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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Sistemas e Tratamento de Efluentes Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamentos Preliminar e Primário Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Daniela Debone Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Classificação dos Efluentes; • Tratamento de Efluentes: Etapas e Processos. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Discutir as classificações de efluentes, o cálculo de carga, os processos envolvidos e as técnicas iniciais de tratamento de efluentes que ocorrem em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) convencional. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamentos Preliminar e Primário UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Classificação dos Efluentes Como foi discutido anteriormente, as principais causas da poluição das águas são: re- jeitos oriundos da agricultura, pecuária e mineração, lançamento de esgotos domésticos e industriais, destino incorreto do lixo e vazamentos químicos. Esses rejeitos, resíduos ou lixos provenientes das diferentes atividades antrópicas po- dem também ser chamados de efluentes e são classificados de acordo com sua periculo- sidade, levando em consideração suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagio- sas, podendo apresentar risco à saúde humana e ao meio ambiente. A periculosidade dos efluentes depende de fatores tais como inflamabilidade, corrosi- vidade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, concentração, mobilidade, persistência, bioacumulação e degradação. Dessa forma, os efluentes podem ser classificados da seguinte maneira: • Classe I – São considerados perigosos por apresentarem risco ao meio ambiente e à saúde pública. Tratamentos e/ou disposições especiais são necessários. Apre- sentam uma ou mais das características descritas a seguir: reatividade, toxicidade, inflamabilidade, patogenicidade e corrosividade. Exemplos: contaminação por pro- dutos químicos, óleos minerais, lubrificantes, graxas, resíduos de sais provenientes de tratamento térmico de metais, pastilhas de freio e outros; • Classe II – Não são considerados perigosos. Apresentam uma das características descritas a seguir: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Exemplos: sucatas de ferro, aço, vidro e borracha, materiais orgânicos da indústria alimentícia, lamas de sistemas de tratamento de águas e outros Independentemente dessa classificação, todos os efluentes necessitam de tratamento adequado para remover seus resíduos e seus contaminantes antes de serem devolvidos aos corpos hídricos. Efluentes domésticos Essa categoria abrange os rejeitos produzidos em residências, edifícios comerciais (escritórios, restaurantes, bares e lanchonetes) indústrias ou qualquer edificação que con- tenha torneiras, pias, tanques, vasos sanitários, chuveiros e máquinas de lavar. Portanto, resulta da água utilizada na limpeza de ambientes e nos hábitos de higie- ne. Geralmente contêm restos de alimentos e produtos de necessidades fisiológicas. Esse tipo de efluente é composto basicamente de sólidos suspensos e dissolvidos, maté- ria orgânica e nutrientes, além de microrganismos patogênicos. Devido à elevada concentração de material orgânico, é necessária uma destinação adequada, deve ser lançado na rede pública de coleta e encaminhado até as estações de tratamento de esgoto (ETEs) (Figura 1). 6 7 Figura 1 – Exemplo de lançamento irregular de efl uente doméstico e consequente poluição de um curso d’água Fonte: iStock/Getty Images Efluentes industriais Os efluentes industriais são resultantes das águas utilizadas nos diferentes processos industriais, na lavagem de máquinas, equipamentos, tubulações e chãos de fábricas, também podem ser provenientes de sistemas de resfriamento e geradores. As características químicas, físicas e biológicas dessa categoria de efluentes variam muito, uma vez que há uma grande diversidade de atividades industriais. Portanto, va- riam de acordo com o ramo de atividade e porte da indústria, tipos de operações e processos, matérias-primas utilizadas e incorporação de substâncias à água, como óleos, detergente e pigmentos. A destinação final do efluente também depende do modelo de gerenciamento de resíduos adotado pela companhia, que, de forma ideal, deve envolver processos de re- dução, reciclagem, reutilização e destinação final adequada e encaminhamento para as ETEs (Figura 2). Figura 2 – A imagem ilustra uma estação de tratamento de efl uentes industriais Fonte: iStock/Getty Images 7 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Carga de Poluentes Os efluentes também podem ser caracterizados quanto à carga de poluentes. Essa quantificação pode ser expressa em termos de massa (Kg) por unidade de tempo – ge- ralmente, utiliza-se dia (VON SPERLLING, 2005). De forma geral, para efluente domés- tico ou industrial, o cálculo pode considerar a vazão, como mostra a equação a seguir: carga (Kg/dia) concentração (g/m ) × vazão (m /dia) 1000 (g/ 3 3 = kkg) Para efluentes domésticos, o cálculo pode se dar como mostra a equação a seguir: carga (Kg/dia) nº de habitantes carga per capita (g/hab. = × ddia) 1000 (g/kg) Para efluentes industriais, o cálculo pode considerar a produção diária da companhia, como mostra a equação a seguir: carga (Kg / dia) = contribuição por unidade produzida (Kg / unid) x produção (unid / dia). Tratamento de Efluentes: Etapas e Processos O tratamento ideal para cada tipo de efluente é indicado de acordo com a carga po- luidora e a presença de contaminantes. Existem vários tipos de tecnologias usadas para esse fim, que envolvem processos físicos, químicos e biológicos, como descritos a seguir: Processos Físicos Os processos físicos são processos que retiram os sólidos sedimentáveis e flutuantes em suspensão através de separações físicas, tais como gradeamento, peneiramento, caixas separadoras de óleos e gorduras, sedimentação e flotação. Os processos físicos também conseguem remover a matéria orgânica e inorgânica em suspensão coloidal, reduzindo, assim, ou eliminando a presença de microrganismos através dos processos de filtração em caixa de areia ou em membranas (microfiltração e ultrafiltração). Outra finalidade dos processos físicos é a de desinfecção, tais como a aplicação de radiação ultravioleta. Processos Químicos Os processos químicos envolvem a adição de produtos químicos, como por exemplo, agentes de coagulação, floculação, neutralização de pH, oxidação, redução e desinfec- ção em diferentes etapas dos sistemas de tratamento. 8 9 É possível retirar os poluentes através das reações químicas, além de preparar a mistura de efluentes que será tratada nos posteriores processos. Os processos químicos mais aplicados são os descritos a seguir: A clarificação química retira matéria orgânica coloidal, incluindo coliformes.É a pri- meira etapa de um tratamento convencional e é constituída de uma coagulação e flo- tação, ou um processo de sedimentação ou flotação, isso de acordo com o tamanho das partículas ou tipo de efluente. A filtração fina e a centrifugação também podem ser empregadas em efluentes industriais. A eletrocoagulação consegue remover a matéria orgânica, incluindo compostos co- loidais, corantes e óleos/ gorduras. Deve-se promover a passagem de eletricidade pelo efluente, o que provoca uma desestabilização da solução e coagulando os contaminan- tes. É considerada uma tecnologia amigável, sem impacto ambiental. Concomitante- mente, existe a formação de flocos coagulados insolúveis dos contaminantes, facilitando assim a remoção através da sedimentação, flotação ou filtração. A precipitação de fosfatos e outros sais é obtida através da remoção de nutrientes, e é realizada adicionando-se coagulantes químicos (compostos de ferro e ou alumínio), com o objetivo de reduzir a carga de fosfatos nos efluentes. No processo de cloração para desinfecção, adiciona-se cloro, sódio ou hipoclorito de cálcio. A quantidade dependerá da quantidade de contaminantes presentes no efluente. Para uma eficiência no processo, deve-se manter no mínimo 20 minutos de reação. Esse processo evita o desenvolvimento de bactérias. Além disso, devido ao alto potencial de oxidação, a desinfecção feita através da adi- ção de gás ozônio também pode ser utilizada para tratamento dos efluentes. Também é muito eficiente na remoção da coloração residual dos efluentes. O tratamento de cromo normalmente é realizado em duas etapas. A primeira con- siste na redução de cromo hexavalente a trivalente, o que se faz necessário para a sua precipitação, pois os compostos do cromo hexavalente são solúveis nos efluentes em qualquer faixa de pH. Para isso, são utilizados quatro métodos convencionais: a redução com dióxido de enxofre, a redução com sulfitos (bissulfito ou metabissulfito), a redução com sulfato ferroso e a precipitação com compostos de bário. Na segunda etapa, acon- tece a remoção propriamente dita, através da precipitação química do cromo trivalente. A redução do cianeto é outra etapa de extrema importância, pois é um composto muito estável e não se decompõe por si mesmo ou no meio ambiente. Tal redução é realizada através da oxidação do carbono, por meio de oxigênio molecular dissolvido aplicado a altas temperaturas e pressões. A precipitação de metais tóxicos (Cr, Cd, Ni, Pb, Cu, Hg e Ag, por exemplo) são normalmente removidos por precipitação química, através da formação de hidróxidos pouco solúveis, retirados posteriormente por flotação, decantação ou sedimentação. E a troca iônica é realizada através da adição de resinas de troca iônica, que são copolímeros sintéticos produzidos a partir de estireno e divinilbenzeno, capazes de ad- sorver cátions e ânions de uma solução e os substituírem por quantidades equivalentes de outros íons de mesma carga. 9 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Processos Biológicos O tratamento biológico de esgotos e efluentes industriais tem o objetivo de remover a matéria orgânica dissolvida e em suspensão ao transformá-la em sólidos sedimentáveis e/ou decantáveis (flocos biológicos) e gases. Resumidamente, os tratamentos biológicos reproduzem, em menor tempo, os fenô- menos que ocorrem na natureza. Existem inúmeros tratamentos disponíveis, entretanto seus principais processos são os descritos a seguir: Nos processos aeróbios, existe a presença de oxigênio, uma vez que as bactérias pre- sentes nesse tipo de processo são, em sua maioria, heterótrofas aeróbias e promovem a remoção da matéria orgânica com mais eficiência. Parâmetros como temperaturas específicas, pH e oxigênio dissolvido (OD) devem ser controlados, além de atenderem à relação da massa com os nutrientes de DBO que se alteram a cada estação. A relação DQO/DBO indica a biodegradabilidade do efluente. No efluente doméstico bruto, antes de ser tratado, a relação DQO/DBO pode variar na faixa de 1,7 a 2,4. Após o tratamento, a maior parte da fração biodegradável da matéria orgânica é removida na ETE, então a relação DQO/DBO é maior do que no efluente bruto. Quan- to maior a eficácia do tratamento, maior o valor dessa relação. Os valores típicos da relação DQO/DBO dos efluentes tratados são usualmente superiores a 2,5, podendo alcançar valores de 4,0 ou 5,0. Os sistemas aeróbios mais comuns são lagoas aeradas, filtros biológicos e os siste- mas de lodos ativados que propiciam a melhor eficiência em remoção de cargas. Os processos aeróbios são vantajosos, pois possuem um maior rendimento de remoção de matéria orgânica, as emissões de odor são reduzidas, apresentando maior capacidade de absorver substâncias mais difíceis de serem degradadas. Os processos facultativos referem-se ao emprego de condições aeróbias e anaeróbias (com e sem oxigenação respectivamente), esses são realizados com o emprego de biofil- mes (filtros biológicos, biodiscos e biocontactores) e por algumas lagoas (fotossintéticas e aeradas facultativas). Os processos anaeróbios são realizados sem a presença de oxigênio e ocorrem em lagoas anaeróbias, biodigestores, tanques sépticos, filtros anaeróbios e reatores de alta taxa, que possuem capacidade de receber grandes quantidades de carga. É possível transformar parte da matéria orgânica em gás carbônico e metano, por isso também são utilizados queimadores de gases, já que o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do gás carbônico. Como foi abordado acima, o tratamento de efluentes envolve processos físicos, quí- micos e biológicos. No entanto, em uma ETE convencional, o efluente passa por cinco tipos de tratamento ou cinco etapas: tratamento preliminar, tratamento primário, trata- mento secundário, que inclui o tratamento do lodo, e tratamento terciário, para então ser devolvido ao meio ambiente ou reutilizado. 10 11 Tratamento preliminar No tratamento preliminar, são retirados sólidos grosseiros dos efluentes. Tais sólidos podem ser desde plantas e animais mortos a também restos de materiais produzidos e arrastados nos efluentes industriais, como, por exemplo, restos de alimentos da indústria alimentícia ou também detritos dos esgotos domésticos. Trata-se de um condicionamento do efluente para as etapas posteriores, evitando, principalmente, obstruções e danos aos equipamentos, tanques, às tubulações e aos sifões da planta da estação de tratamento. Envolve as seguintes fases: Gradeamento Os efluentes são passados primeiramente em sequência por grades grossa, média e fina, com o objetivo de retirar os detritos sem o entupimento de nenhum tipo de grade, objetivando a remoção de sólidos bastante grosseiros, com diâmetro superior a 10 mm, como materiais plásticos e de papelões derivados de embalagens, por exemplo, pedaços de madeira e outros. O material utilizado para a fabricação das grades deve ser adequado, a fim de se evitar a corrosão rápida e, portanto, a necessidade de manutenção e/ou troca constante das grades. Materiais ferrosos têm uma acentuada corrosão, portanto, existe a necessidade de utilização de materiais alternativos como por exemplo: aço inox ou fibra de vidro (Figura abaixo). Estrutura de gradeamento do Tratamento Preliminar, disponível em: https://goo.gl/TwudqS As definições de tamanhos da abertura das grades devem estar em concordância com a Norma NBR 12209 – Elaboração de Projetos Hidráulico-Sanitários de Estações de Tratamento de Esgotos Sanitários. As grades são classificadas de acordo com o espaça- mento entre as barras: grades grossas têm espaçamento entre as barras de 5 a 15 cm; grades médias, de 2 a 5 cm; e grades finas, de 1 cm ou menos (Tabela 1). Tabela 1 – Espaçamento das grades utilizadas nos processos preliminares de tratamento de efl uentes Grades Grandes Médias Pequenas Espaçamento 5 a 15 cm 2 a 5 cm até 1 cm Asgrades são projetadas para que ocorra uma velocidade de passagem entre 0,6 e 1,0 m/s, tomando-se por referência a velocidade máxima horária do efluente. Assim, o material retido pode sofrer processo de lavagem, secagem e adição de substâncias químicas antes do envio a aterros sanitários ou incineradores, com o gás dos digestores. São necessários 100 m3 de gás por tonelada de material gradeado. A temperatura de combustão deve ser superior a 800° C, para evitar problemas de maus odores. Peneiramento Após o gradeamento, em muitos casos, faz-se necessário o uso de peneiras, como tratamento independente, para a separação de detritos de tamanhos um pouco menores que passam pela grade pequena. 11 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Geralmente, as peneiras mais utilizadas apresentam malhas com barras triangulares com espaçamento entre 0,5 a 2 mm, nelas ficam retidos os sólidos grosseiros que não foram removidos no gradeamento. De acordo com a Norma NBR 12209, obrigatoriamente, as peneiras devem ser pre- cedidas de grades para que não ocorra o entupimento das mesmas. Pode-se empregar três tipos de peneiras: estáticas, rotativas ou vibratórias. (Figura abaixo). Exemplo de peneira estática de inox, disponível em: https://goo.gl/mf1TtX Essa fase é bastante aplicada em efluentes da indústria de celulose e papel, indústria têxtil, frigoríficos, fábricas de sucos de frutas e na remoção de sólidos suspensos de es- goto sanitário. Veja neste link o funcionamento de cada tipo de peneira: https://goo.gl/wzok31 Desarenação Nesta fase, ocorre a remoção de areia e de sólidos minerais sedimentáveis. O desare- nador deve ser bem dimensionado, de maneira a reter o material pesado que se deseja remover e, assim, liberar a matéria orgânica que será removida na fase posterior. Portanto, a desarenação possui velocidade baixa de fluxo, o que permite a deposição de areia e de outras partículas no fundo, que são constantemente “raspadas”, retiradas e destinadas para aterro sanitário. Geralmente, a velocidade de sedimentação é de 2 cm/s. Essa fase também é importante para evitar abrasão nos equipamentos e em tubula- ções; eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques, orifícios, sifões; além de facilitar o transporte do líquido, principalmente a transferência de lodo (Figura 3). Figura 3 – O esquema representa uma caixa de areia e a sedimentação de areia e sólidos minerais Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Tanque de equalização e neutralização Na neutralização, ocorre o ajuste de pH do efluente, uma vez que muitos efluentes podem conter elevadas cargas ácidas ou alcalinas, que requerem a neutralização antes de serem submetidas às próximas fases de tratamento. Para neutralizar efluentes ácidos, geralmente utiliza-se soda cáustica, amônia ou cal. No caso de efluentes básicos, utiliza- -se injeção de CO2. Assim, no tanque de equalização, além da neutralização, ocorre também a homoge- neização da concentração do efluente para evitar choques de carga nas unidades poste- riores de tratamento, garantindo a alimentação contínua do efluente. A equalização consiste de um tanque provido de aeração e agitação para se evitar odores e a deposição de sólidos. O uso de um tanque de equalização pode melhorar a eficiência, aumentar a capacidade útil e o custo de uma unidade de tratamento (link abaixo). Tanque de Equalização, disponível em: https://goo.gl/F8FH7h Tratamento Primário Após passarem pela fase de tratamento preliminar, os efluentes ainda contêm sólidos em suspensão não grosseiros. Assim, a etapa de tratamento primário deve ser empre- gada para a remoção de uma grande parcela dos sólidos em suspensão e também para remover parte da matéria orgânica. Essa etapa, responsável pelo condicionamento do efluente para o tratamento secundário, é capaz de remover de 40 a 70% dos sólidos em suspensão. O tratamento primário envolve as seguintes fases: Coagulação/Floculação Grande parte das ETEs utiliza o processo de coagulação que envolve a utilização de produtos químicos para precipitar os sólidos em suspensão não-sedimentáveis e parte dos colóides, sob a forma de flocos, provocando assim sua sedimentação. Tanto a coagulação quanto a floculação são etapas importantíssimas no fluxograma de processos de tratamento de efluentes, principalmente na preparação da decantação ou da flotação. A coagulação, quando bem realizada, promove a eficiência das etapas posteriores. É comum os termos “coagulação” e “floculação” serem frequentemente aplicados como sinônimos. Define-se coagulação como o processo de desestabilização de colói- des e floculação como o processo de agregação e neutralização de colóides; mas com, geralmente, esses processos ocorrem simultaneamente, são chamados assim de proces- so de coagulação/floculação. O processo de coagulação é realizado pela homogeneização rápida do coagulante com o efluente e em seguida uma homogeneização mais lenta, com o objetivo de for- mar flocos. É, portanto, constituída a formação de um precipitado através da união de partículas primárias. 13 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Como abordado anteriormente, o pH de coagulação é um parâmetro singular na efi- ciência do processo. Além de depender da quantidade de coagulante empregado, a efi- ciência da coagulação também depende da alcalinidade dos já existentes nos efluentes. Outro parâmetro que também influencia a fase de coagulação é a temperatura, uma vez que a sua variação provoca uma alteração na viscosidade da mistura, que consequen- temente altera os gradientes de velocidade aplicados, podendo ser necessárias correções para a manutenção da eficiência do processo. Na primeira parte da coagulação, as reações de hidrólise são quase que instantâneas após a adição do coagulante, seguida pela coagulação (outra fase rápida) e por uma floculação pericinética, ortocinética ou por sedimentação diferencial, provocando a for- mação de partículas (flocos) (link abaixo). Formação de flocos, a partir da Floculação, disponível em: https://goo.gl/C7eKk2 O processo pode ser conduzido em um ou mais tanques, sendo constituído de uma etapa de agitação rápida para a coagulação e de outra de agitação lenta para a floculação. O lodo gerado (sedimentado), em geral, deve ser adensado e ter um destino adequado. Flotação Também é um tratamento físico-químico onde são adicionadas nuvens de bolhas de ar em uma suspensão coloidal. As partículas em suspensão no efluente aderem às bolhas de ar e, portanto, são levadas para a superfície do efluente, formando uma espuma que pode ser retirada do efluente com maior facilidade (link abaixo). Existem dois tipos de flotação: • Flotação por ar dissolvido: ocorre formação de microbolhas; • Flotação por ar disperso: ocorre formação de bolhas maiores, para separação de partículas de maior tamanho. A eficiência do processo de flotação é dependente da relação ar/sólidos e do tama- nho da bolha. Quanto maior a vazão de ar empregado, menor será o tamanho da bolha e, portanto, mais eficiente será o processo. No caso de efluentes industriais, essa fase deve ser aplicada principalmente para efluentes com altos teores de óleos e graxas ou detergentes, como os provenientes de indústrias petroquímicas, de pescado, frigoríficas, laticínios e de lavanderias. Tanque de Flotação. As partículas em suspensão aderem às bolhas de ar e, portanto, são levadas para a superfície do efluente, disponível em: https://goo.gl/C7eKk2 Decantação Trata-se de uma fase de separação física de misturas formadas principalmente por sólidos em líquidos. Ela consiste em deixar a mistura em repouso para que, em razão da diferença de densidade e da ação da gravidade, os sólidos sedimentem, ou seja, 14 15 depositem-se no fundo do recipiente para serem então separados da parte líquida, que fica em cima. Como já descrito anteriormente, em muitos casos,é necessária a adição de coagu- lante com o objetivo de formar aglomerados ou flocos maiores que sedimentem com maior agilidade. A retirada de partículas pequenas é feita pela sedimentação simples nos pré-sedimen- tadores, removendo partículas iguais ou superiores a 0,1 mm (100 μm). A sedimentação de partículas maiores, as conhecidas como floculentas, é normal- mente denominada decantação, tais processos são realizados em tanques de decantação ou decantadores. Em qualquer tipo de decantador é necessária a atenção para a retirada de escuma (substâncias flutuantes se acumulam na superfície da água), pois essa pode causar odores desagradáveis. A quantidade de sólidos sedimentáveis define a eficiência de um decantador. São ca- racterizados como sedimentáveis todos os sólidos que decantam em um cone de 40 cm de altura, em 2 horas. O tipo de efluente define a relação entre sólidos sedimentáveis e sólidos em suspensão. Quanto mais fresco e mais concentrado for o esgoto, maior será a eficiência da decantação. Segundo Richter (2002), a concentração de sólidos também interfere na sedimenta- ção, separando-a em quatro tipos distintos: discreta, floculante, interferida e compres- são. Também são definidas como classes 1, 2, 3 e 4. • Sedimentação classe 1: as partículas em suspensão são mantidas na água pelas forças de arraste causadas pelo seu movimento. Como tais forças variam com a sexta potência da velocidade, a redução dessa pode provocar o assentamento das partículas; • Sedimentação classe 2: a maior parte das soluções em suspensão no tratamento de água ou no tratamento de esgotos são floculentas por sua própria natureza ou pela ação de coagulantes; os flocos sofrem variações de volume e densidade devido às colisões e ao arrasto que experimentam durante seu assentamento; • Sedimentação classe 3: ocorre quando flocos ou partículas discretas em altas con- centrações tornam-se muito próximos, surgindo interações entre eles, de modo que o deslocamento da água produzido pelo assentamento de uma partícula afeta a velo- cidade relativa de sedimentação das partículas vizinhas. Também é conhecida como sedimentação interferida, pela interferência mútua entre os flocos ou as partículas; • Sedimentação classe 4: ou compressão, aplica-se ao material ou lodo já deposita- do, definindo as leis de seu adensamento. Precipitação Química Os processos de coagulação/floculação, seguidos de flotação e decantação são utili- zados para a retirada de material insolúvel em suspensão, de origem orgânica e inorgâ- nica. Já a precipitação química se aplica à remoção de material inorgânico dissolvido no efluente, principalmente quando há presença de íons de metais pesados. 15 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Essa fase é empregada principalmente para efluentes industriais, provenientes de processos de indústrias metalúrgicas, mecânicas e galvanoplastias. Até o momento, vimos que, no tratamentos preliminar e no primário, predominaram mecanismos físico-químicos para a remoção, principalmente, de sólidos grosseiros, areia e sólidos sedimentáveis. Depois de passar por essas etapas de tratamento, o efluente ainda não está seguro para ser lançado no meio ambiente, necessitando ainda passar pelo tratamento secun- dário e, em alguns casos, por tratamento terciário. Na próxima Unidade, daremos continuidade neste estudo discutindo sobre o trata- mento secundário, que envolve principalmente a remoção da matéria orgânica a partir de reações bioquímicas. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Coagulacao-floculacao de efluentes https://youtu.be/PwItomz6AkA Tratamento Preliminar do Esgoto https://youtu.be/2quDYnVpIvU Mechanical preliminary wastewater treatment on a municipal WWTP https://youtu.be/SH3P8IpCDJM Sistema de Flotação https://youtu.be/oG8VwbKRSfU Leitura Efluentes domésticos e industriais: você conhece as diferenças? Publicado no Portal Tratamen- to de Água https://goo.gl/dZWULg Associação entre coagulantes e copolímero para o tratamento de efluente proveniente do pro- cessamento artesanal de pele de peixe https://goo.gl/aRqA56 17 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamentos Preliminar e Primário Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL (ABES). 1ª Oficina de Trabalho sobre Operação de Tratamento de Esgotos Sanitários da Câmara Temática de Tratamento de Esgotos da ABES. Tratamento preliminar (gra- deamento, desarenadores, medição de vazão e coleta de amostras do afluente etc.). Disponível em: <http://www.abes-dn.org.br/eventos/abes/1oficina-tratamento-preli- minar>. Acesso em: 15 set. 2018. BATTALHA, B. H. L. Controle da qualidade da água para consumo humano. São Paulo: CETESB, 1977. BRASIL. Ministério da Saúde. Lei Federal nº 6050, de 24 de maio de 1974. Dispõe sobre a obrigatoriedade da fluoretação das águas em sistemas de abastecimento. 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