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PROJETO DE COMPONENTES MECÂNICOS AULA 4 Prof. Julio Almeida CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) à nossa quarta aula de Projeto de Componentes Mecânicos. Nesta aula, veremos os conceitos gerais dos eixos de transmissão de potência, bem como particularidades e características dos mancais de deslizamento. Existem, em termos práticos, dois tipos básicos de mancais: os mancais de rolamento e os mancais de deslizamento, sendo que nesse segundo grupo normalmente se inserem os mancais utilizados para elevadas solicitações numa condição de custo bastante inferior ao caso dos mancais de rolamento. Nos sistemas de transmissão em geral, sempre haverá a presença de um eixo de transmissão, que pode ser definido como um componente de máquina de secção circular e comprimento relativamente maior do que a sua secção, que ainda é responsável pela transmissão de potência numa determinada rotação. Eixos estacionários e com outro tipo de secção transversal também são possíveis, desde que se adaptem a cada tipo de transmissão em específico. A fixação de elementos responsáveis pela transmissão de potência, como polias, rodas dentadas e engrenagens sobre os eixos, faz com que se introduza um determinado nível de concentração de tensões ao longo do comprimento deles, dado que dispositivos como chavetas, ranhuras, anéis, fixadores e até mesmo ajustes forçados se fazem necessários nesse contexto. As chavetas, caracterizadas como um dos principais dispositivos utilizados com essa função, correspondem a componentes que têm por objetivo fixar o eixo ao cubo do elemento responsável pela transmissão de potência, possibilitando assim que o torque seja transmitido de um elemento para o outro. Quanto aos mancais hidrodinâmicos (ou de deslizamento), pode-se considerar que trabalham de acordo com a chamada condição de lubrificação hidrodinâmica, ou seja, mediante o fornecimento contínuo e adequado de um determinado lubrificante, que possibilita a criação de uma pequena película (filme) de lubrificante entre o eixo e o mancal propriamente dito. Devido a essa pequena separação das partes, o atrito é minimizado e a condição de carga se torna mais favorável. Como principal desvantagem do sistema, pode-se destacar a necessidade e exigência de um sistema de lubrificação adequado, o 3 qual, além do custo de instalação, contemplará também o custo de manutenção correspondente. CONTEXTUALIZANDO O projeto de um eixo de transmissão pode ser realizado mediante diversos critérios e considerações. Entende-se, porém, que a condição de torque constante com flexão alternada corresponde ao tipo de solicitação mais costumeiramente encontrado nos sistemas de transmissão em geral, favorecendo assim a utilização do critério da ASME, para o qual se definem o diâmetro mínimo necessário para o eixo em análise mediante as cargas solicitantes de torção e flexão associadas aos respectivos fatores de concentração de tensões (caso existam) e, ainda, parâmetros do material do eixo, como a tensão de escoamento e o limite de fadiga. De forma similar, o projeto de um mancal de deslizamento pode ser extremamente simplificado a partir da utilização das chamadas cartas (ábacos) de Sommerfeld, as quais têm por objetivo principal fornecer parâmetros geométricos e gerais de um sistema composto por esses mancais, a partir de um número característico de mancal, designado como número de Sommerfeld. Tal circunstância se faz necessária e prática em decorrência da dificuldade matemática associada às equações tradicionais da lubrificação hidrodinâmica. Dentro dessa perspectiva, cabe questionar: quando devo optar pela utilização de um mancal de rolamento e quando por um mancal de deslizamento? O que acontece caso ocorra falta ou falha de fornecimento do lubrificante num mancal de deslizamento? Quais são as solicitações presentes no dimensionamento ou verificação de uma chaveta? TEMA 1 – EIXOS DE TRANSMISSÃO: GENERALIDADES Na concepção mais geral, o termo eixo normalmente se refere a um elemento relativamente longo, com secção transversal circular, que gira e transmite potência. Por outro lado, porém, um eixo pode possuir uma secção transversal não circular e que não precisa, necessariamente, girar, sendo assim um elemento estacionário que serve para suportar um elemento girante (como os eixos de um automóvel, por exemplo). Os eixos de transmissão estão presentes na totalidade dos casos de transmissão de potência e devem ser adequadamente dimensionados em 4 decorrência das cargas solicitantes, visando garantir um sistema compacto e confiável. Um eixo contempla ainda, ao longo do seu comprimento, quase na totalidade dos casos, dispositivos responsáveis pela transmissão de potência, tais como: polias, rodas dentadas e engrenagens, entre outros. Esses dispositivos necessitam ser devidamente fixados e acomodados sobre o eixo em questão, mediante a utilização de pinos, chavetas, estrias, anéis, ranhuras, ajustes sob pressão e demais elementos, os quais, reconhecidamente, acarretarão concentração de tensões sobre o eixo. Por esse motivo, no dimensionamento desses componentes, devem-se considerar os chamados fatores de concentração de tensão, que têm por objetivo corrigir a tensão nominal atuante para um valor superior em decorrência da eventual concentração de tensão localizada que possa vir a existir. Figura 1 – Exemplos de eixos de transmissão Fonte: DeeTee Industries Ltd. Fonte: Mecânica Industrial. 5 Figura 2 – Exemplos de concentração de tensões Fonte: 4x4 Brasil. Fonte: Valcla Moto Parts. TEMA 2 – EIXOS DE TRANSMISSÃO: PROJETO As solicitações presentes sobre os eixos de transmissão são predominantemente de dois tipos: torção devido ao torque transmitido e flexão devido às cargas transversais decorrentes de engrenagens, polias ou rodas dentadas. Nesse contexto, o caso mais comum, em termos de solicitações no projeto de eixos de transmissão, corresponde à situação de torção constante (T m ) com flexão alternada (M a ). A norma ANSI/ASME para o projeto de eixos de transmissão pressupõe que o carregamento é constituído de flexão alternada e torque fixo em um nível 6 que cria tensões abaixo da resistência ao escoamento por torção do material. A equação correspondente, em função do diâmetro do eixo, equivale a: Onde: CS= coeficiente de segurança de projeto d = diâmetro do eixo Kf = fator de concentração de tensões em fadiga (cargas normais) Kfs = fator de concentração de tensões em fadiga (cargas tranversais) Ma = momento fletor alternado Tm = torque médio (constante) Se = limite de fadiga do material O torque transmitido pode ser obtido diretamente a partir da potência e rotação do sistema, cujas equações convencionais correspondem a: Ou: TEMA 3 – CHAVETAS Chavetas são componentes mecânicos que, quando posicionados em assentos, representam uma forma de transmitir torque entre o eixo e o cubo correspondente. São padronizadas pelo tamanho e pela forma em diversos estilos, dentre os quais se destacam as chavetas paralelas (DIN 6885), as chavetas cônicas (DIN 6886/6887) e as chavetas Woodruff (DIN 6888). 7 Figura 3 – Principais tipos de chavetas Fonte: Norelem. Fonte: Galafassi Fábrica de Chavetasg. Fonte: Indiamart. Existem duas possibilidades de falhas a serem consideradas quando do dimensionamento de uma chaveta: o cisalhamento e o esmagamento dela em relação ao canal. As chavetas são ainda costumeiramente confeccionadas em aço carbono SAE 1050 ou SAE 1070, para os quais se sugerem tensões admissíveis de 60 MPa (em cisalhamento) e 100 MPa (em compressão superficial). Matematicamente: 8 Onde: = tensão de cisalhamento t2 = distância externa ao canal de chaveta(tabelado) esm = tensão de esmagamento (compressão superficial) R = raio do eixo de transmissão L = comprimento da chaveta b = largura da chaveta (tabelado) Tabela 1 – Chavetas paralelas conforme DIN 6885 Diâmetro d Seção b x h Profundidade Largura b Altura h Eixo t1 Cubo t2 De até Valor h 9 Valor h 11 Valor Tolerân. Valor Tolerân. 6 8 8 10 2 3 0,000 -0,025 2 3 0,000 -0,025 1,2 1,8 +0,100 0,000 1 1,4 +0,100 0,000 10 12 17 12 17 22 45 6 0,000 -0,030 4 5 6 0,000 -0,030 2,5 3,0 3,5 1,8 2,3 2,8 22 30 30 38 8 10 0,000 -0,036 7 8 0,000 -0,090 4,0 5,0 +0,200 0,000 3,3 3,3 +0,200 0,000 38 44 50 58 44 50 58 65 2 14 16 18 0,000 -0,043 8 9 10 5,0 5,5 6,0 7,0 3,3 3,8 4,3 4,4 11 0,000 -0,110 65 75 85 95 75 85 95 110 20 22 25 28 0,000 -0,052 12 14 14 16 7,5 9,0 9,0 10,0 4,9 5,4 5,4 6,4 110 130 32 0,000 18 11,0 7,4 9 130 150 170 200 150 170 200 230 36 40 45 50 -0,062 20 22 25 28 0,000 -0,130 12,0 13,0 15,0 17,0 +0,300 0,000 8,4 9,4 10,5 11,4 +0,300 0,000 230 260 290 330 260 290 330 380 56 63 70 80 0,000 -0,074 32 32 36 40 45 50 0,000 -0,160 20,0 20,0 22,025,0 12,4 12,4 14,4 15,4 380 440 440 500 90 100 0,000 -0,087 28,0 31,0 17,4 19,5 Fonte: DIN 6885. Figura 4 – Esquemático das dimensões de uma chaveta paralela TEMA 4 – MANCAIS HIDRODINÂMICOS: GENERALIDADES Mancais são dispositivos utilizados para suportar cargas e dar apoio adequado e necessário aos eixos e componentes gerais de uma transmissão. Dois são os tipos mais comuns de mancais: os mancais de deslizamento (escorregamento) e os mancais de rolamento (antifricção). Os mancais de deslizamento são dispositivos normalmente utilizados em máquinas pesadas ou equipamentos de baixa rotação, apresentando menor atrito na partida, maior amortecimento de vibrações, choques e ruídos em 10 função da área de lubrificação, além de serem de fácil fabricação e mais baratos para o caso de grandes potências. Normalmente, produzem ainda altas temperaturas em serviço e são mais silenciosos. Em contrapartida, requerem um grande consumo de lubrificante, exigindo cuidados especiais com o sistema de circulação e consequentemente com a manutenção, como também restringem a escolha dos materiais envolvidos. Podem ser divididos como mancais radiais ou mancais axiais. Figura 5 – Exemplos de mancais de deslizamento Fonte: Compworks Mancais. 11 Fonte: Manutenção & Suprimentos. Figura 6 – Mancais radiais e mancais axiais Os mancais de deslizamento, na sua grande maioria, trabalham com a chamada lubrificação hidrodinâmica, que tem como características principais: a) separação completa do eixo e do mancal pelo filme lubrificante (espessura de 0,008 a 0,02 mm); b) a lubrificação não depende da introdução do lubrificante sob pressão, mas sim da existência de um suprimento adequado e 12 constante do mesmo; c) a pressão do filme é criada pela superfície móvel puxando o lubrificante para uma região de cunha a velocidades elevadas (conforme figura a seguir) e d) as perdas por atrito são exclusivas do contato entre partículas do lubrificante. Figura 7 – Esquemático da lubrificação hidrodinâmica Fonte: Juvinall. TEMA 5 – MANCAIS HIDRODINÂMICOS: SELEÇÃO As equações matemáticas até então apresentadas e descritas, para os casos de solicitações atuantes sobre peças ou componentes mecânicos, são válidas apenas para o dimensionamento em situações nas quais o elemento em análise esteja submetido exclusivamente a um único tipo de carregamento de cada vez. São os chamados esforços ou solicitações simples. Na prática, porém, tais solicitações normalmente ocorrem de forma combinada. Um eixo de transmissão, por exemplo, normalmente encontra-se carregado numa condição de flexo-torção: flexão devido a cargas e pesos das polias e engrenagens eventualmente dispostas sobre o eixo e torção decorrente da transmissão de potência do sistema. Nessas circunstâncias, as tensões atuantes não podem ser simplesmente somadas ou subtraídas diretamente, até porque se contemplam, em muitas situações, tipos de tensões diferenciadas (normal e tangencial, por exemplo). Torna-se necessário assim efetivar a combinação das tensões atuantes, sendo o círculo de Mohr uma boa referência gráfica para a visualização dessa combinação de tensões. A formulação matemática da Teoria Hidrodinâmica é bastante complexa, motivo pelo qual foram desenvolvidas cartas (ábacos) de seleção que 13 relacionam aspectos gerais a serem considerados no projeto de um mancal radial sob lubrificação hidrodinâmica. Essas cartas são formatadas a partir do chamado número característico de Sommerfeld (S), cuja equação vale: Onde: = viscosidade absoluta do lubrificante (Pa.s) n = rotação do eixo do mancal (rps) P = carga projetada (Pa) r = raio do eixo do mancal (m) c = folga radial do mancal (m). Sendo que a carga projetada pode ser definida na forma: Onde: W= carga radial atuante sobre o mancal (N) l = comprimento do mancal (m) Figura 8 – Carga radial e área projetada do mancal As cartas de Sommerfeld contemplam a quase totalidade dos parâmetros necessários para o projeto ou seleção de um mancal de deslizamento. No presente trabalho se reproduzem, entretanto, apenas algumas dessas cartas, dando-se destaque para aquelas correspondentes ao coeficiente de atrito, vazão de lubrificante necessária, espessura de filme (película) mínima, pressão máxima do lubrificante e posição relativa da pressão máxima correspondente. As relações (l/d) indicadas nas respectivas cartas correspondem à relação entre a largura e o diâmetro do mancal. Na prática, sugere-se sempre que possível (l/d) = 1. 14 Figura 9 – Carta de Sommerfeld para determinação do coeficiente de atrito Fonte: Shigley. Figura 10 – Carta de Sommerfeld para determinação da vazão de fluido necessária Fonte: Shigley. 15 Figura 11 – Carta de Sommerfeld para determinação da pressão máxima do lubrificante Fonte: Shigley. Figura 12 – Carta de Sommerfeld para determinação da posição da mínima espessura do filme Fonte: Shigley. 16 FINALIZANDO Sintetizando, em nossa quarta aula vimos conceitos referentes aos eixos de transmissão e aos mancais hidrodinâmicos (ou de deslizamento). Eixos de transmissão são componentes mecânicos presentes na totalidade dos sistemas mecânicos de transmissão, sendo fundamentais para o correto e adequado funcionamento desses sistemas. Avaliou-se as cargas atuantes sobre um eixo, seu adequado dimensionamento e uma avaliação correspondente ao dimensionamento das chavetas, um dos principais dispositivos utilizados para a transmissão de torque entre o elemento principal (polia, engrenagem ou roda dentada) e o eixo propriamente dito. Quanto aos mancais de deslizamento, priorizou-se a utilização das cartas (ou ábacos) de Sommerfeld, que são convencionalmente adotadas no contexto de facilitar e simplificar o equacionamento matemático decorrente da Teoria Hidrodinâmica. Após esta aula, o(a) aluno(a) será capaz de reconhecer e identificar as premissas associadas ao projeto de um eixo de transmissão, bem como de avaliar as particularidades e o projeto simplificado dos mancais de deslizamento. 17 REFERÊNCIAS 4x4 BRASIL. Disponível em: <http://www.4x4brasil.com.br>. Acesso em: 17 nov. 2017. BUDYNAS; NISBETT. Elementos de máquinas de Shigley. São Paulo: Bookman, 2013. COMPWORKS MANCAIS. Disponível em: <http://www.compworksmancais.com.br>. Acesso em: 17nov. 2017. DEETEE INDUSTRIES LTD. Disponível em: <http://www.deeteegroup.com>. Acesso em: 17 nov. 2017. GALAFASSI FÁBRICA DE CHAVETAS. Disponível em: <http://www.galafassimetalurgica.com.br>. Acesso em: 17 nov. 2017. HAMROCK, B. J. Elementos de máquinas. McGraw-Hill. INDIAMART. Disponível em: <http://dir.indiamart.com>. Acesso em: 17 nov. 2017. JUVINALL, R. Fundamentos do projeto de componentes de máquinas. São Paulo: LTC, 2007. MECÂNICA INDUSTRIAL. Disponível em: <http://www.mecanicaindustrial.com.br>. Acesso em: 17 nov. 2017. MOTT, R. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. São Paulo: Pearson, 2005. NORELEM. Disponível em: <http://www.norelem.com>. Acesso em: 17 nov. 2017. VALCLA MOTO PARTS. Disponível em: <http://valcla.com.br>. Acesso em: 17 nov. 2017.
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