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PROJETO DE COMPONENTES MECÂNICOS AULA 5 Prof. Julio Almeida CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) à nossa quinta aula de Projeto de Componentes Mecânicos. Nesta aula, veremos os conceitos gerais dos mancais de rolamentos, bem como particularidades e características dos cabos de aço. Figura 1 – Exemplos de mancais Fonte: SKF Brasil Rolamentos. Fonte: Quality Fix. Existem, em termos práticos, dois tipos básicos de mancais: os mancais de rolamentos e os mancais de deslizamento. Nesse segundo grupo normalmente se inserem os mancais utilizados nas aplicações industriais em geral, dada sua maior gama de alternativas em termos de solução. 3 Os mancais de rolamentos são costumeiramente utilizados em sistemas de transmissão de potência, objetivando dar apoio e sustentação aos eixos correspondentes. São dispositivos padronizados, que podem suportar cargas radiais, axiais, ou, ainda, a combinação desses tipos de carregamento, trabalhando numa boa faixa de rotações e ainda exigindo apenas uma pequena manutenção. Na sua concepção tradicional, são compostos por pistas interna e externa, corpos rolantes (esferas ou rolos) e separadores (gaiolas). Já os cabos de aço correspondem a dispositivos utilizados normalmente na elevação e transporte de cargas. São componentes metálicos formados por um núcleo central de aço ou de fibra, ao redor do qual pernas (formadas a partir de um conjunto de arames) são enroladas e torcidas. Dependendo do tipo a ser considerado, podem ser selecionadas em formações que permitem uma maior flexibilidade ou uma maior resistência ao desgaste e abrasão. Quando em funcionamento, contemplam, na maioria dos casos, a presença de roldanas e tambores, dispositivos esses que caracterizam uma condição de falha adicional em decorrência da flexão que o cabo sofre ao passar através deles. CONTEXTUALIZANDO Os mancais de rolamentos ou, simplesmente, rolamentos apresentam uma grande variabilidade em termos dos modelos ou tipos disponíveis comercialmente. Os fabricantes em geral disponibilizam essas informações em termos de ábacos comparativos, por meio dos quais torna-se possível identificar qual o tipo de rolamento que melhor se adapta a elevadas rotações, cargas radiais e axiais, e ainda em condições nas quais o eixo possa vir a apresentar problemas de desalinhamento, por exemplo. De posse ou a partir da definição do tipo do rolamento a ser considerado no projeto, existem equações que permitem relacionar a carga ou solicitação atuante sobre o rolamento em função da expectativa de vida desejada para que ele venha a trabalhar sem ocorrência de falhas. Essa expectativa de vida pode ser avaliada em termos de milhões de revoluções ou em horas de funcionamento. Quanto aos cabos de aço, faz-se uma avaliação preliminar no contexto do tipo (configuração) do cabo a ser considerado, definindo-se o tipo de alma (aço ou fibra), características desejadas para o seu funcionamento, como flexibilidade e resistência à abrasão, por exemplo, e, por fim, a sua 4 configuração final em termos de número de pernas e número de arames em cada perna. O tipo de enrolamento do cabo e as dimensões de polias e tambores a serem utilizados também se fazem importantes nesse momento. De posse dessas informações, torna-se possível efetivar o cálculo da máxima solicitação à qual o cabo será submetido e a definição do diâmetro necessário para ele. Dentro dessa perspectiva, cabe questionar: quando devo optar pela utilização de um mancal de rolamento ou um mancal de deslizamento? O que acontece quando se opta por um cabo de aço com alma de fibra em substituição a um cabo com alma de aço? Quais são as solicitações presentes no dimensionamento ou seleção de um cabo de aço? TEMA 1 – ROLAMENTOS: GENERALIDADES Conforme descrito anteriormente, os rolamentos são basicamente compostos por: pista interna, pista externa, corpos rolantes e separadores. Os corpos rolantes podem ser esferas ou rolos, sendo que os rolamentos de rolos são preferidos quando se dispõe, comparativamente, de cargas de maior intensidade. Os rolamentos de esferas têm um único ponto de contato, enquanto nos de rolos a área de contato está vinculada a uma linha, caracterizando com isso uma melhor distribuição de carga. Esses rolamentos podem ainda ser divididos em radiais e axiais, ou seja, rolamentos que têm uma boa aceitação para a condição exclusiva de cargas radiais ou axiais, apesar de haver uma boa quantidade de rolamentos que suportam a combinação desses carregamentos. No contexto das falhas, pode-se garantir que, caso se disponha de lubrificante em quantidade e qualidade adequadas, a falha ocorrerá apenas por fadiga superficial, seguindo ainda a distribuição estatística de Weibull. Nesse contexto, os rolamentos são projetados segundo a premissa de que 90% dos mancais (aleatórios) avaliados alcancem ou excedam suas cargas de projeto quando aplicada determinada carga. Trata-se do conceito de vida nominal – L10. Como definição de vida nominal pode-se considerar que se trata do número total de revoluções (ou horas de funcionamento) em operação (em carga constante) até que o critério de falha seja desenvolvido. 5 Figura 2 – Partes principais de um rolamento Figura 3 – Vida do mancal Figura 4 – Tipos de rolamentos em relação às cargas atuantes 6 Fonte: SKF Brasil Rolamentos. TEMA 2 – ROLAMENTOS: TIPOS Comercialmente, existe uma boa variabilidade de tipos de rolamentos disponíveis. Nesse contexto, podem-se destacar como principais tipos: a. rolamentos rígidos de esferas – devem ser considerados como o ponto de partida de projeto, por serem os mais comuns, suportarem cargas combinadas e permitirem elevadas rotações. b. autocompensadores de esferas – similares ao fixo de esferas, mas próprios para eixos longos e situações específicas de desalinhamentos. c. contato angular – permite cargas combinadas, com a parcela de carga axial num único sentido, motivo pelo qual são normalmente utilizados aos pares. d. autocompensador de rolos – próprio para situações de desalinhamentos e grandes carregamentos. e. rolos cilíndricos – para grandes cargas radiais e nenhuma carga axial. 7 f. rolos cônicos – permitem grandes cargas axiais, são desmontáveis e normalmente utilizados aos pares. A inclinação do rolo pode ser uma restrição ao carregamento. g. axiais de esferas – não suportam cargas radiais, não suportam altas rotações e exigem um bom posicionamento do eixo. h. agulhas – para restrições de dimensões no sentido radial, cargas bruscas e baixas rotações. Figura 5 – Tipos mais comuns de rolamentos Fonte: SKF Brasil Rolamentos. TEMA 3 – ROLAMENTOS: SELEÇÃO Antes de apresentar as equações básicas para a seleção do tamanho do rolamento a ser considerado para um determinado nível de carregamento, torna-se necessário apresentar a definição de dois conceitos-chave para o dimensionamento de rolamentos. Trata-se dos conceitos de capacidade de carga dinâmica e capacidade de carga estática. Capacidade de Carga Dinâmica (C10) – valor que expressa a carga (do fabricante) que permitirá ao rolamento atingir 1 milhão de revoluções (ISO 281/I-1977). Capacidade de Carga Estática (Co) – valor que expressa a carga que causará uma deformação permanente total do corpo rolante e das pistas, correspondente a 0,0001 do diâmetro do corpo rolante. 8 Ambos os conceitos estão diretamente relacionados com as equações gerais a serem consideradas para o dimensionamento de rolamentos, na forma: /a .n.Lh F.C 1 610 10 60 .FaY.FrXP ii Onde: F = carga atuante no rolamento; Lh = vida esperada (em horas); n = rotação do eixo (rpm); a = 3 – mancais de esferas; a = 10/3 – mancais derolos; Fr = carga radial no rolamento; Xi = fator de carga radial (tabelado); Fa = carga axial no rolamento; Yi = fator de carga axial. Notemos que, primeiramente, deve-se efetivar uma avaliação da carga equivalente atuante sobre o rolamento (caso o rolamento suporte essa condição), mediante o uso de fatores de carga (X, Y) que são tabelados em função do tipo do rolamento considerado. A seguir, é reproduzida essa informação para o caso geral de rolamentos de esferas. Tabela 1 – Fatores de carga para mancais de esferas Fonte: Shigley. 9 De posse dessa carga equivalente, faz-se aplicação da equação geral dos rolamentos, que relaciona a capacidade de carga dinâmica (a qual corresponde a um valor típico de cada fabricante) com a expectativa de vida em horas de funcionamento. Normalmente se estabelece um valor mínimo necessário para a referida capacidade de carga dinâmica, para, posteriormente e mediante uma consulta a tabelas do gênero, definir-se a dimensão necessária para o rolamento considerado. A tabela a seguir apresenta um exemplo dessa situação para o caso de rolamentos rígidos de esferas (sulco profundo) e rolamentos de contato angular. Tabela 2 – Capacidades de carga estática e dinâmica para rolamentos Fonte: Shigley. TEMA 4 – CABOS DE AÇO: GENERALIDADES Cabos de aço são dispositivos metálicos formados por um núcleo central de aço ou de fibra e por pernas (formadas a partir de um conjunto de arames), que são enroladas e torcidas ao redor desse núcleo. São normalmente utilizados no transporte e elevação de cargas, podendo, entretanto, ter uma aplicação bem mais ampla, contemplando as indústrias da construção civil, 10 mineração, siderurgia, elevadores, pesca, eletrificação, petróleo e gás e equipamentos em geral, entre outras. Figura 6 – Partes componentes de um cabo de aço A configuração das pernas de um cabo afeta diretamente as suas características funcionais, dado que se pode optar por um cabo com maior resistência à abrasão e menor resistência à fadiga, por exemplo, em detrimento de outra configuração que garanta o efeito contrário. Nesse contexto, podem- se destacar as principais configurações de pernas da seguinte forma: a. perna comum de capa simples – composição mais simples disponível, na qual todos os arames possuem o mesmo diâmetro. b. perna SEALE – composição utilizada quando a resistência à abrasão é preponderante. c. perna FILLER – composição que apresenta arames muito finos entre duas camadas, visando garantir uma maior área de contato e uma maior resistência ao esmagamento. d. perna WARRINGTON – composição indicada para resistência ao desgaste e à fadiga, caracterizando-se por uma camada exterior formada por arames de dois diâmetros diferentes e alternados. Figura 7 – Tipos de pernas para cabos de aço Fonte: CIMAF. 11 A alma do cabo de aço, além de dar suporte às pernas, tem por objetivo principal fazer com que o carregamento externo seja uniformemente distribuído ao longo do cabo. Podem ser confeccionadas em fibras ou em aço-carbono, sendo que as almas de fibra (sintéticas ou naturais) garantem uma maior flexibilidade ao cabo, enquanto as de aço permitem o uso em temperaturas mais elevadas e apresentam menor deformação quando carregados. Figura 8 – Tipos de almas para cabos de aço Fonte: CIMAF. Por fim, no contexto da especificação de um cabo de aço, deve-se considerar o número de pernas, o número de arames por perna, o tipo de alma e a especificação do tipo de perna considerada. O exemplo a seguir ilustra essa condição: 12 Figura 9 – Especificação típica de um cabo de aço Fonte: CIMAF. 6 x 7 AF: 6 pernas; 7 arames por perna; alma de fibra. Figura 10 – Tambores e polias: exemplos Fonte: Enquip limitada. Fonte: Usinagem Mundial. TEMA 5 – CABOS DE AÇO: SELEÇÃO A seleção de um cabo de aço corresponde, num contexto geral, à determinação do diâmetro necessário para uma determinada solicitação em 13 termos de carregamento. A especificação do cabo, nesse momento, já deve ser conhecida e definida a partir das premissas correspondentes à aplicação dele (flexibilidade, resistência à abrasão e à fadiga, entre outros). Dessa forma, tem-se: uFw.l) m W (Ft cabo u A Fu Onde: Ft = carga total sobre o cabo; W = carga externa sobre o cabo; m = número de cabos; w = peso do cabo por unidade de comprimento (tabelado); l = comprimento do cabo; u = resistência do cabo (tabelado); Fu = carga limite do cabo. Tabela 3 – Dados gerais de cabos de aço Fonte: Shigley. 14 FINALIZANDO Finalizando, em nossa quinta aula vimos importantes conceitos no contexto dos mancais de rolamentos e dos cabos de aço. Mancais de rolamentos foram avaliados no contexto das suas principais particularidades e tipos, como também em termos da seleção do tamanho do rolamento necessário para uma determinada aplicação. No contexto do tópico cabos de aço, evidenciaram-se, além das suas particularidades e aplicações, os tipos de pernas, tipos de almas e características gerais no contexto da escolha do tipo a ser considerado. O dimensionamento do diâmetro do cabo para uma determinada condição de carregamento externo também foi avaliado, garantindo com isso uma seleção compatível e segura desse importante dispositivo, presente em muitas aplicações práticas correspondentes. Após esta aula, o(a) aluno(a) será capaz de reconhecer e identificar os principais tipos de rolamentos, suas principais características e funcionalidades, como também reconhecer e avaliar premissas associadas aos principais tipos de cabos de aço. Projetos e cálculos simplificados e necessários para cada tipo de aplicação também fizeram parte do escopo, possibilitando ao(à) aluno(a) condições para uma verificação ou dimensionamento correspondente. Leitura complementar Capítulos 14.2 – Tipos de rolamentos, 14.3 – Rolamentos axiais e 14.6 – Relação entre carga e vida, do livro-texto. 15 REFERÊNCIAS BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. São Paulo: Bookman, 2013. CIMAF. Manual técnico de cabos. Osasco: CIMAF, 2012. ENQUIP LIMITADA. Disponível em: <http:// www.enquip.com.br>. Acesso em: 19 nov. 2017. HAMROCK, B. J. Elementos de máquinas. Nova York: McGraw-Hill, 2004. MOTT, R. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. São Paulo: Pearson, 2005. QUALITY FIX. Disponível em: <http://qualityfix.com.br>. Acesso em: 19 nov. 2017. SKF Brasil Rolamentos. Disponível em: <http://www.skf.com.br>. Acesso em: 19 nov. 2017. USINAGEM MUNDIAL. Disponível em: <http://usinagemmundial.com.br>. Acesso em: 19 nov. 2017.
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