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Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com NULIDADES NO PROCESSO PENAL ❖ A nulidade é um vício processual decorrente da inobservância de exigências legais, sendo capaz de invalidar o processo todo ou em parte (Capez). ❖ Sanção que atinge a instancia ou o ato processual que não estejam de acordo com as condições de validade impostas pelo Direito objetivo (José Frederico Marques). ❖ A nulidade é um vício e uma sanção, definida como uma falha ou imperfeição que invalidade ou pode invalidar o ato processual ou todo o processo (Mirabete). Com relação à identificação das nulidades, o direito brasileiro adota o sistema instrumental, de forma que o fim do ato deve prevalecer sobre a forma como ele é praticado. Dessa forma, ainda que não seja praticado na forma da lei, será válido o ato que cumprir com o seu objetivo, salvo nos casos em que ficar comprovado o prejuízo. Os atos podem ser: • INEXISTENTES: O ato não existe e, por isso, jamais será válido ou eficaz. Trata-se de um vício grave, portanto macula todo o ato praticado, atingindo-lhe elementos essenciais. → “não-ato” → Não admite convalidação → A única forma de sanar o vício é praticar o ato novamente → O novo ato praticado não gera efeitos retroativos EXEMPLOS: São exemplos de atos inexistentes aqueles que não contem a subscrição da autoridade que os edita, bem como os praticados por quem não detenha ou esteja privado, ainda que temporariamente, de capacidade objetiva para praticá-los20. • ABSOLUTAMENTE NULOS: O ato existe, porém não é válido nem eficaz. A nulidade absoluta atinge normas de ordem pública, como tais consideradas aquelas que tutelam garantias ou matérias tratadas direta ou indiretamente pela Constituição Federal. É um vício insanável. Quanto ao prejuízo, existem duas correntes. A primeira define que o prejuízo é presumido, admitindo-se prova em contrário. Assim, compete a parte interessada comprovar a inocorrência de prejuízo. A segunda aponta que a parte interessada deve comprovar o prejuízo sofrido – pas de nullité sans grief. É a posição atualmente adotada pelo STF e pelo STJ. → Não está sujeito à preclusão → Pode ser arguida em qualquer grau de jurisdição21 e pode ser declarada de ofício22 20 O impedimento gera a inexistência do ato, enquanto a suspeição gera a nulidade absoluta. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com EXEMPLOS: São exemplos de atos absolutamente nulos as incompetências absolutas, a realização do interrogatório do réu sem a presença de advogado, a ausência de intimação pessoal do defensor público u do defensor constituído, a não formulação de quesito obrigatório aos jurados por ocasião do julgamento pelo júri (Súmula 156 do STF)23. • RELATIVAMENTE NULOS: O ato existe, não é válido, nem eficaz. No entanto, poderá ser válido e produzir efeitos, por ser eivado de vício sanável. São nulidades relativas aquelas que atingem normas que não tutelam o interesse público, e sim o interesse privado da parte. O ato existe, mas sua validade e eficácia dependem da ocorrência de uma condição suspensiva, de evento posterior que suspenda o óbice existente ao aproveitamento do ato e à produção de seus efeitos no processo penal – CONVALIDAÇÃO. → O prejuízo deverá ser comprovado (art. 572, II, CPP) → Não pode ser decretada de ofício (art. 572, I, CPP) → Gera preclusão (art. 572, III, CPP) EXEMPLOS: São exemplos de nulidades relativas a incompetência do juízo, a ausência de intimação do réu para a audiência de oitiva de testemunhas, a falta de requisição do preso. • IRREGULARES: O ato existe, é válido e é eficaz. A irregularidade é um vício que atinge tão somente elementos acidentais do ato. PRINCÍPIOS QUE INFORMAM AS NULIDADES ❖ PRINCÍPIO DO PREJUÍZO: Não se decreta a nulidade relativa e não se declara a nulidade absoluta sem que haja resultado prejuízo para qualquer das parte (art. 563, CPP). 21 Nulidade de algibeira: Ocorre quando é óbvia a ciência do referido vício muito antes de sua alegação nos autos. Neste caso, a suscitação da nulidade seria uma manobra processual para tumultuar o processo, o que contraria a boa-fé processual. Não se admite a alegação de nulidade nessas condições, segundo o entendimento do STJ. 22 EXCEÇÃO: Nos tribunais, não se pode declarar a nulidade de ofício quando implicar em prejuízo ao réu, a não ser nos casos em que se tratar de matéria arguida pela acusação em recurso ou nos casos de reexame necessário (Súmula 160, STF). 23 Súmula 523, STF: A falta de defesa no processo penal constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará quando houver prova de prejuízo para o réu. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Art. 563, CPP: Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa. Pas de nullite sans grief → A jurisprudência aceita a aplicação do art. 282, §2º, do CPC, no processo penal. Dessa forma, quando o processo estiver pronto para julgamento do mérito, a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta. Exemplo: Em razões de recurso de apelação a defesa do réu alega a nulidade do processo, por ausência de notificação do defensor para audiência de instrução. Analisando os autos, o Tribunal entende que, independentemente do vício, as provas conduzem à absolvição do réu. Neste caso, será proferida sentença sem declaração da nulidade. ❖ PRINCÍPIO DO INTERESSE: A nulidade apenas pode ser declarada por parte interessada (art. 565, CPP). Art. 565, CPP: Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse. Exemplo: Na ausência da presença do MP na audiência de instrução, não será de interesse do réu arguir a nulidade. ❖ PRINCÍPIO DA CONVALIDAÇÃO: Determinadas nulidades podem ser sanáveis em determinadas circunstâncias. Trata-se de princípio próprio às nulidades relativas (art. 572). ATENÇÃO: Nem todas as nulidades previstas no CPP hoje podem ser sanadas. ❖ PRINCÍPIO DA CONTAMINAÇÃO: A nulidade de um ato contamina os atos subsequentes que decorreram deste (art. 573, §1º, CPP).
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