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MODAIS DE TRANSPORTE AULA 2 Prof. Luciano Furtado Corrêa Francisco CONVERSA INICIAL O mundo presenciou a partir do final do séc. XVIII uma evolução tecnológica intensa e contínua, causada pela Revolução Industrial, cujo marco inicial foi o advento da máquina a vapor. Não que antes disso não houvesse progresso, contudo era algo mais lento e as inovações demoravam muito para se estabelecer. Os transportes foram muito beneficiados por essa revolução. Antes da máquina a vapor, o transporte de médias e longas distâncias era baseado na tração animal ou por embarcações, caso o trajeto assim permitisse. Uma viagem, por terra, de algumas dezenas de quilômetros, poderia se transformar em uma aventura e até pôr em risco a segurança dos viajantes. O transporte intercontinental era marítimo, com embarcações à vela ou força humana, igualmente difícil e permeada de perigos. Viajar pelo ar ou com veículos mais rápidos e automatizados era um sonho. Mas a indústria transformou isso radicalmente. No início do séc. XIX, os trens a vapor já eram realidade em muitos lugares, permitindo que muito mais pessoas e cargas maiores fossem transportadas em grandes distâncias, com muito mais segurança e bem mais rapidamente. Os navios passaram a utilizar a propulsão de motores, tornando-se mais potentes e velozes, contribuindo além de tudo para incrementar o comércio internacional. Transportes por mar, rios e lagos tiveram incrível evolução. Os motores também possibilitaram a invenção do avião, nova revolução no ato de transportar. Distâncias enormes, percorridas em poucas horas. Até os dutos ganharam nova vida com o progresso tecnológico. Estamos falando aqui dos modais de transportes, ou seja, as formas pelas quais se pode transportar, objeto de nossa aula de agora. Veremos as principais características dos modais e as consequências em outras áreas a partir do progresso que eles continuamente apresentam. CONTEXTUALIZANDO Pense num país como o Brasil, com mais de 8 milhões de km² – um verdadeiro continente. Poucos países têm dimensões tão grandes, podemos citar: Rússia, Canadá, China, Estados Unidos e Austrália. Argentina e México também possuem extensões territoriais consideradas grandes. Nessas nações, há sempre grandes desafios de transportar com segurança, qualidade e agilidade. Uma infraestrutura complexa de transportes deve existir para que as mercadorias e pessoas sejam conduzidas de um ponto a outro. Uma das respostas a esse desafio está na multimodalidade de transporte. É a combinação de dois ou mais modais em uma operação de transporte. Por exemplo, uma carga inicia seu transporte por rodovia, em determinado ponto há um transbordo (transposição desta carga a outro modal) para um trem e mais tarde esse trem chegará a um porto, onde haverá novo transbordo, para o porão de um navio. Dependendo do destino da carga, no local de desembarque desse navio poderá haver novo transporte multimodal, até que chegue ao seu destino final. Frequentemente, ouvimos notícias de que os transportes no Brasil não são tão eficientes quanto o de países igualmente grandes, como os citados acima. Dependemos muito do modal rodoviário, como veremos nesta aula, o que não ocorre nessas outras nações que distribuem melhor os transportes de pessoas e cargas pelos vários modais. Qual a resposta, portanto, para esse atraso brasileiro? Por que não usamos a multimodalidade de uma maneira mais eficiente e, consequentemente, de modo a tornar o transporte mais ágil e de maior qualidade? E quais as consequências desse cenário para nossa economia e sociedade como um todo? Pense nessas questões! Saiba Mais Leitura complementar: leia o capítulo 6 do livro Transportes e Modais: com suporte de TI e SI, de Edelvino Razzolini Filho, presente em nossa biblioteca virtual. Nesse capítulo, o autor discorre sobre a multimodalidade em transportes. TEMA 1 – MODAL AÉREO Quando pensamos em um transporte rápido e seguro, logo nos vem à mente um avião. De fato, o modal aéreo se notabiliza por essas duas características. Porém, como veremos mais adiante, toda vantagem tem um preço. Trata-se do modal que se utiliza de aeronaves – aviões, dirigíveis, helicópteros para transporte de pessoas e cargas. De acordo com Razzolini Filho (2012, p. 154): No Brasil, o transporte aéreo foi fundamental para estabelecer conexões entre as regiões mais distantes, isto é, entre os grandes centros urbanos e a região litorânea. Esse fato é consequência da dimensão continental do país, da forte diversificação socioeconômica, da pequena integração entre as diferentes regiões e dos péssimos serviços oferecidos pelos demais modais para as regiões mais afastadas. Percebemos pela exposição do autor que o modal aéreo tem grande vantagem em cenários nos quais o transporte terrestre ou aquaviário possuem mais restrições, o que até a primeira metade do séc. XX no Brasil era bastante evidente. Não por acaso, o transporte aéreo no Brasil teve um desenvolvimento acentuado entre os anos 1930 até meados dos anos 1960. Tanto que, nos anos 1950, o Brasil era o segundo maior país em termos de tráfego aéreo, atrás apenas dos Estados Unidos. Saiba Mais Leia neste artigo um breve histórico dos transportes aéreos no Brasil: <https://leandrocalad o.jusbrasil.com.br/artigos/667170522/a-evolucao-do-transporte-aereo-no-brasil>. Acesso em: 19 ago. 2021. Antes da invenção do avião pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, em 1906, o ato de voar era um sonho (exceto por algumas experiências com balões). Na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), o avião é usado pela primeira vez como máquina de guerra. No período entre guerras, surge a aviação comercial. Mas é a partir da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), que a aviação experimenta grande desenvolvimento, transformando esse modal em um dos principais meios de transporte de longas distâncias, especialmente nas viagens internacionais de passageiros, embora seja muito relevante também no transporte de cargas. https://leandrocalado.jusbrasil.com.br/artigos/667170522/a-evolucao-do-transporte-aereo-no-brasil Ainda que tenha destaque, no Brasil, o transporte aéreo é modesto. Para termos uma ideia, na tabela a seguir observe a participação do modal aéreo no de transporte de cargas no Brasil, em 2019. Tabela 1 – Participação dos modais no transporte de cargas no Brasil, em 2019 MODAL MILHÕES (TKU ) PARTICIPAÇÃO (%) Rodoviário 485.625 61,1 Ferroviário 164.809 20,7 Aquaviário 108.000 13,6 Dutoviário 33.300 4,2 Aéreo 3.169 0,4 TOTAL 794.903 100,0 Fonte: elaborado com base em CNT – Confederação Nacional do Transporte, 2019. Repare que até o modal dutoviário tem maior percentual na matriz brasileira do que o aéreo. Só que em outras nações esses números são semelhantes. O que então faz com que o transporte aéreo, mesmo sendo mais rápido e seguro e tendo boa capacidade de transporte de cargas, seja o menos utilizado? No volume de transporte de passageiros, o modal aéreo também tem pouca participação em relação aos outros modais. Veremos esses motivos na sequência. 1.1 CARACTERÍSTICAS DO MODAL AEROVIÁRIO As principais características do modal aeroviário são: Tem serviços regulares, ou seja, as companhias que o realizam possuem tabelas de horário- destino fixas, embora possam ser contratados por fretamento. Quando por fretamentos, são denominados pontuais; quando por serviços regulares, são chamados de próprios. Preços mais elevados, diante dos altos custos envolvidos nos elementos que fazem parte deste transporte (terminais, veículos, insumos). Rapidez nos percursos, tendo variabilidade pequena nos trajetos. Ideal para transportes internacionais. Para cargas, o tempo de manuseio e coleta são significativos. [1] Vimos que algumas dessas características levam o modal aeroviário a ter vantagens e desvantagens. Vamos entender. 1.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODAL AEROVIÁRIO A principal vantagem do modal aéreo é, sem dúvida, sua rapidez. Um jato podeatingir velocidades próximas aos mil km/h. Mesmo as aeronaves menores costumam alcançar velocidades acima dos 200 km/h. Essa característica leva o modal aéreo a ser o mais indicado para transportes urgentes, de cargas perecíveis (sobretudo se o transporte for de distância muito longa, entre países, por exemplo). No entanto essa vantagem pode ser diluída, pois os tempos de espera, taxiamento e desembaraço (embarque e desembarque de passageiros e cargas) costumam ser longos, elevando o tempo porta- a-porta do transporte. Outra vantagem está na menor possibilidade de avarias em produtos e embalagens, pois o transporte não sofre atrito com vias e outros elementos (acidentes são raríssimos), exceto nas operações de decolagem e pouso, mesmo assim um fato incomum. A principal desvantagem, notadamente, é o preço. Devido à infraestrutura de veículos e terminais serem complexas, os valores do modal aeroviário costumam ser bem mais elevados, restringindo sua utilização aos critérios de distância e urgência. Taxas aeroportuárias, preços dos combustíveis, serviços de apoio ao transporte, como entidades de controle de tráfego aéreo, obrigatoriedade de manutenções preventivas e corretivas de aeronaves – que necessitam ser rigorosíssimas – são fatores que fazem do modal aeroviário um dos mais custosos. Também é altamente sensível a condições meteorológicas, mais que os outros modais. E devido ao tempo de entrega e variabilidade, conclui-se que é o modal menos confiável. Ainda assim, o modal aeroviário tem aumentado sua participação nas matrizes de transporte, com o advento de aeronaves maiores e mais eficientes do ponto de vista energético. Além disso, equipamentos de apoio mais modernos que reduzem impossibilidades de pousos e decolagens e terminais mais eficientes quanto a custos, têm contribuído para redução de valores. Saiba Mais Curiosidade: veja este vídeo sobre os drones, que também são veículos do modal aeroviário: <https://youtu.be/jHPWXK_9Dew>. Acesso em: 19 ago. 2021. TEMA 2 – MODAL AQUAVIÁRIO Esse modal se utiliza de vias naturais – rios, lagos e do mar – para o transporte e cujos veículos são embarcações, dos mais diversos tamanhos e potências. 2.1 CLASSIFICAÇÕES DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO Há duas formas de classificação no modal aquaviário: quanto ao tipo do curso d’água e quanto às embarcações. Vejamos as diferenças: Quanto ao curso d’água: Fluvial: em rios. Lacustre: em lagos. Marítimos: nos oceanos e mares. Quanto aos tipos de percurso: Cabotagem: sua origem e destino são portos marítimos de um mesmo país. Navegação interior: transporte realizado em rios ou lagos, seja em trajetos dentro de um país ou entre países. Navegação de longo curso: viagens internacionais, de alto-mar, entre portos de países diferentes. 2.2 TIPOS DE EMBARCAÇÕES Uma das características no modal aquaviário é que há uma imensa variedade de embarcações. São inúmeros os tamanhos, designs, formatos etc. Isto porque os cursos d’água permitem que se construam veículos de diversos portes e finalidades. Tanto para transporte de passageiros, quanto de cargas. Vamos conhecer os principais tipos. https://youtu.be/jHPWXK_9Dew Full container ship ou porta-contêineres: navios de grande porte, os quais transportam contêineres com encaixe perfeito; no comércio internacional é o principal tipo de embarcação. Cargueiros: navios também de grande porte, que transportam os mais diversos tipos de carga em porões. Navios-tanques: específicos para transporte de cargas líquidas, como óleos. Navios-graneleiros: destinados a graneis sólidos, como minérios e grãos. Navios roll-on/roll-off (ro-ro): para transporte de veículos motorizados, que são embarcados e desembarcados por meio de rampas. Barcaças: com fundo reforçado e achatado, são usados principalmente em rios e lagos, transportando cargas de grande peso; em alguns casos são puxadas por rebocadores. 2.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODAL AQUAVIÁRIO Vejamos no quadro a seguir as principais vantagens e desvantagens do transporte aquaviário: Quadro 1 – Vantagens e desvantagens do modal aquaviário VANTAGENS DESVANTAGENS Maior capacidade de cargas Necessidade de transbordo nos destinos Transporta praticamente qualquer tipo de carga com pequeno impacto ambiental Portos normalmente distantes dos centros produtivos Custo de transporte por kg/ton. mais baixo, devido à alta capacidade de carga Requer, dependendo do produto, embalagens mais reforçadas Mais barato para transporte intercontinental Modal com baixa flexibilidade Via natural, com baixa possibilidade de problemas no trajeto Terminais com grande chance de congestionamento Fonte: elaborado com baseado em Razzolini Filho, 2012. Saiba Mais Leitura complementar: leia das páginas 83 a 86 no livro Logística Empresarial, do autor Roberto Ramos de Morais (Editora InterSaberes, 2015), presente em nossa biblioteca virtual, dados sobre o modal aquaviário no Brasil. TEMA 3 – MODAL RODOVIÁRIO É aquele no qual o transporte é realizado por meio de ruas e rodovias, utilizando-se de veículos de variados portes e formatos, como caminhões, ônibus e automóveis. Trata-se do modal mais usado no mundo, devido às suas vantagens, que veremos adiante. Muitas cidades, inclusive, surgiram e cresceram em função das rodovias. 3.1 MODAL RODOVIÁRIO NO BRASIL Nosso país fez uma clara opção pelo modal rodoviário, sobretudo a partir dos anos 1960, com a construção e pavimentação de rodovias em grande escala. Uma decisão controversa até hoje, pois o fez em detrimento dos outros modais e não como uma complementação destes, ao contrário de outros países. Um dos elementos que proporcionou essa decisão foi a instalação da indústria automobilística no país, em fins dos anos 1950. Fato é que a malha rodoviária brasileira é de cerca de 20% do total do território, enquanto as ferrovias, por sua vez, são 0,4% em relação ao tamanho do país. Uma enorme diferença que reflete no uso de cada modal na matriz de transportes. Sendo assim, é o principal meio de transporte de cargas e passageiros no Brasil, basta observarmos a figura a seguir, na comparação com outros países: Figura 1 - Matriz de transportes nos países (% de TKU) Fonte: elaborado com base em IloS, 2019. Créditos: Puwsdol Jaturawutthichai/Shutterstock. Apesar disso, somente pouco mais de 14% das rodovias brasileiras são pavimentadas e em muitas regiões a manutenção destas é precária. Contudo, em muitos desses locais é o único modal disponível. 3.2 CARACTERÍSTICAS DO MODAL RODOVIÁRIO Embora tenha desvantagens do ponto de vista ambiental e limitações em sua capacidade de carga, o modal rodoviário predomina praticamente no mundo inteiro. Isto porque suas principais vantagens são indiscutíveis: É o único modal do tipo porta-a-porta, isto é, não necessita, na grande maioria dos casos, de transbordos. Tem uma frequência praticamente ininterrupta (atrás apenas do modal dutoviário). É o modal de maior disponibilidade. Para curtas distâncias, é o modal mais veloz; nesse cenário é imbatível. A maioria das cargas são fracionadas e de pequeno tamanho. Nesse caso, o modal rodoviário é insuperável. Para lotar um caminhão, é preciso um volume muito menor do que para lotar vagões de trens ou navios. Em contrapartida, há uma limitação na variedade das cargas que podem ser transportadas por rodovias, em função de normas de segurança e limites de pesos nessas vias. Cargas especiais, que precisam de autorizações e outras exigências para seu transporte, costumam encarecer os fretes. É no transporte de passageiros que o modal rodoviário encontra mais concorrência dos outros modais. A partir dos anos 1930, no mundo inteiro em geral, foi se dando bastante enfoque no automóvel, tendo por trás a ideia de “liberdade” do indivíduo. Com isso, as cidades, sobretudo as maiores, foram acumulando problemas de tráfego ao longo das últimas décadas, o que desencadeou novos problemas (como poluição ambiental e sonora, acidentes etc.) e permanentes necessidadesde investimentos. Por isso, é sempre evocada a necessidade de se ter uma rede eficaz de transporte urbano de massa, baseada principalmente no modal ferroviário – trens e metrôs – como maneiras de solucionar os problemas de trânsito. Além do incentivo aos meios de transportes alternativos, como as bicicletas. Muitos países fizeram esse planejamento de forma eficiente, de modo que o automóvel e o transporte público convivem bem e se procura usar todos os modais de forma equilibrada, inclusive com integrações entre eles. No Brasil, infelizmente não chegamos a esse patamar por razões diversas: baixa capacidade de investimento, cultura de que transporte de massa “é para os pobres”, falta de planejamento de longo prazo, entre outros. Saiba Mais Curiosidade: veja no link uma reportagem sobre a mobilidade urbana na Europa: <https://yo utu.be/FswZDcYsEBs>. Acesso em: 19 ago. 2021. TEMA 4 – MODAL FERROVIÁRIO Os trens foram o primeiro grande produto da Revolução Industrial, no que se refere a transportes. No final do século XVIII, surgiram as primeiras linhas férreas na Inglaterra. No século XIX e boa parte do século XX, os trens foram sinônimo de transporte de longa distância, dentro de um mesmo país, ou mesmo em nações fronteiriças. No Brasil, a primeira ferrovia foi a “Estrada Mauá”, inaugurada em 1854, que ligava as cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis. Foi ela também a primeira experiência intermodal no país, pois cargas chegavam ao porto do Rio de Janeiro e transferidas aos vagões. O investimento em ferrovias no Brasil foi elevado, da segunda metade do século XIX até a terceira década do século XX. Em 1929, havia mais de 28 mil km de trilhos no Brasil (Ministério da Economia, 2016). A partir dos anos 1930, contudo, a priorização do modal rodoviário interrompeu o processo de crescimento, que foi recuperado entre 1955 e 1964, com nova expansão e criação da RFF/SA – Rede Ferroviária Federal. Todavia, novos incentivos às rodovias fizeram com que muitos trechos ferroviários fossem desativados gradativamente, até que em 2018 o Brasil tinha cerca de 29 mil km de ferrovias em atividade, mesmo patamar de 90 anos antes. A maior parte operada por concessão público-privada e para transporte de cargas. https://youtu.be/FswZDcYsEBs Sem dúvidas, o transporte por trens no Brasil é subutilizado. O país tem dimensões continentais e produz muitos itens de baixo valor agregado, como grãos, óleos, minérios e outros produtos in natura, cujo transporte por trilhos é o ideal, pois geralmente são carga de grande volume, com viagens de grandes distâncias e cujo trajeto deve sofrer menos interrupções possíveis. Tanto que, em 2016, a composição de produtos transportados pelas ferrovias brasileiras foi a que está representada na figura a seguir: Figura 2 - Distribuição dos tipos de carga no modo ferroviário no Brasil Fonte: ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, 2016. No entanto, também produzimos muitos bens manufaturados que poderiam se aproveitar melhor das estradas de ferro, especialmente aqueles destinados à exportação e também bens importados que chegam aos nossos portos e aeroportos. Ou seja, a malha ferroviária brasileira é incompatível com o tamanho de sua economia. Comparando-se a rede de trilhos do Brasil com outros países, constataremos isso facilmente. Na Itália, França e Japão, as ferrovias são mais de 5% do território dessas nações; na Espanha e na Índia, 2%; na Argentina e México, mais de 1%. Repare que todos esses países possuem território bem menor que o brasileiro. Nos Estados Unidos, com uma área geográfica semelhante à nossa, as estradas de ferro representam 1,9% do território. No Brasil, essa proporção é de apenas 0,4%, o que joga para o modal rodoviário a predominância em transportes. 4.1 CARACTERÍSTICA DO MODAL FERROVIÁRIO Assim como qualquer modal, os trens apresentam vantagens e desvantagens. Um ponto negativo do modal ferroviário é a velocidade. Por operarem na maioria em ferrovias antigas, com traçados sinuosos, os trens não alcançam grandes velocidades, com exceção de trens mais modernos, que ainda são poucos numa proporção geral. Além disso, uma grande parte do tempo nas operações ferroviárias é gasta em atividades de carga, descarga e manobras de pátio. É comum haver vagões ociosos em períodos sazonais. É um modal pouco flexível, devido ao trajeto das ferrovias. Por outro lado, é um modal que permite cargas cheias e fracionadas com relativa facilidade de manuseio. É um modal altamente confiável, pois o trajeto costuma não ter interrupções, exceto por acidentes ou eventuais bloqueios das ferrovias por causa de intempéries, o que são fatos raros. Também não necessitam de muitas pessoas na operação. É um transporte seguro e bem menos poluente que o rodoviário, um vagão carrega uma carga equivalente a cerca de 28 caminhões, tornando mais barato o preço por tonelada. Por fim, a construção de uma ferrovia, embora de elevado custo, traz menor impacto ambiental que rodovias, uma questão que hoje é predominante. TEMA 5 – MODAL DUTOVIÁRIO Esse modal é o que utiliza dutos, que são tubulações, para o transporte. Neste caso, é a carga que se movimenta, ao passo que o meio de transporte é estático. Os antigos romanos utilizavam aquedutos para levar água das nascentes até às cidades, cobrindo grandes distâncias. Os chineses, já por volta de 500 a.C., tinham sistemas de canos de bambu para trazer gás de poços rasos, usados para evaporar água do mar e obter sal. O primeiro oleoduto foi construído em 1872, na Pensilvânia, Estados Unidos, para atender à nascente indústria do Petróleo. Portanto, não é um modal exatamente novo. No Brasil, o primeiro oleoduto é de 1951, ligando o porto de Santos à capital paulista. O modal dutoviário se utiliza da gravidade ou pressão por bombas e compressores para a movimentação da carga, que em geral são sólidas (grãos, por exemplo), líquidas (óleos e similares) ou gasosas. Em geral, acompanham traçados de ferrovias ou rodovias. Podem estar visíveis ou no subsolo, o mais comum. As redes públicas de água, esgoto e gás natural são exemplos clássicos de modal dutoviário. Normalmente, é adequado ao transporte de grandes volumes. Tem como principais vantagens: ser não poluente; não ter interrupções ou congestionamentos; ter preço mais baixo por unidade transportada que os outros modais; ter grande confiabilidade. Já as desvantagens são: velocidade lenta; pouca flexibilidade; difícil adaptação de produtos (veja adiante os tipos de dutos); restrições quanto aos tipos de produtos; elevados custos fixos de manutenção do sistema. 5.1 TIPOS DE DUTOS Normalmente, os dutos são construídos para transportar tipos específicos de produtos, o que o torna um modal pouco flexível. Os principais tipos de dutos são apresentados no quadro a seguir: Quadro 2 – Tipos de dutos e produtos relacionados TIPO PRODUTOS TRANSPORTADOS (na maioria) Oleodutos Petróleo, óleo combustível, gasolina, diesel, álcool, gás liquefeito de petróleo (GLP), querosene e nafta. Minerodutos Minério de ferro, sal-gema e concentrado fosfático. Gasodutos Gás natural (p.e. GNV) e outros gases industriais. Outros Água e demais líquidos não oleosos. Fonte: elaborado com base em ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, 2014. TROCANDO IDEIAS Segundo o Ministério da Infraestrutura, o modal ferroviário corresponde a 15% da matriz de transporte brasileira. O objetivo é chegar a 30% nos próximos 10 anos, ou seja, duplicar a malha ferroviária no país, visando reduzir o custo do transporte e melhorar a eficiência logística do agronegócio, que hoje depende basicamente do modal rodoviário. A ideia, em médio e longo prazos, é conectar as ferrovias aos portos brasileiros. Tendo em vista esses dados e os objetivos de longo prazo em relação ao transporte ferroviário no Brasil, você entende que até 2030 o Brasil conseguirá cumprir essa meta? Que ações precisamos executar para isso? E qual a forma mais adequada de implantarmosesse projeto? NA PRÁTICA Embora o fato de que a matriz de transportes no Brasil seja predominantemente baseada no modal rodoviário (mais de 60%), não é verdade que não existam hidrovias e ferrovias relevantes no transporte de cargas. Assim, suponha que você é um gestor logístico, responsável por transportar uma grande carga de soja, de cerca de 1 milhão de toneladas, desde a região de Rondonópolis, Mato Grosso, até o porto de Santos, em SP, para dali seguir a outro país. O dono da carga (que vai pagar pelo transporte até Santos), pede que o valor do transporte seja o menor possível, assim você deve pensar nas possibilidades de usar vários modais. Como você faria esse transporte? Pesquise os modais de transportes destas regiões e indique uma maneira mais eficiente e menos custosa para esse transporte. Justifique sua decisão. FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos sobre os modais de transportes, as formas pelas quais pessoas e cargas podem ser transportadas, seus veículos e vias de transporte. Vimos que os modais são: terrestre (rodoviário e ferroviário); aquaviário (marítimo, fluvial ou lacustre); aeroviário e dutoviário. Estudamos as principais características desses modais, especialmente as relacionadas à velocidade; confiabilidade (capacidade de entregar o transporte nas condições acordadas); capacidade (quantidade de volume transportado em um único veículo); disponibilidade e frequência. Conhecemos as principais características, vantagens, desvantagens e usos apropriados a cada modal. Procuramos também situar a questão de cada modal na matriz de transportes brasileira, no sentido de se conhecer os problemas e vislumbrar o desenvolvimento dos modais em nosso país. Esperamos que tenha gostado e até nossa próxima aula! REFERÊNCIAS ALVARENGA, H. Matriz de transportes do Brasil à espera dos investimentos. 2020. Disponível em <https://www.ilos.com.br/web/tag/matriz-de-transportes/>. Acesso em: 19 ago. 2021. CALADO, L. A evolução do transporte aéreo no Brasil. Portal JusBrasil, 2019. Disponível em: <https://leandrocalado.jusbrasil.com.br/artigos/667170522/a-evolucao-do-transporte-aereo-no- brasil>. Acesso em: 19 ago. 2021. MORAIS, R. R. de. Logística empresarial. Curitiba: InterSaberes, 2015. RAZZOLINI FILHO, E. Transporte e modais: com suporte de TI e SI. Curitiba: InterSaberes, 2012. SOUZA, C. B. P. de. Ferrovias brasileiras: conheça os fatos históricos mais curiosos. Portal Portogente, 2019. Disponível em: <https://portogente.com.br/portopedia/109992-ferrovias- brasileiras-conheca-fatos-historicos-curiosos>. Acesso em: 19 ago. 2021. TKU – tonelada de carga útil transportada, aquela que não considera o peso dos veículos e das embalagens. [1]
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