade e ascensão quando as 
camadas mais privilegiadas da sociedade brasileira interviram de forma mais ativa. Esse 
fato ilustra o severo grau de racismo incrustado em nossa sociedade, desde seus primór-
dios, quando a discriminação em relação às vontades dos negros era ainda mais explícita.
16
Consideradas as bases de nossa sociedade, formada pelos povos nativos, 
colonizadores europeus e escravos negros trazidos da África, avançaremos para 
os períodos posteriores à era colonial. O advento da união do território brasileiro a 
Portugal no ano de 1815, somado às crises financeiras e políticas da coroa portuguesa, 
impulsionaram uma demanda pela Independência do Brasil, que já não sustentava 
tantas cobranças por parte também da Inglaterra. As elites portuguesas pressionavam 
pela volta do regime colonial no Brasil, enquanto as elites já estabelecidas em nossas 
terras não possuíam esse anseio. O então rei de Portugal, Dom João VI, deixa seu filho – 
que viria a se tornar Dom Pedro I – tomando conta da política brasileira até que, no ano 
de 1889, é proclamada a República Brasileira. 
Nos primeiros anos da República Velha (1889-1930), nosso povo se 
encontrava sob regime militar. Esse período é chamado de República da Espada 
(1889-1894). Deodoro da Fonseca entra como Presidente da República, substituindo 
o regime provisório dos militares. No ano é estabelecida a Constituição de 1891, cujos 
principais pressupostos eram o as eleições diretas para homens alfabetizados com 
mais de 21 anos de idade, o federalismo, que consistia no confio de certa autonomia 
para os estados, divisão do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário. Nessa 
época o Brasil também passa a emitir moedas em papel, medida adotada por Rui 
Barbosa, o então Ministro da Fazenda.
O período que vai de 1894 até 1930 é chamado de República Oligárquica, 
quando fora eleito Prudente de Moraes, primeiro presidente civil eleito. A política do 
Brasil era comandada por uma oligarquia rural, ou seja, por grandes produtores. O Partido 
Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) eram os partidos que 
mais lançavam presidentes. A Política Café com Leite, batizada em referência às duas 
maiores atividades econômicas da época, era o regime eleitoral predominante, no qual 
os governadores dos estados brasileiros e os presidentes da República acordavam de 
maneira tanto legal quanto ilegal para não haver oposição à presidência vigente e garantia 
de autonomia estatal. De outro modo, a Política Café com Leite consistia em trocas de 
favores entre presidentes e governadores de forma a manipularem o jogo político. 
O coronelismo era o regime em que os coronéis, grandes proprietários de 
terra que exerciam influência direta sobre o povo que vivia no interior de seus domínios, 
conduziam o voto de cabresto. O voto de cabresto era a imposição do voto ao povo, que 
era submisso e financeiramente dependente dos violentos coronéis que o ameaçava. 
Tal regime provocou grandes desigualdades e exclusão no Brasil republicano, fato 
que motivou o nascimento dos chamados movimentos sociais do período. É válido 
ressaltarmos que as resistências indígena e negra do período colonial brasileiro também 
foram modalidade de movimento social, pois consistia na reivindicação por melhores 
condições de vida por parte das classes menos privilegiadas da sociedade.
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Entre 1893 e 1897, ocorre no Brasil a chamada Guerra de Canudos no nordeste 
brasileiro. Frente às condições de miséria vivenciadas pelo povo nordestino, assolado 
pela fome, seca e violência crescentes, Antônio Conselheiro, autointitulado um “enviado 
de Deus”, toma a frente de um movimento que resulta na formação do povoado de 
Canudos. As gigantescas proporções que o resultado dos discursos de Conselheiro 
tomou, abriu espaço para uma ofensiva das forças republicanas que massacraram o 
povo de Canudos. Há relatos que em torno de 20 mil, dos 25 mil habitantes de Canudos, 
foram mortos pelo exército. Além disso, aquela cidade foi totalmente destruída nesse 
ataque genocida ao povo nordestino, protagonizado pelas forças armadas brasileiras.
Dentre os mais notáveis movimentos sociais da época estava a Revolta da 
Vacina, no Rio de Janeiro, onde diversas pessoas estavam insatisfeitas com os 
constantes desalojamentos determinados pelo estado. Os despejos eram realizados 
para a manutenção viária e construção de espaços públicos, além disso, nesse mesmo 
período foi imposta a obrigatoriedade da vacinação contra as epidemias que assolavam 
o Rio. O acúmulo de lixo era um problema que trazia graves doenças para a população, 
dentre elas estão: a varíola, a peste bubônica e a febre amarela, doenças que matavam 
milhares de pessoas na época. Frente às drásticas medidas adotadas pelo então 
presidente Rodrigues Alves, eleito em 1902, o povo carioca se amotinou.
FIGURA 7 – REVOLTA DA VACINA
FONTE: <https://cutt.ly/Mgbd04S>. Acesso em: 17 maio 2020.
A Revolta da Chibata (1910) foi um movimento social por meio do qual os 
marinheiros brasileiros de baixa patente reivindicavam o fim dos maus tratos que sofriam. 
O líder deles era João Cândido, conhecido como almirante negro, que fomentava os 
pedidos por melhor condições de trabalho, alimentação e a anistia daqueles que se 
envolveram na referida revolta. O movimento foi duramente reprimido pelo governo. 
Mais tarde, entre 1912 e 1917, ocorre a Guerra do Contestado, entre as fronteiras do 
estado do Paraná e Santa Catarina. 
18
O conflito sócio-político se originou da construção de uma estrada de ferro que 
ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul e demandou a expulsão de muitas pessoas de 
suas terras. José Maria de Santo Agostinho, líder que se sensibilizou com o sofrimento 
daqueles camponeses, posicionou-se contra o regime republicano brasileiro e logo seu 
movimento de resistência foi desmantelado pelas forças do governo.
O declínio do regime republicano oligárquico se deu com a ascensão do 
tenentismo. Os tenentes eram jovens oficiais que eram contra as oligarquias ruralistas 
que conseguiram implantar o voto secreto no Brasil. Em meio a uma crise econômica 
que afetou o mercado brasileiro do café, enfraquecendo as elites aqui estabelecidas, 
existiu também um conflito político entre Minas Gerais e São Paulo. No ano de 1930, 
o então presidente Washington Luís, lançado por São Paulo, estava em seu último 
ano de mandato, apoiando o candidato Getúlio Vargas que perdera as eleições para 
Júlio Prestes, de Minas Gerais. Sob suspeitas de fraudes eleitorais agravadas pelo o 
assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio Vargas, Júlio Prestes é deposto por militares 
que, por meio de um golpe, nomeiam Vargas presidente da República no ano de 1930. 
Tal fato marca o fim do período da República Velha.
A breve síntese que acabamos de fazer acerca da formação social do Brasil 
nos apresenta alguns dos elementos que formam a base de nossa sociedade. Nosso 
povo, nossa cultura, costumes, crenças e tradições, são fruto de um complexo e amplo 
processo histórico que envolveu diversos povos, de diversos cantos do Planeta. No 
próximo tópico continuaremos com a síntese histórica nacional sob a perspectiva de 
diversos autores fundamentais à teoriasocial brasileira. 
19
Neste tópico, você aprendeu:
• O território que hoje corresponde ao Brasil era habitado por nativos de diversas 
etnias antes da chegada dos invasores portugueses.
• Os povos indígenas, como são conhecidos até hoje os povos nativos brasileiros, 
possuíam uma cultura altamente desenvolvida, além do domínio sobre os recursos 
naturais aqui existentes.
• A invasão portuguesa trouxe consigo a escravidão, tanto dos povos nativos quanto 
dos negros trazidos da África para cá.
• Muitos movimentos de resistência e luta pela emancipação de nossos povos foram 
travadas em território brasileiro.
• O chamado período republicano foi marcado por diversas revoltas populares e 
regimes políticos variados.
• A sociedade brasileira foi formada por elementos advindos das culturas nativa, 
negra e europeia.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
AUTOATIVIDADE
1 Antes mesmo de ser conhecido como Brasil, o território no qual vivemos era habitado 
por diversas etnias nativas. Esses povos eram, em sua maioria, pessoas que viviam 
em harmonia com a natureza, além de possuírem política bem organizada e altos 
conhecimentos sobre os recursos naturais – que eram muito mais abundantes antes 
da invasão portuguesa. A chegada dos europeus em terras brasileiras foi motivo de 
muitos conflitos e resistência por parte dos povos que aqui habitavam. Covardemente 
explorados pelos colonizadores, os chamados e até hoje conhecidos como indígenas, 
foram submetidos a trabalhos braçais por objetos que recebiam em troca por meio do 
escambo, quando não eram explicitamente escravizados. De acordo com as lutas por 
emancipação protagonizadas pelos povos indígenas no Brasil, classifique V para as 
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Houve grandes cercos a cidades e vilas ocupadas por colonizadores europeus 
em busca da libertação de pessoas escravizadas, muitos deles terminando em 
sangrentos confrontos entre nativos e invasores.
( ) Alguns grupos indígenas faziam acordos com colonizadores, conforme às 
demandas por melhores condições de vida às suas tribos, o que não impedia que 
membros da mesma tribo não concordassem com os termos estabelecidos pelos 
portugueses e outros europeus.
( ) Aconteceram conflitos nos quais diversos grupos indígenas diferentes se 
associaram para lutar em resistências às más condições de vida impostas pela 
colonização europeia, alguns terminando na expulsão ou morte de colonos 
invasores.
( ) Os índios submetidos ao escambo não estavam sendo explorados, pois as trocas 
estabelecidas pelos portugueses eram sempre justas e supriam as necessidades 
dos povos nativos, sem demanda por conflitos.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F. 
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.
e) ( ) F – F – F – V.
2 O povo negro que foi trazido por meio de tráfico negreiro e hoje compõe mais da metade 
da população brasileira, sempre foi combativo em relação aos abusos cometidos 
pelos senhores de engenho do período colonial brasileiro e às sequelas sociais 
iniciadas nesse tempo. Embora sejam diversos os relatos históricos que atribuem 
à Princesa Isabel e ao 13 de maio à liberdade do povo negro no Brasil, estudamos 
21
que o trabalho realizado a favor da plena emancipação dessas pessoas continua 
contemporaneamente, porém, protagonizado pelo próprio movimento. Foram 
diversos os levantes dos escravos negros, que se rebelavam e se concentravam em 
quilombos, reivindicando por direitos que vão desde melhores condições de vida nas 
senzalas à liberdade de manifestações culturais e religiosas. Com base nos principais 
conflitos que ocorreram em nome da liberdade do povo negro no Brasil, analise as 
sentenças a seguir:
I - Zumbi dos Palmares foi um grande líder negro que orientou a resistência do 
quilombo dos Palmares, o maior e mais populoso do Brasil, onde ele e sua esposa 
Dandara trabalharam a favor da emancipação de seu povo.
II - Era muito comum a prática do suicídio entre o povo negro na época das senzalas, 
tão como os abortos realizados por escravas que eram vítimas frequentes de 
estupros cometidos pelos senhores de escravos.
III - Dentre as práticas de resistência, que fizeram parte da luta a favor da emancipação 
do povo negro no período colonial, estão as greves e os levantes contra os abusos 
sofridos durante o regime escravagista.
IV - Apesar da Lei Áurea propor, no dia 13 de maio de 1888, a libertação dos escravos no 
Brasil, as dificuldades sociais junto à discriminação e preconceito contra os negros 
são sequelas do período escravista até os dias de hoje.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 O período do Brasil República, dividido em vários momentos conforme historiadores, 
foi marcado por diversas revoltas populares e militares. Os novos movimentos sociais 
emergentes no final do século XIX e início do século XX coexistiam com diversos 
movimentos e dinâmicas sociais baseadas na autoridade e no militarismo. De acordo 
com os conhecimentos absorvidos no primeiro tópico de nosso livro de Sociologia 
Brasileira, disserte acerca dos conceitos de coronelismo, tenentismo e sobre a Guerra 
de Canudos e a Revolta da Vacina.
22
23
SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA 
NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
A Sociologia no Brasil emergiu de um processo histórico no qual as demandas 
pela construção de uma teoria social que atendesse a alguns tipos de interesse. No 
presente tópico, abordaremos o processo de organização da Sociologia Brasileira 
anterior a sua formalização e institucionalização. Ou seja, analisaremos o período de 
nascimento das primeiras análises sociais documentadas por autores genuinamente 
brasileiros, que vivenciaram boa parte da história de nosso povo e nossa sociedade. 
Desse modo, conseguiremos acompanhar, mesmo que de maneira resumida, a trajetória 
que percorreram as análises sociais brasileiras. Serão estudadas desde as experiências 
de estudo social pioneiras, realizadas em ambiente e por profissionais não pertencentes 
ao meio propriamente sociológico, até o pensamento social científico/acadêmico 
contemporâneo, metodologicamente mais avançados.
Começaremos pela contextualização do período no qual escreveram os principais 
autores de nosso pensamento social, partindo para a análise das ideias de diversos 
outros influentes pensadores nacionais, tão como aqueles que são considerados 
marginais, tanto acadêmica quanto popularmente. Então começaremos pelas principais 
abordagens dos estudos sociais do Brasil.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO
O conflito entre classes foi o objeto de estudo mais enfatizado das Ciências 
Sociais em seu período de nascimento. Isso ocorria em todo o mundo e na América Latina 
não foi diferente. O pensamento social foi muito influenciado pelas teorias marxistas 
(MARX, 2013), pois a principal preocupação dos primeiros pensadores a investigar a 
dinâmica social do continente era a condição de exploração das então colônias europeias. 
A pobreza, conflitos étnico-raciais, a violência de maneira geral e o processo histórico que 
resultaram em tais fatores foram as principais abordagens da época.
O pensamento social no Brasil, naturalmente, foi constituído por pensadores 
que não eram considerados sociólogos, teóricos políticos ou outras classificações 
intelectuais e/ou acadêmicas. Basta lembrarmos que o reconhecimento dos campos 
do saber de maneira isolada, como hoje é feito na Academia, é um fenômeno 
bastante recente. 
24
As primeiras formações acadêmicas de pesquisadores sociais, ocorre na 
década de 1930 em nosso país. As Ciências Sociais brasileiras foram impulsionadas, 
em grande parte, por autores independentes que relatavam suas impressões sobre o 
período histórico no qual viveram e seu passado.
Conforme os estudosde Cândido (2006), podemos dividir a Sociologia Brasileira 
em dois períodos, de acordo com os pensadores e o contexto no qual escreveram. O re-
ferido autor sustenta que o primeiro período de produção do pensamento social brasileiro 
está compreendido entre os anos de 1880 e 1930, sendo o período de 1930-1940 consi-
derado um momento de transição para a produção intelectual voltada à sociedade brasi-
leira a partir da década de 1940. A partir daí a Sociologia estaria mais estruturada e seus 
autores cada vez mais especializados na investigação dos fenômenos sociais nacionais.
No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na evolução da Sociologia, 
dois períodos bem configurados (1880-1930 e depois de 1940), 
com uma importante fase intermédia de transição (1930-1940). No 
primeiro, é praticada por intelectuais não especializados, interessados 
principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar de 
modo global a sociedade brasileira. Além disso, não se registra o 
seu ensino, nem a existência da pesquisa empírica sobre aspectos 
delimitados da realidade presente (CÂNDIDO, 2006, p. 271).
Considerado o trecho anterior, partiremos das análises de autores do século 
XIX para então compreendermos o processo histórico pelo qual se desenvolveu o 
pensamento social brasileiro. Iniciaremos nossos estudos sobre a constituição do 
pensamento social brasileiro a partir da obra de Constância Duarte (2010) sobre Nísia 
Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 
Papari, no Rio Grande do Norte, no ano de 1810. Ela foi um grande nome do pensamento 
social do século XIX e uma das pioneiras do debate de gênero nacional. 
Quando observamos o percurso realizado pelas mulheres na conquista 
de seus direitos mais elementares, como o de ser alfabetizada, poder 
frequentar escolas ou simplesmente ser considerada dotada de 
inteligência, verificamos o quanto esse trajeto foi penoso. Em parte, 
é possível vislumbrá-lo através das trilhas deixadas por algumas 
escritoras em seus textos, conscientes de que faziam parte de uma 
reduzida elite de mulheres letradas, e que a educação era importante 
para a valorização social do gênero feminino. Dentre as que 
participaram desse debate, ao longo do século XIX, está a norte-rio-
grandense Nísia Floresta Brasileira Augusta, autora de importantes 
títulos sobre a mulher, professora e fundadora de colégios para 
meninas, que muito contribuiu para o avanço da educação feminina 
em nosso país (DUARTE, 2010, p. 11).
Além dos direitos da mulher, Nísia Floresta reivindicava, por meio de seus 
escritos, pelos direitos fundamentais dos índios e dos escravos negros brasileiros. 
Ela escreveu sobre os direitos das mulheres e os abusos cometidos pelos homens na 
sociedade patriarcal na qual estamos inseridos. 
25
Foi um grande exemplo de resistência feminina que, em tempos quando a 
mulher era dificilmente alfabetizada, forçada a ficar em casa cuidando exclusivamente 
da família e dos afazeres domésticos, Nísia Floresta viajou por países como Portugal, 
Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e França, estudando e lecionando para meninas. 
Umas de suas obras mais notáveis é Direitos das mulheres e injustiça dos homens 
(FLORESTA, 1839), publicada pela primeira vez no ano de 1833. Pode ser considerada 
uma das precursoras do movimento feminista brasileiro, inspirando não só mulheres, 
mas diversos estratos sociais menos privilegiados, explorados e escravizados. 
FIGURA 8 – RETRATO DE NÍSIA FLORESTA
FONTE: Duarte (2010, p. 10)
Um dos grandes nomes do abolicionismo brasileiro é o de Joaquim Nabuco 
(1849-1910). Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo foi um político, diplomata, 
advogado e historiador pernambucano que publicava poesias e chegou a ser Deputado 
Geral da Província no ano de 1878. Fundou em sua casa, na praia do Flamengo, uma 
Sociedade Contra a Escravidão. No ano de 1884, Nabuco apoiava o Gabinete liberal 
Sousa Dantas, que propôs diversas medidas que objetivavam extinguir gradualmente a 
escravidão no Brasil. Em 1985 é promulgada a Lei dos Sexagenários e, em 1887, Nabuco 
se torna deputado de Pernambuco. Em discurso na Câmara condena a utilização do 
Exército na perseguição dos escravos fujões. Teve forte atuação nos trâmites para a 
assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888.
FIGURA 9 – JOAQUIM NABUCO
FONTE: <https://cutt.ly/egmJcqE>. Acesso em: 19 maio 2020. 
26
No dia 29 de maio de 1867, nascia em Aracati, no Ceará, Adolfo Ferreira Cami-
nha, um escritor naturalista que publicou poemas e fundou a Padaria Espiritual, movi-
mento literário-político que sustentava a importância da educação no que diz respeito 
aos avanços sociais. Nasceu em tempos difíceis nos quais a seca assolava o nordeste 
brasileiro. Simpatizava com o abolicionismo e publicou o jornal O Pão. Sua difícil vida que 
se findou aos seus 30 anos de idade, inspirou obras grandes e quase sempre trágicas.
FIGURA 10 – ADOLFO CAMINHA
FONTE: <https://cutt.ly/3gmJSud>. Acesso em: 19 maio 2020.
Outro grande nome do pensamento social brasileiro é João da Cruz e 
Sousa, poeta, filho de escravos, que nasceu em 1861, na cidade de Nossa senhora 
do Desterro. Teve a oportunidade de estudar no Liceu Provincial de Santa Catarina 
apesar da dura discriminação racial que sofria. Quem financiou seus estudos foram 
os antigos “proprietários” de seus pais, que eram aristocratas. Escreveu para o 
jornal abolicionista Tribuna Popular e é patrono da Academia Catarinense de Letras. 
Colaborou com o jornal Folha Popular e escreveu também para revistas. Era ativista a 
favor do fim do racismo e seus textos quase sempre tratavam dos temas escravidão, 
solidão e dor. Pode ser considerado um símbolo da difícil ascensão do povo negro aos 
cargos tradicionalmente brancos, tão como um dos negros pioneiros da Academia 
no Brasil. Apesar das dificuldades provocadas pelo racismo que sofria, era bastante 
reconhecido entre seus colegas e chegou a ser apelidado de “Dante Negro”, em 
referência ao escritor humanista da Itália, Dante Alighieri.
27
FIGURA 11 – CRUZ E SOUSA
FIGURA 12 – GONÇALVES DE MAGALHÃES
FONTE: <https://cutt.ly/WgmJ0ss>. Acesso em: 19 maio 2020.
FONTE: <https://cutt.ly/ngmKvvm>. Acesso em: 19 maio 2020.
Domingos José Gonçalves de Magalhães, que viria a se tornar o Visconde do 
Araguaia, é outro dos grandes nomes da política e pensamento social do século XIX. 
Foi um carioca que construiu uma densa carreira, trabalhando como médico, professor, 
diplomata, político, poeta e ensaísta. Divulgou a cultura brasileira por meio da Revista 
Niterói, fundada por ele junto aos escritores brasileiros Manuel de Araújo Porto-Alegre 
(1806-1879) e Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876). Foi Deputado do Rio 
Grande do Sul e diplomata no cargo de Ministro de Negócios de países como Paraguai, 
Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Itália, Vaticano, Áustria, Rússia e Espanha. Também 
atuou como professor de Filosofia e possui uma extensa obra.
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/goncalves-de-magalhaes/>. Acesso em: 19 maio 2020.
28
O poeta, professor, crítico de história, jornalista, teatrólogo e etnólogo, Antônio 
Gonçalves Dias, nasceu em Caxias, no Maranhão, no ano de 1823, sendo um dos 
pensadores que ajudaram a construir o pensamento social brasileiro. Fundou a Revista 
Literária Guanabara e escreveu para diversos jornais da época. O autor mestiço foi autor 
do livro Os Últimos Cantos e grande divulgador da grandeza indígena do Brasil. Exaltava 
o povo nativo brasileiro, atribuindo o papel de protagonista aos índios de seus contos. É 
autor da famosa Canção do Exílio. 
FIGURA 13 – GONÇALVES DIAS
QUADRO 3 – AS OBRAS MAIS IMPORTANTES DE MACHADO DE ASSIS
FONTE: <https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/go/nc/goncalves-dias-l.jpg>. 
Acesso em: 19 maio 2020.
Por fim, consideremos a obra de Machado de Assis, que foi um jornalista, 
contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nascido no ano de 1839, no Rio de 
Janeiro. Joaquim Maria Machado de Assis é consideradoum dos maiores, senão o maior 
nome da literatura brasileira. Foi criado no Morro do Livramento, estudou de acordo com 
suas condições e se tornou um grande revisor e escritor brasileiro. Também colaborou 
com o indianismo, dedicando várias de suas obras ao povo nativo brasileiro. No quadro 
a seguir, encontram-se algumas de suas principais obras e suas sínteses:
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Nesta criação de 1881, o autor nos mostra a 
perspectiva de um narrador, Brás Cubas, que decide contar sua história de vida após 
sua morte. O livro é cercado de ironia e críticas aos privilégios e a elite da época, uma 
das principais obras de Machado de Assis e sempre exigido nos vestibulares.
Dom Casmurro – Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1899 e traz o olhar 
minucioso do autor sobre a sociedade e um tema polêmico: o ciúme. Isso, além de 
uma das mais famosas personagens da literatura brasileira: Capitu.
29
FIGURA 14 – MACHADO DE ASSIS
FONTE: <https://beduka.com/blog/materias/literatura/principais-obras-machado-assis/>.
 Acesso em: 19 maio 2020.
FONTE: <http://machado.mec.gov.br/templates/machado/img/machado.png>. 
Acesso em: 19 maio 2020.
A Mão e a Luva – Segundo romance de Assis, a obra foi publicada em 1874, em folhetins. 
Dessa forma, se comparada aos livros anteriores, sua escrita é algo mais superficial e 
simples, com um tom novelesco. A trama gira em torno dos relacionamentos burgueses 
e da personagem Guiomar, protagonista considerada heroína da história.
Helena – Com a trama ambientada em Andaraí, no Rio de Janeiro, acompanhamos 
um romance cercado de surpresas, amor proibido e personagens dramáticos. Dividido 
no total de 28 capítulos, esta obra de Machado de Assis faz críticas à sociedade e foi 
publicada em formato de folhetim, em 1876.
Quincas Borba – Lançado em 1891, neste livro acompanhamos a história de Rubião, 
um ingênuo rapaz que decide seguir os ensinamentos do filósofo Quincas Borba. 
Narrado em terceira pessoa, o livro possui traços realistas para a época, com muita 
ironia e certas doses de pessimismo.
Iaiá Garcia – Marcando o fim da fase romântica de Machado de Assis, o livro de 1878, 
também reúne detalhes da sociedade daquela época: os interesses, questões de 
poder, amores proibidos e casamentos arranjados.
Ressurreição – Esta obra de Machado de Assis, de 1872, marca o estilo “machadiano”, 
com os traços de romance, a intimidade com o leitor e o pessimismo presente em 
quase todos os seus livros. No enredo temos Félix, um rapaz descrente da própria vida 
amorosa até se apaixonar por Lívia. Depois, somos cercados pela desconfiança do 
personagem e, mais uma vez, pelo ciúme cego do protagonista.
30
É claro que o pensamento social brasileiro foi construído por diversos outros 
autores que, infelizmente, não poderemos apresentar no presente material. Todavia, 
a partir da obra de tais intelectuais, conseguimos identificar os principais problemas 
sociais brasileiros vivenciados até o século XIX. A partir daí, podemos explorar as 
principais abordagens das Ciências Sociais brasileiras, por mais que ainda não existisse 
um campo do saber específico dedicado a esses estudos até então. As principais 
inquietações dos autores tributários ao pensamento social do Brasil serão abordadas no 
próximo subtópico, que ampliará nosso repertório de autores fundamentais à formação 
da Sociologia Brasileira tal como a concebemos hoje. É importante salientar que as 
sínteses apresentadas no presente tópico são de caráter introdutório. A complexidade e 
vastidão da produção da Teoria Social brasileira demanda pesquisas mais aprofundadas, 
tendo em vista o caráter fundamental da História do Brasil para o entendimento da 
problemática social nacional.
3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL 
BRASILEIRA
O subtópico anterior nos apresentou alguns dos tributários da Teoria Social 
Brasileira que evidenciam os principais objetos de estudo do período que se inicia com 
a chegada dos portugueses ao Brasil até o Período Colonial. Agora, destacaremos as 
abordagens predominantes intrínsecas ao pensamento social brasileiro, inserindo o ponto 
de vista de outros autores fundamentais à composição das Ciências Sociais no Brasil.
No século XIX, o autor Tobias Barreto de Menezes já tecia reflexões sobre temas 
que abarcavam a Filosofia e Psicologia a fim de compreender o pensamento humano. 
Desde o referido período, Menezes (1889) já expressava suas inquietudes em relação à 
condição humana e nossos direitos fundamentais. A dominação de determinadas classes 
e os efeitos sociais do sistema capitalista faziam parte do pensamento desse autor que 
reconhecia a importância da literatura para a construção do pensamento social.
Espíritos medíocres que tiveram a ventura de apparecer á hora própria, 
poderam facilmente conseguir uma reputação intelectual, acima do seu 
mérito e dos seus esforços. De dia em argumentando e capitalisando 
esse renome indebto, fructo do commercio com a ignorância geral, 
chegaram enfim ao ponto de immobilisar, por assim dizer, na pessoa 
deles, todas as honras literárias, e tornal-as para outros de uma quasi 
impossível acquisição (sic) (MENEZES, 1889, p. 113-114).
Outras abordagens da sociedade brasileira foram realizadas por Sílvio Romero, 
que considerava imprescindível levarmos em conta as condições climáticas e geográficas 
do Brasil, os três povos fundamentais que o formaram tão como os aspectos morais 
de nosso povo para compreendermos nossa realidade (MORAES FILHO, 1999). O autor 
sustenta a ideia de que os estudos sociais devem contemplar análises antropológicas, 
biológicas, filosóficas e políticas para que sejam consistentes.
31
[...] Sílvio Romero avança a hipótese de que o estudo deve considerar 
o conjunto de elementos assim classificados: primários (ou naturais); 
secundários (ou étnicos) e terciários (ou morais). No primeiro plano 
as questões mais importantes dizem respeito ao clima e ao meio 
geográfico. Aponta-os: “o excessivo calor, ajudado pelas secas na 
maior parte do país; as chuvas torrenciais no vale do Amazonas, 
além do intensíssimo calor; a falta de grandes vias fluviais entre o S. 
Francisco e o Paraíba: as febres de mau caráter reinantes na costa”. 
A isto acrescenta: “o mais notável dos secundários é a incapacidade 
relativa das três raças que constituíram a população do país. Os 
últimos – os fatores históricos chamados política, legislação, usos, 
costumes, que são efeitos que depois atuam também como causas”. 
Em síntese, as diversas doutrinas acerca do Brasil chamaram a 
atenção para aspectos isolados, que cabia integrar num todo único. 
O destino do povo brasileiro, a exemplo do que se dava em relação 
à espécie humana, estaria traçado numa explicação de caráter 
biosociológica, como queria Spencer (MORAES FILHO, 1999, p. 51).
A construção da nacionalidade brasileira foi abordada por Adolfo Varnhagen 
(1957 apud GUIMARÃES, 1988), que aborda a relação entre o homem branco, a nação 
e o Estado para tentar entender o fenômeno do nacionalismo. Varnhagen (1857 apud 
GUIMARÃES, 1988, p. 18), em relação a sua metodologia de estudos, evidencia que: “Em 
geral busquei inspirações de patriotismo sem ser no ódio a portugueses ou à estrangeira 
Europa, que nos beneficia com ilustrações; trarei de pôr um dique a tanta declamação e 
servilismo à democracia; e procurei ir disciplinando produtivamente certas ideias soltas 
de nacionalidade”.
Devemos considerar o fato de que o Brasil foi construído à base de mão de 
obra negra e indígena, explorada pelos europeus colonizadores. A partir de tais pilares, 
desenvolveram-se diversos tipos de problemas sociais que hoje são investigados pela 
Sociologia Brasileira. 
A dominação de classes, raças e interesses é tema de múltiplas pesquisas 
que, até os dias de hoje, são desafio para os estudiosos que produzem a Teoria Social 
Brasileira. A economia baseada na agricultura, que carrega a herança da mão de obra 
escrava, reflete em diversas problemáticas sociais como a desigualdade, a violência,a 
miséria, o racismo e diversos outros problemas. 
No próximo tópico abordaremos o processo de institucionalização da Sociologia 
no Brasil, apresentando o desenvolvimento e a formalização da disciplina como campo do 
saber independente, tão como a Sociologia foi inserida no âmbito acadêmico brasileiro. Para 
tanto, evidenciaremos o desenrolar histórico das Ciências Sociais no país, seu contexto de 
formação e seus principais produtos iniciais.
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A Teoria Social brasileira foi constituída, inicialmente, por diversos pensadores de 
distintas áreas do conhecimento que acompanhavam os problemas sociais do 
período histórico no qual viveram.
• Dentre os autores que relataram as principais problemáticas sociais brasileiras estão 
tributários do abolicionismo, indianismo, feminismo entre outros.
• O pensamento social brasileiro já se manifestava por meio da literatura, jornalismo, 
política entre outros meios, antes mesmo de se tornar um campo do saber 
independente.
• As principais abordagens sociais estabelecidas anteriormente à formalização das 
Ciências Sociais no Brasil giram em torno da questão racial, colonizadora, escravista 
e econômica.
33
AUTOATIVIDADE
1 A Teoria Social brasileira nasceu anteriormente à formação das Ciências Humanas 
formais. Foram diversos os pensadores que já problematizavam, principalmente a 
partir do século XVIII, a sociedade que se consolidava no Brasil. Dentre os principais 
assuntos abordados por tais intelectuais estavam a dominação de classes, patriarcado, 
escravidão, formação do povo brasileiro, colonialismo e outros. Considerando a 
produção intelectual voltada à Teoria Social brasileira, classifique V para as sentenças 
verdadeiras e F para as falsas:
( ) Nísia Floresta, por ser considerada uma das pioneiras não só dos debates feministas 
brasileiros como também da ascensão acadêmica feminina, tendo em vista as 
dificuldades que a mulheres sofriam e sofrem até hoje em relação ao ingresso na 
carreira de educador no Brasil.
( ) Dentre os autores nacionais que escreviam, ainda no século XVIII, sobre o cenário 
social brasileiro, muitos trabalhavam como jornalistas, professores, políticos, 
poetas e diversas outras ocupações.
( ) Os autores que trabalhavam a favor do abolicionismo escravocrata no Brasil nem 
sempre eram de origem afrodescendente, sendo alguns deles políticos, intelectuais, 
artistas e outros simpatizantes não negros da causa.
( ) O indianismo é uma das vertentes que surgiram da necessidade que alguns autores 
tiveram de resgatar o protagonismo indígena na formação do povo brasileiro, ou 
seja, reatribuir aos povos nativos do Brasil o título de brasileiros legítimos, cuja 
cultura e etnia foram reduzidas drástica e cruelmente frente à dominação europeia.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) F – F – F – V.
2 O contexto histórico-geográfico no qual se formou o Brasil é único, assim como em 
cada um dos países colonizados ou não. As condições materiais de cada território, 
tão como as especificidades de cada povo que habita determinada região são fatores 
particulares que ajudam a moldar as civilizações que ocupam qualquer tipo de 
espaço. No caso do Brasil, a riqueza de recursos naturais e a multiplicidade de etnias 
que aqui habitavam antes da invasão portuguesa, são os pilares de nossa história, 
que continuou após a chegada dos colonizadores e do povo negro trazido da África 
para serem escravizados aqui. Frente à diversidade dos elementos que constituem 
a sociedade brasileira, foram tecidas análises sociais que, desde a chegada dos 
34
europeus às terras tupiniquins, serviram de base para formação da Teoria Social 
brasileira. Com base nas afirmações sobre as principais abordagens do pensamento 
social brasileiro do Período Colonial, analise as sentenças a seguir:
I- Um dos temas mais discutidos entre os pensadores do Período Colonial brasileiro é 
o da exploração do povo nativo, êxodos e o a mão de obra escrava com todas suas 
implicações.
II- Os autores do século XVIII e início do século XIX relataram diversos tipos de conflitos 
entre colonizadores e povos nativos, europeus e escravos negros além de alianças 
entre alguns povos distintos.
III- São frequentes os relatos de lutas entre indígenas e negros que disputavam o 
território brasileiro, tão como a união entre povos europeus para escravização e 
comercialização do povo nativo em terras estrangeiras.
IV- Muitos dos relatos dos precursores do pensamento social brasileiro são referentes 
às resistências que culminaram na expulsão de alguns grupos de colonizadores das 
terras por ele invadidas.
Assinale a alternativa CORRETA?
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
3 A ocupação de nosso território por colonizadores europeus é comumente 
retratada como o “descobrimento do Brasil”, todavia, sabemos que aqui já existia 
uma multiplicidade de povos e etnias com dinâmicas sociais muito diferentes da 
europeia, antes mesmo do ano de 1500. O processo de aculturação “soterrou” uma 
grande variedade de culturas, crenças, conhecimentos e maneiras de se interagir 
com a natureza e seus recursos. Sabendo isso, faça uma reflexão sobre um Brasil 
contemporâneo, caso os colonizadores não tivessem ocupado as terras dos povos 
originários. Disserte sobre como seria, em sua opinião, um Brasil formado pelos povos 
nativos, sem a interferência do restante do mundo, sem a presença da dinâmica 
capitalista de superprodução, acumulação e consumo, sem exploração dos povos e 
recursos naturais aqui existentes.
35
TÓPICO 3 - 
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO 
BRASIL
1 INTRODUÇÃO
No presente tópico, daremos sequência à reconstituição e síntese histórica 
iniciada no primeiro tópico, contextualizando o nascimento da Sociologia no Brasil como 
campo do conhecimento independente. Trabalharemos também a trajetória dos estudos 
sociais brasileiros, analisando a maneira com a qual é inserida, suspensa e retorna à 
educação pública nacional.
Para tanto, iniciaremos nossas analises a partir da Revolução de 1930, quando 
se inicia a Era Vargas, período da História do Brasil em que as ciências sociais ganham 
um novo escopo, uma nova dinâmica política emerge e a Sociologia ganha um espaço 
no qual jamais esteve inserido. Acompanhe, então, como evoluiu e as transformações 
que sofreu a Sociologia Brasileira com o desenrolar do processo histórico.
UNIDADE 1
2 O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
No período que compreende os anos de 1930 a 1945, intitulado Era Vargas, 
o Brasil passa por profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. Com a tomada 
de poder por Getúlio Vargas, que assumiu o governo do país por meio de um Golpe 
de Estado apoiado principalmente por militares, a dinâmica da Política Café com Leite 
é rompida, afastando as oligarquias da alternância de poder no Brasil. Uma de suas 
primeiras medidas com relação à Economia nacional foi a queima de uma grande parte 
do café produzido e estocado no país a fim de valorizar o produto, tendo em vista que a 
Crise Econômica de 1929 havia prejudicado o preço do café. Outra importante medida 
adotada por Getúlio Vargas foi o investimento na indústria com o intuito de substituir a 
antiga economia baseada no comércio de produtos agrícolas.
Nesse período, mais especificamente no ano de 1932, foi publicado o Manifesto 
dos Pioneiros da Educação Nova, um documento escrito por intelectuais brasileiros com o 
objetivo de orientar uma transformação social por meio de políticas públicas educacionais 
brasileiras. Dentre os principais pressupostos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova 
estava o enaltecimento dos direitos dos cidadãos brasileirosno que tange à educação. 
O material propunha que a educação brasileira fosse única, gratuita, obrigatória e 
laica, respeitando o protagonismo da sociedade brasileira sobre nosso desenvolvimento 
social. O Estado, a partir daí, teria maiores responsabilidades sobre a educação no país, 
garantindo o acesso e a permanência de jovens nas escolas.
36
A Reforma Capanema foi uma reforma educacional promovida pelo ministro 
da Educação e da Saúde de Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, que implementou, no 
ano de 1942, uma política educacional alinhada ao seu ideário. A referida reforma foi 
responsável pela regulamentação do ensino primário, criou o supletivo para as pessoas 
que não puderam concluir os estudos no tempo estabelecido, organizou o ensino 
ginasial (4 anos) e colegial (3 anos), estabeleceu o ensino profissional de nível médio 
além da criação do “Sistema S” de formação profissional. De acordo com a Agência 
Senado, Sistema S é um:
A adoção da Reforma Capanema revela uma característica fundamental 
no propósito da educação brasileira no início do século XX. Os investimentos eram 
majoritariamente voltados à formação profissional do povo, tendo em vista a tentativa de 
industrialização do Brasil durante a Era Vargas. Os estudos de Torres (2016) identificam 
que essa tendência perdura contemporaneamente nas políticas públicas educacionais 
brasileiras. Todavia, foi também durante a Era Vargas que a Sociologia emerge como 
campo especializado do saber em terras tupiniquins. Como Cândido (2006) já nos 
revelava no ano de 1956, de acordo com suas pesquisas, a Sociologia no Brasil pode ser 
considerada existente desde o século XIX, sendo, até a década de 1930, constituída por 
juristas e diversos outros tipos de profissionais. De 1930 a 1940, o Brasil passa por um 
período de transição que profissionaliza os pesquisadores da Teoria Social. Os estudos 
de Liedke Filho (2005) revelam parte da história da Sociologia no Brasil, tão como 
algumas etapas de sua evolução, suas influências europeias e norte-americanas entre 
outros aspectos que moldaram a Sociologia Brasileira. Liedke Filho (2005) aponta que 
a emergência e a evolução da Sociologia como uma disciplina acadêmico-científica no 
Brasil e na América Latina se divide em duas etapas, cada uma por sua vez passa por 
dois períodos fundamentais. Observe:
Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas 
voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa 
e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm 
raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem parte do sistema 
S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio 
(Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do 
Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem 
Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e 
Serviço Social de Transporte (Sest).
FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s>. Acesso em: 3 jun. 2020.
37
• A Herança Histórico-cultural da Sociologia: 
º Período dos Pensadores Sociais. 
º Período da Sociologia de Cátedra.
• Etapa Contemporânea da Sociologia:
º Período da Sociologia Científica. 
º Período de Crise e Diversificação.
Liedke Filho (2005) concorda com Cândido (2006) ao caracterizar o primeiro 
período da primeira etapa, a Herança Histórico-Cultural da Sociologia Brasileira 
(século XIX até início do século XX).
O período dos Pensadores Sociais, também chamado por alguns auto-
res de período Pré-Científico, corresponde historicamente ao período 
que se estende das lutas pela Independência das nações latino-ame-
ricanas até o início do século XX. Durante esse período, a elaboração 
de teoria social tendeu a ser desenvolvida por pensadores e mesmo 
homens de ação (políticos), sob a influência de ideias filosófico-sociais 
europeias ou norte-americanas, por exemplo, o iluminismo francês, 
o ecletismo de Cousin, o positivismo de Comte, o evolucionismo de 
Spencer e Haeckel, o social-darwinismo americano de Sumner e Ward 
e o determinismo biológico de Lombroso. Sob as influências desses 
autores buscava-se equacionar duas problemáticas centrais – a for-
mação do Estado nacional brasileiro, opondo liberais e autoritários, e a 
questão da identidade nacional, tendo como núcleo a questão racial 
opondo os que sustentavam uma visão racista e os inspirados pelo 
relativismo étnico-cultural (LIEDKE FILHO, 2005, p. 377).
Após o momento que os primeiros Pensadores Sociais informais emergem no 
Brasil, o período da Sociologia de Cátedra se desenvolve de forma a fortalecer as bases 
da Teoria Social Brasileira. 
O período da Sociologia de Cátedra iniciou-se nos países latino-
americanos em fins do século passado, quando cátedras de Sociologia 
foram introduzidas nas Faculdades de Filosofia, Direito e Economia. No 
Brasil, esse período teve início em meados da década de vinte, quando 
foram criadas as primeiras cátedras de Sociologia em Escolas Normais 
(1924-25), enquanto disciplina auxiliar da pedagogia, dentro do esforço 
democratizante do movimento reformista pedagógico que tem sua 
expressão maior no movimento da Escola Nova. Neste momento, 
ocorreu a proliferação de publicações como os manuais e coletâneas 
para o ensino de Sociologia, os quais procuravam divulgar as ideias de 
cientistas sociais europeus e norte-americanos renomados, tais como 
Durkheim e Dewey, bem como ideias sociológicas acerca de problemas 
sociais como urbanização, migrações, analfabetismo e pobreza. Ao 
mesmo tempo, a questão da miscigenação racial no Brasil passou 
a ser tratada em uma perspectiva otimista como em Casa Grande e 
Senzala de Gilberto Freyre (2000) (LIEDKE FILHO, 2005, p. 380-381).
O segundo momento, a Etapa Contemporânea da Sociologia, é subdividido 
em Período da Sociologia Científica e Período de Crise e Diversificação. No primeiro período 
ocorre um fenômeno muito importante à Sociologia Brasileira: a institucionalização 
da Sociologia no Brasil.
38
A institucionalização acadêmica da Sociologia no Brasil ocorreu em me-
ados da década de 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologia e 
Política de São Paulo (1933) e com a criação da Seção de Sociologia e 
Ciência Política da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo 
(1934). As tentativas, de relacionar o ensino e a pesquisa em Sociologia, 
ainda que limitadas e parciais em ambas as instituições, demarcam o 
início da chamada etapa da Sociologia Científica, a qual viria a ter seu 
apogeu em fins dos anos de 1950 (LIEDKE FILHO, 2005, p. 382).
O atual momento da Sociologia Brasileira se inicia com o Período de Crise e 
Diversificação da Sociologia no Brasil. 
No bojo da crise social e política brasileira e latino-americana do 
final dos anos 50 e início da década de 60 [...], verificou-se o início 
do período de crise e diversificação da Sociologia brasileira. Este 
momento foi caracterizado pela crise institucional e profissional 
da Sociologia e das ciências sociais em geral, sob o efeito das 
medidas repressivas (cassações, prisões, exílios e desaparecimento) 
dos regimes autoritários. O Golpe de 1964 no Brasil inaugura este 
ciclo autoritário, também chamado de ciclo do novo autoritarismo, 
caracterizado pela transformação dos estados desenvolvimentistas-
populistas da região em estados burocrático-autoritários, na 
terminologia proposta por Guillermo O’Donnell (1982), e seguido por 
uma sucessão de golpes militares, como os ocorridos na Argentina 
(golpes de 1966 e 1976) e no Uruguai (golpe de 1973) (LIEDKE FILHO, 
2005, p. 384).
O quadro a seguir sintetiza os principais momentos da trajetória do Pensamento 
Social Brasileiro, dos primeiros pensadores que lançaram mão das primeiras análises 
sociais no Brasil à institucionalização e principais crises da Sociologia nacional. Observe:
QUADRO 4 – A SOCIOLOGIA NO BRASIL
Período 
aproximado
Entre1888 e 
1934
Entre 1934 e 1957 Entre 1957 e 2002
Influências
Lombroso;
Spencer;
Comte; 
Durkheim;
Dewey.
Escola de Chicago;
Marx;
Weber;
Manheim;
Goldman;
Luckàcks;
Sartre.
Gramsci;
Althusser;
Elias;
Habermas;
Foucault;
Giddens;
Bourdieu;
Weber.
39
FONTE: Adaptado de Liedke Filho (2005)
Temas
Identidade 
Nacional;
Miscigenação 
Racial (Visão 
Pessimista); 
Escola Nova e 
Democratização;
Miscigenação 
Racial (Visão 
Otimista).
Relações Raciais e 
Democracia Racial;
Estudos de 
Comunidade;
Transição para a 
Modernidade;
Dois Brasis.
Multiculturalismo;
Raças;
Gênero;
Direitos Humanos;
Violência;
Desigualdades Sociais;
Religiões;
Representações Sociais;
Identidades Sociais;
Novos Movimentos Sociais;
Reativação da Sociedade 
Civil
Problemáticas
Visão Racista X 
Relativismo;
Questão Racial;
Liberais X 
Autoritários;
Formação do 
Estado Nacional.
Sociedade Tradicional 
e Sociedade Moderna;
Modernização, 
Dependência e 
Nacionalismo;
Subdesenvolvimento 
e Desenvolvimento.
Autoritarismo X 
Democratização.
Etapas da 
sociologia
PENSADORES 
SOCIAIS (Não 
formais);
SOCIOLOGIA 
DE CÁTEDRA 
(Cátedras em 
Escolas Normais). 
SOCIOLOGIA 
CIENTÍFICA
(Cursos de Sociologia 
e Política na USP; 
Escola Livre Sociologia 
e Política).
CRISE E 
DIVERSIFICAÇÃO 
(Cassações e Censura);
NOVA IDENTIDADE 
SOCIOLÓGICA 
(Contemporaneidade).
Podemos concluir que o estabelecimento da Sociologia no Brasil passou 
por diversas etapas desde sua construção, institucionalização até sua autonomia e 
profissionalização. Agora, concentraremos nossas análises nos principais desafios 
enfrentados pelos brasileiros em busca da ascensão da Sociologia no Brasil.
3 A SOCIOLOGIA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS 
DESAFIOS
Prosseguindo sob as análises de Liedke Filho (2005), acompanharemos as principais 
tribulações da Sociologia Brasileira. Iniciaremos do período de Crise e Diversificação da 
Sociologia Brasileira que, desde a crítica marxista emergente no fim da década de 1950 e 
início dos anos 1960, implicou uma mudança de paradigma no que se refere ao pensamento 
social brasileiro. As mudanças político-culturais das décadas de 1960 e 1970 no mundo 
inteiro colaboraram com as mudanças estruturais da Teoria Social, inclusive no Brasil.
40
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE AS DIFICULDADES DE ESTABELECIMENTO DA SOCIOLOGIA 
NO BRASIL
FONTE: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2016/02/Untitled-1-2280x1052_c.jpg>. 
Acesso em: 3 jun. 2020.
Partindo do pressuposto que a Sociologia é uma fundamental ferramenta 
utilizada a favor da conscientização e mudanças sociais contemporâneas, devemos 
refletir sobre os motivos pelos quais esse campo do saber enfrenta diversos obstáculos 
para sua inserção e estabelecimento na educação básica brasileira. As segunda onda 
de sequentes ditaduras militares na América Latina, ocorrida a partir da década de 1960, 
teve início no Brasil no ano de 1964, passando pela Bolívia (1964), Argentina (1966 e, 
posteriormente, 1976) e pelo Chile e Uruguai no mesmo ano (1973), foram marco de 
sucessivas repressões armadas, cassações, prisões, exílios, desaparecimentos e 
censuras aos pensadores das Ciências Sociais. 
O Golpe Militar de 1964, que deu início ao período da Ditadura Militar no Brasil 
(1964-1985), foi marco de inúmeros retrocessos às Ciências Sociais brasileiras. Alguns 
dos acontecimentos mais notáveis foram o fechamento, em 1964, do ISEB (Instituto 
Superior de Estudos Brasileiros), criado pelo Decreto nº 37.608, de 14 de julho de 1955, 
como órgão do Ministério da Educação e Cultura, e as cassações na Universidade de 
São Paulo, no ano de 1969. Em contrapartida, surgiram alguns centros privados de 
pesquisas como o CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), CEDEC (Centro 
de Estudos de Cultura Contemporânea) e o IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, 
Sociais e Políticos de São Paulo).
O impacto negativo da instauração do regime autoritário sobre a 
evolução sociológica brasileira está relacionado diretamente com o 
golpe de 1964 e com o “golpe dentro do golpe” de 1968 que tem no 
AI-5 seu marco principal. O fechamento do ISEB, em 1964, os IPM e 
as cassações pareciam indicar que as ciências sociais brasileiras es-
tavam entrando em um período recessivo. O fechamento do ISEB em 
1964 pelo regime militar e as cassações de cientistas sociais em 1969, 
assim como o impacto negativo da repressão cultural-educacional 
aos níveis universitários e das condições de exercício profissional, 
correspondem plenamente às características gerais da quarta etapa 
de evolução da Sociologia na América Latina. Todavia, em contraste 
41
FIGURA 16 – REFLEXÃO SOBRE A QUEIMA DE LIVROS COMO REPRESSÃO INTELECTUAL NO BRASIL
FONTE: <https://www.correio24horas.com.br/fileadmin/acervo/tt_news/Midia_Santana/recorte_jornal013.
jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
com a evolução adversa da Sociologia em outros países latino-ame-
ricanos, particularmente do Cone Sul, sob as condições autoritárias, 
a Sociologia no Brasil experimentou uma razoável expansão institu-
cional do ensino e da pesquisa (LIEDKE FILHO, 2005, p. 396).
O regime militar reavivou um costume que já se praticava no Brasil desde a Era 
Vargas: a queima de livros considerados subversivos. O regime militar brasileiro, além 
de queimar diversos títulos considerados nocivos à ordem estabelecida pelo exército 
nacional, fechou as portas de diversas instituições de ensino, bibliotecas e centros de 
estudos onde literaturas libertárias eram compartilhadas. A imagem a seguir ilustra a 
queima de livros como ato de repressão às ideias consideradas contrárias à hegemonia 
política vigente no Brasil na década de 1930. A partir da análise de tal tipo de censura de 
conhecimento, podemos concluir que os saberes produzidos não só na academia, mas 
por diversas categorias de intelectuais do Brasil, são, há muito tempo, considerados 
subversivos e, portanto, alvo de diversas retaliações políticas. 
A perseguição de intelectuais e suas obras é recorrente em regimes ditatoriais, 
ou seja, que não aceite e, consequentemente, reprimem outros tipos de manifestação 
política. A ditadura militar brasileira não atuou de maneira diferente, silenciando boa 
parte da população brasileira sustentando falsos argumentos baseados no crescimento 
e modernização do Brasil. A referida ação é, além de antidemocrática, nociva à evolução 
e emancipação intelectual do povo brasileiro.
42
O Relatório Final da Comissão da Verdade da UFES (2016), destaca 
a fase da Universidade em tempos de ditadura como uma época 
de contradições. Por um lado se apresentava um projeto de 
modernização da sociedade em que as Universidades ocupavam um 
lugar de destaque, e por outro lado e ao mesmo tempo é estruturada 
uma política de estado voltada para a repressão e o silenciamento 
da sociedade, que constitui o alicerce principal do projeto de 
hegemonia do grupo político que assumiu o poder no Brasil em 1964. 
As universidades tinham papel estratégico na construção do ideal do 
“Brasil Grande” elaborado pelo regime militar (LIMA, 2017, p. 43).
Dentre alguns intelectuais censurados e exilados durante o período da ditadura 
militar estão:
• Ferreira Gullar
Militante do Partido Comunista Brasileiro, o poeta foi preso logo após a 
assinatura do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. Atuando na clandestinidade 
desde então, somente em 1971 é que Gullar deixou o país. Durante os anos de exílio, 
passou por Moscou, na Rússia; Santiago, no Chile; Lima, no Peru; e Buenos Aires, na 
Argentina. Seu retorno ao Brasil aconteceu somente em março de 1977.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Oscar Niemeyer
Membro do Partido Comunista Brasileiro desde 1945, o arquiteto foi 
perseguido pelo governo após o golpe. Impedido de trabalhar no Brasil, em 1967 
seguiu para a França, onde se instalou em Paris, e recebeu autorização de Charles 
de Gaulle para exercer sua profissão no país. Reconhecidoe valorizado no exterior, 
Niemeyer só voltou para o Brasil no início da década de 1980.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Ana Maria Machado
Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, em 24 de 
dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, 
tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro Machado, Ana 
Maria teve dois filhos. Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no 
MoMa de Nova York, participou de salões e exposições individuais e coletivas no 
país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras (depois de desistir do curso de 
Geografia). Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional 
43
de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ. 
Em janeiro de 1970, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem, levava cópias 
de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. 
Trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de 
Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse 
período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes 
Études cujo mestre era Roland Barthes, sob cuja orientação terminou sua tese de 
doutorado em Linguística e Semiologia, em Paris. O trabalho resultou no livro Recado 
do Nome (1976), sobre a obra de Guimarães Rosa.
FONTE: <http://www.academia.org.br/academicos/ana-maria-machado/biografia>. Acesso em: 4 jun. 2020.
FIGURA 17 – ANA MARIA MACHADO
• Glauber Rocha
O aumento da repressão durante a ditadura fez com que o cineasta partisse 
para o exílio em 1971. Durante a temporada fora do Brasil – que duraria cinco anos –, 
Rocha passou por diversos países da América Latina, Europa e nos EUA. Executou 
uma série de projetos no período em que ficou no exterior e retornou ao Brasil 
apenas em 1976.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso em: 4 
jun. 2020.
FONTE: <https://www.academia.org.br/sites/default/files/academicos/fotografias/ana-maria-machado.
jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
44
• Fernando Gabeira
No final dos anos 1960, o jornalista e ex-deputado ingressou na luta armada 
contra a ditadura militar, tendo participado do sequestro do embaixador americano 
Charles Elbrick. Foi preso e, depois de ser libertado, partiu para o exílio. Durante este 
tempo, passou por Chile, Suécia e Itália. Ficou dez anos fora do Brasil. Retornou com 
a anistia, no fim de 1979.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Augusto Boal
A entrada em vigor do AI-5 fez com que o dramaturgo deixasse o país com 
o Teatro Arena, em uma excursão de um ano, entre 1969 e 1970, por EUA, México, 
Argentina e Peru. Quando voltou ao Brasil, foi preso e torturado e decidiu seguir para 
a Argentina. Boal passaria ainda por uma série de outros países antes de voltar ao 
Brasil, em 1984.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Álvaro Vieira Pinto
Álvaro Vieira Pinto nasceu em Campos (RJ), no dia 11 de novembro de 
1909. Formado em medicina em 1932, pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio 
de Janeiro, em 1934 ingressou na Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de 
inspiração fascista, liderada por Plínio Salgado. No campo profissional, dedicou-se 
aos estudos e pesquisas laboratoriais. Paralelamente, completou os cursos de física 
e matemática na Universidade do Distrito Federal (UDF). Alceu Amoroso Lima, então 
reitor da UDF, indicou-o para ensinar lógica matemática, disciplina pela primeira fez 
oferecida no país. Exilou-se a princípio na Iugoslávia e posteriormente no Chile.
FONTE: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/alvaro_vieira_pinto>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Darcy Ribeiro
Formado em antropologia, dedicou seus primeiros anos de vida profissional 
ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946-1956). Nesse 
período, criou o Museu do Índio e formulou o projeto de criação do Parque Indígena do 
45
Xingu. Elaborou para a Unesco um estudo sobre o impacto da civilização sobre grupos 
indígenas brasileiros no século XX e, em 1954, colaborou com a Organização Interna-
cional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o 
mundo. Foram 12 anos exilado entre o Uruguai, Venezuela, Chile, Peru e México.
FONTE: <http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/darcy-ribeiro/>. Acesso em: 4 jun. 
2020.
• Paulo Freire
Quando os militares tomaram o poder em 1º abr. 1964, depondo o então pre-
sidente João Goulart, Paulo Freire vivia com a família em Brasília, a serviço do Minis-
tério da Educação e Cultura (MEC). Envolvido com o trabalho de formação de profes-
sores em Goiânia, era sua assistente, Carmita Andrade, quem o mantinha informado 
sobre a intensa movimentação política na capital. Na Câmara dos Deputados, políti-
cos conservadores se revezavam na condenação permanente de seu método de al-
fabetização. Em 18 de abril, o deputado Emival Caiado, do partido conservador União 
Democrática Nacional (UDN), denunciou Mauro Borges, então governador de Goiás 
e aliado do ex-presidente Jango, de implantar o comunismo no Estado: “O método 
comunizante do sr. Paulo Freire teve entusiástica acolhida do Governo goiano. O sr. 
Mauro Borges deu total e completa cobertura a órgãos estudantis dominados por 
comunistas”. Caiado concluiu, aos brados: “Não creio que em nenhum outro Estado 
o comunismo tenha se infiltrado tanto!”. Paulo se rendeu ao apelo feito por vários de 
seus amigos, entre eles o professor de literatura e líder católico Alceu Amoroso Lima, 
conhecido também como Tristão de Ataíde, e buscou exílio na embaixada da Bolívia. 
Antes disso, tentara sem sucesso a representação diplomática do Chile, que recusa-
ra seu pedido. Muitos colegas também tentaram encontrar formas de acolhê-lo no 
exterior, caso de Ivan Illich, educador austríaco radicado no México, que conhecera 
Paulo em uma visita ao Recife, mas nada havia dado certo até então.
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/22/cultura/1571754417_189523.html>. Acesso em: 
4 jun. 2020.
46
FIGURA 18 – PAULO FREIRE
FONTE: <https://cutt.ly/zgm0atEl>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Dentre as pessoas que foram exiladas, mortas e/ou desaparecidas durante o 
regime militar no Brasil, grande parte eram mulheres, estudantes, professores e outras 
categorias de intelectuais que lutaram contra os abusos de poder cometidos durante o 
período. Em sua obra, Costa et al. (1980) constitui um apanhado de relatos de mulheres 
que muito sofreram com a ditadura. A seguir consta um dos depoimentos de uma vítima 
de tortura cometida pelos militares que defendiam o governo ditatorial:
[...] me puseram numa cela e jogaram Sandra noutra, perto da 
minha, uma cela suja, sem cama. Ela gritava muito porque entravam 
e torturavam ali mesmo. A cada momento chegava um tenente 
daqueles que queria forçar até estuprá-la e tudo. E eu passei a noite 
assim, andei o resto da noite com este tipo de tortura na minha cabeça. 
Ela gritando de um lado e eu, sem condições de pensar direito nem 
nada, num estado nervoso, tremendo, querendo raciocinar... pensar... 
(COSTA et al., 1980, p. 165).
A chamada Nova República, período posterior à ditadura militar, e a 
implementação da nova Constituição de 1988 (BRASIL, 2002), trouxe consigo uma nova 
abordagem sociológica no Brasil. Liedke Filho (2005) sintetiza as consequências da 
“transição democrática” em relação à produção da Teoria Social no país, apontando uma 
tendência microssociológica de tais análises. Ou seja, as análises sociais brasileiras se 
voltaram ao estudo de movimentos menores, que não concernem mais à resolução de 
problemas estruturais maiores, como o do sistema político-econômico-social vigente.A Sociologia no Brasil, no período dos anos 1960 e 1970 para os anos 
1990, vivenciou uma passagem de análises macrossociológicas de 
crítica ao modelo econômico-social excludente do “milagre” e de 
crítica ao modelo autoritário para uma microssociologização dos 
estudos. Em grandes linhas, verificou-se uma evolução temática da 
Sociologia brasileira nos seguintes termos: de grandes interpretações 
macroestruturais do modelo econômico-político-cultural do regime 
anterior, passou-se para a análise dos agentes e características 
da transição democrática, seguida dos temas da democratização 
necessária, dos movimentos sociais e da estratégia de reativação da 
sociedade civil. Rapidamente, ocorreu uma dissociação da questão 
dos movimentos sociais em relação a condições macroestruturais, 
47
passando a Sociologia a dedicar-se massivamente a enfocar as 
identidades e representações sociais dos movimentos urbanos e 
rurais, do movimento sindical, dos movimentos feministas e gay, do 
movimento negro e dos movimentos ecológicos. Filosoficamente 
poder-se-ia dizer que, em termos clássicos, ocorreu um tipo de 
passagem do privilegiamento da questão do “para-si” para o “em-si” 
dos movimentos sociais (LIEDKE FILHO, 2005, p. 425-426).
Darcy Ribeiro é um dos grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro. Intelectual 
formado em Medicina e Ciências Sociais, Darcy Ribeiro se interessava por temas ligados 
aos povos nativos brasileiros, Cultura e Educação, trabalhando no Ministério da Cultura e 
da Educação e também como Chefe da Casa Civil. 
Com a implantação do regime militar, exilou-se em diversos países da América Latina onde 
continuou sua atuação política, assessorando diretamente presidentes como Allende, no 
Chile, e Velasco Alvarado, no Peru. Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva da 
TV Cultura no ano de 1988, Darcy tece observações sobre o regime militar brasileiro e suas 
consequências à Cultura, Educação e Política brasileiras. 
O vídeo pode ser acessado por meio do endereço eletrônico a seguir: https://www.youtube.
com/watch?v=6r7QDo9yHJk. Suas análises são muito importantes e capazes de ampliar 
nossas perspectivas sobre a Ditadura Militar no Brasil e suas implicações na Ciência, em 
especial, as Ciências Sociais brasileiras. 
O programa Roda Viva da TV Cultura foi responsável por entrevistas coletivas 
com grandes nomes do pensamento social do Brasil e do mundo, portanto, é 
altamente recomendável o acesso a esse canal informativo que representa uma 
excelente ferramenta a favor da compreensão da dinâmica política mundial, 
especialmente da América Latina.
DICAS
Contemporaneamente, o Brasil enfrenta sérias dificuldades em relação ao en-
sino das disciplinas, sobretudo, do campo das Ciências Humanas nas escolas públicas. 
Apesar de a Sociologia se tornar, no ano de 2009, conteúdo obrigatório nas escolas de 
ensino médio brasileiras, que era facultativo depois do ano de 1980 até então, é visível 
a tentativa de boicote da disciplina por parte dos últimos governantes brasileiros. Pode-
mos associar tal fenômeno a partir das análises de Ianni (1997) acerca da importância da 
Sociologia como instrumento de compreensão, inserção e construção social. Observe:
A Sociologia pode ser vista como uma forma de autoconsciência da 
realidade social. Essa realidade pode ser local, nacional, regional ou 
mundial, micro ou macro, mas cabe sempre a possibilidade de que ela 
possa pensar-se criticamente, com base nos recursos metodológicos 
e epistemológicos que constituem a Sociologia como disciplina 
científica. [...] Ocorre que a Sociologia pode tanto decantar a tessitura 
e a dinâmica da realidade social como participar da constituição 
dessa tessitura e dinâmica. Na medida em que o conhecimento 
48
sociológico se produz, logo entra na trama das relações sociais, no 
jogo das forças que organizam e movem, tensionam e rompem a 
tessitura e a dinâmica da realidade social (IANNI, 1997, p. 25).
Dentre as tentativas de restrição ao ensino das Ciências Humanas, com 
destaque à Sociologia no Brasil, estão as recentes leis referentes às reformas do Ensino 
Médio no ano de 2017. Com a implementação da Lei da Reforma do Ensino Médio 
(13.415/2017), que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 
de 1996, o Ensino de Sociologia perdeu o seu caráter de obrigatoriedade, assim como 
várias outras disciplinas importantes à formação cidadã e crítica da juventude brasileira. 
Um imenso retrocesso considerando que:
A presença da Sociologia no Ensino Médio é de grande relevância 
para os jovens brasileiros. Primeiramente, porque é capaz de cumprir 
com a proposta expressa pela Lei nº 9.394/96 (LDB/96) de associar 
conhecimentos de sociologia ao exercício da cidadania. Mesmo que 
a disciplina Sociologia não seja a única capaz de fomentar nos alu-
nos a propensão a discorrer sobre assuntos ligados à cidadania, seu 
conteúdo programático contém preceitos diretamente relacionados a 
esse conceito. Um curso de Sociologia pressupõe a apreensão de te-
mas e autores oriundos da Ciência Política (o que engloba noções de 
sistemas políticos, formas de exercício do poder, participação popular 
na política, eleições etc.), da Antropologia e sua abordagem relativista 
(capaz de contrastar de forma linear diferentes modelos de organiza-
ção social), além dos conceitos e teorias fundamentais da Sociologia, 
que contribuem para a compreensão das relações sociais (tais como 
desigualdades, gênero, cor/raça, mobilidade social, família, religião 
etc.). Desse modo, é inegável que, se não é a única disciplina capaz de 
incutir nos estudantes um espírito que os leve a atuar de forma cidadã, 
a Sociologia conta com ferramentas adequadas a propiciar uma for-
mação reflexiva, que parte da teoria fundamentada para a apreensão 
do real e do cotidiano (BRASIL, 2006a) (MACHALA, 2017, p. 17).
Podemos concluir que o estudo da Sociologia é fundamental para o desenvol-
vimento cognitivo, cívico, moral, ético entre outras instâncias individuais, além de ser 
forte aliado ao processo de conscientização que, para Paulo Freire (1980), é importan-
te ferramenta de emancipação intelectual e física dos indivíduos. Frente aos aspectos 
emancipadores intrínsecos à Sociologia, diversas barreiras foram impostas ao estudo, 
desenvolvimento e ensino da Teoria Social no Brasil e no mundo. O período do regime 
militar brasileiro foi responsável pela imposição de diversas barreiras ao desenvolvimen-
to da Sociologia Brasileira, as quais persistem até os dias atuais. 
49
A DIALÉTICA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL
Ruy Mauro Marini
O golpe militar que depôs o presidente constitucional do Brasil, João Goulart, em 
abril de 1964, foi apresentado pelos militares brasileiros como uma revolução e definido 
um ano depois por um de seus porta-vozes como uma “contrarrevolução preventiva”. 
Por suas repercussões internacionais, sobretudo na América Latina, e diante das 
concessões econômicas aos capitais norte-americanos, muitos consideraram o golpe 
simplesmente como uma intervenção disfarçada dos Estados Unidos. Essa opinião é 
compartilhada por determinados setores da esquerda brasileira que, no entanto, nunca 
souberam explicar por que, precisamente quando pareciam chegar ao poder, este lhes 
foi inesperadamente arrebatado sem que se disparasse um só tiro.
Parece-nos que nenhuma explicação sobre um fenômeno político pode ser boa se 
o reduzir a apenas um de seus elementos, e é decididamente ruim se tomar como chave 
justamente um fator condicionante externo. Em um mundo caracterizado pela interdepen-
dência e, mais que isso, pela integração, ninguém negaria a influência dos fatores inter-
nacionais sobre as questões internas, principalmente quando se trata de uma economia 
como a daquelas denominadas centrais, dominantes ou metropolitanas e de um país 
periférico, subdesenvolvido. Mas em que medida esta influência é exercida? Qual é sua for-
ça diante dos fatores internos específicos da sociedade sobre a qual atua?O Brasil, com 
seus 90 milhões de habitantes e uma economia industrialmente diversificada, é uma rea-
lidade social complexa, cuja dinâmica foge às interpretações unilaterais, ainda que esteja 
condicionada e limitada pelo marco internacional no qual está inserida. Sem uma análise 
da problemática brasileira, das relações de força existentes entre os grupos políticos e das 
contradições de classe que se desenrolavam sobre a base de uma dada configuração eco-
nômica, não se compreenderá a transformação política ocorrida a partir de 1964. Mais grave, 
não será possível relacionar esse desenrolar político à realidade econômico-social que se 
encontra em sua base, nem estimar as perspectivas prováveis de sua evolução. Perspecti-
vas que, no final das contas, não se referem apenas ao Brasil, mas a toda a América Latina.
1 Política e luta de classes
A história política brasileira apresenta, no século XX, duas fases bem 
caracterizadas. A primeira, que vai de 1922 a 1937, é de grande agitação social, marcada 
por várias rebeliões e por uma revolução: 1930. Suas causas podem ser buscadas na 
industrialização verificada no país na década de 1910, devida sobretudo à guerra de 1914, 
LEITURA
COMPLEMENTAR
50
que leva a economia brasileira a realizar um considerável esforço de substituição de 
importações. A crise mundial de 1929 e suas repercussões sobre o mercado internacional 
manteriam a capacidade de importação do país em níveis baixos, acelerando, assim, seu 
processo de industrialização.
As transformações operadas na estrutura econômica nesse período se 
expressam, socialmente, no surgimento de uma nova classe média - isto é, de uma 
burguesia industrial diretamente vinculada ao mercado interno - e de um novo 
proletariado, que passam a pressionar os antigos grupos dominantes para obter um lugar 
próprio na sociedade política. O resultado das lutas desencadeadas por esse conflito é, 
por intermédio da Revolução de 1930, um compromisso - o Estado Novo de 1937, sob 
a ditadura de Getúlio Vargas - através do qual a burguesia se estabiliza no poder, em 
associação aos latifundiários e aos velhos grupos comerciantes, ao mesmo tempo em 
que estabelece um esquema particular de relações com o proletariado. Neste esquema, 
o proletariado será beneficiado por toda uma série de concessões sociais (concretizadas 
sobretudo na legislação trabalhista do Estado Novo) e, por outro lado, será enquadrado 
em uma organização sindical rígida, que o subordina ao Governo, dentro de um modelo 
de tipo corporativista.
FONTE: MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013. p. 73-75.
51
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A Sociologia Brasileira nasceu das teorias sociais formuladas por diversos intelectuais 
das mais variadas áreas do conhecimento, porém, foi reconhecida como campo 
independente do saber apenas no início do século XX.
• A institucionalização da Sociologia no Brasil foi um processo lento e contou com a 
influência da Teoria Social europeia e norte-americana.
• A década de 1930 trouxe consigo diversos avanços para a Sociologia e para a 
Educação de maneira geral no Brasil.
• A Sociologia sofreu com diversos embargos, censuras e outros tipos de obstáculos 
durante o período militar no Brasil.
• A Sociologia Brasileira é atacada até a contemporaneidade com obstáculos em 
forma de reformas educacionais e outros tipos de ações que dificultam seu 
desenvolvimento e ensino.
52
AUTOATIVIDADE
1 O início do século XX foi marco de uma série de eventos importantes ao desenvolvimento 
da Sociologia Brasileira. Do processo de formalização e institucionalização da 
Sociologia no Brasil, de sua ascensão nos ensinos médio e universitário, até os diversos 
momentos no qual foi atribuído à disciplina um caráter obrigatório e/ou facultativo nas 
escolas brasileiras, a Sociologia resiste no Brasil e ainda constitui uma fundamental 
ferramenta utilizada a favor da conscientização e consequente emancipação do povo 
brasileiros. Sobre os principais eventos que fizeram parte da história da Sociologia em 
território nacional, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
( ) A Sociologia foi reconhecida e difundida de forma mais ampla no início do século 
XX, quando as primeiras instituições que trabalhavam com as Ciências Sociais 
começaram a formar seus profissionais e reconhecê-los como acadêmicos.
( ) A Teoria Social Brasileira sofreu uma série de repressões e censuras, sendo o 
tempo que compreendeu a Ditadura Militar um período de vultosos silenciamentos, 
exílio de intelectuais e diversos outros tipos de contenção do desenvolvimento da 
Sociologia.
( ) A Sociologia, após reconhecida academicamente e ensinada nas escolas de 
todo o Brasil, não sofreu alterações quanto a sua obrigatoriedade nos ensinos 
fundamental, médio e superior.
( ) O incentivo à Sociologia no Brasil é um fator que colabora com a formulação de 
políticas públicas e resolução de problemas sociais.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – F.
e) ( ) F – V – F – F.
2 A Teoria Social possui grande potencial de refletir em decisões políticas importantes 
e, quando disseminada de forma democrática e horizontal, pode fornecer a 
conscientização necessária à ação política popular. Ou seja, quando a maioria da 
população possui acesso aos principais debates políticos, ao conhecimento das 
principais e mais importantes problemáticas sociais e outros fenômenos concebidos 
por meio da Sociologia, as chances de uma política mais justa e voltada a serviço dos 
propósitos coletivos são maiores. 
53
Essa teoria pode fundamentar algumas políticas adotadas durante o período da Ditadura 
Militar do Brasil, principalmente quando consideramos o esforço por parte dos militares 
para fechar as universidades, proibir o ensino de Sociologia nas escolas, censurar 
literaturas e manifestações artísticas, exilar e matar muitos intelectuais brasileiros. De 
acordo com algumas teorias sociais, o referido tipo de prática é voltado à perpetuação 
de determinada dinâmica política imposta a certo território. Com base nos possíveis 
impactos da Sociologia na política brasileira quando disseminada por meio da educação 
pública, analise as sentenças a seguir:
I - Diversos intelectuais da Teoria Social brasileira foram perseguidos, exilados ou 
mortos sob o argumento de subversão às práticas repressivas que ocorreram 
durante o período ditatorial no Brasil.
II - De acordo com Paulo Freire, a conscientização pode ser trabalhada por meio do 
estímulo à capacidade reflexiva da população em relação à Sociedade, que, por 
meio desse e outros recursos educacionais, ampliam a capacidade individual de 
agir politicamente.
III - Darcy Ribeiro foi um dos grandes nomes da Teoria Social brasileira que se exilou em 
diversos países durante o período ditatorial brasileiro.
IV - Apesar dos diversos silenciamentos, perseguições, mortes e exílios realizados 
durante a Ditadura Militar brasileira, ainda sim houve pensadores e militantes que 
continuaram no Brasil atuando politicamente.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta. 
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 O Pensamento Social Brasileiro passou por diversas etapas, dentre elas ascensão e 
declínios, principalmente quando consideramos o ensino de Sociologia nas escolas 
públicas brasileiras. De acordo com o conteúdo apreendido no último tópico da pre-
sente unidade, disserte em um parágrafo resumindo a trajetória da Sociologia Brasi-
leira desde o início do século XX até os dias atuais, enfocando os principais avanços 
e retrocessos em relação à propagação da Teoria Social por meio da Educação.
54
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Organizado por 
Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002. 320 p.
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1980.
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brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 
n. 1, p. 5-27, 1988. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/814866/
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projeto%20de%20um%20Hist%C3%B3ria%20Nacional.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020. 
IANNI, O. Sobre a inclusão da sociologia no curso secundário. Revista Atualidades 
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LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. Sociologias, Porto 
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LIMA, G. R. Memória, gênero e política: a militância das estudantes da UFES contra a 
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55
MACHALA, B. N. A reforma do Ensino Médio no Brasil e seu impacto no ensino da 
sociologia. Revista Três Pontos, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 17-25, 2017. Disponível em: 
https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistatrespontos/article/view/12360. Acesso 
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MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013.
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TORRES, R. S. Biopolítica e segurança pública: tolerância zero no Espírito Santo e 
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(Mestrado em Sociologia Política) – Universidade Vila Velha, Vila Velha, 2016.
56
57
INTERPRETAÇÕES 
CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar autores que são considerados os clássicos do Pensamento Social 
Brasileiro;
• reconhecer as principais discussões da Sociologia Brasileira produzida a partir da 
década de 1930;
• trabalhar as relações sociais brasileiras do Período Colonial de acordo com os 
estudos de Gilberto Freyre;
• tecer análises historiográficas e sociológicas acerca do desenvolvimento social do 
Brasil a partir das ideias de Sérgio Buarque de Holanda;
• discutir as relações raciais brasileiras sob a perspectiva do pensador Florestan 
Fernandes;
• analisar a formação da sociedade brasileira contemporânea a partir da obra de Caio 
Prado Júnior.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
TÓPICO 2 – GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO 
POVO BRASILEIRO
TÓPICO 3 – FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
58
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A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
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59
TÓPICO 1 — 
SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO 
DO BRASIL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico tem como objetivo introduzir a trajetória e as principais 
colaborações dos autores que são considerados os pensadores clássicos da Teoria 
Social Brasileira. A partir do contexto histórico-espacial, no qual cada um deles foi 
formado e produziu, entenderemos alguns fatores que os influenciaram a tecer seus 
estudos e atuação política em seus respectivos objetos de interesse.
Posteriormente, serão apresentadas as teorias de cada um dos autores de forma 
separada e mais aprofundada. Os referidos autores são Gilberto Freire, com suas teorias 
sobre as relações sociais brasileiras do Período Colonial, Sérgio Buarque de Holanda e 
suas análises historiográficas e sociológicas acerca do desenvolvimento social do Brasil, 
Florestan Fernandes e seus estudos das relações raciais brasileiras e, finalmente, Caio 
Prado Júnior com a formação da sociedade brasileira contemporânea. Bons estudos!
2 OS GRANDES INTÉRPRETES DO BRASIL E SUAS 
PRINCIPAIS ABORDAGENS
Iniciaremos a apresentação de nossos principais nomes da Teoria Social Brasileira 
por Gilberto Freyre (1900-1987). Gilberto de Mello Freyre nasceu em Recife, no dia 15 
de março de 1900, que atuou como sociólogo, historiador, ensaísta, jornalista, professor 
e político, revolucionando o Pensamento Social Brasileiro de seu tempo, contribuindo, 
até os dias de hoje, com a Sociologia Brasileira.
FIGURA 1 – GILBERTO FREYRE
FONTE: <http://editoraunesp.com.br/blog/icone/homenagem-a-gilberto-freyre>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
60
Gilberto Freyre trabalhou também como antropólogo e artista plástico, conside-
rado contemporaneamente como um dos mais importantes sociólogos brasileiros. Filho 
de Francisca de Mello Freyre e do professor, advogado e juiz Alfredo Freyre, Gilberto é 
considerado um ensaísta, diferente de outros grandes nomes do pensamento social 
de sua época. Isso se deve ao fato de que ele não obedeceu à risca os pormenores 
acadêmicos já estabelecidos durante sua produção, ou seja, foi um autor que trabalhou 
de maneira mais informal em relação à produção da Academia, embora sua leitura seja 
obrigatória nos mais diversos cursos da área de Ciências Humanas do Brasil.
Freyre estudou no Colégio Americano Gilreath, hoje conhecido como Americano 
Batista, onde se formou bacharel em Letras, além de receber aulas particulares em sua 
residência. No ano de 1918 partiu para os Estados Unidos, onde se formou em Artes 
Liberais e se especializou em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade de Baylor. 
Na Universidade de Colúmbia, o brasileiro cursou seu mestrado e doutorado em Ciências 
Políticas, Jurídicas e Sociais. O título de sua tese foi A Vida Social no Brasil em Meados 
do século XIX.
Retornou ao Brasil, na década de 1920, após concluir seus estudos nos Estados 
Unidos e viajar diversas vezes pela Europa. Retorna a sua casa em Recife, de onde 
prosseguiria com boa parte de sua produção intelectual. No ano de 1926, Gilberto Freyre 
participa da formulação do Manifesto Regionalista, cujo grupo era contrário à Semana 
de Arte Moderna de 1922, de ideologia nacionalista. Os regionalistas reivindicavam o 
fim da imposiçãoda cultura europeia pelos modernistas no Brasil, em detrimento da 
cultura local, valorizando nossa cultura em tempos em que pouco se fazia em benefício 
da mesma.
Sua principal obra é Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), publicada no ano 
de 1933, extremamente polêmica, é alvo de fortes críticas e elogios até os dias atuais. 
O texto possui grande influência da Antropologia Cultural Norte-Americana, tradição de 
seu professor Franz Boas, importante nome da Antropologia mundial. Uma das maiores 
críticas gira em torno da romantização da miscigenação, comumente estabelecida por 
meio do estupro de mulheres brasileiras pelo homem branco e a hipersexualização de 
nosso povo. Em outras palavras, Freyre é muito criticado por naturalizar a sexualidade, 
muitas vezes compulsória, entre diferentes povos que habitavam o Brasil colonial.
Apesar das críticas, a obra foi responsável pela quebra de paradigmas 
relacionados às raças presentes no Brasil, como a supremacia racial: ideia de que 
existem raças superiores e inferiores. A obra propõe uma reconstrução do processo de 
miscigenação que ocorria em meio aos engenhos brasileiros, os quais descreveu do 
ponto de vista arquitetônico, e as construções mais comuns que os compunham: casa-
grande, senzala, casa de moer e capela. Sua obra foi muito criticada e marginalizada 
pela ala conservadora nacional que era adepta à ideia de superioridade da raça branca, 
dificultando o acesso a tal obra que, com o passar do tempo, foi ressurgindo em meio 
aos estudos acadêmicos brasileiros.
61
FIGURA 2 – PRIMEIRA EDIÇÃO DE CASA-GRANDE & SENZALA DE 1933
FIGURA 3 – SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
FONTE: <https://d2xsuil29zvzbt.cloudfront.net/imagens/img_m/717/364971.jpg>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
FONTE: <https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/03/sergio-buarque-de-holanda.jpg>. Acesso em: 
11 jun. 2020.
O segundo nome do Pensamento Social Brasileiro, considerado um clássico, é 
Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). O escritor, sociólogo, historiador, jornalista e 
crítico literário paulista nasceu no dia 11 de julho de 1902. Era filho de Heloísa Buarque 
de Holanda e de Cristóvão Buarque de Holanda, farmacêutico e professor universitário. 
Contribuiu com o mesmo Movimento Modernista que resultou na Semana de Arte 
Moderna de 1922 criticada por Gilberto Freyre. Foi um dos fundadores do Partido dos 
Trabalhadores (PT) e sua principal obra é Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995), na qual o 
autor disserta sobre a formação do povo brasileiro.
62
Sérgio Buarque concluiu seu bacharelado em Direito pela Faculdade de Ciências 
Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, no ano de 1925, escrevendo, também, contos e 
poemas enquanto cursava sua graduação. Trabalhou em diversos jornais brasileiros até 
viajar à Europa, convidado por Assis Chateaubriand, um jornalista, empresário e político 
brasileiro que atuava em diversas outras áreas. Na Alemanha e na Polônia teve acesso 
à obra de Max Weber, autor da Sociologia Clássica que muito influenciou a produção 
intelectual de Sérgio Buarque de Holanda. Retornando ao Brasil, na década de 1930, 
devido ao crescimento do movimento nazista alemão, trabalhou para estatais de 
notícias. As anotações trazidas da Europa serviram como base de seu livro sociológico e 
historiográfico intitulado Raízes do Brasil, primeira e mais influente obra do autor. 
Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995) é uma obra publicada no ano de 1936 e que 
aborda a formação do povo brasileiro, um dos clássicos do Pensamento Social Brasileiro. 
O texto reflete sobre a colonização do Brasil e suas implicações a respeito da sociedade 
brasileira moderna. Sérgio Buarque também tece reflexões acerca da fragilidade da 
hierarquia dos colonizadores do país, apontando que o território brasileiro foi dominado 
não só pela nobreza de Portugal, mas também pela Espanha. O autor também disserta 
sobre a relação entre disciplina e obediência característicos da educação jesuítica, 
predominante no período colonial brasileiro. 
FIGURA 4 – PRIMEIRA EDIÇÃO DE RAÍZES DO BRASIL DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
FONTE: <https://sebodomessias.com.br/imagens/produtos/0/3665_866.jpg>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
A referida obra ainda introduz o conceito de “Cultura da Cana”, muito influenciado 
pela produção weberiana. Trata-se de um conjunto de elementos que refletiam na 
cultura brasileira e que nasciam da produção açucareira. Tais elementos essenciais 
eram as grandes propriedades, o trabalho escravo e o mercado exterior, sobre os quais 
nossa cultura foi moldada. Outro elemento fundamental na formação do povo brasileiro, 
segundo Sérgio Buarque, se encontra no conceito de Homem Cordial, que consiste 
63
FIGURA 5 – FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2017/06/diagnostico-florestan-
-fernandes-racismo-resgatado.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2020
em um povo que age conforme suas emoções, submisso aos mandos e desmandos de 
seus superiores e que consideravam mais os bens privados de sua vida em detrimento 
dos bens públicos. De outro modo, o Homem Cordial era aquele que dava preferência 
aos interesses próprios, familiares, deixando de lado as relações públicas quando a 
demanda é auxiliar os membros de seu grupo. 
O terceiro teórico que trabalharemos na presente unidade é Florestan 
Fernandes (1920-1995). Ele foi um político, sociólogo e ensaísta paulista, filho de 
imigrante portuguesa de nome Maria Fernandes. Não chegou a conhecer seu pai e foi 
criado por Hermínia Bresser de Lima, que o incentivou a estudar. De origem muito pobre, 
começou a trabalhar aos seis anos de idade para ajudar sua mãe, interrompendo seus 
estudos ainda no ensino fundamental. Aos 17 anos de idade, retorna aos estudos e 
conclui o que hoje equivale aos ensinos fundamental e médio entre 1938 e 1940. 
A vida acadêmica de Florestan Fernandes se iniciou no ano de 1941, quando in-
gressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São 
Paulo (USP), concluindo seu bacharelado em Ciências Sociais no ano de 1943 e a licen-
ciatura em 1944. Em 1943, já escrevia para jornais e se filiou ao Partido Socialista Revolu-
cionário (PSR). Cursou pós-graduação em Sociologia e Antropologia pela Escola Livre de 
Sociologia e Política, em seguida atuou como pesquisador e professor. Em 1947, concluiu 
seu mestrado em Ciências Sociais pela mesma Escola, quando escreveu sua dissertação 
intitulada A Organização Social do Tupinambá, que mais tarde viria a se tornar uma das 
principais obras do Pensamento Social Brasileiro. No ano de 1951, conclui seu doutorado 
pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo 
(USP), escrevendo a tese de título A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. 
É um autor de tradição marxista, embora também tenha sido influenciado pelas 
ideias weberianas e durkheimianas. Dentre suas diversas obras, podemos destacar 
A Organização Social do Tupinambá (FERNANDES, 1963) e A Integração do Negro na 
Sociedade de Classes (FERNANDES, 1978). A primeira obra foi baseada em cronistas 
64
do tempo colonial e foi responsável por uma quebra de paradigma relacionado à 
imagem dos povos indígenas que era disseminada até então. Rompendo com o estigma 
associado aos povos originários brasileiros pelos colonizadores, Fernandes (1963) 
desmente o caráter preguiçoso comumente associado aos índios brasileiros, inserindo 
uma análise das complexas relações sociais existentes entre os Tupinambá. Muitos 
aspectos culturais foram descritos por Florestan, revolucionando a maneira com a qual 
se pensava os povos indígenas até o século XX.
FIGURA 6 – UMA DAS EDIÇÕES DO LIVRO A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TUPINAMBÁ DE 
FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://d1o6h00a1h5k7q.cloudfront.net/imagens/img_m/7863/3358961.jpg>. 
Acesso em: 12 jun. 2020.
A obra intitulada A Integração do Negro na Sociedade de Classes (FERNANDES, 
1978) o autor disserta sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo negro no Brasil após 
a aboliçãoda escravidão. Ele relata as consequências sociais, culturais e morais do 
longo período de escravidão do Brasil, último país a abolir formalmente a escravidão, 
embora não tenha significado o fim do racismo no país. Ao mostrar a difícil ascensão 
dos negros aos moldes capitalistas de trabalho livre, Fernandes desmente anteriores 
teorias como a da democracia racial brasileira, evidenciando que as heranças da 
escravidão constituem um sólido cenário de sofrimento, exploração, discriminação e 
violência contra o povo negro brasileiro.
65
FIGURA 7 - UMA DAS EDIÇÕES DO LIVRO A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE CLASSES DE 
FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://cutt.ly/kgm59oQ>. Acesso em: 12 jun. 2020.
O último autor considerado um clássico do Pensamento Social Brasileiro que 
abordaremos em nosso material será Caio Prado Júnior (1907-1990). Nascido em 
São Paulo, de família abastada, o pensador atuou como escritor, historiador, político, 
sociólogo, economista, filósofo e editor de livros. Sua obra é referência quando o tema 
é a formação da sociedade brasileira contemporânea. Estudou no Colégio São Luís e no 
Chelmesford Hall, em Eastbom – Inglaterra. De tradição marxista, formou-se bacharel 
em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco e 
lecionou Economia Política na universidade de São Paulo. 
FIGURA 8 – CAIO PRADO JÚNIOR 
FONTE: <https://cutt.ly/Mgm550H>. Acesso em: 12 jun. 2020.
66
Os pais de Caio Prado Júnior, Caio e Antonieta Silva Prado, sempre foram ligados à 
política, portanto, desde jovem o sociólogo teve contato com o meio, iniciando sua carreira 
nas atividades no campo pelo Partido Democrático (PD) no ano de 1928, contribuindo 
ativamente com a Revolução de 1930. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), 
viajou para estudar na União Soviética em 1933, assumiu a vice-presidência da Aliança 
Nacional Libertadora, foi preso por dois anos e se exilou na Europa. Quando retornou ao 
Brasil, em 1940, publicou Formação do Brasil Contemporâneo (PRADO JÚNIOR, 1961), 
considerada sua mais importante obra e um clássico do Pensamento Social Brasileiro, no 
qual disserta sobre a formação histórica do Brasil. Juntamente a nomes como Monteiro 
Lobato, Caio Prado Júnior funda a Editora Brasiliense.
Em Formação do Brasil Contemporâneo (PRADO JÚNIOR, 1961), Caio Prado Júnior 
analisa o processo histórico que culmina com a sociedade brasileira contemporânea, 
enfatizando o economicismo existente por trás das relações sociais no país. Em outras 
palavras, o autor afere que as relações sociais, a cultura e a política brasileira são 
moldadas de acordo com as atividades econômicas predominantes de cada época. 
A chegada do povo negro, por exemplo, foi um dos fenômenos determinados pelas 
demandas econômicas do período colonial, pois era lucrativo o trabalho realizado por 
mão de obra escrava. A principal tese do pensador é a de que, apesar de a história do 
Brasil ser dividida em vários períodos pelos historiadores, poucas rupturas ocorreram 
política e economicamente. O referido texto será melhor analisado no próximo tópico, no 
qual nos aprofundaremos nos principais textos de cada um dos autores.
FIGURA 9 – CAPA DE UMA DAS VERSÕES DA OBRA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO DE CAIO 
PRADO JÚNIOR
FONTE: <https://cutt.ly/4gm6kbC>. Acesso em: 12 jun. 2020.
67
Juntos, os quatro autores brevemente apresentados anteriormente, 
representam os principais intérpretes do Brasil, pertencentes à segunda geração de 
pensadores que contribuíram com a Teoria Social Brasileira: a geração científica. Como 
vimos na unidade anterior, a primeira geração de contribuintes do Pensamento Social 
Brasileiro fazia parte de um grupo ainda não formalizado de pensadores. Ou seja, não 
eram pensadores considerados sociólogos pelo fato de ainda não existir um campo do 
saber independente e destinado a ao pensamento voltado à Sociedade no Brasil. Um 
dos pensadores que representou a ruptura com a primeira geração dos pensadores 
sociais brasileiros foi Gilberto Freyre, apesar de ser um autor que pouco acompanhou as 
normas acadêmicas emergentes em sua época.
A geração científica corresponde aos autores que foram formados no Brasil, 
especialmente a partir da década de 1930, para desenvolver suas teorias acerca do 
desenvolvimento e funcionamento da dinâmica social brasileira. Gilberto Freyre, Sérgio 
Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior não são os únicos 
pensadores pertencentes à segunda geração de teóricos da sociedade brasileira, 
porém, os sociólogos considerados os expoentes da teoria social no Brasil. Isso quer 
dizer que são os intérpretes mais bem-aceitos da Sociologia de sua época. No tópico 
seguinte, nos aprofundaremos nos principais debates e teorias de cada um desses 
quatro grandes nomes da Sociologia Brasileira.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O Pensamento Social Brasileiro rompeu com sua primeira geração de contribuintes 
no início do século XX, quando a Sociologia foi reconhecida cientificamente, como um 
campo independente do saber, formando seus primeiros teóricos academicamente 
reconhecidos.
• Gilberto Freyre foi um pensador brasileiro que muito contribuiu com as análises 
acerca da formação do povo brasileiro, enfatizando a mestiçagem como um 
processo fundamental para o entendimento da mesma.
• Sérgio Buarque de Holanda avançou com as análises da formação do povo brasileiro, 
considerando a colonização do Brasil e suas implicações a respeito da sociedade 
brasileira moderna.
• Florestan Fernandes investigou a formação da sociedade brasileira por meio das 
relações entre as classes sociais aqui existentes, do protagonismo dos povos 
originários e do processo de inserção do povo negro na sociedade capitalista pós-
abolição da escravidão.
• Caio Prado Júnior enfatiza, principalmente, as condições históricas relacionadas 
à formação da sociedade brasileira contemporânea, evidenciando a influência dos 
aspectos econômicos de cada um dos períodos de nossa história sobre a dinâmica 
social.
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AUTOATIVIDADE
1 Sabemos que a primeira geração de pensadores que contribuiu para o desenvolvimento 
do Pensamento Social Brasileiro não teve sua origem intelectual dentro dos muros de 
universidades ou escolas especializadas na teorização acerca de nossa Sociedade. 
Foram indivíduos e grupos de diversas naturezas que lançaram mão das primeiras 
análises relacionadas à formação e funcionamento da dinâmica social do Brasil, desde 
os povos originários até políticos, artistas, professores jornalistas e diversos outros 
profissionais que somaram com a construção da Teoria Social Brasileira até o início 
do século XX. A partir da década de 1930, emergem no Brasil as primeiras instituições 
e grupos dedicados exclusivamente às investigações voltadas à Sociologia e 
Política, formando nossos primeiros profissionais formalmente reconhecidos pela 
Academia. Eis que nasce a segunda geração de pensadores sociais brasileiros: 
aqueles submetidos aos métodos e aceitação científicos. Sobre essa nova etapa do 
Pensamento Social Brasileiro, analise as sentenças a seguir:
I - O começo do século XX foi de fundamental importância no que diz respeito ao 
avanço das Ciências Sociais no Brasil, principalmente por causa do reconhecimento 
da Sociologia como uma disciplina formal.
II - As primeiras universidades voltadas aos estudos sociais no Brasil só emergiram a 
partir da década de 1930, dificultando o reconhecimento de pensadores anteriores 
a tal período como teóricos sociais.
III - Apesar de não estarem submetidos aos métodos científico/acadêmicos, as teorias 
sobre a formação da sociedade brasileira formuladas até o século XIX também 
podem ser consideradas teorias sociais válidas.
IV - Apesar de só emergir no início do século XX, a Academia já reconhecia como 
sociólogos até mesmo os povos originários que escreveram no Brasil.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somentea sentença II está correta. 
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
2 O início do século XX é marcado pela ascensão da Sociologia no Brasil. As pesquisas 
acadêmicas, a partir dessa época, contam com instituições que se voltam 
exclusivamente aos estudos sociais no país, formando seus primeiros profissionais, 
alguns dos quais muito contribuíram para a formação da Teoria Social Brasileira. Dentre 
os intelectuais que escreveram, principalmente, a partir da década de 1930, podemos 
70
destacar alguns dos expoentes do Pensamento Social Brasileiro, considerados os 
principais intérpretes do Brasil. Com base no exposto, classifique V para as sentenças 
verdadeiras e F para as falsas:
( ) Gilberto Freyre é considerado um pensador que marcou uma nova era no 
Pensamento Social Brasileiro. Embora não escrevesse integralmente de acordo 
com as normas e formalidades científicas, que acabavam de ascender no Brasil de 
sua época, Freyre foi responsável por gigantescas contribuições à reconstrução da 
história de nosso povo.
( ) Sérgio Buarque de Holanda contribuiu com análises voltadas à formação do povo 
brasileiro, concentrando seus estudos nos impactos que o processo de colonização 
provocou em na dinâmica social moderna.
( ) Florestan Fernandes devolveu aos povos originários o protagonismo na formação 
de nossa sociedade. A partir de sua extensa obra, o Brasil pôde observar, por 
meio de outra perspectiva, o papel dos povos indígenas e dos afro-brasileiros na 
construção social de nosso país.
( ) Caio Prado Júnior é um autor cuja obra nos auxilia no entendimento em relação 
à formação da sociedade brasileira contemporânea por meio, principalmente, de 
análises voltadas à importância das atividades econômicas em relação à construção 
da civilização no Brasil dos dias atuais.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – V. 
e) ( ) F – F – F – F.
3 O Pensamento Social Brasileiro é composto por quatro nomes que se destacaram 
durante o século XX e foram considerados os maiores intérpretes do Brasil. Todos 
eles foram bastante influentes na Sociologia Brasileira e compuseram grandiosas 
obras que revolucionaram a Teoria Social Brasileira em sua época. O ponto de vista 
de cada um deles é importantíssimo para a compreensão do que hoje concebemos 
como a sociedade brasileira. Apesar de vários livros e pesquisas realizadas por cada 
um deles, estudamos, no presente tópico, apenas as contribuições que receberam 
maior atenção do público que compõe o campo científico/acadêmico brasileiro. 
Considerando o conteúdo estudado, construa um parágrafo dissertando as principais 
contribuições de cada um deles.
71
GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE 
DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO 
POVO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico pretende aprofundar os conhecimentos acerca da obra 
de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, dois dos principais intérpretes do 
Brasil. Para tanto, adentraremos seus mais notáveis escritos com o intuito de melhor 
compreendermos as contribuições desses intelectuais ao Pensamento Social Brasileiro, 
principalmente no que toca a formação e desenvolvimento do povo brasileiro.
Apresentaremos então as problemáticas mais relevantes abordadas por cada 
um dos autores citados anteriormente, buscando esclarecer pontos importantes de 
seus discursos com o objetivo de remontarmos da maneira mais simples e clara possível 
o processo de formação de nosso povo. Esse trabalho demanda a leitura de seus textos 
além da perspectiva de intérpretes especialistas na obra de tais estudiosos que se 
debruçaram sobre a Teoria Social Brasileira.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 
2 GILBERTO FREYRE E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Iniciaremos nossos estudos a partir da obra de Gilberto Freyre, um autor 
que se dedicou ao processo de miscigenação no Brasil, lançando mão de uma nova 
perspectiva do assunto. Freyre acreditava que a miscigenação (também conhecida 
como mestiçagem) seria um fenômeno muito comum no Brasil, determinante para a 
formação de nosso povo e algo a ser considerado positivo.
A obra de Freyre é considerada ensaística. Em outras palavras, trata-se de uma 
obra que não obedece fielmente às normas científicas, ou seja, possui uma linguagem 
muita mais próxima da popular do que acadêmica. Apesar de pouco se alinharem às 
regras tecnicistas do mundo científico/acadêmico, os textos de Freyre são considerados 
uma obra essencial à compreensão do Brasil, principalmente quando falamos dos 
elementos fundamentais que serviram de base à formação do povo brasileiro. Sua obra 
é responsável por desmistificar uma espécie de racismo científico que iniciava seu 
processo de construção no começo do século XX. 
Esse tipo de racismo nasce em forma de teorias científicas, que começavam a 
contaminar os diversos espaços intelectuais da época com a ideia da inferioridade de 
algumas raças em relações a outras. Esse tipo de teoria também defendia a ideia de 
que a mistura entre etnias poderia ser algo negativo no sentido biológico. Dito de outra 
72
O Culturalismo é uma vertente de estudos voltados à compreensão de 
comportamentos individuais e coletivos por meio a análise a cultura à qual o 
sujeito ou grupo está inserido. O Culturalismo é muito difuso em campos do 
saber como a Psicologia e as Ciências Sociais, no caso do último, emergiu no 
seio da Antropologia com os estudos de europeus direcionados aos povos, 
sobretudo, tribais com os quais se deparavam em meio a suas expedições. 
O povo Brasileiro é um documentário, disponível na plataforma YouTube, 
que demonstra um pouco dos estudos culturalistas brasileiros, evidenciando 
como a cultura de nossos povos ancestrais, nativos do Brasil, influenciaram na 
formação de nosso povo tal como se apresenta hoje em dia. O documentário 
pode ser acessado por meio do seguinte link: https://www.youtube.com/
watch?v=TMNulMYchm0&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oLeonelBrizo
laFLB-AP. Aproveite!
DICAS
forma, seria a ideia de que o contato entre brancos e negros, índios e brancos, índios 
e negros entre a multiplicidade de outras combinações entre raças humanas, poderia 
afetar as instâncias física e/ou intelectuais dos descendentes dessas relações. Ou seja, 
a miscigenação seria algo ruim para a humanidade. Freyre (2003; 2013) rompe com tal 
concepção e propõe a ideia de que a miscigenação poderia ser algo positivo aos 
seres humanos e às sociedades.
Freyre explora a fundo o tema da miscigenação em sua obra Casa-Grande & 
Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (FREYRE, 
2003), tomando como ponto de referência, como explícito no próprio título de seu 
livro, o espaço físico onde ocorria maior interação entre escravos negros e os donos de 
terras para os quais trabalhavam em regime de escravidão, os chamadores “senhores 
de engenho”. Herdando muita influência de seu professor Franz Boas, Gilberto Freyre 
trazia em suas obras muitas ideias advindas da Antropologia Cultural, ou Culturalismo. 
Isso influenciou em sua reconstrução do povo brasileiro por meio de seus principais 
aspectos culturais: trabalho escravo, economia agrícola e família patriarcal. Para o autor, 
essas são as condições preponderantes que facilitaram a mistura entre raças no Brasil.
Quando em 1532 se organizou econômica e civilmente a sociedade bra-
sileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses 
com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para 
a vida tropical. Mudado em São Vicente e em Pernambuco o rumo da 
colonização portuguesa do fácil, mercantil, para o agrícola; organizada a 
sociedade colonial sobre base mais sólida e em condições mais estáveis 
que na índia ou nas feitorias africanas, no Brasil é que se realizaria a 
prova definitiva daquela aptidão. A base, a agricultura; as condições,a 
estabilidade patriarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da 
escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim 
à cultura econômica e social do invasor (FREYRE, 2003, p. 65).
73
Por meio de Casa-Grande & Senzala, Freyre (2003) consegue desmistificar a 
ideia de hierarquias raciais, que consiste em conceber a existência de raças e/ou etnias 
superiores e inferiores. O pensador refutou as teorias que tentavam inferiorizar os negros. 
Além disso, a obra concebe o patriarcalismo – sistema social no qual o homem adulto 
possui privilégios sociais, morais, políticos entre outros – como um fator importante no que 
diz respeito à formação de nosso povo. Freyre (2003) acredita que o patriarcado dominou 
também as relações raciais, submetendo negros e índios aos mandos e desmandos 
dos senhores de engenho: geralmente descendentes europeus brancos que possuíam 
grandes propriedades de terra, nas quais a produção agrícola era impulsionada por meio 
da mão de obra escrava.
O sistema patriarcal criara um espaço para a aproximação entre raças, 
principalmente entre brancos e negros, que potencializou a miscigenação entre 
diferentes etnias. A presença das casas-grandes – sede administrativa das fazendas 
onde vivia o patriarca, senhor de engenho escravocrata – que abrigava os grandes 
produtores e suas famílias, das quais eram administrados e a demanda por senzalas – 
casarões rudimentares onde viviam os escravos negros que trabalhavam na propriedade 
– no mesmo território, proporcionou condições para a mestiçagem dentro da dinâmica 
do engenho. Segue na Figura 10 uma ilustração feita por Cícero Dias no ano de 1933 e 
que retrata a casa-grande de um dos engenhos existentes no Brasil colonial: o Engenho 
Noruega, antigo Engenho dos Bois, em Pernambuco.
FIGURA 10 – ENGENHO NORUEGA
FONTE: <https://cutt.ly/igQtDyc>. Acesso em: 21 jun. 2020.
A proximidade entre brancos e negros provocada pelo regime escravista, fez 
com que a mestiçagem entre esses dois povos fosse ocorrendo de maneira gradativa. 
Embora Freyre (2003) sustente a ideia de que a relação entre senhores de engenho 
e escravos no Brasil fosse mais leve quando comparada às relações senhor-escravo 
74
de outros países, ainda sim era um sistema extremamente violento, sendo comum 
o fato de escravas serem frequentemente estupradas por seus “senhores”. Gilberto 
Freyre apresenta uma perspectiva mais complexa em relação à concepção simplista 
entre escravos e seus “donos”. O autor apresenta o patriarca como dono de diversos 
outros personagens além de seus escravos, como de sua esposa, seus filhos e demais 
elementos que compunham o engenho do qual eram gestores.
Apesar da obra de Freyre ser um dos referenciais mais ricos e revolucionários 
de sua época, principalmente quando se trata de dados históricos e análises sociais, ela 
ainda é alvo de muitas críticas. Umas das principais críticas gira em torno da chamada 
romantização da mestiçagem, desconsiderando que ela é fruto, em sua maior parte, de 
relações abusivas entre senhores de engenho e suas escravas. A linguagem empregada 
por Freyre (2003, 2013) também provocou desconfortos a muitos dos críticos de sua 
obra, alguns dos quais julgaram como desrespeitosa. A própria Igreja de sua época 
condenou como chulo o palavreado comumente empregado pelo autor.
Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, 
excedeu ou sequer igualou nesse ponto aos portugueses. Foi mistu-
rando-se gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro con-
tato e multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas 
de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras vas-
tíssimas e competir com povos grandes e numerosos na extensão de 
domínio colonial e na eficácia de ação colonizadora. A miscibilidade, 
mais do que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses 
compensaram-se da deficiência em massa ou volume humano para 
a colonização em larga escala e sobre áreas extensíssimas. Para tal 
processo preparara-os a íntima convivência, o intercurso social e se-
xual com raças de cor, invasora ou vizinhas da Península, uma delas, 
a de fé maometana, em condições superiores, técnicas e de cultura 
intelectual e artística, à dos cristãos louros (FREYRE, 2003, p. 70-71).
O trecho anterior evidencia outro aspecto fundamental de sua teoria: a de que 
os portugueses já eram mestiços antes mesmo de colonizarem o Brasil. Isso aconteceu 
por meio do contato entre portugueses e os chamados povos “mouros” do norte afri-
cano, além do fato de Portugal ser um país costeiro, o que facilitou a mistura entre os 
brancos portugueses e outros povos. A teoria de Freyre é a de que a mestiçagem, ao 
contrário da degeneração biológica em qual muitos teóricos de seu tempo acreditavam 
provocar, fortalecia as raças, fazendo com que os portugueses estivessem ainda mais 
aptos a conquistar outros territórios em detrimento de outros povos. O acesso a outras 
culturas também atribuiu ao povo colonizador português o caráter heterogêneo do povo 
brasileiro. Sendo assim, além da combinação entre europeus, nativos e negros, já existia 
a mestiçagem própria dos colonizadores portugueses, por isso o Brasil seria um país tão 
rico em termos de diferentes raças e culturas.
Outros conceitos importantes na teoria de Freyre (2003) e que lhe atribuiu muitas 
críticas é o da sexualidade e da sensualidade dos povos tropicais. Para o autor, as condições 
climáticas dos trópicos seriam um fator que contribuía para a fluidez sexual dos povos 
nativos em relação ao que acontecia na Europa. A sensualidade de nossos povos seria 
75
então aflorada pelo clima. O pensador sustentava a ideia de que as condições climáticas 
colaborariam com o desenvolvimento de uma suposta falta de pudor dos brasileiros. Cabe 
relembrarmos que muitos relatos da mestiçagem entre brancos e negros no Brasil ocorreu 
de maneira compulsória, ou seja, as negras escravas eram comumente estupradas por 
seus senhores, sendo equivocada a perspectiva freyriana de que isso acontecia de forma 
natural, bonita ou romântica. A linguagem utilizada por Freyre (2003) no trecho a seguir 
evidencia sua perspectiva “hipersexualizada” acerca do papel da negra: mulher destinada 
à satisfação das inúmeras necessidades do homem branco, inclusive as sexuais.
Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam 
nossos sentidos, na música, no andar, na fala. no canto de ninar 
menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida. Trazemos 
quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama 
que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela 
própria amolengando na mão o bolão de comida. Da negra velha que 
nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da 
mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. 
Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-
de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que 
foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo (FREYRE, 2003, p. 367).
FIGURA 11 – CULTURA DO ESTUPRO NA AMÉRICA LATINA RETRATADA POR DIEGO RIVERA
FONTE: <https://cutt.ly/XgQyilz>. Acesso em: 22 jun. 2020.
Outra crítica à obra de Gilberto Freyre (2003) é a da supervalorização da 
aristocracia brasileira. Há quem interprete seu texto de maneira com a qual os senhores 
de escravos brasileiros pareçam figuras bondosas, caridosas, reafirmando a tese freyriana 
de que a escravidão no Brasil foi mais branda em relação a de outros países. Contudo, 
os castigos físicos eram acontecimentos corriqueiros nos engenhos, representados por 
meio de diversas pinturas e vários relatos das atrocidades cometidas contra os negros 
escravizados em nosso território. 
Embora Freyre (2003) acreditasse que a escravidão no Brasil tenha sido 
algo mais leve em relação a outros países, não muda o fato de que o regime aqui 
era absurdamente cruel em relação aos escravos. Essas pessoas sofriam abusos de 
76
diversas naturezas, violência físicae psicológica, torturas e castigos inimagináveis. A 
punição destinada aos escravos que tentavam fugir ou demostravam algum tipo de 
resistência às condições subumanas de existência nos engenhos brasileiros, era muitas 
vezes o “tronco”, no qual eram chicoteados em frente aos seus familiares, amigos e 
demais trabalhadores, comumente resultante na morte deles. 
Uma personagem que ilustra muito bem as torturas sofridas pelos escravos, em especial 
as escravas brasileiras, é a escrava Anastácia. Ela foi um dos inúmeros exemplos de luta 
e resistência aos maus tratos, tortura e abusos, inclusive sexuais, cometidos pelos seus 
senhores. Era conhecida por uma beleza particular que chamava a atenção de seus 
estupradores, porém, relutante em se entregar aos abusos, sofria a ira de seus donos que a 
sentenciaram a usar uma máscara de ferro pelo resto de sua vida, retirada apenas quando 
se alimentava. Depois de uma vida inteira de sofrimento, Anastácia teve seus restos mortais 
enterrados na Igreja do Rosário, que logo desapareceram em um incêndio. Anastácia é 
considerada santa por religiões de matriz afro-brasileira e possui muitos devotos no Brasil. 
Segundo eles, Anastácia realizava milagres, dentre eles o da cura de enfermos e feridos. 
Sua biografia é recontada em diversos livros
IMPORTANTE
FIGURA – SANTA ANASTÁCIA
FONTE: <https://cutt.ly/ngQumz4>. Acesso em: 23 jun. 2020.
Podemos concluir que a obra Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), ao mesmo 
tempo em que é alvo de críticas voltadas a sua linguagem e suposta simpatia aos senho-
res de engenho, é reconhecida como um dos textos mais importantes para se entender o 
processo de desenvolvimento do povo e da cultura brasileira. O livro consegue descrever, 
de maneira minuciosa, vários elementos e comportamentos com os quais teve contato, 
porém, é claro, sob uma perspectiva de uma pessoa pertencente à classe aristocrata de 
seu tempo. Devemos, portanto, considerar que sua linguagem sexualizada e/ou a visão 
romântica da escravidão no Brasil, pode ser explicada pela vivência do autor em detrimen-
to da vivência dos negros que passaram pelos suplícios da escravidão.
77
Antonio Candido (1993, 1995), por exemplo, foi um dos críticos a dar 
mais ênfase a uma interpretação dualista de Gilberto Freyre. Tanto no 
famoso prefácio a Raízes do Brasil, quanto no artigo “Aquele Gilberto”, 
publicado à época da morte de Freyre e depois republicado em Re-
cortes, Candido constrói um esquema dualista para entender Freyre. 
Para ele, o autor de Casa grande & senzala seria um escritor que ainda 
detinha a visão senhorial e aristocrática da história brasileira e que, no 
entanto, também havia sido um inovador capaz de ter seus momen-
tos progressistas e de trazer no bojo de sua interpretação do Brasil 
elementos que problematizavam a visão senhorial do país. Fernando 
Henrique Cardoso (1993, p.25) segue o mesmo padrão argumentativo 
de Candido ao afirmar que “[o] encanto do livro de Gilberto Freyre é 
que ele, ao mesmo tempo em que desvenda, oculta e mistifica”. O que 
se pode concluir da leitura de Candido e Cardoso é que tanto a luci-
dez crítica quanto a mistificação saudosista fazem parte da obra de 
Freyre. Entretanto, não há em seus argumentos nenhuma explicação 
de como essa configuração peculiar funciona, ou seja, como tais linhas 
de força ideológicas interagem entre si (MELO, 2009, p. 280).
Quando lemos um texto conhecido, é de fundamental importância 
que pesquisemos suas possíveis críticas, advindas de outros leitores, 
com diferentes perspectivas. Esse estudo faz com que ampliemos nossa 
percepção do texto e que possamos enxergar com outros olhos alguns 
detalhes que comumente deixamos passar despercebidos, além de conceber 
novas interpretações daquelas palavras. Uma dica importante para o 
momento de leitura das críticas, especialmente se forem feitas por outros 
intelectuais conhecidos, é fazer uma breve pesquisa da classe social, tradição 
e posicionamento ideológico de cada autor. Esses fatores podem exercer 
muita influência na perspectiva e, consequentemente, na interpretação de 
determinados autores a respeito de cada Teoria Social criticada. Por exemplo: 
um autor ex- escravo pode ter uma perspectiva completamente diferente de 
um autor descendente de escravocratas. Por isso, é importante pesquisarmos 
os autores e críticos de todos os textos aos quais temos acesso.
ATENÇÃO
Outra notável obra de Gilberto Freyre é Sobrados e Mucambos: decadência do 
patriarcado rural e desenvolvimento do urbano (FREYRE, 2013), publicada alguns anos 
após o lançamento da primeira edição de Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003) e 
que disserta sobre a decadência do patriarcado rural no decorrer dos séculos XVIII e XIX. 
Conforme Freyre (2013), enfraquecido com o declínio da escravidão e influenciada 
pelos movimentos modernos estrangeiros, o patriarcado rural perde gradualmente seu espaço, 
prestígio e poder. As elites rurais são, então, forçadas a deixar as casas-grandes e passam a 
viver em sobrados urbanos e seus ex-escravos, por sua vez, passam a se refugiar em casas de 
pau-a-pique em bairros pobres da cidade. A linguagem muito se assemelha à de sua primeira 
obra (FREYRE, 2003), porém o foco dessa vez seria a formação das cidades brasileiras.
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Em suma, podemos afirmar que a ideia central de Gilberto Freyre foi a respeito 
da dinâmica da casa-grande e da senzala, que os elementos sociais, culturais, políticos 
e econômicos fundamentais do Brasil se moldaram. Em outras palavras, o processo 
histórico brasileiro seguiu mais ou menos a mesma dinâmica de seus primórdios, do 
período colonial. A partir desse período, houve pequenas modificações nas atividades 
produtivas, no sistema escravista entre outros elementos que não abalaram as estruturas 
sociais brasileiras. Ou seja, por mais que a aristocracia agrária tenha se retraído, os 
negros brasileiros não estejam mais sob regime de escravidão, as casas-grandes e 
senzalas se tornaram obsoletas, ainda sim existe um abismo entre as classes: uma 
elite social continua existindo, os sobrados se tornaram mansões nos dias de hoje, os 
mocambos hoje compõem as favelas e as pessoas que lá habitam são majoritariamente 
o povo negro, famílias migradas das zonais rurais, nordestinos e seus descendentes.
Concluímos que a obra de Gilberto Freyre, apesar de duramente criticada por 
apresentar uma perspectiva elitista da sociedade brasileira, pela hipersexualização da 
mulher negra e indígena, pela criação do mito do bom senhor entre outras, ela ainda 
é referência no que diz respeito ao resgate histórico e na descrição dos costumes de 
nosso povo desde o período colonial. Portanto, devemos ler sua obra e seus intérpretes 
para que tenhamos maior capacidade de entender o processo pelo qual o Brasil passou 
até obter a configuração social dos dias atuais, tecer análises de nossa sociedade e 
propor mudanças matérias sólidas. Devemos, também, lembrar de tomarmos os devidos 
cuidados ao efetuarmos nossas leituras para que haja o mínimo de más interpretações 
possíveis e possamos obter o máximo de informações que expliquem nossa história.
FIGURA 12 – REFLEXÃO SOBRE AS HERANÇAS DA CASA-GRANDE E DA SENZALA À SOCIEDADE 
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
FONTE: <https://cutt.ly/HgQiEMt>. Acesso em: 24 jun. 2020.
79
3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO 
SOCIAL DO BRASIL
Sérgio Buarque de Holanda é autor de outra obra fundamental à compreensão 
da formação de nossa sociedade a partir do regime colonial no Brasil. Uma de suas 
mais importantes obras recebe o título de Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995), publicada 
pela primeira vez no ano de 1936, na qual o pensador discorre sobre a construção das 
relações sociais brasileiras sob uma perspectiva de desenvolvimento histórico. Para 
Holanda (1995), nosso país herdou características sociais fundamentais determinadas 
pelo colonialismo e que refletem no tipo de política predominante até os dias de hoje. 
Em suma, Sérgio Buarque de Holanda nos apresenta o colonialismocomo o fator que 
deu origem às principais heranças políticas e sociais do Brasil. 
O trecho a seguir introduz o pensamento central de sua obra (HOLANDA, 1995), 
mostrando-nos que, em sua perspectiva, a cultura e o corpo social brasileiro são fruto, 
principalmente, das intervenções do povo europeu em nossas terras. Em outras palavras, 
foi a colonização europeia o fator preponderante ao estabelecimento de uma cultura cuja 
estrutura central nunca se rompeu com o passar dos tempos. Ela apenas se transformou 
e se adaptou conforme as condições materiais e forças dominantes que regeram, e regem 
até os dias de hoje, nossa sociedade.
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, 
dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas 
a sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato 
dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países dis-
tantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, 
e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfa-
vorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. 
Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade 
de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civiliza-
ção que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho 
ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução 
próprio de outro clima e de outra paisagem (HOLANDA, 1995, p. 31).
Em Raízes do Brasil (Holanda, 1995) identifica uma série de fatores que, 
segundo ele, moldaram a cultura e a política de nossa sociedade. Representando um 
dos pensadores brasileiros mais importantes no que tange à compreensão da dinâmica 
social brasileira, Sérgio Buarque de Holanda foi bastante influenciado pelas ideias de 
Max Weber. 
O autor brasileiro usa a perspectiva weberiana de “tipos ideais” ou “tipos puros”, 
que é o método desenvolvido pelo autor alemão para estudar a sociedade. Tipos ideais 
são, basicamente, parâmetros de observação da sociedade, ou seja, um referencial para 
compararmos o que observamos com uma teoria sobre essa mesma observação. 
Os tipos ideais não são conceitos inflexíveis, que objetivam colocar fenômenos 
sociais dentro de caixas conceituais, mas sim, conceitos que podem variar de acordo com 
a evolução do raciocínio em relação a determinado objeto social.
80
A metodologia empregada por Holanda em Raízes do Brasil, implica 
concebermos a sociedade como um conjunto de modelos ou grupos de pessoas. Em 
outras palavras, o autor enquadra os principais atores que compõem a dinâmica social 
brasileira, desde o período colonial, em diferentes classes. Alguns dos exemplos de 
pares ideais adotados por Holanda (1995) são “aventureiros” e “trabalhadores”, “urbano” 
e “rural” entre outras classificações que são apresentadas no curso de toda a obra. 
O primeiro paradigma que Holanda (1995) quebra, quando sua obra é comparada 
a estudos e teorias anteriores, é o de que o Brasil fora colonizado puramente pelo 
povo português. Para o pensador, as terras brasileiras, assim como praticamente toda 
a América Latina, foram dominadas pelos povos ibéricos, ou seja, em sua maioria 
portugueses e espanhóis. Sérgio Buarque de Holanda identifica em Espanha e Portugal 
algumas características peculiares em relação ao resto da Europa, garantindo melhores 
condições à dominação do Brasil.
 O principal fator ibérico favorável à colonização, não só a do Brasil, mas de 
toda a América Latina, foi a proximidade geográfica espanhola e portuguesa em relação 
ao continente recém explorado, uma vez que os dois países possuem costa marítima 
voltada ao oeste.
É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido 
a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, 
com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também 
a Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se 
comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma 
zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, 
desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio 
necessário (HOLANDA, 1995, p. 31).
FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA QUE EVIDENCIA A POSIÇÃO PRIVILEGIADA DOS PAÍSES 
IBÉRICOS EM RELAÇÃO AO CONTINENTE AMERICANO
FONTE: <https://teletime.com.br/wp-content/uploads/2017/02/tratado-de-tordesilhas.jpg>. Acesso em: 
12 jul. 2020.
81
Outra notável característica que Espanha e Portugal compartilhavam, ressaltada 
por Holanda (1995), e que facilitou a colonização do Brasil e muitos outros países latino-
americanos pelos povos ibéricos foi a ausência de uma hierarquia feudal tão imponente 
quanto a que havia em outros países europeus. Essa falta de uma hierarquia forte nos 
dois referidos países, facilitou a ascensão, crescimento e fortalecimento da burguesia 
mercantilista, classe que se destacou na busca pela expansão do mercado e, 
consequentemente, das expedições marítimas. Sérgio Buarque de Holanda sustenta a 
ideia de que essa falta de organização por parte das nobrezas ibéricas, que impuseram 
poucos limites às transações mercantis da burguesia, resultou na maior autonomia 
econômica de Portugal e Espanha, que tiveram mais oportunidades de se aventurar 
pelos mares em busca de maiores riquezas.
Holanda (1995) acredita que Portugal passou por muitas mazelas governamentais, 
embora tenha sido um grande império, inclusive se tornando o primeiro Estado Nacional. 
Com o advento de ocorrências como, por exemplo, as dívidas acumuladas com a Inglaterra 
e conflitos com a Espanha e Holanda, Portugal se desestabilizou administrativamente. 
Uma das consequências de tais desafios enfrentados pela coroa portuguesa foi a 
concessão involuntária das boas condições de desenvolvimento das quais gozou a 
burguesia mercantil daquele país. 
A dinâmica econômica mais autônoma da península Ibérica em relação aos 
países europeus vizinhos constitui uma série de heranças muito importante à formação 
das sociedades emergentes nas terras colonizadas por Portugal e Espanha, conforme 
Holanda (1995). A autonomia e a capacidade de prover a si mesmo todas as suas demandas, 
torna-se um valor entre os povos ibéricos, que passam a atribuir mais valor àqueles que 
conseguem, por si só, por meio de seu próprio esforço, suprir suas necessidades e/ou de 
sua família. Isso viria, segundo Sérgio Buarque de Holanda (1995), a influenciar diretamente 
a formação da cultura, especialmente as relações de trabalho, dos países colonizados.
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-
Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da 
península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, 
pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos 
do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a 
tal extremo essa cultura da personalidade, que parece constituir o 
traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos 
imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular 
que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de 
cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no 
espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade 
nacional. Para eles, o índice do valor de um homem infere-se, antes 
de tudo, da extensão em que não precise depender dos demais, 
em que não necessite de ninguém, em que se baste. Cada qual é 
filho de si mesmo, de seu esforço próprio, de suas virtudes… – e as 
virtudes soberanas para essa mentalidade são tão imperativas, que 
chegam por vezes a marcar o porte pessoal e até a fisionomia dos 
homens. Sua manifestação mais completa já tinha sido expressa no 
estoicismo que, com pouca corrupção, tem sido a filosofia nacional 
dos espanhóis desde o tempo de Sêneca (HOLANDA, 1995, p. 32).
82
Voltando ao conceito de tipos ideais que Sérgio Buarque de Holanda herdou de 
Max Weber, trabalhando-o de maneira intensa em sua obra, analisaremos um par ideal 
considerado por ele fundamental àformação da sociedade brasileira: o “aventureiro” e o 
“trabalhador” (HOLANDA, 1995). 
De acordo com Holanda (1995), o grupo social cognominado “aventureiro”, é 
composto por um tipo de sujeito que não se interessa na realização de uma atividade 
laboral capaz de suprir de forma direta suas necessidades fundamentais, suprir as 
demandas básicas de sua sobrevivência e de sua família. Em outras palavras, o aventureiro 
não se preocupa com o tipo de trabalho necessário para alimentar sua família, que seria 
o cultivo, por exemplo, e suas consequências ao mundo no qual está inserido. Ele está 
muito mais atento às estratégias que gerariam maior lucratividade para si mesmo, como 
pensar a quantidade de terras que deve ocupar para o plantio e o tipo de mão de obra que 
irá empregar para tal atividade. 
O “trabalhador”, por sua vez, é o sujeito que volta sua atenção muito mais ao 
trabalho em sua manifestação prática e nos seus resultados diretos em relação a sua 
sobrevivência. Utilizando o mesmo exemplo empregado ao aventureiro, podemos dizer que 
o trabalhador se preocupa muito mais na forma com a qual realizará o trabalho na lavoura 
(que não será realizado pelo aventureiro) e na maneira com a qual ele proverá seu sustento. 
De outro modo, o trabalhador é aquele indivíduo que pensa no resultado imediato de seus 
serviços e nos motivos pelo qual dispende sua energia no trabalho por ele realizado.
FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO DO PAR IDEAL “AVENTUREIRO-TRABALHADOR” NO PERÍODO COLONIAL 
BRASILEIRO
FONTE: <https://cutt.ly/bgQoGp1>. Acesso em: 12 jul. 2020.
A imagem da Figura 14 ilustra o par ideal composto pelo aventureiro e o trabalhador 
intrínsecos à “cultura do café” (termo que trabalharemos detalhadamente mais adiante) 
brasileira. Podemos observar o seguinte: o sujeito aventureiro, incorporado pelo homem branco 
montado ao cavalo no lado direito da pintura, que pode ser concebido como o proprietário 
da plantação de cana-de-açúcar e o trabalhador, encarnado pelos negros que dependiam 
diretamente de seu trabalho braçal para garantir sua sobrevivência em dado regime.
83
Sendo o par ideal explanado anteriormente considerado uma das bases da 
formação social brasileira, Sérgio Buarque de Holanda enquadra os portugueses 
e espanhóis como sendo os aventureiros, sendo os indígenas e negros africanos 
concebidos como os trabalhadores que, em um primeiro momento colonial brasileiro, 
compuseram nosso povo e nossa cultura. Os colonizadores europeus eram aventureiros 
por objetivarem a multiplicação de suas riquezas com a exploração das terras dominadas, 
lançando-se em aventuras marítimas que culminaram com a invasão e domínio de vários 
territórios do Globo, inclusive o Brasil. Os africanos escravizados e trazidos para cá, junto 
aos povos nativos que foram submetidos ao trabalho escravo ou demasiadamente 
exploratório pelos europeus, dão origem a uma classe de trabalhadores que Holanda 
(1995) afirma existir até os tempos modernos (quem sabe, contemporâneos).
O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas 
riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A 
mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcançar na Índia com 
as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de 
início, o esforço de plantar a cana e fabricar o açúcar para mercados 
europeus, compensavam abundantemente esse esforço – efetuado, de 
resto, com as mãos e os pés dos negros –, mas era preciso que fosse 
muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessário às diferentes 
operações (HOLANDA, 1995, p. 49).
Uma das grandes inovações que o pensamento de Holanda (1995) proporcionou 
à Teoria Social Brasileira, encontra-se em sua perspectiva dialética em relação às 
transformações ocorridas na sociedade brasileira com o desenvolver da história. Para 
o autor, nossa sociedade é fundada sobre bases sólidas que pouco se modificaram até 
a idade moderna. Para melhor ilustrar essa ideia, podemos considerar as relações de 
dominação entre diferentes classes (ou pares ideais) que, apesar de se adaptarem às 
mudanças sociais ocorridas com os passar do tempo, mantêm-se igual em sua essência. 
Um bom exemplo é a relação de dominação dos povos brancos europeus sobre os 
nativos e negros africanos: em regime escravocrata os negros eram dominados de forma 
mais direta, trancados em senzalas e fisicamente castigado pelos senhores de engenho. 
Em tese, a escravidão sofrida pelos povos negros foi formalmente abolida por meio da Lei 
Áurea, de 13 de maio de 1888. Todavia, os descendentes de africanos ainda viviam (e vivem 
até hoje) submetidos a uma dinâmica sociocultural que dificulta de maneira evidente sua 
sobrevivência, inserção, ascensão e tratamento igualitário, em uma sociedade moderna 
que herda a hegemonia social dos descendentes europeus colonizadores. Sendo assim, é 
possível identificarmos a continuidade de uma cultura e de uma política que sofreram leves 
alterações em suas roupagens, embora continuem essencialmente as mesmas.
84
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE NOVAS ROUPAGENS PARA A CULTURA COLONIAL QUE SOBREVIVE NA 
CONTEMPORANEIDADE 
FONTE: <http://joseliamaria.com/wp-content/uploads/2019/06/IMG_6762-1024x739.jpg>. Acesso em: 
13 jul. 2020.
A Figura 15 revela, quando compara à figura anterior (Figura 14), a continuidade de 
uma cultura colonial que se manteve praticamente intacta na contemporaneidade. Obser-
vamos um trabalhador de descendência negra trabalhando no corte da cana-de-açúcar. 
Embora possua condições mínimas de trabalho, como equipamentos de proteção indivi-
dual (EPIs) exigidos pela legislação trabalhista vigente, não está na condição de aventureiro 
quando analisado pela ótica de Holanda (1995). Continua sendo um trabalhador preocupado 
com suas demandas cotidianas que agora são atendidas (pelo menos parcialmente) pelo 
salário que recebe, que não é alto o suficiente para tirar o mesmo da condição de trabalha-
dor. Percebemos que pouca coisa mudou em relação ao mesmo trabalho realizado por meio 
de mão de obra escrava dos tempos coloniais. O trabalho é duro e as vezes insuficiente para 
a própria subsistência, enquanto os lucros provenientes de seu esforço são destinados ao 
proprietário da lavoura, que pode ser concebido na condição de um aventureiro.
Compare-se o sistema de produção, tal como existia quando o mes-
tre e seu aprendiz ou empregado trabalhavam na mesma sala e uti-
lizavam os mesmos instrumentos, com o que ocorre na organização 
habitual da corporação moderna. No primeiro, as relações de empre-
gador e empregado eram pessoais e diretas, não havia autoridades 
intermediárias. Na última, entre o trabalhador manual e o derradeiro 
proprietário — o acionista — existe toda uma hierarquia de funcioná-
rios e autoridades representados pelo superintendente da usina, o 
diretor-geral, o presidente da corporação, a junta executiva do con-
selho de diretoria e o próprio conselho de diretoria. Como é fácil que 
a responsabilidade por acidentes do trabalho, salários inadequados 
ou condições anti-higiênicas se perca de um extremo ao outro dessa 
série (HOLANDA, 1995, p. 142).
O trecho anterior apresenta, por meio de outro exemplo, a transição entre duas 
relações de trabalho fundamentalmente iguais, que passaram por adaptações ao longo 
da história que mascararam as mesmas condições dos aventureiros, que, nesse caso, 
é o proprietário de determinada corporação e os trabalhadores, representados pelos 
funcionários, que perpetuam a mesma dinâmica anterior, porém, sob regime trabalhista 
diferente do qual eram submetidos anteriormente.
85
Outro importante conceito de Holanda (1995), que inovou o Pensamento Social 
Brasileiro de sua época, foi o de homem cordial. O autor sustenta a ideia de que o 
homem cordial moldou as bases da cultura e política brasileiras. Trata-se de um homem 
que, por meio de uma política orientada por um personalismo, construiu um povo 
cordial. No entanto, o conceito de cordial para Sérgio Buarque de Holanda (1995), não é o 
sinônimode benevolência, educação, altruísmo ou quaisquer outros adjetivos positivos. 
De acordo com Holanda (1995), cordial, palavra derivada do latim cordis, que 
significa coração, possui uma conotação de guiado pelo afeto. Isso não quer dizer 
que o brasileiro seja essencialmente compreensivo ou afável. Porém quer dizer que o 
sujeito construído por meio, principalmente, do caráter do perfil europeu colonizador, 
é guiado através de seus interesses particulares, em especial, interesses familiares. 
Simplificando, o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda (1995) é, grosso modo, 
o homem que coloca os interesses privados acima dos interesses públicos, comuns ao 
restante da sociedade.
O exemplo que melhor se aplica ao exposto anteriormente, é o da ausência 
de separação da esfera pública da privada nas decisões políticas no Brasil. O 
patrimonialismo herdado dos europeus influencia no momento em que um político, 
eleito por vias democráticas, delega um cargo público importante a algum parente ou 
outra pessoa de sua confiança, independentemente de sua capacidade de exercer as 
tarefas inerentes à função do mesmo. Ou seja, o político brasileiro é, comumente, aquele 
que tem suas ações políticas guiadas por laços afetivos pessoais, particulares, privados 
ao invés de atender aos anseios públicos. Isso dá sentido à expressão patrimonialismo, 
uma vez que tal político investe em seus laços emocionais, em seu patrimônio afetivo, 
objetivando acumular respeito ao invés de realmente fazer uma política justa aos olhos 
dos demais membros da sociedade.
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, 
formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental 
entre os domínios do privado e do público. Assim, eles se caracterizam 
justamente pelo que separa o funcionário “patrimonial” do puro 
burocrata conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário “ 
patrimonial” , a própria gestão política apresenta-se como assunto de 
seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que 
deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a 
interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, 
em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se 
assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens 
que irão exercer funções públicas faz-se de acordo com a confiança 
pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos de acordo com 
as suas capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que 
caracteriza a vida no Estado burocrático (HOLANDA, 1995, p. 145-146).
Esse comportamento advém, conforme Holanda (1995), das raízes culturais 
do povo brasileiro, que é moldada principalmente pela educação que recebemos no 
curso da história e pelas relações de trabalho às quais fomos submetidos. O pensador 
brasileiro acredita que carregamos fortes heranças da educação jesuítica que 
86
recebemos, de forma quase exclusiva, até aproximadamente o final do século XVIII. 
Esse modelo de educação era baseado no culto à disciplina e obediência, que submetia 
nossos educandos a um tipo de respeito cego a indivíduos de prestígio, como alguns 
militares, por exemplo. 
A disciplina não era fomentada devido a uma visão estratégica, que poderia prover 
aos indivíduos alguns benefícios pessoais ou coletivos por meio de algum tipo específico 
de atitude, mas de forma a moldar os sujeitos pela imposição de um comportamento 
submisso, considerado ideal pelos educadores. Sendo assim, podemos dizer que fomos, 
durante muito tempo (quase três séculos), educados para respeitar pessoas ao invés 
de ideias (personalismo), obedecendo a concepções políticas individuais, privadas, em 
detrimento das demandas e posicionamentos coletivos, públicos. 
FIGURA 16 – REFLEXÃO SOBRE A PARCIALIDADE DA NOMEAÇÃO DE PESSOAS AFETIVAMENTE LIGADAS 
AOS GESTORES INSTITUCIONAIS NO BRASIL
FONTE: <https://ospyciu.files.wordpress.com/2014/07/1.jpg>. Acesso em: 13 jul. 2020.
A provocação realizada pela Figura 16 gira em torno do tema nepotismo, que 
consiste na nomeação de parentes e/ou pessoas de confiança de gestores estatais 
a cargos públicos. A cultura patrimonialista que, de acordo com Holanda (1995), está 
intrínseca à sociedade brasileira, pode resultar em práticas, como a denunciada 
anteriormente, na esfera pública. Ao analisarmos tal possível consequência, proveniente 
de um comportamento herdado do povo europeu pelos brasileiros, o homem cordial 
pode ser concebido como um sujeito antidemocrático por natureza, que prioriza seu 
patrimônio social, moral e material ao invés de zelar pelo bem comum.
Para Holanda (1995), a família é, desde os tempos coloniais, a instituição mais 
importante para o brasileiro, à qual somos condicionados a dedicar nossos maiores 
esforços em detrimento de outras instâncias da vida social. Isso quer dizer que somos 
muito mais fiéis ao bem-estar de nossos familiares em relação ao restante da sociedade. 
A cordialidade então se limita ao recinto doméstico e à garantia dos interesses daqueles 
que o compõem. De acordo com Sérgio Buarque de Holanda, é comum que a parcela 
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do povo que possui acesso aos estudos e cargos que demandam esforços acadêmicos, 
busquem a esfera pública por meio de outras funções políticas. Porém, sua atuação se 
limita aos valores e costumes apreendidos no seio familiar, o que a faz, comumente, 
lançar mão de políticas públicas alinhadas aos interesses domésticos.
Essa aptidão para o social está longe de constituir um fator 
apreciável de ordem coletiva. Por isso mesmo que relutamos em 
aceitar um princípio superindividual de organização e que o próprio 
culto religioso se torna entre nós excessivamente humano e 
terreno, toda a nossa conduta ordinária denuncia, com frequência, 
um apego singular aos valores da personalidade configurada pelo 
recinto doméstico. Cada indivíduo, nesse caso, afirma-se ante os 
seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas 
afinidades emotivas, e atento apenas ao que o distingue dos demais, 
do resto do mundo (HOLANDA, 1995, p. 155).
O trecho anterior pode ser entendido como uma tentativa de Holanda (1995) de 
explicar as raízes da tradição política do Brasil, um país fundado sobre valores estritamen-
te familiares, personalistas e individualistas. A cordialidade se resume em um afeto desti-
nado muito mais aos nossos iguais imediatos, ou seja, nossa família, do que uma emoção 
voltada ao reconhecimento de toda uma classe à qual pertencemos e que é alheia ao 
nosso meio familiar. Sendo assim, o contexto político brasileiro, dominado por aqueles 
cuja posição social privilegiada os permite estudar, herda de nossos antepassados mem-
bros quase sempre pertencentes à elite “bacharelada”, aos quais se refere Sérgio Buarque 
de Holanda (1995), àqueles que se formaram e ingressaram na carreira política. 
De qualquer modo, ainda no vício do bacharelismo ostenta-se tam-
bém nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade in-
dividual como valor próprio, superior às contingências. A dignidade 
e importância que confere o título de doutor permitem ao indivíduo 
atravessar a existência com discreta compostura e, em alguns casos, 
podem libertá-lo da necessidade de uma caça incessante aos bens 
materiais, que subjuga e humilha a personalidade. Se nos dias atuais 
o nosso ambiente social já não permite que essa situação privilegia-
da se mantenha cabalmente e se o prestígio do bacharel é sobretudo 
uma reminiscência de condições de vida material que já não se re-
produzem de modo pleno, o certo é que a maioria, entre nós, ainda 
parece pensar nesse particular pouco diversamente dos nossos avós. 
O que importa salientar aqui é que a origem da sedução exercida pe-
las carreiras liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase 
exclusivo aos valores da personalidade (HOLANDA, 1995, p. 157).
Juntas, as obras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, apesar de suas 
limitações naturais, contribuíram para o desenvolvimentodas bases de uma nora era da 
Teoria Social Brasileira: a que seria trabalhada de acordo com os parâmetros científicos 
e acadêmicos. Sendo assim, é imprescindível a leitura da produção intelectual de ambos 
os autores, sempre de maneira crítica, considerando o contexto de formação de cada 
um deles e o que esses fatores influenciaram em seus respectivos pensamentos.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O Pensamento Social Brasileiro adentrou em seu período científico-acadêmico por 
meio da obra de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
• Gilberto Freyre foi um grande nome do Pensamento Social Brasileiro, contribuindo 
com uma perspectiva acerca da formação do povo brasileiro partindo do processo 
de miscigenação no Brasil.
• A obra de Gilberto Freyre é, até hoje, alvo de fortes críticas, principalmente em 
relação à linguagem nela empregada e à romantização de fatos que representaram 
muito sofrimento ao povo afrodescendente e às mulheres brasileiras.
• Sérgio Buarque de Holanda contribuiu com o avanço da Teoria Social Brasileira, 
considerando alguns aspectos fundamentais do período colonial e suas implicações 
sociais na modernidade.
• A obra de Sérgio Buarque de Holanda evidencia algumas características que foram 
herdadas dos colonizadores europeus pelo nosso povo, moldando um modelo cultural 
e político baseado na cordialidade, personalismo, individualismo e patrimonialismo.
89
AUTOATIVIDADE
1 Gilberto Freyre é considerado um dos maiores contribuintes do Pensamento Social 
Brasileiro, trabalhando principalmente o processo de formação do povo brasileiro por 
meio de sua perspectiva sobre a mestiçagem ou miscigenação. Embora tenha sofrido 
muitas críticas com o passar dos tempos, sua obra contribuiu com a reconstrução 
dos elementos fundamentais que constituíram a dinâmica social brasileira: a casa-
grande e a senzala. Partindo do pressuposto freyriano que esses dois elementos, 
intimamente interligados, moldaram as bases da cultura e da política brasileiras, 
analise as sentenças a seguir sobre o processo de formação de nosso povo:
I - A miscigenação no Brasil foi um processo no qual as diferentes raças e etnias 
aqui inseridas (europeus e africanos), misturaram-se aos povos nativos e entre si, 
dando origem ao nosso povo que é considerado um dos mais ricos em termos de 
diversidade racial.
II - Embora Gilberto Freyre tenha narrado de maneira romântica o processo de 
miscigenação e as comodidades da escravidão ao homem branco brasileiro, ambos 
foram processos violentos e que deixaram marcas em nossa sociedade até os 
tempos atuais.
III - Embora não negue o caráter cruel e violento do regime escravocrata brasileiro, 
Gilberto Freyre sustenta a ideia de que a escravidão no Brasil foi “branda” em relação 
a outros países, sendo essa afirmação alvo de muitas críticas ao seu pensamento.
IV - Gilberto Freyre foi um autor que narrou, de forma imparcial e isenta de concepções 
emotivas, a escravidão no Brasil, tão como o processo de mestiçagem, ao qual se 
referia com repúdio aos estupros e violências que ocorreram aqui durante esse 
período.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
2 Sérgio Buarque de Holanda revolucionou a Teoria Social Brasileira emergente no início 
do século XX, concebendo a cultura e a política moderna como fruto histórico de 
fenômenos sociais iniciados no período colonial. Para o autor, bases de nossa sociedade 
sofreram poucas modificações em sua essência, seguindo padrões que se originaram 
nos povos ibéricos que colonizaram nossas terras, antes mesmo da colonização. A 
modernidade seria composta, na concepção de Holanda, por uma série de “pares ideais” 
90
que, contrapostos ou não, evoluíram de acordo com o processo histórico e moldaram a 
sociedade brasileira até a modernidade. De acordo com o que estudamos no presente 
tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Os tipos ideais “aventureiro” e “trabalhador”, que Sérgio Buarque de Holanda 
considerava as classes mais fundamentais que compuseram a sociedade brasileira, 
eram formados, basicamente, por aqueles que objetivavam lucrar com atividades 
econômicas e aqueles que trabalhavam para suprir as suas necessidades imediatas, 
respectivamente.
( ) Sérgio Buarque de Holanda acreditava que a sociedade brasileira carrega heranças 
sociais advindas do modo de vida dos povos ibéricos, uma vez que Espanha e 
Portugal, com suas particularidades políticas em relação ao resto da Europa, 
obtiveram maiores vantagens no desenvolvimento mercantilista, garantindo maior 
autonomia no comércio, exploração e suprimento de suas demandas familiares.
( ) O homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, é aquele sujeito altruísta, educado 
e pacífico que foi responsável por solidificar nossas bases culturais e políticas 
voltadas ao atendimento das necessidades do povo em detrimento de suas 
demandas pessoais e familiares. 
( ) O caráter hereditário da trama política brasileira, ou seja, a cultura da valorização 
dos laços familiares sobre as aptidões políticas no momento da nomeação de 
cargos públicos por gestores do Estado, possui pouca relação com a cordialidade 
intrínseca aos governos que regem o Brasil desde o período colonial.
Assinale a alternativa que a presenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) V – V – F – F. 
3 Sabemos que Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são dois grandes autores 
brasileiros que muito contribuíram com a construção das bases da Teoria Social 
Brasileira, principalmente no que diz respeito à era científico/acadêmica que nasceu 
no início do século XX. Isso não significa que os pensadores que contribuíram com o 
Pensamento Social Brasileiro, anteriormente, não foram de grande importância nesse 
processo. Dentre limitações e perspectivas muito criticadas contemporaneamente, 
os referidos autores foram responsáveis por grandiosas inovações no que diz respeito 
à reconstrução de um Brasil ainda desconhecido por muitos até o século passado. 
Com base no conteúdo estudado no presente tópico, resuma, com suas palavras, as 
principais contribuições de cada um desses autores aos estudos de nossa sociedade.
91
TÓPICO 3 - 
FLORESTAN FERNANDES E CAIO 
PRADO JÚNIOR
1 INTRODUÇÃO
O terceiro e último tópico da Unidade 2 de nosso material apresentará as ideias 
centrais de outros dois grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro: Florestan 
Fernandes e Caio Prado júnior. Abordaremos os principais conceitos trabalhados em 
suas obras mais importantes, destacando suas abordagens e inovações em relação à 
perspectiva sociológica construída no Brasil.
Para tanto, utilizaremos escritos desenvolvidos por diferentes intérpretes das 
obras de ambos os pensadores e trechos retirados de sua própria literatura, objetivando 
maior riqueza de análises e perspectivas. Lembrando que a leitura das obras de Florestan 
Fernandes e Caio Prado Júnior são indispensáveis, uma vez que toda sua riqueza não 
pode ser expressada apenas por meio de interpretações feitas por outros estudiosos ou 
sínteses que objetivam a introdução ao pensamento de ambos. Bons estudos!
UNIDADE 2
2 FLORESTAN FERNANDES: RELAÇÕES SOCIAIS E 
ESTRUTURA DE CLASSES NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Antes de iniciarmos nossos estudos das contribuições de Florestan Fernan-
des à Teoria Social Brasileira, devemos considerar as principais influências e métodos 
adotados pelo autor para composição de sua obra. Fernandes é um autor que bebe de 
várias fontes para construir seu ponto de vista, dentre elas devemos ressaltar o pensa-
mento de Max Weber, Emile Durkheim e, principalmente, Karl Marx. Florestan Fernandes 
era considerado um autor marxista,apesar de sua influência heterogênea, pois adotou 
o materialismo histórico dialético de Marx como método de conceber a realidade. Tra-
ta-se, de maneira bem resumida, de considerar o mundo material como algo composto 
por elementos em constante mudança. Esse incessante ciclo de mudanças ocorre no 
mundo material, ou seja, em tudo aquilo que podemos tocar e transformar, sob o efeito 
de nossas necessidades, reflexão e trabalho, resultando na construção da história.
Outra característica pessoal interessante de Florestan Fernandes é sua condi-
ção de pessoa negra, pobre e que vivenciou severas dificuldades em sua vida. Precisou 
trabalhar muito cedo, já aos seis anos de idade, para ajudar sua família, fato que talvez 
tenha influenciado sua concepção acerca da existência de diferentes classes sociais, 
e a importância do trabalho humano na construção de nossa história. É considerado um 
92
autor “militante”, ou seja, que abre mão da neutralidade proposta pela Sociologia científica, 
posicionando-se a favor de uma classe social específica: a trabalhadora. Bastos (2015) 
sustenta a ideia de que Florestan Fernandes facilitou o entendimento acerca da estrutura 
social brasileira, partindo do estudo da realidade das classes menos privilegiadas.
[...] opera com a afirmação de que o elo mais fraco da corrente social 
ilustra o funcionamento da sociedade [e que, portanto,] a escolha 
para análise de um grupo que carrega desvantagens maiores do que 
outros para integrar-se socialmente implica uma admissão teórico-
metodológica: a partir da periferia percebe-se melhor o movimento 
da sociedade, possibilitando, assim, a percepção dos princípios que a 
articulam (BASTOS, 2015, p. 49).
Florestan Fernandes possui uma obra muito extensa, porém, as duas obras que 
ganharam maior destaque devido às inovações que concedeu à Teoria Social Brasileira 
foram, sua dissertação de mestrado intitulada A Organização Social dos Tupinambá 
(FERNANDES, 1963) e A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1978). Ambas 
as obras romperam com as ideias de Gilberto Freyre, que resultaram numa concepção 
de “democracia racial” existente no Brasil que, até então (década de 1940), estavam 
em alta entre os intelectuais da época. Embora Freyre não tenha utilizado o termo 
democracia racial em sua obra e desmentir essa ideia em entrevista posteriormente, era 
muito comentado que o pensamento freyriano induzia a crença na existência de uma 
igualdade entre as raças que se miscigenaram e compuseram nosso povo. 
Em Florestan Fernandes, as relações raciais entre brancos, índios e 
negros são vistas sob o prisma da exclusão social na passagem da 
sociedade colonial para a tradicional escravista e daí para a sociedade 
de classes. Consequentemente, o objeto de análise, nas obras 
interpretativas do Brasil não é apenas o negro ou o índio, mas o povo, 
a sociedade brasileira que emerge na história. Uma sociedade que 
comporta tanto momentos de modernização, quanto de arcaísmo; 
de inclusão e integração como de exclusão e discriminação. Enfim, 
um sistema social que apresenta, ao mesmo tempo, processos 
integrativos e desintegrativos (MARIOSA, 2019, p. 188).
Florestan Fernandes (2008) é adepto da ideia de que as chamadas estruturas so-
ciais são construtos socioculturais que se modificam lentamente ao desenrolar da história. 
Isso quer dizer que alguns hábitos sociais geram mentalidades que, por mais que operem 
por meio de outros moldes com o passar dos tempos, permanecem com uma estrutura 
fundamental intacta devido à cultura criada por esses mesmos hábitos. Utilizemo-nos no-
vamente do exemplo da escravidão no Brasil: por mais que a abolição da escravatura tenha 
sido formalizada por meio da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a cultura da diferenciação 
entre negros e brancos não cessou no momento em que a ela fora outorgada. A cultura 
racista herdada de nosso antepassado colonizador demanda um processo histórico mais 
longo, além de outros fatores políticos, para ser gradualmente superada.
Em termos sociológicos, as sociedades humanas que tendem ou 
participam de um mesmo padrão de civilização podem ostentar 
essa condição de várias maneiras. No essencial, a vigência de um 
padrão de civilização sempre pressupõe um mínimo de eficácia em 
sua atualização histórico-social. Todavia, tanto estrutural quanto 
93
funcionalmente, ocorrem amplas flutuação em torno e abaixo ou 
acima desse mínimo. As sociedades do Novo Mundo não constituem 
exceção a essa regra. Ao contrário, elas mostram como as 
contingências da conquista, da colonização e da integração nacional 
afetaram, por vezes de modo dramático e profundo, a amplitude, o 
curso e os efeitos de “expansão da civilização ocidental” nesta parte 
do globo (FERNANDES, 2008, p. 98).
FIGURA 17 – REFLEXÃO SOBRE A CRÍTICA À TEORIA DA DEMOCRACIA RACIAL
FONTE: < https://4.bp.blogspot.com/-arh_aAeep7c/WT10qdp9XVI/AAAAAAAAAfc/eDfhQcf-tDsR73xQvv-
SeP1Jft1JxcK2rQCLcB/s1600/democracia%2Bracial.jpg >. Acesso em: 14 jul. 2020.
Uma das teorias de Florestan Fernandes que ganhou destaque entre os pensadores 
sociais brasileiros é a do Capitalismo Dependente (FERNANDES, 1975), contexto sócio-políti-
co-econômico no qual o Brasil está inserido. Dentre outras consequências desse modelo capi-
talista, especialmente em relação à América Latina, está a submissão do bloco de países latino-
-americanos à dinâmica político-econômica capitaneada principalmente por países europeus 
e pelos Estados Unidos da América. A referida tese denuncia a submissão da trama produtiva 
brasileira não só às exigências de uma burguesia interna, mas também à burguesia estrangeira 
à qual a nacional está submetida. Ou seja, o trabalho de produção de riquezas brasileiro deve 
suprir as demandas tanto da hegemonia local, quanto das elites burguesas europeia e esta-
dunidense. Tal sistema financeiro internacional reflete na superexploração do trabalho e na 
dificuldade de absorção das riquezas que produzimos pela nossa própria sociedade.
O autor (FERNANDES, 1975) explica que a superação dessa condição dependente 
por parte do Brasil é dificultada devido à herança colonial no país. Isso significa que a 
ruptura com o sistema de Capitalismo Dependente demandaria uma mudança política 
interna drástica, de forma a voltar a produção brasileira de riquezas às demandas nacionais 
em detrimento da histórica atenção ao mercado exterior que explora nosso território. Essa 
ideia é baseada na noção de que o rompimento com as estruturas sociais construídas em 
solo brasileiro demanda tempo e trabalho para se concretizar.
94
Partindo do pressuposto que as ideias originárias dos discursos proferidos 
por pensadores, não só da área social, mas de quaisquer campos do 
conhecimento, são compreendidas de maneira mais clara quando 
acessadas em forma articulada e na íntegra, torna-se imprescindível 
acompanharmos suas conversas, aulas e entrevistas (quando possível, é 
claro). Sendo assim, apresentamos uma entrevista de Florestan Fernandes 
concedida ao programa Vox Populi, que pode ser acessada no endereço 
eletrônico a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=dPAYUfcwR0E. 
Por meio dela conseguimos nos aproximar ainda mais dos argumentos 
construídos pelo autor de forma didática, complementando a leitura de sua 
obra que também é fundamental ao entendimento de seu pensamento.
DICAS
Uma outra importante tese de Florestan (FERNANDES, 1975) é a de que o 
Estado brasileiro foi tomado pela estrutura burguesa que havia se estabelecido aqui. Em 
outras palavras, nossas instituições foram construídas por quem dominava a dinâmica 
cultural, política e econômica no Brasil: a burguesia colonizadora. Isso quer dizer que, 
com o passar do tempo, a organização política foi se moldando de forma a adquirir um 
aspecto mais democrático (que não quer dizer que se tornaria um governo democrático 
de fato). Porém, as mesmas classes que dominavam o Brasil colonial, inseriram-se na 
política formal e continuaram ditando seus interesses por intermédio do Estado.Ou seja, 
partindo do conceito de estruturas sociais sólidas, dificilmente rompidas a curto prazo, 
nosso território, cultura, política e economia continuaram orientados pelas mesmas 
pessoas que dominavam o país em regime colonial.
Em uma de suas obras de maior destaque, Florestan Fernandes (1978) discorre 
sobre a condição do negro no Brasil pós-escravidão, associando a desigualdade racial 
no contexto capitalista a uma questão de dominação entre classes sociais. Para o 
pensador, a situação do povo negro brasileiro continuou desfavorável socialmente em 
relação aos brancos, que possuíam melhores oportunidades e cargos empregatícios, 
dentre outros privilégios. Analisando a conjuntura político-social de São Paulo do século 
XX, Fernandes (1978) observou que naquele estado em vias de crescimento econômico, 
as desigualdades sociais eram mais facilmente observáveis. Lá a discriminação racial se 
tornara algo mais nítido em relação a outros estados brasileiros onde a integração do 
negro na sociedade também era um processo difícil e desigual.
95
FIGURA 18 – REFLEXÃO SOBRE A DIFICULDADE NO QUE TANGE À INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA 
SOCIEDADE DE CLASSES
FONTE: <https://observatorio3setor.org.br/wp-content/uploads/2019/04/1-racismo.jpg>. 
Acesso em: 14 jul. 2020.
A obra de Fernandes (1978) apresenta uma análise acerca da inserção 
do povo negro no contexto social do estado que mais se desenvolvia industrial e, 
consequentemente, economicamente. O texto, então, versa os desafios enfrentados 
pelo negro em busca de sua integração na dinâmica capitalista após a recente abolição 
formal da escravidão no Brasil. O autor percebe que, desde o reconhecimento do 
fim da escravidão no ano de 1888, o negro, apesar de legalmente protegido contra o 
escravismo, continuava isolado do restante da sociedade que possuía maiores chances 
de ingresso em um mercado de trabalho industrial nascente.
Encontrando-se em uma condição desfavorável, na qual até mesmo os 
imigrantes europeus recém chegados ao Brasil recebiam prioridade na ocupação dos 
empregos gerados pela indústria emergente, o negro brasileiro se depara com um 
crescente processo de marginalização. Tal fato é associado por Fernandes (1978) à 
herança cultural colonial, que dá continuidade à mentalidade escravista que inferioriza 
o negro em relação ao branco. Observa-se a continuação da ideia, oriunda das classes 
hegemônicas, de que os negros não poderiam ocupar os mesmos cargos que os brancos.
Outra tese muito importante e inovadora elaborada por Fernandes (1978), ressalta 
a resistência de uma parcela do povo negro brasileiro em relação a sua integração à 
nova dinâmica social pós-escravidão. Segundo o pensador, muitos negros que estavam 
inseridos ou tiveram contato direto com a trama escravista, sendo ex-escravos ou seus 
descendentes, tomavam consciência de que as novas modalidades de trabalho a eles 
oferecidas davam continuidade à exploração que sofriam durante regime de escravidão. 
A recusa pelos novos trabalhos que seguiam submetendo o negro brasileiro a condições 
precárias resultaria na busca por outras alternativas para sua sobrevivência. Atividades 
ilícitas, ou consideradas criminosas pela classe hegemônica brasileira, estariam cada 
vez mais presentes na vida do negro no Brasil.
96
O compromisso de Florestan Fernandes com a mudança da condição inferior do 
negro no Brasil se manifesta em sua obra. O sociólogo ressalta a importância da luta de 
classes por meio de movimentos sociais que reivindiquem melhores condições de vida 
ao povo negro. A organização de ações que denunciam a desigualdade, o racismo, a 
discriminação, a falta de oportunidades dentre outras diversas dificuldades enfrentadas 
cotidianamente pelos negros brasileiros seriam, conforme o autor, um trabalho que 
proporcionaria ao negro, de forma gradual, melhores condições de vida em meio à 
sociedade de classes (FERNANDES, 1978).
FIGURA 19 – EXEMPLO DE MANIFESTAÇÃO SOCIAL QUE DENUNCIA O SOFRIMENTO DO AFRO-BRASILEIRO 
NA CONTEMPORANEIDADE
FONTE: <https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/04/negros.jpg>. Acesso em: 14 jul. 2020.
Cabe ressaltar que a obra de Florestan Fernandes é muito vasta e não se limita ape-
nas às obras estudadas no presente subtópico. Por se tratar de um dos maiores pensadores 
brasileiros, que é considerado um dos maiores sociólogos da América Latina e do mundo, o es-
tudo de sua produção intelectual é imprescindível a uma análise de aspectos fundamentais da 
sociedade brasileira. Portanto, é obrigatória a leitura de seus escritos àqueles que pretendem 
contribuir com a Teoria Social Brasileira, com a teoria e/ou com políticas em âmbito nacional.
3 CAIO PRADO JÚNIOR: A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE 
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Uma nova perspectiva acerca da formação da sociedade brasileira contempo-
rânea é formulada por Caio Prado Júnior: outro grande pensador que contribuiu de 
maneira ímpar com a Teoria Social Brasileira. Caio Prado Júnior (1961) é um intelectual 
que também se utiliza dos métodos marxistas para compreensão da realidade, inovan-
do em suas análises da formação do Brasil contemporâneo partindo de pressupostos 
econômicos. Isso quer dizer que o autor identifica, durante o desenvolver histórico de 
nossa sociedade, alguns fatores fundamentais que foram orientados pelo tipo de eco-
nomia aqui existente. Ou seja: nossa cultura e política foram construídas a partir da 
dinâmica econômica estabelecida em nosso território.
97
Caio Prado Júnior (1961) identifica na economia implantada no Brasil, desde o 
período pré-colonial, as bases de nossa cultura e política. O intelectual se depara, aos 
estudar os diversos ciclos econômicos brasileiros identificados pelos historiadores, 
com padrões culturais engendrados por cada modelo econômico aqui desenvolvido. 
Por exemplo, no início do século XVI, a partir da invasão dos primeiros europeus, Prado 
Júnior (1961) observa um tipo de cultura emergente da dinâmica extrativista do Pau-
brasil. Essa cultura foi forjada devido à submissão dos povos nativos aos trabalhos de 
extração da madeira que era comercializada no exterior. 
O trabalho realizado pelos povos ditos indígenas, seduzidos pela já mencionada 
prática do escambo, orientaria toda uma cultura brasileira. Dos contatos iniciais que 
resultaram na proximidade entre europeus invasores e povos nativos, intermediada pelo 
escambo, influenciaria a cultura aqui estabelecida antes da chegada dos brancos.
Prado Júnior (1961) enfatiza as consequências da economia imposta pelos povos 
europeus ao comportamento de etnias que, mais tarde, formariam alguns dos pilares 
fundamentais da sociedade brasileira. Um de seus conceitos centrais à compreensão 
do processo histórico que culminou com o Brasil contemporâneo, parte da ideia de 
que durante o período colonial brasileiro, fatos essenciais interferiram em nossa cultura 
e política. O autor introduz o “sentido da colonização” como uma sequência de fatos 
históricos forjados pela dinâmica colonial, sobretudo pelos seus aspectos econômicos, 
que constituíram as bases de nossa sociedade.
Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo “sentido”. 
Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto 
de fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo 
período de tempo. Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do 
cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem 
muitas vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que 
ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que 
se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada 
orientação. É isto que se deve, antes de mais nada, procurar quando se 
aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o momento 
ou o aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos 
não são senão partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser 
sempre o objetivo último do historiador, por mais particularista que 
seja. Tal indagaçãoé tanto mais importante e essencial que é por ela 
que se define, tanto no tempo como no espaço, a individualidade da 
parcela de humanidade que interessa ao pesquisador: povo, país, nação, 
sociedade, seja qual for a designação apropriada no caso. É somente aí 
que ele encontrará aquela unidade que lhe permite destacar uma tal 
parcela humana para estudá-la à parte (PRADO JÚNIOR, 1961, p. 13).
O trecho anterior introduz a ideia de que, a partir da observação dos aspectos 
centrais do desenvolvimento histórico de determinada sociedade, povo, nação, dentre 
outras denominações, podemos compreender a formação de dada cultura. Concebendo 
a economia como o fator preponderante à construção social do Brasil, Prado Júnior 
(1961) aponta o sentido que a colonização deu à nossa sociedade. O autor acredita que as 
atividades econômicas aqui implantadas pelos povos europeus, moldaram nossos costumes 
e, portanto, foram fundamentais à evolução de nossa sociedade até os dias de hoje.
98
O autor (PRADO JÚNIOR, 1961) aponta que entender o papel da América Latina 
para os povos ibéricos colonizadores, é de fundamental importância para entender a 
formação de nossa sociedade. Ele acredita que o fato de que território latino-americano 
fora muito mais para a exploração e produção de riquezas do que propriamente para 
a ocupação dos colonizadores, tem muito a dizer sobre o desenvolvimento de nossa 
cultura (PRADO JÚNIOR, 1961). 
O intelectual disserta sobre toda uma cultura que nasce em torno das atividades 
econômicas centrais do Brasil, desde sua colonização. Ele concebe, por exemplo, o clico 
econômico da cana-de-açúcar, como fator originário de uma “cultura da cana”, que 
moldou aspectos culturais e políticos brasileiros que, até a contemporaneidade, pouco 
sofreram mudanças estruturais significativas (PRADO JÚNIOR, 1961).
FIGURA 20 – O CICLO ECONÔMICO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO UM DOS ORIENTADORES 
POLÍTICO-CULTURAIS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://cutt.ly/3gQsZMR>. Acesso em: 14 jul. 2020.
Caio Prado Júnior (1961) destaca um caráter pouco racional em relação à ocupação 
do Brasil pelos povos ibéricos. Isso quer dizer que se houve de fato uma racionalidade 
em torno da utilização de nosso território, ela estaria muito mais voltada à exploração 
de nossos recursos do que à construção de uma sociedade voltada ao crescimento 
econômico e/ou à habitação do local. Nesse sentido, o conceito de “colônia de exploração” 
e “colônia de povoamento”. A colonização de nosso país e dos demais da América Latina, 
estaria muito mais voltada à exploração dos recursos naturais e produção de riquezas do 
que propriamente ao povoamento por parte dos europeus ibéricos.
A inserção do negro na sociedade brasileira também é associada por Caio Prado 
Júnior (1961) aos aspectos economicistas de nosso desenvolvimento. O autor discorre que 
o tráfico negreiro para o Brasil foi motivado, sobretudo, pelas vantagens econômicas do 
trabalho escravo na produção de riquezas retiradas de nosso país. Sendo assim, a economia 
também seria preponderante em relação à chegada em massa dos povos africanos no 
Brasil. É muito importante salientar o papel da economia na introdução de uma das etnias 
que compõem a base do povo brasileiro, conforme os estudos do referido pensador.
99
Comparando a colonização latino-americana com a colonização da América do 
Norte, sobretudo a consolidada nos Estados Unidos da América, Caio Prado Júnior (1961) 
aponta uma dualidade em relação às intenções dos colonizadores europeus na América. 
Enquanto na América Latina a colonização estivesse voltada muito mais à exploração e 
impulsionamento do capitalismo europeu, nos Estados Unidos, a colonização seria mais 
racionalizada no sentido da construção de um país cujo povoamento seria o objetivo 
maior dos europeus. Essa concepção provocou muitos debates no mundo acadêmico e, 
até os dias de hoje, discutem-se algumas teses do autor.
Ao analisar a comparação que Prado Júnior faz entre a colonização 
da América do Norte e a do Sul, na sua obra História Econômica 
do Brasil, Adorno levanta três observações: a primeira delas, e mais 
significativa, diz respeito a indefinição da natureza econômico 
social da empresa mercantil colonizadora. Ora, não se trata de 
feudalismo, embora o patrimonialismo expresso pelas sesmarias 
apontasse nessa direção, também não se trata de capitalismo, haja 
vista, que não há separação radical entre trabalho e capital. Restava 
qualificá-lo de pré-capitalismo, mas não haveria clareza na inserção 
da colonização no terreno da acumulação originária do capital, já 
em andamento no mundo europeu, especialmente na Inglaterra 
(ADORNO, 1989, p. 241 apud LIMA, 2008, p. 72).
Embora os conceitos do intelectual em questão sejam amplamente refutados 
na academia contemporânea, principalmente aqueles referentes ao capitalismo ou às 
etapas pelo qual seu desenvolvimento passou, Caio Prado Júnior (1961) contextualiza, 
de maneira original, a ocupação da América Latina e América do Norte pelos europeus. 
As ideias de Caio Prado Júnior (1961) representaram um grande avanço no que tange 
à compreensão do propósito da colonização do continente americano como um todo. 
O conceito de “Revolução Brasileira” é outra tese de fundamental importância 
na obra de Caio Prado Júnior. Conforme o pensador (PRADO JÚNIOR, 1961), para que 
o Brasil alcançasse sua emancipação em relação aos domínios políticos estrangeiros, 
que estão diretamente relacionados à condição de país economicamente dependente, 
nosso território necessitaria de uma modernização econômica. Por mais contraditório 
que pareça, o pensador sustenta a ideia de que o Brasil só poderia se desvincular 
politicamente dos países que dominavam a dinâmica econômica mundial, por meio 
do estabelecimento de uma burguesia forte. A partir dessa formação de uma base 
econômica sólida, o país poderia voltar sua produção de riquezas para o interior, 
rompendo com seu caráter de “apêndice econômico” de outros países. Isso reforça a 
ideia de que a economia é o fator que mais exerce influência sobre nossa história.
100
FIGURA 21 – REFLEXÃO ACERCA DA SOBREPOSIÇÃO DA ECONOMIA SOBRE OS DEMAIS 
ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2018/11/destaque.jpg>. Acesso em 
15 de julho de 2020.
Encerraremos a Unidade 2 de nosso livro didático com uma interpretação da 
obra de Caio Prado Júnior.
101
AGRARISTAS POLÍTICOS BRASILEIROS
Raimundos Santos
[...]
O PAPEL DO SINDICALISMO NA REFORMA DO MUNDO RURAL
Relembremos agora como o “ponto de vista do trabalho” orienta a dissertação 
agrária. À luz da interpretação de Brasil, ela pode ser vista como marco de um campo 
intelectual que não restringe a reforma do mundo rural à questão fundiária. Caio Prado 
Júnior confere importância à ideia de uma reforma agrária não camponesa; um tema 
continuado sob registro diverso por outros autores no pré-64 e depois da destituição de 
Jango, inclusive em tempos bem recentes.
Na época da Declaração de Março de 1958, embora refratado, o agrarismo de Caio 
Prado fez-se presente no PCB, em particular, como já aludido no princípio deste ensaio, 
na fórmula da reforma agrária “inicialmente não camponesa”, que se tornaria reforma 
agrária camponesa numa segunda fase. Por sua visão “não estagnacionista” pós-1958, o 
PCB adota, naqueles anos radicalizantes da “pré-revolução brasileira” (FURTADO, 1962), 
a proposição programática das “medidas parciais de reforma agrária”, bem ecléticas e 
nada catastróficas, nelas, aliás, refletindo-se o argumento não campesinista de Caio 
Prado. Fora desse campo, naquela época o conceito de reforma agrária ainda se amplia 
mediante o equacionamento propriamente nacional-desevolvimentista, como se pode 
ver em textos isebianos. Desperta particular interesse a modalidade de reforma agrária 
de Ignácio Rangel, autor que, avaliando a falta de condições políticas para um processo 
redistributivista, argumenta a favor de uma reformaagrária centrada em questões “não 
propriamente agrárias” (problemas estritamente agrícolas, como produção, preços, 
intermediação etc.). 
Em relação ao seu próprio campo, o historiador valoriza “a atenção especial 
com os assalariados e semiassalariados”, elemento que, no pré-64, compunha a tática 
agrária sindical-camponesa dos comunistas. Mas, ao mesmo tempo, via na mistura 
errática de reivindicações trabalhistas e camponesas – que, segundo ele, aparecia no 
novo agrarismo do PCB – a primazia do tema da luta pela terra, o que levava a se perder 
a “réstia de bom senso” que os comunistas haviam adquirido quando passaram a dar 
atenção ao sindicalismo rural (PRADO JÚNIOR, 1966). 
LEITURA
COMPLEMENTAR
102
O modelo caiopradiano da revolução “agrária e nacional” – na aparência, 
simples inversão da fórmula “anticolonialista e agrária antifeudal” prescrita pela III 
Internacional aos países coloniais e dependentes – sugere uma grande transformação 
ao modo americano, no sentido de que aqui também era possível buscar dinamismo 
em um Oeste (o largo mercado rural) complementar a um Leste (nossa industrialização) 
insuficientemente modernizado. Diversamente da tradição comunista, Caio Prado atribui 
essa função a um protagonismo popular não camponês assentado em reivindicações 
trabalhistas da força de trabalho dos grandes setores da agropecuária, mobilizada por 
sindicatos estáveis e espalhados pelos municípios brasileiros. Fazendo decorrer a ideia 
de revolução agrária da sua interpretação de Brasil, o clássico pensa na renovação do 
mundo rural como avivamento de um capitalismo débil que, entregue à própria lógica, 
ver-se-ia incapaz de modernizar o país e abrir espaço aos contingentes devastados, 
particularmente os excluídos do sistema produtivo agrário.
Ao contrário do vazio social que Gilberto Freyre debitava às nossas “revoluções 
políticas”, Caio Prado referencia sua ideia de revolução agrária justamente na Abolição. 
É esta filiação que o historiador confere – às vésperas de 1964, tempo de urgências e 
radicalismos – ao Estatuto do Trabalhador Rural (1963), comparando o alcance desta lei 
ao impacto generalizante que tivera o 13 de maio de 1888, ao conformar o contingente 
nacional da força de trabalho livre. No caso, como proteção de direitos, o Estatuto viria 
a universalizar processos socioeconômicos por meio da expansão de sindicatos nos 
grandes setores da agropecuária, onde estava – vale repetir o autor – o núcleo estratégico 
da revolução agrária, do qual se difundiriam à economia rural impulsos transformadores 
sustentáveis: os assalariados e semiassalariados, os “empregados agrícolas”. 
Em vez de um “movimento camponês” pela terra confinado em poucas regiões, 
Caio Prado aposta na mobilização desse campo popular, único capaz de assegurar 
trabalho revolucionário expansivo, “em profundidade”, como ele dizia. Para além dos 
termos e paradigmas pecebistas, o historiador apresenta ao partido comunista uma 
teorização do rural derivado da sua hipótese sobre nossa gênese e evolução no sentido 
de um modernismo inconcluso. Como se observou no princípio destas notas, o autor 
propõe essa problematização nas categorias marxianas, mas, em vez de evocar um ser 
demiúrgico do processo modernizador, o “Capital”, como se vê em outros constructos 
acadêmicos, era o trabalho mediado por uma extensa mobilização social – por meio da 
forma sindical moderna – que ocupava centralidade no tema da modernização e da 
reforma do mundo rural.
Em artigo sobre o Estatuto do Trabalhador Rural publicado na Revista Brasiliense 
(1963), o autor diz que não se sustentava uma transformação completa da estrutura e 
organização dos grandes setores da economia agrária sem um amplo “movimento social 
reivindicatório”. Citemos o autor: “Seria naturalmente ingenuidade pura imaginar que 
um simples texto legal, estabelecendo a reorganização de nossas principais atividades 
agrárias e dando-lhes estrutura e funcionamento da produção completamente distintos 
e originais, tivesse a virtude, somente por si, e sem o amparo, impulso e instrumento 
de poderosas e ativas forças sociais, de determinar tais consequências. Ora não se 
103
apresenta nenhum sintoma ponderável da ação dessas forças. As reivindicações dos 
trabalhadores empregados na grande exploração rural brasileira vão noutro sentido que 
não o do fracionamento da base fundiária em que se assenta aquela grande exploração; e 
o da transformação deles, de empregados que são, em pequenos produtores individuais 
e autônomos. As reivindicações desses trabalhadores são as de ‘empregados’, que é a 
sua situação econômica e social. A saber, reivindicações por melhores condições de 
trabalho e emprego” (PRADO JÚNIOR, 1963, p. 6-7).
Esse grande “movimento social reivindicatório” poderia desequilibrar, a favor 
da força de trabalho, a lógica estruturante do mundo rural: a “contradição” entre os 
monopolizadores das condições de trabalho e os despossuídos rurais. Era essa, e não 
a contradição antifeudal e antilatifundiária, como pensavam os comunistas e outros 
grupos militantes, a “dialética econômica” que tensionava o mundo produtivo e rural 
brasileiro (PRADO JÚNIOR, 1966). Assim, em vez da fórmula marxista-leninista, era tal 
desequilíbrio que estimulava os conflitos pela terra, os quais, por serem pontuais e 
esporádicos, não possuíam amplitude suficiente para sustentar a renovação do mundo 
rural ao “modo americano”. Para Caio Prado, a luta pela terra, usando expressão bem 
mais contemporânea, não era a “questão política do campo” (MARTINS, 1982). O acesso 
à terra pressupunha forma associativa moderna e permanente; movimento esse que, 
afinal, se firmaria com a rede sindical inicialmente assentada por todo o país a partir da 
estruturação da União dos Lavradores e Trabalhadores da Agricultura do Brasil (Ultab), 
em 1954, e da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), em 1963, 
construções já mencionadas anteriormente. 
Façamos agora um outro tipo de observação: a pequena presença de Caio Prado 
na controvérsia do então chamado “objetivismo burguês”. Em um dos textos publicados 
na referida Tribuna de debates, na qual também vê a tributação como meio para forçar 
o acesso à terra, Caio Prado diferencia o ponto de vista do trabalho do tributo proposto 
nas teses oficiais, o qual aparecia “mais como medida de incentivo à produtividade 
das grandes propriedades” (PRADO JÚNIOR, 1960a; 1996, p. 69). Continuemos com o 
autor: “Essa melhoria não será trazida pelo simples aumento da produtividade, como 
mostramos anteriormente; e ocorrem mesmo frequentemente situações em que o 
aumento da produtividade agrícola é acompanhada pelo agravamento das condições 
de vida do trabalhador. A contradição fundamental na economia agrária brasileira reside, 
como vimos, na oposição de grandes proprietários e a massa trabalhadora efetiva ou 
potencialmente a serviço deles, seja qual for a forma das relações de trabalho vigente 
– salariato, semiassalariato, parceria ou formas mistas. É no terreno da luta social em 
que aquela oposição se manifesta, que a reforma agrária deve ser colocada. A par 
das reivindicações imediatas (legislação trabalhista, regulamentação da parceria em 
benefício do trabalhador etc.), figurará a facilitação do acesso da massa trabalhadora 
à propriedade da terra, o que determinará condições mais favoráveis à luta dos 
trabalhadores. A tributação, como medida essencial para aquele fim de proporcionar terra 
aos trabalhadores, deve, portanto, visar, em primeiro e principal lugar, o barateamento e 
a mobilização comercial da terra, e não a simples produtividade, que será consequência 
da reforma e não constitui condicionamento dela” (Id.: 69-70).
104
Mediado por tal tipo de movimento social, em Caio Prado o tema do trabalho não 
é mobilizado de modo impreciso nem constitui simples evocação do princípio marxista-
leninista da superioridade operária em relação aos seus aliados, mas advém de uma 
interpretação de Brasil. Aliás, a propósitoda “questão política do campo”, registre-se 
um ponto da bibliografia que está a merecer tratamento: por trás da busca da “questão 
política no campo” ou da “questão nevrálgica”, como preferia o historiador, radicam, a 
rigor, imagens de Brasil diferenciadas por suas origens e significados singulares. Em uma 
comparação entre Caio Prado e José de Souza Martins, já se apontou o par exploração 
versus expropriação (FARIA, 1990) como uma polaridade que distingue os autores em 
suas ênfases no trabalhismo e na terra, respectivamente. 
Também se sugeriu que esse mesmo par não apenas diferencia sindicatos e 
ligas camponesas, negociação e confronto, pressão por políticas públicas e reivindicação 
de terra, como também, no fundo, configura dois estilos de mobilização agrária. Vistos 
de um ponto amplo, tais polaridades expressam linhagens de interpretação do Brasil, 
cujas construções explicitam – isso é importantíssimo – modos desiguais de conceber 
a conexão teoriaprática; ponto este sempre reivindicado pelos grandes nomes desses 
mesmos campos intelectuais, sobressaindo-se Caio Prado Júnior como outsider do 
primeiro deles. Vale dizer, um militante pouco valorizado pelo partido comunista como um 
dos clássicos do nosso ensaísmo e não assumido plenamente, mediante interpelações 
a sua teoria do Brasil e excursos sobre a revolução, proveitosos que teriam sido para o 
pecebismo contemporâneo. 
Assim, à luz desse tipo de associação entre pensamento social e político, Caio 
Prado se nos afigura não apenas como pensador agrarista, mas também um dos pu-
blicistas constituintes do marxismo político brasileiro, como temos sugerido desde o 
princípio destas páginas. Ou seja, e dizendo de modo paradoxal, Caio Prado e Alberto 
Passos Guimarães (voltando ao outro autor comunista) respondem pelos registros mais 
expressivos dos êxitos de um partido que se esgotou com o fim da URSS. E falamos em 
êxitos, não obstante o partido comunista se exaurir na passagem aos anos 1990, após 
haver sido, em menos de um decênio, deslocado pelos novos grupos petistas, com a 
ajuda da Igreja, tanto do associativismo quanto do mundo intelectual. E isto mesmo 
que, neste mundo intelectual, os comunistas tenham produzido controvérsias de vários 
temas da chamada revolução brasileira, sempre expondo os seus argumentos, intramu-
ros e na esfera pública, quer nas suas publicações quer em espaços da mídia nacional. 
Com a distância do tempo e vendo as coisas a partir de hoje, podemos afirmar 
que a primeira e talvez a principal realização daquele partido comunista consiste em 
haver deixado na esquerda militante uma tradição de política democrática, anunciada 
em 1958 na sequência dos debates sobre o stalinismo. São elementos de uma cultura 
política valiosa por sua origem difícil (forçando passagem em meio ao marxismo-
leninismo e a posturas dogmáticas, algumas radicalizadas); uma cultura de esquerda 
também muito educativa, por causa da presença de não poucas ambiguidades, 
persistentes no PCB ao longo do tempo, mas não só nele, já que algumas ainda são 
visíveis hoje em outros grupos, inclusive do PT. Depois, mas não com menor importância, 
105
está o valor da contribuição dos comunistas para a melhora do mundo rural, tanto em 
termos da extensão de direitos (por meio do agrarismo sindical-camponês) quanto em 
relação ao que chamavam de “medidas parciais de reforma agrária”, cuja proposição 
mais significativa – recordem-se os tempos – teve início no imediato pré-64. 
Como igualmente já referimos, aquele tipo de sindicalismo prossegue em nossos 
dias na Contag, que ainda mantém certos traços antigos e faz lembrar a inspiração em 
Caio Prado. Por sua vez, foi por meio de um agrorreformismo de “soluções positivas” 
e gradualista, como aquele a que tende o PCB pelo menos desde meados dos anos 
1950, que viria a se consolidar – digamos ao velho modo – um campesinato, ao qual 
Alberto Passos Guimarães, em seu tempo, se refere como um campesinato ainda por se 
constituir. Um campesinato que, ao fim do “século do comunismo”, já se visualiza na figura 
da agricultura familiar, florescente aqui e em muitas partes do mundo desenvolvido. No 
entanto, como ainda veremos, Alberto Passos Guimarães e Caio Prado não são clássicos 
do marxismo político brasileiro apenas por trazerem até nós o registro intelectual da 
presença pecebista no nosso mundo rural.
[...]
FONTE: SANTOS, R. Agraristas políticos brasileiros. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 
2008. p. 13-20. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/59grm/pdf/santos-9788599662816.
pdf. Acesso em: 7 out. 2020.
106
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O Pensamento Social Brasileiro avançou consideravelmente a partir das contribuições 
dos autores marxistas Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior.
• Florestan Fernandes foi um dos maiores pensadores sociais brasileiros, 
ressignificando o papel histórico dos povos nativos brasileiros e dos negros.
• Caio Prado Júnior introduziu uma perspectiva economicista da formação do Brasil 
contemporâneo.
• Florestan Fernandes denunciou as dificuldades ainda sofridas pelo povo negro 
brasileiro pós-escravidão.
• Caio Prado Júnior percebeu padrões sociais no Brasil que sofreram poucas 
mudanças estruturais desde o período colonial.
107
AUTOATIVIDADE
1 Florestan Fernandes é um dos pensadores brasileiros que mais contribuíram com a 
Teoria Social, não só brasileira, mas de um âmbito mundialmente abrangente. Sua 
influência marxista e sua vivência adquirida em um contexto de severas dificuldades 
sociais em um Brasil em pleno desenvolvimento industrial, foram características que 
o autor afirma contribuírem com o teor de sua vasta obra. Partindo do pressuposto 
que observar de perto a realidade material que nos circunda constitui, juntamente ao 
conhecimento do processo histórico que a moldou, uma forte base à compreensão 
de nossa sociedade, podemos considerar o trabalho de Florestan Fernandes uma 
obra completa e muito significativa, tanto dentro como fora do espaço acadêmico. 
Considerando o conteúdo estudado no presente tópico e as principais contribuições 
de Florestan Fernandes, analise as sentenças a seguir:
I - Dentre uma multiplicidade de outros objetos de estudo, Florestan Fernandes 
se dedicou aos povos originários, sendo sua dissertação de mestrado e tese de 
doutorado dedicadas ao povo Tupinambá.
II - Florestan Fernandes era um autor estritamente acadêmico, ou seja, não se envolvia 
com a política nacional e não demonstrava seus posicionamentos políticos em sua 
obra. 
III - A obra de Florestan Fernandes muito contribuiu com denúncias acerca das 
dificuldades que o povo negro no Brasil sofre, mesmo depois da abolição formal da 
escravidão.
IV - O referido pensador brasileiro sustenta a ideia da existência de estruturas sociais 
sólidas, que só são rompidas a partir de resistências protagonizadas pelas classes 
que mais sofrem na sociedade.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
e) ( ) Somente a sentença I está correta.
2 Caio Prado Júnior representa outro intelectual brasileiro que inovou em sua perspectiva 
acerca da formação do Brasil contemporâneo. Para o sociólogo, a economia assumiu 
um papel importante na formação de nossa cultura e, consequentemente, de nossa 
política. O pensador acreditava também na existência de um “sentido da colonização”, 
que orientava as transformações culturais brasileiras a partir de seu desenvolvimento 
histórico. Outros dois conceitos importantes trabalhados em sua obra são os de 
108
“colônia de exploração” e “colônia de povoamento”, que consistem em classificações 
das colônias americanas de acordo com a intenção dos colonizadores europeus 
em relação a ocupação do novo continente. Sobre a teoria de Caio Prado Júnior, 
classifique V paraas sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Caio Prado Júnior focou seus estudos no papel dos povos indígenas e do negro no 
desenvolvimento do cultural do Brasil.
( ) Ao analisarmos a obra de Caio Prado Júnior, identificamos o papel preponderante 
da Economia no desenvolvimento social do Brasil.
( ) Para Caio Prado Júnior, o Brasil pode ser considerado uma colônia de povoamento, 
uma vez que os povos ibéricos sempre tiveram a intenção de fixar colônias de seus 
povos aqui a fim de desenvolver a Economia da colônia.
( ) Caio Prado Júnior identificou diferentes padrões de colonização nos Estados 
Unidos da América em relação aos países latino-americanos.
( ) O pensador brasileiro Caio Prado Júnior, identifica em sua obra um sentido 
explorador no que tange à ocupação ibérica em nosso território.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – V – V.
c) ( ) F – F – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V – V.
e) ( ) V – F – F – V – V.
3 Considerando as obras de Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior dois expoentes 
do Pensamento Social Brasileiro, torna-se de fundamental importância por parte do 
sociólogo o aprofundamento em suas respectivas literaturas. De acordo com o que 
estudamos no Tópico 3 do presente material, disserte sobre as principais colaborações 
de cada um desses pensadores em relação à Teoria Social Brasileira.
109
REFERÊNCIAS
BASTOS, E. R. Sessenta anos da publicação de um relatório exemplar. Sinais Sociais, 
Rio de Janeiro, v. 10, n. 28, p. 29-54, maio/ago. 2015.
FERNANDES, F. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global, 
2008.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática, 
1978.
FERNANDES, F. Capitalismo dependente e classes sociais na américa latina. Rio 
de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
FERNANDES, F. A organização social dos Tupinambá. São Paulo: Difusão Europeia 
do Livro, 1963.
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da 
economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.
FREYRE, G. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento 
do urbano. São Paulo: Global, 2013.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LIMA, A. S. Caio Prado Jr. e a polêmica “feudalismo-capitalismo”: pela desconstrução de 
consensos. Aurora, Marília, ano 2, n. 3, dez.2008. Disponível em https://revistas.marilia.
unesp.br/index.php/aurora/article/view/1195. Acesso em: 23 jun. 2020.
MARIOSA, D. F. Florestan Fernandes e os aspectos sócio-históricos de uma integração 
híbrida no Brasil. Sociologias, Porto Alegre, ano 21, n. 50, p. 182-209, jan./abr. 2019. 
Disponível em https://www.scielo.br/pdf/soc/v21n50/1807-0337-soc-21-50-182.pdf. 
Acesso em: 23 jun. 2020.
MELO, A. C. Saudosismo e crítica social em casa grande e senzala: a articulação de uma 
política da memória e de uma utopia. Estudos Avançados, São Paulo, v. 23, n. 67, 2009. 
Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ea/v23n67/a31v2367.pdf. Acesso em: 23 jun. 
2020.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. Brasília: Editora 
Brasiliense, 1961.
SANTOS, R. Agraristas políticos brasileiros. Rio de Janeiro: Centro Edelstein 
de Pesquisas Sociais, 2008. p. 13-20. Disponível em: https://static.scielo.org/
scielobooks/59grm/pdf/santos-9788599662816.pdf. Acesso em: 7 out. 2020.
110
111
TEMAS DA SOCIOLOGIA 
BRASILEIRA
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• analisar os principais debates sobre raça e identidade no pensamento sociológico 
brasileiro;
• reconhecer os aspectos fundamentais do processo de modernização no Brasil e 
suas implicações sociais;
• discutir os novos moldes da Sociologia Brasileira pós-1970, seus principais 
contribuintes e abordagens;
• abordar as principais problemáticas sociais contemporâneas do Brasil;
• sintetizar a conjuntura política brasileira contemporânea, apontando possíveis 
soluções sociológicas.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar 
o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
TÓPICO 2 – MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
TÓPICO 3 – A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
112
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
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113
TÓPICO 1 — 
RAÇA E IDENTIDADE NO 
PENSAMENTO SOCIOLÓGICO 
BRASILEIRO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
O conteúdo estudado nas unidades anteriores enfatizou, dentre outros assuntos, 
a multiplicidade de matrizes étnicas que compõem o Brasil. Tal fato contribui para que os 
debates em torno do tema raça estejam constantemente presente no meio sociológico 
brasileiro. Além disso, os debates identitários de maneira geral, ganham amplo espaço 
de discussões, sobretudo na contemporaneidade.
O presente tópico abordará as discussões brasileiras mais relevantes sobre raça 
e identidade, apresentando o pensamento de estudiosos brasileiros de temas raciais, 
de gênero e outros grupos identitários. O estudo de tal temática é imprescindível à 
compreensão das principais lutas, resistências, preconceitos, perseguições entre outros 
conflitos que são envolvidos pelas representações identitárias presentes no Brasil.
2 O DEBATE RACIAL NO BRASIL
Viver em um país no qual o povo foi formado a partir do contato entre uma 
ampla variedade étnica como no Brasil, demanda o entendimento acerca da existência 
dos muitos conflitos provenientes dessa multiplicidade de pessoas convivendo em um 
mesmo território. Vimos anteriormente que o Brasil foi formado a partir do embate entre 
diferentes povos, o que ocasionou a dominação e subjugação de uns por outros. Esse 
fenômeno foi responsável por uma cultura racialmente desigual, na qual alguns povos 
são, independentemente de seu grau de miscigenação, inferiorizados por outros que se 
sentem mais evoluídos, mais puros ou quaisquer sentimentos de superioridade.
A desigualdade racial no Brasil, assim como em qualquer lugar no mundo, resulta 
em mazelas sociais gravíssimas, submetendo grupos inteiros de pessoas a condições 
de vida inferiores às pertencentes a raças hegemônicas. Essa hegemonia racial de 
determinados povos não significa superioridade em nenhum aspecto, mas significa que, 
em um dado momento histórico, essa raça mais privilegiada se impôs em detrimento 
de outras que terão maiores dificuldade de se inserir na dinâmica social estabelecida. 
A discriminação e, consequentemente, o racismo são elementos presentes na 
sociedade brasileira, sendo temas amplamente discutidos em meio acadêmico, político, 
popular e diversas outras instâncias do pensamento social.
114
O autor Clóvis Moura (1992), reconstrói a trajetória do povo negro no Brasil, 
concebendo-o como “o grande povoador” do nosso território. O sistema escravagista 
foi responsável pelo tráfico em massa de africanos para as terras tupiniquins tomadas à 
força pelos colonizadores europeus. Por isso, de acordo com o autor, os negros africanos 
constituem um povo de suma importância à construção política, social, econômica e 
cultural de nosso povo, embora tenha sido excluído do usufruto das riquezas produzidas 
em nossas terras.
A história do negro no Brasil confunde-se e identifica-se com a 
formação da própria nação brasileira e acompanha a sua evolução 
histórica e social. Trazido como imigrante forçado e, mais do que isto, 
como escravo, o negro africano e os seus descendentes contribuíram 
com todos aqueles ingredientes que dinamizaram o trabalho durante 
quase quatro séculos de escravidão. Em todas as áreas do Brasil 
eles construíram a nossa economia em desenvolvimento, mas, por 
outro lado, foram sumariamente excluídos da divisão dessa riqueza 
(MOURA, 1992, p. 7).
Partindo da ideia de que onegro impulsionou de forma imprescindível o desen-
volvimento brasileiro desde o período colonial, constituindo boa parte de nossa popula-
ção, devemos considerar esse povo como um dos maiores tributários de nossa sociedade. 
É importante destacar que, apesar de servir ao trabalho de construção política, 
social, econômica e cultural do Brasil de forma mais significativa do que quaisquer 
outros povos que compõem nossa nação, por meio de trabalho braçal forçado, pesado e 
extremamente desumano, o negro brasileiro sofre até os dias de hoje com a segregação 
racial. Isso implica na discriminação que marginaliza o povo negro, tão fundamental à 
constituição de nossa sociedade, submetendo-o às condições de profunda desigualdade 
no contexto capitalista moderno.
Já mencionamos a importância do povo negro brasileiro, desde os estudos das 
obras de Gilberto Freyre (FREYRE, 2003; 2013), Sérgio Buarque de Holanda (HOLANDA, 
1995), Florestan Fernandes (FERNANDES, 1963; 1975; 1978; 2008), Caio Prado Júnior 
(PRADO JÚNIOR, 1961; 1981) e outros nomes do pensamento social brasileiro. 
Portanto, não é novidade, pelo menos desde o começo do século XX, que 
os negros africanos trazidos para o Brasil constituem boa parte de nossa história. 
No entanto, devemos estar cientes da luta desse povo pelo reconhecimento de sua 
condição de ator fundamental na construção de nossa sociedade, por condições iguais 
de trabalho, habitação, sociabilidade e, enfim, melhores condições de vida no Brasil 
contemporâneo.
As lutas por emancipação do povo negro brasileiro sempre estiveram presentes 
durante o período escravagista e, até os dias de hoje, contribui com o processo 
histórico de libertação dessas pessoas que tanto sofrem os efeitos do colonialismo. 
Além das resistências diretas à escravidão, manifestadas por meio de levantes, revoltas, 
desobediências aos senhores, fugas e diversos outros tipos, a “quilombagem”, de acordo 
115
com as palavras de Moura (1992), ganha destaque entre as lutas dos negros no Brasil. 
Por se tratar de um processo puramente violento, o escravismo, conforme Moura (1992), 
demandou, e demanda até hoje, uma resposta violenta como instrumento de ruptura. 
Ou seja, não seriam possíveis as conquistas do povo negro, inclusive a abolição formal 
da escravidão (erroneamente atribuída à princesa Isabel, que outorgou a Lei Áurea), por 
outras vias políticas que não envolvessem o radicalismo da ação direta e violenta de 
emancipação do povo negro escravizado no Brasil.
A quilombagem é um movimento emancipacionista que antecede, em 
muito, o movimento liberal abolicionista; ela tem caráter mais radical, 
sem nenhum elemento de mediação entre o seu comportamento 
dinâmico e os interesses da classe senhorial. Somente a violência, 
por isso, poderá consolidá-la ou destruí-la. De um lado os escravos 
rebeldes; de outro os seus senhores e o aparelho de repressão a essa 
rebeldia (MOURA, 1992, p. 22).
Considerando o trecho anterior, devemos reconhecer que são legítimos 
quaisquer movimentos emancipacionistas por parte dos negros no Brasil, inclusive 
aqueles fundados sobre bases violentas. Basta refletir sobra a violência histórica que 
esse povo sofreu durante séculos, sobretudo, em nosso território: o último a abolir 
formalmente a escravidão em todo o globo terrestre. 
FIGURA 1 – RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL. CARLOS LATUFF
FONTE: <https://escravidaobrasil.weebly.com/uploads/4/2/0/7/42076079/8328419.jpg?399>. Acesso 
em: 4 ago. 2020.
Outro autor que ressalta a importância do negro, no que tange à formação do 
povo brasileiro, é Darcy Ribeiro, destacando em sua obra o histórico apagamento de seu 
papel crucial em nossa formação como sociedade (RIBEIRO, 1995). O referido pensador, 
nosso conterrâneo, evidencia as sucessivas tentativas de negação e soterramento 
das tradições negras em nosso país por parte dos colonizadores europeus e seus 
descendentes ao decorrer da história do Brasil. 
116
A contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação 
daquela protocélula original da cultura brasileira. Aliciado para 
incrementar a produção açucareira, comporia o contingente 
fundamental da mão de obra. Apesar do seu papel como agente 
cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância 
crucial, tanto por sua presença como a massa trabalhadora que 
produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução 
sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial 
e cultural brasileiro com suas cores mais fortes (RIBEIRO, 1995, p. 114).
Levando em consideração o conteúdo exposto anteriormente, devemos 
conceber como legítimos os movimentos por emancipação negra presentes, até os 
dias de hoje, em nossa sociedade. Afinal, apesar de legalmente abolida a escravidão no 
Brasil, no final do século XIX, os negros ainda sofrem com o longo processo histórico 
de violentos abusos vivenciados por eles em solo brasileiro. Hoje em dia, o movimento 
de libertação do negro, tão como diversas manifestações culturais desse povo ainda 
são profundamente estigmatizadas por aqui. Sua religião, costumes, inserção social e 
política são cotidianamente tolhidos pela dinâmica capitalista contemporânea.
Atualmente, os movimentos sociais organizados pelo negro no Brasil contam 
com diversos coletivos que atuam em prol da liberdade, igualdade de direitos, inserção 
na dinâmica político-econômica, dentre uma infinidade de direitos que lhes foram 
historicamente negados. Um bom exemplo é o do MNU (Movimento Negro Unificado) 
que reúne muitos militantes favoráveis à causa negra no país. O Movimento Negro 
Unificado existe, oficialmente, desde o dia 7 de julho de 1978, quando foi lançado nas 
escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, reunindo cerca de duas mil pessoas.
O MNU (Movimento Negro Unificado) possui como principal objeto o enfrentamento 
ao racismo no Brasil. O MNU, por meio de seu Plano de Lutas do MNU, aprovado no 
17º Congresso Nacional, realizado em Salvador/BA, em 2014, divulgou seu Plano de 
Enfretamento ao Racismo, cujos principais parágrafos de seu estatuto versam: realizar 
campanhas de enfrentamento ao racismo, ao racismo institucional, à intolerância religiosa, 
ao machismo, à homofobia, à lesbofobia e à transfobia; fortalecer e ampliar em nível 
nacional a campanha “Não dê Bola pro Racismo”; apoiar/realizar campanhas contra o tráfico 
de mulheres e homens negros; contra a exploração sexual e tráfico de crianças e 
jovens negros; organizar debate sobre economia criativa e etnodesenvolvimento 
voltado à população negra; realizar seminários com as seguintes temáticas: 
juventude, mulheres negras, LGBT, infância e adolescência; realizar seminários/
encontros com operadores do direito filiados ao MNU; cobrar nos editais de 
concursos públicos e processos seletivos a igualdade de direitos étnicos e 
religiosos respeitando a expressão da identidade do povo negro e de religião 
de matriz africana. Mais informações podem ser acessadas por meio do 
endereço eletrônico a seguir: https://mnu.org.br/mnu/.
ATENÇÃO
117
Algumas atividades do Zacimba Gaba são acompanhadas por meio de sua 
página oficial no Facebook, acessada através do link https://www.facebook.
com/Coletivo-Zacimba-Gaba-ES-628179580924265/?ref=page_internal.
DICAS
O movimento negro no Brasil conta, desde o ano de 1975, com o Instituto de 
Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), que fomenta a capacitação de militantes que 
atuam em diversas instâncias. O IPCN contribui com a luta racial negra no interior de 
espaços políticos, culturais, intelectuais e diversos outros, sempre buscando o fim do 
racismo brasileiro e os Direitos Humanos fundamentais até hoje negado aos negros. 
O IPCN atuou junto ao Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo 
(GRANESQ) e também em blocos afros, como o Agbara Dudu. Auxiliou bailes de Black 
Music realizados em baixo do Viaduto Negrão de Lima, no bairro de Madureira, zona 
norte carioca, e outros locais onde as comunidades negras se concentravam.
FIGURA 2 – INSTITUTODE PESQUISA DAS CULTURAS NEGRAS E OS MOVIMENTOS DE COMBATE AO 
RACISMO NO BRASIL
FONTE: <http://artememoria.org/wp-content/uploads/2018/11/ATO-CONTRA-O-RACISMO-1024x691.
jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020.
O estado do Espírito Santo conta com o Coletivo Zacimba Gaba, movimento 
idealizado e criado com objetivo de acolhimento, diálogo, empoderamento e reflexão 
sobre a capoeira feminina do Espírito Santo. O grupo que incentiva a conservação da 
cultura afro-brasileira atua em diversos espaços capixabas e conta com o apoio de 
algumas instituições de ensino. 
118
Para quem não sabe, Zacimba Gaba foi princesa de Cabinda, na Angola, 
foi captura e trazida para o Brasil há cerca de 300 anos. Quem arrematou 
Zacimba, entre aproximadamente doze negros trazidos para o Porto 
da Aldeia de São Matheus, situado na Capitania do Espírito Santo, foi o 
fazendeiro português José Trancoso. A princesa sofreu diversos tipos de 
violência durante anos, inclusive estupro. Ela é mais um, entre múltiplos 
exemplos de pessoas capturadas na África e trazidas ao Brasil para 
trabalhar sob o regime de escravidão. Prova do desrespeito branco 
em relação à nobreza africana, submetida aos terrores do regime 
escravocrata brasileiro.
INTERESSANTE
O debate racial no Brasil não se limita apenas ao povo negro trazido da África. 
O povo nativo brasileiro, denominado “indígena” desde a época da invasão europeia, 
sobrevive até os dias de hoje em meio à dominação sócio-político-cultural dos invasores. 
As centenas de milhões de povos originários da América, existentes anteriormente 
à colonização europeia, foram reduzidas à aproximadamente cinco milhões de nativos. 
Em terras hoje consideradas brasileiras, a predominância nativa é de povos de linguagem 
tupi que, por meio de um processo histórico permeado por inúmeras guerras e disputas 
territoriais, destacaram-se em sua ocupação. 
Há quem diga que os povos nativos americanos viviam em plena harmonia 
antes da invasão europeia, porém, a raça humana sempre foi marcada por conflitos. 
Darcy Ribeiro (1995) evidencia em sua obra, um pouco da dinâmica de ocupação do 
território que viria a ser nosso país. Explicitando o caráter dominador de algumas etnias, 
Ribeiro (1995) registra a trajetória de alguns grupos de nativos pela América do Sul, tão 
como o processo de ocupação dessas terras. 
A costa atlântica, ao longo dos milênios, foi percorrida e ocupada por 
inumeráveis povos indígenas. Disputando os melhores nichos ecoló-
gicos, eles se alojavam, desalojavam e realojavam, incessantemente. 
Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons guerreiros, se 
instalaram, dominadores, na imensidade da área, tanto à beira‐mar, 
ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima, como su-
bindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé, o Tapajós, até 
suas nascentes. Configuraram, desse modo, a ilha Brasil, de que fala-
va o velho Jaime Cortesão (1958), prefigurando, no chão da América 
do Sul, o que viria a ser nosso país. Não era, obviamente, uma nação, 
porque eles não se sabiam tantos nem tão dominadores. Eram, tão-
-só, uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo tronco, 
dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais, ao crescer, se 
bipartia, fazendo dois povos que começavam a se diferenciar e logo 
se desconheciam e se hostilizavam (RIBEIRO, 1995, p. 29).
119
Contemporaneamente, o maior dos desafios do nativo brasileiro é a resistência 
às imposições sociais do homem branco invasor. Comparado aos tempos de colonização 
europeia no Brasil, são poucos os remanescentes de tribos indígenas concentrados 
no território brasileiro, menos ainda aqueles que conservam sua cultura e costumes 
ancestrais frente à dominação colonizadora. 
Ehrenreich (2014) narra em sua obra, a incapacidade dos colonizadores 
europeus em entender seu caráter invasor, fato que muito dificultou o avanço de sua 
dominação sobre os povos nativos do Brasil. Ehrenreich (2014) disserta um pouco sobre 
o processo de manipulação do povo Botocudo, instalados entre o que hoje corresponde 
aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Dentre os povos primitivos da América do Sul, são os Botocudos ou 
Aimorés os que requerem o maior interesse do etnólogo. Embora 
ainda hoje a maioria deles se encontre no nível mais baixo dos usos 
e costumes, não foi sem resultado que ofereceram resistência até os 
tempos mais recentes frente às influências exercidas pela civilização 
que os cercava, ao passo que as demais tribos indígenas da costa 
leste do Brasil estão, em parte, completamente dizimadas e, em 
parte, se submeteram à raça branca e negra do país, perdendo todas 
as suas particularidades tribais. Desse modo, os Botocudos são ainda 
hoje os senhores incontestáveis de suas florestas montanhosas, 
apesar de o seu antigo território já ter sido muito restringido. Nas 
proximidades imediatas da costa, a apenas poucos dias de viagem de 
portos muito frequentados, estando alguns deles em fase de plena 
florescência, uma parte da autêntica vida primitiva dos indígenas 
ficou conservada nas matas virgens entre o Rio Doce e rio Pardo, de 
um modo como acreditamos existir somente bem no interior desse 
incrivelmente vasto continente (EHRENREICH, 2014, p. 43).
Conforme Ehrenreich (2014), o povo Botocudo sofreu, desde a chegada dos 
europeus ao novo continente, diversos tipos de abusos como a coerção, escravização, 
embate direto dentre outros tipos de violência. A importância dessas pessoas em relação 
à formação do povo brasileiro é imensa. Os conhecimentos dos botocudos, quanto ao 
território e relações sociais locais, tão como sua força de trabalho foram explorados 
de maneira violenta pelo branco. Todavia, a resistência dessas pessoas sempre se fez 
presente, seja na forma de desobediência e/ou enfrentamento aos brancos, até hoje os 
botocudos são símbolo de força e coragem nativa.
Hoje, no Espírito Santo, existem tribos das etnias Tupiniquim e Guarani 
instaladas, principalmente, na cidade de Aracruz. Lá, esses povos têm a oportunidade 
de se concentrar e manter vivos muitos costumes ancestrais. Embora o contato com 
o homem branco tenha influenciado muito nos costumes desses povos, muitos deles 
ainda conservam sua língua, religião e diversas outras manifestações culturais. A cidade 
de Aracruz é referência capixaba em estudos indígenas, que contam com a boa vontade 
e acessibilidade por parte de muitos índios que concordam em difundir sua história com 
os demais ocupantes do Brasil, independentemente de sua origem.
120
FIGURA 3 – POVOS NATIVOS REMANESCENTES NO BRASIL
FONTE: <http://www.aracruz.es.gov.br/arquivos/turismo/Dana_dos_Guerreiros.jpg>. Acesso em: 9 ago. 2020.
 Embora bastante soterrada e contada em versões advindas de descendentes 
colonizadores, a história do índio brasileiro ainda pode ser acessada por meio de narrativas 
de descendentes indígenas. Daniel Munduruku (2010) representa um dos nomes 
indígenas que contribuem com o reavivamento da cultura nativa brasileira, mesmo em 
tempos de dominação de uma ciência fundamentalmente europeia, manifestada pela 
produção acadêmica contemporânea. A seguir, encontra-se o trecho de Histórias de 
Índio que retrata a vivência nativa brasileira.
Após o banho e a brincadeira, ele devia se ocupar de alguma tarefa com 
a mãe ou o pai. Não havia uma hora definida para começar esta atividade 
uma vez que Kaxi tinha percebido que os mais velhos diziam serem eles 
os senhores do tempo e não possuírem nenhum controlador do tempo 
- que ele descobriu mais tarde se tratar do kaxinug usado pelo homem 
branco para marcar as horas. Às vezes, saíam bem cedinho para a roça 
ou para a caça e a pesca, outras vezes iam só na parte da tarde, e outras, 
ainda, não iam a lugar nenhum, preferindo ficar em casa, conversando e 
pitando [...]. À medida que crescia, Kaxi ia sendo iniciado nos costumes 
tradicionais de sua tribo. Falava a gíria [...], caçava, pescava, plantava e 
colhia junto com os adultos (MUNDURUKU, 2010, p. 19).
O debate racial emtorno dos povos negro e nativo, hoje, transcendem o espaço 
acadêmico, ganhando as ruas e as mais diversas instâncias sociais. Os diálogos e 
enfrentamentos objetivam, principalmente, a emancipação dos povos que constituem 
a civilização brasileira. O sentido da palavra emancipação aqui empregado, consiste na 
busca por condições mais justas de sobrevivência frente à parcela da sociedade mais 
privilegiada em relação ao sistema social, político, econômico e cultural predominante no 
Brasil. Esse sistema é imposto desde os tempos coloniais brasileiros e perdura, sem grandes 
modificações estruturais, até os dias de hoje. 
Roberto Damatta é um autor brasileiro que também estuda povos nativos brasileiros. 
Um dos aspectos que o referido pensador ressalta acerca de povo originário do Brasil é, 
dentre diversos outros, sua organização social e aspectos gerais de sua cultura. O trecho a 
seguir diz respeito aos costumes de alguns povos nativos brasileiros e a concepção que os 
mesmos possuem acerco do conceito de tempo.
121
Assim, do mesmo modo que ocorre entre os apinayé do Brasil Central, 
grupo tribal que eu mesmo estudei e pesquisei (Cf. DaMatta, 1976), a or-
ganização de grupos de idades ajuda a sublinhar etapas de tempo pela 
referência a uma formalização típica dessas sociedades e, obviamente, 
não depende de qualquer característica ambiental natural. Os apinayé - 
como os nuer - marcam uma duração ou um evento do passado fazendo 
referência a um parente mais velho; como, por exemplo: "isso aconteceu 
no tempo em que meu Geti (avô) era moço..." Além disso, os nuer assina-
lam o tempo por meio de certas atividades. Mas ele jamais é individualiza-
do como algo concreto, conforme acontece conosco. É Evans-Pritchard 
quem diz: "Os nuer não possuem uma expressão equivalente ao 'tempo' 
de nossa língua e portanto, não podem, como nós, falar do tempo como 
se fosse algo concreto, que passa, pode ser perdido, pode ser economiza-
do e assim por diante. Não creio que eles jamais tenham a mesma sensa-
ção de lutar contra o tempo ou de terem de coordenar as atividades com 
uma passagem abstrata do tempo, porque seus pontos de referência são 
principalmente as próprias atividades sociais, que, em geral, têm o caráter 
de lazer." E conclui Evans-Pritchard, ironicamente: "Os nuer têm sorte"(Cf. 
EvansPritchard, 1978: 116) (DAMATTA, 1997, p. 22-23).
A resistência desses povos, manifestada em todos os âmbitos da sociabilidade 
contemporânea, é de fundamental importância à continuidade da busca por igualdade e 
respeito. Afinal, a base de toda nossa população é sustentada por tais etnias, sejam elas 
nativas ou inseridas em nosso território. Apresentamos, aqui, apenas uma amostra dos 
principais debates raciais brasileiros. Agora, trataremos de outros assuntos identitários 
de suma importância à sociedade brasileira.
3 O DEBATE ACERCA DA IDENTIDADE DE GÊNERO NO 
BRASIL CONTEMPORÂNEO
A identidade de gênero abre espaço para o debate de problemáticas delicadas e 
muito polêmicas em todo o mundo e, no Brasil, não é diferente: o tema ganha cada vez 
mais espaço ao passar dos anos. Devemos iniciar nossas ponderações sobre identidade 
de gênero esclarecendo o sentido que a expressão tomará em nossas análises. Por se 
tratar de um tema identitário, devemos ter em mente que a conversa gira em torno de 
um sentimento subjetivo. Ou seja, trata-se de como determinada pessoa se identifica 
em relação ao gênero. De outra maneira, identidade de gênero significa a maneira como 
um indivíduo se enxerga e suas implicações sociais.
Falar de identidade de gênero significa romper com a concepção tradicional de 
sexo biológico. Em outras palavras, não significa falar apenas de homem e mulher, mas 
também de outras identidades de gênero.
A identidade de gênero não está relacionada à orientação sexual da pessoa, 
então, não está relacionada ao tipo de gênero pelo qual sente ou deixa de sentir atração 
sexual. Significa, na verdade, a maneira com a qual o sujeito se identifica e a posição so-
122
cial que essa identidade assume. Posição social significa, no presente contexto, as im-
plicações relacionais às quais sua identidade de gênero está submetida. Isso quer dizer 
que a sociedade assume maneiras distintas de relacionar com determinados gêneros.
As relações de gênero no Brasil, assim como em boa parte do globo, estão 
impregnadas de valores patriarcais. O patriarcado consiste a ideia da suposta superioridade 
masculina nos mais diversos meios sociais. Isso quer dizer que, culturalmente, a sociedade 
brasileira está inclinada a conceber a figura masculina como dominante na sociedade 
em detrimento de quaisquer outros gêneros. Sendo assim, pessoas que se identificam 
como pertencentes a gêneros não enquadrados na categoria “homem cis heterossexual” 
– expressão na qual “cis” significa que o indivíduo assume sua sexualidade biológica, ou 
seja, identifica-se com o sexo com o qual nasceu –, tendem a sofrer diversos tipos de 
violência, principalmente por homens.
A ideia da supremacia masculina, resultante do já mencionado patriarcado, 
engendra uma ideologia e, consequentemente, um comportamento denominado 
machismo. O machismo é reproduzido principalmente por homens e se manifesta 
em todo o mundo. O machismo existente no Brasil, apesar de suas peculiaridades, 
decorrentes da especificidade histórica e geográfica brasileira, serve de fundamento para 
inúmeras opressões no seio da sociedade. As mulheres compõem o grupo de indivíduos 
que mais sofrem com as imposições e violências ocasionadas pelo machismo. Todavia, 
toda opressão desperta naturalmente um tipo de resistência. No caso do machismo, 
a resistência feminina deu origem a um forte movimento que vem ganhando força ao 
passar dos tempos: o feminismo.
FIGURA 4 – MANIFESTAÇÃO DO FEMINISMO BRASILEIRO
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/fe/mi/feminismo_lobby_do_baton_bb.jpg>. Acesso em: 
14 ago. 2020.
O movimento feminista brasileiro emergiu no século XIX de acordo com as 
demandas por educação feminina, direito feminino de participação política e inserção 
social. A condição da mulher brasileira, desde o período colonial, é de submissão em 
relação ao homem, que a submete a tarefas subalternas, tanto no seio familiar como no 
âmbito político, seja ela escrava ou livre. 
123
Como vimos na Unidade 1 de nosso livro, Nísia Floresta Augusta foi uma das 
precursoras do ideal libertário feminista no Brasil. Influenciada pelas ideias da inglesa 
Mary Wollstonecraft, Nísia escreveu diversas obras com o intuito de orientar as mulheres 
brasileiras em direção a uma vida digna e mais igual em relação aos homens. A professora 
brasileira foi grande influência no meio educacional e político, incentivando inúmeras 
mulheres a resistir aos abusos e violências patriarcais.
O feminismo é um movimento libertário importantíssimo e se manifesta por 
meio de inúmeras vertentes. Embora seja um campo do saber e uma manifestação 
política protagonizada pelas mulheres, o feminismo possui vertentes que contemplam 
os interesses de diversas outras classes. 
A referida luta acaba transcendendo a problemática exclusivamente feminina, 
buscando a atenção de demandas de outros grupos de pessoas que não possuem 
acesso a determinadas informações sobre a dinâmica social. Essas classes de 
indivíduos, que permanecem incapazes de reagir aos abusos e violências consequentes 
do sistema patriarcal, recebem atenção de algumas vertentes do feminismo, dentre 
elas, o feminismo marxista. Mary Castro (2000) nos conta como deve ser abrangente 
essa categoria de resistência feminina.
Engendrar um feminismo marxista, a partir de análises das 
experiências de mulheres de setores populares em movimentos 
e organizações de base, e re-acessando criticamente as teorias 
marxista e feminista não pode ser agenda exclusiva das feministas 
de esquerda, mas de todos os socialistas e comunistas inclusive, é 
importante que haja mais espaço e diálogo na mídia crítica marxista, 
nos partidos e na academiapara esse conhecimento. Nestes 
tempos, um feminismo marxista é mais que um gênero de feminismo 
(CASTRO, 2000, p. 108).
Outra importante autora brasileira é Heleieth Saffioti que, dentre outros 
assuntos, disserta sobre o lugar da mulher no sistema capitalista. Segundo Saffioti 
(1976), a mulher pertencente à classe trabalhadora sempre se viu obrigada a trabalhar 
para sustentar sua família, sobreviver e ajudar na construção das riquezas produzidas 
em suas respectivas nações. Ou seja, além de submetida às atividades domésticas 
tradicionais que o patriarcado lhe impunha, a mulher proletária trabalha, desde tempos 
considerados pré-capitalistas, em proporções semelhantes ao que o homem trabalha.
A MULHER das camadas sociais diretamente ocupadas na produção 
de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e 
lugares, tem ela contribuído para a subsistência de sua família e para 
criar a riqueza social. Nas economias pré-capitalistas, especificamente 
no estágio imediatamente anterior à revolução agrícola e industrial, 
a mulher das camadas trabalhadoras era ativa: trabalhava nos 
campos e nas manufaturas, nas minas e nas lojas, nos mercados 
e nas oficinas, tecia e fiava, fermentava a cerveja e realizava outras 
tarefas domésticas. Enquanto a família existiu como uma unidade 
de produção, as mulheres e as crianças desempenharam um papel 
econômico fundamental (SAFFIOTI, 1976, p. 17).
124
Em outra de suas obras, Saffioti (2004) aborda com mais ênfase as consequências 
violentas do patriarcado em relação não somente às mulheres, mas à violência sofrida por 
diversas outras classes devido à grande desigualdade vivida no Brasil. Além disso, a autora 
sustenta a teoria de que as desigualdades abrem espaço para conflitos que serão superados 
apenas quando a sociedade evoluir e negar suas contradições por meio do conhecimento. Sa-
ffioti (2004) acredita que o conhecimento, assim como o preconceito, é algo construído social-
mente, ou seja, a desigualdade é algo que nasce, é sustentado e perpetuado pelos indivíduos.
O mais preocupante são as gerações mais jovens, cujos atos de cruelda-
de para com índios, sem teto, homossexuais revelam mais do que into-
lerância; demonstram rejeição profunda dos não-idênticos. As desigual-
dades constituem fontes de conflitos, em especial quando tão abissais 
como no Brasil. Em casos como este, e eles existem também em outras 
sociedades, as desigualdades traduzem verdadeiras contradições, cuja 
superação só é possível quando a sociedade alcança um outro estado, 
negando, de facto e de jure, o status quo. Neste estágio superior, não 
haverá mais as contradições presentes no momento atual. No entanto, 
podem surgir outras no processo do devir histórico. Numa sociedade 
como a brasileira, com clivagens de gênero, de distintas raças/etnias 
em interação e de classes sociais, o pensa mento, refletindo estas su-
bestruturas antagônicas, é sempre parcial (SAFFIOTI, 2004, p. 37-38).
FIGURA 5 – PINTURA DA REVOLUCIONÁRIA FRIDA KAHLO QUE RETRATA A BANALIZAÇÃO DE ATOS DE 
VIOLÊNCIA E CRUELDADE CONTRA AS MULHERES
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/un/os/unoscuantospiquetitosfridakahlo-cke.jpg>.
 Acesso em: 18 ago. 2020.
Aproveitando as ponderações de Saffioti (2004) acerca das violências sofridas 
por pessoas consideradas diferentes da maioria, ou seja, os “não idênticos”, adentraremos 
em outro assunto, o preconceito contra a classe LGBTQ+. A sigla LGBTQ+ significa 
“Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Queer e outros”, também é uma 
sigla menos extensa para estabelecer orientações sexuais e identidades de gêneros 
não masculinos heterossexuais. Existem siglas mais completas como LGBTTTQQIAA: 
“Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Two-Spirits (Dois-Espíritos), Queer, 
Questionando, Intersex, Assexual, Aliado e Pansexual”. Utilizaremos a sigla LGBTQ+ para 
abreviar nossas abordagens. Segue, no Quadro 1, a maioria (pois a classificação está em 
constante expansão) das respectivas identidades de gênero definidas.
125
QUADRO 1 – LISTA COM AS PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE 
GÊNERO EMPREGADAS CONTEMPORANEAMENTE
• Lésbica: mulheres que sentem atração romântica ou sexual por outras mulheres.
• Gay: homens que sentem atração romântica ou sexual por homens. O termo também 
pode ser utilizado para mulheres homossexuais.
• Bissexual: pessoas que sentem atração (afetiva ou sexual) por ambos os sexos.
• Transgênero: pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e estão em 
trânsito entre gêneros.
• Transsexual: são pessoas que se identificam com um sexo diferente do seu 
nascimento. Por exemplo: uma pessoa que nasceu homem, mas se identifica como 
mulher, é uma mulher transgênero.
• 2/Two-Spirit (Dois-Espíritos): utilizado por nativos norte-americanos para 
representar pessoas que acreditam ter nascido com espíritos masculino e feminino 
dentro delas.
• Queer: pode ser considerado um termo “guarda-chuva”, englobando minorias 
sexuais e de gênero que não são heterossexuais ou cisgênero.
• Questionando: pessoas que ainda não encontraram seu gênero ou orientação 
sexual – estão no processo de questionamento, ainda incertos sobre sua identidade.
• Intersex: é uma variação de características sexuais que incluem cromossomos 
ou órgãos genitais que não permitem que a pessoa seja distintamente identificada 
como masculino ou feminino.
• Assexual: é a falta de atração sexual ou falta de interesse em atividades sexuais – 
pode ser considerado a “falta” de orientação sexual.
• Aliado: são pessoas que se consideram parceiras da comunidade LGBTQ+.
• Pansexual: é a atração sexual ou romântica por qualquer sexo ou identidade de 
gênero.
FONTE: <https://cutt.ly/VgYljFz>. Acesso em: 18 ago. 2020.
As pessoas que se identificam como pertencentes a qualquer uma das 
categorias LGBTQ+, assim como as mulheres que não se identificam com o referido 
grupo, são comumente vítimas de preconceito e discriminação entre muitos membros 
da sociedade patriarcal. Essas pessoas estão organizadas no Brasil em diversos 
coletivos e entidades, buscando basicamente sua ascensão social, o fim da violência e 
condições iguais de vida em um país onde existem muitas manifestações machistas, 
racistas, homofóbicas dentre outras agressões. 
 Dentre as organizações a favor dos direitos LGBTQ+ atuantes no Brasil, está 
a ABGLT (Associação Brasileira LGBT). A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) se define como uma organização 
brasileira cujo objetivo e missão são, desde o ano de 1995, a organização de ações que 
promovam a cidadania e os direitos humanos de pessoas que se autoidentificam como 
pertencentes a quaisquer uma das classificações LGBT. 
126
A organização contribui para a construção de uma nova sociedade, que seja 
democrática e na qual nenhuma pessoa seja vítima de discriminação, coerção e/ou 
violência, por causa de suas orientações sexuais e identidades de gênero.
FIGURA 6 – IMAGEM DE MANIFESTAÇÃO LGBTQ+ ESTAMPADA NO SITE OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASI-
LEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS, TRANSEXUAIS E INTERSEXOS (ABGLT)
FONTE: <https://bit.ly/34CVKiF>. Acesso em: 18 ago. 2020.
Uma das pessoas que se identifica pertencente ao grupo LGBTQ+ brasileiro e 
disserta sobre a problemática que envolve identidade de gênero no país é Berenice 
Bento (2006). Bento é uma mulher transexual que identifica em sua obra uma espécie 
de patologização das muitas identidades de gênero que fogem do padrão homem-cis-
heterosexual (BENTO, 2006). Ou seja, foi tratado como doente, desde o século XX, toda 
pessoa que não se identificava com seu sexo biológico, que buscou transformações 
físicas ou teve sua orientação sexual voltada a pessoas do mesmo gênero. Ao mesmo 
tempo em que foram criados padrões de comportamento sexual e identidade de gênero, 
foram tratadas como anomalias psíquicas as demais concepções subjetivas acerca da 
sexualidadeque fugia à norma tradicional da sociedade, sobretudo o que diz respeito às 
pessoas que se consideram transexuais.
A articulação entre os discursos teóricos e as práticas reguladoras dos 
corpos ao longo das décadas de 1960 e 1970 ganhou visibilidade com 
o surgimento de associações internacionais, que se organizam para 
produzir um conhecimento voltado à transexualidade e para discutir os 
mecanismos de construção do diagnóstico diferenciado de gays, lés-
bicas e travestis. Nota-se que a prática e a teoria caminham juntas. Ao 
mesmo tempo em que se produz um saber específico, são propostos 
modelos apropriados para o “tratamento” (BENTO, 2006, p. 40).
Podemos concluir o tópico dizendo que em uma sociedade fundada sobre terras 
colonizadas, na qual a escravidão foi formalmente abolida em tempos recentes e o pa-
triarcado interfere diretamente sobre a cultura nacional, a desigualdade se torna presente 
no cotidiano das pessoas e engendra diversos tipos de violência. O preconceito, discri-
minação e demais agressões sociais são fruto de um processo histórico que só pode ser 
modificado por meio de resistências organizadas, portanto, coletivos e organizações de 
classes são sempre um caminho rumo a rupturas comportamentais no seio da sociedade.
RESUMO DO TÓPICO 1
127
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O povo brasileiro foi formado por três raças fundamentais: brancos, negros e nativos 
americanos.
• A multiplicidade de raças e identidades brasileiras engendrou conflitos raciais e 
diversos tipos de violência.
• A resistência negra, assim como o movimento dos povos nativos brasileiros, é muito 
forte no Brasil, conquistando por meio de lutas, conflitos e resistências, múltiplos 
direitos a esses dois povos cruelmente dominados pela colonização europeia.
• O movimento de luta feminista no Brasil é responsável pela emancipação e garantia 
de direitos de milhões de mulheres, além de ajudar no combate ao machismo e à 
violência contra a mulher que o sistema patriarcal estimula.
• A luta LGBTQ+ é protagonista da resistência contra a homofobia e outras violências 
ocasionadas pela desigualdade de gênero no Brasil.
128
AUTOATIVIDADE
1 O Brasil é um país cujo povo é formado por múltiplas etnias, uma das consequências 
sociais de toda essa riqueza racial coexistente num mesmo território é a discriminação 
e o racismo – graves problemas sociais que abrem espaço para a violência. Como 
todo o tipo de opressão é passível a resistências de inúmeras naturezas, não seria 
diferente com relação à violência racial brasileira que oprime, principalmente, pessoas 
de matrizes étnicas africanas e nativas, desde o período colonial. Nesse contexto 
de desigualdade racial, emergem movimentos sociais a favor da emancipação, 
reivindicação por igualdade de oportunidades, fim da crueldade contra classes menos 
privilegiadas socialmente dentre outras lutas. Os movimentos negro e indígena do 
Brasil foram muito importantes para esses dois grupos étnicos. Considerando os 
desafios e conquistas de tais movimentos sociais, analise as sentenças a seguir:
I - O movimento negro muito contribuiu com o processo de libertação dos escravos 
brasileiros, todavia, até a contemporaneidade, esse grupo étnico sofre com a 
herança histórica do colonialismo brasileiro e com as desigualdades engendradas 
por uma sociedade racista.
II - Os nativos brasileiros, que são chamados de indígenas devido à generalização 
cultural praticada pelos colonizadores europeus, resistem no Brasil em algumas 
tribos remanescentes que conservam sua cultura ancestral, embora muitas sofram 
com a interferência da cultura colonizadora.
III - Embora a maioria dos livros de história recontem o fim da escravidão dos negros 
brasileiros do ponto de vista colonizador, atribuindo o protagonismo de tal evento à 
princesa Isabel e à Lei Áurea, os verdadeiros protagonistas foram os próprios escra-
vos que lutaram, resistiram e se organizaram em nome da liberdade de seus iguais.
IV - Sem os movimentos negro e indígena não haveria garantia de que os mínimos 
direitos atribuídos a esses povos pela sociedade contemporânea seriam concedidos.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
2 Outra herança que engendra muita violência no seio da sociedade brasileira é o sis-
tema familiar patriarcal. O patriarcado implica em uma cultura que supervaloriza a 
figura masculina, sobretudo, a dos homens adultos heterossexuais. Todo esse enal-
tecimento do masculino abre espaço para uma subcultura machista, que permeia o 
tecido social nacional fazendo vítimas. As vítimas do machismo que sofrem de ma-
129
neira mais direta com tal subcultura, herdada de nossas raízes colonizadas, são as 
mulheres. Todavia, muitas outras pessoas também são vítimas de tais violências. Em 
resposta às violências sofridas pelos homens de nossa sociedade, emerge o feminis-
mo brasileiro: conjunto de movimentos sociais e políticos que possuem como princi-
pais objetivos o empoderamento feminino, igualdade de direitos civis e ruptura com 
os padrões patriarcais da sociedade. Considerando esse importante movimento de 
luta feminina no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O movimento feminista no Brasil é responsável por inúmeras conquistas para 
as mulheres, dentre elas está sua gradual ascensão num mercado de trabalho 
dominado, assim como outras instâncias da vida social, pelos homens.
( ) O empoderamento feminino auxilia na resistência em relação aos abusos patriarcais 
e na busca por maiores níveis de respeito em um país no qual a sociedade herdou 
inúmeras violências e tempos coloniais.
( ) A sociedade brasileira emancipa seu povo de maneira natural, sendo assim, as 
mulheres brasileiras alcançarão sua liberdade e igualdade de direitos naturalmente, 
mesmo sem a presença de movimentos sociais que os reivindiquem.
( ) O feminismo brasileiro é uma ideologia que propõe o ódio aos homens como forma 
de protesto contra a violência cometida por eles.
( ) Sem uma resistência organizada por parte das mulheres brasileiras, poucos direitos 
teriam sido conquistados a elas desde o período colonial.
Assinale a opção que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F – V. 
d) ( ) F – F – V – V – V.
e) ( ) F – V – V – V – F.
3 As pessoas pertencentes ao grupo LGBTQ+ são vítimas de ódio e violência fomentados 
por diversas instituições no Brasil. Não é raro aprendermos na escola, na igreja, no 
ciclo de amigos ou no seio familiar que identidades de gênero e/ou orientação sexual 
divergente da norma homem e mulher heterossexuais cis são algo que foge à natureza 
humana. Esse fato faz com que a discriminação e o preconceito contra essa classe 
de pessoas seja algo de difícil ruptura em nosso território. Em meio à violência, ódio 
e discriminação sofridos por essas pessoas, muitas se organizam em movimentos 
LGBTQ+. Considerando o que aprendemos no primeiro tópico desta unidade, disserte 
acerca da importância de tais movimentos sociais para a classe LGBTQ+ no Brasil.
130
131
MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país vasto em território e recursos naturais que passou por um 
processo histórico particular em relação à América Latina e ao mundo. Apesar de ser 
uma nação que foi moldada sob os ditames do imperialismo europeu e habitado de 
maneira exploratória, o Brasil passou por um período de vultosos avanços materiais 
e tecnológicos durante os últimos séculos, continuando a se desenvolver até a 
contemporaneidade.
O presente tópico enfocará o processo de modernização brasileiro a partir da 
ótica de grandes autores nacionais, sintetizando os principais eventos que marcaram 
nosso desenvolvimento ao longo dos anos. O estudodesse tema é de fundamental 
importância à compreensão do desenrolar histórico de nosso país. No presente estudo, 
teremos acesso aos principais elementos e eventos que contribuíram com a formação 
do Brasil que conhecemos hoje. Aproveite!
UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 
2 A MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX
A economia brasileira do século XIX girava em torno, principalmente, da 
produção do café. Sua produção foi introduzida com sucesso no interior de São Paulo, 
onde a planta crescia com vigor e saúde, intensificando sua colheita. O Vale do Paraíba 
foi uma das localidades de destaque no início da produção cafeeira, que se expandiu 
para o oeste posteriormente. Embora tenha gerado bons frutos inicialmente, o cultivo 
do café no Vale do Paraíba declinou devido ao desinteresse dos produtores locais no 
investimento na modernização da agricultura, cuja principal característica no período 
era a adoção da mão de obra livre.
Além da demanda por mão de obra livre, pois essa também seria consumidora 
da produção nacional, multiplicando os lucros dos grandes produtores, ainda existia a 
demanda por extensões mais vastas de terra para o cultivo do café. Foi o que aconteceu 
na expansão para a produção em direção ao oeste paulista: imensidões de mata 
atlântica foram derrubadas para a implantação daquela cultura extensiva. Com as terras 
já preparadas para o cultivo, faltava agora a modernização dos “braços” que produziam 
o café. Sendo assim, foram implantadas, com mais intensidade, técnicas mecanizadas 
transporte, pilagem, ensacamento, pesagem. entre outros. 
132
A alta produtividade do café, que passou a ser voltada para o mercado exterior, 
fez com que aumentasse a demanda por transportes em massa do produto para os 
portos, cuja produção partia por meio de navios para outros países. Foi assim que o 
Brasil passou a investir massivamente em ferrovias e grandes locomotivas para que o 
escoamento do café fosse realizado de maneira mais rentável. Nasce, então, uma série 
de importantes linhas férreas que impulsionaram a modernização brasileira.
FIGURA 7 – A BARONEZA: PRIMEIRA LOCOMOTIVA DO BRASIL
FONTE: <https://cutt.ly/agYzT56>. Acesso em: 25 ago. 2020.
O desenvolvimento do transporte ferroviário na Inglaterra foi consequência direta da 
Revolução Industrial, que começou a ganhar força em 1830. Com isso, Dom Pedro II 
viu a necessidade de colocar o Brasil nos trilhos também. Foi aí que surgiu a ideia das 
construções das estradas de ferro, que seria um importante passo para uma nova era 
para a nação brasileira. Apesar de ser algo grandioso e que revolucionaria a economia 
nacional, as pessoas deram pouca importância ao fato. Foi só após Irineu Evangelista de 
Souza, o Visconde de Mauá, construir a primeira ferrovia do país, chamada de Estrada de 
Ferro Mauá, que o povo finalmente se deu conta do que estava acontecendo. A 
inauguração oficial aconteceu no dia 30 de abril de 1854, onde circulava pela 
primeira vez a Baroneza, guiada pelo Visconde num trecho de 14,5 Km a uma 
velocidade de 36 Km/h. O evento foi tão importante para a época que contou 
com a presença do Imperador Dom Pedro II e de toda a sua Comitiva Imperial. 
FONTE: <https://amantesdaferrovia.com.br/blog/a-baroneza-o-primeiro-trem-do-bra-
sil>. Acesso em: 25 ago. 2020.
IMPORTANTE
133
A modernização do transporte não foi o único avanço promovido pela cultura do 
café no Brasil. A vida nas cidades mudou de maneira drástica com o crescimento econô-
mico, físico e populacional de algumas delas. São Paulo, por exemplo, central econômica 
do Brasil, foi impulsionada pela prosperidade na produção cafeeira daquele período. Mon-
teiro Lobato (2009) retrata em sua obra, mesmo que de uma maneira um tanto quanto 
romantizada, o crescimento paulista a partir da cultura do café do final do século XIX. 
A quem viaja pelos sertões do chamado oeste de São Paulo empolga 
o espetáculo
maravilhoso da preamar do café. Aquela onda verde nasceu humilde 
em terras fluminenses. Tomou vulto, desbordou para São Paulo e, 
fraldejando a Mantiqueira, veio morrer, detida pela frialdade do clima, 
à beira da Paulicéia.
Mas não parou. Transpôs o baixadão geento e foi espraiar-se em 
Campinas.
Ali começou mestre Café a perceber que estava em casa. Corredor 
de mundo, viajante exótico vindo da Arábia ou da África, provara pelo 
caminho todos os massapés e sondara todos os climas.
Franzia o nariz, porém. Veio sorrir ali, ao pisar esse oásis do rubídio 
que é o oeste paulista. E arranchou de vez, para sempre, em sua casa.
Repete-se, então, o movimento bandeirante de outrora. Atrai o 
homem aventureiro não mais o ouro dissimulado em pepitas no seio 
da terra, mas o ouro anual das bagas vermelhas que se derriçam em 
balaios.
A região era todo um mataréu virgem de majestosa beleza.
Rasgara-o a facão o bandeirante antigo, por meio de picadas; o 
bandeirante moderno, machado ao ombro e facho incendiário na 
mão, vinha agora não penetrá-lo, mas destruí-lo.
Almas fechadas ao contemplativismo, nunca lhes amolentou o pulso a 
beleza augusta dos jequitibás de frondes sussurrantes como o ocea-
no, nem o vulto grave das perobeiras milenárias (LOBATO, 2009, p. 16).
Lobato (2009) enfatiza o crescimento populacional de São Paulo na última 
década do século XIX, que passou de 64.000 habitantes para 239.000 até o ano de 1900. 
Esse crescimento exponencial facilitou a modernização da cidade que hoje é a mais 
populosa do Brasil, com cerca de 12 milhões de pessoas. Outra cidade que prosperou 
com o movimento de urbanização, advindo da crescente modernização do país, foi o 
Rio de Janeiro. A capital carioca recebeu, no mesmo período, melhorias em termos de 
infraestrutura, como calçamento, gás encanado, redes de saneamento entre outras.
A modernização do Brasil, de meados do século XIX, refletiu também em 
avanços como a criação de dezenas de indústrias, diversos bancos, companhias de 
navegação a vapor, companhias de seguro, estradas de ferro, empresas de mineração, 
transporte urbano dentre diversos outros, apenas entre 1850 e 1860. A região sudeste 
foi a mais privilegiada pelos avanços proporcionados pela modernização, crescendo 
exponencialmente desde o início do referido processo. 
O processo de modernização brasileiro não trouxe apenas avanços e melhorias 
a nossa sociedade. Paralela ao progresso econômico, a desigualdade social cresceu 
também em ritmo acelerado. Se por um lado existe uma pequena classe que usufrui 
134
de maneira plena dos benefícios da modernização do Brasil, por outro, existe uma 
maioria de indivíduos que sofre com a superexploração do trabalho, com a miséria, com 
a violência e outras sobras da produção de riquezas no país. Contemporaneamente, 
nosso território é marcado por um abismo social que pode ser retratado pela Figura 8, 
a qual mostra como algumas pessoas são privilegiadas economicamente, vivendo em 
apartamentos seguros e confortáveis no Rio de Janeiro, habitam ao lado de uma grande 
quantidade de brasileiros que vivem as piores mazelas do capitalismo.
FIGURA 8 – MODERNIZAÇÃO E DESIGUALDADE NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/legacy/2018/11/28/favela-rj-1116795.
jpg>. Acesso em: 26 ago. 2020.
Um importante sociólogo brasileiro tenta buscar as origens da desigualdade 
acentuada pelo processo de modernização no Brasil a partir da explicação de um 
fenômeno global. Ruy Mauro Marini (2013) acredita que o subdesenvolvimento brasileiro 
e latino-americano, é fruto de sua submissão aos mandos e desmandos do sistema 
econômico mundial, capitaneado principalmente pelos Estados Unidos da América. 
O caráter imperialista dos países que dominam a economia mundial é um dos 
fatores que submetem os países da América Latina, inclusive o Brasil, a sua condição de 
subdesenvolvimento e pobreza.
A história do subdesenvolvimento latino-americano é a história 
do desenvolvimento do sistema capitalista mundial. Seu estudo é 
indispensável para quem deseje compreender a situação que este 
sistema enfrentaatualmente e as perspectivas que a ele se abrem. 
Inversamente, apenas a compreensão segura da evolução da 
economia capitalista mundial e dos mecanismos que a caracterizam 
proporciona o marco adequado para situar e analisar a problemática 
da América Latina (MARINI, 2013, p. 47).
O processo que proporcionou aos Estados Unidos da América o domínio do 
sistema capitalista, teve um forte marco com o final da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), quando o referido país conseguiu se sobressair economicamente e se tornar a 
135
maior potência de todo o globo. Sendo assim, abordaremos, no próximo subtópico, o 
processo de desenvolvimento e modernização brasileiros a partir do fim da Primeira 
Guerra Mundial. 
No referido período ocorreram fenômenos de suma importância em relação à 
modernização, desenvolvimento e desigualdade presentes até os dias de hoje no Brasil. 
Portanto, são imprescindíveis para o sociólogo os estudos acerca desse processo rico 
em acontecimento e fenômenos que compõem a história de nosso país.
3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO BRASILEIRO 
PÓS-PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
O advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) provocou profundas 
transformações em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os Estados Unidos da América, 
que entraram no primeiro grande conflito global no final do mesmo, saíram da guerra 
como a maior potência econômica mundial. 
O Brasil, grande exportador do café, que no final da Primeira Guerra era nosso 
principal produto, tinha os Estados Unidos como um dos principais compradores de 
nossa mercadora. Nossa economia, que girava em torno da produção cafeeira, agora, 
nos anos 1920, era impulsionada com a entrada de novas máquinas industriais e novas 
tecnologias. 
Os meios de comunicação brasileiros avançam no pós-Guerra, trazendo 
benefícios àquela parcela da população nacional que tinha acesso ao rádio, por exemplo, 
que revolucionou o sistema informacional no Brasil. 
O telefone também foi uma facilidade que a prosperidade econômica brasileira 
proporcionou ao povo mais abastado de nosso país, encurtando distância entre as 
pessoas. A crescente tecnologia foi só um dos aspectos da modernização brasileira. Esse 
processo de transformação ocorreu em diversos âmbitos no país, inclusive o âmbito 
material, político, social, habitacional, econômico, produtivo dentre tantos outros.
136
FIGURA 9 – A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA E AS PRIMEIRAS TRANSMISSÕES A RÁDIO OCORRIDAS NA 
DÉCADA DE 1920
FONTE: <https://informa.life/wp-content/uploads/2012/09/old_radio_1.jpg>. 
Acesso em: 24 ago. 2020
No dia 7 de setembro de 1922, o País celebrava os primeiros cem anos de existência 
fora das amarras do governo português. A cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, 
comemorava a data com alguns eventos oficiais – entre eles uma exposição 
que trazia, pela primeira vez ao território nacional, os principais aparelhos e 
instrumentos da tecnologia da radiodifusão, que já haviam atingido uma escala 
considerável em território norte-americano. Para demonstrar o funcionamento 
do principal “invento” da época, uma transmissão experimental foi realizada, 
tendo como palco o tradicional Teatro Municipal. Dali o público ouviu a voz do 
então presidente, Epitácio Pessoa, declamando as vantagens daquela nova 
tecnologia, seguida dos arranjos da ópera O Guarani, obra do compositor 
Carlos Gomes. Esses foram os sons da primeira transmissão radiofônica 
oficial da História do Brasil.
FONTE: <https://informa.life/90-anos-de-radio/>. Acesso em: 24 ago. 2020.
INTERESSANTE
A segunda metade de século XX marcou a modernização de nosso sistema 
produtivo. O maquinário destinado à potencialização da produção agrícola recebeu 
melhorias mais acentuada a partir da década de 1960. Considerando o contexto do 
referido período, marcado pelo fortalecimento das políticas de caráter socialista no 
Brasil, torna-se válido destacar que ocorreram eventos importantes no que se refere à 
vida no campo. 
Todavia, com a imposição da ditadura militar no país foi promulgado o Estatuto 
da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964). O mesmo estatuto propunha um 
modelo agropecuário concentrador de terras, que modernizaria seletivamente o campo, 
excluindo aqueles que vivem da produção em pequenas propriedades.
137
Uma das principais ações advindas do Estatuto da Terra foi a concessão de 
crédito para produtores rurais investirem em suas respectivas produções. A medida 
foi positiva para alguns trabalhadores do campo que, com acesso a maquinários mais 
modernos, melhores insumos e defensivos agrícolas. Lembrando que defensivo agrícola 
é um nome mais brando atribuído aos agrotóxicos, contribuindo para o disfarce de 
algumas das consequências destrutivas ao ser humano da produção em massa. Além 
dos prejuízos à saúde das pessoas, outra consequência social da modernização da 
agropecuária no Brasil é o monopólio de alguns poucos latifundiários que, prosperando 
a partir das ações do Estatuto da Terra, começaram a ocupar e concentrar cada vez 
mais terras para produzir, cultivando verdadeiros impérios. A formação de tais impérios 
foi extremamente prejudicial a milhares de famílias brasileiras que vivem no campo e 
ficaram sem terras para produzir, formando as primeiras resistências contra os efeitos 
deletérios da produção latifundiária.
Nos países centrais do sistema capitalista, a democratização do acesso à terra, a reforma 
agrária foi uma das principais políticas para destravar o desenvolvimento social e econômico, 
produzindo matéria prima para a nascente indústria moderna e alimentos 
para seus operários. No Brasil, nem mesmo as transformações políticas e 
econômicas para o desenvolvimento do capitalismo foram capazes de afrontar 
a concentração de terras. Ao longo de cinco séculos de latifúndio, também 
foram travadas lutas e resistências populares. As lutas contra a exploração e, por 
conseguinte, contra o cativeiro da terra, contra a expropriação, contra a 
expulsão e contra a exclusão, marcam a história dos trabalhadores. A 
resistência camponesa se manifesta em diversas ações e, nessa marcha, 
participa do processo de transformação da sociedade.
FONTE: <https://mst.org.br/nossa-historia/inicio/>. Acesso em: 24 ago. 
2020.
ATENÇÃO
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é a principal organização 
de trabalhadores rurais que luta pelos direitos fundamentais previstos no Estatuto da 
Terra e que não são atendidos. 
O pleno emprego, assim como consta no Art. 1° § 2º da Lei nº 4.504/1964, é um 
dos inúmeros direitos negados aos pequenos produtores rurais, que produzem a maior 
parte do alimento que milhões de brasileiros levam a mesa todos os dias. 
São esses os direitos reivindicados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais 
Sem Terra, ao contrário do estigma que a organização sofre no Brasil, sendo associada 
a invasores de terras que querem simplesmente expropriar os latifundiários quando, na 
verdade, buscam apenas a divisão das terras concentradas para o trabalho destinado 
ao sustento de suas famílias.
138
Desde meados do século XX, novas feições e formas de organização foram criadas na luta 
pela terra e na luta pela reforma agrária. Nas diferentes regiões do país, contínuos conflitos 
e eventos formaram o campesinato no princípio da segunda metade do século passado. 
A ditadura implantou um modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma 
modernização agrícola seletiva, que excluía a pequena agricultura. O regime militar foi 
duplamente cruel e violento com os camponeses. Por um lado – assim como todo 
o povo brasileiro – os camponeses foram privados dos direitos de expressão, 
reunião, organização e manifestação, impostos pela truculência da Lei de 
Segurança Nacional e do Ato Institucional nº 5. Por outro, a ditadura implantou um 
modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma modernização 
agrícola seletiva, que excluía a pequena agricultura, impulsionando o êxodo 
rural, a exportação da produção, o uso intensivo de venenos econcentrando 
não apenas a terra, mas os subsídios financeiros para a agricultura. 
FONTE: <https://mst.org.br/nossa-historia/inicio/>. Acesso em: 24 ago. 2020.
IMPORTANTE
O MST é resultado da união de diversos outros movimentos anteriores que se 
uniram em busca de seus direitos fundamentais à terra, ao trabalho e à qualidade de vida 
digna que todo o brasileiro merece. A imagem nos mostra alguns jornais publicados pela 
organização dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil, que lutam incessantemente em 
busca de um espaço em meio à concentração latifundiária.
FIGURA 10 – JORNAIS PUBLICADOS PELOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA QUE SE 
ORGANIZARAM NO BRASIL
FONTE: <https://mst.org.br/wp-content/uploads/2019/11/84-861.png>. 
Acesso em: 25 ago. 2020.
A modernização brasileira e os avanços tecnológicos nascentes no Brasil em 
decorrência dela, implicaram em outra transformação na dinâmica social brasileira: a 
intensificação da imigração. Principalmente, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro 
investiram em uma boa quantidade de mão de obra estrangeira antes mesmo da 
abolição da escravidão no final do século XIX. 
139
O governo imperial brasileiro estimulou a imigração europeia em massa para 
o Brasil, com o intuito de ocupar regiões ainda despovoadas pelo povo colonizador, 
além de suprir as demandas por trabalhadores livres nas lavouras de café. Sendo assim, 
diversas famílias de origem italiana, alemã, dentre outras nacionalidades, vieram para o 
país em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida, fugindo da 
pobreza vivida na Europa.
O contato com outros povos, advindos de outros países europeus e que ainda 
não haviam se estabelecido no Brasil, modificou, de maneira significativa, a sociedade 
brasileira, sobretudo, nossas relações sociais e nosso desenvolvimento urbano. Nossa 
cultura ficou ainda mais miscigenada, enriquecendo, por um lado, as relações entre 
pessoas de diferentes nacionalidades e, por outro lado, acentuando conflitos entre 
diferentes etnias, resultando na potencialização de violências como o racismo.
No próximo subtópico, apresentaremos a perspectiva de alguns dos mais 
notáveis pensadores brasileiros sobre o tema da modernização brasileira, expondo 
alguns aspectos de seus pontos de vista. Devido à riqueza de elementos que juntos 
moldaram nossa sociedade, cuja apreensão de maneira completa se torna muito difícil 
por parte de apenas um autor, teceremos algumas ponderações sobre as perspectivas 
de Álvaro Vieira Pinto, Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes do referido tema, 
enriquecendo nosso debate e ampliando nosso aparato intelectual relativo à formação 
do Brasil contemporâneo.
4 A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES 
DE ÁLVARO VIEIRA PINTO, RUY MAURO MARINI, CAIO 
PRADO JÚNIOR E FLORESTAN FERNANDES
Iniciaremos nossas discussões acerca da modernização brasileira analisada por 
autores brasileiros com a perspectiva de Álvaro Vieira Pinto acerca da tecnologia e sua 
relação com o desenvolvimento no Brasil. 
Pinto (2005) explica que, em seu ponto de vista, o subdesenvolvimento é algo 
intrínseco ao processo de modernização, ou seja, as desigualdades e a pobreza são 
consequências do caráter desigual e excludente do capitalismo globalizante. 
Tal sistema sócio-político-econômico atua de forma a explorar uma maioria de 
trabalhadores, que usufrui muito menos da riqueza que produz com seu trabalho ao 
mesmo tempo em que uma minoria, que trabalha menos, goza dessa mesma riqueza de 
forma plena. O mesmo acontece com a ciência e a tecnologia. Enquanto uma parcela da 
humanidade trabalha para produzir saberes e tecnologias novas, outra consegue tirar 
maior proveito dessa produção em detrimento dos que trabalham mais.
Só há saber novo com avanço técnico. Se uma parte da humanidade 
já demonstrava usufruir benefícios da apropriação social da 
140
tecnologia, restava ao intelectual engajado explicar as causas dos 
“entraves históricos” ao desenvolvimento nacional em países como o 
Brasil, rico e pobre ao mesmo tempo. Aliás, se existe um traço peculiar 
que pode ser atribuído à “geração isebiana”, com todo o exagero 
que essa expressão contém, esse traço pode ser reconhecido na 
atenção contínua às concomitâncias da sociedade. Trata-se de outra 
herança da Cepal: perceber que o subdesenvolvimento não é uma 
situação assemelhada ao passado do mundo desenvolvido. É, ao 
contrário, concomitante a ele e, na maioria dos casos, resultante da 
deterioração nos termos de troca entre as partes (PINTO, 2005, p. 8).
A situação de desigualdade que caminha junto à modernização do Brasil foi 
agravada, conforme Ruy Mauro Marini (2013), pelas políticas neoliberais impostas ao 
mercado exterior pelos Estados Unidos da América. 
O neoliberalismo é, de maneira resumida, uma ideologia/doutrina político-
econômica que prega a liberdade de concorrência mercantil, a ausência de regulação 
estatal da economia, abertura para o mercado exterior, supressão de assistência social 
por parte dos governos entre outras características. 
No Brasil, o neoliberalismo ganhou maiores proporções na segunda metade 
do século XX, quando nossos governantes abriram espaço ao capital estadunidense 
que buscou a ampliação de seu mercado para países de todos os continentes de 
forma intensiva após o término da Primeira Guerra Mundial, a fim de superar uma crise 
econômica. Esse foi mais um episódio da modernização brasileira que abriu espaço a 
novos e graves problemas sociais em nosso país.
Os governos de Café Filho e Juscelino Kubitschek, que se sucedem 
à grave crise política de 1954 produzida pela situação aqui descrita 
– encerrada pelo suicídio do presidente Vargas –, sendo, portanto, 
frutos do compromisso entre as classes dominantes em conflito, 
tratarão de encontrar uma fórmula de transação que permita 
superar a crise econômica, sem levar a um confronto definitivo entre 
as posições implicadas. O recurso escolhido foi abrir a economia 
brasileira aos capitais estadunidenses, a fim de romper o nó formado 
no setor cambial. A Instrução 113 da Superintendência da Moeda 
e do Crédito – Sumoc (atual Banco Central) cria o marco jurídico 
para essa política, cujo auge é atingido com o Plano de Metas do 
governo de Kubitschek, que acarreta cerca de 2,5 milhões de dólares 
em investimentos e financiamentos e empurra de novo a expansão 
industrial (MARINI, 2013, p. 115).
A maior abertura ao capital estrangeiro teve como uma de suas consequências 
a entrada de novas empresas estrangeiras em nosso território, fato que nos trouxe 
acesso a novos produtos, serviços e tecnologias por um lado, todavia, por outro lado, 
acentuou a exploração e a desigualdade social. 
Uma das causas desse retrocesso quanto ao abismo social entre classes 
econômicas no Brasil foi, dentre outras, a entrada de uma política trabalhista que 
desrespeita as normas da Consolidação das Leis do Trabalho brasileira. 
141
Um bom exemplo dessa precarização do trabalho decorrente do incentivo 
neoliberal estadunidense é o sistema de fast-food. As redes estrangeiras de 
alimentação rápida, submetem os brasileiros a escalas de trabalho pagas por hora, com 
um salário base muito inferior a um salário mínimo, sendo o complemento dessa renda 
responsabilidade do empregado, independentemente do movimento do comércio ou 
quaisquer outros fatores que influenciem as vendas.
FIGURA 11 – NEOLIBERALISMO, GLOBALIZAÇÃO E EMPRESAS MULTINACIONAIS INSTALADAS NO BRASIL 
E NO MUNDO
FONTE: <https://cutt.ly/DgYxPPZ>. Acesso em: 28 ago. 2020.
A competitividade entre os trabalhadores contemporâneos que vendem sua 
força de trabalho nesse novo Brasil modernizado, é mais acirrada do que nunca. 
Essa consequência do neoliberalismo no mercado de trabalho obriga a 
população a dispender muito mais tempo e energia com os estudos, sejam eles cursos 
de aperfeiçoamento, faculdades, pós-graduações, especializações e outros tipos de 
qualificação para conseguirem vagas de emprego disponíveis no mercado. 
No interior das empresase outras instituições que empregam os brasileiros, 
a competitividade incentivada pelos patrões para obtenção de melhores resultados e, 
consequentemente, maiores lucros, submete os funcionários a jornadas de trabalhos 
mais intensas em nome de bonificações, cargos mais elevados e até da própria 
permanência na instituição. 
Torres (2016) identifica que a racionalidade de gestores de empresas 
contemporâneas, que fomentam a competitividade, o excesso de trabalho realizado 
por classes sociais exploradas, o investimento no capital intelectual e financeiro que 
objetiva o lucro das organizações, transcendeu os espaços empresariais e adentrou à 
esfera pública. 
142
Essa nova inclinação de gestores públicos – sejam eles políticos e/ou pessoas 
que ocupam cargos que regulamentam a dinâmica social – à adoção de técnicas 
utilizadas no meio empresarial para o estímulo à produtividade e ao lucro é, conforme 
Torres (2016), altamente prejudicial à parcela da população que trabalha mais por 
salários menores. 
Isso se deve ao tempo, ao esforço, energia, saúde e outros elementos que a 
classe proletária deposita na competitividade trabalhista que, quando manifestada 
em meio público, incide sobre a busca por resultados numéricos que representam 
produtividade em diversas esferas da vida em sociedade. 
Um dos exemplos utilizados pelo referido autor se encontra na esfera carcerária, 
cuja produtividade do Poder Executivo é expressada por meio de políticas públicas 
que fomentam a competitividade por maiores números de prisões e apreensões, 
superlotando as prisões brasileiras.
Outra das características do neoliberalismo brasileiro é o retorno em massa 
das privatizações. Caio Prado Júnior (1981) reconstrói o processo histórico no qual o 
Brasil foi condicionado aos mecanismos econômicos estrangeiros, desde o período da 
colonização de nosso país. 
A dinâmica economicista neoliberal que vivemos contemporaneamente, seria 
a continuação de uma cultura exploratória a qual o Brasil foi submetido, considerando 
que a maior parte das riquezas aqui produzidas, quase sempre foram usufruídas por 
povos europeus.
Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos 
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais 
tarde ouro e diamante; depois algodão, e em seguida café, para o co-
mércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exte-
rior, voltado para fora do país e sem atenção e considerações que não 
fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade 
e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura 
social, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para es-
pecular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão 
de obra de que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais ele-
mentos, articulados numa organização puramente produtora, mercantil, 
constituir-se-á a colônia brasileira (PRADO JÚNIOR, 1981, p. 22).
Pacheco Júnior (2018) faz uma interpretação acerca da racionalidade de Caio 
Prado Júnior, especialmente no tocante ao modo de vida de países nos quais os povos 
colonizadores se instalaram com o objetivo maior de habitar as novas terras americanas. 
Para Pacheco Júnior (2018), Caio Prado sustenta a ideia de que no Brasil e na 
maioria dos países da América Latina, existiu um padrão de colonização explorador, no 
qual o lucro destinado aos países do exterior se sobressaía em detrimento das demandas 
internas do país. Enquanto isso, nas zonas temperadas da América, a ocupação das 
terras pelos colonizadores era muito mais voltada à habitação e enriquecimento locais.
143
Para as regiões situadas nas zonas temperadas da América, dirigiram‐
se fundamentalmente os ingleses, em função dos processos político‐
religiosos e econômicos que passavam no velho continente. Por um 
lado, a Inglaterra vivia um processo de privatização das suas áreas de 
pastagens, com os cercamentos das terras e a expulsão dos camponeses 
para as cidades; era o período de gestação das indústrias e uma 
nova forma de produção material da vida nas áreas em processo de 
urbanização; por outro lado, uma forte perseguição político‐religiosa 
aos puritanos ingleses. Caio Prado (2000) nos mostra que esse tipo de 
colonização parte de condições e circunstâncias especiais, pois nada 
tem a ver com a ação de traficantes e exploradores sedentos por lucro. 
Cita o autor: “o que os colonos desta categoria têm em vista é construir 
um novo mundo, uma sociedade que lhes ofereça garantias que no 
continente de origem já não lhes são mais dadas” (PRADO JÚNIOR, 
2000, p. 15 apud PACHECO JÚNIOR, 2018, p. 32).
O Brasil contemporâneo vive um período no qual as privatizações, venda 
de empresas estatais, estímulo à competitividade entre a classe trabalhadora e a 
potencialização de lucros particulares estão no auge. 
Se até o final do século XX existiram políticas voltadas à melhoria das condições de 
vida do povo brasileiro, hoje nossas empresas que geram as maiores receitas para nosso 
país e que poderiam ser convertidas na resolução de problemas sociais graves, estão sendo 
vendidas para o setor privado, ou seja, o lucro produzido por essas instituições e que seria 
convertido em melhorias públicas, fica retido na mão de empresas ou pessoas físicas. O ne-
oliberalismo implica em uma dinâmica político-social economicista, na qual a economia é 
sempre prioridade em relação à distribuição das riquezas produzidas no seio de nossa pátria.
FIGURA 12– REFLEXÃO SOBRE AS PRIVATIZAÇÕES E A VENDA CONTEMPORÂNEA DE EMPRESAS 
ESTATAIS BRASILEIRAS
FONTE: <https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2020/07/ASasASasAS.jpg>. 
Acesso em: 28 ago. 2020.
144
Florestan Fernandes (1975) acredita que a modernização no Brasil faz parte de 
um processo histórico intitulado revolução burguesa, que influenciou a construção 
do país sob os moldes capitalistas europeus. Embora influenciadas pela Europa 
colonizadora, a cultura e a política brasileiras foram construídas de maneira peculiar, 
considerando as tradições nativas, colonizadoras e dos escravos trazidos para cá.
[...] ao se apelar para a noção de ‘Revolução Burguesa’, não se pretende 
explicar o presente do Brasil pelo passado dos povos europeus. Inda-
ga-se, porém, quais foram e como se manifestaram as condições e os 
fatores histórico-sociais que explicam como e porque se rompeu, no 
Brasil, com o imobilismo da ordem tradicionalista e se originou a mo-
dernização como processo social (FERNANDES, 1975, p. 20-21).
A formação da civilização brasileira, tal como se configura hoje foi, segundo 
Fernandes (1975), orientada à atenção das demandas senhoriais. Ou seja, nossa cultura, 
política e economia foram moldadas de acordo com as necessidades dos herdeiros 
da riqueza produzida pela colonização. O formato do Estado, tão como o modelo 
econômico, as normas sociais e a modernização se desenvolveram a partir da dinâmica 
de produção de riquezas divididas de maneira desigual, cuja parcela da sociedade que 
mais trabalhou para construir nossa sociedade recebeu desproporcionalmente menos 
do que aqueles que herdaram os meios de produção.
Enquanto veículo para a burocratização da dominação patrimonialista 
e para a realização concomitante da dominação estamental no plano 
político, tratava-se de um estado nacional organizado para servir 
aos propósitos econômicos, aos interesses sociais e aos desígnios 
políticos dos estamentos senhoriais. Enquanto fonte de garantias dos 
direitos fundamentais do “cidadão”, agência formal de organização 
política da sociedade quadro legal de integração ou funcionamento 
da ordem social, tratava-se de um Estado nacional liberal e, nesse 
sentido, “democrático” e “moderno” (FERNANDES, 1975, p. 68).
Podemos afirmar que a modernização brasileira seguiu os padrões de 
desenvolvimento proporcionados, inicialmente, pela exploração de nosso povo nativo 
e dos escravos trazidos para o Brasil por meio do tráfico negreiro. Sendo assim, nossa 
cultura, políticae economia estavam, desde o início da invasão europeia, vinculadas ao 
sistema produtivo aqui estabelecido pelos colonizadores. 
Mais tarde, durante os séculos XIX e XX, a produção cafeeira brasileira foi a 
grande impulsionadora de nossa economia, trazendo avanços tecnológicos à agricultura, 
transporte e à urbanização. A partir daí, a modernização do Brasil avançou de maneira mais 
intensa, refletindo no êxodo rural, crescimento exponencial das cidades e suas populações. 
O investimento industrial que o país recebeu durante o século XX deu prosseguimento 
aos avanços tecnológicos que modificaram nossas relações de trabalho, produção e 
distribuição das riquezas aqui produzidas.
Diversos intelectuais brasileiros buscaram as raízes de nossa modernização 
em processos históricos que envolveram nosso modelo de colonização, o sistema 
produtivo aqui empregado, a exploração de nossos trabalhadores, a multiplicidade 
145
cultural miscigenada e diversos outros fatores. Os movimentos sociais também fizeram 
parte de nosso processo modernizador, auxiliando na luta pela distribuição de nossos 
recursos naturais e acesso às riquezas brasileiras àqueles que a produzem de maneira 
mais direta e intensa: por meio do trabalho braçal nem sempre assalariado.
Outro autor cuja menção é importante, principalmente no que diz respeito ao 
tema trabalho, é Octávio Ianni que, em sua obra O Mundo do Trabalho, disserta acerca 
das principais características do mundo do trabalho contemporâneo. Para Ianni (1994), 
a dinâmica do trabalho dos dias atuais acompanha o processo de globalização do 
capitalismo que, a partir das inovações materiais e metodológicas da referida esfera, 
transformou não só as relações de trabalho da maioria dos países do Globo, mas a 
estrutural social de países como o Brasil.
O que caracteriza o mundo do trabalho no fim do século XX, quando 
se anuncia o século XXI, é que este tornou-se realmente global. Na 
mesma escala em que ocorre a globalização do capitalismo, verifica-
se a globalização do mundo do trabalho. No âmbito da fábrica global 
criada com a nova divisão internacional do trabalho e produção – 
ou seja, a transição do fordismo ao toyotismo e a dinamização do 
mercado mundial, amplamente favorecidas pelas tecnologias 
eletrônicas – colocam-se novas formas e significados do trabalho. São 
mudanças quantitativas e qualitativas que afetam não só os arranjos 
e a dinâmica das forças produtivas, mas também a composição e 
a dinâmica da classe operária. A própria estrutura social, em escala 
nacional, regional e mundial, é atingida pelas mudanças. Na medida 
em que a globalização do capitalismo, considerada inclusive como 
processo civilizatório, implica a formação da sociedade global, 
rompem-se os quadros sociais e mentais de referência estabelecidos 
com base no emblema da sociedade nacional (IANNI, 1994, p. 2).
A obra de Ianni é de fundamental importância para o entendimento de questões 
nacionais e internacionais, sobretudo acerca do desenvolvimento do capitalismo globa-
lizado e sua influência sobre diversos aspectos sociais, inclusive brasileiros. Portanto, 
considera-se indispensável, a qualquer estudioso do Brasil e da América Latina, a leitura 
de seus estudos, que contribuíram de forma significativa com a Teoria Social Brasileira.
146
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O processo de modernização brasileiro foi impulsionado pela cultura do café 
consolidada no século XIX.
• Os avanços tecnológicos iniciais no Brasil, provenientes da produção cafeeira, foram 
direcionados ao setor de transporte com a construção das primeiras ferrovias.
• A modernização brasileira foi potencializada com os avanços tecnológicos, urbanos 
e sociais emergentes após a Primeira Guerra Mundial.
• Diversos autores brasileiros concebem a modernização do Brasil como parte de um 
processo histórico global.
• Alguns dos intelectuais nacionais consideram que a modernidade brasileira está 
condicionada às demandas dos países colonizadores, sobretudo os europeus e os 
Estados Unidos da América.
147
AUTOATIVIDADE
1 O processo de modernização do Brasil envolve uma série de fatores que constituem 
peculiaridades em nosso desenvolvimento quando comparado a outros países do 
globo. Colonizados por europeus, cujo objetivo maior era a exploração dos recursos 
naturais aqui existentes. Enquanto outras partes do continente americano eram ocu-
padas com vistas à construção de uma civilização desenvolvida, plenamente habitá-
vel e com clima semelhante ao da Europa, nossas terras eram destinadas ao lucro dos 
senhores e descendentes colonizadores. Isso implicou na formação de modelos de 
política, cultura e economia moldados de forma a dar atenção às demandas estran-
geiras, à busca pelo enriquecimento dos invasores por meio da exploração da mão de 
obra nativa e africana, intermediada pelo escambo e a escravidão. Considerando as 
particularidades da modernização brasileira em relação ao resto do mundo, classifi-
que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O desenvolvimento tecnológico, no Brasil, obteve grandes avanços a partir da 
agricultura que, além de receber investimentos em técnicas e equipamentos de 
produção, resultou no avanço de outros setores da economia brasileira.
( ) O processo de urbanização foi uma das principais consequências da modernização 
do Brasil, trazendo consigo o adensamento populacional dos grandes centros 
urbanos emergentes, sobretudo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
( ) As primeiras grandes estradas de ferro brasileiras foram fruto da modernização da 
produção cafeeira.
( ) O final do século XIX foi um marco da entrada das grandes multinacionais 
estadunidenses no Brasil.
( ) A troca da mão de obra escrava por mão de obra assalariada no Brasil fez parte do 
seu processo de modernização.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V – V.
b) ( ) V – V – V – F – V. 
c) ( ) V – V – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – V – F.
e) ( ) V – F – V – V – V.
2 A modernização brasileira, do início do século XX, foi responsável por inúmeros 
avanços tecnológicos, além de impulsionar o nascimento de diversos movimentos 
sociais de suma importância ao avanço de nossa sociedade. O crescimento 
econômico impulsionado pela cultura do café, principal produto voltado ao mercado 
exterior do referido período, foi um dos principais elementos que contribuíram com a 
modernização do Brasil. O final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão econômica 
148
dos Estados Unidos da América que conquistou a hegemonia mundial nesse aspecto 
após o primeiro grande conflito global, refletiu na intensificação da exportação 
cafeeira para o mesmo país norte-americano. Considerando o conteúdo estudado no 
Tópico 2 da terceira unidade de nosso livro didático, analise as sentenças a seguir:
I - A produção de café brasileira, sobretudo do oeste paulista, refletiu na instalação da 
malha ferroviária em nosso país, fator que muito facilitou o transporte terrestre de 
pessoas e mercadorias no Brasil.
II - Dentre os avanços tecnológicos que a modernização brasileira proporcionou 
a algumas parcelas da população, destaca-se a transmissão via rádio, que 
revolucionou nossa comunicação.
III - A telefonia brasileira também recebeu investimentos com o advento do pós-guerra, 
ganhando seus primeiros aparelhos telefônicos que encurtaram as distâncias entre 
aquelas pessoas que podiam investir nesse tipo de tecnologia recém introduzida 
em nosso território.
IV - A imigração europeia em massa para o Brasil também constituiu uma importante 
característica do modelo de modernização de nosso país, influenciando na forma 
com a qual o país cresceu de maneira multicultural.
V - Dentre os movimentos sociais que surgiram a partir da modernização agrícola no 
Brasil, está o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, que possui, 
como principal objetivo, a reforma agrária de maneira justa entre os trabalhadores 
do campo.Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentença IV e V estão corretas.
e) ( ) As sentenças I, II, III, IV e V estão corretas.
3 Dentre alguns dos principais tributários do pensamento social brasileiro que 
trabalham, além de outros temas, com o processo de modernização de nosso país, 
estão Álvaro Vieira Pinto, Ruy Mauro Marini, Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes. 
Esses pensadores contribuíram com os estudos do desenvolvimento histórico 
e os elementos centrais que influenciaram a modernidade brasileira tal como a 
concebemos hoje. Considerando o conteúdo estudado no presente tópico, faça um 
resumo das principais contribuições de cada um desses autores no que se refere ao 
processo de modernização do Brasil.
149
TÓPICO 3 - 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: 
NOVOS OLHARES
1 INTRODUÇÃO
Devemos ter em mente que a Sociologia Brasileira, assim como qualquer outro 
estudo, prática, trabalho ou quaisquer manifestações humanas, passou e passa por um 
processo histórico que a molda de maneira constante. Isso significa que o pensamento 
humano, por se tratar de algo fluido e integralmente em estágio de metamorfose, está 
passível a sofrer modificações ao passar dos tempos, de acordo com os fatores externos, 
materiais e imateriais que o influenciam. 
O Brasil passou por diversos momentos importantes e decisivos ao desenvol-
vimento da Sociologia, até ela se apresentar da forma que a concebemos contempora-
neamente. O último tópico de nosso material em Sociologia Brasileira, encerrará nossos 
estudos com uma breve reconstrução da Sociologia no Brasil, apontando os principais 
eventos e o desenvolvimento do referido campo do saber em um passado recente. Tal 
temática é de fundamental importâncias, não só para os futuros sociólogos ou pesqui-
sadores de áreas afins, mas para todas as pessoas que almejam compreender o desen-
rolar de nossa história e dos dias de hoje. Aproveite!
UNIDADE 3
2 SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: 
DA DITADURA MILITAR NO BRASIL ÀS PRINCIPAIS 
ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS NOS DIAS ATUAIS
A década de 1960 foi decisiva em diversos aspectos da história do Brasil. Isso 
se deve, principalmente, a um evento que influenciou de maneira incisiva a política, 
a cultura, a economia, os costumes, a educação e diversos outros âmbitos da vida 
brasileira em sociedade: a instauração da ditadura militar no Brasil, em 1964. O regime 
ditatorial em território brasileiro resultou em uma série de retrocessos ao nosso povo. 
Não foi diferente em relação à educação.
Desde a década de 1930, no Brasil, existia um forte debate acerca do futuro 
da educação no país. Os Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos 
educadores (1959) (AZEVEDO et al., 2010), publicados nos anos de 1932 e 1959, foram 
importantes documentos redigidos por educadores brasileiros com o objetivo de propor 
novas diretrizes para a educação nacional. O Manifesto dos Pioneiros da Educação 
Nova, escrito por 26 profissionais da educação, propôs uma nova política educacional 
que proporcionasse a emancipação do povo, igualdade de oportunidades e rompimento 
com os ideais políticos dominantes desde aquele período. 
150
Nós não devíamos, nem podíamos recuar diante da resistência dos 
ortodoxos, em face da extensão crescente da sociologia nos domínios 
da educação. O manifesto, em que a educação se encara como um 
processo social e se põe em relevo “o predomínio da ação que exercem 
os fatores sociais sobre os indivíduos”, acusa, certamente, na base e no 
desenvolvimento de seus princípios e de seu plano, uma consciência 
profunda das transformações que o poder crescente da indústria 
e do comércio impõe aos espíritos como às coisas, e, portanto, “o 
ponto de vista sociológico”, que considera um fato de estrutura social 
as transformações consequentes no sentido e na organização das 
instituições pedagógicas. É desse ponto de vista sociológico que aí se 
estuda a posição atual do problema dos fins de educação; é ele que 
nos fez encarar a educação como “uma adaptação ao meio social”, um 
processo pelo qual o indivíduo “se penetra da civilização ambiente”; é 
ele ainda que nos levou a compreender e a definir a posição da escola 
no conjunto das influências cuja ação se exerce sobre o indivíduo, 
envolvendo-o do berço ao túmulo (AZEVEDO et al., 2010, p. 26-27).
Podemos afirmar que, da década de 1930 ao final da década de 1950, os debates acer-
ca de uma educação mais igualitária, libertadora e com grande potencial de transformação 
social estavam acalorados. Os intelectuais da época, tão como as forças dominantes, tinham 
plena consciência do poder transformador e libertador da Educação. Sendo assim, o conflito de 
interesses entre essas duas classes que, de um lado prezava pela libertação de nosso povo por 
meio da educação e de outro resistia em nome da exploração de nosso trabalho, intensificou-se.
Os anos 1950 e 1960 foram marcados por um intenso debate sobre a educação 
brasileira. Muitos intelectuais e movimentos sociais formularam propostas para a 
organização de um sistema nacional de ensino mais democrático e popular, que 
superasse as desigualdades socioculturais, formasse cidadãos consciente de seus 
direitos e preparados para desafios econômicos. O Brasil era considerado uma 
pátria “mal-educada”, com índices de analfabetismo alarmantes. A polarização 
política que antecedeu ao golpe de 1964 também atingiu a educação. A sociedade 
brasileira fervilhava com projetos educacionais humanistas e inovadores que, 
mais tarde, sofreram diretamente os impactos da repressão.
FONTE: <http://memoriasdaditadura.org.br/livros-sob-censura/>. Acesso em: 29 ago. 2020.
ATENÇÃO
Os anos 1960 foram decisivos para a imposição do modelo educacional 
considerado ideal pela classe dominadora. A Ditadura Militar deflagrada em 1964, trouxe 
consigo uma dura reforma no modelo educacional nacional. O primeiro governador 
ditatorial do Brasil foi Castello Branco (1964-1967), cuja primeira medida promulgada 
por meio de um primeiro Ato Institucional (AI-1), foi a reforma universitária. Uma das 
primeiras políticas universitárias instituídas por Castello Branco foi o alinhamento dos 
professores universitários brasileiros com estadunidenses. Tratava-se do acordo MEC 
USAID (United States Agency for International Development). A sigla USAID traduzida 
para o português é Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. 
151
A fim de melhor compreendermos os acontecimentos que interferiram na 
dinâmica educacional brasileira do período militar, sugerimos que assista 
ao documentário Educação na Ditadura: a marca da repressão, disponível 
na plataforma YouTube, por meio do endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=YqDgaGNDads&ab_channel=UNIVESP. Nele temos acesso a uma 
série de entrevistas com especialistas sobre o assunto, que remontam as 
principais mudanças e retrocessos que a ditadura militar brasileira provocou 
ao modelo educacional do país.
DICAS
Os encontros dos profissionais da educação superior brasileira com os técnicos es-
tadunidenses, resultaram na produção do Relatório Meira Matos, nome do coronel do exército 
que o redigiu, orientando a reforma universitária e do ensino fundamental em nosso país. 
Em âmbito universitário, a medida fundamental imposta pelos militares era 
a redução dos custos com os estudantes. Ou seja, o referido relatório estabelecia o 
enxugamento dos recursos destinados à educação superior pública a fim de não 
comprometer os demais orçamentos do ministério da educação. 
FIGURA 13 – REFLEXÃO ACERCA DAS REPRESSÕES CONTRA A EDUCAÇÃO E A REFORMA UNIVERSITÁRIA 
INSTITUÍDA PELO REGIME MILITAR NO BRASIL
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/dm10(1).jpg>. 
Acesso em: 29 ago. 2020.
Rosa, Ribeiro Júnior e Torres (2018) identificam em sua obra uma tendência à 
adoção de métodos educacionais estadunidensesem escolas brasileiras, semelhante 
ao que ocorreu durante o regime militar brasileiro. Esse fato evidencia que o modelo 
educacional implementado durante a ditadura militar ainda possui resquícios na 
educação contemporânea. 
152
O ponto que mais chama a atenção na tentativa de implementação de políticas 
educacionais estrangeiras, principalmente estadunidenses, revela o despreparo ou, até 
mesmo, a falta de interesse e nosso corpo político em uma educação libertadora para o 
nosso povo. Uma educação desconectada de nossa realidade material e nossa cultura, 
representa um grande perigo ao desenvolvimento de nosso povo, que fica à mercê das 
demandas políticas e econômicas de países imperialistas. A perseguição aos ideais 
marxistas, que se contrapunham à exploração do trabalho, à desigualdade e à miséria 
a qual é submetido nosso povo, foi um dos fatores que mais influenciaram os moldes 
educacionais brasileiros durante a ditadura militar. 
A educação superior foi a mais lesada com essa disputa ideológica que resultou 
em censuras de obras de diversas naturezas, destruição de acervos inteiros de livros, 
perseguição, exílio, tortura e morte de intelectuais, dentre uma infinidade de outras 
barbaridades cometidas pelos militares em solo brasileiro. 
Livros são fundamentais para a formação cultural e política da população, para a 
preservação da memória dos povos, além de serem essenciais para a educação. O regime 
militar brasileiro impôs a censura contra livros que considerava perigosos, subversivos 
ou imorais. Nessa sessão, você conhecerá uma “biblioteca proibida” de livros censurados 
e saberá o que os censores escreviam sobre essas obras. Ao mesmo tempo, a ditadura 
sustentou a modernização de grandes grupos editoriais, favorecendo a concentração do 
poder econômico nas mãos de poucos empresários. Mas para os militares, censurar 
os livros não era suficiente: era preciso incentivar uma modernização editorial 
com controle político rígido. Essa ação se fez com o apoio à indústria gráfica e à 
produção de papel, além da criação de programas governamentais de compra de 
livros escolares, que favoreceram determinadas empresas e difundiram manuais 
alinhados com os valores conservadores. 
FONTE: http://memoriasdaditadura.org.br/livros-sob-censura/ Acesso em: 29 
ago. 2020.
IMPORTANTE
O regime militar foi responsável por muitas modificações nas diretrizes básicas 
da educação brasileira. A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, marca um momento de 
inserção da ideologia dos ditadores por meio da educação pública. 
Um dos artigos dessa legislação educacional, implementada no início da década 
de 1970, propõe o ensino de novas disciplinas como Educação Moral e Cívica, Educação 
Física, Educação Artística e Programas de Saúde como instrumentos de doutrinação a 
favor dos interesses dos dominadores. Observe: 
Art. 7º Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, 
Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos 
currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado 
quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro 
de 1969. (Vide Decreto nº 69.450, de 1971) (BRASIL, 1971).
153
A introdução dessas novas disciplinas foi acompanhada do deslocamento das 
disciplinas de Filosofia e Sociologia. Isso se deve ao fato de que os principais nomes 
tributários de tais campos do saber, que outrora tinham seus conteúdos lecionados de 
maneira obrigatória nas escolas públicas brasileiras, eram considerados subversivos à 
ideologia dos ditadores daquele período sombrio, violento e opressivo pelo qual o Brasil 
passou ao ser submetido ao governo militar compulsório.
FIGURA 14 – MANIFESTO ESTUDANTIL BRASILEIRO
FONTE: <https://cutt.ly/7gYvDVs>. Acesso em: 30 ago. 2020.
Da década de 1940 até a de 1970, a Sociologia conseguiu alcançar um nível de 
institucionalização mais avançado em todo o mundo. Tal processo implicou em um grau 
maior de formalização da disciplina dentro e fora das universidades. 
Isso quer dizer que a Sociologia recebeu maior atenção em diversas partes do 
mundo, sendo concebida como um campo independente do conhecimento em vários 
países. Até então, os estudos sociológicos haviam alcançado um momento de maior 
cientificidade e desprendimento de ideologias em relação aos períodos anteriores. Ou 
seja, nascia uma ciência livre de utilitarismos e voltada muito mais à compreensão dos 
fenômenos sociais do que a busca pelo enriquecimento, por exemplo.
Em síntese, entre 1940 e 1970 a sociologia parecia estar assentada 
sobre bases sólidas. Predominou neste contexto uma preocupação 
de identificar e defender um paradigma teórico particular que con-
substanciasse os princípios básicos da epistemologia sociológica. 
Embora não fosse consensual, havia por parte de muitos sociólogos 
um acordo tácito de que os princípios morfológicos básicos sobre os 
quais assentavam cientificamente o entendimento do mundo social 
– o grau de generalizações abstratas e universais, tanto a nível con-
ceitual quanto metodológico – já estavam construídos ou parcial-
mente construídos. Nessa perspectiva, a sociologia estava entrando 
finalmente nos “eixos”, isto é, em processo de rigorosa delimitação 
do seu campo científico, cuja plena consolidação poderia estabelecer 
mútuas conexões entre as diferentes orientações teóricas existen-
tes. A sociologia marchava a largos passos para finalmente atingir um 
estágio tão desejado de maior maturidade científica: desvincular-se 
definitivamente das tradições filosóficas e ideológicas. A vitória do 
sonho comtiano [...] (ALVES, 2010, p. 18-19).
154
A partir da década de 1970, o Brasil viveu a chamada Crise da Sociologia. O 
regime militar brasileiro foi um dos principais fatores que contribuíram para a emergência 
dessa crise. 
O choque cultural vivenciado no Brasil dos anos 1960 e a intervenção dos 
militares na política foram fatores que contribuíram com o declínio da Sociologia, 
considerada, dentre outros campos do saber, uma disciplina subversiva em relação aos 
preceitos dominantes. 
Em outras palavras, a Sociologia representava uma ameaça à ordem instaurada 
pelo regime ditatorial. Sendo assim, o governo dos militares instaurou uma série de 
reformas ao ensino da Sociologia, sobretudo o ensino universitário, adequando-o aos 
interesses capitalistas voltados ao crescimento econômico e alinhando seus métodos 
aos difundidos pela maioria das potências econômicas do mundo: os Estados Unidos 
da América. 
A chamada crise da sociologia dos anos 1970 é um fenômeno comple-
xo, pois abarcou aspectos muitos diferentes do universo intelectual, 
social e político do mundo ocidental. Embora os estudos sobre esse 
período se utilizem de diferentes perspectivas interpretativas (Marsal, 
1977; Picó, 2003), há um certo consenso de que a “crise” da sociologia 
desse período foi decorrente de mudanças culturais e de valores de-
senvolvidos pelos diversos movimentos sociais ocorridos na década 
de 1960. Muitos desses movimentos assinalavam para uma “revolução 
cultural” plasmada pelas transformações das condições materiais, de 
estilos de vida, de liberdades pessoais, explicitando os desajustes en-
tre a estrutura institucional da sociedade civil (como a universidade) e 
uma educação mais permissiva e democrática. Exemplo significativo é 
a “revolta estudantil” dos anos 1960 que, para a constituição do campo 
sociológico, foi uma das mais expressivas, pois, entre outros aspectos, 
colocou em questão a qualidade do ensino, a estreiteza das estruturas 
científicas, a deterioração das funções universitárias e o predomínio da 
sociedade tecnocrática (ALVES, 2010, p. 19).
O ensino dos anos 1970 passava a receber fomento estrangeiro, ou seja, 
incentivos financeiros por parte de outros países, principalmente os Estados Unidos, 
para que seus objetos de investigação estivessem muito mais voltados ao crescimento 
econômico daquele país do que quaisquer outros temas. 
A Sociologia estava perdendo seu caráter filosófico, as reflexõesincentivadas 
pelos financiadores de nossas pesquisas, estavam muito mais interessados na produção 
de riquezas do que no avanço intelectual do ser humano.
Nesse contexto, a sociologia objeto de ataque: pela sua colaboração com 
os planos reformistas; pela sua identificação com a teoria funcionalista 
americana; pelo seu “sociologismo” e fechamento às indagações filosó-
ficas; pelo seu caráter nomotético e uni-paradigmático. Além do mais, a 
nível teórico, os movimentos sociais levantaram questões importantes. 
Uma delas é referente à história: são os atores sociais que constituem o 
sujeito da história ou a história é dotada de uma lógica imanente, cons-
tituindo um processo sem sujeito? (ALVES, 2010, p. 19-20).
155
Até os anos 1970, as Ciências Sociais foram forjadas de forma a atender aos 
interesses reformistas dos militares no Brasil. Já, durante as décadas de 1970 e 1980, 
a Sociologia passa por transformações e retornam, em certa medida, aos seus moldes 
mais voltados ao entendimento da sociedade e seus fenômenos, desprendendo-se 
dos interesses estritamente dominadores e economicistas de tempos de ditadura. 
Sendo assim, a Sociologia retoma seu fluxo evolutivo, de maneira limitada, devido aos 
mandos e desmandos dos militares em nosso território, porém, retomando aos objetos 
de estudo anteriores e lançando mão de novas pesquisas. Sobre a manipulação das 
Ciências Sociais dos anos 1960 até 1970, Alves (2010, p. 28) afere que:
Essa situação sofre mudanças substanciais a partir das décadas de 1970 
e 1980. Com o relativo declínio do funcionalismo nos Estados Unidos e 
do estruturalismo na Europa, aparecem ou emergem orientações teóri-
cas novas ou parcialmente excluídas do panteão acadêmico. Digno de 
nota é a preocupação que os teóricos passam a ter pela integração das 
dicotomias estabelecidas nas ciências sociais. Há um renovado retorno 
aos seus clássicos, novas propostas de sínteses teóricas são formula-
das e, inevitavelmente, ressurge a preocupação com a metateorização, 
isto é, pelo questionamento das estruturas subjacentes à teoria. O mo-
vimento autoreflexivo, que os cientistas sociais passam a demonstrar, 
fez com que houvesse um retorno à filosofia. Autores mais alinhados 
com a filosofia do que propriamente com a sociologia – como Schutz, 
Merleau-Ponty, Paul Ricoeur, Michel Serres, Foucault, Habermas, Char-
les Taylor e Castoriadis – fazem usualmente parte nos programas das 
disciplinas sociológicas. Por outro lado, cientistas como Bourdieu, Gid-
dens, Luhmann, Jeffrey Alexander escrevem artigos de caráter eminen-
temente filosófico. Nesse contexto, a teoria da ação social recebe novo 
impulso, resultando na expansão do campo conceitual das ciências so-
ciais e, com isso, inaugurando novas problemáticas.
A Sociologia Brasileira passa, a partir das décadas de 1970 e 1980, a receber maio-
res influências de autores, sobretudo europeus, que realizavam abordagens mais volta-
da à questão das subjetividades, liberdades individuais entre outras. Além disso, emerge 
uma interdisciplinaridade no interior da Sociologia que transcende o espaço, até mesmo, 
das Ciências Humanas. Estariam inseridas nos estudos sociológicos, com cada vez mais 
frequência, problemáticas que adentram temas mais comumente abordados nas Ciên-
cias da Natureza, Filosofia, Medicina dentre outras áreas do conhecimento humano.
No presente trabalho, procuramos refletir sobre dois pontos. O 
primeiro refere-se ao processo de transformação da sociologia 
iniciado nas décadas de 1970 e 1980. Observamos que as ciências 
sociais (e com elas, a sociologia) perderam a relativa uniformidade 
disciplinar. Mais especificamente, houve uma diminuição do nível de 
consenso em torno das linhas de demarcação entre as ciências, sem 
que com isso tenha se eliminado a disciplinarização. A sociologia tem 
cada vez mais assumido um caráter multidisciplinar. Como resultado 
desse processo – e aí talvez esteja a grande novidade das ciências 
sociais contemporâneas – é o estabelecimento da reconciliação 
e novas alianças entre posições até então tidas como antinômicas 
entre ciências da natureza, ciências humanas e filosofia. As novas 
configurações que emergem das pesquisas em curso são usualmente 
atravessadas por polaridades múltiplas (ALVES, 2010, p. 28).
156
FIGURA 15 - REFLEXÃO SOBRE A REPRESSÃO AOS INTERESSES ESTUDANTIS CONSIDERADOS 
SUBVERSIVOS PELO REGIME MILITAR BRASILEIRO
FONTE: <https://static.poder360.com.br/2018/12/Top-Midia-1-868x644.jpg>. 
Acesso em: 30 ago. 2020.
A Sociologia Brasileira contemporânea está em seu ponto culminante, em termos 
de abordagens. Nunca se estudou a multiplicidade de temas como hoje. A Sociologia, 
hoje, transcende o campo estritamente sociológico do saber, adentrando as mais diversas 
áreas do conhecimento, uma vez que quase todo fenômeno, ou objeto da realidade, pode 
influenciar a sociedade e, consequentemente, a maneira com a qual vivemos. 
Feita a ressalva, podemos dizer que, partindo das discussões gené-
ricas, da divulgação e das “teorias gerais do Brasil”, a Sociologia se 
configurou afinal entre nós como disciplina caracterizada, embora 
sincrética, praticada cada vez mais por especialistas. Hoje é possível 
a formação adequada do sociólogo entre nós, devido à organização 
do ensino, relativa densidade do meio científico e solicitação cres-
cente da sociedade, em fase de grande progresso técnico e conse-
quente racionalização nos setores administrativo, assistencial e de 
planejamento. É fora de dúvida que a sociologia brasileira já existe 
como bloco, o que se verifica pela posição internacional que vem 
adquirindo aos poucos. Até aqui, projetava-se fora do país este ou 
aquele sociólogo, destacado como exceção graças ao mérito pes-
soal; hoje, sem prejuízo disso, é a nossa sociologia que começa a 
projetar-se em conjunto (CANDIDO, 2006, p. 301).
O trecho anterior reflete sobre o recente despertar do interesse do 
estabelecimento de uma Sociologia do Brasil e a formação de um ponto de vista 
sociológico legitimamente brasileiro. Assumir uma abordagem mais brasileira significa 
nos aproximarmos ainda mais de nossa realidade, afinal, o Brasil é um país de sociedade 
com inúmeras peculiaridades em relação ao resto do mundo. Aprender sobre a dinâmica 
social brasileira é de suma importância, principalmente para os pesquisadores, militantes, 
políticos e outros profissionais que almejam direcionar seus trabalhos à melhoria de 
nossa sociedade. Hoje observamos uma grande demanda por estudos sociais e 
políticos, tendo em vista a multiplicidade de crises que vivemos hodiernamente. Os 
novos movimentos sociais despertam, a cada dia que passa, o interesse por temáticas 
157
FIGURA 16 – PINTURA DE JOAQUÍN TORRES GARCÍA QUE REPRESENTA A IMPORTÂNCIA DA AMÉRICA DO 
SUL PARA OS SERES HUMANOS
FONTE: <https://iberoamericasocial.com/wp-content/uploads/2018/04/America-Invertida.jpg>. Acesso em: 
30 ago. 2020.
sociológicas que auxiliam no processo de libertação de nosso povo, na ampliação das 
liberdades individuais, no combate à miséria e à violência, dentre outras inúmeras 
possíveis intervenções. Os estudos sociais brasileiros e latino-americanos podem nos 
servir de ferramentas utilizadas a favor da mudança de paradigmas que dificultam o 
desenvolvimento da humanidade, tanto daqui, como de todo o Planeta.
O Brasil é um país que possui potencial para sustentar e alavancar o 
desenvolvimento humano durante muito tempo. Isso se deve ao fato de que nosso 
país possui uma vasta bacia hidrográfica, grande remanescente da Floresta Amazônica, 
muitos recursos minerais e muitos outros. Devido à crescente exploração irracional de 
tal riqueza, sobretudo durante os últimos governos brasileiros, estamos correndo o risco 
de perder tudo isso devido à má gestão do país por parte de governantes despreparados 
e políticas voltadas ao enriquecimento de uma minoria de pessoas. Sendo assim, é 
dever de todo o indivíduo e coletivo que almeja melhores condições de vida para os 
seres humanos, estudarnossa história e conjuntura política e social.
A Teoria da Dependência da América Latina foi um esforço intelectual de 
diversos pensadores latino-americanos que, trabalhando conjuntamente, elaboraram 
a tese de que:
158
Se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o 
resultado da superação do domínio colonial e do aparecimento de 
burguesias locais desejosas de encontrar o seu caminho de partici-
pação na expansão do capitalismo mundial; a teoria da dependência, 
surgida na segunda metade da década de 1960, representou um es-
forço crítico para compreender a limitações de um desenvolvimento 
iniciado num período histórico em que a economia mundial estava já 
constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e po-
derosas forças imperialistas, mesmo quando uma parte delas entra-
va em crise e abria oportunidade para o processo de descolonização 
(SANTOS, 2020, p. 18).
Outro tributário da Teoria da Dependência é Ruy Mauro Marini (2011) que, 
em sua obra, reflete dentre outros aspectos da dependência latino-americana, a 
crise do socialismo europeu, a revolução técnico científica e a ascensão da doutrina 
neoliberal, que boicotaram com os ideais e as políticas emancipadoras emergentes 
na América Latina do século XX. Conforme o autor, a economia de mercado impõe, 
contemporaneamente, políticas que perpetuam o subdesenvolvimento desses países, 
fundamentais à expansão e manutenção do capitalismo moderno.
A crise do socialismo europeu, a revolução técnico-científica e a 
difusão da doutrina neoliberal puseram em xeque, nos anos de 1980, 
os pontos de referência que se valiam os meios políticos e intelectuais 
mais progressistas da América Latina para pensar o futuro da região: 
os conceitos de desenvolvimento e de dependência. Seu lugar é 
ocupado hoje por palavras de ordem, entre os quais se destacam a 
economia de mercado, a inserção n processo mundial de globalização 
e a redução do Estado (MARINI, 2011, p. 213).
André Gunder Frank é outro pensador que contribuiu com a Teoria da 
Dependência. Dentre outras contribuições, Frank (2005) contextualiza a formação do 
Brasil como resultado de forças mercantis capitalistas globais. 
O autor também é tributário da ideia de que as condições de desenvolvimento 
de nosso país fazem parte da natureza do sistema sócio-político-econômico capitalista, 
que produz a própria condição de desenvolvimento e subdesenvolvimento dos países 
que fazem parte dessa trama.
O Brasil, em seu conjunto, por mais feudais que suas características 
possam parecer, deve sua formação e sua natureza atual à expansão 
e ao desenvolvimento de um único sistema mercantil-capitalista que 
alcança (hoje com exceção dos países socialistas) o mundo inteiro. [...] 
este sistema capitalista, em todo tempo e lugar – e é de sua natureza 
que assim seja –, produz desenvolvimento e subdesenvolvimento. 
Um é tão produto do sistema “capitalista” como o outro. [...] Chamar 
“capitalista” ao desenvolvimento e atribuir o subdesenvolvimento 
ao “feudalismo” é uma incompreensão séria que conduz aos mais 
graves erros políticos (FRANK, 2005, p. 58).
Vânia Bambirra é uma intelectual brasileira que também fez parte do processo 
de desenvolvimento da Teoria da Dependência. Em uma entrevista, a autora marxista 
conta um pouco da trajetória do grupo de pensadores que compuseram essa importante 
159
teoria que nos ajuda a compreender o processo histórico pelo qual o Brasil esteve e 
está inserido. A partir da compreensão de tal processo histórico é possível entender 
melhor as condições de desenvolvimento de nosso país, condições que podem ajudar a 
explicar nossas disparidades sociais.
E a gente então começou, era um grupo grande, era muita gente envol‐
vida... nós começamos [a estudar O Capital [...] fomos interrompidos 
pelo golpe [...] A ideia da teoria da dependência não tinha desabrocha‐
do. Claro que nas teses da Polop já havia, já se percebia, já estava ano‐
tado que as burguesias nacionais eram vinculadas ao imperialismo, a 
ideia da classe dominante dominada, que a gente vai desenvolver de‐
pois no Chile... Eu me lembro que você me perguntou pelo telefone... se 
por acaso a teoria da dependência tinha surgido na UnB. Eu digo que 
não, que realmente ela desabrochou, a equipe mesmo... foi composta na 
Faculdade de Economia da Universidade do Chile e no Centro de Estu‐
dios Socio‐Económico (Ceso) (BAMBIRRA, 2013, p. 32).
O ex-presidente da República brasileira, Fernando Henrique Cardoso, é um 
grande sociólogo adepto da Teoria da Dependência que acredita que a solução da 
maioria de nossos problemas sociais seria uma mudança política radical. O autor acredita 
que uma das vias transformadoras de nossas condições de pobreza e desigualdade se 
manifestaria sob a forma de uma revolução socialista.
As alternativas que se apresentariam, excluindo-se a abertura do 
mercado interno para fora, isto é, para os capitais estrangeiros, 
seriam todas inconsistentes, como o são na realidade, salvo se se 
admite a hipótese de uma mudança política radical para o socialismo 
(CARDOSO; FALETTO, 1977, p. 120).
O estudo dos autores mencionados anteriormente e suas respectivas teorias 
são de fundamental importância no que tange ao conhecimento da dinâmica social 
brasileira, sobretudo acerca do processo histórico no qual o Brasil está inserido e que 
resultou nas desigualdades que vivemos contemporaneamente. 
A Teoria da Dependência é uma das grandes teorias sobre o desenvolvimento 
e subdesenvolvimento dos países que compõem a América Latina, portanto, cabe 
reforçarmos nossa compreensão do referido tema com uma leitura complementar de 
um dos grandes tributários desse pensamento.
160
SUBDESENVOLVIMENTO E REVOLUÇÃO
Ruy Mauro Mariani
A história do subdesenvolvimento latino-americano é a história do desenvol-
vimento do sistema capitalista mundial. Seu estudo é indispensável para quem deseje 
compreender a situação que este sistema enfrenta atualmente e as perspectivas que 
a ele se abrem. Inversamente, apenas a compreensão segura da evolução da economia 
capitalista mundial e dos mecanismos que a caracterizam proporciona o marco adequado 
para situar e analisar a problemática da América Latina.
As simplificações nas quais, por sua limitação natural, este trabalho possa 
incorrer não devem fazer o leitor esquecer esta premissa fundamental.
A vinculação ao mercado mundial
A América Latina surge como tal ao se incorporar no sistema capitalista em 
formação, isto é, no momento da expansão mercantilista europeia do século XVI. A 
decadência dos países ibéricos, que primeiro se apossaram dos territórios americanos, 
engendra aqui situações conflitivas, derivadas dos avanços das demais potências 
europeias. É a Inglaterra, mediante sua dominação imposta sobre Portugal e Espanha, 
que finalmente prevalece no controle e na exploração desses territórios.
No decorrer dos três primeiros quartos do século XIX, e concomitantemente à 
afirmação definitiva do capitalismo industrial na Europa – principalmente na Inglaterra –, 
a região latino-americana é chamada a uma participação mais ativa no mercado mundial, 
como produtora de matérias-primas e como consumidora de uma parte da produção leve 
europeia. A ruptura do monopólio colonial ibérico se torna então uma necessidade e, com 
isso, desencadeia-se o processo de independência política, cujo ciclo termina praticamente 
ao final do primeiro quarto do século XIX, dando como resultado as fronteiras nacionais em 
geral ainda vigentes em nossos dias. A partir desse momento se dá a integração dinâmica 
dos novos países ao mercado mundial, assumindo duas modalidades que correspondem 
às condições reais de cada país para realizar tal integração e às transformações que esta 
vai sofrendo em função do avanço da industrialização nos países centrais.
Assim, num primeiro momento, os países que respondem mais prontamente às 
exigências da demanda internacional são aqueles que apresentam certa infraestrutura 
econômica, desenvolvida na fase colonial,e que se mostram capazes de criar condições 
LEITURA
COMPLEMENTAR
161
políticas relativamente estáveis. Chile, Brasil e, pouco depois, Argentina aumentam sensi-
velmente neste período seu comércio com as metrópoles europeias, baseado na exporta-
ção de alimentos e matérias-primas como cereais, cobre, açúcar, café, carnes, couro e lã. 
Paralelamente, utilizando inclusive o crédito oferecido pela Inglaterra, aumentam 
suas importações de bens de consumo não duráveis e dão início à construção de um 
sistema de transporte, através de obras portuárias e das primeiras ferrovias, abrindo 
assim um mercado complementar à incipiente produção pesada europeia.
A partir de 1875 certas mudanças no capitalismo internacional se fazem sentir. 
Novas potências se projetam para o exterior, em especial a Alemanha e os Estados 
Unidos, e este último país começa a instaurar uma política própria no continente 
americano, muitas vezes em choque com os interesses britânicos. No próprio campo do 
comércio, a influência estadunidense é considerável, tornando perceptível em alguns 
países, principalmente no Brasil, a tendência a direcionar suas exportações para a nova 
potência do norte.
Nos países centrais, por sua vez, aumenta o desenvolvimento da indústria pesada, 
com a tecnologia que lhe corresponde, e a economia se orienta a uma maior concentração 
das unidades produtivas, dando lugar ao surgimento dos monopólios. Esses traços, 
gerados pela acumulação capitalista realizada nas etapas anteriores, aceleram o processo 
e forçam o capital a buscar campos de aplicação fora das fronteiras nacionais, mediante 
empréstimos públicos e privados, financiamentos, aplicação em ações e, em menor 
medida, investimentos diretos. Portanto, diferentemente dos créditos externos utilizados 
antes e que correspondiam a operações comerciais compensatórias, a função que 
assume agora o capital estrangeiro na América Latina é subtrair abertamente uma parte 
da mais-valia criada dentro de cada economia nacional, o que aumenta a concentração 
do capital nas economias centrais e alimenta o processo de expansão imperialista.
Em parte pelo efeito multiplicador da infraestrutura de transportes e pelo 
afluxo de capital estrangeiro, mas principalmente devido à aceleração do processo de 
industrialização e urbanização nos países centrais, que infla a demanda mundial de 
matérias-primas e alimentos, a economia exportadora latino-americana conhece um 
auge sem precedentes. Esse auge está, no entanto, marcado por um aprofundamento 
de sua dependência frente aos países industriais, a tal ponto que os novos países que 
se vinculam de maneira dinâmica ao mercado mundial desenvolvem uma modalidade 
particular de integração.
Efetivamente, o desenvolvimento do principal setor de exportação tende, nos 
países dependentes, a ser assegurado pelo capital estrangeiro através de investimentos 
diretos, deixando às classes dominantes nacionais o controle de atividades secundárias 
de exportação ou a exploração do mercado interno. Mesmo os países que haviam se 
integrado de forma dinâmica à economia capitalista em sua fase anterior veem seu 
162
principal produto de exportação cair nas mãos do capital estrangeiro - como é o caso 
do Chile, primeiro com o salitre e logo com o cobre, ou da Argentina com os frigoríficos 
e do Brasil com o controle da exportação de café.
Ainda que não transforme fundamentalmente o princípio sobre o qual se assenta a 
economia dependente latino-americana, esse processo tem implicações de certo alcance. 
De fato, em contraste com o que ocorre nos países capitalistas centrais, onde a atividade 
econômica está subordinada à relação existente entre as taxas internas de mais-valia e de 
investimento, nos países dependentes o mecanismo econômico básico provém da relação 
exportação-importação, de modo que, mesmo que seja obtida no interior da economia, a 
mais-valia se realiza na esfera do mercado externo, mediante a atividade de exportação, 
e se traduz em rendas que se aplicam, em sua maior parte, nas importações. A diferença 
entre o valor das exportações e das importações, ou seja, o excedente passível de ser in-
vestido, sofre, portanto, a ação direta de fatores externos à economia nacional.
Contudo, nos países em que a atividade principal de exportação está sob o con-
trole das classes dominantes locais existe uma certa autonomia das decisões de inves-
timento – condicionada, evidentemente, pela dependência da economia frente ao mer-
cado mundial. Em geral, o excedente é aplicado no setor mais rentável da economia, que 
é precisamente a atividade de exportação que mais excedente produziu (o que explica 
a afirmação sobre a tendência à monoprodução); porém, para atender o consumo das 
camadas da população que não têm acesso aos bens importados, ou então como defesa 
contra as crises cíclicas que afetam regularmente as economias centrais, parte do ex-
cedente se orienta também para atividades vinculadas ao mercado interno. Por isso, em 
alguns países – como a Argentina, o Brasil ou o Uruguai –, ao lado de uma indústria vincu-
lada essencialmente à exportação (frigorífico, moinhos etc.), desenvolve-se uma indústria 
leve que produz para o mercado interno, indo além do nível artesanal e dando lugar, pro-
gressivamente, à implementação de núcleos fabris de relativa importância.
E diferente a situação dos países em que a principal atividade de exportação se 
encontra nas mãos de capitalistas estrangeiros. A mais-valia colhida na esfera do comér-
cio mundial pertence a capitalistas estrangeiros, e apenas uma parte dela – cuja magni-
tude varia de acordo com o poder de barganha de cada setor – passa à economia nacional 
através de tributos e impostos pagos ao Estado. Daqui se derivam duas consequências: 
redistribuída às classes dominantes locais – que por isso disputam o controle do Esta-
do –, essa parte da mais-valia se converte em demanda de bens importados, reduzindo 
consideravelmente o excedente passível de ser reinvestido; do mesmo modo, a parte da 
mais-valia que permanece em mãos do capitalista estrangeiro somente é investida no 
país se as condições da economia central assim exigirem. Partes substanciais da mais-
-valia são subtraídas do país através da exportação de lucros e, nos ciclos de depressão 
na metrópole, ela é transferida integralmente.
Deste modo, com maior ou menor grau de dependência, a economia que se 
cria nos países latino-americanos, ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do 
seguinte, é uma economia exportadora, especializada na produção de alguns poucos 
163
bens primários. Uma parte variável da mais-valia que aqui se produz é drenada para as 
economias centrais, pela estrutura de preços vigente no mercado mundial, pelas práticas 
financeiras impostas por essas economias ou pela da ação direta dos investidores 
estrangeiros no campo da produção.
As classes dominantes locais tratam de se ressarcir desta perda aumentando 
o valor absoluto da mais-valia criada pelos trabalhadores agrícolas ou mineiros, 
submetendo-os a um processo de superexploração. A superexploração do trabalho 
constitui, portanto, o princípio fundamental da economia subdesenvolvida, com tudo 
que isso implica em matéria de baixos salários, falta de oportunidades de emprego, 
analfabetismo, subnutrição e repressão policial.
A integração imperialista dos sistemas de produção
A consolidação do imperialismo como forma dominante do capitalismo internacio-
nal não ocorre de forma tranquila. No curso de sua evolução terá que passar por um período 
extremamente difícil, que se abre com a guerra de partilha colonial de 1914, avança com a 
desorganização imposta ao mercado mundial pela crise de 1929 e culmina com a guerra 
pela hegemonia mundial de 1939. A economia que emerge deste processo reestabelece a 
tendência integradora do imperialismo, mas agora em nível mais alto do que o anterior, na 
medida em que consolida definitivamente a integração na esfera do mercado e impulsiona 
a etapa da integração dos sistemas de produçãocompreendidos em seu raio de ação.
Em seu aspecto mais global, este processo dá lugar a tendências contraditórias. 
Por um lado, reforça o sistema imperialista, conformando um centro hegemônico de 
poder – os Estados Unidos – que impulsiona e coordena a integração, garantindo-a com 
seu poder militar. Por outro lado, conduz ao surgimento de um campo de forças opostas; 
o campo socialista, que nasce e se desenvolve no fogo dos conflitos engendrados pela 
própria integração imperialista.
Dada a limitação deste ensaio à análise do que acontece no interior do sistema 
imperialista, não podemos aprofundar o estudo dos fenômenos específicos que se 
verificam nas economias centrais. Assinalemos apenas que o processo de integração se 
acompanhada de uma expansão acelerada do setor de bens de capital, particularmente 
notável nas indústrias que, dentro deste setor, encontram-se vinculadas à produção 
bélica. Paralelamente ocorre uma hipertrofia do aparelho estatal, que se converte no 
principal agente de produção e consumo da economia, especialmente no que se refere 
à indústria de guerra.
Se bem é certo que a estatização e a militarização imperialistas se realizam em 
função do campo socialista, também é certo que obedecem à própria dinâmica do sistema 
e expressam os mecanismos básicos que o regem. Em última instância, esta dinâmica e 
estes mecanismos se referem à acumulação de capital no interior do sistema, que tende 
a concentrar – por meio da superexploração do trabalho nas economias periféricas – 
164
partes sempre crescentes da mais-valia nos centros integradores. O aumento do 
excedente passível de ser investido que estes centros dispõem, por muito que seja 
malgasto em atividades não produtivas – como a indústria bélica e a publicidade –, 
acarreta um aumento constante dos investimentos diretos nas economias periféricas, 
através dos quais se realiza progressivamente a integração do sistema produtivo destas 
economias ao sistema do centro integrador.
Este processo se coliga com o crescimento e a diversificação do sistema 
periférico. Por certo, a crise do mercado imperialista, que estoura na segunda década 
do século XX, tem como mais importante consequência a inviabilização da antiga 
forma de vinculação que antes se impunha na América Latina – a forma da economia 
primário-exportadora. Isso se manifesta como uma tendência permanente, que não 
se limita apenas aos períodos de retração do mercado mundial; pelo contrário: devido 
ao surgimento de novas regiões produtoras (impelido pela expansão imperialista) e 
ao desenvolvimento de produções similares ou substitutos artificiais nas próprias 
economias centrais, constantemente se reduzem as possibilidades de comércio da 
América Latina, ao mesmo tempo em que se reduzem os termos de troca.
FONTE: MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013, p. 47-54. Dispo-
nível em: http://www.unirio.br/cchs/ess/Members/debora.holanda/teorias-do-brasil-2019-01/unidade-3/
ruy-mauro-marini-subdesenvolvimento-e-revolucao/at_download/file. Acesso em: 23 out. 2020.
165
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O desenvolvimento da Sociologia no Brasil seguiu um padrão até os anos 1960, 
quando a intervenção militar interveio na maneira de se pensar a sociedade brasileira 
por meio de reformas educacionais.
• A Sociologia foi uma das disciplinas banidas do currículo escolar durante o regime 
ditatorial.
• A reforma universitária implicou no alinhamento de professores brasileiros com 
especialistas estadunidenses.
• A educação sofreu uma significativa redução em seus investimentos durante a 
ditadura militar.
• O ensino da Sociologia foi considerado subversivo por representar ameaça ao 
modelo político ditatorial.
• Dentre as transformações sofridas pela Sociologia após a intervenção militar 
brasileira, o foco foi no economicismo e na produção de estratégias de acumulação 
de riquezas por parte de classes privilegiadas.
166
AUTOATIVIDADE
1 A Sociologia no Brasil é, tão como no restante do mundo, uma disciplina responsável 
pela ampliação da percepção das pessoas em relação ao funcionamento da sociedade, 
suas implicações políticas, as injustiças e violências cometidas pelos governantes 
e outras classes, dentre uma infinidade de fenômenos. O poder de desconstrução 
de valores petrificados e, por vezes, ultrapassados, além da capacidade de elevar os 
níveis de consciência e níveis de raciocínio que possui a Sociologia, foram fatores 
que abalaram e continuam abalando as classes dominantes de todo o mundo. Isso 
acontece devido à alienação à qual nosso povo é submetido, pois é necessário que o 
povo esteja alienado da realidade social. Isso serve para que as classes dominadoras 
possam explorar seu trabalho e produzir riquezas das quais os trabalhadores 
que a produzem, de fato, não usufruem. Considerando os aspectos mencionados 
anteriormente acerca da importância da Sociologia, classifique V para as sentenças 
verdadeiras e F para as falsas:
( ) A Sociologia no Brasil pode ser considerada um instrumento utilizado a favor da 
libertação de nosso povo, tanto do modo de produção explorador dominante, como 
da cultura imperialista.
( ) O ensino da Sociologia pode contribuir para a formação de governantes mais 
conscientes, uma vez que são produzidas teorias políticas importantes no âmbito 
científico/acadêmico brasileiro.
( ) O regime ditatorial no Brasil foi um fator retardante em relação ao desenvolvimento 
da Sociologia no Brasil.
( ) A Sociologia foi considerada uma das matérias mais importantes na época da 
ditadura militar brasileira, recebendo incentivos por parte do exército, da marinha e 
aeronáutica brasileiros.
( ) O alinhamento entre professores universitários brasileiros e estadunidenses foi 
uma das estratégias de dominação utilizados no período ditatorial brasileiro.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – F – V.
e) ( ) V – V – V – F – V. 
2 O regime militar brasileiro foi um grande repressor, não só do ensino da Sociologia no 
Brasil, mas de múltiplas manifestações artísticas e culturais de diversas naturezas. O 
governo ditatorial se viu obrigado a reprimir todo e qualquer tipo de manifestação que 
se opunha à instauração de um regime que privilegiasse classes minoritárias do Brasil 
167
e outros países que se interessavam, sobretudo, na instalação de suas empresas em 
nosso solo. Nesse contexto, emergiram muitos movimentos sociais que reivindicavam 
por uma grande variedade de direitos tolhidos pelos militares, lutavam contra as violên-
cias e outros abusos cometidos pelo exército. A resposta dos ditadores foi truculenta, 
resultando no exílio, prisão, morte e tortura de diversos professores, artistas, líderes e 
membros de movimentos sociais libertários e contrários ao regime instaurado no ano 
de 1964. Considerando os absurdos cometidos pelo regime ditatorial no Brasil, e que 
foram relatados em nosso material de estudo, analise as sentenças a seguir:
I - Diversos professores foram expulsos do Brasil durante o regime ditatorial instaurado 
na década de 1960, sobretudo professores marxistas que consideravam abusivas 
as violências cometidas pelo regime militar.
II - Dentre os professores exilados pela ditadura militar brasileira, Paulo Freire, Darcy 
Ribeiro, Ruy Mauro Marini e Florestan Fernandes foram alguns dos que continuaram 
atuando mesmo no exterior de nosso país.
III - A Sociologia e a Filosofia foram banidas do currículo obrigatório do ensino público 
brasileiro durante o regime militar.
IV - A Sociologia era considerada subversiva pelos ditadores militares brasileiros por 
denunciar os abusos e incoerências das práticas dessa classe que foi responsável 
pela morte e tortura de milhares de brasileiros entre as décadas de 1960 e 1980 no 
Brasil.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somentea sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 Durante um longo período no Brasil, a Sociologia sofreu diversos tipos de limitação, 
censura e reformas que impediram que a disciplina se desenvolvesse de maneira 
natural. O período da ditadura militar brasileira foi um dos grandes entraves ao 
pleno desenvolvimento das investigações sociais brasileiras. De acordo com o que 
aprendemos no presente tópico, disserte acerca dos principais retrocessos que a 
Sociologia sofreu no período militar brasileiro.
168
REFERÊNCIAS
ALVES, P. C. A teoria sociológica contemporânea: da superdeterminação pela teoria à 
historicidade. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 25, n. 1, jan./abr. 2010. Disponível 
em: https://periodicos.unb.br/index.php/sociedade/article/view/5510. Acesso em: 23 
out. 2020.
AZEVEDO, F. et al. Manifestos dos pioneiros da educação nova (1932) e dos 
educadores (1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
BAMBIRRA, V. Teoria da dependência: lugar e papel das ciências sociais da UnB. 
Brasília: Biblioteca do Instituto de Ciências Sociais, 2013. p. 27-71. 
BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transsexual. 
Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
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de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/
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