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@bene.med TUTORIAL 06 – MÓDULO XX ENDOCARDITE INFECCIOSA Infecção microbiana da superfície endotelial do coração (endocárdio), causada por bactérias, fungos e outros patógenos. Mais frequentemente acomete valvas cardíacas, mas também defeitos septais, cordas tendineas ou endocárdio mural previamente lesado, e ainda dispositovos. Pode ser aguda ou subaguda, ambas evoluem pra óbito caso não tratadas. EPIDEMIOLOGIA: predomina nos adultos mais velhos, usuários de drogas IV, crianças com cardiopatias congênitas, associada a cuidades de saúde (hemodiálise, cateterismo venoso, implante de devices intracardiacos) que pode se manifestar até 90 dias desse contato intenso com sistema de saúde. ➢ Fator de risco nos países ricos: cirurgia valvar. ➢ Fator de risco nos países pobres: febre reumática Fatores de risco em geral: valvopatias (turbilhonamento que causa lesão endotelial), prótese valvar, dispositivo intracardiaco, usuários de drogas IV (bacteremias frequentes), endocardite infecciosa previa, cardiopatias congênitas. Quando em valvas protéticas: ➢ Precoce: primeiros 2 meses ➢ Intermediário: 2-12 meses ➢ Tardio: após 12 meses. ETIOLOGIA ENDOCARDITE AGUDA: quando em pctes com valvas nativas e não usuários de drogas IV, o S. aureus é o principal (infecção de pele ou SC como porta de entrada). Outro patógeno é o S. pneumoniae, geralmente em alcoolatras com pneumonia e meningite, raro em crianças, acomete mais valva aórtica. ➢ Síndrome de Austrian: pneumonia + meningite + endocardite. ENDOCARDITE SUBAGUDA: quando em pctes com valvas nativas e não usuários de drogas IV, o patógeno é o Streptococcus viridans (ou outros alfa hemolíticos), faz parte da microbiota oral. ➢ Enterococos (E. faecalis e E. faecium) associado a instrumentação do trato urinário em homens, tem resistência aos diversos ATBs ➢ Streptococos bovis relacionado a lesões do TGI, conduzir investigação de tumores do colon com colonoscopia ➢ Grupo HACEK (H. parainfluenzae, H. aphrophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium hominis, Eikenela corrodens e Kingella kingii), fazem parte da flora do trato respiratório superior, raramente causam endocardite em valvas nativas e protéticas (forma tardia). USUÁRIOS DE DROGAS IV: S. aureus que afeta principalmente a tricúspide, material injetado tem partículas e impurezas que lesam diretamente o endotélio dessa valva, facilitando infecção. Pode ocorrer metastatização de embolos sépticos pro pulmão e formação de abscessos (achado característico). Quando endocardite de valva mitral ou aórtica, pensar em bacilos gram negativos entéricos (pseudomonas, salmonella, E. coli, Klebsiella, enterobacter e serratia) e também fungos. PRÓTESE VALVAR: ➢ Inicio precoce: estafilococos epidermides e S. aureus, outros bacilos gram-negativos, fungos, enterococos e difteroides. Contaminação é na cirurgia ou bacteremia pós-cx intra- hospitalar, espera-se maior resistência. ➢ Inicio intermediário: geralmente infecta na internação, mas demora pra manifestar. S. epidermidis coagulase negativa, alta resistência ao ATB. ➢ Inicio tardio: S. viridans, S. aureus, enterococo e HACEK. ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE: S. aureus e S. epidermidis, enterococos frequentemente também. AGENTES RAROS: 5-15% tem hemocultura negativa, geralmente por uso prévio de ATB ou por germes raros que não crescem nesses meios. Causam quadros indolentes, e por vezes afebris. São eles a granulicatella e abiotrofia, membros HACEK, bartonella henselae ou quintana (dos morados de rua), coxiella burnetti, brucella, tropheryma whippeli. FISIOPATOLOGIA Ocorre mais facilmente em locais de endotélio cardíaco lesionado, ou ainda em regiões de turbilhonamento sanguíneo e com dispositivos intracardiacos. 1. Lesão endotelial: por fluxo sanguíneo de alta velocidade (jato regurgitante, jatos ejetivos de estenose), estresse mecânico por turbilhonamento, corpo estranho que produz lesão por trauma físico (MP ou desfibrilador implantável, CVP). 2. Endocardite trombótica não bacteriana (ETNB): cicatrização da lesão pela cascata de coagulação, é a vegetação inicialmente estéril. 3. Bacteremia transitória: bactérias chegam na malha do trombo 4. Colonização e formação de biofilme: endocardite infecciosa. 5. Embolização sistêmica e bacteremias recorrentes. @bene.med Procedimentos com risco de bacteremia transitória: procedimentos dentários que causam sangramento, procedimentos geniturinários, procedimentos respiratórios, procedimentos gastrointestinais, drenagem de abscessos cutâneos. QUADRO CLÍNICO Sintomatologia mais comum é febre (90%), sopros cardíacos (85%), sintomas constitucionais (mal-estar, mialgia, fraqueza, sudorese noturna). ➢ AGUDA: acontece em dias, pode se apresentar como sepse. Acomete valvas sem anormalidades, faz focos de infecção metastática. ➢ SUBAGUDA: acontece em semanas, apresenta-se como quadro de febre não especificada. Geralmente valvas lesadas, fenômenos imunológicos. FENÔMENOS IMUNOLÓGICOS: ➢ Nódulos de Osler: nódulos subcutâneos pequenos, violáceos, bem dolorosos, mais na palma da mao e planta do pé ➢ Manchas de Roth: manchas no fundo de olho, mancha hemorrágico com centro pálido FENÔMENOS EMBÓLICOS (vasculares): ➢ Hemorragia conjuntival ➢ Hemorragia ungueal: hemorragia de plinter ➢ Lesões de Janeway: acomete planta do pe e palma da mao, indolores COMPLICAÇÕES CARDÍACAS: ➢ ICC: mais comum, relacionada a insuficiência valvar, principal causa de morte quando rapidamente progressiva. ➢ Abscesso perivalver: desconfiar nos BAVs e bacteremias persistentes, tem que seriar ECG. Mais nos por S. aureus. COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS: ➢ Aneurisma micótico ➢ Meningoencefalites ➢ AVC isquêmico embólico ➢ Hemorragias COMPLICAÇÕES RENAIS: ➢ Infarto ➢ Abscesso ➢ Glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos. EMBOLIZAÇÃO SÉPTICA Quando PULMONAR, pensar em lado direito do coração (valva tricúspide e pulmonar), geralmente nos pctes usuários de drogas IV. É muito mais comum endocardite no lado esquerdo do coração, mas quando do lado direito, lembrar desses casos. Fazer triagem com US abdominal em pacientes com endocardite, pois pode ter abscesso metastático ESPLÊNICO. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DE DUKE MODIFICADOS: mnemônico “CÊS” (maiores) PIFEM (menores) ➢ C: cultura positiva (S. aureus, Streptococo, enterococo). ➢ E: ecocardiograma com vegetação, abscesso perivalvar, deiscência de prótese. ➢ S: sopro novo de regurgitação ➢ P: predisposição ➢ I: imunológicos (glomerulonefrite, aumento de fator reumatoide, nódulos de Osler, manchas de Roth) ➢ F: febre > 38 ➢ E: embólicos ➢ M: microrganismos atípicos que não pegam na cultura. ENDOCARDITE DEFINITIVA é quando tem 2 MAIRES, ou 1 MAIOR + 3 MENORES, ou 5 MENORES. ENDOCARDITE POSSÍVEL é quando 1 MAIORE + 1 MENOS, ou 3 MENORES. TRATAMENTO QUANDO POR VALVA NATIVA: 4-6 semanas de tratamento ➢ ENDOCARDITE SUBAGUDA (S. viridans): penicilina ou ampicilina ou ceftriaxone + gentamicina ➢ INFECÇÃO DE TGU/TGI (enterococo): penicilina ou ampicilina + gentamicina. ➢ USUÁRIO DE DROGAS IV OU ENDOCARDITE AGUDA (S. aureus): oxacilina quando MSSA ou vancomicina quando MRSA. Não fazer gentamicina de rotina quando S. aureus Considerar transição de ATB pra VO quando boa evolução após 7-10 dias. QUANDO POR VALVA PROTÉTICA: 6-8 semanas de tratamento ➢ PRECOCE (estafilo coagulase negativa): vancomicina + gentamicina + rifampicina ➢ TARDIA (S. viridans): ampicilina + oxacilina. @bene.med PROFILAXIA PACIENTES DE ALTO RISCO PRA ENDOCARDITE: endocardite previa, prótese valvar, cardiopatia congênita cianótica (TTF). ENDOCARDITE FÚNGICA Por Candida é a mais comum. Aqui a embolização é mais comum do que na bacteriana, pois as vegetaçõessão de maior tamanho. Infrequente os achados de nódulos de Osler, manchas de Janeway e manchas de Roth. DIAGNOSTICO: mais demorado, pede hemocultura, ecocardio ve as grandes vegetações. TRATAMENTO: anfotericina b + flucitosina + cirurgia de troca de valva. Após Cx faz antifúngico por pelo menos 6 semanas. Caso impossibilidade de cx, faz tratamento supressor pro resto da vida com fluconazol VO. MIOCARDITE É a inflamação do miocárdio que ocorre de causas infecciosas ou não infecciosas. Mais nos masculinos, adultos jovens. Causa de morte súbita em < 40 anos. ETIOLOGIA: pode ser viral (adenovírus, enterovírus, parvovirus B19, coronavírus, CMV, EBV, HIV, herpes simples, hepatite C), bacteriana, fungos, helmintos, protozoários (doença de Chagas), e também pode ser não infecciosa (Churg-Strauss, síndrome de hipereosinofilia, miocardite de células gigantes, sarcoidose, LES). FISIOPATOLOGIA VIRAL: fase aguda até o 10º dia, e a fase subaguda entre o 4º ao 14º dia (tem sobreposição das duas fases), terminando com a fase tardia do 15º dia em diante (chega no hospital nessa fase) 1. Ação direta do vírus: causa necrose do miocárdio. Resposta inflamatória é ativada contra o vírus e contra as próprias proteínas do organismo. 2. Infiltrado de LT contra o vírus, infiltrado de LTCD4 contra a cadeia pesada da miosina 3. Deposito de colágeno que leva a fibrose QUADRO CLÍNICO Pode evoluir pra ICC, tem que evitar que isso aconteça. Geralmente o quadro acontece após uma infecção viral (30% dos casos) que continua com prostração, dispneia aos esforços que vai evoluindo, e vai se arrastando, pois paciente não procura ajuda. Sintomatologia: incomum, geralmente manifesta apenas na IC com sintomas de cansaço. Quando manifesta (muito grave), apresente palpitações, dor anginosa, sincope e até morte súbita ➢ Pensar nos pacientes que estão evoluindo pra IC nova e recente, e são jovens, sem IAM. DIAGNÓSTICO ➢ Troponina alta (I e T) na fase aguda, vai diminuindo nas outras fases. Aumenta VHS, PCR e leucometria. ➢ ECG mostra zonas inativas, arritmias e bloqueios ➢ Miopericardite tem ECG especifico. ➢ Ecocardio: achados inespecíficos. ➢ RNM: ve edema miocárdico em T2 e realce tardio (aparece nas situações com morte de musculo). Melhor exame. ➢ Biopsia endomiocárdica (BEM): método padrão-ouro de investigação, estabelece diagnostico e etiologia da inflamação, pega do VD. Faz nos casos gravíssimos, é muito invasiva. TRATAMENTO É o tratamento pra ICC: restrição dietética de sódio 2-3g/dia, restrição hídrica entre 1-1,5L na fase sintomática, cessar tabagismo, consumo excessivo de álcool, pratica de exercícios (miocardite é causa de morte súbita em atletas jovens, não realizar exercícios rigorosos ate 6 meses pós fase aguda) e vacinação (caxumba, sarampo, rubéola, poliomielite e gripe). ➢ Betabloqueador, IECA, espironolactona ➢ Diuréticos se congestão ➢ Transplante cardíaco em casos de muita gravidade ➢ Caso reativação do Chagas: benzonidazol e alopurinol ➢ Caso FA: anticoagulação oral TRATAMENTO GUIADO POR BIOPSIA: ➢ Imunossupressão: suprimir resposta inflamatória e atividade imune, faz com prednisona + azatioprina por 6 meses ➢ Antivirais: interferon-beta e Ig IV @bene.med ➢ Imunomodulaçao: plasmaferese seletiva visando retirar ac específicos. PERICARDITE Pericárdio é a membrana que recobre todo o coração, formada pelo pericárdio visceral e o parietal (espaço virtual entre elas), pericardite é a inflamação dessas membranas, caso acumule liquido é chamado de derrame, e quando tem derrame extenso é chamado de tamponamento cardíaco. Pode ainda evolui pra pericardite constritiva. ETIOLOGIA: principalmente viral (adenovírus, cocksackie), tuberculose (subaguda/crônica). 1/3 é por causas não infecciosas, pode ser autoimune (LES, AR, febre reumática), neoplasias metastáticas (pulmão, mama), causas metabólicas (uremia, hipotireoidismo), radiação precoce ou tardia, causas cardiovasculares (síndrome de Dressler pós-IAM e após cirurgia cariaca). FISIOPATOLOGIA Em momentos de inflamação do pericárdio, tem acumulo de liquido no espaço entre as pleuras pericárdicas. Quando esse acumulo é lento, pode acumular grande volume, mas não refletir e manifestações graves. Quando esse acumulo é abrupto, pode evoluir pra tamponamento rapidamente. QUADRO CLÍNICO Dor torácica é a mais comum, característica pleurítica (muda na inspiração, piora), aguda, sem explicação, melhora ao sentar e inclinar corpo pra frente. Manifesta taquicardia, febre, sintomatologia de IVAS ou ainda gastroenterite (precedendo quadro de pericardite). Na AC vai ter o som do atrito pericárdico, como se fosse um “couro” com geralmente 3 fases, pode se apresentar em 1/3 dos pacientes, e ainda transitório. Lembrar das causas, quando for pro LES vai ter outros sintomas juntos, quando neoplásica também. DERRAME PERICÁRDICO: manifesta com o abafamento das bulhas cardíacas. ➢ Tríade de Beck (tamponamento): bulhas abafadas, estase jugular e choque circulatório (hipotensão). ➢ Pulso paradoxal: quando tem queda de PAS > 10mmHg com a inspiração profunda ➢ Redução do descenso “y” do pulso venoso PERICARDITE CONSTRITIVA: sinais de congestão direita (sistêmica), ou seja, edema de MMII, estase jugular. Também tem “Knock pericárdico”. Aqui descenso “y” ta proeminente, pois aqui o problema é a complacência do coração. DIAGNÓSTICO NÃO TEM PADRÃO-OURO, pode pedir ECG, manifesta com supradesnivel do ST com ST concavo e onda T positiva e apiculada, geralmente em V1 e aVR. Pode ter infra de PR. Diagnostico diferencial é com IAM, mas não tem onda Q patológica na evolução do ECG. No ecocardio vai ver o derrame pericárdico, mas é mais comum não ter derrame, ou achar um leve. RX é normal. TRATAMENTO Geralmente é autolimitada por ser de causa viral ou idiopática, tratamento é sintomatológico e prevenção de recidivas ate resolução. Quando piogenico ou urêmico tem que tratar causa base. Maioria dos pctes são internados pra observação, tem que ficar de repouso e investigação diária de tamponamento. Faz uso de ibuprofeno 14 dias ou indometacina + colchicina por 3 meses (recidiva) Se pcte refratário, substitui os AINEs por prednisona em doses anti-inflamatorias. Uso de anticoagulantes está contraindicado em todos os casos de pericardite aguda em sua fase sintomática pelo risco de hemopericardio e tamponamento cardíaco. Quando recorrente, pode usar colchicina 1mg/dia por ate 2 anos como profilaxia.
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