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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Sistemas e Tratamento de Efluentes Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamento Secundário Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Daniela Debone Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • Lagoas de Estabilização; • Gerenciamento do Lodo Proveniente do Sistema de Lagoas. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Discutir os principais processos do tratamento secundário de efluentes, tais como os sis- temas de lagoas e a retirada de nutrientes. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamento Secundário UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário Contextualização Para iniciar esta unidade, leia a reportagem Inovação e tecnologia ajudam a apri- morar o saneamento básico, disponível no link a seguir, e reflita sobre a questão da importância do tratamento dos efluentes antes do seu despejo no meio ambiente. Inovação e tecnologia ajudam a aprimorar o saneamento básico, disponível em: https://goo.gl/eZeFgv Quais os benefícios alcançados para o saneamento básico pelo desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias de tratamento de efluentes? 6 7 Introdução O tratamento secundário se refere aos processos biológicos de tratamento de efluentes. Enquanto nos tratamentos preliminar e primário predominam mecanismos físico-químicos, no tratamento secundário a retirada da matéria orgânica ocorre por reações bioquímicas, realizadas por microrganismos que reproduzem, em escala de tempo e área, fenômenos de autodepuração que ocorrem naturalmente nos diferentes corpos d’água. Capacidade de um corpo d’água restaurar suas características ambientais natural- mente devido à decomposição de poluentes. A matéria orgânica é removida através de processos que aceleram a sua decompo- sição – como veremos nesta Unidade, ao tratarmos dos sistemas de lagoas, lagoa de maturação e retirada de nutrientes; e também na próxima, com o tratamento de lodos ativados e filtros biológicos. Portanto, nesses processos, o principal objetivo é converter a matéria orgânica biodegradável presente no efluente em gases, sólidos inorgânicos e material biológi- co sedimentável. Os processos que se destacam nesta etapa de tratamento, e que serão discutidos aqui, como dito, são: o sistema de lagoas de estabilização e a retirada de nutrientes. Lagoas de Estabilização Consideradas uma das mais simples técnicas de tratamento de efluentes, as lagoas de estabilização são muito empregadas. Existem diferentes tipos, podendo variar o sistema operacional empregado, as diferentes áreas disponíveis à sua instalação, como também a eficiência obtida. Aqui, serão abordados os seguintes sistemas de lagoas de estabilização: • lagoas facultativas; • sistema de lagoas anaeróbias e posterior sistema de lagoas facultativas; • lagoas aeradas facultativas; • sistema de lagoas aeradas de mistura completa e posterior sistema de lagoas de decantação; • lagoas de maturação. Uma unidade de tratamento pode ser composta por uma única lagoa de estabiliza- ção; por combinação de dois tipos de lagoa, como o Sistema Australiano; ou por um complexo sistema com lagoas anaeróbicas, facultativas, aeradas e de maturação. O tipo de efluente que será tratado é o principal fator determinante para o planejamento da estrutura de uma unidade de tratamento. 7 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário As lagoas de estabilização são indicadas para países como o Brasil, de clima tropi- cal e em desenvolvimento, uma vez que alguns aspectos se destacam de forma muito incisiva, tais como: disponibilidade de áreas para instalação; clima favorável – tempe- ratura e insolação elevadas; operação muito simples e de baixo custo; manutenção de baixo custo também; facilidade de construção – necessidade de pouco ou nenhum equipamento para seu funcionamento (Figura 1). Porém, uma grande desvantagem, que não é preocupante no caso do Brasil, é a necessidade de grandes áreas para sua instalação e operação. Figura 1 – Imagem aérea de um sistema de lagoas de estabilização. Os objetivos principais desse sistema são a preservação do meio ambiente e a proteção da saúde, evitando a proliferação de doenças Fonte: jararaca.ufsm.br Normalmente, verifica-se uma sequência de processos adotados, que permitem orde- nar as lagoas a uma posição na série de unidades de tratamento: • Lagoa primária: a primeira da série é uma lagoa facultativa que recebe o efluente bruto a ser tratado; • Lagoa secundária: segunda lagoa da série, recebe o efluente de outra lagoa a montante; é usualmente uma lagoa anaeróbia; • Lagoa terciária, quaternária etc.: ocupam a terceira, quarta etc. posição na série; são usualmente lagoas de maturação. 8 9 O tempo necessário para que os microrganismos procedam com a estabilização da matéria orgânica é denominado Tempo de Detenção Hidráulica (θh) e pode ser calculado, como mostra a equação a seguir: V = Q*θh Onde, V = volume da lagoa (m3); Q = vazão média do afluente (m3/dia); θh = tempo de detenção hidráulica (dias). Lagoas facultativas Dentre os tipos de lagoas de estabilização, a lagoa facultativa é a mais simples, pois se constitui unicamente em processos de decomposição naturais. O processo se deve à retenção dos efluentes na lagoa, em um período de tempo suficiente para que os processos naturais de decomposição e estabilização da matéria or- gânica ocorram de forma completa. Assim, geralmente, o tempo de detenção hidráulica desse tipo de lagoa varia entre 15 e 45 dias. Em uma lagoa facultativa, predominam as bactérias facultativas, capazes de adap- tação aos ambientes aeróbios (mais à superfície) e anaeróbios (no fundo das lagoas). Geralmente, o oxigênio necessário à estabilização da matéria orgânica é fornecido em grande quantidade por algas que realizam a fotossíntese. O efluente é introduzido na lagoa por um lado e sai pelo lado oposto à entrada. Após sua introdução na lagoa, a matéria orgânica em suspenção do efluente (DBO parti- culada) inicia o processo de sedimentação, formando o lodo de fundo. O fundo da lagoa pode ser denominado como zona anaeróbia, onde o efluente passará pelo tratamento anaeróbio (Figura 2). A eficiência de remoção de DBO por uma lagoa facultativa é da ordem de 75% a 80%. Já nas regiões mais superficiais da lagoa, conhecidas como zona aeróbia, a matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e a matéria orgânica em suspensão de pequenas di- mensões (DBO finamente particulada) sofrerão o tratamento aeróbio, uma vez que, nas zonas superficiais da lagoa, há presença de oxigênio livre necessário para a realização do processo de decomposição (Figura 2). Na zona facultativa, onde se verifica falta ou presença de oxigênio, a estabilização da matéria orgânica acontece devido às bactérias facultativas, que sobrevivem nas duas condições citadas acima. 9 UNIDADE Processode Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário Figura 2 – Esquema simplifi cado de uma lagoa facultativa Fonte: Von Sperlling, 2013 Observe na Figura 2 que, na zona aeróbia, há um equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e gás carbônico. Enquanto as bactérias produzem gás carbônico e consomem oxigênio através da respiração, as algas produzem oxigênio e consomem gás carbônico na realização da fotossíntese. Nas zonas mais profundas, a quantidade de oxigênio presente diminui, devido à diminuição da fotossíntese. O processo das lagoas facultativas é totalmente natural, sem interferência humana. De acordo com a Tabela 1, os principais fatores que podem interferir em sua eficiência são a radiação solar, temperatura e o vento. Tabela 1 – Infl uências das condições ambientai Fator Influência Radiação Solar Velocidade de fotossíntese Temperatura Velocidade de fotossíntese Taxa de decomposição bacteriana Solubilidade e transferência de gases Condições de mistura Vento Condições de misturaReaeração atmosférica Na superfície, a temperatura é mais elevada que nas demais camadas. Conforme se aprofunda na lagoa, existirá um ponto em que acontecerá uma brusca diminuição na 10 11 temperatura, acompanhada de um aumento na densidade e na viscosidade do efluente tratado. Esse ponto é denominado termoclina. A zona superficial menos densa e a mais profunda mais densa não se misturam (Figura 3). A temperatura ambiente interfere na velocidade da fotossíntese, na taxa de decompo- sição bacteriana, na solubilidade e na transferência de gases e nas condições de mistura – essas também são influenciadas pela ação dos ventos. Por esse motivo, é importante a construção das lagoas em áreas onde não existam os obstáculos naturais ou artificiais que barrem a ação dos ventos. camada superior camada inferior vento termoclina altura temperatura TEMPERATURA altura OD OD LAGOA COM ESTRATIFICAÇÃO TÉRMICA (períodos mais quentes) camada única vento altura temperatura TEMPERATURA altura OD OD LAGOA COM MISTURA – INVERSÃO TÉRMICA (entrada do período frio) Figura 3 – Esquema simplifi cado de estratifi cação e mistura em uma lagoa Além disso, o acúmulo de lodo no fundo da lagoa também interfere na eficiência do processo. O processamento anaeróbio no fundo da lagoa pode acarretar um subproduto solúvel não estabilizado e reintroduzido na parte líquida superior da lagoa, o que alterará a estabilidade atingida e, consequentemente, a eficiência do processo. Sistemas de lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas – Sistema Australiano Outro modelo de sistema de tratamento de efluentes que utiliza o sistema de lagoas é o constituído por lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas. As lagoas anaeróbias caracterizam-se por utilizarem processos estritamente anaeró- bios. Muito empregada no tratamento de efluentes domésticos, despejos industriais pre- dominantemente orgânicos, com alta taxa de DBO, como matadouros, laticínios, bebi- das etc. Essas lagoas são dimensionadas para receber elevada carga orgânica, portanto, são profundas, com o objetivo de impedir a difusão do oxigênio produzido na camada 11 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário superficial para camadas profundas. Além disso, apresenta facilidade de construção, operação e não são necessárias grandes áreas para sua instalação. No processo anaeróbio, a decomposição da matéria orgânica produz subprodutos de alto poder energético (biogás) e, dessa forma, a disponibilidade de energia para a reprodução e metabolismo das bactérias é menor do que no processo aeróbio. Portanto, o tempo de detenção hidráulica desse sistema não pode ser inferior a 35 dias. A eficiência de remoção de DBO por uma lagoa anaeróbia é da ordem de 50% a 60%. Uma vez que a DBO efluente é ainda muito alta, faz-se necessário o uso de outra unidade posterior para refinar o tratamento, geralmente uma lagoa facultativa. O siste- ma de lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa é denominado Sistema Australiano (Figura 4). Em um processo em que o sistema esteja bem equilibrado, a ocorrência de proble- mas não é verificada. Porém, em processos em que ocorram desequilíbrios, é comum a presença do mau odor, decorrente da produção e liberação de gás sulfídrico; isso pode ocorrer como uma das consequências operacionais. Por isso, esse sistema deve ser lo- calizado em áreas afastadas. D e maneira simplificada, o processo de uma lagoa facultativa ocorre em duas eta- pas distintas: liquefação e formação de ácidos (através das bactérias acidogênicas) e formação de metano (através das bactérias metanogênicas). Na primeira fase, acontece apenas a transformação da matéria orgânica. Na segunda, ocorre a conversão da DBO e da matéria orgânica em metano, gás carbônico e água. O equilíbrio entre essas fases é fundamental para o sucesso do sistema de tratamento. Para isso, deve-se atentar às condições controladas, tais como ausência de oxigênio dissolvido (as bactérias metano- gênicas são anaeróbias), temperatura do líquido deve estar acima de 15ºC e pH deve ser adequado, próximo ou superior a 7. Da mesma forma que nas lagoas facultativas, o lodo depositado nas lagoas aeróbias deve ser considerado, assim a remoção deve ocorrer quando a espessura afetar o volume útil da lagoa. No entanto, o sistema pode operar por vários anos sem necessitar da re- moção do lodo; sinal de eficiência do sistema de desarenação no tratamento preliminar. Lagoa Anaeróbia - Lagoa Facultativa fase sólida fase sólida GRADE DESARENADOR MEDIDOR VAZÃO LAGOA ANAERÓBIA LAGOA FACULTATIVA CORPO RECEPTOR Figura 4 – Esquema simplifi cado Sistema Australiano 12 13 Lagoas aeradas facultativas A lagoa facultativa aerada é empregada quando se trabalha com um sistema predo- minantemente aeróbio e que requer dimensões reduzidas, quando comparadas às lagoas facultativas ou ao sistema australiano. A principal diferença entre as lagoas aeradas facultativas e a facultativa convencional é que, nesse tipo de lagoa, em vez de o oxigênio ser produzido por fotossíntese, ele é fornecido por aeradores mecânicos. A lagoa aerada pode ser utilizada quando se deseja um sistema predominantemente aeróbio e a disponibilidade de área é insuficiente para a instalação de uma lagoa facul- tativa convencional. Devido à introdução de equipamentos eletromecânicos, a comple- xidade e manutenção operacional do sistema são aumentadas, além da necessidade de consumo de energia elétrica. Os mecanismos de remoção da DBO são similares aos de uma lagoa facultativa. No entanto, o oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos, ao invés de através da fotos- síntese. Como a lagoa também é facultativa, uma grande parte dos sólidos do efluente e da biomassa sedimentada é decomposta anaerobiamente na camada mais profunda da lagoa. A eficiência de remoção de DBO por uma lagoa aerada facultativa é da ordem de 70% a 80%. O fornecimento mecânico de oxigênio é maior do que no processo da lagoa faculta- tiva convencional, portanto, observa-se redução significativa do volume, da área da lagoa e do tempo de detenção hidráulica, que varia entre 5 a 10 dias. Os aeradores são distribuídos de forma homogênea pela lagoa. Em lagoas retangu- lares, podem-se ter aeradores mais potentes ou um número maior deles na região pró- xima à entrada dos efluentes, onde a necessidade de oxigênio é muito maior. No caso da utilização de aeradores contíguos, esses devem ter sentidos de rotação opostos. Para uma menor perda de sólidos, a região final da lagoa deverá permanecer sem aeradores, garantindo, assim, uma melhor sedimentação. O grau de energia introduzido na lagoa através dos aeradores é suficiente apenas para a obtenção de oxigênio, porém, não é suficiente para a manutenção dos sólidos em suspensão e das bactérias dispersos na massa líquida. Portanto, ocorre sedimentação da matéria orgânica, formando o lodo de fundo, que será estabilizado anaerobiamentecomo em uma lagoa facultativa convencional. Sistemas de lagoas aeradas de mistura completa seguidas por lagoas de decantação São lagoas essencialmente aeróbias. O grau de energia introduzido é suficiente para garantir a oxigenação da lagoa e também manter os sólidos em suspensão e a biomassa 13 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário dispersos na massa líquida; por isso, a denominação de mistura completa. O tempo de detenção hidráulica do efluente nesse tipo de lagoa é de 3 a 5 dias. A eficiência de remoção de DBO por esse sistema é da ordem de 85% a 90%. O efluente que sai de uma lagoa aerada de mistura completa possui uma grande quantidade de sólidos suspensos e não pode ser lançado diretamente no corpo receptor. Por isso, é necessária a inclusão de uma unidade de tratamento complementar para que ocorra a sedimentação e estabilização desses sólidos; e nesse caso, essas unidades posteriores são as lagoas de decantação. O tempo de detenção hidráulica do efluente nas lagoas de decantação é da or- dem de 2 dias, suficiente para a remoção dos sólidos em suspensão produzidos na lagoa aerada, e não pode ser muito elevado para não favorecer a proliferação de algas no efluente. A área necessária para esse sistema de lagoas é a menor quando comparada com as outras lagoas já citadas e os requisitos de energia são similares às das lagoas aeradas. A remoção de lodo é considerada um problema operacional, uma vez que é um proces- so trabalhoso e de elevado custo, devendo ocorrer no período de 2 a 5 anos. Lagoas de maturação As lagoas de maturação são utilizadas para o tratamento de descargas orgânicas leves (menor que 50 kg DBO/hab.dia) provenientes de outras lagoas, com DBO estabilizado e oxigênio dissolvido. Objetiva-se, então, a remoção de organismos patogênicos presentes e de nutrientes, principalmente amônia e fosfato. Possui baixa profundidade para favorecer alguns fatores atuantes, como a radiação solar ultravioleta e temperatura. São usualmente projetadas por uma série de lagoas (Figura 5) ou por uma lagoa única com divisões por chincanas, que são divisões em forma de zigue-zague (Figura 6). LAGOAS DE MATURAÇÃO EM SÉRIE 245 m 98 m 98 m Lagoa Facultativa 1 Lagoa Facultativa 2 110 m 110 m 110 m 110 m Lagoa de Maturação 1 Lagoa de Maturação 2 Lagoa de Maturação 3 Figura 5 – Fluxograma de um sistema de lagoas, que utilizou duas lagoas facultativas e três lagoas de maturação dispostas em série 14 15 O sistema apresentado no fluxograma da Figura 6 é composto por lagoa anaeróbia, seguida por uma lagoa facultativa com três divisores de fluxo (chincanas) que formam quatro canais paralelos internos, seguida por uma lagoa de maturação com apenas um divisor de fluxo (chincanas), que formam dois canais paralelos internos. Lagoa Anaeróbia Cx. de Areia e Gradeamento A�uente E�uente Lagoa de Maturação com Chicanas Lagoa Facultativa com Chicanas Figura 6 – Fluxograma do sistema de lagoas da ETE de Santa Fé do Sul, região Noroeste do Estado de São Paulo – Brasil As lagoas de maturação apresentam elevada eficiência de remoção de coliformes. Dentre os organismos removidos, incluem-se bactérias, vírus, protozoários e helmintos, que causam grandes danos à saúde humana e de animais. A eficiência da lagoa de maturação deve atingir taxas elevadíssimas na remoção de coliformes (entre 99,9 e 99,99%), para que tais efluentes possam ser utilizados na irri- gação. Para despejos em corpos de água, essa eficiência é um pouco menor, mas deve atender aos parâmetros estabelecidos na Resolução CONAMA n.º 20/86. Em relação aos ovos de helmintos e cistos de protozoários, a lagoa de maturação consegue uma remoção total dos mesmos (100% de eficiência). Retirada de nutrientes A remoção de compostos orgânicos biodegradáveis, especificamente compostos de carbono, é requisito determinante do tratamento biológico de efluentes. Porém, outros tipos de nutrientes devem ser removidos, tais como compostos de nitrogênio e fósforo. Esses compostos, quando lançados em altas concentrações, provocam a eutrofização dos corpos hídricos. No efluente em tratamento, o fósforo apresenta-se das seguintes formas: polifosfatos, ortofosfatos, fosfolipídeos e polinucleotídios. O nitrogênio pode apresentar-se na forma de amônia residual, nitritos e nitratos. 15 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário Remoção de fósforo Os mecanismos de remoção de fósforo envolvem basicamente processos de preci- pitação química por adição de cloreto férrico, sulfato de alumínio e hidróxido de cálcio, como demonstrado pelas equações, respectivamente: FeCl3 + HPO4 2- → FePO4 + H + + 3 Cl- Al2(SO4)3 + 2 HPO4 2- → 2 AlPO4 + 2 H + + 3 SO4 2- 5 Ca(OH)2 + 3 HPO4 2- → Ca5(PO4)3OH + 3 H2O + 6 OH - Outra prática de remoção química bastante empregada é a aplicação de poliele- trólitos. Além disso, pode-se também ocorrer a remoção biológica de fósforo, a partir de uma sequência de processos anaeróbios/aeróbios que selecionam microrganismos acumuladores de altas concentrações de fósforo intracelular, como, por exemplo, as bactérias do gênero Acinetobacter, que retiram o composto do efluente. Remoção de nitrogênio A remoção biológica de nitrogênio ocorre principalmente por: • nitrificação: A transformação da amônia gerada na degradação da matéria orgânica em nitrito e nitrato pela ação das bactérias do gênero Nitrosomonas e Nitrobacter; • desnitrificação: A transformação dos nitratos em nitrogênio molecular pela ação de diversos grupos de bactérias, tais como Achromobacter, Aerobacter, Alcaligenes, Microccus, Proteus e Pseudomonas. Nitri�cação Desnitri�cação Suplementação de carbono O2 O2 NO3 – NO2 – N2 NH4 + Figura 7 – Representação simplifi cada da remoção biológica do nitrogênio. A seta verde indica o processo de desnitrifi cação e as setas azuis indicam a nitrifi cação A eficiência da remoção de amônia em lagoas de maturação em série pode atingir de 70 a 80% de eficiência; e em lagoas de maturação mais rasas, esse valor pode chegar a 90% – o que se enquadra no padrão CONAMA de lançamento de 5 mg/L de amônia. Elevada eficiência, quando comparada às lagoas facultativas e aeradas, com remoção de 30% e 50%, respectivamente. 16 17 Gerenciamento do Lodo Proveniente do Sistema de Lagoas Como vimos, em todos os processos de tratamento de efluentes através de lagoas de estabilização existe a produção de lodo associado aos sólidos presentes no efluente bruto e na biomassa produzida. Em lagoas grandes, como as facultativas, o acúmulo do lodo no fundo dessas cau- sa menores impactos quando compara-se aos outros tipos de lagoas mais compactas, como as anaeróbias, as lagoas aeradas facultativas e as lagoas de sedimentação, uma vez que a ocupação do volume útil das lagoas passa a ser um transtorno. Assim, remoção, tratamento e destino final do lodo devem ser estudados também. A taxa de acumulação de lodos é influenciada por diferentes fatores, principalmente: as características do efluente, tempo de operação da estação de tratamento, eficiência das etapas iniciais de tratamento, posicionamento dos dispositivos de entrada e saída, características geométricas da lagoa e taxas de carregamento orgânico e hidráulico. A definição da melhor opção para a disposição final do lodo depende diretamente das suas características físico-químicas e microbiológicas, dentre as quais se sobressaem: • matéria orgânica: sólidos voláteis e sólidos totais; • nutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio; • metais pesados: cobre, zinco, mercúrio, cádmio, cromo, níquel e chumbo; • microrganismos patogênicos: coliformes fecais, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides e Taenia sp.), bactérias (Salmonella sp. e Vibrio cholerae), vírus (Poliovírus e Hepatite A vírus – VHA) e protozoários (Entamoeba histolytica e Giardia lamblia). Os principais efeitos nocivos provocados por uma disposição inadequada do lodo podem resultarem risco à saúde pública e à qualidade ambiental. Portanto, os processos de tratamento, que produzem esse tipo de resíduo, tais como os diferentes sistemas de lagoa, além de exigirem remoção frequente, demandam sucessivas etapas de tratamento desse material antes de sua disposição final. Basicamente, o tratamento do lodo envolve os processos de adensamento, estabili- zação e higienização. O adensamento, também chamado de espessamento, consiste em concentrar os só- lidos presentes no lodo, de forma a reduzir a umidade e o volume. O adensamento pode ser seguido do desaguamento, com o objetivo de esgotar a água ainda presente no lodo, pode ser realizado em diversos tipos de sistemas de desi- dratação naturais, tais como leito de secagem (Figura 8) e lagoa de desidratação, e por métodos mecânicos, tais como filtro prensa, filtro a vácuo com tambor rotativo, prensa desaguadora e centrífuga. 17 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário Leito de secagem de lodo. O lodo é inserido no tanque, onde ocorre a decantação, a perco- lação e a evaporação, disponível em: https://goo.gl/XeFfgk A estabilização do lodo tem por finalidade reduzir a quantidade de patógenos, elimi- nar os maus odores e inibir, reduzir ou eliminar o potencial de putrefação. Essa etapa pode ocorrer por digestão anaeróbia (link abaixo), digestão aeróbia, tratamento térmi- co, ou estabilização química. Digestor Anaeróbico, disponível em: https://goo.gl/3XvuYU Representado no link acima, o digestor anaeróbico é um processo bioquímico em que ocorre a estabilização do lodo, de maneira anaeróbia, a partir da ação de bactérias que convertem matéria orgânica em metano, gás carbônico e massa celular. As etapas de digestão (aeróbia e anaeróbia), apesar de reduzirem a quantidade de microrganismos patogênicos presentes no lodo, não são suficientes para removê-los de forma a atender à legislação vigente, principalmente se a destinação final for para a aplicação agrícola. Caso a destinação final do lodo seja a incineração ou disposição em aterro, o nível de higienização necessária é menos rigoroso. Para a etapa de higienização, pode-se aplicar diferentes métodos de desinfecção, os principais são: adição de cal, tratamento térmico, compostagem (Figura 8), oxidação úmida e radiação solar. Figura 8 – A compostagem promove a decomposição da matéria orgânica e o produto fi nal desse processo pode ser utilizado na agricultura 18 19 Entre as principais opções de destinação final para lodos provenientes de ETEs, po- demos citar: • descarga oceânica; • incineração; • aterro sanitário; • recuperação de áreas degradadas; • agricultura e silvicultura; • construção de telhados verdes e pavimentação; • fabricação de materiais de construção. Cada vez mais, é necessário realizar novas buscas por tecnologias de tratamento do lodo e determinar formas diferenciadas de disposição, de maneira a reduzir custos, miti- gar impactos ambientais e atender às legislações ambientais. Para saber mais sobre a destinação final de lodo, leia o artigo Destinação Final de Lodos de ETAs e ETEs, disponível no link a seguir: https://goo.gl/Zso9ba 19 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Secundário Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Lagoa de Estabilização – Área superficial https://youtu.be/LOFIlhNpGdw Leitura Avaliação da demanda bioquímica de oxigênio em sistema de tratamento de efluentes de uni- dade demonstrativa do Campus Ciências Agrárias – UNIVASF https://goo.gl/TEG9bN Lodo de estação de tratamento de esgoto como fertilizante no cultivo de fumo e aveia https://goo.gl/91B8je Alternativas para o gerenciamento de lodo de sistemas descentralizados de tratamento de esgotos de áreas rurais https://goo.gl/ppQrJ6 20 21 Referências COELHO, S. B. et al. Avaliação da demanda bioquímica de oxigênio em siste- ma de tratamento de efluentes de unidade demonstrativa do Campus Ciências Agrárias – UNIVASF. Cadernos de Agroecologia, v. 13, n. 1, 2018. Disponível em: <http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/index.php/cadernos/article/view/1429>. Acesso em: 15 set. 2018. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA – 4ª REGIÃO (CRQ). Tratamento de efluen- tes industriais e domésticos. Minicursos 2009. Ministrante: Karla Gomes de Alencar Pinto. Campinas, 29 de agosto de 2009. GONÇALVES, R. F. (Coord.). Gerenciamento do lodo de lagoas de estabilização não mecanizadas. Espírito Santo: Programa de pesquisa em saneamento básico (PROSAB), Universidade Federal do Espírito Santo, 1999. IMHOFF, K. I.; IMHOFF, K. R. Manual de tratamento de águas residuárias. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. JORDÃO, E. P.; PESSOA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos: concepção clássica de tratamentos de esgoto. São Paulo: CETESB, 1975. MATSUMOTO, T. et al. 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