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Prof. Murilo Gomes Material Complementar Literatura Portuguesa: Prosa Nasceu em Azinhaga, no Alentejo, 1922. Filho de agricultores. Foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Tornou-se conhecido fora de Portugal com a publicação do romance Memorial do Convento, em 1982. Prêmio Nobel de Literatura – 1998. José Saramago (1922-2010) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/José_Saramago Terra do Pecado, 1947. Manual de Pintura e Caligrafia, 1977. Levantado do Chão, 1980. Memorial do Convento, 1982. O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984. A Jangada de Pedra, 1986. História do Cerco de Lisboa, 1989. O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991. Romances Ensaio Sobre a Cegueira, 1995. Todos os Nomes, 1997. A Caverna, 2000. O Homem Duplicado, 2002. Ensaio Sobre a Lucidez, 2004. As Intermitências da Morte, 2005. A Viagem do Elefante, 2008. Caim, 2009. Claraboia, 2011. Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, 2014. Romances Crônicas Deste Mundo e do Outro, 1971. A Bagagem do Viajante, 1973. Os Apontamentos, 1977. Contos Objecto Quase, 1978. Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido, 1979. O Conto da Ilha Desconhecida, 1997. Crônicas e contos Sua obra tem três fases distintas, nas quais há características recorrentes, tais como o uso da intertextualidade e da oralidade. Na primeira fase, o autor encontra-se em processo de formação no qual produz conto, crônica, poema e romance, na década de 1970. Na segunda fase, Saramago passa a ficcionalizar em seus romances alguns eventos históricos de Portugal, sob a perspectiva e o viés narrativo do contemporâneo. O autor, nesse momento, é aclamado pelo público e pela crítica. Esse período compreende as obras publicadas nos anos 1980. Na terceira fase, a temática do escritor se torna abrangente, conhecida como fase universal, relacionada a problemas da sociedade contemporânea em obras publicadas a partir da década de 1990. Períodos da obra de José Saramago Reescrita do passado histórico a partir da ficção. Viagem e deslocamento. Criação de mundos maravilhosos e/ou fantásticos. Renúncia aos sistemas alienantes, burocratizados e opressivos. Temas A busca da alteridade e a busca da identidade. O feminino, os animais e os deficientes. A integralidade da vida do homem independentemente de sua posição na sociedade. As escolhas individuais frente às escolhas coletivas. Cidadania, ética, meio ambiente e política. Temas Valorização da expressão oral e da linguagem coloquial; Escrita de nomes próprios em letra minúscula; Ordenação discursiva caótica: narração, diálogos e monólogos; Paragrafação longa; Recursos discursivos Uso de vírgulas no lugar de ponto final, travessão e dois pontos; Intertextualidade como elemento criativo e digressivo; Ironia e sarcasmo; Justaposição de espaços e de tempos distintos: real e ficcional. Recursos discursivos A trama gira em torno da construção do Palácio de Mafra em Lisboa, no século XVII, sob as ordens do rei, D. João V, a partir de uma promessa feita para que a rainha, D. Mariana Ana, ficasse e lhe concedesse um herdeiro. Personagens: D. João V. D. Maria Ana. Baltasar. Blimunda. Pe. Bartolomeu Lourenço. Sebastiana Maria de Jesus (mãe de Blimunda). Memorial do Convento (1982) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_do_Convento Assinale a alternativa incorreta a respeito dos temas da obra de José Saramago: a) Reescrita do passado histórico a partir da ficção. b) A busca da alteridade e a busca da identidade. c) Criação de mundos maravilhosos e/ou fantásticos. d) Viagem e deslocamento. e) Aceitação do mundo burocratizado e alienante. Interatividade Assinale a alternativa incorreta a respeito dos temas da obra de José Saramago: a) Reescrita do passado histórico a partir da ficção. b) A busca da alteridade e a busca da identidade. c) Criação de mundos maravilhosos e/ou fantásticos. d) Viagem e deslocamento. e) Aceitação do mundo burocratizado e alienante. Resposta “Há versos célebres que se transmitem através das idades do homem, como roteiros, bandeiras, cartas de marear, sinais de trânsito, bússolas – ou segredos” (SARAMAGO, 1996, p. 33). A bagagem do viajante (1973): E agora, José? “E agora, José? A festa acabou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? E agora, José?, de Carlos Drummond de Andrade Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? [...]” E agora, José? “Este, que veio ao mundo muito depois de mim, pelas mãos de Carlos Drummond de Andrade, acompanha-me desde que nasci, por um desses misteriosos acasos que fazem do que viveu já, do que vive e do que ainda não vive, um mesmo nó apertado e vertiginoso de tempo sem medida. Considero privilégio meu dispor deste verso, porque me chamo José e muitas vezes na vida me tenho perguntado: ‘E agora?’ Foram aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o desânimo se fez muralha, fosso de víboras, em que as mãos ficaram vazias e atónitas. ‘E agora, José?’ Grande, porém, é o poder da poesia para que aconteça, como juro que acontece, que esta pergunta simples aja como um tónico, um golpe de espora, e não seja, como poderia ser, tentação, o começo da interminável ladainha que é a piedade por nós próprios” (SARAMAGO, 1996, p. 33 – grifo nosso). E agora, José Saramago? A busca da identidade... “Mas outros Josés andam pelo mundo, não o esqueçamos nunca. A eles também sucedem casos, desencontros, acidentes, agressões, de que saem às vezes vencedores, às vezes vencidos” (SARAMAGO, 1996, p. 33, grifo nosso). Outros Josés... a alteridade “Precisamente um desses casos me mostra que já falei demasiado de mim. Um outro José está diante da mesa onde escrevo. Não tem rosto, é um vulto apenas, uma superfície que treme como uma dor contínua. Sei que se chama José Júnior, sem mais riqueza de apelidos e genealogias, e vive em São Jorge da Beira. É novo, embriaga-se, e tratam-no como se fosse uma espécie de bobo. Divertem-se à sua custa alguns adultos, e as crianças fazem-lhes assuadas, talvez o apedrejem de longe. E se isto não fizeram, empurraram-no com aquela súbita crueldade das crianças, ao mesmo tempo feroz e cobarde, o José Júnior, perdido de bêbedo, caiu e partiu uma perna, ou talvez não, e foi para o hospital. Mísero corpo, alma pobre, orgulho ausente – E agora, José?” (SARAMAGO: 1996, p. 34 – grifo nosso). José Júnior No sítio eletrônico do município de Covilhã: http://www.cm-covilha.pt/, faz-se referência à história de José Junior, recontada por Saramago na obra Viagem a Portugal (1981), da seguinte maneira: “Uma freguesia onde viveu José Júnior, indivíduo de origem humilde, tal como relembrava Saramago, que ficou para a história como um homem bom, infeliz, que sofreu porventura as incompreensões de uma certa sociedade portuguesa na época pouco evoluída.” Logo, entende-se que José Saramago parte de um relato histórico “real” para construir sua personagem de “ficção” (GOMES, 2016, p. 47). Ficção e realidade “Um outro José está diante da mesa onde escrevo. Não tem rosto, é um vulto apenas, uma superfície que treme como uma dor contínua.Sei que se chama José Júnior, sem mais riqueza de apelidos e genealogias, e vive em São Jorge da Beira. É novo, embriaga-se, e tratam-no como se fosse uma espécie de bobo. [...] quadro desolado de uma degradação, do gozo infinito que é para os homens esmagarem outros homens, afogá-los deliberadamente, aviltá-los, fazer deles objecto de troça, de irrisão, de chacota – matando sem matar, sob a asa da lei ou perante a sua indiferença” (SARAMAGO, 1996, p. 34). A busca da alteridade A relação da crônica E agora, José?, de José Saramago, com o poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade é: a) Casual. b) Intertextual. c) Extratextual. d) Coincidência. e) Abstrata. Interatividade A relação da crônica E agora, José?, de José Saramago, com o poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade é: a) Casual. b) Intertextual. c) Extratextual. d) Coincidência. e) Abstrata. Resposta O enredo se desenvolve em torno da vida do médico, Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Reis volta de viagem do Brasil a Portugal no ano de 1936. A obra explora o contexto que precede a Segunda Guerra Mundial, e por consequência, as notícias dos jornais da época que já demonstravam certa tensão na Europa que culminaria na eclosão da guerra em 1939, na Alemanha. Além disso, faz referência ao contexto português relacionado à ascensão de Antônio de Oliveira Salazar, período autoritário e corporativista de Portugal, também conhecido como salazarismo, que se inicia em 1933 e vai a cabo em 25 de abril de 1974 com a Revolução dos Cravos. O ano da morte de Ricardo Reis (1982) Na volta de Ricardo Reis do Brasil a Portugal é possível se observar o desencantamento do poeta em relação a sua terra natal no que diz respeito ao cenário político, econômico e social. Há também a esperança da personagem protagonista na descoberta do amor por uma moça deficiente, Marcenda, e na paixão pela arrumadeira de quarto do Hotel Bragança, Lídia. Nessa perspectiva, O ano da morte de Ricardo Reis (1982) é uma obra-prima da produção literária de José Saramago dada a sua complexidade a partir do entrecruzamento da ficção e da realidade, dos fatos e da imaginação, da História e da história contadas concomitantemente pelo narrador do romance. O ano da morte de Ricardo Reis (1982) As relações intertextuais em O ano da morte Ricardo Reis ocorrem em vários níveis e camadas textuais desde as mais aparentes até as mais profundas. Na obra, há referências à produção literária de Fernando Pessoa, de Camões, de Jorge Luís Borges, de Eça de Queirós, entre outros. A intertextualidade d’O ano da morte de Ricardo Reis (1982) Luís Vaz de Camões (1524-1580) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Luís_de_ Camões “Eis aqui, quase cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa, E onde Febo repousa no Oceano. Este quis o Céu justo que floresça Nas armas contra o torpe Mauritano, Deitando-o de si fora, e lá na ardente África estar quieto o não consente.” (CAMÕES, CANTO III, p. 108, grifo nosso) Os Lusíadas (1572) “Aqui o mar acaba e a terra principia” (SARAMAGO, 1988, p. 7). O ano da morte de Ricardo Reis Fonte: www.patrialatina.c om.br/patagonia- mar-e-terra-nova- perspectiva-meio- ambiental- chilena/a-amb-2/ Herbert Quain, escritor ficcional, foi criado por Jorge Luís Borges. A menção a Quain está contida no conto, Exame da obra de Herbert Quain, da obra Ficções, publicada em 1944, pelo escritor argentino. Jorge Luís Borges (1899-1986) Fonte: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Jorge_Luis_Borges “Pôs o livro na mesa-de-cabeceira para um destes dias o acabar de ler, apetecendo, é seu título The God of Labyrinth, seu autor Herbert Quain, irlandês também, por não singular coincidência, mas o nome, esse sim, é singularíssimo, pois sem máximo erro de pronúncia se poderia ler, Quem, repare-se, Quain, Quem, escritor que só não é desconhecido porque alguém o achou no Highland Brigade, agora, se lá estava em único exemplar, nem isso, razão maior para perguntarmos nós, Quem. O tédio da viagem e a sugestão do título o tinham atraído, um labirinto com um deus, que deus seria, que labirinto era, que deus labiríntico, e afinal saíra-lhe um simples romance policial, uma vulgar história de assassínio e investigação, o criminoso, a vítima, se pelo contrário não preexiste a vítima ao criminoso, e finalmente o detective, todos três cúmplices da morte, em verdade vos direi que o leitor de romances policiais é o único e real sobrevivente da história que estiver lendo, se não e como sobrevivente único e real que todo o leitor lê toda a história” (SARAMAGO, 1988, p. 19-20). Borges, Saramago, Reis e Quain “The God of Labyrinth, seu autor Herbert Quain, irlandês também, por não singular coincidência, mas o nome, esse sim, é singularíssimo, pois sem máximo erro de pronúncia se poderia ler, Quem, repare-se, Quain, Quem, escritor que só não é desconhecido porque alguém o achou no Highland Brigade” (SARAMAGO, 1988, p. 19-20) Reis no labirinto: quem? Monumento a Eça de Queirós, no Largo Barão de Quintela, Lisboa Fonte: https://repositorio.ipl.pt/bi tstream/10400.21/2021/9 /Anexo%20F%20- %20Bairro%20Alto%20M onumental.pdf Eça de Queirós (1945-1900) “Ricardo Reis pára diante da estátua de Eça de Queirós, ou Queiroz, por cabal respeito da ortografia que o dono do nome usou, ai como podem ser diferentes as maneiras de escrever, e o nome ainda é o menos, assombroso é falarem estes a mesma língua e serem, um Reis, o outro, Eça, provavelmente a língua é que vai escolhendo os escritores de que precisa, serve-se deles para que exprimam uma parte pequena do que é, quando a língua tiver dito tudo, e calado, sempre quero ver como iremos nós viver” (SARAMAGO, 1988, p. 58). Reis e Eça “Já as primeiras dificuldades começam a surgir, ou não serão ainda dificuldades, antes diferentes e questionadoras camadas do sentido, sedimentos removidos, novas cristalizações, por exemplo, Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia, parece clara a sentença, clara, fechada e conclusa, uma criança será capaz de perceber e ir ao exame repetir sem se enganar, mas essa mesma criança perceberia e repetiria com igual convicção um novo dito, Sobre a nudez forte da fantasia o manto diáfano da verdade, e este dito, sim, dá muito mais que pensar, e saborosamente imaginar, sólida e nua a fantasia, diáfana apenas a verdade, se as sentenças viradas do avesso passarem a ser leis, que mundo faremos com elas, milagre é não endoidecerem os homens de cada vez que abrem a boca para falar” (SARAMAGO, 1988, p. 58). Eça e Reis A obra O ano da morte de Ricardo Reis (1982), de José Saramago, estabelece intertextualidade com a obra do poeta português: a) Mário de Sá Carneiro. b) Cesário Verde. c) Antero de Quental. d) Almeida Garret. e) Fernando Pessoa. Interatividade A obra O ano da morte de Ricardo Reis (1982), de José Saramago, estabelece intertextualidade com a obra do poeta português: a) Mário de Sá Carneiro. b) Cesário Verde. c) Antero de Quental. d) Almeida Garret. e) Fernando Pessoa. Resposta Obra de ficção finissecular, publicada em 1995, por José Saramago. O enredo se desenvolve a partir de um acontecimento inusitado em que os cidadãos de uma cidade qualquer e posteriormente do país todo são acometidos por uma cegueira branca transmitida por um vírus desconhecido. Apenas uma mulher fica incólume ao contágio da população que vai paulatinamente levando a sociedade às situações de degradação humana em meioa um espaço cada vez mais hostil em que os recursos básicos para sobrevivência passam a ficar cada vez mais escassos tais como a água, os alimentos, os medicamentos etc. Ensaio sobre a cegueira (1995) Trata-se de uma obra-prima de José Saramago que pode ser lida e interpretada por inúmeros campos do conhecimento tais como a Antropologia Social, a História, a Filosofia, a Psicologia e, sobretudo, as Teorias da Literatura. Ensaio sobre a cegueira representa o ápice da estética saramaguiana, pois apresenta de maneira simbólica os grandes impasses vividos pelo homem ao longo da história e acima de tudo ainda no decorrer do século XX e início do século XXI. Pelo viés histórico e filosófico, pode ser vista como uma crítica severa ao uso irracional da razão desde o projeto iluminista francês com ênfase nos problemas éticos e morais vivenciados em períodos de crise no século XX. A obra traz vários questionamentos a respeito do individualismo e da falta de senso de coletividade presentes no mundo contemporâneo. Entretanto, aponta saídas, ao menos no plano da ficção, para resolução da problemática relação entre os homens na contemporaneidade. Ensaio sobre a cegueira (1995) “Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o trânsito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego” (SARAMAGO, 1995, p. 12). Ensaio sobre a cegueira “O pior é que as famílias, sobretudo as menos numerosas, rapidamente se tornaram em famílias completas de cegos, deixando portanto de haver quem os pudesse guiar e guardar, e deles proteger a comunidade de vizinhos com boa vista, e estava claro que não podiam esses cegos, por muito pai, mãe e filho que fossem, cuidar uns dos outros, ou teria de suceder-lhes o mesmo que aos cegos da pintura, caminhando juntos, caindo juntos e juntos morrendo” (SARAMAGO, 1995, p. 125). Relações intertextuais O maior dos mestres flamengos de genre no século XVI foi Pieter Bruegel, o Velho (1525?-69). Pouco sabemos da sua vida, exceto que esteve na Itália, como tantos outros artistas nórdicos do seu tempo, e que viveu e trabalhou na Antuérpia e em Bruxelas, onde pintou a maioria de seus quadros na década de 1560 (GROMBRICH, 2011, p. 381). Pieter Bruegel, o velho Fonte: https://pt.wikipedia. org/wiki/Pieter_Bru egel,_o_Velho A parábola dos cegos, 1568 Fonte: www.pieter-bruegel- the-Elder.org “Deixai-os; são cegos condutores de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mateus, 15: 14). Saramago: Bruegel ou Mateus “Dê o exemplo, disse o médico, Dou sim senhor, disse o velho da venda preta, ceguei quando estava a ver o meu olho cego, Que quer dizer, E muito simples, senti como se o interior da órbita vazia estivesse inflamado e tirei a venda para certificar-me, foi nesse momento que ceguei” (SARAMAGO, 1995, p. 129). O jogo dos cegos “O último que eu vi foi um quadro, Um quadro, repetiu o velho da venda preta, e onde estava, Tinha ido ao museu, era uma seara com corvos e ciprestes e um sol que dava a ideia de ter sido feito com bocados doutros sóis, Isso tem todo o aspecto de ser de um holandês” (SARAMAGO, 1995, p. 130). O pintor holandês Fonte: www.vincent- van-gogh-gallery.org Trigal com ciprestes, 1890 “Isso tem todo o aspecto de ser de um holandês, Creio que sim, mas havia também um cão a afundar-se, já estava meio enterrado, o infeliz, Quanto a esse, só pode ser de um espanhol, antes dele ninguém tinha pintado assim um cão, depois dele ninguém mais se atreveu” (SARAMAGO, 1995, p. 130). O pintor espanhol El Perro ou Perro semihundido, de Francisco Goya (1820-1823) Fonte: http://goya.uniza r.es/InfoGoya/O bra/Pintura.html “Quanto a esse, só pode ser de um espanhol, antes dele ninguém tinha pintado assim um cão, depois dele ninguém mais se atreveu, Provavelmente, e havia uma carroça carregada de feno, puxada por cavalos, a atravessar uma ribeira, Tinha uma casa à esquerda, Sim, Então é de inglês, Poderia ser” (SARAMAGO, 1995, p. 130). “A tela que tornou Constable famoso em Paris quando a enviou para lá em 1824” (GOMBRICH, 2011, p. 495). O pintor inglês A Carroça de Feno, de John Constable (1821) Fonte: www.John-constable.org A respeito dos trechos analisados da obra Ensaio sobre a cegueira (1995) de José Saramago, é correto afirmar que: a) estabelecem relações intertextuais apenas com o texto literário. b) dialogam com autores clássicos da Literatura Portuguesa, como Camões. c) fazem referência sobretudo à obra do escritor argentino Jorge Luís Borges. d) citam indiretamente vários artistas plásticos, estabelecendo uma relação dialógica com suas obras. e) nomeiam pintores reconhecidos pela tradição, desconsiderando as obras desses artistas. Interatividade A respeito dos trechos analisados da obra Ensaio sobre a cegueira (1995) de José Saramago, é correto afirmar que: a) estabelecem relações intertextuais apenas com o texto literário. b) dialogam com autores clássicos da Literatura Portuguesa, como Camões. c) fazem referência sobretudo à obra do escritor argentino Jorge Luís Borges. d) citam indiretamente vários artistas plásticos, estabelecendo uma relação dialógica com suas obras. e) nomeiam pintores reconhecidos pela tradição, desconsiderando as obras desses artistas Resposta CAMÕES, Luis Vaz de. Os Lusíadas. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1983. GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. GOMES, Murilo de Assis Macedo. A intertextualidade na obra de José Saramago: labirinto e unidade discursiva. São Paulo. Tese (Doutorado em Literatura Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2016. Referências SARAMAGO, José. A bagagem do viajante. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. __________. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. __________. Memorial do convento. 36. ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2006. __________. O ano da morte de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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