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Introdução às técnicas projetivas e expressivas Prof.Roberto Sena Fraga Filho Descrição Introdução aos testes projetivos, expressivos e parâmetros básicos para aplicação dessas técnicas associadas aos demais métodos de investigação em Psicologia. Propósito Avaliação psicológica é um processo técnico e científico desenvolvido por meio de metodologias específicas, dentre elas, as técnicas projetivas e expressivas. É fundamental para os psicólogos e as psicólogas adquirirem competências básicas acerca do emprego desses instrumentos (testes psicológicos), uma vez que o uso profissional desses recursos é restrito aos psicólogos e às psicólogas com inscrição ativa em um conselho regional de Psicologia. Objetivos Módulo 1 Projeção, expressão e técnicas de avaliação psicológica Analisar o estudo dos conceitos na ciência psicológica e os construtos de projeção e expressão. Módulo 2 Considerações psicométricas nas técnicas projetivas Identificar os fundamentos da psicometria aplicados às técnicas projetivas. Módulo 3 Técnicas projetivas no contexto do psicodiagnóstico Reconhecer o emprego das técnicas projetivas e expressivas no psicodiagnóstico. Módulo 4 Considerações sobre as técnicas projetivas Descrever os testes projetivos e expressivos e as dimensões da personalidade. Introdução Podemos saber muitas coisas a respeito de uma pessoa em um desenho, na forma como ela conta uma história e até mesmo analisando pequenos tracinhos, riscados, em uma folha de papel. De forma sistemática, estruturada, com embasamento científico, essas formas de investigar personalidade estão presentes nos testes psicológicos de formato projetivo e expressivo. A avaliação psicológica é um requisito obrigatório na obtenção da carteira nacional de habilitação para conduzir veículos automotores terrestres e para atestar a aptidão psicológica no manuseio de arma de fogo, no processo, por exemplo, da obtenção do porte de armas. Em todos esses cenários e diversos outros, os testes psicológicos nos formatos projetivo e expressivo se constituem como fontes fundamentais de informação. O uso profissional desses recursos é restrito aos profissionais de Psicologia com uma inscrição ativa em um conselho regional de Psicologia. Vamos conhecer e valorizar essas técnicas e fortalecer cada vez mais a Psicologia como uma ciência e uma profissão? 1 - Projeção, expressão e técnicas de avaliação psicológica Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o estudo dos conceitos na ciência psicológica e os construtos de projeção e expressão. Sobre conceitos e construtos A Psicologia normalmente mensura variáveis psicológicas que não são observáveis como uma variável física, tais como peso, altura e o tempo. Nossos construtos são quase sempre hipotéticos (ERTHAL, 2009). Mas o que são construtos hipotéticos ou ideativos? Talvez agora essa seja a pergunta que precisamos responder. Quando pensamos nessa palavra, “conceito”, isso requer certo grau de abstração que varia entre conceitos de observação direta, indireta, construtos, até proposições de teorias (KAPLAN, 1969). Podemos definir para a finalidade deste material a palavra “conceito” como uma representação mental das coisas que nos cercam e, também, a compreensão que temos do significado das palavras da língua portuguesa. Um conceito vai traduzir uma representação mental dos objetos que nos cercam em função das características gerais que nosso sistema linguístico atribui a eles. Alguns objetos (ou fenômenos) podem ser observados diretamente, com ou sem ajuda de instrumentos, e isso facilita determinadas categorizações, por exemplo, o conceito de cachorro e de uma cadeira. Podemos reconhecer esse animal ou esse objeto por um conjunto de características comuns a eles, diretamente perceptíveis ao observador (observação direta). Os conceitos cachorro e gato nos permitem observar e reconhecer de forma direta. Podemos reconhecer e falar conceitualmente sobre os objetos que nos cercam, contar a nossa história de vida, mas, também, usarmos dessas representações mentais e das palavras para construir a linguagem científica. Quando comparamos a expressão da linguagem científica e a expressão da linguagem do senso comum, observamos que, eventualmente, uma mesma palavra pode expressar conceitualmente significados diferentes, pois evoca representações mentais distintas. O conhecimento científico é sistematizado e empírico, enquanto o conhecimento do senso comum é casual e intuitivo. Pensemos agora em outro tipo de conceito. Por exemplo, o tempo é um fenômeno que pode ser observado indiretamente, todos os dias, quando nos olhamos no espelho pela manhã. Lenta e gradualmente, os sinais do envelhecimento aparecerão em nossos rostos. Todavia, o tempo, como um construto para um físico teórico, ganhará outra complexidade. Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado à palavra aprendizagem, por exemplo, observando uma criança aprender a andar de bicicleta. Assim que constatarmos, por meio da observação, que essa criança adquiriu autonomia em pedalar, demonstrou equilíbrio, sem ajuda, vamos dizer “Essa criança aprendeu a andar de bicicleta.” Os processos mentais/cognitivos da aprendizagem em si não podem ser observados diretamente, mas as operações executadas pela criança, indiretamente, permitem fazermos a inferência que ela aprendeu a andar de bicicleta. Porém, se analisarmos a palavra aprendizagem como um construto teórico, vamos nos deparar com uma complexidade maior e recorrer às teorias de aprendizagem de autores como Skinner, Piaget, Vygotsky, dentre outros. Essas teorias são a expressão do que é um conceito hipotético ou ideativo (um construto). Apresentam hipóteses e formas diferentes de definir e investigar o aprendizado humano e dos demais construtos psicológicos. Uma teoria é um sistema teórico que estabelece uma ponte entre os conceitos de observação direta, indireta e os construtos. Estes últimos são elaborações hipotéticas que foram adotadas com uma finalidade científica predeterminada, para evidenciar/investigar, nesse caso, o que é aprendizagem, como aprendemos e nos desenvolvemos. Automaticamente, em nosso aparato psicológico, fazemos representações mentais das coisas, dos eventos de nossas vidas, categorizamos, agrupamos, generalizamos etc. E é por meio da linguagem (língua) que nossas representações mentais são comunicadas, como também externalizadas pelo comportamento em nosso jeito de ser e agir. Comentário Mesmo que não paremos em nosso dia a dia para refletir razoavelmente sobre isso, essa é nossa relação com a palavra “conceito”. Mas, para a ciência psicológica, é necessário que paremos para refletir sobre esses tópicos, pois dessas reflexões é que a Psicologia como ciência e profissão será materializada. Construtos teóricos da Psicologia Se perguntarmos para nossos amigos e familiares o que eles entendem por personalidade, vamos encontrar explicações distintas, mais ou menos próximas de uma definição conceitual científica. Em linhas gerais, podemos definir personalidade, sem dúvida, um dos construtos mais investigados pela ciência psicológica, como um conjunto de características razoavelmente estáveis de uma pessoa. Podemos melhorar um pouco esse conceito? Vamos lá: Personalidade: os aspectos internos e externos peculiares relativamente permanentes do caráter de uma pessoa que in�uenciam o comportamento em situações diferentes. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2015, p. 9) Definições dessa natureza, em certa perspectiva, são problemáticas, pois abrem outras perguntas, por exemplo: o que são essas características? Quais são os aspectos internos e externos? O que é caráter? Quais comportamentos e qual o grau de variação dessas situações que impactam a personalidade? Quando trabalhamos com um conceito muito complexo, como é o caso da personalidade, tratamos o mesmo como um construto e recorremos a diversos sistemas teóricos para buscar responder a perguntas específicas e derivadas. Mas, é importante destacarque definições abrangentes como essa são o ponto de partida. Quando materializamos um construto na ciência psicológica, duas definições são fundamentais: Uma definição constitutiva é necessária, principalmente quando temos um construto que é definido por meio de outros construtos que existam em uma teoria. É o caso da personalidade, por exemplo, que pode ser medida por meio de outros construtos, como necessidades psicológicas básicas, traços, psicodinâmica etc. Basicamente, uma definição constitutiva vai descrever o construto a partir da teoria que o embasa. Em outras palavras, a definição constitutiva vai descrever, categorizar, definir, cuidadosamente, o construto em perspectiva teórica, objetivando a precisão e economia conceitual. (SHAUGHNNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012). A definição operacional vai demonstrar como investigar, ou seja, as operações concretas e empíricas adotadas como, por exemplo, os itens, estímulos ou tarefas de um teste psicológico. Uma definição operacional explica um conceito unicamente em termos dos procedimentos observáveis usados para produzi-lo e mensurá-lo (SHAUGHNNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012). Técnicas de avaliação psicológica Basicamente, usamos da observação, da entrevista e da testagem como técnicas de investigação em Psicologia. Neste material, vamos nos ater aos testes psicológicos. Na busca por evidências empíricas do construto que está sendo investigado, na testagem, usamos de diversas situações estímulo, em maior ou menor grau de objetividade. Definição 1 Definição 2 Assim, podemos entender construto como um atributo que não podemos observar diretamente e que inferimos a partir dos comportamentos observados numa situação específica, como um teste, por exemplo. Um atributo é a característica do objeto (por exemplo, personalidade) que será aferido pela mensuração. Os comportamentos observados são os padrões de resposta à situação-estímulo apresentada na testagem. Assim, na mensuração da personalidade, a Psicologia faz uso de diversos instrumentos ou testes. Entre os testes utilizados, encontramos as técnicas projetivas e expressivas. Vejamos do que se trata cada uma. O teste palográ�co como exemplo de um teste expressivo Um teste psicológico chamado de palográfico apresenta como tarefa que a pessoa desenhe traços (palos) na vertical, repetidamente, em uma folha de papel estruturada e padronizada que representa a situação de teste. Observa-se o estilo de resposta, ou seja, características desses palos, para se compreender as motivações básicas e as características de personalidade de uma pessoa. Cada pessoa tem um traçado singular e, após estudos e trabalhos estatísticos exaustivos, encontramos alguns padrões que são generalizáveis e remetem a uma característica da pessoa (respondente do teste) quando tais características são comparadas com uma amostra da população (amostra normativa). Em outras palavras, pessoas com uma certa característica de personalidade, como extroversão, têm uma tendência a desenhar os palos com características semelhantes (considerando tamanho dos traços, distância entre eles, direção, entre outras características). Comentário Por razões técnicas, éticas e também do direito autoral dos manuais técnicos dos testes, não podemos exemplificar com um modelo do teste palográfico, ou explicar quais são os elementos e as características desses palos que são analisados. Este mesmo cuidado será adotado em outros testes abordados neste conteúdo. O teste palográfico é considerado uma técnica expressiva na avaliação psicológica. Técnicas expressivas, em resumo, buscam padrões de resposta que se expressam de forma gráfica. Uma curiosidade e exemplo que talvez permita a melhor compreensão das técnicas expressivas: você já ouviu falar da análise da caligrafia de uma pessoa? Trata-se da grafologia, ou seja, uma área do conhecimento que busca levantar características da personalidade por meio da escrita. No Brasil, a grafologia não é uma técnica reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), ou seja, psicólogos(as) não podem analisar personalidade com esse recurso. Vamos apenas materializar exemplos concretos com a essência das técnicas expressivas para melhor compreender as possibilidades de análise: O tamanho da letra pode estar associado às características de extroversão e autoconceito. A inclinação da letra pode estar associada à forma como fazemos contato com o meio e com as pessoas. A proximidade das letras pode expressar equilíbrio, formas de raciocínio como indução e dedução. Lembre-se de que essas características, quando observadas em testes como o palográfico, devem ser sempre tratadas apenas como hipóteses ou tendências, que precisam ser confirmadas com outras informações, inclusive provenientes de outros instrumentos de avaliação. O teste de Rorschach como exemplo de um teste projetivo Técnicas projetivas, em resumo, buscam padrões de resposta que se expressam de forma verbal. O conceito geral de projeção também pode ser compreendido como a personalidade em ação, ou seja, a personalidade em movimento. O teste psicológico chamado de Rorschach solicita que a pessoa observe pranchas com manchas de tinta que são apresentadas pelo psicólogo(a) e responda com o que isso se parece. Mancha semelhante aos estímulos usados no Rorschach. Na interpretação das respostas da pessoa avaliada existem diferentes sistemas de classificação que representam trabalhos extensos de pesquisas empíricas no Brasil e no mundo, que sistematizam os resultados obtidos no teste. Assim como nas técnicas expressivas, que colhem as respostas gráficas e buscam padrões, de forma similar aplica-se esse raciocínio quando analisamos as respostas verbais aos borrões de tinta. Observou-se que pessoas que apresentavam formas de responder às manchas semelhantes compartilhavam certos traços de personalidade. Dessa forma, podemos observar que o teste Rorschach é um exemplo de teste projetivo que se fundamenta na teoria da psicanálise sobre personalidade (definição constitutiva do construto) e que emprega toda uma série de instruções, estímulos, materiais e sistemas de avaliação (definição operacional) que nos permite avaliar personalidade e só pode ser empregado por psicólogos adequadamente preparados no uso do instrumento. Estudo da personalidade através das técnicas projetivas e expressivas Neste vídeo, o especialista reflete sobre a busca por evidências empíricas do construto personalidade por meio das técnicas projetivas e expressivas, utilizando exemplos de cada uma delas. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O conhecimento do senso comum é útil para a vida das pessoas no cotidiano. Permite que as pessoas interajam de uma forma fluida e compartilhem de algumas ideias, que atribuam significado para algumas experiências compartilhadas em seu dia a dia. Tomar chá de alho quando estamos resfriados ou afirmar que manga batida com leite faz mal são premissas inofensivas. Em várias circunstâncias de nossas vidas, precisamos de outro tipo de conhecimento, o científico. Esse conhecimento científico se diferencia do senso comum pelas seguintes características: Parabéns! A alternativa E está correta. O conhecimento científico produz premissas que, uma vez aplicadas, resultam em mais segurança para a população; a sistemática, evidências que são reproduzíveis por pesquisadores diferentes. A Abordagem geral intuitiva; conceitos claros e com especificidade operacional. B Atitude acrítica e aberta; divulgação tendenciosa e subjetiva; hipóteses testáveis. C Conceitos claros e com especificidade operacional; atitude acrítica e aberta. D Atitude crítica e cética; instrumentos inacurados e imprecisos. E Conhecimento construído de forma sistemática e empírica. Possibilidade de testar hipóteses e refutá-las é fundamental para se evitar tomadas de decisão arbitrárias e tendenciosas. São características do conhecimento científico:a abordagem geral é empírica; atitude crítica e cética; observação sistemática e controlada; divulgação imparcial e objetiva; conceitos claros e com especificidade operacional; instrumentos acurados e precisos; medição com critérios de validade e confiabilidade; as hipóteses são testáveis. Questão 2 Considerando a natureza do objeto de investigação na Psicologia, duas definições são exigidas em um teste psicológico: constitutiva e operacional. A definição operacional expressa Parabéns! A alternativa D está correta. Devido à natureza abstrata do objeto de investigação em Psicologia, e pelo fato de não observarmos diretamente o nosso fenômeno, torna-se relevante definirmos não só o conceito teórico, mas como vamos operacionalizá-lo. Por exemplo, podemos operacionalizar personalidade pedindo para a pessoa desenhar ou fazer palos (traços) em uma folha de papel. A personalidade ainda pode ser A as descrições práticas da teoria, com exemplos e áreas de aplicação. B as definições conceituais, descritivas e categóricas. Trata-se da perspectiva teórica. C o conceito que exemplifica o objeto que será medido por situações estímulo, que são os itens do teste. D as operações concretas a serem executadas pela pessoa avaliada, trata-se das tarefas a serem executadas em um teste. E o conceito operativo que conecta as ideias de uma teoria com suas bases epistemológicas. operacionalizada por borrões de tinta que possibilitam a projeção de diversas imagens ou por afirmações em um teste de lápis e papel com amostras de comportamento. 2 - Considerações psicométricas nas técnicas projetivas Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os fundamentos da psicometria aplicados às técnicas projetivas. A psicometria e os testes psicológicos Você lembra o que é psicometria? Resposta Trata-se de um campo do conhecimento que usa de alguns pressupostos da Matemática, da Estatística, da Filosofia, da teoria da medida, que permite a quantificação dos fenômenos psicológicos. A psicometria objetiva demonstrar como as respostas dadas pelas pessoas às tarefas ou itens dos testes psicológicos se traduzem como amostras de comportamento de uma pessoa em um determinado contexto. Dessa forma, contamos com uma enorme variedade de instrumentos e testes na avaliação psicológica. Na literatura específica, você se depara com diferentes formas de classificar os testes psicológicos. Mas, em geral, a maioria coincide numa divisão básica entre os testes psicométricos ou objetivos e os testes projetivos. Os inventários de personalidade representam um exemplo de teste psicométrico. Essa definição mais usual na classificação dos testes psicológicos tipicamente leva o aluno à certa confusão. Quando mencionamos testes psicométricos (objetivos) e os diferenciamos dos testes projetivos, eventualmente o aluno não percebe que existem também bases psicométricas nos testes projetivos, pois por psicometria não se entende apenas o uso da estatística ou de modelos matemáticos para se investigar variáveis latentes (construtos), mas de postulados que permitam a medida em Psicologia. Assim como nos testes psicológicos chamados de objetivos, os testes projetivos também apresentam normas que nos propiciam analisar as respostas dadas pela pessoa avaliada, a partir de trabalhos estatísticos que auxiliam na busca por evidências de validade e confiabilidade da testagem. Poucos instrumentos (testes psicológicos) possuem uma base de análise apenas qualitativa, baseada em inferências clínicas pelo uso da técnica, compiladas na literatura e expressas no manual técnico do teste. Esse é o caso do teste de desenho da casa, da árvore e da pessoa, mais conhecido por HTP (house, tree and person). Quando consideramos o universo das técnicas projetivas e expressivas, muitas delas trarão, no mínimo, uma tabela de médias, desvio-padrão, erro padrão da média, medianas, ou seja, estatísticas básicas que vão nos permitir comparar o padrão de respostas da pessoa avaliada com o padrão de respostas de uma população de referência. Aplicação de um teste projetivo. Como avaliar personalidade por meio dos testes? A dúvida mais recorrente dos alunos é saber como uma resposta dada a um teste pode ser representativa de uma característica de personalidade, ou seja, como isso é possível? Vamos tentar simplificar essa resposta que não é tão simples de ser dada. Compartilhamos da mesma história evolutiva assim como da mesma estrutura biológica. Ou seja, a forma como nosso sistema nervoso codifica nossas experiências, nossa história de vida, em nosso aparato psicológico, vai permitir que, por meio dos testes psicológicos, possamos investigar variáveis latentes muito difíceis de serem observadas sistematicamente de forma direta e correlacionar aos padrões comportamentais das pessoas. Em outras palavras, podemos correlacionar esses padrões de respostas nos testes ao jeito de ser, pensar e agir em situações do cotidiano. ariáveis latentes É outra forma de chamar os construtos Por padrões comportamentais, entende-se tudo aquilo que a pessoa faz, inclusive como ela se expressa graficamente ou verbalmente, dentre outras possibilidades. Por exemplo, existe uma certa constância, ou seja, padrões de respostas que são dadas pelas pessoas no teste de Rorschach que são sistematizadas pelas teorias que embasam esse instrumento. Isso nos permite fazer inferências das características de personalidade de um indivíduo avaliado pelo teste. Isso é possível simplesmente pelo fato de que várias pessoas que expressam em seus comportamentos determinada característica de personalidade respondem relativamente da mesma forma quando o psicólogo(a) apresenta uma prancha com um borrão de tinta e pergunta: o que você vê nessa mancha? Esse processo, esses padrões de resposta são universais? Resposta Relativamente podemos dizer que sim, pois compartilhamos a mesma história evolutiva. Existe o contexto cultural e, por esse motivo, um teste precisa trazer estudos com uma população de referência (amostra normativa), e só podemos comparar as respostas da pessoa avaliada se ela possuir características similares observadas em tal população. Um detalhe relevante: em 1997, pesquisadores do teste Rorschach, em países diferentes, iniciaram um estudo compilando os padrões de respostas dadas às pranchas por adultos. Os achados desse estudo foram apresentados em 2007, para a comunidade científica, evidenciando por meio de cálculos de médias e outras estatísticas básicas que padrões de respostas significantemente semelhantes foram dadas às manchas de tinta por adultos de diferentes regiões do planeta. Didaticamente, para traduzir essa história, é como se pudéssemos dizer que as pessoas que apresentam impulsividade como uma característica de personalidade tendem a dar mais respostas num teste x, e pessoas com mais controle de suas ações tendem a dar menos respostas. Atenção! Esse não é um padrão observado no teste de Rorschach, mas só um exemplo didático de como faríamos as análises das respostas dadas a essa tarefa pelas pessoas em diferentes regiões do mundo. Por razões éticas, técnicas e do direito autoral dos manuais técnicos dos testes, não podemos compilar as características técnicas de análise dos testes psicológicos aqui neste material. Cabe também observar que, mesmo que usemos o número como um símbolo que vai representar os atributos medidos pelos testes, precisamos saber de onde vem esse atributo, qual a base teórica que o sustenta (definição constitutiva) que nos forneça os subsídios para operacionalizarmos o construto (definição operacional), pois sem esses cuidados básicos não conseguiríamos medir em Psicologia, ou seja, não conseguiríamos qualificar e interpretar esse número. Isso acontece com qualquer variável. Queremos dizer que, por exemplo, na medição da altura das crianças de uma determinada faixa etária, precisamos dos valores padrão obtidos num grupo representativo da população com características semelhantesaos sujeitos avaliados (idade, gênero), que permitam considerar que o resultado obtido em um caso específico está abaixo do esperado, dentro do esperado ou acima. Todo resultado numérico precisa de um padrão de referência que permita uma interpretação desse número. Classi�cação dos testes e o SATEPSI Existem diversas formas de classificarmos os testes psicológicos. Quanto à sua objetividade e padronização, dividimos em psicométricos (objetivos) e testes projetivos e expressivos. Quanto ao construto que avaliam, podem ser de aprendizagem, valores e atitudes, habilidades, inteligência, interesse, personalidade, processos cognitivos etc. Pelo padrão de resposta, por exemplo, escala Likert, escolha forçada, gráfica, verbal, dentre outras possibilidades. Seja qual for a classificação adotada, as bases psicométricas dos instrumentos são bastante similares. O que vai diferenciá-los é a exigência do modelo estatístico empregado. O Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) foi criado pelo CFP, objetivando avaliar a qualidade dos testes psicológicos e divulgar informações pertinentes dos instrumentos, aos(às) psicólogos(as) (REPPOLD; NORONHA, 2018). Uma iniciativa necessária no Brasil devido à baixa qualidade de vários dos testes psicológicos utilizados, profissionalmente, antes do sistema começar a funcionar no ano de 2003. O SATEPSI é reconhecido por órgãos internacionais como uma plataforma pioneira na certificação de instrumentos psicológicos. O SATEPSI é operacionalizado por uma comissão consultiva de avaliação psicológica (CCAP) do CFP formada por psicólogos com experiência e produção científica na área. Além do SATEPSI, os pesquisadores, autores e editoras de testes psicológicos precisam observar outros documentos de referência para a confecção e comercialização de um instrumento psicológico de medida (um teste psicológico). Tais documentos exigem que o teste traga em seu manual técnico, dentre outras coisas, as evidências científicas que permitam ao psicólogo fazer tomadas de decisão em um processo de avaliação psicológica embasado nos testes. São requisitos mínimos para obtenção de um parecer favorável no SATEPSI: 1. Descrição geral do instrumento (nome; autores; editora; ficha síntese com objetivo, público-alvo, material, aplicação e correção). 2. Qualidade gráfica e de escrita (norma culta da língua portuguesa). 3. Identificação do(s) construto(s) que se pretende avaliar (definição constitutiva e operacional). 4. Evidências de precisão. 5. Evidências de validade. �. Normas e padronização. Evidências psicométricas das técnicas projetivas Em linhas gerais, podemos dizer que os testes classificados como psicométricos ou objetivos, sem dúvida, apresentam em seu escopo, tipicamente, um conjunto de análises estatísticas em maior quantidade e diversidade de parâmetros que foram adotados. Também, em linhas gerais, vamos observar nos testes psicométricos um esforço para apresentar modelos embasados na teoria de resposta ao item (TRI), dentre outros modelos matemáticos e estatísticos que não se aplicam ao universo das técnicas projetivas e expressivas, eventualmente, por razões epistemológicas e pelas características desses testes. Para o SATEPSI, no caso dos testes objetivos, é obrigatória a apresentação de evidências empíricas sobre as características técnicas dos itens do teste, mas essa regra não se aplica aos métodos projetivos e expressivos. Também não se aplica aos testes projetivos/expressivos a análise de itens. No quesito da apresentação de estudos de validade, existe uma exigência maior para os testes objetivos. Essas diferenças se devem à natureza do teste, à situação estímulo (tarefa que a pessoa responde) e aos padrões de resposta do teste. Os principais conceitos associados aos parâmetros técnicos dos testes psicológicos são: Trata-se da estabilidade com que os resultados dos avaliados mantém-se em outras aplicações, por exemplo, do mesmo teste (teste-reteste) e fazendo a correlação (trabalho estatístico) desses dados. A fidedignidade também está associada ao erro da medida. Existem dificuldades em se buscar evidências de precisão nos testes projetivos da mesma forma que se faz com os testes objetivos. Em testes projetivos, vamos encontrar, com certa frequência, evidências de metanálises (trabalho estatístico utilizado para integrar resultados de dois ou mais estudos independentes) da precisão entre juízes que consiste em investigar a constância com que os pesquisadores treinados na técnica codificam as respostas dadas pelas pessoas. Trata-se do grau em que as evidências acumuladas podem fornecer subsídios para a interpretação dos escores do teste. Um ponto de atenção é que a validade não se refere ao teste em si, mas é uma propriedade dos escores do teste. Observa-se que não se trata de algo dicotômico, ou seja, ter ou não ter, mas da quantidade e qualidade das evidências demonstradas. Modelos estatísticos estão envolvidos nesse processo. Pode-se fazer a análise do conteúdo do teste, buscar estabelecer relações com outras variáveis no processo de resposta ou correlações com outros testes. Trata-se da forma de interpretar os escores da pessoa avaliada nos testes psicológicos. A normatização refere-se à uniformidade na interpretação dos escores que os indivíduos recebem no teste. Por meio das normas conseguimos atribuir significado aos escores obtidos pela pessoa avaliada. As normas são um referencial, pois são elaboradas a partir de uma amostra normativa que é representativa da população. Em resumo, as normas nos propiciam um padrão de comparação entre os escores da pessoa avaliada e a amostra normativa. Em relação à amostra normativa, podemos considerar: idade, escolaridade, período do desenvolvimento etc. Evidências de precisão (fidedignidade ou confiabilidade) Evidências de validade Normas Existe certa discordância na literatura quanto à diferenciação entre os conceitos normatização e padronização (PEIXOTO; FERREIRA-RODRIGUES apud BAPTISTA et al., 2019). A padronização reflete a uniformidade dos procedimentos para utilização do teste: ambiente de aplicação, material, aplicador, instruções, correção e, também, interpretação do instrumento. Evidências psicométricas das técnicas projetivas Neste vídeo, o especialista reflete sobre as diferentes evidências psicométricas das técnicas projetivas e expressivas e as diferenças nas exigências da SATEPSI entre os testes projetivos e os testes psicométricos. Padronização Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os requisitos psicométricos básicos dos testes psicológicos são validade, confiabilidade, padronização e normatização. O conceito de validade expressa Parabéns! A alternativa A está correta. Tipicamente, diz-se que validade expressa a ideia de que o teste é capaz de avaliar aquilo a que se propõe. Embora essa definição não esteja completamente errada, ela é incompleta. Validade não é algo dicotômico, ou seja, tem ou não tem, mas expressa o grau das evidências que nos permitem usar os escores do teste para uma tomada de decisão relativa a uma demanda, que expresse a necessidade da medida do construto psicológico. Validade é um atributo do escore, e não do teste. Questão 2 Acerca da psicometria, é correto afirmar que A a qualidade e a quantidade de evidências que, acumuladas, permitem interpretar os escores do teste. B a estabilidade da medida. Uma medida válida é aquela que se mantém estável e sem erros. C a escala de medida. Uma medida válida, em Psicologia, precisa garantir a proporcionalidade dos pontos da escala. D uma verdade lógica. Expressa o isomorfismo da medida em uma escala que garanta aditividade. E uma verdade hipotética. Expressa em perspectiva teórica o construto que está sendo medido. A legitima todas as práticas de investigação em Psicologia em termos quantitativos. B é o único embasamento verdadeiramente científico na Psicologia. Parabéns! A alternativaD está correta. O uso de testes psicológicos é restrito aos(às) profissionais da Psicologia, mas existem outras áreas do conhecimento, nas ciências sociais aplicadas, que constroem ferramentas com embasamento psicométrico para investigação dos seus objetos de interesse. A psicometria é um campo transdisciplinar que apresenta os embasamentos para buscarmos evidências de validade e confiabilidade das medidas em Psicologia. 3 - Técnicas projetivas no contexto do psicodiagnóstico C é um campo do conhecimento restrito às práticas psicológicas. D apresenta embasamento epistemológico e técnico para a medida em Psicologia. E os instrumentos com embasamento psicométricos são restritos aos psicólogos. Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o emprego das técnicas projetivas e expressivas no psicodiagnóstico. O que é o psicodiagnóstico? Para pensarmos as técnicas projetivas no contexto do psicodiagnóstico, demarcaremos o que é uma avaliação psicológica e compreenderemos esse processo aplicado no campo da clínica. Avaliação psicológica é de�nida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e �nalidades especí�cas. (RESOLUÇÃO CFP 009/2018) Mas o que é, na realidade, psicodiagnóstico? A resposta para essa pergunta é relativamente simples: trata- se da avaliação psicológica em contexto clínico. Há aqui dois pontos importantes: 1. O psicodiagnóstico pode ocorrer com ou sem o uso de um teste psicológico. 2. Ele é, necessariamente, um processo estruturado com início, meio e fim. Dizemos que é uma resposta relativamente simples, contudo é encontrada na literatura e, também, na voz de diversas psicólogas e psicólogos com compreensões distintas. Muitos defendem que, para caracterizarmos esse processo de avaliação clínica como psicodiagnóstico, necessariamente deveríamos fazer uso da testagem psicológica, mas esse posicionamento contraria o que temos de orientações em documentos do Conselho Federal de Psicologia e a literatura mais recente sobre esse assunto. Outros, utilizam do psicodiagnóstico para expressar avaliações na área escolar e, também, em outros campos de atuação dos profissionais da Psicologia, como, por exemplo, na prática jurídica. O conhecimento científico é dinâmico e, eventualmente, observam-se confusões conceituais na literatura da Psicologia, principalmente quando recorremos a uma literatura mais antiga em detrimento de publicações mais atuais que versam sobre determinados assuntos. Esse é o caso do psicodiagnóstico. Considerando inovações nas resoluções e outros documentos de referência do Conselho Federal de Psicologia e o dinamismo da literatura científica da área, acreditamos que, nesse caso, essa confusão conceitual não se faz mais necessária e define-se psicodiagnóstico como: [...] um procedimento cientí�co de investigação e intervenção clínica, limitado no tempo, que emprega técnicas e/ou testes com o propósito de avaliar uma ou mais características psicológicas, visando a um diagnóstico psicológico (descritivo e/ou dinâmico), construído à luz de uma orientação teórica que subsidia a compreensão da situação avaliada, gerando uma ou mais indicações terapêuticas e encaminhamentos. (HUTZ et al., 2016, grifo nosso, p. 18) Autores de referência na atualidade não recomendam usar a palavra “psicodiagnóstico” em outros campos de atuação, como na área escolar, organizacional ou jurídica, pois, em tais campos de atuação do psicólogo e da psicóloga, encontramos variáveis não observadas no contexto clínico (HUTZ et al., 2016). Nesses casos, empregamos: avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho; avaliação psicológica nos contextos de saúde e hospitalar; avaliação psicológica no contexto forense; avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos etc. Definir o conceito de psicodiagnóstico desprendendo-o da obrigatoriedade da testagem é, digamos, um posicionamento mais democrático que respeita a diversidade de posicionamentos dos(as) psicólogos(as) que atuam na clínica. Devemos observar que as teorias psicológicas que fundamentam a prática clínica possuem metodologias diferentes. Ainda, respeitar a prerrogativa dos profissionais em decidir quais os métodos, técnicas e instrumentos serão empregados no escopo da avaliação psicológica, desde que observem as orientações do Conselho Federal de Psicologia e tenham embasamento científico. Muitas psicólogas e psicólogos argumentam que testar rotula as pessoas e são contrários a essa prática. Mas o problema não está no instrumento, e sim no uso que fazemos dele. Um bisturi nas mãos de um cirurgião competente salva uma vida e, nas mãos de um delinquente, mata. Uma psicóloga e um psicólogo devidamente treinados, atualizados, éticos e críticos conseguirão enquadrar o teste psicológico, contextualizando o mesmo aos objetivos da avaliação. Lembre-se sempre de que testar não é sinônimo de avaliar. Não devemos supervalorizar a medida em Psicologia, mas caracterizar o seu lugar em nossas práticas. Decorrente dessas reflexões, o ponto então é buscarmos compreender a utilidade da testagem no psicodiagnóstico e quando empregá-la, pois não avaliamos ou testamos alguém por conveniência, mas por necessidade e com um proposito predefinido a partir de um embasamento científico. A testagem no contexto do psicodiagnóstico O que é um teste psicológico? Resposta Um teste psicológico tem por objetivo identificar, descrever, qualificar e mensurar características psicológicas por meio de procedimentos sistemáticos de observação e descrição do comportamento humano, nas suas diversas formas de expressão, acordados pela comunidade científica. (RESOLUÇÃO CFP 009/2018) Os construtos que tipicamente e majoritariamente vamos encontrar nos testes projetivos/expressivos são de personalidade, processos afetivos/emocionais e, também, alguns indicadores úteis no campo da saúde mental e psicopatologia. Nesse aspecto, a escolha dos instrumentos adequados à demanda que se apresenta é essencial. Testagem psicológica e avaliação psicológica, como se constata pelas definições apresentadas, não são sinônimos. O teste psicológico é um dos recursos possíveis de serem empregados em um processo de avaliação psicológica, que tem como fontes fundamentais de informação a entrevista, a observação e a testagem. Observa-se, necessariamente, que esses métodos estejam respaldados pela literatura científica da área. Embora não seja obrigatório, o teste psicológico é um recurso relevante que, somado às entrevistas e observações, potencializa a compreensão da demanda que estivermos avaliando e os possíveis encaminhamentos decorrentes do processo. Mesclar diversas técnicas nos ajuda a contornar as fragilidades que cada uma delas apresenta isoladamente. Por exemplo: observações são úteis, pois nos permitem avaliar aquilo que a pessoa faz, como ela interage e comporta-se, mas podem ser difíceis de interpretar e não serão representativas de todos os comportamentos de uma pessoa, já que apenas observamos dentro do espaço do consultório, e não em tempo real em suas atividades diárias e como ela se relaciona com outras pessoas em diferentes contextos sociais. Existe também o risco da tendenciosidade do observador e reatividade da pessoa observada. As entrevistas podem propiciar uma sondagem profunda da pessoa. Sem dúvida, a entrevista é a principal técnica psicológica no contexto clínico, mas existe sempre o risco da tendenciosidade do entrevistador, reatividade e subterfúgios, conscientes e não conscientes do respondente que consomem muito tempo. Os testes psicológicos são protocolos científicos com evidências de validade e confiabilidade, mas exigem muito treinamento e cuidados com o uso por parte do(a) psicólogo(a) na interpretação, codificação e/ou análise dos resultados. Trabalharcom múltiplas técnicas facilita o processo de avaliação e potencializa os achados decorrente deste. Temos nos testes psicológicos protocolos que apresentam evidências de validade e confiabilidade, e isso, indiscutivelmente, resulta em mais segurança no processo de avaliação. Imagine que estamos fazendo uma entrevista clínica, uma anamnese, e constatamos em nosso cliente (paciente) certos lapsos de memória e/ou alterações de outros processos cognitivos, tais como atenção, ou estes são verbalizados pelo cliente (paciente). Nesses casos, seguramente, os testes objetivos podem trazer uma compreensão mais aprimorada dos prejuízos funcionais que estamos observando ou que estejam sendo verbalizados pelo cliente (paciente). Já os testes projetivos podem auxiliar em outras frentes, pois, muitas vezes, o cliente (paciente) desconhece aspectos ao seu próprio respeito, ou tem dificuldades de verbalizar sobre suas características, estados afetivos etc. Em outros casos, existem incongruências entre o aparente modo de ser dessa pessoa e como ela acredita ser e/ou materializa essas incongruências em seu discurso, comumente sem se dar conta disso. Indicadores de estados psicopatológicos também podem ser observados nas técnicas projetivas, quando esse tipo de investigação se fizer necessária pela via da testagem. Quando estamos fazendo um processo de psicodiagnóstico, buscamos avaliar a pessoa para conhecer o seu funcionamento, avaliar as suas características, estabelecer uma hipótese diagnóstica, e não necessariamente buscar por um processo psicopatológico, mas conhecer as forças e fragilidades dessa pessoa e como ela as emprega para se adaptar às suas demandas de vida. Diferenças entre psicodiagnóstico e diagnóstico Como vimos, o conceito de psicodiagnóstico se expressa em uma avaliação psicológica no contexto clínico, ou seja, na avaliação buscamos conhecer, e no diagnóstico “em si”, já conhecemos. Ao concluirmos o processo de psicodiagnóstico, podemos dizer que compreendemos o funcionamento da pessoa, conhecemos suas características, como ela usa suas forças e como suas fragilidades impactam o seu atual momento de vida, podendo esses achados apontarem ou não para estados psicopatológicos. Na Psicologia, o diagnóstico clínico (psicopatológico ou não) é obtido por meio do processo psicodiagnóstico. São esses achados que nos permitem intervir com mais objetividade nessas dinâmicas e/ou fazer encaminhamentos necessários, como, por exemplo, para uma avaliação médica ou para uma psicoterapia. Como assim? Encaminhar para uma psicoterapia? Mas, o(a) psicólogo(a) que faz o psicodiagnóstico não vai se engajar em um atendimento clínico dessa pessoa? Essas são perguntas que normalmente escutamos dos alunos, mas a resposta é que, eventualmente, alguns profissionais atuam no processo de avaliação e encaminham para outros colegas conduzirem o processo clínico. Outras vezes, o mesmo profissional faz o psicodiagnóstico e prossegue com os atendimentos psicoterapêuticos. Nos achados que nos remetam aos estados psicopatológicos (doenças), nesse caso, uma avaliação médica se faz necessária. Atenção! O diagnóstico deve ser sempre contextualizado, restrito a um atual momento da vida, com enquadramentos específicos, pois é impossível compreender todas as nuances de uma pessoa, estabelecer como uma diversidade de variáveis pode impactar sua existência, modo de agir e pensar ao longo de sua vida. O psicodiagnóstico, assim, é um processo dinâmico, fluido e seus achados podem ser revisitados e alterados no decorrer da intervenção clínica ou precisar ser refeito quando transcorrido muito tempo. Observe que, nesse processo, buscamos evidências por meio das entrevistas e das observações das características funcionais de uma pessoa. Lembre-se da complexidade que é o ser humano. Os testes psicológicos possuem uma sistemática que nos permite compreender muitas dessas características complexas com mais extensão, em alguns casos, corroborando os achados decorrentes da entrevista e da observação, nos dando mais convicção sobre essas impressões, sobre as hipóteses que levantamos no início do processo de psicodiagnóstico e, muitas outras vezes, ampliando nossa compreensão das características funcionais da pessoa avaliada. Considerando que o psicodiagnóstico é um processo com início, meio e fim, eventualmente os testes psicológicos podem encurtar o processo, por suas características padronizadas, e consomem eventualmente menos tempo que outras técnicas psicológicas, como a entrevista. Isso não significa dizer que devemos ter pressa em fazer uma avaliação, mas sempre que possível devemos engajar esforços para conduzirmos um processo de avaliação com mais eficiência para que os encaminhamentos e intervenções decorrentes desse processo possam ser iniciados. Todos esses aspectos apresentados se traduzem em benefícios para a pessoa avaliada. Quando efetivamente não devemos usar o teste psicológico? A resposta é simples: quando não tivermos treinamento para usar o recurso, não conhecermos as teorias que o embasam e não conhecermos suas propriedades psicométricas. Diferenças entre psicodiagnóstico e diagnóstico Neste vídeo, o especialista reflete sobre as principais diferenças entre psicodiagnóstico e diagnóstico, destacando as particularidades do psicodiagnóstico e o uso dos testes. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 “Uma ciência e uma profissão”. A psicologia compreendida dessa maneira deve ser crítica, reflexiva, e, dessa forma, se posicionar contrária a qualquer atitude por parte dos profissionais psicólogos que não seja conduzida pelo método científico nas suas diversas formas de estruturação. Aponte, dentre as alternativas, aquela que contém evidências do método científico no processo do psicodiagnóstico. A O uso de estratégias que anteriormente deram certo em atividades profissionais do psicólogo e este constatou sua eficácia em diversos casos. B O uso obrigatório da testagem psicológica no momento do psicodiagnóstico. Parabéns! A alternativa D está correta. Define-se o método científico como procedimentos sistemáticos e estruturados com embasamento da literatura científica. O uso de testes psicológicos com evidências de validade e confiabilidade é a expressão do conceito de ciência aplicada na Psicologia, mas os testes não são obrigatórios. Não podemos atuar por tentativa/erro ou pautados em estratégias que constatamos terem dado certo em algumas circunstâncias sem que estas tragam embasamento explícito da literatura científica da área. Questão 2 O psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica realizada no contexto clínico. Os objetivos do psicodiagnóstico ficam evidenciados C Trabalhar com múltiplas técnicas, tais como protocolos de observação, entrevistas e, necessariamente, com a testagem psicológica. D Procedimentos sistemáticos de investigação e descrição do comportamento por meio da testagem. E Seguir as orientações do Conselho Federal de Psicologia, observando o SATEPSI na etapa obrigatória da testagem psicológica. A nos achados acerca da funcionalidade da pessoa e suas características de adaptabilidade. B nos resultados obtidos da testagem psicológica. C quando identificamos estados psicopatológicos. Parabéns! A alternativa A está correta. Não existe a obrigatoriedade da testagem psicológica no processo do psicodiagnóstico que expressa a avaliação psicológica em contexto clínico. Nos orientamos, em essência, na compressão do modo de funcionamento da pessoa e não objetivamos apenas diagnosticar processos psicopatológicos. 4 - Considerações sobre as técnicas projetivas Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os testes projetivos e expressivos e as dimensões da personalidade. D nos achados decorrentes da testagem psicológica quando estes apontam para processos psicopatológicos. E quando chegamos no diagnóstico psicológico em diversos campos de atuação. O levantamentode informações, o comportamento e os testes Os testes projetivos e expressivos não são empregados apenas no psicodiagnóstico, ou seja, em contexto clínico. Vamos encontrar o emprego dessas técnicas associadas aos testes objetivos em diversos campos de atuação do psicólogo e da psicóloga. O ponto de partida é saber: qual é o objetivo dessa avaliação? Quais construtos são relevantes para serem investigados? O emprego do teste se faz necessário? Quais testes, em função do seu embasamento teórico e operacionalização, podem ser úteis? Como vimos, a avaliação psicológica é um requisito obrigatório na obtenção da carteira nacional de habilitação para conduzir veículos automotores terrestres e para atestar a aptidão psicológica no manuseio de arma de fogo, no processo, por exemplo, da obtenção do porte de armas. Nesses casos, bem como em avaliações periciais/forenses, avaliações psicossociais para cargos e/ou tarefas em espaços confinados e/ou de altura, na avaliação para procedimentos cirúrgicos (bariátrica e readequação de genitália), tipicamente, vamos observar o emprego do teste psicológico. Isso vai ocorrer devido à natureza da investigação e da exigência dos construtos que devem ser investigados. Em alguns desses casos, por força de normas regulamentadoras, a aplicação dos testes será obrigatória. Basicamente, existem duas formas de fazer levantamento de informações pela via da testagem: 1. Uma é direta, objetiva, característica dos inventários, questionários, escalas, ou seja, os testes classificados como psicométricos ou objetivos. 2. A outra, indireta, característica das técnicas projetivas e expressivas. Existem certas discussões na literatura dos conceitos de projeção, expressão e outros tópicos e construtos relacionados a essas palavras, com certas variações conceituais, que embora sejam importantes, eventualmente podem levar mais à confusão do que o entendimento do leitor. Outro aspecto são as perspectivas teóricas e, não raro, esses conceitos são compreendidos erroneamente, como se ficassem restritos apenas às leituras psicanalíticas. Sem dúvida, Freud e outros autores da psicanálise contribuíram para a compreensão da personalidade humana, mas esses conceitos não ficam restritos a essa perspectiva teórica. Um comportamento pode ser adaptativo, instrumental, projetivo e expressivo. Veja mais sobre eles a seguir. É emitido em função da situação ambiental, por exemplo, a tarefa de um teste. Esse comportamento será avaliado em função das expectativas de como a resposta deveria ser dada, considerando aspectos culturais, sexo, período do desenvolvimento (idade) e, pode ser efetivado pela pessoa avaliada, por exemplo, de forma convencional, original ou fantasiosa. Observamos também padrões adaptativos frente às tarefas dos testes em relação à atitude, por exemplo, interesse, oposição, cooperação etc. É avaliado pela expressão não consciente de nossas necessidades, quando atribuímos qualidades aos objetos e às situações, por exemplo, em tarefas que se apresentem por meio de estímulos ambíguos ou pouco estruturados, como manchas de tintas. Será analisado de forma gráfica, pelos padrões de movimento, o ritmo, os gestos, pois são expressões da nossa fisiologia motora que remetem às características de nossa personalidade. É consciente, intencional, determinado pela situação objetivando ajustamento (ESTEVES; ALVES In: HUTZ; BANDEIRA; TRENTINE, 2018). Comportamento adaptativo Comportamento de projeção Comportamento expressivo Comportamento instrumental Assim, métodos projetivos e expressivos nos permitem avaliar o funcionamento e dinâmica da personalidade a partir de diferentes tarefas ou procedimentos. Características básicas de instrumentos expressivos A seguir, apresentaremos as principais características de alguns dos testes expressivos mais usados no Brasil. Lembrando que o objetivo aqui é promover uma introdução e familiarização inicial em relação a alguns dos instrumentos expressivos em Psicologia. PMK – Psicodiagnóstico miocinético Autores: Alice Madeleine Galland de Mira; Bartholomeu Tôrres Tróccoli Eduardo José Legal; Jamir João Sardá Junior; Luiz Pasquali e Roberto Moraes Cruz Editora: Vetor Construto: crenças/valores/atitudes, personalidade Público-alvo: de 18 a 70 anos Idade da amostra de normatização: de 18 até 66 anos Aplicação: individual Correção: informatizado/não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) O teste PMK é empregado com mais frequência em avaliações psicossociais, seleção de pessoal, avaliações periciais. É pouco empregado na clínica. Avalia-se por esse recurso: tônus vital: elação ou depressão; agressividade, heteroagressividade ou autoagressividade; reação vivencial, extratensão ou intratensão; emotividade, escassa ou hiperemotividade; dimensão tensional, excitabilidade ou inibição; predomínio tensional, impulsividade ou rigidez. O teste palográ�co na avaliação da personalidade Autores: Cristiano Esteves; Irai Cristina Boccato Alves Editora: Vetor Construto: personalidade Público-alvo: adolescentes e adultos Idade da amostra de normatização: de 16 até 60 anos Aplicação: individual/coletivo/não informatizado Correção: informatizado/não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) O teste palográfico é amplamente utilizado em vários contextos: clínica, trânsito, organizacional, porte de arma e diversos outros. Avalia-se por esse recurso: produtividade; estabilidade e ritmo; rendimento no trabalho; relacionamento interpessoal; autoestima; autoconfiança; capacidade de organização; estabilidade e adaptação ao meio; flutuações do ânimo e do humor; rigidez; espontaneidade; energia; agressividade; vitalidade e segurança; tendência à depressão; emotividade e impulsividade. As pirâmides coloridas de P�ster Autores: Anna Elisa de Villemor-Amaral Editora: Hogrefe CETEPP Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia Construto: personalidade Público-alvo: de 18 a 66 anos Aplicação: individual/não informatizado Correção: não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) Trata-se de uma técnica projetiva de preferência, em que a pessoa seleciona os estímulos e os organiza como mais a agrada. Esse recurso também é disponibilizado em uma versão para crianças e adolescentes de 6 até 14 anos de idade. A tarefa consiste em montar uma pirâmide a partir de quadrículos coloridos. É um recurso utilizado em diferentes contextos para investigar aspectos projetivos da personalidade, a dinâmica afetiva e como a personalidade se estrutura. Também apresenta alguns indicadores do desenvolvimento cognitivo. Teste de apercepção temática (TAT) Autores: Henry A. Murray; Maria Cecilia Vilhena M. Silva Editora: CASAPSI Livraria e Editora Ltda. Construto: personalidade Público-alvo: de 14 a 40 anos Idade da amostra de normatização: os escores desse instrumento são interpretados com referência a um critério teórico (e não com referência à norma) Aplicação: individual/não informatizado Correção: não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) Trata-se de uma técnica projetiva que apresenta uma série de pranchas que representam situações humanas clássicas. Investigam-se expressões das necessidades psicológicas básicas conforme estas são materializadas na personalidade. Para cada prancha uma história deverá ser contada pela pessoa avaliada. São investigadas a forma como nos relacionamos com figuras de autoridade, relações familiares, alguns estados emocionais/afetivos, indicadores psicopatológicos, controle de impulso, agressividade, sentimentos acerca das próprias capacidades, atitudes frente à figura paterna e materna, fantasias, desejos, dentre outras possibilidades. É um recurso que pode ser empregado em qualquer investigação sobre personalidade. O seu uso é mais observado em contextos clínicos e de saúde mental. Teste de apercepção infantil Esse teste é dividido em dois tipos: I- Figuras de animais (CAT-A) Autores: Adele de Miguel; Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo; Maria Cecília de Vilhena Moraes; SilésiaMaria Veneroso Delphino Tosi Editora: Vetor Construto: personalidade Público-alvo: de 5 até 10 anos Aplicação: individual/não informatizado Correção: não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) II- Figuras humanas (CAT-H) Autores: Adele de Miguel; Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo; Leopold Bellak; Maria Cecília de Vilhena Moraes; Marvin S. Hurvich; Silésia Maria Veneroso Delphino Tosi Editora: Vetor Construto: personalidade Público-alvo: de 7 a 12 anos Idade da amostra de normatização: 7 anos a 12 anos e 11 meses Aplicação: individual/não informatizado Correção: não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) O teste de apercepção infantil é um recurso empregado predominantemente no contexto clínico, mas também vamos encontrar o seu uso em situações periciais/forenses, como, por exemplo, com crianças vítimas de violência. Em linhas gerais, podemos dizer que é uma técnica projetiva temática bastante relevante em qualquer circunstância em que seja necessário o diagnóstico psicológico de crianças cujo mundo vivencial, estrutura afetiva, bem como sua dinâmica e as reações que apresenta diante dos problemas que enfrenta, precisem ser investigados. Assim como no TAT, trata-se de uma técnica de contar histórias frente a estímulos estruturados (temáticos) com figuras de animais ou humanas, respectivamente, CAT-A e CAT-H. HTP Autores: Iraí Cristina Boccato Alves; Renato Cury Tardivo Editora: Vetor Construto: personalidade Público-alvo: a partir de 8 anos Aplicação: individual/não informatizado Correção: não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) A técnica projetiva de desenho casa-árvore-pessoa trata-se essencialmente de um instrumento empregado na clínica. Mas, assim como os testes CAT-A e CAT-H, podemos observar esse recurso sendo empregado em avaliações periciais/forenses. O teste HTP fornece informações de como a pessoa experiencia sua individualidade em relação às outras pessoas, ao ambiente e ao lar. Rorschach – (R-PAS) Autores: Danilo Rodrigues Silva; Fabiano Koich Miguel Editora: Hogrefe CETEPP Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia Construto: personalidade Público-alvo: adultos Idade da amostra de normatização: de 17 até 69 anos Aplicação: individual/não informatizado Correção: informatizado/não informatizado Fonte: SATEPSI (1998) A técnica projetiva de Rorschach é de grande relevância na investigação da personalidade e pode ser aplicada em vários contextos, mas observa-se uma predominância de uso na clínica e no contexto pericial/forense. Existem alguns modelos empregados na codificação das respostas da pessoa avaliada, quando ela diz o que lhe parecem as manchas de tintas, por exemplo: sistema Klopfer; sistema compreensivo; sistema de avaliação por performance (R-PAS) e o sistema da Escola de Paris. Atenção! É bastante ampla a gama de construtos que podem ser investigados da personalidade por meio dessa técnica e, vai depender do sistema de codificação empregado, mas, no geral: representação de si no mundo; o enfrentamento de situações traumáticas; dinamismo e convivência interpessoal; relacionamento com figuras de autoridade; integridade psicofísica; a gestão da sexualidade; relação de intimidade interpessoal; afetividade; inteligência emocional; humor; temperamento; inteligência prática. Existe uma variação da técnica de Rorschach, que se chama Z-Teste – Técnica de Zulliger, dos autores Cicero Emídio Vaz e João Carlos Alchieri. O Z-teste possui um formato de aplicação coletiva, que é empregada no âmbito organizacional em seleção de pessoal e, também, para atestar a aptidão psicológica no manuseio de arma de fogo, no processo, por exemplo, da obtenção do porte de armas. Os diferentes testes projetivos e expressivos no Brasil Neste vídeo, o especialista apresenta e compara os diferentes testes projetivos e expressivos no Brasil aprovados pelo SATEPSI. Testes objetivos e projetivos Existem vantagens e desvantagens no emprego das técnicas objetivas e projetivas. O ideal é empregarmos diferentes recursos e buscarmos correlacionar os dados que são levantados em um processo de avaliação por meio da entrevista, da observação, dos testes projetivos, expressivos e objetivos. Ao trabalharmos com múltiplas técnicas e métodos, maximizamos as possibilidades de inferências e isso nos permite fazer encaminhamentos mais eficazes. Os testes objetivos são práticos de serem aplicados e capturam com objetividade aspectos do comportamento que se quer investigar, mas existe sempre a questão da tendenciosidade de respostas, ou seja, da desejabilidade social que, pela objetividade do teste, o respondente pode tentar deduzir que tipo de resposta seria mais aceitável em determinados contextos, por exemplo, em seleção de pessoal, em avaliações periciais/forenses etc. Isso provoca respostas tendenciosas, ainda que o psicólogo explique que não existem respostas certas ou erradas. Outro aspecto é que, eventualmente, a pessoa não possui um autoconhecimento e isso também pode contaminar as respostas colhidas por inventários de personalidade. A pessoa acaba respondendo sem saber exatamente se essa resposta seria a melhor forma de se descrever na tarefa solicitada. Já as técnicas projetivas/expressivas vão captar até mesmo aspectos que eventualmente a pessoa não esteja apta a revelar ou desconheça sobre si mesma, mas são técnicas que exigem maior preparo e dedicação por parte dos psicólogos e das psicólogas para aplicação e análise dos resultados. Além disso, demandam mais tempo para aplicação e, especialmente, para interpretação dos resultados. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Uma criança, de 7 anos, verbaliza aos pais que não deseja ir mais à escola e fica paralisada na porta da instituição quando os pais insistem em levá-la. A criança não consegue verbalizar os motivos e é pouco respondente às indagações do psicólogo que entrou no caso. Um detalhe relevante é que essa criança gostava muito de desenhar, de contar histórias sobre esses desenhos. Quais técnicas listadas abaixo podem auxiliar o psicólogo nessa investigação? A PMK e palográfico B As pirâmides coloridas de Pfister e o PMK C CAT-A e CAT-H D HTP e TAT E Rorschach Parabéns! A alternativa C está correta. O teste de apercepção infantil é ideal para, de uma forma lúdica, investigarmos aspectos vivenciais da criança, casos de violência e formas de enfrentamento dos problemas e da estrutura afetiva. O CAT-A e CAT-H são exemplos de testes de apercepção infantil. Questão 2 As técnicas psicológicas possuem vantagens e desvantagens. Considerando os testes objetivos, projetivos e expressivos, quais dessas técnicas são melhores para mitigar (diminuir) os efeitos da desejabilidade social decorrente, por exemplo, de uma avaliação no contexto organizacional para seleção de pessoal e que se adeque à necessidade de uma aplicação coletiva? Parabéns! A alternativa C está correta. Os testes palográfico e a técnica de Zulliger são instrumentos com aplicação coletiva que atendem às demandas de uma avaliação no contexto organizacional para seleção de pessoal. Eles diminuem a probabilidade de respostas tendenciosas, já que fica impossível que o avaliado possa inferir que tipo de A HTP e CAT-H B Palográfico e Rorschach C Palográfico e Z-Teste – Técnica de Zulliger D Rorschach e as pirâmides coloridas de Pfister E HTP e CAT-A resposta seria considerada como ideal pelo avaliador. Considerando essas técnicas, o palográfico é mais empregado. Considerações �nais O uso de testes psicológicos é restrito aos psicólogos e às psicólogas. Precisamos apenas destacar como os construtos, avaliados por técnicas projetivas e expressivas, são definidos e operacionalizados por meio da testagem. Da mesma forma que no senso comum, você pode inferir a passagem do tempo se olhando no espelho ou o aprendizado de uma criança observando o que ela faz. Por meio das técnicas projetivas e expressivas, de um jeito maisestruturado, científico e sistemático, vamos inferir as características de personalidade de uma pessoa, observando, por exemplo, expressões gráficas ou como características de personalidade são projetadas e verbalizadas em função de um estímulo, como um borrão de tinta, uma figura onde se conta uma história ou em tarefas de preferência. Assim, conseguimos uma mensuração da personalidade, entendendo que o uso de diferentes instrumentos sempre nos permite uma avaliação mais completa e precisa dos construtos avaliados. Podcast Neste podcast, o especialista apresenta a importância, os fundamentos e as diferenças das diversas técnicas projetivas e expressivas, comparando os diferentes testes de personalidade existentes. Referências BAPTISTA, M. N. et al. (Org.). Compêndio de Avaliação Psicológica. Petrópolis: Vozes, 2019. BUENO, J. M. H.; PEIXOTO, E. M. Avaliação Psicológica no Brasil e no Mundo. 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Veja como Nelson Hauck Filho aborda premissas fundamentais da teoria da medida aplicada à Psicologia. Visite o site do Sistema de Avaliações de Testes Psicológicos (SATEPSI). Explore as opções de navegação, em especial, a aba de Ações. Leia o anexo I da Resolução CFP nº 009/2018, identifique os conceitos que foram desenvolvidos neste material, pesquise os que não foram desenvolvidos e correlacione com o conteúdo abordado. Leia o artigo Diretrizes para a Construção de Testes Psicológicos: a Resolução CFP n° 009/2018 em Destaque, de Josemberg Moura de Andrade e Felipe Valentini, para conhecer mais sobre as diretrizes que validam os testes psicológicos. Essas informações são muito importantes para os psicólogos referendarem as suas recomendações de testes e uso do sistema de avaliação de testes. Saiba mais sobre as evidências de precisão/fidedignidade, evidências de validade e, por fim, sistema de correção e interpretação dos escores.
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