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Quais são os tipos de linfoma? Como fazer o diagnóstico? 14.1 INTRODUÇÃO Os linfomas são tumores sólidos com origem no tecido linfoide normal, geralmente nos linfonodos, que cursam com apresentações clínicas, morfológicas , imuno-histoquímicas e outras características diagnósticas bastante diversas. São responsáveis por 4% de todas as mortes relacionadas a neoplasias. Os linfomas são divididos em Hodgkin ou não Hodgkin, com base em achados clínico-patológicos. O diagnóstico do Linfoma de Hodgkin (LH) baseia-se no encontro de uma célula chamada de Reed-Sternberg ou suas variantes, o que não ocorre no Linfoma Não Hodgkin (LNH). Sempre que detectada uma linfonodomegalia, esta deve ser amplamente investigada com o objetivo de se avaliar possíveis causas reacionais que constituem os principais diagnósticos diferenciais. Trata-se de um grupo de desordens de curso benigno, mas com características clínicas e histológicas por vezes sugestivas de linfoma, como por exemplo a doença de Rosai Dorfman. A diferenciação é feita por biópsia: infiltração benigna das células linfoides ou histiócitos que microscopicamente lembram linfoma. 14.2 INVESTIGAÇÃO Independentemente do tipo de linfoma, a abordagem inicial é igual: ▶ História clínica e exame físico; ▶ Exames diagnósticos; ▶ Exames de estadiamento; ▶ Estratificação de risco. 14.2.1 História e exame físico Na história clínica, é importante avaliar manifestações sistêmicas que têm importância prognóstica: emagrecimento — perda de mais de 10% do peso nos últimos 6 meses —, febre — temperatura acima de 37,8 °C, geralmente vespertina, persistente ou recorrente no último mês — sudorese noturna recorrente no último mês. Estes são conhecidos como sintomas B, e devem sempre ser pesquisados. A manifestação clínica mais comum é o surgimento de adenomegalias indolores com consistência endurecida, que podem ser localizadas — em estádios precoces — ou disseminadas — em estádios avançados. Todos os tecidos do organismo apresentam células linfoides; dessa forma, pode-se desenvolver linfoma em qualquer órgão — linfoma extranodal —, como ovário, testículo, tireoide, pálpebra, fígado, pulmão etc. Por isso, história e exame físico detalhados são muito importantes. 14.2.2 Diagnóstico Para diagnosticar o tipo de linfoma, utiliza-se o exame histopatológico da região acometida. A biópsia excisional — biópsia de todo o linfonodo, e não apenas de um fragmento — é recomendada sempre que possível. Na impossibilidade de se retirar o linfonodo por completo, como por exemplo quando localizados em topografias de difícil acesso retroperitônio, pode ser realizada a biópsia por agulha grossa, conhecida como core biopsy. #importante O exame de punção por agulha fina (PAAF) não permite a análise histológica, o que, muitas vezes, compromete o diagnóstico do tipo e do subtipo de linfoma, não sendo encorajado como exame diagnóstico. Quando há adenomegalia palpável, opta-se por biopsiar o maior gânglio, com a seguinte ordem de preferência: supraclavicular, cervical, axilar ou inguinal. #importante As indicações para biópsia de linfonodo são: crescimento progressivo; tamanho maior que 2 cm em adultos e 1 cm em crianças; localização supraclavicular ou escalênica; consistência endurecida, aderida aos planos profundos; persistência por mais de quatro a seis semanas. 14.2.3 Estadiamento O estadiamento objetiva avaliar a extensão da doença. Para isso, são usados exames de imagem e laboratoriais. Além da classificação da extensão da doença (estádios I a IV), a classificação pode utilizar letras complementares para especificar a presença de sintomas B e do acometimento de órgãos específicos. Os exames utilizados para o estadiamento são: ▶ Tomografia computadorizada de pescoço, tórax, abdome e pelve ou PET-scan — preferencialmente nos linfomas mais agressivos, se disponível; ▶ Biópsia de medula óssea unilateral, que avalia se há comprometimento medular por meio da análise histológica. O mielograma faz análise apenas citológica e não é indicado para estadiamento de linfoma; não é necessário no linfoma de Hodgkin ou no Linfoma Difuso de Grandes Células B, se o PET-CT for utilizado no estadiamento; ▶ Liquor, pois, alguns linfomas agressivos tendem a comprometer o Sistema Nervoso Central (SNC), estando indicado esse exame como parte do estadiamento em casos selecionados, como nos pacientes HIV positivos — pela maior chance de infiltração no SNC — e naqueles em que há acometimento da linha média facial — oronasofaringe, anel de Waldeyer, cavidades paranasais e olhos, pela proximidade com SNC); existente, inclusive, critérios para estratificação de risco de infiltração em Sistema Nervoso Central (CNS IPI); ▶ Endoscopia digestiva alta para subtipos específicos, como linfomas de orofaringe — anel de Waldeyer — e linfomas de zona marginal gástrico-MALT; ▶ Ecocardiograma transtorácico para avaliar função cardiovascular e guiar escolha terapêutica; ▶ Análises Citogenéticas e Moleculares: recursos novo que nos mostram que existem alterações gênicas que conferem mudanças no prognóstico da patologia e indicam um curso pior para o paciente, necessitando assim, tratamento mais intensivo; ▶ Hemograma e bioquímica completa — incluindo teste de gravidez para mulheres em idade fértil. Há outros exames laboratoriais que não fazem parte do estadiamento, mas são importantes para a avaliação dos linfomas: ▶ Desidrogenase láctica: é um preditor independente de sobrevida; ▶ Dosagem de cálcio sérico: está elevada principalmente em alguns tipos de LNH; ▶ Dosagem de ácido úrico sérico: está possivelmente elevada em linfomas de alto turnover e é indicativa de lise tumoral; ▶ Eletroforese de proteínas: alguns linfomas podem cursar com síntese de proteína monoclonal, inclusive com síndrome da hiperviscosidade — particularmente o linfoma linfoplasmocítico; ▶ Sorologias para vírus das hepatites C e B, e HIV: alguns linfomas podem cursar com essas alterações sorológicas, que, inclusive, têm implicação terapêutica. A sorologia positiva para vírus da hepatite B exige cuidados aos pacientes que são submetidos à quimioterapia. ▶ Após os exames, o paciente pode ser classificado conforme a extensão da doença em estádios de I a IV (Figura 14.1 e Quadro 14.1). Figura 14.1 - Estadiamento pelo sistema de Ann Arbor Fonte: adaptado de GraphicsRF.com. Quadro 14.1 - Estadiamento dos linfomas: sistema de Ann Arbor 14.3 LINFOMA DE HODGKIN 14.3.1 Introdução Trata-se de uma doença proliferativa que tem origem no linfócito B do centro germinativo e caracteriza-se, histopatologicamente, pela presença das células de Reed-Sternberg. Está associado a agentes infecciosos, como o Epstein-Barr, e tem chances aumentadas em parentes de primeiro grau de indivíduos com a doença e naqueles em estado de imunossupressão. Representa 10% de todos os linfomas e 0,6% de todas as neoplasias do adulto. Observa-se curva bimodal de incidência, caracterizada por baixa ocorrência na infância, rápida elevação com pico em torno dos 20 anos, platô ao longo da meia-idade e novo pico após a quinta ou sexta década. Há maior incidência em homens do que em mulheres e em brancos do que em negros. Figura 14.2 - Curva bimodal de distribuição dos casos Fonte: elaborado pelo autor. 14.3.2 Etiologia Os principais fatores relacionados ao desenvolvimento de linfoma são: ▶ Agentes infecciosos: o fator etiológico mais estudado na doença de Hodgkin é o vírus Epstein-Barr. O antecedente de mononucleose infecciosa, confirmado por testes sorológicos, confere risco três vezes maior para o aparecimento do LH; ▶ Fator genético: o risco de LH é maior entre parentes de primeiro grau de indivíduos com a doença, devido à suscetibilidade genética e à exposição ambiental comum dos membros da família. A agregação familiar de incidência é de três a cinco vezes maior em parentes de primeiro grau quando em comparação com a população geral. Gêmeos idênticos têm risco ainda maior; ▶ Imunossupressão: existe incidência bastante aumentada do LH na populaçãoimunossuprimida por transplante de órgão sólido, transplante de células-tronco hematopoéticas, HIV e doença autoimune, principalmente nos casos de síndrome de Sjögren e tireoidite de Hashimoto. 14.3.3 Classificação histopatológica #importante As células de Reed-Sternberg são descritas como “olhos de coruja” e estão imersas em um conteúdo inflamatório com apenas 1 a 2% de células neoplásicas. As células de Reed-Sternberg são descritas como “olhos de coruja” e estão imersas em um conteúdo inflamatório com apenas 1 a 2% de células neoplásicas. São grandes, binucleadas ou multinucleadas, com nucléolo evidente e eosinofílico, e o citoplasma é abundante, sendo também eosinofílico (Figura 14.3). As células classicamente expressam o CD30 — em quase 100% dos casos — e o CD15 — de 75 a 85% dos casos. Figura 14.3 - Célula de Reed-Sternberg Fonte: adaptado de National Cancer Institute, 2008. A subclassificação do LH clássico baseia-se na diferença da composição do tecido inflamatório que acompanha as células de Reed-Sternberg. Ainda que historicamente relevante, a principal subclassificação encontra-se entre os tipos predominância linfocitária e LH clássico, já as subclassificações deste último (como vistas a seguir), não possuem impacto na tomada de decisão terapêutica. A classificação de LH é realizada a partir dos seguintes tipos: ▶ Predominância linfocítica nodular; ▶ LH clássico: ▷▷ Subtipo esclerose nodular; ▷▷ Subtipo rico em linfócitos; ▷▷ Subtipo depleção linfocitária; ▷▷ Subtipo celularidade mista. 14.3.3.1 Predominância linfocítica nodular A principal característica morfológica do subtipo Predominância Linfocítica Nodular (PNL) é a ausência da célula de Reed- Sternberg clássica, contudo há uma variante, conhecida como célula “em popcorn”. Representa, aproximadamente, 10% dos casos de LH. É um tipo distinto do LH clássico, inclusive pela epidemiologia, pois, o pico de incidência é maior em adultos entre 30 e 50 anos, predominantemente do sexo masculino. Setenta e cinco por cento dos casos são classificados como estádio I ou II, sendo os linfonodos periféricos as regiões mais acometidas. É bastante raro o acometimento mediastinal, esplênico e medular. Ao diagnóstico, são pouco comuns os sintomas B (6 a 15%). Têm por característica uma redução da expressão de CD30 e CD15 na imuno-histoquímica, expressando CD40 e CD20. Sua evolução é bastante lenta, apresentando alta taxa de recidiva, mas com ótima resposta terapêutica — com tratamento quimioterápico diferente dos demais LHs. 14.3.3.2 Esclerose nodular Subtipo histológico mais comum, corresponde a cerca de 70% dos casos de LH clássico. Apresenta células lacunares e bandas de colágeno que, caracteristicamente, separam o tecido linfoide em nódulos. Acomete, em geral, adolescentes e adultos jovens. Normalmente, tal subtipo histológico envolve os linfonodos cervicais inferiores, supraclaviculares e mediastinais e, em cerca de 70% dos casos, é diagnosticado ainda em estágio limitado (estádio I ou II). Os sintomas B são encontrados em até 40% dos casos e correspondente a doença em estádio mais avançado. Figura 14.4 - Bandas de colágeno separando nodulações no linfonodo, no subtipo esclerose nodular 14.3.3.3 Celularidade mista #importante Trata-se do subtipo mais comum de linfoma de Hodgkin associado ao HIV. Não podemos esquecer também da importante associação ao vírus Epstein- Barr. Corresponde a até 25% dos casos de LH nos extremos de idade (crianças e idosos) e é mais comumente associado a estágios avançados ao diagnóstico, sintomas constitucionais e imunodeficiência. A celularidade mista passa a ser o principal tipo histológico quando há associação de LH e HIV. As clássicas células de Reed-Sternberg são facilmente encontradas com fundo celular composto de linfócitos, eosinófilos, células plasmáticas e histiócitos. 70% dos casos ocorrem no sexo masculino. 14.3.3.4 Rico em linfócitos Corresponde a cerca de 5% dos LHs clássicos, que contêm, em tecido inflamatório, muitos linfócitos e poucos neutrófilos e eosinófilos. A apresentação clínica habitualmente é em estádio precoce, raramente acometendo o mediastino, com predomínio em homens e em idosos. Trata-se de um subtipo histológico de bom prognóstico, com baixa taxa de recidiva. 14.3.3.5 Depleção linfocitária É o LH menos comum. Há dois tipos histológicos descritos: fibrose difusa e fibrose reticular. Em qualquer uma delas, as células de Reed-Sternberg são esparsas e de difícil achado. Geralmente, são encontradas em pacientes idosos e nos HIV positivos, que apresentam, ao diagnóstico, sintomas sistêmicos e estadiamento avançado. O envolvimento abdominal é bastante comum, logo icterícia e hepatoesplenomegalia podem, inicialmente, estar presentes. É pouco frequente o comprometimento linfonodal e mediastinal. Taxas de sobrevida pior que os demais subtipos de LH clássico. 14.3.4 Manifestações clínicas e laboratoriais A apresentação clínica mais comum é o aparecimento de adenomegalias indolores de consistência de borracha — em 60% dos casos, cervicais ou supraclaviculares, nos demais casos, axilares ou inguinais . O paciente pode referir dor na região acometida após a ingestão de álcool, mesmo em pequena quantidade; tal queixa é bastante rara (menos de 10%), mas, se presente, é bastante específica de LH. A doença geralmente progride de forma contígua, isto é, cervical, supraclavicular, axilar e mediastinal, retroperitoneal e inguinal. A segunda forma de apresentação mais comum é a massa mediastinal, detectada por radiografia, em virtude de sintomas respiratórios (tosse seca, dispneia, dor torácica, rouquidão, pneumonite obstrutiva, até síndrome da veia cava superior), ou durante investigação de prurido intratável — outra queixa inespecífica que pode se correlacionar com LH. O baço pode estar envolvido em 25% dos casos, e a medula óssea, infiltrada em 15%. Áreas extraganglionares, raramente, são afetadas no LH, incluindo pele, SNC e trato gastrintestinal; se envolvidos, devem suscitar a associação da doença ao HIV ou ao diagnóstico de LNH. Um terço dos pacientes apresentará sintomas B ao diagnóstico. Há uma particularidade bastante rara, mas específica do linfoma de Hodgkin, que é a febre de Pel-Ebstein, caracterizada por períodos de dias ou semanas de febre alta e vespertina, separados por intervalos afebris de mesma duração. O prurido, apesar de não ter valor prognóstico e, por esse motivo, não ser considerado sintoma B, é um sintoma importante, pois, pode ser precoce ou inclusive preceder o diagnóstico de linfoma em meses, devendo ser sinal de alerta para pessoas com queixa de prurido difuso sem motivo aparente. São alterações inespecíficas encontradas na avaliação laboratorial: ▶ Hemograma com anemia de doença crônica, ou seja, normocítica/normocrômica; podem estar presentes anemia hemolítica, leucocitose com neutrofilia e/ou eosinofilia (sinal indireto de atividade de doença), linfopenia, plaquetas em número normal, aumentado ou diminuído; ▶ Hipoalbuminemia; ▶ Desidrogenase láctica (DHL) aumentada; ▶ Velocidade de hemossedimentação (VHS) aumentada, sendo o principal fator inespecífico correlacionado com atividade de doença. 14.3.5 Evolução e prognóstico A estratificação de risco é importante para determinar a intensidade do tratamento e reavaliar, após o término, a efetividade da terapêutica instituída. Pacientes são classificados, em relação ao prognóstico, em três grupos: fase precoce favorável (estágios I e II sem fatores desfavoráveis), estágio precoce desfavorável (estágio I ou II com qualquer fator desfavorável) e doença em estádio avançado (III ou IV). Quadro 14.2 - Fatores de mau prognóstico Nota: para pacientes em estádio precoce, a presença de apenas um fator de mau prognóstico classifica-o como desfavorável. Nos estádios avançados, quanto maior o número de fatores de mau prognóstico, pior a sobrevida em cinco anos, variando de 84% para aqueles com nenhum fator a 42%, se cinco ou mais fatores estiverem presentes. Com as opções terapêuticasatuais, é possível alcançar até 94% de sobrevida em 10 anos, o que torna o LH a doença onco- hematológica com maior taxa de cura da atualidade. 14.3.6 Tratamento O tratamento do linfoma de Hodgkin é feito com base no estádio clínico do paciente e é baseado em quimioterapia. Radioterapia pode ser utilizada em estádios avançados — como consolidação ou em massas residuais. Um dos principais esquemas quimioterápicos de primeira linha para o tratamento com Adriamicina, Bleomicina, Vimblastina e Dacarbazina (ABVD). Em pacientes com estádio precoce favorável, a proposta é de dois a quatro ciclos de quimioterapia e radioterapia da região linfonodal acometida — guiado por resultado de PET-CT pós segundo ciclo. O uso de radioterapia exclusiva apresenta maior taxa de recidiva quando em comparação com o da terapia combinada. Já em pacientes com estádio precoce desfavorável, a proposta é de dois ciclos, seguidos de reestadiamento provisório com PET-CT. A partir do resultado do reestadiamento, haverá decisão de escalonamento de quimioterapia, seguimento com mais de 2 a 4 ciclos ou nova biópsia de linfonodo para avaliar refratariedade da lesão. Radioterapia de campo estendido. Pacientes em estádio avançado devem receber quimioterapia isolada. Radioterapia só é usada na lesão volumosa ou se houver lesão residual. Mesmo nos casos refratários, ou seja, resistentes à quimioterapia, ou nas recaídas, que responderam ao tratamento inicial e voltaram a apresentar a doença, a probabilidade de cura ainda chega a 50% com tratamento adequado. A proposta, nesse caso, é quimioterapia de resgate, com drogas quimioterápicas diferentes das do tratamento anterior, seguida do transplante de células-tronco hematopoéticas autólogo. Ainda como tentativa terapêutica, com excelentes resultados, temos novas classes de medicamentos (drogas alvo) como brentuximabe vedotina, um anticorpo monoclonal anti-CD30 (com taxas de resposta em pacientes recaídos/refratários em torno de 75%), não eximindo necessidade do transplante autólogo de medula óssea. Outras medicações ainda fazem parte desse novo arsenal terapêutico: nivolumabe, pembrolizumabe, lenalidomida, bendamustina. O papel do transplante de células-tronco hematopoéticas alogênico (de doador) limita-se aos casos refratários a todas as terapias prévias, com resultados bem menos promissores (aproximadamente, 10 a 15% de resposta). Pacientes com LH PLN, em sua maioria, possui um curso indolente com ocasional recaída tardia. Dessa maneira, uma história natural e resposta diferente ao LH clássico. A maior parte dos pacientes com LH com PLN apresenta-se em estádio precoce favorável e tem evolução e prognóstico muito bons, o tratamento pode ser menos agressivo, com base em radioterapia exclusiva. Para os estádios precoces desfavoráveis e avançados, o tratamento pode utilizar a associação com rituximabe (molécula anti-CD20), já que o fenótipo em questão expressa tal receptor. Evolução para linfoma não Hodgkin difuso de células B é mais frequente neste subtipo, em comparação ao demais LH. 14.3.7 Linfoma de Hodgkin e HIV Nos pacientes em que ocorre infecção pelo HIV, o LH apresenta- se com maior frequência de sintomas B, diagnóstico de doença em estadiamento avançado com maior incidência de infiltração de medula óssea e/ou extranodal. Quase universalmente, encontra-se coinfecção com vírus Epstein-Barr. Os subtipos histológicos mais incidentes são a celularidade mista e a depleção linfocitária, deixando de ser o LH clássico esclerose nodular. Apesar da melhora dos resultados da quimioterapia após o uso de terapia antirretroviral de alta potência (HAART) — ou TARV, em português —, o prognóstico é pior do que no HIV negativo, denotando doença extremamente agressiva. 14.4 LINFOMA NÃO HODGKIN 14.4.1 Introdução O linfoma não Hodgkin caracteriza-se por uma proliferação anômala de linfócitos T, linfócitos B, células Natural Killer (NK) ou células reticulares que estão em estágios variados de maturação. Ocorre principalmente nos linfonodos, mas pode acometer qualquer região onde haja essas células. Apresentam, assim, ampla variedade histológica, imuno-histoquímica e clínica. 14.4.2 Epidemiologia É a sétima neoplasia mais diagnosticada e corresponde a 3 a 4% dos óbitos por câncer. A incidência aumenta com a idade, e homens são mais acometidos que mulheres. A incidência dos diversos tipos difere geograficamente. Por exemplo: o linfoma T/NK nasal tem maior incidência no sul da Ásia e em partes da América Latina; leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL) é mais comum no sul do Japão e no Caribe. São consideradas causas do aumento da incidência: ▶ Melhoria do diagnóstico; ▶ AIDS; ▶ Exposição ambiental; ▶ Advento de terapias imunossupressoras; ▶ Aumento da expectativa de vida da população — aumento da incidência na sexta e sétima décadas de vida. 14.4.3 Etiologia Existem alguns agentes infecciosos relacionados já bem definidos: ▶Vírus humano linfotrópico T (HTLV-1): ATLL; ▶ Vírus Epstein-Barr: linfoma de Burkitt, linfoma primário do SNC, linfomas relacionados à imunossupressão e linfoma T/NK nasal; ▶ Helicobacter pylori: linfoma MALT de estômago; ▶ Borrelia sp.: linfoma B cutâneo; ▶ Chlamydia psittaci: linfoma MALT ocular; ▶ HIV: linfoma difuso de grandes células B e linfoma de Burkitt; ▶ Vírus da hepatite C: linfoma esplênico da zona marginal; ▶ Herpes-vírus humano tipo 8: linfoma primário de efusão — também conhecido como linfoma de cavidades serosas. Investigam-se ainda as incidências familiares aumentadas de LNH. Doenças imunossupressoras, congênitas ou adquiridas também estão relacionadas com o aumento da incidência. Em cerca de 50% dos linfomas de células B, podem-se identificar anormalidades cromossômicas, geralmente translocações. Pelo menos em três entidades — linfoma de Burkitt, linfoma folicular e linfoma do manto —, translocações distintas estão presentes na maioria dos casos, o que parece constituir eventos críticos no desenvolvimento da doença. 14.4.4 Quadro clínico A manifestação clínica depende muito do tipo de linfoma e do local acometido. Tipicamente, manifesta-se como adenomegalia indolor, confluente e de aumento progressivo; sintomas B estão presentes em 25 a 40%, principalmente nos linfomas agressivos; outros sintomas sistêmicos são menos comuns (menos de 10%) e sem valor prognóstico, como fadiga, mal-estar e prurido. O tecido linfoide da orofaringe (anel de Waldeyer) pode estar envolvido, em geral em associação ao trato gastrintestinal. A hepatoesplenomegalia é bem mais comum no LNH do que no LH, principalmente nos linfomas indolentes. A história e o exame físico completos são fundamentais para detectar evidências de envolvimento extranodal — mais frequente no trato gastrintestinal, mas também no SNC, nos testículos, no pulmão, na pele e na medula óssea —, sendo essa infiltração extranodal bem mais comum do que no LH, com incidência em torno de 35% dos casos. O performance status é de valor prognóstico muito importante e influi na decisão terapêutica, devendo ser documentado. As duas escalas mais utilizadas são a de Karnofsky e a do Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG — Quadro 14.3). Quanto às síndromes paraneoplásicas, a hipercalcemia da malignidade é vista no LNH, principalmente na doença mais agressiva. A síndrome paraneoplásica mais rara é o pênfigo paraneoplásico. Aproximadamente 80% das neoplasias associadas ao pênfigo paraneoplásico são LNH, leucemia linfocítica crônica ou doença de Castleman. Quadro 14.3 - Escala de performance status do Eastern Cooperative Oncology Group Complicações possíveis, como manifestação inicial do linfoma, que necessitam de rápida identificação e tratamento, caracterizando emergência médica, podem ocorrer principalmente nos subtipos mais agressivos e nos pacientes com doença avançada. As principais emergências médicas relacionadas com o linfoma são: ▶ Síndromes compressivas, como compressão medular, síndrome da veia cava superior, obstrução da via aérea superior — em geral, por massa mediastinal—, obstrução ou intussuscepção intestinal e obstrução ureteral; ▶ Tamponamento cardíaco; ▶ Hipercalcemia, particularmente na ATLL; ▶ Meningite linfomatosa ou lesão com efeito de massa no SNC; ▶ Lise tumoral em linfomas de alto turnover — Burkitt e linfoblástico; ▶ Hiperviscosidade em linfoma linfoplasmocítico; ▶ Anemia ou plaquetopenia autoimune severas — habitualmente, associadas ao linfoma linfocítico. 14.4.5 Classificação Atualmente, é usada a classificação da Organização Mundial da Saúde, que considera aspectos morfológicos, imunofenotípicos, genéticos e clínicos. Quadro 14.4 - Classificação da Organização Mundial da Saúde resumida #importante Os pacientes também podem ser agrupados em apresentações clínicas de sobrevida semelhante; assim, os LNHs são agrupados em indolentes, agressivos e muito agressivos, classificação importante para a programação terapêutica. Os linfomas indolentes têm crescimento lento e acometem principalmente os idosos. Os pacientes podem apresentar-se com poucos sintomas por vários anos, mesmo após o diagnóstico, sendo comuns, por esse motivo, a apresentação em estádios avançados (estádio III ou IV) e o envolvimento do sangue e da medula óssea. Como o curso é lento, a sobrevida é de vários anos, mesmo se não tratados. Pode-se, inclusive, observar ocasional regressão espontânea em alguns casos. Entretanto, a cura em tais situações é menos provável do que nos pacientes com formas agressivas de linfoma, pois a taxa de recidiva é muito alta. Os linfomas indolentes correspondem a, aproximadamente, 40% dos diagnósticos de LNH. Por sua vez, os linfomas agressivos atingem qualquer idade, geralmente adultos, apresentando-se com massa de rápido crescimento. O envolvimento do sangue e da medula óssea, ao contrário, é menos comum, e, caso não haja tratamento, a sobrevida é curta, com duração de meses. Por fim, os LNHs muito agressivos acometem crianças e adultos jovens, com crescimento tumoral extremamente rápido; como consequência, o estádio ao diagnóstico também é avançado. É comum, inicialmente, a medula óssea e o SNC estarem comprometidos, com sobrevida de semanas, se não houver tratamento. Os principais tipos de linfoma são indolentes (sobrevida de anos), que incluem os linfomas linfocítico, linfoplasmocítico, folicular, MALT e micose fungoide; agressivos (sobrevida de meses), que compreendem os linfomas do manto, de grandes células B, anaplásico e angiocêntrico T/NK; e, por fim, os altamente agressivos (sobrevida de semanas), envolvendo o linfoma linfoblástico e o de Burkitt. 14.4.6 Principais linfomas não Hodgkin 14.4.6.1 Difuso de grandes células B É a neoplasia linfoide mais comum e corresponde a 30% de todos os linfomas. A incidência aumenta com a idade, com mediana ao diagnóstico de 64 anos e predomínio no sexo masculino. Apresenta-se como massa de rápido crescimento, com diagnóstico em estádio avançado em 60% dos casos. O acometimento extralinfonodal ocorre em 40%, sendo o local mais comum o trato gastrintestinal, mas pode acometer qualquer tecido: pele, testículo, SNC, ovários, osso, tireoide, amígdalas etc. A medula óssea pode estar envolvida em até 30%30dos casos ao diagnóstico. É agressiva, com taxa de sobrevida em quatro anos de 53 a 94%, de acordo com os fatores prognósticos e o tratamento. A associação de poliquimioterapia ao rituximabe (anticorpo monoclonal anti-CD20) melhorou em mais 15% as taxas de remissão completa e sobrevida. 14.4.6.2 Folicular É o linfoma indolente mais comum (22% dos LNHs e 70% dos LNHs indolentes) de células B. Ocorre, sobretudo, em idosos (mediana de idade ao diagnóstico de 60 anos), com discreto predomínio nas mulheres, com linfadenopatia generalizada, indolor e, muitas vezes, extensa. O comprometimento de órgãos que não linfonodos ou medula óssea é incomum. Em 60 a 70% dos casos, a medula óssea está acometida ao diagnóstico. Histologicamente, é subclassificado pela Organização Mundial da Saúde em graus I, II ou III (contagem de centroblastos, grau I: 0 a 5, II: 6 a 15 e III: acima de 15), sendo essa divisão de importante valor prognóstico, pois, o grau III é de evolução mais rápida e com menor sobrevida. Pode evoluir para formas rapidamente progressivas (linfoma de células B difuso), de prognóstico mais reservado. A sobrevida de oito a 12 anos é comum, mesmo sem indicação terapêutica. 14.4.6.3 MALT O MALT é um linfoma indolente de células B, que pode ser dividido em três classes: nodal, esplênico e extranodal, sendo o último o mais comum. O linfoma MALT extranodal pode desenvolver-se em inúmeros tecidos: estômago, intestino, glândulas salivares, tireoide, pulmões, anexos oculares, pele etc., sendo o quadro clínico dependente do local acometido. A maioria dos casos de linfoma MALT é localizada, muitas vezes alcançando longos períodos de remissão apenas com tratamento cirúrgico ou radioterápico, mas apresenta alta taxa de recidiva e potencial de disseminação e transformação em linfoma agressivo ao longo dos anos. O linfoma MALT gástrico é o principal representante dessa classe de LNH, associado ao Helicobacter pylori em mais de 90% dos casos. Os sintomas são semelhantes aos da úlcera e do adenocarcinoma gástrico — com dispepsia inespecífica, epigastralgia e síndrome consumptiva —, e o aspecto endoscópico pode ser de gastrite inespecífica a úlcera péptica, pólipo e adenocarcinoma, localizados principalmente no antro ou de padrão multifocal. A biópsia permite fazer o diagnóstico. Alguns linfomas MALT gástricos, quando localizados, curam-se com a erradicação do Helicobacter pylori (60 a 70%); a radioterapia é reservada aos casos refratários ao tratamento antimicrobiano, mas com doença localizada, e aos casos em que a pesquisa de H. pylori é negativa. A quimioterapia concomitante está indicada apenas quando a doença está avançada; já a cirurgia é prescrita somente quando há complicações — obstrução ou perfuração. O paciente com linfoma MALT tem prognóstico, na maior parte das vezes, muito bom. 14.4.6.4 Linfoblástico Pode ter origem em célula B ou T. Trata-se de um espectro linfomatoso da Leucemia Linfoide Aguda (LLA), ou seja, a célula que dá origem às duas doenças é a mesma — linfócito imaturo, linfoblastos —, mas as manifestações clínicas são diferentes. No Linfoma Linfoblástico (LL), há aumento de gânglios linfáticos, caracteristicamente do mediastino, e na medula óssea há menos de 25% de blastos. Na leucemia, podem existir adenomegalias, mas há mais de 25% de blastos na medula óssea. O linfócito T intratímico imaturo (LLT) ocorre, predominantemente, em adultos jovens, adolescentes e crianças. É duas vezes mais frequente em homens e tem, como característica clínica mais importante, o aparecimento de adenomegalia difusa e de massa mediastinal, muitas vezes, com derrames pleural e pericárdico associados. No LL, é menos comum o envolvimento mediastinal, sendo mais frequente o acometimento extranodal. Junto à LLA B, perfaz o tipo de câncer mais comum da infância. Ambos apresentam alto risco de infiltração no SNC. Tanto o LL B como o T apresentam envolvimento precoce de medula óssea e evoluem rapidamente para LLA, devendo ser tratados como uma leucemia aguda. Os poucos que conseguem manter a doença na fase linfomatosa alcançam alta taxa de cura. 14.4.6.5 Burkitt Consiste em um linfoma morfologicamente formado por pequenas células não clivadas. Observam-se três formas clínicas distintas: ▶ Endêmica: principalmente em crianças africanas, maior incidência em sexo masculino, com comprometimento mandibular ou intra-abdominal, sendo considerado endêmico nessa região, onde é comum o encontro de evidências de infecção pelo vírus Epstein-Barr; ▶ Esporádica:ma is comum em crianças e adultos jovens, mais frequente na África e na América, envolvendo mais comumente o intestino, o retroperitônio e os ovários; ▶ Em associação a imunodeficiência: mais comum em adultos e pacientes HIV positivos — acomete aqueles com alto valor de CD4 e sem infecção oportunista. É considerado o linfoma de crescimento mais rápido,que pode dobrar o volume das massas em 24 horas, com habitual envolvimento extranodal, principalmente intra-abdominal, do SNC e da medula óssea. Em vista da velocidade de crescimento exacerbada, é comum apresentar, ao diagnóstico, sinais de lise tumoral espontânea (hipercalemia, hiperfosfatemia, hiperuricemia, hipocalcemia, alto valor de DHL, disfunção renal, convulsões e arritmias cardíacas ou morte súbita), e o prognóstico pode ser muito comprometido, se o tratamento não é iniciado o mais rápido possível. A taxa de cura com as opções terapêuticas atuais chega a 80%. Figura 14.5 - Criança com linfoma não Hodgkin de Burkitt Fonte: adaptado de Mike Blyth, 2002. 14.4.6.6 Do manto Corresponde a 3% dos LNHs recém diagnosticados. O diagnóstico é feito em estádio avançado em 70% dos casos, sendo bastante frequente o envolvimento extranodal, como a medula óssea, o baço e o trato gastrintestinal, principalmente o intestino e o anel de Waldeyer. É um subtipo de linfoma de prognóstico ruim, com sobrevida em cinco anos entre 25 e 50%, de acordo com os fatores prognósticos e pela incurabilidade frequente da doença com quimioterapia convencional. 14.4.6.7 Micose fungoide É É um linfoma de células T cutâneo que geralmente leva a variado quadro clínico dermatológico, incluindo placas, nódulos e/ou eritrodermia esfoliativa generalizada. Quando ocorre a leucemização desse linfoma — pela presença de células de Sézary, de núcleos convolutos e cerebriformes —, dá-se o nome de síndrome de Sézary. A sobrevida média desse tipo de linfoma é de cerca de 10 anos, caracterizando-se como doença indolente, podendo variar até um ano, de acordo com estadiamentos mais avançados. Figura 14.6 - Placas elevadas e eritematosas, cuja biópsia resultou em infiltração difusa por linfócitos T, típicos de micose fungoide Fonte: Bobjgalindo, 2009. Figura 14.7 - Eritrodermia difusa em micose fungoide Fonte: Dermatology11. Figura 14.8 - Células de Sézary Fonte: LindseyRN. 14.4.6.8 Leucemia/linfoma de células T do adulto Rara nos países ocidentais, é a forma mais comum de linfoma na Ásia e é causada pelo vírus HTLV-1. A ATLL pode ter comportamento extremamente agressivo, mas algumas apresentações clínicas podem ter curso mais indolente. De maneira geral, essa patologia não pode ser curada, apresentando diferentes formas clínicas: ▶ ATLL aguda: apresenta-se na forma leucêmica com elevada contagem leucocitária à custa de linfócitos cujo núcleo tem aspecto “de flor” (flower cells), rash cutâneo, linfadenomegalia generalizada, visceromegalia, sintomas constitucionais, níveis elevados de DHL e hipercalcemia. A sobrevida pode variar de algumas semanas a um ano; ▶ ATLL linfomatosa: caracterizado, como o nome indica, por proeminente linfonodomegalia, porém sem envolvimento de sangue periférico. Hipercalcemia é menos frequente do que na forma aguda; em contrapartida, o estadiamento ao diagnóstico é usualmente avançado. A sobrevida varia no mesmo período do que na fase aguda; ▶ ATLL crônica: apresenta quadro clínico mais protraído, com sobrevida mais longa, podendo, entretanto, transformar-se na fase aguda agressiva. Pode haver lesões de pele e linfocitose sem linfócitos atípicos no sangue periférico. Nesta forma, não há hipercalcemia; linfadenopatia e envolvimento de fígado e baço podem estar presentes; ▶ ATLL indolente/smoldering: quadro bastante lento, caracterizado apenas por imunofenotipagem com células neoplásicas em pequena quantidade, usualmente abaixo de 5%. Como as demais apresentações, pode tornar-se agressiva. Figura 14.9 - Flower cells típicas de leucemia/linfoma de células T do adulto — forma leucêmica Fonte: Human T-cell leukemia virus type I (HTLV-I) infection and the onset of adult T-cell leukemia (ATL), 2005. 14.4.7 Fatores prognósticos Alguns fatores prognósticos são utilizados na tentativa de predizer a sobrevida em caso de LNHs agressivos, submetidos ao tratamento convencional. Quadro 14.5 - Prognóstico internacional para linfoma não Hodgkin Esse índice pode ser adaptado de acordo com a idade — indivíduos acima de 60 anos têm sobrevida pior —, o subtipo histológico — o folicular considera a hemoglobina também como fator importante — ou o uso de anticorpo monoclonal anti-CD20 no tratamento do linfoma de grandes células B — a estratificação é feita em prognóstico muito bom, bom e ruim, e a sobrevida em quatro anos varia entre 55 e 94%. 14.4.8 Linfoma não Hodgkin e HIV #importante Em pacientes HIV positivos, os LNHs ocorrem com uma frequência muito maior que a esperada na população HIV negativo. Nos pacientes HIV positivos, os LNHs ocorrem a uma frequência extremamente maior do que a esperada na população HIV negativo, constituindo, assim, a segunda neoplasia mais comum nesse grupo, só perdendo para o sarcoma de Kaposi. Comparando o LH e o LNH, este último é o mais comum em pacientes com HIV. Apesar de o uso de antirretrovirais altamente ativos ter mudado a história natural da AIDS e a incidência das neoplasias nessa população, a ocorrência de LNH se mantém alta quando comparada com a população HIV negativo. Em contraste com o sarcoma de Kaposi, que tem maior incidência em homens que fazem sexo com homens, o LNH não tem predileção por comportamento de risco, acometendo todas as faixas etárias, especialmente homens. O risco de desenvolvimento do linfoma correlaciona-se diretamente com a intensidade e o tempo de imunossupressão (CD4 abaixo de 100/mm3) e com a alta carga viral; configura-se, então, em um evento tardio na evolução da doença. Exceção se faz ao linfoma de Burkitt, que habitualmente acomete indivíduos mais jovens e com contagem de CD4 relativamente alta (cerca de 200/mm3). Esses linfomas são histologicamente heterogêneos e quase sempre derivados de células B. ▶ Os tipos mais comuns de linfomas associados ao HIV são: ▶ LNH sistêmico, com destaque para o difuso de grandes células B e suas variantes imunoblástica e plasmoblástica (acometem a cavidade oral), e o linfoma de Burkitt; ▶ Linfoma de efusão primária, que se apresenta com derrames pleural e pericárdico ou ascite, sem massa associada, diagnosticado por imunofenotipagem desses líquidos, representam 5% das apresentações; ▶ Linfoma primário de SNC. Em quaisquer de suas formas, o curso é extremamente agressivo e de acometimento extranodal frequente. O tratamento do linfoma concomitante com esquema antirretroviral é fundamental. 14.4.9 Tratamento #importante A orientação terapêutica depende do tipo histológico e do estadiamento clínico e baseia-se em esquemas de poliquimioterapia associados ou não a anticorpos monoclonais ou à radioterapia. #importante Para algumas formas específicas de linfoma, o rituximabe — um tipo de anticorpo monoclonal anti-CD20 — associado à quimioterapia é utilizado. Nos linfomas indolentes, observa-se baixa fração de proliferação celular neoplásica; logo, apesar do curso lento, em sua maioria, são doenças incuráveis, embora sejam indolentes e de curso arrastado, e dificilmente respondem ao tratamento de forma definitiva. Mesmo após o tratamento e a aparente remissão, as chances de recidivas são enormes. Por isso, muitas vezes, é possível adotar uma conduta expectante em que o paciente é mantido sem tratamento até haver sintomatologia ou progressão da doença. O tratamento habitualmente é realizado com quimioterapia. Nos linfomas T cutâneos (micose fungoide), pode- se optar por tratamento tópico com esteroides, fototerapia com ultravioleta A com psoralênicos (PUVA) ou quimioterapia, bem como quimioterapia ou radioterapia nos estadiamentos mais avançados. Já os linfomas agressivos apresentam alta taxa de proliferação celular, tornando-os mais sensíveis à ação quimioterápica e com potencial chance de cura. Em estádios mais localizados, pode-se optar por poucos ciclos de quimioterapia em associação a radioterapia ou mais ciclos de quimioterapia e sem radioterapia — apenas para casos que não apresentarem doença bulky. A radioterapia exclusiva apresenta altas taxas de recidiva, não sendo encorajada.Nos estádios avançados, é imperioso o tratamento quimioterápico completo, com seis ciclos contendo antracíclico e, se linfoma B, rituximabe, sendo associados à radioterapia apenas em situações especiais. A taxa de remissão completa e a sobrevida livre de doença dependem do tipo de linfoma, do escore prognóstico e do tratamento utilizado. Finalmente, os linfomas altamente agressivos têm extrema sensibilidade ao tratamento quimioterápico, pela altíssima taxa de proliferação celular, sendo neoplasias potencialmente curáveis. Destaca-se que esses linfomas têm incidência importante de infiltração extranodal no SNC, necessitando, na grande maioria dos protocolos, de quimioterapia profilática ou terapêutica intratecal. Entretanto, ainda que na prática corrente este tipo de terapia ainda seja bastante utilizada, os principais estudos que avaliaram a eficácia da terapia intratecal profilática falharam em demonstrar benefício. No tratamento de recidivas dessas doenças, o raciocínio é semelhante àquele utilizado para o LH: deve-se proceder à terapia de salvamento com protocolos de quimioterapia não utilizados, dando preferência ao transplante de células-tronco hematopoéticas autólogo (agressivos) e alogênico (indolentes e muito agressivos). 14.4.10 Evolução e prognóstico Os linfomas com melhor prognóstico apresentam como características principais: histologia favorável; menor volume de massa tumoral; nenhum comprometimento extranodal; ausência de leucocitose no sangue periférico; idade abaixo de 60 anos; estádios menos avançados (I ou II); bom performance status; DHL normal. 14.5 DIFERENÇAS CLÍNICAS Quadro 14.6 - Diferenças entre linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin Quais são os tipos de linfoma? Como fazer o diagnóstico? Os principais tipos de linfoma são o de Hodgkin e o linfoma não Hodgkin. Para o diagnóstico, é importante biópsia excisional e exames de imagem para avaliação da doença. Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco São duas fases para o processo seletivo da SES-PE. A primeira é uma prova com 100 questões de múltipla escolha, cada uma com cinco alternativas. Prepare-se para questões sobre casos clínicos, com exames, terapêutica e diagnósticos. Já a segunda etapa é composta pela análise e arguição do currículo. Para a prova da primeira fase, estude com mais afinco os seguintes temas: Oncologia Gastrintestinal, atendimento inicial ao politraumatizado, hérnias, litíase biliar, câncer de cólon e reto e tumores pancreáticos e neuroendócrinos. Também atente-se para vasculites, diabetes, lúpus, distúrbios hidroeletrolíticos, distúrbios do equilíbrio acidobásico, bioestatística, Sistema Único de Saúde (SUS), medidas de frequência, Epidemiologia, ética médica, atenção primária, Estratégia Saúde da Família, vigilância em saúde e mortalidade. Parto, assistência pré-natal, Neonatologia, anatomia, embriologia e malformações do trato reprodutivo feminino, relações uterofetais, ciclo menstrual, câncer de colo do útero, anticoncepção e síndromes hipertensivas na gestação, assim como síndromes gastrintestinais e desidratação na infância, doenças infecciosas, infecção das vias aéreas superiores, imunização, aleitamento e nutrição e desenvolvimento fisiológico são temas essenciais para o seu estudo. SES-PE | 2020 Um paciente com linfoma não Hodgkin B difuso de grandes células, com volumosos conglomerados linfonodais em mediastino e retroperitônio foi admitido para início de quimioterapia. Tendo em vista que seus níveis basais de DHL são cerca de três vezes o normal, ácido úrico 8,5 mg/dL e cálcio 6,8 mg/dL, qual das medidas abaixo não estaria indicada no tratamento desse paciente? a) rasburicase b) alcalinização da urina c) hidratação vigorosa (800 a 1000 mL/m2 de superfície corporal/hora) d) alopurinol e) monitorização cardíaca por 72 horas Gabarito: b Comentários: a) A rasburicase é um agente uricolítico altamente potente que catalisa a oxidação enzimática do ácido úrico em alantoína, substância hidrossolúvel, facilmente excretado por via renal. Com isso, a alta produção de ácido úrico via metabolização das purinas, fato este que ocorre numa síndrome de lise tumoral, pode ser evitada ou tratada com a administração de rasburicase e com isso diminuindo-se sobremaneira a chance do desenvolvimento de insuficiência renal aguda devido ao acúmulo e depósito de ácido úrico nos túbulos renais. b) A alcalinização da urina era média habitual e corriqueira nas décadas de 80 e 90 quando estávamos diante de uma situação em que era alta a chance do desenvolvimento de lise tumoral, porém o fator mais relevante nesses casos é a hidratação vigorosa com solução salina sem a necessidade concomitante do uso de bicarbonato de sódio. c) A hidratação vigorosa e eventualmente o uso de diuréticos para “forçar” a diurese, com o intuito de mantermos um fluxo urinário em torno de 0,5 a 1 mL/kg/hora é um fator importante na profilaxia de síndrome da lise tumoral. d) O alopurinol é um agente inibidor da xantina oxidase, com isso ocorre a diminuição da metabolização das purinas em ácido úrico e é comumente utilizado na profilaxia da lise tumoral. e) Esse paciente deve estar em terapia intensiva ou unidade semi- intensiva para monitorização cardíaca, balanço hídrico e controle laboratorial de eletrólitos e função renal e pronta correção dos distúrbios quando presentes. 14.1 INTRODUÇÃO 14.2 INVESTIGAÇÃO 14.3 LINFOMA DE HODGKIN 14.4 LINFOMA NÃO HODGKIN 14.5 DIFERENÇAS CLÍNICAS DE OLHO NA PROVA
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