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Identificando padrões

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Identificando padrões
Esta é uma importante ferramenta na aplicação da técnica ativa, porque será por meio da identificação dos padrões de repetição que surgirão as intervenções de forma sistêmica, dentro do processo da análise. O analista vai formular suas intervenções baseadas em repetições de comportamento/ pensamento do paciente. 
Existem dois tipos de padrões: os padrões curtos e os padrões longos. Para identificar esses padrões vamos adotar algumas técnicas:
1. O analista terá que utilizar a atenção flutuante de uma maneira um pouco diferente da tradicional. Na forma proposta por Freud, a atenção flutuante consiste em escutar o que o paciente está dizendo, mas sem se esforçar para entender o discurso, pois a maior preocupação será de identificar os atos falhos (esquecimentos), que segundo Freud, são as manifestações de conteúdos inconsciente. No método proposto aqui no curso, o analista terá um desgaste maior, porque irá não somente identificar atos falhos, mas também os padrões, tanto no discurso verbal quanto não verbal, e para isso será importante que a atenção flutuante não esteja apenas endereçada aos atos falhos, pois a compreensão do inconsciente está relacionada com uma articulação geral da estruturação psicológica. Então, a partir do método do curso, o analista fará uma elaboração geral sobre o que está sendo posto.
2. Pensando na atenção flutuante do modelo mencionado acima, vamos organizar o discurso verbal e não verbal sempre de forma contextualizada e relacionada para criamos uma lógica, um sistema que seja possível visualizar com clareza os padrões, para isso, vamos relacionar o que está sendo dito com os elementos do discurso anterior. 
Exemplo real: sempre que a paciente falava sobre sua mãe, movia sua mão esquerda de modo a fazer um círculo e esse gesto sempre se repetia quando também falava de sua irmã, e o seu discurso estava sempre relacionado a uma rejeição que sua mãe supostamente tinha. Essa rejeição, segundo ela, era a causa do seu insucesso profissional, mas, quando consideramos elementos da ficha de sua anamnese, observamos que existia uma ampla trajetória em seu processo de desenvolvimento, como ela ter sido a filha que recebeu mais atenção por parte de sua mãe, com isso surgiu o complexo de intrusão que é a chegada de um “intruso” que roubou a atenção da sua mãe para si e despertou a revolta das outras irmãs; Relacionando isso às sabotagens que as irmãs faziam com ela e outros comportamentos com a finalidade de diminuir tudo o que ela fazia, seria pouco provável afirmar que foi a rejeição da mãe que gerou esse sintoma, mas sim, a forma com que as irmãs utilizaram durante todo seu processo de desenvolvimento o ataque à ela. Com o tempo, essas “verdades” foram se tornando um padrão em sua vida. Detalhe: certa vez, uma das irmãs mencionou que, por ela ser canhota, jamais iria cozinhar (e ela apresentava um forte apreço por esta prática). Observem toda essa sistemática, através dos padrões de comportamento como: compulsão em gesticular com a mão esquerda, compulsão por cozinhar e todo contexto por trás disso. Elaborei uma intervenção baseada na técnica ativa em que pedi que ela repetisse os discursos, sem tirar as mãos da mesa, e foi relatado um sentimento de estranheza, como se não fosse ela mesma que estivesse falando, como se faltasse alguma coisa. Nas sessões seguintes, apresentei toda essa lógica e ela reagiu como se essa parte padronizada não existisse e somente existisse a rejeição da mãe. Essa atitude já era esperada porque esta padronizada para enxergar dessa forma, então, eu elaborei mais intervenções, em que nas sessões seguintes e a direcionava a associar livremente para pontos específicos, de modo geral, para que ocorresse elaboração em todas as sessões.
Exemplo: pedi para que ela falasse de como era a relação com as irmãs; Pedi para que ela colocasse a cadeira de frente para mim e não de lado, porque era a posição que a cama ficava em relação a sua irmã quando ela falava, durante as noites, que sua mãe a rejeitava e que não gostava dela.
3. O analista para identificar padrões precisará observar relações indiretas dentro do discurso e nem todo padrão acontecerá de forma clara. Alguns aparecerão de uma forma que, às vezes, os padrões do analista não serão capazes de organizar. Isso ocorre por uma diferença cultural.
Exemplo: às vezes, o analista está buscando padrões de repetição apenas no comportamento, associando-o a fala, mas em determinadas circunstâncias, o padrão pode ser mais extenso, a repetição pode ser mais alongada ou mais curta. Se for mais curta é mais fácil de compreender, se for mais alongada, teremos mais dificuldades para percebê-la.

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